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AUBERT, Nicole, Le culte de l’urgence, la société malade du temps, Paris, Champs,
Flammarion, 2003, Introduction
preciso assegurar a rentabilidade imediata e a rotação rápida. Esta urgência
não é simplesmente um dado externo, ela comporta uma dimensão interior:
galvanizados pela urgência, algumas pessoas precisam desta nova forma de
droga para ter a impressão de existir intensamente! Para outros, a perda do
vínculo social, um trabalho de resultados intangíveis e carente de sentido, a
perda do significado de sua ação, levam a uma indiferença amarga e triste. Em
outros casos, o clima de pressão e urgência acaba levando a histeria e corroí
os relacionamentos pessoais e os próprios indivíduos. O desenvolvimento
tecnológico bem como os métodos de gestão a ele associados levaram
também ao aparecimento de novos riscos chamados os “riscos temporais”. Nas
tecnologias complexas e sensíveis (por exemplo o nuclear ou a biotecnologia),
o ser humano encontra-se face a horizontes temporais que escapam, o que
pode semear situações incontroláveis e arriscadas. Mais radicalmente ainda, a
compressão do tempo torna as possibilidades de volta atrás para corrigir
eventuais erros e danos quase impossíveis o que pode tirar toda possibilidade
de erro de gestão ou de manipulação das organizações. Isto levanta a pergunta
de saber se nos tornamos “homens – Presente”2, incapazes de viver a não ser
no presente mais imediato, mas mais ainda os homens do instante, colados à
intensidade do momento e buscando as sensações fortes ligadas ao único
desfrutar das sensações do momento. A busca do sentido, que se desenvolvia
antigamente durante uma vida inteira, se transformou numa demanda de “bem
estar” aqui e agora; mesmo as terapias psíquicas mais demoradas são as
vezes substituídas por terapias focadas nos sintomas muito mais do que seus
significados. Tudo isso contribui para desenhar uma sociedade imediata que
funciona no registro da reatividade o que compromete sua capacidade de
enfrentar o futuro. Assim, se forma um retrato multifacetado do homem
hipermoderno:
— De um lado, homem instantâneo que vive no ritmo do próprio desejo e
pensa ter abolido o tempo, do outro, um homem afundado no aqui e
agora da urgência e da instantaneidade, como se a velocidade na
resolução dos problemas pudesse, por si só, dar sentido à sua ação.
2
Segundo a expressão de Zaki Laïdi, citada por Aubert. Op. cit. p. 27
— De um lado, o indivíduo “por excesso”, conquistador, mestre de sua
performance e empreendedor da própria vida; do outro, o indivíduo “por
defeito”, cujo corpo é o único bem e que somente consegue agüentar o
tempo sem conseguir inscrever um projeto pessoal nele.
Entre o indivíduo adaptado que curte a velocidade das informações e do
ritmo de vida atual e o indivíduo pulverizado pela mesma velocidade e o
mesmo ritmo de vida, não existe nenhum vínculo possível.