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Vistos, relatados e discutidos estes autos de apelação cível n.º 2008.00153-2, originários da
9ª Vara Cível da Capital, em que figuram como apelante Executivos S/A Administração e
Promoção de Seguros e, como apelado, Laércio Soares dos Santos, devidamente qualificados
e representados.
Acordam os desembargadores integrantes da 1ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Estado de Alagoas, em conformidade com o voto do relator, à unanimidade, em tomar
conhecimento do apelo para negar-lhe provimento.
Participaram do julgamento: des. Tutmés Airan de Albuquerque Melo (relator), des.
Washington Luiz Damasceno Freitas (revisor) e des. James Magalhães de Medeiros
(presidente).
RELATÓRIO
17. Inconformada, a apelante recorreu, alegando que não restou confirmada a incapacidade
total e permanente do apelado, razão porque não caberia o pagamento do prêmio e que o
valor arbitrado a título de indenização foi excessivo, sem a devida observância aos termos do
contrato acostado às fls. 171/177, ressaltando que o limite máximo indenizável, no que
tange à cobertura por invalidez permanente por acidente, é de R$ 31.258,00 (trinta e um
mil, duzentos e cinquenta e oito reais). Ao final, pugnou pela reforma da sentença para
eximi-lo do pagamento de indenização, e que, caso fosse configurada a incapacidade
permanente, o valor arbitrado fosse reduzido para quantia não superior a R$ 25.006,40
(vinte e cinco mil e seis reais e quarenta centavos).
18. O apelado contrarrazoou, rechaçando os argumentos aventados pelo apelante,
requerendo a manutenção da sentença, pleiteando sua modificação, apenas, no que se
refere à necessidade de fazer incidir a correção monetária à época da comunicação do
sinistro, bem como a majoração dos honorários advocatícios para 20% do valor da causa.
19.Vieram os autos a este Tribunal de Justiça, sendo distribuídos ao des. Juarez Marques
Luz, em 23 de janeiro de 2008. Em seguida, em virtude da aposentadoria deste
desembargador, foram os autos redistribuídos ao des. Pedro Augusto Mendonça de Araújo,
em 7 de janeiro de 2009, sendo a mim redistribuídos em 27 de fevereiro de 2009, devido à
remoção deste último para a 1ª Câmara Cível.
8. É o relatório. Passo a expor o meu voto.
VOTO
...É permanente totlamente para tipo de atividade que o autor exercia, qual seja, a de
motorista. É parcial para outros tipos de atividades, mesmo assim com uma série de
restrições. Diz ainda o perito que a lesão sofrida pelo autor é irreversível, que o tratamento
que o mesmo está sendo submetido ou vai ser submetido é para mantê-lo vivo dentro de um
padrão social de sobrevivência.
24. Nesse contexto, não sobejam dúvidas de que o apelado tem direito a receber o
pagamento do prêmio, pois é incontroverso que a invalidez que o vitima é irreversível,
portanto passível de indenização.
25. No caso em comento, o apelado, pela atividade que desenvolvia na Transforte Alagoas,
tornou-se beneficiário de um seguro de vida e/ou acidentes pessoais coletivo. Ao sofrer um
sinistro que resultou em invalidez, constante no rol dos riscos cobertos pelo seguro, acionou
a seguradora, munido de toda a documentação necessária, inclusive de laudo do IML,
confiante de que receberia a indenização a que supunha ter direito. Eis que a seguradora
determinou que o apelado fosse submetido a um novo exame, desta vez com um médico por
ela indicado, tendo este concluído que o acidente não deixou sequelas indenizáveis,
contrariando todos os laudos até então emitidos. Diante disso, a apelante negou-se a efetuar
o pagamento da indenização pleiteada.
26. É oportuno destacar que os atestados, radiografias e laudos apresentados desde o início
pelo apelado foram emitidos por médicos que não possuem vínculos profissionais com ele,
havendo inclusive laudo do Instituto Médico Legal, indício de sua boa-fé. No entanto, o
mesmo não se pode falar da apelante que, através de laudo emitido por um médico com o
qual possui vínculo profissional, emitiu um parecer totalmente diverso de todos os
apresentados anteriormente. A toda evidência, em assim agindo, o apelante afrontou o
princípio da boa-fé, que deve estar presente em todas as fases do contrato de seguro (fase
pré-contratual e fase pós-contratual), sob pena de flagrante violação aos arts. 422 e 765 do
CC.
27. Sobre esse princípio, Flávio Tartuce[1] ensina que:
Atualmente, tornou-se comum afirmar que a boa-fé objetiva, conceituada como sendo
exigência de conduta leal dos contratantes, está relacionada como os deveres anexos, que
são ínsitos a qualquer negócio jurídico, não havendo sequer a necessidade de previsão no
instrumento negocial (Sobre o tema: Juditn Martins-Costa. A boa-fé...)
A tese dos deveres anexos, laterais ou secundários foi muito bem explorada, entre nós por
Clóvis Couto e Silva ( A obrigação..., p.113), para quem "Os deveres secundários comportam
tratamento que abranja toda a relação jurídica. Assim, podem ser examinados durante o
curso ou o desenvolvimento da relação jurídica, e, em certos casos, posteriormente ao
adimplemento da obrigação principal. Consistem em indicações, atos de proteção, como o
dever de afastar danos, atos de vigilância da guarda de cooperação, de assistência".
O dever de boa-fé objetiva nas obrigações não indica qual a conduta a ser adotada pelas
partes de uma relação negocial, mas como estas devem se comportar; noutras palavras, é
atendido quando as partes desempenham suas condutas de modo honesto, leal e correto,
evitando causar danos ao outro (dever de proteção) e garantindo o conhecimento de todas
as circunstâncias relevantes para a negociação (dever de informação); comportamento que
faz florescer laços de confiança entre os contratantes
29. Tal afronta se constata sem grandes dificuldades à medida em que não há razão alguma,
a não ser o propósito de se eximir de sua obrigação, para a apelante duvidar da prova
apresentada pelo apelado e pelo próprio perito oficial.
30. Ademais, o próprio INSS, com o cuidado que lhe é peculiar, reconheceu a invalidez
permanente do apelado, aposentando-o. Quando isso acontece, os tribunais têm entendido
que a seguradora é obrigada a arcar com o pagamento do prêmio do seguro contratado. Eis
a jurisprudência:
31. No que tange à fixação do quantum indenizatório, entendo que a sentença não merece
reforma.
32. Para que o o valor da indenização seja fixado de maneira justa, deve ser observado qual
o valor do prêmio e a tabela de percentuais a serem aplicados de acordo com a natureza e a
extensão da lesão, constantes na apólice da qual o apelado é beneficiário.
33. No caso em exame, foi expedido um documento pela apelante, às fls. 28 e 115, para
comunicar o encerramento do processo de sinistro do segurado Laércio Soares dos Santos –
ora apelado –, fazendo referência à apólice de nº 2609422-8.
34. Com efeito, o magistrado determinou que a seguradora juntasse a referida apólice, para
que, com base em suas cláusulas, pudesse fixar o valor da indenização. Entretanto, a cópia
do contrato juntada pelo apelante não possui o aludido número e o nome da estipulante é o
da Transforte Alagoas, com endereço em Aracaju, e não o de Alagoas.
35. Assim, no que diz respeito à apólice juntada, entendo que esta realmente não tem como
beneficiário o apelado, pois, se o comunicado expedido pela própria seguradora fazia menção
a um determinado número como sendo o da apólice do segurado, este número deveria estar
expresso no contrato, o que não ocorreu. E mais, a estipulante tem endereço diverso do local
onde o apelado exercia suas atividades laborativas.
36. É incontroverso, pois, que o apelante colacionou aos autos contrato diverso do qual o
apelado é beneficiário. Portanto, comungo com o entedimento do magistrado a quo no que
concerne à fixação do valor da indenização em R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), tendo em
vista que, ante a ausência da apólice pertencente ao apelado, este não arbitrou
aleatoriamente tal valor, mais sim aplicando um critério de proporcionabilidade e
razoabilidade, quando utilizou a apólice juntada pela seguradora como base para o cálculo,
cujos valores variavam entre R$ 7.098,00 (sete mil e noventa e oito reais) e 71.786,00
(setenta e um mil, setecentos e oitenta e seis reais), chegando ao valor que chegou,
devidamente atualizado com juros de meio por cento ao mês e correção monetária a partir
da fixação do quantum indenizatório.
37. No tocante ao pedido de alteração de incidência da correção monetária para a data da
comunicação do sinistro, bem como de majoração dos honorários advocatícios para 20%
sobre o valor da causa, tendo em vista que o apelado não interpôs apelação cível, tampouco
quando da oferta de contrarrazões ao recurso do apelante apresentou petição autônoma de
recurso adesivo a este, não conheço dos referidos pedidos, por terem sido formulados
através de meio impróprio.
38. Ante o exposto, conheço do recurso para negar-lhe provimento, mantendo incólume a
sentença vergastada.
39. É como voto.
[1] TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Teoria Geral dos Contratos e Contratos em Espécie,3. São
Paulo: Ed. Método,2009. p 99.
[2] EHRHARDT JR. Marcos. Revisão Contratual: A Busca Pelo Equilíbrio Negocial diante da
Mudança de Circunstâncias. Salvador: Ed. Podivum. p55.