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26 de junho de 2010

BRASIL E EUA FRENTE AOS DESAFIOS


REGIONAIS:
O CONTINENTE AFRICANO

Prof. Esp. Luiz Dario Ribeiro

Apoio institucional: Apoio logístico:


Projeto “Relações Internacionais para Educadores” – 26 de junho de 2010
BRASIL E EUA FRENTE AOS DESAFIOS REGIONAIS: O CONTINENTE AFRICANO

BRASIL E EUA FRENTE AOS DESAFIOS REGIONAIS:


O CONTINENTE AFRICANO
Por Ana Júlia Possamai e Lucas Paes1

Quando a África é visualizada, a primeira visão que permeia a mente de muitas pessoas
é a imagem de fome, miséria, conflitos e marginalização. Um continente tomado pela violência
tribal, assolado pela epidemia da AIDS, pela corrupção e pela sacramentalização de um futuro
que só reproduz a idealização de um passado pobre e infeliz.
No entanto, os últimos anos vêm pintando uma imagem muito distinta deste vasto
continente. O número de países africanos com conflitos armados internos caiu de 13 para 52,
apesar da crise humanitária no Darfur3 (SARAIVA, 2008). A África subsaariana, ou África
negra, considerada a região mais pobre do mundo, cresce entre 5% e 6% ao ano desde 2003 –
ou seja, o equivalente à América Latina e superior à média brasileira (SARAIVA, 2008).
Embora ainda atravessando um difícil período de estabilização, o continente africano vem
cada vez mais atraindo investimentos externos, sinalizando um período de mudanças. Da
concessão de ajuda humanitária a países vulneráveis, hoje o mundo volta-se à África para
participar e aproveitar o seu crescimento, visto agora como um parceiro político e comercial.
Esta seção visa a analisar os desdobramentos recentes que reconduzem o continente
africano ao cenário internacional. Num primeiro momento, estudaremos a importância
estratégica do continente africano e as ações que vêm dirigindo-o para o caminho do
desenvolvimento. Em seguida, buscaremos analisar os interesses da China, dos Estados
Unidos e dos países europeus, à luz dos valiosos recursos que detém a África. Por fim,
analisaremos a política externa brasileira para o continente, sobretudo nos governos FHC e
Lula.

1 Estudantes de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).


2 Considerando que os conflitos, ao lado da colonização, foram a mais importante causa imediata da pobreza no
continente, ao desviarem um montante valioso de recursos para a sua condução, a redução na sua ocorrência
significa que agora esses recursos podem passar a ser aplicados em políticas de redução da pobreza e da
miséria.
3 O conflito de Darfur é um conflito armado em andamento na região de Darfur, no oeste do Sudão, que opõe

principalmente os milicianos janjawid (tribos nômades africanas de língua árabe e religião muçulmana) e os
povos não-árabes da área. Rebeldes majoritariamente não árabes pegaram em armas contra o governo do
Sudão, acusando-o de negligenciar os interesses da etnia.
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A IMPORTÂNCIA ESTRATÉGICA DO CONTINENTE AFRICANO


Ao pensarmos no continente africano, a primeira imagem que a muitos vem à mente
refere-se às crianças famintas da Etiópia, à guerra civil e ao genocídio em Ruanda ou à
epidemia de AIDS e tuberculose (TB). Uma África vista antes como fruto de problemas e
preocupações humanitárias internacionais do que como fonte de oportunidades. Um
continente perdido de Estados falidos, ao invés de Estados constituídos, estreando no palco da
democracia.
No entanto, o século XXI cada vez mais vem deixando no passado o pessimismo em
relação à África. A percepção de um renascimento africano vem se fazendo real e presente não
só para líderes e a sociedade afro, mas também para a comunidade internacional. A primeira
Copa do Mundo realizada no continente, apesar das críticas, não deixa de ser prova de que
uma visão internacional distinta se faz sobre a África.
Atualmente, o continente é cenário de uma grande competição internacional pelo
acesso a seus recursos naturais. China, Índia, Malásia, Coréia do Sul, Brasil, e outras economias
emergentes, além das tradicionais potências (Estados Unidos e países europeus) cada vez
mais buscam petróleo, minerais, madeira e outros recursos no território africano. Para se ter
uma idéia, a África é fonte de cobiça por deter cerca de 66% do diamante do mundo, 58% do
ouro, 45% do cobalto, 17% do manganês, 15% da bauxita, 15% do zinco e de 10% a 15% do
petróleo. São aproximadamente 30 os recursos minerais do mundo que a África guarda em
seu subsolo – embora só participe de 2% do comércio mundial e possuir apenas 1% da
produção industrial global (SARAIVA, 2008).
O petróleo africano vem se
Fig. 1: Golfo da Guiné
tornando um atraente substituto à
commodity4 importada do Oriente
Médio pelos Estados Unidos. A
crescente produção de gás natural no
Golfo da Guiné (Figura 1) também está
na mira de investidores tanto
estadunidenses, como britânicos.
Conseqüentemente, amplia-se a
importância comercial do continente.
Compreendendo 40 dos 185 membros
da Organização Mundial do Comércio
(OMC), a África tem desempenhado
papel relevante na defesa da redução Fonte: Imagick.org.br

dos subsídios agrícolas estadunidenses

4 Produtos primários, ou com baixo grau de industrialização, que possuem cotação e são negociáveis nas bolsas
de valores (ie. Petróleo, soja, tabaco e etc.).
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e europeus, postura semelhante à adotada por países emergentes de peso, como o Brasil e a
Índia.
A importância estratégica do continente vai além do espectro comercial. A África é
vista como um importante aliado – que deve ser conservado – na luta contra o terrorismo.
Extensas células terroristas há alguns anos já operam no continente, sendo os casos mais
conhecidos os ataques da rede terrorista Al Qaeda às Embaixadas dos Estados Unidos no
Quênia e na Tanzânia, em 1998; os atentados contra turistas israelenses no Quênia em 2001 e
a tomada da capital somali Mogadíscio por insurgentes islâmicos.
A questão demográfica também demanda a atenção internacional. Afinal, tratamos de
um continente que está sobre quase um quarto da superfície do planeta (22,5% das terras do
globo, sendo o terceiro continente mais extenso, com 30 milhões de quilômetros quadrados) e
detém mais de 10% da população mundial, a qual deverá dobrar até 2050 (SARAIVA 2008).
Além disso, também a questão da saúde global passa pela África, pois depende do
desenvolvimento e da ampliação da capacidade de controle da pandemia da AIDS, que tem o
continente como seu epicentro. A África sofre com mais de 28 milhões de infectados pelo vírus
no planeta (num total que gira em torno dos 40 milhões). A malária vitima um milhão de
africanos por ano, e a ameaça da gripe aviária está sempre latente. Uma soma expressiva de
dólares internacionais e nacionais é destinada ao combate dessas doenças, em grande parte
fruto da pobreza.
No entanto, apesar desse quadro, o que se prega na nova postura internacional adotada
para a África, mas também na nova postura que os próprios líderes africanos vêm assumindo,
é o crescente estabelecimento de parcerias e acordos de cooperação, para além da ajuda
humanitária tradicional. A África não mais quer ser tratada como objeto de caridade, mas
como a contraparte de programas de cooperação focados e de longo prazo.
O papel de crescente importância estratégica (política, econômica e social) da África
demanda uma melhor compreensão da sociedade brasileira sobre esse continente, para que
saibamos aproveitar de forma pragmática e sábia as oportunidades que nossos irmãos de
sangue nos abrem. Passemos, então, ao estudo das origens da inserção internacional da África
contemporânea para, em seguida, apresentarmos os interesses das grandes potencias e de
países emergente que estão em jogo no tabuleiro africano.

A INSERÇÃO INTERNACIONAL DA ÁFRICA E O RENASCIMENTO AFRICANO


A história contemporânea do continente africano foi marcada pelo colonialismo
europeu oficialmente estabelecido na Conferência de Berlim de 1884-1885, que fragmentou o
continente em um mosaico de zonas de influência européias. A Partilha da África foi resultado
do imperialismo europeu, que repartiu o continente em zonas comerciais e/ou de controle

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político-militar direto entre as principais nações (França, Inglaterra, Itália, Bélgica, Alemanha,
Portugal e Espanha) e esteve por detrás de disputas territoriais que acirrariam a escalada do
mundo à Primeira Guerra Mundial.
As lutas pela independência dos países africanos dos laços do colonialismo europeu é
que marcariam o compasso da atuação internacional do continente ao longo do período da
Guerra Fria. Para além do discurso ocidental de defesa da igualdade formal no sistema
internacional, a década de 1960 veria a aproximação da África ao terceiro-mundismo do
Movimento dos Não-Alinhados5 (MNA), na luta por princípios mais justos da participação no
sistema econômico capitalista liberal e pela modificação das regras desiguais do comércio
internacional. A Conferência de Bandung, que deu origem oficial ao MNA, tornou-se um marco
para o processo de descolonização que se processava na África e na Ásia, sinalizando o
interesse em participar de forma ativa e propositiva no sistema internacional, recusando o
alinhamento prévio aos blocos existentes na Guerra Fria (Capitalista e Socialista, liderados,
respectivamente, pelos Estados Unidos e pela União Soviética) (RIBEIRO, 2007) e tornando-se
reativos e defensivos ao ideário, com a criação de um socialismo africano (DÖPCKE, 2002).
Ao mesmo tempo, vê-se evoluir no continente o movimento pan-africanista, surgido
com o fim do esclavagismo americano e da II Guerra Mundial, bem como com a afirmação do
movimento negro pelo mundo. Na década de 1950, o desafio da descolonização do continente
e o confronto entre o Leste e o Oeste na Guerra Fria já abalavam o cenário político e
diplomático africano, dando origem a duas formas de pan-africanismo6. Por um lado, surgiu
um pan-africanismo dito “maximalista”, por se tratar de uma estratégia que visava a recompor
a geopolítica anterior à criada pela Conferência de Berlim. O objetivo último era a fundação
dos Estados Unidos da África, que fariam do continente negro um ator de peso no cenário
mundial. Segundo o líder ganense Kwame Nkrumah, “a África deve se unir” 7, a unidade
econômica, política e militar do continente seria fundamental. No entanto, esse ideal não
encontrou respaldo das antigas potências coloniais, que desejavam manter sua influência na
região, tampouco nas potências progressistas (URSS, EUA e China), promotores da liberdade
individual e do direito à autodeterminação, que limitaram seu apoio à forma verbal.
Já a outra corrente foi a de um pan-africanismo “minimalista”, baseada no direito
inalienável de cada país a ter uma existência independente. Sua idéia basilar era de que as
fronteiras herdadas da colonização eram intocáveis e tinha como princípio o respeito à
soberania e a não-ingerência nos assuntos internos dos Estados. Essa corrente que inspiraria
a criação da Organização da Unidade Africana, em 1963, em Adis Abeba, capital da Etiópia e
foi apoiada pelos interesses das potências colonizadoras.

5 Movimento surgido na conferência de Bandung (1955), que buscava uma via alternativa à bipolaridade entre
Estados Unidos e URSS na política mundial da Guerra Fria. O movimento hoje conta 115 membros e segue
buscando uma via independente para as relações internacionais.
6 O pan-africanismo é um movimento que propõe a união de todos os povos de África como forma de potenciar a

voz do continente no contexto internacional


7 TSHIYMBE, Mwayila. A difícil gestação da nova União. Le Monde Diplomatique, jul. 2002. Versão online.

Disponível em <http://diplo.uol.com.br/2002-07,a354>. Acesso a 20 set. 2007.


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O pan-africanismo, aliado ao terceiro-mundismo promovido pelo Movimento dos Não-


Alinhados, provocava um clima de euforia nos novos Estados africanos, recém-
descolonizados. A OUA surge no momento em que se buscava pensar a promoção de
instituições capazes de possibilitar o desenvolvimento econômico, promover a modernização
e a assegurar a liberdade política em meio ao exacerbado sentimento nacionalista das
diversas etnias que compõe o continente (RIBEIRO, 2007).
Entretanto, a adoção do princípio de integridade territorial defendido pela corrente
minimalista implicou que os Estados surgidos do processo de descolonização herdassem,
quase sempre, os limites territoriais do período colonial, o que acabou provocando graves
problemas de legitimidade e estabilidade. Isso porque, sabe-se que as fronteiras políticas de
longe coincidiam com as fronteiras sócio-étnicas e naturais que conformam esse diverso
continente. Assim, os princípios de soberania, integridade territorial e independência dos
países-membros foram desmentidos pela incapacidade da Organização em resolver os
conflitos da Libéria8, da Somália, de Serra Leoa, de Ruanda9, de Burundi10 e da República
Democrática do Congo11, somados à retirada do Marrocos da organização12.
O único trunfo que permitiu à OUA a mobilização da comunidade internacional foi o
seu apoio à erradicação do colonialismo e o apoio aos movimentos de libertação, através das
Nações Unidas e do MNA. No entanto, a Organização não foi capaz de sustentar a criação de
Estados politicamente institucionalizados. De fato, após a descolonização, os europeus
desmontaram o aparelho governamental, as forças armadas e as corporações ocidentais que
operavam no território. Nos postos vagos, a mesma elite política, antes subordinada à

8 A primeira guerra civil da Libéria (1980-89) opôs o então presidente Samuel Doe e as forças rebeldes de Charles
Taylor, em um conflito também de caráter étnico, dada a opressão da etnia do presidente, khran, sobre as demais
– sobretudo as ligadas aos ex-escravos norte americanos. O segundo conflito (1999-2005) é derivado dos
questionamentos ao governo truculento de Charles Taylor.
9 Quando os colonizadores belgas chegaram à região em 1916, produziram carteiras de identidade classificando as

pessoas de acordo com sua etnia. Os belgas consideravam a etnia tutsis superiores a dos hutus. Dessa forma,
durante cerca de 20 anos os tutsis desfrutaram de empregos e oportunidades de educação melhores do que os
dos vizinhos hutus. Quando a Bélgica deixou o poder e deu independência a Ruanda, em 1962, os hutus
assumiram o governo. Refugiados tutsis em Uganda - com o apoio de hutus moderados - começaram a formar o
movimento Frente Patriótica Ruandense (RPF), o objetivo do grupo era de derrubar o Presidente Habyarimana
hutu e retornar à terra natal. Em 1994, um ataque ao avião presidencial acabou matando o dirigente, o que deu
início a uma grande onda de assassinatos em massa de tutsis e hutus moderados por militares, políticos e civis
apoiadores do líder hutu morto. 800 mil pessoas foram mortas no episódio que ficou conhecido como
“genocídio de Ruanda” e mais de 2 milhões tornaram-se refugiados. A comunidade internacional pouco atuou
para cessar a guerra civil.
10 Conflito que também opõe tutsis e hutus desde a independência do país frente a Bélgica. Em 1993 e 1994,

assassinatos de presidentes de etnia hutu, por tutsis, agravaram o conflito, refletindo na vizinha Ruanda.
11 A guerra civil no República Democrática do Congo, remonta à distribuição de poder no período colonial do país

rico em minerais. Entre 1997 e 1999, forças oposicionistas tomaram o poder de Mobuto, que já o havia feito
em 1970, contando com apoio belga.
12 A OUA não conseguiu evitar os inúmeros conflitos que assolaram o continente, nem promover de forma efetiva

o seu desenvolvimento. O Marrocos acabou abandonando a organização em 1984, visto que a OUA aceitara o
Saara Ocidental como membro da organização em 1982. A região do Saara Ocidental – ex-colônia espanhola –
desde 1975 era motivo de disputa entre Marrocos e a Frente Polisario.
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metrópole, é que assumiu o controle, muitas vezes reproduzindo os padrões de recrutamento


e relacionamento, o que manteve as disputas e rivalidades étnicas (SARAIVA, 2008).
Em geral, as lutas de independência foram seguidas pela instauração de governos de
partido único ou por golpes militares e pela forte estatização da economia, com alguns pólos
democráticos, que fragilmente se sustentavam e acabaram sucumbindo à restauração
autoritária, acompanhada de guerras civis entre elites e/ou etnias opositoras (RIBEIRO,
2007). Como era de se esperar, esses Estados não conseguiriam gerar instituições capazes de
assegurar a aplicação e o cumprimento de leis e contratos. O patrimonialismo, o nepotismo, o
“tribalismo” e a corrupção generalizada, minaram a imagem do continente.
Como era de se esperar, os Estados africanos recém-independentes e frágeis não
escaparam da conjuntura de crise da década de 1980. Durante a década perdida, a situação do
continente deteriorou-se, num contexto internacional de grandes mudanças surgidas a partir
da década de 1970, como os choques do petróleo13 (1973 e 1979), a descrença nas políticas
keynesianas do Welfare State (Bem-estar social14), a alta taxa de juros norte-americana15, a
moratória do México em 198216, a financeirização da economia e o surgimento do
neoliberalismo17. A África acabou sucumbindo às instituições financeiras internacionais (FMI
e Banco Mundial) e ao ideário liberal dos ajustes estruturais18, perdendo sua (ainda que
mínima) capacidade de influenciar a discussão sobre a sua própria inserção econômica, ou
seja, de desenvolver alternativas positivas ao neoliberalismo vigente.
Os ajustes estruturais (privatizações, diminuição dos gastos do Estado e abertura
econômica), tal como evidenciava o caso latino-americano, não se mostrariam a solução ao
problema do subdesenvolvimento. A crise acabou “por derrubar as economias africanas, já
desgastadas pelo acelerado crescimento demográfico, pelos desequilíbrios produtivos, sociais
e ecológicos, bem como pelos conflitos armados e pela incompetência e corrupção da maior

13 A crise do petróleo foi provocada pelo embargo dos países membros da Organização dos Países Exportadores de
Petróleo (OPEP) e Golfo Pérsico de distribuição de petróleo para os Estados Unidos e países da Europa – o que
acabou elevando subitamente o preço do combustível mais importante da economia capitalista mundial.
14 Pela teoria do economista John M. Keynes, o capitalismo teria tendências cíclicas de ausência de uma demanda

que promovesse o crescimento. Assim, o Estado deveria intervir na economia provendo a garantia de um
mínimo de demanda (e, portanto, de empregos) e de bem-estar à população (serviços públicos de qualidade,
garantia do nível de renda).
15 Após romper a conversibilidade dólar-ouro, em 1971, o Presidente Richard Nixon, passou a implementar uma

política de altas taxas de juros durante a década de 1970, o que refletiu diretamente nas economias dos
países subdesenvolvidos, que detinham grande montante de dívidas contraídas no exterior e calculadas com
base nos juros estadunidense. Dessa forma, o valor a ser pago pelos empréstimos elevou-se enormemente,
prejudicando a capacidade de pagamento dos governos.
16 Tendo criado uma enorme dívida, assim como o Brasil, para promover seu crescimento econômico, o México

viu-se seriamente endividado quando da elevação das taxas de juros economia norte-americana, tendo de
interromper os pagamentos em 1982.
17 Prática político-econômica que preconiza a redução do Estado na condução do país, interferindo o menos

possível na liberdade individual e nas atividades econômicas da iniciativa privada.


18 Receituário neoliberal de mudanças na condução e na estrutura de políticas econômicas interna, pelas quais o

FMI e o Banco Mundial condicionaram seu crédito a países subdesenvolvidos, sobretudo nas décadas de 1970 e
1980, quando das crises das dívidas externas após choque do petróleo e aumento dos juros internacionais.
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parte das elites” (VISENTINI, 2007: 199). O continente havia perdido a sua inserção
internacional junto às instituições financeiras internacionais, aos governos ocidentais e a
atores não-estatais, como as ONGs.
Como resultado, aos olhos ocidentais, instaurou-se o período do "afro-pessimismo" e a
visão de “um continente perdido, não reformável, incapaz de se desenvolver, sobrevivendo
somente através de esmolas externas” (DÖPCKE, 2002, p. 149).
A situação africana seria agravada na década de 1990, com o fim da Guerra Fria e o
desmoronamento da ideologia socialista. Tomava força o processo de globalização, jogado aos
quatro ventos, defendendo (e impondo) àqueles que desejassem se inserir na Nova Ordem
Mundial o ideário liberal econômico19 e político20 (DÖPCKE, 2002). Após um breve período de
tentativa de adequação ao sistema liberal multipartidário – com a independência da Namíbia
(1991), os acordos de paz em Angola (1991) e Moçambique (1992) – novos regimes ou
mesmo velhos ditadores autoritários retomaram o poder, e houve a escalada de conflitos civis,
como em Sierra Leoa21, Libéria e Somália22 (VISENTINI, 2007). Nesse período é que se
revelaria a grave marginalização mundial do continente, em termos políticos e econômicos
(DÖPCKE, 2002), agravada pela Guerra do Golfo23 (1990-1991) que reorientou os esforços
ocidentais para Oriente Médio (VISENTINI, 2007).
Conseqüentemente, os Estados africanos foram poucos, para não dizer quase nada,
atrativos aos investimentos externos. Ao adentrar a década de 1990, 44,6% da população da
África subsaariana contava com menos de US$1 por dia para se manter. Passada mais de uma
década, esta cifra praticamente não se alterou, registrando-se que 44,0% da população
mantêm-se no mesmo patamar socioeconômico (RIBEIRO, 2007). A taxa de mortalidade de
crianças com menos de cinco anos de idade é de 140 ‰, e a esperança de vida ao nascer é de
apenas 54 anos. Apenas 58 por cento da população têm acesso à água potável. A taxa de
analfabetismo de pessoas com mais de 15 anos é 41% (NEPAD, 2007).
A deterioração da situação econômica contribuiu para o aumento do fluxo de
refugiados e migrantes, agravando as condições de higiene, segurança e habitação. Neste
ambiente, o continente africano transformou-se em palco para o crescimento desenfreado de
uma série de doenças, ainda que muitas delas totalmente passíveis de controle (como
poliomielite, sarampo, dengue etc.), com milhões de vitimas por ano. No caso da epidemia de

19 Livre fluxo de mercadorias, capital financeiro, desestatização e liberalização de mercados.


20 Eleições democráticas, pluralismo e respeito aos direitos humanos individuais.
21 Apoiado pelas forças rebeldes da Libéria de Charles Taylor, a Foday Sankoh liderou rebeldes em uma guerra civil

que perdurou de 1991 à 2002, quando da consolidação do presidente Kabbah no poder. Grande parte desses
rebeldes eram meninos-soldados.
22 Na Somália, oito clãs disputam o poder numa guerra civil que dilacerou completamente o país. A guerra se

intensificou com o envolvimento de forças militares etíopes no conflito entre o governo interino somali e a
milícia islâmica que controla boa parte do país.
23 A Guerra do Golfo foi um conflito militar iniciado em 1990 na região do Golfo Pérsico, com a invasão do Kuwait

por tropas do Iraque. Esta guerra envolveu uma coalização de forças de países ocidentais liderados pelos Estados
Unidos. Foi possivelmente um dos maiores massacres da história do Oriente Médio.
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AIDS, em particular, a situação aparece de forma mais assustadora, chegando ao ponto de


afetar as perspectivas demográficas em longo prazo em vários países (FAO, 2006).
A África tinha sepultada, assim, sua importância estratégica e sua capacidade de
barganha no cenário internacional. “O resultado foi a marginalização da África no sistema
internacional, e a desestrategização e a tribalização dos conflitos e da política regional”
(VISENTINI, 2007: 203).
No entanto, em oposição a esse clima fúnebre de falência sócio-econômica e
institucional, o mundo saudará a vitória de Nelson Mandela na luta contra o regime
segregacionista do apartheid24, e o lançamento da política do Renascimento Africano pelo seu
sucessor, o presidente sul-africano Thabo Mbeki. Este empreende a retomada da iniciativa de
inserção internacional da África, após o fracasso da OUA, ao criar, em 1990, uma parceria para
a retomada do crescimento e do desenvolvimento do continente, buscando a erradicação da
pobreza e a estabilidade e inserção políticas do continente. O plano é estendido à Nigéria,
Argélia e Egito, transformando-se em iniciativa multilateral.
Na esteira do Renascimento Africano proposto pro Mbeki e apoiado por Olusegun
Obasanjo (ex-presidente da Nigéria) e Coronel Muammar al-Ghaddafi (líder da Líbia), foi
criada em julho de 2001 a União Africana (UA). Em julho de 2002, em Durban (África do Sul).
A União Africana foi formalmente estabelecida sucedendo a OUA. O novo processo de
integração congregaria todos Estados africanos, à exceção do Marrocos. Ela conta hoje com 53
Estados-membros. Em 2004 a UA criou um parlamento pan-africano com atribuições
meramente consultivas, mas que vem se constituindo em importante centro de debates das
questões regionais. Da mesma forma, ela contempla a criação de um banco central regional e
tem o ambicioso projeto de criação de uma moeda única para a comunidade, cuja data de
implementação está marcada para 2023. Estão igualmente previstos para médio prazo a
constituição de um banco de desenvolvimento regional e um tribunal supranacional de
direitos humanos.
O viés econômico desse Renascimento Africano, por sua vez, é expresso na consecução
da Nova Parceria para o Desenvolvimento de África (NEPAD). A NEPAD trata de um esforço
generalizado promovido pelos Estados africanos na promoção de reformas econômicas e
políticas, sendo um sinal mais claro não apenas de boa vontade, mas de interesses definidos
por parte de líderes do para encarar de forma realista os problemas africanos. É um programa
de cooperação para o desenvolvimento e crescimento sustentáveis, a paz e a democracia e
uma boa governança política, econômica e empresarial.

24 Apartheid ("separação" em africânder) foi um regime de segregação racial adotado legalmente em 1948 pelo
Partido Nacional na África do Sul segundo o qual os brancos detinham o poder e os povos restantes, em sua
grande maioria negros, eram obrigados a viver separados dos brancos, de acordo com regras que os impediam
de ser verdadeiros cidadãos. Este regime foi abolido por Frederik de Klerk em 1990 e, finalmente, em 1994
eleições livres foram realizadas, vencidas por Nelson Mandela.
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A NEPAD surgiu em 2001, na onda da criação da União Africana, como mais um plano
de desenvolvimento no continente africano. Esse, no entanto, tem sido considerado mais
promissor do que seus antecedentes e tem recebido ampla aceitação interna e externamente.
O plano é bastante ambicioso. Suas metas compreendem, entre muitos outros objetivos, um
crescimento econômico de 7% anual durante os próximos 15 anos, a redução pela metade da
taxa de pobreza absoluta até 2015 e a matrícula de todas as crianças em escolas primárias no
mesmo período.
Ao contrário das abordagens das instituições financeiras internacionais (Banco
Mundial e FMI), a NEPAD desconhece pré-requisitos ligados à concessão de recursos. Para
participar da NEPAD, os Estados assumem um forte e explícito compromisso com seus
valores, cuja realização é vista como pré-condição de qualquer desenvolvimento (DÖPCKE,
2002).
A NEPAD tem sido vista com bons olhos por aliar democracia, direitos humanos, paz e
governabilidade, de um lado, e o desenvolvimento econômico, de outro, num plano concebido
“pelos africanos e para os africanos”. Ao reivindicarem a capacidade de construção do seu
futuro, os líderes africanos estão atraindo para si a responsabilidade de superação da
marginalização a que foi relegado o continente na década de 1990. A NEPAD visa, assim, a
“buscar um lugar mais altivo, menos subsidiário na globalização assimétrica atual” (SARAIVA,
2008).
Com efeito, tão logo a cúpula dos países do G7 em Tókio, em 2000, a reunião dos países
do G8 em Gênova, em 2001, bem como o FMI e o Banco Mundial expressaram apoio à
proposta. Chefes de Estado ocidentais endossaram a iniciativa e a cúpula dos países do G8 de
2002, no Canadá, e alguns países ocidentais já deram seu apoio financeiro ao NEPAD.
No entanto, apesar do otimismo criado com o lançamento da União Africana e da
NEPAD, as críticas existem colocando questões quanto à viabilidade das iniciativas. Por parte
da União Africana, questiona-se qual a legitimidade e capacidade da organização em combater
os velhos problemas africanos, visto sua baixa institucionalização, fraca capacidade técnica e
caráter voluntarista dos seus documentos, ou seja, que não obriga os Estados-membros
(RIBEIRO, 2007). A incapacidade de lidar com a crise humanitária do Sudão25 é um exemplo
do desafio que se impõe à União.
Já no tocante à NEPAD, as críticas recaem sobre a adoção do velho discurso globalista
liberal (receitando privatizações, mais integração no mercado mundial, atração de capital
financeiro e investimentos e a participação do continente na revolução da comunicação e da
informação) ao mesmo tempo em que busca a explicar os males do subdesenvolvimento

25 A violência no Sudão já culminou no deslocamento de aproximadamente 2,7 milhões de pessoas, segundo as


Nações Unidas, e mais 300 mil pessoas morreram no conflito. O governo sudanês estima em 10 mil o número
de mortes. Grupos de defesa dos direitos humanos e o Congresso dos Estados Unidos classificaram a situação
de Darfur de genocídio, e o TPI (Tribunal Penal Internacional) emitiu uma ordem de prisão contra o
presidente sudanês, Omar Hassan Ahmad al Bashir, por crimes de guerra na região.
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africano com base do raciocínio africanista e de abordagens da Escola da Dependência26


(DÖPCKE, 2002).
Embora se façam essas críticas, o que devemos ter em mente é o ressurgimento do
continente africano para além de uma imagem de desastre econômico e social e falência
política. Nesse sentido, tal como ocorreu com o Brasil nas décadas de 1980 e 1990, vários
países africanos, como a África do Sul e Angola, vêm adotando reformas em suas estruturas
políticas, econômicas e sociais, construindo um ambiente democrático e economicamente
estável. As estratégias de industrialização vêm superando o modelo protecionista de
substituição de importações27. Embora ainda caracterize-se fortemente por uma economia
primário-exportadora pouco diversificada e de baixo valor agregado, que muito sofre com a
competitividade imposta pelos subsídios agrícolas concedidos pelos governos norte-
americanos e europeus (PENNA FILHO, 2008), o continente cada vez mais passa a integrar aos
fluxos internacionais de comércio e investimentos.
Conseqüentemente, nos últimos anos está ocorrendo uma redescoberta seletiva do
continente africano. Uma verdadeira corrida para a África, liderada pela economia chinesa, em
busca de fontes alternativas de suprimentos de energia, materiais estratégicos para a sua
indústria em expansão (como cobre, cobalto, manganês e platina, dentre outros) e mais
mercados para seu variado modelo exportador. “Alguns analistas chegam a falar, inclusive,
numa nova “partilha” da África, desta vez com a presença da nova potência Oriental” (PENNA
FILHO, 2008).
A título de exemplo, em 2005, o fluxo de investimentos estrangeiros diretos (IED) no
continente africano atingiu a cifra de US$ 31 bilhões. Ainda que esteja concentrado em poucos
países, é expressivo notar que neste ano o aumento de IED chegou a 78% em comparação com
2004, sendo ocasionado principalmente por um forte crescimento na rentabilidade das
empresas que operam no continente e pelo alto preço dos produtos lá produzidos. No
continente, a África do Sul foi o país que mais recebeu investimentos em 2005 (US$ 6,4
bilhões) sendo seguida pelo Egito, Nigéria, Marrocos, Sudão, Guiné Equatorial, República
Democrática do Congo, Argélia, Tunísia e Chade.
Nesse sentido, podemos afirmar que, apesar da marginalização econômica sofrida no
pós-Guerra Fria, existem inúmeras áreas e atividades econômicas para serem explorados no
continente e que realmente vem se processando um Renascimento Africano. Em seguida,
vejamos os interesses das principais potências na África: China, Estados Unidos e União
Européia.

26 Composta por diversos nomes, entre os quais o ex-presidente do Brasil Fernando Henrique Cardoso. Propunha a
noção de que o modelo de desenvolvimento capitalista era pautado pela dependência entre o centro, moderno e
detentor de tecnologias, e a preferia, atrasada e dependente do centro. Essa perspectiva analítica obteve ampla
repercussão na a América Latina no final da década de 1960 e começo da década de 1970.
27 Substituição de importações é um processo que visa ao desenvolvimento da produção interna de um país

através da diminuição das suas importações. É geralmente obtido por controle de taxas de importação e
manipulação da taxa de câmbio.

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A ÁFRICA COMO NOVO PALCO DE DISPUTAS DOS PODERES MUNDIAIS


Essa África que renasce para a política mundial, embasada na imensidão de seus
recursos naturais, na consolidação de suas instituições democráticas e em altas taxas de
crescimento econômico, não renasce apenas sob seu próprio leme. O renascimento africano
trás ao debate das relações internacional a expressão “Nova Corrida pela África”28 ou “Nova
Partilha da África” (PENNA FILHO, 2008), que remonta à disputa entre as potências européias
pela África no século XIX e início do século XX. Contudo, é prudente ponderar que se trata de
um processo de disputa bastante distinto do referido pela expressão. Enquanto a “Corrida
pela África” se tratava de uma disputa colonialista, pela fixação de territórios e protetorados
no continente, o processo que hoje assistimos consiste numa disputa pela melhor maneira de
inserção, nesse crescimento econômico e nessa ampla oferta de recursos naturais. Nas
capitais africanas, transitam autoridades das principais potências econômicas mundiais e do
capital internacional. Em substituição às organizações não-governamentais humanitárias
européias e norte-americanas, diversos atores econômicos estratégicos globais passam a
procurar interagir com os africanos, na busca da melhor maneira de inserir-se na última
fronteira territorial da internacionalização econômica do capitalismo, qual seja: a África
(SARAIVA, 2008).

A crescente relação sino-africana


As relações estabelecidas entre as grandes potências das relações internacionais
(Estados Unidos, China e Europa) e os países do continente africano são tão diversas quanto
são esses atores. No entanto, o renascimento africano deste século XXI trás consigo um
conhecido processo da dinâmica das relações internacionais contemporâneas: a emergência
de novos atores em disputa com as tradicionais potências capitalistas por zonas de influência
e mercados.
Na África, a disputa mais marcante dá-se com a crescente influência chinesa na região
frente à influência estadunidense – que remonta ao período da Guerra Fria. De fato, parte do
crescimento africano observado atualmente corresponde ao incremento das relações
políticas, financeiras e comerciais da China. Entre 1996 e 2008, as relações comerciais entre a
China e o continente africano elevaram-se no montante de US$ 4 bilhões para US$ 107 bilhões
(PAUTASSO, 2009), ao passo que o PIB africano mais do que dobrou (de cerca de meio trilhão
de dólares para mais de US$1,5 trilhão)29, com uma taxa média de crescimento anual de 4,7 %.
O interesse chinês na África surge como política de Estado em meio ao processo de
universalização da política externa chinesa, ocorrido com Li Peng em 1989, diante do

28 Expressão cunha da pela revista The Economist (‘A new scramble’, The Economist, 27 November 2004.), em
referência á política externa chinesa de recursos naturais, nominalmente petróleo, para África.
29 Fonte: United Nations, United Nations Statistics Division, National Accounts Main Agregates Database, Basic

Data Selection, New York, 2008. Disponível em <http://unstats.un.org/unsd/snaama/selectionbasicFast.asp>.


Acesso em: 02 Junho de 2010.
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enfraquecimento da aliança sino-americana, do fim de Guerra Fria e do temor de uma


desestabilização do regime chinês – visto a repercussão do episódio da Praça da Paz
Celestial30.
A guinada do interesse chinês para África foi tão rápida quanto seria sua inserção no
continente: em 1988, a ajuda direta chinesa para o continente somava US$ 60 milhões; em
1990, essa soma era de US$ 374 milhões. Desde então, a China vem construindo uma relação
com os países africanos, cujo cartão de visitas é um amplo aporte de investimentos em
infraestrutura local, acompanhada da exportação de bens industrializados e da importação de
bens primários. Hoje, a China é o terceiro maior parceiro comercial do continente, atrás
apenas de França e EUA. O volume de investimentos supera 1 trilhão de dólares,
representando 4% (DAVIS, 2009) do total do investimento chinês no exterior (ver Figura 2).

Fig. 2: Investimento Estrangeiro Direto da China na África (2005)

Total: $ 1,6 bilhões


Fonte: UNCTAD.

Esse incremento comercial-financeiro tem correspondência em uma política externa


intensa para o continente. No bojo da diplomacia zhoubian (periférica), a importância dada ao

30 Episódio em que protestos pró-democracia na China foram sufocados por forças militares do Partido
Comunista, o que resultou em aproximadamente três mil mortos.
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continente africano é expressa em ações práticas e simbólicas. Em 1989, o chanceler chinês


realiza sua primeira visita internacional anual a um país da África (PAUTASSO, 2009). Dentre
as onze missões de paz conduzidas pela China, em nome da ONU, seis são no continente
africano.
Ademais, o Fórum de Cooperação China-África (FOCAC), que teve sua primeira edição
em 2000 e sua quarta edição 2009, representa o esforço chinês em promover a construção de
metas e estratégias para os programas desenvolvidos bilateralmente, através dos Planos de
Ação de caráter trienal. O Plano de Ação 2010-2012, por exemplo, alicerça a relação China-
África na cooperação internacional, sobretudo na OMC (através do G-20); na cooperação
institucional e na cooperação econômica no âmbito da “segurança alimentar, do
desenvolvimento empresarial, das obras infraestruturais, das políticas públicas (saúde,
educação, etc.), entre outros” (PAUTASSO, 2009). Na última Conferência Ministerial da FOCAC,
foi ressaltada a postura de “resolução de problemas africanos pelos africanos”, que reflete o
modo pelo qual a China tem se inserido na reconstrução dos Estados africanos e na resolução
de seus conflitos, respeitando o modelo de inserção africana que vem sido adotado com o
desenvolvimento da NEPAD e da União Africana.
Por trás dessas iniciativas chinesas, devemos ter em mente que a África atende
basicamente a duas demandas chinesas: 1) a necessidade das matérias-primas e dos
mercados africanos para sustentar o intenso crescimento chinês, e 2) a noção da África como
a fronteira mais viável para a universalização da política externa chinesa (PAUTASSO, 2009),
consciente da clara influência estadunidense sobre o restante da Ásia banhada pelo Pacífico
(OLIVEIRA, 2007) e do complexo jogo de forças desenhado na Ásia Central e no Oriente
Médio.
Para se ter uma idéia, entre 2000 e 2008, as importações chinesas de petróleo saltaram
da casa dos 20 milhões de dólares para cerca de 170 milhões de dólares31. Do total dessas
importações, 30% são oriundas do continente africano – sendo o petróleo a base do
superávit32 africano na relação comercial com a China, que chegou a 5,2 bilhões em 2008
(PAUTASSO, 2009). O comércio de petróleo é o ponto de partida das relações da China com
países africanos, sobretudo o Sudão, que, em poucos anos, passou de importador de petróleo
para exportador de 5% de todo o petróleo importado pela China.
Mas as relações estabelecidas pela China com a África transcendem o comércio de
recursos naturais. Mesmo estando construída sobre bases econômicas, a relação chinesa com
a África não é desprovida de conteúdo político: a China lança-se na África como líder dos
países em desenvolvimento e defensora de uma cooperação internacional sem ingerências em
assuntos de política interna. O diferencial da ajuda e dos investimentos provenientes da China
em relação aos originados no Ocidente é que aqueles vêm despidos de condições ou
31 Fonte: International Trade Statistics. WTO, 2009. Disponível em
<http://www.wto.org/english/res_e/statis_e/statis_e.htm, acesso em Junho de 2010>. Acesso em: 02 Junho
2010.
32 Superávit comercial é a situação em que as exportações de um país superam suas importações.

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exigências políticas. “a China dos últimos anos buscou a África sem truculência, violência ou
presunção de superioridade, traços da diplomacia européia e norte-americana” (SARAIVA,
2008: 99). A postura do governo Chinês frente aos problemas locais dos países africanos
reflete a expressão “resolução de problemas africanos pelos africanos”, pois a China tem
procurado não intrometer-se nos assuntos internos dos seus parceiros, deixando sua
resolução para os governos locais ou para uma arbitragem da própria região como a União
Africana, que vem sendo respaldada pela China na resolução dos conflitos em Darfur.
Além disso, a China tem investido também no processo de reconstrução pós-guerra
civil de diversos países africanos, como Angola, através da concessão de crédito facilitado,
investimentos em infraestrutura, cooperação técnica e manutenção de superávits pró-
africanos (PAUTASSO, 2009). É interessante notar, ainda, que muitos governos locais têm
visto o modelo de desenvolvimento chinês como um receituário a ser seguido em busca da
superação da pobreza e da construção de um crescimento sustentável em um curto espaço de
tempo – o que merece maior atenção da comunidade internacional.
No entanto, a aproximação China-África, como toda relação, não está livre de atritos. O
principal ponto de discussão reside no impacto fortemente negativo da inundação de
produtos manufaturados chineses sobre a incipiente indústria africana – o que, promete-se,
vem sendo controlado por Pequim (OLIVEIRA, 2007).

O renovado interesse dos EUA na África


Como contrapartida à crescente inserção chinesa na África, Washington passou a
elaborar um novo plano estratégico para o continente. Apesar dos Estados Unidos virem
apresentando um crescimento das transações comercial-financeiras com a África em escala
muito inferior se comparada à chinesa – configurando mesmo uma perda relativa de
influência na região – Washington ainda mantém o maior volume comercial (US$ 130 bilhões
em 2008) e o maior fluxo de investimentos diretos (em 2004, era de US$ 14 bilhões, enquanto
o da China era de 900 milhões) no continente, ademais da reconhecida influência político-
diplomática (PAUTASSO, 2009).
Atualmente, os EUA consomem cerca de um quarto do petróleo comercializado no
mundo anualmente, dos quais 24 % são supridos pelo Oriente Médio. Contudo, a constante
instabilidade política da região tem cada vez mais suscitado a busca de novos parceiros, e é
aqui que entram os países africanos. O agregado de combustíveis minerais (petróleo e
derivados) representa 81,9% do total das exportações africanas para os Estados Unidos.
Ainda que a exportação africana represente apenas 18,9%33 do total importado desses

33 Fonte: Trade Map, International Trade Centre. Disponível em:


<http://www.trademap.org/Product_SelCountry_TS.aspx>. Acesso em 02 Junho 2010.
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produtos pelos Estados Unidos, a tendência é de crescimento, devendo passar dos 25% na
próxima década34.
Como visto, no imediato pós-Guerra Fria, o governo estadunidense relegou à África um
lugar menor em sua política internacional (sobretudo após o fracasso da operação de paz na
Somália). Na década 1990, o afro-pessimismo difundido pela mídia internacional levou à
formulação de uma política externa “humanitarianista” para a África, sobretudo no governo
Clinton (1993-2000), cunhada de “política externa de Madre Tereza de Calcutá” (ALDEN,
2000).
No entanto, afirmar que a política estadunidense para a África na década de 1990 era
desprovida de um conteúdo estratégico seria uma ingenuidade. Através de sua política
humanitária, ou somando a ela, os Estados Unidos inseria o continente africano na doutrina da
“ampliação da democracia” (no original, democratic enlargement), no sentido de criar nos
países africanos as raízes da economia de mercado neoliberal e de um Estado com ela
condizente, disseminando a ideologia vitoriosa da Guerra Fria entre “a nova geração de líderes
africanos” (ALDEN, 2000).
No governo Bush (2001 – 2008), a política externa para a África passou a englobar a
idéia da “Doutrina Bush35” de combate ao terrorismo. Nesse sentido, as políticas de auxílio e
investimentos no continente são retomadas sob o entendimento de que a pobreza e a
ausência de democracia seriam os fertilizantes da insegurança (TAVARES, 2008). A primeira
experiência do governo Bush na África foi através da Corporação dos Desafios do Milênio, que
tinha o objetivo de fornecer amplo aporte de recursos a países, majoritariamente africanos.
Apesar do insucesso desse projeto, que liberou menos de 5% das verbas previstas (TAVARES,
2008), o aporte de recursos para ajuda direta na África cresceu significativamente no Governo
Bush: as verbas do USAID36, principal programa estadunidense de assistência ao
desenvolvimento, cresceram de US$ 650 milhões em 1997 (ALDEN, 2000), para US$ 5,4
bilhões em 2007 (TAVARES, 2008). No entanto, tanto um como outro programa de assistência
vieram não sem a pré-condição de que os governos beneficiários promovessem reformas que
os conduzissem à economia de mercado e à democracia, ajustando suas políticas domésticas e
reconduzindo suas políticas econômicas. As verbas de auxílio à boa governança, em 2007,
chegaram a US$ 175 milhões, com um alto grau de presença política estadunidense na
resolução de diversas crises políticas, como no Sudão e na Etiópia, em 2005, e no Quênia em
2007 (TAVARES, 2008).

34 Fonte: U.S Energy Information Adminstration (EIA.) Disponível em: <


http://tonto.eia.doe.gov/dnav/pet/pet_move_impcus_a2_nus_ep00_im0_mbbl_m.htm >. Acesso em 02 Junho
2010.
35 Conjunto de políticas adotadas pelo governo do Presidente George W. Bush, após os eventos de 11 de

setembro de 2001, no combate ao terrorismo. Entre essas medidas estão as intervenções militares no
Afeganistão (2001) e no Iraque (2003).
36 O USAID é a agência governamental estadunidense que financia projetos de cooperação técnica e auxílio a

países denominados em desenvolvimento.


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Ponto positivo dessa relação é que uma das principais vertentes da relação
estadunidense com a África continua sendo o auxílio em temas de saúde pública. O principal
programa de ajuda ao continente africano inclui-se nessa área: o PREPFAR, que visa amenizar
os impactos epidêmicos da AIDS37. Esse programa contou em sua primeira fase (2003-2008)
com um aporte de US$ 18,8 bilhões e conta, na sua segunda fase (2008-2013), com 48 bilhões
(TAVARES, 2008). Entretanto, diante de sua dimensão, esse programa tem se mostrado
ineficiente, em parte devido a uma má leitura das sociedades africanas e a um alto caráter
ideológico do programa, na medida em que dois terços do seu orçamento são destinados a
“abstinência pré-matrimônio e a fidelidade conjugal”, claramente não condizente com a
realidade atual (Ibid). O programa de combate à malária, esse desprovido de apelo ideológico,
é focado na profilaxia38 e na imunização, por sua vez obtendo resultados muitos mais
eficientes, mesmo com um aporte financeiro bastante inferior (US$ 1,2 bilhões) (Ibiden).
Apesar da dimensão dos projetos citados, a iniciativa estadunidense que é realmente
emblemática do novo papel geoestratégico destinado pelos EUA à África é a US African
Command (AFRICOM), criada em 2007. A iniciativa projeta-se como a versão acabada da
“Doutrina Bush” de combate ao terrorismo, não se restringindo à ação militar, mas
abrangendo um amplo campo de ações voltadas ao desenvolvimento regional – como a
cooperação técnica, em agricultura, saúde e educação –, além do incremento do comércio e
das relações diplomáticas. Outras iniciativas dos EUA na luta contra o terrorismo no
continente africano comportam dois programas de cooperação bilateral, como é o caso da Pan
Sahel Initiative, no Sahel39 ocidental, e do Programa Anti-Terrorismo para a África Oriental,
em detrimento de iniciativas multilaterais. Dado o fracasso das ações no Iraque e no
Afeganistão, o governo norte-americano vem mantendo uma postura de não intervenção
militar direta no continente, buscando formas aperfeiçoadas de combate ao terrorismo.
Essas políticas estadunidenses, enfim, reconhecem a necessidade de uma presença
política mais intensa dos EUA na região, dada a “nova corrida” pelos recursos naturais
africanos, somadas à necessidade de inclusão da África na esfera de combate ao terrorismo,
diante de indícios de suporte de países africanos à Al Qaeda e da venda de urânio enriquecido
ao Iraque de Saddan Hussein, ambos na década de 1990 (TAVARES, 2010).
Apesar do incremento da importância dada pela política externa norte-americana à
África nos últimos dez anos, essa política mantém um caráter consideravelmente
ideologizado, que por vezes acaba não atendendo as demandas do povo e das elites africanas.
É justamente no caráter mais pragmático de sua política para a África que a China tem obtido
vantagens relativas.

37 Fonte: UNAIDS. 2008 Report on the Global AIDS Epidemic. Nova York: Joint United Nations Program on HIV
/AIDS (UNAIDS), 2008.
38 Medidas que procuram impedir o contato entre o agente causador de uma doença e seu vetor.
39 O Sahel é uma faixa de transição entre o deserto do Saara e as áreas mais férteis do sul.

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A Europa e sua política sobre as antigas colônias


A Europa que protagonizou a corrida para África no século XIX vê no atual processo
uma perda de espaço de influência, seja para China e EUA, seja para os demais países e as
economias emergentes. No entanto, a dimensão européia na política africana continua muito
evidente: dos quatro maiores parceiros comerciais africanos, dois deles são europeus: a
França (tradicional potência colonizadora no continente40, em segundo lugar) e o Reino Unido
(em quarto lugar)41. Ademais, o continente europeu tem se engajado através do G842 em
diversas ações militares no continente africano: em conjunto com Canadá e Estados Unidos, os
países europeus se comprometeram a formar 75 mil soldados para missões de paz e a
destinar US$ 54 bilhões para ações de apoio ao desenvolvimento.
Enquanto bloco, a União Européia elaborou sua Estratégia Conjunta com a África, que
consiste em oito parcerias, formadas entre instituições governamentais e
intergovernamentais de ambos os continentes. Essas oito parcerias compreendem as
seguintes áreas de cooperação: paz e segurança; governança democrática e direitos humanos;
comércio e integração regional; Objetivos de Desenvolvimento do Milênio43 (ODM); Energia;
alterações climáticas; migração, mobilidade e emprego; ciência, sociedade de informação e,
por fim, espaço (TYWUSCHIK e SHERRIFF, 2009). Ações práticas foram definidas para essas
parcerias, cuja efetividade deve ser verificada periodicamente em uma complexa arquitetura
institucional de ação conjunta.
De maneira geral, a presença européia na África atende a duas tendências: 1) a de
desempenhar uma política normativa, baseada na ascensão da União Européia como um ator
uníssono da política internacional, em articulação com os EUA; e 2) a de atender às paradoxais
heranças do período colonialista das principais nações do continente. A primeira tendência
reflete a Estratégia Conjunta UE-África, atrelada à universalização dos valores europeus e de
seus signos de desenvolvimento. Na segunda tendência, reside, paradoxalmente, a maior fonte
de rejeição e de interação dos países europeus com os africanos, uma vez que os principais
parceiros comerciais africanos da França, do Reino Unido e de Portugal são justamente suas
ex-colônias, como fruto dos laços remanescentes da era colonial, o que acaba promovendo
verdadeiros laços neo-colonialistas. O longo período de exploração colonial criou, tanto no

40 A França estabeleceu uma série de colônias na África: Marrocos, Tunísia, Guiné, Camarões,Togo, Senegal,
Madagascar, Benin, Níger, Burkina Faso, Costa do Marfim, Chade, Gabão, Mali, Mauritânia, Argélia, Comores e
Djibuti.
41 Fonte: Trade Map, International Trade Centre. Disponível em

<http://www.trademap.org/Product_SelCountry_TS.aspx>. Acesso em: 05 Junho 2010.


42 Grupo das sete nações mais ricas do mundo (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França e Itália)

mais a Rússia.
43 Conjunto de Metas estabelecidas pela ONU para serem atingidas até 2015, quais sejam: 1) Erradicar a fome e

a pobreza; 2) Conseguir educação fundamental para todos; 3) Promover igualdade entre os sexos; 4)
Reduzir mortalidade infantil; 5) Melhorar a saúde de gestantes; 6) Combater AIDS, malária e outras doenças;
7) Garantir desenvolvimento em equilíbrio com a natureza; 8) estabelecer uma parceria global para o
desenvolvimento.

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povo, quanto nas elites africanas, uma rejeição que contamina a todo o continente europeu,
materializando-se em um grande entrave às relações entre os dois continentes.

Dessa forma, vemos que o renascimento africano, em termos políticos e econômicos,


vem pondo o continente no centro de uma concorrência fortíssima de interesses e
interessados de todas as partes do globo (SARAIVA, 2008). Sejam quais forem suas origens, os
investimentos estrangeiros na África vêm imbuídos de uma lógica de expansão da influência
política nesse continente que emerge pleno de recursos naturais. Fato que não advoga a
inexistência de diferentes objetivos políticos no continente e de diferentes leituras desses
objetivos. Enquanto as ex-potências coloniais Européias e os EUA sofrem rejeição por parte
dos governos locais, dado o grau interferência na política doméstica e as relações pretéritas
que desenvolvem, as potências emergentes vêm obtendo resultados progressivamente
satisfatórios nas suas inserções na África. Apesar de manterem um amplo volume de relações
comercial-financeiras e ampla influência política, os EUA e a Europa assistem a um acelerado
crescimento da influencia tanto da China, quanto de Índia, Coréia do Sul e Brasil no continente
africano.
Embora não estejamos diante de um novo Congresso de Berlim, as potências que
emergem do pós-Guerra Fria vêm despejando um crescente pragmatismo em relação à África
– o que pode vir matizar o desejo de independência dos líderes africanos na condução das
suas políticas. Além disso, há de se fazer entender que os chineses não buscam o continente
negro apenas para o controle de seus recursos energéticos, minerais e estratégicos. A China
busca na África ampliar seu poder de barganha no cenário internacional (SARAIVA, 2008). Tal
o faz também a política externa brasileira, para a qual nos voltamos agora.

O BRASIL E O CONTINENTE AFRICANO


É inegável que a cultura brasileira, no seu processo “antropofágico”44 de formação,
tenha o elemento africano fortemente presente. Sobretudo na região Nordeste e Sudeste do
país, mas com peso significativo nas demais regiões (devido, principalmente, às migrações
internas), os afro-descendentes são a marca da população brasileira e carregam consigo um
laço de proximidade e união com nosso continente vizinho do outro lado do Atlântico.
A cultura da África chegou ao Brasil, em sua maior parte, trazida pelos escravos negros
na época do tráfico negreiro. Dentre os negros que vieram escravizados para o Brasil, grande
parte era proveniente dos sudaneses (iorubas, gêges, minas e fanti) e dos bantu (angolas,

44 Referente ao Movimento Antropofágico, na década de XX, que propunha uma uma arte congregando os
diversos aspectos herdados dos povos que formaram nossa população, na leitura dos elementos estrangeiros,
lhes dando uma cara de brasileiro.

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benguelas, congos e moçambiques). Apesar de sua maioria ter sido prontamente catequizada
quando desembarcada em solo brasileiro, algumas religiões afro-brasileiras ainda hoje
mantém quase que totalmente suas raízes africanas, como é o caso do Candomblé e do Xangô
do Nordeste, bem como do Batuque, do Xambá e da Umbanda. A música popular brasileira
também é fortemente influenciada pelos ritmos africanos (sendo os ritmos mais conhecidas o
samba, o maracatu, o carimbó, a lambada e o maxixe) e os instrumentos como o atabaque, a
cuíca, a marimba e o berimbau foram difundidos para outros estilos musicais. A arte marcial
da Capoeira já é exportada como produto nacional. A tecnologia da mineração e da agricultura
das plantações de cana originais é de origem africana. A própria língua portuguesa brasileira
comporta termos como batuque, moleque, benze, macumba, catinga, e muitos outros de
origem afro.
Embora a África esteja intrinsecamente presente na nossa formação sócio-cultural,
para a diplomacia, o continente representou o espaço de menor interesse ao longo da política
externa brasileira. Ao longo do século XX, sobretudo com os presidentes Jânio Quadro (1961)
e João Goulart (1961 – 1964) houve uma maior aproximação, mas condicionada ao
fortalecimento das nações africanas, em pleno processo de descolonização (REIS, 2010). Com
o lançamento da Política Externa Independente, por Jânio Quadros e seu chanceler Afonso
Arinos, o Brasil lançou uma política africana e tomou posição em favor do direito à
autodeterminação dos povos coloniais, especialmente das colônias portuguesas, que
iniciavam a luta armada (VISENTINI e PEREIRA, 2007). No entanto, as capacidades brasileiras
mais se limitavam ao discurso.
Nos anos 1970 e 1980, a África foi visada a partir de um projeto de inserção
internacional brasileiro que buscava o continente tanto como meio de expansão dos mercados
externos, quanto como ponto de apoio para as demandas brasileiras nos fóruns
internacionais, sobretudo nas Nações Unidas. No entanto, a crise da dívida externa dos países
subdesenvolvidos golpearia tanto a América Latina quanto a África, o que, somado a conflitos
internos nessa última, minguariam as relações brasileiras com o continente negro.
Na conjuntura da militarização do Atlântico Sul (sobretudo como resultado da Guerra
das Malvinas45), o Governo Sarney logrou constituir nas Nações Unidas a Zona de Paz e
Cooperação do Atlântico Sul (ZoPaCAS), num esforço de definir um regime de coordenação
política Sul-Sul para proteger as rotas de comunicação marítima que passam pelo Atlântico
Sul, em direção ao Índico e Pacífico46 (PENHA, 2000; VISENTINI, 2007).

45 A Guerra das Malvinas ou Guerra do Atlântico Sul ou ainda Guerra das Falklands foi um conflito armado entre a
Argentina e o Reino Unido ocorrido nas Ilhas Malvinas (em inglês Falklands), em 1982 pela soberania sobre o
arquipélago, que foi tomado a força em 1833 e dominados a partir de então pelo Reino Unido.
46 “A importância do Atlântico Sul como rota marítima permanece como variável estratégica importante

decorrente das facilidades de comunicações inter-oceânicas e pela presença de inúmeras ilhas que servem de
base de apoio aero-naval para projeções sobre a África, América do Sul e Antártida, e para proteger o fluxo de
matérias-primas e petróleo oriundo do Golfo Pérsico. Devido às suas características geográficas e náuticas, a
bacia do Atlântico Sul, permite o transporte marítimo rápido de grandes volumes comerciais, sobretudo pela
rota do Cabo por onde passam 66% do petróleo europeu e 26% norte-americano”(PENHA, 2000: 5).
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BRASIL E EUA FRENTE AOS DESAFIOS REGIONAIS: O CONTINENTE AFRICANO

O início dos anos


1990, com a guinada Fig. 3: África Subsaariana
neoliberal e o abandono do
discurso terceiro-mundista
promovidos pelo presidente
Fernando Collor, a África foi
deixada praticamente de
lado, e o relacionamento
com as nações mais
desenvolvidas foi
privilegiado. Além da perda
da importância do Oceano
Atlântico como via de
projeção internacional do
Brasil, a década de 1990 foi
um período de decadência
do continente africano,
fortemente abatido pelas
crises econômicas e sociais e
marginalizado pelo sistema
Fonte: Folha Online.
internacional pós-Guerra
Fria, tal como observado anteriormente. Como conseqüência, o comércio Brasil-África
regrediu aos patamares da década de 1950, conservando-se mais as relações comerciais com
países petrolíferos (Líbia, Nigéria, Gabão, Argélia, Angola e Congo Brazzavile), mas também
com a África do Sul, um país industrializado e considerado pelo empresariado brasileiro a
porta de entrada para a África Subsaariana (Figura 3).
No governo Itamar Franco, após o impeachment de Collor de Melo em 1992, a África
ganha novo espaço na conformação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP),
que seria brevemente trabalhada no governo Fernando Henrique Cardoso.
Na realidade, no governo FHC, a África continuou não fazendo parte das prioridades da
política externa brasileira, declaradamente focadas nas relações com o Mercosul, os Estados
Unidos, a Europa e a Ásia. No entanto, a diplomacia brasileira não aderiu ao “afro-
pessimismo” entoado à época, perseguindo, sim, a seletividade nas relações com o continente
– sobretudo nas relações com a Nigéria, a África do Sul e Angola – aplicando recursos com
critério e pragmatismo, olhando para o futuro. Vale observar que não se construiu uma
política africana, justamente por compreender-se que não existe apenas uma África, isto é, um
conjunto homogêneo de países; longe disso (REIS, 2010).

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Como herança do governo Itamar, as relações bilaterais com a África do Sul ampliaram-
se, normalizadas com o fim do regime apartheid. Na área multilateral, a parceria era relevante
ao Brasil, uma vez que os dois países compartilhavam de uma postura reativa à política
protecionista dos países em desenvolvimento, principalmente na área agrícola. Ademais,
Pretoria era vista como uma possibilidade de atrair investimentos para o Brasil.
Por outro lado, as relações com Angola visaram à realização de investimentos num país
que prometia crescer ao ser finda sua guerra civil47. Além de uma comitiva empresarial, o
governo FHC enviou à Luanda mais de mil soldados para auxiliar as forças de paz da ONU. Já a
Nigéria estabelecia-se como a maior parceira comercial do Brasil na África Negra, tendo-se
firmado um contrato de exploração de petróleo pela Braspetro no delta do Rio Níger (REIS,
2010).
Em 1996, a CPLP toma corpo como entidade institucionalizada na primeira Cimeira de
Chefes de Estado, congregando Brasil, Portugal e os cinco Países de Língua Portuguesa
africanos (os PALOPS): Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe.
O Timor-Leste se somaria ao grupo em 2002, quando de sua independência. Porém, pouco
mais se avançou. De fato, o período foi caracterizado por certo imobilismo, seja pela situação
interna de muitos dos países africanos (que estavam ainda sofrendo com conflitos civis), seja
pela própria ausência de um conteúdo político e econômica prático – para além da língua
portuguesa – que realmente viabilizasse uma cooperação. No entanto, o relacionamento foi
pragmaticamente mantido, uma vez que a diplomacia acreditava que a CPLP permitia manter
vivo não só o africanismo brasileiro, mas também outros espaços perdidos no continente. Na
prática, a CPLP viabilizaria ao Brasil uma plataforma atlântica de atuação triangular: Portugal
(Europa) numa ponta, Brasil e África nas demais (REIS, 2010).
Foi o lançamento da NEPAD, em 2001, e a criação da União Africana, em 2002, que
reposicionaram a África aos olhos do Ocidente e, portanto, do Brasil. E, com a chegada ao
poder do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a política externa brasileira para a África ganha
maior intensidade (RIBEIRO, 2010), indo muito além do discurso (VISENTINI e PEREIRA,
2007).
Embora não haja consenso sobre se houve ou não inflexão na condução da política
externa brasileira com a troca de governo em 2003, o fato é que houve a adoção oficial e o
dispêndio de esforços na construção de alianças preferenciais com parceiros no âmbito das
relações Sul-Sul, superando a perspectiva Norte-Sul de projeção internacional do país,
observada no governo FHC. Nesse sentido, o continente africano passou a jogar um papel
importante nas relações internacionais brasileiras – como se pode notar com as diversas
viagens do Presidente Lula ao continente, resultando em inúmeros acordos de cooperação e
na abertura e reabertura de embaixadas e representações consulares.
47 Entre 1975 e 2002, o país viveu uma guerra travada majoritariamente entre o MPLA, que conduzira a
independência, e a UNITA, de fortes ligações com a África do Sul do Apartheid e com os EUA. Em 2002, com a
morte do líder da UNITA, Jonas Savimbi, o conflito teve fim.

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Invocando os laços históricos, a condição de segunda maior população negra no mundo


(atrás apenas da Nigéria), o debate interno em torno da igualdade racial e as políticas
afirmativas, bem como a luta contra a pobreza, o Presidente Lula buscou uma reaproximação
com o território ribeirinho à outra margem do Atlântico.
Nesse sentido, a CPLP vem exercendo um papel primordial. Após um clima de
afastamento entre Brasil e Portugal, decorrente da solidificação da União Européia, e entre
Brasil e África, devido ao abandono do discurso terceiro-mundista por FHC (ALVIM, 2010), a
CPLP tem sido o principal catalisador da cooperação técnica entre Brasil e os PALOPS. Dentre
todos os recursos nacionais destinados a projetos de cooperação atualmente registrados pela
Agência Brasileira de Cooperação (ABC), 74% são destinados a esse grupo. Ainda que a
maioria dos projetos não sejam executados com financiamento direto do Fundo Especial da
CPLP, sendo executados de forma bilateral, sua existência reflete diretrizes e bases
estabelecidas na CPLP. A própria efetividade dessas políticas é relacionada à CPLP, sendo que
são constantemente verificadas e direcionadas nas Reuniões dos Pontos Focais, mecanismo de
consulta criado para orientar a condução de políticas multilaterais e bilaterais entre os
membros da Comunidade.
Uma das maiores conquistas da CPLP, em seus quatorze anos de existência, é a
conformação do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em meio as
negociações de formação da entidade. O Acordo, que iniciou seu processo de implementação
em 2008, remonta a uma longa tentativa de atenuar as gigantescas discrepâncias entre os
“portugueses” falados no mundo. Com objetivo de dar completude e uniformidade à ortografia
da Língua Portuguesa, o Acordo Ortográfico tem o papel político de incrementar a unidade
entre os países membros da CPLP (BRAGA, 2010).
No entanto, a ação brasileira junto aos PALOPS não se restringe à CPLP. Sobretudo nos
últimos oito anos, os PALOPS ganharam papel central na política africana do Brasil. Os
arquipélagos de Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, tiveram uma política bastante focada em
acordos de cooperação técnica, sendo o destino de cerca de 40% dos programas registrados
pela ABC. Os países também figuram na lista dos principais países de origem dos estudantes
de intercambio PEC e PEC-G48, sobretudo o segundo³. O incremento na cooperação técnica é
correspondente a um intenso aumento nas relações comerciais: entre 2003 e 2008, o volume
das relações comerciais com o Cabo Verde subiu de US$ 5,5 milhões para US$ 39,7 milhões, e
com São Tomé e Príncipe subiu de US$ 350 mil para US$ 5,8 milhões⁴.
Em Guiné Bissau, o Brasil tem exercido um papel de protagonista na resolução de seus
conflitos internos do país. O Brasil detém o mandato Configuração Específica para a Guiné
Bissau (CCP-GB), da Comissão para Consolidação da Paz (pelo Conselho de Segurança da
ONU), agindo em parceria com o Escritório de Integrado para Construção da Paz da ONU

48 O Programa de Estudantes-Convênio (PEC) e o Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G) são


programas do Ministério da Educação, que promovem o intercâmbio de estudantes de países em
desenvolvimento parceiros. Dados do Ministério da Educação (MEC).
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(UNOGBIS) no país. Esses organismos visam a estabelecer as bases para a reconstrução


autônoma da paz no país, que sofreu sete golpes de Estado desde sua independência em 1974.
Angola e Moçambique, de dimensões muito superiores aos demais PALOP, possuem
relações mais intensas e antigas com o Brasil. O Brasil foi o primeiro país a reconhecer a
independência de Angola, em 1975, sendo o país africano um dos principais eixos da política
do “pragmatismo responsável” do governo militar de Geisel (1974 – 1979), que apoiou o
Movimento pela Libertação de Angola (MPLA)49, apesar de sua tendência marxista e de sua
proximidade com Cuba. Angola possui o maior número de brasileiros residentes na África, 30
mil pessoas, enquanto o segundo colocado, Moçambique, possui 2.700 pessoas.
Angola possui um dos maiores orçamentos de Promoção da APEX⁵, e um crescimento
das relações comerciais de 227%⁶ entre 2003 e 2008. Nesse período posterior a guerra civil
angolana, o Brasil, juntamente à China, tem se inserido profundamente no processo de
reconstrução do país.
Moçambique, historicamente, possui uma relação menos estreita com o Brasil. Ainda
durante as primeiras políticas africanas do Brasil, nos governos Jânio e Geisel, o país
sustentou maior rejeição à aproximação brasileira, devido ao apoio brasileiro às políticas
colonialistas portuguesas até a década de 1960. Hoje, Moçambique possui uma intensa
cooperação técnica com o Brasil, sobretudo na área agrícola, através da EMBRAPA. Outro
importante ponto de contato entre o Brasil e os PALOPS é a extração de petróleo pela
Petrobrás. A estatal brasileira possui contratos de exploração do petróleo nos litorais de
Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe.
As vantagens observadas da cooperação técnica com o Brasil têm chamado a atenção
dos vizinhos dos PALOPS. Em 2006, à Guiné Equatorial e às Ilhas Maurício, de fala espanhola e
francesa, foi concedido o status de Estado Observador Associado da CPLP, o mesmo status foi
concedido ao Senegal em 2008. Essa tentativa de inserção na esfera de cooperação da CPLP,
mais clara no caso da Guiné Equatorial, implica no ensino da Língua Portuguesa nas escolas e
sua adoção como idioma oficial (RIZZI, 2010). A República do Congo adotou em junho de 2010
o ensino da Língua Portuguesa no seu currículo escolar⁷, caminhando no mesmo sentido.
Assim, a partir da CPLP, seja diretamente, através dos seus mecanismos de fomento a
cooperação, seja indiretamente a partir do crescimento da importância países lusófonos
(sobretudo de Angola) na região, há uma acréscimo da importância da Língua Portuguesa e do
Brasil na vida africana.
Embora as questões culturais tenham peso e importância nesse paradigma de
relacionamento Brasil-África, devemos ter em conta que os aspectos estratégicos e
econômicos são, seguramente, mais relevantes para o Brasil. Para além da imagem de um
continente estagnado pela pobreza e pelos conflitos civis, a África é apresentada pela

49 Movimento Pela Libertação da Angola, partido de tendência marxista, que conduziu o processo de independência
angolano e governa o país desde 1975.
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diplomacia brasileira como um elemento fundamental para a inserção econômica e política


global do Brasil (VISENTINI e PEREIRA, 2007).
Deve-se compreender que o afrouxamento do alinhamento às doutrinas de segurança
hemisférica e a redefinição das relações com os Estados Unidos que se processaram com o
final da Guerra Fria fazem com que o Brasil busque uma maior aproximação com os países
abaixo da linha do Equador. Nessa conjuntura, a África é essencial para o modelo de inserção
internacional que o Brasil vem buscando. Em termos econômicos, o continente negro faz parte
de uma estratégia brasileira para em busca de maior autonomia na própria formação de
capitais, através dos investimentos lá realizados. No tocante ao jogo político, o Brasil almeja a
projetar-se como liderança do mundo em desenvolvimento, “a partir da veiculação da imagem
do país como primeira civilização industrial dos trópicos, com tecnologias apropriadas às
realidades subdesenvolvidas, de índole pacifista, anti-imperialista e etnicamente multirracial”
(PENHA, 2000: 3).
Essa nova postura brasileira em relação à África ainda causa críticas da oposição, que
acusa o governo Lula de estar desperdiçando recursos financeiros (investindo e perdoando
dívidas) e políticos em um continente sem futuro. Erro crasso. Dia após dia empresas
brasileiras vêm consolidando sua posição no continente, investindo em obras de infra-
estrutura, rodovias, prospecção de petróleo, etc. As construtoras Odebrecht, Mendes Jr. e
Camargo Correia têm apoiado a reconstrução de Angola, Moçambique, Nigéria, entre outros
países do continente (BECARD, 2009) – os quais vêm apresentando acelerado ritmo de
crescimento nessa última década (16, 30%, 7,50% e 6,30%, respectivamente, no ano de
2008).
Nesse contexto, há que considerar que hoje em dia ainda sobram poucas fronteiras
naturais abertas para a expansão de negócios em setores como petróleo, gás e mineração.
Como observamos acima através dos crescentes interesses chineses e estadunidenses no
continente, a África segue sendo palco de uma disputa global por acesso a matérias-primas,
cada vez mais escassas e demandadas. Apesar regimes instáveis, conflitos armados e outras
formas de violência, problemas sanitários significativos e imensa pobreza da população, a
África apresenta-se como espaço alternativo aos investimentos das empresas brasileiras
(VISENTINI e PEREIRA, 2007).
No tocante às relações comerciais, desde 2002 o valor comerciado entre o Brasil e o
continente africano mais que triplicou, representando hoje cerca de 6% do comercio
internacional brasileiro (SARAIVA, 2008). Somente as exportações brasileiras aumentaram
486% no período de 1996-2006, sendo que o maior crescimento é observado a partir do
governo Lula: 315% de 2002 a 2006. Pelo lado das importações brasileira do continente
negro, de 1998-2008 houve um expressivo acréscimo de 478% (RIBEIRO, 2010).
Vale observar que, enquanto a penetração chinesa (e, mais recentemente, indiana) na
África visa a objetivos primordialmente econômicos e a atual presença norte-americana se
preocupa com questões geopolíticas e de segurança, o interesse brasileiro no continente, ao
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lado de inegáveis interesses econômicos, traz também aspectos novos. Dentre eles, destacam-
se os acordos de cooperação para o combate à pobreza e às epidemias (especialmente da
AIDS), a introdução e geração de tecnologias adaptadas aos problemas do Terceiro Mundo, a
cooperação na área da educação (com a ampliação do intercâmbio de jovens africanos para as
universidades brasileiras) e a aliança ativa nos fóruns multilaterais em defesa de interesses
comuns na busca do desenvolvimento e da construção de um sistema mundial multipolar e
pacífico (VISENTINI e PEREIRA, 2007).
Nesse sentido, a criação e consolidação do IBAS (Fórum de Diálogo Índia, Brasil e África
do Sul), o chamado G-3, de iniciativa sul-africana, tem se apresentado como um espaço
importante para projetar esses países para além de seus contextos regionais, atingindo o
cenário internacional, na busca por uma ordem multipolar (VISENTINI e PEREIRA, 2007). O
IBAS tem coordenado suas políticas em diversas áreas: agricultura, mudança do clima, cultura,
defesa, educação, energia, saúde, sociedade de informação, ciência e tecnologia,
desenvolvimento social, comércio e investimento, turismo e transporte. Diante da
Organização Mundial do Comércio, compondo o G-20, esses países têm feito frente aos
Estados Unidos e à União Européia na batalha da questão agrícola50. Ademais, o Fórum
apresenta-se para o Brasil como um plataforma de viabilização de uma maior cooperação
entre o Brasil (e o Mercosul) e os blocos econômicos regionais encabeçado pela África do Sul,
como a SADC51, e pela Índia (a SAARC52).
Apesar de ainda não ser possível detectar quais os resultados imediatos dessa política
adotada pelo governo Lula, não devemos esquecer que se está pensando no interesse nacional
em longo prazo, em consonância com a tradicional postura do Itamaraty53. Ademais, a maior
intensidade dada às relações com a África atende não só a um interesse econômico que se
promete frutífero, mas também à legitimação da alternativa de inserção internacional
assumida pelo Brasil, buscando a diversificação dos seus parceiros político-econômicos,

50 A União Européia vem adotando barreiras tarifárias e não-tarifárias no sentido de preservar os mercados
agrícolas europeus, em claro prejuízo aos países exportadores de produtos agrícolas, como os africanos, que
buscam regras mais justas junto à Organização Mundial de Comércio (OMC).
51 A Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) remonta ao bloco político de luta contra os

países racistas (África do Sul e Rodésia), denominado Países da Linha de Frente, e o bloco econômico
equivalente, Conferência de Coordenação do Desenvolvimento da África Austral (SADC), fundados em 1980.
São membros da SADC atualmente: África do Sul, Angola, Botswana, Lesoto, Malauí, Maurício, Moçambique,
Namíbia, Suazilândia, Seychelles, Tanzânia, Zâmbia e Zimbábue e República Democrática do Congo. O bloco
SADC possui um PIB de quase 750 bilhões de dólares (CIA FACTBOOK, 2004) e também uma população total
de 235 milhões de pessoas (CIA FACTBOOK, 2004), sendo considerado o maior bloco de toda a África.
52 A Associação Sul-Asiática para Cooperação Regional (SAARC) foi estabelecida em 1985 pelos chefes de estado

ou governo de Bangladesh, Butão, Índia, Maldivas, Nepal, Paquistão e Sri Lanka. Esta associação busca criar
um ambiente amigável e de confiança entre os parceiros, na busca de um crescimento econômico acelerado,
do progresso social e do desenvolvimento cultural da região. Compreende uma população de quase 1,5 bilhão
de habitantes e um PIB de pouco mais de 4 trilhões de dólares (CIA FACTBOOK, 2004).
53 Nome pelo qual é conhecido o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, em referência ao Palácio do

Itamaraty, sua sede até 1970, no Rio de Janeiro.

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primando pela cooperação Sul-Sul – mas sem negligenciar as relações já estabelecidas com
parceiros mais tradicionais – na defesa por uma ordem multipolar.
É, portanto, momento do Brasil aproveitar a dinâmica do renascimento e da
autoconfiança do continente africano para propor diálogo de interesses mútuos e valores
abrangentes (SARAIVA, 2008). Ademais, “estamos construindo uma cultura própria, onde o
elemento africano tem uma contribuição decisiva e que necessita ser reconhecida, e as
desigualdades sociais, que penalizam especialmente os negros, têm de ser eliminadas. E,
mesmo em meio a tantas injustiças, temos uma enorme tolerância, que poderia ser um
modelo para um mundo de intolerância” (VISENTINI e PEREIRA, 2007).

Por fim, por mais otimistas que sejam as perspectivas que se desenham para o
continente africano, as críticas quanto a sua instabilidade e imprevisibilidade ainda se fazem
presentes. Entretanto, devemos estar conscientes que a África está atravessando hoje um
processo semelhante pelo qual tanto a Europa como as Américas passaram nos séculos
passados: a construção de seus Estados-nação. E tal como ocorrido em solo europeu e
americano, esse processo é impregnado por disputas e conflitos étnicos e entre elites
políticas, onde muitas vezes os Estados utilizam a força para esmagar os regionalismos que
dificultam a unificação (vide o extermínio dos indígenas nos Estados Unidos ou os inúmeros
regionalismo ainda presentes na Europa e que ainda causam distúrbios na região, como os
bascos na Espanha – para citar apenas um exemplo) (VISENTINI, 2007).
As heranças do imperialismo europeu, do tráfico de escravos e da descolonização
tardia, com forte presença das metrópoles européias e do privilegio concedido às elites
tradicionais no processo de reorganização após as independências acabaram distorcendo um
processo que naturalmente julga-se que ocorreria no seio africano. Isso acabou agravando
disputas internas e ainda hoje coloca obstáculos à formação dos Estados nacionais africanos
(VISENTINI, 2007).
Ademais, há de se ter em mente que esse processo está ainda na sua infância: “a
retomada da história da África pelos africanos recém-atravessa uma etapa comparável à
Europa dos séculos XVI e XVII, ou as Américas do século XIX, mas num mundo com os
problemas ainda mais complexos” (VISENTINI, 2007: 221) que os experimentados pelos
outros continentes. Está mais que na hora de deixarmos que os africanos conduzam seu
presente e seu futuro, apostando no continente e evitando que se concretize uma nova
“partilha” entre os que, ao fim e ao cabo, são filhos desta mesma terra54.

54 Alusão ao fato de que residem na África, mais precisamente do Quênia e na Etiópia, os fósseis da espécie
humana mais antigos que se tem registro.
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LEITURAS COMPLEMENTARES55
Leitura obrigatória
SILVA, André Luiz Reis da. África contemporânea: os novos desafios da segurança, desenvolvimento e
autonomia (1960-2005). Monographia, Porto Alegre, n. 1, 2005.
Leitura complementar
RIBEIRO, Cláudio Oliveira. A política africana do Brasil no pós-guerra fria. In: Revista de Sociologia
Política, Curitiba, v. 18, n. 35, fev. 2010.
PAUTASSO, Diego. A China na África e a cooperação sul-sul. Porto Alegre: Núcleo de Estratégia e
Relações Internacionais, 2007.

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO


1. Por que a África volta a ter papel de destaque nos meios de comunicação, porém de modo
diferente ao “desastre africano”?
2. Por que grandes poderes voltam a se interessar pelo continente africano?
3. Quais seriam os três elementos do continente africano que você considera mais
importantes para o Brasil?
4. Qual a diferença entre o tratamento do Brasil e dos EUA em relação à África?

LINKS ÚTEIS
1. Correio Internacional
Blog de notícias nacionais e internacionais, voltado para o público jovem brasileiro.
Disponível em: http://www.correiointernacional.com/

2. Boletim Meridiano 47
Boletim de Análise de Conjuntura em Relações que publica análises breves sobre temas
candentes da agenda internacional contemporânea.
Disponível em: http://meridiano47.info/

3. Casa das Áfricas


Centro de pesquisa e de promoção de atividades culturais relacionadas ao continente africano.
Disponível em: http://www.casadasafricas.org.br/

4. Nova África – TV Brasil


Disponibiliza episódios, artigos, áudios, etc. do programa televisivo Nova África, da TV Brasil.
Disponível em: http://tvbrasil.ebc.com.br/novaafrica/category/blogosfera

55 Disponível no site do Projeto “Relações Internacionais para Professores”:


http://www.cursoripe.blogspot.com/.
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5. Blog Pé na África
Blog do jornalista Fábio Zanini, do jornal Folha de São Paulo sobre diversos fatos da realidade
política, social e econômica do continente africano.
Disponível em: http://penaafrica.folha.blog.uol.com.br/

6. Guia de mídia – Jornais da África


Disponibiliza os links para diversos jornais e periódicos nacionais de uma série de países
africanos, desde a África do Sul ao Zimbábue.
Disponível em: http://www.guiademidia.com.br/jornais/africa.htm

7. Revista África e Africanidades


Revista eletrônica com artigos sobre diversos assuntos relacionados ao continente africano e
a cultura afro e negra no Brasil e no mundo.
Disponível em: http://www.africaeafricanidades.com/

FILMES
Invictus (Estados Unidos, 2009), de Clint Eastwood
Invictus acompanha o período em que Nelson Mandela sai da prisão em 1990, torna-se presidente em
1994 e os anos subsequentes. Na tentativa de diminuir a segregação racial na África do Sul, o rugby é
utilizado para tentar amenizar o fosso entre negros e brancos, fomentado por quase 40 anos. O jogador
Francois Pienaar é o capitão do time e será o principal parceiro de Mandela na empreitada.
Trailer disponível em:
http://cinema.uol.com.br/ultnot/multi/2009/10/29/04023270D8A16366.jhtm?who=0

Hotel Ruanda (Canadá, Reino Unido, Itália e África do Sul, 2004), de Terry George
Em 1994 um conflito político em Ruanda levou à morte de quase um milhão de pessoas em apenas
cem dias. Sem apoio dos demais países, os ruandenses tiveram que buscar saídas em seu próprio
cotidiano para sobreviver. Uma delas foi oferecida por Paul Rusesabagina (Don Cheadle), que era
gerente do hotel Milles Collines, localizado na capital do país. Contando apenas com sua coragem, Paul
abrigou no hotel mais de 1200 pessoas durante o conflito.
Trailer disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=aUjawg5IZ4Q
Sugestão de prática em aula: http://educacao.uol.com.br/planos-aula/ult3907u95.jhtm

O Jardineiro Fiel (Estados Unidos, 2005), de Fernando Meirelles


Justin Quayle, funcionário do governo inglês no Quênia, encontra sua mulher, Tessa, morta. Tudo
aponta para um crime passional, cometido por um colega de trabalho. No entanto, Quayle começa suas
próprias investigações do fato, que o levarão a descobrir o lado mais sórdido da indústria farmacêutica
e sua presença na África. Embarcando na ilegalidade, ele não medirá esforços para limpar o nome de
Tessa, e possivelmente, assinar sua própria sentença de morte, ao invadir os arquivos mais secretos do
governo britânico.

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Trailer disponível em: http://relexus.ning.com/profiles/blogs/resenha-do-filme-o-jardineiro

Diamante de Sangue (Estados Unidos, 2006), de Edward Zwick.


Tendo como pano de fundo a guerra civil que dominou Serra Leoa na década de 90, conta a história de
Danny Archer, um ex-mercenário nascido no Zimbábue que se dedica a contrabandear diamantes para
a Libéria, e Solomon Vandy, um pescador da etnia Mende que é separado de sua mulher e filhos pela
Força Unida Revolucionária (FUR).
Trailer disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=QyuIVXqW_ec

Um Grito de Liberdade
A história de uma amizade memorável entre dois homens inesquecíveis. A tensão e o terror da
atualidade da África do Sul do regime Apartheid é retratada através da história de um ativista negro
Stephen Biko e de um editor liberal de um jornal branco que arrisca a sua própria vida para divulgar
ao Mundo a mensagem de Biko.
Trailer disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=zT5H13-O4Rk (em inglês)

Cafundó (Brasil, 2005), de Paulo Betti e Clóvis Bueno


João de Camargo (Lázaro Ramos) viveu nas senzalas em pleno século XIX. Após deixar de ser escravo
ele fica deslumbrado com o mundo em transformação ao seu redor e desesperado para viver nele. O
choque é tanto que faz com que João tenha alucinações, acreditando ser capaz de ver Deus. Misturando
suas raízes negras com a glória da civilização judaico-cristã, João passa a acreditar que seja capaz de
curar e realmente acaba curando. Ele torna-se então uma das lendas brasileiras, se popularizando
como o Preto Velho.
Trailer disponível em: http://www.cafundo.com.br/site.htm

O Herói (Angola, França e Portugal , 2004), de Zezé Gamboa


O filme constitui uma visão sobre a cidade de Luanda e uma Angola do pós-guerra, a partir da história
de várias pessoas que tentam recomeçar a sua vida num país devastado pelo conflito. Os personagens
vivenciam as seqüelas da guerra, a corrupção política, o papel social da mulher e as diferenças entre
classes.

O Jardim de Outro Homem (Moçambique, Portugal e França, 2006), de Sol de Carvalho.


Retrata o cotidiano de uma jovem estudante que enfrenta muitas dificuldades para realizar seu maior
sonho: tornar-se médica. Na trama, Sol de Carvalho também denuncia a presença da Aids na sociedade
local.

A Batalha de Argel (Argélia e Itália, 1966), de Gillo Pontecorvo


O filme apresenta momentos decisivos da guerra pela independência da Argélia (1954 – 1962), marco
no processo de libertação das colônias africanas. Enfocando o período entre 1954 e 1957, o longa-
metragem mostra como agiam os dois lados do conflito: o exército francês recorria à tortura e à
execução dos inimigos e a FLN (Frente de Libertação Nacional) usava técnicas de guerrilha e de

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terrorismo. Na prática, dominar a Argélia assegurou vultosos lucros aos grupos privados franceses. No
plano político, visava recuperar o prestígio internacional da França, abalado pelas derrotas
napoleônicas.

LEITURAS SUGERIDAS
DIALLO, Alfa Oumar. A nova parceria para o desenvolvimento da África: NEPAD, paradigma para o
desenvolvimento. Tese (doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de
Direito. Programa de Pós-Graduação em Direito, Porto Alegre, BR-RS, 2006.
VISENTINI, Paulo, RIBEIRO, Luiz, e PEREIRA, Analúcia. Breve História da África. Porto Alegre:
Leitura XXI, 2007.

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