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truth
lies
full of beauty
in every mirror
life is its
brakeable form
called
reality
(G. Dudus/nectar)
1
Sevcenko, Nicolau. A corrida para o século XXI pg125
2
pg.20
3
pg.20
4
pg.23
nome de Deus, sobre o eixo do Mal e a nova ‘guerra’ – na verdade, uma
invasão, contra todas as diretrizes do direito internacional e da opinião
mundial que se mostrou contra o conflito armado. Bush acredita ser a
boca de Deus, ‘the burning Bush’, onde Deus se revela através do fogo.
É impossível desvincular esse discurso religioso (da direita
americana) da Teologia do ‘Destino Manifesto’ - que implica na eleição
por Deus do povo americano para espalhar a palavra de Deus por todo o
mundo. O deus mudou – de “in God we trust” para “in gold we trust”,
mas é uma diferença sutil. O próprio Cristo já avisara que era impossível
servir a Deus e às riquezas, mas quando você transforma o Mercado
livre no Deus que com seus movimentos controla o bem da humanidade,
você livra a cara:
“o capital mercantil pode configurar-se como o ‘deus’ cuja teodicéia (a
justificativa da ação divina) é a mídia. Pela sua ubiqüidade e pela
multiplicidade de ‘línguas’ que falam(...)a televisão e seus sucedâneos
tecnológicos impõem-se como um Pentecostes laico”5
Também não há como não ver nas igrejas neo-pentecostais, em
seu domínio do estilo midiático e em sua ‘teologia da prosperidade’, os
reflexos de todo esse movimento de religiosidade secularizada
neoliberal.
Daí a decorrência de raciocínio de Sodré ao considerar o medium o
aggelos (mensageiro em grego, de onde se origina ‘anjo’). Outro
pensador, Michel Serres, já havia referido essa percepção, ampliando-a:
“Olhe o céu aqui mesmo acima de nós, atravessado por aviões, satélites
artificiais, ondas eletromagnéticas, televisão, rádio, fax, correio
eletrônico. O mundo no qual nos banhamos é um espaço-tempo da
comunicação. Por que não falaria de espaço dos anjos, já que esta
expressão significa os mensageiros, os conjuntos de fatores, de
transmissões prestes a passar, ou os espaços dos passes?”6
5
pg.72
6
SERRES, Michel Luzes pg.157
chega a dizer que ciência não tem a ver com conteúdo, mas com um
modo de circulação.
Coolture Creatures
7
idem, pg. 88
8
idem, pg. 156
chegar à aceitação dos impulsos de liberdade humana. “Hexis é a
possibilidade de instalação da diferença na imposição estaticamente
identitária do ethos”9, afirma. E continua discutindo as mudanças sócio-
culturais contemporâneas, mostrando a necessária redefinição de
escola, que seja capaz de abarcar a revolução informacional – utilizando
todo o aparato hipermídia - e comportar outros atores sociais para a
tarefa da educação. E da configuração de uma ética.
Muniz afirma o potencial das neotecnologias - amparadas por uma
pedagogia da autonomia - para uma aprendizagem ativa de
conhecimento, unindo o jogo ao aprendizado, propiciando singularização
humana. Cita, inclusive, as três transmutações do Zaratustra de
Nietzsche, para exemplificar as passagens da aceitação do ethos, para o
desejo do novo e a criação do novo: Camelo, Leão, Criança10.
Nessa idéia de nova escola, está implícita a necessidade daquilo
que está se chamando de educomunicação, em seus vários momentos
– a utilização dos mídia e neotecnologias da comunicação no ensino, a
educação para a crítica dos mídia e a produção de veículos de
comunicação democrática – em jornais experimentais, programas de
rádio na escola, blogs, sites, etc.
9
pg. 84,85
10
Há alguns anos eu havia criado um poema visual, onde a expressão ‘coolture creatures’ aparecia sobre os
contornos de cada um dos seres nietzchianos. A idéia de uma cultura que pudesse ser ‘cool’, maneira, bacana,
interessante e nova e que expressasse nossa humanidade estava embutida ali.
Foi esse poema que Alice encontrou do outro lado do espelho. Ela não
entendeu nada. Mas Humpty Dumpty a ajudou a descobrir o sentido.
Depois de traduzi-lo, Humpty demonstra como pode fazer o que quiser
com as palavras, mesmo sendo Alice alguém que acredita que as
palavras significam aquilo que nos disseram:
“-Quando uso uma palavra ela significa aquilo que eu quero que
signifique...nem mais nem menos
-A questão é saber se o senhor pode fazer as palavras dizerem coisas
diferentes, ponderou Alice
A questão – replicou Humpty Dumpty – é saber quem é que manda. É só
isso.”
Pierre Levy diz que o texto é, desde suas origens mesopotâmicas, um
objeto virtual. O texto que Alice encontra é assim, até que Humpty o
atualize para ela – interpretação, trabalho hermenêutico. Humpty
também mostra para Alice, que acreditava na ilusão representacional da
linguagem, que existe uma política por trás da sua utilização: alguém
impõe significado e outros acatam.
Do outro lado do espelho, interpretar, criticar e criar são atitudes
fundamentais. Ainda mais quando se leva em consideração o número de
dimensões do mundo, que a física contemporânea discute. Baudrillard,
em seu livro ‘Crime Perfeito’, evoca a mentira confortante de dizer-nos
materialistas, com uma ciência calcada na afirmação disso, quando os
cientistas já descobriram a existência da anti-matéria. A matéria, nosso
mundo é, portanto, apenas e no máximo, metade da realidade. Vivemos
como se a outra metade não existisse, ou não fizesse diferença.
Assim sendo, penso que a realidade virtual não signifique apenas
uma clonagem proprioceptiva, que simula outro mundo. Ela pertence a
esse novo paradigma do real, que inventa um espaço novo, onde nada
existia – o ciberespaço, um não-lugar. Ela simula outro mundo porque
ainda não sabemos como habitar no não-lugar, e então, o enchemos
com aquilo que se parece com este mundo: perspectiva tridimensional,
cores, volumes, objetos, paisagens. A realidade virtual responde à nossa
limitação. Assim sendo, faz muito sentido que a realidade virtual se
configure como “um novo dispositivo de consciência”11.
A noosfera, de Chardin e Morin se adaptam perfeitamente ao
ciberespaço e à realidade virtual. Percebo também uma grande
semelhança da noosfera com a idéia de consciência em Peirce. Lúcia
Santaella, numa palestra na Puc, na década de 80, falava sobre o poço
sem fundo, onde as idéias tomavam forma enquanto iam subindo, até
chegar à tona, quando se tornavam ‘pensáveis’, e podíamos então
utilizá-las. Esse lugar, onde uma multidão de potencialidades circulam
do fundo para a superfície, e vice-versa, eu chamei, num poema, de
poço cartesiano – para brincar com a questão da racionalidade
cartesiana, transformando-a nesse espaço fundo, escuro, desconhecido,
surpreendente.
Quando Sodré começa a nos falar de matéria ‘inteligente’, biochip,
do esgarçar da fronteira entre orgânico e inorgânico, não há como não
lembrar de Deleuze, em seu posfácio ao livro dedicado à Foucault.
Deleuze nos conta das três idades do humano: 1)quando lidávamos com
as forças do infinito e inventamos Deus – referência de tudo no máximo;
2)quando lidamos com as forças do finito e inventamos o homem e a
ciência (física,biologia...); 3)quando lidamos com as forças do finito
ilimitado (as quatro bases do DNA que dão conta da multiplicidade do
vivo em seus rearranjos; o zero e um que digitalizam e transformam o
mundo) e começamos a inventar o übbermensch, o ‘além-do-homem’.
Talvez, como nos diz Deleuze, o tempo das bodas do carbono com o
silício.
Num tempo como este da terceira idade, se seguirmos a intuição
deleuziana, não há que se estranhar a multiplicidade do eu, seus
devires, suas linhas-de-fuga, suas desterritorializações e
reterritorializações. E por vezes, acontece, na nossa convivência com o
11
Pg.125
virtual, o que Sodré considera uma ‘individualidade sem
singularidade’12, um empobrecimento, como o uso de identidades novas
nos chats – apresentar-se como diferente do que se é fisicamente ou
socialmente. Mas também acontecem processos de singularização, e
processos de comunhão, formação de comunidades virtuais que atuam
no socius, para mudar o real usando o virtual como travessia e
possibilitação.
Sloterdjik, pg28
15
Hardt, Michael e Negri, Toni Império pg. 437
comunitárias, animação cultural, atividade sindical (onde a reciprocidade
dialógica e afetiva da comunicação aparece) para além da mídia – ela
aparece em obras de sociólogos, filósofos e pensadores. A cognição faz
da comunicação o campo do trans, maneira de colocar em perspectiva o
saber tradicional sobre a sociedade através de um hipertexto mestiço,
híbrido. Aqui aparecem pensadores como Michel Serres que defendem a
comunicação como o veículo para uma abordagem mais sistêmica sobre
o conhecimento (episteme), utilizando personagens conceituais como
Hermes e os anjos:
“Metáfora significa, justamente: transporte. Esse é o método de
Hermes: ele exporta e importa, portanto atravessa; ele inventa e pode
se enganar, devido à analogia; perigosa e mesmo, a rigor, proibida, não
se conhece contudo outra via de invenção”16
Com isso, ele assegura para o conhecimento a experiência do risco, da
criação, da invenção. O que Muniz Sodré também enfoca, dizendo da
necessidade de “privilegiar (analogicamente, metaforicamente) as
conexões – primeiro entre as teorias e depois entre estas e os
fenômenos observados”17. E isso, para Sodré acontece através da forma
ensaio.
16
Serres, Michel Luzes pg.90
17
pg.243