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Book Reviews

01 Julho, 2008

1. 193) Uma breve história do futuro, Jacques Attali

Sobre o amanhã que nos espera


Economista e autor francês, Jacques Attali faz previsões alarmantes
em Uma Breve História do Futuro
Leonardo Trevisan
O Estado de São Paulo, domingo, 29 de junho de 2008, Caderno 2

Jacques Attali:
Uma Breve História do Futuro
Tradução de Renata Cordeiro
Novo Século, 224 págs., R$ 45,90

Investigar o futuro é mania antiga. Aliás, o bicho homem sempre foi


muito atormentado pela idéia das previsões. Os métodos para domar
esse medo do amanhã, atávico à espécie, são muitos, incluindo
sacrifícios humanos, muito utilizados para acalmar os deuses que
mandam no que virá. Por outro lado, é curioso, mas nos últimos
tempos a prospecção do futuro misturou esse medo com a ansiedade
por progresso. As incertezas do amanhã, portanto, só devem
assustar os que não se preocupam com os avanços, com as
melhorias, principalmente as econômicas.

Jacques Attali, assessor de François Mitterand, ex-presidente do


Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento, seguiu esse
caminho, o de pensar o futuro pela via da conquista do progresso.
Em Uma Breve História do Futuro - Capítulo Especial Sobre o Brasil,
publicado pela Novo Século Editora, ele identificou um momento
essencial para entender os mecanismos das previsões: por volta de
1300 a.C., depois que os egípcios consolidaram a idéia de império,
algumas tribos vindas da Ásia se instalam em ilhas do Mediterrâneo,
e, em vez de ficarem fechados em fortalezas pelas exigências da
agricultura, micênicos, fenícios e judeus passaram a pensar o tempo
todo em mudanças, que chamaram de “progresso”. Para esses,
comércio e dinheiro eram suas melhores armas e mares e portos seus
verdadeiros terrenos de caça.

Apesar de toda atenção à História, Attali garante que “hoje se decide


como será o mundo em 2050”. Ele está convencido de que as forças
de mercado dominam o planeta e o que chamou de “marcha
triunfante do dinheiro” tem tanto poder que acabará com tudo que
pode prejudicá-lo. Transformado em lei única do mundo, o mercado
formará na sua visão o “hiperimpério”, em que tudo será privado.
Porém, se a humanidade interromper a globalização “pela violência”
enfrentará grandes batalhas opondo Estados, grupos religiosos,
terroristas e piratas privados. Será o que Attali chamou de
“hiperconflito”. Já se a globalização puder ser contida sem ser
recusada, se o mercado for circunscrito sem ser abolido, se a
democracia for global, ele acredita que o mundo chegará à
“hiperdemocracia”, com todas as tecnologias usadas “no rumo da
abundância”. Para conhecer qual será o rumo dessa caminhada, se
sombria ou apenas feliz, Attali prospecta o futuro partindo de uma
certeza: as tribos, que instituíram os primeiros mercados e as
primeiras democracias 12 séculos antes de Cristo, formaram depois
uma sólida ordem comercial. Para ele, ainda estamos nessa ordem, e
sua história e leis serão também as do futuro. O corte cronológico
que interessa ao economista francês é o surgimento das primeiras
cidades-feira da cristandade no século 9º. Só as crises do próprio
mercado, ou guerras, levariam à substituição de um “núcleo” de
comércio por outro. Para Attali, desde então, nove “núcleos” se
sucederam: Bruges, Veneza, Antuérpia, Gênova, Amsterdã, Londres,
Boston, Nova York e, hoje, Los Angeles. Para Attali, o essencial da
história dos últimos sete séculos se explica pelas estratégias
empregadas pelas potências para tornarem-se “núcleo” dessa ordem
comercial.

Cada um desses núcleos acumulou sua especificidade de poder.


Veneza tomou o espaço de Bruges, pela posição geográfica
privilegiada, para receber a prata que acabara de ser descoberta nas
minas alemãs. Quando a prata alemã terminou e a pressão turca
aumentou, Antuérpia e depois Gênova substituíram Veneza. Londres,
que desde o 16 já lucrava com o algodão, tomará o lugar de Gênova.
A origem da riqueza inglesa está nos tratados de livre comércio
assinados até com a inimiga França em 1776. Nessa época, a libra já
era nova moeda do comércio mundial. A grande recessão de 1870
demole o poder de “núcleo” de Londres. De 1890 a 1929, Boston dará
as cartas pela grande explosão das máquinas. Depois da Grande
Depressão de 1929, Nova York ocupa o poder de núcleo, na grande
vitória da eletricidade. Depois que serviços viraram indústria, Attali
cria a expressão “objetos nômades”, os que ajudam as pessoas a
“viver em viagem”, o principal deles o computador.

Há novos donos no mundo. A Europa declina e a Ásia volta a subir:


entre 1980 e 2006 a parte dos EUA no PIB mundial permanece
inalterada em 21%, mas a da Europa cai de 28% para 21%,
enquanto a do leste asiático, incluindo China, Japão, Coréia, Taiwan,
Hong Kong, passa de 16% para 28%. A questão central para o futuro
é: como surgirá a décima cidade-núcleo. Há no horizonte 11 novas
potências: China, Índia, Rússia, Japão, Indonésia, Coréia, Austrália,
Canadá, República Sul-Africana, Brasil e México. Sobre a China a
percepção de que o Partido Comunista chinês será cada vez menos
capaz de organizar a vida urbana. Attali faz o vaticino de que o Brasil
estará à frente do Japão. Para gerir o tempo como mercadoria duas
indústrias devem crescer muito: seguros e entretenimento, uma vez
que “divertir-se será proteger-se do presente”. Quanto à
operacionalidade do futuro, Attali vê duas perspectivas. Primeiro,
uma fase mais sombria em que o capitalismo atingirá sua meta:
“Destruirá tudo que não for como ele.” Ele teme a tentação do
isolacionismo teocrático nos EUA e a inserção do cristianismo na
constituição européia como defesa à expansão islâmica. Porém,
depois, ele também considera que a hiperdemocracia poderá triunfar.

É preciso coragem para mexer com o futuro. O que mais assusta nele
não são as previsões, mas as convicções que as construíram. A maior
delas é a atual mistura entre progresso e felicidade. Aliás, vale
lembrar que essa mesma mistura já vitimou as previsões, tanto
otimistas como pessimistas, de muita gente.
posted by Paulo R. de Almeida at 11:08 AM
Prever o futuro, diz-se, é apanágio de oráculos e profetas, de pitonisas,
tirésias e cassandras, que nos mostram os caminhos do futuro, embora estes
sejam por vezes tão ínvios que o desejo de os trilhar se transforma em
desespero.

A futurologia é uma extrapolação de ideias e tendências contemporâneas que


nos permitem tentar perceber para onde caminhamos. Não se trata de prever
o futuro, isso é uma impossibilidade. Por mais perfeita que seja a previsão, o
futuro tem maneiras abruptas de sacudir as ideias e fazer nascer o
inesperado. Trata-se, antes de mais, de perceber qual o nosso estado das
coisas, e como poderão elas evoluir. A sua falibilidade diminui consoante a
proximidade temporal. Quanto mais próximo o futuro, mais provável a
previsão. E quanto mais longínquo, mais imprevisível se torna.

As agruras das previsões futuras são sublinhadas pelo facto de carruagens


puxadas por gansos não serem uma forma de voar, pela ausência de
automóveis de energia atómica nas estradas, pelos lamentos por a estação
espacial internacional se assemelhar mais a um amontoado de latas de
refrigerantes do que a um elegante toro a girar em órbita, completo com
hoteis para assegurar um momento tranquilo antes da partida para a lua.

E, claro, onde é que andam os jetpacks...?

As mais bem sucedidas futurologias são as que pegam nas tendências culturais
que ditam a caminhada humana e as extrapolam a médio prazo, e mantém
uma contínua evolução de acordo com os desvios das tendências. Observe-se,
por exemplo, a pertinência das obras de Toffler, que permitem compreender
tendências a médio prazo.

Breve História do Futuro, obra do francês Jacques Attali, segue fielmente


este princípio. Attali pega nas tendências sócio-económicas, políticas,
tecnológicas e culturais que caracterizam a nossa sociedade e projecta-os
num futuro próximo. Específicamente, o autor analisa as grandes correntes da
era contemporânea - o aquecimento global, os problemas ambientais, as
catástrofes naturais, as alterações geopolíticas, o declínio das grandes
potências, a emergência da àsia, a globalização económica, o carácter
rarefeito da economia, a perda de poder dos governos face à economia
transnacional, os movimentos sociais anti-globalização, o espectro do
terrorismo, a evolução tecnológica e científica, para traçar um quadro negro
do futuro que nos espera.

Attali centra a sua tese em três aspectos. Fala-nos do surigr de um


hiperimpério, a influência global dominante não de um governo, mas sim da
esfera económica, com o mundo empresarial a substituir o papel dos governos
e das estruturas tradicionais, um mundo onde a economia, potenciada pela
tecnologia, reina suprema. A complexidade, desprezo por valores que não os
do lucro e a desumanização face às exigências da economia levam o autor a
postular o surgir de um hiperconflito, não uma guerra global, mas sim uma
míriade de conflitos de várias intensidades. Estes podem ser uma reacção das
forças tradicionais face às exigências da contemporaniedade, conflitos pela
posse dos cada vez menores recursos naturais, ou conflitos económicos e
rivalidades empresariais que resvalam para o tiroteio. O caos tumultoso desta
era levará a humanidade ao lado mais luminoso da tese de Attali, o surgir da
hiperdemocracia, um utópico governo equilibrado à escala global, uma época
de calmaria após os exageros, os desvarios e os conflitos que levarão à ruína a
sociedade tal como a concebemos.

São ideias curiosas. Sem dúvida que o futuro está, neste momento único da
história da humanidade, cheio de desafios cuja resposta poderá pôr em causa
a sobrevivência da nossa espécie. Os prognósticos de Attali são tenebrosos, e
sabendo à partida que o futuro não se escreve por linhas direitas, desafiam a
credulidade. Mas as tendências que Attali identifica - o neoliberalismo
galopante, o carácter cada vez mais transnacional da economia, a perda de
poder e capacidade de actuação por parte dos governos, os
descontentamentos pelo estado das coisas simbolizados pelas agitações de
vária ordem que sacodem o mundo, a ameaça do terrorismo, a supremacia da
economia de mercado sobre as reais necessidades dos cidadãos, a tecnologia
cada vez mais avançada, o ressurgir dos fundamentalismos e a ameaça global
representada pelo aquecimento global, tudo são tendências que já modelam o
mundo contemporâneo.

Em rigor, as previsões de Breve História do Futuro não são bem previsões, são
retratos exagerados da sociedade contemporânea que nos permitem encarar
os desafios que nos esperam.

PUB LICAD O POR A RTUR À S 10: 11 A M

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