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como modelo único de organização da vida econômica mundial1. É portanto importante considerar se
as leis próprias da economia de mercado são compatíveis e coerentes com o interesse geral da
sociedade. Peyrelevade pergunta:
“Pode se atingir uma certa forma de bem estar coletivo através o funcionamento
natural do aparelho capitalista, a afirmação de suas regras de governança corporativa e o
comportamento de seus atores? Ou, pelo contrário, a divergência dos objetivos, para não dizer
dos destinos, entre a parte mais evoluída do aparelho produtivo e o conjunto da coletividade
cidadã chama em reação por uma regulação forte, externa, soberana da economia pela política?
Ou ainda, a noção de desenvolvimento sustentável, quer dizer respeitoso para o meio-ambiente,
os recursos naturais e a eqüidade social, pode ser internalizada sem constrangimento por uma
esfera produtiva que acharia seu interesse, ou deve ser imposta porque seria antinômica?
E ele responde
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PEYRELEVADE, Jean, Le capitalisme total,Paris, La Republique des idées, Seuil, 2005.
Seguiremos a linha de pensamento desse autor.
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Ibid. Introdução
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Ibid. cap. 1
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Ibid. cap. 2
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Ibid. cap. 3
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comprar uma empresa, introduzir mudanças drásticas, ele não o faz em função do interesse de longo
prazo da empresa mas em submissão ao critério fundamental de valor agregado ao acionista. O
poder coletivo dos gestores de fundos é sem discussão porque eles detêm as chaves do nosso futuro
como aposentados e os governos e outras forças sociais não podem nada contra esse fato. Nossa
sorte presente está entre as mãos dos gestores de fundo que, em teoria, estão preocupados com
nosso futuro. A tradução do poder dos aposentados dos países ricos é extremamente forte sobre as
decisões econômicas que serão tomadas e vão afetar o mundo inteiro. O capitalismo é aceito por
todos porque todos querem aproveitar dele!
4. MERCADOS E CRESCIMENTO6
No seu desejo organizado e sistemático de enriquecimento, o capitalismo atual fabrica
na escala mundial um crescimento muito particular. Os contra-poderes estão ausentes, os
desequilíbrios muito numerosos e a primazia é dada à remuneração do capital.
A primeira característica importante é o desabamento do poder de regulação dos
estados nacionais. O capitalismo financeiro se livrou do poder político e de suas variações nacionais
para tornar-se o principio indiscutível da organização econômica das sociedades: o poder mundial
tornou-se perfeitamente anônimo.
A segunda característica da mundialização é o aumento da volatilidade que ela causa
nas praças financeiras. A idéia que se impõe é, não de uma irracionalidade dos mercados financeiros
mas de uma forma perversa de racionalidade que alimenta sua instabilidade. A especulação é uma
fabricação coletiva. A força do capitalismo contemporâneo é de um lado a fragmentação dos
acionistas de base com o interesse comum de enriquecer, protegidos pelo seu anonimato e a
banalidade de sua condição que lhe confere uma legitimidade quase democrática. Do outro lado está
a industria dos gestores a quem não se pode culpar porque eles agem no interesse de outros. Os
investidores institucionais, cada vez mais ativos, se consideram os interpretes ativos do pensamento
dos verdadeiros proprietários do capital, pensamento que, de fato, eles inventam! Armados com o
corpus de idéias que eles elaboram, eles exercem seu poder a impor essas regras aos diretores de
empresas do mundo inteiro. Nada é mais invulnerável do que esse poder de dois estágios!
O grande inimigo é a uniformidade. Para se livrar dela, é preciso criar acontecimentos,
inesperado, surpresa e antecipar antes da concorrência a variação dos índices que resultarão disso
tudo. Os analistas acabam sendo os adivinhos, os profetas e os sacerdotes do capitalismo financeiro.
Eles fornecem para os gestores os alimentos dos quais esses precisam para se diferenciar: as boas
antecipações. Hoje as normas contábeis de aplicação mundial recentemente elaboradas por
especialistas cooptados avaliam cada elemento do passivo ou do ativo do balanço de uma sociedade
não mais pelo seu custo histórico mas pelo seu valor instantâneo fixado pelos mercados.
A economia do passado sofria de uma inflação gerada pelos fluxos (aumento dos bens
produzidos, aumento dos salários e dos preços dos fatores de produção, a conjunção desses fatores
aumentando o espiral inflacionário). A economia de hoje é animada pela busca sistemática do
shareholer value e conhece uma inflação dos ativos financeiros: a disparada das bolsas ocidentais de
uns vinte anos para cá mostra que o valor do capital não cessa de alimentar a inflação. Fraca inflação
de fluxos e crescimento rápido do patrimônio dos acionistas, eis o novo esquema. Com uma taxa de
rentabilidade do capital de 15%, a capitalização bolseira das empresas deveria ser em média igual a
três vezes seus fundos próprios contábeis. Se vê o que poder ser a parte do imaterial, da antecipação
e do mimetismo na valorização das bolsas. A continuar assim, o único fator de produção a ser
remunerado vai ser o capital!
A ambição excessiva dos representantes dos acionistas pesa de um modo muito
concreto nos modos de desenvolvimento econômico. É exato dizer hoje que a finança manda na
economia real.
O primeiro efeito é a aceleração poderosa do movimento de mundialização e
encoraja a implantação de unidades produtoras nas regiões do mundo de baixo
salário. O desenvolvimento das zonas emergentes é favorecido enquanto são
destruídos os empregos de baixa qualificação dos países desenvolvidos. Em
relação à sua comunidade nacional de origem, a empresa globalizada tem um papel
social secundário e uma responsabilidade cidadã marginal. É preciso encontrar em
qualquer lugar margens de produtividade para manter, sob pressão do mercado,
resultados financeiros que não são sustentáveis no longo prazo.
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Ibid. cap. 4
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5. O QUE FAZER?7
A primeira ilusão que deve ser abandonada é a da auto-regulação do sistema. O cidadão
não é representado numa troca onde se satisfaz prioritariamente o individualismo do consumidor. São
internalizadas pela empresa unicamente as regras de comportamento cujo desrespeito seria
sancionado por uma queda das vendas. A rentabilidade continua a medida de todas as coisas.
Somente uma norma de direito pode fazer respeitar o interesse geral. O fator político deve ser ele
mesmo globalizado.
A secunda ilusão, da revolta altermundialista, do poder da rua contra o poder dos
conselhos de administração... O discurso do intelectual é fragmentado enquanto o novo espaço
econômico é mundialmente homogêneo. A complexidade fragiliza lá onde a simplicidade triunfa. O
mercador espalhou suas redes enquanto o sábio não saiu da aldeia. O intelectual sempre teve
tendência em subestimar a força do poder econômico. A cultura nasce local e pela conceituação e a
extensão dos conceitos locais ela se elabora lentamente e dificilmente em valores universais
mundialmente reconhecidos. Temos de um lado a construção múltipla de valores seculares e do outro
lado o imediatismo bárbaro de uma potencia nova. Esses mundos não foram concebidos para
comunicar. Fazer e pensar estão, hoje, em duas esferas diferentes. As conversas entre políticos são
cada vez mais vazias porque, por trás das normas que regem nossas existências, não existe mais
uma instituição política visível, responsável que possa ser identificada. O que acontece é cada vez
mais a emanação de grupos profissionais, a obra coletiva de consultores e especialistas, de gestores
cuja individualidade é intercambiável e a responsabilidade não identificável. O responsável político e
o intelectual local tornam-se, contra sua vontade, os álibis de um poder superior e inacessível. Com
aparência de liberdade, nos tornamos dependentes.
Outra esperança um pouco mais sólida: o sistema pode achar seus próprios freios.
Na realidade, a única solução para fabricar alguma regulação é reinventar o político. O
campo desse renascimento deve ser mundial, dizer respeito aos grandes conjuntos (Estados Unidos,
Europa, China, Japão) e fundamentar-se em cooperações inter-governamentais organizadas,
preparadas e sancionadas por agencias internacionais encarregadas, assunto por assunto, de
coloca-las em funcionamento. Não se pode esquecer que nada acontecerá se a sociedade civil não
se organizar em redes de informação, de discussão e de debates.
A regulação deve enfrentar duas dimensões:
A proteção do planeta, dos seus recursos naturais e, portanto, da nossa espécie. As
decisões comandadas pelo interesse geral deverão ser politicamente impostas por
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Ibid. cap. 5
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