Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Ouvi o infortnio com certo horror e fascnio. E depois recordei a mais bela
histria intelectual da Inglaterra do sculo 19, que sinceramente me comove
at s lgrimas. Aconteceu com Thomas Carlyle, o notvel historiador
escocs, tal como ele a relata nas suas memrias. Durante anos de intenso
labor e habitando uma pobreza excessiva, Carlyle completara o primeiro
volume da sua histria da Revoluo Francesa. Contara com a ajuda do
filsofo John Stuart Mill, que emprestara livros e dinheiro. E quando Stuart
Mill, no final da odissia, pediu de emprstimo o nico manuscrito do
trabalho para ler, aquele manuscrito que consumira a sade e a juventude de
Carlyle, este o emprestou, grato e honrado.
Foi uma hora funesta. No dia seguinte, Mill regressava, branco como um
fantasma, para comunicar que o manuscrito fora acidentalmente consumido
pelas chamas.
A descrio que Carlyle nos deixou nas "Reminiscences" ainda hoje emociona
qualquer cristo: o estoicismo com que a notcia recebida, apesar da
mortificao interior; as trs horas de conversa esforadamente banal, como
se fosse Mill a necessitar de consolo; e quando este deixou finalmente a casa
do historiador, para infinito alvio do casal, a mulher de Carlyle, incapaz de
fingir normalidade, abraando um homem destroado e chorando com o
dramatismo que apenas concedemos s peras clssicas. E as palavras de
Carlyle, finalizando a cena, dirigidas a um Deus em que ele, para tragdia
sua, no acreditava.
Livros de auto-ajuda? Sim, leitores; afinal, eles existem. Nas minhas piores
horas, olho para esse volume aparentemente annimo entre tantos volumes
annimos e h uma gratido silenciosa e interior que me faz, tantas vezes,
recomear.