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= - - bee nd — He pi Saxrm0s LANGAMENTOS P&E al Pe pain D120 irorense cemie Bras Roberto Lobato Corré Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro Gedgrato do IBGE | A REDE LIVRARIA DO CHAIN EDITORA, RUA GEN. CARNEIRO, 441 FONE (01) 264.9984 90000 - CURITIBA - PARANA qaotoilt 24 Diregio cee == Benjamin Abdala Junior ae Samira Yousset Campedetti + Proparagiio de texto Ivany Picasso Batista Eudigto de arte (mito) Milton Takeda Composi¢iolPaginagao em video Divina da Rocha Corte Capa Ary Normanha Antonio Ubirajara Domiencio Tipe de Acuisicg nisigGo, Adquitido de yA | Ce ISBN 85 08 032552 1989 ‘Todos os direitos reservados Editora Atica S.A. — Rua Bardo de Iguape, 110 Tel.: (PABX) 278-9322 — Caixa Postal 8656 End. Telegratico "Bomlivio” — Sdo Paulo PELSEELELELELELELELELELEEELEVELELY ursc-eu 3. Natureza e significado da rede urbana Sumario 4. Introdugao 2. As abordagens dos geégrafos As classificagdes funcionais As dimensdes basicas de variagéo ae Tamanho e desenvolvimento A hierarquia urbana As proposigdes de Christaller Os paises subdesenvolvidos As relagdes cidade-regiaio A divisao territorial do trabalho Os ciclos de exploraco As migragdes A comercializagao da producao rural A drenagem da renda fundidria Os investimentos de capitais A distribuicaio de bens € servicos 7 A difusdo de valores ¢ ideais Rede urbana ¢ forma espacial A rede dendritiea Redes complexas Rede urbana e periodizagao O exemplo da Amazénia 4. A guisa de concluséo 5. Vocabulario critico 6. Bibliografia comentada 8 80 87 90 93 1 Introducéo Os estudos sobre_redes urbanas tém se constituido em uma importante tradicéo no 4mbito da geografia. Esta im- portancia deriva da consciéncia do significado que 0 proces- so de urbanizaco passou a ter, sobretudo a partir do sécu- lo XIX, ao refletir e condicionar mudangas cruciais na so- ciedade. No bojo do processo de urbanizacdo a_rede_urba- na passou a ser o meio através.do.qual-producdo, circula- cao e cons ealizam efetivamente. Via rede urbana e a crescente rede de comunicagées a ela vinculada, distan- tes regides puderam ser articuladas, estabelecendo-se uma economia mundial. A despeito dos numerosos estudos realizados, no entan- to, a tematica da rede urbana esta longe de ter sido esgota- da, Especialmente quando se considera um pais de dimen- sdes continentais como o Brasil, onde a longa e desigual es- pago-temporalidade dos processos sociais tem sido a regra, e onde a rapidez e a intensidade da criacdo de centros e transformacao da rede urbana € ainda notavel no final do século XX: paralelamente coexistem setores da rede urba- na cuja génese remonta ao século XVI, no alvorecer do ca- pitalismo, quando arede urbana atual comeca a constituir-se 6 a O presente estudo tem por finalidade, primeiramente, mostrar 0 que foi a produgiio geogrifica sobre redes urba. nas. Nao deve ser encarado como uma longa, exaustiva sistematica revisio bibliogréfica, mas apenas indicadora das principais vias de abordagem do tema. Nem como um fim em si mesmo, mas sim como uma base tedrica passivel de ser reconstruida, originando outra de natureza critica. Varios exemplos, através de mapas e graficos, farao parte desse capitulo. Procurarao exemplificar prineipios a respei- to de aspectos relativos a hierarquia urbana. Nao sao exem- plos da Alemanha meridional, do territério francés ou do *stado norte-americano de Iowa, unidades territoriais que serviram de laboratérios para muitos estudos sobre redes urbanas. Os exemplos sao brasileiros, envolvendo em gran- de parte a regiao do planalto ocidental paulista. A segunda parte pode ser considerada como a mais im- portante deste estudo. Nela apresenta-se o que entendemos ser as abordagens que mais evidenciam a natureza ¢ o signi- ficado da rede urbana. Seguramente algumas lacunas e in- consisténcias aparecerao. Isto, em parte, deriva da tentati- va de apresentar quadros de referéncia tedrica onde se pro- cura retrabalhar conceitos ¢ articulacdes propostos anterior- mente. Que as lacunas e inconsisténcias sirvan} de estimu- los para novas reflexdes. Uma questio agora se impde. O que é rede urbana? Este questionamento se deve ao fato de nao haver concor- dancia sobre o que se quer dizer com esta expressao. Hé uma corrente que advoga a tese de que somente haveria re- de urbana se certas caracteristicas estivessem presentes, ca- racteristicas estas verificadas nos paises desenvolvidos. Se- gundo esta corrente, nos paises subdesenvolvidos nao have- ria rede urbana ou esta estaria em fase embrionaria ou se ria desorganizada. A nossa posicao a este respeito é diferente. Admitimos a existéncia de uma rede urbana quando, ao menos, so sa- tisfeitas as seguintes condigoes. Primeiramente haver uma economia de mercade.com uma_producdo que é negociada_ ‘Por outra que nao é produzida local ou -regionalmente. Es- ta condigao tem como pressuposto um grau minimo de di- visio territorial do trabalho. Em segundo lugar verificar- se a existéncia de pontos fixos no territério onde os negé- cios acima referidos sao realizados, ainda que com certa pe- tiodicidade e nao de modo continuo. Tais pontos tendem a concentrar outras atividades vinculadas a esses negécios, inclusive aquelas de controle politico-administrativo e ideo- légico, transformando-se assim em nticleos de povoamen- to dotados, mas nao exclusivamente, de atividades diferen- tes daquelas da producao agropecuaria e do extrativismo ve- getal: comércio, servicos ¢ atividades de produgao industrial. A terceira condicao refere-se ao fato da existéncia de um minimo de articulagao entre os micleos anteriormente re- feridos, articulag&o que se verifica no ambito da circulagao, etapa necessaria para que a produgao exportada e importa- da realize-se plenamente, atingindo os mercados consumidores. A articulacao resultante da circulagao vai dar origem reforgar uma diferenciagao entre micleos urbanos no que se refere ao volume e tipos de produtos comercializados, as atividades politico-administrativas, a importancia como pontos focais em relagao ao territério exterior a eles, e a0 tamanho demografico. Esta_diferenciacdo traduz-se em uma hjerarquia entre os _nticleos urbanos_e em especializa- 6es funcionai Nos termos assim explicitados admitimos a existéncia de redes urbanas nos paises subdesenvolvidos. Isto signifi- ca que nao aceitamos a tese da’existéncia de rede urbana definida a partir de parametros arbitrarios, que guardam uma forte conotagao etnocéntrica. Tais pardmetros so, de um lado, 0 modelo formal de Christaller e, de outro, a re- gra da ordem-tamanho de Zipf. Voltaremos a eles em bre- ve. A idéia de rede urbana desorganizada, por outro lado, pressupde a possibilidade de um dia ela tornar-se organiza- da, semelhante a rede dos paises desenvolvidos. A nossa tese é que a rede urbana —um conjunto de sentros-funcionalmente articulados —, tanto nos paises de- senvolvidos como subdesenvolvidos, reflete e reforca as ca- racteristicas socials ¢ econdmicas do territério, sendo uma dimensio sécio-espacial da sociedade. As numerosas dife- s paises desenvolvidos, en- rengas entre as redes urbi tre as. dos subdesenvolvidos, € entre ambas, nao séo nenhu- ma anomalia, mas expresso da propria realidade em sua complexidade. 2 As abordagens dos gedégrafos A partir do tiltimo quartel do século passado, quan- do a geografia ganha status de disciplina académica, ¢ até © final dos primeiros 20 anos do presente século, quando finaliza 0 primeiro periodo de sua histéria moderna, a te- matica da rede urbana emerge na multifacetada geografia alema, entre os gedgrafos possibilistas franceses, ¢ entre 0s gedgrafos britanicos envolvidos com o planejamento ur- bano e regional. Também no bojo do determinismo ambien- tal norte-americano aflora o tema em questo. O periodo que se estende de 1920 a 1955 caracteriza- se, entre outros aspectos, pelo aumento do interesse pelo es- tudo da rede urbana: algumas proposigdes te6ricas e méto- dos operacionais so estabelecidos, e amplia-se o niimero de estudos empiricos. E deste periodo que aparecem, entre outras, as proposicdes de Christaller e de Mark Jefferson. E a partir de 1955 que se verifica uma grande difusao dos estudos de redes urbanas. E nao somente no Ambito da denominada geografia teorético-quantitativa que emer- ge a partir de entéo, mas também com Pierre George, no bojo da geografia econémica derivada da escola possibilis- ta. No Brasil é a partir de entdo que se iniciam os estudos sobre redes urbanas. 10 O desenvolvimento dos estudos sobre o tema em tela é contemporaneo, no apés-guerra, da a rbani- zacao ¢ da redefinigdo da divisdo internacional do trabalho, ‘geradora_de-novas_articulagdes funcionais e mudangas na rede urbai ubjacente a isto esta a retomada xpansao estes cihsan do sivema do planelamen Cae ‘espacial, envolvendo a rede urbana. } Otema da rede urbana tem sido abordado pelos gedgra- fos a partir de diferentes vias. As mais importantes dizem respeito a diferenciacdo das cidades em termos de suas fun- ges, dimensées basicas de variacdo, relagdes entre tamanho demografico e desenvolvimento, hierarquia urbana, e rela~ Ges entre cidade e regio. Estas vias nao sao necessariamen- te excludentes entre si, interpenetrando-se mutuamente de di- ferentes modos. Vale lembrar, por outro lado, que as aborda- gens acima indicadas nao sao exclusivas dos gedégrafos, mas compartilhadas com outros cientistas sociais, ainda que pe- sem diferencas no modo como cada uma das vias é tratada. As classificagées funcionais' Uma das mais tradicionais vias de estudé da rede urba- na pelos gedgrafos é aquela que se interessa pela classifica- ¢o funcional das cidades. Esta abordagem tem como pres- suposto a existéncia de diferengas entre as cidades no que se refere as suas fungGes. E que o conhecimento dessa dife- renciaeao é relevante para a compreensao da organizacao espacial, na qual a divisdo territorial do trabalho urbano ¢ uma das mais expressivas caracteristicas. Ja em 1921 0 gedgrafo M. Aurousseau propde uma classificacao de cidades em oito tipos, de acordo com a fun- ¢&o dominante: cidades de administracao, defesa, cultura, 1 Sobre o tema veja-se Maver, Harold & Koun, Clyde, orgs. Readings in urban geography. Chicago, The University of Chicago Press, 1958. uw produgao, coleta, transferéncia, distribuicéo e recreacao. Chauncy Harris, em 1943, ao estudar as cidades norte-ame- ricanas, classifica-as de acordo com a atividade de maior im- portancia. Nove tipos de centros foram identificados: cida- des industriais, de comércio varejista, de comércio atacadis- ta, de transportes, mineracao, educacao, lazer, cidades di- versificadas e com outras fungdes. A partir da década de 1950, os estudos sobre o tema em pauta passaram a receber um tratamento estatistico, ori- ginando entao resultados mais acurados. A contribuigdo de Howard Nelson é digna de nota pela precisdo de sua classifi- cacao relativa a 897 cidades norte-americanas. O emprego em nove atividades foi considerado e, para cada uma das no- ve distribuigdes relativas ao emprego nas cidades sob andli- se, foram calculados a média e 0 desvio-padrao. Sempre que uma cidade apresentasse em uma atividade mais de um des- vio-padrao acima da média, era classificada naquela ativida- de. Um centro urbano poderia ser enquadrado de acordo com duas ou trés atividades. Por outro lado, uma cidade foi rotulada como diversificada quando em nenhuma ativida- de apresentava valor superior a um desvio-padrao acima da média. Deste modo varios tipos de cidade foram definidos, resultando em uma classificagao funcionalmente complexa. A partir dos anos 50 procurou-se, ao lado da adocao de técnicas estatisticas, clarificar mais a questao das fun- Ges urbanas. Neste sentido varios autores fizeram 0 desdo- bramento das atividades da cidade em basicas ou primarias, que sdo “‘exportadas’’ para fora, justificando assim a pré- pria existéncia da cidade, e atividades nao-basicas ou secun- darias, que se destinam a populacao urbana: exemplifica- se com a atividade de uma loja cujas vendas sdo majorita- riamente para consumidores residentes fora da cidade, e com um servigo que atende fundamentalmente a populagao urbana, A distingao em tela permite, sem divida, uma classifi- cacao mais acurada dos centros urbanos na medida em que 2 se eliminam aquelas atividades nao-basicas que existem por- que as cidades desempenham atividades basicas. E é relevan- te em virtude do fato de haver estudos indicando que 4 me- dida que a cidade aumenta de tamanho verifica-se o aumen- to petcentual de uma populagdo empregada em atividades nao-basicas. O estudo de Ullman e Dacey, onde se introduz 0 con- ceito de necessidades minimas de populacdo urbana, que se aproxima do conceito de atividade nao-basica, constitui- se em uma significativa contribuicao para uma mais preci sa classificagéo funcional de cidades. O estudo de Magnani- ni,? por outro lado, sobre os centros urbanos de Santa Ca~ tarina, apoiado em dados referentes 4 populacdo economi- camente ativa do Censo Demografico, constitui-se em exce- lente exemplo de estudo sobre classificagdo de cidades util zando 0 conceito proposto por Ullman e Dacey. Em relacdo a esta abordagem ha numerosas criticas so- brea natureza dos dados utilizados, que so aqueles disponi- veis, os conceitos e as técnicas estatisticas empregadas, bem como sobre a falta de objetivos geograficos definidos. No ca- so do Brasil os dados do Censo Demografico sao incapazes de revelar algumas funcdes importantes das cidades brasilei- ras, como aquelas ligadas a drenagem da renda fundidria. Contudo, tais estudos colocam em evidéncia, com maior ou menor acuricia, a divisao territorial do trabalho no ambito da rede urbana. Podem assim suscitar numerosos questiona- mentos, incitando novas pesquisas sobre a rede urbana. As dimensées basicas de variagao A partir das classificagdes funcionais de cidades pas- sa-se A pesquisa das dimensdes basicas de variacao das re- 2 MacNanini, Ruth L, C, As cidades de Santa Catarina: base econémica ¢ classificacdo funcional. Revista Brasileira de Geografia, 33 (1), 1971 13 des ou sistemas urbanos. Assim, em 1957, Howard Nelson, comentado por Horacio Capel, comparou algumas caracte- risticas sociais entre centros urbanos com distinta especiali- zacao funcional, considerando o ritmo’de crescimento da populacdo, a estrutura etaria, a escolaridade, a propor¢ao de homens e mulheres na populacdo ativa, as taxas de de- semprego ¢ a renda per capita. Constatou que estas caracte- risticas variavam entre cidades segundo as fungdes que de- sempenhavam. Em realidade ‘“‘o problema da classificagao funcional converteu-se no problema de agrupamento das cidades se- gundo suas caracteristicas fundamentais com o fim de des- cobrir tipos homogéneos’” (p. 230), considerando-se nao apenas as fung6es urbanas mas também outras caracteristi- cas sociais, econdmicas e politicas. Esta conversao verifica- se simultaneamente a expansao do emprego de técnicas esta- tisticas em geografia; o uso de computadores, por sua vez, viabiliza a utilizag&o de técnicas mais sofisticadas como a andlise fatorial. O emprego desta técnica descritiva possibilita tratar si- multaneamente um grande numero de variaveis, agrupan- do aquelas que estéo fortemente correlacionadas entre si, originando assim fatores ou dimensées basicas de variacao. Isto porque cada uma dessas dimensdes € constituida por varidveis que, por outro lado, nao se correlacionam com aquelas das outras dimensGes. Em cada um desses fatores, cada cidade apresenta um score que é a sua posigao ao lon- go desta dimensao de variacao. E com 0 estudo de Moser e Scott, datado de 1961, que se inicia a procura sistematica das dimensdes basicas de va- riago dos sistemas urbanos. A partir de entao numerosos outros estudos relativos a diversos paises foram realizados, entre eles, os Estados Unidos, 0 Canada, a India e a Unido 3 De las funciones urbanas a las dimensiones bésicas de los sistemas urba- nos. Revista Brasileira de Geografia, 6 (2), 1972. i So Soviética. Visavam estes estudos descobrir empiricamente ndo apenas as dimensdes basicas de variacaio de um especi- fico sistema urbano, como também sua estabilidade ao lon- go do tempo, ¢ a existéncia de dimensées universais de va- riagdo. Entre as diferentes dimensOes basicas descobertas es- Go aquelas referentes ao tamanho, especializagio funcio- nal, caracteristicas sociais e crescimento demogréfico. Mas que critérios nortearam a selecdo de varidveis? Em alguns casos um conjunto muito grande de variveis, sem ne- uhuma base tedrica explicita, foi considerado. Em outros pro- curou-se ver as relagSes com 0 processo de desenvolvimento regional ou nacional a partir de alguns indicadores julgados pertinentes, ¢ a luz de um dado corpo teérico: 0 modelo cen- tro-periferia de John Friedmann foi entao muito adotado co- mo referencial te6rico. Implicita nestes estudos estava a con- cepedo da cidade como centro difusor do desenvolvimento. No Brasil esta abordagem marcou muito os estudos so- bre redes urbanas durante 0 periodo 1970-1977, periodo es- te caracterizado pela adogo, entre muitos gedgrafos, de téenicas quantitativas e dos modelos de desenvolvimento re- gional, e pelo grande envolvimento com o sistema de plane- jamento. Sobressaem os estudos de Faissol,+ que considera- ram varios conjuntos de cidades brasileiras. Estes estudos revelaram resultados consistentes entre si, indicando tipos de centros que, em sua espacializacdo, definem regides que foram interpretadas segundo as proposicdes de Friedmann: regides centrais, principal e secundaria, e regides periféricas Ja 0 estudo de Fredrich e Davidovich,’ mais recente, esta baseado em trés dimensdes de variacdo do sistema ur- 4 Veja-se, por exemplo, FAISSOL, Speridido. As grandes cidades brasileiras — dimensbes basicas de diferenciacao e relacdes com o desenvolvimento ‘econdmico: um estudo de anélise fatorial. Revista Brasileira de Geografia, 32 (4), 1970. 5 Frepric, Olea M. B. L. & Davipovicn, Fany. A configuracao espa- cial do sistema urbano brasileiro como expresso no tertitério da divisto social do trabalho. Revista Brasileira de Geografia, 44 (4), 1982. 15 bano: estrutura socioeconémica, ritmos de crescimento e formas de concentragao espacial urbana. Ao considerar 0 sistema urbano como expressao territorial da divisio social do trabalho, constitui uma recente e pouco usual interpreta- (ao a respeito do assunto. Tamanho e desenvolvimento A terceira via de abordagem considera a rede urbana como um todo, sem analisar ou classificar cada uma de suas cidades, como ocorre nas anteriores. Nesta abordagem estabelece-se uma relacao entre o tamanho das cidades de uma rede urbana e certos aspectos da vida econdmica e so- cial, tais como 0 desenvolvimento e sua difusdo espacial, a integracao nacional e a existéncia de desequilibrios inter. nos. O pressuposto desta relagao reside no fato de que é através das cidades que as ligagdes econémicas internas ¢ externas se realizam, delas derivando o desenvolvimento: © tamanho das cidades aparece ent&o como uma expresso do desenvolvimento. A literatura sobre as relacdes entre tamanho da popula- ¢ao urbana e desenvolvimento encerra uma dupla polémi- ca entre os estudiosos do assunto. A primeira envolve, de um lado, 0 conceito de primazia urbana ¢, de outro, a re- gra da ordem-tamanho da cidade. A segunda polémica, que esta associada a primeira, refere-se & discussdo entre os “‘modernistas” e os “tradicionalistas”, conforme refere- se Berry em artigo na coletanea organizada por Faissol. O conceito de primazia urbana foi formulado inicialmen- te por Mark Jefferson, em 1939.6 Considerando 0 tamanho da popula¢ao urbana em 51 paises, encontrou-se que na maio- deles a maior cidade era no sé a capital politico-adminis- trativa, como também duas ou trés vezes maior que a segun- © The law of primate cities. Geographical Review, 29, da cidade.-Estes centros, denominados de cidades primazes, apresentavam uma proeminente importancia econémica, cul- tural ¢ politica. A primazia foi interpretada por Jefferson co- ‘mo “um simbolo de um intenso nacionalismo”, e que naque- las cidades estava a ‘‘alma ¢ a mente da nacéo”. A regulari- dade com que esta primazia se verificava foi interpretada co- mo uma lei geral ¢ como um produto final de um proceso de integracéo nacional. Entre os exemplos de primazia urba- na estavam Gra-Bretanha, México, Dinamarca, Estados Uni- dos ¢ Bolivia, paises com diferentes superficies territoriais, niveis de desenvolvimento econémico e dinamica urbana. A idéia de integragdo nacional estava baseada, pois, na presenga de uma cidade primaz, independentemente do ti- PO de relagdes que esta mantinha com 0 testante do pais. Os casos desviantes foram interpretados como sendo devidos @ uma falta de sentimento nacional ou forte regionalismo, ou ent&o a uma dependéncia politica ¢ econdémica. Como exemplo aparecia a Espanha, onde um forte regionalismo im- Pedia © aparecimento de uma cidade primaz e conseqiiente- mente a integracdo nacional. A India, o Canadé ea Austra. lia constituem também casos desviantes, onde a dependéncia Politica agia no mesmo sentido. Cada uma apresentava duas cidades que rivalizavam entre si em termos de tamanho popu- lacional e importancia econdmica e cultural. Jefferson suge- iu que estes paises teriam como foco maior a cidade de Lon- dres, capital e cidade primaz do entio Império Briténico. Enquanto Jefferson considerou apenas a relago entre 0 tamanho das duas maiores cidades, outros autores consi- deraram todo 0 ¢onjunto de cidades como base para andli. se da distribuigdio do tamanho dos centros urbanos. A pri- meira contribuigdo, neste sentido, foi a de Auerbach em 1913, que props um modelo de distribuicao que, com G. K. Zipf, seria conhecido como a regra da ordem-tamanho, 7 | Human behavior and the principle of least effort; an introduction to fu. man ecology. Cambridge, Addison-Wesley, 1949, 7 Segundo Zipf, a distribuic&o do tamanho das cidades pode ser vista através de uma equacdo de séries harménicas, © tamanho da cidade P de ordem r € igual a populacao da cidade 1, a maior delas, dividida pela sua ordem r eleva- da a um expoente g que foi encontrado ser préximo a uni- dade. A formula éP, = P1. A expresso grafica desta dis- tribuigdo é uma linha reth com um Angulo de 45° num pa- pel duplo logaritmico, onde na abscissa esta a ordem das cidades, e na ordenada seus tamanhos. A explicagao que Zipf deu as distribuicdes segundo a regra da ordem-tamanho tem como ponto central o Prin. cipio do Menor Esforgo, resultante de um equilibrio de forcas opostas, a da Unificacdo e a da Diversificacao. A primeira levaria a uma concentragdo da populacdo em uma tinica cidade, e a segunda a uma dispersao da popula. cao em cidades do mesmo tamanho. Estes seriam casos ex- tremos, respectivamente com q igual ao infinito e igual a zero. Com q igual a 1 a série de cidades apresentar-se-ia na seqiiéncia 1, 1/2, 1/3, 1/4... 1/r ou 100, 50, 33, 25... Para Zipf, com esta distribuigao equilibrada, a unidade na, cional estava mantida através de um conjunto integrado de cidades. A primazia seria para Zipf um caso possivel ocorreria todas as vezes que o valor q fosse maior que unidade. A pattir dos anos 50, quando se verifica a retomada da expansao capitalista e a questao do subdesenvolvimen. to aparece, as duas formulagdes séo colocadas em confron. to. O desenvolvimento é associado & existéncia de uma dis. tribuigdo do tamanho da cidade segundo a proposicao de Zipf; 0 subdesenvolvimento, por outro lado, é associado & existéncia da primazia urBana. No primeiro caso, forcas econdmicas multidirecionadas, espacialmente aleatdtias, afc. tariam toda a rede urbana. No segundo, estas forcas atua. riam concentradamente, afetando um tnico centro, que dre- naria toda a riqueza para si, por isso tendo sido denomina- 18 do de cidade “‘parasitica’’: a rede urbana por ela comanda- da foi vista como sendo desequilibrada. Numa época em que o sistema de planejamento esta- va em ascensdo, a aceitagdo das teses acima indicadas im- plicaria em se ter um modelo normativo que iluminaria uma meta a ser alcangada, a de vencer o subdesenvolvi- mento, Neste sentido modelos evolutivos foram formula- dos. Um deles previa a passagem gradativa da primazia pa- ra uma rede de cidades de acordo com a regra da ordem- tamanho, na medida em que um dado pais evoluisse do subdesenvolvimento para o desenvolvimento. Outro, mais complexo, admitia uma etapa anterior caracterizada pela existéncia de uma situagdo semelhante aquela da regra de Zipf. Seguia-se uma etapa marcada pela crescente prima- zia 4 medida que o processo de desenvolvimento se verifi- cava. Numa fase mais moderna 0 padrao de tamanho de cidades assumiria novamente a regra formulada por Zipf: neste caso temos uma seqiiéncia que segue o esquema equi- librio-desequilibrio-equilibrio. Comum a todos os modelos estava a tese de que o processo de desenvolvimento dos paises centrais repetir-se-ia em breve nos paises subdesen- volvidos. A polémica a respeito da primazia e da regya da ordem- tamanho ampliou-se com a discussao entre “ritodernistas”” e “tradicionalistas”’. Os primeiros afirmam que o desenvol- vimento nacional se encarregard de afetar a rede urbana, es- tabelecendo um equilibrio. Admitem que no comego do pro- cesso de desenvolvimento havera um desequilibrio, com con- centragao de investimentos em uma sé grande cidade, mas, na medida em que o desenvolvimento prossegue, verifica- se um efeito de difusio (spread effects, trickle down) que atinge toda a rede urbana. Este processo de difusio, ou os impulsos de mudanga econémica, sio transmitidos do se- guinte modo: * (a) das metrépoles da core area para as metrépoles da periferia; 19 (b) dos centros de mais alta hierarquia para os de mais baixa, num padrao de “difusio hierérquica”’; (©) dos centros urbanos para as suas areas de influéncia. J& os “tradicionalistas” admitem que os argumentos dos “‘modernistas” nao convencem, nao sendo possivel se pensar na reprodug&o dos processos histéricos, tal como ocorreu nos Estados Unidos, por exemplo, nos atuais pai- ses subdesenvolvidos, pois as condig6es histéricas s40 ou- tras. E necessario que haja uma politica explicita e dirigi da para se conter 0 crescimento exagerado da grande cida- de, a “inchacao”’ das grandes metrépoles primazes. ‘Aparecem entao as idéias de descentralizacao para no- vos centros de crescimento, dos pélos de desenvolvimento — no Brasil criou-se, mais tarde, na década de 1970, a ex- pressio cidades de porte médio — e da agao do Estado vi sando um desenvolvimento que seria equilibrado tanto no plano social como espacial, af incluindo-se a rede urbana. ‘A teoria dos pélos de desenvolvimento, as idéias de des- centralizagao para as cidades de porte médio tornaram-se co- queluche nos pafses do Terceiro Mundo. Associado a estas idéias recupera-se e vulgariza-se 0 conceito e a pratica do di trito industrial, expresso fisica e funcional, & escala intraur- bana, do pélo de desenvolvimento e da cidade de porte médio. Os estudos sobre as relagdes entre tamanho das cidades e desenvolvimento esto, de uma forma ou de outra, vincula- dos aos interesses do planejamento em sua dimensdo espa- cial: 0 vigor com que o tema é privilegiado configura fase de prestigio ou de crise do sistema de planejamento capitali ta. No caso brasileiro a primeira metade da década de 1970 foi relativamente prédiga de estudos sobre o tema em pauta. A hierarquia urbana Os estudos sobre hierarquia das cidades sao os mais tradicionais ¢ numerosos entre aqueles sobre redes urbanas 20 a que se dedicaram os gedgrafos. Derivam de questionamen- tos sobre o ntimero, tamanho e distribuigdo das cidades ¢, implicitamente, sobre a natureza da diferenciacao entre clas. Os numerosos estudos, tedricos e empiricos, procuram, em realidade, compreender a natureza da rede urbana se- gundo um dngulo especifico que é o da hierarquia de seus centros, A teoria das localidades centrais, formulada pelo geé- grafo alemao Walter Christaller, em 1933, constitui a mais fértil e.conhecida base tedrica sobre o tema. Entretanto, 0 interesse pela hierarquia urbana é muito anterior a Christal- ler. Foi um banqueiro francés, Richard Cantillon, que em 1755 produziu o que se poderia considerar como sendo a primeira teoria sobre hierarquia urbana: tentando racionali- zar em termos de tempo e espaco seus negécios bancérios, ressalta a natureza hierdrquica das cidades. Com Jean Rey. naud, em 1841, aparece uma formulagao similar 4 de Chris- taller, De certo modo é semelhante a contribuigao do enge- nheiro Leén Lalanne que, em 1863, propés um modelo so- bre a organizagao espacial das linhas ferrovidrias, cujos nds de circulaco, as cidades, estruturavam-se de modo hie- rarquico, A sociologia rural norte-americana do comeco do sécu- lo, com Galpin ¢ Kolb, ¢ o planejamento urBano e regio- nal inglés, apés a Primeira Guerra Mundial, consideraram também 0 tema que, em breve, seria tratado sistematica- mente por Christaller. Ge6grafos como Hans Bobek e Ro- bert Dickinson abordaram também a temética da hierar- quia urbana durante as décadas de 1920 e 1930. Por que este interesse? Com o capitalismo, o proces- so de diferenciacao das cidades se acentua, ai incluindo-se a hierarquizagdo urbana: a criagdo de um mercado consu- midor, a partir da expropriagao dos meios de producio e de vida de enorme parcela da populacao, e a industrializa- ¢ao levam a expansao da oferta de produtos industriais e de servicos. Esta oferta, por sua vez, se verifica de modo 2 espacialmente desigual, instaurando-se ent&o a hierarquia das cidades. Esta, por sua vez, suscita acdes desiguais por parte dos capitalistas ¢ do Estado: dai o interesse em com- preender a sua natureza. As proposigées de Christaller Vejamos agora as proposigdes de Christaller. Segun- do ele existem prinefpios gerais que regulam o mimero, ta- manho e distribuicao dos nticleos de povoamento: grandes, médias ¢ pequenas cidades, e ainda mimisculos micleos se- mi-rurais, todos sao considerados como localidades centrais. Todas sfio dotadas de funcées centrais, isto é, atividades de distribuigao de bens e servicos para uma populacao ex- terna, residente na regio complementar (hinterlandia, érea de mercado, regiao de influéncia), em relacao a qual a loca- lidade central tem uma posigao central. A centralidade de um miicleo, por outro lado, refere-se'ao seu grau de impor- t€ncia a partir de suas fungdes centrais: maior o mimero de- las, maior a sua regio de influéncia, maior a populacdo ex- terna atendida pela localidade central, e maior a sua centra- lidade. Christaller define ainda dois outros coneeitos, 0 de al- cance espacial maximo (maximum range) ¢ o de alcance espa- cial minimo (minimum range threshold). © primeiro refere- se & érea determinada por um raio a partir da localidade cen- tral: dentro desta area os consumidores efetivamente deslo- cam-se para a localidade central visando a obtenc&o de bens e€ servicos. A area em questo constitui a regio complemen- tar. Para além dela os consumidores deslocam-se para ou- tros centros que Ihe estdo mais préximos, implicand notes custos de transporte. O alcance espacial minimo, por sua vez, compreende a area em toro de uma localidade cen- tral que engloba o mimero minimo de consumidores que so suficientes para que uma atividade comercial ou de servigos, uma funcao central, possa economicamente se instalar A partir do aleance espacial méximo ¢ minimo verifi- ca-se uma diferenciag&o da oferta de bens e servicos. Aque- Jes que so consumidos com grande freqiiéncia, didria ou se- manalmente, necessitam de reduzido alcance espacial mini- mo. Poucas pessoas, residentes nas proximidades imediatas da localidade central, sao suficientes para justificar a ofer- ta deles. O alcance espacial maximo deles é também reduzi- do; a partir de uma relativamente pequena distancia da loca- lidade central os custos de transportes tornam-se muito ele- vados face aos custos dos bens e servicos que sao relativa- mente baixos, Ha varios outros centros que distribuem estes bens € servigos: sua oferta ¢ generalizada em numerosas lo- calidades centrais que distam préximas umas das outras. Os bens ¢ servicos que, por sua vez, sao consumidos com uma menor freqiiéncia, mensalmente ou de trés em trés meses, por exemplo, necessitam de um maior alcance espacial minimo: como o mimero necessério de pessoas pa- ra justificar a oferta deles é mais elevado, a area que con- tém essa populacdio é mais ampla. Por outro lado, estes bens e servigos suportam custos de transportes mais eleva- dos, apresentando, por isso, um maior alcance espacial ma- ximo, Como conseqiiéncia, poucas sao as localidades cen- trais que oferecem estes bens e servigos; elas éstdo, assim, mais distanciadas entre si. Para cada produto ou servico haveria, em principio, um aleance espacial especifico. No entanto, aqueles que apresentam alcances espaciais semelhantes tendem a ser ofe- recidos nas mesmas localidades centrais: a co-presenga de- les acaba compensando uma possivel diminuigao de lucros e criando novas condig6es de existéncia de atividades: tra- ta-se de economias de aglomeracdo. Estabelece-se uma hierarquizagao da oferta de bens e servigos: 0 quadro abaixo apresenta um exemplo onde indi- ca-se a hierarquia urbana — expressa por denominagoes através das quais as localidades centrais so usualmente re- feridas — e fungdes centrais hipotéticas. a Exemplo hipotético de hierarquia urbana @ fungées centrais Centros Fungées centrais Metropole regional abcd efgh ijkl_ mnop qrst Capital regional efgh ijkl. mnop arst Centro sub-regional ijkl mnop qrst Centro da zona minop aqrst Centro local arst A anéllise desse quadro possibilita detectar a natureza da hierarquia urbana. Em primeiro lugar deriva diretamen- te da hierarquia das fungdes centrais. A metrépole regional oferece a gama completa de bens e servigos que naquele ti- po particular de sociedade ¢ consumida pela populacao em razao de seu nivel de renda e padrao cultural. A metré- pole oferece um conjunto de bens e servigos, abed, que so- mente ela esta apta a oferecer: so aqueles consumidos me- nos freqiientemente, apresentando mais amplos alcances es- paciais méximos. Mas também oferece bens ¢ servicos de consumo mais freqiientes. Em realidade a metrépole ofere- ce, entre outros, bens e servicos de demandas to distintas como microcomputadores, geladeiras, calcados, artigos de armarinhos e alimentos em conserva; ou entao cirurgiao plastico, oftalmologista, pediatra e clinico geral. A capital regional, por sua vez, oferece os bens ¢ servi- 0s efgh a qrst: 0 primeiro conjunto caracteriza este nivel hierdrquico, nao sendo encontrados nos centros de meno- res niveis hierarquicos. Os bens e servigos ijk/ definem 0 centro sub-regional, enquanto 0 conjunto mnop o centro 24 de zona. O centro local, finalmente, oferece apenas os bens € servigos qrst, de consumo muito freqiiente e, por isso, de menores alcances espaciais maximo e minimo. Uma primeira observagdo conclusiva se impée: a hierar quia das localidades centrais expressa um padrao hierarqi co sistematico e acumulativo de fungées centrais: 4 medida que se eleva o nivel de hierarquia verifica-se um acimulo, em cada nivel, das fungdes centrais dos niveis inferiores mais algumas que definem o nivel hierarquico em consideragao. A localidade central de nivel hierarquico mais eleva- do, por outro lado, possui ampla regio de influéncia: ne- la estdo contidas as regides de influéncia das capitais regio- nais, os centros de nivel imediatamente baixo. Estas ulti- mas regides, por sua vez, contém as hinterlandias dos cen- tros sub-regionais, e assim por diante. Assim, a hierarquia sistematica e acumulativa de fungdes ¢ localidades centrais associa-se ao esquema de centros e regides de influéncia sis- tematicamente encaixados os menores nos maiores. As figuras /a, b ¢ ¢ procuram exemplificar 0 que foi exposto. Referem-se regido de influéncia de Bauru, uma capital regional do Planalto Ocidental paulista. As informa- ges ai contidas sao relativas ao ano de 1978, tendo como fonte 0 estudo “‘Regides de influéncias das cidades””. A fi- gura Ja mostra que, em relacdo aos bens e servigos tipicos da capital regional, caminhdes pesados ¢ oftalmologista, por exemplo, Bauru atua em uma relativamente ampla hin- terlandia, Sua atuagdo espacial engloba os centros sub-regio- nais de Jail, Botucatu, Avaré e Lins, e suas respectivas hin- terlandias. A figura Jb, por outro lado, indica que em relacao aos bens ¢ servigos tipicos de centros sub-regionais, trato- res ¢ pediatra, Bauru atua em uma hinterlandia menor, pos- sibilitando que os quatro supramencionados centros sub-re- gionais exergam seus papéis como tais. Finalmente a figu- ra Ic mostra que, em relac&o aos bens e¢ servigos t{picos de centros da zona, eletrodomésticos e hospital geral, a atua- BAURU de bens e servicos - 1978 -REGIAO DE Distribuigéo 6 ira (oa) senvigos ve CAMINHBES PEBADOS. REGIONAL Z eauru - aad eorucaru - AvaRE Lins 28 do de Bauru se reduz mais ainda, havendo também a redu- Ao da regiao dos centros sub-regionais. Numerosos cen- tros de zona, Bariri, Conchas, Duartina e Getulina, entre > outros, passam a atuar nos espacos de atuacdo dos centros z sub-regionais ¢ da capital regional. i. 7 3. A figura 2, por sua vez, mostra, de um modo nao de- : rs i sagregado, a rede de localidades centrais em torno de Bau- i rae ¥ ru, Verifica-se um encaixamento sistematico, na area de in- . fe: : 7 fluéncia dos centros de maior nivel hierarquico, da drea da- gg: 5 quelas de nivel hierarquico menor. Assim, na regifio de Bau- See ru/estéio encaixadas as regides de Jaw, Botucatu, Avaré e Bo: ; Lins. Na regio de Botucatu, por exemplo, aninham-se aque- leo Jas de Conchas e Sdo Manuel. a3 Convém agora colocar em evidéncia dois outros aspec- bs tos da natureza da hierarquia urbana, os quais podem ser ey inferidos através da andlise da figura 2. Maior o nivel hie- 6 rdrquico de uma localidade central, menor o seu mimero e mais distanciada esta ela de uma outra de mesmo nivel. As- sim, na regido de Bauru ha uma unica capital regional, qua- tro centros sub-regionais e mais de uma dezena de centros de zona que esto pouco distanciados entre si. Em segun- do lugar, maior o nivel hierarquico de um centro, maior a sua hinterlandia e maior o total de sua populacdo atendi- da: na regiio de Bauru ha muito mais populag&o do que na de Jaui que nela esta contida. Outro aspecto da natureza da hierarquia urbana é 0 de que, como em uma localidade central de mais alto nivel hierrquico, 0 niimero de fungées centrais é maior do que em um centro de nivel inferior, ¢ isto representa maior nu- mero de empregos; verifica-se que a populacdo total da ci- dade de hierarquia mais elevada ¢ maior que a dos demais centros: Bauru tem populacao maior do que a de Lins, e es- ta maior que a de Getulina. Em resumo, maior 0 nivel hierérquico de uma localida- de central, maior o ntimero de fungées centrais, sua popula- cdo urbana, sua regido de influéncia e 0 total da populagao FIG.2-REDE DE LOCALIDADES servida. Inversamente, maior 0 nivel hierarquico, menor 0 mumero de centros do mesmo nivel e mais distanciados es- tao entre si. Estes sio os aspectos mais importantes da teoria das lo- calidades centrais, tal qual Christaller indicou. Estes aspec- tos, contudo, quando se tornam reais, ou seja, quando se considera uma rede de localidades centrais concreta,-assu- mem diferentes dimensdes. A literatura sobre este assunto é muito vasta, ¢ o proprio Christaller antecipou muitos dos resultados obtidos. Vale, no momento, indicar que a varia- bilidade deles resulta, em grande parte, de combinacoes di tintas dos seguintes elementos que so varidveis e nado cons- tantes: densidade e estrutura demografica, renda, tanto em termos de média como de sua distribuigdo social espa- cial, padrées culturais que implicam em certos habitos‘de consumo e preferéncias nos deslocamentos espaciais, pre- go dos produtos, facilidades de circulacao, herancas do pas- sado em termos de localizagao dos centros, e dinamica re- gional, Voltaremos em breve a este assunto, considerando um pouco os paises subdesenvolvidos. A figura 3 refere-se aos arranjos espaciais propostos por Christaller. Sao trés e dizem respeito aos modos como, as redes de localidades centrais, sob certas gondigdes que pressupdem uma forte abstragdo do mundo real, foram es- truturadas. Segundo Christaller, a primeira possibilidade ba- seia-se no principio de mercado: nele verificam-se, para ca- da centro de um dado nivel hierarquico, trés centros de ni- vel imediatamente inferior, ou seja, o multiplicador K é igual a 3. Nesta possibilidade tedrica 0 ntimero de centros ja rede é 0 menor possivel. O principio de transporte oferece outra possibilidade. A organizagao espacial da rede é de tal modo que existe uma minimi; o do ntimero de vias de circulagao: os prin- cipais centros alinham-se ao longo de poucas rotas. Em com- pensacdo o numero de centros aumenta, pois o multiplica- dor K ¢ igual a 4. O principio administrativo, por sua vez, FIG.3-REDE DE LOCALIDADES CENTRAIS: OS ESQUEMAS DE CHRISTALLER 0)Princfpio de Mercado L Kes - bIPrincipio de Transporte ©] Principio Administrative Ke 4 Ke? (_siatiotaca universtela Y 5s. a am uFSe apresenta a vantage de que néo hé superposi¢éo de areas de influéncia, como ocorre nos dois modelos anteriores. Contudlo, para que isto ocorra, verifica-se o aumento do ni. mero de centros, pois o multiplicador K é igual a 7, Voltemos agora a figura 2, sobre a rede de localidades centrais em torno de Bauru, Ha uma’relativa aproximacao da rede tedrica estruturada segundo o principio de merca do: mais ou menos em torno de Bauru ha quatro centros Sub-tegionais. A figura 4, por outro lado, relativa & regio de influéncia de Marilia, uma capital regional nao muito distante de Bauru, mostra um exemplo do principio de trans. Porte verificado no mundo real: a capital regional, os cen. {108 sub-regionais e quase todos os centros da zona estao alinhados ao longo da via férrea que corta aquele setor do Planalto Ocidental paulista, Este padrao linear resulta, em Brande parte, do processo de ocupacdo da regiao, tal co- mo Monbeig* descreveu magnificamente. Em realidade sao | numerosas as redes regionais de Jocalidades centrais que, | ho Brasil, foram fortemente influenciadas pela circulagao, originando um padrao linear de centros. | Ko Pauco 5OKM PARA A CENTRAIS ° 25 ‘exemplo no Oeste Paulista DE LOCALIDADES cnvz PauLieTa 4 Wweéuia ru 6. sunaueindrous. leanea 2 romréin. 3, oewaLoo. 8. PackEMBU REDE Um Os paises subdesenvolvidos Vejamos agora os paises subdesenvolvidos. Como es- (do integrados & economia capitalista, produzindo e com- Prando mercadorias, dispdem de uma rede de cidades cujos Centros so, nos casos mais simples, locais de comercializa- 40 de produtos rurais exportaveis e para o limitado merca. : do interno, e distribuidores de bens e servigos. Enquanto Io. cais de distribuicdo, sao localidades centrais. O limitado ni. vel de demanda e a Pequena mobilidade espacial da maior Parte da populacdo so responsaveis pelas caracteristicas concretas que assumem as redes de localidades centrais nes- FIG.4-0 EFEITO DA CIRCULAGAO SOBRE @ centao su-necionar pMoNseic, Piette. Pioneiros e fazendeiros de Sdo Paulo. Trad, de Ary Franca e Raul de Andrade ¢ Silva. Sao Paulo, Hucitec-Polis, 1984, 34 ses paises. Acrescenta-se ainda a disponibilidade de pessoas nao absorvidas pelo mercado formal de trabalho, que leva A criagdo de certas atividades terciarias e de producao que apresentam grande importancia, de um lado, como estraté- gia de sobrevivéncia e, de outro, na estrutura da distribui- Gao de bens e servicos. O baixo nivel de demanda, resultado da superexplora- gdo da forga de trabalho ou da persisténcia de um setor agricola camponés, ¢ a limitada mobilidade espacial podem originar pelo menos trés possibilidades concretas de estrutu- ragio de redes de localidades centrais nos paises subdesen- volvidos. Em primeiro lugar, em razo da demanda de bens ¢ servigos de consumo freqiiente de fato existir, pois trata-se de produtos e servigos necessérios ou imprescindiveis & re- produgiio da populacdo, verifica-se que o ntimero de peque- nos centros é relativamente elevado. Sao centros locais ¢ de zonas, A pequena mobilidade espacial da populacao le- va ao aparecimento de numerosos desses centros, pouco dis- tantes entre si. A capacidade de oferta de bens e servigos desses centros é muito inferior aquela dos centros similares de regides onde o nivel de demanda ¢ a mobilidade espa- cial sio maiores. y ‘Ao lado dos numerosos pequenos centros, verifica-se a auséncia de centros intermediérios como, por exemplo, 0s centros sub-regionais. As capitais regionais, por sua vez, so menos numerosas. A auséncia ou menor ocorréncia de centros intermedidrios é indicadora do baixo nivel de de- manda da maior parte da populagao. Como eles devem ofe- recer bens e servigos de menor freqiiéncia de consumo, ca- racterizados por serem menos necessarios ou mesmo supér- fluos, ¢ caros, e para estes bens e servigos a demanda ser praticamente inexistente, tais centros néo tém condicdes de emergir. Ha entdo um achatamento da rede de localida- des centrais pela auséncia ou minima ocorréncia de centros de escaldes hierarquicos intermediarios. A metrépole regio- 35 nal, por sua vez, aparece como sendo relativamente rica, pois acaba sendo 0 tinico centro que apresenta uma comple- xa gama de bens ¢ servicos, distanciando-se muito, neste as- pecto, dos demais. A relativa grandeza metropolitana deve- se ao fato de que, em parte, nela residem aqueles que dis- pdem de renda que Ihes permitem consumir bens e servicos de consumo mais raro, caros e sofisticados. Uma segunda possibilidade, que nao exclui a primei- ra, ao contrario, convive com ela, é aquela onde emergem os mercados periédicos. Definem-se eles como sendo aque- les micleos de povoamento, pequenos, via de regra semi-ru- rais, que periodicamente transformam-se em localidades centrais: uma ou duas vezes por semana, de cinco em cin- co dias, durante o periodo de safra, ou de acordo ainda com outra periodicidade. Fora dos periodos de intenso mo- vimento comercial voltam a ser pacatos nticleos rurais, com amaior parte da populagao engajada em atividades primrias. Nos dias de mercado o pequeno micleo transforma-se em um centro de mercado. Vendedores dos mais variados produtos, arteséos e prestadores de diversos servicos ama- nhecem no centro com suas mercadorias e instrumentos de trabalho. Sao provenientes de outro pequeno miicleo onde no dia anterior atuaram em seus oficios, ou de um centro maior onde vendem e exercem quase permanentemente a mesma atividade. Alguns vieram da zona rural onde dedicam- se as atividades primérias: vieram vender sua produgao e comprar alguns bens que n&o produzem. Utilizando tropas de burros, a cavalo, em carrogas, em caminhées e utilitdrios, em embarcagées e mesmo a pé, vendedores e compradores dirigem-se ao nticleo em seus dias de mercado. Estes so ain- da os dias em que as pessoas se encontram, sabem das novi- dades e varios eventos sociais, culturais e politicos se realizam. Os mercados peridicos representam uma forma de sin- cronizagdo espaco-temporal das atividades humanas, isto'é, os dias de funcionamento de cada mercado acham-se articu- lados aos dos demais numa ldgica de tempo e espaco, en- 36. volvendo 0 deslocamento periddico e sincronizado dos par~ ticipantes de um dado mercado. Em outros termos, os co merciantes e prestadores de servicos reinem-se a cada dia em um determinado nticleo: para ai converge a clientela de uma drea proxima ao nticleo. A existéncia dos mercados periddicos parece residir, de um lado, no fato de 0 alcance espacial minimo ser supe- rior ao alcance espacial maxirno. Em outras palavras, o li- mite da drea que engloba o mimero de pessoas necessarias para que os comerciantes se fixem encontra-se, em razo de muito baixo nivel da demanda e da pequena mobilida- de espacial, além do limite até onde os consumidores conse- guem efetivamente deslocar-se. Em situagGes como esta, ar- gumenta Stine comentado por Corréa, a alternativa para 08 comerciantes ¢ tornarem-se méveis, percorrendo sistema- ticamente os nticleos de povoamento e estabelecendo-se em cada um deles periodicamente. De outro lado os merca- dos periddicos existem em razio de padrdes culturais que persistem em dreas onde as condigdes econémicas possibili- tariam uma localizacdo fixa dos comerciantes. A figura 5 refere-se a um setor do Agreste e Sertéo de Alagoas. Ali, como em todo o Nordeste brasileiro, as “*feiras’’ so instituigdes econémico-culturais'tradicionais, constituindo-se na forma nordestina de realizagao de uma grande parcela das trocas. A periodicidade das ‘“‘feiras”’ confere-Ihes 0 cardter de mercados periddicos que se verifi- cam nfo apenas em mintisculos centros como Coité do Noia e Lagoa da Canoa, mas em centros de zona como Ba- talha ¢ mesmo em uma capital regional como Arapiraca, uma cidade com mais de 80 000 habitantes. Sugere-se que sejam empreendidos estudos sistematicos sobre as “‘feiras’? nordestinas: certamente contribuirao muito para a compreen- sao da natureza e significado da rede urbana regional. 9 Corxta, Roberto Lobato. A rede de localidades centrais nos paises sub- desenvolvidos. Revista Brasileira de Geografia, 50 (1), 1988. 37 SERTAO NO AGRESTE E PERIODICOS (FEIRAS) - MERCADOS FIG.S ALAGOANO - 1979 6 ouno- ote 2 2 y—-----@ Roararnn a 3. seein 6 = o2-FEina 1+ skeavo —URERNR Locat @--— susonoinacio @ centro oe zona 38 A limitada demanda e pequena mobilidade espacial acrescenta-se a disponibilidade de pessoas que, como estra- tégia de sobrevivéncia, criam atividades tercidrias e de pro- dugdo que, segundo Milton Santos, apresentam, entre ou- tros aspectos, as seguintes caracteristicas: trabalho intensi- vo, organizagao burocratica primitiva, capitais reduzidos, Ppequenos estoques, pregos sujeitos 4 forte barganha, reuti zagao de produtos e elevada margem de Iucro por unidade. ‘Tais atividades compGem o circuito inferior da economia dos paises subdesenvolvidos, 0 qual convive de modo depen- dente com 0 circuito superior, composto de atividades mo- dernas, F conveniente lembrar que muitos dos participantes dos mercados periédicos podem ser clasificados como in- tegrantes do circuito inferior: deste modo periodicidade do mercado e circuito inferior nao sao mutuamente exclu- dentes. Cada um dos circuitos apresenta a sua propria espacia- lidade. Em relacdo a rede de localidades centrais os dois cir- cuitos esto presentes, estruturando-a de modo que cada centro atue simultaneamente através de ambos, dispondo assim de duas regides de influéncia. A figura 6 mostra as duas regides de influéncia de cen- tros de trés niveis hierarquicos, local, intermediario e metro- politano. O centro local atua sobretudo através do circui- to inferior. E através do circuito superior que se verifica a atuagao espacial maxima da metrépole. Contudo, como lem- bra Santos, a atuagdo metropolitana neste circuito nao se da de modo espacialmente continuo, mas sim descontinua~ mente. Isto se deve ao fato de que 0 circuito superior esta voltado para as atividades modernas e populacao de renda elevada. E como estas atividades e populacdo nao se distri- buem homogeneamente por todo o territorio, verifica-se a referida descontinuidade. O centro intermediario, por sua vez, apresenta alcance espacial maximo em fungdo de seu circuito superior. 7 Dols ECONOMIA eu Loca PELOS ALTERADO CIRCUITOS DA DE CHRISTALLER OQ MODELO FIG, 6 - aM. SANTOS - 1978 L A \mportfincia do tema em questao é enorme. Estudos empirieos reulizados no Brasil muito contribuiram para a compreensio da magnitude e significado, em cada uma das Fegldes do pals, dos dois circuitos da economia As rolagées cidade-regitio Ao contririo das abordagens anteriores, 0 estudo das feluydes cidade-regido tem sido empreendido principalmen- Ie peloy yedgrafos europeus, particularmente os franceses, Lote (enna constitui-se, em realidade, em uma transforma. wilo dit classica tematica cidade-campo. Cidude e campo t&m se constituido, ao longo da historia slay cidnietas soviais, em uum dos mais significativos temas de literesse de histuriadores, socidtogos, antropélogos, econo- Inistis ¢ Redgrafos. Este interesse advém, de um Tada; da crens, su empirista.de que cidade € campo constituem as duas meta- tles ein que u socieclacle pode ser dividida e analisadac De ou. {fO, di ereniya marxisia de que cidade e campo sao dois ter. mos de uma contradigao em torno da qual a histéria se faz, Na primeira vertente de tratamento do tema destacam- S€, enlte os ndo gedgrafos, as construgdes dicotdmicas vida. de-campo ¢ © continuum rural-urbano, No primeito caso es. tabelece-se um contraste em que a cidade aparece como sind. nimo de desenvolvimento € o campo de atraso. Civitas ¢ So- cletas, Gesellschaft (Sociedade) e Gemeinschaft (comunidade), racional e tradicional sao alguns dos termos que designam es. fe contraste, Da discussao sobre a dicotomia cidade-campo emerge a tese do continuum rural-urbano, onde entre os dois polos ha uma gradagado que traduz um provesso efetivo e con- tinuo de mudanga do mundo rural para a grande cidade: esta mudanga pressupde a exisiéncia de relagdes cidade-campo, WREMSMAN, Leonard. The urhan proces; cities ‘sin indlustrial societies New York, The Free Preys, 1970 4 segunda vertente considera a génese ¢ @ evolugdo das relagSes cidade-campo no Ambito da critica contra a te- se da autouomia da consciéneia dos homens € de seu papel na deteimiinayio da vida, Cidade e campo aparecem como termos antagsnicos ao longo da historia, As relagdes entre ambos sao vistas em termos da dindmica social, culminan- do com a ‘‘vitria da cidade sobre 0 campo"’ a partir da grande industria, como alirmam Marx e Engels na /deolo- gia alemd. ; A abordagem yeogrifica ao tema tem sido feita consi- derando as relagdes entre cidade e regido, isto é, uma gran- de cidade ¢ sua hinterlandia constituida por centros urba- nos menores dreas rurais, em muitos casos diferenciadas em termos de estruturas e paisagens agrarias. ; — Foi verificado que, de acordo com o tipo de socieda- de, as relagdes entre cidade ¢ regido nao se processam do mesmo modo e com a mesma intensidade, No entanto, num esforgo de sintese, como fez Pierre George, pode-se apon- tar em suas linhas gerais estas relagdes, lembrando, porém, que refletem uma visto citadina da questo. As relagdes sto indicadas a seguir; como se pode verificar, algumas de- las constituem objeto de abordagens anteriormente apresen- tadas: ; (a) A atracdo urbana sobre a populagao regional, (b) A comercializacao pela cidade dos produtos rurais (©) A drenagem urbana da renda fundiaria. (4) A distribuigao pela cidade de investimentose trabalho. (©) A distribuigao de bens ¢ servigos. Diversos estudos mostraram, por outro lado, que as diferentes combinagdes e especificidades regionais das rela- g6es acima apontadas levam a um duplo resultado que sin tetiza 0 conjunto delas: a cidade € um espelho de sua re- ido, ou entdo esta é 0 resullado de uma ago motora por parte da cidade. Assim, Libreville, capital do Gabao, estu- dada por Lasserre, encontra-se no primeiro caso, enquan- to no segundo est a regido lionesa, forjada pelo capital a da burguesia de Lyon, conforme mostra Labasse. Outros autores como Juillard apontam que os resultados das rela GOes entre cidade e regio podem se traduzir em dependén- cia, complementagao ou concorréncia entre ambas, ou, ain- da, que é possivel identificar, a partir das relagdes entre ci- dade © regio, uma tipologia de cidades européias: villes rentidres du sol, villes insulaires e villes urbanisantes."! O trabalho de Dugrand sobre a regifio vitivinicultora do Baixo Languedoc, no Sul da Franga, é um dos mais sig- hificativos exemplos de estudo abordando o tema em ques- Wo. Inspirado em parte nas proposigdes de Pierre George, serviu de orientag&o geral para o estudo sobre o Sudoeste paranaense,"? uma area de pequenos produtores originarios, em grande parte, do Rio Grande do Sul Vejamos agora que sugestées foram feitas para se con- siderar cada uma das relagdes acima apontadas. ) A cidade, especialmente a metrépole, exerce uma atra- Gio sobre a populagdo de sua regiao de influéncia: seu cres- cimento demogréfico é, assim, superior ao seu crescimen- to vegetativo, Esta atragéio define migragdes definitivas nas quais os migrantes acabam tornando-se citadinos, Mas a metrépole exerce também uma atragdo cotidiana, pois mo- radores de nticleos préximos nela encontram um relativa- mente grande mercado de trabalho. Trata-se, neste caso, de migragdes pendulares, alternantes ou jornada para o tra- balho. Em relagdo ao primeiro tipo de migragdo deve ser in- vestigada a origem da populacio urbana — procurando-se detectar qual a importancia do contingente de migrantes na formagio da populagao citadina — e 0 momento em que se verificou cada uma das correntes migratdrias. As causas das migragdes constituem um segundo aspecto a ser 1 Counéa, Roberto Lobato, Estudo das relagdes entre cidade € regido, Revista Brasileira de Geoxrafia, 31 (1), 1969. 4H Adum, coord, Cidade ¢ reviae 10 Sudueste paranaense, Revista Brasilei- ra de Geovrafia, 32(2), 110 4B abordado: é significative aprender as especificidades espa- ciais destas causas. Sugere-se que sejam consideradas as for- mas de emigragao — jovens, adultos, solteiros, familias in- teiras etc, — e as efapas da emigracao, as quais podem en- volver a rede urbana — da zona rural para a pequena cida- de ¢ desta para a metrépole: De extrema importincia ¢ 0 estudo das conseqiiéncias da migragao nas zonas de emigracdo, 0 qual deve abordar | tanto a dimens&o demografica — estrutura etaria, propor- gio dos sexos etc. — como a econdmica — envolvendo, pot exemplo, os sistemas agricolas e os efeitos sobre as at vidades comerciais — ¢ a da paisagem agraria —, nela inse- rindo-se o habitat rural. Finalmente, 0 dltimo tépico a ser considerado refere-se as atividades dos migrantes na cida- de e a sua localizago intra-urbana: isto fornece uma medi- da do significado da atragdo urbana sobre a populagdo de sua regia. As migragdes pendulares, provenientes de nticleos loca- lizados em periferias rurais-urbanas, podem ser vistas co- mo um indicador do processo de urbanizacao. Sugere-se que se considere a origem dos migrantes, isto é a area de proveniéncia dos commuters, causas, formas € meios desta migragéio pendular, as atividades dos migrantes ¢ as conse- qiiéncias do movimento migratdrio na periferia rural-urban A metrépole constitui-se em um importante mercado consumidor de produtos rurais, quer alimentos, quer maté- rias-primas para as suas indtistrias. Dugrand sugere que, fa- ce a estas relagdes entre cidade e regidio, considere-se os se- guintes topicos; os mecanismos de comercializagio, a estru- tura das empresas comerciais, e 08 tipos de centros de co- mercializagdo, Face ao primeiro tépico ¢ importante verificar inicial- mente os tipos de transagdes comerciais que se realizam, is- to & como se fazem a compra e a venda da produgdo do campo, ¢, em seguida, identificar os tipos de agentes vincu- lados & comercializacdo — atacadistas coletores, redistribui- ut ores, cooperativas, supermercados, 0 Estado, donos de ca- minhlo etc, — € suas praticas econdmicas politicas. Sobre a estrutura das empresas sugere-se examinar os aspectos relativos & implantagio do equipamento comercial © nos tipos de empresas. Esta indagagdo envolve a genese ‘ca dinkmica do comércio, bem como a identificacdo das em- presas segundo a origem do capital, a forma de organiza- glo ¢ as outras atividades que possuem. (0s tipos de centros de comercializagao devem ser ana~ lisados considerando-se, de um lado, 0 equipamento comer- cial que possuem, tal como bancos, armazéns, silos, escritd- ios de compra, servigos de transporte etc. €, de outro, os fluxos que para eles convergem ¢ divergem, envolvendo a area de coleta e os centros para onde a produgdo é reexpe- ida, o volume comercializado e 0s meios de transporte uti- lizados. E necessario, finalmente, fazer-se uma avaliagao do significado do processo de comercializagao de produtos ru- rais, tanto em relagao A cidade como ao campo. A drenagem da renda fundidria pela cidade constitui- se em muitas Areas um importante aspecto da vida social, econémica € politica, A cidade constitui-se, nestes casos, em lugar de residéncia de proprietarios rurais absentefstas, este fato pode assumir enorme importancia, Segundo Du- grand, esta tematiea pode ser abordada a partir da conside- ragdo de trés aspectos: a importancia da propriedade fun- didria citadina, a sua estrutura interna, e as conseqiléncias da drenagem da renda fundiadria. ‘Sobre a importancia da propriedade fundiaria citadi- na é relevante abordar, primeiramente, a suia extensio espa- cial, isto é, em que unidades politico-administrativas estdo localizadas, qual a sua magnitude — ndmero ¢ érea ocupa- da — € 0 que representa em termos da estrutura fundidria em cada uma das unidades. £ assim possivel saber que cen- ros urbanos desempenham este papel de drenagem, onde atuam e qual a intensidnde da atuagao. A apreensio destes \ —_—— aspectos pressupde que se conhera & Bénese € 0 dinamica ddo processo de drenagem da renda fundidr'a rural revestratura interna da propriedade citadina pode ser analisada a partit da identificagao, primeiramente, dos ti- pos de propriedades de acordo com & dimenséo e a Finalids- re rim de semana, especulacdo, prestisio, valorizaa0 de capitais. Em segundo lugar, considerando a utilizagio dda terra ¢ estabelecendo a comparagao com aqueta das pro- priedades dos ruricolas. Finalmente, analisando 0s tipos s0- Pipis de proprietarios — tradicional ou recen\f associado cnao a outras atividades, regionals ou extra-reBlOne © ete. Ede fundamental importancia que se considere as con- seqiténcias da drenagem da renda fundidics tanto no eam- po como na cidade: isto se inicia pela andlise da aplicagao re vcnda Tundidria e pode finalizar pela comparaci do nt- vel de consumo da populacao rural € dos proprietarios fun- diirios citadinos. “A grande cidade pode também investi recursos No cam po ¢ em cidades menores, criando, assim, trabalho. O de- Mo wolvimento agricola, a difusto da industria OA regio de influéncia, a extensto das zonas de residéncia peri-urba- hha, a organizagao de dreas de recreacdo ¢ de reservas nati tals, e a promogao dos habitantes da reside 10% niveis de rae ja semelhantes aos dos habitantes da grande cidade, se- iam resultados positivos dos investimentos realizados pela Vidade, A idéia da cidade como centro difusor do desenvol- vimento regional esta assim presente entre os gedgrafos que (rabatharam a tematica cidade-regiao | Suigere-se que sejam considerados, de vm lado, 0s in- vestimentos realizados pela cidade e, de outro, as conseqiién- ve sobre a organizacao do espaco regional. ‘Oe tnvestimentos realizados pela grande cidade devem ser anatisados em termos da sua distribuigo espacial, con- Siderando-se ainda a niatureza das atividades criadas € 0s ti pos de investidores — empresas rewionais ou extra-regio- fais, proprietérios fundidrios, grandes corporagdes ele; - gous inainyiawas POF "agentes, Nao especificados, muitas vezes por processos alea- merce 46 No que $¢ fefere as conseqiiéncias dos investimentos é im- portante que seja verificado que novas atividades foram cria- das, que modificagSes na estrutura social do campo e das pequenas cidades foram introduzidas e, finalmente, quais 08 impactos dos investimentos na integragao regional. A Integragtio pressupée o desenvolvimento de ativida- des tercidrias ¢ a efetiva distribuico de bens e servigos, cu- Ja intensidade & uma expressio do grau de integracdo regio- nal A grande cidade. Um centro urbano, contudo, pode de- Sempenhar um nulo ou inexpressivo papel como foco de drenagem da renda fundidria ou micleo irradiador de inves- timentos; entretanto, sera, em maior ou menor grau, uma localidade central. Segundo Dugrand, no estudo sobre o papel das cida- des como focos de distribuicio de bens e servigos, deve-se abordar 0s tipos de transagées comerciais, a estrutura das empresas ¢ os tipos de centros distribuidores. As transagSes comerciais podem ser analisadas segun- do sejam elas varejista, atacadista, de representagaio etc., se- gundo a forma de pagamento, a freqiiéncia com que so feitas as transagdes, ¢ as categorias sociais dos participan- tes. As empresas, por outro lado, devem ser pesquisadas proctirando-se conhecer a génese e a dindmica, e definir 05 tipos de acordo cont a origem do capital, a forma de or- ganizactio e as outras atividades e empresas vincilladas. Finalmente, no que se refere aos tipos de’ centros de distribuig&io, a questao reporta-se aquela da hierarquia‘urba- ha, tendo como suporte tedrico mais significativo a teoria dag localidades centrais, Els 0 tema das relagées cidade-regiaio. E extremamen- te rico, As relages abordadas podem ser tratadas de outro modo, de uma maneira mais integrada. Neste sentido serao retomadas mais adiante, numa tentativa de, teoricamente, integrd-las consistentemente. 3 Natureza e significado da rede urbana As abordagens anteriormente identificadas, e apresen- tadas em seus tracos mais gerais, so incapazes, ainda que em graus diversos, de revelar a natureza e o significado da rede urbana. Algumas delas descrevem um ou varios de seus aspectos, importantes, sem dtivida, mas insuficientes para darem conta da realidade social, da qual a rede urba- na é uma dimensao, pois s4o andlises parcelares. Outras tra- tam a principal cidade como se fosse dotada de autonomia, capaz de produzir ou difundir mudaneas sociais. A aborda- gem das relages cidade-regido, apesar das enormes poten- cialidades que apresenta, nfo foi capaz de revelar a nature- za e 0 significado da rede urbana. Em realidade as abordagens consideradas so, com ra- ras excegdes, caracteristicamente de natureza positivista ¢ funcionalista. A cidade — e, por extensdo, a rede urbana — é vista como se fosse uma coisa, destituida de vida so- cial e, portanto, de interesses antagénicos, de conflitos: é assim passivel de um tratamento marcado por uma postu- ra pretensamente neutra. As interpretacées calcadas nas cién- cias naturais estéo presentes nos estudos de redes urbanas, estas sendo concebidas como engrenagens manipuladas por agentes, nao especificados, muitas vezes por processos alea- 48 (6rlos, A histéria ¢ colocada de lado, ndo havendo preoc Payllo con a génese e a dinimica da rede urbana: @ lemma Constitul uma abstragao em que témn existéncia mecanismos {que originam uma seqiigncia evolutiva marcada por equili. brio-devequilibrio-equilibrio, O carter idealista de alguma das abordagens aparece quando se considera como mort Vos alguns dos modelos sobre estrutura espacial da rede ur- bana ou de sua evolugao, " A partir da avaliagdo da pratica dos geégrafos, m tambem considerando a contribuigao de nao gedgrafos, pron coder-se~i a. um esforgo-que-contribua para identificar ana. tureza ¢ o significado da rede urbana, Com certeza nao es- nolaTenios a questo, mas esperamos clarificar alguns pon. tos que sto particularmente pertinentes aos gedgratos.. ___ Estat parte esta dividida em quatro capil ena sto mitrmmente exchdenias. Representantanenas argon ew Gue um mesmo objeto pode ser abordado. Considers, sg territorial do trabalho. Em segui- 08 ciclos de exploragao, Pacial. Finalmente serd abordado 0 cardter midges de Urbana, apresentando-se alguns pontos bdsicos parana sua periodizagao: a rede urbana da Amaz6nia serd toma, da & guisa de exemplificacao slat A divisao territorial do trabatho A rede urbana constitui-se simultaneamente em um re. fexo dae uma condigao para a divisio territori taba. Iho. E um reflexo a medida que, em razio de vanlagens I caclonais diferenciadas, vérificam-se uma hierarquia urbe ha € uma especializayao funcional definidoras de uma com. plexa tipologia de centros urbanos on A ldgica capitalista de acumulagio, caracterizada !a minimizagdo dos custos ¢ maximizagao de lucros e apeia. ( ) 4” da no progresso técnico, suscita 0 aumento da escala de produgao assim como da drea onde esta se realiza, Amplia- se também a circulagdo, e a acessibilidade ¢ redefinida em fungiio dos novos modos de circulagao. Verifica-se a valori- zagiio de certas localizagdes em detrimento de outras: mais do que isto, para cada atividade, nova ou transformada, ha padres locacionais especificos que melhor atendem A 16- gica capitalista. Como conseqiiéncia algumas cidades per: dem importancia, enquanto outras so valorizadas; SE ovos Centros urbanos. Numa planicie fériil ¢ densamen- te ocupada, com produgdo agricola negociada extralocal- mente, define-se uma hierarquia de localidades centrais, en- quanto as margens de baias de aguas profundas desenvol- vem-se centros portuarios; préximo as jazidas de carvao emergem centros mineiros ou mesmo dotados de inciistrias de transformagio, A rede urbana reflete assim a divisdo ter- ritorial do trabalho. A rede urbana é também uma condig&o para a divisio territorial do trabalho, A cidade em suas origens constituiu- se néo sé em uma expresso da divisdo entre trabalho ma- nual e intelectual, como também em um ponto no espago geogrdfico que, através da apropriagao de excedentes agrico- las, passou de certo modo a controlar a produgdo rural. Es- te papel de condicao é mais tarde transmitido a rede urba- na: sua génese e evolugao verificam-se na medida em que, de modo sincrdnico, a divisio territorial do trabalho assu- mia progressivamente, a partir do século XVI, uma dimen- siio mundial. E a primeira vista através das fungdes articuladas de suas cidades — comércio atacadista ¢ varejista, bancos, in- duistrias e servigos de transporte, armazenagem, contabilida- de, educagdio, satide ete, — que a rede urbana é uma condi- gio para a divisdé territorial do trabalho. Através dela tor- na-se vidvel a produgio das diversas éreas agropastoris ¢ de mineragio, assim como sua prépria produgao industrial, a circulagdo entre cidades e areas, ¢ 0 consumo. E via re- 50 de urbana que 0 mundo pode tornar-se simultdnea e desi- gualmente dividido ¢ integrado. Mas ¢ efetivamente devido & agao dos centros de acu- mulagdo de capital, as grandes metropoles cabecas de redes urbanas de extensio mundial ou nacional, que a divisdo ter- ritorial do trabatho aparece condicionada pela rede urba- na, Através dela as decisdes, investimentos e inovagdes cir- culam descendentemente, criando e transformando constan- te e desigualmente, de acordo com uma dindmica interna ao capitalismo, atividades e cidades. A rede urbana é um reflexo, em realidade, dos efeitos acumulados da pratica de diferentes agentes soviais, sobretu- do as grandes corporagdes multifuncionais ¢ multilocaliza- das que, efetivamente, introduzem — tanto na cidade co- mo no campo — atividades que geram diferenciagdes entre 8 centros urbanos, Dilerenviages que, por sua vez, condi- cionam novas aydes. Neste sentido € necessario que se com- preenda a Idgica da implantagio das atividades no mais ou menos complexo mosaico de centros e hihterlandias em seus diferenciados papéis ¢ pesos. Isto implica o desvenda- mento das motivagdes dos diversos agentes sociais, bem co- mo 0 entendimento dos conflitos de interesses entre eles e suas aparentes solugdes, Implica ainda colocar em evidén- cia as prdticas que viabilizaram a articulagio entre’os distin- tos centros urbanos € suas hinterlandias, bem como com- preender a inércia que, pelo menos dusante um certo tem- po, cristaliza um determinado padrao espacial de funciona- lidades urbanas. Em rela aos paises subdesenvolvidos a rede urba- na pode ser vista, em parte, como um conjunto de cidades onde s¢ verifica um papel de intermediagao diferenciada das devisdes geradas fora da rede urbana nacional. Em ou- tras palavras, a rede urbana dos paises subdesenvolvidos constitui-se, em parte, na extensdo de uma ampla rede ur- bana com sede nos denominados paises centrais, em metré- poles mundiais como New York, Londres, Téquio e Paris. st Neste sentido a propria rede urbana é, através da fungao da intermediagao, parte da divisao internacional do trabalho. Mas ha que se considerar, pelo menos em relagdo a al- guns paises ou regides, a existéncia de uma relativa autono- mia nacional ou regional: a divisio territorial do trabalho é parcialmente derivada de decisdes ¢ interesses internos, se- diados nas metropoles nacionais ou regionais e, em alguns casos, nas capitais regionais. Pensamos assim que se deva, ‘ao se tratar as relacdes entre rede urbana ¢ divisdo territo-. rial do trabalho, considerar em que medida uma rede urba- na é efetivamente condicao para essa divisdo ou uma rede de pura intermediagao de agdes devididas externamente a rede, E visando a descrigdo e a compreensdo da divisdo ter- ritorial do trabalho que se deve direcionar os estudos sobre classificagio funcional de cidades: a classificagao nao deve, assim, ser considerada como um fim em si, mas um come- go de uma pesquisa sobre uma dada rede urbana. A rede urbana brasileira, que tem passado por grandes transforma- gdes, ai incluindo-se 0 aumento do niimero de centros € a {ua extensdo territorial, constitui-se em excelente objeto de pesquisa sob a dtica da diviséo territorial do trabalho € sua dindmica. Os ciclos de exploracdo O trabalho excedente ¢ a fonte do valor excedente (ju- ros, rendas, mais-valia etc.). O valor excedente apropriado e acumulado é em parte investido em novas atividades, tan 10 dé Tocalizagao urbana como rural, visando a geracdo de novos ¢ ampliados valores excedentes. Isto implica a sua circulagao, que engendra fluxos de pessoas, bells eSeviGos, ofdens, idéias e‘dinheiro. A parte do valor excedente desti- nada A simples reposigdo dos meios de produgiio € ao consu- mo dos capitalistas, bem como a massa de salarios pagos, que constitui o meio através do qual se verifica parte consi- 2 derdvel da reproducio da forga de trabalho, também en- tram na circulagao, Implicam estes fuxos a criagdo, apro Priagdo e circulagéo de novos valores excedentes. A circulag&o se faz necessariamente no Ambito de um territério que pode estar submetido a um pracesso de intensificagéo das atividades ali localizadas, ou a uma mais efetiva incorporagao ao sistema capitalista a partir de sua iranstormaeaa em “fronteira do capital’, como ¢ © caso da Amaz6nia a partir do éca creas did a partir da segunda metade da déca ___ Para que a circulagao seja efetivada torna-se necessa ria a existéncia de varios pontos no territério. Estes pon- tos soos centros urbanos. Neles verificam-se o proceso de tomada de decisio, a concentragao, beneficiamento, ar- mazenamento, transformacao industrial, vendas no ataca- do ¢ varejo, a prestacio de uma gama cada vez maior ¢ mais complexa de servigas ligados & reprodugao social, ¢ parcela ponderdvel do consumo final. Estes centros urba nos apropriam-se do valor excedente que circula ¢ criam novos valores. -~ Com base em Harvey, afirma-se que a rede urbana é | a forma espacial através da qual, no capitalismo, se di a | cria ‘9, apropriagao e circulacio do valor excedente. Ca da cidade da regido participa de alum modo e com alg ma intensidade dos processos acima indicados: caso contra- rio tera a sua existéncia inviabilizada, Sua singularidade se da em razao de sua insergao em um territério submetida AO proceso em questo. Neste sentido, uma classificacio funcional de cidades, isto é, a descrig&io da divisao territo- rial do trabalho em termos urbanos, deve procurar dar con- ta dos papéis que cada cidade cumpre na criagao, apropria- Gio ¢ circulagao do valor excedente, © que foi acima sumariamente descrito pode ser dito de outro modo, considerando-se a rede urbana como a cris- talizagdo do processo de realizagao do ciclo do capital, tal 53 como foi exposto por Ana Fani A. Carlos,' A rede urba- na pode ser considerada ainda como a forma sécio-espa- cial de realizacao do ciclo de exploragao da grande cidade sobre o campo e centros menores, Desenvolveremos esta concepgao apoiados, em parte, em Bellido e Tamarit. Dois pontos devem ser, no entanto, abordados antes de prosseguirmos, O primeiro refere-se ao fato de utilizar~ mos a expresso cidade ¢ regio e nao a chissica cidade campo. O segundo diz respeito & tese da complementarida de das relagdes acima indicada Com 0 capitalismo, as relagdes econdmicas € sociais ampliadas, passando a se realizar em amplos territérios que, de modos diversos, sia incorporados ao sistema capita- lista. No bojo desta expansao verifica-se a ampliagao da di- visio territorial do trabalho, geradora de especializagées produtivas regionais distintas —- 0 milho do Corn Belt ame- ricano, o cacau da zona de Hhéus ¢ Habuna na Bahia, 0 agucar das Antilhas etc. ~-, ¢ a necessaria articulacao entre as diversas unidades territoriais especializadas. Articulagao que é viabilizada pelo progresso dos meios de comunicagao © conservagéio — navio a vapor, ferrovia, telegrafia sem fio, frigorificagao de produtos Facilmente deterioraveis — con- temporiineo a expansio territorial ¢ A divisio do trabalho no plano espacial. O mundo capitalista caracteriza-se, por volta de 1870, por ser dividido ¢ articulado. Dividido no que se refere a esfera da produgao e consumo, e articula- do no que diz respeito a integracio via troca entre produto- res localizados em numerosos tertitérios.? Esta divistio ¢ articulagio sé ¢ vidvel através de uma ampla rede urbana, abrangendo varios tipos de centros loca- lizados em varios territérios. Somente assim & possivel a um inglés beber café brasileiro, comer toucinho dinamar- 1A cidade ¢ a orpanizagao do espago. Revista do Departamento de Geo- grafia da Universidade de Sido Paulo, 1 1982 P Honsnawst, Erie, 4 era dda capital, 1848 187%, Rig de lane a, Pare Ter 54 qués, pao de trigo argentino e vestir uma camisa de algo- dao ogipcio e uma calca de 14 australiana. Do mesmo mo- do os produtos tingle que, no século XIX, chegavam as fazendas de café do Vale do Paraiba passavam por segmen- tos da rede urbana inglesa (Birmingham e Southampton, Por exemplo) e brasileira (Rio de Janeiro e Resende, por exemplo). Estamos longe, portanto, de uma relacao cida de e campo tal como se processava no século XIII, entre um burgo e sua restrita hinterlandia constituida por aldeias € suas areas agricolas: cidade e campo completavam um universo onde a vida econdmica e social plenamente podia ser realizada, E por esta razao que adotamos a expressiio cidade ¢ regiao: trata-se da grande cidade, um centro metro- politano, criagdo do préprio capitalismo, ¢ de areas agrico las diversas ¢ numerasos centros urbanos menores, todos su- bordinados & metrdpole. — Vejamos agora a tese de complementaridade. As rela Ges que se estabelecem no Ambito da rede urbana sio assi- métricas, traduzindo-se na exploragao da regio pela gran- de cidade. A tese da complementaridade de relagdes simé- ~ticas, implicando equilibrio, nao é verdadcira, A exploracdo da cidade sobre 0 campo — ¢ depois so- bre a regiao — nasce no momento em que, no bojo da co- munidade primitiva, igualitaria, estruturada segundo lagos de parentesco, verifica-se um conjunto de condigdes que le- vam 4 sua prépria ruptura: 0 aparecimento de novas for- mas de propriedade, a divisio social do trabalho, o Esta- do, as classes sociais e a existéncia de excedentes agricolas que sao desigualmente apropriadas, Separa-se social e espa- cialmente 0 trabalho manual ¢ o intelectual. Esta separacao vincula-se a uma nova forma sécio-espacial, a cidade, on de localizam-se 0 rei-divindade, sacerdotes, militares, escri- bas e artesdos.* * CT. Crm ne Gordon, The urban revolution. Town Planning Review, 21 11), 1980, DA GRANDE CIDADE EXPLORAGAO FIG.7-0S CICLOS DE REGIAO a SOBRE GRANDE REGIAO 22CICLo d a a a INVESTIMENTOS w 3 q 6 3 9 & = a 6 9 1 S ie & o = & ° < o < N a = G c w = ° ° E SERVICOS BENS logias VALORES E < ° 2 i a < a ea ir io) < z G © 6 = = = 6 Zz eS) am 58 56 A exploracdo urbana esta fundamentada na extragao de excedentes alimentares pela elite citadina, garantindo-se assim a existéncia da cidade. Esta, por sua vez, parante a reprodugtio do sistema social através da ideologia e da for- ga. Cidade e campo sfio dois mundos distintos mas interliga- dos via exploragio do segundo pela primeira. A exploragao da cidade sobre 0 campo amplia-se no periodo da acumulagao primitiva do capital. Mas é sem dii- vida no capitalismo industrial — a partir do século XIX — que esta exploragéo ganha sua maior expressao, ‘Trata- se, efetivamente, da vitéria da cidade; através da industria, sobre 0 campo, como se referem Marx e Engels, mas da vi. téria da grande cidade sobre uma ampla regiéo. A tese da complementaridade é, ein realidade, uma ideologia. — _Vejamos agora os dois ciclos de exploragiio, © esque- ma indicado na figura 7 refere-se a eles. No primeiro ciclo a grande cidade, cabeca da rede urbana, extrai do campo © das cidades menores, via migragées, forca de trabalho. Extrai também produtos alimentares, matérias-primas, Iie cros comerciais e renda fundiaria. No segundo ciclo, que realimenta 0 primeiro, tratando-se, portanto, do mesmo proceso, a cidade exporta — para o campo e centros meno. res — capitais, bens e servigos, idéias ¢ valores. Convém ob. Servar que estamos considerando praticamente as mesmas relagdes, ainda que através de uma leitura explicitamente in. tegrada, daquelas apontadas por George ¢ empiricamente verificadas, entre outros, por Dugrand, : As migragdes As atividades capitalistas da cidade, entre elas especial- mente as indiistrias, necessitam de trabalhadores “livres” que dispem apenas de sua forga de trabalho e nenhum ou muito pouco vinculo com o campo. Estes trabalhadores constituem a massa de onde sera extraido o valor exceden- {e, fonte de acumulacao de capital. Assim, a cidade preci- 37 sa drenar, via emigragao rural-urbana, uma parcela da po- pulagaio do campo, constituida por pequenos proprietirios, rendeiros, meciros, moradores de condigao e assalariados. As raizes desse processo emigratério residem, como afirma Kautsky,* na dissolugao do artesanato pela manufa- tura urbana, transformando 0 camponés em um produtor agricola, que vende mercadorias para comprar outras mer- cadorias, no subseqiiente endividamento do agricultor jun- to a comerciantes urbanos e aos bancos, levando em mui- tos casos @ perda da propriedade; na dissolugao da familia camponesa em fungio da necessidade de produzir mais € mais para vender, tornando a propriedade rural incapaz de sustentar a familia. Estabelece-se, assim, uma ‘‘superpo- pulagio relativa’’ no campo, composta de excedentes demo- grificos que o mundo rural nao mais absorve A migracao campo-cidade realiza-se na direcdo daque- les centros urbanos onde a criacdo de atividades e empre- gos 6 mais dindmica. Sio, via de regra, as grandes cidades. Esta migragao pode fazer-se por etapas, mais ou menos de acordo com a hierarquia urbana: em um primeiro passo tra- ta-se de uma migracio do campo para a pequena cidade; um segundo passo, que no Ambito de uma mesma familia camponesa pode se dar na geragao seguinte, caracteriza-se por ser da pequena para a grande cidade. ‘As causas especificas, em cada lugar e a cada momen- to do tempo, da emigragao, envolvendo os mecanismos € os agentes sociais participantes do processo migratério, cons- tituem-se em um dos importantes temas de pesquisa no am- bito das relagdes cidade e regiao. Outro refere-se & dindmi- ca e ao significado das migracées por etapa. A destruigio da agricultura tradicional ¢ 0 éxodo ru- ral para a cidade, barateando 0 custo da forga de trabalho, iniciam 0 primeiro ciclo de exploracao da cidade sobre 0 campo ¢€ os centros menores. Simultaneamente esto sen- + La cuestion agraria, México, Siete Veintiune, 1977. do criadas as condigdes para a existéneia de um mercado in- dustrial: os camponeses que permaneceram no campo torna- tam-se consumidores de produtos da incistria.3 Esta tema- tica sera retomada posteriormente, A comercializagéo da produgao rural Ainda que em alguns territérios, caracterizados como reservatérios da forea de trabalho, @ autoconsumo seja a principal finalidade da producao agropecuiria, no capitalis- mo, de um modo tipico, esta produedo destina-se & cidad que se transforma assim em um centro de comercializagao da producao rural. Tanto pode ser um pequeno centro. uma cidade regional, um porto exportador, um centro in. dustrial ou uma metrépole, para ela converge uma produ- cio destinada ao abastecimento de sua populagao em produ tos alimentares ¢, conforme 0 caso, destinado & reexpedi- cdo para mercados exira-regionais ou as suas induistrias _O proceso de comercializagio da produgao rural é muito complexo, Sua razao de ser deriva, em iiltima instn- cia, do fato de que tanto no comego como no final do pro- cesso verifica-se uma dispersio tanto dos produtores rurais como dos consumidores urbanos. Ha assim a necessidade de se realizar, proximo A zona rural, a concentragao da pro- dugio, depois sua transferéncia para a grande cidade, on- de entio sera de novo dispersa entre as consumidores fi- nais, Esta dispersio-concentracao-dispersao vai traduzir-se em diversas formas. Em todas elas a cidade impde ao cam- po um prego inferior aos praticados no meio urbano. A re- de urbana, por onde circula a produgio rural, constitui-se assim em uma cadeia de drenagem sobre o campo. Uma das formas em que a comercializacio se realiza ¢aquela onde participam numerosos intermediirios localiza- dos em sucessivos centros urbanos, constituindo uma ca- 1, Flddosarrotio det capitalism en Rusia. Barcelona, Ariel, 1974 59 deia urbana de comercializagao. O atacadista coletor, da pe- quena cidade eneravada em plena zona rural, tem uma mar- gem de lucro ao vender a producio ao atacadista reexpedi- dor ou a uma usina de beneficiamento localizada em uma cidade regional; a revenda da produgdo ao industrial, ¢x- portador ou grande atacadista metropolitano, por sua ve7, adiciona uma outra margem de lucro sobre o preco pazo ao atacadista coletor, Nesta cadeia de comercializagio 0 consumidor final, de localizagao urbana, paga ao varejista um preco muito elevado se comparado aquele que o produ- tor rural, localizado no comeco do processo de comercial zagao, recebeu do atacadista coletor. ‘A este esquema tradicional de comercializagao da pro- ducao rural opde-se um outro que se caracteriza pela atua- cdo dos supermercados. O desenvolvimento das grandes ca- deias de supermercados, com dezenas ou centenas de estabe- Iecimentos de vendas no varejo, alterou o esquema anterior- mente descrito. O supermercada possui numerosas filiais de compra localizadas em pequenos centros ou em cidades regionais. Isto simplifica a eadeia de comercializagao: das filiais de compra os produtos rurais sao transferidos ao de- pésito central localizado na metrépole ¢, dai, aos numero- sos estabelecimentos de vendas no varejo dispersos pelo es- paco metropolitano. Os lucros dos intermediaios do esque- ma anterior desaparecem, sendo apropriados pela grande empresa que dispde de enorme poder de manipulagao de pregos. E nem por isso o produtor rural € beneficiado. F nestes termos que a cooperativa de comercializacao da producio, controlada pelos produtores, constitui-se em uum instrumento de minimizagao da extragio de lucros co- merciais que as cidades em geral realizam sobre 0 campo: ao eliminar os intermediarios atacadistas a cooperativa tem condig&es de vender a produgio rural, de seus associados, por um prego mais clevado, Mas apenas sob certas condi- des verifica-se 0 desenvolvimento das cooperativas: as fir- mas intermediarias localizadas nas cidades da rede nem sem- pre véem com bons olhos o desenvolvimento delas 1 0. z Bo. 2 < ‘a 2 © S « (a) 2 ct 1 is Z | 2 5 te} 3 2 = 2 3 \ & 3 £ ‘al 2 + i g - -8 3—-+----- & a ° 3 ' € S$ gi 5 2 a i 5 q x ge 5 By all ge @ 2 fa « ae 4 z 6 o_o a -- z3 3 3 68 8 2 2 s| < ej F 7 z we 3 - «| 4 be 2 z EL é Bo 3 $s S| 8 a4 ie g e ae | 2. a. a z a 2 5 a a a . t ‘ 5 Be 5 © § BE 5 8 a gf 2 z £ é B A figura 8 procura ilustrar os trés exemplos acima in- dicados. As possibilidades de outros esquemas, contudo, nao se esgotam com os exemplos selecionados. O tema em tela constitui-se em outro assunto para pes- quisa, podendo os resultados obtidos clarificar esta comple- xace relevante questzio que envolve a rede urbana. Neste sen- tido queremos crer que 0 Brasil apresenta enorme riqueza de esquemas de comercializagao, onde podem estar presen- tes © pequento comerciante atacadista-varejista, o chofer de caminhao ou, no caso da Amazénia, do barco, a gran- de empresa industrial, 0 grande atacadista exportador, a cooperativa, 0 Estado e os supermercados, E seguramente as diferengas regionais do processo de comercializagao de- vem ser ainda notaveis. A drenagem da renda fundidria Em muitas outras regides a cidade constitui-se, em cer- to grau, cm um local de consumo da renda fundiaria rural. ‘Através do absenteismo parcial ou completo dos proprieté- rios rurais, especialmente os grandes, que residem no meio urbano, parcela ponderdvel do valor excedente produzido no campo é transferida para as cidades. Em muitas delas, os bairros suntuosos, as lojas gra-finas, os restaurantes e clubes existem, em grande parte, em razio da drenagem da renda fundidria, A cidade tem parte de sua existéncia creditada ao campo, que nao ¢ assim capitalizado. O investimento na propriedade fundiaria pelos citadi- nos considerado como sendo proprio de uma fase pré-ca- pitalista, No entanto, tem se verificado que a proprieda- de fundidria tem atraido capitais urbanos procedentes das mais diversas atividades, inclusive o grande capital finan- ceiro-industrial, que passa a ser aplicado em terras ¢ ativi dades agropecudrias. Antes de ser uma contradicao no seio do capitalismo, 0 investimento de capital no campo — de onde sera extrafda a renda fundiaria — constitui-se em uma alternativa capitalista que, sob certas circunstan- clas, pode ver neste tipo de investimento um excelente ne- gocio, Ao lado dos tradicionais proprietarios rurais absenteis- tas, ganham cada vez mais forga as grandes empresas, mui- tas delas vinculadas a poderosas corporaydes nuultifaceta- das ¢ multilocalizadas, que tém interesses em setores to di- ferentes como automédveis, quimica, construgo naval, me- talurgia, bancos, construgdes, comércio através de cadeia de lojas ete, E tanto podem ser empresas nacionais como multinacionais: a terra e o investimento rural sao un nativa para o capital em geral. E de se pensar que em regides de forte absenteismo, es- pecialmente da parte dos proprietérios rurais tradicionais, @ importancia de cada cidade da rede urbana em termos de captura da renda fundiéria seja proporcional ao seu pa- pel como localidade central: maior 0 montante da renda fundiaria capturada, maior 0 nivel hierarquico da cidade, isto se devendo importincia da demanda da elite rural re. sidente na cidade no aparecimento de bens ¢ servigos que acabam transformando-se em fungdes centrais. Esta & em realidade, uma hipdtese de trabalho. A questao da drenagem da renda fundidria no tem si- do muito considerada pelos cientistas sociais brasileiros, No entanto, parece ser mais importante do que se poderia supor, tendo nao apenas um poderoso efeito econdmico co- mo também politico. Em relagdo aos efeitos econdmicos tudo indica que a renda fundidria drenada vai ser aplicada, em grande parte, AO setor urbano, em mansies ¢ edificios residenciais de hu XO, € NO consumo de bens duraveis e servigos sofisticados, E ainda em investimentos especulativos, de natureza finan. ccira, Se considerarmos ainda que no Brasil parcela muito significativa dos investimentos na produgéo agropecudria € oriunda de créditos publicos subsidiados, e nao de recur- S05 prdprios, provenientes do valor excedente, constata-se alter- 63 que a drenagem da renda fundiiria para consumo urbano € maior do que se poderia supor: pois do valor excedente paga-se os empréstimos baratos, pouco se investindo na pro- dugao do ano agricola seguinte. Deste modo a questéo da renda fundidria e sua drenagem urbana torna-se mais dra- matica: parte dos escassos recursos piblicos que poderiam ser investidos socialmente sao canalizados pela e para as eli- tes que dispoem de terras e poder. Em relagdo ao efeito politico, poder-se-ia supor que a reforma agraria seria de muito interesse para os citadinos, sendo a sua execugdo o resultado de uma demanda de natu- reza urbana, além de interessar a um grande contingente de camponeses e assalariados rurais, No entanto, os interes- ses urbanos, constituidos pelos proprietarios tradicionais ab- senteistas € as grandes empresas, opdem-se a reforma agra- ria, pois a propriedade fundiaria rural representa acesso 40 crédito subsidiado, fonte de renda, reserva de valor, po- der politico e, 0 que ¢ mais importante, é uma forma de propriedade privada cuja extingdo ou limitagdo de uso nao se pode permitir. Deste modo cidade e campo contém as classes € fragdes de classe que (ém interesses opostos no que se refere & propriedade da terra. A guisa de sugestao, indicamos que o tema rede urba- na ¢ oligarquias rurais constitui-se em importante meio atra- vés do qual € possivel a compreensao de significativos as- pectos da sociedade brasileira e de sua dinamica. ‘Completa-se assim 0 primeiro ciclo de exploragao da grande cidade sobre o campo e cidades menores. A metré- pole constitui-se no destino de parcela ponderdvel dos exce- dentes demograficos, produtos rurais ¢ lucros comerciais, € renda fundidria. O segundo ciclo cafacteriza-se pelo que aparentemente € uma exporfacdo da grande cidade para os centros menores zona rural, A exportagdo é, em realida- de, uma condigiio para a extragdo de diversos outros valo- res excedentes, ampliando assim o processo de acumulacao € realimentando o primeiro ciclo de exploragao. Os Inv timentos de capitals O segundo ciclo de explorag’o comega com o investi- mento de capitais no campo e nas pequenas cidades a par: tir dos grandes centros de acumulagao que so as grandes cidades onde tendem a se localizar as grandes empresas, al- gumas das quais constituindo segmentos de corporagées multifacetadas e com miltiplas localizagdes. O investimento € feito, de um lado, diretamente atra- vés da implantagao de grandes projetos agropecuarios, in- dustriais ou ligados as atividades tercidrias como filiais de supermercados, lojas departamentais ¢ bancos. De outro, € feito indiretamente, através da participagéo das grandes empresas no processo de difusio de um novo produto € do controle qualitativo e quantitative da produgao. Isto se faz, em muitos casos, via mediago de instituigdes de assis- téncia ¢ extensio rural, bem como de financiamento bane: tio, os quais viabilizam a difus&io e adogao de sementes, adubos, inseticidas, tratores, colheitadeiras etc. Os investimentos realizados t¢m um forte impacto so- bre o campo e as cidades menores, Primeiramente criam no- vas especializagdes produtivas rurais ¢ urbanas. No que se refere as cidades, os investimentos acabam alterando a in- sergio delas na rede urbana. O campo é reestruturado, sen- do afetados a estrutura fundiéria, as relagdes de produgao, os sistemas agricolas, a pauta dos produtos cultivados, o habitat rural e a paisagem agraria que tende a se tornar va- zia de homens. Em segundo lugar, os investimentos impactam sobre as necessidades de forga de trabalho no campo. A moderni- zagdo da agricultura cria novos excedentes demogrdficos que vito realimentar o primeiro ciclo de exploracdo. O pro- cesso migratério torna-se intenso, sendo direcionado para ‘a periferia das grandes cidades, onde passa a engrossar um exéreito de reserva ja constitufdo, ou direciona-se para a fronteira agricola, como tem ocorrido no Brasil. Parte 68 do excedente demografico, entretanto, passa a constituir tum exército de reserva rural-urbano, residindo na periferia de pequenas e médias cidades da hinterlandia metropolita. na. Constitui uma forga de trabalho temporario que, sobre- tudo na época da safra agricola, realiza migragdes pendula~ res entre cidade e campo. A pequena ¢ média cidade torna- se entao local de concentracao da forga de trabalho rural: este € um dos novos modos de insergao na rede urbana. Hipotetiza-se entdo que a importancia relativa das cida des como locais de concentragdo da forga de trabalho seja inversamente proporcional & sua dimensdo como localida- de central: maior a sua hierarquia urbana, menor © seu pa pel como reservatorio de mao-de-obra rural Um outro impacto resultante dos investimentos da gran- de cidade no campo e em centros menores € a transferéncia do poder de controle e decisao das atividades locais para a metropole, Esta transferéncia de poder se da pela implanta gao de filiais de empresas da grande cidade, acompanhada ‘em muitos casos pela faléncia, incorporagao € satelizagao funcional de empresas locais que ndo apresentam condigdes de competigéo com as grandes empresas de fora. Inclui nao apenas as atividades industriais, que podem ser reestrutura- das, mas também as atividades comerciais e de servigos pe- la penetragao de filiais bancarias, lojas departamentais, de eletrodomésticos, supermercados, companhias de transpor- te etc, Em todos os casos a transferéncia significa perda da gestdo das atividades e drenagem de valores excedentes como juros e lucros comerciais. ‘As pequenas cidades, e as vezes 0 proprio campo, trans- formam-se em locais de implantagao de induistrias polucn tes que ndo podem, por forca de interesses urbanos, perma- necer na grande cidade. Ali sio implantadas também indis- trias ditas “descentralizadas’” da grande cidade. Aparente- mente 0 abandono da metrépole deve-se as desvantagens decorrentes da urbanizagdo. No entanto, trata-se de estabe- Jecimentos industriais dotados de economias internas da es- cala, que prescindem da presenga proxima de outras indits- Irlas e atividades de servigos e/ou pertencem a uma corpo- ragio que redistribui sobre um vasto territério suas opera- ges, A localizacdo dessas indlistrias se dé em razio da pre- senga de uma forga de trabalho mais barata, via de regra menos ativa politicamente, e que se constitui em um merca- do de trabalho cativo Esta descentralizago constitui-se em uma pratica do capital para reaver uma taxa de lucro — valores excedentes, portanto — abalada por constantes investimentos na gran- de cidade. A descentralizagao, em realidade, verifica-se em escala internacional, reorganizando nao apenas as rela~ gOes entre cidades ¢ regides, mas também entre paises: nes- te sentido New York, Londres, Téquio, Paris e outras pou- cas metrépoles mundiais so as grandes cidades e o restan- te do mundo capitalista, a regidio de influéncia. Um ponto deve ser agora focalizado, Trata-se da tese do papel da grande cidade como promotora do desenvolvi- mento regional ou nacional através de suas indiistrias, capa- zes de criarem demandas produtivas e de consumo na re- gido, e da descentralizagao industrial criadora de empregos ¢ impostos nas cidades menores ¢ no campo. Em resumo, através dos pdlos de desenvolvimento e de suas ‘‘industrias motrizes”’ e da difusdo de inovagées instaurar-se-ia o desen- volvimento, implicando eficiéncia e eqiiidade sécio-espacial. Iniciado por volta de 1955, em um momento de expan- stio capitalista, 0 discurso do desenvolvimento mostrou que nilo passa, decorridos mais de trinta anos, de uma ideolo- gia justificadora da internacionalizagao do capital. Em realidade os investimentos de capital, ao invés de promoverem uma homogeneizagio do espaco, inchuindo-se aj a eqilidade social, serviram para redefinir os padrdes da diferenciagdo espacial, alterando-os em termos de divisio © Cf, PALLoIN, Christian, La inrernucionatigacién del capital. Madris lume Ediciones, 1978. ST territorial do trabalho, taxas de lucro e niveis de consumo; ‘em contrapartida, tendendo & homogeneizagao, ampliaram mais ¢ mais as relagdes capitalistas ligadas & produgao certos valores culturais. A homogeneiza¢ao completa do es- paco nao & compativel com o capitalismo: a dinamica con- iraditria da acumulagdo suscita diferentes territérios, en- tre eles novose velhos, desiguais em termos naturais e socials. Os investimentos realizados no campo € nas cidades menores pelas grandes cidades constituem condigdes para , uma efetiva exploracdo, isto é, para uma efetiva continuida- de do proceso de acumulagao capitalista. A distribuigdo de bens e servigos Com a expropriagtio dos meios de produgao ¢ de con- sumo de parcela ponderdvel dos camponeses, com a mode! nizagdo da agricultura ¢ a destruigdo das indistrias das pe- quenas cidades, 0 mundo rural € os centros menores esto preparados para 0 consumo de produtos industriais e servi- ‘cos cujas origens esto na grande cidade. Trata-se de fertili- Zantes, inseticidas, arados, produtos alimentares industriali- zados, tecidos, médveis, utilidades domésticas diversas ¢, mais tarde, eletrodomésticos e veiculos automotores, entre outros; inclui-se também os servigos de educagao, saude, bancarios, contabilidade, publicidade etc. A difusdo de um idedrio urbano, capitalista em realidade, que introduz novos valores e condiciona habitos, ratifica ¢ direciona a demanda e 0 consumo de bens ¢ servigos urbanos. © papel das cidades na distribuigao de bens € servigos acentuou-se com o capitalismo, Nesta acentuagao verificou- se uma integragdo paulatina das cidades, originando redes revionais e nacignais de centros. A integragdo foi acompa- hada pela hierarquizagdo das cidades, uma decorréncia dos diferenciais de demanda ¢ oferta de bens ¢ servigos. Formaram-se entao redes de distribuigao de bens ¢ servicos, isto é, de localidades centrais. co) eee Convém lembrar que inversamente & comercializagao de produtos rurais, onde o campo esté no comego do cir- euito, recebendo pouco pelo que produz, no que diz respei- to A distribuigao, os habitantes do campo, ¢ também os das pequenas cidades encravadas na zona rural, encontram- se no final do circuito, pagando mais caro pelos produtos que adquirem, A rede de distribuigao é assim uma rede de extragdo de lucros comerciais. Vejamos como elas, num es- quema tradicional, funcionam, industrial da grande cidade vende seu Broduto a um atacadista de uma cidade regional que, ao revendé-lo a0 comerciante varejista da pequena cidade, adiciona uma margem de lucro ao prego pago ao industrial. © comercian- te varejista, por sua vez, adiciona a sua margem de lucro ao realizar a venda ao consumidor final, o homem do cam- Po € da pequena cidade, As extragdes sucessivas de lucros comerciais constituem, na realidade, etapas necessdrias do Processo de realizagao do valor e da mais-valia. A concentragao da produgio em poderosas indistrias que apresentam um carater oligopolista e a crescente inte- gragdo territorial via wma cada vez mais densa rede rodovia- ria asfaltada e modernos meios de comuni ‘agdes tém leva- do a mudangas na rede de distribuigaéo. Por outro lado, a concentragao no setor tercidrio produziu grandes empresas, muitas das quais organizadas em cadeias de lojus, e todas realizando operagdes de compra em larga escala. Todas es- tas transformagées — na produgao, circulacéio e distribui- séo — levaram a progressiva eliminagdo do atacadista da cidade regional, alterando assim a rede urbana, Assim, grandes empresas que produzem bens cujo con- sumo é muito freqiiente, implicando a alta rotatividade dos estoques das lojas — artigos de limpeza e higiene pessoal, alimentos em conserva, entre outros —, possuem filiais de venda em centros metropolitanos regionais como Porto Ale- gre, Belo Horizonte, Salvador e Recife, Deles partem perio- dicamente viajantes que, com itinerdrios prefixados, reali- 69 ee? zam a renovagao dos estoques das lojas. Os pediddos so ex- pedidos das metrépoles para a rede da empresa industrial; as mercadorias sao encaminhadas da Fabrica ou de um de pésito central diretamente para o varejista. ; Ao se eliminar o atacadista introduz-se alteragoes na estrutura funcional das cidades regionais. Entretanto, 0 ¢o- merciante atacadista pode permanecer em razdo da existén- cia de um amplo setor varejista que nao dispoe de escala su- ficiente para realizar compras diretamente dos grancles fa- bricantes: estes exigem um minimo de valor ou por comprados em cada transagao comercial. Eee lee a existéncia de atacadistas para os pequenos varejistas: al- guns tornaram-se poderosos, como se exemplifica com as firmas Alé Brasil, de Goidnia, e Martins, de Uberland uam em vasta drea do territério nacional. ‘As redes de localidades centrais que se estabeleceram no Brasil fornecem um rico € variado conjunto de padroes espaciais € modelos Cuncionais de distribuigao de bens e ser~ vigos. Padroes ¢ modelos onde coexistem as formas a modernas de distribuigéo ao lado das mais tradicionai a jais regionais de vendas das grandes industrias, aa decadentes ou présperos, representantes comerciais, cade! oe de lojas departamentais — especializadas ou de supermerca- dos — a “feira"” — entendida como mercado periddico — 0 “regatao”” da Amazénia, ea pequena loja sees da ou que de tudo vende um pouco etc, Os diversos pears e modelos traduzem as diferentes estratégias € possibili la- des de realizagao efetiva do valor e da mais-valia, tendo em vista a variabilidade no espago da demanda cfetiva, i sultante, em tltima instancia, de combinagdes distintas de densidade demografica, nivel de renda ¢ padres earuees. As diferengas existentes, que vo traduzir-se em aes redes de distribuigfo atuando com base em uma mesma - de urbana, constituem uma tematica extremamente signi } cativa para pesquisas, com o propdsito de contribuir para a compreensio da complexa rede urbana brasileira e seu pa ee Pel no processo de acumulag: ital iGo capitalista e d a dos diferentes grupos sociais eseprodisso A difusio de valores e ideais A grande cidade desempenha ainda o papel de centro difusor de idéias e valores capitalistas. A finalidade dltima desta difusdo € a de criar condigées de teproducdo de to- do 0 sistema social. Trata-se de um idedrio, transformado em ideologia, por meio do qual difundem-se idéias e valo- Fes que so apresentados como modernos, urbanos, senao metropolitanos, e cosmopolitas, i Justifica-se assim a modernizagao do campo, a implan- tagdo de filiais das grandes empresas nacionais e multinacio. nais no pais, o papel crescente do Estado capitalista, ¢ 0 ca- rater natural — fora do controle social, portanto —- da ex- ploragao ¢ das diferengas sdcio-espaciais; os conflitos sociais sAo minimizados ou solucionados, e as noticias selecionadas. As redes nacionais de televisdo constituem um bom exemplo, sendo o melhor, dos vefculos através dos quais di- funde-se todo um idedrio urbano-< ‘apitalista. Estas redes es- tao centralizadas nas duas maiores cidades do pais, Rio de Janeiro ¢ Sao Paulo, estando estruturadas dle acordo com 65 principais escaldes da rede urbana brasileira — as metrd poles regionais ¢ as capitais regionais, : Bis 0 segundo ciclo de exploracio da grande cidade so- bre 0 campo e cidades menores. A acumulacdo de diversos valores excedentes na grande cidade enseja novos investimen, tos de capital, reiniciando-se assim, via rede urbana, os ci. clos da exploragio e a aparente perpetuacdio do sistema social. Rede urbana e forma espacial ' A tede urbana pode ser considerada como uma for- na espacial através da qual as fungdes urbanas se realizam, u i ee SS Estas finngdes — comercializagdo de produtos rurais, produ- cdo industrial, vendas varejistas, prestago de servigos di- versos etc. — reportam-se aos processos sociais, dos quais a criagdo, apropriagdo e circulagao do valor excedente cons- titui-se no mais importante, ganhando caracteristicas espe ficas na estrutura capitalista, Em outros termos, estrutura, processo, fungdo ¢ forma sao, conforme aponta Milton San- tos, categorias de andlise da realidade social, devendo ser consideradas no estudo da rede urbana.” ‘A conexao entre estrutura, processo, fungdo & rede ur- bana, enquanto forma espacial, diz respeito néo apenas 20 presente, mas também ao passado através de suas “rugosida- des”. A forga de inércia da forma espacial criada no passa- do, especialmente em virtude de uma certa flexibilidade fun- cional das cidades, exerce um papel marcante nas redes urba- nas criadas no bojo de outros modos de produgao, ou de fa- ses distintas do capitalismo. Deste modo € necessario que se tenha cautela quando consideramos a rede urbana enquan- to forma espacial. Processo e forma implicam relagdes que podem ser complexas, iludindo o pesquisador. Formas seme- Ihantes podem ser originadas de processos distintos: neste sentido, se do processo pode-se inferir qual a forma resultan- te, 0 inverso nao é verdadeiro, pois uma dada forma pode ser originada de diferentes processos, como lembra Olsson." ~. Vejamos que formas espaciais a rede urbana pode assu- / mir e qual o significado delas. Assume formas simples € { complexas, isto ndo implicando uma necessiria evolugao \ das primeiras para as segundas. A rede dendritica ‘A rede dendritica ¢ a forma espacial mais simples de rede urbana, Seguiido Johnson, entre outros, a rede dendri- 1 Espago e método. Sto Paulo, Nobel, 1985. § Orsson, Gunnar. The dialectics of spatial analysis. Antipode, 6 (3), 1974 a tied caracteriza-se primeiramente_pela sua origem colonial, Ou seja, é no Ambito da valorizagao dos territérios conqui: tados pelo capital europeu que nasce e se estrutura uma re- de dendritica. Seu ponto de partida é a criagdo de uma cida- de estratégica ¢ excentricamente localizada face a uma futu- ra hinterlandia, Esta cidade, de localizacdo junto-owpréxi- mo ao mar, é o ponto inicial de penetragio e conquista do territério & sua retaguarda, ¢ sua porta de entrada -e saida. “Desde o inicio concentra as principais fungdes econd- micas ¢ politicas da hinterlandia, transformando-se em um niicleo desmesuradamente grande em relagao aos demais centros que controla. E uma “‘cidade primaz”. A cidade primaz concentra a maior parte do comércio atacadista exportador ¢ importador, através do qual toda a regitia vé viabilizada a sua participagao na divisdo interna- cional do trabalho. Concentra assim a maior parte da ren- da bem como a elite regional de raizes fundidria e mercan- til. Principal mercado de trabalho urbano, transforma-se no mais importante foco das correntes migratérias de desti no urbano, Em segundo lugar, a rede dendritica caracteriza-se pe- lo excessivo mimero de pequenos centros, pequenos pontos- de-venda indiferenciados entre si no que se refere ao comér- cio varejista. Resulta esta caracteristica do baixo nivel de demanda da populagao e de su mobilidade espa- cial, advinda em parte da precariedade das vias ¢ meios de transporte,

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