duas maiores ilusões do ano tenham sido antes o Carnaval e agora a Copa do Mundo. Com toda certeza, as maiores ilusões são as eleitorais.
A primeira ilusão é que brilharecos legais como a “ficha limpa”
constituem uma reforma política à altura das necessidades do País. As maiores ilusões, no entanto, são as de que as eleições são “democráticas” e é o povo que escolhe seus governantes. Não há democracia verdadeira no sistema de escolha dos candidatos e no financiamento das campanhas eleitorais. O povo está ausente do primeiro, decidido só pelos caciques, e é vítima do segundo. Se o PIB é a soma de todas as riquezas nacionais, até aquelas que o crime organizado gera ao lavar dinheiro, as elites nacionais são no geral representadas politicamente por uma soma de PT, PSDB, PMDB e DEM. Os demais partidos, mesmo os históricos e com princípios bem claros, não contam para a obra conjunta que esses quatro edificam no Brasil: fazer do País uma nação capitalista modelo. Todos os presidentes da República e governadores de Estado, desde Vargas (seus antecessores eram meras cópias republicanas do imperador), vêm se empenhando nesse mesmo propósito. Não há nenhuma justificativa para designar diferentes governos como “era militar”, era Collor”, “era FHC” ou “era Lula”, pois tudo era e é a mesma e constante sequência da imposição/afirmação do capitalismo no Brasil. “Farinha do mesmo saco”, diria Ivan Lins. Nuances, truques, formalismos constitucionais e idiossincrasias não conseguem mascarar esse fio evidente: o projeto elitista de fazer com que o capitalismo assegure o controle de novos sítios para a exploração do trabalho humano, extração rapineira dos recursos naturais e destruição ambiental (vide Belo Monte). Transformar miseráveis em consumidores, com bolsas-escola-família etc, faz parte essencial desse projeto.
Mudar para continuar
Com muita esperteza, as elites nacionais vão fingindo que seus filhos e apaniguados disputam eleições, das federais às estaduais. As partes de seu todo simulam candidaturas opostas e assim asseguram a manutenção do poder. No Paraná, aliás, acha-se o DNA dos atuais manda-chuvas na sala do trono imperial: Jesuíno Marcondes era um dos homens fortes do imperador. A dupla Beto-Osmar vêm do mesmo tronco PDC-MDB- Richa, derivado de Ney, Munhoz etc. De lá para cá, há um único fio de poder oligárquico, mesmo com a interrupção de uma queda de regime (do monárquico para o republicano, em 1889), de uma revolução (1930), uma quartelada (1964) e uma conciliação entre a elite mais reacionária e a burguesia moderna (1984). As “eras” dos presidentes e governadores, portanto, são partes desse mesmo fio. Nota-se isso muito bem, por exemplo, ao observar um relatório da Auditoria Cidadã da Dívida: exclusivamente no que se refere aos investimentos federais, de 1995 a 2002 (período FH), o Grupo de Natureza de Despesa dos investimentos foi, em média, de 0,79% do PIB, enquanto no período de 2003 a 2009 (governo Lula), tal percentual foi ainda mais baixo: 0,54% do PIB em média. Não há como afirmar que o atual governo seja mais ou menos “desenvolvimentista” que o anterior. Foi “desenvolvimentismo” zero vírgula qualquer coisa nas duas “eras”, apesar das cataratas de propaganda. No calendário eleitoral de outubro, tanto na União como no Estado, tal qual acaba de acontecer na Colômbia, continuaremos, como sempre, tendo mais do mesmo: mais mesmice, mais capitalismo. alceusperanca@ig.com.br