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Srimad

Bhagavad Gita

Sri Srimad Bhaktivedanta Narayana Goswami Maharaja


Com comentários

Bhavanuvada de Srila Visvanatha


Cakravarti Thakur, a jóia cristalina entre os
mestres espirituais e guardião da Sri Gaudiya
Sampradaya

&
Prakasika-Vrtti de Srila Bhaktivedanta
Narayana Goswami Maharaja, o melhor entre
os Tridandi Sanyassis

Dedicado a

Sri Gurupadapadma
Sri Gaudiya Vedanta Acarya Kesari
Nitya Lila Pravista
Om Visnupada Astottarasata
Sri Srimad Srila
Bhakti Prajnana Kesava Goswami
Maharaja

O melhor da décima geração


Do Parampara de Sri Krsna
Caitanya Mahaprabhu
Sri Caitanya Mahaprabhu e associados

Antes de mais nada, devemos saber pelo menos


um pouco sobre estes devotos Maha
Bhagavatas (devotos puros quem são os
comentaristas desta edição do Gita) que
misericordiosamente nos iluminam com as
puras e profundas explicações dos preciosos
versos da Gita.

Sri Srimad Bhaktivedanta Narayana


Goswami Maharaja é um devoto Rasika
(aquele que está sempre saboreando a doçura
do serviço devocional), vem servindo a
Gaudiya Sampradaya por mais de sessenta anos
ininterruptos, e trabalhou incansavelmente para
que leitores sinceros de todo o mundo
pudessem compreender os profundos
significados dos versos do Gita. Srila
Bhaktivedanta Narayana Maharaja foi o
idealizador deste projeto literário que
complementa o extraordinário trabalho deixado
por Bhaktivedanta Swami Maharaja
(Prabhupada). Ele dedica esta edição ao seu
amado Mestre Espiritual Nitya Lila Pravista
Om Visnupad Sri Srimad Srila Bhakti Prajnana
Kesava Goswami Maharaja, (o mais querido
discípulo de Jagad Guru Bhaktisiddhanta
Saravati Thakur e sanyassa Guru de sua Divina
Graça Bhaktivedanta Swami Maharaja
(Prabhupada).

Sri Srimad Srila Visvanatha Cakravarti


Thakura é um Acarya renomado na nossa
Sampradaya, Visvanatha quer dizer O Senhor
do Universo, e " Cakravarti " significa rodeado
em círculo, pois ele era sempre ouvido por
devotos puros, que sentavam ao seu redor a fim
de aprender o caminho da devoção pura, e as
conclusões filosóficas perfeitas. Ele é o
principal seguidor de Srila Rupa Goswamipada
e seus comentários são cheios de rasa.

Assim rendo-me milhões e milhões de vezes


aos pés de lótus destes dois Vaishnavas,
implorando pela sua misericórdia. Peço licença
e inspiração também, ao presidente da Gaudiya
Vedanta Samiti - Nitya Lila Pravista Om
Visnupada Sri Srimad Srila Bhaktivedanta
Vamana Goswami Maharaja, quem é um
oceano de misericórdia e doçura, e a meu
amado Sri Guru Paramaradyatta
Gurupadpadma Sri Srimad Srila Bhaktivedanta
Narayana Goswami Maharaja, o melhor da
décima primeira geração do Gaudiya
Vaishnava Parampara e quem editou este
extraordinário Bhagavad Gita, enriquecendo-o
com seus maravilhosos comentários.

Observações:

Srila Bhaktivinoda Thakura diz que embora


Bhagavan Sri Krishna tenha dado instruções a
Arjuna, na verdade estas instruções foram
dadas para a liberação do mundo inteiro. Todas
as conclusões da Gita levam o leitor ao objetivo
final que é bhakti.
A palavra brahma usada na Gita pode significar
Bhagavan Sri Krishna, ou o seu aspecto
impessoal (ou seja, o brilho corpóreo que
emana do corpo de Sri Krishna), mas Brahma
indica o semideus Brahma (o primeiro ser
criado).

Esta tradução tem como objetivo apresentar da


maneira mais simples possível, os profundos
comentários dos Acaryas dados nesta edição,
tornando-os assim mais acessíveis aos leitores
brasileiros. Perdoem qualquer erro que eu tenha
cometido na tradução e digitação e por favor aceitem
sua essência com o objetivo de realização
transcendental.

B.V.Narayan Goswami Sevaka

Baladeva Das Brahmacari - Keshavaji Gaudiya Math (B.H) –


2009
Resumo dos dezoito capítulos da Gita por
Sri Srimad Srila Bhaktivedanta Narayana
Goswami Maharaja

Capítulo 1- Sainya – Darsana:

Observando os exércitos.

O Bhagavad Gita se compõe de dezoito


capítulos cuja conclusão é bhakti. Arjuna
atuou no campo de batalha como se
estivesse imerso na lamentação e Krsna
lhe explicou então que atma-dharma da
entidade viva não tem relação alguma
com o dharma do corpo, dinastia ou casta.
A entidade viva é forçada a sofrer as
misérias da lamentação, ilusão e do temor
enquanto permanecer cativa de maya e
considerar que o corpo é o próprio ser.
Por tanto, é indispensável que aceite o
refúgio de um guru genuíno (tattva-vit
guru).

Capítulo 2 - Sankhya Yoga

O princípio das análises.

A jiva percebe sua ignorância quando


aceita o refúgio de um sad-guru e então
trata de libertar-se das garras ilusórias de
maya, abandonando seus pensamentos
independentes e respeitando as instruções
de Sri Gurudeva. O sad-guru está livre
dos quatro defeitos – ilusão, propensão a
cometer erros, sentidos imperfeitos e a
tendência a enganar-se – porque é uma
um tattva – darsi ekantika - prema -
bhakta. O sadhaka compreende a
diferença entre a alma e o corpo material
quando escuta as instruções da boca de
lótus de seu misericordioso Gurudeva.
Também compreende os efeitos
degradantes do desfrute sensual e
desenvolve apego por escutar acerca dos
pensamentos, características e glórias dos
sthita – prajna - munis. Logo, pela
influência de sadhu-sanga, desperta em
seu coração a consciência da necessidade
de se obter tattva – jnana.

Capítulo 3 – Karma Yoga


O princípio da ação.

A jiva compreende que karma-yoga


consiste nos esforços executados sem um
desejo egoísta (niskama bhava) para o
serviço de Bhagavan quando escuta as
instruções dadas por Sri Krsna. Se seu
coração está cheio de desejos de desfrute
sensual, então a aceitação do hábito de
sannyasi não é verdadeira renúncia, senão
que uma hipocrisia que jamais pode atrair
auspiciosidade.
A jiva deve executar seu karma como um
serviço a Sri Bhagavan porque a
realização de karma para o desfrute
sensual não produz nenhum resultado
favorável. A execução de karma, como os
yajnas védicos por exemplo, pode
outorgar prazer sensual mundano, mas
este prazer é temporário e está mesclado
com infelicidade. Mesmo assim, karma
yoga purifica o coração. Por tanto, é
favorável abandonar todo tipo de akarma,
vikarma e sakama karma e adotar
unicamente o niskama-karma-yoga
oferecido a Bhagavan.

Capítulo 4 – Jnana Yoga

O conhecimento transcendental.
O capítulo quatro começa com instruções
sobre jnana-yoga. Primeiro explica que
uma pessoa só pode obter tattva-jnana
genuíno através da misericórdia de Sri
Gurudeva, quem é um tattva-darsi. Esta
misericórdia se manifesta através do
processo de escutar de uma sucessão
discipular fidedigna. Não se pode obter
bhagavat tattva-jnana mediante o
aprendizado mundano, inteligência ou
conhecimento. Este capítulo explica
também que em cada yuga aparece um
avatara de Bhagavan. O nascimento e as
atividades de Bhagavan são divinos; é
tolice e ofensivo pensar que são
mundanos. Uma pessoa obtem tattva-
jnana na associação de um tattva darsi
guru, escutando gradualmente dele acerca
das características de jnana-yoga e sua
superioridade sobre karma-yoga. Ela pode
cruzar fácilmente o oceano de
nascimentos e mortes ao refugiar-se no
tattva-jnana verdadeiro. O sadhaka não
pode progredir se tem dúvidas sobre isto;
se carece de tattva-jnana ele se desviará
do caminho, cairá e ficará novamente
enredado no ciclo de karma.

Capítulo 5 – Karma-Sannyasa Yoga

Renúncia a ação
O sadhaka obtém a qualificação para o
karma sannyasa-yoga quando obtém
tattva-jnana. Meste momento compreende
que o verdadeiro sannyasa significa
abandonar o apego pela ação e seus
frutos. Para alguém cujo coração é ainda
impuro, é benéfico e apropriado adotar o
karma-yoga sem apegar-se ao processo e
seus frutos, ao invés de renunciar
completamente o karma. O niskama-
karma-yoga oferecido a Bhagavan
concede a qualificação para se obter a
natureza do brahma ou brahmapada.
Quem conhece o brahma obtém paz.

Capítulo 6 – Dhyana Yoga

O princípio da meditação.

O sadhaka compreende a partir das


instruções do tattva-vid guru que só se
pode meditar em Bhagavan quando o
coração está purificado. Um yogi ou
sannyasi está livre de todo tipo de desejos
materiais, pois ninguém pode alcançar a
perfeição no yoga enquanto possui
desejos de desfrute material. Uma pessoa
que deseja alcançar a perfeição no yoga
deve regular a ingestão de alimentos e
atividades reacionárias. Esta perfeição
significa: 1- perceber Sri Bhagavan como
Antaryami (superalma) no coração de
todas as entidades vivas, e 2-
compreender que todas as jivas existem
apenas devido ao sustento e refúgio de
Bhagavan. Este capítulo também declara
que um bhakta é superior ao karmi, jnani
ou yogi.

Capítulo 7 – Vijnana –Yoga

A compreensão do conhecimento
transcendental

O estudo constante destas instruções


conduz a firme compreensão e percepção
de que Bhagavan Sri Krsna é o limite do
para-tattva, A Realidade Absoluta
Suprema e que além dele, não há outro
parama -tattva. Uma pessoa pode liberar-
se de maya apenas através da rendição
exclusiva a seus pés de lótus. Há quatro
tipos de pessoas que carecem de
qualificação para dedicar-se ao Bhagavat
bhajana porque executam atividades
impiedosas. Estes são: os tolos, os
deploráveis, os que possuem natureza
demoníaca e os que possuem um
conhecimento coberto por maya. Ao
contrário, há quatro classes de pessoas
dotadas de créditos piedosos (sukrti) que
podem se dedicar a bhagavat-bhajana: os
aflitos, os que buscam por fortuna, os
questionadores e os jnanis. Os bhaktas de
Bhagavan são difíceis de ser encontrados
neste mundo. Não se pode obter o
benefício eterno através da adoração dos
diversos semideuses (deva e devis).

Capítulo 8 – Taraka Brahma Yoga

Yoga com Parambrahma.

Apenas os ekantikas bhaktas de Sri Krsna


podem conhecer tattvas tais como o
brahma-tattva, karma-tattva e adhibhuta-
tattva, entre outros. Estes ekantika bhaktas
podem alcançar Krsna muito facilmente.
Os bhaktas de Bhagavan jamais nascem
de novo. Bhagavan pode ser alcançado
apenas mediante ananya bhakti(Gita
8.22).

Capítulo 9 – Raja - guhya Yoga

O conhecimento mais confidencial

O raja-vidya ou raja-guhya se refere


unicamente – a suddha-bhakti-yoga. A
prakrti, a natureza material, não é a causa
original da criação cósmica, pois só obtém
a potência para criar pela inspiração de
Bhagavan. É tolo e ofensivo pensar que
Bhagavan Sri Krsna é um ser humano ou
que seu corpo sac-cit-ananda está
composto pelos cinco elementos materiais
igual aos corpos das almas condicionadas
ordinárias ou baddha-jivas. Os mahatmas
genuínos se dedicam ao bhajana de Sri
Krsna com sentimentos devocionais
exclusivos ou ananya bhava e Sri Krsna
atende pessoalmente suas necessidades. A
dedicação ao bhajana aos diversos devatas
é contrária às regras prescritas, pois Krsna
é o único desfrutador e amo de todos os
sacrifícios. Sri Bhagavan aceita tudo que
seus suddha bhaktas lhe oferecem com
amor. O último verso deste capítulo, “man
mana bhava mad-bhakto”, se conclui que
bhakti é o único meio para alcançar o
Senhor Supremo.

Capítulo 10 – Vibhuti Yoga

A apreciação das opulências de Sri


Bhagavan

Uma pessoa pode entender que Krsna é o


fundamento de todas as vibhutis e saktis
(energias), através do estudo sincero e
constante deste capítulo. Também entende
que todo universo material, junto com
suas opulências, constituem apenas um
quarto de sua grandeza. Ela pode
compreender facilmente que tudo está
direta ou indiretamente conectado a
Bhagavan Sri Krsna quando obtém este
conhecimento sobre os vibhutis.
Bhagavan outorga buddhi-yoga a seus
bhaktas para que possam entender o
tattva-jnana. Assim, sua ignorância é
destruída e eles se dedicam a bhagavat
bhajan com amor.

Capítulo 11 – Visvarupa darsana yoga

A contemplação da forma universal do


Senhor

Este capítulo revela que a visvarupa de


Bhagavan é ilusória enquanto a svarupa é
transcendental e similar a humana.
Apenas os bhaktas cujos olhos estão
untados com prema podem obter o
darsana (visão) da sua forma rasika
sekhara. Bhagavan é alcançado apenas
mediante ananya bhakti yoga.

Capítulo 12 – Bhakti Yoga

O serviço devocional puro

Este capítulo explica que Svayam


Bhagavan Sri Krsna é a Realidade
Suprema e o objeto supremo de adoração
exclusiva da jiva. Os bhaktas dotados com
ekantika bhakti são muito queridos por
Ele. Pode-se alcançar Bhagavan
facilmente aquele que pratica suddha
bhakti, mas os nirvisesa brahmavadis só
enfrentam misérias.

Capítulo 13 – Prakrti-Purusa-Vibhaga
Yoga
A diferença entre a natureza material e o
desfrutador.

Este capítulo oferece uma profunda


compreensão da natureza material e da
entidade viva. Através desta discussão,
Bhagavan outorga tattva-jnana a seus
bhaktas rendidos e os libera do oceano do
mundo material.

Capítulo 14 – Guna-traya-Vibhaga Yoga

Os três modos da natureza material

Um estudo analítico deste capítulo conduz


à compreensão de que este mundo
material desenvolve-se simplesmente pela
ação e interação dos três gunas materiais:
sattva, rajas e tamas. Os sadhakas que
executam bhakti-yoga podem transcender
estes três gunas com facilidade e
finalmente obtém a qualificação para
alcançar Bhagavan.

Capítulo 15 – Purusottama Yoga

A compreensão da Pessoa Suprema

Este mundo material se estende desde os


sistemas planetários inferiores até os
superiores e as jivas são partes separadas
ou amsas de Bhagavan. Aqueles que se
opõem a Bhagavan são atados por seu
karma e perambulam por diversas
espécies de vida, inferiores e superiores.
Uma pessoa pode receber a misericórdia
de um Guru genuíno como resultado da
sua boa fortuna e dedicar-se por completo
ao bhajana de Sri Krsna.

Capítulo 16 – Daivasura Sampada Yoga

As qualidades divinas e demoníacas

Este capítulo explica as naturezas divinas


e demoníacas. A jiva confundida por
maya é controlada pela natureza divina ou
demoníaca Ela inclina-se a bhagavat-
bhajana quando se refugia na natureza
divina, mas quando adota a natureza
demoníaca ela se opõe a Bhagavan e
assim vai ao inferno. Aqueles que
possuem esta natureza pregam a filosofia
mayavada. Portanto é necessário liberar-
se desta tendência mediante a execução de
bhagavat-bhajana na associação dos
suddha bhaktas.

Capítulo 17 – Sraddha-Traya-Vibhaga
Yoga

Os três tipos de fé

Este capítulo explica os três tipos de fé.


Uma pessoa desenvolve fé em sattva, rajo
ou tamo de acordo com sua associação e
natureza que adquiriu de seus samskaras
prévios. A nirguna sraddha aparece no
coração da jiva quando se associa com
suddha bhaktas de Hari; assim ela dedica-
se ao bhajana de Bhagavan, quem é
nirguna. Estes bhaktas são verdadeiros
sadhus.

Capítulo 18 – Moksa Yoga

O princípio da liberação

Este capítulo explica a essência da Gita.


Primeiro, Sri Krishna é identificado como
o bhagavat-tattva supremo e depois dada a
instrução mais confidencial. Aqui se
explica que o rasamayi seva a Sri Krsna
em sua morada suprema é alcançado
através da seguinte sequência:
1- Rendição a ele
2- Praticar os nove processos de bhakti
3- Refúgio em bhava-bhakti
Conteúdo

Capítulo Um – Observando os exércitos


Capítulo Dois – Sankhya Yoga
Capítulo Tres – Karma Yoga
Capítulo Quatro – Jnana Yoga
Capítulo Cinco – Karma Sannyasa Yoga
Capítulo Seis – Dhyana Yoga
Capítulo Sete – Vijnana Yoga
Capítulo Oito – Taraka Brahma Yoga
Capítulo Nove – Raja Guhya Yoga
Capítulo Dez – Vibhuti Yoga
Capítulo Onze – Visvarupa Darsana Yoga
Capítulo Doze – Bhakti Yoga
Capítulo Treze – Prakrti-Purusa-Vibhaga
Yoga
Capítulo Quatorze – Guna Traya Vibhaga
Yoga
Capítulo Quinze – Purusottama Yoga
Capítulo Dezesseis – Daivasura Sampada
Yoga
Capítulo Dezessete – Sradha Traya
Vibhaga Yoga
Capítulo Dezoito – Moksa Yoga.
Radha e Krishna

Seva Kunja (por Syamarani Devi Dasi)


Sanjaya narrando a batalha ao
Rei Drhtarastra
Capítulo 1

Observando os exércitos

Sloka 1

Dhrtarastra uvaca
Dharma ksetre kuruksetre
Samaveta yuyutsavah
Mamakah pandavas caiva
Kim akuvarta sanjaya

Dhrtarastra disse: Oh! Sanjaya, depois de


se reunirem em Kuruksetra, a terra da
religião, com o desejo de lutar, o que
fizeram meus filhos e os filhos de Pandu?

Comentário Bhavanuvada de Srila


Visvanatha Cakravarti
Thakura

A Suprema Verdade Absoluta,


parabrahma Sri Krishna, cujos pés de
lótus são o objetivo de toda adoração e de
todos os sastras, apareceu em sua forma
original, similar a humana, como Sri
Vasudeva nandana, o filho de Sri
Vasudeva em Sri Gopala Puri, mesmo
sendo Adhoksaja, supremamente
inconcebível, se fez visível aos olhos dos
homens ordinários por meio de sua
potencia chamada Yoga Maya. Ele
ensinou a partir das instruções do
Bhagavad Gita, visando liberar as
entidades vivas deste mundo, que estavam
se afogando no oceano de nascimentos e
mortes. Ele as submergiu no grande
oceano de prema (amor puro) ao dar-lhes
saundarya-madhurya, um gosto pela
doçura de sua beleza e outras qualidades.
Apareceu neste mundo ao sentir-se
obrigado por sua promessa de proteger as
pessoas santas e aniquilar as demoníacas
Sem hesitar com o pretexto de eliminar a
carga da terra, concedeu a proteção
suprema na forma da liberação aos infiéis
e a todos que eram antagônicos e que se
afogavam no vasto oceano da existência
material, a qual é comparada com o
planeta infernal onde as pessoas
pecaminosas são queimadas em azeite
fervente.
Bhagavan Sri Krsna instruiu o Bhagavad
Gita para que mesmo depois de seu
desaparecimento, pudesse liberar as almas
condicionadas que desde tempos
imemoriais se encontram sob a influência
da ignorância e estão completamente
sujeitas a lamentação, ilusão e outros
sofrimentos. Outro propósito foi ressaltar
suas glórias mencionadas nos sastras e
cantadas pelos sábios. Ele ensinou o
Bhagavad Gita a seu muito querido
associado Arjuna, quem voluntariamente
havia aceitado o sentimento de
lamentação e ilusão.
O Gita se compõe de três divisões: Karma
yoga, Jnana yoga e Bhakti Yoga. Os
dezoito capítulos do Bhagavad Gita estão
infundidos com o significado dos vedas
manifestos em dezoito tipos de
conhecimento. Desta maneira, Sri Krsna
revelou o objetivo supremo. Nos
primeiros seis capítulos descreve-se o
niskama karma yoga, a execução dos
deveres prescritos sem apego por seus
frutos. O jnana yoga ou yoga através do
conhecimento, é descrito nos últimos seis
capítulos. Os seis capítulos sobre Bhakti
yoga que é mais confidencial e mais
difícil de alcançar foram guardados no
meio dos outros capítulos. Bhakti yoga é a
vida de karma e jnana yoga pois sem
bhakti estas são infrutíferas. Assim elas só
são aceitáveis quando se mesclam com
Bhakti.
Bhakti é de dois tipos: Kevala ou
exclusivo, e Pradhani bhuta que é a
mescla com predomínio de bhakti. Kevala
bhakti, é a melhor por ser independente e
supremamente poderosa e não necessitar
de nenhum vestígio de karma ou jnana
yoga. Por outro lado, Pradhana bhuta
bhakti está mesclado com karma e jnana,
e será tratada com maior profundidade
mais adiante. Para explicar a natureza da
lamentação e ilusão de Arjuna o narrador
do Mahabharata, Sri Vaisampayana, um
discípulo de Vyasadeva, relatou a seção
do Bhisma parva a seu ouvinte
Janamejaya, começando com o verso
Dhrtarastra uvaca. Dhrtarastra perguntou
a Sanjaya. Ó Sanjaya, sentindo desejo de
lutar, o que fizeram meus filhos e os
filhos de Pandu, reunidos em Kuruksetra?
Aqui poderia surgir uma pergunta:
Dhrtarastra já havia mencionado que seus
filhos e os filhos de Pandu haviam se
reunidos com o único propósito de lutar,
logo sem dúvida iam lutar. Por que então
a intenção de perguntar: Que fizeram
eles? Em resposta Dhrtarastra usou a
palavra dharma ksetre, terra da religião.
No sruti está dito: Kuruksetram deva
yajanam: Kuruksetra é a arena de
sacrifício dos semideuses: Então esta terra
é famosa como aquela que nutre o
Dharma. Por influência da associação
com esta terra a ira das pessoas
irreligiosas como Duryodhana pode ser
apaziguada e deste modo, poderiam
inclinar-se ao Dharma. Os pandavas são
religiosos por natureza, então a influência
de Kuruksetra poderia despertar neles o
discernimento de compreender a
impropriedade de aniquilar seus próprios
parentes e deste modo ambos poderiam
buscar um foi horrível acordo pacífico.
Externamente Dhrtarastra finge que seria
feliz com um acordo pacífico, mas
internamente sentia uma grande
insatisfação. Ele pensava que se houvesse
um acordo, os Pandavas ainda seriam um
impedimento para seus filhos. Dhrtarastra
pensava: Os guerreiros de meu grupo, tais
como Bhisma e Drona, não podem ser
vencidos nem sequer por Arjuna, então
como nossa vitória é certa, será proveitoso
lutar
Aqui, graças ao componente Ksetra, na
palavra Dharma ksetre, Sarasvati-Devi faz
a seguinte menção a palavra Dharma.
Yudhistira, a encarnação do Dharma,
junto com seus associados são como
plantas de arroz, e seu sustentador
Bhagavan é como o agricultor. Os
diversos tipos de assistência prestados por
Krsna aos Pandavas podem ser
comparados a regar o cultivo e arar o
campo. Os Kauravas encabeçados por
Duryodhana são como os vermes que
crescem no campo de arroz. Isto indica
que assim como um mal é arrancado pela
raiz nos campos de arroz, Duryodhana e
os outros Kauravas seriam aniquilados e
arrancados de dharma ksetra, a terra da
religião.

Prakasika Vrtti
O comentário que ilumina o dilúvio de
significados essenciais

Por Sri Srimad Srila Bhaktivedanta


Narayana Maharaja

Ofereço minhas reverências aos pés de


lótus de Om Visnupada Astottarasata Sri
Srimad Bhakti-Prajnana Kesava Goswami
Maharaja, que é muito querido por Krsna.
Ele é uma personalidade completamente
divina que sustenta com grande afeto
quem se refugia nele. Aflito ao ver o
sofrimento das pessoas que são avessas a
Krsna, ele lhes outorga o Sri nama
saturado de prema.
O Srimad Bhagavad Gita é a essência de
todos os Upanisads, Srutis e Puranas.
Baseado na firme evidência da literatura
védica, recebido através da sucessão
discipular, conclui-se que Vrajendra
Nandana Sri Krsna, o filho do rei de Vraja
é Svayam Bhagavan, a original
Personalidade de Deus. Ele é a
personificação de todas as doçuras
nectáreas, o onipotente e a realidade
absoluta onipotente não dual. Entre suas
ilimitadas potências, três delas são
proeminentes: a potência interna (svarupa
sakti), a potência marginal (tatastha sakti)
e a potência material externa (maya sakti).
Pela vontade de Bhagavan Sri Krsna,
Vaikunta, Goloka e Vrndavana são as
transformações da potência interna. Todas
as jivas são uma transformação da sua
potência marginal, e a criação material é
uma transformação da sua potência
externa. As entidades vivas (jivas) são de
dois tipos: liberadas (mukta) e
condicionadas (baddha). As liberadas
estão eternamente ocupadas em saborear a
doçura do serviço a Bhagavan em
Vaikuntha, Goloka e outras moradas
transcendentais. Elas são chamadas nitya
mukta, eternamente liberadas, pois nunca
estão atadas a este mundo material, a
prisão de maya. Às vezes pela vontade de
Bhagavan, elas aparecem neste mundo
ilusório como seus associados com o
único propósito de beneficiar a
humanidade. As entidades vivas do outro
tipo são chamadas de anadi baddha, ou
condicionadas por maya desde tempos
imemoriais. Como resultado deste
condicionamento, a jiva sofre de três tipos
de misérias enquanto perambula no ciclo
de nascimentos e mortes.
Bhagavan Sri Krsna, o oceano de
compaixão, criou uma aparente ilusão no
coração de Arjuna, por meio de sua
potência inconcebível (acintya sakti).
Assim com o pretexto de dissipar esta
ilusão, ele falou este Bhagavad Gita com
o propósito de liberar as jivas das garras
de maya. A conclusão final do Bhagavad
Gita é o serviço devocional supremamente
puro a Bhagavan. Somente por se refugiar
neste serviço, tal como se descreve no
Gita, as jivas que estão sob a influência de
maya, conseguem se situar na sua posição
constitucional pura e assim oferecem
serviço a Sri Krsna. Não há outra
alternativa para as jivas condicionadas.
Baseando em evidências concretas das
escrituras, Srila Visvanatha Cakravarti
Thakura e outros proeminentes acaryas
vaishnavas, estabeleceram claramente que
o orador do Bhagavad Gita não carece de
potências, não está desprovido de
variedade, não é sem forma, e não está
desprovido de qualidades transcendentais
tais como misericórdia transcendental. A
jiva jamais é parambrahma, nem sequer
no estado liberado.
Esta percepção da diferença se denomina
vaisistya, significa especialidade ou
característica distintiva única. Tal como o
sol e seus raios são simultaneamente
iguais e diferentes por ser possuidor dos
atributos e atributos respectivamente, de
forma similar a relação entre paramesvara
e a jiva sendo una e ao mesmo tempo
diferente está claramente demonstrada nos
Vedas. Esta relação de igualdade e
diferença simultânea está além do nosso
intelecto e só é compreensível com a
ajuda dos Vedas, por isso é chamada de
acintya, ou inconcebível. Assim o
Bhagavad Gita trata da suprema realidade
eterna que é inconcebivelmente igual e
diferente de suas potências.
Mesmo que karma yoga, jnana yoga e
Bhakti yoga sejam definidos como os três
meios para alcançar a plataforma
espiritual, Bhakti Yoga é o único método
para se alcançar Bhagavan. A etapa
preliminar de Bhakti yoga se denomina
karma yoga, a intermediária jnana yoga e
no estágio maduro se denomina Bhakti
yoga. Bhagavan, senão que um meio para
se alcançar tal disciplina. O conhecimento
real do espírito aparece quando o coração
se purifica através de karma yoga
mesclado com bhakti, no qual se oferece o
resultado das atividades a Bhagavan, tal
como se descreve nos Vedas. Tanto jnana
quanto karma são inúteis se carecem de
Bhakti. Com a aparição do conhecimento
verdadeiro, a devoção exclusiva se
manifesta no coração, e quando chega no
estado maduro, o amor puro aparece no
coração da entidade viva. Este tipo de
amor é o único meio para alcançar e Ter
uma compreensão direta de Bhagavan.
Este é o mistério oculto do Bhagavad
Gita. Ninguém pode obter a liberação
através do conhecimento do aspecto
impessoal (brahman). Somente quando o
conhecimento está mesclado com
devoção, pode-se ter mukti (liberação) na
forma de salokya, sarupya, samipya e
sarsti, como um resultado intrínseco.
Mediante a execução de devoção pura
descrito no Bhagavad Gita, pode-se
conseguir o auspicioso serviço devocional
saturado de amor divino para com
Bhagavan em sua morada suprema
chamada Gokoka Vrndavana. Quando se
alcança esta morada não há a
possibilidade de voltar a este mundo
material. Obter este serviço é a meta
última de toda entidade viva. A devoção é
de dois tipos: exclusiva e mesclada. A
mesclada também é de dois tipos: uma
quando bhakti predomina sobre karma e
jnana e a outra quando bhakti predomina
sobre jnana. Mediante a execução de
karma bhakti se purifica gradualmente o
coração e se desenvolve tattva jnana,
enquanto que pela prática de jnana bhakti
se obtém mukti (liberação). Estes dois
tipos visam a obtenção final de Bhakti,
porém sem Bhakti elas são inúteis. Este
Bhagavad Gita é comparado a uma pedra
filosofal, que é similar a um cofre, onde a
tampa do cofre é niskama karma yoga, a
base é jnana yoga e o tesouro é Bhakti.
Religiosos e que possuem bom caráter
possuem a qualificação para estudar o
Bhagavad Gita.

Dados sobre Arjuna: É um associado


eterno de Bhagavan Sri Krsna. É
completamente impossível que ele caia
em estados como a lamentação e ilusão.
Um associado eterno do senhor não
possui tais ilusões. Bhagavan Sri Krsna
armou tudo isso para o benefício das
entidades vivas que estão atadas pela dor
e ilusão. Ele disse: “Eu os liberarei do
oceano da existência material.”
Por sua própria vontade, Sri Krsna faz
com que Arjuna se iluda simplesmente
para liberar as jivas que realmente se
encontram em lamentação e ilusão. Por
meio de perguntas e respostas, ele define
a sua natureza real, assim como da jiva, a
sua morada transcendental, maya, bhakti e
seus demais aspectos.
Em seu comentário do verso "sarva
dharman parityajya" Srila Visvanatha
Cakravarti Thakura explica que Krsna
disse: “Depois de converte-te em um
instrumento, estou difundindo esta
mensagem para o benefício das
jivas.”Arjuna é um associado eterno do
senhor, portanto não há sequer um
vestígio de ilusão nele. Esta posição de
Arjuna pode se comprovar-se em todos os
Sastras.

Kuruksetra : Srila Vyasadeva se refere


ao campo de batalha de Kuruksetra como
dharna ksetre; isto tem um significado
confidencial. De acordo com o Srimad
Bhagavatam, esta terra se chama
Kuruksetra em homenagem ao rei Kuru.
No Mahabharata encontramos a seguinte
história: Uma vez quando Kuru Maharaja
estava arando esta terra, Indra apreciou e
lhe perguntou: Por que está fazendo isto?
Kuru Maharaja respondeu: Estou arando
esta terra para que as pessoas que morram
aqui possam alcançar os planetas
celestiais. Ao escutar isto o senhor Indra
retornou a seu planeta. Então o rei voltou
a arar a terra de novo com grande
entusiasmo. O senhor Indra vinha uma e
outra vez para ridicularizar o rei. Ainda
que Indra sempre vinha repetidamente
agitar o Rei Kuru, este permanecia
imperturbável e continuava seu trabalho.
Finalmente pela insistência de outros semi
deuses, Indra lhe concedeu a bendição de
que qualquer um que abandonasse o corpo
ou morresse em uma batalha nesta terra,
alcançaria os planetas celestiais.Por tal
razão a terra conhecida como Kuruksetra
foi escolhida para a batalha.
A terra que se encontra entre os rios
Sarasvati e Drsadvati é conhecida como
Kuruksetra. Neste lugar tambem
realizaram austeridades os grandes sábios
Mudgala e Prthu Maharaja.Sri Parasurama
fez sacrifícios nesta terra em cinco
diferentes lugares depois de exterminar os
Ksatriyas, por tanto era conhecida
previamente como Samanta Pancaka.
Depois devido às atividades do rei Kuru
se tornou famosa como Kuruksetra.
Sanjaya: Sanjaya era o filho do condutor
de quadrigas chamado Gavalgama.
Esperto nos sastras, generoso e religioso.
Devido a estas virtudes o grande avô
Bhisma lhe nomeou junto com Vidura,
ministro real de Dhrtarastra. Sanjaya que
era considerado como um segundo
Vidura, era também um íntimo amigo de
Arjuna. Pela misericórdia de Srila
Vyasadeva recebeu a visão divina pela
qual podia ver a batalha de Kuruksetra,
ainda estando sentado longe, no palácio
de Hastinapura, e narrou todos os eventos
da guerra a Dhrtarastra. Maharaja
Yudhisthira também descreve Sanjaya
como bem-querente de todos, de doce
oratória, de temperamento pacífico,
sempre satisfeito e imparcial. Se
encontrava estabelecido dentro dos limites
da moralidade e nunca se agitava pelo
mau comportamento dos demais. Neutro e
livre de todo o temor, ele só falava
palavras que estavam em harmonia com
os princípios morais.

Sloka 2

Sanjaya uvaca
drstva tu pandavanikam
vyudham duryodhanas tada
acaryam upasangamya
raja vacanam abravit
Sanjaya disse: Ó rei! Imediatamente
depois de examinar o exército dos
Pandavas alinhado em formação militar,
Duryodhana chegou perto de Dronacarya
e falou-lhe as seguintes palavras:

Bhavanuvada

Depois de compreender a intenção


interna de Dhrtarastra, Sanjaya confirmou
que definitivamente haveria uma guerra.
Mas sabendo que o resultado seria
contrário a perspectiva de Dhrtarastra,
Sanjaya falou palavras como drstva que
significa"depois de ver". Aqui a palavra
vyudham se refere a formação estratégica
do exército dos Pandavas. Assim o rei
Duryodhana que sentia medo em seu
interior, recitou nove versos, começando
com a palavra pasyaitam no verso 1.3.

Prakasika-vrtti

No momento da guerra do Mahabharata,


além de ser cego de nascimento,
Dhrtarastra carecia também de visão,
tanto moral quanto espiritual. Por este
motivo estava coberto de lamentação e
ilusão. Devido a influência de Kuruksetra,
seu filho Duryodhana podia ter devolvido
a metade do reino aos Pandavas. Temendo
isto ele se sentiu desconsolado. Sanjaya,
sendo muito religioso e também vidente,
podia perceber os sentimentos internos de
Dhrtarastra. Ele sabia que o resultado da
batalha não seria a favor de Dhrtarastra,
mas ainda sim ele ocultou esta informação
de maneira muito inteligente, e enquanto
tranquilizava Dhrtarastra disse:
Duryodhana não está chegando a nenhum
acordo com os Pandavas, mas depois de
ver a extrema força e disposição do
exército dos Pandavas, está aproximando-
se de Dronacarya, seu guru na ciência
militar, para informa-lhe sobre a situação
real. Duryodhana tinha dois motivos para
se aproximar de Dronacarya: Por um lado
ele se sentiu atemorizado ao ver a
poderosa formação do exército dos
Pandavas; mas por outro, com o pretexto
de oferecer respeito a seu guru, queria
exibir sua habilidade política. Devido a
sua experiencia na política, estava sem
dúvida qualificado em todos os aspectos
para a posição de rei. Este é o significado
completo da declaração "Sanjaya uvaca"
Sanjaya disse.

Duryodhana: Duryodhana era o mais


velho dos cem filhos de Dhrtarastra e
Gandhari. No momento do seu
nascimento houve vários fatores negativos
que fizeram com que Vidura temesse que
ele seria a razão da destruição da dinastia
Kuru. De acordo com o Mahabharata,
Duryodhana nasceu de uma expansão de
Kali. Ele era pecaminoso, cruel e uma
desgraça para a dinastia Kuru.
Precisamente, em sua cerimônia de
batismo, os sacerdotes e astrólogos
eruditos, vendo as indicações de seu
futuro, lhe chamaram Duryodhana. No
final, com instruções de Krsna, Bhima o
matou.
O sabda ratnavali diz:
"Um vyuha é a formação de um esquadrão
militar composta por um bom rei, de tal
maneira que se torna impossível a
penetração do exército inimigo em
qualquer direção. Desta forma o
esquadrão se torna vitorioso na batalha."

Dronacarya: Dronacarya ensinou a


ciência das armas tanto aos filhos de
Pandu quanto aos de Dhrtarastra. Ele era
filho do sábio Bharadvaja. Devido a que
nasceu de um drona (recipiente de
madeira para água) se tornou famoso com
o nome de Drona. Além de ser um mestre
na ciência de armas, também era
conhecedor de todos os vedas. Depois de
satisfazer o grande sábio Parasurama,
aprendeu com ele os segredos da ciência
da guerra e outras mais. Ninguém podia
mata-lo, pois recebeu a bendição de
morrer no momento que escolhesse. Logo
depois de Ter sido insultado pelo rei
Drupada de Pancala, quem havia sido seu
amigo de infância, Dronacarya foi a
Hastinapura ganhar seu sustento.
Impressionado com as qualificações de
Drona, o avô Bhisma lhe designou como
o acarya para instruir e treinar
Duryodhana, Yudhisthira e os demais
príncipes. Arjuna era seu discípulo mais
querido. Na batalha de Kuruksetra,
Duryodhana lhe nomeou como o
comandante-chefe do seu exército.

Sloka 3

Pasyaitam pandu-putranam
Acarya mahatim camum
Vyudham drupada-putrena
Tava sisyena dhimata

Oh! Acarya! Contempla este grande


exército dos Pandavas, disposto em
falanges por teu inteligente discípulo
Drstadyumna, o filho de Drupada.

Bhavanuvada

Com estas palavras, Duryodhana insinua:


"Drstadyumna, o filho de Drupada, é
realmente seu discípulo. Ele nasceu
somente para matar-te, e mesmo que tu
soubesse, continuou a dar-lhe treinamento
militar, o que indica que sua inteligência é
escassa."
Aqui, Duryodhana usou a palavra
dhimata, que significa inteligente, para
referir-se a Drstadyumna. Isto tem um
significado profundo. Duryodhana queria
que Dronacarya compreendesse que ainda
que Drstadyumna era seu próprio inimigo,
havia aprendido pessoalmente dele a arte
de mata-lo. Por tanto disse: "Agora
observa sua grande inteligência no
momento de obter os frutos de seu
treinamento."Duryodhana fez estes
comentários diplomáticos só para
provocar a ira de seu mestre, Dronacarya.

Prakasika –vrtti

Drstadyumna: O rei de Pancala,


Drupada, realizou um sacrifício com o
desejo de Ter um filho que pudesse matar
Dronacarya. Do fogo do sacrifício
apareceu um menino que vestia uma
armadura e portava diversas armas. Neste
momento se escutou uma voz celestial
que predisse que o filho de Drupada
mataria Drona. Os brahmanas chamaram
o menino heróico de Drstadyumna. Ele
aprendeu o dhanur veda de Drona, que era
extremamente benevolente, mesmo que
soubesse que um dia Drstadyumna o
mataria. Assim, Drona foi morto por seu
próprio discípulo na guerra do
Mahabharata.

Sloka 4 – 6
Atra sura mahesvasa
Bhimarjuna – sama yudhi
Yuyudhano viratas ca
Drupadas ca maha – rathah
Dhrstaketus cekitanah
Kasirajas ca viryavan
Purujit kuntibhojas ca
Saibyas ca nara-pungavah
Yudhamanyus ca vikranta
Uttamaujas ca viryavan
Saubhadro draupadeyas ca
Sarva eva maha rathah

Neste exército há poderosos arqueiros


iguais a Arjuna e Bhima em combate, tais
como Satyaki, o rei Virata, os maharathi,
Drupada e outros. Reunidos nesta batalha,
estão todos os maharathis como
Dhrstaketu, Cekitana, o heróico Kasiraja,
Purujit, Kuntibhoja, os naras srestras
como Saibya, o melhor dos valentes, o
vitorioso Yudhamanyu, o poderoso
Uttamauja, Abhimanyu e os filhos de
Draupadi, encabeçados por Pratibindhya.

Bhavanuvada

Aqui a palavra mahesvasah significa que


todos estes grandes guerreiros portavam
arcos indestrutíveis pelo inimigo. A
palavra yuyudhana significa Satyaki.
Saubhadrah é Abhimanyu, e Draupadeyah
indica os filhos dos cinco Pandavas,
encabeçados por Pratibindhya, quem
nasceu de Draupadi. As características de
um maharati são descritas aqui: em um
grupo de grandes guerreiros expertos na
astra sastra, o que pode lutar com uma
quantidade ilimitada de guerreiros é
conhecido como atirathi, aquele que pode
lutar contra dez mil guerreiros é chamado
de maharathi, o que pode lutar apenas
com uma pessoa é conhecido como
yoddha, e o que necessita assistência para
vencer um único inimigo se chama
arddharathi.

Prakasika – vrtti

Yuyudhana : É outro nome do heróico


Satyaki. Ele era um servo muito querido
de Sri Krsna, ele era extemamente valente
e um atirathi entre os comandantes em
chefe do exército Yadava. Ele aprendeu
de Arjuna os segredos da astra sastra. Na
batalha do Mahabharata lutou ao lado dos
Pandavas.

Virata: Virata era um rei piedoso da terra


de Matsya. Os pandavas passaram um ano
incógnitos sob sua proteção. Sua filha
Uttara se casou com Abhimanyu, o
famoso filho de Arjuna. Virata morreu na
batalha do Mahabharata junto com seus
filhos Uttara, Sveta e Sankha.
Drupada: Drupada era filho do rei Prsata,
o rei de Pancala.Devido a que Maharaja
Prsata e Maharsi Bharadvaja, o pai de
Drona, eram amigos, Drupada e Drona
foram também amigos desde sua infância
Mais tarde quando Drupada se tornou rei,
Drona foi até ele para pedir ajuda
financeira, mas Drupada lhe insultou.
Dronacarya não perdoou esta ofensa.
Quando Arjuna completou sua educação
na astra sastra, Drona o pediu que
atacasse Drupada e oferecesse a seus pés
como doação a gurudev.Arjuna cumpriu
sua ordem. Dronacarya tomou a metade
do reino de Drupada, e logo o liberou.
Para vingar este insulto, Drupada realizou
um sacrifício de cujo fogo apareceram
Draupadi e Drstadyumna.

Cekitana: Cekitana era um Yadava da


dinastia Vrsni. Era muito cortes, um
Maharathi e um dos comandantes do
exército Pandava. Na batalha do
Mahabharata morreu nas mãos de
Duryodhana.

Kasiraja: Kasiraja era o rei de Kasi. Ele


nasceu de uma parte do asura Dirghajihva.
Era um valente e intrépido herói que lutou
ao lado dos Pandavas.
Purujit e Kuntibhoja: Eram irmãos de
Kunti, a mãe dos Pandavas. Dronacarya
os matou na batalha de Kuruksetra.

Saibya: Saibya era o sogro de Maharaja


Yudhisthira, já que sua filha Devika se
casou com este. Ele era um poderoso e
heróico guerreiro.

Yudhamanyu e Uttamauja: Eram


irmãos de sangue e príncipes do reino
Pancala. Eram valentes e heróicos.
Asvatthama os matou no final da guerra
do Mahabharata.

Subhadra: A irmã de Bhagavan Sri


Krsna, Subhadra, estava casada com
Arjuna. O heróico Abhimanyu nasceu do
ventre de Subhadra, por isto ele é
conhecido também como Subhadra.
Recebeu treinamento de astra sastra de
seu pai, Arjuna, e também de Sri
Balarama. Foi um herói de excepcional
generosidade e um maharati. No momento
da guerra do Mahabharata tinha dezesseis
anos. Durante a ausência de Arjuna,
Abhimanyu era o único combatente capaz
de penetrar o cakra vyuha, uma formação
militar especial que havia sido ordenada
por Dronacarya. Infiltrado nesta
formação, foi injustamente assassinado
pelos esforços combinados de sete
maharatis, dentre quais estavam Drona,
Krpa e Karna.

Draupadeya: Draupadi deu a luz a um


filho de cada um dos cinco Pandavas.
Seus nomes eram: Pratibindhya,
Sutasoma, Srutakarma, Satanika e
Srutasena. De forma coletiva eram
conhecidos como Draupadeya. Foram
assassinados no final da guerra de
Kuruksetra por Asvattama, enquanto
dormiam no meio da noite.

Sloka7

Asmakam tu visista ye
Tan nibodha dvijottama
Nayaka mama sainyasya
Samjnrtham tan bravimi te

Oh! Dvija srestha, o melhor dos duas


vezes nascidos (brahmanas)! Para tua
informação também enumero os
comandantes do meu exército, quem estão
especialmente qualificados para liderar.

Bhavanuvada

Aqui a palavra nibodha significa"por


favor entende" e a palavra samjnartham
significa "para teu conhecimento preciso".
Sloka 8-9
Bhavan bhismas ca karnas ca
Krpas ca samitinjayah
Asvatthama vikarnas ca
Saumadattir jayadrathah
Anye ca bahavah
Mad arthe tyakta jivitah
Nana sastra praharanah
Sarve yuddha visaradah

Em meu exército há heróis como tu, como


o avô Bhisma, como Karna, Krpacarya,
Asvatthama, Vikarna, Bhurisrava o filho
de Somadatta e Jayadratha, o rei de
Sindhu, quem são sempre vitoriosos em
batalhas. Há muitos outros grandes heróis
que estão dispostos a sacrificar suas vidas
por minha causa. Todos estão equipados
com diversas armas e são expertos em
guerras.

Bhavanuvada

Aqui a palavra Somadattih se refere a


Bhurisrava. Tyakta-jivitah denota a uma
pessoa determinada que faz aquilo que é
requerido, ao compreender
apropriadamente que será grandemente
beneficiada, sobreviva ou não. No verso
(1-33), Bhagavan disse:"Oh Arjuna! Já
dei cabo na vida de todas estas pessoas, tu
simplesmente tem que se converter-te em
um instrumento".De acordo com esta
declaração, Sarasvati Devi fez com que a
palavra Tyakta-jivitah, saísse da boca de
Duryodhana, indicando que seu exército
já havia sido destruído.

Prakasika – Vrtti

Krpacarya: Na dinastia Gautama, havia


um sábio chamado Saradvan. Uma vez,
depois de ver a apsara Janapadi, derramou
sêmen espontaneamente, o qual caiu em
um montão de palha no bosque. Este
sêmen se dividiu em duas partes dos quais
nasceram um menino e uma jovem. A
jovem foi chamada Krpi, e o jovem, Krpa.
Krpa foi logo reconhecido como um
grande guerreiro. O sábio Saradvan
pessoalmente fez de Krpa um experto em
dhanurveda e outras artes. Krpa era
extraordinariamente valente e piedoso. Na
batalha do Mahabharata, lutou ao lado dos
Kauravas, mas depois da batalha,
Maharaja Yudhisthira lhe enviou para o
adestramento do príncipe Pariksit.

Asvatthama: A irmã de Krpacarya, Krpi,


foi casada com Dronacarya. De seu ventre
nasceu Asvatthama, quem se formou de
uma combinação das porções do Senhor
Siva, de Yama, de Kama e de Krodha.
Aprendeu os sastras e astra sastra de seu
pai. Também aceitou a responsabilidade
de ser o último comandante em chefe dos
Kauravas na batalha do Mahabharata. Ele
matou os cinco filhos de Draupadi
enquanto estes dormiam profundamente,
ao confundi-los com os cinco Pandavas.
Em vingança, os Pandavas lhe insultaram
severamente e lhe arrancaram uma jóia de
sua testa. Então, Asvatthama cheio de ira,
tentou matar o ainda não nascido Pariksit
Maharaj, o único herdeiro da dinastia
Pandava, lançando sua Brahmastra ao
menino que se encontrava no ventre de
sua mãe Uttara, a esposa de Abhimanyu.
Sem vacilar, Bhagavan Sri Krsna, quem é
muito afetuoso com seus Bhaktas, usou
sua arma disco para proteger Maharaj
Pariksit.

Vikarna: Vikarna era um dos cem filhos


de Dhrtarastra, Bhimasena o matou na
batalha do Mahabharata.

Somadatta: Era o filho de Bahlika e o


neto do rei Pratika da dinastia Kuru.
Satyaki o matou na batalha de Kuruksetra.

Bhurisrava: Bhurisrava era o filho do rei


Somadatta na dinastia da lua. Ele foi um
rei muito valente e famoso. Satyaki o
matou na batalha.

Sastra: Uma arma que se usa para usar


em combate corpo a corpo, tal como a
espada, é chamada sastra.
Astra: Uma arma que se lança ao
inimigo, tal como uma flecha, é chamada
astra.

Sloka 10

Aparyaptam tad asmakam


Balam bhismabhiraksitam
Paryaptam tv idam etesam
Balam bhimabhiraksitam

Nosso exército, ainda que protegido por


Bhisma é insuficiente, e por outro lado, o
exército dos Pandavas, sobre a cuidadosa
proteção de Bhima, é competente.

Bhavanuvada

Aqui a palavra aparyaptam significa


insuficiente. Os Kauravas não são
competentes e não tem forças suficientes
para lutar contra os Pandavas. Bhisma
abhirakstam. Ainda que nosso exército
esteja bem protegido pelo avô Bhisma,
mesmo assim isto é insuficiente para
conter a força dos Pandavas. Paryaptam
bhimabhirakstam. Mas o exército dos
Pandavas, ainda que protegido por Bhima
que é menos experto na arte da arma e
conhecimento, é competente para lutar
contra nós. Desta declaração se entende
que Duryodhana está completamente
atemorizado.

Prakasika – Vrtti

O avô Bhisma é um herói sem igual que


recebeu de seu pai a bendição de morrer
no momento que escolhesse. Mesmo que
lutava contra os Pandavas, ele era muito
afetuoso com eles e não queria que eles
saíssem derrotados.

Sloka 11

Ayanesu ca sarvesu
Yatha-bhagam avasthitah
Bhismam evabhiraksantu
Bhavantah sarva eva hi

Por tanto, todos vocês devem permanecer


em suas posições estrategicamente,
alinhadas em cada ponto da entrada, para
proteger o avô Bhisma por todos os lados.

Bhavanuvada

Duryodhana disse:"Por tanto, todos vocês


(Drona e os demais) tem que ser
cuidadosos". Só com este propósito lhes
disse: Dividam-se entre os acessos as
falanges e não abandonem as áreas que
lhes foram designados na batalha. Desta
maneira, Bhisma não poderá ser morto
pela retaguarda enquanto lutamos com o
inimigo. O poder de Bhisma é agora a
nossa própria vida.

Sloka 12

Tasya sanjanayam harsam


Kuru vrddhah pitamahah
Simha nadam vinadyoccaih
Sankham dadhmau pratapavan

O avô Bhisma, o valente ancião da


dinastia Kuru, soprou seu búzio
estrondosamente e produziu um som
similar a um rugido de um leão, que
causou prazer a Duryodhana.

Bhavanuvada

Para erradicar o temor de Duryodhana, e


alegra-lo, o maior dos Kurus, Bhisma, fez
soar seu búzio e produziu um som como o
rugido de um leão.

Sloka 13

Tatah sankhas ca bheryas ca


Panavanaka gomukhah
Sahasaivabhyahanyanta
sa sabdas tumulo bhavat

Depois soaram repetidamente todos os


búzios, tímbalos, tambores, mrdangas,
trombetas, e outros instrumentos, fazendo
um tumultuoso e temível som.

Bhavanuvada

O propósito deste verso é expressar que


ambos exércitos mostraram seu
entusiasmo pela guerra. Aqui, panavah,
Anakah e gomukhah fazem referência a
tambores, mrdangas e diversas trombetas.

Sloka 14

Tatah svetair hayair yukte


Mahati syandane sthitau
Madhavah pandavas caiva
Divyau sankhau pradadhmatuh

Logo, Sri krsna e Dhananjaya, situados


em uma grande quadriga puxada por
cavalos brancos, soaram seus búzios
divinos.

Sloka15

Pancajanyam hrsikeso
Devadattam dhananjaya
Paundram dadhmau maha sankham
Bhima karma vrkodarah

Hrsikesa Sri Krsna soou seu búzio


conhecido como Pancajanya: Arjuna soou
seu búzio conhecido como Devadatta: e
Bhima, o realizador de tarefas hercúleas
soou seu grande búzio conhecido como
Paundra.

Prakasika-vrtti

Pancajanya: Depois de finalizar a sua


educação no asrama de seu guru, Sri
Krsna pediu a ele e a sua esposa que
aceitassem alguma doação. Então eles
pediram que Krsna devolvesse seu filho
que havia se afogado no oceano. Ao
perguntar a Varuna, a deidade do oceano,
Sri Krsna descobriu que ele havia sido
devorado por um caracol demoníaco que
morava no oceano. Mesmo assim, Sri
Krsna não encontrou o jovem dentro do
ventre, depois de matar Pancajanya.
Depois, Sri Krsna foi a Mahakalapuri, e
trouxe o filho de seu guru, lhe
presenteando como doação. Devido a que
Sri Krsna tomou a concha de Pancajanya,
a esta se conhece como tal.

Sloka16

Anantavijayam raja
Kunti putro yudhisthirah
Nakulah sahadevas ca
Sughosa manipuspakau
Maharaja Yudhisthira, o filho de Kunti
soprou seu búzio chamado Anantavijaya.
Nakula soprou seu Sughosa e Sahadeva
soprou seu búzio chamado Manipuspaka.

Sloka 17-18

Kasyas ca paramesvasah
Sikhandi ca maha rathah
Dhrstadyumno viratas ca
Satyakis caparajitah
Drupado draupadeyas ca
Sarvasah prthivi pate
Saubhadras ca maha bahuh
Sankhan dadhmuh prthak prthak

Oh! Dhrtarastra, rei da terra! Depois, o rei


de Kasi, o grande arqueiro, o maharathi
Sukhandi, Drstadyumna, o rei de Virata, o
inconquistável Satyaki, o rei Drupada, os
filhos de Draupadi,e Abhimanyu o filho
de Subhadra, soaram seus respectivos
búzios.

Bhavanuvada

A palavra Pancajanya e outras


mencionadas neste verso são os nomes
dos búzios de Krsna e de outros guerreiros
no campo de batalha. Aparajita significa
"aquele que porta um arco".
Sloka 19
sa ghoso dhartarastranam
hrdayani vyadarayat
nabhas ca prthivim caiva
tumulo bhyanunadayan

Ressoando no céu e na terra, este


tumultuoso e terrível som deixou em
pedaços os corações dos filhos de
Dhrtarastra.

Sloka 20
Atha vyavasthitan drstva
Dhartarastran kapi dhvajah
Pravrtte sastra sampate
Dhanur udyamya pandavah
Hrsikesam tada vakyam
Idam aha mahi pate

Oh Rei! Depois de ver seus filhos em


formação de batalha, Arjuna, levantou seu
arco e se preparou para disparar suas
flechas. Depois, ele disse as seguintes
palavras a Hrsikesa.

Prakasika-vrtti

Kapi dhvajah: Este é um nome de


Arjuna que aponta a presença de
Hanuman na bandeira de sua quadriga.
Arjuna estava muito orgulhoso de sua
habilidade como arqueiro. Em uma
ocasião, quando passeava na beira de um
rio portando seu arco Gandiva, viu um
macaco. Oferecendo-lhe reverências, ele
disse: Quem és?
O macaco respondeu gentilmente. Sou
Hanuman, o servo de Sri Rama. Então Arjuna
lhe perguntou: Você é o servo do mesmo
Rama que incapaz de construir uma ponte de
flechas sobre o oceano mandou os macacos
construir uma de pedras para que seu exército
pudesse cruzar o oceano. Se eu tivesse lá
neste momento eu teria construído uma ponte
de flechas tão poderosa que todo exército
poderia cruza-la facilmente. Hanuman voltou
a responder muito gentilmente. Sua ponte não
iria suportar sequer o peso de um macaco do
exército de Rama. Então Arjuna disse: ”Vou
fazer uma ponte de flechas sobre este rio e
você poderá cruza-lo com a carga mais
pesada que tiver. Hanuman se expandiu então
em uma forma gigantesca, saltou sobre as
montanhas Himalayas e regressou com umas
pedras muito pesadas nos pelos de seu corpo.
Indentemente não se desfez. Arjuna,
tremendo de medo orou a Krsna: "Por favor
meu Senhor, a honra dos Pandavas está em
suas mãos."
Quando Hanuman pôs o peso completo de
seus pés na ponte, se surpreendeu que ela
não se quebrava. Se a ponte não caía,
seria uma grande vergonha para ele.
Dentro de seu coração Hanuman orou a
Rama, quando olhou para debaixo da
ponte e viu que Rama sustentava a ponte
com sua espada. Então ele disse:"O que é
isto?"Meu adorável senhor está
suspendendo a ponte com sua
espada!"Imediatamente ele caiu aos pés
de lótus de Sri Ramacandra.
Ao mesmo tempo, Arjuna viu o senhor
não como Ramacandra, mas como Sri
Krsna.Tanto Hanuman quanto Arjuna
juntaram suas mãos reverencialmente para
seus senhores adoráveis, e então o senhor
disse:
"Não há diferença entre estas duas formas
minhas. Eu, Krsna na forma de Sri Rama,
venho estabelecer os limites da
moralidade e da conduta religiosa
apropriada. Na forma de lila purusottama
Krsna, sou a personificação do néctar de
todas as rasas. De hoje em diante vocês
dois devem ser amigos Em uma futura
batalha, o poderoso Hanuman situado na
bandeira da quadriga de Arjuna, lhe dará
proteção de todos os lados."Por esta razão
Arjuna recebeu o nome de Kapi
Dhvajah"Aquele que tem um macaco em
sua bandeira."

Sloka 20-23

Arjuna uvaca
Senayor ubhayor madhye
Rathan sthapaya me cyuta
Yavad etan nirikse ham
Yoddhu kaman avasthitan
Kair maya saha yoddhavyam
Asmin rana samudyame
Yotsyamanam avekse ham
Ya ete tra samagatah
Dhratarastrasya durbuddher
Yuddhe priya cikirsavah

Arjuna disse: Oh Acyuta! Por favor, situa


minha quadriga no meio de ambos os
exércitos para eu poder ver todos os
heróis presentes que desejam lutar nesta
batalha.

Sloka 24-25

Sanjaya uvaca
Evam ukto hrsikes
Gudakesena bharata
Senayor ubhayor madhye
Sthapayitva rathottamam
Bhisma drona pramukhatah
Sarvesam ca mahiksitam

Sanjaya disse: Oh Bharata! Ao receber a


ordem de Gudakesa, Hrsikesa Sri Krsna
conduziu sua excelente quadriga no meio
de ambos os exércitos, e diante de todos
os reis e personalidades proeminentes
como Bhisma, Drona e outros. Ele disse
então: "Ó Partha, contempla todos estes
Kauravas aqui reunidos."

Bhavanuvada
Hrsikesa significa o controlador dos
sentidos. Ainda que Krsna é Hrsikesa,
quando recebeu as ordens de Arjuna, ele
foi controlador pelo sentido da fala de
Arjuna. Bhagavan é controlado apenas
por Prema.

Sloka 26

Tatrapasyat sthitan parthah


Pitrn atha pitamahan
Acaryan matulan bhratrn
Putran pauntran sakhims tatha
Svasuran suhrdas caiva
Senayor ubhayor api

Ali, no meio de ambos os exércitos,


Arjuna viu seus tios paternos e maternos,
seus avôs, mestres, primos, sobrinhos
Netos, amigos, sogros e benquerentes.

Bhavanuvada

Arjuna viu os filhos e netos de


Duryodhana e os demais

Sloka 27

Tan samiksya sakaunteyah


Sarvan bandhun avasthitan
Krpaya parayavisto
Visidann idam abravit
Ao ver todos seus amigos e familiares
presentes no campo de batalha, Arjuna, o
filho de Kunti, cheio de compaixão e
angústia, falou assim,

Sloka 28

Arjuna uvaca
Drstveman svajanan krsna
Yuyutsun samavasthitan
Sidanti mama gatrani
Mukham ca parisusyati

Arjuna disse: Oh Krsna! Ao ver meus


próprios parentes reunidos aqui com o
desejo de lutar, sinto que minhas
extremidades fraquejam e que minha boca
seca.

Sloka 29

Vepathus ca sarire me
Roma-harsas ca jayate
Gandivam sramsate hastat
Tvak caiva paridahyate

Meu corpo treme e meu cabelo arrepia.


Meu arco Gandiva está escorregando das
minhas mãos e minha pele arde.

Sloka 30
Na ca saknomy avasthatum
Bhramativa ca me manah
Nimittani ca pasyami
Viparitani kesava

Oh Kesava! Sou incapaz de manter-me


em pé. Minha mente dá voltas e sinto
muita angústia e aflição.

Bhavanuvada

Na oração"eu estou vivendo aqui com o


propósito de ganhar riquezas." Aqui a
palavra nimitta indica o propósito. Da
mesma forma, nimitta neste verso, indica
a intenção. Arjuna está dizendo:"Depois,
apesar de ganhar a guerra, a obtenção do
reino não nos trará felicidade. Pelo
contrário, nos causará dor e aflição.

Prakasika-vrtti

Kesava: Aqui o devoto, Arjuna, está


revelando os sentimentos de seu coração
ao dirigir-se a Bhagavan com a palavra
Kesava."Apesar de matar proeminentes
asuras como Kesi e outros, tu sempre
mantém seus devotos. Da mesma forma,
por favor, dissipa a lamentação e ilusão
do meu coração e sustenta-me. Srila
Visvanatha Cakravarti Thakura explicou
que a palavra Kesava indica aquele que
penteia o cabelo de sua amada.
Sloka 31

Na ca sreyo nupasyami
Hatva svajanam ahave
Na kankse vijayam krsna
Na ca rajyam sukhani ca

Oh Krsna! Eu não vejo nada de auspicioso


em matar meus próprios parentes nesta
batalha. Não desejo nem a vitória nem o
reino, nem sequer a felicidade.

Bhavanuvada

Sreyo na pasyamiti significa "não vejo


nada auspicioso". Os sanyassis que
alcançam a perfeição no yoga e os
guerreiros que morrem no campo de
batalha alcançam o globo solar. Parece,
então que uma pessoa que morre na
batalha obtém um resultado auspicioso.

Sloka 32-34

Kim no rajyena govinda


Kim bhogair jivitena va
Yesam arthe kanksitam no
Rajyam bhogah sukhani ca
Ta ime vasthita yuddhe
Pranams tyaktva dhanani ca
Acaryah pitarah putras
Tathaiva ca pitamahah
Matulah svasurah pautrah
Syalah sambhandhinas tatha
Etan na hantum icchami
Ghnato pi madhusudana

Oh Govinda! De que nos serve o reino, o


desfrute ou a própria vida, quando aqueles
que queremos bem— mestres, tios, filhos,
avôs, sogros, netos, cunhados, e outros
parentes— estão diante de nós neste
campo de batalha dispostos a perderem
suas vidas e riquezas? Oh Madhusudana!
Ainda que eles me matem, não desejo
mata-los.

Sloka 35

Api trailokya-rajyasya
Hetoh kim nu mahi-krte
Nihatya dhartarastran nah
Ka pritih syaj janardana

Oh Janardana! Se matamos os filhos de


Dhrtarastra, mesmo que seja para obter
não só a soberania da terra, mas de todos
os três mundos, que felicidade obteremos
com isto?

Sloka 36

Tasman narha vayam hantum


Dhartarastran as-bandhavan
Svajanam hi katham hatva
Sukhinah syama madhava

Oh Madhava! Ao matar todos estes


agressores, apenas cometeremos pecado.
Por tanto, matar Duryodhana e nossos
outros familiares não é apropriado. Como
poderíamos ser felizes após matar nossos
próprios parentes?

Bhavanuvada

De acordo com o Sruti há seis tipos de


agressores: o que ata fogo em uma casa, o
que administra veneno, o que ataca com
armas mortais, o que rouba, o que usurpa
a terra e o que rouba a esposa de outrem.
Arjuna argumentou:"Oh Bharata, se você
diz que ao ver algum dos seis tipos de
agressores devemos mata-los sem
consideração, então se matássemos as
pessoas aqui reunidas, sem dúvida
cometeríamos pecado."

Prakasika-vrtti

De acordo com o smrti sastra, não se


comete pecado se matam um dos seis
tipos de agressores. Em contraponto, os
srutis declaram que não se deve matar
nenhuma entidade vivente. Quando
surgem tais contradições, deve-se
considerar os srutis como superiores.
Seguindo esta lógica, Arjuna sente que
ainda que os filhos de Dhrtarastra são
agressores, se ele os matam, irá cometer
pecado.

Sloka 37-38

Yady apy ete na pasyanti


Lobhopahata-cetasah
Kula ksaya krtam dosam
Mitra drohe ca patakam
Kathamna jneyam asmabhih
Papad asman nivartitum
Kula ksaya krtam dosam
Prapasyabdhir janardana

Oh Janardana! A inteligência de
Duryodhana e dos demais, estão
contaminadas pela cobiça de obter o
reino. Assim sendo, eles são incapazes de
conceber a ilegalidade que surge ao
destruir a dinastia e muito os pecados que
ocorreriam ao lutar contra os amigos.
Então, por que devemos nós, que temos
conhecimento, cometer atos indevidos
como estes.

Bhavanuvada

Arjuna pergunta: Por que estamos


ocupados nesta batalha? Para responder
sua própria pergunta, recita este verso que
começa com as palavras yady apy.
Prakasika-vrtti

Arjuna considerou que nesta batalha havia


mestres como Dronacarya ,Krpacarya, e
outros, tios maternos como Salya e
Sakuni, familiares maiores como Bhisma
,os filhos de Dhrtarastra, parentes e
familiares como Jayadratha e outros
Arjuna pensou: Os Vedas dizem que não
podemos lutar com pessoas que executam
yajna, com o sacerdote familiar, com um
mestre, com o tio materno, com um
convidado, com filhos pequenos, com
pessoas maiores, nem com
parentes."Mesmo assim, é com estas
pessoas com quem devo
combater".Assim, Arjuna expressou sua
objeção de lutar contra seus próprios
parentes."Mas, porque todos estão
empenhados a lutar contra nós.". Ao
considerar isto, Arjuna concluiu que eles
deveriam estar dominados por interesses
baixos e egoístas e por tanto perderam a
habilidade de discriminar entre o que é
bom ou mau. Como resultado eles, ao
destruir sua própria dinastia, cometeriam
pecado."Nós que não temos motivos
egoístas, por que devemos ocupar-nos
nestas atividades abomináveis e
pecaminosas.
Sloka 39

Kula-ksaye pranasyanti
Kula-dharmah sanatanah
Dharme naste kulam krtsnam
Adharmo bhibhavaty uta

Os princípios religiosos ancestrais


transmitidos através de uma dinastia são
também destruídos quando ela é
destruída. Depois da ruína do Dharma, a
dinastia inteira é subjugada pelo adharma.

Bhavanuvada

A palavra sanatanah se refere aos


princípios religiosos que descendem da
Dinastia desde um tempo ancestral.

Sloka 40

Adharmabhibhavat krsna
Pradusyanti kula-striyah
Strisu dustasu varna-sankarah

Oh Krsna! Quando uma dinastia é


subjugada pelo adharma, suas mulheres se
degradam. Oh descendente de Vrsni!
Quando as mulheres se tornam
degradadas e incastas, nascem
descendentes não desejados.
Bhavanuvada

O adharma ocupa as mulheres em


atividades incastas.

Sloka 41

Sankaro narakayaiva
Kula-ghnanam kulasya ca
Patanti pitaro hy esam
Lupta-pindodaka-kriyah

Tal progênie não desejada leva ao inferno


tanto a dinastia inteira quanto os
destruidores da tradição familiar. Sem
dúvida alguma, seus antepassados,
privados de oblações de água e alimento,
sofrem o mesmo destino.

Sloka 42

Dosair etaih kula-ghnanam


Varna-sankara-karakaih
Utsadyante jati-dharmah
Kula-dharmas ca sasvatah
Devido às ações perversas daqueles que
destroem a tradição familiar, os princípios
religiosos da família e da casta
desaparecem.

Bhavanuvada
A palavra utsadyante, significa eles
desaparecem.

Sloka 43

Utsanna-kula-dharmanam
Manusyanam janardana
Narake niyatam vaso
Bhavatity anususruma

Oh Janardana! Eu escutei que todos


aqueles cuja dinastia carece de princípios
religiosos, sofrem no inferno por um
período ilimitado.

Sloka 44

Aho bata mahat-papam


Kartum vyavasita vayam
Yad rajya-sukha-lobhena
Hantum svajanam udyatah

Quão surpreendente é que, levados pela


condição de desfrutar de felicidade
imperial, estamos dispostos a matar
nossos próprios parentes e cometer este
grande pecado.

Sloka 45

Yadi mam apratikaram


Asastram sastra-panayah
Dhrtarastra rane hanyus
Tan me ksemataram bhavet

Seria ainda mais auspicioso para mim se,


desarmado e sem oferecer resistência, os
filhos de Dhrtarastra fortemente armados
me matassem.

Sloka 46

Sanjaya uvaca
Evam uktvarjunah sankhye
Rathopastha upavisat
Visrjya as-saram capam
Soka-samvigna-manasah

Sanjaya disse: Com sua mente perturbada


pela lamentação, Arjuna pronunciou estas
palavras no campo de batalha, pôs de lado
seu arco e flecha, e sentou em sua
quadriga.

Assim conclui-se o primeiro capítulo do


Srimad Bhagavad Gita
Capítulo 2

O princípio das análises

Sloka 1

Sanjaya uvaca
Tam tatha krpayavistam
Asru-purnakuleksanam
Visidantam idam vakyam
Uvaca madhusudanah

Sanjaya disse: Sri Madhusudana falou ao


aflito Arjuna, quem estava cheio de
compaixão e cujos olhos estavam agitados
e cheios de lágrimas.

Sloka 2

Sri bhagavan uvaca


Kutas tva kasmalam idam
Visame samupasthitam
Anarya-justam asvargyam
Akirtti-karam arjuna

Sri Bhagavan disse: Oh Arjuna! Qual é a


causa da sua ilusão neste momento crítico
da batalha. Isto não é próprio de um
ariano, pois não condiz com sua
reputação, nem te conduzirá aos planetas
celestiais.

Bhavanuvada
Neste capítulo, Bhagavan Sri Krsnacandra
esboça os sintomas das pessoas liberadas.
Ele dissipa a obscuridade causada pela
lamentação e ilusão ao conceder, em
primeiro lugar, a sabedoria para discernir
entre matéria e espírito.

Prakasika-vrtti

Dhrtarastra estava satisfeito ao saber que,


ainda antes de começar a batalha, um
sentimento religioso havia despertado no
coração de Arjuna. Ele recusava encarar a
batalha, atendo-se aos princípios da não-
violência, que considerava sendo o
Dharma supremo. Dhrtarastra
pensou:"Seria uma grande fortuna se esta
batalha não acontecesse, pois assim, meus
filhos poderiam permanecer soberanos do
reino sem nenhum obstáculo."

Sloka 3

Klaibyam ma sma gamah partha


Naitat tvayy upapadyate
Ksudram hrdaya daurbalyam
Tyaktvottistha parantapa

Oh Partha! Não sejas covarde, isto não lhe


é digno. Oh Parantapa! Abandona sua
fraqueza de coração e levanta-te.
Bhavanuvada

Aqui Krsna diz: Oh Partha! Apesar de ser


um filho de Prtha, estás se comportando
como um covarde.” Depois ele disse:"Tal
covardia é própria de um ksatriya de baixa
classe."Arjuna poderia dizer: Oh Krsna!
Não duvides da minha coragem, eu desejo
lutar. Mas por favor, compreende que do
ponto de vista moral, minha renuncia a
lutar é para mostrar respeitos a meus
gurus, Bhisma e Drona.” Krsna
contesta:"Minha resposta é ksudram, tal
atitude não demonstra discriminação nem
compaixão, senão lamentação e ilusão.
Ambas revelam a fraqueza da sua mente.

Sloka 4

Arjuna uvaca
Katham bhismam aham sankhye
Dronanca madhusudana
Isubhih pratiyotsyami
Pujarhav arisudana

Arjuna disse: Oh Madhusudana! Oh


Arisudana! Destruídor dos inimigos!
Como posso contra-atacar com minhas
flechas, o avô Bhisma, e Dronacarya,
quem são dignos de minha veneração?
Bhavanuvada

Para explicar porque não deseja combater,


Arjuna argumenta que de acordo com o
dharma sastra, a violação da honra de uma
personalidade venerável é um ato fatídico.
Ao referir-se a Krsna como
Madhusudana, Arjuna acode a esta
lógica."Oh querido amigo, tu também
destruístes inimigos em batalha, mas não
assassinastes teu guru e nem seus
parentes. Devido a que o demônio Madhu
era seu inimigo, eu me referi a ti como
Arisudana, ou o destruidor dos inimigos.

Prakasika-vrtti

Sandipani Muni era um famoso sábio


pertencente a kasyapa gotra, que vivia na
cidade de Avanti, atual Ujjain. Quando
executaram seus passatempos, Sri Krsna e
Baladeva o aceitaram como seus Siksa
Guru para dar exemplo aos demais.
Quando viviam em seu asrama,
executaram o passatempo no qual
aprenderam as sessenta e quatro artes em
sessenta e quatro dias. Visvanatha
Cakravarti Thakura comenta que
Sandipani Muni era seguidor do senhor
Siva, ele explica que se Krsna e Baladeva
tivessem aceitado um guru Vaisnava, este
os teriam reconhecido como o supremo, e
os passatempos de aprendizagem não
teriam ocorrido. Sandipani Muni era filho
de Paurnamasi Yoga Maya, e os amigos
de Krsna, Madhumangala e Nandimukhi
são filho e filha dele.

Sloka 5

Gurun ahatva hi mahanubhavan


Sreyo bhoktum bhaiksyam apiha loke
Hatvartha kamams tu gurun ihaiva
Bhunjiya bhogan rudhira pradigdhan

Seria melhor manter minha vida neste


mundo mediante mendicância do que
matar meus gurus, que são grandes
personalidades. Se os mato, os prazeres e
riquezas que pudesse desfrutar neste
mundo, estaria manchados de sangue.

Bhavanuvada

Arjuna pensou que se converteria em


traidor se matasse seus gurus, e qualquer
prazer que tivesse depois deste ato, estaria
manchado pelo resultado de atos
pecaminosos.

Sloka 6

Na caitad vidmah kataran no gariyo


Yad va jayema yadi va no jayeyuh
Yan eva hatva na jijivisamas
Te vasthitah pramukhe dhratarastrah
Sou incapaz de decidir o que é melhor
para nós: conquistar ou ser conquistados
por eles. Mesmo se nós os matássemos,
não iríamos desejar viver. Mas, eles estão
do lado de Dhrtarastra e estão na nossa
frente, preparados para a batalha.

Bhavanuvada

Aqui Arjuna está falando sobre a


possibilidade da vitória ou derrota. Ele
disse:"Para nós, a vitória é igual a
derrota".

Sloka 7

Karpanya dosopahata svabhavah


Prcchami tvam dharma sammudha cetah
Yac chreyah syan niscitam bruhi tan me
Sisyas te ham sadhi mam tvam
prapannam

Dominado pela covardia e confundido


sobre o dever, perdi meu heroísmo
natural. Te suplico, por favor, que me
digas o que é melhor para mim. Sou teu
discípulo rendido e uma alma entregue a
ti. Por favor instruí-me.

Bhavanuvada
Sri Krsna podia ridicularizar Arjuna
dizendo:"Ainda que és Ksatriya, você
decidiu converte-te em mendigo errante,
mediante tua própria compreensão do
significado dos sastras. Então, qual é o
valor das minhas palavras?" Antecipando-
se, Arjuna começa este verso com a
palavra Karpanya: O abandono do
heroísmo natural se chama karpanya, que
significa comportamento covarde. Para
receber instruções de Krsna, Arjuna então
lhe assegura."Sou teu discípulo, não
refutarei mais tuas declarações.

Sloka 8

Na hi prapasyami mamapanudyad
Yae chokam ucchosanam indriyanam
Avapya bhumav asapatnam rddham
Rajyam suranam api cadhipatyam

Ainda que obtivesse na terra um reino


inigualável e próspero, com soberania até
mais que os semideuses, não vejo como
posso brecar este meu pesar que seca
meus sentidos.

Bhavanuvada

Arjuna começa este verso coma palavra


na hi:"Nos três mundos, não encontro
ninguém, a não ser tu, que possa dissipar
minha lamentação."Assim como o intenso
calor do verão seca as pequenas folhas, a
compaixão está secando meus sentidos.

Sloka 9

Sanjaya uvaca
Evam uktva hrsikesam
Gudakesah parantapah
Na yotsya iti govindam
Uktva tusnim babhuva há

Sanjaya disse: Depois de pronunciar estas


palavras, Gudakesa, o castigador dos
inimigos, disse a Krsna."Oh Govinda, não
lutarei, e logo ficou mudo."

Sloka 10

Tam uvaca hrsikesah


Prahasann iva bharata
Senayor ubhayor madhye
Visidantam idam vacah

Oh descedente de Bharata (Dhrtarastra)!


Neste momento, Hrsikesa Sri Krsna
sorrindo no meio dos exércitos, se dirigiu
ao aflito Arjuna as seguintes palavras:

Bhavanuvada

A frase senayor ubhayor madhye indica


que a aflição de Arjuna e as instruções e
garantias oferecidas por Krsna eram
igualmente visíveis em ambos os
exércitos. Em outras palavras, esta
mensagem do Bhagavad Gita foi
presenciada por ambos os exércitos.

Sloka 11

Sri bhagavan uvaca


Asocyan anvasocas tvam
Prajna vadams ca bhasase
Gatasun agatasums ca
Nanusocanti panditah

Sri Bhagavan disse: Enquanto falas


palavras sábias, você se lamenta por nada.
O sábio não se lamenta nem pelos vivos
nem pelos mortos.

Bhavanuvada

"agata asun" significa onde não chega o ar


vital".O erudito e o sábio não se lamentam
sequer pelo corpo sutil, pois é
indestrutível antes da etapa de mukti. Em
ambas as condições, sem vida ou com
vida, a natureza do corpo grosseiro e sutil
é imutável. É incorreto lamentar-se, já que
a alma é eterna.

Prakasika-vrtti
O corpo grosseiro da entidade viva é
composto por cinco elementos materiais:
terra, água, fogo, ar e éter e é temporário.
Onde há nascimento, há morte é certa,
seja hoje, amanhã ou daqui uns anos.

Sloka 12

Na tv evaham jatu nasam


Na tvan neme janadhipah
Na caiva na bhavisyamah
Sarve vayam atah param

Jamais houve um tempo em que eu, tu e


todos estes reis não existimos, tampouco
haverá no futuro um momento em que
deixaremos de existir.

Bhavanuvada

Ainda que existe diferença entre Isvara e a


jiva, ambos os tipos de alma são eternos e
estão livres da morte. Assim a alma não é
objeto de lamentação.

Prakasika-vrtti

As pessoas ignorantes que consideram


que o corpo grosseiro é igual a alma, não
compreendem que o verdadeiro ser não é
material.
Sloka 13

Dehino smin yatha dehe


Kaumaram yauvanam jara
Tatha dehantara praptir
Dhiras tatra na muhyati

Assim como a alma corporificada neste


corpo grosseiro passa da infância a
juventude e logo a velhice, também passa
a outro corpo depois da morte. Uma
pessoa inteligente não se confunde pela
destruição e nascimento do corpo.

Sloka 14

Matra-sparsas tu kaunteya
Sitosna-sukha-duhkha-dah
Agamapayino nityas
Tams titiksasva bharata

Oh Kaunteya! Quando os sentidos entram


em contato com os objetos sensíveis, se
experimenta frio e calor, felicidade e
aflição. Tais experiências são flutuantes e
temporárias. Oh Bharata! Por isso deve
tolera-las.

Bhavanuvada

Não só a mente nos trazem problemas, os


sentidos por exemplo também nos causam
problemas. Tolerar as sensações causadas
pelos objetos dos sentidos, sabendo que
estes também são temporários é uma
obrigação prescrita nos Vedas. Assim
sendo, banhar-se no inverno é incômodo,
mas não se deve abandonar a rotina de se
banhar-se prescrita nos Sastras.
Igualmente, as mesmas pessoas, como os
irmãos, os filhos, etc, nos proporcionam
felicidade ao nascer ou quando adquirem
riquezas, estas mesmas pessoas produzem
dor no momento de suas mortes. Sabendo
que estas felicidades e aflições são
temporárias, devemos tolera-las. Assim,
Krsna falou a Arjuna: "Não deves
abandonar seu Dharma de lutar na batalha
com a desculpa de ter afeto por seus
parentes. O abandono do dever que os
Sastras prescrevem é, sem dúvida, uma
causa de grande perturbação."

Sloka 15

Yam hi na vyathayanty ete


Purusam purusarsabha
Sama dunkha sukham dhiram
So mrtatvaya kalpate

Oh! Tú é o melhor dos homens! A pessoa


sensata que considera que a felicidade, a
aflição, e a percepção dos diversos objetos
sensíveis é a mesma coisa e não se
pertuba por elas, sem dúvida está
qualificada a liberar-se.

Sloka 16

Nasato vidyate bhavo


Nabhavo vidyate satah
Ubhayor api drsto`ntas
Tv anayos tattva darsibhih

Coisas temporárias como o verão e o


inverno – não tem uma existência real, e o
eterno – a alma – jamais é destruída. Os
conhecedores da verdade chegaram a esta
conclusão após estudarem sobre o eterno
e temporário.

Sloka 17

Avinasi tu tad viddhi


Yena sarvam idam tatam
Vinasam avyayasyasya
Na kascit karttum arhati

Deves saber que isso que se propaga por


todo o corpo não pode ser destruído. Nada
é capaz de destruir a alma imperecível.

Bhavanuvada

A alma é diminuta e só pode-se


compreende-la quando o coração está
purificado e livre dos três modos da
natureza material.

Prakasika-vrtti

Há duas verdades indestrutíveis: uma é a


jiva atômica consciente, e a outra é
Paramatma, que manifesta e controla
todas as jivatmas. Assim como uma
simples gota de pasta de sândalo aplicada
em um só local refresca o corpo inteiro, a
alma (jivatma) localizada no coração,
ocupa todo o corpo.

Sloka 18

Antavanta ime deha


Nityasyoktah saririnah
Anasino prameyasya
Tasmad yudhyasva bharata

Deves considerar que os corpos materiais


que ocupa a alma, que é eterna,
indestrutível e incomensurável, são
perecedores. Oh! Descendente de
Bharata! Por tanto, luta!

Sloka 19

Ya enam vetti hantaram


Yas cainam manyate hatam
Ubhau tau na vijanito
Nayam hanti na hanyate
Os que consideram que a alma mata ou é
morta são ignorantes. A alma nem é morta
nem mata nada.

Bhavanuvada

Krsna diz: "Oh amigo Arjuna, tu és uma


alma, tu não és o sujeito nem o objeto do
ato de matar. "Por tanto ó amigo, por que
temes a infâmia só por que os ignorantes
te chamarão de "assassino de seus
superiores?"

Sloka 20

Na jayate mriyate va kadaci


Nayam bhutva bhavita va na bhuyah
Ajo nityah sasvato yam purano
Na hanyate hanyamane sarire

A alma não nasce nem morre, tampouco


experimenta o crescimento. Ela não nasce
pois é eterna e permanente. A alma é
primordial, é sempre jovem e não morre
quando o corpo é destruído.

Sloka 21

Vedavinasinam nityam
Ya enam ajam avyayam
Katham as purusah partha
Kam ghatayati hanti kam

Oh Partha! Como pode uma pessoa matar


alguém, sabendo que a alma é eterna, não
nascida, imutável e indestrutível?

Bhavanuvada

Sri Krsna responde a Arjuna: "Oh Partha!


Logo que adquirir este conhecimento, não
serás culpado de nenhum pecado, mesmo
depois de lutar na batalha."

Sloka 22

Vasamsi jirnani yatha vihaya


Navani grhnati naro parani
Tatha sarirani vihaya jirnany
Anyani samyati navani dehi

Assim como uma pessoa abandona suas


roupas velhas e aceita outras novas, a
alma abandona os corpos velhos e inúteis
e aceita outros novos.

Sloka 23

Nainam chindanti sastrani


Nainam dahati pavakah
Na cainam kledayanty apo
Na sosayati marutah
Esta alma não pode ser ferida por
nenhuma arma, nem queimada pelo fogo,
molhada pela água ou seca pelo vento.

Sloka 24-25

Acchedyo yam adahyo yam


Akledyo sosya eva ca
Nityah sarva gatah sthanur
Acalo yam sanatanah

Avyakto yam acintyo ya


Mavikaryo yam ucyate
Tasmad evam viditvainam
Nanusocitum arhasi

A alma é indivisível, indestrutível e


insolúvel. É eterna, toda penetrante,
permanente, inalterável e sempre
existente. É imperceptível, inconcebível e,
devido a que está livre dos seis tipos de
transformações como o nascimento, é
imutável. Depois de compreender a alma
desta maneira, não deves lamentar-te.

Atha cainam nitya jatam


Nityam va manyase mrtam
Tathapi tvam maha-baho
Nainam socitum arhasi

Mas, se ainda pensas que a alma nasce e


morre constantemente, não há razão para
que fiques aflito por ela ó Maha Baho!
Bhavanuvada

Aqui Krsna está dizendo: "Ainda que


pense que o nascimento é perpétuo, ainda
sim tu deves executar o seu dever como
um valente Ksatriya."
Krsna está tentando fazer com que Arjuna
veja então o lado prático da batalha,
deixando de lado o conhecimento acerca
da alma.

Sloka 27

Jatasya hi dhruvo mrtyur


Dhruvam janma mrtasya ca
Tasmad apariharye rthe
Na tvam socitum arhasi

Para aquele que nasce a morte é certa, e


para aquele que morre o nascimento é
certo. Por tanto não deves lamentar-se por
esta situação inevitável.

Sloka 28

Avyaktadini bhutani
Vyukta madhyani bharata
Avyakta nidhanany eva
Tatra ka paridevana

Oh Bharata! Todos os seres humanos são


imanifestos antes de seu nascimento. No
interim, depois do nascimento, eles se
manifestam, e após a morte voltam a
imanifestar-se. Então, por que te [RD1] Comentário: Não existe
essa palavra em portugues

lamentas?

Sloka 29

Ascaryavat pasyati kascid enam


Ascaryavac cainam anyah srnoti
Srutvapy enam veda na caiva kascit

Há quem considera que a alma é


surpreendente, outros falam dela como
algo surpreendente e alguns escutam falar
dela e acham que é algo incompreensível
e não a entendem.

Bhavanuvada

Krsna explica este verso para mostrar a


Arjuna o quanto é maravilhoso a
combinação do corpo com a alma e lhe
esclarece sobre este tema.

Prakasika-vrtti

A alma, a pessoa que instrui sobre a alma,


e a audiência são todos maravilhosos, pois
a verdade sobre a ciência da alma é muito
difícil de ser compreendida. Ainda assim,
somente poucas personalidades são
capazes de compreende-la e a consideram
como algo maravilhoso. É estranho que a
grande maioria, mesmo depois de escutar
sobre a alma de um expert no assunto não
consegue compreende-la.
Por esta razão Sri Caitanya Mahaprabhu
nos deu a instrução de cantar os santos
nomes e como resultado secundário deste
canto virá também o conhecimento acerca
da alma.

Sloka 30

Dehi nityam avadhyo yam


Dehe sarvasya bharata
Tasmat sarvani bhutani
Na tvamsocitum arhasi

Oh Arjuna! A alma eterna que reside nos


corpos de todas as entidades vivas jamais
pode ser aniquilada. Por tanto, não é
correto que te lamentes por nada.

Sloka 31

Svadharmam api caveksya


Na vikampitum arhasi
Dharmyad dhi yuddhac chreyo nyat
Ksatriyasya na vidyate

Por outro lado se consideras teu próprio


dever de Ksatriya não deves oscilar, pois
não há atividade melhor para você do que
lutar.

Bhavanuvada

Considerando os dois pontos de vista, é


recomendável que Arjuna lute.

Sloka 32

Yadrcchaya copapannam
Svarga dvaram apavrtam
Sukhinah ksatriyah partha
Labhante yuddham idrsam

Oh Partha! Afortunados são os Ksatriyas


que têm semelhante oportunidade de lutar,
pois tal batalha é a porta de entrada para
os planetas celestiais.

Sloka 33

Atha cet tvam imam dharmyam


Sangramam na karisyasi
Tatah svadharmam kirttin ca
Hitva papam avapsyasi

Mas, se não participas desta batalha


religiosa, desobedecerás teu dever e
perderá tua fama. Então, a reação virá
para você.

Bhavanuvada
Neste e nos próximos 3 versos, Sri
Bhagavan explica os defeitos de não lutar.

Sloka 34

Arkittincapi bhutani
Kathayisyanti te vyayam
Sambhavitasya cakirttir
Maranad atiricyate

O povo só irá falar sobre tua infâmia, e


para uma pessoa honrosa, a desonra é
mais dolorosa que a morte.

Sloka 35

Bhayad ranad uparatam


Mamsyante tvam maha rathah
Yesanca tvam bahu-mato
Bhutva yasyasi laghavam

Grandes guerreiros como Duryodhana e


outros irão pensar que fugiste da batalha,
cheio de temor. Aqueles que te honravam,
irão te considerar como insignificante.

Sloka 36

Avacya vadams ca bahun


Vadisyanti tavahitah
Nindantas tava samarthyam
Tato duhkhataram nu kim
Teus inimigos te insultariam com palavras
duras e criticariam tuas habilidades. Oh
Arjuna! O que poderia ser mais doloroso
para ti?

Sloka 37

Hato va prapsyasi svargam


Jitva va bhoksyase mahim
Tasmad uttistha kaunteya
Yuddhaya krta niscayah

Oh! Kaunteya! Se for morto na batalha,


alcançarás os planetas celestiais, e se você
sai vitorioso da batalha, desfrutarás do
reino da terra. Por tanto, levanta com
determinação e luta.

Sloka 38

Sukha duhkhe same krtva


Labhalabhau jayajayau
Tato yuddhaya yujyasva
Naivam papam avapsyasi

Sabendo que felicidade e aflição, vitória e


derrota, fracasso e triunfo, são todos
iguais, luta com esta mentalidade, pois só
assim não cometerás pecado algum.

Bhavanuvada
"Assim como uma folha de lótus nunca
molha enquanto permanece na água,
jamais comete pecado o Ksatriya que luta
na batalha."

Prakasika-vrtti

Krsna fala a Arjuna: "Se luta com a


mentalidade de que felicidade e aflição,
vitória e derrota, fracasso e triunfo são
todos iguais, então não há pecado algum."
Uma pessoa que está apegada aos frutos
de seus atos, está cometendo pecado, por
tanto, a renúncia ao apego Karmico, é sem
dúvida necessária.

Sloka 39

Esa te bhihita sankhye


Buddhir yoge tv imam srnu
Buddhya yukto yaya partha
Karma bandham prahasyasi

Oh! Partha! Até este momento te


expliquei o Sankhya-yoga, mas agora vou
te explicar Bhakti Yoga, com este
conhecimento te libertarás do cativeiro
material.

Sloka 40

Nehabhikrama-naso sti
Pratyavayo na vidyate
Svalpam apy asya dharmasya
Trayate mahato bhayat

Os esforços realizados em Bhakti Yoga


jamais são em vão. Mesmo uma pequena
quantidade deste Yoga, libera a pessoa do
maior perigo.

Bhavanuvada

Aqui, Krsna diz a Arjuna."Buddhi Yoga é


de dois tipos: 1-Bhakti Yoga na forma de
audição e canto, e 2-Niskama Karma
Yoga na forma de entrega dos frutos dos
atos desinteressados a Bhagavan. "Ambos
tipos de Yoga se definem com a palavra
Buddhi-Yoga.

Prakasika-vrtti

Bhakti é primário e Niskama Karma é


secundário. Bhakti Yoga é completamente
transcendental aos modos materiais.
Qualquer atividade em Bhakti nunca é
perdida, a pessoa que não teve sucesso
nesta vida, poderá continuar o processo na
próxima vida, desde o estágio onde parou.

Sloka 41

Vyavasayatmika buddhir
Ekeha kuru-nandana
Bahu-sakha hy anantas ca
Buddhayo vyavasayinam

Oh! Filho dos Kurus! A inteligência


resoluta dos que praticam Bhakti é
indivisível, mas a inteligência dos
indecisos em relação a Bhakti possuem
ramificações ilimitadas.

Bhavanuvada

A inteligência cuja meta é Bhakti yoga é


suprema quando comparada aos demais
tipos de inteligência

Sloka 42

Yam imam puspitam vacam


Pravadanty avipascitah
Veda-vada-ratah partha
Nanyad astiti vadinah

Oh! Partha! Os insensatos, que estão


apegados as declarações floridas dos
Vedas, que na verdade só produz veneno,
dizem que não há nada além disto nas
escrituras.

Prakasika-vrtti

No Srimad Bhagavatam adverte-se para as


afirmações Védicas.
Oh! Pracinabarhi! Devido a ignorância, as
atividades ritualísticas mencionadas nos
Vedas parecem ser o objetivo supremo.
Ainda que suas narrações parecem ser
fascinantes aos ouvidos elas carecem de
conexão com o absoluto. Por tanto ignore-
as.

Sloka 43

Kamatmanah svarga-para
Janma-karma-phala-pradam
Kriya-visesa-bahulam
Bhogaisvarya-gatim prati

As pessoas de natureza luxuriosa, que


fazem muitos rituais védicos pomposos
para alcançar os planetas celestiais, onde
há bastante opulência e desfrute sensual,
acabam se atando ao ciclo de nascimentos
e mortes.

Sloka 44

Bhogaisvarya-prasaktanam
Tayapahrta-cetasam
Vyavasayatmika buddhih
Samadhau na vidhiyate

Aqueles que estão apegados ao desfrute e


opulência, cujas mentes estão cativadas
pelas palavras floridas dos Vedas, não
obterão inteligência absoluta, com a qual
pode-se meditar no Supremo.
Sloka 45

Traigunya-visaya veda
Nistraigunyo bhavarjuna
Nirdvandvo nity-sattva-stho
Niryoga-ksema atmavan

Oh! Arjuna! Supera os modos da natureza


material descrita nos Vedas e situa-se
transcendentalmente, livre de dualidades,
desapegado da tendência de aquisição e
situa-se no eu (atma).

Bhavanuvada

No Srimad Bhagavatam Krsna diz:


"Viver na floresta está no modo da
bondade, viver na cidade está no modo da
paixão, viver em uma casa de apostas está
no modo da ignorância e viver onde eu
moro (templo) está transcendental aos três
modos da natureza material (nirguna).

Sloka 46

Yavan artha udapane


Sarvatah samplutodake
Tavan sarvesu vedesu
Brahmanasya vijanatah

Assim como vários reservatórios de água


que satisfazem um mínimo propósito,
provém de um grande lago, similarmente
o resultado alcançado com a adoração aos
semideuses é insignificante se comparado
a realização alcançada pelo brahmana
erudito que está dotado com Bhakti por
Krsna.

Prakasika-vrtti

As diferentes atividades que podem ser


executadas mediante o uso de pequenos
poços separados, podem facilmente ser
executadas ao usar um grande estanque.
Assim também, os diferentes desejos que
podem ser satisfeitos através da adoração
aos semi deuses, podem ser facilmente
alcançados simplesmente adorando Krsna.

Sloka 47

Karmany evadhikaras te
Ma phalesu kadacana
Ma karma-phala-hetur bhur
Ma te sango stv akarmani

Sem dúvida, tens o direito de executar seu


dever prescrito, mas em momento algum
tens o direito de desfrutar dos frutos de
sua ação. Não sejas motivado pelos frutos
da ação, mas também não deixa de
executar seu dever.

Sloka 48
Yoga-sthah kuru karmani
Sangam tyaktva dhananjaya
Siddhy-asiddhyoh samo bhutva
Samatvam yoga ucyate

Oh! Dhananjaya! Situado em Bhakti


Yoga, abandonando os apegos pelos
frutos da ação, executa os deveres
prescritos e permanece equânime no êxito
e fracasso. A isto se denomina Yoga.

Sloka 49

Durena hy avaram karma


Buddhi-yogad dhananjaya
Buddhau saranam anviccha
Krpanah phala-hetavah

Oh! Dhananjaya! Atividades fruitivas são


bastante inferiores se comparadas a
Bhakti, e quem anseia pelos frutos das
atividades são avaros.

Sloka 50

Buddhi-yukto jahatiha
Ubhe sukrta-duskrte
Tasmad yogaya yujyasva
Yogah karmasu kausalam

Uma pessoa inteligente abandona as


atividades piedosas e pecaminosas nesta
vida mesmo, por tanto, esforça-te nesta
Yoga e executa todas as atividades
desinteressadamente.

Sloka 51

Karma-jam buddhi-yukta hi
Phalam tyaktva manisinah
Janma-bandha-vinirmuktah
Padam gacchanty anamayam

Sem dúvida, os sábios que possuem


inteligência absoluta, abandonam os
resultados nascidos das ações fruitivas,
assim eles alcançam um lugar onde não há
sofrimento algum, e são eternamente
liberados do ciclo de nascimentos e
mortes.

Sloka 52

Yada te moha-kalilam
Buddhir vyatitarisyati
Tada gantasi nirvedam
Srotavyasya srutasya ca

Quando sua inteligência tiver cruzado o


denso bosque da ilusão, ficarás indiferente
a tudo que já escutou ou está por escutar.
Sloka 53

Sruti-vipratipanna te
Yada sthasyati niscala
Samadhav acala buddhis
Tada yogam avapsyasi

Quando tua inteligência estiver


desapegada das diferentes interpretações
dos Vedas e firme em transe, neste
momento alcançarás o fruto do Yoga.

Sloka 54

Arjuna uvaca
Sthita-prajnasya ka bhasa
Samadhi-sthasya kesava
Sthita-dhih kim prabhaseta
Kim asita vrajeta kim

Arjuna disse: Oh! Kesava! Quais são os


sintomas de uma pessoa cuja inteligência
está fixa na transcendência? Como ela se
senta, fala, e como ela caminha?

Sloka 55

Sri bhagavan uvaca


Prajahati yada kaman
Sarvan partha mano-gatan
Atmany evatmana tustah
Sthita-prajnas tadocyate

Sri Bhagavan disse: Oh! Partha! Uma


pessoa possui inteligência perfeita quando
abandona todos os tipos de desejos
materiais que surgem da mente. Dentro de
sua mente controlada ele está satisfeito
por Ter uma alma bem-aventurada. Neste
estado ele é visto como uma pessoa de
inteligência perfeita.

Sloka 56

Dunkhesv anudvigna-manah
Sukhesu vigata-sprhah
Vita-raga-bhaya-krodhah
Sthita-dhir munir ucyate

O sábio cuja mente não se agita pelas


misérias e permanece livre de ansiedade
provocados pelos desejos sensuais, livre
do apego e temor e ira, é chamado de
sábio com inteligência perfeita.

Bhavanuvada

São três, os tipos de misérias. As que são


provocadas pela sede, dor de cabeça, febre
etc, que provém do corpo e da mente, são
chamadas Adhyatmika.
As que são provocados por entidades
vivas tais como serpente, insetos etc, são
chamadas de Adhibhautika.
E as que provém dos semideuses , tais
como a chuva, frio, calor, etc., chamam-se
Adhidaivika.
Aqui Krsna diz que aquele que não se
agita devido a estas misérias, é um sábio
controlado e inteligente.

Sloka 57

Yah sarvatranabhisnehas
Tat tat prapya subhasubham
Nabhinandati na dvesti
Tasya prajna pratisthita

A pessoa que não tem apegos mundanos


excessivos, que não se regozija na vitória
e nem se lamenta pela derrota, é
considerada uma pessoa de inteligência
resoluta.

Sloka 58

Yada samharate cayam


Kurmo nganiva sarvasah
Indriyanindriyarthebhyas
Tasya prajna pratisthita

Quando uma pessoa pode retrair seus


sentidos completamente dos objetos dos
sentidos, assim como uma tartaruga retrai
suas extremidades para dentro da
carapaça, se diz que essa pessoa possui
inteligência resoluta.
Sloka 59

Visaya vinivarttante
Niraharasya dehinah
Rasa-varjam raso py asya
Param drstva nivarttate

Uma pessoa que se identifica com seu


corpo pode restringir-se dos objetos dos
sentidos artificialmente, mas ainda
permanece o gosto por esses objetos. Mas
a pessoa de inteligência clara, ao
compreender a superalma, seu gosto pelos
objetos sensíveis acaba automaticamente.

Sloka 60

Yatato hy api kaunteya


Purusasya vipascitah
Indriyani pramathini
Haranti prasabham manah

Oh! Filho de Kunti! Os sentidos agitados,


sem dúvida arrastam a força a mente de
um homem inteligente que possui
conhecimento e se esforça para alcançar a
liberação.

Prakasika-vrtti

Dominar os sentidos é tão difícil como


controlar a mente. Mas, de cordo com as
instruções de Sri Caitanya Mahaprabhu,
esta difícil tarefa se torna fácil quando
ocupa-se os sentidos no serviço a
Bhagavan Sri Krsna.
Sloka 61

Tani sarvani samyamya


Yukta asita mat-parah
Vase hi yasyendriyani
Tasya prajna prathisthita

A pessoa deve controlar todos os sentidos,


através de Bhakti Yoga, dedicando-se a
mim, pois somente a pessoa com sentido
controlado possui inteligência
determinada e pura.

Sloka 62

Dhyayato visayam pumsah


Sangas tesupajayate
Sangat sanjayate kamah
Kamat krodho bhijayate

Uma pessoa desenvolve apego pelos


objetos dos sentidos ao comtempla-los.
Deste apego surge o desejo de desfrute,
do desejo surge a ira.

Sloka 63

Krodhad bhavati sammohah


Sammohat smrti-vibhramah
Smrti-bhramsad buddhi-naso
Buddhi-nasat pranasyati
Da ira vem a confusão, da confusão surge
o esquecimento, na perda da memória a
inteligência é destruída, e quando a
inteligência é destruída, a pessoa cai
completamente nas garras da ilusão.

Sloka 64

Raga-dvesa-vimuktais tu
Visayan indriyais caran
Atma-vasyair vidheyatma
Prasadam adhigacchati

Sem dúvida, um homem com sentidos


controlados, livre do apego e aversão,
alcança paz mental mesmo quando
desfruta dos objetos dos sentidos com os
seus sentidos controlados.

Sloka 65

Prasade sarva-duhkhanam
Hanir asyopajayate
Prasanna-cetaso hy asu
Buddhih paryavatisthate

Uma pessoa de inteligência clara se libera


de todas as misérias, a mente de tal
homem é muito pacífica e calma, e assim
ele se fixa em atingir a meta desejada.

Sloka 66
Nasti buddhir ayuktasya
Na cayuktasya bhavana
Na cabhavayatah santir
Asantasya kutah sukham

Uma pessoa desconectada do Senhor não


possui inteligência espiritual e assim
sendo, ela é incapaz de meditar em
Paramesvara. Como pode haver felicidade
para alguém que não possui paz?

Sloka 67

Indriyanam hi caratam
Yan mano nuvidhiyate
Tad asya harati prajnam
Vayur navam ivambhasi

Assim como o vento arrasta um bote


sobre a água, similarmente, a mente de
uma pessoa descontrolada é arrastada
pelos sentidos, então é arrastada também,
sua inteligência

Sloka 68

Tasmad yasya maha-baho


Nigrhitani sarvasah
Indriyanindriyarthebhyas
Tasya prajna pratisthita

Oh! Maha-Baho! Por tanto, a pessoa que é


capaz de restringir seus sentidos
completamente dos objetos dos sentidos,
possui inteligência absolutamente clara.

Sloka 69

Ya nisa sarva-bhutanam
Tasyam jagartti samyami
Yasyam jagrati bhutani
sa nisa pasyato muneh

Neste estado noturno mental no qual


dorme todos os seres, um homem
inteligente está desperto. Quando os seres
ordinários estão mentalmente despertos,
este momento é noite para o sábio
iluminado.

Sloka 70

Apuryamanam acala-pratistham
Samudram apah pravisanti yadvat
Tadvat kama yam pravisanti sarve
As santim apnoti na kama-kami

Assim como o oceano permanece calmo,


quieto e imóvel, ainda que inúmeros rios
deságuam nele, similarmente, o homem
sábio permanece fixo e imperturbável,
ainda que a agitação dos sentidos entram a
força dentro dele. Somente a pessoa que
possui inteligência estável pode alcançar a
paz. Isto não é alcançável para aqueles
que tentam satisfazer os desejos materiais.
Sloka 71

Vihaya kaman yah sarvan


Pumams carati nihsprhah
Nirmamo nirahankarah
As santim adhigacchati

Aqueles que abandonam todos seus


desejos materiais, e que estão livres de
possessividade, estão livres de ansiedades
e falso ego. Esta pessoa alcançará paz.

Sloka 72

Esa brahmi sthitih partha


Nainam prapya vimuhyati
Sthitvasyam anta-kale pi
Brahma-nirvanam rcchati

Oh! Partha! Esta é a situação daquele que


alcançou o brahmam, mas aquele que não
alcançou esta condição será confundido.
Aquele que alcança tal estado, consegue a
emancipação espiritual no momento da
morte.

Bhavanuvada

Neste capítulo se explica especificamente


o jnana yoga, karma yoga e indiretamente
Bhakti Yoga. Por este motivo, este é
considerado o resumo do Sri Gita.

Capítulo 3

KARMA YOGA

O princípio da ação

Sloka 1

Arjuna uvaca
Jyayasi cet karmanas te
Mata buddhir janardana
Tat kim karmani ghore mam
Niyojayasi kesava

Arjuna disse: Oh! Janardana! Se


consideras que a inteligência é melhor do
que o trabalho fruitivo, então por que
estás me ocupando nesta terrível batalha?

Sloka 2

Vyamisreneva vakyena
Buddhim mohayasiva me
Tad ekam vada niscitya
Yena sreyo ham apnuyam

Minha inteligência está confundida por


tuas declarações ambíguas. Diga-me por
favor, o que é mais benéfico a mim?

Sloka 3

Sri bhagavan uvaca


Loke smin dvi-vidha nistha
Pura prokta mayanagha
Jnana-yogena sankhyanam
Karma-yogena yoginam

Sri Bhagavan disse: Oh! Imaculado


Arjuna! Já te expliquei que neste mundo
há dois tipos de fé inquebrantável: A fé
dos filósofos empiristas baseada no
processo de especulação filosófica, e a fé
dos yoguis baseada no processo de
niskama-karma-yoga.

Sloka 4

Na karmanam anarambhan
Naiskarmyam puruso snute
Na ca sannyasanad eva
Siddhim samadhigacchati

Uma pessoa não pode alcançar liberação


por deixar de fazer seus deveres
prescritos, e nem uma pessoa pode
alcançar a perfeição simplesmente por
aceitar sannyasa.

Sloka 5

Na hi kascit ksanam api


Jatu tisthaty akarmakrt
Karyate hy avasah karma
Sarvah prakrti-jair gunaih

Certamente, nada permanece inativo


sequer por um instante. Todas as pessoas
certamente se ocupam inevitavelmente em
ação, através dos modos materiais, de
acordo com sua própria natureza.

Sloka 6

Karmendriyani samyamya
Ya aste manasa smaran
Indriyarthan vimudhatma
Mithyacarah sa ucyate

Uma pessoa tola, que controla os sentidos,


mas permanece meditando nos objetos
dos sentidos por meio da mente, é
chamada de hipócrita.

Sloka 7

Yas tv indriyani mana


sa
Niyamyarabhate arjuna
Karmendriyaih karma-yogam
Asaktah sa visisyate

Oh! Arjuna! Aquele que sem apego,


controla os sentidos através da mente, e
que começou o processo de niskama-
karma-yoga mediante os sentidos de
trabalho, é superior ao hipócrita.

Bhavanuvada

Bhagavan recita este verso para explicar


que um homem casado que segue as
instruções dos Sastras, é superior ao falso
renunciante. Aqui, a palavra karma-yoga
refere-se a ação prescrita pelos sastras
sem o desejo do resultado de tal atividade.

Sloka 8

Niyatam kuru karma tvam


Karma jyayo hy akarmanah
Sarira-yatrapi ca te
Na prasidhyed akarmanah

Você deve executar seus deveres segundo


as regulações dos Sastras, pois a ação é
melhor que a inação. Tua manutenção
corporal não pode ser feita sem o
trabalho.

Sloka 9
Yajnarthat karmano nyatra
Loko yam karma-bandhanah
Tad-artham karma kaunteya
Mukta-sangah samacara

Oh! Filho de Kunti! Com exceção da ação


oferecida a Visnu desinteressadamente,
todas as demais atividades perpetuam a
humanidade neste mundo. Por tanto, livre
do apego, executa seus atos para sua
própria satisfação.

Sloka 10

Saha yajnah prajah srstva


Purovaca prajapatih
Anena prasavisyadhvam
Esa vo stv ista-kama-dhuk

Em tempos remotos, tendo criado sua


progênie, junto com os brahmanas
qualificados para executar sacrifícios,
Prajapati Brahma lhes deu esta
benção:"Que este sacrifício lhes traga
prosperidade e satisfaça todos os seus
desejos."

Bhavanuvada

Para explicar o verso anterior, Sri Krsna


recita sete versos que começam com este,
cuja palavra inicial é saha."Uma pessoa de
coração impuro deve dedicar-se
exclusivamente ao cultivo da ação
desinteressada e não deve aceitar
sannyasa. Mas se em sua condição atual
não pode sequer executar tal ação, deve
então dedicar-se a ação fruitiva e oferece-
la a Visnu.
Levando em conta a tendência de desfrute
que teria a progênie, o Senhor Brahma
disse:"Que este yajna satisfaça todas as
suas metas."

Sloka 11

Devan bhavayatanenate
Deva bhavayantu vah
Parasparam bhavayantah
Sreyah param avapsyatha

Satisfazendo os semideuses mediante o


sacrifício, eles também o satisfarão.
Satisfazendo-se mutuamente, vocês
alcançarão suprema fortuna.
Sloka 12

Istan bhogan hi vo deva


Dasyante yajna-bhavitah
Tair dattan apradayaibhyo
Yo bhunkte stena eva sah

Estando satisfeitos com os sacrifícios, os


semideuses o recompensarão concedendo-
lhes tudo que desejam. Por tanto, aquele
que desfruta dos ingredientes
suministrados pelos semideuses sem
oferecê-los a eles, é sem dúvida um
ladrão.

Sloka 13

Yajna sistasinah santo


Mucyante sarva kilbisaih
Bhunjate te tv agham papa
Ye pacanty atma-karanat

As pessoas santas que comem os restos de


comida do sacrifício, estão livres de todo
o pecado, mas, as que cozinham grãos e
outros alimentos apenas para seu próprio
prazer, estão comendo apenas pecado.

Sloka 14

Annad bhavanti bhutani


Parjanyad anna-sambhavah
Yajnad bhavati parjanyo
Yajnah karma-samudbhavah

As entidades vivas nascem dos grãos


produzidos pela chuva. A chuva por sua
vez é produzida pelo sacrifício que nasce
da execução dos deveres prescritos.

Sloka 15

Karma brahmodbhavam viddhi


Brahmaksara-samudbhavam
Tasmat sarva-gatam brahma
Nityam yajne pratisthitam

Deves saber que os deveres prescritos


nascem dos Vedas, os Vedas nascem do
Senhor Supremo imutável. Por tanto, o
Brahma Supremo todo penetrante, se situa
sempre no sacrifício.

Sloka 16

Evam pravarttitam cakram


Nanuvartayatiha yah
Aghayur indriyaramo
Mogham partha as jivati

Oh! Partha! Aquele que não segue o ciclo


estabelecido nos Vedas, vive em vão, pois
é um desfrutador dos sentidos, e é a
morada do pecado.

Sloka 17

Yas tv atma-ratir eva syad


Atma-trptas ca manavah
Atmany eva ca santustas
Tasya karyam na vidyate

Sem dúvida, a pessoa que se regozija no


ser e se sente feliz consigo próprio, a ela
não existe dever algum.
Sloka 18

Naiva tasya krtenartho


Nakrteneha kascana
Na casya sarva-bhutesu
Kascid artha-vyapasrayah

Aquele que é atmarama não alcança


virtude alguma mediante a execução das
ações neste mundo, tampouco incorre em
pecado por sua inação e nem tem a
necessidade de depender das jivas para
conseguir seus propósitos.

Prakasika-Vrtti

Todas as jivas, tanto móveis tanto


imóveis, começando por Brahma,
permanecem absortas no desfrute material
devido a sua identificação com o corpo;
cada uma de suas ações está dirigida para
o prazer sensual. Mas a pessoa que é
Atmarama, transcendeu o egoísmo
relativo aos prazeres mundanos e nem
sequer se interessa por jnana ou vairagya,
e por que estão completamente absortas
em Bhakti, jnana e vairagya manifesta-se
naturalmente neles.

Sloka 19

Tasmad asaktah satatam


Karyam karma samacara
Asakto hy acaran karma
Param apnoti purusah

Por tanto, executa seu dever prescrito sem


nenhum apego. Executando os deveres
prescritos sem apego, um homem alcança
o Supremo.

Sloka 20

Karmanaiva hi samsiddhim
Asthita janakadayah
Loka-sangraham evapi
Sampasyan kartum arhasi

Janaka e outros reis santos, sem dúvida,


alcançaram a perfeição por executar seus
deveres prescritos. Você também, para o
benefício do povo, também deve fazer
isto.

Sloka 21

Yad yad acarati sresthas


Tat tad evetaro janah
sa yat pramanam kurute
lokas tad anuvarttate

Sem dúvida, as pessoas ordinárias atuam


do mesmo modo que uma pessoa
exaltada. Qualquer regra que uma pessoa
exaltada estabeleça, estas pessoas o
seguirão.
Slok 22

Na me parthasti karttavyam
Trisu lokesu kincana
Nanavaptam avaptavyam
Varta eva ca karmani

Oh! Partha! Para mim, não há nenhum


dever prescrito, pois não há nada
inalcançável para mim nos três mundos.
Mas até mesmo eu estou ocupado na
execução dos deveres prescritos.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan se exibe como exemplo


para instruir o povo comum neste e nos
próximos versos.

Sloka 23

Yadi hy aham na vartteyam


Jatu karmany atandritah
Mama vartmanuvarttante
Manusyah partha sarvasah

Oh! Partha! Se em algum momento eu


não me ocupasse cuidadosamente na
execução dos meus deveres prescritos, as
pessoas seguiriam meu comportamento
em todos os aspectos.
Sloka 24

Utsideyur ime loka


Na kuryam karma ced aham
Sankarasya ca kartta syam
Upahanyam imah prajah

Se eu não realizasse meus deveres


prescritos (Karma), todo o mundo se
degradaria e eu seria o criador da
população indesejada. Então eu seria o
instrumento para a decadência de todas as
pessoas.

Sloka 25

Saktah karmany avidvamso


Yatha kurvanti bharata
Kuryad vidvams tathasaktas
Cikirsur loka-sangraham

Oh! Bharata! Assim como o ignorante


executa o dever prescrito com apego, do
mesmo modo, o sábio deve atuar sem
apego, sempre desejando o bem-estar do
povo.

Sloka 26

Na buddhi-bhedam janayed
Ajnanam karma-sanginam
Yojavyet sarva-karmani
Vidvan yuktah samacaran
A pessoa erudita não deve confundir os
ignorantes induzindo-os a abandonar seus
deveres prescritos. Ao contrário, com uma
mente equânime, ele deve anima-los a
ocupar-se em todos seus deveres.

Sloka 27

Prakrteh kriyamanani
Gunaih karmani sarvasah
Ahankara-vimudhatma
Karttaham iti manyate

Uma pessoa confundida pelo falso ego,


pensa que é o atuante, mas, em todos os
aspectos, as atividades se realizam pela
vontade da natureza material do Senhor.

Sloka 28

Tattvavit tu maha-baho
Guna-karma-vibhagayoh
Guna gunesu varttanta
Iti matva na sajjate

Oh! Arjuna de braços poderosos. Um


conhecedor da ciência transcendental sabe
das diferenças entre a alma, os modos
materiais e a leis do Karma. Considerando
que os sentidos se ocupam em seus
objetos, ele se mantém desapegado.
Sloka 29

Prakrter guna-sammudhah
Sajjante guna-karmasu
Tan akrtsna-vido mandan
Krtsna-vin na vicalayet

As pessoas confundidas pelos três modos


da natureza material se apegam aos
modos e ao Karma, mas o sábio não deve
se perturbar com estas pessoas menos
inteligente e ignorantes.

Sloka 30

Mayi sarvani karmani


Sannyasyadhyatma-cetasa
Nirasir nirmamo bhutva
Yudhyasva vigata-jvarah

Fixa tua mente no ser interior, oferece


todas as suas atividades a mim, e estando
livre de todo o desejo, do sentido de
possesividade e lamentação, lute.

Prakasika-Vrtti

Sri Bhagavan converte Arjuna em um


instrumento visando ensinar os homens
comuns a importância de se executar o
Karma prescrito, livre do falso ego de se
achar o agente das ações e do desejo pelos
fruto destas ações.
Sloka 31

Ye me matam idam nityam


Anutisthanti manavah
Sraddhavanto nasuyanto
Mucyante te pi karmabhih

Aquelas pessoas que não são invejosas,


que tem plena fé em mim e que sempre se
ajustam ao meu desejo, se liberam
também do cativeiro das ações fruitivas.

Sloka 32

Ye tv etad abhyasuyanto
Nanutisthanti me matam
Sarva-jnana-vimudhams tan
Viddhi nastan acetasah

Mas as pessoas invejosas, que não seguem


minhas instruções, carecem de
inteligência e de verdadeiro
conhecimento, fracassam em seu intento
de alcançar a perfeição.

Sloka 33

Sadrsam cestate svasyah


Prakrter jnanavan api
Prakrtim yanti bhutani
Nigrahah kim karisyati
Inclusive um sábio atua segundo sua
própria inclinação, porque todos os seres
seguem suas naturezas. Que poderiam
obter coma repressão dos seus sentidos?

Prakasika-vrtti

Umas pessoas cujos sentidos estão


descontrolados, pode Ter certa
discriminação, mas é incapaz de refreá-los
através do conhecimento dos Sastras.
Os desejos incontroláveis e degradados
podem ser eliminados através de Sadhu
Sanga, associação com os Santos
poderosos.
Srila Bhaktivinoda explica: ”Krsna diz:
”Ó Arjuna, não pensa que um homem
com conhecimento pode alcançar a
liberação do cativeiro material apenas por
saber sobre a matéria e espírito. A alma
condicionada deve esforçar-se de cordo
com suas inclinações específicas. Deve
continuar atuando segundo sua inclinação
de forma natural. Você deve entregar os
frutos das suas ações a Sri Bhagavan. A
renúncia ao dever prescrito lhe trará a
desviação do caminho da perfeição.
Quando, através da minha misericórdia ou
de meu devoto, o Bhakti yoga aparece no
coração, não há necessidade de seguir o
dever prescrito, pois este caminho é
superior ao deniskama-karma-yoga. Mas,
ainda sim, se Bhakti ainda não surgiu, o
niskama-karma-yoga oferecido a mim, é
sempre benéfico.”

Sloka 34

Indriyasyendriyasyarthe
Raga-dvesau vyavasthitau
Tayor na vasam agacchet
Tau hy asya paripanthinau

Todos os sentidos são controlados pelo


apego e a aversão por seus objetos. Por
tanto o sadhaka não deve converter-se em
um escravo dos seus sentidos, pois o
apego e a aversão são totalmente
desfavoráveis.

Prakasika-Vrtti

Os sentidos são de dois tipos: jnanendriya


e karmendriya. Há cinco jnanendriyas:
vista, ouvido, olfato, gosto e tato. Os
karmendriyas são cinco também: fala,
mãos, pernas, ânus e genitais. O sadhaka
de Bhakti emprega estes dez sentidos e a
mente em diversos tipos de serviço
devocional para o prazer de Sri Krsna, ao
invés de usá-los para seu próprio desfrute.
Desta maneira, pode-se dominar os
sentidos e alcançar a meta suprema da
vida.
Srila Bhaktivinoda Thakura explica.
“Krsna diz a Arjuna: “Oh Arjuna, se
pensas que ao aceitar os objetos dos
sentidos, as entidades vivas ficarão mais
viciadas ao prazer mundano e por tanto,
sua liberação do cativeiro do Karma será
impossível, então escuta-me. Não é certo
que todos os objetos sensíveis sejam
prejudiciais para o progresso espiritual. O
apego e a aversão a estes objetos é que
são seus piores inimigos. Enquanto
possuir um corpo material, deves aceitar
os objetos dos sentidos, mas ao eliminar
gradualmente o apego e a aversão, os
quais são produtos da identificação
corpórea, te desapegarás totalmente deles.
Você deve controlar o apego e a aversão
que estão relacionados com seu próprio
prazer, porque eles promovem um
temperamento oposto a Bhakti (devoção).

Sloka 35

Sreyam sva-dharma vigunah


Para-dharmat svanusthitat
Sva-dharme nidhanam sreyah
Para-dharmo bhayavahah

É melhor executar o próprio dever


prescrito, ainda que de modo imperfeito,
do que levar a cabo o dever de outros
perfeitamente. É melhor morrer
executando o próprio dever de acordo
com o Varnasrama do que desempenhar o
dever alheio, pois isto é muito perigoso.

Prakasika-Vrtti

Srila Bhaktivinoda diz:”Alguém que


segue seu dever, pode morrer antes de
alcançar um estado superior de Dharma,
mas ainda sim, isso lhe é benéfico, pois
cumprir o dever alheio é sempre terrível e
perigoso. Tal consideração não é aplicável
aos praticantes de Nirguna Bhakti, pois
alguém que alcançou isto pode abandonar
seu dever sem vacilação, pois neste
momento seu Nitya Dharma (natureza
constitucional) se manifesta como seu Sva
Dharma.

Sloka 36

Arjuna uvaca
Atha kena prayukto ýam
Papam carati purusah
Anicchann api varsneya
Balad iva niyojitah

Arjuna disse:”Ó descendente de Vrsni!


Por que uma pessoa tem que ser ocupada
ainda que contra sua própria vontade, a
cometer algum pecado?

Sloka 37
Sri bhagavan uvaca
Kama esa krodha esa
Rajo-guna-samudbhavah
Maha-sano maha-papma
Viddhy enam iha vairinam

Sri Bhagavan diz:”O desejo de desfrutar


dos objetos dos sentidos, que depois se
transforma em ira, nasce do modo da
paixão. Isto é imensamente grande e
voraz. Considere isto como o principal
inimigo da jiva neste mundo.

Bhavanuvada

A luxúria, o desejo pelos objetos dos


sentidos, vincula as pessoas com as
atividades pecaminosas e as impulsiona a
executa-las. Conclusão: O desejo que
nasce do modo da paixão, produz a ira, a
qual está situada no modo da ignorância.
Segundo a declaração do Smrti se diz que
a satisfação do desejo está aquém da
capacidade de uma pessoa. Antecipando a
pergunta”Se não há a possibilidade de
controlar a luxúria oferecendo-a seus
objetos: devemos nós controlá-la
retraindo-a?”
Bhagavan diz:”Ela é extremamente
formidável e muito difícil de se
controlar.”

Sloka 38
Dhumenavriyate vahnir
Yathadarso malena ca
Yatholbenavrto garbhas
Tatha tenedam avrtam

Assim como a fumaça cobre o fogo ou o


ventre cobre o embrião, o conhecimento
fica encoberto por diversos agrados da
luxúria.

Sloka 39

Avrtam jnanam etena


Jnanino nitya-vairina
Kama-rupena kaunteya
Duspurenanalena ca

Oh! Arjuna! O Verdadeiro conhecimento


do sábio é encoberto pelo inimigo eterno,
a luxúria, que assim como fogo, jamais se
sacia.

Bhavanuvada

No Srimad Bhagavatam se diz:”O fogo


não se sacia com a manteiga clarificada,
muito pelo contrário, ele se torna mais
vivo. Igualmente, a sede de prazer sensual
se intensifica mais e mais ao desfrutar dos
objetos dos sentidos.

Sloka 40
indriyani mano buddhir
asyadhisthanam ucyate
etair vimohayaty esa
jnanam avrtya dehinam

Se diz que os sentidos, a mente e a


inteligência, são as residências da luxúria.
Com sua ajuda, esta luxúria envolve o
conhecimento e desconcerta a entidade
viva.

Bhavanuvada

Os sentidos, a mente e a inteligência são


como um grande forte onde reside este
inimigo, a luxúria. E os objetos sensíveis,
como o som, constituem seu reino. A
alma corporificada é desconcertada por
todos eles.

Sloka 41

Tasmat tvam indriyany adau


Niyamya bharatarsabha
Papmanam prajahi hy enam
Jnana-vijnana-nasanam

Oh melhor dos Bharatas! Por tanto,


primeiro controla os sentidos, assim sem
dúvida alguma você aniquilará este forte
destruidor (a luxúria), que destrói tanto o
conhecimento quanto a auto realização.
Bhavanuvada

O inimigo é vencido quando se conquista


sua guarita; esta é a estratégia. Então,
devemos primeiro controlar os sentidos.
Controlando os sentidos, ou seja,
desviando-os de seus objetos, a mente se
libertará da luxúria em seu devido
momento.

Prakasika-Vrtti

Sri Bhagavan disse a Uddhava: ”A mente


só se perturba quando os sentidos são
postos em contato com seus objetos.”

“Assim sendo, a mente de uma pessoa que


domina seus sentidos é sempre estável e
pacífica.”

Sloka 42

Indriyani parany ahur


Indriyebhyah param manah
Manasas tu para buddhir
Buddher yah paratas tu sah

Se diz que os sentidos são superiores a


matéria inerte, a mente é superior aos
sentidos, a inteligência é superior a mente,
e a alma é superior a inteligência.
Sloka 43

Evam buddheh param buddhva


Samstabhyatmanam atmana
Jahi satrum maha-baho
Kama-rupam durasadam

Ó possuidor de braços poderosos! Desta


maneira, compreendendo que a alma é
superior a inteligência, controla com
firmeza a mente através da inteligência
pura e destrói este poderoso inimigo em
forma de luxúria.

Capítulo 4

Jnana Yoga

O conhecimento Transcendental

Sloka 1

Sri bhagavan uvaca


Imam vivasvate yogam
Proktavan aham avyayam
Vivasvan manave praha
Manur iksvakave bravit
Bhagavan disse: Eu ensinei esta
imperecível ciência do Yoga
primeiramente a Vivasvan, o deus do sol,
quem por sua vez ensinou a Manu. Então
Manu ensinou a Iksvaku.

Prakasika-vrtti

Neste capítulo, Sri Bhagavan introduz o


conceito da sucessão discipular de mestres
espirituais auto realizados, sem o qual não
se pode manifestar Bhakti ou Jnana Yoga
neste mundo material. Só através dela se
pode compreender temas espirituais. Na
Índia, podemos ver como a fé e devoção
na sucessão discipular encontra-se até nas
pessoas comuns. Os mantras que não são
recebidos através da sucessão discipular
são completamente infrutíferos. Nesta
Kali Yuga existem quatro sucessões
Vaishnavas: Sri, Brahma, Rudra e
Kumara. Sri Krsna é a fonte de todas elas
e dele flui todo a verdade neste mundo.
No Gita, se explica como Krsna ensinou
primeiramente o jnana yoga a Surya deva,
Vivasvan, que por sua vez ensinou a
manu, que logo ensinou a Iksvaku. Assim
sendo, o sistema de sucessão discipular,
parampara, é uma tradição ancestral e
confiável mediante o conhecimento
divino há sendo preservado até o presente
momento.
Uma pessoa jamais compreenderá o
Bhagavad Gita se não se situa no Guru
Parampara, ainda que seja muito
qualificada em termos de conhecimento
material; portanto é necessário se proteger
dos comentaristas maléficos,
principalmente os Mayavadis
(impersonalistas) os quais se identificam
com o corpo material.

Sloka 2

Evam parampara-praptam
Imam rajarsayo viduh
As kaneleha mahata
Yogo nastah parantapa

Ó Arjuna! Esta ciência do yoga foi


recebida através da sucessão discipular e
os reis piedosos assim a aprenderam. Mas,
devido a poderosa influência do tempo,
esta ciência suprema se perdeu neste
mundo.

Sloka 3

As evayam maya te dy
Yogah proktah puratanah
Bhakto si me sakha cet
Rahasyam hy etad uttamam

Hoje te ensino esta mesma ancestral


ciência da conexão com o supremo. Por
que você é meu amigo e meu devoto você
pode entender este conhecimento
confidencial supremo.

Prakasika-Vrtti

Um guru genuíno ensina princípios muito


confidenciais apenas ao discípulo afetivo
e rendido, que tem uma atitude de serviço.
Quem não possui estas qualidades, não
são capazes de compreender o
conhecimento transmitido pelo Guru.
Aqui, Bhagavan sri Krsna está dizendo a
Arjuna:”Por que tu és muito afetuoso e
um querido amigo, eu estou o impartindo
este conhecimento transcendental
confidencial.

Sloka 4

Arjuna uvaca
Aparam bhavato janma
Param janma vivasvatah
Katham etad vijaniyam
Tvam adau proktavan iti

Arjuna disse: Tu nasceste recentemente,


enquanto Surya nasceu há muito tempo.
Como você o ensinou este yoga?

Bhavanuvada
Considerando impossível a declaração
anterior de Krsna, Arjuna pergunta:
”Você nasceu recentemente, enquanto que
Surya(o deus do sol)nasceu há muito
tempo atrás. Como posso crer então que
tu ensinaste este yoga em um empos
ancestrais?”

Sloka 5

Sri bhagavan uvaca


Bahuni me vyatitani
Janmani tava carjuna
Tany aham veda sarvani
Na tvam vettha parantapa

Sri Bhagavan disse: Ó Arjuna, castigador


do inimigo. Você e eu já tomamos muitos
nascimentos juntos. Eu me recordo de
todos eles, mas você não.

Prakasika-vrtti

Aqui Krsna diz a Arjuna: ”Mesmo antes


desta minha existência atual, eu vim na
forma de muitos outros avataras,
manifestando assim diversos nomes,
passatempos e formas, os quais me
recordo plenamente. Você apareceu
comigo em todos eles, mas não se recorda
porque pertences a categoria das
partículas atômicas conscientes.”
Sloka 6

Ajo pi sann avyayatma


Bhutanam isvaro pi san
Prakrtim svam adhisthaya
Sambhavamy atma-mayaya

Ainda que sou não nascido e que possuo


um corpo transcendental e imperecível, e
mesmo que sou o senhor de todos os
seres, eu me manifesto através de minha
própria potência interna.

Prakasika-Vrtti

“Em Sri Bhagavan não há distinção entre


seu corpo e sua alma corporificada.” Já
nas entidades vivas, o corpo é diferente da
alma corporificada, em outras palavras,
seu corpo sutil e grosseiro são diferentes
dela.”
Bhagavan aparece neste mundo através de
sua potência cit-sakti, enquanto as jivas
nascem neste mundo pela influência de
maya-sakti.
Sri Krsna é o controlador e a fonte de
ambas as potências.

Sloka 7

Yada yada hi dharmasya


Glanir bhavati bharata
Abhyutthanam adharmasya
Tadatmanam srjamy aham

Ó Bharata! Sempre que há um declínio do


Dharma (religião) e um aumento de
Adharma (irreligião), eu me manifesto
neste mundo.

Prakasika-vrtti

Quando descende Sri Bhagavan? Sua


explicação começa com a palavra yada;
”Incapaz de tolerar o declínio do Dharma
e o aumento do Adharma, eu apareço com
o propósito de reverter a situação.”

Sloka 8

Paritranaya sadhunam
Vinasaya ca duskrtam
Dharma – samsthapanarthaya
Sambhavami yuge yuge

Eu apareço em cada era para proteger


meus devotos imaculados, aniquilar os
ímpios e restabelecer o Dharma.

Prakasika-Vrtti

Sri Bhagavan descende a este mundo por


três razões: aliviar as aflições dos devotos
que sofrem por sua separação, para matar
os demônios como Kamsa que se opõem
fortemente contra os santos, e para
difundir a mensagem da devoção pura. Sri
Krsna é a origem de todos os inumeráveis
avataras.

Sloka 9

Janma karma ca me divyam


Evam yo,vetti tattvatah
Tyaktva deham punar janma
Naiti mam eti so rjuna

Ó Arjuna! Meu nascimento e atividades


são transcendentais. Quem conhece esta
verdade não aceita outro corpo material
após abandonar este corpo atual, se não
que vem até mim.

Prakasika-Vrtti

Quem pela graça do Guru e dos


Vaishnavas compreende que Sri
Bhagavan aceita um nascimento
transcendental e executa atividades
transcendentais mediante sua potência
inconcebível, obtém seu serviço eterno
nesta mesma vida e pela misericórdia da
sua energia de prazer alcança a liberação.
E aqueles que consideram que o nascimento e
atividades de Sri Krsna são mundanos, são
subjugados e perambulam no ciclo de
nascimentos e mortes, assim sendo, são afligidos
pelos três tipos de misérias.
Sloka 10

Vita - raga – bhaya – krodha


Man – maya mam upasritah
Bahavo jnana – tapasa
Puta mad – bhavam agatah

Livre do apego, do temor e da ira, fixa tua mente


em mim. Assim, através do conhecimento e das
austeridades, muitas pessoas se purificam e
alcançam amor por mim.

Bhavanuvada

As palavras vita – raga se refere a quem


abandonou por completo o apego pelas pessoas
que se dedicam a conversas inúteis. ”Meus
devotos não se misturam com tais pessoas e nem
as temem. Se alguém pergunta o motivo de tal
atitude, a resposta é que eles estão totalmente
absortos na meditação, deliberação, e no canto
sobre o meu nascimento e minhas atividades.”

Prakasika-Vrtti

Bhaktivinoda Thakura interpreta a Krsna.”Há


três razões para que os néscios não sentem
inclinação por discutir sobre a natureza
transcendental e totalmente pura do meu
nascimento, atividades e forma: O apego por
coisas mundanas, o temor e a ira.”
Já os sábios se liberam do apego, temor e ira e
me percebem em todas as partes. Totalmente
entregues a mim, eles são purificados mediante o
fogo do conhecimento transcendental da
penitência de tolerar o ardente veneno do
comentário impróprio. Assim, eles obtém o mais
puro e sublime amor por mim.”

Sloka 11

Ye yatha mam prapadyante


Tams tathaiva bhajamy aham
Mama vartmanuvarttante
Manusyah partha sarvasah

Ó filho de Prtha! A aqueles que se rendem a


mim, eu correspondo amavelmente na mesma
medida. Na verdade, o mundo inteiro segue meu
caminho em todos os aspectos.

Bhavanuvada

Surge a possível pergunta:”Apenas seus devotos


exclusivos compreendem que teu nascimento e
atividades são eternos. Mas, o que acontece com
os jnanis, e os praticantes de outros métodos que
não aceitam a eternidade dos eu nascimento,
atividades, forma etc..? ”Krsna responde:”Eu os
recompenso dando-lhes o resultado de sua
adoração na mesma proporção das suas
adorações. Para aqueles que me adoram em
atitude de serviço, eu como Isvara, dou-lhes um
nascimento eterno. Outros, que refugiam em mim
como os jnanis, que consideram meu nascimento
e atividades como sendo temporários, eu
outorgo-lhes a aceitação de repetidos
nascimentos e mortes, sujeitos a destruição. Para
os que desejam a liberação, que consiste na
dissolução do corpo sutil e grosseiro, eu destruo
seu enredamento no ciclo de nascimentos e
mortes e concedo-lhes a liberação. Assim sendo,
todos seguem meu caminho.”

Sloka 12

Kanksantah karmanamsiddhim
Yajanta iha devatah
Ksipram hi manuse loke
Siddhir bhavati karmaja

Aqueles que desejam os frutos de suas atividades


neste mundo, adoram os semideuses. De tal
maneira eles obtêm rapidamente os resultados de
seu trabalho fruitivo.

Bhavanuvada

“Entre as pessoas a quem correspondo, os que


desejam êxito material abandonam o caminho de
Bhakti, o qual não é diferente de mim, para
transitar no caminho de karma no qual se obtém
frutos rapidamente.”

Sloka 13

Catur – varnyam maya srstam


Guna – karma – vibhagasah
Tasya karttaram api mam
Viddhy akarttaram avyayam

O sistema quádruplo de ordens sociais (castas)


foi criado por mim de acordo com as divisões de
qualidades (guna) e ocupação (karma). Ainda que
sou o criador deste sistema, deves saber que sou
imutável e não sou o atuante direto.

Bhavanuvada

De acordo com as quatro castas, os brahmanas


situam-se no modo da bondade e sua ocupação é
controlar a mente e os sentidos. Os Ksatriyas
estão no modo da bondade misturada com paixão
e se ocupam na guerra, os vaisyas estão
influênciados pelos modos da paixão e da
ignorância e sua ocupação esta relacionada com a
agricultura e a proteção as vacas, os sudras estão
no modo da ignorância e se ocupam em trabalhos
menores como deveres domésticos e serviçais.

Prakasika-Vrtti

Sri Bhagavan, por sua misericórdia imotivada,


cria o caminho da ação através da sua energia
externa, com o propósito de liberar as jivas. Ao
mesmo tempo, ele se ocupa em seus passatempos
transcendentais, desfrutando com sua energia
interna, pemanecendo assim imutável e sem
criar. Ou seja, ele não é o criador ou atuante
direto.

Sloka 14
Na mam karmani limpanti
Na me karma-phale sprha
Iti mam yo bhijanati
Karmabhir na sa badhyate

O karma jamais me afeta e eu não desejo seus


frutos. Aquele que me compreende desta
maneira, nunca é aprisionado por tais atividades.

Sloka 15

Evam jnatva krtam karma


Purvair api mumuksubhih
Kuru karmaiva tasmat tvam
Purvaih purvataram krtam

Assim, sabendo que inclusive as antigas almas


liberadas executaram karma apenas para ensinar
as pessoas comuns, você também deve executar
suas ações igual fizeram seus antepassados.

Bhavanuvada

“As autoridades do passado, como Janaka,


executaram karma para estabelecer o ideal da
humanidade.”

Sloka 16

Kim karma kim akarmeti


Kavayo py atra mohitah
Tat te karma pravaksyami
Yaj jnatva moksyase subhat

Até o homem sábio se confunde ao determinar o


que é ação e o que é inação. Por tanto, te
explicarei o princípio da ação e ao compreende-
la, te liberarás de toda inauspiciosidade.

Sloka 17

Karmano hy api boddhavyam


Boddhavyanca vikarmanah
Akarmanas ca boddhavyam
Gahana karmano gatih

O princípio da ação (karma) é muito profundo.


Por tanto, deves entender o que é ação (karma), o
que é ação pecaminosa (vikarma) e o que é
inação (akarma).

Sloka 18

Karmany akarma yah pasyed


Akarmani ca karma yah
Sabuddhiman manusyesu
sayuktah krtsna -karma-krt

A pessoa inteligente que pode ver a inação na


ação e ação na inação, está situada
transcendentalmente ainda que realiza todo tipo
de atividades.

Bhavanuvada
Janaka Maharaja e outros sábios de coração puro
não aceitaram sannyasamesmo sendo dotados de
conhecimento transcendental. Pelo contrário,
executaram niskama-karma-yoga. O karma
jamais cativa os que entendem que estas ações
não constituem karma. Um karmasannyasi de
coração impuro, que carece de conhecimento
transcendental e que possui apenas conhecimento
intelectual dos Sastras, é capaz apenas de
pronunciar discursos retóricos.
As pessoas de coração puro executam todo tipo
de ação mas não aceitam Karma Sannyasa.
Outros se consideram entendidos, mas na
realidade são orgulhosos e charlatões.

Sloka 19

Yasya sarve samarambhah


Kama-sankalpa-varjitah
Jnanagni –dagdha-karmanam
Tam ahuh panditam budhah

Aquele cujos todos os esforços são desprovidos


de desejos egoístas, sua ação é abrasada pelo
fogo do conhecimento. Os sábios o denominam
como sendo um erudito.

Prakasika-Vrtti

Quem executa karma livre dos desejos fruitivos,


queima os resultados do seu karma prescrito,
assim como os resultados de seu vikarma, no
fogo do conhecimento transcendental produzido
pela execução de niskama-karma-yoga.

Sloka 20

Tyaktva karma phalasangam


Nitya-trpto nirasrayah
Karmany abhipravrtto pi
Naiva kincit karoti sah

Os que abandonaram o apego aos frutos da ação,


estão sempre satisfeitos e independentes. Por
tanto, eles não fazem nada ainda que estejam
ocupados na ação.

Sloka 21

Nirasir yata-cittatma
Tyakta-sarva-parigrahah
Sariram kevalam karma
Kurvan napnoti kilbisam

Aquele que atua unicamente para a manutenção


de seu corpo, cuja mente está controlada e que
abandonou toda busca por prazeres sensuais, ao
agir ele não obtém nenhuma reação pecaminosa.

Sloka 22

Yadrccha-labha-santusto
Dvandvatito vimatsarah
Samah siddhav asiddhau ca
Krtvapi na nibadhyate
Ele não se enreda ainda que atue, pois está
sempre satisfeito com o que vem
espontaneamente. Ele abandonou toda a
dualidade e inveja e é equânime no êxito e no
fracasso.

Sloka 23

Gata-sangasya muktasya
Jnanavasthita-cetasah
Yajnayacaratah karma
Samagram pravilyate

Aquele que abandonou toda a associação externa


e cuja consciência está situada no conhecimento,
de certo está liberado. Ao atuar para o prazer de
Visnu, sua ação fruitiva se dissolve por completo.

Sloka 24

Brahmarpanam brahma havir


Brahmagnau brahmana hutam
Brahmaiva tena gantavyam
Brahma-karma-samadhina

A realidade espiritual é sem dúvida alcançada


pelo brahmana que está absorto em transe
executando uma ação espiritual. Os instrumentos
usados no sacrifício também devem estar
espiritualizados, tais como; a manteiga
clarificada, o fogo, as oferendas de alimentos etc.
Sloka 25

Daivam evapare yajnam


Yoginah paryupasate
Brahmagnav apare yajnam
Yajnenaivopajuhvati

Alguns karma-yogis executam perfeitamente o


sacrifício aos semideuses, mas os jnani-yogis
oferecem todas as suas atividades como oblações
no fogo do brahma.

Prakasika-Vrtti

Os yajnas se dividem em dois grupos de acordo


com a compreensão científica: O karma-yajna
que consiste na oblação de oferendas; e o jnana-
yajna, o sacrifício na forma de discussões acerca
da verdade consciente.
Os karma-yogis executam sua adoração aos
representantes autorizados de Visnu, tais como
Indra, Varuna etc.Por meio desta adoração, eles
chegam na plataforma de niskama-karma-yoga
de forma gradual.
Os jnana-yogis executam ynana yoga através
oferecendo seu próprio ser na forma da manteiga
clarificada no fogo do sacrifício do brahma,
recitando o pranava mantra om e a frase tat-
tvam-asi,”eu sou seu servo”.Mais tarde, Krsna
explicará a superioridade do jnana-yajna.

Sloka 26
Srotradinindriyany anye
Samyamagnisu juhvati
Sabdadin visayan anya
Indriyagnisu juhvati

Os naisthika-brahmacaris oferecem os sentidos


começando pelos ouvidos, no fogo da mente
controlada. Outros, os grhasthas, oferecem os
objetos sensíveis começando pelo som, no fogo
dos sentidos.

Sloka 27

Sarvanindriya-karmani
Prana-karmani capare
Atma-samyama-yogagnau
Juhvati jnana-dipite

Outros yogis oferecem as funções dos sentidos e


seu ar vital no fogo do auto controle, iluminado
pelo conhecimento transcendental (jnana).

Sloka 28

Dravya-yajnas tapo-yajna
Yoga-yajnas tathapare
Svadhyaya-jnana-yajnas ca
Yatayah samsita-vratah

Outros executam dravya-yajna doando suas


posses em caridade, alguns executam tapo-yajna
fazendo austeridades e outros praticam yoga-
yajna estudando os oito tipos de yoga mística
chamado astanga yoga.
Outros ainda estudam os vedas, adquirindo assim
o conhecimento transcendental. Todos estes
ascetas seguem estritos votos.

Sloka 29

Apane juhvati pranam


Prane panam tathapare
Pranapana-gati ruddhva
Pranayama-parayanah
Apare niyataharah
Pranam pranesu juhvati

Os que estão dedicados no controle da


respiração, oferecem a respiração (prana) na
inspiração (apana) e vice-versa. Detendo-lhes
gradualmente permanecem em transe. Outros
oferecem o prana no fogo do prana, enquanto
restringem a alimentação.

Prakasika-Vrtti

Este verso explica com mais detalhe o sistema


óctuplo de yoga (astanga yoga). A palavra
pranayama tem dois componentes; prana e yama.
Prana significa “um tipo especial de ar” e ayama
significa “expansão”. Neste contexto, a palavra
expansão indica o controle do prana desde a
ponta dos dos dedos dos pés até a ponta do
cabelo. Pranayama significa expandir o prana
com o objetivo de controlar as atividades
sensuais.
Os smrti-sastras também descrevem estes tipos
de yajnas, yogas, ou votos que visam o controle
dos sentidos. Porém em Kali-yuga, quando vive-
se pouco e tem-se pouca inteligência:”As pessoas
inteligentes adoram Krsna através do canto
congressional dos santos nomes.”

Sloka 30

Sarve py ete yajna-vido


Yajna-kssapita-kalmasah
Yajna-sistamrta-bhujo
Yanti brahma sanatanam

Todos aqueles que conhecem o princípio do


sacrifício se liberam do pecado mediante sua
execução. Eles desfrutam dos remanescentes do
sacrifício e assim alcançam o brahma eterno.

Prakasika-Vrtti

O fruto principal do yajna é alcançar o brahma,


enquanto o secundário é o desfrute material
mundano e as perfeições místicas, tais como a
capacidade de se tornar do tamanho de um
átomo.

Sloka 31

Nayam loko sty ayajnasya


Kuto nyah kuru-sattama
Ó melhor dos Kurus! Se até este planeta é
inalcançável para aqueles que não executam
yajna, que dizer então dos planetas celestiais?

Sloka 32

Evam bahu-vidha yajna


Vitata brahmano mukhe
Karma-jan viddhi tan sarvan
Evam jnatva vimoksyase

Os Vedas descrevem detalhadamente os diversos


tipos de sacrifícios. Conseguirás a liberação
quando entenderes que todos eles nascem do
karma.

Prakasika-Vrtti

O yajna descrito nos Vedas falam sobre


atividades do corpo, da mente e da fala, por
tanto, não há relação alguma com a verdadeira
natureza da alma.

Sloka 33

Sreyan dravyamayad yajnaj


Jnana-yajnah parantapa
Sarvam karmakhilam partha
Jnane parisamapyate

Ó castigador do inimigo! Melhor que o sacrifício


das posses materiais é o conhecimento (jnana
yajna), porque todas ações culminam no
conhecimento transcendental.

Prakasika-Vrtti

Bhaktivinoda Thakura diz que todos os tipos de


yajna cultivam no conhecimento, assim sendo,
jnana-yajna é superior aos outros.
O Sri Caitanya Caritamrta declara:”As cordas
que nos atam a este mundo material, são
facilmente desatadas por aqueles que cantam o
Krsna Mantra, através do qual alcança-se o
serviço amoroso a Krsna. Assim sendo, na era de
Kali (desavenças), tudo, a não ser o canto dos
santos nomes, são inúteis, pois não se enquadram
na ocupação eterna da alma.”

Sloka 34

Tad viddhi pranipatena


Pariprasnena sevaya
Upadeksyanti te jnanam
Jnaninas tattva-darsinah

Deves compreender este conhecimento


prostrando-se em reverência a um guru que
realmente conhece e viu a verdade absoluta.
Assim, oferecendo-lhe serviço devocional, esse
conhecimento se revelará a ti.

Prakasika-Vrtti
Só se pode obter tal elevado conhecimento por
meio da misericórdia de uma grande
personalidade que conheça a verdade, e mais
especificamente, de alguém que a percebe e
experimenta. Os sadhakas sinceros devem
indagar acerca desta verdade refugiando-se em
uma grande personalidade e oferecendo-lhe
reverências, fazendo-lhe perguntas e oferecendo-
lhe serviço Este é o processo com o qual se pode
obter tal conhecimento.

Sloka 35

Yaj jnatva na punar moham


Evam yasyasi pandava
Yena bhutany asesani
Draksyasy atmany atho mayi

Ó filho de Pandu! Depois de compreender este


conhecimento dado pelos conhecedores da
verdade, nunca mais estarás sujeito a ilusão.
Mediante este conhecimento, você vai me
perceber dentro de todos os seres como
Paramatma e verás que todas elas estão situadas
em mim.

Prakasika-Vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta a


Krsna.”Devido a ilusão, estais tentando
abandonar seu dever prescrito de participar da
batalha, mas ao obter este conhecimento
transcendental de um guru, não se tornarás mais
vítima da ilusão. Assim, você entenderá que
todos os seres humanos, animais e as demais
entidades vivas estão situadas em um princípio
comum de almas espirituais.

Sloka 36

Api ced asi papebhyah


Sarve bhyah papa-krttmah
Sarvam jnana-plavenaiva
Vrjinam santarisyasi

Ainda se fosses o pior de todos os pecadores,


poderias cruzar o oceano de pecados através do
bote do conhecimento transcendental.

Sloka 37

Yathaidhamsi samiddho gnir


Bhasmasat kurute rjuna
Jnanagniih sarva-karmani
Bhasmasat kurute tatha

Ó Arjuna! Assim como um fogo ardente reduz a


lenha a cinzas, o fogo do conhecimento
transcendental queima todas as reações das
atividades materiais.

Prakasika-Vrtti

O conhecimento transcendental destrói as reações


de todo tipo de atividade material, porém não
destrói aquelas que já germinaram (prarabdha-
karma).
Na opinião de Srila Rupa Goswami, uma pessoa
que se refugia no santo nome, mesmo que seja
namabhasa (a sombra do nome puro), não
somente destrói os resultados de seu karma em
forma seminal mas também os que já
germinaram.

Sloka 38

Na hi jnanena sadrsam
Pavitram iha vidyate
Tat svayam yoga-samsiddhah
Kalenatmani vindati

Neste mundo não há nada mais purificante que o


conhecimento transcendental. Uma pessoa que
alcançou a perfeição através de niskama-karma-
yoga, recebe tal conhecimento em seu coração no
devido momento.

Sloka 39

Sraddhavan labhate jnanam


Tat-parah samyatendriyah
Jnanam labdhva param santim
Acirenadhigacchati

Uma pessoa fiel que se dedicou a prática da ação


desinteressada e assim controlou seus sentidos,
obtém este conhecimento transcendental. Após
obter este conhecimento ele alcança a paz
suprema: a liberação do cativeiro material.

Sloka 40

Ajnas casraddadhanas ca
Samsayatma vinasyati
Nayam loko sti na paro
Na sukham samsayatmanah

As pessoas ignorantes, infiéis ou de natureza


duvidosa, estão arruinadas. Para o indeciso não
existe felicidade, nem neste mundo e nem no
próximo.

Bhavanuvada

Depois de explicar as qualificações necessárias


para obter o conhecimento transcendental,
Bhagavan descreve agora a pessoa que é indigna
de obtê-la Ajnah significa”tolo como um animal”
e asraddadhanah indica aquele que tem
conhecimento dos sastras mas não possui fé em
nenhum princípio filosófico por ser incapaz de
conciliar as contradições das diversas filosofias.
Samsaya-atma indica aquele que duvida da
possibilidade de êxito em seus esforços.

Sloka 41

Yoga-sannyasta-karmanam
Jnana-sanchinna-samsayam
Atma-vantam na karmani
Nibadhnanti dhananjaya

Ó conquistador de riquezas! Aquele que


renunciou a ação através do processo de
niskama-karma-yoga e cujas dúvidas foram
dissipadas pelo conhecimento transcendental
compreendendo assim sua própria natureza
interna, jamais é atada as reações do seu karma.

Prakasika-Vrtti

Nos dois últimos slokas, Bhagavan conclui o


tema. De acordo com as instruções de Krsna,
uma pessoa se refugia em niskama-karma-yoga
quando oferece todas as ações aos seus pés de
lótus. O processo descrito permite a purificação
do coração e sua consequente iluminação através
do conhecimento transcendental, que por sua vez
acaba com todas as dúvidas.
A partir do momento da iluminação, a pessoa se
livra do cativeiro do karma.

Sloka 42

Tasmad ajnana-sambhutam
Hrt-stham jnanasinatmanah
Chittvainam samsayam yogam
Atisthottistha bharata

Por tanto ó Bharata! Corta com a espada do


conhecimento transcendental, a dúvida nascida
da ignorância que situa em seu coração. Refugia-
te neste yoga (niskama-karma-yoga) e prepara-te
para a batalha.

Prakasika-Vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura diz:”Neste capítulo


explica-se as instruções acerca de duas divisões
do sistema eterno de yoga. A primeira,
denominada jada-dravya maya-vibhaga, consiste
na realização de rituais mundanos ou no
sacrifício das posses materiais. A Segunda
divisão se denomina atma-yathatma-rupa-
cinmaya-vibhaga, ou conhecimento sobre o ser e
Bhagavan.
Quando pratica-se a primeira sem algum objetivo
espiritual, este se converte simplesmente em
karma, e quem se dedica a ela são denominados
karma-jada ou pessoas profundamente absortas
no desfrute mundano. Mas, aqueles que praticam
rituais mundanos com o único propósito de
avançar espiritualmente são yukta, ou seja, estão
situados apropriadamente. Quando discutimos
sobre a natureza real das atividades espirituais,
devemos considerar dois aspectos; o
conhecimento sobre o princípio da entidade viva,
e o conhecimento acerca da Suprema
Personalidade de Deus, Bhagavan Sri Krsna. Só
quem compreende e percebe a verdade sobre
Bhagavan pode entender a essência do
conhecimento da natureza da alma como serva de
Krsna.
Assim se conclui o quarto capítulo do Srimad
Bhagavad Gita.

Capítulo 5

Karma-sannyasa yoga

A renúncia da ação

Sloka 1

Arjuna uvaca
Sannyasam karmanam krsna
Punar yoganca samsasi
Yac chreya etayor ekam
Tan me bruhi su-niscitam

Arjuna disse: Ó Krsna, primeiro você descreveu


a renúncia à ação (sannyasa karma yoga) e agora
descreve a ação desinteressada oferecida a
Bhagavan (niskama-karma-yoga). Diga-me
claramente por favor, qual caminho me é mais
benéfico?

Bhavanuvada
No quarto capítulo se diz que karma é superior a
jnana com o propósito de animar os ignorantes a
atuar apropriadamente, de modo que ao final
pudessem alcançar a perfeição no conhecimento
transcendental. Este quinto capítulo explica o
conhecimento acerca da verdade absoluta e as
características de quem possui uma natureza
equânime. Arjuna está perplexo depois de escutar
os dois últimos versos do capítulo anterior; ele
pensa que Krsna se contradiz e por isso
argumenta agora:”Anteriormente você disse
sobre a renúncia da ação, a qual aparece quando
o niskama-karma-yoga produz conhecimento
transcendental. Depois você falou novamente
sobre niskama-karma yoga. Mas o karma
sannyasa yoga e o niskama-karma yoga são de
naturezas opostas, assim como as entidades vivas
móveis e as inertes. Não compreendi sua
intenção, por favor esclarece minha dúvida. Qual
dos dois é mais benéfico a mim?”

Sloka 2

Sri bhagavan uvaca


Sannyasah karma-yogas ca
Nihsreyasa-karav ubhau
Tayos tu karma-sannyasat
Karma-yogo visisyate

O plenamente opulento Senhor disse: Tanto a


renúncia às atividades (karma-sannyasa) como a
ação desinteressada (niskama-karma-yoga) são
auspiciosas, mas a última é sem dúvida superior.

Sloka 3

Jneyah as nitya-sannyasi
Yo na dvesti na kanksati
Nirdvandvo hi maha-baho
Sukham bandhat pramucyate

Ó tu de braços poderosos! Aquele que não


reprime e nem deseja nada é digno de ser
conhecido como sannyasi; devido ao fato de estar
livre da dualidade de aversão e apego, ele se
libera facilmente do cativeiro do mundo material.

Bhavanuvada

É possivel alcançar a liberação que se obtém


através de sannyasa sem entrar nesta ordem.Com
este propósito, Bhagavan diz:”Oh Maha baho,
deves compreender que niskama-karma yogi de
coração puro é sempre renunciado.”

Sloka 4

Sankhya-yogau prthag balah


Pravadanti na panditah
Ekam apy asthitah samyag
Ubhayor vindate phalam
O ignorante diz que o jnana-yoga e o niskama-
karma yoga são diferentes, mas o sábio refuta
esta opinião. Seguindo corretamente qualquer
destes yoga, se alcança o resultado de ambos na
forma de liberação.

Bhavanuvada

“Ó Arjuna! Você perguntou qual deles é


superior, mas esta não é uma pergunta
inteligente, pois o sábio refuta esta opinião, pois
os dois caminhos culminam no mesmo objetivo.”

Sloka 5

Yat sankhyaih prapyate sthanam


Tad yogair api gamyate
Ekam sankhyam ca yoganca
Yah pasyati sapasyati

O resultado alcançado por meio do estudo


analítico (sankhya-yoga) se obtém através de
niskama-karma yoga. Os verdadeiros sábios
consideram que ambos produzem o mesmo
resultado.

Bhavanuvada

Este verso esclarece o verso anterior. Sankhya


significa sannyasa e yoga significa niskama-
karma yoga. Quem vê com olhos de sabedoria
que os processos são essencialmente idênticos,
mesmo sendo métodos diferentes, vêem
corretamente a coisa.

Sloka 6

Sannyasas tu maha-baho
Duhkham aptum ayogatah
Yoga-yukto munir brahma
Na cirenadhigacchati

Ó Maha baho! A prática de renúncia sem


niskama-karma yoga produz miséria, mas quem
se dedica a niskama-karma yoga obtém
conhecimento transcendental e rapidamente
alcança a transcendência

Bhavanuvada

Sannyasa se torna miserável quando o coração se


perturba por desejos materiais, pois só o
niskama-karma yoga outorga paz ao coração.
No Srimad Bhagavatam se diz:”Os tridandi-
sannyasis que carecem de conhecimento e
renúncia apropriados, que não controlou os cinco
sentidos e a mente, perdem ambos os
mundos.”Por isso o niskama-karma yogi, após
converter-se em jnani, alcança rapidamente a
plataforma espiritual.

Sloka 7

Yoga-yukto visuddhatma
Vijitatma jitendriyah
Sarva-bhutatmabhutatma
Kurvann api na lipyate

Quem se dedica ao niskama-karma yoga com


inteligência e coração puros e com sentidos
controlados, é objeto de afeição por parte de
todos. A ação não recai sobre ele, mesmo que ele
seja o atuante.

Sloka 8-9

Naiva kincit karomiti


Yukto manyeta tattva-vit
Pasyan srnvan sprsan jighrann
Asnan gacchan svapan svasan

Pralapan visrjan grhnann


Unmisan nimisann api
Indriyanindriyarthesu
Varttanta iti dharayan

Quando um niskama-karma yogi desenvolve


consciência transcendental, conclui-se que ainda
que ele veja, toque, cheire, escute, mova-se,
coma, durma, respire, fale, abra e feche os olhos,
realmente ele não está atuando; apenas seus
sentidos é que estão ocupados em seus objetos.

Sloka 10

Brahmany adhaya karmani


Sangam tyaktva karoti yah
Lipyate na sapapena
Padma-patram ivambhasa

Oferecendo suas atividades ao senhor supremo e


livre do apego pelos frutos do karma, a alma pura
não é afetada pelo pecado assim como a flor de
lótus não é afetada pela água.

Sloka 11

Kayena manasa buddhya


Kevalair indriyair api
Yoginah karma kurvanti
Sangam tyaktvatma-suddhaye

Para purificar sua mente, o niskama-karma yogi


abandona o apego e atua com seu corpo, mente e
inteligência. Às vezes, realiza atos apenas com os
sentidos, sem sequer ocupar sua mente.

Sloka 12

Yuktah karma-phalam tyaktva


Santim apnoti naisthikim
Ayuktah kama-karena
Phale sakto nibadhyate

Abandonando os frutos da ação, o niskama-


karma yogi alcança paz eterna. Mas aquele que
está apegado aos frutos das atividades, se enreda
cada vez mais devido ao ímpeto da luxúria.

Sloka 13
Sarva-karmani manasa
Sannyasyaste sukham vasi
Nava-dvare pure dehi
Naiva kurvan na karayam

A entidade viva auto controlada, que renunciou a


todas as atividades por meio de sua mente, sem
dúvida permanece feliz na cidade de nove portas
(no corpo que está livre do falso ego), sabendo
que não é a atuante e nem que está ocupando
outros na ação.

Bhavanuvada

Aqui, Sri Krsna ensina que uma pessoa que atua


sem apego, é de certo um sannyasi. Ainda que
realiza atividades corporais externas, a pessoa
auto controlada que renuncia mentalmente todas
suas ações, é sempre feliz. E onde vive essa
pessoa? Sri Krsna responde ”na cidade de nove
portas”, quer dizer, em um corpo livre do falso
ego.

Prakasika-Vrtti

O Srimad Bhagavatam estabelece: ”O corpo


humano é como uma casa”.O assunto foi
abordado detalhadamente na narração sobre
Puranjana. A casa do corpo humano possui nove
portas: olhos, ouvidos, boca, narinas, ânus e
genitais. Um yogi percebe que seu próprio ser é
diferente do corpo.
Sloka 14

Na karttrtvam na karmani
Lokasya srjati prabhuh
Na karma-phala-samyogam
Svabhavas tu pravarttate

O Senhor Supremo Paramesvara não é


responsável pela tendência de atuar de uma
pessoa, nem de suas ações ou dos frutos das
ações. Esta responsabilidade está relacionada
somente com a inclinação natural da pessoa.

Bhavanuvada

É somente a natureza condicionada da entidade


viva, ou sua ignorância adquirida desde tempos
imemoriais, que a induz a desenvolver seu ego de
atuante.

Sloka 15

Nadatte kasyacit papam


Na caiva sukrtam vibhuh
Ajnanenavrtam jnanam
Tena muhyanti jantavah

Paramesvara tampouco assume as reações


pecaminosas ou piedosas de alguém. A
ignorância é quem cobre o conhecimento
transcendental das entidades vivas, fazendo com
que elas se confundam.
Sloka 16

Jnanena tu tad ajnanam


Yesam nasitam atmanah
Tesam adityavaj jnanam
Prakasayati tat param

Mas para aqueles cuja ignorância foi destruída


pelo conhecimento, o sol brilhante na forma do
conhecimento sobre a alma, ilumina a escuridão
e revela o Senhor Supremo.

Sloka 17

Tad-buddhayas tad-atmanas
Tan-nisthas tat-parayanah
Gacchanty apunar-avrttim
Jnana-nirdhuta-kalmasah

Aqueles que possuem uma inteligência fixa em


Paramesvara (Krsna),cuja mente está sempre
meditando nele, que se dedica exclusivamente a
ele, que se ocupa em escutar e cantar suas
glórias, e cuja a ignorância foi completamente
destruída pelo conhecimento transcendental,
alcança a liberação, este nunca mais volta a
nascer.

Bhavanuvada

O conhecimento transcendental ilumina somente


assuntos sobre jivatma (alma individual),mas não
esclarece sobre Bhagavan. No Srimad
Bhagavatam, Krsna esclarece:”Eu só posso ser
alcançado através de Bhakti yoga.”

Prakasika-Vrtti

O conhecimento se encontra no modo da


bondade, mas paramatma (superalma) está além
dos três modos materiais e é seu controlador. Por
isto, apesar do conhecimento no modo da
bondade poder destruir a ignorância, não pode
dar conhecimento sobre Paramatma. No Gita (18-
55) se diz:”Apenas Bhakti pode manifestar
conhecimento sobre a verdade acerca de Sri
Bhagavan.”

Sloka 18

Vidya-vinaya-sampanne
Brahmane gavi hastini
Suni caiva svapake ca
Panditah sama-darsinah

O sábio equipado com conhecimento e gentileza,


vê com equanimidade um brahmana, uma vaca,
um elefante, um cachorro e um comedor de
cachorro (candala)

Bhavanuvada

O sábio dedicado completamente a Sri Bhagavan,


transcende os modos materiais e perde seu
interesse pelos gunas (modos materiais). Desta
maneira, ele desenvolve equanimidade. Se diz
que o brahmana e a vaca estão no modo da
bondade, portanto são superiores ao elefante que
está no modo da paixão e ao cachorro que está no
modo da ignorância, porém o sábio que
transcendeu os modos materiais não estabelece
tais diferenças entre eles. Pelo contrário, ele vê
que Paramatma (a superalma) está situada em
todas as entidades vivas.

Sloka 19

Ihaiva tair jitah sargo


Yesam samye sthitam manah
Nirdosam hi samam brahma
Tasmad brahmani te sthita

Aqueles cujas mentes estão fixas na


equanimidade, conquistam o universo inteiro
nesta mesma vida. Elas possuem as qualidades
imaculadas do brahma e por isso estão situadas
nele.

Sloka 20

Na prahrsyet priyam prapya


Nodvijet prapya capriyam
Sthira-buddhir asammudho
Brahma-vid brahmani sthitah

Aquele que conhece o brahma e está firmemente


fixado nele, possui uma inteligência resoluta e
jamais se confunde. Ele não se regozija ao
receber algo prazeiroso e nem se perturba ao
obter algo desagradável.

Bhavanuvada

Devido ao seu falso ego, as pessoas são


confundidas pela felicidade e lamentação, mas o
sábio jamais se perturba, pois está livre do falso
ego.

Sloka 21

Bahya-sparsesv asaktatma
Vindaty-atmani yat sukham
Sabrahma-yoga-yuktatma
Sukham-aksayam asnute

Uma alma desapegada dos prazeres sensuais,


encontra felicidade dentro de si mesmo. Ao estar
unida com o espírito supremo mediante o
processo de yoga, obtém felicidade ilimitada.

Bhavanuvada

Apenas as pessoas que estão unidas a Bhagavan


por meio do yoga, não se apegam aos prazeres
sensuais, porque ao realizar Paramatma a pessoa
alcança a bem aventurança ilimitada.”Por que
então ela se interessaria em comer excremento já
que sempre saboreia o néctar?”

Sloka 22
Ye hi samsparsaja bhoga
Dunkha-yonaya eva te
Ady-antavantah kaunteya
Na tesu ramate budhah

Ó Kaunteya! Os prazeres nascidos do contato


sensual, sem dúvida são a causa de toda a
miséria. Eles sempre tem um início e um fim, por
tanto, o sábio não se apega a eles.

Sloka 23

Saknotihaiva yah sodhum


Prak sarira-vimoksanat
Kama-krodhodbhavam vegam
Sayuktah sasukhi narah

A pessoa que, mesmo antes de abandonar seu


corpo, consegue tolerar os impulsos da luxúria e
da ira, é um yogi e está sempre feliz.

Sloka 24

Yo ntah-sukho ntararamas
Tathantar-jyotir eva yah
Sayogi brahma-nirvanam
Brahma-bhuto dhigacchati

Aquele que se sente feliz internamente, cujo


regozijo é interno e que está iluminado
internamente, está realmente situado no brahma e
alcança a bem aventurança do brahma-nirvanam
(emancipação da existência material).
Prakasika-Vrtti

Sri Bhagavan explica aqui o método para acalmar


de forma natural os impulsos da luxúria e da ira.
Estes impulsos podem ser controlados pela
experimentação do ser. Srila Bhaktivinoda
Thakura: ”Um sannyasi que está livre da luxúria
e da ira, que controlou sua mente e que conhece
sobre a natureza de atma, obtêm muito
rapidamente plena compreensão do brahma
nirvanam.”

Sloka 25

Labhante brahma-nirvanam
Rsayah ksina-kalmasah
Chinna-dvaidha yatatmanah
Sarva-bhuta-hite-ratah

Os sábios que estão livres do pecado e da dúvida,


que controlaram suas mentes e que estão
ocupados ao bem-estar eterno de todas as
entidades vivas, alcançam a liberação do ciclo de
nascimento e morte através da compreensão do
brahma.

Sloka 26

Kama-krodha-vimuktanam
Yatinam yata-cetasam
Abhito brahma-nirvanam
Varttate viditatmanam
Os sannyasis que estão livres da luxúria e da ira,
que controlam suas mentes e que são versados no
atma-tattva, conseguem a extinção da vida
material através da realização espiritual.

Sloka 27-28

Sparsan krtva bahir bahyams


Caksus caivantare bhruvoh
Pranapanau samau krtva
Nasabhyantara-carinau

Yatendriya-mano-buddhir
Munir moksa-parayanah
Vigateccha-bhaya-krodho
Yah sada mukta eva sah

Aquele que está livre do desejo, temor e da ira,


elimina completamente os desejos sensuais
externos de sua mente, como o som e o tato.
Logo, ele fixa sua vista entre as sobrancelhas e
equilibra no seu nariz os movimentos
ascendentes e descendentes do prana e apana.
Desta maneira ele equilibra seus ares vitais,
controla seus sentidos, mente e inteligência e se
dedica a obter moksa (liberação). Este sábio está
sem dúvida liberado.

Prakasika-Vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta a Krsna:


”Ó Arjuna! O coração só se purifica através de
niskama-karma-yoga oferecido a mim. Depois de
se purificar o coração se obtém jnana, o qual
produz jnana-svarupa-bhakti, ou bhakti na forma
de conhecimento. Este é o método para
compreender a Verdade Absoluta. Finalmente, a
experiência do brahma nasce de bhakti oferecida
com o conhecimento transcendental. Agora te
explicarei astanga-yoga como meio para os que
já purificaram o coração alcançar o brahma; por
favor escuta. As percepções externas tais qual o
tato, forma, gosto, som, etc. devem ser
eliminados por completo da mente. Enquanto
praticas este controle mental, fixa seus olhos
entre as sobrancelhas e na ponta do nariz, pois se
você os fecha pode ser que comece a dormir e se
mantem os olhos completamente abertos pode ser
distraído pelos objetos externos. Deve mante-los
semi fechados de modo que a visão se fixe entre
as sobrancelhas e na ponta do nariz. Respirando
pelo nariz deves regular a respiração e a
inspiração visando equilibrar os movimentos
ascendentes e descendentes. Sentados assim, os
ascetas controlam sua mente, sentidos e
inteligência. Abandonando o desejo, o temor e a
ira, eles praticam com o único propósito de
alcançar o brahma. Assim eles se liberam do
cativeiro material. Então, o astanga yoga deve ser
praticado como parte do niskama-karma yoga.

Sloka 29

Bhoktaram yajna-tapasam
Sarva-lika-mahesvaram
Suhrdam sarva-bhutanam
Jnatva mam santim rcchati

Aquele que me conhece como o beneficiário de


todos os sacrifícios e austeridades, o controlador
Supremo de todos os planetas e o bem-querente
de todas as entidades vivas, sem dúvida se libera
e obtém paz.

Bhavanuvada

O mesmo que acontece com o jnani (praticante


de jnana-yoga), o astanga yogi se libera através
do conhecimento acerca de Paramatma, o qual se
manifesta através de Bhakti. Sri Krsna declara no
Srimad Bhagavatam. ”Eu só posso ser alcançado
através de Bhakti. Os yogis podem compreender
meu aspecto parcial, Paramatma, apenas por
nirguna Bhakti.”

Capítulo 6

Dhyana Yoga

O princípio da meditação

Sloka 1

Sri bhagavan uvaca


Anasritah karma-phalam
Karyam karma karoti yah
Sasannyasi ca yogi ca
Na niragnir na cakriyah

Sri Bhagavan disse: Os que levam a cabo seus


deveres prescritos sem desejar o resultado de
suas ações são verdadeiros sannyasis e yogis.
Quem não oferece yajnas, tais como agni-hotra-
yajna, não são sannyasis e os que simplesmente
abandonam todas as atividades corporais não são
yogis.

Bhavanuvada

No sexto capítulo estuda-se os diversos tipos de


yoga executados pelos yogis que possuem
mentes auto-controladas. Também explica os
métodos para se controlar a mente instável.
Uma pessoa ocupada na prática de astanga yoga
não deve abandonar impulsivamente o niskama-
karma-yoga, o qual purifica o coração. Por esta
razão Bhagavan diz: ”Os que realizam seus
deveres prescritos sabendo que são obrigatórios,
sem desejar seus resultados, são verdadeiros
sannyasis. Porque suas mentes estão livre do
desejo de prazer sensual, tais pessoas são
denominadas yogis. ”A palavra niragni indica
que não se considera um sannyasi, pelo simples
fato de renunciar as ações que lhe são próprias,
como por exemplo o agni-hotra-yajna. Akriyah
significa que uma pessoa não é um yogi apenas
por renunciar as atividades corporais e se sentar
imóvel com os olhos entre abertos.
Sloka 2

Yam sannyasam iti prahur


Yogam tam viddhi pandava
Na hy asannyasta-sankalpo
Yogi bhavati kascana

Ó Arjuna! Deves saber que aquilo que o sábio


chama de niskama-karma-yoga não é diferente da
renúncia à ação, pois uma pessoa que é incapaz
de abandonar o desejo pelos frutos da ação e
também o prazer sensual, jamais pode converter-
se em yogi.

Sloka 3

Aruruksor-muner yogam
Karma karanam ucyate
Yogarudhasya tasyaiva
Samah karanam ucyate

A ação desinteressada é o meio para se alcançar


dhyana-yoga, mas quando ascende à plataforma
de dhyana-nistha, firmeza na meditação, a
renúncia às ações que distraem sua mente passa a
ser benéfica.

Bhavanuvada

Muni quer dizer que para que os aspirantes


possam estabelecer-se no yoga, devem executar
niskama-karma-yoga, pois isto purifica o
coração. Não obstante, uma vez que já alcançou
firmeza na meditação, devem deter todas ações
que podem distraí-los.

Sloka 4

Yada hi nendriyarthesu
Na karmasv anusajjate
Sarva-sankalpa-sannyasi
Yogarudhas tadocyate

Uma pessoa que não está apegada aos objetos


sensíveis nem às ações, realmente alcançou o
yoga. Esta pessoa sem dúvida é um renunciado
(sannyasi), pois renunciou o desejo pelos frutos
de suas ações.

Sloka 5

Uddhared atmanatmanam
Natmanam avasadayet
Atmaiva hy atmano bandhur
Atmaiva ripur atmanah

Uma pessoa deve liberar-se desapegando a mente


do mundo material e a impedindo de se degradar
de novo, pois ela pode ser tanto a melhor amiga
tanto quanto a pior inimiga da alma.

Bhavanuvada
A mente desapegada dos objetos sensuais, libera
a entidade viva. A mente apegada é a causa do
nosso enredamento no mundo material.

Sloka 6

Bandhur atmatmanas tasya


Yenatmaivatmana jitah
Anatmanas tu satrutve
Varttetatmaiva satru-vat

Para aquele que conquistou a mente, esta é sua


aliada; mas uma pessoa carente de conhecimento
espiritual, que ocupa sua mente em atividades
perigosas, esta se torna sua pior inimiga.

Bhavanuvada

Para a entidade viva que controla sua mente, esta


é sua amiga. Mas a entidade viva que tem uma
mente descontrolada, esta é sua perigosa inimiga.

Sloka 7

Jitatmanah prasantasya
Paramatma samahitah
Sitosna-sukha-duhkhesu
Tatha manapamanayoh

Aquele que controlou a mente, e que está livre


das dualidades como frio e calor, felicidade e
tristeza, honra e blasfêmia, apego e inveja, é uma
alma exaltada e está profundamente absorto em
transe (samadhi).

Bhavanuvada

Nestes três versos se definem as características


de um yogi.

Sloka 8

Jnana-vijnana-trptatma
Kutastho vijitendriyah
Yukta ity ucyate yogi
Sama-lostasma-kancanah

È denominado um verdadeiro yogi, a pessoa que


está plenamente satisfeita através do
conhecimento transcendental e de sua
compreensão prática. Esta pessoa está
firmemente situada em sua natureza real e porque
conquistou os sentidos, ela vê com equanimidade
a areia, a pedra ou o ouro.

Prakasika-Vrtti

“A pessoa que está livre da perturbação sensual e


permanece eternamente situada em seu próprio
ser (svarupa) se denomina kuta-sthah.”

Sloka 9

Suhrn-mitrary-udasina
Madhyastha-dvesya-bandhusu
Sadhusv api ca papesu
Sama-buddhir visisyate

È ainda mais elevada, a pessoa que vê de modo


equânime os seus benquerentes, amigos,
inimigos, pessoas neutras, mediadores, invejosos,
parentes e pecadores.

Bhavanuvada

Aqueles que possuem este tipo de equanimidade


são superiores aos que foram descritos no verso
anterior.

Sloka 10

Yogi yunjita satatam


Atmanam rahasi sthitah
Ekaki yata cittatma
Nirasir aparigrahah

Um yogi deve fixar sua mente em samadhi


(transe). Ele deve viver só em um lugar isolado, e
deve controlar seus pensamentos e seu corpo,
estando assim livre do desejo e do refute pelos
objetos dos sentidos.

Prakasika-Vrtti

Ao finalizar a explicação sobre os sintomas de


um yogi-arudha, Bhagavan explica agora o
processo da prática de yoga, tal como foi dada
neste presente verso.

Slokas 11-12

Sucau dese pratisthapya


Sthiram asanam atmanah
Naty-ucchritam nati-nicam
Cailajina-kusottaram

Tatraikagram manah krtva


Yata-cittendriya-kriyah
Upavisyasane yunjyad
Yogam atma-visuddhaye

Em um lugar sagrado, o yogi deve-se colocar


sobre o solo, a grama chamada Kusa e uma pele
de veado em cima de uma esteira de palha,
fazendo assim um assento nem muito alto nem
muito baixo. Sentado neste assento deve praticar
yoga para purificar a mente, com uma
concentração firme e com todos os pensamentos
e atividades controladas.

Sloka 13-14

Samam kaya-siro-grivam
Dharayann acalam sthirah
Sampreksya nasikagram svam
Disas canavalokayam

Prasantatma vigata-bhir
Brahmacari-vrate sthitah
Manah samyamya mac-citto
Yukta asita mat-parah

Mantendo seu corpo, quadril e cabeça erguidos,


deve fixar sua visão na ponta do nariz. Deste
modo, firme em seu voto de celibato, cheio de
paz, livre do temor e com a mente controlada,
deve se ocupar continuamente em pensar em
mim.

Bhavanuvada

“Mantendo seu corpo ereto e estável e retraindo


sua mente dos objetos dos sentidos, deve dedicar-
se a minha Bhakti enquanto meditas em minha
charmosa forma de Vishnu com quatro braços.”

Sloka 15

Yunjann evam sadatmanam


Yogi niyata manasah
Santim nirvana-paramam
Mat-samstham-adhigacchati

Assim, sempre ocupando a mente em mim, o


yogi de mente controlada se situa em mim e
finalmente alcança a paz da liberação absoluta.

Prakasika-Vrtti

Sri Bhagavan explica qual é o resultado de se


praticar dhyana-yoga. ”Através da prática de
yoga, após Ter alcançada experiência
transcendental em relação a Bhagavan, o yogi
supera o ciclo de nascimentos e mortes dentro da
existência material. ”Desta maneira, os yogis
alcançam o aspecto impessoal (nirvisesa-
brahma).

Sloka 16

Natyasnatas tu yogo sti


Na caikantam-anasnatah
Na cati-svapna-silasya
Jagrato naiva carjuna

Ó Arjuna! Sem dúvida, aquele que come muito


pouco ou come demais, dorme muito pouco ou
dorme demais, não consegue alcançar a perfeição
no yoga.

Bhavanuvada

Nestes versos, Sri Bhagavan explica os sintomas


de um yogi. ”Uma pessoa deve encher a metade
de seu estômago com alimentos, deixar um
quarto para o ar vital e deixar o outro quarto para
a livre circulação do ar.”

Prakasika-Vrtti

Para realizar um sadhana perfeito, o yogi não


deve praticar quando está faminto ou cansado, ou
se sua mente está perturbada. Deve-se observar
certos princípios enquanto canta hari-nama,
seguindo os diversos aspectos de Bhakti e
recordando os passatempos de Krsna. Mantendo
a concentração de pensamento, o sadhaka deve
passar algum tempo cantando hari-nama com
uma atitude indivisa em lugar solitário. Srila
Bhaktivinoda Thakura dá estas instruções no
Hari-nama-cintamani.

Sloka 17

Yuktahara –viharasya
Yukta-cestasya karmasu
Yukta-svapnavabodhasya
Yogo bhavati duhkha-ha

A prática de yoga destrói todas as misérias


materiais daquele que é controlado em sua
alimentação, em seu trabalho, e equilibrado no
sonho e na vigília.

Bhavanuvada

Tanto as atividades materiais quanto as


transcendentais conduzirão ao êxito a pessoa que
é regulada em sua alimentação e no descanso.

Sloka 18

Yada viniyatam cittam


Atmany evavatisthate
Nisprhah sarva-kamebhyo
Yukta ity ucyate tada
Se diz que o yogi alcançou a perfeição quando
está livre da ânsia pelo desfrute sensual, e tem a
mente controlada e estabelecida em seu ser.

Sloka 19

Yatha dipo nivata-stho


Nengate sopama smrta
Yogino yata-cittasya
Yunjato yogam atmanah

Assim como uma lamparina permanece acesa em


um lugar sem vento, a mente controlada de um
yogi permanece firme em sua meditação no atma
(alma).

Slokas 20-25

Yatroparamate cittam
Niruddham yoga-sevaya
Yatra caivatmanatmanam
Pasyann atmani tusyati

Sukham atyantikam yad tad


Buddhi-grahyam atindriyam
Vetti yatra na caivayam
Sthitas calati tattvatah

Yam labdhva caparam labham


Manyate nadhikam tatah
Yasmim sthito na duhkhena
Gurunapi vicalyate
Tam vidyad duhkha-samyoga
Viyogam yoga-samjnitam
Saniscayena yoktavyo
Yogo nirvinna-cetasa

Sankalpa-prabhavan kamams
Tyaktva sarvan asetasah
Manasaivendriya-gramam
Viniyamya samantatah

Sanaih sanair uparamed


Buddhya dhrti-grhitaya
Atma-samstham manah krtva
Na kincid api cintayet

Na etapa do yoga denominada de samadhi, a


mente do yogi é controlada pela prática de yoga.
Assim ele desapega dos objetos sensíveis e se
satisfaz internamente percebendo a superalma
(paramatma) com a mente purificada. Nesta
etapa, o yogi experimenta bem-aventurança
eterna por meio da sua inteligência
transcendental, a qual se encontra além da
jurisdição dos sentidos. Assim estabelecido, ele
nunca se desvia da sua natureza intrínseca
sabendo que não há nada superior do que a bem
aventurança do ser. Neste estágio, ele está livre
de qualquer contato com as dualidades tais como
frio e calor, felicidade e tristeza etc., e também
das misérias materiais. Deve-se praticar yoga
com uma mente perseverante, abandonando todo
o capricho. Com os sentidos controlados
completamente pela mente, deve-se seguir as
instruções dos Sadhus e dos Sastras. Também
deve-se desenvolver desapego gradualmente,
com a inteligência resoluta e determinada,
fixando a mente no ser e sem pensar em mais
nada.

Bhavanuvada

Nestes versos, Bhagavan explica as atividades


iniciais e finais de uma pessoa que pratica
astanga-yoga: o abandono dos desejos materiais é
a atividade inicial e a despreocupação pelos
demais é o ato final.

Sloka 26

Yato yato niscalati


Manas cancalam asthiram
Tatas tato niyamyaitad
Atmany eva vasam nayet

A mente agitada e instável deve ser controlada e


fixada no ser, e deve-se evitar que ela perambule
pelos objetos dos sentidos.

Prakasika-Vrtti

Quando a mente do sadhaka é instável e corre


atrás dos objetos sensíveis, ele deve refreá-la
imediatamente, evitando assim o contato com os
objetos externos e fixando-a unicamente no ser.
Sloka 27

Prasanta-manasam hy enam
Yoginam sukham uttamam
Upaiti santa-rajasam
Brahma-bhutam akalmasam

Este yogi sossegado que vê tudo em conexão


com o brahma e está livre tanto da influência de
rajo-guna como das reações pecaminosas prévias,
alcança a bem aventurança suprema na forma da
auto realização.

Sloka 28

Yunjann evam sadatmanam


Yogi vigata-kalmasah
Sukhena brahma-samsparsam
Atyantam sukham asnute

Desta maneira, liberado dos pecados e sempre


regulando a mente, o yogi alcança facilmente a
bem aventurança suprema na forma da vivência
do brahma.

Sloka 29

Sarva-bhuta-stham atmanam
Sarva-bhutani catmani
Iksate yoga-yuktatma
Sarvatra sama-darsanah
Uma pessoa conectada através do yoga
experimenta o brahma em todas as partes. Ele
percebe a Superalma em todas as jivas e vê todas
as jivas na Superalma.

Prakasika-Vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna:


”Arjuna pergunta; Que tipo de bem-aventurança
se experimenta através do contato com o
brahma? Sri Krsna responde e expõe brevemente
que o yogi que alcançou samadhi se comporta de
duas maneiras: segundo sua bhava (visão), e de
acordo com sua kriya (atividade). A natureza de
sua visão lhe permite perceber a Superalma nas
jivas e as jivas na Superalma. Suas atividades
refletem uma visão equânime em todas as
partes.”

Sloka 30

Yo mam pasyati sarvatra


Sarvanca mayi pasyati
Tasyaham na pranasyami
Saca me na pranasyati

Jamais estou ausente para aquele que me percebe


em todos os seres e vê todos os seres em mim.
Ele também jamais é ausente a mim.

Prakasika-Vrtti
Sri Bhagavan nunca está fora da visão dos
sadhakas que tem uma experiência direta dele e,
ao mesmo tempo, eles jamais estão fora da sua
visão. Como resultado do contato recíproco, o
adorador jamais cai.

Sloka 31
Sarva-bhuta-sthitam yo mam
Bhajaty-ekatvam asthtitah
Sarvatha varttamano pi
sa yogi mayi varttate

O yogi que me adora em meu aspecto Todo


penetrante (Superalma), ascende a etapa de
inteligência resoluta aceitando-me como a
Realidade Absoluta Suprema. Ele existe em mim
em qualquer circunstância.

Prakasika-Vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna: ”Se


recomenda que o yogi medite na forma de quatro
braços de Sri Vishnu durante a etapa de sadhana,
o qual culmina na percepção da minha forma
Syamasundara, durante o estado de transe. Em tal
estado, sua inteligência se libera das dualidades
de tempo com respeito a parama-tattva. ”O yogi
que me adora e me oferece sua Bhakti (devoção)
através do ouvir e cantar minhas glórias. Em
todas as etapas e circunstâncias – ação, liberação
e meditação, ele vive em mim.”
“Assim sendo, Krsna Bhakti é sem dúvida o
estado supremo do samadhi no yoga.”
Sloka 32

Atmaupamyena sarvatra
Samam pasyati yo rjuna
Sukham va yadi va duhkham
sa yogi paramo matah

Ó Arjuna! O yogi que vê todos os seres vivos


como sendo iguais a si, e que considera a
felicidade ou aflição alheia como sendo seu
também, esse é o melhor dos yogis.

Sloka 33

Arjuna uvaca
Yo yam yogas tvaya proktah
Samyena madhusudana
Etasyaham na pasyami
Cancalatvat sthitam sthiram

Arjuna disse: Ó Madhusudana! Este processo de


yoga que você falou, baseado na equanimidade,
sou incapaz de compreender devido a natureza
instável da mente.

Bhavanuvada

Arjuna se dirige a Bhagavan neste verso


pensando que os sintomas de equanimidade que
ele mencionou são difíceis de ser desenvolvidos
devido a natureza instável da mente.
Sloka 34

Cancalam hi manah krsna


Pramathi balavad drdham
Tasyaham nigraham manye
Vayor iva suduskaram

Ó Krsna! A mente é naturalmente inquieta,


poderosa, obstinada e capaz de avassalar por
completo a inteligência, o corpo e os sentidos.
Me parece que controla-la é tão difícil quanto
controlar o vento.

Bhavanuvada

Assim como uma poderosa enfermidade pode


não ser afetada por um remédio com capacidade
para curá-la, a mente, que é muito poderosa por
natureza, não sempre aceita a inteligência dotada
com sabedoria.”

Sloka 35

Sri bhagavan uvaca


Asamsayam maha-baho
Mano durnigraham calam
Abhyasena tu kaunteya
Vairagyena ca grhyate

Sri Bhagavan disse: Ó maha-baho! A mente é


sem dúvida instável e difícil de se controlar.
Ainda assim, pode ser dominada através da
prática constante e da renúncia.
Bhavanuvada

Sri Bhagavan aceita a observação de Arjuna e


dissipa sua dúvida com este verso. ’O que você
disse está certo. Mesmo assim, até uma
enfermidade crônica é curada se tomamos
remédio regularmente que foi receitado por um
médico competente, ainda que isto demore algum
tempo. Assim também, a mente instável pode ser
dominada mediante prática constante de yoga, de
acordo com as instruções de um sad-guru, pela
prática regular de dhyana-yoga e mediante
renúncia genuína.”

Sloka 36

Asamyatatmana yogo
Dusprapa iti me matih
Vasyatmana tu yatata
Sakyo vaptum upayatah

Para aquele que possui uma mente descontrolada,


a auto realização através do yoga é muito difícil.
Mas aquele que controlou a mente e se esforça na
prática constante e na renúncia, pode alcançar-me
sem dúvida. Esta é minha opinião.

Sloka 37

Arjuna uvaca
Ayatih sraddhayopeto
Yogac calita-manasah
Aprapya yoga-samsiddhim
Kam gatim krsna gacchati

Arjunta perguntou; Ó Krsna! Qual é o destino de


uma pessoa que começou o processo de yoga
com fé, mas logo cai de novo em coisas
mundanas e não consegue a perfeição?

Sloka 38

Kaccin nobhaya-vibhrastas
Chinnabhram iva nasyati
Apratistho maha baho
Vimudho brahmanah pathi

Ó Maha Baho Krsna! Alguém que fracassa nos


processos de karma e jnana, desviando-se do
caminho para alcançar o brahma, não perece
como uma nuvem que se dispersa por não Ter
refúgio algum?

Bhavanuvada

Arjuna pergunta: ”O que acontece com uma


pessoa que se desvia do processo de karma e
jnana? Ele deseja abandonar o desejo de desfrute
sensual quando começa no caminho do yoga,
mas ao mesmo tempo, devido a sua renúncia
incompleta, o desejo permanece dentro de si.
Parece que tal pessoa se encontra desamparada
pois, não alcançou seu seguinte destino, (os
planetas celestiais) e também não obteve a
liberação. Te pergunto então se a pessoa que se
desviou do sadhana que visa a obtenção do
brahma se encontra desamparada. Ela está
perdida ou não?

Sloka 39

Etan me samsayam krsna


Chettum arhasy asesatah
Tvad-anyah samsayasyasya
Chetta na hy upapadyate

Ó Krsna! Esclarece minha dúvida por completo.


Além de ti não há ninguém que possa remover
esta minha dúvida.

Sloka 40

Sri bhagavan uvaca


Partha naiveha namutra
Vinasas tasya vidyate
Na hi kalyana-krt kascid
Durgatim tata gacchati

Sri Bhagavan respondeu: Ó Partha! O yogi que


fracassado não está perdido nem neste mundo e
nem no próximo. Ó meu querido amigo, uma
pessoa que realiza atividades auspiciosas jamais
obtém um destino desfavorável.

Sloka 41
Prapya punya-krtam lokan
Usitva sasvatih samah
Sucinam srimatam gehe
Yoga-bhrasto bhijayate

A pessoa que se desvia do caminho do yoga após


Ter praticado por algum tempo, alcança os
planetas das pessoas piedosas e depois de
desfrutar ali durante muitos anos, nasce em uma
família aristocrática e virtuosa.

Prakasika-Vrtti

Os yogis que se desviam do caminho do astanga


yoga se dividem em duas categorias. Na primeira
categoria estão os que caem após terem praticado
yoga durante curto período. Ditos yogis não
alcançam destinos inferiores; pelo contrário,
desfrutam a felicidade dos planetas superiores
(celestiais) reservados para as pessoas que
oferecem yajnas (sacrifícios) tais como
asvamedha. Depois eles nascem em famílias de
brahmanas qualificados ou de homens
aristocráticos ocupados em atividades prescritas
pelo Dharma. Ambas situações são favoráveis
para continuar sua prática de yoga.
Na Segunda categoria estão os que caíram após
uma longa prática de yoga. Em sua próxima vida,
alguns deles obtém o desfrute esperado, se
satisfazem, e finalmente terminam seu processo
de yoga.
Sloka 42

Athava yoginam eva


Kule bhavati dhimatam
Etaddhi durlabhataram
Loke janma yad idrsam

O yogi que se desvia depois de muito tempo de


prática, nasce na família de um yogi de grande
sabedoria. Este nascimento neste mundo é sem
dúvida muito excepcional.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan descreveu o destino de um yogi


que se desvia após praticar yoga durante um
curto período. Agora, explica o destino de um
yogi que cai depois de praticar durante muito
tempo. Um exemplo disto é Nimi Maharaja
(Srimad Bhagavatam 9.13.1-10).

Sloka 43

Tatra tam buddhi-samyogam


Labhate paurva-daihikam
Yatate ca tato bhuyah
Samsiddhau kuru-nandana

Ó Kuru nandana! O yogi fracassado recobra a


consciência conectada a Paramatma de seu
nascimento anterior e se esforça de novo em
alcançar a perfeição no yoga.
Prakasika-vrtti

Em ambos nascimentos, em virtude das


impressões resultantes da prática de yoga em sua
vida prévia, o yogi desviado obtém uma
inteligência fixa em seus próprios princípios do
dever e conhecimento relacionado com
Paramatma após purificar o coração de modo
natural. Assim como alguém que acaba de
despertar de um sonho, ele começa a esforçar-se
seriamente para incrementar sua prática yogica.
Este já não terá nenhum obstáculo. Esta é a razão
por que um yogi não se perde nem alcança um
destino desfavorável.

Sloka 44

Purvabhyasena tenaiva
Hriyate hy avaso pi sah
Jijnasur api yogasya
Sabda-brahmativarttate

Em virtude de sua prática prévia, ele se sente


automaticamente atraído pelo caminho da
liberação e estando relacionado com a prática da
realização transcendental (yoga) ele transcende
as ações fruitivas descritas nos Vedas.

Sloka 45

Prayatnad yatmanas tu
Yogi samsuddha-kilbisah
Aneka-janma-samsiddhas
Tato yati param gatim

Na verdade, o yogi que se dedica com grande


esforço e sinceridade se libera de todos os
pecados depois de muitos nascimentos e
finalmente obtém a perfeição. Desta maneira ele
alcança o destino supremo.

Bhavanuvada

Uma pessoa se desvia do caminho do yoga


quando se torna negligente em seus esforços.
Este yogi retornará ao caminho do yoga em sua
próxima vida, mas não alcançará a perfeição,
pois isto levará muitas vidas até ficar totalmente
maduro. Ele nunca se debilita nem cai. Pelo
contrário, após muitas vidas, ele amadurece e
obtém a perfeição.

Sloka 46

Tapasvibhyo dhiko yogi


Jnanibhyo´pi mato´dhikah
Karmibhyas cadhiko yogi
Tasmad yogi bhavarjuna

O yogi é superior ao asceta, ao jnani e ao karmi.


Ó Arjuna! Por tanto, converte-te em um yogi.

Prakasika-Vrtti

Geralmente se pensa que um yogi, um asceta, um


karmi, um jnani e um bhakta são iguais. Sri
Bhagavan emite sua opinião categórica dizendo
que não são e que existe uma graduação. Um
niskama-karma-yogi é superior ao asceta e a um
sakama-karmi e o jnani é ainda superior a estes.
Um astanga yogi é superior a um jnani e um
bhakti-yogi é superior a todos, tal como se
descreverá no próximo verso.

Sloka 47

Yoginam api sarvesam


Mad-gatenantaratmana
Sraddhavan bhajate yo mam
As me yuktatamo matah

Aquele que me adora constantemente com plena


fé e pensa exclusivamente em mim, é na minha
opinião, superior a todos os yogis.

Bhavanuvada

“Não há então ninguém superior ao yogi?”. Sri


Bhagavan responde:”Não digas isto.” E recita
este verso. No Srimad Bhagavatam se diz: ”Ó
Maha-muni, entre milhões de seres liberados e
perfeitos, uma pessoa pacífica que está dedicada
a Sri Narayana (Krsna) é extremamente difícil de
se encontrar.
Nos próximos oito capítulos se delineará o
processo de bhakti-yoga. No primeiro capítulo do
Bhagavad Gita, a jóia cristalina dos Sastras, foi
dado um esboço. Nos capítulos dois, tres e quatro
foi descrito o niskama-karma-yoga. O quinto
capítulo expõe jnana e o sexto descreve yoga
(astanga). Mesmo assim, os primeiros seis
capítulos tratam principalmente acerca do karma.

Prakasika-Vrtti

Ao final de cada capítulo, Bhagavan Sri Krsna


declara categoricamente que um bhakti-yogi é
superior a todos os demais yogis. Existem várias
etapas do yoga. A primeira é o niskama-karma-
yoga. Quando adicionada a jnana e renúncia, esta
se converte em jnana-yoga, a segunda etapa.
Quando adiciona-se dhyana (meditação em
Isvara) a jnana-yoga, vem a se chamar astanga-
yoga, a terceira etapa. Finalmente, quando se
agrega afeto por Bhagavan, se converte em
bhakti-yoga, a quarta etapa. Krsna diz a Arjuna:
”Ó Partha! Bhakti é o estágio máximo do yoga,
portanto tu deves converte-te em um bhakti-yogi.

Capítulo 7

Vijnana-Yoga

A compreensão do conhecimento transcendental


Sloka 1

Sri Bhagavan uvaca


Mayy asakta-manah partha
Yogam yunjan mad-asrayah
Asamsayam samagram mam
Yatha jnasyasi tac chrnu

Sri Bhagavan disse: Ó Partha! Agora escuta


como podes me conhecer praticando o processo
de bhakti-yoga com tua mente apegada a mim e
refúgiando só em mim, estando assim, livre de
toda dúvida.

Bhavanuvada

Quando poderei refugiar-me nos pés de lótus de


Sri Caitanya Mahaprabhu, a morada da bem-
aventurança eterna e o oceano de misericórdia?
Agora que abandonei os processos de desfrutes e
da liberação e me refugiei no caminho de bhakti,
quando me tornarei qualificado para degustar o
néctar de prema?
O Srimad Bhagavatam afirma: ”Simplesmente
mediante a prática de bhakti-yoga, meu devoto
obtém por completo qualquer resultado favorável
que se possa obter através da execução de karma,
austeridades e outras atividades auspiciosas, e
também pelo processo de jnana (conhecimento),
vairagya (renúncia), yoga (astanga-yoga) e
atividades filantrópicas.”

Prakasika-Vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna: ”Ó


Partha, nos seis primeiros capítulos expliquei
jnana e astanga-yoga. Estes são os caminhos para
se obter moksa e requerem a assistência de
niskama-karma-yoga para purificar o coração.
Nos próximos seis capítulos, explicarei o
processo de bhakti-yoga, por favor, escuta. Para
obter conhecimento sobre mim, deves apegar tua
mente e refugiar-te plenamente em mim por meio
do processo de bhakti-yoga. Se fizeres isto, não
há dúvida que me conhecerás.”

Sloka 2

Jnanam te ham as-vijnanam


Idam vaksayamy asesatah
Yaj jnatva neha bhuyo nyaj
Jnatavyam avasisyate

Agora te revelarei com detalhes o jnana


enriquecido com vijnana. Quando compreenderes
isto, não haverá nada desconhecido a ti neste
mundo.

Prakasika-vrtti

Existem nove etapas no processo de nirguna


bhakti (bhakti pura). 1-sraddha, 2-sadhu-sanga,
3-bhajana kriya, 4-anartha-nivrtti, 5-nistha, 6-
ruci, 7-asakti, 8-bhava, 9-prema. Antes que o
sadhaka alcance a etapa de asaktimo
conhecimento acerca de Bhagavan está saturado
pela opulência do senhor, mas quando o asakti
(apego) amadurece, ele experimenta a doçura do
senhor em seu coração, o que se denomina
vijnana.

Sloka 3

Manusyanam sahasresu
Kascid yatati siddhaye
Yatatam api siddhanam
Kascin mam vetti tattvatah

Dentre milhões de homens, pode ser que um se


esforce para alcançar a perfeição; dentre os que a
alcançam, dificilmente alguém me conhece de
verdade.

Prakasika-Vrtti

Bhagavan mostra neste verso que bhagavat-jnana


(conhecimento acerca de Bhagavan) é muito
excepcional. No Srimad Bhagavatam se
descreve: ”Ó Maha-muni, entre milhões de
pessoas perfeitas e liberadas, é muito difícil
encontrar um devoto de Narayana. E ainda mais
raro que os devotos atraídos por Narayana, são os
devotos de Sri Krsna. A bem aventurança que se
deriva ao saborear a doçura de Sri Krsna é
milhões de vezes maior do que a bem
aventurança de seu aspecto impessoal (brahma).

Sloka 4

Bhumir apo nalo vayuh


Kham mano buddhir eva ca
Ahankara itiyam me
Bhinna prakrtir astadha

Minha energia material externa é composta por


oito divisões: terra, água, fogo, ar, éter, mente,
inteligência e falso ego.

Prakasika-Vrtti

“Krsna diz a Arjuna que ele deve conhecer a


quantidade de elementos pertencentes a energia
externa (apara-sakti) relacionados com a matéria
inerte. Os cincos elementos grosseiros: terra,
água, fogo, ar e éter se denominam maha-bhuta,
suas qualidades respectivas são o aroma, gosto,
forma, tato e o som. Assim, eles somam dez
elementos. Deves saber que os sentidos são seus
elementos ativos começando pelo falso ego
(ahankara) e são efeito de mahat-tattva. Ainda
que a mente e a inteligência são classificados
como elementos separados devido a suas funções
destacadas e diferenciadas do resto dos
elementos, elas constituem um só elemento.
Todo este grupo é parte da minha energia
externa.”
Sloka 5

Apareyam itas tv anyam


Prakrtim viddhi me param
Jiva-bhutam maha-baho
Yayedam dharyate jagat

Ó Maha-baho! Deves saber que minha energia


externa, constituída por oito divisões, é inferior.
Eu possuo outra potência conhecida como jiva-
svarupa, a qual mesmo sendo superior, aceita o
mundo material com o propósito de desfrutar os
resultados do karma.

Bhavanuvada

A bahiranga-sakti mencionada é externa devido a


sua natureza inerte. A tatastha-sakti, na forma das
jivas, é diferente e superior a aquela, pois possui
consciência. A razão de sua superioridade indica
que sua natureza consciente sustenta o universo e
essa energia aceita o mundo material unicamente
para seu próprio desfrute.

Sloka 6

Etad yonini bhutani


Sarvanity upadharaya
Aham krtsnasya jagatah
Prabhavah pralayas tatha

Entende que todas as entidades vivas nasceram


destas duas prakrtis (maya e jiva-sakti). Eu sou a
causa única da criação e destruição do universo
inteiro.

Prakasika-Vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna:”As


jivas e a criação material inerte emanaram destas
duas prakrtis. Tanto maya quanto jiva-sakti são
minhas potências, pois se originam de mim. Eu,
Bhagavan, sou a causa primordial da origem e da
dissolução do universo.”

Sloka 7

Mattah parataram nanyat


Kincid asti dhananjaya
Mayi sarvam idam protam
Sutre mani-gana iva

Ó Dhananjaya! Não existe nada superior a mim.


O universo inteiro depende de mim assim como
as pérolas ensartadas em um cordão.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan disse:”Desta forma, sou a causa de


tudo. Assim como a causa e o efeito não são
diferentes entre si, tampouco são a energia e o
energético.
Nos Srutis se estabelece:”Antes da criação do
universo, só existia a Realidade Absoluta
incomparável.”
“Sou a causa de tudo, pois minhas energias são a
causa de todas as criações.”Assim, depois de
explicar sua natureza onímoda, Bhagavan expõe
agora sua qualidade de onipresença.”Tanto o
universo consciente como o inerte não é diferente
de mim, pois ambos são minhas criações. Eles
são minha svarupa, e assim como as jóias se
ensartam em um cordão, estão contidos em
mim.”

Sloka 8

Raso ham apsu kaunteya


Prabhasmi sasi-suryayoh
Pranavah sarva-vedesu
Sabda khe paurusam nrsu

Ó Kaunteya! Eu sou o sabor da água, o brilho da


lua e sol. Eu sou a sílaba om de todos os mantras
védicos. Sou o som no éter e a habilidade do
homem.

Bhavanuvada

“Como Antaryami, entro em cada universo que


criei e existo nele. De modo similar, existo em
essência dentro dos seres humanos e demais
entidades vivas. Em alguns lugares sou a causa e
em outros sou o efeito.”
Sloka 9

Punyo gandhah prthivyanca


Tejas casmi vibhavasau
Jivanam sarva-bhutesu
Tapas casmi tapasvisu

Eu sou a fragrância atrativa e original da terra, o


calor do fogo, a vida de todos os seres e a
austeridade dos ascetas.

Sloka 10

Bijam mam sarva-bhutanam


Viddhi partha sanatanam
Buddhir buddhimatam asmi
Tejas tejasvinam aham

Ó Partha! Conhece-me como sendo a causa


eterna de todos os seres vivos. Sou a inteligência
dos inteligentes e o poder dos poderosos.

Sloka 11

Balam balavatam caham


Kama-raga-vivarjitam
Dharmaviruddho bhutesu
Kamo smi bharatarsabha

Ó melhor da dinastia Bharata! Sou a força dos


fortes, livre do apego e do desejo. Sou a união
sexual conforme o dharma que tem como único
propósito a procriação.
Sloka 12

Ye caiva sattvika bhava


Rajasas tamasas ca ye
Matta eveti tan viddhi
Na tv aham tesu te mayi

Entende que todos os estados de existência:


sattvika (bondade), rajasika (paixão), tamasika
(ignorância) – se manifestam por meio das
qualidades de minha natureza material. Eu não
estou exposto a estas qualidades pois todas elas
estão sobre o controle de minha energia (Maha-
maya).

Sloka 13

Tribhir-guna-mayair bhavair
Ebhih sarvam idam jagat
Mohitam nabhijanati
Mam ebhyah param avyayam

Enganados por esses três estados de existências,


o mundo inteiro não me conhece, visto que estou
além das qualidades materiais e que sou
imperecível.

Bhavanuvada

“A mente, os sentidos, a felicidade, a lamentação,


o apego e a inveja estão sobre o controle da
natureza adquirida. Mas eu estou acima dos três
gunas e sou livre de qualquer transformação
distorcida. Por esta razão, eles não podem me
conhecer.”

Sloka 14

Daivi hy esa gunamayi


Mama maya duratyaya
Mam eva ye prapadyante
Mayam etam taranti te

Minha energia material composta pelos três


gunas é difícil de ser superada. Mas os que se
refugiam exclusivamente em mim, podem
transcende-la muito facilmente.

Bhavanuvada

Pode surgir uma pergunta: Como uma pessoa


pode se liberar da ilusão criada pelos três gunas?
Sri Bhagavam responde: ”Maya se chama daivi
porque seduz as jivas, que são divinas por
natureza porém estão absortas nos prazeres do
desfrute sensual. Esta bahiranga-sakti que
pertence a mim, é sumamente difícil de se
superar. Porém se torna fácil de ser superada para
aquele que se rende exclusivamente a mim, em
minha forma de Syamasundara.”

Sloka 15

Na mam duskrtino mudhah


Prapadyante naradhamah
Mayayapahrta-jnana
Asuram bhavam asritah

Os hereges e néscios carentes de discriminação, e


outros seres humanos cujo conhecimento foi
roubado por minha energia ilusória (Maya) e que
possuem natureza demoníaca, não se rendem a
mim.

Prakasika-Vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna:”


Existem quatro tipos de pessoas que se refugiam
em minha natureza demoníaca e não a mim: Os
malvados, os néscios, os desprezíveis e os que
possuem conhecimento coberto por Maya.

Sloka 16

Catur-vidha bhajante mam


Janah sukrtino ‘rjuna
Artto jijnasur atharthi
Jnani ca bharatarsabha

Ó tu, o melhor da dinastia Bharata! Quatro tipos


de pessoas piedosas me adoram: os aflitos, os
inquisitivos, os que buscam fortuna (riqueza) e os
sábios.

Prakasika-Vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna: ”As


pessoas aflitas tem o defeito dos seus diversos
desejos, as inquisitivas possuem o defeito de
estar atadas ao moralismo, os que buscam
riqueza tem o defeito de lutar para alcançar os
planetas celestiais e os jnanis que pensam que
bhagavat-tattva é temporário, possuem o defeito
de querer fundir-se no brahma. Quando se
elimina estas impurezas do coração, os quatro
tipos de pessoas mencionadas acima adquirem a
qualificação para executar bhakti pura. Mas
enquanto estas impurezas ainda existir nele, sua
bhakti é considerada pradhani-bhuta. Por tanto,
só quando as impurezas citadas desaparecerem
por completo, é que ele obterá bhakti; esta bhakti
chama-se kevala, akincana ou uttama.”

Sloka 17

Tesam jnani nitya-yukta


Eka-bhaktir visisyate
Priyo hi jnanino´ty-artham
Aham sa mama priyah

Dentre estes, o meu devoto exclusivo cujos


pensamentos estão sempre em mim, é o melhor
de todos, pois sou muito querido por ele e ele é
muito querido a mim.

Bhavanuvada

Dentre os quatro tipos de devotos elegíveis para


executar bhakti, os que estão exclusivamente
atraídos por bhakti são os melhores yogis.
Sloka 18

Udarah sarvah evaite


Jnani tv atmaiva me matam
Asthitah sahi yuktatma
Mam evanuttamam gatim

Mesmo eles sendo grandes almas, eu considero o


jnani como sendo eu mesmo. Estas almas estão
sempre conectadas comigo, e se refugiam em
mim como seu destino supremo.

Bhavanuvada

“Eu sou bhakta-vatsala Bhagavan e considero o


jnani dotado com pradhani-bhuta bhakti livre de
desejos como sendo eu mesmo. Porém me é mais
querido ainda, quem possui kevala bhakti
imaculado.”

Sloka 19

Bahunam janmanam ante


Jnanavan mam prapadyate
Vasudevah sarvam iti
Samahatma sudurlabhah

Após muitas vidas de prática espiritual, o jnani


que está dotado com o conhecimento de que tudo
que é consciente e inerte está relacionado com
Vasudeva, se rende a mim e me adora. Um
mahatma assim é muito difícil de se encontrar.
Bhavanuvada

Alguém poderia argumentar: “Os jnanis te


alcançam pois aceitam teu refúgio como o
destino supremo, mas; Quanto tempo faltará para
eles poderem preparar-se para entrar no reino de
bhakti? Bhagavan responde: “Os jnanis refugiam
em mim, quando depois de muitas vidas,
percebem Vasudeva em todas as partes. Estes
sadhus se rendem a mim pela influência da
associação apropriada que concedo a eles. Ou
seja, se rendem de acordo com a bhava
(sentimento) que recebem de tal associação.
Dentre milhões e milhões de homens, o jnani
bhakta cujo pensamento repousa em mim é muito
raro; que dizer então dos meus devotos
exclusivos? Eles são ainda mais raros.”

Sloka 20

Kamais tair tair hrta-jnanah


Prapadyante´nya-devatah
Tam tam niyamam asthaya
Prakrtya niyatah svaya

Aqueles cuja inteligência é roubada pelos seus


diversos desejos luxuriosos se rendem aos
semideuses que podem satisfazer seus desejos.
Arrastados deste modo pela sua própria natureza,
eles adoram esses semideuses.

Prakasika-Vrtti
As pessoas afortunadas e inteligentes que estão
influenciadas por diversos tipos de desejos,
tentam satisfaze-los mediante a adoração a
Paramesvara Sri Krsna. Por sua misericórdia,
quando satisfazem seus desejos, eles perdem
gradualmente o interesse nestes desfrutes.
As pessoas néscias e desafortunadas permanecem
cativas pelas qualidades da paixão e ignorância
como resultado de sua aversão a Krsna e pensam
que os semideuses podem satisfazer seus desejos
mais rapidamente. Por isto eles adoram os
diversos e insignificantes semideuses segundo
suas naturezas específicas em uma tentativa de
satisfazer seus desejos materiais, assim
rapidamente eles se satisfazem.

Sloka 21

Yo yo yam yam tanum bhaktah


Sraddhayarcitum icchati
Tasya tasyacalam sraddham
Tam eva vidadhamy aham

Eu (Antaryami), outorgo a fé inquebrantável de


um devoto fruitivo por qualquer semideus que ele
deseja adorar fielmente.

Prakasika-Vrtti

Alguns pensam que se adorarem os semideuses,


estes podem inspirar fé em bhagavat-bhakti no
coração de seus adoradores. Sri Krsna explica
que ele em sua forma Antaryami outorga aos
adoradores de semideuses uma fé inquebrantável
por qualquer semideus que eles desejam adorar,
mesmo sendo tais semideuses nada mais que suas
vibhutis. Ele não inspira fé em si mesmo nos
corações de quem o rejeita. Se os semideuses não
podem inspirar fé em si mesmos a seus
adoradores, que dizer de produzir fé para
Bhagavan?

Sloka 22

sa taya sraddhaya yuktas


tasyaradhanam ihate
labhate ca tatah kamam
mayaiva vihitam hi tan

Dotados com este tipo de fé, eles se esforçam na


adoração dos semideuses e assim obtém a
satisfação de seus desejos. Na realidade essas
bênçãos são dadas apenas por mim.

Bhavanuvada

Eles obtém satisfação para seus desejos adorando


os semideuses, mas na realidade os semideuses
não têm esta capacidade. Por tanto, Bhagavan
diz: “Na realidade, sou eu quem satisfaço seus
desejos.”

Sloka 23

Antavat tu phalam tesam


Tad bhavaty alpa-medhasam
Devam deva-yajo yanti
Mad-bhakta yanti mam api

Os frutos obtidos por tais pessoas de escassa


inteligência são perecíveis. Os adoradores dos
semideuses vão aos planetas celestiais de um
semideus particular, enquanto meus devotos vem
a mim.

Prakasika-Vrtti

Aqui poderia surgir uma pergunta: “Já que os


semideuses são vibhutis (membros corporais) de
Krsna, não há diferença entre adorar os
semideuses e adorar Bhagavan? Bhagavan
responde: “A pessoa que se refugia nos
semideuses impulsionada por algum desejo
realmente perdeu sua inteligência, pois os
resultados são perecíveis.”
Os devotos dos semideuses obtém frutos
perecíveis, enquanto os devotos de Bhagavan Sri
Krsna obtém seu serviço eterno em sua morada
transcendental. Por tanto, as pessoas inteligentes
adoram a forma eterna de Bhagavan mesmo se
possuem desejos materiais.

Sloka 24

Avyaktam vyaktim apannam


Manyante mam abuddhayah
Param bhavam ajananto
Mamavyayam anuttamam
Aqueles que carecem de inteligência consideram
que eu, que sou imanifesto e transcendental a
existência mundana, nasço como um ser humano
ordinário. Eles não conhecem minha natureza
suprema, excelente, imutável e transcendental da
minha forma, nascimento, passatempos e
qualidades.

Sloka 25

Naham prakasah sarvasya


Yoga-maya-samavrtah
Mudho yam nabhijanati
Loko mam ajam avyayam

Eu não me revelo a todos. Os tolos não


compreendem minha forma não nascida e
imperecível, pois estou coberto pela minha
potência chamada yoga-maya (interna).

Prakasika-Vrtti

Deve-se entender aqui que Bhagavan possui dois


tipos de maya-sakti: yoga-maya ou interna e
maha-maya ou externa. Yoga-maya constitue sua
svarupa sakti, a qual é experta em fazer o
impossível se tornar possível, e maha-maya é a
sombra da energia interna. Yoga-maya organiza a
manifestação dos passatempos do onisciente e
onipotente Bhagavan situando ele e seus
associados em uma ilusão transcendental. Ela
também arruma a união de Bhagavan com a jiva
que pratica sadhana-bhakti. Por esta razão se
denomina yoga-maya. Por outro lado, maha-
maya cativa as jivas que são contrárias a
Bhagavan e as ata com os resultados de suas
atividades. Maya-maya não pode afetar
Bhagavan, porém ela encobre o conhecimento da
jiva e obscura sua visão para com Bhagavan.

Sloka 26

Vedaham samatitani
Varttamanani carjuna
Bhavisyani ca bhutani
Mam tu veda na kascana

Ó Arjuna! Conheço todos os seres, tanto os


móveis como os imóveis, conheço o passado, o
presente e o futuro, mas ninguém me conhece.

Prakasika-Vrtti

Alguém poderia questionar; “Se Bhagavan está


coberto por yoga-maya, ele deve estar iludido
como a jiva e, por tanto, afligido pelo defeito da
ignorância. “Bhagavan responde aqui: “Maya
está ocupada em meu serviço, sujeita a meu
poder e permanece sob meu controle.”
Ele enfatiza isto dizendo; “ Eu conheço o
passado, o presente e o futuro, mas mesmo
grandes personalidades como Maharudra não me
conhece plenamente, pois seu conhecimento está
coberto por yoga-maya; que dizer então dos
homens ordinários?”
Sloka 27

Iccha-dvesa samutthena
Dvandva-mohena bharata
Sarva-bhutani sammoham
Sarge yanti parantapa

Ó Parantapa! No momento da criação, as jivas


confundidas pelas dualidades da felicidade e
aflição nascidas do desejo e da aversão, tornam-
se completamente cativadas pela ilusão.

Bhavanuvada

Quanto tempo as jivas tem estado cativadas por


maya? Bhagavan responde: “Desde a criação.” O
que as confunde? “O desejo e a aversão nascidos
de seu karma prévio. “ Elas estão iludidas pelas
dualidades que surgem do desejo pelos objetos
que gostam e aversão pelos que não gostam. A
honra e desonra, o frio e calor, a felicidade e
tristeza, os sexos masculino e feminino, para
mencionar alguns exemplos. As pessoas estão
profundamente apegadas a esposa, aos filhos e
parentes. Quem tem estes profundos apegos
mundanos não tem direito de dedicar-se a minha
bhakti. Eu disse a Uddhava: “A pessoa
afortunada que desenvolveu fé em escutar
conversas sobre mim e que não sente nem
repulsão nem apego excessivo pelos objetos
sensíveis, alcança a perfeição em bhakti-yoga.”

Sloka 28
Yesam tv anta-gatam papam
Jananam punya-karmanam
Te dvandva-moha-nirmukta
Bhajante mam drdha-vratah

Mas, as pessoas piedosas cujos pecados foram


erradicados, se liberam da confusão criada pelas
dualidades e se dedicam a minha adoração com
grande determinação.

Bhavanuvada

Qual é então, a qualificação para executar


bhakti? Bhagavan Sri Krsna responde: “Quando
os pecados de uma pessoa são eliminados
mediante atividades piedosas, dentro dela surge o
modo da bondade (sattva-guna) e esta reduz seu
modo da ignorância (tamo-guna) juntamente com
seu efeito, a ilusão. Quando esta pessoa se
associa com meu devoto, que não está
excessivamente atraído a este mundo, sua ilusão
se reduz e ele se ocupa voluntariamente em meu
bhajana com grande determinação.”

Sloka 29

Jara-marana-moksaya
Mam asritya yatanti ye
Te brahma tad viduh krtsnam
Adhyatmam karma cakhilam
Aqueles que lutam para liberar-se da
enfermidade e da morte refugiando-se em mim,
obtém o conhecimento do brahma, da natureza
constitucional da jiva e do princípio do karma, o
qual é a causa do cativeiro neste mundo material.

Prakasika-Vrtti

Bhagavan explicou inicialmente os três primeiros


tipos de sakama-bhaktas, entre eles os
afligidos.”No princípio eles se dedicam ao meu
bhajana com o propósito de alcançar seus
objetivos, mas quando conseguem seus objetivos,
entendem que este são miseráveis e degradantes e
assim se desapegam deles. Finalmente, mediante
associação com os bhaktas, obtém o êxito em
minha ekantika-bhakti.”
Bhagavan explica agora o quarto tipo de sakama-
bhakta,o que deseja moksa(liberação).” Quando
os sakama-bhaktas obtêm a associação de meus
suddha-bhaktas, eles perdem o desejo de se
fundir em meu aspecto impessoal e se
concentram em situar-se em sua forma
constitucional pura como servos de Krsna.”

Sloka 30

Sadhibhutadhidaivam mam
Sadhiyajnanca ye viduh
Prayana-kale pi ca mam
Te vidur yukta-cetasah
Aqueles que me conhecem como a deidade
regente do princípio controlador dos elementos
materiais grosseiros do cosmos, como o sustento
dos semideuses e como o fundamento de todos os
sacrifícios, e cujas mentes estão apegadas a mim,
me recordam até no momento da morte.

Prakasika-Vrtti

Sri Bhagavan diz:”Aqueles que mediante o poder


de minha bhakti,me conhece como o princípio
regente de adhibhuta-tattva, o adhidaiva-tattva e
adhiyajna-tattva, podem lembrar de mim no
momento da morte. Eles não temem a morte
porque jamais duvidam de mim.”

Assim conclui-se o sétimo capítulo do Srimad


Bhagavad Gita

Capítulo 8

Taraka Brahma yoga

Yoga com Parambrahma


Arjuna uvaca
Kim tad brahma kim adhyatmam
Kim karma purrusottama
Adhibhutanca kim proktam
Adhidaivam kim ucyate

Arjuna perguntou: Ó Purusottama! O que é


brahma? O que é adhyatma? O que é karma? O
que é adhibhuta? O que é adhidaiva?

Sloka 2

Adhiyajnah katham ko ´tra


Dehe ´smin madhusudana
Prayana-kale ca katham
Jneyo ´si niyatatmabhih

Ó Madhusudana! Quem é o senhor do sacrifício e


como ele mora neste corpo? Como pode uma
pessoa de mente controlada, te conhecer
no momento da morte?

Bhavanuvada

No oitavo capítulo, Bhagavan Sri Krsna explica o


yoga, com o objetivo de responder as perguntas
de Arjuna. Dentro destas respostas, desenvolve-
se as definições de yoga-misra bhakti e suddha-
bhakti, incluindo a meta de ambos.

Sloka 3

Sri bhagavan uvaca


Aksaram paramam brahma
Svabhavo dhyatmam ucyate
Bhuta-bhavodbhava-karo
Visargah karma-samjnitah

Sri Bhagavan disse: A suprema verdade


imperecível e eterna é o brahma. A jiva em seus
estado puro se denomina adhyatma e o princípio
do yajna no mundo material onde se
desenvolvem os corpos das jivas e suas
expansões se conhece como karma.

Bhavanuvada

As jivas situadas em seu estado puro mediante o


cultivo de bhakti conseguem a conexão com
Paramatma.
O samsara da jiva resulta nos elementos
grosseiros e sutis que criam tanto os corpos
humanos quanto os demais tipos de corpos, de
acordo com a existência da jiva. O samsara, ciclo
da existência material, é criado pelo karma da
jiva, de modo que neste contexto a palavra karma
indica a existência material da entidade viva
(jiva).

Sloka 4

Adhibhutam ksaro bhavah


Purusas cadhidaivatam
Adhiyajno ´ham evatra
Dehe deha-bhrtam vara
Ó tu que é o melhor entre os seres
corporificados! O perecível se denomina
adhibhuta e a forma universal se chama
adhidaiva, o senhor que rege todos os
semideuses. Só eu sou adhiyajna e estando
situado no corpo da jiva na forma de antaryami,
inspiro as pessoas a executar atividades tais como
o yajna.

Prakasika-Vrtti

Adhibhuta: Coisas grosseiras tais como as ondas


ou roupas, que são perecíveis e trocam
constantemente.

Adhidaiva. O ser cósmico total ou virat-purusa


se chama adhidaiva poruqe tem soberania sobre
os devatas.

Adhiyajna. Se refere ao purusa, que está situado


nos corpos das jivas na forma do onipresente
Antaryami. Nesta forma, inspira ações como o
yajna e outorga os resultados do karma. É uma
porção plenária de Bhagavan Sri Krsna (svamsa
tattva). No Svetasvatara Upanisad (4.6) se
descreve:
“Ksirodakasayi-purusa e a jiva vivem como dois
pássaros amigos nos galhos de uma árvore de
banana, o qual é comparado ao corpo material
temporário. A jiva saboreia os frutos da árvore de
acordo com seu karma, enquanto que o outro
pássaro, Paramatma, não desfruta deles senão
que simplesmente permanece como testemunha
das atividades da jiva.’’
Sri Sukadeva Goswami diz no Srimad
Bhagavatam (2.2.8)
‘’Alguns yogis recordam o pradesa-matra purusa
que se encontra no fundo de seus corações.’’
Srila Cakravarti Thakura disse: ”Através de sua
acintya-sakti, ele está situado dentro desta área
em sua forma juvenil de quinze anos de idade.”
O Katha Upanisad declara: ”Antaryami tem o
tamanho de um polegar e se instala no coração da
jiva.”
Mas para os devotos, Krsna está situado nos
corações em sua forma juvenil de quinze anos de
idade na forma de Yasoda Nandana Krsna, o
adolescente transcendental. O Antaryami situado
no coração de Arjuna é o mesmo Kisora Krsna
que está sentado na sua carroça

Sloka 5

Anta-kale ca mam eva


Smaran muktva kalevaram
Yah prayati sa mad-bhavam
Yati nasty atra samsayah

E aquele que no momento da morte abandona seu


corpo recordando só a mim, sem dúvida alcança
minha natureza. Não há nenhuma dúvida sobre
isto.

Bhavanuvada
“Lembrando de mim, uma pessoa pode me
conhecer, mas não é possível conhecer-me
plenamente da mesma forma que se conhece os
objetos materiais como por exemplo, os
recipientes ou a roupa.”Através de quantos tipos
de jnana pode-se recordar-me? Isto é explicado
nos próximos quatro versos.”

Sloka 6

Yam yam vapi smaran bhavam


Tyajaty ante kalevaram
Tam tam evaiti kaunteya
Sada tad-bhava-bhavitah

Ó Kaunteya! Qualquer coisa que se recorde no


momento da morte determina o estado de
existência que uma pessoa alcançará em sua
próxima vida, por Ter estado sempre absorta
nesta contemplação.

Prakasika-Vrtti

Por lembrar de Bhagavan no momento da morte,


uma pessoa alcança sua natureza. Assim também,
uma pessoa alcança a natureza correspondente a
outros seres e objetos que recordam neste
momento.
Bharata Maharaja pensou em um veado no
momento da sua morte, assim ele obteve um
corpo de veado na sua próxima vida. Por isso,
deve-se pensar apenas em Bhagavan Sri Krsna no
momento da morte. Para alcançar este estado de
consciência é indispensável esforçar-se nesta
direção desde o princípio da vida.
A história de Puranjana mostra como ele obteve
o corpo de uma mulher em sua seguinte vida
como resultado de pensar em uma mulher no
momento da morte. Na realidade, qualquer coisa
que façamos durante nossa vida influi no estado
de consciência no momento da morte e de acordo
com este estado, receberemos outro corpo. Por
esta razão, os sadhakas devem executar hari-
nama e praticar suddha-bhakti durante sua vida,
para que no momento da morte sejam capazes de
lembra-se de Bhagavan e para que seu caminho
rumo à bem-aventurança seja abençoado.

Sloka 7

Tasmat sarvesu kalesu


Mam anusmara yudhya ca
Mayy arpita-mano-buddhir
Mam evaisyasi asamsayah

Por tanto, deves recordar-me sempre e ao mesmo


tempo executar teu dever prescrito de lutar. Com
tua mente e inteligência dedicadas a mim, sem
dúvida você me alcançará.

Sloka 8

Abhyasa-yoga-yuktena
Cetasa nanya-gamina
Paramam purusam divyam
Yati parthanucintayan
Ó Partha! Aqueles que estão dedicados a prática
constante de yoga, com a mente indesviável e
pensando continuamente em mim, alcançam a
Pessoa Suprema.

Prakasika-Vrtti

É necessário ocupar-se em abhyasa-yoga para


alcançar uma continuidade inquebrantável no
bhajana, semelhante a corrente indetível de um
rio. Uma pessoa só pode ocupar sua mente em
lembrar de Bhagavan mediante o cultivo de
abhyasa-yoga e a retraindo-a dos objetos
sensíveis.

Sloka 9-10

Kavim puranam anusasitaram


Anor aniyamsam anusmared yah
Sarvasya dharatam acintya-rupam
Aditya-varnam tamasah parastat

Prayana-kale manasa calena


Bhaktya yukto yoga-balena caiva
Bhruvor madhye pranam avesya samyak
Satam param purusam upaiti divyam

Deve-se lembrar dele como a pessoa divina e


eterna, como o controlador supremo, como o
menor do que o menor, como o sustentador de
todos cuja forma é inconcebível, como aquele
que é refulgente como o sol e que é
transcendental à natureza material. Sem sombra
de dúvidas, aquele que no momento da morte
fixa seu ar vital entre as sobrancelhas através da
força do yoga, se concentra sem desviar sua
atenção, e se ocupa em devoção, alcança o
supremo.

Bhavanuvada

É impossível retrair a mente dos objetos sensíveis


e recordar-se de Krsna sem a prática contínua do
yoga. Bhakti mesclada com qualquer tipo de
yoga se denomina karma-misra-bhakti. Sri
Bhagavan explica este processo nos quatro
versos seguintes.

Sloka 11

Yad aksaram veda-vido vadanti


Visanti yad yatayo vita-ragah
Yad icchanto brahmacaryam caranti
Tat te padam sangrahena pravaksye

Agora te explicarei sobre a meta última que os


sábios védicos definem como imperecível. A elas
ascendem os ascetas que estão livres de todos os
desejos, assim como os que anseiam alcança-la
praticando o celibato.

Slokas 12-13

Sarva-dvarani samyamya
Mano hrdi nirudhya ca
Murdhny adhayatmanah pranam
Asthito yoga dharanam

Om ity ekaksaram brahma


Vyaharan mam anusmaran
Yah prayati tyajan deham
Sayati paramam gatim

O yogi alcança o destino supremo mediante o


controle dos sentidos, concentrando a mente no
coração, fixando o ar vital na parte superior da
cabeça, absorvendo-se profundamente em
samadhi (transe) pela prática do yoga,
pronunciando a sílaba Om (a manifestação
sonora do brahma) e abandonando seu corpo
enquanto medita em mim.

Bhavanuvada

Aqui Sri Bhagavan explica como uma pessoa


alcança o destino supremo de salokya-mukti e vai
a seu planeta.

Sloka 14

Ananya-cetah satatam
Yo mam smarati nityasah
Tasyaham sulabhah partha
Nitya-yuktasya yoginah

Ó Partha! Sou facilmente alcançável por aquele


que está constantemente absorto em bhakti-yoga
e me recorda continuamente sem distrair a mente.
Bhavanuvada

No Gita (7.29) se explica karma-misra-bhakti e


pradhani-bhuta bhakti, junto com seus fatores
dominantes (karma, jnana e yoga). Agora neste
verso, Sri Bhagavan explica kevala-bhakti, qual é
nirguna e superior a todos demais tipos de
yoga.”Sou facilmente alcançável pelo bhakta que
me recorda sem considerar tempo ou pureza do
local, cuja mente não esta atraída por karma,
jnana ou yoga , que não adora nenhum dos
semideuses e nem deseja liberação.

Sloka 15

Mam upetya punar janma


Duhkhalayam asasvatam
Napnuvanti mahatmanah
Samsiddhim paramam gatah

Depois de alcançar-me, as grandes almas jamais


voltam a nascer neste mundo temporário, o qual é
a morada de todas as misérias, pois alcançaram a
perfeição suprema.

Bhavanuvada

O que acontece com aqueles que te alcançam?


Bhagavan responde a Arjuna. ”Eles não tem mais
que aceitar outro nascimento neste mundo
material, senão que conseguem um nascimento
similar ao meu, eterno e pleno de bem
aventurança.”

Sloka 16

a-brahma-bhuvanal lokah
punar avarttino rjuna
mam upetya tu kaunteya
punar janma na vidyate

Ó Arjuna! Todos os planetas deste universo até


Brahma-loka, são lugares de repetidos
nascimentos e mortes, mas quem me alcança, ó
Kaunteya, jamais volta a nascer.

Prakasika-Vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna.


”Desde Brahma-loka ou Satya-loka até os
planetas inferiores, tudo é temporário. As jivas
destes planetas nascem de novo, mas quem se
refugia em mim através de kevala bhakti (bhakti
sem misturas, pura), não volta a nascer.”

Sloka 17

Sahasra-yuga-paryantam
Ahar yad brahmano viduh
Ratrim yuga-sahasrantam
Te ´ho-ratra-vido janah
Aqueles que conhecem a verdade acerca do dia e
da noite de Brahma, compreendem que sua
duração é de mil ciclos de quatro eras.

Prakasika-Vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna:


”De acordo com o cálculo, tanto o dia quanto a
noite de Brahma são iguais a mil ciclos de quatro
yugas (4.320.000.000). De tal forma, Brahma
sucumbe no período de cem anos. Se esta é a
situação de Brahma, como os sanyassis que
alcançaram este planeta poderiam ser eternos?
Não é possível. Eles são obrigados a nascer de
novo.

Sloka 18

Avyaktad vyaktayah sarvah


Prabhavanty ahar-agame
Ratry-agame praliyante
Tatraivavyakta-samjnake

Todas as jivas surgem do imanifesto quando


amanhece, e se fundem neste estado imanifesto
no momento do anoitecer.

Bhavanuvada

Da causa imanifesta, que é a noite de Brahma,


vem seu dia, o qual revela o campo para o
desfrute na forma do corpo, dos objetos sensíveis
e os demais objetos. O mundo inteiro se
manifesta ativamente desta maneira. Logo, ao
chegar a noite, se dissolve de novo na causa
imanifesta enquanto ele (Brahma) dorme.”

Sloka 20

Paras tasmat tu bhavo ´nyo


Vyakto vyaktat sanatanah
Yah sa sarvesu bhutesu
Nasyatsu na vinasyati

Porém, superior a este estado imanifesto, há uma


outra natureza eterna e maravilhosa que não se
destrói nem no momento da grande dissolução,
quando o mundo inteiro é aniquilado.

Bhavanuvada

Sobre o princípio não fenomenal do prajapati


Hiranyagarbha Brahma, existe outra natureza
imanifesta, a qual é eterna e sem começo e está
além da causa de Hiranyagarbha.

Sloka 21

Avyakto ´ksara ity uktas


Tam ahuh paramam gatim
Yam prapya na nivarttante
Tad dhama paramam mama

Esta minha natureza imanifesta é chamada de


aksara e constitue o destino supremo. Os que vão
a esta morada jamais regressam a este mundo.
Essa minha morada suprema é eterna.

Prakasika-Vrtti

Esta realidade imanifesta se denomina aksara-


brahma e é o destino supremo das jivas. Ao obter
essa morada suprema, não há possibilidade de
regressar ao mundo material.

Sloka 22

Purusah as parah partha


Bhaktya labhyas tv ananyaya
Yasyantah-sthani bhutani
Yena sarvam idam tatam

Ó Partha! Eu sou a pessoa suprema cuja


expansão está situada no coração de todos os
seres e por quem o mundo inteiro é penetrado.
Apenas sou alcançado pela prática de ananya-
bhakti (devoção imaculada).

Bhavanuvada

“Esta pessoa suprema, que é minha expansão


(Antaryami Paramatma), é alcançada unicamente
através de ananya-bhakti.Ananya significa aquilo
que não tem nenhum vestígio de karma, jnana,
yoga ou desejos mundanos.”

Sloka 23
Yatra kale tv anavrttim
Avrttincaiva yoginah
Prayata yanti tam kalam
Vaksyami bharatarsabha

Ó melhor da dinastia Bharata! Agora te


explicarei os momentos no qual os semideuses
que regem o tempo definem se yogis vão ou não
regressar a este mundo.

Prakasika-Vrtti

Os bhaktas não dependem do tempo no qual


partem deste mundo para liberar-se. Por
exemplo, se o sol se encontra ou não no
hemisfério norte. O momento no qual eles entram
nos passatempos transcendentais de Sri Krsna é
sempre nirguna.

Sloka 24

Agnir jyotir ahah suklah


San-masa uttarayanam
Tatra prayata gacchanti
Brahma brahma –vido janah

Os conhecedores do brahma o alcançam quando


abandonam este mundo durante a influência dos
semideuses que regem o fogo (Agni), a luz, os
dias favoráveis, a quinzena da lua crescente e os
seis meses do curso norte do sol.

Prakasika-vrtti
Srila Bhaktivinoda Thakura diz que os yogis que
abandonam o corpo em tais momentos, jamais
regressam a este mundo.

Sloka 25

Dhumo ratris tatha krsnah


San-masa daksinayanam
Tatra candramasam jyotir
Yogi prapya nivarttate

O karma-yogi que toma o caminho dos


semideuses que presidem sobre os momentos de
neblina, da noite, da lua minguante e dos seis
meses em que o sol transita o hemisfério sul,
alcançam svarga. Depois de desfrutar os prazeres
celestiais ali, eles regressam ao mundo material.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan explica agora o caminho de


regressão dos karmis. Um karma-yogi que
transita pela órbita destes semideuses, chegam ao
planeta Svarga, onde desfrutam do resultado de
seu karma. Finalmente, regressam ao mundo
material, quando se esgotam seus créditos.

Sloka 26

Sukla-krsne gati hy ete


Jagatah sasvate mate
Ekaya yaty anavrttim
Anyayavarttate punah

Para abandonar este mundo, existem duas


maneiras que são consideradas como sendo
eterna: o brilhante e o escuro. Ao entrar no
caminho luminoso alcança-se a liberação e ao
entrar no caminho escuro regressa-se a este
mundo.

Prakasika-vrtti

Os meios mencionados são o deva-yana – viagem


pelo caminho dos semideuses – são iluminados
pelo conhecimento e se denomina sukla-gati ou
destinos iluminados. O segundo tipo é, ptri-yana
– viagem para os antepassados – está cheio de
ignorância e é chamado de krsna-gati ou caminho
escuro.

Sloka 27

Naite srti partha janam


Yogi muhyati kascana
Tasmat sarvesu kalesu
Yoga-yukto bhavarjuna

Ó Partha! Os bhakti-yogis que conhecem todos


estes caminhos jamais se confundem. Por tanto,
Arjuna, permanece sempre fixo neste yoga.

Prakasika-Vrtti
Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna:”Os
bhakti-yogis jamais se confundem, pois
permanecem fixos em bhakti-yoga com um
conhecimento que se baseia em tattva (verdades
absolutas). Por tanto, conhecem a diferença entre
as duas metas e se refugiam em bhakti, que é
superior. Em outras palavras, eles se refugiam em
ananya-bhakti-yoga, sabendo que os outros
caminhos são cheios de misérias. Ó Arjuna!
Deves refugiar-te unicamente neste yoga.”

Sloka 28

Edesu yajnesu tapahsu caiva


Danesu yat punya-phalam pradistam
Atyeti tat sarvam idam viditva
Yogi param sthanam upaiti cadyam

Um bhakti yogi supera todos os resultados


piedosos que se adquire mediante o estudo dos
Vedas, da execução de yajnas, das austeridades,
caridades, karma e outros processos. Depois de
adquirir o conhecimento sobre o que te expliquei,
alcança-se a suprema, original e super excelente
morada.

Prakasika-Vrtti

Srila Visvanatha Cakravarti Thakura diz que uma


pessoa consegue a bem aventurança plena através
da prática de kevala-bhakti e que sem bhakti não
pode-se obter nada. Assim, define-se o processo
de bhakti como o processo supremo e auspicioso,
tanto pelas declarações diretas dos sastras como
pelas indiretas.
Srila Bhaktivinoda interpreta Krsna neste verso:
”A fé se transforma em nistha ou absorção
exclusiva em meu serviço, quando os anarthas de
um devoto cuja fé é absoluta, são eliminados pelo
bhajana na associação dos meus devotos
(bhaktas). O bhajana que se realiza em sadhu-
sanga (associando-se com um santo) elimina
todos os pecados mesmo que a fé não esteja
desenvolvida plenamente.”
Os sentimentos devocionais mesclados com
jnana e yoga, contaminados com bhukti e mukti,
são anarthas que impedem a compreensão do
bhajana-tattva. O bhajana de uma pessoa se
purifica dos anarthas quando sua tendência a
bhakti se torna kevala (pura)e refugia em
visuddha-tattva, a Realidade Absoluta de Sri
Bhagavan. Esta é a essência do oitavo capítulo.

Capítulo 9

Raja-Guhya Yoga

O conhecimento mais confidencial


Sloka 1

Sri bhagavan uvaca


Idam tu te guhyatamam
Pravaksyamy anasuyave
Jnanam vijnana-sahitam
Yaj jnatva moksyase ´subhat

Sri Bhagavan disse: Ó Arjuna! Devido ao fato de


não seres invejoso, eu te explicarei agora o
conhecimento mais confidêncial, o qual está
dotado com as características de suddha-bhakti e
permite conhecer-me diretamente. Este
conhecimento irá te liberar das misérias do
mundo material.

Bhavanuvada

Este capítulo explica o conhecimento sobre a


opulência do senhor Krsna, que seus devotos
desejam para servi-lo favoravelmente. Aqui se
descreve claramente a supremacia de suddha-
bhakti.

Prakasika-vrtti

Aqui Bhagavan diz que deve-se explicar o


conhecimento mais confidencial apenas para
aqueles que estão livres da inveja e do ódio, e
que possuem um coração afetuoso.
Sloka 2

Raja-vidya raja-guhyam
Pavitram idam uttamam
Pratyaksavagamam dharmyam
Su-sukham karttum avyayam

Este jnana é o rei do conhecimento e o monarca


entre todos os temas confidenciais É
extremamente puro, e revela diretamente a
natureza do ser conduzindo a perfeição do
dharma. É executado com alegria e outorga
resultados transcendentais e imperecíveis.

Bhavanuvada

Este conhecimento é o rei do conhecimento.


Existem diversos tipos de conhecimento e
adoração, mas seu único rei é bhakti, que é o
monarca dos assuntos confidenciais Todas as
atividades pecaminosas são expiadas por meio de
bhakti, o que demonstra que é puro e mais
purificante que o conhecimento do ser ou tvam-
padartha-jnana. Sripad Masdhusudana Sarasvati
disse que esta bhakti pode destruir em menos de
um segundo os estados grosseiros e sutis de todo
tipo de atividades pecaminosas acumuladas
durante milhões de vidas, e também sua causa, a
ignorância.
A prática de bhakti é caracterizada por ouvir,
cantar, lembrar do Senhor Supremo (Krsna) etc.
Assim ocupa-se os sentidos, como os olhos e a
língua Devido ao fato desta bhakti ser nirguna
(transcendental), não é perecível como o jnana e
karma.

Prakasika-vrtti

Kevala bhakti é a jóia preciosa do conhecimento.


É supremamente confidencial, muito purificadora
e se experimenta pela percepção direta.
Os processos de karma, yoga e jnana não podem
outorgar uma compreensão e percepção direta ao
sadhaka (praticante) como bhakti. ”Bhakti é tão
poderosa que outorga uma experiência própria
ainda nas etapas iniciais.”

Sloka 3

Asraddadhanah purusa
Dharmasyasya parantapa
Aprapya mam nivarttante
Mrtyu-samsara-vartmani

Ó Parantapa! As pessoas que não possuem fé no


dharma que constitui minha bhakti não podem
me alcançar. Elas perambulam pelo caminho da
existência material que está repleto de morte.

Bhavanuvada

“As declarações dos sastras estabelecem a


superioridade de bhakti, mas as pessoas que não
tem fé, consideram que estas declarações são
exageradas. Eles rejeitam este dharma devido a
sua inteligência de ateísta. Mesmo que uma
pessoa pratique severos métodos alternativos
para alcançar-me depois de Ter abandonado o
caminho de bhakti, ela jamais terá êxito. Pelo
contrário, perambulará continuamente pelo
caminho da existência material que é saturado de
morte.

Sloka 4

Maya tatam idam sarvam


Jagad avyakta-murttina
Mat-sthani sarva-bhutani
Na caham tesv avasthitah

Todo este universo é penetrado por mim em


minha svarupa (forma imanifesta), a qual não se
pode perceber com os sentidos materiais. Todos
os elementos e entidades vivas estão situadas em
mim, mas eu não estou neles.

Prakasika-Vrtti

A essência desta instrução de Krsna é a seguinte:


“Este universo não é uma transformação minha,
nem tampouco uma ilusão. Eu sou a Realidade
Absoluta auto refulgente. As jivas e o universo
são também reais; ambos são a transformação de
minha sakti (potência). As jivas são eternas e se
manifestaram de tatastha – sakti, que apesar de
ser real, é temporária e está sujeita a destruição.
As jivas e o mundo são transformações da minha
sakti, a qual não é diferente de mim, por isso são
simultaneamente iguais e diferentes de mim.
”Este conceito é inconcebível, visto que pode ser
compreendido apenas com a ajuda dos sastras, e
não por intermédio da inteligência ordinária.

Sloka 5

Na ca mat-sthani bhutani
Pasya me yogam aisvaram
Bhuta-bhrn na ca bhuta-stho
Mamatma bhuta-bhavanah

Toda a criação não existe realmente em mim.


Contempla minha opulência mística! Como
Paramatma mantenho e sustento todos elementos
e entidades vivas, ainda sim, não estou situado
neles.

Bhavanuvada

“Ainda que todas as entidades vivas e os


elementos estão situados em mim, não estão em
minha svarupa, pois sou asanga, estou separado
deles.
Ainda que sustento e mantenho a manifestação
cósmica ilusória, ao mesmo tempo não estou nela
pois não estou apegado a ela; pelo contrário, sou
independente.”

Sloka 6

Yathakasa-sthito nityam
Vayuh sarvatra-go mahan
Tatha sarvani bhutani
Mat-sthanity upadharaya

Assim como o poderoso vento que sopra para


qualquer lado sempre descansa no céu, que se
encontra separado dele, similarmente todos os
seres descansam em mim, mas eu não estou
neles.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan usa uma analogia para ilustrar suas


características de onipenetrante e ilimitado;
”Devido a sua natureza, o vento está sempre em
movimento, por isso ele é sarva-ga, se move para
onde quiser. Se diz que ele é poderoso pois sua
capacidade é ilimitada. Ainda que o vento esteja
situado no céu, simultaneamente não está situado
nele. E devido a natureza asanga do céu, não está
situado no vento, mesmo que ao mesmo tempo
está. Da mesma forma, os cinco elementos, entre
eles o céu e o vento que existem em todas as
partes, não estão em mim pois minha natureza é
asanga. Eles não estão em mim ainda que estão
situados em mim. Reflexiona sobre minha
explicação e trata de compreende-la.”

Sloka 7

Sarva-bhutani kaunteya
Prakrtim yanti mamikam
Kalpa-ksaye punas tani
Kalpadau visrjamy aham
Ó Kaunteya! No momento da devastação
universal todos os seres entram em minha
prakrtim. No começo de uma nova kalpa (ciclo
de eras) eu os crio novamente com suas naturezas
específicas por intermédio da minha potência

Bhavanuvada

Aqui se poderia Ter a seguinte dúvida: ”Neste


momento todos os seres visíveis e os elementos
estão situados em ti, mas para onde vão durante a
aniquilação?” Sri Bhagavan responde
antecipadamente a pergunta com este presente
verso. ”Eles entram em minha maya-sakti, que
está composta pelos três gunas e depois da
aniquilação, melhor dizendo, no início da
criação, eu os crio de novo junto com as suas
naturezas específicas.”

Sloka 8

Prakrtim svam avastabhya


Visrjami punah punah
Bhuta-gramam imam krtsnam
Avasam prakrter vasat

Através de minha prakrti, que está composta


pelos três gunas, crio várias vezes as inumeráveis
entidades vivas atadas pelo seu karma, segundo
suas naturezas individuais.

Prakasika-Vrtti
Este verso nos faz compreender que todas as
espécies de vida, animais, humanos etc., são
criadas ao mesmo tempo. A teoria da evolução
proposta por Darwim não tem nenhuma base, é
uma crença completamente equivocada. É só
percebermos que mesmo após milhões de anos, o
ser humano não evoluiu nem tampouco outras
espécies tem superado sua evolução.

Sloka 9

Na ca mam tani karmani


Nibadhnanti dhananjaya
Udasina-vad asinam
Asaktam tesu karmasu

Ó Dhananjaya! Visto que permaneço desapegado


dos atos tal qual a criação como um observador
neutro, tais ações não me afetam.

Prakasika-Vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna: ”Ó


Dhananjaya! Nenhuma destas ações podem me
atar. Sempre estou desapegado das ações como
se fosse uma pessoa indiferente, ainda que na
realidade não sou. Pelo contrário, estou sempre
absorto em minhas próprias atividades espirituais
bem-aventuradas. Os diversos tipos de seres são
criados por meio de minha potência externa,
maya, juntamente com minha tatastha-sakti, as
quais aumentam indiretamente minha bem-
aventurança transcendental. Minha svarupa não é
perturbada por minhas saktis. Qualquer ação que
as jivas executem sob a influência de maya,
colabora indiretamente para incrementar meus
passatempos bem-aventurados puramente
divinos. Por isso minha atitude para com as
atividades mundanas é como a de um observador
imparcial.”

Sloka 9

Na ca mam tani karmani


Nibadhnanti dhananjaya
Udasina-vad asinam
Asaktam tesu karmasu

Ó Dhananjaya! Visto que permaneço desapegado


e neutro em atos como a criação universal, as
ações não me atam.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan recita este verso para responder a


possível pergunta: ”Se tu que assim com a jiva,
executa karma, por que sua ações não te ata?”
“O cativeiro surge devido ao apego as atividades,
como por exemplo, a criação, mas eu não estou
apegado. Todos os meus desejos estão satisfeitos,
pois sou aptakama.”

Sloka 10

Mayadhyaksena prakrtih
Suyate sa-caracaram
Hetunanena kaunteya
Jagad viparivarttate

Ó Kaunteya! Sob minha direção, a manifestação


cósmica juntamente com todos os seres, móveis e
imóveis, surge da minha sakti (potência externa).
Por isto o mundo material é criado várias e várias
vezes.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan recita este verso para dissipar a


possível dúvida de Arjuna:”Eu não consigo
acreditar que tu, sendo o criador de toda a
manifestação cósmica, permaneças tão
indiferente.” “Sou apenas a causa instrumental; é
a natureza material quem cria o mundo material.
Minha função é apenas reger, assim como o rei
Ambarisa Maharaja que concentra sua energia
exclusivamente na execução dos deveres próprios
do seu cargo. Assim como os súditos não são
capazes de atuar sem a existência do trono real, a
natureza material não pode executar nenhuma
função sem os elementos que são sintomáticos da
minha existência.”

Prakasika-Vrtti

Bhagavan é o amo dos modos materiais e o


superintendente de maya. É a causa instrumental
da natureza material e a rege em atos com a
criação. É apenas pela influência do seu olhar
que a natureza material é criada repetidamente. A
natureza material recebe o poder de criar
dele,pois está sob seu controle.;a matéria inerte
não pode realizar a função de criação por si
própria.

Sloka 11

Avajananti mam mudha


Manusim tanum asritam
Param bhavam ajananto
Mama bhuta-mahesvaram

Quando apareço em uma forma similar a


humana, os néscios de inteligência mundana
zombam de mim, pois são incapazes de
compreender minha natureza suprema, o Senhor
Supremo de todos os seres.

Prakasika-Vrtti

Sri Krsna é a origem de todas as manifestações


visnu-tattva, enquanto o nirvisesa brahma é
descrito nos upanisads como sendo sua
refulgência corpórea. Paramatma, que penetra o
universo inteiro, é sua expansão parcial. Sri
Narayana, o senhor de Vaikunta, é sua potência
de passatempos. Sri Krsna é a origem de todos os
avataras, o controlador dos controladores e a
realidade transcendental suprema. Sri Krsna é o
amo de todos os seres e o senhor dos universos.
Ele é onisciente, onipotente e sumamente
compassivo. Ele pode fazer o que bem desejar,
mas os néscios zombam dele quando tem uma
visão de sua charmosa forma de aspecto humano.
Esses tolos comsideram que a forma de Yashoda
Nandana Sri Krsna é mundana e mortal igual a
dos seres humanos ordinários. Alguns pensam
que o corpo de krsna é material e perecível,
acreditam que há uma alma (paramatma) dentro
de seu corpo. Quem pensa assim é tolo, pois os
sastras declaram que o corpo de Krsna é sac-cid-
ananda e que não há diferença entre ele e seu
corpo.

Sloka 12

Moghasa mogha-karmano
Mogha-jnana vicetasah
Raksasim asurincaiva
Prakrtim mohinim sritah

As esperanças de liberação, ganância material e


cultivo de conhecimento destes tolos, são
completamente infrutíferas. Com suas mentes
confusas, eles adquirem uma natureza ilusória e
ignorante tal qual a dos ateus e dos demônios.

Bhavanuvada

“Qual é o destino de quem ridiculariza Sri Krsna


, pensando que ele possui um corpo humano feito
por maya?.” Prevendo esta possível pergunta de
Arjuna, Sri Krsna diz que mesmo que eles sejam
bhaktas ,suas esperanças e seus desejos de
alcançar algum dos quatro tipos de mukti são
infrutíferos. Se são karmis, não conseguem o
resultado correspondente a seu karma, como por
exemplo a residência em svarga (planetas
celestiais), se são jnanis, não obtém moksa
(liberação) como resultado de seu jnana. O que
eles conseguem então? Sri Bhagavan responde na
terceira linha deste verso. ”Eles adquirem uma
natureza demoníaca.”

Sloka 13

Mahatmanas tu mam partha


Daivim prakrtim asritah
Bhajanty ananya-manaso
Jnatva bhutadim avyayam

Ó Partha! Mas as grandes almas que se refugiam


em minha natureza divina, me conhecem como a
causa original e imperecível de todos os seres
vivos. Eles se dedicam constantemente ao meu
bhajana com suas mentes fixas exclusivamente
em mim.

Bhavanuvada

“As grandes almas que alcançaram a glória pela


misericórdia da minha bhakti e se refugiaram em
minha natureza transcendental, se ocupam em
meu bhajana servindo-me na minha forma de
aspecto humano. Suas mentes não estão atraídas
por karma, jnana ou yoga, por tanto estão
exclusivamente absortos em mim.”

Sloka 14

Satatam kirttayanto mam


Yatantas ca drdha-vratah
Namasyantas ca mam bhaktya
Nitya-yukta upasate

Cantando constantemente as glórias dos meus


nomes, qualidades, forma e passatempos, com
um esforço resoluto e oferecendo-me reverências
com devoção, eles me adoram e permanecem
sempre junto comigo.

Bhavanuvada

“Você disse que eles dedicam-se ao seu bhajana,


mas que bhajana é esse?” Sri Bhagavan responde
com este verso.”Eles fazem kirtan
constantemente, que sendo diferente de karma-
yoga, não existe consideração sobre a pureza ou
impureza do momento, do lugar ou da pessoa.
Não existe restrição alguma para se cantar o
santo nome, seja com a boca contaminada ou
estando em um estado impuro. Meus bhaktas
estão apegados ao meu kirtan e outras atividades
devocionais e trabalham juntos com os sadhus
para obter bhakti. Os que são estritos e jamais
quebram seu voto de cantar um número fixo de
santos nomes, que oferecem uma certa
quantidade de reverências a mim todos os dias,
que executam outros tipos de serviços
regularmente e que jejuam nos dias de Ekadasi,
se chamam yatnavan, ou pessoas cuidadosas.
Estes grandes bhaktas estão sempre desejando
minha associação eterna."

Sloka 15

Jnana-yajnena capy anye


Yajanto mam upasate
Ekatvena prthaktvena
Bahudha visvato-mukham

Entre os que se dedicam ao cultivo de


conhecimento, alguns me adoram com o
conhecimento da concepção monista, outros com
o conhecimento da dualidade, outros através dos
diversos semideuses e outros adoram minha
forma universal.

Bhavanuvada

Neste capítulo e nos anteriores são descritos


apenas os ananyas bhaktas como sendo
mahatmas. Foi demonstrado que os bhaktas são
superiores aos demais tipos de devotos, como por
exemplo, os aflitos. Sri Bhagavan descreve agora
os três tipos de bhaktas que não haviam sido
descritos e que se classificam em uma categoria
diferente. São eles: os que consideram as jivas
como sendo iguais a Bhagavan; os que adoram os
semideuses considerando-os o supremo e os que
adoram a forma cósmica ou universal do Senhor.
Sloka 16-19

Aham kratur aham yajnah


Svadhaham aham ausadham
Mantro ´ham aham evajyam
Aham agnir aham hutam

Pitaham asya jagato


Mata dhata pitamahah
Vedyam pavitram omkara
Rk sama yajur eva ca

Gatir bhartta prabhuh saksi


Nivasah saranam suhrt
Prabhavah pralaya sthanam
Nidhanam bijam avyayam

Tapamy aham aham varsam


Nigrhnamy utsrjami ca
Amrtancaiva mrtyus ´ca
Sad asac caham arjuna

Ó Arjuna! Eu sou os rituais védicos tais como o


agnistoma, os smarta-yajnas como o vaisva-deva
e sou também a oblação aos antepassados. Sou a
potência das ervas medicinais, o mantra, a
manteiga clarificada, o fogo e o sacrifício. Sou a
mãe, o pai, o mantenedor e o avô do universo. Eu
sou o objeto do conhecimento e o purificador.
Sou a sílaba om e também o rig-veda, yajur-veda
e o sama-veda. Sou o destino na forma dos frutos
do karma, o sustentador, o Senhor, o amo, a
morada, o testemunho, o refúgio e o amigo mais
querido. Sou também a criação, a dissolução, a
base, o lugar de repouso e a semente eterna. Sou
o controlador do calor e da chuva. Sou a
imortalidade e a morte personificada. Sou a causa
e também o efeito de tudo e tanto o espírito
quanto a matéria está em mim.

Bhavanuvada

“Por que as pessoas te adoram de diversas


formas?”.Prevendo esta pergunta, Bhagavan dá
uma explicação detalhada da sua natureza. Ele
descreve sua forma cósmica ou universal. A
palavra kratuh se refere aos yajnas, como o
agnistoma, prescrito nos vedas, assim como o
vaisva-deva descritos nos smrti-sastras dos
smartas. A palavra ausadham indica a potência
produzida pelas ervas medicinais. Pita significa
que sendo ele a causa material eficiente do
universo, seja individual ou coletivamente, ele é
portanto o pai e a mãe, visto que ele leva o
universo em seu ventre. Ele mantém e alimenta
todo o universo, por tanto é dhata, o sustentador,
e ele é o avô por ser o pai de Brahma, o criador
do universo. Vedyam significa”objeto de
conhecimento e pavitram “o que purifica”.
A palavra gati significa fruto no sentido de
resultado ou destino, seja ele bom ou mal, das
ações passadas ou presentes. Bharta significa
esposo ou protetor, prabhuh significa
controlador, saksi significa testemunho das
atividades favoráveis e desfavoráveis, e nivasag
significa morada. Saranam é aquele que libera
outros das calamidades e suhrt é aquele que
realiza trabalhos benéficos desinteressadamente.
Prabhav-adya quer dizer: ”Só eu realizo os atos
como a criação, manutenção e
destruição.”Nidhanam quer dizer: ”Sou o
tesouro, visto que em minhas mãos tenho o lótus,
a concha, a maça e o disco.”Bija significa
semente. Avyayam significa: ”Eu não sou
perecível como as sementes de arroz. Sou
imperecível, eterno e imutável. Na forma do sol
dou o calor do verão e outorgo as chuvas na
estação chuvosa. Sou a imortalidade, o ciclo de
nascimentos e mortes, a substância sutil ou
espiritual e sou a matéria grosseira.” Desta
forma, relaciona-se este verso com o anterior.

Sloka 20

Trai-vidya mam soma-pah puta-papa


Yajnair istva svar-gatim prarthayante
Te punyam asadya surendra-lokam
Asnanti divyan divi deva-bhogan

Os que se dedicam às atividades fruitivas


descritas nos três vedas, me adoram através de
yajna. Uma vez livres dos pecados por terem
tomado soma, o remanescente do yajna, oram
para entrar em svarga (planetas celestiais).
Quando, em virtude de suas atividades piedosas
alcançam o planeta de Indra, eles desfrutam dos
prazeres celestiais.
Prakasika-vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna:”A


jiva me adora como Paramesvara apenas quando
há um vestígio de bhakti nestes três tipos de
adoração, então ela abandona gradualmente as
impurezas da sua adoração mesclada e obtém
moksa na forma de suddha-bhakti, Se o adorador
abandona o conceito equivocado da unidade com
Bhagavan, pode gradualmente alcançar suddha-
bhakti ao deliberar suficiente e apropriadamente
acerca de bhakti. A idéia de que os semideuses
são iguais a Bhagavan pode culminar
gradualmente na compreensão da minha sac-cid-
ananda svarupa Syamasundara sempre que se
fale de tattva em associação com os sadhus. Ao
compreender que minha adoração é mais elevada
do que a dos semideuses, elimina-se a adoração a
Paramatma. O adorador pode concentrar-se então
em minha forma sac-cid-ananda de aspecto
humano.
“Mas se uma pessoa que pratica algum dos três
tipos de adoração citados persiste na atração por
karma e jnana, os quais são sintomas de aversão
para comigo, não poderão obter o eternamente
auspicioso bhakti. Devido a esta aversão, os que
adoram a unidade indiferenciada caem
gradualmente na rede ilusória mayavada,
enquanto os adoradores dos semideuses ficam
atados pelas leis do karma. Depois de estudar os
três tipos de conhecimento védico sobre karma,
se liberam do pecado ao tomar soma-rasa. Então
eles me adoram através do yajna e suplicam ser
promovidos ao planeta svarga, no plano dos
semideuses, como prêmio para suas ações
piedosas. Deste modo, desfrutam dos divinos
prazeres dos semideuses.”

Te tam bhuktva svarga-lokam visalam


Ksine punye martya-lokam visanti
Evam trayi-dharmam anuprapanna
Gatagatam kama-kama labhante

Eles regressam ao mundo mortal quando seus


méritos piedosos se esgotam, depois de Ter
desfrutado de imensos prazeres celestiais. Deste
modo, os que desejam prazeres sensuais e
executam as atividades fruitivas descritas nos
vedas, recebem apenas nascimento e morte
recorrentes no mundo material.

Prakasika-Vrtti

Aqueles que desejam prazeres materiais, como se


descreve no verso anterior e são contrários a
Bhagavan, caem de novo no samsara após
desfrutar de prazeres celestiais e recebem como
resultado outro nascimento mortal.
No Srimad Bhagavatam se diz:”Eles desfrutam
de prazeres celestiais até que seus méritos se
esgotam. Então, impulsionados pelo poder do
tempo, voltam a cair neste mundo contra sua
própria vontade.”

Sloka 22
Ananyas cintayanto mam
Ye janah paryupasate
Tesam nityabhiyuktanam
Yoga-ksemam vahamy aham

Mas as pessoas que me comtemplam com


exclusividade e me adoram através de tudo, eu
me encarrego das suas necessidades para seu
bem-estar.

Bhavanuvada

“A felicidade de meus bhaktas não é produto dos


frutos do karma, sou eu quem outorga. Eu
concedo a felicidade aos sábios que através de
bhakti, estão sempre unidos a mim.

Prakasika-Vrtti

Como Sri Bhagavan se ocupa do progresso e da


manutenção de seus bhaktas? Cabe ilustrar isto
com uma história real.
Era uma vez um brahmana chamado Arjuna
Misra; que era um parama-bhakta de Sri
Bhagavan. Toda manhã, após finalizar seu
bhajana, dedicava duas horas a escrever seus
comentários do Bhagavad Gita e depois saía para
mendigar. Ao regressar, entregava a sua esposa o
que recebia e ela cozinhava e oferecia o alimento
a Sri Bhagavan com muito amor. Logo, ela dava
a maha-prasada a seu esposo e quando ele
terminava ela comia seus remanentes com grande
satisfação. Eles viviam em condição de grande
pobreza e vestiam panos surrados, só tinham um
dhoti em bom estado para sair de casa. Ambos
consideravam suas pobrezas como uma dádiva de
Bhagavan e estavam plenamente satisfeitos. Este
era seus sentimentos constante e assim passavam
seu tempo bem aventuradamente sem a menor
perturbação pelas circunstâncias que se
encontravam. Um dia, após executar seu bhajana,
ele se sentou para escrever sobre o seguinte
verso:

Ananayas cintayanto mam


Ye janah paryupasate
Tesam nityabhiyuktanam
Yoga-ksemam vahamy aham

(B.G 9-22)

Ao ler, sua mente ficou confundida por um grave


dilema que não podia resolver:”Será certo que Sri
Bhagavan, o amo do universo, se encarrega
pessoalmente do yoga-ksema de quem está
ocupado em sua ananya-bhakti? Não, isto não
pode estar certo. Se fosse assim, porque estou em
tal situação? Dependo absolutamente dele e
ofereço tudo a seus pés de lótus com devoção
exclusiva. Por que então, tenho que viver com
miséria e pobreza? Por tanto, a afirmação deste
verso não pode Ter vindo de Bhagavan, alguém
deve Ter escrito isto.”Ele tratou de resolver esta
dificuldade confiando em sua própria
inteligência, mas sua perplexidade e dúvidas
aumentaram. Finalmente, riscou este verso com
tinta vermelha, parou de escrever e foi mendigar.
O muito compassivo Bhagavan, que protege as
almas rendidas, viu que havia surgido uma
dúvida a respeito de suas palavras na mente de
seu bhakta. Assumindo a forma de um menino
muito charmoso, doce e com tez escuro, encheu
duas cestas com uma grande quantidade de arroz,
grãos, vegetais, manteiga clarificada e outros
alimentos e as colocou em varas de bambus.
Então levou os alimentos sobre seus ombros até a
casa do brahmana. A porta estava fechada por
dentro. Primeiro ele bateu na porta e
exclamou:”Mãe, Mãe!”. Mas a pobre brahmani
estava vestida apenas com panos rasgados e não
se atreveu a abrir a porta. Devido a sua timidez,
ela se sentou em silêncio. Mesmo assim, o
menino continuava chamando. Vendo que não
tinha outra alternativa, a mulher saiu timidamente
com a cabeça baixa e abriu porta. Sri Bhagavan
disfarçado de um menino entrou no pátio da casa,
colocou os alimentos no chão e disse:”Mãe, o
brahmana lhe enviou isto. Leve para dentro por
favor.”
Até este momento a brahmani havia estado com a
cabeça baixa, mas ao escutar a doce voz do
menino, levantou sua cabeça e viu que havia duas
cestas cheias de alimentos no chão. Ela jamais
havia visto tão grande quantidade de vegetais e
grãos. O menino lhe pediu várias vezes e
finalmente ela levou as cestas para o interior da
casa. Enquanto comtemplava o charmoso rosto
do menino e se sentia plenamente satisfeita ela
pensava:”Que rosto charmoso! Como pode uma
pessoa de tez escura possuir tal beleza
transcendental?” Ela estava paralisada devido a
emoção, nunca imaginara que poderia existir tal
beleza. Ela notou então que havia três arranhados
sangrando no peito do menino, como se alguém
tivesse cortado com uma faca afiada. Com o
coração inquieto, ela lhe disse chorando:”Ó filho!
Que homem malvado arranhou você? É
espantoso! Mesmo um coração de pedra se
derreteria só em pensar em ferir seus charmosos
membros. Sri Krsna disfarçado de menino disse:
Mãe, eu me atrasei em trazer isto, por isto teu
esposo me arranhou assim.
Com os olhos cheios de lágrimas, a brahmani
disse;”Que? Ele fez essas feridas em seu peito?
Esperarei ele voltar e lhe perguntarei como pôde
fazer algo tão abominável! Ó meu filho, não se
sinta aflito, fique aqui um pouco. Vou cozinhar
algo e logo poderás aceitar a prasada de
Thakuraji.”
A brahmani convidou o menino para se sentar e
foi até a cozinha preparar a oferenda. Krsna
pensou:”Já cumpri meu propósito de trazer estes
alimentos. Quando o brahmana voltar para casa
descobrirá imediatamente a autenticidade das
minhas palavras e nunca mais terá dúvidas.”E
assim, Krsna desapareceu após fazer o necessário
para que desaparecesse as dúvidas de seu devoto.
Nesse dia, apesar de seu grande esforço, o
brahmana não recebeu nada. Sem esperança, ele
voltou a sua casa pensando que sua
impossibilidade de coletar era desejo de
Thakuraji (deidade). Ao chegar, bateu na porta e
sua esposa abriu; ao entrar ele viu que ela estava
cozinhando e ele então perguntou:”Eu não recebi
nada hoje. O que estás cozinhando? ”Sua esposa
respondeu;” Porque estás perguntando? Pouco
tempo atrás enviaste tantas coisas com este
menino que vamos Ter comida por seis meses.E
teu coração é como uma pedra, eu não sabia
disto. Este menino estava com três marcas
vermelhas em seu peito; Como pôde fazer aquilo
em seu charmoso corpo? Você não tem
compaixão? ”Completamente surpreendido, o
brahmana pediu que lhe explicasse. ”Eu não
enviei nada e nem machuquei nenhum menino.
Não sei do que estás falando.”
Ao escutar as palavras de seu esposo ela lhe
mostrou o arroz, a farinha e os demais alimentos,
mas quando foi até o pátio para mostra-lhe o
menino e suas feridas, ele já não estava mais lá.
Ela procurou por toda casa e não o encontrou. A
porta estava fechada como antes. Ambos se
olharam surpreendidos. O brahmana começou a
entender a situação e seus olhos começaram a
derramar torrentes de lágrimas. Depois de lavar
suas mãos e pés, ele entrou no quarto da deidade
e para esclarecer de vez sua dúvida, abriu seu
Bhagavad Gita. ”Esta manhã risquei três linhas
vermelhas sobre ao verso nityabhiyuktanam
yoga-ksemam vahamy aham, mas os riscos não
estão mais aqui. Com muita felicidade saiu
chorando do quarto da deidade. ” Ó mulher! Tu
és infinitamente afortunada! Hoje você viu Sri
Gopinatha em pessoa! Como eu poderia trazer
tantos alimentos? Esta manhã, enquanto escrevia
o comentário do Bhagavad Gita, duvidei das
declarações de Bhagavan e risquei algumas
palavras com três linhas vermelhas. Por isto é
que nossa Thakuraji, Gopinatha, tinha uns cortes.
Por ser ele supremamente compassivo ele se deu
ao trabalho de provar a autenticidade das suas
declarações e eliminar as dúvidas de um ateu que
sou.”
Então ele ficou completamente sem voz.
Carregado de amor, ele exclamou”Há Gopinatha,
Há Gopinatha!” e desmaiou. Os olhos da sua
esposa que estava de pé diante de Gopinath,
maravilhada, estava cheio de lágrimas. Após isto,
o brahmana voltou a si e se banhou para executar
seus deveres cotidianos. Ele ofereceu as
preparações que sua esposa havia cozinhado a Sri
Gopinatha e com grande amor ambos aceitaram
seus remanentes. Assim ele continuou
escrevendo diariamente seu comentário do
Bhagavad Gita e sua vida inundou-se de amor.
Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna:
”Meus bhaktas só pensam em mim sem desvios.
Para a manutenção de seus corpos, aceitam
qualquer coisa favorável a minha bhakti e
rejeitam o desfavorável. Assim sendo eles estão
sempre unidos comigo através de amor
devocional. Eu lhes dou a riqueza, satisfaço
qualquer necessidade e os mantenho.”

Sloka 23

Ye ´py anya-devata-bhakta
Yajante sraddhayanvitah
Te ´pi mam eva kaunteya
Yajanti avidhi-purvakam

Ó Kaunteya! As pessoas que adoram os


semideuses com fé, na realidade estão apenas me
adorando, porém de uma maneira desautorizada.

Bhavanuvada

“Nenhum semideus existe independentemente de


ti; tal é a natureza da forma universal. Pode-se
então concluir que quem adora semideuses como
Indra estão adorando a ti. Porque então eles não
se liberam? Sri Bhagavan responde: Ӄ certo que
me adoram, mas fazem isto sem seguir as regras
prescritas para alcançar-me. Por isto,
permanecem no mundo material

Prakasika-vrtti

A essência do comentário de Srila Visvanatha


Cakravarti Thakur sobre este verso é que ao regar
a raiz de uma árvore se nutre até as ramas mais
pequenas, mas não se alcança o mesmo resultado
regando-se as folhas, ramas, frutas e flores.
Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna: ”Eu
sou a personificação de sac-cit-ananda, na
realidade sou o único Paramesvara, o controlador
supremo. Não há nenhum semideus independente
de mim. Mas muitas pessoas adoram semideuses
tais com Indra e Surya. Em outra palavras, os
seres humanos condicionados no mundo material
honram e adoram o aspecto majestoso de minha
maya-sakti na forma dos diversos semideuses.
Mesmo assim, através da deliberação apropriada
se pode compreender que minhas opulências, os
semideuses, são simples encarnações das minhas
distintas qualidades ou guna-avataras; assim os
consideram aqueles que adoram conhecendo sua
posição verdadeira e a realidade de minha
svarupa. Desta maneira, sua adoração torna-se
autorizada e aprovada como parte do processo
progressivo. Mas aqueles que adoram os
semideuses pensando que eles são eternos e
independentes de mim, os fazem de uma forma
desautorizada que não segue as regras prescritas
e por esta razão, não obtém resultados eternos.”

Sloka 24

Aham hi sarva-yajnanam
Bhokta ca prabhur eva ca
Na tu mam abhijananti
Tattvenatas cyavanti te

Sou o único amo e desfrutador de todos os


yajnas, mas aqueles que não reconhecem meu
verdadeiro ser, perambulam repetidamente pelo
ciclo de nascimento e morte.

Bhavanuvada

Qual é o sentido da frase “sem regras prescritas?”


Sob a forma de diversos semideuses, sou o único
desfrutador, sou o amo e o senhor, e sou quem
outorga os resultados. Mas os adoradores dos
semideuses não conhecem esta verdade (tattva).
Eles pensam, por exemplo, que adorando Surya,
a quem eles vêem como Paramesvara, o
controlador supremo, ele se satisfará e outorgará
os resultados desejados. Sua inteligência não lhes
permite entender que Paramesvara Sri Narayana,
se converte em Surya e é quem provê esta fé.
Assim eles caem devido a carência de tattva-
jnana. Por outro lado, os que compreendem que
sob a forma de Surya e outros semideuses apenas
Narayana é adorado, esses me veneram estando
conscientes da minha universal. Por tanto é
indispensável que quem adora os semideuses,
entenda que eles são minhas opulências e não
devem ser adorados independentemente de
mim.”

Prakasika-vrrti

Encontramos os Siddhantas corretos nos srutis;


“Brahma nasce de Sri Narayana, Indra nasce de
Sri Narayana, Siva nasce de Sri Narayana e todos
os semideuses e entidades vivas nascem de Sri
narayana. Quando completam seus deveres
universais e morrem, todos se fundem novamente
em Sri Narayana.”
A conclusão se encontra também nos demais
Upanisads. As declarações anteriores sinalizam
uma diferença entre os semideuses e Sri Vishnu,
quem é o Controlador Supremo. Em ditas
escrituras, se estabelece a supremacia de Sri
Visnu sobre os semideuses, ainda que em
algumas passagens se diz que algum semideus
particular é igual a Sri Vishnu. Isto é assim
devido a influência de um semideus particular
que está sob o controle de Sri Vishnu ou por que
este semideus é muito querido por ele.

Sloka 25

Yanti deva-vrata devan


Pitrn yanti pitr-vratah
Bhutani yanti bhutejya
Yanti mad-yajino ´pi mam

Os que adoram os semideuses vão aos planetas


dos semideuses, os que adoram os antepassados
vão aos planetas dos antepassados, os que
adoram os espíritos vão aos planetas dos espíritos
e os que me adoram sem dúvida me alcançam.

Bhavanuvada

Alguém poderia perguntar: “Que problema há em


adorar os semideuses?”Sri Bhagavan responde:
“É certo que eles adoram os semideuses segundo
as regras e regulações para sua adoração e como
resultado alcançam os semideuses. Este é o
princípio. “Sri Bhagavan recita este verso para
explicar este ponto. “Se os semideuses são
perecíveis, como pode seus devotos se tornarem
imperecíveis? Mas eu sou imperecível e eterno,
por tanto, meus bhaktas também são imperecíveis
e eternos.”

Sloka 26
Patram puspam phalam toyam
Yo me bhaktya prayacchati
Tad aham bhakty-upahrtam
Asnami prayatatmanah

Se um bhakta (devoto) de coração puro me


oferece com amor e devoção uma folha, uma flor
ou água, eu aceito essa oferenda.

Bhavanuvada

Aqui se diz que a devoção que há no devoto é o


que obriga Bhagavan a aceitar a oferenda. Isto
indica que se alguém não é um devoto e oferece
frutas ou flores com devoção superficial
Bhagavan não aceita. Mas Bhagavan aceita
qualquer coisa que o devoto lhe ofereça,
inclusive uma folha. Ainda sim, se o corpo do
devoto está impuro, Bhagavan não aceita a
oferenda. Desta declaração se conclui que
Bhagavan não aceita por exemplo a oferenda de
uma mulher que esteja menstruada.

Prakasika-Vrtti

Depois de explicar a natureza imperecível e


ilimitada dos resultados de bhagavat-bhajana,
Bhagavan descreve agora sua qualidade; a
facilidade de executa-lo. Quando se oferece com
devoção algum objeto que se pode obter
facilmente como uma folha, uma flor ou um
pouco de água, Bhagavan aceita a oferenda,
mesmo possuindo opulência ilimitada e mesmo
ele sendo perfeitamente satisfeito. Ele sente fome
e sede devido ao amor que seu bhakta tem por ele
e, absorto no sentimento devocional, aceita a
oferenda. Na casa de seu devoto Vidura, Sri
Krsna, cheio de amor, comeu as cascas das
bananas que a esposa de Vidura o ofereceu.
Enquanto comia o arroz seco que seu querido
amigo (Sudama Vipra) lhe trouxe e ofereceu-lhe
com amor, Sri Krsna disse:
“A preparação pode ser deliciosa ou não, mas se
ela é oferecida com amor e com sentimento de
que está deliciosa, então se torna deliciosa para
mim. Neste momento abandono todos meus
outros pensamentos e a saboreio. Mesmo que
uma flor ou fruta não possua fragrância ou gosto,
eu as aceito, cativado pelo amor de meu devoto.”

Sloka 27

Yat karosi yad asnasi


Yaj juhosi dadasi yat
Yat tapasyasi kaunteya
Tat kurusva mad-arpanam

Ó Kaunteya! Tudo que fizer, tudo que comer,


tudo que sacrificar, dê em caridade a mim.
Qualquer austeridade que executes, ofereça a
mim.

Bhavanuvada
Arjuna poderia perguntar: “Até agora você
explicou os diversos tipos de bhakti, começando
com o verso que começa com arto jijnasur
artharthi (Gita 7.16) Qual deles devo seguir?
Para erradicar esta dúvida de Arjuna, Sri
Bhagavan diz. “Ó Arjuna, neste momento és
incapaz de abandonar o karma, o jnana e outros
processos, por tanto você não possui a
capacidade para executar ananya bhakti, o tipo
mais elevado de devoção. Por outro lado, não
tens a necessidade de executar sakama bhakti, já
que tua qualificação é superior a isto. Assim
sendo, deves executar uma bhakti mesclada com
niskama-karma e jnana. Por esta razão, Sri
Bhagavan recita o presente verso. “Qualquer
atividade mundana ou védica que executes como
rotina, o alimento e a água que você ingerir
diariamente e qualquer austeridade que executes,
deves compreender que deves oferecê-las a
mim.” Mas tal atividade não é niskama-karma-
yoga ou bhakti-yoga. Aqueles que se dedicam ao
niskama-karma-yoga, oferece a Bhagavan apenas
as atividades prescritas nos sastras, e não as
atividades cotidianas normais. Mas os bhaktas
oferecem ao Senhor todas as funções dos
sentidos, juntamente com a alma, mente e seu ar
vital. Prahlada Maharaj diz no Srimad
Bhagavatam: “Escutar, cantar e lembrar acerca
do nome, forma, qualidades, parafernália e
passatempos transcendentais do Senhor Vishnu,
servir os pés de lótus do Senhor, oferecer
orações, oferecer adoração respeitosa ao Senhor
com dezesseis artigos, converter-se em seu servo,
considera-lo como sendo o melhor amigo e
render-lhe tudo - corpo, mente e palavras,
constituem os nove processos do serviço
devocional puro. A pessoa que cultiva os nove
processos devocionais, oferecendo-se
exclusivamente a Krsna, pode alcançar
facilmente a meta suprema da vida.”

Sloka 28

Subhasubha-phalair evam
Moksyase karma-bandhanaih
Sannyasa-yoga-yuktatma
Vimukto mam upaisyasi

Deste modo, irá te livrar do cativeiro dos


resultados das ações, tanto favoráveis quanto
desfavoráveis. Conectado comigo através do
yoga com renúncia por oferecer-me os resultados
das suas ações, te distinguirás inclusive entre as
almas liberadas e assim virás a mim.

Prakasika-Vrtti

O coração de uma pessoa se purifica quando se


refugia em pradhani-bhuta bhakti descrita
anteriormente e oferece todas suas ações a Sri
Bhagavan. Liberando-se assim do cativeiro do
bom e mal karma, a pessoa pode obter uma
posição especial entre as almas liberadas e
finalmente alcançar Bhagavan. Deve-se entender
aqui que ela consegue prema-mayi seva, que é
superior a mukti.
Sloka 29

Samo ´ham sarva-bhutesu


Na me dvesyo ´sti na priyah
Ye bhajanti tu mam bhaktya
Mayi te tesu capy aham

Eu sou equânime para com todas as entidades


vivas, não sou parcial nem hostil com ninguém.
Ainda sim, estou atado pelo afeto de meus
devotos, que estão apegados a mim e que me
servem com grande amor.

Bhavanuvada

Arjuna poderia argumentar: “Ó Krsna, tu és


atraído a seus bhaktas mas não te atrai aos não
devotos. Isto significa que és parcial, pois tal
atitude é uma amostra de apego e inveja.” Sri
Bhagavan responde com este verso dizendo:
“Não. Eu sou equânime com todos. Os bhaktas
vivem sempre em mim e eu vivo neles.” De
acordo com a explicação, o universo inteiro está
em Bhagavan e Bhagavan está em todo o
universo. Isto demonstra sua imparcialidade. A
declaração ye yatha mam prapadyante tams
significa: “Corresponde com a mesma
consciência como a de uma pessoa que se rende a
mim, em consciência, também adoro a essa
pessoa e com a mesma intensidade com a que
meus bhaktas se apegam a mim, eu, que existo
neles, me apego também.”
Prakasika-Vrtti

Alguém poderia interpôr a seguinte objeção:


“Bhagavan concede a seus devotos o prema-mayi
seva para seus pés de lótus outorgando-lhe uma
liberação especial. Não é isto um sintoma de
parcialidade, um defeito que nasce do apego e da
inveja?” Como resposta se diz que sua visão é
equanime. Ele não odeia nem inclina-se a
ninguém. Ele cria e mantém os seres humanos e
demais entidades vivas segundo seu respectivo
karma. Outras pessoas poderiam dizer que ao
manter as jivas de acordo com seu karma ele
concede felicidade a alguns, sofrimento a outros
e liberação a outros, não é este um sintoma do
defeito de parcialidade que surge do apego e da
inveja?
O presente verso do Srimad Bhagavatam
(6.17.23) também ajuda a sustentar este ponto:
“Ainda que Sri Krsna é o executor original da
ação, ele não é a causa da felicidade, a aflição, o
cativeiro ou a liberação da jiva.É sua energia
material quem governa os resultados do pecado e
da piedade da jiva e se converte na causa de seu
nascimento e morte , felicidade e aflição.”
Devido ao fato de não haver diferença entre a
energia e o energético, é certo que as atividades
de sua maya-sakti se vê como obra sua. Mas não
se pode atribuir a ele o defeito da parcialidade,
pois os resultados que uma jiva recebe
corresponde a seu próprio karma. Para comentar
este verso, Srila Visvanatha Cakravarti Thakura
dá o exemplo do sol e do brilho. A luz do sol é
desprezível para a flor kumuda e outras entidades
vivas, mas é prazeirosa para o pássaro cakravaka
e o lótus. Não se pode acusar o sol de
parcialidade.Da mesma maneira, a energia
material de Bhagavan outorga resultados acordes
as ações das jivas. Não se pode lhe atribuir o
defeito de ser parcial por isto. Vale a pena levar
em conta o seguinte verso do Srimad
Bhagavatam(8.5.22):
“Sri Bhagavan não tem ninguém a proteger,
ninguém a descuidar e ninguém a se adorar.
Mesmo assim, com o propósito de criação,
manutenção e aniquilação, ele aceita diferentes
formas nos modos materiais da paixão, bondade
e ignorância, de acordo com o momento
específico.”

Sloka 30

Api cet su-duracaro


Bhajate mam ananya-bhak
Sadhur eva samantavyah
Samyag vyavasito hi sah

Mesmo se um homem de caráter abominável se


dedica a minha ananya bhajana, deve ser
considerado um sadhu (santo)porque está
apropriadamente situado em minha bhakti.

Bhavanuvada
“Meu apego pelo meu bhakta é natural, mesmo
se seu comportamento é degradado, meu apego
por ele permanece intacto e eu o converto em um
homem supremamente virtuoso.” Suduracarah
significa que mesmo que seja um viciado em
asassinar, Ter relações ilícitas com o sexo oposto
ou estar apegado à riqueza alheia, se ele se ocupa
em meu bhajana deve considerado santo; Que
tipo de bhajana deve executar? Sri Bhagavan
responde: ananya-bhakti, “É um santo aquele que
não adora os semideuses senão que apenas adora
a mim, que não se ocupa em karma ou jnana
senão em minha bhakti, e que não deseja obter
um reino senão que unicamente deseja alcançar
me.” Mas como pode dizer que alguém é um
sadhu se pode-se ver nele algum mal
comportamento? Bhagavan responde:
mantavyah, “Deve considerar-se um sadhu. A
palavra mantavyah indica que o defeito existe em
quem não o considera sadhu.”A este respeito
minha ordem é autoritativa.”
Se alguém se dedica ao teu bhajana mas seu
comportamento é impróprio; pode ser
considerado um sadhu parcial? Bhagavan
responde: eva,”Ele deve ser considerado um
sadhu completo. Não deve-se ver que ele carece
de qualidades santas, pois ele fez uma firme
resolução. “Mesmo que vou ao inferno ou as
espécies inferiores por conta dos meus pecados,
jamais abandonarei a ekantika-bhakti a Sri
Krsna.”

Prakasika-Vrtti
Neste verso, Bhagavan, que é um bhakta-vatsala,
explica a potência inconcebível de sua bhakti
com a seguinte declaração: “Mesmo que meu
bhakta realize algum ato abominável eu o
converto rapidamente em uma pessoa elevada de
comportamento virtuoso. Não é possível que as
pessoas perfeitas que se refugiam em minha
ananya-bhakti tenham um mal comportamento, e
se aparentam tê-lo aos olhos dos ignorantes, isto
não existe na realidade. Eles são realmente
santos. Se os grandes eruditos não podem
compreender as ações e atitudes dos vaishnavas,
que dizer então dos ignorantes?” No Caitanya-
caritamrta se diz:

“É impossível compreender o comportamento


dos uttama-adhikari bhaktas através dos sentidos
materiais.”

Sri Krsna instrui Uddhava no Srimad


Bhagavatam:

“Meus ekantikas bhaktas, que estão livres do


apego e da inveja, que são equânimes com todos,
que me alcançaram e que estão além da
inteligência material, não ocorre em pecado nem
praticam uma atitude virtuosa quando executam
atividades proibidas ou prescritas.”

Mesmo assim, deve-se saber que o


comportamento aparentemente errôneo destes
ananyas bhaktas não deve ser imitados. Não se
deve render-lhe críticas e nem associar-se com
eles. No Srimad Bhagavatam se diz que a
destruição é o destino de quem critica o
comportamento dos maha-bhagavatas, que
podem Ter uma conduta aparentemente incorreta.

O fogo permanece puro ainda que consome todas


as substâncias, sejam elas puras ou impuras.
Deste modo, um maha bhagavata permanece
puro ainda que externamente sua conduta
aparenta ser imprópria.
O Srimad Bhagavatam descreve como os filhos
de marici e netos de jagad guru Brahma tiveram
que nascer entre os demônios como resultado de
ridicularizar a conduta do senhor Brahma.
Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna:
“Ainda que a conduta de quem se ocupa em meu
bhajana com suas mentes fixas em mim, não seja
apropriada, deve-se considerar-lhes santos, pois
sua dedicação resoluta é respeitável e charmosa
em todos pontos de vista.
Se deve entender claramente o significado da
palavra sudaracarah. O comportamento de uma
baddha-jiva é de dois tipos: sambandhika
(condicional) e svarupa-gata (constitucional).
Atividades como limpeza, atos piedosos,
alimentação ou a satisfação das necessidades do
corpo e da sociedade, ou o progresso mental são
consideradas atividades condicionadas. O
bhajana, que é uma atividade consciente que a
jiva executa em estado puro a mim, é sua função
constitucional. Esta função também é chamada
de amisra-bhakti ou kevala-bhakti.
“No estado de cativeiro, a execução de kevala-
bhakti por parte da jiva tem uma relação
irrevocável com sua conduta condicionada. Dita
conduta estará presente enquanto tem um corpo
material, inclusive quando aparecer ananya-
bhakti. A jiva (entidade viva) perde o gosto por
tudo que é desfavorável para a devoção apenas
quando aparece bhakti. Ela se desapega dos
objetos dos sentidos na medida em que aumenta
seu gosto pelo krsna-bhajana. Enquanto o gosto
pelos objetos dos sentidos não é eliminado por
completo, isto forçará a pessoa a comportar-se de
modo impróprio, mas quando adquire uma
tendência amorosa para com Krsna, tal gosto é
rapidamente subjugado. A conduta de um devoto
nos mais altos níveis de bhakti é bastante
virtuosa e absolutamente charmosa. Se em
algumas ocasiões ou acidentalmente, uma pessoa
se comporta de forma imprópria ou mesmo
pecaminosa e realiza atividades pelas quais um
bhakta não possui um gosto natural, assim como
matar, roubar ou Ter relações sexuais ilícitas com
a esposa de outro, será de qualquer forma
purificado rapidamente deste comportamento.
Deve entender-se que minha bhakti, que é muito
poderosa e purificante, jamais se contamina por
esta conduta. Não deve jamais considerar-se que
um parama-bhakta seja degradado porque talvez
tenha consumido peixe ou teve relações sexuais
ilícitas.”

Sloka 31
Ksipram bhavati dharmatma
Sasvac-chantim nigacchati
Kaunteya pratijanihi
Na me bhaktah pranasyati

Muito rapidamente ele se torna virtuoso e alcança


paz eterna. Ó Kaunteya! Deves declarar que meu
devoto jamais carece.

Bhavanuvada

Poderia surgir aqui a seguinte pergunta: “Como


podes aceitar o serviço destas pessoas imorais?
Como podes comer os alimentos oferecidos por
uma pessoa cujo coração está contaminado pelos
defeitos como luxúria e ira?” Sri Bhagavan
responde: “Ele se torna virtuoso muito
rapidamente.”As palavras bhavati e nigacchati
foi utilizada no tempo presente no lugar do futuro
para indicar que imediatamente depois de realizar
uma atividade irreligiosa ou abominável, a
pessoa se lamenta e se recorda de Krsna uma e
outra vez, e assim ela se retifica da sua conduta e
se torna virtuosa.
“Assim, lamentando-se repetidamente a pessoa
alcança paz eterna.”
Por outro lado, quando finalmente se torna
virtuosa, pode permanecer nela os rastros sutis de
irreligiosidade e contaminação. O calor mortal da
febre ou o veneno podem permanecer mesmo
depois de tomar a melhor medicina. De forma
similar, se quando bhakti entra na mente desta
pessoa a sua atividade pecaminosa acaba, mesmo
que possa permanecer de forma sutil durante um
tempo. Logo, em uma etapa superior, ainda pode
existir algumas indicações de conduta imprópria
como a luxúria e a ira, mas elas não tem
nenhuma influência. Isto é como no caso da
serpente que não pode aplicar seu veneno porque
teve seus dentes extraídos. Assim, sua luxúria e
sua ira ficam eternamente dominadas
incomparavelmente. Deve-se considerar que esta
pessoa possui um coração puro mesmo que as
vezes se comporte de maneira imprópria.
Srila SridharSvami diz que se esta pessoa se
torna religiosa ou virtuosa não há problema
algum, mas, o que dizer de um devoto que não é
capaz de abandonar seu mal comportamento até
mesmo no momento da morte? Em resposta,
Bhagavan diz enfaticamente e desgustado:
“Mesmo quando morre ele não cai. Mas os que
falam mal dele devido a sua escassa inteligência,
não podem aceitar este fato.” Seguindo esta
lógica, Krsna se dirigiu a Arjuna com palavras de
incentivo, por que ele se encontrava sob controle
da lamentação e da dúvida. “Ó Kaunteya!
ressoando os sinos, vê onde se encontram os que
me contradizem e, levantando os braços e livre
de toda dúvida, declara que meus devotos nunca
perecem mesmo que seu comportamento seja
impróprio. Muito pelo contrário, eles alcançam
todo êxito. Assim, todas as suas palavras falsas
serão destruídas por tua eloquência, e eles se
refugiarão em ti e te aceitarão como guru.”

Prakasika-vrtti
Os sadhakas de ananya-bhakti sentem uma
aversão natural pela conduta imprópria ou
pecaminosa. Mas, se por acidente, o ananya-
bhakta se comporta incorretamente, esta
tendência tem um caráter temporário. A
inconcebível influência de ananya-bhakti não se
perde por isto. Pelo contrário, a tendência é
eliminada pela influência de ananya-bhakti
situada no coração, que além do mais implica na
liberação dos bhaktas, tanto da piedade como do
pecado, e finalmente alcançam a paz suprema
que nasce de bhakti. “Os ananyas bhaktas jamais
estão perdidos”. Neste verso, Krsna, que é muito
afetuoso com seus devotos, pede a seu muito
querido amigo Arjuna que faça um juramento.
Esta declaração se encontra também no Nrsimha
Purana:

“Os bhaktas cujos pensamentos estão absortos


exclusivamente em Sri Hari, estão sempre
situados em sua própria glória mesmo que
externamente exibem uma conduta abominável.
Isto se deve a influência de ananya-bhakti que
está em seus corações. Isto é como uma lua cheia
que tem manchas escuras ainda que a escuridão
não a cobre.”

Sloka 32

Mam hi partha vyapasritya


Ye ´pi syuh papa-yonayah
Striyo vaisyas tatha sudras
Te ´pi yanti param gatim

Ó Partha, os que se refugiam em mim, mesmo


que sejam pessoas de baixo nascimento como
mulheres, comerciantes, sudras ou qualquer outro
tipo de pessoa, alcançam o destino supremo.

Bhavanuvada

“A devoção por mim não leva em conta os


acidentes de uma pessoa que se comporta
incorretamente devido ao karma. Que há de
extraordinário nisto? Minha bhakti não leva em
conta os defeitos naturais e inerentes de quem se
comporta incorretamente devido a sua casta”. No
Srimad Bhagavatam (3.33.7) está dito: “Qualquer
pessoa cuja língua tenha cantado teu nome,
mesmo que seja uma só vez, é muito digna de
adoração mesmo que tenha nascida em uma
família de candala. Quem canta teu nome já
executou todo tipo de austeridades e sacrifícios,
estudou os Vedas e realizou todas as demais
atividades prescritas". Isto se refere também às
prostitutas, vaisyas e outros que se refugiam em
Sri Bhagavan, mesmo se eles são impuros e
mentirosos.

Prakasika-Vrtti

No verso anterior, Bhagavan explicou que um


sadhaka dedicado a prática de ananya-bhakti
deve ser considerado santo mesmo quando pode-
se ver nele algum mal comportamento acidental.
Neste verso, Bhagavan explica que quem se
refugia nele através de ananya-bhakti, mesmo
que tenha nascido em uma família de candala ou
meleccha, em família de sudras inferiores, e
mesmo as prostitutas, que tem uma inclinação
natural para as atividades ilícitas, alcançam
rapidamente o destino supremo, o qual é muito
difícil de ser alcançado até mesmo para os yogis.
Srila Bhaktissidanta Sarasvati Prabhupada
escreve: “O verso não se refere aos candalas
comuns; eles nasceram em uma família inferior
de acordo com seu prarabdha-karma e continuam
se dedicando, pelo resto de suas vidas, a cometer
atos abomináveis próprios de sua casta. Se refere
aos Vaishnavas que, mesmo que tenham nascidos
em família de comedores de cães, perdem o
interesse pelas atividades abomináveis de sua
tradição familiar e depois de aceitar diksa de um
sad-guru, permanecem dedicados ao serviço de
Bhagavan. Bhagavan afirma no Itihasa
samuccaya:

“Um brahmana que conhece os quatro vedas não


é necessariamente um bhakta, mas meu bhakta,
mesmo que tenha nascido em família de
candalas, é muito querido por mim, é o recipiente
apropriado para a caridade e é a pessoa certa de
quem se deve aceitar caridade. Mesmo que tenha
nascido em família de candalas, meu devoto, tal
como eu, deve ser respeitado por todos, até
mesmo pelos brahmanas”.
Srila Bhaktivinoda Thakura diz que a razão pela
qual uma pessoa que se refugiou no santo nome
de Sri Krsna Ter nascido na casa de um candala é
com propósito de aperfeiçoar a qualidade da
humildade, a qual é favorável para bhakti. A
partir deste verso, podemos entender mais sobre
a liberação de Jagai e Madhai pela misericórdia
de Gaura-Nityananda, do caçador Mrgari por
Narada Muni e da prostituta por Haridasa
Thakura.

Sloka 33

Kim punar brahmanah punya


Bhakta rajarsayas tatha
Anityam asukham lokam
Imam prapya bhajasva mam

Que dúvida pode haver então de que os


brahmanas piedosos e os reis santos possam se
converter em meus devotos? Por tanto, tendo
vindo a este mundo material miserável e
temporário, dedica-te a execução de meu
bhajana.

Sloka 34

Man-mana bhava mad-bhakto


Mad-yaji mam namaskuru
Mam evaisyasi yuktvaivam
Atmanam mat-parayanah
Absorva sempre tua mente em mim, converte-te
em meu devoto, adora-me e oferece-me
reverências. Assim, com tua mente e corpo
plenamente rendidos a meu serviço, sem dúvida
me alcançarás.

Prakasika-vrtti

O objetivo supremo de toda jiva é obter krsna-


prema e o único meio para alcança-lo é ananya-
bhakti. Apenas as suddha-jivas estão capacitadas
a executar bhajana de Sri Bhagavan, o para-
tattva, e o svarupa de Sri Krsna é seu mais
elevado objeto de adoração. A menos que uma
pessoa entenda perfeitamente este siddhanta, não
pode realizar puramente seus esforços por
alcançar o destino supremo. Nos capítulos sete e
oito se descreve suddha-bhakti desprovido de
jnana, karma e yoga. Neste capítulo descreveu-se
o tattva supremamente adorável. Para definir tal
tattva (verdade), é necessário descrever os
defeitos que surgem da adoração de outros
semideuses que também parecem ser a realidade
adorável. Por tanto, foi estabelecido
cientificamente a natureza eternamente perfeita
da svarupa supremamente pura e consciente de
Sri Krsna. Um suddha-bhakta adora
exclusivamente a forma eterna de Sri Krsna. A
pessoa deve abandonar completamente a
adoração dos semideuses, e com fé
inquebrantável deve manter seu corpo enquanto
se dedica exclusivamente aos nove processos de
bhakti tais como sravanam, kirtanam e smaranam
de Sri Krsna. Os ananyas bhaktas são superiores
aos karmis, jnanis e yogis mesmos se sua conduta
na fase preliminar seja imprópria. Assim sendo,
eles são certamente santos, pois em uma questão
de poucos dias se estabelecem em ekantika-
bhava e seu caráter se faz puro em todo sentido.

Capítulo 10

Vibhuti - Yoga

As opulências de Sri Bhagavan

Sloka 1

Sri bhagavan uvaca


Bhuya eva maha-baho
Srnu me paramam vacah
Yat te ´ham priyamanaya
Vaksyami hita-kamyaya

Sri Bhagavan disse: Ó Maha-baho! Escuta de


novo minhas instruções, pois estas são superiores
às que te falei até agora. Devido ao seu amor por
mim, te revelarei este conhecimento para teu
benefício.
Bhavanuvada

Desde o sétimo capítulo adiante, se explica o


bhakti-tattva juntamente com o aspecto opulento
de Bhagavan. Este mesmo bhakti-tattva é
descrito neste capítulo com seus significados
confidenciais

Sloka 2

Na me viduh sura-ganah
Prabhavam na maharsayah
Aham adir hi devanam
Maharsinanca sarvasah

Eu sou a causa original em todos os aspectos, de


todos os semideuses e grandes sábios, mesmo
que eles não conheçam a verdade sobre minha
aparição neste mundo.

Prakasika-vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna: “


Eu sou a causa original dos semideuses e dos
sábios (rsis). Por esta razão, eles jamais podem
compreender-me através de seus esforços Todo
mundo, semideuses e maha-rsis, buscam minha
tattva utilizando a força de sua inteligência, mas
apesar dos diligentes esforços desta inteligência
material, eles podem entender-me e perceber-me
apenas parcialmente. Eles apenas podem
compreender meu aspecto impessoal, o qual é
imanifesto e carece de variedade e qualidades.
Eles consideram equivocadamente que meu
aspecto impessoal é parama-tattva. Sempre me
manifesto por meio de minha potência
inconcebível, estou completamente livre da
contaminação material e possuo todas as
qualidades transcendentais. Minha potência
externa manifesta um aspecto parcial de minha
svarupa denominada Isvara ou Paramesvara, o
qual mora dentro de todas as jivas. O brahma é
uma das minhas formas indiferenciadas e sem
atributos, impessoal – o aspecto negativo da
minha personalidade.

Sloka 3

Yo mam ajam anadim ca


Vetti loka-mahesvaram
Asammudhah sa martyesu
Sarva-papaih pramucyate

Apenas aquele que sabe que sou onisciente e não


nascido, que não tenho princípio e que sou o
controlador supremo de todos os mundos, está
livre do engano e se libera de todo pecado neste
mundo mortal.

Sloka 4 – 5

Buddhir jnanam asammohah


Ksama satyam damah samah
Sukham duhkham bhavo ´bhavo
Bhayam cabhayam eva ca
Ahimsa samata tustis
Tapo danam yaso ´yasah
Bhavanti bhava bhutanam
Matta eva prthag – vidhah

A inteligência, o conhecimento, a ausência de


ansiedade, a tolerância, a veracidade, o controle
dos sentidos e da mente, a felicidade, a aflição, o
nascimento, a morte, o temor, a valentia, a não-
violência, a equanimidade, a satisfação, a
austeridade, a caridade, a fama e a crítica, são
todas elas qualidades das entidades vivas que se
originam de mim.

Sloka 6

Maharsayah sapta purve


Catvaro manavas tatha
Mad-bhava manasa jata
Yesam loka imah prajah

Os sete maharsis (grandes sábios), os quais estão


Marici, e antes dele os quatro kumaras
encabeçados por Sanaka; e os quatorze manus,
dentre os quais se encontra Svayambhuva,
nasceram da minha forma Hiranyagarbha através
da minha mente. A raça humana descende de sua
progênie e de seus discípulos.

Bhavanuvada

Depois de explicar que os que possuem atributos


tais como a inteligência, o conhecimento e
ausência de ansiedade, não podem entender sua
tattva-jnana, Sri Bhagavan expõe a realidade das
suas deficiências. Em outras palavras, estas
qualidades provém apenas de Krsna. Ele disse
neste verso: “ Os sete maharsis, entre os quais
está Marici, e antes deles os quatro kumaras e os
quatorze manus, entre eles Svayambhuva,
nasceram de mim, ou melhor, da minha forma
Hiranyagarbha. Eles nasceram da minha mente.
A terra está povoada por brahmanas e ksatriyas
que são filhos, netos, e discípulos de Marici,
Sanaka e outros.”

Sloka 7

Etam vibhutim yogam ca


Mama yo vetti tattvatah
So ´vikalpena yogena
Yujyate natra samsayah

Aquele que conhece realmente todas as minhas


opulências e também o processo de bhakti yoga,
possui bhagavat-tattva-jnana inquebrantável. Não
há nenhuma dúvida sobre isto.

Sloka 8

Aham sarvasya prabhavo


Mattah sarvam pravarttate
Iti matva bhajante mam
Budha bhava – samanvitah
Eu sou a fonte tanto dos mundos materiais
quanto dos espirituais. Tudo emana de mim. O
sábio que entende isto perfeitamente me adora
com grande alegria no coração.

Sloka 9

Mac-citta mad-gata-prana
Bodhayantah parasparam
Kathayantas ca mam nityam
Tusyanti ca ramanti ca

Aquele que absorve a mente em mim e se dedica


ao meu serviço, experimenta grande satisfação e
bem-aventurança ao conversar sobre mim e
cantar meus santos nomes.

Prakasika-Vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna: “A


natureza de quem mantém sua mente dedicada
exclusivamente a mim é a seguinte: Ao oferecer-
me sua mente e sua vida por inteiro, eles
compartilham seus sentimentos e glorificam
continuamente meus passatempos e meus demais
aspectos. Assim, através da audição e do canto,
obtém-se a felicidade de bhakti. Logo, na etapa
de sadhya, a etapa seguinte a obtenção de prema,
que é alcançável apenas pelo caminho de raga-
marga, eles experimentam o prazer de desfrutar
comigo em vraja-rasa, culminando no bhava de
madhurya-rasa.”
Sloka 10

Tesam satata-yuktanam
Bhajatam priti-purvakam
Dadami buddhi-yogam tam
Yena mam upayanti te

A aqueles que me adoram com amor e anseiam


por minha associação eterna, eu lhes concedo o
conhecimento transcendental qual podem vir até
mim.

Bhavanuvada

“ Desta maneira, eles obtém satisfação e bem-


aventurança. De acordo com tua declaração, teus
bhaktas alcançam a bem aventurança suprema
unicamente através da devoção a ti. Está claro
que eles transcendem os modos materiais. Mas,
como eles te conhecem e percebem diretamente e
de quem aprendem este processo?”. Sri
Bhagavan recita este verso, adiantando-se a
pergunta de Arjuna: “ Eu pessoalmente inspiro
todas as tendências naturais dentro do coração de
quem deseja minha associação eterna.”

Sloka 11

Tesam evanukampartham
Aham ajnana-jam tamah
Nasayamy atma-bhava-stho
Jnana-dipena bhasvata
É apenas devido a compaixão pelos ananyas
bhaktas que eu, morando no fundo de seus
corações, destruo a escuridão de samsara nascida
da ignorância com a ardente chama do
conhecimento transcendental.

Bhavanuvada

Arjuna poderia argumentar: “Uma pessoa carente


de conhecimento verdadeiro não pode chegar até
você, por que deve esforçar-se nisto?” Sri
Bhagavan responde: “ Não. Estou explicando a
você que só dou minhas bençãos aos meus
ananyas bhaktas, e não aos yogis ou outros.
Sempre anseio concede-lhes minha misericórdia
para que não tenham que passar por dificuldades.
Entrando na sua inteligência, dissipo a escuridão
de seus corações com a tocha do conhecimento.
O jnana que lhes permite ver-me não é sattvika e
sim nirguna e, visto que nasce de bhakti, é
especial mesmo que esteja dentro da categoria de
nirguna-jnana. Eu acabo com a escuridão de seus
corações apenas com a tocha deste jnana em
particular. Assim sendo; qual a necessidade de se
esforçarem? Eu me encarrego pessoalmente da
manutenção e das necessidades de quem está
dedicado exclusivamente a mim”. Os quatro
versos que culminam com este, constituem a
essência do Bhagavad Gita. São plenamente
auspiciosos e eliminam o sofrimento da jiva, que
surge da ignorância.

Slokas 12 – 13
Arjuna uvaca
Param brahma param dhama
Pavitram paramam bhavan
Purusam sasvatam divyam
Adi-devam ajam vibhum

Ahus tvam rsayah sarve


Devarsir naradas tatha
Asito devalo vyasah
Svayam caiva bravisi me

Arjuna disse: Sei que és a Verdade Absoluta


Supremo e a Morada Suprema. És supremamente
puro e dissipa a impureza nascida da ignorância.
Os grandes sábios como Narada, Asita, Devala e
Vyasa também te glorificam como a
Personalidade eterna, o Senhor transcendental e
primordial, não nascido e onipresente. E agora, tu
mesmo estás dizendo isto a mim.

Bhavanuvada

Arjuna recita este verso com o desejo de escutar


mais detalhadamente sobre o significado do que
já foi explicado sucintamente. “ Tu és param
brahma, porque possui a charmosa forma
Syamasundara.” “ Tu és dhama. Ao contrário das
jivas, não há diferença entre tu e teu corpo.” Qual
é a svarupa deste corpo? Bhagavan responde
dizendo pavitram-paramam, “Aquele que
contempla esta forma se libera da impureza da
ignorância.” Por tanto, os sábios te chamam
sasvatam purusam ahuh – a pessoa eterna – e
glorificam a natureza eterna de sua forma
humana.

Sloka 14

Sarvam etad rtam manye


Yan mam vadasi kesava
Na hi te bhagavan vyaktim
Vidur deva na danavah

Ó Kesava! Aceito tudo que me disse. Nem os


semideuses, nem os demônios compreendem a
verdade sobre seu nascimento.

Bhavanuvada

Arjuna disse: “ Não tenho dúvidas. Outros sábios


consideram que tu, a Verdade Absoluta Suprema,
que possui a eterna e charmosa forma de
Syamasundara, é não nascida, mas não sabem
nada sobre teu nascimento. Não compreendem
como é possível que tu, Parabrahma, nasce e ao
mesmo tempo não nasce. Você afirma.
(Gita.10.12): “Os semideuses e os sábios não
sabem nada sobre minha aparição”, Mas eu
aceito com firmeza tudo o que tenha me dito. Ó
Kesava! A sílaba ka se refere a Brahma e a sílaba
isa a Rudra. Visto que atado a estas pessoas com
a ignorância relacionada com tua aparição, não és
absolutamente surpreendente que outros
semideuses e demônios não te conheçam.
Sloka 15

Svayam evatmanatmanam
Vettha tvam purusottama
Bhuta-bhavana bhutesa
Deva-deva-jagat-pate

Ó Purusottama! Pessoa Suprema! Ó Bhuta-


bhavana! Criador de todos os seres! Ó Bhutesa,
Senhor de todos os seres criados! Ó Deva -deva,
Deus dos deuses! Ó Jagad-pate, Amo do
universo! Mediante tua própria potência apenas
tu conheces a ti mesmo.

Bhavanuvada

“ Apenas tu te conheces. A palavra eva indica


que teus bhaktas conhecem o tattva de teu
nascimento e não nascimento simultâneos, o qual
é inconcebível. Mas, por que inclusive eles não
tem pleno conhecimento sobre isto? Apenas tu te
conheces mediante tua cit-sakti, não por outro
meio. Por isto, tu és a melhor das pessoas, és
superior até do que Maha-Vishnu, e o criador do
mahat-tattva. Não só és o melhor, mas também és
o controlador de todos, mesmo do avô de
Brahma. E não só és o controlador, mas também
és o Deva dos semideuses, pois até mesmo
Brahma e Siva são instrumentos em seus
passatempos. Além do mais, és Jagat-pati, o amo
do universo. Devido a tua compaixão ilimitada és
o amo de todas as jivas que, assim como eu,
vivem no mundo material. “
Prakasika-Vrtti

Desejando ouvir os detalhes, sobre as opulências


de Bhagavan Sri Krsna, Arjuna diz: “Apenas tu
conheces as glórias da tua realidade inconcebível.
Nada, incluindo os semideuses, demônios e seres
humanos, pode conhecer sequer uma partícula
das tuas glórias através um esforço independente.
Apenas os ananyas bhaktas podem conhecer um
pouco destas glórias mediante tua graça. Por isto
suplico que sejas misericordioso comigo.”

Sloka 16

Vaktum arhasy asesena


Divya hy atma-vibhutayah
Yabhir vibhutibhir lokan
Imams tvam vyapya tisthasi

Por favor, descreve detalhadamente tuas


majestosas opulências, as quais te fazes
onipresente em todos os mundos e fazes residir
neles.

Bhavanuvada

“ É muito difícil compreender tua tattva. Dizem


que essas opulências divinas não podem ser
explicadas detalhadamente, então fala-me pelo
menos sobre tuas opulências superiores.”

Sloka 17
Katham vidyam aham yogims
Tvam sada paricintayan
Kesu kesu ca bhavesu
Cintyo ´si bhagavan maya

Ó Místico Supremo, amo da yoga-maya-sakti!


Como posso conhecer-te e como posso pensar
sempre em ti? Ó Bhagavan! Com qual atitude e
em qual de suas formas devo meditar?

Prakasika-Vrtti

Após pedir a Sri Bhagavan no verso anterior que


lhe descrevesse suas opulências, Arjuna ora
especificamente neste verso, implorando para
compreender em qual objeto e forma existem
estas opulências. A yoga-maya, quem pode fazer
o impossível se tornar possível, reside sempre
com Sri Krsna. Por esta razão, Arjuna se dirige a
ele como yogin, a morada de yoga-maya. Aqui se
explica que apenas Krsna é capaz de descrever
suas opulências.

Sloka 18

Vistarenatmano yogam
Vibhutinca janardana
Bhuyah kathaya trptir hi
Srnvato nasti me ´mrtam

Ó Janardana! Por favor, fala-me de novo em


detalhe, sobre teus poderes místicos e opulências,
pois jamais me sacio de escutar suas palavras
nectáreas.

Sloka 19

Sri bhagavan uvaca


Hanta te kathayisyami
Divya hy atma-vibhutayah
Pradhanyatah kuru-srestha
Nasty anto vistarasya me

Sri Bhagavan disse: Ó tu que é o melhor dos


Kurus! Descreverei a ti minhas divinas
opulências, mas só as mais proeminentes pois
minhas glórias são ilimitadas.

Bhavanuvada

A palavra hanta neste verso indica compaixão.


Sri Bhagavan disse: “Apenas te explicarei
minhas glórias mais proeminentes, pois estas
variedades não tem fim”.

Sloka 20

Aham atma gudakesa


Sarva-bhutasaya-sthitah
Aham adis ca madhyam ca
Bhutanam anta eva ca
Ó Gudakesa! Como Antaryami resido no coração
de todas as jivas. Sou a causa única da criação,
manutenção e destruição de todos os seres.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan diz aqui: “Ó Arjuna, deves


entender que sou a causa de todas as opulências
mediante apenas uma de minhas porções”. Aqui
a palavra atma se refere a Antaryami da prakrti
original, o purusa avatara Karanodakasayi Visnu,
quem cria o mahat-tattva. Gudakesa indica
alguém que controla seu sonho. Sri Bhagavan usa
esta palavra para indicar que Arjuna é capaz de
meditar. “ Sou a Superalma de toda criação,
sarva-bhutasaya-sthitah”. Sarva-bhuta indica
Brahma. Em outras palavras, sou o começo, o
meio e o fim de todas as entidades vivas, e sou os
elementos ou a causa da aniquilação”.

Sloka 21

Adityanam aham visnur


Jyotisam ravir amsumam
Maricir marutam asmi
Naksatranam aham sasi

Dos doze Adityas sou Visnu. Entre as luminárias


sou o sol radiante, dos Maruts sou Marici e entre
as estrelas sou a lua.

Sloka 22
Vedanam sama-vedo ´smi
Devanam asmi vasavah
Indriyanam manas casmi
Bhutanam asmi cetana

Entre os Vedas sou o Sama-Veda, entre os


semideuses sou Indra, entre os sentidos sou a
mente e sou a consciência das entidades vivas.

Sloka 23

Rudranam sankaras casmi


Vitteso yaksa-raksasam
Vasunam pavakas casmi
Meruh sikharinam aham

De todos os Rudras sou Sankara, dos Yaksas e


Raksasas sou Kuvera, dos oito Vasus sou Agni e
entre as montanhas sou Sumeru.

Sloka 24

Purodhasanca mukhyam mam


Viddhi partha brhaspatim
Senaninam aham skandah
Sarasam asmi sagarah

Ó Partha! Entre os sacerdotes sou Brhaspati, o


diretor. Dos generais sou Karttikeya e entre as
extensões de água sou o oceano.

Sloka 25
Maharsinam bhrgur aham
Giram asmy ekam aksaram
Yajnanam japa-yajno ´smi
Sthavaranam himalayah

Entre os Maharsis sou Brhgu. Das vibrações sou


a sílaba om, dos sacrifícios sou japa-yajna e entre
os objetos inertes sou os Himalayas.

Sloka 26

Asvatthah sarva-vrksanam
Devarsinanca naradah
Gandharvanam citrarathah
Siddhanam kapilo munih

Entre as árvores sou a figueira, entre os devarsis


sou Narada, dos Gandharvas sou Citraratha e
entre os seres perfeitos sou Kapila Muni.

Sloka 27

Uccaihsravasam asvanam
Viddhi mam amrtodbhavam
Airavatam gajendranam
Narananca naradhipam

Entre os cavalos sou Uccaihsrava, que nasceu do


néctar, dos elefantes sou Airavata e sou o rei
entre os homens.

Sloka 28
Ayudhanam aham vajram
Dhenunam asmi kamadhuk
Prajanas casmi kandarpah
Sarpanam asmi vasukih

Entre as armas sou o raio e entre as vacas sou


Kamadhenu, a vaca dos desejos. Eu sou o deus
do amor Kandarpa, que causa a procriação e,
entre as serpentes sou Vasuki.

Sloka 29

Anantas casmi naganam


Varuno yadasam aham
Pitrnam aryama casmi
Yamah samyamatam aham

Das nagas sou a serpente divina Ananta, entre os


seres aquáticos sou Varuna, o Senhor das águas.
Dos ancestrais sou Aryama e entre os
castigadores sou Yamaraja.

Sloka 30

Prahladas casmi daityana


Kalah kalayatam aham
Mrgananca mrgendro ´ham
Vainateyas ca paksinam

Entre os daityas sou Prahlada e entre os


controladores sou o tempo. Sou o leão entre os
animais ferozes e entre os pássaros sou Garuda.
Bhavanuvada

A palavra kalayatam significa “entre os


controladores”, mrga-indrah significa leão e
vainateyah significa Garuda.

Sloka 31

Pavanah pavatam asmi


Ramah sastra-bhrtam aham
Jhasanam makaras casmi
Srotasam asmi jahnavi

Entre tudo que é ágil e purificante sou o vento.


Entre os que manejam armas sou Parasurama.
Dos animais aquáticos sou o tubarão e entre os
rios sou o Ganges.

Sloka 32

Sarganam adir antas ca


Madhyancaivaham arjuna
Adhyatma-vidya vidyanam
Vadah pravadatam aham

Ó Arjuna! Sou o começo, o meio e o fim de toda


criação. Entre todos os tipos de conhecimento
sou o atma-jnana e da lógica sou a conclusão.

Bhavanuvada

“Todas as coisas criadas, como por exemplo o


céu, se denomina svarga. Sou o criador,
aniquilador e sustentador de todas elas. Por tanto,
deve-se meditar na criação, manutenção e
aniquilação, pois estas são minhas opulências.”
“Do conhecimento védico sou atma-jnana, o
conhecimento acerca do ser. No debate lógico
dividido em jalpa, vitanda e vada – que
estabelece o argumento próprio e refuta as
conclusões do oponente, sou o vada, mediante o
qual se estabelece os princípios filosóficos –
siddhanta e tattva – corretos”.

Prakasika-vrtti

Bhagavan explica neste verso que entre os


diversos aspectos do conhecimento, o
conhecimento espiritual ou adhyatma-vidya, é
sua vibhuti. Vidya é a educação que uma pessoa
adquire em relação aos objetos de conhecimento
mediante sua própria inteligência. Os sastras
descrevem dezoito tipos de vidya, dentre os quais
quatorze são proeminentes:

“Siksa, kalpa, vyakarana, nirukta, jyotisa e


chanda são os seis tipos de conhecimento
denominados vedanga, ramos dos Vedas. Os
quatro Vedas são: Rg, Sama, Yajur e Atharva.
Todos eles, combinados com mimamsa, nyaya,
os dharma-sastras e os Puranas constituem os
quatorze vidyas principais”.

A prática dos vidyas agrava a inteligência de uma


pessoa e aumenta os diversos campos de seu
conhecimento. Este jnana não apenas ajuda uma
pessoa a sustentar sua vida, mas também a guia
no caminho de karma. Sem dúvida, o
conhecimento transcendental outorga a
imortalidade aos seres humanos liberando-os do
cativeiro do mundo material. É superior a todos
os vidyas anteriormente mencionados e outorga
total conhecimento de parabrahma, o que se
permite compreender a realidade eterna suprema.
Este conhecimento transcendental é vibhuti ou
uma opulência de Krsna. O Bhagavd Gita e os
Upanisads estão incluídos dentro desta categoria.
O rasamayi-bhakti dos habitantes de Vraja
descrito no décimo canto do Srimad Bhagavatam
é milhões de vezes superior ao conhecimento
espiritual de Uddhava. Devido ao fato de que
rasamayi-bhakti é a essência das potências
hladini e samvit de Krsna, constituem na
realidade a svarupa de Krsna, enquanto
adhyatma-vidya é apenas uma opulência parcial
de prema-bhakti. O diálogo entre Ramananda
Ray e Sri caitanya Mahaprabhu no Caitanya
caritamrta ( Madhya-lila 8.245) corrobora esta
conclusão:

“ Mahaprabhu perguntou: ‘Entre os tipos de


conhecimento, qual é o melhor?’ Ramananda
Ray respondeu: ‘ Além de Krsna-bhakti não há
nenhum outro conhecimento’. “

Sloka 33

Aksaranam a-karo ´smi


Dvandvah samasikasya ca
Aham evaksayah kalo
Dhataham visvato-mukhah

Das letras sou a “ A “ e das palavras compostas


sou a composta dual. Sou Mahakala Rudra entre
os aniquiladores e, dos criadores sou o Brahma
de quatro cabeças.

Bhavanuvada

Entre as palavras compostas sou dvandvah, a


composta dupla. Ela é a melhor devido ao fato
dela ser proeminente em ambos elementos.
Dos aniquiladores sou Mahakala Rudra, o tempo
eterno. Entre os criadores sou visvato-mukhah, o
Brahma de quatro cabeças.

Prakasika-Vrtti

Bhagavan diz que entre as palavras compostas


ele é a dvandvah. Quando há na formação de
uma palavra composta duas ou mais palavras que
perdem as terminações de seus casos respectivos
e se combinam, isto se denomina samas e a
palavra resultante se conhece como samasta-pada
ou palavra composta. Existem seis tipos
principais de samasas: dvandva, bahubrihi, karma
dharaya, tat-purusa, dvigu e avyayi-bhava. A
dvandva é a melhor delas, pois em outras
palavras compostas, ou apenas uma das partes é
proeminente ou estas se combinam para produzir
um novo significado. Mas na dvandva-samasa
ambas as partes conservam sua proeminência
original, como em Rama-Krsna ou Radha-Krsna.
Por isso Krsna diz que a dvandva –samasa é sua
vibhuti.

Sloka34

Mrtyuh sarva-haras caham


Udbhavas ca bhavisyatam
Kirttih srir vak ca narinam
Smrtir medha dhrtih ksama

De tudo que devora sou a morte e das seis


transformações progressivas que todas entidades
vivas experimentam sou o nascimento. Entre as
mulheres sou a fama, a beleza, a maneira
delicada de falar, a memória, a inteligência, a
tolerância e o perdão.

Prakasika-Vrtti

Sri Bhagavan diz aqui que entre as mulheres ele é


a fama, a beleza ou a fortuna, a forma delicada de
falar, a memória, a inteligência, a paciência ou
fortaleza e o perdão. Isto pode-se entender de
duas maneiras.
1- “ As qualidades como a fama, beleza, a maneira
doce de falar, a memória, o pensamento sutil e o
perdão, presentes em Sita Devi, Uma, Rukmini,
Draupadi, e, especialmente nas Vraja-gopis, são
vibhutis de Krsna.

2- Entre as vinte quatro filhas de Prajapati Daksa,


Kirti, Medha, Dhrti, Smrti e Ksama são mulheres
ideais em todos os sentidos. Kirti, Medha e Dhrti
foram casadas com Dharma, Smrti com Angira e
Ksama com o grande sábio Pulaha. Sri é a filha
do grande sábio Bhrgu que nasceu do ventre de
Khyati, a filha de Daksa. Sri Visnu a tomou
como esposa. Vak é a filha de Brahma. De
acordo com seus respectivos nomes, elas são as
deidades regentes das qualidades mencionadas.
Elas foram incluídas entre as mulheres mais
excelsas, por tanto, Krsna diz que elas são suas
vibhutis.

Sloka 35

Brhat-sama tatha samnam


Gayatri chandasam aham
Masanam marga-sirso´ham
Rtunam kusumakarah

Dos ramos do Sama-veda sou o Brhat-


sama, a oração a Indra. Dos versos sou o
gayatri, dos meses sou Marga-sirsa e
entre as estações sou a florida primavera.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan disse anteriormente que dos


Vedas ele é o Sama-veda. Agora diz que
dentro do Sama-veda ele é o Brhat-sama,
indicado pelo Rg-mantra, o qual é
cantado como “tvam rddhim havamahe”.

Prakasika-Vrtti
Bhagavan não é diferente de seus nomes,
qualidades, passatempos e orações. O
Sama-veda contém orações que são a
forma de Bhagavan, e por isso é aceito
como o melhor dos Vedas e uma de suas
opulências. O gayatri ilumina a forma de
Bhagavan, razão pela qual se conhece
como a mãe dos Vedas também está entre
as opulências de Bhagavan. Dos doze
meses, ele expressa que Marga-sirsa é sua
opulência. Este mês não é nem muito
calor nem frio, e é neste tempo que se
executam diferentes atividades védicas.
Exatamente antes de seu começo, Krsna
realiza sua rasa-lila, seu passatempo mais
elevado. A natureza floresce em sua
plenitude e planta-se novas sementes nos
campos. Agrahayana é o começo do ano,
por isso Bhagavan diz que é sua vibhuti.
A primavera é a melhor das estações e é
conhecida como rtu-raja, rei das estações.
Nesta estação, a natureza abandona seus
antigos ornamentos e se adorna com uma
coberta fresca. Todos os seres, móveis e
imóveis, se enchem de nova vida e Krsna
realiza seu passatempo do balanço, entre
outros. É especialmente suprema porque
Sri Caitanya Mahaprabhu apareceu nela
assumindo o bhava e a tez de Srimati
Radhika, a personificação de mahabhava.
Por isso Bhagavan a inclui entre suas
vibhutis.
Sloka 36

dyutam chalayatam asmi


tejas tejasvinam aham
jayo ´smi vyavasayo ´smi
sattvam sattvavatam aham

Sou o azar dos enganadores e o esplendor


do esplêndido. Sou a vitória dos
vitoriosos, o esforço do diligente e a força
do poderoso.

Sloka 37

Vrsninam vasudevo´smi
Pandavanam dhananjayah
Muninam apy aham vyasah
Kavinam usana kavih

Dos vrsni sou Vasudeva, dos Pandavas


sou Arjuna, dos munis sou Vyasa e entre
os kavis sou o poeta Sukracarya.

Bhavanuvada

‘Dos Vrsnis sou Vasudeva, o que


significa que meu pai, Vasudeva é minha
vibhuti”. A palavra Vasudeva se forma
agregando o sufixo an à palavra
Vasudeva. A afirmação “ dos Vrsni sou
Vasudeva” não é aceitável porque
Bhagavan está descrevendo suas vibhutis,
não sua svarupa. Vasudeva é um dos
aspectos da sua svarupa, não uma de suas
opulências.

Sloka 38

Dando damayatam asmi


Nitir asmi jigisatam
Maunam caivasmi guhyanam
Jnanam jnanavatam aham

Sou a vara de castigo dos justiceiros e a


moralidade de quem persegue a vitória.
Dos segredos sou o silêncio e sou a
sabedoria dos sábios.

Sloka 39

Yac capi sarva-bhutanam


Bijam tad aham arjuna
Na tad asti vina yat syan
Maya bhutam caracaram

Ó Arjuna! Sou a causa original, a semente


geradora de toda existência. Nenhuma
entidade viva, seja móvel ou inerte, pode
existir sem mim.

Sloka 40

Nanto ´sti mama divyanam


Vibhutinam parantapa
Esa tuddesatah prokto
Vibhuter vistaro maya

Ó Parantapa! Minhas opulências divinas


são ilimitadas, o que te foi descrito é uma
simples indicação delas.

Sloka 41

Yad yad vibhutimat sattvam


Srimad urjitam eva va
Tat tad evavagaccha tvam
Mama tejo ´sma-sambhavam

Entende que toda a criação opulenta,


majestosa e dotada de poder, nasce de
uma parte da minha sakti.

Sloka 42

Atha va bahunaitena
Kim jnatena tavarjuna
Vistabhyaham idam krtsnam
Ekamsena sthito jagat

De que te serve, ó Arjuna, todo este


conhecimento detalhado? Simplesmente
entende que eu me faço onipresente e
sustento todo o universo com apenas uma
das minhas fragmentações.

Bhavanuvada
“ Qual é a necessidade de saber isto tudo
detalhadamente? Simplesmente, tenta
compreender a essência. Eu sustento todo
o universo inteiro mediante meu aspecto
parcial Antaryami, o purusa da natureza
material. Como a autoridade regente eu o
presido e como o controlador eu o
controlo.
Sendo onipenetrante estou presente nele e
como o criador sou a causa.”

Capítulo 11

Visvarupa Darsana Yoga

Contemplando a forma universal

Sloka 1

Arjuna uvaca
Mad-anugrahaya paramam
Guhyam adhyatma-samjnitam
Yat tvayoktam vacas tena
Moho ´yam vigato mama

Arjuna disse: Minha ilusão foi dissipada


após Ter escutado o supremo
conhecimento confidencial de tuas
opulências, a qual me revelaste devido ao
fato de teres compaixão por mim.

Bhavanuvada

No décimo primeiro capítulo, Arjuna se


aterroriza ao comtemplar a forma
universal, visvarupa, de Sri Bhagavan e,
perplexo, começa a orar. Logo Sri Hari
lhe outorga bem-aventurança mostrando-
lhe novamente sua forma eterna de dois
braços;
Sri Krsna disse no final do capítulo
anterior. “ Eu penetro e sustento todo o
universo simplesmente mediante uma das
minhas porções.” Arjuna estava imerso na
bem-aventurança suprema depois de
escutar de seu querido amigo acerca de
suas opulências. Ele se regozijou ao
escutar Bhagavan descreve-las. Com o
desejo de ver esta forma, Arjuna recita
três versos começando com as palavras
mad-anugrahaya.
A ignorância de Arjuna com respeito ao
aisvarya de Krsna se dissipou ao escutar
as declarações de Bhagavan.

Sloka 2

Bhavapyayau hi bhutanam
Srutau vistaraso maya
Tvattah kamala-patraksa
Mahatmyam api cavyayam

Ó Senhor de olhos de lótus! Já te escutei


falar os detalhes de tuas glórias
ilimitadas, e também sobre tua origem e
dissolução de todas as entidades vivas.

Sloka 3

Evam etad yathattha tvam


Atmanam paramesvara
Drastum icchami te rupam
Aisvaram purusottama

Ó Paramesvara! Aceito tudo o que disse


sobre você mesmo. Ó Purusottama!
Agora desejo contemplar essa grande
forma repleta de sua aisvarya.

Bhavanuvada

Você disse: “ Estou situado no mundo


penetrando-o através de minhas porções.”
‘Isto é certo; não tenho nenhuma dúvida,
mas desejaria Ter a satisfação de
contemplar tua forma aisvarya. Quero ver
com meus próprios olhos a forma desta
porção, tua forma isvara, na qual existes
ao entrar neste mundo.’

Prakasika-Vrtti
Com o desejo de contemplar a forma de
Bhagavan plena de aisvarya, Arjuna
disse: “ Ó Paramesvara, escutei sobre tuas
maravilhosas e ilimitadas opulências.
Porém, agora estou ansioso para ver tua
forma aisvarya. És Antaryami que existe
dentro de todos os corações e, por tanto,
conheces meu desejo íntimo e és capaz de
satisfazer-me”.
Alguém poderia questionar: “Se Arjuna é
um amigo eterno de Krsna, a
personificação da doçura; por que deseja
contemplar a forma universal, visvarupa,
a qual expressa a aisvarya de Bhagavan?
A resposta é que assim como uma pessoa
que gosta muito de doces deseja comer
alimentos amargos de vez em quando,
Arjuna, que sempre degusta a doçura de
Krsna, também teve o desejo de ver sua
visvarupa, a qual é uma expressão de sua
aisvarya.

Sloka 4

Manyase yadi tac chakyam


Maya drastum iti prabho
Yogesvara tato me tvam
Darsayatmanam avyayam

Ó Prabhu! Se pensas que posso


contemplar a forma aisvarya imperecível,
então, ó Yogesvara! Revela-me por favor.
Bhavanuvada

“Arjuna disse: Mesmo que não seja capaz


de ver esta sua forma, poderia revelar-me,
através de teu poder místico, pois és
Yogesvara, o místico Supremo”.

Prakasika-vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura expressa: “A


jiva é uma entidade consciente atômica e
por esta razão, não pode entender
apropriadamente as atividades de Sri
Bhagavan, quem é a consciência infinita
suprema. “Eu sou uma jiva, mas mesmo
que tenho adquirido por tua misericórdia,
a qualificação para entender e contemplar
e sua svarupa-tattva, a forma universal,
sou incapaz de compreender teus infinitos
aspectos aisvarya. Isto porque eles estão
aquém da concepção da jiva. Tu és
Yogesvara e és meu Prabhu. Por favor,
mostra-me tua yoga-aisvarya, a qual é de
natureza consciente e imperecível.”

Sloka 5

Sri bhagavan uvaca


Pasya me partha rupani
Sataso tha sahasrasah
Nana-vidhani divyani
Nana-varnakrtini ca
Sri Bhagavan disse: Ó Partha! Contempla
minhas centenas de milhares de formas
divinas multicoloridas.

Bhavanuvada

“Primeiro te revelarei o primeiro purusa,


Karanodakasayi, quem é uma de minhas
porções e o Antaryami da natureza
material. No Purusa-sukta lhe descreve
como tendo milhões de cabeças, olhos e
pés. Logo te farei compreender minha
svamsa, minha própria expansão cujo
aspecto kala, o tempo que tudo devora, é
relevante neste contexto”.
Pensando assim, Krsna disse a Arjuna:
“Preste atenção” para atrair sua atenção.

Sloka 6

Pasyadityan vasun rudran


Asvinau marutas tatha
Bahuny adrsta-purvani
Pasyascaryani bharata

Ó Bharata! Veja os doze Adityas, os oito


Vasus, os doze Asvini-kumaras, os
quarenta e nove Maruts e muitas outras
maravilhosas e surpreendentes formas que
tu jamais havias visto.

Prakasika-vrtti
Aqui é significativo que Krsna se refere a
Arjuna como Bharata. Arjuna nasceu na
dinastia do rajarsi Bharata, um devoto
muito piedoso e puro. Por esta razão, ele é
também muito virtuoso e um ekantika-
bhakta de Bhagavan. Assim ele é apto
para ver a forma de Bhagavan que jamais
havia visto.

Sloka 7

Ihaika-stham jagat krtsnam


Pasyadya as-caracaram
Mama dehe gudakesa
Yac canyad drastum icchasi

Ó Gudakesa! Contempla agora o universo


inteiro, incluindo todos os seres móveis e
inertes, reunidos em um só lugar dentro
do meu corpo. Qualquer outra coisa que
desejes ver também está dentro desta
forma universal.

Bhavanuvada

“O grande universo, que jamais poderás


ver completamente mesmo que
perambules por ele durante milhões de
anos, está situado em apenas uma parte do
meu corpo.” Sri Bhagavan explica o feito
no presente verso. A causa da tua vitória
ou derrota, aconteça o que acontecer,
existe neste corpo, o qual é o refúgio do
universo”.

Prakasika-Vrtti

Sri Bhagavan disse novamente: “Dentro


desta forma universal verás o mundo
inteiro com seus seres móveis e imóveis.
Nesta forma, que não se pode ver pela
execução de árduas tarefas durante
milhões e milhões de anos e apenas pela
minha misericórdia, verás eu e o mundo
inteiro, mesmo que ganhe ou perca a
batalha de Kuruksetra. E digo mais,
poderás ver o que quiser”. Neste texto se
usa a palavra Gudakesa: gudaka significa
sonho ou ignorância e isa significa amo.
Assim, Bhagavan indica a Arjuna que
deve contemplar esta forma com grande
atenção. Assim suas dúvidas sobre a
derrota ou vitória se dissiparão e Arjuna
poderá compreender que neste universo, a
execução de cada atividade está
predestinada por Krsna. Nem Arjuna nem
ninguém pode mudar esta disposição de
nenhuma maneira.

Sloka 8

Na tu mam sakyase drastum


Anenaiva sva-caksusa
Divyam dadami te caksuh
Pasya me yogam aisvaram
Mas não poderás ver-me com teus olhos
atuais. Por tanto, te outorgo olhos divinos
com os quais podes contemplar minha
yoga-aisvarya.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan disse: “Arjuna, não pense


que minha forma é ilusória e composta de
maya, entende que ela é sac-cid-ananda.
Minha svarupa, na qual existe todo o
universo, está além da percepção dos
sentidos materiais”. Bhagavan recita este
verso para fazê-lo entender isto. Ele disse:
“Tu não poderás ver-me com teus olhos
materiais, por tanto lhe concedo olhos
divinos com os quais poderás me ver”. O
propósito da declaração é assombrar
Arjuna que pensa que é um ser mortal
ordinário. Mas Arjuna é um dos principais
associados de Sri Bhagavan e apenas
aparenta ser um ser humano comum.
Arjuna, que experimenta diretamente a
doçura de Sri Krsna não será capaz de ver
sua forma universal com estes mesmos
olhos, por tanto, deve aceitar olhos
divinos. Que tipo de lógica é esta? Alguns
dizem que os olhos supremamente
afortunados de um ananya-bhakta vêem a
imensa doçura dos passatempos da forma
humana de Sri Krsna, mas não vêem o
aspecto aisvarya de seus passatempos
divinos. Por tanto, o pedido de Arjuna é
para outorga-lhe a visão especial e
maravilhosa do aspecto aisvarya de sua
forma divina. Sri Bhagavan lhe concede
olhos sobre humanos apropriados para
saborear este intercâmbio amoroso
particular.

Prakasika-Vrtti

Srila Baladeva Vidyabhusana clareza o


ponto em seu comentário. “Sri Krsna deu
a Arjuna olhos divinos necessários para
ver sua forma universal; mas não lhe deu
a mente divina correspondente. Se tivesse
feito isto, Arjuna desenvolveria um
interesse para saborear a forma universal,
mas em troca, ao vê-la, seu interesse se
foi. Tal desinteresse se evidência nas
palavras de Arjuna ao sair de seu
assombro após ver a forma universal. Ele
suplicou a Krsna que lhe mostrasse
apenas sua forma natural de dois braços
sac-cid-ananda”.
Este sentimento se encontra explicado
também no Srimad Bhagavatam:
“Um dia, Krsna estava nos braços de Mãe
Yasoda. Ela lhe amamentava e beijava seu
cativante rosto cuja beleza estava realçada
por seu doce sorriso. Neste momento, o
menino bocejou e mostrou a ela sua forma
universal dentro da boca. Ao ver aquilo
dentro da boca de seu bebê, ela ficou
atônita. Tenebrosa, fechou os olhos
pensando: Meu deus! O que vi? Temendo
que alguém tivesse lançado algum feitiço
ou mal olhado em Krsna, ela chamou o
sacerdote da família e lhe fez cantar
mantras para proteger o menino. Apenas
depois dele dar banho para purificar o
menino (Krsna) ela se sentiu aliviada.”
Srila Sanatana Goswami explica um
profundo segredo sobre este verso:
“Como pôde Mãe Yasoda ver a forma
universal de Krsna se não tinha olhos
divinos? Para alimentar os passatempos
de Krsna, a serva de Laksimi devi, a
potência de prazer, faz com que o amor de
Yasoda seja sempre novo e por isso lhe
foi permitida saborear o néctar do
assombro, vismaya-rasa, da aisvarya-sakti
de Sri Krsna.”

Sloka 9

Sanjaya uvaca
Evam uktva tato rajan
Maha-yogesvara harih
Darsayamasa parthaya
Paramam rupam aisvaram

Sanjaya disse: Ó Rei! Ao dizer isto, Sri


Hari, o amo de todos os poderes místicos,
revelou a Arjuna sua Suprema forma
aisvarya.
Prakasika-vrtti

Após dizer isto, Sri Bhagavan mostrou


sua forma universal a Arjuna. Sanjaya a
descreve ao rei cego Dhrtarastra nos seis
versos, afirmando-lhe que Sri Krsna não
apenas é grandioso mas também o maior
dos místicos, Yogesvara. Com objetivo de
mostrar a Arjuna sua forma universal, lhe
outorgou olhos divinos, o que revela que
Arjuna é muito querido por ele. Este
sentimento implica que a vitória de
Arjuna é só questão de tempo. Agora não
há dúvida de que, pela misericórdia de
Bhagavan, a vitória, tanto espiritual como
material, virá a Arjuna. Com suas
palavras, Sanjaya indica a Dhrtarastra que
seu desejo pela vitória de seus filhos foi
completamente frustrado.

Slokas 10-11

Aneka-vaktr-nayanam
Anekadbhuta-darsanam
Aneka-divyabharanam
Divyanekodyatayudham

Divya-malyambara-dharam
Divya-gandhanulepanam
Sarvascarya-mayam devam
Anantam visvato-mukham
Arjuna contemplou a forma universal de
Sri Bhagavan que possui olhos e bocas
ilimitados e intermináveis características
assombrosas. Incontáveis e maravilhosos
ornamentos e guirlandas celestiais
decoravam sua forma, cujas mãos
empunhavam múltiplas armas celestiais.
Ele vestia suntuosas roupas, estava ungido
com fragrâncias divinas e estava cheio de
ilimitadas e resplandecentes maravilhas,
que decoravam seus milhões de rostos.

Bhavanuvada

Visvato-mukham significa “cujo rosto


está em toda parte”.

Sloka 12

Divi surya-sahasraya
Bhaved yugapad utthita
Yadi bhah sadrsi as syad
Bhasas tasya mahatmanah

Se milhões de sóis aparecessem


simultaneamente no céu, o resplendor
apenas se aproximaria da refulgência da
Pessoa Suprema em sua radiante forma
universal.

Sloka 13
Tatraika-stham jagat krtsnam
Pravibhaktam anekadha
Apasyad deva-devasya
Sarire pandavas tada

Neste momento, Arjuna pôde ver o


universo inteiro situado no gigantesco
corpo de Visvarupa, o Deus dos deuses.

Bhavanuvada

No mesmo campo de batalha, Arjuna viu


ilimitados universos no corpo de deva-
devasya, o deus dos deuses. Com suas
diversas características distintivas, cada
universo se encontrava situado em uma
parte de seu corpo, em cada poro e cada
ventre. A palavra anekadha significa que
alguns estavam feitos de terra, outros de
ouro, e outro de gemas. Alguns mediam
cinqüenta yojanas (1 yojana equivale a 9,6
km), alguns cem, algumas centenas de
milhares e outros mediam milhões de
yojanas.

Sloka 14

Tatah as vismayavisto
Hrsta-roma dhananjayah
Pranamya sirasa devam
Krtanjalir abhasata
Arjuna, maravilhado e com olhos
semifechados, inclinou a cabeça para
oferecer reverências, e com as mãos
juntas, se dirigiu a Sri Krsna, o criador da
forma universal.

Prakasika-vrtti

A forma universal que Maha-Yogesvara


Krsna mostrou a Arjuna era
surpreendente, resplandecente e
maravilhosa, e estava decorada com
diversos tipos de ornamentos celestiais.
Arjuna viu no corpo do Supremo Senhor
Sri Krsna o universo inteiro situado no
mesmo lugar e dividido em várias formas.
Para evitar que Dhrtarastra pensasse que
Arjuna correu aterrorizado ao contemplar
esta aterradora forma, Sanjaya disse:
“Arjuna é um grande bhakta e conhece
bem krsna-tattva e está situado no modo
da bondade. Ele não se aterrorizou ao ver
a forma universal de Krsna senão que
experimentou adbhuta-rasa, assombro.
Arjuna estava dotado com fortaleza
natural, mas estando absorto em adbhuta-
rasa, caiu em êxtase e seu corpo
estremeceu. Ele inclinou sua cabeça,
juntou suas mãos em sinal de reverências
e falou”.
Os olhos de Arjuna não estavam fechados
pelo temor e sim porque estava
experimentando adbhuta-rasa. A forma
universal de Krsna é o objeto ou visaya-
alambana desta rasa e Arjuna é o
receptáculo ou asraya-alambana. A
contemplação repetida da forma universal
é um estímulo para sua lembrança,
uddipana.

Sloka 15

Arjuna uvaca
Pasyami devams tava deva dehe
Sarvams tatha bhuta-visesa-sanghan
Brahmanam isam kamalasana-stham
Rsims ca sarvan uragams ca divyan

Arjuna disse: Ó meu senhor! Dentro de


teu corpo divino posso ver os semideuses
e todas as espécies de seres vivos. Vejo
também Brahma sentado sobre sua flor de
lótus, o Senhor Siva e todos os sábios e
serpentes divinas.

Sloka 16

Aneka-bahudara-vaktra-netram
Pasyami tvam sarvato nanta-rupam
Nantam na madhyam na punas tavadim
Pasyami visvesvara visva-rupa

Ó Visvesvara, Senhor do universo! Ó


Visvarupa! Vejo tuas inumeráveis formas
com ilimitadas mãos, ventres, bocas e
olhos por todo lugar. E tem mais, não
posso ver em ti, o começo, o meio e nem
o fim.

Sloka 17

Kiritinam gadinam cakrinanca


Tejo-rasim sarvato diptimantam
Pasyami tvam durniriksyam samantad
Diptanalarka-dyutim aprameyam

Vejo tua forma como a super brilhante e


onipenetrante morada do resplendor,
adornada com coroas e manuseando
maças e discos por todos lados. É muito
difícil perceber-te em meio ao fogo
ardente de tua refulgência, que como o
sol, ilumina todas as direções.

Sloka 18

Tvam aksaram paramam veditavyam


Tvam asya visvasya param nidhanam
Tvam avyayah sasvata-dharma-gopta
Sanatanas tvam puruso mato me

Tu és parabrahma, o supremo objeto


conhecido por todas as pessoas liberadas.
És o supremo lugar de descanso deste
universo. És imutável, o protetor da
religião eterna e a Pessoa Suprema
primordial. Esta é minha opinião.
Sloka 19

Anadi-madhyantam ananta-viryam
Ananta-bahum sasi-surya-netram
Pasyami tvam dipta-hutasa-vaktram
sva-tejasa visvam idam tapantam

Não tens princípio, meio ou fim. Possuis


poder infinito, inumeráveis braços e olhos
semelhantes ao sol e a lua. Vejo sair fogo
ardente de suas bocas e o universo inteiro
está sendo abrasado pelo teu resplendor.

Sloka 20

Dyav a-prthivyor idam antaram hi


Vyaptam tvayaikena disas ca sarvah
Drstvadbhutam rupam idam tavogram
Loka-trayam pravyathitam mahatman

Tu propagas por todas as direções no


espaço existente entre a terra e o céu. Ó
Mahatman! Ao ver tua maravilhosa e
terrível forma universal, os habitantes dos
três mundos ficam perturbados pelo
temor.

Bhavanuvada

Neste e no próximo nove versos, Sri


Bhagavan mostra sua kala-rupa, seu
aspecto como o tempo que tudo devora,
como uma parte de sua forma universal,
com um propósito especial.

Prakasika-Vrtti

A grande batalha de kuruksetra foi vista


igualmente pelos semideuses como
Brahma, demônios, antepassados,
gandharvas, yaksas, raksasas, kinnaras e
seres humanos. Todos eles observaram a
batalha de acordo com seus
temperamentos respectivos, tais qual
amizade, inimizade ou indiferença. Mas
apenas os bhaktas puderam ver a forma
universal, pois pela misericórdia de
Bhagavan, receberam olhos divinos.

Sloka 21

Ami hi tvam sura-sangha visanti


Kecid bhitah pranjalayo grnanti
Svastity uktva maharsi-siddha-sanghah
Stuvanti tvam stutibhih puskalabhih

Os milhões de semideuses estão entrando


em ti em busca de refúgio. Devido ao
temor, alguns estão elogiando-te com as
mãos juntas. Os grandes sábios e siddhas
te contemplam enquanto cantam hinos
védicos auspiciosos, te oferecem e te
adoram profusamente.
Sloka 22

Rudraditya vasavo y eca sadhya


Visve svinau marutas cosmapas ca
Gandharva-yaksasura-siddha-sangha
Viksante tvam vismitas caiva sarve

Os onze rudras, os doze adityas, os oito


vasus, os sadhyadevas, os visvadevas, os
dois asvini-kumaras, os maruts, os pitrs,
os gandharvas, os yaksas, os asuras e os
siddhas, te contemplam maravilhados.

Sloka 23

Rupam mahat te bahu-vaktra-netram


Maha-baho bahu-bahuru-padam
Bahudaram bahu-damstra-karalam
Drstva lokah pravyathitas tathaham

Ó Maha-baho! Ao ver tua gigantesca


forma com ilimitadas bocas, incontáveis
olhos, inumeráveis braços, pernas, pés,
ventres e muitos dentes terríveis, todo o
mundo, incluindo eu, está aterrorizado.

Sloka 24

Nabhah-sprsam diptam aneka-varnam


Vyattananam dipta-visala-netram
Drstva hi tvam pravyathitantar-atma
Dhrtim na vindami samanca visno
Ó Visnu! Ao ver tua ardente forma
multicolorida com olhos ferozes e vastas
bocas abertas propagando-se pelo céu,
minha mente está atemorizada, não posso
sentir paz e nem consigo manter o
equilíbrio.

Sloka 25

Damstra-karalani ca te mukhani
Drstvaiva kalanala-sannibhani
Diso na Jane na labhe ca sarma
Prasida devesa jagan-nivasa

Ao ver estas terríveis bocas, cheias de


ferozes dentes e ardendo com o fogo da
aniquilação, não posso perceber onde
estou nem sentir felicidade alguma. Ó
Senhor dos devas! Ó refúgio do universo!
Por favor, conceda-me tua misericórdia.

Sloka 26-27

Ami ca tvam dhrtarastrasya-putrah


Sarve sahaivavani-pala-sanghaih
Bhismo dronah suta-putra tathasau
Sahasmadiyair api yodha-mukhyaih

Vaktrani te tvaramana visanti


Damstra-karalani bhayanakani
Kecid vilagna dasanantaresu
Sandrsyante curnitair uttamangaih
Todos os filhos de Dhrtarastra juntamente
com seus reis, Bhisma, Drona, Karna e
também os guerreiros do nosso lado, se
precipitam em tua direção, e entram em
tuas bocas que possui dentes terríveis e
que se parecem com cavernas. E alguns
deles estão esmagados ali, com suas
cabeças trituradas entre estes dentes.

Sloka 28

Yatha nadinam bahavo mbu-vegah


Samudram evabhimukha dravanti
Tatha tavami Nara-loka-vira
Visanti vaktrany abhivijvalanti

Semelhantes às ondas de um rio que se


aproxima impetuosamente até o oceano,
todos os grandes heróis estão entrando em
tuas ardentes bocas.

Sloka 29

Yatha pradiptam jvalanam patanga


Visanti nasaya samrddha-vegah
Tathaiva nasaya visanti lokas
Tavapi vaktrani samrddha-vegah

Assim como as moscas entram


rapidamente em um fogo ardente, os
guerreiros entram em sua boca
simplesmente para morrer.
Sloka 30

Lelihyase grasamanah samantal


Lokan samagran vadanair jvaladbhih
Tejobhir apurya jagat samagram
Bhasas tavograh pratapanti visno

Ó Visnu! Com tuas ferozes línguas


lambes a multidão de entidades vivas (que
se encontra por todo lado) e as devora
com tuas ardentes bocas. Estás abrasando
o universo inteiro com os onipenetrantes e
ferozes raios de tua refulgência.

Sloka 31

Akhyahi me ko bhavan ugra-rupo


Namo´stu te deva-vara prasida
Vijnatum icchami bhavantam adyam
Na hi prajanami tava pravrttim

Ó Deva-vara, o melhor entre os deuses!


Ofereço-te reverências. Conceda-me tua
graça e diga-me quem és, ao assumir esta
feroz forma. Anseio muito te conhecer, a
causa primordial, pois não posso
compreender tuas atividades.

Sloka 32

Sri bhagavan uvaca


Kalo smi loka-ksaya-krt pravrddho
Lokan samahartum iha pravrttah
Rte ´pi tvam na bhavisyanti sarve
Ye ´vasthitah pratyanikesu yodhah

Sri Bhagavan disse: Sou o tempo, o


poderoso destruidor do mundo, e estou
aqui para aniquilar todas estas pessoas.
Mesmo sem teus esforços, não
sobreviverá nenhum dos guerreiros de
ambos os exércitos.

Prakasika-vrtti

Sri Bhagavan disse a Arjuna: “Eu sou o


tempo que tudo destrói e agora adotei uma
gigantesca forma. Estou aqui para
aniquilar Duryodhana e os demais. Como
resultado da minha missão, com exceção
dos Pandavas, ninguém mais sobreviverá
no campo de batalha. Mesmo sem teu
esforço ou dos demais guerreiros, todos
serão devorados pelo tempo, pois em
minha forma como o tempo, aniquilo suas
vidas. Os heróis presentes em ambos os
grupos morrerão mesmo que não lutem.
Por isto, ó Arjuna! Se te retiras da batalha,
caíras da tua posição de ksatriya ao
abandonar teu sva-dharma e, de qualquer
jeito, eles não se salvarão.”

Sloka 33

Tasmat tvam uttistha yaso labhasva


Jitva satrun bhunksva rajyam samrddham
Mayaivaite nihatah purvam eva
Nimitta-matram bhava savya-sacin

Por tanto levanta-te, participa da batalha,


alcança a glória conquistando teus
inimigos e desfruta assim de teu
incomparável reino. Já aniquilei todos os
guerreiros. Ó Savyasacin! Atua como meu
instrumento.

Sloka 34

Dronanca bhismanca jayadrathanca


Karnam tathanyan api yodha-viran
Maya hatams tvam jahi ma vyathistha
Yudhyasva jetasi rane sapatnan

Drona, bhisma, Jayadratha, Karna e


muitos outros grandes heróis já foram
destruídos por mim, sendo assim,
simplesmente mate-os e não te perturbes.
Tua vitória na batalha está assegurada,
então lute.

Prakasika-vrtti

Há um significado oculto nesta


declaração. “Eu já matei Bhisma, Drona,
jayadratha, Karna e os demais”. Bhagavan
está declarando que quando todos os
guerreiros Kauravas insultaram
publicamente Draupadi ao despi-la, ele os
matou por haver cometido esta atroz
vaisnava-aparadha. “Apenas para
conceder-te fama fiz com que estas
pessoas aparecessem a ti como estátuas, é
como se elas estivessem ali sem vida.
Atua somente como um instrumento para
a morte deles”.

Sloka 35

Sanjaya uvaca
Etac chrutva vacanam kesavasya
Krtanjalir vepamanah kiriti
Namaskrtva bhuya evaha krsnam
sa gadgadam bhita-bhitah pranamya

Sanjaya disse a Dhrtarastra: Ao escutar as


palavras de Sri Kesava, Arjuna, tremendo,
lhe ofereceu repetidas reverências com as
mãos postas. Com muito temor ele falou a
Krsna com a voz trêmula.

Sloka 36

Arjuna uvaca
Sthane hrsikesa tava prakirtya
Jagat prahrsyaty anurajyate ca
Raksamsi bhitani diso dravanti
Sarve namasyanti ca siddha-sanghah

Arjuna disse: Ó Hrsikesa! Todos no


universo se regozijam e apegam-se a ti ao
escutar a glorificação de teus nomes,
formas e de tuas qualidades. Os raksasas
estão se dispersando pelo temor, enquanto
os seres perfeitos te oferecem repetidas
reverências. Isto é, sem dúvida, o mais
apropriado.

Bhavanuvada

Arjuna conhece o seguinte tattva: a Sri


Vigraha de Bhagavan se satisfaz com
aqueles que estão dedicados a ele,
enquanto ele mostra seu aspecto tenebroso
a quem lhe são avessos. A palavra sthane
é gramaticalmente indeclinável e significa
yukta ou apropriado; foi utilizado em
todos os componentes deste verso. Arjuna
se dirigiu a Krsna como Hrsikesa (aquele
que controla os sentidos de seus bhaktas e
aparta dele os sentidos dos não devotos.
“o mundo inteiro está sendo atraído pelo
canto de suas glórias; isto é correto, pois
tudo deve ser dedicado a ti. Por outro
lado, os raksasas, asuras, danavas, pisacas
e outros seres demoníacos se dispersam
em todas as direções devido ao temor.
Também é correto, pois eles tem aversão
a ti. Uma multidão de seres que se
tornaram perfeitos através da prática de
bhakti te oferece reverências, os quais são
você próprio, pois sãos seus bhaktas.”
Este verso é célebre nos mantra-sastras
como o mantra para destruir os
demônios.”
Prakasika-Vrtti

A influência transcendental da forma de


Sri Bhagavan é tanta que os bhaktas se
enchem de alegria ao vê-la. Mas os que
tem naturezas demoníacas e são avessos a
ele, esta forma lhes lembram a de
Yamaraja, o senhor da morte. Na arena de
luta de Mathura, os líderes como Nanda
Maharaja, os amigos e os Yadavas,
estavam prazeirosos ao ver o charmoso
nava-ksora Sri Krsna, mas ele parecia a
morte personificada para Kamsa, forte
como o touro para os lutadores, o
dispensador da lei para os reis ignorantes,
e Paramatma para os yogis. Por tanto, as
jivas devotas sentem alegria e se apegam
a Krsna ao escutar sobre suas glórias. Os
siddhas se rendem a ele, enquanto os
demônios e raksasas, que lhe são avessos,
fogem aterrorizados.

Sloka 37

Kasmad ca te na nameran mahatman


Gariyase brahmano ´py adi-kartre
Ananta devesa jagan-nivasa
Tvam aksaram sad-asat tat param yat

Ó Mahatmam! Ó Senhor dos semideuses!


Ó Ananta! Ó refúgio do mundo! Tu és
maior que Brahma. És o criador original e
és Brahma, a realidade imperecível que
está além da causa e efeito. Porque não
haveriam de oferecer-te reverências?

Prakasika-vrtti

No verso anterior, Arjuna explicou que


Sri Bhagavan é adorado até mesmo por
Brahma. Este verso, revela que Sri
Bhagavan é a alma de todos. “Os devas,
rsis, gandharvas e outros seres similares,
sem dúvida te oferecem reverências. Tu
não és somente isto, senão que és a alma
de todos e constitui o todo”.

Sloka 38

Tvam adi-devah purusah puranas


Tvam asya visvasya param nidhanam
Vettasi vedyanca paranca dhama
Tvaya tatam visvam ananta-rupa

És o Senhor original, a pessoa primordial


e o único lugar de descanso do universo.
És a morada suprema e o conhecedor de
tudo e de todos. Ó Ananta-rupa, possuidor
de formas ilimitadas! Só tu penetras o
universo inteiro.

Sloka 39

Vayur yamo ´gnir varunah sasankah


Prajapatis tvam prapitamahas ca
Namo namas te ´stu sahasra-krtvah
Punas ca bhuyo ´pi namo namas te

Tu és Vayu, o deus do vento e também


Yama, o superintendente da morte. És o
deus do fogo Agni; Varuna, o deus do
oceano; Candra, a deusa da lua; o criador
Brahma e também o pai de Brahma. Por
tanto, te ofereço milhões de reverências,
uma e outra vez.

Sloka 40

Namah purastad atha prsthatas te


Namo ´stu te sarvata Eva sarva
Ananta-viryamita-vikramas tvam
Sarvam samapnosi tato ´si sarvah

Ó Sarva-svarupa! Ofereço-te reverências


pela frente, por trás e de todos os lados.
Possuis valor e poder infinito. És
onipenetrante e, por tanto, és tudo.

Bhavanuvada

“Assim como ouro está presente nos


ornamentos dourados, tais como a
armadura, tu penetras o mundo material, o
qual é seu efeito, por tanto, és tudo”.

Prakasika-Vrtti
Ao compreender que Krsna é o objeto
máximo a ser venerado, Arjuna oferece
reverências a ele, a personificação do
todo. Devido a sua profunda fé e seu
grande respeito, e considerando que as
reverências não são suficientes, ele inclina
diante de Krsna, que possui poder
ilimitado, força imensurável, que é a alma
das almas e que é a forma de tudo. Isto
também se confirma nas palavras de
Sukadeva Goswami no Srimad
Bhagavatam (10.14.56):

“As pessoas que compreendem Sri Krsna


tal como ele é, percebem todas as coisas,
sejam elas móveis ou inertes, como suas
manifestações. Estas almas liberadas não
percebem outra realidade”.

Sloka 41- 42

Sakheti matva prasabham yad uktam


He krsna he yadava he sakheti
Ajanata mahimanam tavedam
Maya pramadat pranayena vapi

Yac cavahasartham asat-krto ´si


Vihara-sayyasana-bhojanesu
Eko ´tha vapy acyuta tat-samaksam
Tat ksamaye tvam aham aprameyam

Por não conhecer tuas glórias, devido a


meu descuido, ou então pela afeição
fraternal que tenho por ti, me dirigi a você
de maneira imprudente chamando-o de”Ó
Krsna! Ó Yadava! Ó Sakhe! Ó Acyuta!”.
Se te desrespeitei enquanto fazia piadas
quando estávamos sozinhos ou na
presença de nossos parentes, enquanto
descansávamos, sentávamos ou comíamos
juntos, te suplico humildemente que me
perdoe ó Aprameya! (Senhor de glórias
ilimitadas).

Bhvanuvada

“Que desgraça! Tenho te ofendido


ilimitadamente’’. Lamentando-se assim,
Arjuna recita este verso. Ele disse: “Ó
Krsna” para expressar “ És conhecido
como o filho de Vasudeva, um ser
humano que carece de fama e que é
considerado um arddharathi, uma pessoa
que necessita de ajuda para derrotar
apenas um oponente. Mas eu sou atirathi,
posso lutar contra uma quantidade
ilimitada de guerreiros e sou famoso
como o filho do Rei Pandu”. “Ó Yadava”
significa “Por ter nascido na dinastia yadu
não possuis nenhum reino, enquanto que
eu nascí na dinastia Puru, por tanto sou de
linhagem real. A relação que tenho
contigo não se deve aos teus ancestrais ou
a influência de uma dinastia, e sim para
contigo mesmo. Me dirigi a ti
asperamente mesmo que minhas intenções
eram amistosas. Por isso imploro pelo seu
perdão”.
Devido a loucura, o afeto que expressava
enquanto jogávamos e brincávamos,
insultei as glórias de tua forma universal.
Assim sendo, te peço perdão pelas
milhares de ofensas que cometi. Ó
Prabhu! Rogo por seu perdão”.

Sloka 43

Pitasi lokasya caracarasya


Tvam asya pujyas ca gurur gariyan
Na tvat-samo ´sty abhyadhikah kuto ´nyo
Loka-traye ´py apratima-prabhava

Ó possuidor de poder sem rival! Tu és pai,


o mais venerável, o guru e a pessoa mais
gloriosa neste mundo de seres móveis e
inertes. Nada nos três mundos se iguala a
ti, então como poderia alguém ser maior
que você?

Sloka 44

Tasmat pranamya pranidhaya kayam


Prasadaye tvam aham isam idyam
Piteva putrasya sakheva sakhyuh
Priyah priyayarhasi deva sodhum

Ó venerável Paramesvara! Ofereço-te


prostradas reverências a teus pés de lótus
e te suplico que conceda-me tua graça. Ó
Deva! Assim como um pai perdoa seu
filho, um amigo tolera o amigo ou um
amante desculpa sua amada, por favor
perdoa todas as minhas ofensas.

Sloka 45

Adrsta-purvam hrsito ´smi drstva


Bhayena ca pravyathitam mano me
Tad eva me darsaya deva rupam
Prasida devesa jagan-nivasa

Ó Deva! Depois de ver tua forma


universal, que jamais foi vista antes, estou
carregado de felicidade, mas minha mente
está muito perturbada pelo temor. Ó
Devesa, Deus dos Deuses! Mostra-me
novamente tua forma de quatro braços. Ó
Jagan-nivasa, refúgio do universo!
Conceda-me tua graça.

Sloka 46

Kiritinam gadinam cakra-hastam


Icchami tvam drastum aham tathaiva
Tenaiva rupena catur-bhujena
Sahasra-baho bhava visva-murte

Anseio ver tua forma que está decorada


com um elmo, uma maça e um disco. Ó
Sahasra-baho, Senhor de mil braços! Ó
Visvamurte, forma universal! Por favor,
mostra-me de novo sua forma de quatro
braços.

Bhavanuvada

“No futuro, quando exibir teu aspecto


aisvarya, mostra-me unicamente a forma
vasudeva-nandana que vi antes. Manifesta
a forma que personifica a rasa suprema e
confere bem-aventurança aos olhos de
minha mente; esta forma que jamais foi
vista. O aisvarya de tua forma universal,
que é parte de teu passatempo divino, não
é muito atrativo aos olhos da minha
mente”.

Prakasika-vrtti

A svarupa (forma original) de Krsna é de


um jovem, um charmoso ator vestido de
pastorzinho com uma flauta em suas
mãos. Esta é a forma eterna de Krsna.
Ainda que ele é a personificação de
madhurya, aisvarya também está presente
nele. Matou Putana quando era apenas um
menino pequeno e mesmo assim, seu
comportamento como um menino não foi
ofuscado pela manifestação de sua
aisvarya.
Enquanto executava seus passatempos
com os Yadavas e os pandavas em sua
forma de dois braços, Sri Krsna
manifestava algumas vezes sua forma de
quatro braços. Os passatempos em
Dvaraka se passam em aisvarya-mayi,
mas todos os passatempos de Vraja são
madhurya-mayi ou naravat, semelhantes
as atividades humanas.
Uma vez, em sua vraja-lila, Krsna
desapareceu repentinamente da rasa-lila.
Sob sua forma de quatro braços ele se
posicionou no caminho que as gopis
passavam para procura-lo ; ao vê-lo elas
lhe ofereceram reverências e continuaram
procurando pelo Krsna de dois braços.
Enquanto isto, a personificação de maha-
bhava, chegou no lugar. Krsna ficou
maravilhado ao vê-la, e apesar de grande
esforço, não pôde manter sua forma de
quatro braços, a qual desapareceu em sua
forma de dois braços.

Sloka 47

Sri bhagavn uvaca


Maya prasannena tavarjunedam
Rupam param darsitam atma-yogat
Tejo-mayam visvam anantam adyam
Yan me tvad anyena na drsta-purvam

Sri Bhagavan disse: Ó Arjuna! Porque


estou satisfeito contigo te mostrei minha
forma universal resplandecente, ilimitada
e primordial através da minha
inconcebível yoga-maya-sakti. Antes de
ti, ninguém jamais viu esta forma.

Bhavanuvada

“ Ó Arjuna, você me implorou para te


mostrar minha aisvarya-rupa (Gita 11.3),
por sito te mostrei minha visvarupa
purusa que é nada mais que um de meus
aspectos parciais. Por que ficou
perturbado ao vê-la? Por outro lado, agora
desejas contemplar minha forma de
aspecto humano e roga-me; Seja bondoso,
seja bondoso! Por que falas de maneira
tão surpreendente? Mostrei apenas a ti e a
ninguém mais minha svarupa porque
estava satisfeito contigo. Antes de você,
ninguém mais havia visto; Por que não
desejas mais vê-la?

Sloka 48

Na veda-yajnadhyayanair na danair
Na ca kriyabhir na tapobhir ugraih
Evam-rupah sakya aham nr-loke
Drastum tvad anyena kuru-pravira

Ó Kuru-pravira, o maior guerreiro kuru!


Com exceção de você, ninguém mais é
capaz de ver minha visvarupa dentro dos
confins do mundo mortal. Esta forma não
pode ser vista mediante estudo dos Vedas,
sacrifícios, rituais ou severas penitências.
Bhavanuvada

Sri Bhagavan disse: “A habilidade para


ver a forma que foi exibida não se pode
obter através dos vedas ou outros
processos. Não mostro esta forma a
outros. Estabelece firmemente tua fé
unicamente nesta forma excepcional
compreendendo que conseguiu o objeto
mais inalcançável. “Porque desejas ver
novamente minha forma humana depois
de Ter visto esta forma extraordinária?”.

Sloka 49

Ma te vyatha ma ca vimudha-bhavo
Drstva rupam ghoram idrn mamedam
Vyapeta-bhir prita-manah punas tvam
Tad eva me rupam idam prapasya

Não temas nem te confunde ao ver esta


terrível forma. Livre do temor e com uma
mente jubilosa, contempla de novo minha
charmosa forma de quatro braços para sua
completa satisfação.

Sloka 50

Sanjaya uvaca
Ity arjunam vasudevas tathoktva
Svakam rupam darsayamasa bhuyah
Asvasayamasa ca bhitam enam
Bhutva punah saumya-vapur mahatma

Sanjaya disse: Depois de dizer estas


palavras, o magnânimo filho de Vasudeva
revelou de novo sua forma de quatro
braços, e consolou Arjuna ainda mais
assumindo sua delicada forma de dois
braços.

Bhavanuvada

Assim, logo após revelar a forma de sua


amsa, Sri Bhagavan, a pedido de Arjuna,
mostrou sua forma de quatro braços
decorada com um elmo, maça, disco, e
outros ornamentos. A Suprema
Personalidade manifestou novamente sua
grata forma de dois braços decorada com
braceletes, pingentes, turbante, pitambara
e outros ornamentos, dando paz ao
aterrorizado Arjuna.

Sloka 51

Arjuna uvaca
Drstvedam manusam rupam
Tava saumyam janardana
Idanim asmi samvrttah
Sacetah prakrtim gatah

Arjuna disse: Ó Janardana! Agora meu


coração se deleita ao contemplar tua
cativante forma que se assemelha a
humana e, também retornei a minha
condição normal.

Bhavanuvada

Contemplando a muito doce forma de Sri


Krsna e sentindo-se imerso no oceano de
bem-aventurança, Arjuna disse: “Meu
coração se deleita e retornei a minha
condição normal”.

Prakasika-Vrtti

Neste momento, Arjuna, livre de todo


temor, viu Krsna primeiro em sua doce
forma de quatro braços e logo depois em
sua forma Syamasundara de dois braços.
Com grande alegria, Arjuna disse: “Ó
Janardana, depois de ver tua forma de
aspecto humano, a qual é sumamente
prazeirosa, recuperou minha compostura e
minha condição natural”.
Sri Krsna executou seus passatempos com
os Yadavas e Pandavas principalmente em
sua forma de dois braços (dvibhuja-rupa),
mesmo que às vezes aparecia em sua
forma de quatro braços (caturbhuja-rupa).
Por isto, a caturbhuja-rupa também é
considerada humana.

Sloka 52
Sri-bhagavan uvaca
Su-durdasam idam rupam
Drstavan asi yan mama
Deva apy asya rupasya
Nityam darsana-kanksinah

Sri Bhagavan disse: A forma humana que


contemplastes dificilmente pode ser vista
por outros. Mesmo os semideuses
anseiam constantemente em ver esta
forma.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan fala neste e no seguinte


verso sobre as glórias da svarupa que
mostrou a Arjuna: “ mesmo os
semideuses anseiam ver esta forma,
porém jamais a viram. Mas tu, Arjuna,
não desejas ver minha forma universal. É
compreensível, pois você saboreia
eternamente a madhurya suprema de
minha forma humana original. Como
poderia então a visvarupa atrair seus
olhos? Te abençoei com o poder da visão
divina mas não com a mente divina
correspondente. Por tanto, devido ao fato
de que tua mente se satisfaz unicamente
vendo a madhurya suprema de minha
forma humana, você não pôde apreciar
plenamente minha outra forma mesmo te
concedendo tal visão. Se te concedesse
uma mente divina, então, como os
semideuses, você ficaria atraído pela
minha visvarupa”.

Prakasika-vrtti

Neste verso, Sri Krsna explica as glórias


da sua forma humana. Exibindo o aspecto
mais excepcional da sua misericórdia a
Arjuna, Krsna disse a Arjuna: “É muito
difícil contemplar a forma que vês agora;
até mesmo os semideuses não podem vê-
la No décimo canto do Srimad
Bhagavatam, o Garbha-stotra diz que
mesmo os semideuses dificilmente vêem
esta forma. Como meu nitya-bhakta
(eterno devoto), degustas a grande doçura
da minha forma humana e em
contrapartida não te agrada minha
visvarupa. Te concedi olhos divinos mas
não uma mente divina. Se tivesse a
outorgado, então, assim como os
semideuses, havias sido atraído pela
forma universal”. Esta forma humana te
és muito querida, visto que és meu devoto
eterno e tem sentimento de amizade para
comigo.

Sloka 53

Naham vedair na tapasa


Na danena na cejyaya
Sakya evam-vidho drastum
Drstavan asi mam yatha
Não é possível ver-me na forma que me
vês agora através do estudo dos Vedas,
prática de austeridades, caridade ou
celebração de sacrifícios.

Bhavanuvada

“Se alguém deseja ver, tal como tu, minha


eterna forma humana de dois braços,
considerando-a como a essência do
esforço humano, não poderia consegui-la
mesmo se dedicasse ao estudo dos Vedas,
austeridades ou outros processos. Acredita
em mim”.

Sloka 54

Bhaktya tv ananyaya sakya


Aham evam-vidho ´rjuna
Jnatum drastunca tattvena
Pravestunca parantapa

Ó Parantapa! Ó Arjuna! Apenas através


de ananya-bhakti (devoção exclusiva) é
que alguém pode observar e conhecer
minha eterna e charmosa forma humana, e
associar-se comigo em minha morada.

Sloka 55

Mat-karma-krn mat-paramo
Mad-bhaktah sanga-varjitah
Nirvairah sarva-bhutesu
Yah samam eti pandava

Ó filho de Pandu! A pessoa que trabalha


exclusivamente para mim e que me
considera como sendo a meta suprema,
que se dedica a executar os diversos
processos de bhakti – como svaranam e
kirtanam – abandonando os apegos
mundanos e permanecendo livre de
aversão a qualquer entidade viva, alcança
minha suprema e charmosa forma de
Krsna.

Prakasika-Vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta


Krsna: “Neste capítulo foi estabelecido
que a forma de Sri Krsna é o refúgio
supremo e a realidade venerável última,
superior a sua visvarupa, kala-rupa e
também sua visnu-rupa. Os bhaktas são
atraídos unicamente por sua forma
humana eterna e super atrativa, e não pela
sambandha-vigraha ou manifestação
relativa de Bhagavan. Este capítulo
estabelece que a forma de Sri Krsna é o
oceano de todas as rasas nectáreas e a
única morada da doçura suprema”.

Assim se conclui o décimo primeiro


capítulo do Srimad Bhagavad Gita.
Capítulo 12

BHAKTI-YOGA

O SERVIÇO DEVOCIONAL PURO

Sloka 1

Arjuna uvaca
Evam satata-yukta ye
Bhaktas tvam paryupasate
Ye capy aksaram avyaktam
Tesam ke yoga-vittamah

Arjuna disse: Segundo tuas instruções


anteriores, existem bhaktas que são
dotados com nistha (firmeza) e que se
dedicam continuamente a adoração de tua
forma Syamansundara. Há outros que
adoram teu aspecto impessoal
indiferenciado. Qual destes yogis é o
melhor?

Bhavanuvada

Neste capítulo Sri Bhagavan confirma a


superioridade de todas as classes de
bhaktas sobre os jnanis, e entre os
bhaktas, ele glorifica somente os que
possuem qualidades como ausência de
inveja.

Prakasika-vrtti

Dos diversos tipos de sadhana praticados


para alcançar Sri Bhagavan rapidamente,
o suddha-bhakti é o mais simples, fácil e
natural. Sua influência é infalível.

Sloka 2

Sri bhagavan uvaca


Mayy avesya mano ye mam
Nitya-yukta upasate
Sraddhaya parayopetas
Te me yuktatma matah

Sri Bhagavan disse: Os yogis que, com fé


transcendental, fixam suas mentes em
minha forma Syamansundara e me
adoram constantemente através de
ananya-bhakti, são os maiores
conhecedores do yoga. Esta é minha
opinião

Bhavanuvada

O Srimad Bhagavatam (11.25.27) também


diz: “ A fé que tem a alma como centro
está em sattva-guna, a que tem o karma
como centro é rajo-guna e a que tem as
atividades irreligiosas como centro é
tamo-guna. Mas a fé cujo objetivo e
centro são o serviço a mim é nirguna
(transcendental).
Deste modo, se estabelece que bhakti é
superior a jnana, e dentro de bhakti,
ananya-bhakti é o melhor.

Slokas 3-4

Ye tv aksaram anirdesyam
Avyaktam paryupasate
Sarvatra-gam acintyanca
Kutastham acalam dhruvam

Sanniyamyendriya-gramam
Sarvatra sama-buddhayah
Te prapnuvanti mam eva
Sarva-bhuta-hite ratah

Mas sou alcançável também por aqueles


que adoram minha brahma-svarupa
indescritível, imanifesta, onipenetrante,
inconcebível, imutável, eterna e
indiferenciada, através do controle dos
sentidos, visão equânime e dedicação ao
bem-estar de todos os seres.

Bhavanuvada

“Os que adoram meu aspecto


indiferenciado estão sempre aflitos, por
tanto, são inferiores aos meus bhaktas”.
A frase mam eva significa: “Eles me
alcançam. Em outras palavras, não há
diferença entre o imperecível brahma e
eu”.

Prakasika-Vrtti

Sri Bhagavan disse: “As pessoas que, com


seus sentidos controlados e com visão
equânime, se ocupam em atividades
beneficiosas para com todas as entidades
vivas e adoram minha forma
indiferenciada, imperecível, indescritível
e imanifesta, finalmente me alcançam
depois de realizar um difícil sadhana”. No
Gita (14.27) se explica que Krsna é o
refúgio do nirvisesa-brahma. Por tanto, os
adoradores deste dependem indiretamente
de Krsna. Existem graduações de
adoradores que se refugiam em algum
aspecto da Verdade Absoluta. O brahma é
a refulgência do corpo de Krsna, uma
manifestação incompleta dapotência
consciente interna de Krsna. Por tanto,
quem alcança o nirvisesa-
brahma)sayujya-mukti) depende
indiretamente de Sri Krsna, mas não
experimentam a bem aventurança do
serviço amoroso. Assim sendo, mesmo
que Bhagavan ofereça aos bhaktas
diversas classes de mukti como por
exemplo sayujya-mukti, eles não a
aceitam.
Sloka 5

Kleso ´dhikataras tesam


Avyaktasakta-cetasam
Avyakta hi gatir duhkham
Dehavadbhir avapyate

Aqueles cujas mentes estão apegadas ao


meu aspecto imanifesto e impessoal
experimentam grandes dificuldades, pois
para a entidade viva corporificada é muito
penoso conseguir estabilidade em algo
imanifesto.

Bhavanuvada

“Por que os jnanis são inferiores? Sri


Bhagavan recita o presente verso para
responder a pergunta de Arjuna: “Os que
desejam experimentar o brahma
imanifesto devem se submeter a
austeridades extremas para alcança-lo. Os
sentidos só podem perceber aquilo que
possui atributos relacionados com o
sentido respectivo, por exemplo, o som.
Não podem, então, experimentar o que
está desprovido de qualidades ou
atributos.
Os que desejam nirvisesa-jnana devem
controlar os sentidos, mas tal coisa é mais
difícil do que controlar a corrente de um
rio. Sanat Kumara disse a Prthu Maharaja
no Srimad Bhagavatam (4.22.39):
“Os bhaktas podem facilmente desatar o
nó do coração, que é formado por desejos
fruitivos, recordando com devoção a
refulgência dos dedos dos pés de
Bhagavan, os quais se assemelham às
pétalas de um lótus. Mas os yogis que
carecem de bhakti não podem faze-lo
mesmo que estejam livres das inclinações
mundanas e controlem seus sentidos. Por
tanto, abandona todo esforço para
controlar os sentidos e dedica ao Bhajana
de Sri Vasudeva. Os que praticam yoga e
outros processos com desejo de cruzar o
oceano da existência material, que está
infestado pelos crocodilos dos sentidos,
tem que enfretar dificuldades extremas se
não refugiam em Bhagavan, quem é
comparado a uma embarcação. Assim
sendo, ó Rei, deves aceitar os pés de lótus
do adorável Bhagavan como a
embarcação para cruzar este oceano
insuperável e cheio de obstáculos”.
Mesmo que este destino se alcance depois
de grandes dificuldades, na realidade só é
possível chegar à meta com a assistência
de bhakti. Sem bhakti por Bhagavan, o
adorador do brahma não apenas deve
experimentar misérias mas também não
alcança Bhagavan.

Prakasika-vrtti
Os adoradores do nirvisesa-brahma
enfrentam dificuldades tanto na etapa de
sadhana quanto na de siddha, pois
nenhum sadhana pode outorgar a
perfeição sem a assistência de bhakti.
Quem adora o nirvisesa-brahma se esfórça
para adquirir brahma-jnana apoiando-se
em bhakti como um processo secundário.
Em troca, Bhakti-devi os recompensa com
resultado secundário, brahma-jnana, e
logo desaparece. As pessoas que adoram o
brahma ficam impedidas de saborear o
nome, forma, qualidades e os passatempos
de Sri Krsna.
Elas se submergem em um oceano de
grande miséria na forma de sayujya-
mukti. É um processo auto destrutivo. Por
esta razão, o Srimad Bhagavatam declara
(10.14.4).
“Meu querido senhor, o bhajana a ti é o
caminho mais elevado para a realização
do ser. Se alguém abandona este caminho
e se dedica ao cultivo de conhecimento
especulativo, simplesmente encontrará um
caminho problemático e não alcançará sua
meta”.
Tanto a etapa de sadhana como a de
sadhya se descrevem como sendo
problemáticas para os nirvisesa jnanis. Ao
contrário, bhakti é super prazeirosa e
auspiciosa em ambas as etapas. O Srimad
Bhagavatam declara (4.22.39):
“Os bhaktas, que estão sempre ocupados
no serviço aos dedos dos pés de lótus de
Sri Bhagavan, podem desatar facilmente o
nó dos desejos pelas atividades fruitivas.
Faze-lo através de outro processo é tão
difícil, que não tem êxito em suas
empresas aqueles que não são devotos, os
jnanis e os yogis, que se esforçam
constantemente para deter as ondas do
desfrute sensual. Te aconselho então, que
te dediques ao bhajana a Sri Krsna, o filho
de Vasudeva”.

Srila Bhaktivinoda Thakura diz: “ A


diferença entre um jnani-yogi e um
bhakti-yogi é que na etapa de sadhana o
bhakta pode cultivar facilmente o
processo para obter o objetivo supremo,
Bhagavan, e alcança a etapa de perfeição
sem temor à auto destruição. Ao
contrário, durante seu sadhana, um jnani-
yogi se estabelece na realidade imanifesta
e tem que sofrer o problema que implica a
prática do conceito da negação, pensando
sempre: “Isto não é, isto não é”. É um
processo que supõe pensar de uma
maneira contrária à atitude natural ou
função constitucional da jiva, e, por tanto,
resulta em um processo muito penoso
para as entidades vivas.
A jiva é uma entidade consciente e eterna
e se ela se funde no estado imanifesto que
é um suicidio pra ela, sua qualidade
constitucional e plena da tendência de
servir Krsna, é destruída.

Sloka 6-7

Ye tu sarvani karmani
Mayi sannyasya mat-parah
Ananyenaiva yogena
Mam dhyayanta upasate

Tesam aham samuddharta


Mrtyu-samsara-sagarat
Bhavami na cirat partha
Mayy avesita-cetasam

Mas, aos amorosos bhaktas que realizam


todas suas ações com o propósito de
alcançar me e absorvem-se
exclusivamente em meu bhajana com
devoção imaculada, eu os libero
rapidamente deste oceano de nascimento e
morte.

Prakasika-Vrtti

Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna: “


Eu libero rapidamente do oceano da
existência material, caracterizado pelo
nascimento e morte, quem se refugia em
meu aspecto pessoal. Eles submetem à
minha bhakti todas suas atividades
corporais, sociais, e adorando minha
eterna e charmosa forma humana de
Krsna, eles absorvem seus corações
completamente em mim. Após resgata-los
do cativeiro de maya, eu os protejo da
tendencia suicida de adotar o conceito
monista, o qual é causa de infortúnio para
as pessoas apegadas ao imanifesto.”

Sloka 8

Mayy eva mana adhatsva


Mayi buddhim nivesaya
Nivasisyasi mayy eva
Ata urddhvam na samsayah

Fixa tua mente exclusivamente em minha


forma Syamasundara e ocupa tua
inteligência por completo em mim.
Assim, após abandonar o corpo, virás
viver comigo. Não há nenhuma dúvida
quanto a isto.

Prakasika-Vrtti

Nestes versos, Sri Krsna explica o


processo de prática adotado por seus
ananyas-bhaktas. Antes de mais nada ele
diz a Arjuna: “Ó Arjuna, eu libero
rapidamente do oceano de nascimento e
morte e, finalmente, lhe concedo meu
prema-mayi-seva, a meu ananya-bhakta
que se rendeu a mim e abandonou o
varnasrama-dharma. Por tanto, deves fixar
tua mente em mim, a Realidade Absoluta
Transcendental Suprema. Eliminando
todos os desejos de desfrute sensual do
teu pensamento, absorva-se
exclusivamente em mim”. A mente segue
as tendências da aceitação e refutação, por
tanto, para fixar a mente em Bhagavan é
necessário render a inteligência a ele
depois de desconectar a mente de todos os
objetos sensíveis.
Deste modo, usando Arjuna como seu
instrumento, Sri Bhagavan mostra que
bhakti é por si só o melhor dos sadhanas e
o melhor sadhya. Por tanto, é
indispensável recordar constantemente
sua forma eterna de Syamansudara
fixando a mente nele e rendendo a
inteligência a ele.

Sloka 9

Atha cittam samadhatum


Na saknosi mayi sthiram
Abhyasa-yogena tatos
Mam icchaptum dhananjaya

Ó Dhananjaya! Se não és capaz de fixar a


mente em mim com determinação, entao
deves desejar alcançar-me controlando e
fixando a mente em mim através da
prática de retrai-la constantemente dos
objetos sensiveis.
Bhavanuvada

O verso dá enfase a palavra Dhananjaya.


Assim como Arjuna acumulou uma
grande quantidade de riqueza (dana)
conquistando seus inimigos, ele também é
capaz de conquistar a riqueza da
meditação (dhyana) em Bhagavan,
conquistando e controlando sua mente.

Prakasika-vrtti

No verso anterior, Sri Bhagavan


aconselha todas as pessoas a se dedicarem
exclusivamente a ele fixando a mente e
inteligência nele. Neste sentido poderia
surgir a seguinte pergunta: “Assim como
o Ganges flui até o oceano, aqueles cuja
atitude ou corrente mental se dirige
sempre e velozmente até Bhagavan,
podem alcança-lo rapidamente. Disto não
resta dúvida. Mas, como alguém pode
alcançar Bhagavan se não tem esta forte
corrente mental ou sentimental para com
Ele?” Bhagavan oferece uma Segunda
opção como resposta: “Aqueles que são
incapazes de fixar a mente em mim com
firmeza e constância pelo método
anteriormente dito, deve tratar de
alcançar-me através de abhyasa-yoga, a
tentativa de fixar a mente em mim
diminuindo gradualmente sua tendência
de absorver-se nos diversos objetos
sensíveis. Através de abhyasa-yoga, a
mente se apega lentamente a mim.”

Sloka 10

Abhyase ´py asamartho´si


Mat-karma-paramo bhava
Mad-artham api karmani
Kurvan siddhim avapsyasi

Se não podes ocupar-te em abhyasa-yoga,


podes dedicar então a atuar para mim,
pois através da execução de atividades
como sravanam (ouvir) e kirtanam
(cantar) para meu prazer, sem dúvida
alcançarás a perfeição.

Bhavanuvada

“Ó Arjuna, assim como uma pessoa cuja


língua está afetada por icterícia não deseja
comer açúcar, uma mente contaminada
pela ignorância não aceita a doçura de
minha forma. Por tanto, se pensas que não
podes realizar abhyasa por que não és
capaz de lutar contra tua formidável e
poderosa mente, então escuta. Através das
atividades realizadas para meu prazer, tais
como escutar e cantar meus passatempos,
orar, adorar-me, limpar meu templo, regar
tulasi, colher flores e outros serviços,
alcançarás a perfeição de se converter em
meu querido associado mesmo sem
recordar-me constantemente.”
Aqui, Krsna oferece uma terceira opção a
Arjuna.

Sloka 11

Athaitad apy asakto ´si


Karttum mad-yogam asritah
Sarva-karma-phala-tyagam
Tatah kuru yatatmavan

Mas se não és capaz de trabalhar para


mim desta forma, refugia-te em minha
bhakti-yoga renunciando e oferecendo-me
os resultados de tuas ações com uma
mente controlada.

Bhavanuvada

Os seis primeiros capítulos explicam o


niskama-karma-yoga, as atividades
oferecidas a Bhagavan como meio de
alcançar moksa (liberação).
Os seis capítulos intermediários
descrevem bhakti-yoga como meio para
alcançar Bhagavan. Bhakti-yoga é de duas
classes: a primeira está constituída pelas
ações dos sentidos internos fixos em
Bhagavan e a Segunda pelas atividades
dos sentidos externos. A primeira classe
se subdivide em três categorias: smarana
ou lembrança, manana ou meditação, e
abhyasa ou a prática de quem não é capaz
de recordar constantemente porém estão
ansiosos por faze-lo. As três práticas são
muito difíceis para os menos inteligentes,
mas são fáceis para quem está livre de
ofensas e dedicados ao cultivo da
inteligência pura. A Segunda classe de
bhakti-yoga, que ocupa os sentidos
externos, é um método muito mais fácil.
Quem está dedicado a alguma destas duas
classes de bhakti são superiores ao resto,
segundo se descreve nos seis primeiros
capítulos da Gita. Quem não é capaz de
realizar nenhuma destas duas classes de
bhakti e não podem adorar Sri Bhagavan
através do controle dos sentidos e da
mente, pode oferecer o niskama-karma-
yoga a Bhagavan, segundo se descreve
nos seis primeiros capítulos. Sem dúvida,
o niskama-karma-yoga é inferior aos dois
tipos de bhakti-yoga mencionados acima.

Prakasika-vrtti

Na declaração”mat-karma-paramo bhava”
do verso anterior, Sri Krsna aconselha,
entre outras atividades, limpar seu templo,
regar Tulasi e manter seus jardins. Ao
escutar isto, Arjuna se pergunta o que
deve fazer uma pessoa que, por nascer em
uma família aristocrática ou ser
socialmente respeitada, considera
insignificantes estes serviços a Bhagavan,
os quais são simples, fáceis e felizmente
executáveis e recusa a faze-lo. No
presente verso, Bhagavan Sri Krsna,
compreendendo a mente de Arjuna,
oferece a quarta opção: “Se alguém é
incapaz de executar estes simples serviços
a Bhagavan, então o único meio é a
adoção do processo de niskama-karma-
yoga, o trabalho desinteressado oferecido
a Bhagavan”. Sem dúvida, não é correto
evitar realizar serviços como limpeza do
templo, devido ao falso ego material.
Mesmo que o rei Ambarisa fosse senhor
das sete ilhas da terra, estava
constantemente ocupado no serviço a
Bhagavan, limpando seu templo com suas
próprias mãos e realizando outros
serviços. Segundo o caitanya-caritamrta, o
rei Prataparudra varria a rua em frente à
carroça de Sri Jagannatha Deva durante o
festival Rathayatra em Jagannatha Puri.
Ao ver esta atitude de serviço, Sri
Caitanya Mahaprabhu ficou muito
satisfeito com ele. Por tanto, de acordo
com as instruções do nosso guru-varga,
mesmo o mais insignificante serviço a Sri
Bhagavan é muito favorável para nós. O
pensar que serviços como limpeza do
templo são insignificantes e considerar-se
superior devido ao ego material, é a causa
do abandono da busca pela meta
transcendental.
O muito compassivo Bhagavan Sri Krsna
oferece outra opção para quem, devido ao
complexo de superioridade, é incapaz de
se dedicar ao serviço devocional. A
pessoa deve atuar livre do desejo de
desfrutar dos resultados do seu karma, e
deve oferecer os resultados a Bhagavan.

Sloka 12

Sreyo hi jnanam abhyasaj


Jnanad dhyanam visisyate
Dhyanat karma-phala-tyagas
Tyagac chantir anantaram

Melhor do que o abhyasa é o jnana que


estimula a contemplação de mim.
Superior a este tipo de jnana é a
meditação através da qual a pessoa me
recorda constantemente. Esta meditação
conduz à renúncia aos frutos das ações.
Mediante tal renúncia, a pessoa se libera
dos desejos de desfrutar de Svarga e obter
moksa. Deste modo ela obtém paz mental.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan recita este verso para


explicar, em ordem ascendente, a
graduação entre abhyasa, manana e
smarana. “Jnana significa absorver a
inteligência em mim, porque a
contemplação (manana) de mim é
superior à abhyasa”. A meditação abhyasa
requer grande esforço e é difícil devido
aos obstáculos, mas se alcança a etapa de
manana, sua execução é facilitada. Isto é
superior ao jnana, porque a meditação
conduz à renúncia aos frutos da ação, ou
melhor dizendo, dissipa os desejos pelos
resultados das ações tais como prazeres
em Svarga ou obter moksa.

Sloka 13-14

Advesta sarva-bhutanam
Maitrah karuna eva ca
Nirmamo nirahankarah
Sama-duhkha-sukhah ksami

Santustah satatam yogi


Yatatma drdha-niscayah
Mayy arpita-mano-buddhir
Yo mad-bhaktah as me priyah

Meu bhakta que não é invejoso e que é


compassivo e amistoso com todas as
entidades vivas, que está livre do
sentimento de posse e carece de falso ego,
que é equilibrado na felicidade e na
aflição, que é magnânimo, que está
sempre satisfeito e dotado com bhakti-
yoga, que controla seus sentidos e está
completamente dedicado a mim tanto com
sua mente como com sua inteligência, é
muito querido por mim.

Bhavanuvada

Qual é a natureza dos bhaktas que


obteram o estado de paz mencionado?
Prevendo esta pergunta de Arjuna, Sri
Bhagavan explica as qualidades de seus
bhaktas em oito versos, começando com
este. Uma pessoa que não inveja ninguém,
nem mesmo os que tem inveja por ele, se
não que tem uma relação amistosa com
ela, se chama advesta. Desejando que a
pessoa descontente não se degrade ou caia
de sua posição devido a uma atitude
invejosa, os bhaktas sentem compaixão
por ela. Se alguém perguntasse como e
com qual tipo de discriminação alguém
pode mostrar amizade e compaixão para
com pessoas invejosa, a resposta é que
estas atitudes existem naturalmente nos
bhaktas, pois não discriminam. “ Meu
bhakta está livre da inveja porque é
nirmamah, ele não abriga sentimentos de
posse para com seus filhos, esposa, e
demais pessoas, e ao mesmo tempo, não
se identifica com o corpo”.
O Senhor Siva afirma no Srimad
Bhagavatam (6.17.28):
“Os que se dedicam a Sri Narayana não
temem nada, pois vêem que Svarga, a
liberação e o inferno são iguais”. A
capacidade de ver a felicidade e a aflição
com equanimidade se denomina sama-
darsitva. Além do mais, eles aceitam que
devem enfrentar o sofrimento, pois é o
resultado de seu prarabdha-karma.
Mantendo-se equânimes, suportam todas
as misérias com grande tolerância
Se alguém se pergunta como os bhaktas
podem manter suas vidas, a resposta é
“santustah, se satisfazem com qualquer
alimento que obteem pela vontade da
providência ou com pouco esforço”.
Arjuna perguntou: “ Mas antes você disse
que eles são equânimes, tanto na miséria
quanto na felicidade e devem enfrentar a
adversidade que significa não Ter comida.
Como podem sentir-se satisfeitos quando
conseguem alimentos por conta própria?
Isto parece contraditório”. Bhagavan
responde satatam yogi, “Dotados com
bhakti-yoga, desejam manter seus corpos
com o único desejo de alcançar a
perfeição em bhakti”. Se por vontade da
providência não consegue nada para
comer, estas pessoas permanecem
imperturbáveis. Se enfrentam uma
situação que perturbe sua mente, eles não
praticam astanga-yoga para sossega-la.
Por este motivo são conhecidos como
drdha-niscayah; eles jamais se desviam do
propósito exclusivo de obter ananya-
bhakti por Bhagavan. “Os bhaktas são
muito queridos por mim e atuam apenas
para satisfazer-me”.

Prakasika – vrtti

Nos versos anteriores, depois de descrever


os diversos tipos de sadhana praticados
pelos bhaktas exclusivos e determinados,
Sri Bhagavan explica suas qualidades nos
próximos sete versos. Aqui a palavra
advesta significa que eles não invejam.
Eles pensam que a inveja é produto de
prarabdha-karma administrado por
Paramesvara, por tanto, não invejam
ninguém. Pelo contrário, considerando
que todos os seres são a morada de
Paramesvara, manteem uma atitude
amistosa com eles. Ao ver o sofrimento
dos demais, qualquer que seja a causa,
tratam de alivia-lo. Por tanto, são
compassivos. Consideram que o corpo e
tudo que está relacionado com ele são
apenas transformações da natureza
material e diferentes de seu atma-svarupa,
por isso não tem nenhum sentido de posse
com seus próprios corpos e ao atuar,
permanecem livres da falsa identificação
corpórea. Quando enfrentam felicidade e
aflição materiais não sentem euforia nem
lamentação, senão que permanecem
equânimes em ambas situações. Pelo fato
de serem magnânimos, são também
tolerantes. Como sempre estão satisfeitos
em todas situações, seja na derrota ou
vitória, fama ou infâmia, se consideram
yogis e permanecem firmemente
estabelecidos no sadhana sob guia de Sri
Gurudeva. A palavra yatatma significa”
aquele que controla os sentidos”. Sua
determinação é firme, pois nenhuma falsa
lógica lhe perturba. No mundo material,
nenhuma miséria pode desvia-los de
bhagavad-bhakti. A qualidade especial
dos ekantika-bhaktas consiste no fato que
estão dotados com fé firme com a qual
permite-lhes entender “ Sou o servo de
Bhagavan”, e sua mente, corpo e demais
posses está rendidos aos pés de lótus de
Sri Bhagavan. Por tanto, os ekantika-
bhaktas são muito queridos por ele.

Sloka 15

Yasman nodvijate loko


Lokan nodvijate ca yah
Harsamarsa-bhayodvegair
Mukto yah sa ca me priyah

O bhakta que não perturba ninguém nem é


perturbado pelos outros, que está livre da
felicidade mundana, da intolerância, do
temor e da ansiedade, é sem dúvida muito
querido por mim.

Bhavanuvada
No Srimad Bhagavatm (5.18.12) se diz:
“Os semideuses e suas qualidades,
residem apenas em quem possui ekantika-
bhakti por Bhagavan”. Estas e outras
qualidades que satisfazem Bhagavan
surgem naturalmente pela prática contínua
de sua bhakti.

Prakasika – vrtti

Nestes versos, Bhagavan descreve outras


qualidades dos devotos de Bhagavan que
se manifestam de forma natural através da
prática de bhakti. Como disse
anteriormente, não há possibilidade de
que o comportamento dos meus bhaktas
cause danos a alguém, pois estão livres da
tendência de ser violentos com qualquer
entidade viva, e além disso, tem uma
disposição compassiva para com todos.
Eles não provocam temor ou ansiedade a
ninguém. É impossível alguém agitá-los
visto que são equânimes tanto na
felicidade quanto no sofrimento. Quando
alcançam a meta desejada não sentem
euforia e nem tampouco sentem inveja ao
ver a superioridade ou o progresso dos
demais. Suas mentes jamais se perturbam
pelo temor ou ansiedade de perder alguma
posse.

Sloka 16
Anapeksah sucir daksa
Udasino gata-vyathah
Sarvarambha-parityagi
Yo mad-bhaktah sa me priyah

Este meu bhakta, que é indiferente a todas


as atividades mundanas, que é puro tanto
interna quanto externamente, que é hábil,
que está desapegado e livre de toda
agitação, e que evita cuidadosamente
qualquer atividade desfavorável à bhakti,
é muito querido por mim.

Yo na hrsyati na dvesti
Na socati na kanksati
Subhasubha-parityagi
Bhaktiman yah as me priyah

Aquele que não se deleita com prazeres


mundanos nem se desespera com as
dificuldades materiais, que não se lamenta
pela perda nem anseia a ganância, que
renuncia às atividades piedosas e
impiedosas e que me serve com devoção
amorosa, é sem dúvida um bhakta muito
querido por mim.

Prakasika-vrtti

“Os devotos (bhaktas) que não se


regozijam quando tem um bom filho ou
um bom discípulo, nem se sentem
decepcionados por um filho desobediente
ou um mal discípulo; que não se
absorvem na lamentação pela perda de um
objeto amado nem desejam um objeto
prazeiroso que não possuem; que não se
ocupam em atividades piedosas ou
impiedosas e estão dedicados a mim, são
muito queridos por mim.”

Slokas 18 – 19

Samah satrau ca mitre ca


Tatha manapamanayoh
Sitosna-sukha-duhkhesu
Samah sanga-vivarjitah

Tulya-ninda-stutir mauni
Santusto yena kenacit
Aniketah sthira-matir
Bhaktiman me priyo narah

Abençoado por minha bhakti, aquele que


é igual ao lidar com amigos e inimigos,
equilibrado na honra e na desonra, no frio
e no calor, na felicidade e no sofrimento,
no elogio e na crítica; que não busca a
associação desfavorável e pratica o
silêncio mediante controle da fala, que
permanece satisfeito com qualquer coisa,
que não está apegado ao seu lugar
residencial e que cuja inteligência está
firmemente estabelecida, este bhakta
(devoto) é muito querido por mim.
Prakasika-vrtti

Sri Krsna conclui agora sua glorificação


das qualidades naturais de seus queridos
devotos nestes dois versos.

Sloka 20

Ye tu dharmamrtam idam
Yathoktam paryupasate
Sraddadhana mat-parama
Bhaktas te tiva me priyah

Sem dúvida, meus bhaktas que se


dedicam exclusivamente ao meu bhajan
com fé firme e adoram o nectáreo dharma
que foi descrito, são sumamente queridos
por mim.

Bhavanuvada

Ao concluir sua descrição das


características que se encontram nos
bhaktas firmemente estabelecidos em sua
bhakti, Sri Bhagavan explica o resultado
para quem escuta, estuda ou medita nestas
características com anseio de desenvolve-
las. Todas as características citadas
nascem de bhakti e produzem paz, elas
não são qualidades materiais. Nas
escrituras se diz: “ Apenas satisfaz Krsna,
aquele que possui bhakti, e não aquele
que possui qualidades materiais.”
Bhakti é supremo, prazeiroso e
constituem a meta mais difícil de ser
alcançada. Neste capítulo foram ditas
muitas de suas qualidades. Foi descrito
que o jnana é como um limão amargo e
bhakti como uma doce uva. Os sadhakas
ansiosos por algum desses sabores devem
aceitar um deles de acordo com sua
preferência pessoal.

Assim se conclui o décimo segundo


capítulo do Srimad Bhagavd Gita

Capítulo 13

Prakrti-Purusa-Vibhaga-Yoga

A diferença entre a natureza material e o


desfrutador

Sloka 1

Arjuna uvaca
Prakrtim purusancaiva
Ksetram ksetrajnam eva ca
Etad veditum icchami
Jnanam jneyanca kesava
Arjuna disse: Ó Kesava! Gostaria de
compreender a natureza material (prakrti),
o desfrutador (purusa), o campo (ksetra),
o conhecedor do campo (ksetrajna), o
conhecimento (jnana) e o objeto do
conhecimento (jneya).

Bhavanuvada

Ofereço minhas reverências à bhagavad-


bhakti, parte do qual está
misericordiosamente situado nos
processos tais como o jnana com o
objetivo de garantir o êxito neles. Nesta
terceira série de seis capítulos se descreve
bhakti-misra-jnana mesclado com bhakti.
Também se faz referência à supremacia de
kevala-bhakti. O capítulo treze trata
especificamente dos assuntos do corpo
(ksetra), a jivatma e Paramatma
(ksetrajna), o sadhana para conhece-los, o
desfrutador (purusa) e a natureza (prakrti).
Só pode-se alcançar Bhagavan através de
kevala-bhakti, isto se descreveu na
segunda série de seis capítulos.

Prakasika-Vrtti

O Srimad Bhagavad Gita consta de


dezoito capítulos que se dividem em três
partes. Os primeiros seis capítulos
descrevem o niskama-karma-yoga, o
bhakti-misra-jnana e os temas relevantes
sobre jivatma e Paramatma. A Segunda
série seis capítulos explica as glórias de
kevala-bhakti, deliberam sobre o para e
apara bhakti, e descrevem as glórias da
svarupa de Sri Bhagavan e do bhakta.
Também explica a peculiaridade e
supremacia de bhakti sobre os outros
processos e começa a falar
detalhadamente sobre temas relacionados.
O tattva jnana, que se descreveu, é
explanado na terceira série de seis
capítulos. A presente descrição é uma
parte da explanação sobre a natureza
material, o desfrutador, o campo e o
conhecedor do campo. A instrução mais
confidencial do Gita é dada no capítulo
dezoito.

Sloka 2

Sri bhagavan uvaca


Idam sariram kaunteya
Ksetram ity abhidhiyate
Etadyo vetti tam prahuh
Ksetrajna iti tad-vidah

Sri Bhagavan disse: Ó Kaunteya! Os que


estão dotados com conhecimento acerca
de ksetra e ksetra-jna sabem que o corpo é
conhecido como ksetra (o campo) e
aquele que conhece o corpo se denomina
ksetra-jna (o conhecedor do campo).
Bhavanuvada

O que é ksetra? E o que é ksetra-jna? Em


resposta a esta pergunta, Sri Bhagavan
recita este verso, que começa com a
palavra idam. O corpo se denomina ksetra
em razão de ser o refúgio de todo o
desfrute sensual; em outras palavras, é a
origem da árvore da existência material.
As jivas condicionadas estão cobertas
pelo conceito errôneo gerado pelo falso
ego de “eu” e “meu” com relação a seus
corpos, e não se libertam desta
mentalidade até que alcançam o estado de
liberação. Em outras palavras, se
desapegam do corpo apenas quando se
liberam. A jiva situada em qualquer destes
estados se conhece como ksetra-jna.
Sri Bhagavan diz no Srimad Bhagavatam
(11.12.23)

“As almas condicionadas ignorantes que


estão ávidas por obter objetos sensíveis
experimentam misérias como um dos
frutos da árvore da existência material.
Em última análise os planetas celestiais
também são miseráveis. Por outro lado as
mukta jivas ou almas liberadas que vivem
na árvore obtém outra classe de fruto: a
eterna felicidade da liberação. Assim
sendo, a árvore da existência material
conduz a distintos destinos como Svarga
(planetas celestiais), Naraka(o inferno) e a
liberação. Considera-se por tanto, que a
árvore está composta por maya e tem
múltiplas formas devido a que nasce de
maya-sakti. Apenas os que aceitam um
sad-guru compreendem este segredo e
conhecem realmente o ksetra e o ksetra-
jna.”

Prakasika-Vrtti

Após escutar as perguntas de Arjuna,


Bhagavan Sri Krsna estabelece que o
corpo da jiva condicionada, juntamente
com seu ar vital e sentidos, constituem
seu lugar de desfrute e se denomina
ksetra. Aquele que conhece o corpo
entende que ele é o meio de desfrute para
quem está no estado condicionado e o
meio de alcançar a liberação para os que
estão na etapa de moksa. A jiva situada
em qualquer destes estados se denomina
ksetra-jna. Não obstante, Sri Baladeva
Vidyabhusana diz: “A jiva que se
identifica com o corpo não compreende o
tattva do corpo. Por tanto não é ksetra-
jna.”
Os que aceitam seu corpo como seu ser, o
considera unicamente como meio para o
desfrute. Intoxicados pelo falso ego
material, estão atados ao samsara ou
existência material; vida após vida, seu
único ganho é a miséria. Ao contrário, os
que se liberam do ego material enquanto
permanecem no corpo e oferecem serviço
a Sri Hari, alcançam gradualmente a
felicidade de moksa. Conseguem o êxito
ao obter a oportunidade de servir
Bhagavan.

Sloka 3

Ksetrajnam capi mam viddhi


Sarva-ksetresu bharata
Ksetra-ksetresu bharata
Ksetra-ksetrajnayor jnanam
Yat taj jnanam matam mama

Ó Bharata! Deves saber que sou o único


conhecedor de todos os ksetras. O
conhecimento do corpo como sendo
ksetra, e o conhecimento da jiva e isvara
como ksetra-jna é um conhecimento
verdadeiro. Esta é minha opinião.

Bhavanuvada

Assim sendo, a entidade viva se denomina


ksetra-jna poruqe tem conhecimento sobre
o ksetra, mas Paramatma tem um
conhecimento mais profundo que as jivas
pois conhece cada aspecto de todos os
ksetras. Este verso, que começa com as
palavras ksetra-jnam, explica seu ksetra-
tattva ou a qualidade de conhecer o ksetra.
Sri Bhagavan diz: “Você deve saber que
u, Paramatma, sou ksetra-jna que está
situado como o controlador de todos os
ksetras. A jiva é ksetra-jna apenas de seu
ksetra individual e ainda sim seu
conhecimento é incompleto. Sou o único
que conhece todos os ksetras
completamente. Esta é minha
peculiaridade”.

Sloka 4

Tat ksetram yac ca yadrk ca


Yad-vikari yatas ca yat
As ca yo yat prabhavas ca
Tat samasena me srnu

Agora escuta minha breve descrição do


ksetra, suas características e
transformações, porque e de quem surgiu
e qual é a natureza e a influência do
ksetra-jna.

Bhavanuvada

Neste verso que começa com as palavras


tat ksetram, Sri Bhagavan fala mais
profundamente sobre o significado da
palavra ksetra, que já foi mencionada de
maneira simples. O ksetra é uma
combinação de cinco elementos, o ar vital
e os sentidos.”Escuta como o ksetra, o
campo integrado por um corpo grosseiro e
outro sutil, possui diferentes tipos de
natureza, desejos e transformações tais
como a inimizade e amizade. Escuta como
nasce da união da prakrti e o purusa e
como se manifesta de maneira diferente
em distintas formas móveis e imóveis. O
ksetra-jna é a jivatma e também
Paramatma.” De acordo com as regras da
gramática sanscrita, a palavra ksetra-jna é
usada aqui em gênero neutro porque a
palavra ksetra se utiliza em tal gênero.

Sloka 5

Rsibhir bahudha gitam


Chandobhir vividhaih prthak
Brahma-sutra-padais caiva
Hetumadbhir viniscitaih

Os sábios explicaram o princípio do


ksetra e do ksetra-jna de muitas formas
diferentes em inúmeras escrituras védicas,
e no brahma-sutra canta-se com uma
lógica perfeita e com evidências
categóricas.

Bhavanuvada

“Quem descreve sobre este tema que você


irá me explicar agora?”
Antecipando a pergunta de Arjuna, Sri
Bhagavan diz: “Santos como Vasistha,
entre outros, descreveram o tema nos seus
yoga-sastras. Chandobhir significa que se
explica nos Vedas e também no Brahma-
sutra, em sutras ou aforismos como athato
brahma-jijnasa.
Visto que as características do brahma, a
Suprema Verdade Absoluta, estão
sustentadas pelos sastras, estes se
conhecem como pada ou,”aquele que
proporciona evidência para demonstrar
sua existência”. Qual é a natureza do
brahma? Bhagavan responde: “ Os
videntes que percebem tudo em termos de
causa e efeito a definem no brahma-sutra;
iksate nasabdam, “ O Senhor Supremo
não é indescritível e, anandamayo
bhyasat, O Senhor Supremo é bem-
aventurado por natureza”.

Slokas 6 -7

Maha-bhutany-ahankaro
Buddhir avyaktam eva ca
Indriyani dasaikanca
Panca cendriya-gocarah

Iccha dvesah sukham duhkham


Sanghatas cetana dhrtih
Etat ksetram samasena
As-vikaram udahrtam

Os cinco grandes elementos, o falso ego, a


inteligência, a prakrti, os onze sentidos, os
cinco objetos dos sentidos, os desejos, a
aversão, a felicidade, a miséria, o corpo, o
conhecimento e a paciência constituem
uma breve descrição do ksetra, junto com
suas transformações mundanas.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan explica a natureza do ksetra.


A terra, a água, o fogo, o ar e o céu, sua
causa (falso ego), a inteligência na forma
de razões científicas, o maha-tattva (causa
do falso ego), a prakrti (causa do maha-
tattva), os dez sentidos de trabalho e
aquisição de conhecimento, a mente e os
cinco objetos sensíveis (tais como o som e
o tato) fazem referência aos vinte quatro
elementos.

Slokas 8 –12

Amanitvam adambhitvam
Ahimsa ksantir arjavam
Acaryopasanam saucam
Sthairyam atma-vinigrahah

Indriyarthesu vairagyam
Anahankara eva ca
Janma-mrtyu-jara-vyadhi
Dunkha-dosanudarsanam

Asaktir anabhisvangah
Putra-dara-grhadisu
Nityanca sama-cittatvam
Istanistopapattisu
Mayi cananya-yogena
Bhaktir avyabhicarini
Vivikta-desa-sevitvam
Aratir jana-samsadi

Adhyatma-jnana-nityatvam
Tattva-jnanartha-darsanam
Etaj jnanam iti proktam
Ajnanam yad ato´nyatha

O desapego do desejo de honra, a


humildade, a não violência, a tolerância, o
perdão, o serviço a um Guru genuíno, a
pureza tanto interna como externa, a
constância, o controle do corpo e dos
sentidos, o desapego dos objetos dos
sentidos, a ausência de falso ego, a
constante percepção das misérias do
nascimento, morte, velhice e doença, o
desapego da esposa, filhos etc, a
indiferença na felicidade e na tristeza etc,
a equanimidade com o ganho de objetos
favoráveis ou desfavoráveis, bhakti
incondicional, determinada e ininterrupta
a mim, gosto pela solidão e aversão a
associação com pessoas materialistas, a
meditação interna constante, os princípios
da auto realização que falei anteriormente,
isto é conhecimento verdadeiro. Qualquer
outra atitude é somente ignorância.

Bhavanuvada
Nestes cinco versos, Sri Bhagavan explica
vinte meios, sadhanas, para se alcançar a
meta. O primeiro deles é a humildade.
Também explica as qualidades as
qualidades dos ksetra-jnas – jivatma e
Paramatma, que são diferentes das
características do ksetra previamente
mencionadas. Dezoito destas qualidades
são gerais e servem tanto para os jnanis
como para os bhaktas. Bhagavan afirma:
mayi cananya-yogena bhaktir
avyabhicarini. Para poder percebe-lo, é
indispensável que os devotos se esforcem
com sinceridade na ekantika-bhakti.
Dezessete qualidades, começando com a
humildade, se manifestam de forma
natural nos devotos que praticam a
devoção pura; eles não necessitam
esforços separados para adquirir estas
qualidades. As duas últimas qualidades,
não obstante, são exclusivas dos jnanis.
Esta é a opinião da comunidade dos
devotos.
Ainda sim, os jnanis têm uma opinião
diferente. Alegam que ananya yogena
significa ver o ser em tudo e avyabhicarini
significa executar o yoga todos os dias.
Segundo Sripada Madhusudana Sarasvati,
a palavra avyabhicarini significa “aquele
que não pode ser detido por nada”. A
palavra adhyatma-jnana se refere ao
conhecimento que se encontra no ser e
que deve praticar-se constantemente se
desejam a purificação do ser.
Os sintomas da ignorância (ajnana), tais
como o desejo de honra, se opõem às
qualidades mencionadas.

Prakasika-vrtti

Bhaktivinoda thakura diz que destas vinte


qualidades citadas neste verso deve-se
adotar a devoção imaculada e
incondicional a Sri Krsna e que as outras
dezenove qualidades são frutos
secundários desta bhakti.

Sloka 13

Jneyam yat tat pravaksyami


Yaj jnatva ´mrtam asnute
Anadimat param brahma
Na sat tan nasad ucyate

Agora te explicarei o que é jneya, aquele


que se deve conhecer, pois ao
compreende-lo, obtém-se moksa
(liberação). O brahma que não tem
começo e depende de mim, está além da
causa e do efeito desta criação.

Prakasika-vrtti

Préviamente Sri Bhagavan explicou o


método para se obter jnana. Neste verso
desenvolve-se o assunto sobre o para-
tattva conhecível, que é a meta do jnana.
Os jnanis pensam que o para-tattva é o
nirvisesa-brahma. Imaginam que o para-
tattva carece de nome, forma, qualidades,
atividades e associados; um vazio que não
se pode descrever com adjetivos como “O
dono das energias”, diversificado ou
ativo. Os suddha-bhaktas que se refugiam
em ananya-avyabhicarini bhakti, veem o
parabrahma, o para-tattva, como Sri
Krsna, a Verdade Absoluta, o qual é a
personificação dos jogos transcendentais e
a base de todas as qualidades, energias e
doces relações que estão livres das
insignificantes qualidades materiais.
Ainda que em algumas passagens dos
srutis se descreve contextualmente o
tattva como nirvisesa, estas descrições só
negam que Krsna possui qualidades
materiais, não que não tem qualidades
transcendentais. Os sastras iluminam este
profundo segredo.

“Os próprios mantras védicos que


descrevem primeiro o tattva como
nirvisesa, o mostram como savisesa.
Ambos são aspectos de Bhagavan, mas
uma consideração mais profunda revela
que o savisesa-tattva é superior visto que
apenas este é perceptível neste mundo
material, enquanto o nirvisesa-tattva não
se experimenta em absoluto”. (Hayasirsa-
pancaratra)

Sloka 14

Sarvatah pani-padam tat


Sarvato ksi-siro-mukham
Sarvatah srutimal loke
Sarvam avrtya tisthati

Suas mãos e seus pés estão em todas as


partes. Seus olhos, cabeças e rostos se
infiltram em todas as direções e ele
também ouve tudo. Situado desta maneira,
o brahma penetra em todo universo.

Bhavanuvada

Afirmar que o brahma é distinto da causa


e do efeito não contradiz os srutis como:
sarvam khalv idam brahma, “tudo isto é
brahma”.
Antecipando este tipo de pergunta,
Bhagavan explica que por natureza o
brahma está além da causa e efeito, e é
tanto a causa e efeito, visto que a energia
e o possuidor da energia são não
diferentes. Por tanto, ele disse que suas
mãos e pés entram em todas as partes. Isto
implica que o brahma tem limitados
braços e pés na forma de dois braços e pés
de cada entidade viva visível, desde o
Senhor Brahma até uma diminuta
formiga. Assim mesmo, seus olhos,
cabeças, bocas e ouvidos estão também
em todas as partes.

Prakasika-vrtti

No verso anterior se descreveu o brahma


como um ser que está além da causa e do
efeito. Pode-se citar o Vedanta sutra –
sakti-saktimator abhedah: “ a energia e
seu possuidor não são diferentes”. Assim
sendo, pode-se entender que todos os
efeitos, incluindo o mundo visível, são a
svarupa de Bhagavan por ser
transformações de sua sakti. Neste verso
agora clareia-se este ponto.
O brahma existe em todas as partes
mediante as mãos, pés e demais membros
de todas as entidades vivas que estão
submetidas a ele e situadas dentro dele.
Devido ao fato de que ele é onipenetrante,
ele possui mãos, pés e ouvidos ilimitados.
As entidades vivas não são
onipenetrantes, assim não podem Ter
mãos, pés e ouvidos ilimitados.
Paramatma é onipotente, mas a jiva não.
Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta
Krsna: “ Assim como os raios do sol
iluminam devido à sua dependência deste
astro, o brahma-tattva obteve seu aspecto
infinito e onipenetrante por depender da
minha potência. A existência do brahma,
que é a fundação das ilimitadas jivas,
desde Brahma até uma formiga, compõe-
se coletivamente de mãos, pés, olhos,
cabeças, bocas e ouvidos ilimitados e é
visível por toda sua manifestação
cósmica.

Sloka 15

Sarvendriya-gunabhasam
Sarvendriya-vivarjitam
Asaktam sarva-bhrc-caiva
Nirgunam guna-bhokr ca

O parabrahma é a fonte de todos os


sentidos e de suas respectivas funções,
mas carece de sentidos materiais. Ainda
que está desapegado, é ele que sustém
todas as entidades vivas e ainda que seja
nirguna, ele é o desfrutador das seis
qualidades transcendentais.

Bhavanuvada

Além disso, ele manifesta todos os objetos


sensíveis e os sentidos. Os srutis dizem:
“Ele é o olho do olho”, e “Ele manifesta
as funções dos sentidos tais como o som”.
Ainda sim, ele não tem sentidos materiais
porque seus sentidos são transcendentais.
Ele não está apegado ao plano mundano e
mantém a todos e cada um através da sua
forma de Vishnu. É nirguna, possui uma
forma transcendental que está livre das
qualidades materiais e é guna-bhoktir,
superior a estas. É conhecido como bhoga
porque é o desfrutador dos seis tipos de
opulências transcendentais.

Sloka 16

Bahir antas ca bhutanam


Acaram caram eva ca
Suksmatvat tad avijneyam
Dura-stham cantike ca tat

A entidade Absoluta habita dentro e fora


de todos os seres móveis e imóveis. É
muito difícil de compreende-lo porque é
muito sutil. Ele está simultaneamente
longe e perto.

Bhavanuvada

Ele está situado em todas as partes, tanto


dentro quanto fora de todas as entidades e
elementos da sua criação, assim como o
céu está dentro e fora do corpo. Ele é o
todo, tanto os seres móveis ou imóveis,
porque é a causa de toda criação. Mesmo
assim, não se pode percebe-lo de forma
direta já que sua forma e demais atributos
são diferentes das formas e qualidades
materiais.
Por tanto, ele está situado a milhões de
kilometros das pessoas ignorantes, e está
muito perto dos que estão iluminados com
o conhecimento transcendental.

Prakasika-vrtti

Paramesvara está situado coração de todos


os seres em sua forma Ataryami e existe
fora de todo em seu aspecto onipenetrante
como Paramesvara.
Apenas os ananyas bhaktas podem
conhece-lo através da influência de
ananya bhakti. Por tanto ele está muito
perto dos ananyas bhaktas e muito
distante dos não devotos.

Sloka 17

Avibhaktanca bhutesu
Vibhaktam iva ca sthitam
Bhuta-bharttr ca taj jneyam
Grasisnu prabhavisnu ca

Mesmo que é indivisível está situado


dentro de cada ser como se tivesse se
dividido. Tente entender que ele é o
sustentador, o aniquilador e o criador de
todos os seres.

Bhavanuvada

Como Sri Narayana ele é o mantenedor de


todas as entidades vivas no período da
manutenção. Como Grasisnu ele é o
destruidor no momento da aniquilação e,
na hora da criação é Prabhavishnu, o
criador dos diferentes efeitos e formas.

Prakasika-Vrtti

Mesmo que aparece de forma diferente


em todas as entidades vivas, o parama-
tattva está situado em uma forma
invisível. Os srutis afirmam: “Mesmo
sendo um, ele pode ser visto de diferentes
formas”. O smrti estabelece: “Apenas um
Paramatma, Visnu, existe em todo lugar.
Não há dúvida sobre esta singularidade”.
Assim como o mesmo sol aparece em
formas diferentes de acordo com o lugar,
Paramatma aparece em diversas formas
através de sua potência inconcebível
mesmo sendo um. Ele existe como
Antaryami individual dentro dos corações
das jivas, enquanto externamente é
onipenetrante, o purusa coletivo,
Paramesvara. É também o sustentador e
aniquilador de toda esta existência.

Sloka 18

Jyotisam api taj jyotis


Tamasah param ucyate
Jnanam jneyam jnana-gamyam
Hrdi sarvasya dhisthitam
Ele é a fonte de luz de todos os objetos
luminosos e é transcendental à ignorância.
Ele é o verdadeiro conhecimento, o
verdadeiro objeto do conhecimento e pode
ser conhecido através do processo de
jnana. Ele habita nos corações de todos os
seres.

Bhavanuvada

Ele é inclusive a luz que emana dos


objetos luminosos como a lua e o sol. Esta
característica se confirma nos srutis:
suryas tapati tejasendrah, “ mediante seu
resplendor, o sol se torna luminosos e
distribui o calor”. Se o sol, a lua ou as
estrelas não parecem charmosas e
radiantes comparadas com Ele, que dizer
do fogo. Refulgentes em aparência, todos
eles adquirem sua luminosidade a partir
do brilho. É unicamente por sua
refulgência que adquirem sua qualidade
de iluminação.

Prakasika-Vrtti

Paramesvara, o ksetra - jna completo, é o


iluminador original de todos os objetos
luminosos tais como o sol, a lua e o fogo.
Na tatra suryo vibhati: “Se o sol, a lua, as
estrelas ou o fogo não podem iluminar o
auto refulgente parabrahma, o raio menos
ainda. E é através do auto refulgente
brahma que todos os objetos luminosos
como o sol podem dar a luz. O mundo
móvel e imóvel está iluminado pela
refulgência corporal de Parabrahma”. No
Srimad Bhagavatam (3.25.42) está dito:
“O vento sopra e o sol brilha por temor a
mim”.

Sloka 19

Iti ksetram tatha jnanam


Jneyancoktam samasatah
Mad-bhakta etad vijnaya
Mad-bhavayopapadyate

Descrevi brevemente o campo, o


conhecimento e o conhecível. Meu bhakta
se capacita para alcançar minha prema
bhakti quando os compreende.

Bhavanuvada

Aqui, no verso que começa com a palavra


iti, Sri Bhagavan conclui suas declarações
sobre o conhecimento do ksetra e o
ksetrajna explicando quem está
capacitado para compreender este
conhecimento e qual é seu resultado. No
presente capítulo foi explicado a palavra
ksetra a partir do verso “adhyatma-jnana-
nityatvam” (Gita 13.6), até o verso
“adhyatma-jnana-nityatvam” (Gita 13.12).
Tmbém foi descrito o jnana desde o verso
Gita (13.6) até o verso (13.13). O jneyah e
o jnana gamyam foram descritos desde o
verso que começa com a palavra jneyam.
A própria Realidade Absoluta é conhecida
como brahma, Paramatma e Bhagavan.
Apalavra mad-bhakta se refere ao jnani
que está dotado com bhakti. Mad-bhavaya
significa que eles alcançam sayujya-
mukti. Mad bhakta também se refere a:
“Meu servo puro que pensa ‘meu Prabhu
tem grande aisvarya’ está capacitado para
obter meu prema”. Assim, se capacita
para executar prema-bhakti.

Prakasika-vrtti

Neste verso, Sri Bhagavan estabelece


claramente que os karmis, os jnanis, os
yogis, os tapasvis e os nirvisesa-
mayavadis não podem compreender a
essência real do Bhagavad Gita; apenas os
bhaktas de Bhagavan podem entende-lo.
Tal é o significado profundo dos tattvas
de jneya, jnata e jnana tal como se
descreve no Gita. Por esta razão uma
pessoa deve praticar bhakti refugiando-se
nos pés de lótus de um Guru Genuíno.

Sloka 20

Prakrtim purusancaiva
Viddhyanadi ubhav api
Vikarams ca gunams caiva
Viddhi prakrti-sambhavan

Há de saber que tanto a prakrti quanto a


entidade viva não tem começo e que suas
transformações e qualidades nascem da
natureza material.

Bhavanuvada

Depois de descrever paramatma, Sri


Bhagavan passa agora a explicar jivatma
(purusa) que é também um ksetra-jna.
“Porque surgiu a relação entre este ksetra-
jna e a natureza material (prakrti)?
Quando começou?”. Esperando estas
perguntas, Sri Bhagavan responde com o
verso que começa com a palavra prakrti. “
A natureza material e a jiva não têm
começo. Em outras palavras, sua causa
não tem um princípio. Visto que eu,
Isvara, não tenho começo, eles, sendo
minhas energias, tampouco tem.
Também no Bhagavad Gita (7.4-5) está
dito:

“A natureza material está dividida em oito


partes – o céu, a água, o fogo, o ar, o éter,
a mente, a inteligência e o ego – mas é
inferior à outra natureza minha. As jivas
são minha energia superior. Aceitam o
mundo material para desfrutar os
resultados de suas ações.”
Segundo minha própria declaração, visto
que maya e a jiva são minhas energias,
elas não tem começo e, por tanto, sua
relação tampouco tem um princípio. E
ainda que estão relacionadas entre si, são
diferentes”. Sri Bhagavan diz que o corpo
e os sentidos, as transformações dos gunas
tais como a felicidade, a aflição, a
lamentação e a ilusão, nascem a partir de
prakrti. A jiva, que se modifica em forma
do ksetra, é diferente da prakrti.

Prakasika-vrtti

A pós explicar ambos os ksetras, o ksetra-


jna parcial (a jiva), o ksetra-jna completo
(Paramesvara), o jnana e o jneya, Sri
Bhagavan fala agora das transformações
do ksetra tais como a luxúria, a ira, o
afeto, e o medo, e de como surgiu a
relação entre o ksetra-jna jiva e maya.
Nem a prakrti nem a jiva tem um começo
visto que são energias de Paramesvara.
Assim elas também são eternas. A prakrti
inerte se chama apara-prakrti e a jiva se
denomina para-prakrti.
O Sri Caitanya Caritamrta estabelece nos
ensinamentos a Sanatana Goswami
(Madhya-lila 20.108,109, 111, 117)

“ Por sua constituição, a jiva é uma serva


eterna de Krsna. A tatastha-sakti de Krsna
se transforma em ilimitadas jivas. Devido
ao fato da energia não ser diferente do
energético, as jivas conscientes atômicas
que são as transformações da sakti são de
alguma forma iguais a Krsna.
Simultaneamente elas também são
eternamente diferentes em muitos
sentidos. Bhagavan é ilimitadamente
consciente e a jiva é infinitamente
consciente. Ambos são iguais de acordo
com a perspectiva de consciência, mas
Bhagavan é a entidade consciente
completa e a jiva é uma entidade
consciente atômica. Bhagavan é o amo de
maya e a jiva é subjugada por maya.
Bhagavan é a causa da criação, a
manutenção e a destruição, a qual a jiva é
incapaz. Pode-se dar o exemplo de que
assim como as partículas ilimitadas e
diminutas faíscas são formadas pelo fogo,
as ilimitadas e atômicas jivas conscientes
emanam de Bhagavan.

Sloka 21

Karya-karana-karttrtve
Hetuh prakrtir ucyate
Purusah sukha-duhkhanam
Bhoktrtve hetur ucyate

Se diz que a prakrti é a origem da causa e


do efeito materiais, enquanto a entidade
viva condicionada é a causa do
sentimento de felicidade e aflição
materiais.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan revela agora a relação da


jiva com maya. Karya (o efeito) se refere
ao corpo; karana (a causa) se refere aos
sentidos que são o meio para obter
felicidade ou miséria, e karttrtva (o
agente) se refere às deidades regentes dos
sentidos (os semideuses). Devido à
ignorância a entidade viva condicionada
delega si mesma o sentimento de que ela é
a executora ou a agente, mas a verdadeira
causa deste sentimento é a prakrti. É
apenas a prakrti que se transforma em
efeito para entrar em contato com a jiva.
A tendência de maya é dar um
conhecimento ilusório a jiva.
Segundo a lógica, se diz que a prakrti é a
causa do corpo, dos sentidos e dos
semideuses, e que a jiva é a causa do
desfrute e da aversão.

Sloka 22

Purusah prakrti-stho hi
Bhunkte prakrti-jan gunam
Karanam guna-sango ´sya
Sad-asad-yoni-janmasu
Estando situada na prakrti, a jiva desfruta
dos objetos dos sentidos nascidos dela. A
causa do seu nascimento em espécies
superiores e inferiores é a sua associação
com as qualidades da natureza.

Bhavanuvada

A jiva considera as qualidades da prakrti


como sendo suas, tais como as deidades
regentes dos sentidos e a experimentação
da felicidade e aflição, devido ao falso
conhecimento surgido da ignorância
desde tempos imemoriais.
Esta é a razão do seu aprisionamento no
mundo material. A jiva se situa dentro do
corpo, o qual é efeito da prakrti, e
absorve-se completamente na
identificação do seu corpo com seu
próprio ser. Devido ao seu falso ego, a
jiva considera que os aspectos da mente
como a lamentação, ilusão e miséria, que
são gerados pelas qualidades da prakrti
são seus e assim sofrem por eles. Tal
identificação se deve a sua associação
com as qualidades da natureza material.
Isto significa que tal identificação com o
corpo, que é feita de qualidades materiais,
é uma suposição baseada na ignorância
visto que na verdade a jiva está livre desta
associação. “Então, onde a jiva
desfruta?”. Esperando esta pergunta, Sri
Bhagavan disse: “Nas espécies cuja
consciência é superior como os Sadhus e
os semideuses ” e “Nas espécies cuja
consciência é mais baixa como os
animais”. Ela nasce e experimenta
felicidade ou sofrimento em razão do seu
bom ou mal karma.

Prakasika-vrtti

Por Ter se esquecido de Krsna, as jivas,


que são de natureza marginal, consideram
seus corpos como sendo seu próprio ser.
Pensam que são as autoras e as
desfrutadoras da matéria inerte. Assim,
são atadas ao mundo material e nascem
em distintas espécies de vida nas quais
experimentam felicidade e aflição. As
jivas que são enganadas por maya, caíram
no ciclo de repetidos nascimentos e
mortes, e como consequência sofrem
misérias mundanas, nascendo as vezes em
svarga, as vezes no inferno, as vezes
como rei ou súditos, as vezes como
brahmana ou sudras, e as vezes como
fantasma, demônios, servos ou amos.
Algumas vezes são felizes e outras são
sofredoras. A consciência da jiva é
atômica e mesmo que ela seja uma serva
de Bhagavan, ela se vê enganada por
maya, que se encontra muito perto. Ela é
enganada devido a que abriga desejos
materiais como resultado de sua aversão a
Krsna. Assim, como a inteligência de uma
pessoa possuída por um duende ou um
fantasma fica coberta pela ignorância, a
inteligência das jivas confundidas fica
coberta por maya. Pela misericórdia de
Bhagavan e seus devotos, elas obtém uma
associação apropriada, libera-se de maya e
uma vez situada em sua posição natural,
desfruta felizmente do serviço a
Bhagavan.

Sloka 23

Upadrastanumanta ca
Bhartta bhokta mahesvarah
Paramatmeti capy ukto
Dehe´smin purusah parah

Neste corpo existe um purusa superior


que é o desfrutador transcendental. Ele é
Paramatma: o testemunho, o sancionador,
o amo, o sustentador e o Controlador
Supremo.

Bhavanuvada

Após falar sobre a jivatma, Bhagavan fala


agora sobre Paramatma
Neste verso. A partir do verso “anadi mat-
param brahma” (Gita 13.13) até o verso
“hrdi sarvasya visthitam” (Gita 13.18)
descreve Paramatma de maneira geral e
também específica. Mesmo que
Paramatma se mantém perto da jiva está
sempre separado dela. Paramatma está
localizado dentro do corpo e é superior à
atma. Anumanta significa que enquanto
reside perto da jiva, ele é generoso e
facilitador. Bharta significa sustentador e
bhokta significa protetor.

Prakasika-vrtti

Paramatma que está situado como um


testemunho no corpo, é diferente da jiva.
Os advaita-vadis (monistas) consideram
que a jivatma e Paramatma são unos, mas
neste verso fica claro que Paramatma é
diferente da jiva. Devido ao fato de que
ele é superior à jivatma, é conhecido
como Paramatma ou atma suprema; é uma
porção de uma porção de Svayam
Bhagavan Sri Krsna. Sem sua permissão a
jiva não pode fazer nada. Mesmo que vive
com a jiva, Paramatma é sempre o amo da
jiva e de maya.
Bhagavan outorga a independência à jiva.
Quando a entidade viva utiliza
apropriadamente, pode desfrutar
facilmente de prema-mayi-seva a Sri
Bhagavan em seu eterno dhama, mas
quando usa indevidamente sua
independência ela é atada por maya e
assim sofre os três tipos de misérias
incluindo o ciclo de nascimentos e mortes.
O Svetasvatara Upanisad (4.6) e o
Mundaka Upanisad (3.1.1) afirmam:
“Ksridakasayi-purusa e a jiva vivem
juntos no mundo material temporário (o
corpo) como dois amigos em uma árvore
pippala. A jiva saboreia os frutos da
árvore de acordo com seu karma e
Paramatma testemunha seus atos. Ele não
saboreia os frutos, ele apenas contempla
seu amigo”.

Sloka 24

Ya evam vetti purusam


Prakrtinca gunaih saha
Sarvatha varttamano ´pi
Na as bhuyo ´bhijayate

Aquele que compreende os princípios de


Paramatma, da entidade viva e da
natureza material juntamente com suas
três qualidades, não nasce de novo, seja
qual for sua condição atual.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan recita este verso para


explicar o resultado do jnana. “Mesmo
que estejam iludidos pelo sonho e
perturbação mental, aquele que conhece o
purusa (Paramatma), a prakrti(energia
material) e a jiva sakti(indicada pela
palavra ca) não volta a nascer.
Prakasika-vrtti

O sadhaka se capacita para liberar-se


quando conhece o bhakti-tattva, a jiva
tattva, o paramatma tattva e suas relações
mútuas. Assim, pela misericórdia de um
sad-guru e dos vaishnavas e por seguir o
caminho de suddha bhakti, alcança
gradualmente as etapas de sraddha, nistha,
ruci, asakti, bhava e finalmente Bhagavat
prema quando entra na morada de
Bhagavan. Ele nunca cai do bhagavat-
dhama. A idéia imaginária de que as jivas
condicionadas estiveram alguma vez
ocupadas no serviço a Bhagavan em sua
morada e que de alguma forma caíram no
mundo material é completamente
contrária a conclusão dos sastras. Se
aceitássemos esta teoria com um
propósito de discussão, surgiria a
pergunta; “Qual é então a importância ou
as glórias de bhakti e de prema se caem de
novo no mundo material depois de
executar um sadhana rigoroso e alcançar a
morada de Bhagavan?”.
Os exemplos de Citraketu e Jaya e Vijaya
não são adequados neste contexto porque
eles são associados eternos de Bhagavan.
Eles descendem ao mundo material pela
vontade de Bhagavan, para o bem-estar de
todas as entidades vivas e para nutrir sua
lila. Considera-los como almas ordinárias
são uma grave ofensa.
Sloka 25

Dhyanenatmani pasyanti
Kecid atmanam atmana
Anye sankhyena yogena
Karma-yogena capare

Meditando na Pessoa Suprema, os bhaktas


podem vê-la dentro de seus corações. Os
jnanis podem vê-la através de sankhya-
yoga, os yogis através de astanga-yoga e
outros através do processo de niskama-
karma-yoga.

Bhavanuvada

Neste verso e também no seguinte, Sri


Bhagavan explica os diferentes meios
para alcançar o conhecimento do ser.
Através de dhyana (meditação em
Bhagavan), alguns bhaktas o vêem em
seus corações.
O Gita (18.55) expõe isto. “Os jnanis se
esforçam para ver-me através de sankhya,
o estudo analítico da consciência e da
matéria inerte, os yogis através de
astanga-yoga e os karmis através do
niskama-karma-yoga”. Aqui o sankhya
yoga, astanga-yoga e niskama-karma-
yoga não são as causas diretas para
receber o darsana (visão) de Paramatma
visto que são todos sattvika e Paramatma
está além das qualidades materiais.
Também é dito no Srimad Bhagavatam
(11.19.1) “Deve-se me entregar o jnana”.
No verso 11.14.21 agrega: “Sou
alcançável apenas através de ekantika-
bhakti”.

Prakasika-vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta


Krsna: “Ó Arjuna, com relação à meta da
vida mais elevada, as baddha-jivas estão
divididas em dois grupos: as avessas à
vida espiritual e as inclinadas à vida
espiritual. Os ateus, os agnósticos
(aqueles que estão apegados à materia
inerte) e os moralistas estão incluídos no
grupo das pessoas avessas a Bhagavan.
Uma pessoa inquisitiva e fiel, um karma
yogi e um bhakta estão no segundo grupo.
Os bhaktas são superiores visto que se
refugiam no conhecimento que está além
de prakrti e meditam em Paramatma
dentro do ser. Os sankhya yogis que
buscam Isvara o seguem com
superioridade. Depois de meditar na
prakrti, a qual está formada por vinte e
quatro elementos, eles compreendem que
o elemento vinte e cinco, a jiva, é uma
entidade consciente pura. Gradualmente
se dedicam à bhakti-yoga como o
elemento vinte e seis. Através de
niskama-karma-yoga desenvolvem a
facilidade de meditar em Bhagavan ou
adora-lo.”

Sloka 26

Anye tv evam ajanantah


Srutvanyebhya upasate
Te´pi catitaranty eva
Mrtyum sruti-parayanah

Por outro lado, há pessoas que não


conhecem estes princípios porém
desenvolvem
o desejo de adorar Bhagavan após escutar
os Acaryas. Graças à sua devoção por
escutar, eles podem transcender
gradualmente o mundo mortal. Isto não há
dúvida.

Prakasika-vrtti

Neste verso, Bhagavan ensina sobre um


processo muito importante.
“Há certas pessoas que não são ateus,
mayavadis ou filósofos. Mesmo que seja
gente influente na sociedade, eles tem
muita fé porque possuem boas impressões
de vidas passadas (samskaras).
Elas me adoram de uma forma ou de outra
quando escutam o bhagavat-katha na
companhia dos devotos e recebem
instruções de diversos pregadores. Logo,
quando conseguem a associação com os
suddha bhaktas, recebem a oportunidade
de escutar um hari-katha puro, entram em
bhakti-tattva e finalmente me alcançam”.
A carência de educação sobre o
conhecimento da alma é frequente na
assim chamada ‘sociedade civilizada’,
mas o Bhagavad Gita e o Srimad
Bhagavatam explicam que o processo de
escutar sobre estes assuntos é muito
poderoso.
Mais recentemente, o processo foi dado
por Sri Caitanya Mahaprabhu, quem deu
muita ênfase em escutar e cantar o maha
mantra Hare Krsna. Sua instrução
principal é que pela influência de escutar
o sri hari nama e o bhagavat katha, pode-
se alcançar facilmente o serviçoa
Bhagavan. O Brahma de quatro cabeças,
Sri Narada, Sri Vedavyasa, Sri Sukadeva
Goswami, o Rei Pariksit e Prahlada
Maharaj obtiveram o darsana direto de
Bhagavan como resultado deste processo.
Srila Haridasa Thakura (associado íntimo
de Sri Caitanya Mahaprabhu) nasceu em
uma família turca, porém ele cantava
trezentos mil santos nomes todo dia.
Todas as pessoas ao seu redor, ricos e
pobres lhe gostavam muito. Mas
Ramacandra Khan, um famoso tenente da
região, sentia muita inveja dele e com o
objeto de difama-lo, contratou uma jovem
e bela prostituta prometendo muitas
riquezas em troca. Em uma noite de lua
cheia, ele enviou a garota ao lugar onde
estava Haridasa Thakura. Sentado no seu
lugar solitário, nas margens do Bhagavati
ganga, Haridasa Thakura estava cantando
atentamente Hare Krsna Hare Krsna
Krsna Krsna Hare Hare Hare Rama Hare
Rama Rama Rama Hare Hare. Perto deste
lugar crescia uma planta de Tulasi. A
prostituta Aproximou-se de Haridasa
Thakura e tentou seduzi-lo com posturas e
gestos, mas vendo que isto não dava
resultado, ela se ofereceu abertamente.
Mas Haridasa Thakura contestou: Fiz um
voto de cantar trezentos mil santos nomes
do Senhor Hari todo dia. Quando
completar isto satisfarei todos os seus
desejos”.
Confiando em suas palavras, a prostituta
sentou-se perto dele por toda noite
esperando pelo término do canto, mas ao
amanhecer ela regressou a sua casa
temerosa de ser vista pelo povo. Na noite
seguinte ela voltou e se sentou perto de
Haridasa Thakura, mas de novo ele pediu
a ela que esperasse acabar de cantar seus
nomes. A noite passou igual a anterior. Na
terceira noite que a jovem veio, Haridasa
estava cantando em voz baixa. O efeito de
escutar o santo nome da boca de um
suddha bhakta foi tão maravilhoso que
mudou o coração da prostituta. Ela
prostrou-se aos pés de Haridasa, chorando
e suplicando seu perdão. Haridasa
Thakura ficou muito satisfeito e disse:
“Eu ia embora deste lugar no mesmo dia
que vieste, mas permaneci aqui apenas
por que queria seu bem. A mudança do
seu coração me causou grande alegria.
Esta é a glória infalível de escutar e cantar
hari-nama. Agora deves permanecer aqui
neste asrama e cantar continuamente o
nome de Hari. Deves servir Tulasi-devi e
o Bhagavati Ganga”. Ela seguiu as
instruções e sua vida mudou por
completo. Até mesmo grandes devotos
iam vê-la Ela viveu humilde e
modestamente e sem posse alguma e
executava bhajana de Sri Hari
continuamente. Após poucos dias, ela
partiu para a morada de Bhagavan. Por
esta história se deduz que qualquer um
que escute o canto do santo nome, seja
qual for sua posição, pode alcançar
Bhagavan.

Sloka 27

Yavat samjayate kincit


Sattvam sthavara-jangamam
Ksetra-ksetrajna-samyogat
Tad viddhi bharatarsabha

Ó melhor dos Bharatas! Deves saber que


todos os seres que nascem, sejam eles
móveis ou imóveis, são produzidos pela
combinação do campo com o conhecedor
do campo.

Sloka 28

Samam sarvesu bhutesu


Tisthantam paramesvaram
Vinasyatsv avinasyantam
Yah pasyati as pasyati

Apenas aquele que vê a Pessoa Suprema


em todos os seres como o imperecível
sentado dentro do perecível, realmente vê.

Prakasika-vrtti

Aqueles que são jnanis no real sentido


experimentam simultaneamente o corpo, a
alma corporificada e o amigo da alma,
Paramatma, pela influência da associação
de uma grande alma que conhece a
Verdade Absoluta. Ao contrário, ao que
não possuem uma associação sagrada são
realmente ignorantes. Eles apenas podem
ver o corpo perecível. Um jnani, por outro
lado, experimenta a existência da alma e
de Paramatma mesmo depois da
destruição do corpo. Quando o corpo é
destruído, a alma entra em outro corpo
junto com os sentidos e o corpo sutil. Seu
amigo, Paramatma, permanece situado
com ela como o a testemunha. Os que
compreendem isto são reais jnanis.
Sloka 29

Samam pasyam hi sarvatra


Samavasthitam isvaram
Na hinasty atmanatmanam
Tato yati param gatim

Aquele que vê que Paramesvara habita em


todas as partes da mesma maneira e em
todos os seres, não é degradado pela
mente. Assim, alcançam o destino
supremo.

Sloka 30

Prakrtyaiva ca karmani
Kriyamanani sarvasah
Yah pasyati tathatmanam
Akarttaram as pasyati

Quem vê que é unicamente a prakrti, e


não a alma, quem realiza todas as
atividades, realmente vê.

Bhavanuvada

A visão das jivas que pensam que são


atuantes devido a que identificam-se com
o corpo inerte, não é real; elas estão
submetidas pela ignorância. Mas aquele
que vê que não é o autor da ação, possui
uma visão correta.
Prakasika-vrtti

A jiva condicionada é impulsionada pelas


ações e qualidades da prakrti devido ao
falso ego que lhe faz pensar que é ela
quem executa as atividades materiais.
Mas, na realidade, não é ela quem atua.
Bhagavan explicou isto anteriormente.
Paramesvara tampouco é o realizador
mesmo que esteja situado no coração de
todos os seres na forma de Anataryami,
aquele que outorga inspiração. Se a
jivatma no seu estado puro não tem o ego
de ser a autora das ações materiais que
são feitas pelos sentidos materiais, muito
menos Paramesvara. Quem sabe disto,
possui verdadeiro conhecimento.
No Tantra-bhagavata se diz: “É
unicamente através do ego material que se
encontra na existência material que a jiva
se enreda no ciclo de nascimentos e
mortes. Elas não têm relação alguma com
o ego material”. Ainda sim, no seu estado
puro, a jiva possui o ego de ser serva de
Krsna, com o corpo espiritual similar ao
humano e um nome, forma, qualidades e
atividades espirituais. Ela não carece de
forma ou qualidades.

Sloka 31

Yada bhuta-prthag-bhavam
Eka-stham anupasyati
Tata eva ca vistaram
Brahma sampadyate tada

Ele alcança a compreensão do brahma


quando vê, seguindo a guia das
autoridades prévias, que as diversas
naturezas das entidades vivas nasceram e
moram apenas na prakrti.

Bhavanuvada

Aquele que vê realmente que durante a


aniquilação todos os seres móveis e
imóveis corporificados em formas
diversas se fundem na prakrti, e que logo,
no momento da criação, voltam a
manifestar-se desta mesma prakrti,
alcançam a plataforma de brahma.

Prakasika-vrtti

Uma pessoa vê as diferentes formas ou


corpos como semideuses, seres humanos,
gatos, cachorros, sudras, hindus,
muçulmanos etc, apenas porque se
identifica com o corpo. A discriminação
mundana é causada pela ignorância que
faz com que uma pessoa se identifique
erroneamente com o corpo. É devido a
esta ignorância que duvida de Bhagavan.
Quando a lembrança de Bhagavan aparece
dentro dela pela graça dos suddha
vaishnavas, toda sua ignorância
desaparece e suas idéias materialistas de
diferenciação se dissipam. Neste
momento, ela se situa no brahma, que está
dotado com oito qualidades.
Seguidamente, ela percebe tudo de
maneira equânime a todo momento, e por
último, alcança para-bhakti. Às vezes os
sastras chamam de brahma ou brahma-
bhuta para se referir à jivatma dotada com
as oito qualidades especiais. São elas:

“Deve-se buscar e conhecer a alma que


está completamente livre de: misérias que
surgem dos desejos pelos objetos
sensíveis, as três classes de misérias como
a velhice, a morte, a lamentação, a
tendência de desfrutar, as aspirações
mundanas. Esta alma está: dotadas com
desejos favoráveis de servir Krsna e é
capaz de alcançar a perfeição em qualquer
coisa que deseje.”

Sloka 32

Anaditvam nirgunatvat
Paramatmayam avyayah
Sarira-stho´pi kaunteya
Na karoti na lipyate

Óh! Kaunteya! Por que não tem começo e


está livre das três qualidades materiais, o
Paramatma imperecível não produz karma
nem é afetado pelos resultados do karma
mesmo estando situado no corpo.

Prakasika-vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta


Krsna: “ Quando as jivas alcançam a
compreensão do brahma, podem entender
que Paramatma é imperecível, sem
começo e transcendental às qualidades
materiais. Mesmo existindo no corpo
junto com a jivatma, ele não é afetado
pelas qualidades do corpo, como a jiva
condicionada. Por tanto, as jivas que
alcançaram a plataforma de brahma, não
se envolvem mais em assuntos materiais
visto que se refugiam no conhecimento
sobre as qualidades de Paramatma. Escuta
agora como a jiva que não se relaciona
com as qualidades materiais opera com o
corpo.”

Sloka 33

Yatha sarva-gatam sauksmyad


Akasam nopalipyate
Sarvatravasthito dehe
Tathatma nopalipyate

Assim como o céu onipresente não se


mistura com nada devido a sua natureza
sutil, a alma que alcançou a compreensão
do brahma, protegida por Paramatma, não
é afetada pelas qualidades ou defeitos do
corpo material mesmo que habite dentro
dele.

Sloka 34

Yatha prakasayaty ekah


Krtsnam lokam imam ravih
Ksetram ksetri tatha krtsnam
Prakasayati bharata

Óh Bharata! Assim como um sol ilumina


todo universo, Paramatma ilumina o
corpo inteiro através da consciência.

Prakasika-vrtti

Assim como o sol ilumina o universo


apesar de estar situado em um só lugar, a
atma que esta situada em uma parte do
corpo, lhe ilumina por completo ao
difundir a consciência nele. O Brahma-
sutra diz: “mesmo a jivatma sendo
atômica, se difunde por todo corpo por
meio de qualidade de consciência.”

Sloka 35

Ksetra-ksetrajnayor evam
Antaram jnana-caksusa
Bhuta-prakrti-moksanca
Ye vidur yanti te param
Aqueles que possuem o olho do
conhecimento espiritual e estão versados
na diferença entre o ksetra e o ksetra-jna,
e que também conhecem o meio pelo qual
a jiva se libera da prakrti, alcançam a
morada suprema.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan conclui agora este capítulo


dizendo que aquele que conhece o ksetra e
o ksetra-jna, a jivatma e Paramatma, e
também os processos, como o dhyana por
exemplo, mediante os quais a jiva libera-
se da prakrti (natureza material), alcançam
o destino supremo. Dos dois ksetra-jnas, a
jivatma é quem fica atada ao desfrutar das
qualidades ou frutos do ksetra, mas se
libera com a aparição de jnana. Tal é a
explicação que se da ao longo deste
capítulo.

Assim termina o décimo terceiro capítulo


da Gita

Capítulo 14

Guna – Traya – Vibhaga Yoga


As três qualidades da natureza material

Sloka 1

Sri bhagavan uvaca


Param bhuyah pravaksyami
Jnananam jnanam uttamam
Yaj jnatva munayah sarve
Param siddhim ito gatah

Sri Bhagavan disse: Falarei novamente a


você o supremo jnana que está além de
todo outro tipo de conhecimento. Os
sábios que compreenderam e seguiram
estas instruções alcançaram a liberação
suprema do cativeiro corporal.

Bhavanuvada

Neste capítulo se explica que as três


qualidades materiais são sem dúvida a
causa do cativeiro, o qual se pode inferir
do seu resultado, e que bhakti é a causa da
sua destruição.

Prakasika-vrtti

No capítulo anterior foi estabelecido


claramente que a associação santa,
qualquer pessoa pode liberar-se do
cativeiro da existência material e adquirir
o conhecimento dos princípios do corpo,
da jiva e de Paramatma. Tal estado de
cativeiro no mundo material deve-se à
associação da jiva com as qualidades da
natureza material.
Neste capítulo Bhagavan Sri Krsna
explica a Arjuna o que são as qualidades
materiais, como elas funcionam, como
cativam a jiva e como a jiva pode alcançar
a perfeição e o destino supremo através
deste conhecimento.

Sloka 2

Idam jnanam upasritya


Mama sadharmyam agatah
Sarge pi nopajayante
Pralaye na vyathanti ca

Os sábios adquirem uma natureza


transcendental similar a minha, ao
refugiar-se neste jnana. Assim, eles não
nascem de novo nem mesmo no momento
da criação. Eles também não são
perturbados pela morte no momento da
devastação.

Prakasika-vrtti

Após adquirir o conhecimento


transcendental do ser, a jiva adquire
qualidades similares às de Bhagavan, em
outras palavras, muitas das suas
qualidades se tornam parcialmente
semelhante às de Bhagavan. Mesmo após
obter mukti e liberar-se do ciclo de
nascimento e morte, continua existindo
como uma associada de Bhagavan. Em
quanto se estabelece em sua svarupa
dedica-se ao serviço amoroso eterno aos
pés de lótus de Bhagavan. Os bhaktas não
abandonam sua svarupa, o serviço a
Bhagavan, mesmo após obter mukti.

Sloka 3

Mama yonir mahad brahma


Tasmin garbham dadhamy aham
Sambhavah sarva-bhutanam
Tato bhavati bharata

Ó Bharata! Minha prakrti é o ventre onde


fertilizo o embrião e assim eu produzo o
nascimento de todas as entidades vivas.

Bhavanuvada

A causa do cativeiro material é a


associação com os três modos da natureza
material., como consequência da
ignorância existente desde tempos
imemoriais. Para explicar melhor a causa
da condição de cativeiro, Bhagavan
explica como nascem o ksetra e o
ksetrajna. “O mahad-brahma é meu lugar
de fecundação”.

Prakasika-vrtti

No mundo material tudo sucede pela


combinação de ksetra e ksetra-jna, o
corpo e a jivatma respectivamente. A
combinação da prakrti com o purusa – a
jivatma – ocorre pela vontade de
Paramesvara. Assim como os escorpiões
botam seus ovos em um bocado de arroz e
as pessoas acham que eles nascem do
arroz e não dos ovos, da mesma forma, o
nascimento da jiva não é produto da
natureza material. Bhagavan infunde a
jiva dentro da prakrti, mas as pessoas
pensam que a jiva nasce dela. Cada jiva
obtém um corpo de acordo com suas
ações prévias, a prakrti apenas cria
diferentes corpos materiais sob a
supervisão de Bhagavan. As jivas que se
identificam com seus corpos, desfrutam
de felicidade ou experimentam sofrimento
segundo seu karma.
Deve-se entender que Bhagavan é a causa
original da manifestação da jiva e do
universo.

Sloka 4

Sarva-yonisu kaunteya
Murtayah sambhavanti yah
Tasam brahma mahad yonir
Aham bija-pradah pita

Óh Kaunteya! A grande natureza material


é a mãe de cujo ventre nasce todas as
espécies de vida e eu sou o pai que
concede a semente.

Bhavanuvada

“A prakrti é a mãe de todos os seres e eu


sou o pai, não apenas no momento da
criação, mas sempre. A prakrti é o ventre
ou a mãe de todos os tipos de corpos nos
quais nascem os seres móveis e imóveis,
desde os semideuses até as ervas etc. Eu
sou o pai que a fertiliza concedendo a
semente.”

Sloka 5

Sattvam rajas tama iti


Gunah prakrti-sambhavah
Nibadhnanti maha-baho
Dehe dehinam avyayam

Óh Maha-baho! Os três gunas, sattva,


rajas e tamas, nascidos da prakrti,
prendem a jiva imutável que mora dentro
do corpo.

Bhavanuvada
A jiva é imperecível, imutável e em
princípio é livre do contato material. Mas
suas qualidades materiais a prendem
devido a sua associação com elas. Esta
associação é produto de sua ignorância
desde tempo imemoriais.

Prakasika-vrtti

O Srimad Bhagavatam diz: “As jivas,


manifestadas da tatastha sakti, recebem a
associação da natureza material como
consequência da sua aversão por Krsna.”
Constitucionalmente falando, as jivas são
superiores a maya, mas devido ao ego de
“eu” e “meu” causado pela associação
com maya, se torna subordinada a
existência material em corpos gerados
pela prakrti.

Sloka 6

Tatra sattvam nirmalatvat


Prakasakam anamayam
Sukha-sangena badhnati
Jnana-sangena canagha

Óh Anagha! Das três qualidades


materiais, a qualidade da bondade é
favorável, ilumina o ser e é livre de vícios
devido à sua pureza, mas prende a jiva
através do apego, da felicidade e do
conhecimento.
Bhavanuvada

Este verso descreve as características de


sattva-guna e explica como ela se ata à
jiva. Quando a jiva se sente calma, o
apego à felicidade produzido pelas
atividades em sattva-guna lhe faz pensar
que está materialmente satisfeita. Como é
iluminada, o apego pelo conhecimento em
sattva-guna lhe faz desenvolver um ego
de conhecedor.
A felicidade e o conhecimento nestes
estados se deve à ignorância que obriga a
jiva a desenvolver concepções baseadas
no falso ego. Tal ego é a causa do
cativeiro da jiva. “Óh imaculado! Não
deves aceitar este pecado, o aspecto do
falso ego que o faz pensar; “Sou feliz, ou
“Sou esperto”.

Sloka 7

Rajo ragatmakam viddhi


Trsna-sanga-samudbhavam
Tan nibadhnati kaunteya
Karma-sangena dehinam

Óh Kaunteya! Entende que a qualidade da


paixão se manifesta pela qualidade do
apego pelos objetos sensíveis e do desejo
de desfruta-los. Esta energia ata a jiva
corporificada através do apego pelas
atividades fruitivas.

Bhavanuvada

Entende que rajo-guna é que outorga


prazer mundano. O desejo por um objeto
que não se possui é chamado trsna, o
apego pelos objetos que já se obteve se
chama sanga. O rajo-guna do qual nasce
ambos os apegos, ata a alma corporificada
através da ação consciente ou
inconsciente, perceptível ou
imperceptível. O apego pela atividade
fruitiva se deve tanto ao desejo quanto à
associação.

Prakasika-vrtti

A atração mútua entre macho e fêmea é a


qualidade específica de rajo-guna. Esta
qualidade material gera o anseio de
desfrute nos seres corporificados, assim
como o desejo de obter honra na
sociedade ou nação, uma bonita esposa,
boa progênie e uma família feliz. Tais são
as características de rajo-guna.
A razão pela qual o universo todo caiu no
cativeiro de maya é o apego aos prazeres
sensuais produzido por rajo-guna. Sua
influência é vista atualmente por todo
lugar na sociedade moderna, mas no
mundo antigo, sattva-guna predominava.
Se um homem em sattva-guna é incapaz
de obter mukti, muito menos um que está
coberto por rajo-guna.

Sloka 8

Tamas tv ajnana-jam viddhi


Mohanam sarva-dehinam
Pramadalasya-nidrabhis
Tan nibadhnati bharata

Óh Bharata! O tamo-guna, que nasce da


ignorância, é a causa da ilusão das
entidades vivas. Ela aprisiona as almas
condicionadas através da indolência
(loucura), apatia e do sonho (depressão
mental).

Prakasika-vrtti

O tamo-guna (qualidade da ignorância) é


a mais baixa dos três gunas e é
completamente oposta à sattva-guna. Uma
pessoa em tamo-guna pensa que o corpo e
os prazeres corporais são a coisa mais
importante. Como resultado, perde sua
capacidade de discriminação e
praticamente enlouquece.
Vemos que nossos pais e avôs já
morreram, nós também morreremos e
nossos descendentes também irão morrer.
Isto demonstra que a morte é certa.
Aqueles que se encontram em tamo-guna
não podem buscar pelo ser interno.
Acumulam riqueza mediante o engano,
hipocrisia, violência ou atos similares
com o único propósito de satisfazer seus
sentidos. Tal atitude é sintoma de loucura.
O sintoma de uma pessoa em tamo-guna é
que ela ingere drogas, carne, peixe, ovos,
licor e produtos similares. Elas
permanecem inativas, são preguiçosas,
descuidadas, negligentes e dormem mais
que o necessário. Um sadhaka deve
abandonar por completo esta qualidade
material.

Sloka 9

Sattvam sukhe sanjayati


Rajah karmani bharata
Jnanam avrtya tu tamah
Pramade sanjayaty uta

Óh Bharata! A qualidade da bondade


aprisiona a pessoa através da felicidade e
a qualidade da paixão através do trabalho
fruitivo, mas a qualidade da ignorância
cobre todo seu conhecimento e a conduz à
loucura.

Sloka 10

Rajas tamas cabhibhuya


Sattvam bhavati bharata
Rajah sattvam tamas caiva
Tamah sattvam rajas tatha

Óh Bharata! Quando surge a qualidade da


bondade, ela supera os modos da paixão e
da ignorância. A qualidade da paixão
submete às da bondade e da ignorância ao
aparecer, e quando a qualidade da
ignorância se manifesta, vence todas as
outras.

Sloka 11

Sarva-dvaresu dehe´smin
Prakasa upajayate
Jnanam yada tada vidyad
Vivrddham sattvam ity uta

Deve se entender que a qualidade da


bondade predomina quando aparece o
conhecimento, e quando todas as portas
dos sentidos de adquisição de
conhecimento se iluminam manifestando
no ser a felicidade.

Bhavanuvada

Agora, Sri Bhagavan explica os sintomas


da qualidade predominante. Quando os
sentidos, como por exemplo o ouvido,
começa a adquirir conhecimento védico
perfeito, entende-se que sattva guna está
predominando. A palavra uta enfatiza que
a iluminação, na forma de felicidade, é
gerada pelo ser.

Sloka 12

Lobhah pravrttir arambhah


Karmanam asamah sprha
Rajasy etani jayante
Vivrddhe bharatarsabha

Óh Bharata-rsabha! Os sintomas do
predomínio da qualidade da paixão são a
avareza, o esforço exagerado e o anseio
constante pelo prazer sensual.

Sloka 13

Aprakaso pravttis ca
Pramado moha eva ca
Tamasy etani jayante
Vivrddhe kuru-nandana

Óh Kuru-nandana! O predomínio da
qualidade da ignorância produz inércia
(falta de esforço), loucura, ilusão e falta
de discriminação.

Sloka 14

Yada sattve pravrddhe tu


Pralayam yati deha-bhrt
Tadottama-vidam lokam
Amalan pratipadyate
Quando uma pessoa abandona seu corpo
predominada pelo modo da bondade, ela
alcança os planetas superiores puros, onde
moram os grandes sábios, os adoradores
de Hiranyagarbha e também se tornam
livres da qualidade da paixão e ignorância

Sloka 15

Rajasi pralayam gatva


Karma-sangisu jayate
Tatha pralinas tamasi
Mudha-yonisu jayate

Os que morrem predominados pelo modo


da paixão, nascem como humano entre os
trabalhadores fruitivos, mas os que
morrem no modo da ignorância nascem
em uma espécie animal.

Sloka 16

Karmanah sukrtasyahuh
Sattvikam nirmalam phalam
Rajasas tu phalam duhkham
Ajnanam tamasah phalam

Os sábios dizem que a atividade realizada


no modo da bondade produz resultados
puros e prazeirosos, as que são realizadas
no modo da paixão resultam em miséria e
o único fruto das atividades realizadas no
modo da ignorância é a própria
ignorância.

Prakasika-vrtti

Aqueles que estão situados na qualidade


da bondade se dedicam a seu bem-estar
pessoal, ao bem-estar da sociedade e das
pessoas em geral. Suas ações são
denominadas de punya-karma, atividades
piedosas. São felizes no mundo material e
tem a possibilidade de obter sadhu-sanga.
O karma executado pelas pessoas no
modo da paixão, produz miséria pois as
ações realizadas para o prazer sensual e
momentâneo são inúteis. Sua vida é
miserável e sua felicidade não é real. As
ações de uma pessoa situada no modo da
ignorância são dolorosas ao extremo para
ela. Após a morte, tem que nascer como
cachorros, pássaros ou em alguma outra
espécie animal. O principal sintoma de
quem está situado nesta qualidade é que
ela mata e come carne de animais. Os que
matam animais ignoram que no futuro o
mesmo animal, de uma forma ou de outra
o matará também. Esta é a lei da natureza.
Na sociedade humana, se alguém mata um
ser humano ela é punida pelo estado. Mas
os ignorantes não sabem que Paramesvara
é o controlador original do universo
inteiro. Ele não tolera nem mesmo a
morte de uma formiga pelo ser humano,
por tanto, tais pessoa devem sofrer algum
castigo. Matar animais apenas para
satisfazer o paladar é uma ofensa
gravíssima. Destas atividades a matança
de vacas é severamente castigada. A vaca
e o touro são nosso pai e mãe, por isso nos
Vedas e nos Puranas se considera que a
matança de vacas é o ato mais
pecaminoso.
A vaca, com seu leite, é como uma mãe e
o touro, com seu serviço na agricultura, é
como um pai. Eles nos alimentam como
nossos pais. Devido à ignorância, os seres
humanos ‘cultos’ da atualidade vão contra
esta verdade e assim aderem ao caminho
da degradação de toda a sociedade.
Destroem a si mesmos e a sociedade
inteira. Por tanto é indispensável que as
pessoas inteligentes se situem na
qualidade da bondade e se refugiem em
bhagavad-bhakti e no canto dos santos
nomes de Hari, para proteger a sociedade
deste grande perigo. Quando uma pessoa
se lembra de Bhagavan Sri Krsna na
associação dos devotos, toda sua
ignorância é dissolvida, seu sectarismo
material e sua discriminação mundana
desaparecem e ela vê Paramesvara em
tudo.

Sloka 17

Sattvat sanjayate jnanam


Rajaso lobha eva ca
Pramada-mohau tamaso
Bhavato jnanam eva ca

O jnana nasce da qualidade da bondade,


enquanto a qualidade da paixão é a
origem da avareza. O descuido, a ilusão e
a ignorância são frutos da qualidade da
ignorância.

Sloka 18

Urddhvam gacchanti sattva-stha


Madhye tisthanti rajasah
Jaghanya-guna-vrtti-stha
Adho gacchanti tamasah

Aqueles que estão situados na qualidade


da bondade ascendem aos planetas
celestiais. Os que estão na qualidade da
paixão permanecem nos planetas terrenos
e os que estão absortos nas abomináveis
atividades da qualidade da ignorância são
jogados nos planetas infernais.

Sloka 19

Nanyam gunebhyah karttaram


Yada drastanupasyate
Gunebhyas ca param vetti
Mad-bhavam so´dhigacchati
Quando a jiva observa de acordo com os
Vedas que não há outro agente ativo além
das três qualidades materiais e
compreende que atma (alma) é
transcendental a estas qualidades, pela
influência de suddha-bhakti ela alcança
minha natureza espiritual.

Bhavanuvada

Após descrever o mundo material,


constituído pelas qualidades materiais, Sri
Bhagavan explica neste e no próximo
verso, a devoção pura, que é
completamente distinta daquelas.

Prakasika-vrtti

Todas as jivas nas diferentes espécies de


vida desde a formiga até os rios,
montanhas às árvores e seres humanos,
trabalham irremediavelmente atadas pelas
qualidades materiais. Na realidade, nas
suas atividades não há nenhum outro
agente ativo a não ser estas qualidades
materiais. Paramesvara se encontra além
da natureza material e de suas qualidades,
mesmo sendo o controlador original.
Quem conhece esta realidade cruza a
prakrti e suas qualidades para alcançar o
destino supremo, mas nada pode entender
através de sua própria inteligência e
discriminação. Por tanto, a associação dos
maha-purusas versados no conhecimento
transcendental é extremamente necessária.
Não importa quão degradada seja a jiva,
na associação dos grandes sadhus (santos)
ela transcende rápida e facilmente as três
qualidades.

Sloka 20

Gunan etan atitya trin


Dehi deha-samudbhavan
Janma-mrtyu-jara-duhkhair
Vimukto mrtam asnute

Após transcender as três qualidades que


geram o corpo, a jiva se libera do
nascimento, morte, da enfermidade e da
velhice. Assim ela alcança a imortalidade.

Prakasika-vrtti

Uma pessoa que alcançou a natureza do


brahma não é afetada pelas misérias do
nascimento, morte, velhice e doença.
Mesmo os bhakti-misra-jnanis, que
alcançaram a perfeição do jnana,
abandonam tal jnana para obter param-
bhakti aos pés de lótus de bhagavan.
Ocupados constantemente na bem-
aventurança deste serviço, finalmente
saboreiam o néctar de prema. O contrário,
os nirvisesa-jnanis que se dedicam
simplesmente ao cultivo de jnana não
obtêm nada.

Sloka 21

Arjuna uvaca
Kair lingais trin gunan etan
Atito bhavati prabho
Kim-acarah katham caitams
Trin gunan ativarttate

Arjuna disse: Ó Prabhu! Quais são os


sintomas de uma pessoa que transcendeu
estas três qualidades? Como ela se
comporta? Como ela as transcende?

Sloka 22-25

Sri bhagavan uvaca


Prakasanca pravrttinca
Moham eva ca pandava
Na dvesti sampravrttani
Na nivrttani kanksati

Udasina-vad asino
Gunair yo na vicalyate
Guna vartanta ity evam
Yo´vatisthati nengate

Sama duhkha-sukhah sva-sthah


Sama-lostasma-kancanah
Tulya-priyaoriyo dhiras
Tulya-nindatma-samstutih
Manapamanayos tulyas
Tulyo mitrari-paksayoh
Sarvarambha-parityagi
Gunatitah sa ucyate

Sri Bhagavan disse: Óh! Filho de Pandu,


uma pessoa que transcendeu as três
qualidades materiais não se agita pela
iluminação, atividades ou ilusão, quando
estas se fazem presentes nem fica ansioso
quando elas se esgotam; é indiferente e
equânime diante às qualidades materiais e
suas reações como felicidade e aflição,
consciente de que é apenas estas
qualidades que estão atuando. Ela é
imperturbável e imparcial; está situada em
sua svarupa e considera que a terra, a
pedra e o ouro são iguais. É equilibrado
nas situações agradáveis e desagradáveis,
é inteligente, permanece equânime na
crítica e no elogio, na honra e na desonra;
trata com objetividade os amigos e os
inimigos e renunciou a todas as atividades
a não ser as que são necessárias para sua
manutenção.

Sloka 26

Manca yo´vyabhicarena
Bhakti-yogena sevate
sa gunan samatityaitan
brahma-bhuyaya kalpate
Aquele que oferece serviço devocional
exclusivo a mim, transcende por completo
estas três qualidades materiais e capacita-
se a compreender o brahma.

Bhavanuvada

Como pode alguém transcender as três


qualidades materiais? Para responder esta
pergunta, Bhagavan recita este verso.
“Apenas quem me oferece serviço em
minha forma de Syamasundara,
Paramesvara, se capacita a experimentar
minha natureza espiritual”. O Gita (7.14)
afirma também: “ Apenas os que se
rendem a mim, podem cruzar o oceano de
maya.”
O Srimad Bhagavatam declara; “O
praticante da ação que tem a mim como
refúgio é nirguna.” Também diz:
“A pessoa situada em sattva-guna está
desapegada, a que está em rajo-guna está
extremamente apegada e a pessoa na
qualidade de tamas perde sua memória e
sua capacidade de discriminação. Mas a
que se refugia em mim é nirguna.”
O verso explica que os karmis e jnanis
desapegados são sadhakas em sattva-
guna, enquanto os que refugiam em
Bhagavan são nirguna. Aqui, explica-se
que os bhaktas são os únicos sadhakas
verdadeiros.”

Sloka 27

Brahmano hi pratisthaham
Amrtasyavyayasya ca
Sasvatasya ca dharmasya
Sukhasyaikantikasya ca

Sou a base do nirvisesa-brahma e o único


refúgio da imortalidade, o dharma eterno
e a bem aventurança transcendental do
prema que resulta da ekantika-bhakti
(devoção pura e exclusiva).

Bhavanuvada

“Sou o fundamento do brahma e sou


conhecido como a suprema base de todas
as coisas. Visto que o brahma depende de
mim, sou o fundamento. Também sou o
fundamento da imortalidade ou amrta. É
este amrta o néctar celestial? Não. O
amrta é a liberação, moksa. Sou também o
fundamento de bhakti, o dharma supremo
e eterno, que existe tanto na etapa de
sadhana quanto na etapa de siddha, e além
do mais sou o prema que se obtém através
de ekantika bhati. Visto que tudo depende
de mim, uma pessoa pode alcançar a
plataforma do brahma, sua fusão neste,
quando executa meu bhajana com
objetivo de alcançar kaivalya”. Kaivalya é
um estado único de existência espiritual
carente de atividades mentais e físicas.
Madhusudana Sarasvati compôs um verso
que analisa se o brahma é nirvisesa ou
savisesa.

“Adoro a refulgente forma que é a


essência de toda beleza, o filho de Nanda
Maharaja, o parabrahma possuidor de
uma forma humana que dissipou a
dualidade da minha mente.”

Prakasika-vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta


Krsna: “ Em minha plataforma nirguna
eterna, em minha svarupa como
Bhagavan, coloco na jiva, a semente
consciente que provém da tatastha-sakti,
no ventre da minha energia material
inerte. A refulgência do meu corpo é a
primeira manifestação do meu reino
espiritual e constitui meu aspecto
indiferenciado. A jiva avança
progressivamente fazendo planos no
cultivo de jnana yoga e finalmente
alcança meu aspecto brahma. Este
constitui o primeiro estado da plataforma
nirguna. Antes de chegar ali, é
desconcertada por um sentimento
nirvisesa que se produz ao abandonar a
atração pela diversidade mundana. Este
sentimento acaba quando chega ao plano
nirguna e decide se refugiar em suddha-
bhakti-yoga. Mais tarde, através deste
processo, alcança a plataforma da
variedade espiritual.
Eu, a Suprema Personalidade de Deus,
sou o refúgio do brahma, que é o destino
supremo dos jnanis. A imortalidade, a
eternidade, o prema em sua forma de
ocupação eterna e a sempre bem-
aventurada plataforma de vraja rasa é
alcançada através do refúgio em minha
krsna-svarupa, a realidade suprema que
transcende as qualidades materiais e está
cheia de variedade.”

Assim, conclui-se o décimo quarto


capítulo do Srimad Bhagavd Gita.

Capítulo 15

Purusottama Yoga

A compreensão da pessoa Suprema

Sloka 1
Sri bhagavan uvaca
Urddhva-mulam adhah-sakham
Asvattham prahur avyayam
Chandamsi yasya parnani
Yas tam veda sa veda-vit

Sri Bhagavan disse: Os sastras descrevem


o mundo material como um asvattha
imperecível, um tipo especial de árvore
banyam no qual as raízes crescem para
cima, aos ramos se estendem para baixo e
as folhas são os hinos védicos que
estabelecem as atividades fruitivas. Quem
conhece a verdade sobre esta árvore,
conhece os vedas de verdade.

Bhavanuvada

Sri Krishna corta as ataduras da existência


material e ao mesmo tempo não está
vinculado a ela. O atma ou jiva é uma
parte de Isvara. Krsna é o purusa que se
encontra além das entidades perecíveis e
também imperecíveis. Tudo isto é descrito
neste capítulo.
Foi dito no capítulo anterior: “ Aquele que
me adora com ananya-bhakti transcende
as qualidades materiais e se capacitam a
experimentar o brahma” (Gita 14.26).
Agora alguém poderia perguntar. “Se tu
tens uma forma humana, como poderia
alguém alcançar a natureza espiritual
adorando-te através de bhakti-yoga?”
Bhagavan responde: “Sou um ser
humano, mas ao mesmo tempo sou o
refúgio Supremo e o fundamento do
brahma.”
Então surge as perguntas: “ Qual é então,
a natureza do mundo material constituído
pelos gunas? De onde eles foram gerados?
Quais são as jivas que transcendem o
mundo material através de bhakti? Qual é
o significado da palavra brahma?
Prevendo estas perguntas, Sri Bhagavan
usa uma linguagem metafórica para
descrever o mundo material comparando-
o com uma árvore banyam. Satya loka é a
região mais elevada deste mundo. “O
mahat-tattva é o broto da semente
fecundada por mim no ventre da prakrti.”
Adhah significa que os ramos desta árvore
descendem aos planetas Svarga, Bhuah e
Bhu, na forma de ilimitados semideuses,
gandharvas, kinnaras, asuras, raksasas,
pretas, seres humanos e animais tais como
vaca, cavalos, pássaros, cisnes, insetos e
entidades vivas imóveis. A árvore outorga
frutos aos trabalhadores fruitivos na forma
de religiosidade, desenvolvimento
econômico, desfrute sensual e liberação.
Por tal razão se denomina uttama, o
melhor.
Se diz que aquele que entende este mundo
material, o qual se parece com tal árvore
que é também temporária, conhece a
verdade dos vedas.
Sloka 2

Adhas corddhvam prasrtas tasya sakha


Guna-pravrddha visaya-pravalah
Adhas ca mulany anusantatani
Karmanubandhini manusya-loke

As folhas desta árvore, que representam


os diversos objetos sensíveis, são nutridas
pelas três qualidades materiais. Seus
ramos se estendem até as espécies
inferiores de vida, como os seres humanos
e animais, e também até os superiores
como os semideuses. Algumas das suas
raízes são os desejos de desfrute sensual e
crescem para baixo gerando assim a
corrente do karma na sociedade humana.

Bhavanuvada

Os ramos da árvore do mundo material se


espalham por todo lugar. Assim como
alimenta-se uma árvore regando-a com
água, a árvore do mundo material
alimenta-se de diferentes tendências das
qualidades materiais. Os objetos
sensíveis, tais como o som, são seus
brotos. Alguns acreditam que debaixo dos
seus ramos tem um grande tesouro.
Mesmo que a origem das raízes se
encontrem em Brahmaloka, há outras
raízes na sociedade humana. Tais raízes,
sustentadas pelo karma, estão em
constante crescimento. Depois de
experimentar os resultados de suas ações
no corpo de alguma das espécies de vida,
a jiva volta a gerar karma na forma
humana de vida.

Prakasika-vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta


Krsna: “Numerosos ramos desta árvore se
sustentam em tamo-guna e se estendem
para baixo. Muitos ramos são nutridos por
rajo-guna e estão situados em um nível
intermediário. Muitos ramos, sustentados
por sattva-guna, crescem para cima. Os
prazeres sensuais materiais são os brotos
destes ramos.

Slokas 3 – 4

Na rupam asyeha tathopalabhyate


Nanto na cadir na ca sampratistha
Asvattham enam su-virudha-mulam
Asanga-sastrena drdhena chittva

Tatah padam tat parimargitavyam


Yasmin gata na nivarttanti bhuyah
Tam eva cadyam purusam prapadye
Yatah pravrttih prasrta purani

A verdadeira forma desta árvore não é


perceptível neste mundo. Seu começo,
final e base, não é definitivo Após cortar
profundamente a raiz desta árvore da
existência material com a afiada faca do
desapego, é indispensável buscar pelos
pés de lótus da pessoa primordial, Sri
Bhagavan, que constituem as raízes desta
árvore sem começo que simboliza o
samsara. Aquele que se rendeu e alcançou
Bhagavan, cortou o ciclo de nascimentos
e mortes e assim jamais regressa a este
mundo.

Bhavanuvada

Aqui a palavra asanga significa desapego


de tudo. Após cortar esta árvore com a
faca do desapego, deve-se buscar por
brahma, a maior riqueza e a origem da
árvore.
“Qual é a natureza da sua origem?”.
Bhagavan responde: “Ao alcançar este
destino, o estado original, jamais se
regressa ao mundo material temporário.”.
“Como devemos busca-lo?” Bhagavan
responde: “A pessoa deve se refugiar no
purusa primordial e dedicar-se ao seu
bhajana, pois todo o mundo material é
uma expansão dele, quem não tem
começo. Por tanto, é necessário busca-lo
através de bhakti.

“ A jiva perdeu sua memória desde


tempos imemoriais como consequência da
sua aversão a Paramesvara. A aversão a
conduziu para a absorção dos objetos dos
sentidos. Ela confunde seu ser com seu
corpo devido à influência da energia
ilusória composta pelos três gunas, as
quais lhe causam temor devido a esta
absorção na matéria. As jivas
condicionadas são cativadas por maya.
Por isto, os eruditos devem se refugiar nos
pés de lótus de Sri Guru e executar
bhajana com ananya bhakti a Sri Krishna.
Assim, podem transcender a energia
ilusória (maya).

Sloka 5

Nirmana-moha jita-sanga-dosa
Adhyatma-nitya vinivrtta-kamah
Dvandvair vimuktah sukha-duhkha-
samjnair
Gacchanty amudhah padam avyayam tat

Apenas as pessoas emancipadas que estão


livres do orgulho e da ilusão, que
superaram a degradação do falso
desapego, que estão dedicadas a busca por
Paramatma e não estão sujeitas ao desejo
por desfrute material, dualidades como
felicidade e miséria, alcançam a imutável
morada eterna.

Bhavanuvada
Quais são os sintomas das pessoas que
alcançaram a morada eterna de Bhagavan,
após obterem bhakti? Sri Bhagavan
responde com este verso que quem está
interessado em entender o que é eterno e o
que é temporário, permanece ocupado em
deliberar sobre Paramatma e também
deseja obtê-lo

Sloka 6

Na tad bhasayate suryo


Na sasanko na pavakah
Yad gatva na nivarttante
Tad dhama paramam mama

Nem mesmo o sol, a lua ou o fogo pode


iluminar este reino supremo, que é auto
refulgente por natureza e ilumina todos os
demais. Quando as pessoas rendidas
alcançam tal morada, jamais regressam a
este mundo.

Prakasika-vrtti

Neste verso descreve-se as características


da morada de Bhagavan. Após chegar à
morada eterna, nunca mais se regressa ao
mundo material. Esta morada não está
iluminada pelo sol, lua, fogo, raio etc.
pois é auto refulgente. Esta morada se
chama Goloka, Krishna-loka, Vraja,
Gokula ou Vrindavana. Svayam
Bhagavan, Vrajendra Nandana Sri
Krishna, performa seus passatempos bem-
aventurados com seus associados em sua
morada suprema. Pode-se alcança-la
apenas mediante o cultivo de prema
bhakti, raganuga bhakti seguindo
especificamente os passos das gopis de
Vraja. É impossível alcança-la por algum
outro meio.

Sloka 7

Mamaivamso jiva-loke
Jiva-bhutah sanatanah
Manah sasthanindriyani
Prakrti-sthani karsati

As jivas eternas que se encontram no


mundo material são minhas partes
integrantes. Atadas pela natureza material,
são atraídas pelos seis sentidos, incluindo
a mente.

Bhavanuvada

As jivas são eternas, mas enquanto vivem


em corpos materiais são atadas pela
atração mundana que surge da mente e
dos cinco sentidos. Isto é devido ao ego
que as fazem pensar: “Tudo pertence a
mim”, assim elas se sentem atraídas pelo
mundo material.
Prakasika-vrtti

Neste verso, Bhagavan descreve jiva


tattva. A jiva é uma parte de Bhagavan,
mas deve compreender o seu tipo
específico. As amsas (partes) de
Bhagavan são de dois tipos: svamsa e
vibhinnamsa. O visnu-tattva está dentro
da categoria svamsa tais como Matsya,
Kurma, Nrsimha e Rama são svamsa –
tattva. As jivas são vibhinnamsa-tattva.
Quando sac-cid-ananda Bhagavan está
separado de todas suas energias, exceto a
tatastha-sakti, suas partes separadas se
denominam vibhinnamsa-tattva.
As jivas, geradas da jiva-sakti ou tatastha-
sakti, a qual não é diferente de Bhagavan,
são vibhinnamsa-tattva. Algumas das suas
características são qualitativamente iguais
a Bhagavan e outras são diferentes. Assim
sendo, sua relação com Bhagavan é tanto
de igualdade quanto de diferença
simultânea e inconcebível ou acitya-
bedha-abedha-tattva.
As jivas existem em dois estados
condicionados: condicionados e liberados.
No estado liberado a jiva está livre das
designações ilusórias e permanece
ocupada no serviço a Bhagavan, mas em
seu estado condicionado se encontra
enredada no mundo material e coberta
pelas designações ilusórias dos corpos
sutil e grosseiro. Isto é explicado no
Srimad Bhagavatam:

“Ó inteligente Uddhava, as jivas são


partes separadas de mim, a Realidade
Absoluta não dual, ele é um sem um
segundo. Devido à ignorância as
entidades vivas são cativadas mas as
vezes o conhecimento lhes proporciona
mukti.”

“Devido à energia externa, a jiva entende


que é um produto material e por tanto,
tem que submeter-se às reações do
sofrimento material.”

Este verso explica que a entidade viva é


uma entidade eterna, jamais se funde em
nenhuma outra existência nem é
destruída. A existência da jiva é eterna,
tanto em seu estado liberado quanto no
condicionado. A jiva é sempre jiva,
jamais pode converter-se em brahma.

Sloka 8

Sariram yad avapnoti


Yac capy utkramatisvarah
Grhtvaitani samyati
Vayur gandhan ivasayat

Assim como o vento transporta o aroma


das flores, a jiva corporificada transporta
os seis sentidos juntamente com seus
desejos do seu antigo corpo para o
próximo corpo.

Prakasika-Vrtti

Sri Bhagavan está explicando como uma


jiva condicionada obtém outro corpo.
Depois da morte, seu condicionamento
não se acaba. Até que a jiva se libere do
mundo material mediante execução de
bhagavad bhajana, ela tem que nascer
repetidamente de acordo com as
impressões de suas atividades prévias.
Aqui foi usada a analogia das flores para
explicar este processo.
O Srimad Bhagavatam diz (11.22.26)

“A mente, onde se encontra as impressões


do karma, viaja com os cinco sentidos de
um corpo a outro. O atma é diferente dela,
mas a segue devido ao falso ego.”

Sloka 9

Srotrancaksuh sparsananca
Rasanam ghranam eva ca
Adhisthaya manas cayam
Visayan upasevate

Refugiando-se nos ouvidos, olhos, língua,


nariz, o sentido do tato e especialmente na
mente, a jiva desfruta dos diversos objetos
sensíveis.

Sloka 10

Utkramantam sthitam vapi


Bhunjanam va gunanvitam
Vimudha nanupasyanti
Pasyanti jnana-caksusah

O néscio que carece de discriminação não


pode perceber com seus sentidos quando a
jiva abandona o corpo, quando mora no
corpo ou quando desfruta através dos
sentidos. Mas os sábios podem ver tudo.

Sloka 11

Yatanto yoginas cainam


Pasyanty atmany avasthitam
Yatanto py akrtatmano
Nainam pasyanty acetasah

Os yogis perseverantes podem perceber a


alma situada dentro do corpo, mas quem
sustenta pensamentos impuros e carece de
sabedoria não pode percebe-la mesmo que
se esforce para isto.

Sloka 12

Yad aditya-gatam tejo


Jagad bhasayate khilam
Yac candramasi yac cagnau
Tat tejo viddhi mamakam

Deves entender que o resplendor do sol


que ilumina todo universo, assim como a
lua e o fogo, provém todos de minha
pessoa.

Bhavanuvada

“Favoreço a jiva em seu estado


condicionado, na forma do sol, da lua e
outras luminárias, capacitando-a para
satisfazer todas as suas necessidades.” Tal
favor se indica com as palavras yad
aditya-gatam e continua explicando nos
dois versos seguintes. “Desde a montanha
Udaya, eu, o resplendor do sol nascente,
ilumino o universo para que comece a
ação que satisfaz os desejos, tanto
evidentes quanto ocultos, de desfrute
sensual das jivas. O brilho da lua e do sol
também são meus. Possuo diferentes
nomes como Surya e Candra. Eles se
encontram entre minha opulências por que
fazem parte da minha magnificência.”

Prakasika-vrtti

Uma pessoa carente de bhakti, ego


ignorante, confunde o corpo com o ser.
Não pode compreender que Paramesvara
é a causa original da existência ou
manifestação de todas as entidades vivas,
sentimentos, ações, e qualidades deste
mundo. Pensa que a causa de tudo é a
terra, a água, o ar, o éter, a lua, o sol, a
eletricidade ou outros elementos. Sri
Krishna expressa aqui claramente que o
sol, a lua, o fogo e a eletricidade se
manifestam dele. Ele cria as variedades de
desfrute e liberação da jiva. Ele cria as
variedades de desfrute visíveis e
invisíveis, para as jivas, fazendo com que
parte do seu resplendor entre no sol, na
lua e outras luminárias.
Uma jiva pode entender facilmente o
princípio mencionado através da prática
de bhakti yoga. Assim ela pode
compreender o aspecto da magnificência
de Sri Bhagavan que Ele está explicando.
Mas uma jiva confundida por maya,
jamais compreende esta realidade.

Sloka 13

Gam avisya ca bhutani


Dharayami aham ojasa
Pusnami causadhih sarvah
Somo bhutva rasatmakah

Eu infundo minha potência na terra e


deste modo sustento todas as entidades
vivas. Me converto na nectárea lua e
assim alimento a vida vegetal.
Sloka 14

Aham vaisvanaro bhutva


Praninam deham asritah
Pranapana-samayuktah
Pacamy annam catur-vidham

Como o fogo da digestão nos corpos das


entidades vivas, combinado com os ares
vitais, digiro os quatro tipos de alimentos.

Sloka 15

Sarvasya caham hrdi sannivisto


Mattah smrtir jnanam apohananca
Vedais ca sarvair aham eva vedyo
Vedanta-krd veda-vid eva caham

Situo-me como Antaryami no coração de


todas as entidades vivas. A lembrança e o
conhecimento também vêm de mim. Sou
o objetivo único do conhecimento védico.
Sou a origem, o compilador e o
conhecedor do Vedanta.

Sloka 16

Dvav imau purusau loke


Ksaras caksara eva ca
Ksarah sarvani bhutani
Kuta-stho ksara ucyate
Nos quatorze sistemas planetários, há dois
purusas famosos: o falível e o infalível.
As entidades vivas, móveis e imóveis são
falíveis e o purusa imutável é infalível.

Prakasika-vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta


Krishna: “Se dissestes que a prakrti é
uma, está certo. Mas há dois tipos de
purusa neste mundo, o falível e o
infalível. As jivas conscientes emanadas
como porções são falíveis. A jiva se
denomina ksara-purusa por que sua
natureza é tatastha; por este motivo tem a
tendência de cair de sua posição
constitucional. As manifestações svamsa
jamais caem de sua posição
constitucional, elas são infalíveis. Outro
nome do aksara purusa é kuta-stha. O
kuta-stha se manifesta de três maneiras:

1 – Brahma, o aksara original que infiltra


o universo inteiro. Este tattva é relativo ao
universo, não é independente.

2 – Paramatma, a manifestação parcial da


transcendência, o refúgio e a testemunha
da jiva consciente.

3 – Bhagavat-tattva, Sri Bhagavan que


será explicado no capítulo dezoito.
Sloka 17

Uttamah purusas tv anyah


Paramatmety udahrtah
Yo loka-trayam avisya
Bibharty avyaya isvarah

Há uma personalidade infalível superior


conhecida como Paramatma. Ele é Isvara,
o imutável controlador que penetra e
sustenta os três mundos.

Sloka 18

Yasmat ksaram atito ´ham


Aksarad api cottamah
Ato ´smi loke vede ca
Prathitah purusottamah

Por que sou superior tanto em relação ao


princípio falível quanto ao infalível, o
mundo inteiro e também os Vedas me
conhecem como Purusottama, a Pessoa
Suprema.

Bhavanuvada

Após descrever Paramatma, o objeto


adorável dos yogis, Sri Bhagavan
descreve o bhagavat-tattva, a deidade
adorável dos bhaktas. De todas as formas,
unicamente Krishna é reconhecido como
Purusottama. Sri Bhagavan recita este
verso para explicar tal denominação e sua
supremacia. Esta forma é superior ao
ksara purusa, à jiva, e ao imutável
Paramatma.

Prakasika-vrtti

A primeira compreensão do para-tattva é


o brahma, a Segunda é Paramatma e a
terceira é a compreensão de Svayam
Bhagavan. Assim, Svayam Bhagavan é o
limite superior do parambrahma, enquanto
brahma e Paramatma são apenas duas de
suas manifestações. A refulgência de
Krishna é conhecida como brahma e a
porção de sua porção é conhecida como
Paramatma. O terceiro e máximo aksara-
purusa é conhecido como Bhagavan Sri
Krishna.

Sloka 19

Yo mam evam asammudho


Janati purusottamam
As sarva-vid bhajati mam
Sarva-bhavena bharata

Ó Bharata! Aquele que não se engana


pelas distintas crenças, sabe que sou
Purusottama. Ele conhece tudo e por tanto
se dedica a adorar-me de corpo e alma.

Prakasika-vrtti
Mesmo que não haja diferença entre Sri
Krishna e Sri Narayana em relação à
siddhanta (verdade filosófica), da
perspectiva de rasa, a forma de Sri
Krishna é superior. Esta é a glória da rasa.

Sloka 20

Iti guhyatamam sastram


Idam uktam mayanagha
Etad buddhva buddhimam syat
Krta-krtyas ca bharata

Ó imaculado Bharata! Te revelei o


segredo mais confidencial dos sastras. A
pessoa que possui inteligência pura se
ilumina plenamente e é abençoada ao
conhece-lo.

Praksika-vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta


Krsna: “Ó imaculado! O purusottama-
yoga é sem dúvida a instrução mais
confidencial dos sastras. Uma jiva obtém
iluminação e bênçãos ao conhece-la.
Todas impurezas que a jiva possa Ter e a
concepção sobre o objeto de devoção,
desaparecem ao compreender este yoga.”
Os primeiros cinco versos deste capítulo
explicam que a renúncia pura destrói as
debilidades mencionadas. Do sexto verso
até o final do capítulo se descreve a
discussão sobre o purusottama-tattva
juntamente com a renúncia gerada pela
devoção (bhakti). Em resumo, o capítulo
descreve as diferenças entre a matéria
inerte e o espírito assim como a
deliberação sobre as diferentes
manifestações da realidade consciente.

Assim se conclui o décimo quinto


capítulo do Srimad Bhagavad Gita.

Capítulo 16

Daivasura Sampada Yoga

As qualidades divinas e as demoniacas

Sloka 1 – 3

Sri bhagavan uvaca


Abhayam sattva-samsuddhir
Jnana-yoga-vyavasthitih
Danam damas ca yajnas ca
Svadhyayas tapa arjavam

Ahimsa satyam akrodhas


Tyagah santir apaisunam
Daya bhutesv aloluptvam
Mardavam hrir acapalam

Tejah ksama dhrtih saucam


Adroho nati-manita
Bhavanti sampadam daivim
Abhijatasya bharata

Sri Bhagavan disse: Ó Bharata! A


valentia, o regozijo do coração, a
constância no cultivo de conhecimento, a
caridade, o controle dos sentidos, a
execução de yajna, o estudo dos sastras, a
penitência, a sensibilidade, a não-
violência, a veracidade, a ausência da ira,
o desapego da esposa, filhos e demais
parentes, o sossego, a aversão a críticas, a
bondade para com todos os seres vivos, a
ausência de avareza, a gentileza, a
modéstia, a determinação, o vigor, a
indulgência, a paciência, a limpeza interna
e externa, e a ausência total de ódio, são
todas qualidades divinas que se
manifestam em uma pessoa que aparece
neste mundo em um momento auspicioso.

Prakasika-vrtti

As qualidades divinas e demoníacas


juntamente com as inclinações descritas
brevemente no capítulo anterior, são
descritas agora detalhadamente. As
pessoas de tendências demoníacas
enroscadas na rede de maya, nascem em
espécies de vida demoníaca e sofrem
miséria e dor. Ao contrário, as pessoas de
natureza divina, dotadas com qualidades
divinas, cruzam o miserável oceano do
nascimento e morte e gradualmente
avançam no caminho mais auspicioso de
bhakti. Finalmente desfrutam da bem-
aventurança do serviço a Bhagavan em
sua morada. As pessoas liberadas jamais
são atadas a este mundo material. O
acúmulo de qualidades divinas só sem
manifestam em pessoas elevadas que
nasceram em um momento favorável e de
pais auspiciosos que realizaram
garbhadhana samskara, o processo védico
para conceber um bom filho. Os pais
devem evitar fazer filhos como fazem os
gatos e cachorros. Sri Krishna expressa no
Gita que ele é o sexo que produz bons
filhos. Por tanto, o sexo não está proibido,
mas quando se faz apenas para o desfrute,
é de natureza infernal.
Pode-se ver todas estas boas qualidades
nos suddha-bhaktas. Um bhakti-sadhaka
rendido deve Ter a firme convicção:
“Bhagavan é meu protetor e está sempre
comigo. Ele me olha, conhece tudo e me
sustenta.”Quando um devoto desenvolve
este tipo de fé, ele está livre de todo temor
por qualquer lugar que se encontre, seja
em casa ou num bosque. Srila Haridasa
Thakura se manteve parado quando os
fanáticos muçulmanos o arrastaram por
vinte mercados em navadvip. Após terem
o espancado, eles o submergiram no
ganges, mas quando ele emergiu estava
com um corpo saudável e regressou ao
seu bhajana-kutira. O kazi e os demais se
surpreenderam ao ver a cena. Assim
sendo, o bhakti-sadhaka deve ser sempre
confiante.

Sloka 4

Dambho darpo ´bhimanasca


Krodhah parusyam eva ca
Ajnanam cabhijatasya
Partha sampadam asurim

Ó Partha! A hipocrisia, a arrogância, a ira,


a dureza de coração e a falta de
discriminação residem naqueles que
nascem com qualidades demoníacas.
Quem nasce em um momento
inauspicioso, adquire estas qualidades.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan menciona agora os frutos


que atam uma pessoa a existência
material. Mostrar-se como uma pessoa
religiosa quando se é irreligioso se
denomina hipocrisia. A arrogância
consiste no orgulho da riqueza e
educação. O desejo de ser respeitado
pelos demais e o apego pela esposa, filhos
e família se chama vanidade.

Sloka 5

Daivi sampad vimoksaya


Nibandhayasuri mata
Ma sucah sampadam daivim
Abhijato ´si pandava

As qualidades divinas são a causa da


liberação, enquanto as demoníacas são a
causa do cativeiro. Ó filho de Pandu, não
lamentes, pois nascestes com qualidades
divinas.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan mostra agora como


funcionam as duas naturezas
mencionadas. Mas antes que Arjuna se
lamentasse dizendo “Que desgraça! Eu
devo Ter qualidades demoníacas como a
dureza do coração e ira, pois desejo matar
meus parentes com estas flechas.” Sri
Bhagavan lhe consola dizendo; “Não
lamentes. Nasceste em uma dinastia de
ksatriyas. As dharma-sastras aprovam que
seja duro de coração e valente na guerra.
Mas a violência em outras circunstâncias
é demoníaca.”
Sloka 6

Dvau bhuta-sargau loke´smin


Daiva asura eva ca
Daivo vistarasah prokta
Asuram partha me srnu

Ó Partha! Neste mundo há dois tipos de


seres: Os divinos e os demoníacos.
Descrevi a ti detalhadamente as
qualidades divinas. Escuta agora sobre a
natureza demoníaca.

Sloka 7

Pravrttinca nivrttinca
Jana na vidur asurah
Na saucam napi cacaro
Na satyam tesu vidyate

As pessoas demoníacas não conhecem a


virtude nem sabem como abster-se do
vício. Não se encontra nelas a limpeza,
conduta apropriada ou veracidade.

Sloka 8

Asatyam apratistham te
Jagad ahur anisvaram
Aparaspara-sambhutam
Kim anyat kama-hetukam
Os demônios descrevem o mundo como
sendo irreal, sem fundamento e carente de
Deus. Afirmam que são produto da união
sexual e que não há outra causa a não ser
a luxúria.

Prakasika-vrtti

Neste verso Bhagavan explica a filosofia


de quem possui uma natureza demoníaca.
A essência do comentário de Baladeva
Vidyabhusana para este verso é o
seguinte:

1- De acordo com a opinião dos mayavadis,


o mundo material é asatya, apratisthita e
anisvara. Asatya porque é uma ilusão, tal
como a corda pode ser confundida com
uma serpente. Apratisthita por que não
tem fundamento, tal como uma flor no
céu. Anisvara por que nenhum Isvara o
criou.
2- Na opinião dos budistas svabhava-vadis, o
mundo é aparaspara-sambutam, melhor
dizendo, não nasceu da união do macho
com a fêmea se não que é o produto de
svabhava: é produzido e sustentado pela
ação natural e necessária de algumas
substâncias segundo suas propriedades
inerentes.
3- Segundo carvaka, este mundo é kama-
haitukam, nascido da luxúria que flui
entre macho e fêmea.
4- De acordo com os jainistas, o desejo
egoísta é a causa deste mundo. Baseados
em sua lógica especulativa, descartam a
literatura védica e se dedicam à inútil
tarefa de definir a causa do mundo
material.
A afirmação de Sri Krishna expressa
claramente que o mundo material,
constituído por seres móveis e imóveis,
foi criado pela prakriti sob sua supervisão.
Visto que foi criado pela vontade de
Bhagavan, o possuidor da verdadeira
determinação, este mundo é real, ainda
que mutável e perecível. Os asuras
(demônios), carentes de sabedoria pura e
perfeita, imaginam diversos tipos de
conclusões ateístas temporárias.

Sloka 9

Etam drstim avastabhya


Nastatmano ípa-buddhayah
Prabhavanty ugra-karmanah
Ksayaya jagato ´hitah

Os demônios carecem de atma-tattva. Eles


se refugiam nas visões ateístas e
identificando o corpo como sendo seu
verdadeiro ser, atuam com violência. Eles
são a personificação de tudo que é
indesejável e nascem com o único
propósito de desfrutar do mundo.
Prakasika-Vrtti

Os demônios carecem de tattva-jnana.


Eles inventam vários tipos de máquinas e
com pretexto de avanço da civilização
humana, inventam numerosas armas e
dispositivos para matar a maior
quantidade de pessoas no menor tempo
possível, mesmo se estas se encontram em
outros continentes. Eles estão muito
orgulhosos de tais inventos. A sociedade
demoníaca trabalha para destruir o mundo
visto que não tem fé em Isvara nem nos
Vedas.

Sloka 10

Kamam asritya duspuram


Dambha-mana-madanvitah
Mohad grhitva ´sad-grahan
Pravarttante ´suci-vratah

Obcecados por desejos insaciáveis e


cheios de hipocrisia, orgulho e arrogância,
os demônios néscios anseiam
constantemente os objetos temporários.
Consagrados à depravação eles se
dedicam à adoração de semideuses
insignificantes.

Slokas 11-12

Cintam aparimeyanca
Pralayantam upasritah
Kamopabhoga-parama
Etavad iti niscitah

Asa-pasa-satair baddhah
Kama-krodha-parayanah
Ihante kama-bhogartham
Anyayenartha-sancayan

Pensando que o desfrute sensual é o


propósito da vida, eles se quedam
ansiosos até o momento da morte. Atados
às cordas dos ilimitados desejos e
dominados pela luxúria e a ira, se
esforçam em acumular riqueza mediante
métodos indevidos, com o objetivo de
obter prazer sensual.

Sloka 13

Idam adya maya labdham


Idam prapsye manoratham
Idam astidam api me
Bhavisyati punar dhanam

Os demônios pensam: “Consegui muita


coisa hoje e assim satisfarei meus desejos.
Tenho tanta riqueza agora e isto
aumentará ainda mais no futuro.

Sloka 14

Asau maya hatah satrur


Hanisye caparan api
Isvaro ´ham aham bhogi
Siddho ´ham balavan sukhi

“Matei este meu inimigo e matarei outros


também. Sou o senhor e o desfrutador.
Sou perfeito, poderoso e feliz.”

Sloka 15

Adhyo ´bhijanavan asmi


Ko ´nyo ´sti sadrso maya
Yaksye dasyami modisya
Ity ajnana-vimohitah

“Sou afortunado e nobre de nascimento.


Quem pode se comparar a mim?
Executarei yajna, oferecerei caridade e
como resultado gozarei de grande
felicidade.” Eles falam assim por que
estão enganados pela ilusão.

Sloka 16

Aneka-citta-vibhranta
Moha-jala-samavrtah
Prasaktah kama-bhogesu
Patanti narake ´sucau

Confundidos por numerosos desejos e


ansiedades, emaranhados na rede da
ilusão e excessivamente viciados no
desfrute sensual. Eles caem em situações
impuras e infernais.

Prakasika-vrtti

As pessoas demoníacas pensam que são


Isvara (controlador) apesar de estarem
agitadas por diversas ansiedades inúteis e
atadas a uma rede de ilusão. Eles se
convertem em instrutores e ensinam seus
seguidores. “Tu és Isvara, podes fazer
tudo que desejas.”
Hoje em dia, aqueles que possuem
inclinações demoníacas pretendem
alcançar os planetas superiores com
diversos tipos de naves espaciais, mas não
sabem que transitam em um caminho
destrutivo.

Sloka 17

Atma-sambhavitah stabdha
Dhana-mana-madanvitah
Yajante nama-yajnais te
Dambhenavidhi-purvakam

Inflados, arrogantes e intoxicados pelo


falso prestígio que a opulência outorga, os
demônios realizam ostentosos yajnas
apenas externamente, pois não seguem as
instruções dos sastras.

Prakasika-vrtti
Hoje em dia a maioria das pessoas que
adoram os semideuses e outras
personalidades, o fazem segundo seus
próprios caprichos, sem respeitar as
instruções dos sastras. Devemos escutar
as instruções de Krishna sobre este
aspecto.

Sloka 18

Ahankaram balam darpam


Kamam krodhanca samsritah
Mam atma-para-dehesu
Pradvisanto bhyasuyakah

Confundidos pelo falso ego, pela força


corpórea, pelo orgulho, pela luxúria e ira,
eles me invejam e me criticam através dos
sadhus, em cujos corações resido
eternamente como Paramatma.

Sloka 19

Tan aham dvisatah kruran


Samsaresu naradhaman
Ksipamy ajasram asubhan
Asurisv eva yonisu

Aqueles que invejam os sadhus, que


possuem um cruel coração e que são
malévolos, são os seres humanos mais
degradados. Eu os jogo na existência
material entre as diversas espécies de
demônios.

Sloka 20

Asurim yonim apanna


Mudha janmani janmani
Mam aprapyaiva kaunteya
Tato yanty adhamam gatim

Ó Kaunteya! Aceitando um nascimento


atrás do outro em espécies demoníacas,
tais néscios jamais me alcançam. Assim,
eles continuam emaranhados nas formas
mais degradadas de vida.

Prakasika-vrtti

Geralmente, a jiva obtém os frutos do seu


próprio karma, e para experimentar os
resultados deste karma, as pessoas que se
opõe aos vedas, aos bhaktas e a
Bhagavan, caem uma e outra vez nas
espécies demoníacas de vida. Por que
cometeu várias ofensas, elas não
conseguem nenhuma oportunidade de se
liberarem destas ofensas. Estas ofensas
não podem ser expiadas nesta mesma
vida, mas a pessoa tem a oportunidade de
expia-las quando descende às espécies
inferiores como a dos animais. O
nascimento em qualquer espécie, com
exceção da humana, tem como único
objetivo a expiação dos resultados
kármicos anteriores.

Sloka 21

Tri-vidham narkasyedam
Dvaram nasanam atmanah
Kamah krodhas tatha lobhas
Tasmad etat trayam tyajet

Há três portas que conduzem ao inferno: a


luxúria, a ira e a cobiça. Deve-se as
abandonar por completo, pois são a causa
da destruição da alma.

Prakasika-vrtti

As qualidades demoníacas mencionadas


destroem o ser e o conduz ao inferno. A
luxúria, a ira e a cobiça são a raiz das
outras. Por tanto, todo ser humano que
deseje seu próprio bem-estar, deve
erradica-las. Os karmis, os jnanis e yogis
não podem controlar estas tendências
apesar de seus esforços, mas um suddha-
bhakta, pela influência de sadhu-sanga,
pode subjugar facilmente estes três
inimigos e mostrar assim um
extraordinário exemplo de como eles
podem ser controlados.

Sloka 22
Etair vimuktah kaunteya
Tão-dvarais tribhir narah
Acaraty atmanah sreyas
Tato yati param gatim

Ó Kaunteya! Aquele que escapou das


portas que conduzem ao inferno, atua para
o bem-estar do seu próprio ser e deste
modo alcança o destino supremo.

Sloka 23

Yah sastra-vidhim utsrjya


Varttate kama karatah
Na as siddhim avapnoti
Na sukham na param gatim

Aqueles que recusam a sanção dos sastras


e atuam segundo sua própria vontade, não
alcançam a perfeição, a felicidade nem o
destino supremo.

Sloka 24

Tasmac chastram pramanam te


Karyakarya-vyavasthitau
Jnatva sastra-vidhanoktam
Karma kartum iharhasi

Por tanto, os sastras são a única


autoridade acerca da conduta correta e
incorreta. Quanto ao seu dharma, deves
executar todas as suas atividades
compreendendo a essência dos sastras.

Prakasika-vrtti

Após aprender as instruções dos sastras,


as pessoas que desejam bem-aventurança
eterna, devem cultivar bhakti a Sri Hari
sob a guia do guru-varga, de acordo com
sua qualificação respectiva. Para uma
pessoa inteligente, não é espiritualmente
favorável atuar contra os códigos dos
sastras ou considerar autoritativas as
idéias imaginárias de supostos instrutores
que são glorificados pelos não devotos.
A ofensa original da jiva é o mau uso do
seu livre arbítrio e sua aversão a Krishna.
Por isto, maya, que é uma serva de
Krishna, a coloca em cativeiro. Atraídas
por maya, a jiva abandona a natureza
sattvika que lhe permite compreender
Bhagavan e desenvolve uma natureza
demoníaca de qualidades tamasika. Neste
momento manifestam-se muitas ofensas
como a crítica aos sadhus, o conceito
politeísta de Deus ou a idéia de que Deus
não existe, a desobediência ao guru, a
falta do devido respeito aos sastras entre
outros.

Assim se conclui o décimo sexto capítulo


do Bhagavad gita.
Capítulo 17

Sraddha-Traya-Vibhaga Yoga

Os três tipos de fé

Sloka 1

Arjuna uvaca
Ye sastra-vidhim utsriya
Yajante sraddhayanvitah
Tesam nistha tu ka krsna
Sattvam aho rajas tamah

Arjuna perguntou: Ó Krishna! Qual é a


posição de quem ignora as instruções dos
sastras, mas possui fé na adoração? São
eles sattvika, rajasika ou tamasika?

Sloka 2

Sri bhagavan uvaca


Tri-vidha bhavati sraddha
Dehinam as svabhava ja
Sattviki rajasi caiva
Tamasi ceti tam srnu

Sri Bhagavan disse: A fé dos seres


corporificados é de três tipos – sattvika,
rajasika ou tamasika – e é determinada
pelas impressões de suas vidas prévias.
Escuta agora sobre estes três tipos de fé.

Prakasika-vrtti

Alguns pensam que é difícil e doloroso


seguir as instruções dos sastras, e outros
as descartam e adoram os semideuses
caprichosamente com uma fé material
nascidas das impressões de suas vidas
prévias. A fé destas pessoas é de três tipos
– sattvika, rajasika ou tamasika. Mas a fé
que está dirigida ao cultivo de bhagavad-
bhakti sob a guia dos suddha bhaktas
versados nos sastras é nirguna. A fé de um
bhakti-sadhaka pode ser sattvika nos
estágios iniciais, mas pela influência dos
sadhus, se converte rapidamente em
nirguna-sraddha e transcende as
qualidades materiais. Neste momento o
sadhaka começa a progredir no caminho
de bhakti e se ocupa com grande
determinação em escutar, cantar e lembrar
hari-nama e hari katha e assim segue
meticulosamente as regras e regulações
dos sastras.

Sloka 3

Sattvanurupa sarvasya
Sraddha bhavati bharata
Sraddha-mayo yam puruso
Yo yac-chraddhah as eva sah
Ó Bharata! A fé de uma pessoa é
determinada pela natureza da sua mente.
Todas as pessoas possuem fé e
desenvolvem uma tendência
correspondente ao objeto no qual a
depositam

Sloka 4

Yajante sattvika devan


Yaksa-raksamsi rajasah
Pretan bhuta-ganams canye
Yajante tamasa janah

As pessoas que se encontram na qualidade


da bondade adoram os semideuses de
natureza similar. Aquelas que estão na
qualidade da paixão adoram as bruxas e
os demônios que possuem natureza
apaixonada similar, e as pessoas na
qualidade da ignorância adoram os
fantasmas e espíritos.

Sloka 5 – 6

Asastra-vihitam ghoram
Tapyante ye tapo janah
Dambhahankara-samyuktah
Kama-raga-balanvitah

Karsayantah sarira-stham
Bhuta-gramam acetasah
Mancaivantah sarira-stham
Tan viddhy asura-niscayan

Devido ao orgulho e egoísmo, algumas


pessoas realizam severas austeridades não
recomendadas pelos sastras. Movidos pela
luxúria, o apego mundano e o desejo de
poder, infligem dor não apenas ao seu
corpo mas também a mim, que moro no
seu interior. Estas pessoas devem ser
consideradas como demônios.

Bhavanuvada

Krishna disse: “Ó Arjuna! Perguntaste se


aqueles que ignoram as regras dos sastras,
mas executam adoração com fé, são
sattvika, rajasika ou tamasika. Escuta
agora minha resposta. A fé a renúncia aos
desejos egoístas é a característica que se
observa nas pessoas que executam
austeridades severas, as quais atemorizam
os demais seres. As pessoas orgulhosas e
interesseiras sem dúvida violarão as
regras dos sastras. Kama se refere aos
desejos como o de permanecer sempre
jovem, se tornar imortal ou obter um
reino. Raga se refere ao apego pelas
austeridades e bala é a capacidade de
executar austeridades como as realizadas
por Hiranyakasipu. Tais austeridades
torturam os elementos presentes no corpo
e causam dor desnecessária tanto a mim,
quanto a jiva. Estas pessoas possuem
inclinações demoníacas.”

Prakasika – vrtti

As austeridades como os jejuns dolorosos


e inúteis, o sacrifício do corpo, carne ou
de outros seres humanos ou animais, entre
outros atos violentos similares, causam
dor ao próprio ser e também ao
Paramatma. As pessoas que possuem tal
natureza cruel devem ser consideradas
demoníacas. Hoje em dia, algumas
pessoas jejuam com propósitos egoístas
ou políticos. Os jejuns estipulados pelos
sastras que tem como propósito a meta
transcendental são benéficos, como o
ekadasi por exemplo. No ekadasi se
estipula jejuar até mesmo de água e
permanecer acordado toda a noite
executando hari-kirtana. Hoje em dia, as
pessoas permanecem acordadas comendo
carne, bebendo vinho e cantando canções
vulgares e vergonhosas. Elas violam as
regras dos sastras. Tais atividades são
executadas devido ao profundo orgulho e
ao ego nascido do apego excessivo aos
desejos materiais e ao desfrute sensual. Os
que atuam assim infligem dor
desnecessária ao corpo e perturbam a paz
interna e também a alheia. Mas se por boa
fortuna, consegue a associação de um
suddha-bhakta, podem receber algum
benefício.

Sloka 7

Aharas tv api sarvasya


Tri-vidho bhavati priyah
Yajnas tapas tatha danam
Tesam bhedam imam srnu

O tipo de comida das diferentes classes de


pessoas é de três tipos, dependendo das
suas qualidades. O mesmo ocorre em
relação aos sacrifícios, austeridades e
caridade. Escuta agora as diferenças entre
elas.

Sloka 8

Ayuh-sattva-balarogya
Sukha-priti-vivarddhanah
Rasyah snigdhah sthira-hrdya
Aharah sattvika-priyah

Os alimentos que aumentam a duração da


vida, o entusiasmo, a força, a saúde, a
felicidade e a satisfação; que são
saborosos, engordam, nutrem e são
agradáveis ao coração e ao estômago, são
muito apreciados pelas pessoas situadas
na qualidade da bondade.

Bhavanuvada
É um fato bem conhecido no mundo, que
por ingerir alimentos no modo da
bondade, a duração da vida aumenta. A
palavra sattvam significa entusiasmo.
Rasya se refere às substâncias como o pão
de açúcar que são saborosos porém são
secos. Sri Bhagavan se refere também aos
alimentos como o leite e o creme de leite
que são saborosos e pastosos porém não
são sólidos.
Depois fala dos alimentos saborosos,
pastosos e não sólidos como a fruta de
pan. Ainda que esta fruta esteja nas
categorias mencionadas, não é boa para o
coração e estômago, por tanto Sri
Bhagavan menciona especificamente os
alimentos que são benéficos para isto. Os
produtos da vaca como o leite e o iogurte,
assim como o trigo, o açúcar e o arroz,
possuem todas as boas características e as
pessoas na qualidade da bondade gostam.
Estas pessoas não gostam de alimentos
impuros.

Prakasika-vrtti

É fácil de distinguir a diferença entre os


efeitos de beber leite e beber álcool. As
pessoas deixam de ingerir alimentos no
modo da bondade devido a má associação,
o conhecimento defeituoso e a falta de
samskara apropriado.
Sloka 9

Katv-amla-lavanaty-usna
Tiksna-ruksa-vidahinah
Ahara rajasasyesta
Duhkha-sokamaya-pradah

Os alimentos amargos, ágrios, salgados,


picantes, secos ou quentes e que causam
dor, pesar e enfermidade, são consumidos
pelas pessoas situadas no modo da paixão.

Prakasika-vrtti

Ao ingerir alimentos no modo da paixão,


que logo provocam indigestão,
imediatamente se experimenta sensação
de ardor em sua língua, garganta e
estômago. Posteriormente, a mente se
torna inquieta com pensamentos
desagradáveis e ansiosa e assim se
desenvolve diversas doenças. Assim sua
vida se torna miserável.

Sloka 10

Yatayamam gatarasam
Puti paryusitanca yat
Ucchistamapi camedhyam
Bhojanam tamasapriyam
As pessoas situadas na qualidade da
ignorância gostam de ingerir alimentos
cozinhados a mais de três horas e também
frios, insípidos, em putrefação,
parcialmente comidos ou dispensados e
também impuros.

Bhavanuvada

A palavra yata-yamam significa comida


fria que foi cozinhada três horas antes de
ser consumida. Gata-rasam indica aquilo
que perdeu seu sabor natural ou cujo suco
já tenha sido extraído como a semente de
manga. Paryusitam indica algo cozinhado
na véspera. Ucchistam significa sobras,
mas não se refere aos remanentes de
pessoas altamente respeitáveis como as
situadas no Guru parampara. Amedhya é
tudo o que não é apto a ser consumido
como a carne e o tabaco. As pessoas
preocupadas com seu próprio bem-estar,
devem consumir alimentos no modo da
bondade, mas os vaishnavas não devem
aceitar nem sequer alimentos sattvika se
este não foi oferecido a Bhagavan.

Prakasika-vrtti

O Srimad Bhagavatam (11.5.11) diz:

“É evidente que as pessoas no mundo


material tem uma inclinação natural para
com o consumo de carne, álcool e
atividade sexual, mas as escrituras jamais
estimulam estas atividades. È permitida a
vida sexual até certo ponto, dentro de um
matrimônio sagrado.”

Algumas pessoas pensam que mesmo que


comer carne seja pecaminoso, ao ingerir
peixe, isto não se inclui nas atividades
pecaminosas. Porém o Manu-Samhita
proíbe por completo o consumo de carne:

“Os consumidores de carne de um animal


específico são conhecidos como
comedores deste animal, mas aqueles que
ingerem peixe comem a carne de todos,
porque o peixe comem a carne de todas as
entidades vivas, inclusive da vaca e do
veado. Eles comem inclusive coisas
putrefatas. Quem consome peixe na
realidade ingere a carne de todos os
seres.”

Os suddha-bhaktas comem apenas os


alimentos que tenham sido oferecidos a
Bhagavan Sri Krishna, e isto se denomina
Maha Prasada. Este é o único alimento
indicado para ser ingerido porque é
nirguna e está completamente livre de
pecado. No Padma Purana se diz:
“Ingerir comida ou água que não tenha
sido oferecido a Sri Vishnu é como comer
excremento e beber urina.”

Sloka 11

Aphalakansibhir yajno
Vidhi-disto ya ijyate
Yastavyam eveti manah
Samadhaya as sattvikah

A execução de yajna é obrigatória. O


yajna que é oferecido com esta
compreensão e executado segundo as
instruções dos sastras e sem esperar
recompensa está na qualidade da bondade.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan descreve agora os três tipos


de yajna. Se alguém se pergunta como
uma pessoa pode executar yajna sem
esperar resultados, Sri Bhagavan
responde: “Executa yajna porque
compreende que é seu dever e também
porque os sastras ordenam.”

Sloka 12

Abhisandhaya tu phalam
Dambhartham api caiva yat
Ijyate bharata-srestha
Tam yajnam viddhi rajasam
Ó melhor da dinastia Bharata! O yajna
que se executa pretensa e pomposamente,
desejando seus frutos, está sem dúvida na
qualidade da paixão.

Sloka 13

Vidhi-hinam asrstannam
Mantra-hinam adaksinam
Sraddha-virahitam yajnam
Tamasam paricaksate

O yajna que se executa contra as regras


dos sastras, no qual não se distribui
prasadam, não se canta mantras védicos e
tampouco se oferece caridade aos
sacerdotes, e que é realizado sem fé, é
condenado pelos sábios que o consideram
como estando no modo da ignorância.

Sloka 14

Deva-dvija-guru-prajna
Pujanam saucam arjavam
Brahmacaryam ahimsa ca
Sariram tapa ucyate

As austeridades relacionadas com o corpo


que incluem a adoração aos semideuses,
aos brahmanas, aos gurus e aos sábios,
são; limpeza, celibato e não-violência.
Sloka 15

Anudvega-karam vakyam
Satyam priya-hitanca yat
Svadhyayabhysanam caiva
Van-mayam tapa ucyate

As austeridades da fala conferem em


proferir palavras que não causem agitação
e que sejam verazes, prazeirosas e
benéficas, assim como também a
recitação dos Vedas.

Sloka 16

Manah-prasadah saumyatvam
Maunam atma-vinigrahah
Bhava-samsuddhir ity etat
Tapo manasam ucyate

As austeridades da mente consistem na


satisfação, gentileza, seriedade, disciplina
mental e conduta pura.

Sloka 17

Sraddhaya paraya taptam


Tapas tat tri-vidham naraih
Aphalakanksibhir yuktaih
Sattvikam paricaksate

As austeridades do corpo, da fala e da


mente, executadas por homens conectados
com o Senhor Supremo e que estão livres
do desejo de recompensa material, é
considerada como estando no modo da
bondade.

Sloka 18

Satkara-mana-pujartham
Tapo dambhena caiva yat
Kriyate tad iha proktam
Rajasam calam adhruvam

A austeridade executada com arrogância


para obter reconhecimento, honra e
adoração é considerada como estando no
modo da paixão. Ela é temporária e
incerta.

Sloka 19

Mudha-grahenatmano yat
Pidaya kriyate tapah
Parasyotsadanartham va
Tat tamasam udahrrtam

A austeridade executada sem sentido, que


causa dor ao ser ou que é realizada para
prejudicar os outros, é considerada com
estando no modo da ignorância.

Sloka 20

Datavyam iti yad danam


Diyate nupakarine
Dese kale ca patre ca
Tad danam sattvikam smrtam

A caridade deve ser oferecida como uma


questão de dever. A caridade outorgada
com este critério, sem esperar na da em
troca, que é realizada em um lugar
sagrado, em um momento auspicioso e a
uma pessoa venerável, situa-se no modo
da bondade.

Sloka 21
Yat tu pratyupakarartham
Phalam uddisya va punah
Diyate ca pariklistam
Tad danam rajasam smrtam

Mas a caridade que é oferecida com mal


humor ou com esperança de obter algum
benefício, é considerada no modo da
paixão.

Sloka 22

Adesa-kale yad danam


Apatrebhyas ca diyate
Asat-krtam avajnatam
Tat tamasam udahrtam

A caridade que é oferecida com uma


atitude desrespeitosa, em um lugar impuro
ou em um momento inauspicioso a uma
pessoa indigna, é considerada como
estando no modo da ignorância.

Slokas 23-24

Om tat sad iti nirdeso


Brahmanas tri-vidhah smrtah
Brahmanas tena vedas ca
Yajnas ca vihitah pura

Tasmad om ity udahrtya


Yajna-dana-tapah-kriyah
Pravarttante vidhanoktah
Satatam brahma-vadinam

É dito que om, tat e sat são as três


palavras usadas para indicar a Realidade
Absoluta Suprema. Os brahmanas, os
Vedas e os yajnas foram criados destas
três palavras. Por tanto, os seguidores
consagrados dos Vedas, sempre começam
a execução de sacrifícios, atos de
caridade, austeridades e demais atividades
prescritas nos sastras pronunciando a
sagrada sílaba om.

Sloka 25

Tad ity anabhisandhaya


Phalam yajna-tapah-kriyah
Dana-kriyas ca vividhah
Kriyante moksa-kanksibhih
As pessoas que desejam obter moksa
(liberação), executam diversos tipos de
yajna, austeridades e caridades
pronunciando a sílaba tat e renunciam os
frutos de suas atividades.

Sloka 26

Sad-bhave sadhu-bhave ca
Sad ity etat prayujyate
Prasaste ksrmani tatha
Sac-chabdah partha yujyate

Ó Partha! A palavra sat se refere à


Verdade Absoluta Suprema e aos
adoradores do brahma. É utilizada
também em conexão com atividades
auspiciosas.

Sloka 27

Yajne tapasi dane ca


Sthitih sad iti cocyate
Karma caiva tad-arthiyam
Sad ity evabhidhiyate

A determinação no yajna, a austeridade, a


caridade e o conhecimento do seu
verdadeiro propósito, estão relacionados
com a sílaba sat. As atividades como a
limpeza do templo visando agradar a Sri
Bhagavan são também consideradas sat.
Sloka 28

Asraddhaya hutam dattam


Tapas taptam krtanca yat
Asad ity ucyate partha
Na ca tat pretya no iha

Ó filho de Partha! O yajna, a caridade, a


austeridade ou qualquer ação que é
realizada sem fé se denomina asat. Estas
atividades não produzem benefício nem
neste mundo e nem no próximo.

Prakasika-vrtti

Todas as atividades que são realizadas


para servir Bhagavan, o guru e os
vaishnavas, como pedir caridade, cavar
poços e tanques, plantar jardins de flores e
tulasi, plantar árvores e construir templos,
são consideradas tad-arthiyam karma,
atividades para sua satisfação, e por tanto
são sat.

Assim se conclui o décimo sétimo


capítulo do Srimad Bhagavd Gita de
B.V.Narayana Goswami Maharaj.
Capítulo 18

Moksa Yoga

O princípio da liberação

Sloka 1

Arjuna uvaca
Sannyasasya maha-baho
Tattvam icchami veditum
Tyagasya ca hrsikesa
Prthak kesi-nisudana

Arjuna disse: Ó maha-baho! Ó Hrsikesa!


Ó Kesi nisudana! Desejo saber a diferença
entre sannyasa e tyaga, assim como a
natureza de ambos.

Bhavanuvada

Este capítulo descreve os seguintes temas;


os três tipos de sannyasa, o jnana, o
karma, a compreensão conclusiva de
mukti e a essência mais confidencial de
bhakti. No capítulo anterior Sri Bhagavan
disse: “Após liberar-se dos desejos
materiais, os que buscam moksa executam
diversos tipos de yajna, oferecem caridade
e realizam penitências pronunciando a
sílaba sat.”
Arjuna é muito inteligente e inquisitivo,
por isso se dirige a Krishna recitando este
verso começando com a palavra
sannyasa, para que possa compreender
estes temas claramente.

Sloka 2

Sri bhagavan uvaca


Kamyanam karmanam nyasam
Sannyasam kavayo viduh
Sarva-karma-phala-tyagam
Prahus tyagam vicaksanah

Sri Bhagavan disse: Segundo os sábios, a


renúncia total às atividades fruitivas se
chama sannyasa, enquanto a renúncia aos
resultados de todas as atividades se chama
tyaga.

Bhavanuvada

O termo sannyasa se aplica à pessoa que


abandona por completo todas as
atividades fruitivas como por exemplo a
execução de yajnas para satisfazer o
desejo de ter um filho ou alcançar
planetas superiores, mas não abandona as
atividades obrigatórias como a meditação
nos gayatri-mantras. O termo tyaga se
aplica à pessoa que por uma questão de
dever, realiza tanto atividades fruitivas
quanto as obrigatórias mas renuncia os
frutos destas atividades.

Sloka 3

Tyajyam dosa-vad ity eke


Karma prahur manisinah
Yajna-dana-tapah-karma
Na tyajyam iti capare

Alguns pensadores, como os sankhya-


vadis, declaram que visto que toda ação é
defeituosa, deve ser abandonada. Outros,
como os mimamsakas, opinam que os atos
de sacrifício, caridade e austeridade nunca
devem ser abandonados.

Sloka 4

Niscayam srnu me tatra


Tyage bharata-sattama
Tyago hi purusa-vyaghra
Tri-vidhah samprakirttitah

Ó melhor entre os Bharatas! Escuta minha


definitiva opinião sobre o tyaga. Ó
supremo entre os homens! Se diz que o
tyaga são de três tipos.

Sloka 5

Yajna-dana-tapah-karma
Na tyajyam karyam eva tat
Yajno danam tapas caiva
Pavanani manisinam

A ação na forma de sacrifício, caridade ou


austeridade, jamais deve ser abandonada
porque estes são deveres prescritos. O
sacrifício, a caridade e a austeridade
purificam até mesmo os corações dos
pensadores e dos sábios.

Sloka 6

Etany api tu karmani


Sangam tyaktva phalani ca
Karttavyaniti me partha
Niscitam matam uttamam

Ó Partha! Uma pessoa deve realizar toda


atividade sem considerar-se o atuante e
abandonando o apego por seus frutos.
Esta é minha opinião definitiva e
suprema.

Sloka 7

Niyatasya tu sannyasah
Karmano nopapadyate
Mohat tasya parityagas
Tamasah parikirttitah
Mas a renúncia ao trabalho obrigatório
não é correta. Esta renúncia é considerada
tamasika porque é produto da ilusão.

Bhavanuvada

Dos três tipos de tyaga, este é o tyaga que


se encontra no modo da ignorância.

Sloka 8

Duhkham ity eva yat karma


Kaya-klesa-bhayat tyajet
As krtva rajasam tyagam
Naiva tyaga-phalam labhet

Se uma pessoa considera que o dever


prescrito é uma fonte de sofrimento e o
abandona por temor à incomodidade
corpórea, sua renúncia está no modo da
paixão e é infrutífera.

Sloka 9

Karyam ity eva yat karma


Niyatam kriyate ´rjuna
Sangam tyaktva phalancaiva
sa tyagah sattviko matah

Ó Arjuna, a renúncia de uma pessoa que


executa sua atividade prescrita como uma
questão de dever e abandona o apego
pelos frutos da ação, como também o ego
de se considerar o atuante, é considerada
como estando no modo da bondade.

Sloka 10

Na dvesty akusalam karma


Kusale nanusajjate
Tyagi sattva-samavisto
Medhavi chinna-samsayah

O renunciado dotado de sattva-guna, cuja


inteligência é firme e que está livre de
toda dúvida, não abomina o trabalho
doloroso nem se apega às coisas que
outorgam felicidade.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan explica as características de


uma pessoa firme no sattvika-tyaga.
Akusalam significa que eles não
abominam as atividades dolorosas, como
os banhos matinais de água fria no
inverno, e kusale significa que não estão
apegados às atividade que dão prazer,
como os banhos de água fria durante o
verão.

Sloka 11

Na hi deha-bhrta sakyam
Tyaktum karmany asesatah
Yas tu karma-phala-tyagi
sa tyagity abhidhiyate

Um ser corporificado não pode abandonar


a ação por completo, mas aquele que
abandona os frutos da ação é um real
renunciado.

Sloka 12

Anistam istam misranca


Tri-vidham karmanah phalam
Bhavaty atyaginam pretya
Na tu sannyasinam kvacit

Aqueles que não se dedicam à renúncia


descrita, alcançam três destinos após
abandonar o corpo; uma existência
infernal, um lugar onde residem os
semideuses ou um nascimento humano
neste mundo. Mas os sannyasis nunca
obtêm tais resultados.

Sloka 13

Pancaitani maha-baho
Karanani nibodha me
Sankhye krtante proktani
Siddhaye sarva-karmanam

Ó Maha-baho! Escuta agora sobre as


cinco causas que intervêm no
cumprimento de qualquer ação. Estão
descritas na filosofia sankhya, que explica
como obter as reações do karma.

Bhavanuvada

“Ouve-me falar agora sobre as cinco


causas da ação que são responsáveis pelo
cumprimento de todas as atividades.” A
filosofia que descreve Paramatma se
denomina sankhya (san-completamente, e
khya-descreve), isto é explicado no
Vedanta-sastra e explica como anular as
reações das ações que tenham sido
executadas.

Sloka 14

O corpo, o agente e o atuante, os sentidos,


as diversas classes de esforço e o
inspirador interno ou Antaryami, são as
cinco causas do karma que é mencionado
no Vedanta.

Prakasika-vrtti

Aqui se explica as cinco causas da ação


mencionadas no verso. A palavra
adhisthanam neste contexto refere-se ao
corpo, pois a ação só pode ser realizada
quando a baddha-jiva está situada nele. A
alma situada no corpo é a atuante, pois é
ela quem executa a ação. A alma pura não
tem relação alguma com o karma, mas se
converte em quem desfruta dos resultados
devido ao falso ego de atuante. Assim
sendo, a alma é tanto quem conhece
quanto quem atua. Isto é mencionado nos
srutis: “A alma é tanto a testemunha
quanto a atuante.” Por outro lado, a alma
realiza diversos tipos de atividades com
ajuda dos sentidos, os quais são por tanto,
os instrumentos utilizados para a
execução do karma. Cada atividade requer
um esforço separado, mas todas elas
dependem da sanção de Paramesvara, que
está situada dentro dos corações de todos
como controlador, testemunho e amigo.
Paramesvara é a causa Suprema. As
pessoas que estão inspiradas por uma
grande personalidade esperta no
significado dos sastras e conhecedora da
realidade transcendental e por
Paramesvara, sabem o que é obrigatório e
o que não é. Assim, se dedicam à
execução de bhakti e rapidamente
alcançam o destino supremo sem se atar
às reações do seu bom e mal karma.

Sloka 15

Sarira-van-manobhir yat
Karma prarabhate narah
Nyayyam va viparitam va
Pancaite tasya hetavah
Estas são as cinco causas que existem
atrás de qualquer atividade correta ou
incorreta que uma pessoa execute com o
corpo, fala ou mente.

Sloka 16

Tatraivam sati karttaram


Atmanam kevalantu yah
Pasyaty akrta-buddhitvan
Na as pasyati durmatih

Por tanto, aquele que ignora estes cinco


fatores e considera que a alma é a única
atuante de todas as atividades é um néscio
que não pode ver as coisas
apropriadamente devido a sua impura
inteligência.

Sloka 17

Yasya nahankrto bhavo


Buddhir yasya na tipyate
Hatvapi as imallokan
Na hanti na nibadhyate

A pessoa que está livre do ego de se julgar


o atuante e cuja inteligência não está
apegada aos frutos do karma, mesmo que
mate algum ser vivo, na realidade não
mata e nem é atada pelos resultados de
suas ações.
Prakasika-vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta


Krishna: “Ó Arjuna! Tu estas confundido
sobre sua posição nesta batalha devido ao
falso ego. Se estivesse compreendido que
os cinco fatores descritos são a causa do
karma, não estava se sentindo assim. Por
tanto, as pessoas cuja inteligência não se
está coberta pelo falso ego de atuantes não
mata mesmo que aniquile toda a
humanidade, e por tanto não são atadas
pelos resultados desta matança.”

Sloka 18

Jnanam jneyam parijnata


Tri-vidha karma-codana
Karanam karma kartteti
Tri-vidhah karma-sangrahah

O conhecimento, o conhecível e o
conhecedor, constituem o impulso para
executar o karma. O instrumento, a
atividade e o agente formam a base tripla
do karma.

Prakasika-vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta


Krishna: O instrumento, o objeto e o
atuante formam as três bases do karma
conhecido como karma-sangrahah.
Qualquer ação que uma pessoa execute
tem duas etapas: codana ou inspiração e
sangrahah ou base. O processo que
antecede o karma chama-se codana. A
inspiração constitui a existência sutil da
ação e da fé que existe na mente antes que
a ação se manifeste. A etapa que precede
a ação se divide em três partes: o
conhecimento do instrumento da ação, o
objeto concebido da ação e o que executa
a ação. A execução da ação tem três
divisões: o instrumento, o objeto e o
sujeito.”

Sloka 19

Jnanam karma ca kartta ca


Tridhaiva guna-bhedatah
Procyate guna-sankhyan
Yathavac chrnu tany api

Os sastras sankhya descrevem as


diferentes qualidades da natureza, o
conhecimento, a ação e o sujeito da ação.
Se diz que cada um é de três tipos:
sattvika, rajasika e tamasika. Escuta agora
eu falar sobre eles.

Sloka 20

Sarva-bhutesu yenaikam
Bhavam avyayam iksate
Avibhaktam vibhaktesu
Taj jnanam viddhi sattvikam

O sattvika-jnana é o conhecimento no
qual se percebe que as jivatmas
corporificadas em humanos, semideuses e
animais, são indivisíveis e imperecíveis, e
possuem a mesma qualidade de
consciência mesmo que ainda estejam
experimentando diferentes tipos de frutos.

Prakasika-vrtti

Como se explicou anteriormente, as jivas


são de dois tipos: baddha (condicionadas)
e mukta (liberadas). Mesmo que sejam
ilimitadas, elas são idênticas com relação
à sua natureza consciente. Todas são,
segundo sua natureza constitucional,
servas de Krishna, mesmo que nasçam em
diferentes espécies como os semideuses,
seres humanos e animais. Para estabelecer
este siddhanta, Sri Krishna explica que
através de sattvika-jnana percebe-se que
as inumeráveis jivas existem dentro de
diferentes corpos. Desde a perspectiva da
realidade consciente e mediante o
sattvika-jnana, pode-se perceber como as
entidades indivisíveis, são imutáveis e
sem diferença alguma quanto à sua
natureza.

Sloka 21
Prthaktvena tu yaj jnanam
Nana-bhavan prthag-vidhan
Vetti sarvesu bhutesu
Taj jnanam viddhi rajasam

O conhecimento no qual se percebe os


diferentes tipos de jiva dentro de
diferentes corpos, como semideuses ou
humanos, pertencentes às diferentes
categorias de existência com propósitos
diversos, se denomina rajasika-jnana.

Prakasika-vrtti

O rajasika-jnana promove diferentes


concepções. Isto significa que aqueles que
não acreditam na existência de um plano
transcendental dizem que o corpo é a
alma. Os jainis dizem que mesmo que a
alma seja diferente do corpo, está limitada
pelo corpo, ou seja, não tem uma
existência separada. Os budistas afirmam
que a alma é consciente por um período
de tempo limitado. Os lógicos afirmam
que a alma é a base dos nove tipos de
qualidades especiais, ou seja, que é
diferente do corpo e não é inerte. O jnana
que produz estas compreensões a respeito
da alma é denominado de rajasika –jnana
(conhecimento no modo da paixão)

Sloka 22
Yat tu krtsna-vad ekasmin
Karye saktam ahaitukam
Atattvartha vad alpanca
Tat tamasam udahrtam

O tamasika-jnana é o conhecimento que


impulsiona o homem a absorver-se em
atividades relacionadas com o corpo
material, tais como tomar banho e comer,
considerando-as como a perfeição
máxima da vida. Este conhecimento é
irracional, carente de substância espiritual
e é não diferente do de um animal.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan descreve agora o


conhecimento no modo da ignorância. É o
conhecimento que carece de referência
espiritual e que promove o apego pelos
atos próprios tais como comer, beber e
tomar banho, assim como desfrutar do
sexo oposto.

Sloka 23

Niyatam sanga rahitam


Araga-dvesatah krtam
Aphala-prepsuna karma
Yat tat sattvikam ucyate
O karma que é executado sem desejos
fruitivos e apegos e que está livre de
qualquer atração ou aversão pessoal, é
considerado sattvika.

Bhavanuvada

Após descrever os três tipos de


conhecimento, Sri Bhagavan descreve
agora os três tipos de karma.

Sloka 24

Yat tu kamepsuna karma


Sahankarena va punah
Kriyate bahulayasam
Tad rajasam udahrtam

Mas o karma que é executado com grande


esforço por uma pessoa iludida pelo falso
ego e que busca satisfazer seus desejos
fruitivos, é denominado rajasika-karma.

Sloka 25

Anubandham ksayam himsam


Anapeksya ca paurusam
Mohad arabhyate karma
Yat tat tamasam ucyate

A atividade que é realizada através da


ilusão sem considerar a habilidade para
executa-la, que produz misérias futuras e
causa a destruição do dharma e do jnana
assim como a perda do ser ou dificuldades
aos outros, é denominada de tamasika-
jnana.

Bhavanuvada

Bandha significa o cativeiro causado por


pessoas como a polícia ou os yamadutas.
Qualquer esforço material que surge da
ilusão sem se considerar as terríveis
conseqüências futuras, a destruição do
dharma ou a perda do próprio ser, é
considerada tamasika.

Sloka 26

Mukta-sango naham-vadi
Dhrty-utsaha-samanvitah
Siddhy-asiddhyor nirvikarah
Kartta sattvika ucyate

O executor da ação que está livre de


desejo fruitivo e do orgulho, que está
dotado de fortaleza e entusiasmo, e que
não se pertuba diante o êxito ou fracasso
de seus atos, é considerado sattvika.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan explicou primeiro os três


tipos de karma e agora explica os três
tipos de atuantes.
Sloka 27

Ragi karma-phala-prepsur
Lubdho himsatmako sucih
Harsa-sokanvitah kartta
Rajasah parikirttitah

Aquele que atua apegado a ação e que


anseia seus frutos, que é viciado em
objetos sensíveis, que está sempre
disposto à violência, que é invejoso e se
deixa levar pela alegria e tristeza, é
considerado rajasika.

Sloka 28

Ayuktah prakrtah stabdhah


Satho naiskrtiko lasah
Visadi dirgha-sutri ca
Kartta tamasa ucyate

Aquele que ignora as instruções dos


sastras e atua segundo a natureza
adquirida, que é obstinado, enganador,
indignado, mal humorado e negligente, é
considerado tamasika.

Prakasika-vrtti

No Srimad Bhagavatam (11.25.26) se diz:


“O trabalhador desapegado é sattvika, o
que está apegado é rajasika, o que não
possui discriminação entre bom ou mau é
tamasika, mas aquele que se rende a mim
é nirguna ou transcendental.”

Sloka 29

Buddher bhedam dhrtes caiva


Gunatas tri-vidham srnu
Procyamanam asesena
Prthaktvena dhananjaya

Ó Dhananjaya! Agora te explicarei


detalhadamente sobre as três divisões da
inteligência e da determinação
relacionadas com as três qualidades
materiais.

Sloka 30

Pravrttinca nivrttinca
Karyakarye bhayabhaye
Bandham moksanca ya vetti
Buddhih sa partha sattvika

Ó Partha! A inteligência é sattvika quando


pode distinguir entre o que é apropriado e
o que é incorreto, entre o que se deve
temer e o que não se deve temer, e entre o
que escraviza e o que libera.

Sloka 31
Yaya dharmam adharmanca
Karyancakaryam eva ca
Ayathavat prajanati
Buddhih sa partha rajasi

Ó Partha, a inteligência é rajasika, quando


não se discerne perfeitamente entre o
dharma e o adharma, e entre o que se deve
e o que não se deve fazer.

Sloka 32

Adharmam dharmam iti ya


Manyate tamasavrta
Sarvathan viparitams ca
Buddhih sa partha tamasi

Ó Partha! A inteligência é tamasika


quando está coberta pela ignorância e
ilusão, quando confunde o dharma com
adharma e quando atua de maneira
perversa.

Sloka 33

Dhrtya yaya dharayate


Manah-pranendriya-kriyah
Yogenavyabhicarinya
Dhhrtih sa partha sattvika

Ó Partha! É considerada sattvika, a firme


determinação que se alcança mediante a
prática do yoga e o controle das funções
da mente, ar vital e sentidos.

Sloka 34

Yaya tu dharma-kamarthan
Dhrtya dharayate ´rjuna
Prasangena phalakansi
Dhrtih sa partha rajasi

Ó Arjuna! A determinação na qual uma


pessoa se apega ao dharma, ao desfrute
sensual e ao desenvolvimento econômico,
ansiando pelos frutos, é considerada
rajasika.

Sloka 35

Yaya svaonam bhayam sokam


Visadam madam eva ca
Na vimuncati durmedha
Dhrtih sa tamasi mata

Mas a determinação carente de


inteligência que não vai além do sonho,
do temor, da lamentação e da loucura, é
considerada tamasika.

Sloka 36

Sukham tv idanim tri-vidham


Srnu me bharatarsabha
Abhyasad ramate yatra
Duhkhantanca nigacchati

Ó melhor da dinastia Bharata! Me escuta


falar agora sobre as três classes de
felicidade. A felicidade que a jiva
saboreia através do cultivo constante e
que põe fim a miséria da existência
material, é considerada sattvika.

Sloka 37

Yat tad agre visam ivã


Pariname ´mrtopamam
Tat sukham sattvikam proktam
Atma-buddhi-prasada-jam

A felicidade que é como um veneno no


começo e néctar no final e que gera
inteligência pura relacionada com o ser, é
considerada sattvika.

Sloka 38

Visayenadriya-samyogad
Yat tad agre ´mrtopamam
Pariname visam ivã
Tat sukham rajasam smrtam

A felicidade rajasika é o resultado do


contato dos sentidos com seus respectivos
objetos. Ela é como néctar no começo e é
como veneno no final.
Sloka 39

Yad agre canubandhe ca


Sukham mohanam atmanah
Nidralasya-pramadottham
Tat tamasam udahrtam

A felicidade que cobre a natureza do ser


do princípio ao fim e que surge do sonho,
da negligência e da indiferença, é
considerada tamasika.

Sloka 40

Na tad asti prthivyam va


Divi devesu va punah
Sattvam p´rakrti-jair muktam
Yad ebhih syat tribhir gunaih

Entre os seres humanos e outras espécies


terrenas, e até entre os semideuses em
Svarga, nenhum objeto ou entidade nesta
criação está livre das três qualidades
nascidas da natureza material.

Prakasika-vrtti

Tudo que está relacionado com o mundo


material está composto pelas três
qualidades da natureza material.
Bhagavan estabeleceu a superioridade da
qualidade da bondade e por isto
aconselha-se uma pessoa a aceitar e
refugiar-se apenas no que é próprio desta
natureza. Mesmo assim, para liberar-se do
cativeiro material é necessário que as
pessoas situam-se em nirguna
(transcendentalmente). É através da
associação com o sadhu (pessoa santa)
que uma pessoa pode transcender os
modos da natureza material e assim se
liberar do cativeiro material, não há outra
maneira.
O Srmad Bhagavatam (11.25.32) diz:

“As jivas estão atadas pelos gunas e o


karma devido à confusão de achar que o
corpo seja o ser. Por isto perambulam
pelas distintas espécies de vida. Mas as
pessoas que estão influenciadas pela
associação dos devotos que praticam
bhakti-yoga e como resultado conquistam
os modos materiais que se manifestam na
mente na forma do falso ego (a
identificação do corpo com o ser) e se
dedicam firmemente a mim, alcançam
bhagavat-seva em minha morada.”

Sloka 41

Brahmana ksatriya visam


Sudrananca parantapa
Karmani pravibhaktani
Svabhava prabhavair gunaih
Ó Parantapa! Os deveres prescritos dos
brahmanas, dos ksatriyas, dos vaisyas e
dos sudras, estão divididos de acordo com
as tendências provindas de suas
respectivas naturezas.

Prakasika-vrtti

Com o propósito de situar os seres


humanos além da jurisdição dos três
gunas e promove-los gradualmente a uma
atitude mais elevada, Bhagavan Sri
Krishna estabelece o varna-dharma
dividindo os deveres prescritos de acordo
com as qualidades e ações.
O sistema de varna puro é muito benéfico,
favorável e científico para a vida humana.
Porém, com o decorrer do tempo, os
homens ordinários perderam a fé neste
sistema após detectar diversos defeitos em
seus respectivos seguidores. Perdeu-se a
fé de tal maneira que hoje em dia até as
pessoas ordinárias da sociedade hindu
responsabilizam o sistema de varnasrama,
pelas divisões e hostilidade criada por
suas castas.
A maioria da população hindu está
determinada a destruir o varna-dharma
para estabelecer uma sociedade ateísta
sem nenhum varna. É fácil destruir algo
útil, mas é muito difícil criar e propagar,
neste caso, o sistema ideal. Que Sri
Bhagavan outorgue uma boa inteligência
a estas pessoas. Estão elas assumindo esta
postura após a deliberação sobre o assunto
ou elas estão sendo arrastadas por seus
sentimentos? Com relação a isto,
citaremos fragmentos dos comentários de
Bhaktivinoda Thakura encontrados no
Caitanya Caritamrta. Oramos
humildemente ao leitor fiel que os
examine cuidadosamente e tente
compreende-los.

“As inclinações ou qualidades de uma


pessoa depende da sua natureza, ela deve
atuar de acordo com esta natureza
individual, pois a ação que não é realizada
de acordo com este princípio é defeituosa.
A palavra “gênio” é usada para indicar
uma atitude ou caráter particular. É difícil
que uma pessoa mude sua natureza uma
vez que esta amadureceu, por tanto ela
deve trabalhar para viver e aperfeiçoar-se
espiritualmente através das ações próprias
da sua natureza específica. Na Índia, as
pessoas são divididas em quatro varnas
segundo suas naturezas. O resultado é que
as pessoas situando-se em um lugar social
adequado sempre atuam naturalmente de
forma fruitiva e a humanidade se torna
favorável. Uma sociedade com este
fundamento é digna de respeito de toda a
humanidade.”
“Pode ser que algumas pessoas duvidem
do sistema de varnasrama e digam: ‘Na
Europa e América ninguém segue as
instruções baseadas nas divisões de varnas
e as pessoas destes continentes são mais
avançadas e respeitadas, econômica e
cientificamente, do que o povo hindu.’
Aqueles que pensam assim consideram
que é inútil aceitar este sistema. Mas as
dúvidas carecem de fundamento, poia as
sociedades européias são
consideravelmente novas. As pessoas
destas sociedades são geralmente muito
fortes e audaciosas. Com toda esta
audácia e força executam diversas
atividades no mundo e aceitam parte do
conhecimento, ciência e artes que estão
preservadas pelas sociedades mais
antigas. Mas estas sociedades se
extinguirão gradualmente por que sua
estrutura social não tem fundamento
científico. Mas os sintomas do sistema de
varna original que existia na sociedade
ariana hindu, se pode ver também na
sociedade hindu atual apesar de ser tão
antiga e débil.

“Antigamente, as sociedades romanas e


gregas eram muito mais poderosas e
avançadas do que os países europeus
modernos, mas qual é a sua condição
atual? Perderam seu antigo sistema de
castas e abraçaram as religiões e sistemas
das sociedades modernas até o extremo,
tanto que as pessoas destas castas nem
sequer proclamam as glórias dos seus
nobres ancestrais. Mesmo que a sociedade
ariana da Índia seja mais antiga que a
romana e a grega, os arianos atuais se
sentem orgulhosos dos seus grandes de
seus grandes e heróicos antepassados.
Qual a razão disto? Se deve à fundação
forte na qual se sustenta a sociedade
ariana que é o sistema de varnasrama que
suas divisões sociais ou de castas toda via
ainda permanece. Os descendentes de
Rana, que foram derrotados pelos
mlecchas, ainda se consideram heróicos
descendentes de Sri Ramacandra.
Enquanto a estrutura do varna continuar
existindo na Índia, as pessoas continuarão
sendo arianas.”

“ Ainda que o varna-dharma seja


parcialmente aceito na Europa, não se
estabeleceu em sua forma plena e
científica. Onde quer que o conhecimento
e a civilização progridam, o varna-dharma
se manifesta proporcionalmente de forma
mais completa. Em qualquer atividade há
duas classes de métodos efetivos; o
científico e o intuitivo. Uma atividade é
executada intuitivamente até que se aceite
o processo científico. Por exemplo, antes
da invenção dos barcos a vapor, as
pessoas viajavam em botes desenhados
para depender do vento. Mas quando se
introduziu as embarcações fabricadas
cientificamente, todas as viagens
começaram a ser feitas nelas. O mesmo
princípio pode ser aplicado à sociedade.
Enquanto o varna não se estabelecer
apropriadamente em um país, sua
sociedade se estruturará em um sistema
rudimentar e intuitivo. Esta estrutura de
varna rudimentar e primitiva opera e
controla hoje, as sociedades de todos os
países do mundo, com exceção da Índia.
Por esta razão, a Índia vem sendo
denominada como karma-ksetra, ou a
terra ideal para a execução apropriada do
karma.”

“Poderia se perguntar agora, se o sistema


de varna ainda funciona na Índia atual. A
resposta é não. Mesmo que este sistema
tenha sido estabelecido plenamente, se
debilitou com o decorrer do tempo e sua
degradação é visível hoje em dia na
Índia.”

“A fama da Índia se difundiu pelo mundo


inteiro, como o poderoso brilho do sol
meridional, quando o varna funcionava de
maneira inteligente. Pessoas de todos os
países do mundo ofereciam tributo à Índia
e aceitavam seus governantes, regentes e
mestres espirituais como sendo seus. As
pessoas de países como o Egito e China
escutavam e recebiam instruções dos
hindus com grande fé e reverência.”

“O sistema de varnasrama-dharma
mencionado perdurou na Índia, em sua
forma pura, durante muito tempo. Logo,
devido à influência do tempo, Jamadagani
e Parasurama, que possuíam uma natureza
ksatriya, foram ilegalmente aceitos como
brahmanas, mas eles abandonaram esta
casta que era oposta a suas naturezas.
Então surgiu uma disputa entre os
brahmanas e os ksatriyas que causou uma
perturbação na paz em nível mundial. O
resultado desfavorável desta luta no
sistema de varna foi que se deu maior
ênfase no nascimento. Com o passar do
tempo, o sistema de varna deturpado foi
infiltrando de modo encoberto de modo
que até os sastras foram afetados. Os
ksatriyas perderam toda esperança de
alcançar um varna superior e começaram
uma revolta. Eles apoiaram o dharma
budista e focaram toda energia na
destruição dos brahmanas. A oposição a
qualquer atividade ou opinião nova se
desenvolvia com a mesma intensidade da
propagação. Quando o dharma budista,
oposto aos Vedas, nasceu para confrotar
os brahmanas, a estrutura do varna
fundamentada no nascimento se
aprofundou ainda mais. Logo surgiu um
desacordo entre este sistema
erroneamente concebido e um espírito
nacionalista conduziu a virtual
desintegração da civilização ariana da
Índia.”

“Movidos por desejos egoístas, os


supostos brahmanas carentes de
qualidades bramínicas, criaram suas
próprias escrituras religiosas e começaram
a enganar as outras castas. Os supostos
ksatriyas haviam perdido suas qualidades
e seu espírito ksatriya e eram contrários à
guerra, e assim perderam seus reinos.
Finalmente todos começaram a pregar o
dharma budista, que era insignificante e
inferior. Como resultado, o cultivo de
conhecimento e as discussões sobre os
sastras Védicos foram barrados. Os
governantes dos países baixos atacaram
então a Índia e estabeleceram seu
controle. A indústria naval da Índia sofreu
e finalmente desapareceu devido a má
administração. Assim, a influência de Kali
se intensificou. A raça ariana da Índia,
que havia sido um exemplo para o mundo
inteiro, se deteriorou até a lastimosa
condição que vemos hoje. A razão deste
desafortunado acontecimento não é o
envelhecimento da civilização hindu, mas
os numerosos defeitos que se infiltraram
neste sistema de varna.”
“Paramesvara é o controlador original de
todos os sistemas e entidades vivas. Ele
tem a capacidade de eliminar todos os
elementos desfavoráveis e outorgar aquele
que é favorável. Ele pode se assim deseja,
enviar um empoderado para restabelecer o
varnasrama dharma. Mesmo os escritores
dos Puranas afirmam que Sri Kalki-deva
virá e reinstaurará a glória do varnasrama-
dharma. A história do Rei Maru e Devapi
descreve uma expectativa similar.”

Sloka 42

Samo damas tapah saucam


Ksantir arajavam eva ca
Jnanam vijnanam astikyam
Brahma-karma svabhava-jam

O controle da mente e os sentidos, a


penitência, a pureza, a tolerância, a
sensibilidade, o conhecimento do ser e do
bhajana, e a fé firme nos sastras, são
qualidades e deveres característicos dos
brahmanas, nascidos de sua própria
natureza.

Prakasika-vrtti

Neste verso se descreve as qualidades dos


brahmanas. Rsabhadeva diz no Srimad
Bhagavatam (5.5.24):
“Quem pode ser superior aos brahmanas?
Através dos estudos, eles reafirmam
minha charmosa forma primordial dos
Vedas, os quais são o avatara do som
transcendental. Eles estão dotados com as
oito qualidades supremamente puras de
sattva-guna; controle da mente, controle
dos sentidos, veracidade, misericórdia,
penitência, tolerância, conhecimento e
bhakti. “O brahmana verdadeiro que
possui estas qualidades não pode ser uma
causa de violência para ninguém. Estes
indivíduos são sem dúvida os bem
querentes de todos os seres vivos. Esta
declaração é definitivamente certa. Mas os
que não possuem qualidades brahmínicas
apenas causam dano à sociedade mesmo
que se auto proclamem brahmanas. Mas
não é correto criticar o sistema de castas
devido a este defeito. A ação indicada
para corrigir estes defeitos que se
infiltraram neste sistema é oferecer a
honra apropriada apenas para brahmanas
que possuam boas qualidades.
A sociedade ateísta que está se formando
atualmente não se preocupa pelas castas
ou divisões e simplesmente avança ao
assasinato, roubo, delinqüência, engano e
outras atividades pecaminosas. A agitação
e o temor tomou conta de todos. O mundo
jamais havia estado em uma condição tão
miserável.
Sloka 43

Sauryam tejo dhrtir daksyam


Yuddhe capy apalayanam
Danam isvara-bhavas ca
Ksatram karma-svabhava-jam

O heroísmo, a firmeza, valentia na


batalha, generosidade e liderança, são as
ações prescritas para os ksatriyas nascidas
de sua própria natureza.

Sloka 44

Krsi-go-raksya-vanijyam
Vaisya-karma svabhava-jam
Paricaryatmakam karma
Sudrasyapi svabhava-jam

O karma prescrito dos vaisyas, nascido da


sua própria natureza, é a agricultura, a
proteção às vacas e o comércio. O karma
dos sudras, também nascido da sua
própria natureza, é render serviço aos
outros três varnas.

Bhavanuvada

Nos vaisyas, predomina-se rajo-guna e


um pouco de tamo-guna. E tamo-guna é
predominante nos sudras.

Sloka 45
Sve sve karmany abhiratah
Samsiddhim labhate narah
Sva-karma niratah siddhim
Yatha vindati tac chrnu

Os homens se dedicam a seu próprio


karma segundo sua atitudes respectivas.
Deste modo conquistam a perfeição de ser
elegíveis a obter jnana. Escuta agora
como uma pessoa que não cumpre com
seu dever prescrito jamais poderá alcançar
a perfeição.

Sloka 46

Yatah pravrttir bhutanam


Yena sarvam idam tatam
Sva-karmana tam abhyarcya
Siddhim vindati manavah

Um homen conquista a perfeição


mediante execução do seu karma prescrito
adorando Paramesvara, que é a fonte de
todas as jivas e quem penetra este mundo.

Sloka 47

Sreyan sva-dharmo vigunah


Para-dharma sv-anusthitat
Svabhava-niyatam karma
Kurvan napnoti kilbisam
É mais benéfico executar o dever próprio
(sva-dharma), mesmo que seja inferior ou
realizado de forma imperfeita, do que
executar o dever mais elevado de outros
(para-dharma). Um homem jamais incorre
em pecado ao executar seu dever
prescrito.

Sloka 48

Saha-jam karma kaunteya


As-dosam api na tyajet
Sarvarambha hi dosena
Dhumenagnir ivavrtah

Ó Kaunteya! Uma pessoa não deve


abandonar seu dever natural mesmo este
sendo defeituoso, pois assim como a
fumaça cobre o fogo, todo esforço está
coberto por algum defeito.

Sloka 49

Asakta-buddhih sarvatra
Jitatma vigata-sprhah
Naiskarmya-siddhim paramam
Sannyasenadhigacchati

A pessoa que possui uma inteligência


desapegada dos objetos materiais, que tem
uma mente controlada e que está livre de
desejos incluindo o de alcançar a
felicidade de Brahma-loka, renuncia
completamente o karma e conquista a
perfeição suprema da ação desinteressada
que está livre de toda reação.

Sloka 50

Siddhim prapto yatha brahma


Tathapnoti nibodha me
Samasenaiva kaunteya
Nistha jnanasya ya para

Ó Kaunteya! Vou te explicar agora os


meios pelos quais uma pessoa que
alcançou a perfeição na forma de
niskarmya, situa-se no brahma, que
culmina no jnana.

Slokas 51-53

Buddhya visuddhaya yukto


Dhrtyatmanam niyamya ca
Sabdadin visayams tyakva
Raga-dvesu vyudasya ca

Vivikta-sevi laghv-asi
Yata-vak-kaya-manasah
Dhyana-yoga-paro nityam
Vairagyam samupasritah

Ahankaram balam darpam


Kamam krodham parigraham
Vimucya nirmamah santo
Brahma-bhuyaya kalpate
A pessoa pacífica e dotada de inteligência
pura, que controla sua mente e é tolerante,
que abandona os objetos de desfrute
sensual, que está livre do apego e da
aversão, que vive em um lugar solitário,
come pouco, controla o corpo mediante a
meditação em Bhagavan, que está
totalmente desapegada e livre do ego e do
apego falso, da arrogância, do desejo, da
ira, do acúmulo desnecessário de posses e
da noção de “meu”, está apta para
conhecer o brahma.

Sloka 54

Brahma-bhutah prasannatma
Na socati na kanksati
Samah sarvesu bhutesu
Mad-bhaktim labhate param

Aquele que está situado no brahma é


plenamente satisfeito. Ele jamais se
lamenta e nem deseja nada. Ele é
equânime com todos os seres. Neste
estado ele obtém minha bhakti, a qual está
abençoada com os sintomas de prema
(amor puro por Krishna).

Prakasika-vrtti

As grandes almas que na associação com


Sadhus, alcançaram a plataforma brahma-
bhuta que está dotada com os sintomas
mencionados, experimentam para-prema-
bhakti a Sri Bhagavan. Chegando a este
ponto, é necessário compreender o real
significado da palavra para-bhakti.

“Uttama-bhakti é o cultivo de atividades


que são realizadas exclusivamente para
satisfazer Sri Krishna. Em outras palavras,
é a corrente ininterrupta do serviço a Sri
Krishna executado com cada ação do
corpo, mente e sentidos, através da
expressão de diversos sentimentos
espirituais, que não está coberto pelo
jnana, karma ou yoga, e que também está
desprovido de qualquer desejo diferente
da aspiração de satisfazer a Sri Krishna.”

Sloka 55

Bhaktya mam abhijanati


Yavan yas casmi tattvatah
Tato mam tattvato jnatva
Visate tad-anantaram

Apenas através de bhakti, uma pessoa


pode conhecer o tattva (verdade) sobre as
minhas glórias e minha svarupa (forma
original). Ela então entra em meus
passatempos através deste tattva,
sustentada pela potência de prema-bhakti.

Bhavanuvada
Qual é o resultado de obter sua bhakti? Sri
Bhagavan responde com este verso,
dizendo: “Os jnanis e os diversos tipos de
bhaktas que obteram bhakti,
compreendem o princípio das minhas
opulências e minha natureza, assim
entram em meus passatempos eternos.”

Prakasika-vrtti

Sri Bhagavan explica neste verso, o


resultado de para-bhakti (kevala-bhakti ou
bhakti pura) que é caracterizada por
prema. Devido à boa fortuna, uma pessoa
que alcançou a plataforma de brahma-
bhuta, obtém para bhakti pela
misericórdia de uma grande
personalidade. Neste momento ela perde
seu interesse por moksa (liberação
impessoal). Quando se libera do jnana, ela
obtém nirguna bhakti e compreende o
krishna-tattva. Isto acontece quando ela
realiza sua svarupa siddhi (sua forma
espiritual) e quando obtém vastu-siddhi
ela entra nos passatempos de Bhagavan.

Sloka 56

Sarva-karmany api sada


Kurvano mad-vyapasrayah
Mat-prasadad avapnoti
Sasvatam padam avyayam
Aquele que se refugia em minha ekantika-
bhakti (bhakti sem misturas) alcança
minha eterna morada, mesmo que esteja
executando diversos tipos de atividades.

Sloka 57

Cetasa sarva-karmani
Mayi sannyasya mat-parah
Buddhi-yogam upasritya
Mac-cittah satatam bhava

Com a mente livre do falso ego de se


julgar o atuante, oferecendo-me todas as
suas atividades com todo coração e
refugiando-se em uma inteligência firme e
dedicada a mim, permanece-te sempre
consciente de mim.

Sloka 58

Mac cittah sarva-durgani


Mat-prasadat tarisyasi
Atha cet tvam ahankaran
Na srosyasi vinanksyasi

Fixando tua mente em mim com devoção


incondicional, por minha graça superarás
todos os obstáculos. Mas se devido ao
falso ego, ignoras minhas instruções, se
verás em ruínas.
Sloka 59

Yad ahankaram asritya


Na yotsya iti manyase
Mithyaiva vyavasayas te
Prakrtis tvam niyoksyati

Tua decisão de não lutar, se deve apenas a


um pretensioso desejo de satisfação e é
completamente inútil, pois minha maya na
forma de rajo-guna te impulsionará a lutar
de todo jeito.

Bhavanuvada

“Sou um ksatriya e lutar é meu dever.


Mesmo assim, não desejo executa-lo
porque temo em incorrer em grandes
pecados como resultado de matar tantas
pessoas.” Dando a resposta a este
argumento, Sri Bhagavan repreende
Arjuna recitando este verso. “Ó Maha-
vira, agora você não aceita minhas
instruções, mas quando teu entusiasmo
natural pela luta despertar, me fará rir
vendo como te lançarás voluntariamente a
batalha e matarás personalidades como
Bhisma.”

Prakasika-vrtti

Os sadhakas jamais devem fazer mal uso


da sua independência realizando
atividades frívolas. De acordo com as
instruções de Bhagavan, devem
abandonar o falso ego de considerar-se o
atuante e desfrutadores, e assim realizar
todas as atividades como um servo.
Estas instruções devem ser recebidas de
Bhagavan na forma dos sastras e do
Caitya –guru. Se uma pessoa pensa que é
ela quem atua e quem desfruta, coisa que
os sastras se opõe, terá que experimentar
os resultados bons ou maus de suas ações,
vida pós vida.

Sloka 60

Svabhava-jena kaunteya
Nibaddhah svena karmana
Kartuum necchasi yan mohat
Karisyasy avaso ´pi tat

Ó Kaunteya! De qualquer maneira te


verás impelido a executar esta ação que
no seu estado confuso atual desejas evitar,
pois estás atado pelas atividades que
nascem da tua própria natureza.

Sloka 61

Isvarah sarva-bhutanam
Hrd-dese ´rjuna tisthati
Bhramayan sarva-bhutani
Yantrarudhani mayaya
Ó Arjuna! Sarvantaryami Paramatma está
situada no coração de todas as jivas e
mediante sua maya as faz perambular pelo
ciclo de nascimento e morte como se
tivessem em uma máquina.

Bhavanuvada

Os srutis afirmam: “Sri Narayana penetra


tudo que é visível ou audível neste
universo e também tudo que está dentro e
mais além dele” Assim conclui-se que
Isvara está situado no coração como
Antaryami. Ali ele faz com que todas as
jivas perambulem dentro do mundo
material através de sua maya-sakti,
ocupando-as em diversas
atividades.”Assim como um ator teatral
manobra marionetes em um cenário
mediante uma corda que controla os
corpos dos bonecos, maya controla as
jivas de um modo particular.

Sloka 62

Tam eva saranam gaccha


Sarva-bhavena bharata
Tat prasadat param santim
Sthanam prapsyasi sasvatam

Ó Bharata, rende-te exclusivamente a


Isvara em todos os aspectos. Por sua graça
obterás a paz transcendental na morada
eterna suprema.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan recita este verso com o


propósito de explicar a importância de se
render a ele. No Srimad Bhagavatam
(11.29.6), Uddhava diz:
“Ó Isa, até mesmo grandes eruditos que
adquiriram uma duração de vida igual
igual a de Brahma e recordam sua glórias,
sentem endividados com você. Isto se
deve ao fato de você iluminar as entidades
vivas corporificadas com o processo para
alcança-lo. Você faz isto externamente
como o Acarya-guru e internamente como
o caitya-guru.

Sloka 63

Iti te jnanam akhyatam


Guhyad guhyataram maya
Vimrsyaitad asesena
Yathecchasi tatha kuru

Já te revelei o conhecimento mais


confidencial que o secreto conhecimento
do brahma. Reflexiona agora sobre ele e
depois atua como queira.

Bhavanuvada
Sri Bhagavan recita este verso começando
com a palavra iti, para concluir a Gita.
“Uma pessoa pode entender o karma-
yoga, o astanga-yoga e o jnana-yoga
mediante este conhecimento que é
inclusive mais confidencial do que o
conhecimento secreto do jnana-sastra. Por
ser o segredo secreto supremo, até mesmo
sábios como Vasistha, Veda-vyasa e
Narada, não puderam revelar isto nos
sastras que escreveram. Em outras
palavras, sua onisciência é relativa, e a
minha absoluta. Por isso, ó Arjuna,
reflexiona cuidadosamente sobre este
assunto e faça o que bem quiser.

Sloka 64

Sarva-guhyattamam bhuyah
Srnu me paramam vacah
Isto ´si me drdham iti
Tato vaksyami te hitam

Escuta de novo esta minha instrução


suprema, que é o conhecimento mais
confidencial. Porque és muito querido a
mim, revelo este conhecimento para seu
benefício máximo.

Bhavanuvada

Quando Sri Krishna viu que seu amigo


Arjuna ficou em silêncio refletindo sobre
os profundos significados da Gita-sastra,
seu coração, que é tão suave como a
manteiga, se derreteu e disse: “Ó Arjuna,
meu querido amigo, agora te descreverei a
mesma essência de todos os sastras neste
oito versos finais”. Eu o repito para seu
benéfico máximo, pois tu és um amigo
muito querido.”

Sloka 65

Man mana bhava mad bhakto


Mad-yaji mam namaskuru
Mam evaisyasi satyam te
Pratijane priyo ´si me

Oferece me tua mente, converte-te em


meu devoto, dedica-se a cantar meus
nomes, formas, qualidades e passatempos,
adora-me e oferece-me reverências.
Assim sem dúvida, tu virás a mim. Te
prometo isso sinceramente porque és
muito querido por mim.

Bhavanuvada

“Man-mana bhava significa que deves


meditar em mim, convertendo-se em meu
devoto exclusivo. Não te convertas em
jnani ou yogi nem pense em mim assim
como eles. Man mana bhava significa
também que deves atuar como alguém
que oferece a mente a mim,
Syamansundara, e que derrama sobre ti
um doce olhar vindo do seu rosto que é
como a lua, adornado com sobrancelhas
em forma de arco e um suave cabelo
encaracolado.
Mad-bhaktah significa oferecer-me os
sentidos. Em outras palavras, executa meu
bhajana dedicando todos os sentidos a
meu serviço: executando sravana e
kirtanam, comtemplando minha forma,
limpando e decorando meu templo,
colhendo flores e fazendo guirlandas,
oferecendo-me abano e sombrinha, e
executando outros serviços. Mad-yaji
significa adorar-me e oferecer-me
diversos artigos como flores fragrantes,
incenso, lamparinas de manteiga
clarificada e alimentos. Mam namaskuru
significa oferecer-me dandavat-pranams
caindo ao solo e oferecer reverências com
cinco ou oito membros do corpo. Mam
evaisyasi significa que sem dúvida me
alcançarás mediante execução das quatro
atividades de pensar em mim, servir-me,
adorar-me e oferecer-me reverências, ou
até mesmo apenas uma delas.
Oferecendo-me tua mente e teus sentidos,
em troca te darei meu ser.”

Prakasika-vrtti

Man mana bhava significa absorver a


mente exclusivamente em Krishna. Sri
Krishna aceitou as gopis como o ideal
mais elevado de man mana bhava e Ele
expressa isto a Uddhava com doces
palavras no Srimad Bhagavatam (10.46.4-
6):

“Querido Uddhava, as mentes das gopis


estão sempre absortas em Mim. Eu sou
sua própria vida e tudo que elas têm.
Apenas pelo meu prazer abandonaram
tudo, incluindo suas casas, esposos, filhos,
parentes, timidez e princípios morais. Elas
permanecem sempre absortas pensando
em Mim. Pela confiança delas em minha
firmação “Eu voltarei”, de uma forma ou
de outra, com grande dificuldade, elas se
mantêm com vida e me esperam.”

A instrução mad-bhakto bhava é dada


para aqueles que não podem absorver-se
por completo em krishna como as gopis
fazem. Significa oferecer-se a si mesmo
em todos os aspectos aos pés de lótus de
Bhagavan. Como pode um bhakta
oferecer serviço continuamente? A
resposta está na história e instruções de
Prahlada maharaja descritas no Srimad
Bhagavatam (7.5.23-24):

“Prahlada Maharaja disse: ‘Ó querido pai,


a devoção a Sri Vishnu é executada de
nove maneiras: escutar, cantar e lembrar
do nome, forma, qualidades e
passatempos, servir seus pés de lótus,
adora-lo, orar, servir, converter-se em seu
amigo e render-se a ele. Eu considero que
esta é a melhor educação referente à
bhakti por Bhagavan.”

Sloka 66

Sarva dharma parityaijya


Mam ekam saranam vraja
Aham tvam sarva papebhyo
Moksayisyami ma sucah

Abandona todo dharma corporal e mental,


como o varna e asrama, e rende-te a mim
completamente. Eu te livrarei de todas as
reações dos seus pecados. Não temas.

Bhavanuvada

“Devo executar atividades tal como


meditar em ti e ao mesmo tempo cumprir
com os deveres do meu asrama-dharma,
ou devo executar esta meditação sem
depender de nenhum outro dharma?”
Para responder esta pergunta, Bhagavan
recita este verso que começa com as
palavras sarva-dharma. “Rende-te
exclusivamente a mim, renunciando todos
os tipos de varnasrama-dharma”. É
incorreto traduzir a palavra parityajya
como sanyassa ou a renúncia completa do
karma, porque como ksatriya, Arjuna não
tem uma atitude ideal para aceitar
sanyassa, tampouco é correto traduzir a
palavra parityajya como a renúncia aos
frutos das atividades. O Srimad
Bhagavatam (11.5.41) declara:
“Aquele que abandona o falso ego de se
considerar o executor (atuante) e aceita o
refúgio supremo de Sri Mukunda no
âmago de seu coração, libera-se de todas
as obrigações para com os semideuses,
sábios, entidades vivas, familiares e
antepassados.”
Outro verso do Srimad Bhagavatam
declara (11.20.9):
“Uma pessoa deve continuar executando
seus deveres prescritos permanentes e
ocasionais até que se desapega dos
objetos sensíveis e adquira fé em escutar
sobre mim.”
O Srimad Bhagavatam (11.11.32) agrega:
“Aqueles que me oferecem serviço depois
de abandonar todos os tipos de dharma e
de compreender os aspectos negativos e
positivos inerentes aos deveres prescritos
instruídos por mim nos Vedas, são os
melhores sadhus.”
É necessário explicar o significado deste
verso do Gita sob a luz das profundas
declarações feitas por Sri Bhagavan e
destrinchar seus significados. A palavra
parityajya indica que o objetivo supremo
destas instruções não é renunciar os frutos
do karma. “Pelo contrário, significa que
deves refugiar-te plenamente em mim,
não render-se ao dharma, ao jnana, ao
yoga ou aos devas. Antes Eu te disse que
não tinhas adhikara (qualificação) para
executar ananya-bhakti e podias apenas
praticar karma-misra-bhakti. Agora, por
minha ilimitada e imotivada misericórdia
estou te outorgando a qualificação
necessária para para executar ananya-
bhakti. Tal bhakti é obtida pela
misericórdia de meus devotos puros. Esta
é minha promessa. Se agora abandonas
teus deveres prescritos cumprindo minha
ordem, não terás nenhuma reação. Eu, na
forma dos Vedas, dei instruções de
executar nitya-karma, mas agora te
ordeno pessoalmente que os abandones.
Se aceitas minha ordem, que possibilidade
há de incorrer em pecado como
conseqüência de abandonar teu nitya-
karma? Mas se decides ignorar Minha
ordem direta e continuar executando seus
deveres prescritos, cometerás pecado.
Deves saber que esta é uma verdade. Se
uma pessoa se rende a alguém, ela
permanece sob controle e propriedade do
outro como um animal que foi comprado.
Deve fazer o que o amo lhe ordene,
permanecer onde ele lhe coloque e comer
o alimento que lhe proporcione. Esta é a
essência do dharma tal como entendem os
que se renderam completamente. O Vayu
Purana enumera os seis aspectos da
rendição ou saranagati:
“1- Aceitar com determinação tudo que é
favorável para bhakti, 2- recusar e
abandonar tudo que é desfavorável para
bhakti, 3- ter uma inquebrantável fé que
Bhagavan é o único protetor, 4- aceitar
Bhagavan como seu mantenedor, 5-
oferecer-se completamente a Ele e 6- ser
humilde.”
O saranagati (rendição total) é a execução
destas seis atividades com a intenção de
obter prema por Bhagavan.
Sri Krishna diz aqui a Arjuna:
“Não te afliges pensando.’Ai de mim!
Coloquei uma carga pesada sobre meu
Senhor e amo.’ Para Mim, isto não
representa nenhum esforço, a aceitação
deste peso. Sou bhakta-vatsala, afetuoso
com meus devotos, e satya-sankalpa,
sempre cumpro minhas promessas. Após
seguir esta instrução não há a necessidade
de mais nada. Por tanto, concluo aqui este
sastra”.
Prakasika-Vrtti
No verso anterior, Sri krishna deu a
instrução mais confidencial do Bhagavad
Gita referente à suddha-bhakti. Agora,
neste verso, declara que primeiro
é necessário render-se completamente
com objetivo de qualificar-se para recebe-
lo. A palavra sarva dharma significa que o
varnasrama dharma e todos seus
componentes – karma, jnana, yoga,
adoração dos semideuses e as crenças
religiosas distintas de krishna-bhajana,
estão todos baseados na plataforma
mental ou corpórea. É incorreto pensar
que a palavra parityajya significa apenas
abandonar o apego por karma e seus
frutos. O significado íntimo desta
declaração de Bhagavan é abandonar
completamente a adesão ao karma.
Alguém poderia pensar que existe a
possibilidade de incorrer em pecado ao
abandonar os dharmas prescritos para a
rendição a Bhagavan. Para acabar com
esta dúvida das mentes das pessoas fiéis
comuns, Sri Krishna declara: sarva
papebhyo moksayisyami ma sucah, “Não
te afliges, eu te libertarei de todo tipo de
pecado”.
Sloka 67
Idante natapaskaya
Nabhaktaya kadacana
Na casusrusave vacyam
Na c amam yo ´bhyasuyati
Jamais deves explicar esta essência da
Gita-sastra a uma pessoa de sentidos
descontrolados, a um não devoto, a quem
não tem uma atitude de serviço, ou
a quem tem inveja de mim.
Bhavanuvada
Após culminar as instruções da Gita-
sastra, Sri Bhagavan explica o princípio
de continuidade da sampradaya. Em
outras palavras, Ele formula o critério
para definir quem está preparado para
receber estas instruções. Uma pessoa de
sentidos descontrolados se denomina
atapaska. Estas instruções não devem ser
dadas a não devotos, mesmo se eles
controlam os sentidos. Também não deve-
se dar tais instruções a um devoto que
controlou os sentidos mas não escuta
submissamente.
Sloka 68
Ya imam paramam guhyam
Mad-bhaktesv abhidhasyati
Bhaktim mayi param krtva
Mam evaisyaty asamsayah
E aquele que instrui este conhecimento
super confidencial da Gita-sastra a meu
devotos, obterá minha para-bhakti e após
por um fim em todas as dúvidas,
finalmente me alcançarão.
Prakasika-vrtti
É indispensável que o pregador da Gita-
sastra possua amor e firme fé por Krishna.
Ele deve ser esperto no tattva-jnana e está
livre de dúvidas. Se um pregador da Gita
tem um conhecimento teórico mas não
prático, ou se carece de qualidades
mencionadas, não é um pregador genuíno
e não deve-se escutar a Gita dele. Os
sastras descrevem as características de um
ouvinte sincero. Sri Krishna disse a
Uddhava:
“Este ensinamento deve ser dado aos que
estão livres dos defeitos do engano,
ateísmo, infidelidade, arrogância e
carência de bhakti. Deve ser destinado ao
bem-estar dos brahmanas, os que anseiam
por bhagavat-prema, os que possuem
natureza santa e sobre tudo ao bem-estar
dos bhaktas. Mas pode-se dar estas
instruções a um sudra que possua fé em
Mim.”
Esta declaração afirma que não deve-se
levar em conta a casta, cor, credo, ou
idade, se a pessoa possui as qualidades
descritas acima, ela está apta a receber tal
conhecimento.
Sloka 69
Na ca tasman manusyesu
Kascin me priya-krttamah
Bhavita na ca me tasmad
Anyah priyataro bhuvi
Não existe ninguém na sociedade humana
que me satisfaça mais do que aquele que
explica a mensagem da Gita. Tampouco
existirá nada neste mundo inteiro que seja
mais querido por Mim.
Prakasika-vrtti
Os pregadores genuínos da Gita-sastra são
muito queridos por Sri Krishna. Por tanto,
o dever dos suddha bhaktas é pregar a
mensagem da Gita. Mas, os que nos
enganam sob pretexto de pregar a Gita e
não pregam o tattva (verdade) mais
confidencial e apenas pregam mayavada,
karma, jnana e yoga, ofendem os pés de
lótus de Bhagavan. Não há benefício em
se escutar a Gita dos lábios destes
pregadores.
Sloka 70
Adhyesyate ca ya imam
Dharmyam samvadam avayoh
Jnana-yajnena tenaham
Istah syam iti me matih
Serei adorado através deste jnana-yajna, o
princípio do verdadeiro conhecimento,
por aqueles que estudarem este sagrado
dialogo entre nós. Esta é minha opinião.
Sloka 71
Sraddhavan anasuyas ca
Srnuyad api yo narah
So ´pi muktah subhal lokan
Prapnuyat punya-karmanam
E aquele que simplesmente escuta a Gita
com fé e sem inveja, também se libera dos
pecados e vai aos planetas auspiciosos
onde residem as pessoas piedosas.
Sloka 72
Kaccid etac chrutam partha
Tvayaikagrena cetasa
Kaccid ajnana-sammohah
Pranastas te dhananjaya
Ó Partha! Ó Dhananjaya! Escutou a Gita
com atenção? Após ter escutado, a ilusão
nascida da ignorância se foi?
Prakasika-vrtti
Sri Krishna pergunta a Arjuna se ele tem
alguma outra pergunta. Aqui, se entende
que deve-se escutar a Gita com muita
atenção e mesmo após escutar dos lábios
de Sri Gurudeva e sábios, o estudante
deve continuar escutando continuamente
através do processo de indagação
submissa e oferecer serviço, até que
compreenda completamente.
Sloka 73
Arjuna uvaca
Nasto mohah smrtir labdha
Tvat prasadan mayacyuta
Sthito ´smi gata-sandehah
Karisye vacanam tava
Arjuna disse: Ó Acyuta, agora minha
ilusão se foi por tua graça e recuperei a
percepção do meu verdadeiro ser. Minha
dúvida se foi e estou situado firmemente
no verdadeiro conhecimento. Agora
cumprirei tua ordem.
Bhavanuvada
“Que mais posso perguntar?” Ao
abandonar todo tipo de dharma e render-
me a ti, me libertei de toda ansiedade.
Arjuna recita este verso para mostrar a
Krishna a condição atual de seu coração.
Arjuna, o portador do arco gandiva, se
preparou para lutar quando escutou
Bhagavan dizer: “Ó meu querido amigo
Arjuna, ainda tenho que realizar algumas
atividades para eliminar a carga da terra.
Executarei através de você.”
Sloka 74
Sanjaya uvaca
Ity aham vasudevasya
Parthasya ca mahatmanah
Samvadam imam asrausam
Adbhutam roma-harsanam
Sanjaya disse: Ó Rei! Foi assim que
escutei este maravilhoso dialogo entre
mahatma Vasudeva e Partha, fico
arrepiado de escuta-lo.
Bhavanuvada
As duas folhas nas quais eu havia escrito
a explicação dos cinco versos finais que
resumem a essência da Gita,
desapareceram. Suponho que Ganesaji
mandou seu rato me roubar. Depois disso,
não escrevi mais sobre estes significados.
Quie Ganesaji fique satisfeito comigo. Eu
lhe ofereço reverências.
Aqui finaliza-se o comentário
Bhavanuvada do Srimad Bhagavad Gita.
Que este aumente o prazer das pessoas
santa. Que a doçura deste comentário,
que é benéfico para toda a sociedade,
satisfaça completamente os bhaktas que
são como pássaros cataka. E que a
doçura se manifeste em nosso corações.
Sloka 75
Vyas-prasade chrutavan
Imam guhyam aham param
Yogam yogesvarat krsnat
Saksat kathayatah svayam
Pela graça de Srila Vyasadeva, escutei
este yoga super confidencial explicado
por Yogesvara, o super atrativo Sri
Krishna.

Vyasadeva instruindo Sanjaya

Prakasika-vrtti
Sanjaya reconhece que que escutou e
compreendeu os ensinamentos divinos do
Srimad Bhagavad Gita pela graça de seu
mestre espiritual Srila Vyasadeva. Sem a
graça do guru, não pode-se compreender o
tattva da Gita-sastra. Apenas o fiel
discípulo pode conseguir a perfeição na
compreensão de bhagavat-tattva. Assim
como Arjuna e sanjaya foram abençoados
e conseguiram a perfeição, qualquer
pessoa que deseje aperfeiçoar sua vida,
pode conseguir se refugiar-se em um guru
genuíno com rendição. Sem aceitar um
devoto puro é impossível que alguém
obtenha bhagavat-tattva (conhecimento
sobre Bhagavan.)
Sloka 76
Rajan samsmrtya samsmrtya
Samvadam imam adbhutam
Kesavarjunayoh punyam
Hrsyami ca muhur muhuh
Ó Rei! Ao me lembrar deste maravilhoso
e sagrado dialogo entre Sri Krishna e
Arjuna, me regozijo vez e outra.
Sloka 77
Tac ca samsmrtya samsmrtya
Rupam atyadbhutam hareh
Vismayo me mahan rajan
Hrsyami ca punah punah
Ó Rei. Me assombro e me deleito a cada
instante, recordando esta maravilhosa
forma de Sri Hari.
Prakasika-vrtti
Este verso evidência que a forma vista por
Arjuna em kuruksetra foi a mesma vista
por Sanjaya pela misericórdia de Srila
Vyasadeva., mesmo estando ele no
palácio real de Hastinapura.

Sloka 78
Yatra yogesvarah krsno
Yatra partho dhanurdharah
Tatra srir vijayo bhutir
Dhruva nitir matir mama
Onde quer que esteja Krishna, o amo de
todos os yogas, e onde quer que esteja
Arjuna, o grande arqueiro,
haverá opulência, vitória, prosperidade e
moralidade. Esta é minha opinião.
Prakasika-vrtti
O décimo oitavo capítulo descreve
brevemente essência de todo o Gita. Uma
parte descreve o karma-yoga
predominado por dhyana-yoga que produz
atma-jnana, e a outra parte descreve o
suddha-bhakti-yoga que nasce da sraddha
relacionada com Bhagavan. Esta é a
essência da Gita. A instrução mais
confidencial é cultivar atma-jnana através
de dhyana-yoga e a instrução confidencial
suprema é dedicar-se a bhakti-yoga
rendendo-se exclusivamente a Svayam
Bhagavan Sri Krishna.
Após recompilar o siddhanta de todos os
Vedas e o Vedanta no Gita, foi
determinado que a meta suprema é
krishna-prema (amor puro por Deus)
através da prática de bhakti-yoga. Deve-se
abandonar a adesão pelo processo inferior
e desenvolver fé pelo processo superior.
Finalmente, deve se estabelecer com
firmeza em bhakti-yoga através da
rendição e vivendo desta maneira
Bhagavan o recompensará com suddha-
prema. Aquele que entra neste processo
de purificação da existência obtém a
misericórdia de Bhagavan. Esta
misericórdia é imortal, liberta o da
lamentação, e ele fica absorto assim em
seu prema (amor puro) eternamente.

Assim se conclui o comentário Prakasika-


vrtti de Srimad Bhaktivedanta Narayana
Goswami Maharaja sobre o décimo
oitavo capítulo do Srimad Bhagavad
Gita.
FIM
[x2] Comentário: ™™

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