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Contra a interpretacio Oconteido um vislundr, emensonio ome nor live. B sito pequenino — smn conteida manta Pegueniro ‘WILLEN DEKGONING, numa envrevits Someste as pessoa superar no julgam pela sparta. O ‘mute do mune esi i ste, 80 no tease. OSCAR WILDE, numa eta No inicio, a arte foi provavelmente experimentada como encantamento, magia: a arte era um instramento de ritual. (Ver, por exemplo, as pinturas rupestres de Lascaux, Altamira, Niaux, La Pasiega, etc.) A primeira teoria da arte, a dos filds fos gregos, propunha a arte como mimese, imitacio da rea dade. Foi neste momento que se colocou a questéo peculiar do valor da arte. Pols a teoria mimetica, por seus proprios termos, cesafia a arte a justificar a si mesma. Plato, que propésa teoria, parece t8-lo feito com 0 objet vo de determinar que o valor da arte é diibio. Como ele conside- rava as coisas materiais comuns objetos miméticos, imitacoes de formas ou estruturas transcendentes, o retrato mais perfeito de uma cama seria apenas uma “imitacio de uma imitac&o”. Para Plato, arte nio é particularmente dtil (0 retrato de uma cama nao serve para sc dormir nele), nem, no seatido estrito, verdadeira. E os argumentos usados por Aristételes em defesa da arte nao contestam emrealidadea idéia de Platio de que toda a arte § um elaborado trompe l'oeil. e portanto uma mentira. Mas ele questiona s idéia da inutilidade da arte u de Plato, Mentira ou ndo, a arte possui um certo valor, segun- do Aristételes, por constituir uma forma de terapia. A arte é Gti, apesar de tudo, rebate Aristételes, do ponto de vista medicinal por despertar ¢ purgar as emogdes perigosas. Em Plato e Aristoteles, a teoria mimética da arte é paralela a0 pressuposto de que a arte é sempre figurativa. No entanto, os defensores da teoria mimética ndo devem fechar os olhos 4 arte decorativa e abstrata. A faldcia de que a arte é necessa- riamente “realismo” pode ser modificada ou desprezada, sem jamais tocar nos problemas delimitados pela teoria da imitagio. fato 6 que, no mundo ocidental, a consciéncia ca reflexéo sobre arte permaneceram dentro dos limites fixados pela teoria arega da arte como mimese ou representagao. E em funco dessa teoria que a arte enquanto tal — acima e além de determi- nadas obras de arte — sc torna problematica ¢ deve ser defendi- da, E €a defesa da arte que gera a estranha concepeao segundo a qual algo que aprendemos a chamar “forma” é absolutamente distinto de algo que aprendemos a chamar “conteiido”, ¢ a lendéncia bem-intencionada que toma o contetido essencial € a forma acesséria. ‘Mesmo nos tempos modernos, quando a maioria dos artis- tas e crfticos ja abandonou a teoria da arte como representag de uma realidade exterior em favor da teoria da arte como expresso subjetiva, 0 elemento principal da teoria mimétice persiste. Quer nossa concepgio de obra dearte utilize o modelo do retrato, da representagéo (a arte como um retrato da realida- de}, quer o modelo de uma afirmagao (arte como a afirmacdo do artista), 0 contetido ainda vers em primeiro lugar. O conted- do pode ter mudado. Agora pode ser menos figurativo, menos lucidamente realista. Mas ainda pressupomos que @ obra de arte é seu contetido. Ou, como se diz hoje, que uma obra dearte, por definicéo, diz alguma coisa. (“O que X est dizendo ."; °O que X esté tentando dizer €...; “O que X disse &.." ete.) 2 2 . Nenhum de n6s poder jamais recuperar a inocéacia ante- rior a toda teoria, quando a arte nao precisava de justificativa, quando ninguém perguntava o que uma obra de arte dizia porque sabia (ou pensava que sabia) o que ela realizava A partir desse momento até o fim da consciéacia estamos compro- metidos com a tarefa de compreender a arte. Podemos apenas contestar um ou outro clemento de defesa. Na realidade, temos a obrigagio de derrubar qualquer elemento de defesa e de justificativa da arte que se torne particularmente embotado ‘ou opressivo ou insensivel para com as necessidades e a pratica contemporaneas. & 0 que ccorre hoje com a prépria idéia de contetido. O que quer que representasse no passado, a idéia de contetido 6 hoje principalmente um incémodo, um inconveniente, um con- veacionalismo sutil ou nem tao sutil. Embora a corrente evolugio de muitas artes pareca nos distanciar da idéia de que uma obra de arte é fundamentalmente_ seu contetido, cssa idéia continua exercendo uma extraordind- ria hegemonia. Quero sugerir que isso se dé porque a idéia se perpetua agora sob 0 aspecto de uma ceria maneira de encarar a obra de arte profundamente arraigada na maicria das pessoas que encaram com seriedade qualquer uma das artes. O que implica a excessiva énfase na idéia do contetido € 0 etemo projeto da interpretacéo, nunca consumado. E, vice- versa, é o hdbito de abordar a obra de arte para interpretd-la que reforga a ilusdo de que algo chamado conteddo de uma obra de arte realmente existe. 3 Evidentemente, nio me refiro a interpretagio no sentido mais amplo, 0 sentido no qual Nietzsche (corretamente) diz: “Nao existem fatos, apenas interpretacées". Por interpretacdo entendo nesse caso um ato consciente da mente que elucida um determinado eédigo, certas “normas” de interpretagao. B Em relagéo a arte, interpretar significa destacar um conjun- to de elementos (X, Y, Z, ¢ assim por diante) de toda a obra. A tarefa da interpretacio é praticamente uma tarefa de trada- Go. O intérprete diz: “Olhe, vocé nao percebe que X em reali- dade 6 — ou significa em realidade — A? Que Y é emrealidade B? Que Z é de fato C?” Que situacio poderia inspirar este curioso projeto de transformagio de umtexto? A histéria nos fornece os elementos de uma resposta. A interpretacdo aparece primeiramente na cultura da antigtidade clissica mais recente, quando o poder € a crecibilidade do mito haviam sido quebrados pela visio “tealista” do mundo, introduzida pelo conhecimento cientifico. Ao se colocar @ questo que obceca a consciéncia pés-mistic — a similitude dos simbolos religiosos —, os textos antigos jé nio podiam mais ser aceitos em sua forma original. Passou-so entio a invocar a interpretagao para conciliar os textos antigos as “modernas” exigencias. Assim, os estdicos, de conformidade com sua idéia de que os deuses tinham de ser morais, interpre- taram como alegorias as rudes aventuras de Zeus e de seu agitado cl na épica de Homero. O que realmente se pretendeu mostrar com 0 adultério de Zeus com Leto, explicaram, foi a unido do poder e da sabedoria. Dentro do mesmo espirito, Filon de Alexandria interpretou as narrativas histéricas literais a Biblia hebraica como paradigmas espirituais. A histéria do €xodo do Egito, a perambulacao pelo deserto durante quarenta ‘anos ¢ a chegada A terra prometida, dizia Filon, representavam em realidade uma alegoria da emancipagao, das atribulagoes eda libertacao final da alma humana. A interpretagao, portanto, pressupoe uma discrepancia entre 0 claro significado do texto @ as exigéncizs dos leitores (posteriores). Ela tenta solucionar essa discrepancia. O que ocorre ¢ que, por alguma razdo, um Texto se tornou inaceitavel, entretanto nao pode ser despre- zado. A interpretacao é uma estratégia radical para a conser- vagio de um texto antigo, considerado demasiado precioso para ser repudiado, mediante sua recomposicéo. O intérprete, sem na realidade apagar ou reescrever 0 texto, acaba alteran- do-0. Porém ele nao admite isso. Ele afirma que pretende ape- 4 nas tomé-lo inteligivel, revelando seu verdadeiro sentido. Ain- da que dessa maneira o texto fique profundamente alterado (outro exemplo notério sao as interpretacées “espirituais” rabi- nica e cristi do Cintico dos Cinticos, claramente erético), os intérpretes afirmam revelar um sentido que j4 se encontra Ii. Entretanto, nos nossos dias a interpretagéo 6 ainda mais complexa. Pois 0 zelo contempordneo pelo projeto da interpre taco € freqiicntemente inspirado ndo pela piedade para com © texto problematic (que pode ocultar uma agressio), mas por uma agressividade aberta, um claro desprezo pelas aparén- cias. O antigo estilo de interpretacao era insistente, porém res- Peitoso; criava outro significado em cima do literal. O estilo moderno de interpretagao escava e, a medida que escava, des- trdi; cava “‘debaixo” do texto, para encontrar um subtexto que seja verdadciro. As mais cclebradas € influentes doutrinas mo- demas, as de Marx ¢ Freud, em realidade sao elaborados siste- mas de hermenéutica, agressivas e impias teorias da interpre tagdo. Todos os fenémenos que podem ser observados so classificados, segundo as prdprias palavras de Freud, como contetido manifesto. Este conteido manifesto deve ser investi- gado e posto de lado a fim de se descobrir debaixo dele o sentido verdadeiro — conteiido latente. Para Marx, aconteci- mentos sociais como revolugdes e guerras; para Freud, os fatos da vida de cada individuo (como os sintomas neuréticos € 0s lapsos de linguagem), bem como textos (um sonho ou uma obra de arte) — todos sio tratados como motivos de inter- pretacao. Segundo Marx e Freud, estes acontecimentos parecem inteligiveis. Na realidade, nada significam sem uma interpre- tacdo. Compreender ¢ interpretar. E interpretar € reafirmar © fendmeno, de fato, descobrir um equivalente adequado. Portanto, a interpretacio néo é (como supdem muitos) um valor absolut, um ato do espirito situado em algum reino intemporal das capacidades. A interpretacdo também precisa ser avaliada no ambito de uma visio historica da consciéncia humana. Em alguns contextos culturais, a interpretacio é um ato que libera. E uma forma de rever, de transpor valores, de fugir do passado morto. Em outros contextos culturais, 15 € reaciondria, impertinente, covarde, asfixiante. 4 2 Rosso € um tempo em que o projeto da interpretagao € em grande parte reacionério, asfixiante. Como os gases expeli- dos pelo automével pola indistria pesada que empestam a atmosfcra das cidades, a efusdo das interpretacdes da arte hoje envenena nossa sensibilidade. Numa cultura cujo dilema ia clissico fa eras do intelecto om detrimento da encrgia © da capacidade sensorial, a interpretacdo ¢ intelecto sobre a arte, sticeasd Oa Mais do que isso. E.a vinganga do intelecto sobre o mundo. Interpretar & empobrecer, csvaziar © mundo — para erguer, edificar um mundo fantasmagérico de “ significados”. E trans. formar 0 mundo nesse mundo. (Esse mundo! Como se hou- vesse algum outro.) © mando, nosso mundo, jé esté suficientemente exaurido, empobrecido. Chega de imitagées, até que voltemos a experi mentar de maneira mais imediata aquele que temos. 5 Na maioria dos casos atusis,a interpretagdo ndo passa de uma recusa grocceira a doinar a obra de aite eu pz. A ArTe verdadeira tem a capacidade de nos deixar nervosos. Quando reduzimos a obra de arte ao seu conteiido e depois interpretamos isto, doma- mos. obra dearte.Aintermetacdo tora a obra deartemaledvel, il. Este convencionalismo da interpretacdo & mais evidente na literatura do que em qualquer outra arte. Hé décadas, os ctiticos literarios entendem como sua tarefa especifica a tradu- Go dos elementos do poema, pega, romance ou conto em algu- ma outra coisa. As vezes, um eseritor se sente tio pouco 4 yontade diante de poder original de sua arte, que introduz ha propria obra — embora com um pouco de timidez, um toque do bom gosto da ironia ~ sua clara ¢ explicita interpretagio. 16 ‘Thomas Mann € um exemplo desse tipo de autor ultracoope- rativo. No caso de autores mais obstinados, o critico fica tre- mendamente feliz om realizar esta taref: A obra de Kafka, por cxemplo, tem sido submetida a uma violagdio em massa por nada menos de trés legides de interpré- tes. Os que léem Kafka como uma dlegoria social véem em sua obra estudos de situagdes sobre a frustragao e a loucura da modema burocracia, resultando em definitive no Estado totalitério. Os que léem Kafka como uma alegoria psicanalitica, eaxergam desesperadas revelugdes do medo do pai, suas ansie- dades de castragao, a sensagio de sua propria impoténcia, a escravidio aos seus sonhos. Os que Iéem Kafka como uma alegoria religiosa explicam que em O Castelo Kafka tenta che- gar ao céu, que Joseph Kafka, om O Processo, esté sendo Julgado pela inexordvel e misteriosa justiga de Deus... Outra cewre que atraiu os intérpretes como sanguessugas é a de Samuel Beckett. Os delicados dramas de Beckett sobre a cons- cigncia recolhida — reduzida ao essencial, suspensa, freqtiente~ mente representada pela imobilidade fisica — so lidos como uma afirmagéo da alienacdo do homem modemo em relacio a0 significado ou a Deus, ou como uma alegoria da psico- patologia. Proust, Joyce, Faulkner. Rilke, Lawrence, Gide... poderia- mos continuar citando um autor apés 0 outro; é intermindvel a lista daqueles em tomo dos quais se foruuaau espessas incrustacdes de interpretacao. Mas ¢ preciso notar que a inter- pretacdo nao ¢ simplesmente a homenagem que a mediocridade oferece a0 génio. Na realidade, 6 a forma modema de com- preender algo, ¢ aplica-se a obras de qualquer categoria, Assim, ras notas que Elia Kazan publicou sobre sua producio de 4 Streetcar Named Desire (Um Bonde Chamado Desejo), fica cla- To que, para dirigir a pea, foi preciso que ele descobrisse que Stanley Kowalski representava a barbirie sensual ¢ vinga- tiva que traga nossa cultura, enquanto Blanche Du Bois era 2 civilizagdo ocidental, a poesia, roupas delicedas, luz pilida, sentimentos refinados e tudo, embora um pouco gasta pelo uso. O rigoroso melodrama psicolégico de Tennessee Williams a a4 agora se tornava inteligivel: falava de algo, da decadéncia da sivilizacdo ocidental. Aparentemente, para que continuasse sen do apenas uma pega sobre um sujeito bonito porém abrutalhado chamado Stanley Kowalski ¢ uma desbotada ¢ esquélida belda- de de nome Blanche Du Bois, seria impossivel dirigi-la. 6 ‘Nao importa se o artista pretende, ou nao pretende, que sua obra seja interpretada. Talvez Tennessee Williams ache que Lim Bonde Chamado Desejo é uma historia que fala daquilo que Kazan acha. Pode ser que Cocteau em Le Sang ¢ Un Poete (SanguedeUmPoeta)e em Orpheus (Orfeu) exigisse as elabo- Tadas leituras que foram feitas desses filmes, em termos de simbolismo freudiano e de critica social. Mas 0 mérito destas obras est com certeza em outro aspecto, que nao em seu “significado”. Na realidade, é precisamente na medida em que as pegas de Williams ¢ os filmes de Cocteau sugerem cstes assombrosos significados que sao falhos, falsos, artificiais, nio ‘conseguem conyencer. Das entrevistas, infere-se que Resnais e Robbe-Grillet qui- seram deliberadamente que L’ Année Derniére @ Marienbad (© Ano Passado emMarienbad) permitisse uma multiplicidade de interpretacdesigualmente plausiveis. Masé preciso resistir aten- tagin de interpretar Marienbad.O queimportanofilmeéocaréter imediato, puro, intraduzivel ¢ sonsual de algumas de suas ima- ‘gens, esuasrigorosas, embora acanhadas, solugGes decertospro- Blomas de forma cinematogréfica. Em O Siléncio, Ingmar Bergman pode ter usado o tanque Todando ruidosamente pela rua vazia no meio da noite como um simbolo falico. Mas se fez isso, foi um pensameato ridiculo. (“Tamais acredite no narrador. acredite na hist6ria”, dizia Law- rence.) Tomada como um objeto vulgar, um equivalente sen- sorial imediato dos misteriosos fatos que ocorriam no interior do hotel, essa seqiéncia do tanque 6 © momento mais impres- sionante do filme. Os que procuram uma interpretacao freudia- na do tanque expressam apenas sua incapacidade de responder 8 = quilo que esta ofetivamente na tela. ‘Uma imerpretagao deste genero sempre indica dima insatis- facdo (consciente ou inconsciente) com 2 obra, um desejo de substitui-la por alguma outra coisa. A interpretazao, baseada na teoria extremamente duvidosa de que uma obra de arte é composta de elementos de contetido, constitui uma violagio da arte. Torna a arte um artigo de uso, a ser encaixado num esquema mental de categorias. a A interpretagdo, evidentemente, nem sempre predomina, Na realidade, grande parte da arte do nosso tempo pode ser compreendida como algo motivado por uma fuga da interpre- taco. Para evitar a interpretacao, a arte pode se tornar parédia. Ou pode se tomar abstrata, Ou (‘“meramente”) decorativa. Ou pode se tornar néo-arte. ‘A fuga da interpretagio parece em particular uma caracte- ristica da pintura moderna. A pintura abstrata é a tentativa de no ter nenhum contetido no sentido comum; como ndo existe neahum contetido, nfo pode haver nenhuma interpre tagao. A Pop Arte obtém, por meios opostos, 0 mesmo resulta~ do; utilizando um contetido tao espalhafatoso, tio “é isso ai”, ela também se torna impossivel de ser interpretada. Grande parte da poesia moderna também, a comecar pelas grandes experincias da poesia francesa (inciuindo o movimento chamado erroneamente de simbolismo), que introduz 0 siléncio nos pocmas ¢ reafirma a mdgica da palavra, escapou da garra brutal da interpretagao. A mais recente revolugao do gosto contemporneo na poesia — a revolugdo que depds Eliot elegeu Pound — representa 0 abandono do contetido da poesia no velho sentido, uma impaciéncia com aquilo que tornou a poesia moderna vitima do zelo dos intérpretes. Falo principalmente da situacéo da América, é claro. A interpretaco, no caso, € generalizada nas artes que passuem uma vanguarda fraca ¢ negligenciével: fiegio e teatro. A maio- ria dos romancistas © dramaturgos americanos na realidade 9 € composta de jornalistas ou socidlogos ¢ psioblogos que fazem isso por amadorismo. Eles escrevem o equivalente lite- ririo da miisica comercial. E é tio rudimentar, sem inspiracdo © estagnado 0 sentido daquilo que poderia ser feito com a forma na ficvio e no teatro que mesmo quando 0 contetido nao é simplesmente informagio, noticia, ainda 6 peculiarmente vistvel, mais & méo, mais exposto. Na medida emque os roman- ces © as pevas (na América), ao contrério da poesia, da pintura ¢ da miisica, ndo refletem nenhuma preocupagao interessante para com as modificagées da forma, estas artes permanecem sujgitas ao ataque da interpretagio. Mas 0 vanguardismo programético — que na maior parte tem significado experiéncias com a forma em detrimento do contetido —nio &a tinica defesa contra a praga da interpretacao ra arte. Pelo menos, espero que nao. Pois isto significaria obri- gar a arte a estar perpetuamente em fuga. (Também perpetua a propria distingao entre forma e contetido que é, em iiltima andlise, uma iluséo.) Teoricamente, é possivel evitar os intér- pretes de outra maneira, realizando obras de arte cuja aparéncia seja to unificada e limpa, cujo impulso seja t4o rapido, cujo discurso seja to dircto que 2 obra possa ser... cxatamente © que é. Isto seria possivel agora? Acontece no cinema, acredi- to. E por isso que o cinema é a mais viva, a mais excitante, a mais importante de todas as formas de arte nesse momento. ‘Talvez a maneira de se perceber quio viva é uma determinada forma de arte seja pela liberdade que ela concede de se errar, ¢ nao obstante continuar boa. Por exemplo, alguns filmes de Bergman — embora atulhados de mensagens capengas sobre © espirito moderno, convidando dessa maneira a interpretagéo — ainda triunfam sobre as_intengdes pretensiosas do seu Giretor. Em Winter Light oO Siléncio, a beleza ea sofisticagao visual das imagens subvertem diante dos nossos olhos a imatu- ra pseudo-intelectualidade da histéria em parte do didlogo. © exemplo mais notével deste tipo de diserepincia 6 a obra

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