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Leonildo Guedes

BREVES – PARÁ

2002
MÁRIO CURICA

NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE


LEONILDO GUEDES
Professor Pedagógico e Licenciado Pleno em Pedagogia pela UFPA

Especialista em Estudos Culturais da Amazônia pela UFPA

Autor de “Inventário das Superstições e Crendices do Povo Brevense”


(trabalho ainda não publicado)

MÁRIO CURICA

NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

BREVES – PARÁ

2002
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao povo brevense,

Tão criativo,

Tão inteligente,

Tão lutador,

Tão sonhador,

Tão esperançoso e

Tão capacitado a produzir o que for necessário,

Desde que devidamente orientado,

Estimulado e

Auxiliado;

Desde que ouvido e levado a sério.


AGRADECIMENTOS

A DEUS, pela inspiração, pelas idéias, pela luz;

(Senhor, ajuda-me a aprender para que eu ajude ensinando!).

A todos os nossos colaboradores/contadores de histórias: amigos, parentes e


conhecidos.

Aos nossos transcritores auxiliares: professores e alunos.

À senhora Erundina Monteiro da Silva, filha do senhor Mário Moreira da Silva, que
mui gentilmente me recebeu em sua casa, respondendo às
minhas perguntas e me doando uma foto de seu famoso e
benquisto pai.

À letrada Leolinda Guedes, pela revisão dos textos.


“A vida se vive para poder contá-la (alguns
povos a cantam) ao mesmo tempo que criamos
nossos contos para dar sentido à vida.”

Virgínia Ferrer Cerveró

“O sentido do que somos depende das histórias


que contamos e das que contamos a nós
mesmos (...), em particular das construções
narrativas nas quais cada um de nós é, ao
mesmo tempo, o autor, o narrador e o
personagem principal”.

Jorge Larrosa
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO...................................................................................... 03

SÍNTESE BIOGRÁFICA DE “MÁRIO CURICA”........................................ 13

1. BANHOS E MERGULHOS NO RIO

1.1. O “pum” do jacaré........................................................................... 15

1.2. Que mergulho!................................................................................. 15

1.3. Perseguindo o jacaré...................................................................... 16

1.4. Mais rápido que um martelo............................................................ 16

1.5. Banho distraído............................................................................... 17

1.6. A aposta.......................................................................................... 17

2. UM DIA DA PESCA. . .

2.1. Eta peixão!...................................................................................... 18

2.2. Assando peixe embaixo d’água...................................................... 18

3. CAÇADAS E AVENTURAS

3.1. Puxando a onça pelo avesso........................................................... 19

3.2. A disputa.......................................................................................... 19

3.3. Duas onças e uma bala.................................................................... 20

3.4. A bacabeira da anta......................................................................... 20

3.5. Um dia de sorte................................................................................ 21

3.6. Cadê o olho?.................................................................................... 22

3.7. Quase caolho!.................................................................................. 23

3.8. Espingarda mágica........................................................................... 23


3.9. Caçando urso .................................................................................. 23

3.10. Tiro teleguiado .............................................................................. 23

4. LENDAS NO CAMINHO

4.1. O Fogo-do-Mar brinca com Mário Curica......................................... 24

4.2. A Cobra-Grande persegue Mário Curica.......................................... 25

4.3. A Cobra-Grande engole tudo........................................................... 25

4.4. Foi a Cobra-Grande?....................................................................... 26

5. VISÃO FANTÁSTICA

5.1. Visão precisa.................................................................................... 27

5.2. Bom de vista e atuante..................................................................... 27

5.3. Formiga ou mucuim?........................................................................ 28

5.4. Os mucuins...................................................................................... 29

6. NÚMEROS PRECISOS

6.1. Noventa e nove periquitos................................................................ 30

6.2. Uma tartaruga de 149,5 Kg.............................................................. 31

7. SUPER OBJETOS E UTENSÍLIOS

7.1. Misturando as peças (I)................................................................. 32

7.2. Consertando o rádio e a espingarda................................................ 33

7.3. Misturando as peças (II)............................................................... 33

7.4. Relógio bom, hein?!......................................................................... 34

7.5. Lamparina à prova d’água................................................................ 34

7.6. E o barco sumiu!.............................................................................. 35

7.7. O casco sumiu!................................................................................. 35

7.8. O disco que tocava no espinheiro.................................................... 36


7.9. O disco do Mário.............................................................................. 36

8. BACABEIRAS, MANGUEIRAS E AÇAIZEIROS

8.1. Tirando bacaba sem sair do chão.................................................... 37

8.2. O jeito era girar a bacabeira............................................................. 37

8.3. Desgalhando mangueira.................................................................. 38

8.4. O prédio de açaizeiros..................................................................... 38

9. CASAS E FOGUETES

9.1. A casa alta do Mário Curica............................................................. 39

9.2. Promessa quase bem paga............................................................. 39

10. HISTÓRIAS RAPIDINHAS

10.1. Uma mentira rapidinha................................................................... 40

10.2. Esperando uma paca boiar............................................................ 41

10.3. Que susto!..................................................................................... 42

10.4. Seu Ribamar e Mário Curica.......................................................... 43

10.5. O passarinho fugiu......................................................................... 43

10.6. O jacaré no bueiro.........................................................................

11. OUTRAS HISTÓRIAS

11.1. Correndo atrás do pato do círio.................................................

11.2. Uma folha de abade faz toda a diferença................................... 44

SOLICITAÇÃO AOS LEITORES

ALGUNS DOS NOSSOS CONTADORES DE HISTÓRIAS


(COLABORADORES)

NOSSOS TRANSCRITORES AUXILIARES


APRESENTAÇÃO

O tema da Feira do Conhecimento da Escola Municipal de Ensino


Fundamental Profª. Maria de Lourdes Campos Sales deste ano foi “a cidade de
Breves”. Dessa forma, cada professor deveria desenvolver um trabalho que
estivesse pautado nessa linha temática. Inicialmente, cogitei na possibilidade de
os alunos da minha turma (4ª. Série) elaborarem poemas sobre aspectos diversos
do município de Breves (cheguei a selecionar aspectos/informações que serviriam
para a elaboração dos poemas), até que, revirando manuscritos de um trabalho
anterior (As Superstições e as Crendices do Povo Brevense), encontrei uma
história do Mário Curica (O “pum” do jacaré) transcrita pelo professor Ademir
Neves. E assim veio a idéia de elaborar um trabalho com as histórias desse
conhecido contador de histórias. Entretanto, eu precisava saber se seria possível
coligir essas histórias em quantidade considerável, num curto espaço de tempo, e
organizar esse trabalho a tempo de apresentá-lo na II FEICON (Feira do
Conhecimento). Assim, comecei a ouvir/escrever histórias sobre Mário Curica no
dia 1º de novembro. Até o dia 04 de novembro, eu já tinha obtido trinta e duas
histórias. Aí veio a certeza: é possível elaborar esse trabalho! Ainda no dia 04,
meus alunos engajaram-se nessa tarefa: começaram a coletar histórias em que
Mário Curica faz parte.
“Mário Curica no imaginário popular brevense” materializa-se em produção
escrita graças aos nossos contadores de histórias/nossos colaboradores e nossos
transcritores auxiliares. Sem os mesmos, não tomaríamos conhecimento das
fantásticas, brilhantes e por vezes hilárias histórias do Mário.
Como a educação brasileira não incentiva a pesquisa, não dispusemos de
equipamentos básicos para a elaboração desse trabalho (como gravador, por
exemplo). Todavia, não ficamos de braços cruzados lamentando. Com caneta,
papéis e uma prancheta em mãos, com um objetivo a ser alcançado, seguindo os
princípios básicos da pesquisa em história oral, fomos em busca dos nossos
contadores de histórias. Nesse sentido, as palavras dos contos não são literais,
mas produto do conhecimento lingüístico do autor e dos transcritores auxiliares.
As palavras não são exatamente as mesmas, no entanto, as idéias, a essência, o
vigor e a originalidade das histórias foram conservados (pelo menos foi nossa
intenção).
O ideal preconizado hoje no campo educacional é que a escola estimule os
alunos/professores para a produção/reelaboração do conhecimento. Porém, o que
prevalece ainda é o seu caráter meramente reprodutivista. Assim, com este
trabalho, objetiva-se também demonstrar tanto para alunos quanto para
professores que é possível fazermos uma escola criativa, comprometida com a
valorização do que somos e sabemos.
Em linhas gerais (por enquanto), podemos definir “Mário Curica” como um
grande contador de histórias, de imaginação fértil que sabia como ninguém cativar
seus ouvintes. (Posteriormente, apresentamos sua síntese biográfica, obtida
graças às informações fornecidas pela senhora Erundina Monteiro da Silva, filha
do senhor Mário.) Suas histórias são fantásticas, misteriosas, cômicas, marcadas
pela improvisação e apresentam-lhe com qualidades e sentidos super-
desenvolvidos.
As histórias aqui apresentadas foram coletadas do imaginário popular
brevense (não foram coletadas diretamente do senhor “Mário Curica”). Assim, a
autoria dessas histórias é atribuída a “Mário Curica”, mas não se tem certeza
absoluta. Também, ao passarem para o imaginário popular (ao passarem para a
boca do povo), sofreram algumas alterações (personagens, falas), mas seus
“elementos fixos” (a essência das histórias) permanecem. Inclusive, após a leitura
deste trabalho, o leitor perceberá que algumas histórias são similares, mas para
não se perder a riqueza do imaginário popular, resolvi colocar todas as versões
ouvidas.
Se porventura alguma pessoa se reconhecer numa dessas histórias,
considere como uma homenagem feita pelo povo. Com efeito, não se pretende
aqui entrar no mérito da questão: são histórias fantásticas? São histórias
verídicas? O que se pretende é apresentar histórias marcadas pela originalidade e
que são de inestimável valor para a cultura brevense; histórias de uma inigualável
imaginação nascida nos meios populares.
Como perceber-se-á, este é um trabalho simples. Inclusive, primou-se por
utilizar nos contos palavras populares (palavras simples, regionais), mas em
alguns casos utilizaram-se palavras mais sofisticadas, tendo em vista garantir a
idéia originária. Até mesmo a estrutura das narrativas corresponde ao modo como
as pessoas contaram as histórias. Ademais, é notória a repetição de termos como
“certa vez”, mas seu emprego justifica-se pela localização da narrativa num tempo
não muito longínquo, porém indeterminado; sem a utilização dessa expressão, as
narrativas começariam sem uma alusão à temporalidade (mesmo que essa
temporalidade seja indeterminada, optamos pelo emprego de “certa vez”).
Esperamos que, com a produção/divulgação/leitura deste trabalho, se
valorize mais o saber popular; se incentive os alunos para a pesquisa; se viaje por
um mundo imaginário capaz de despertar também nossa criatividade adormecida.
Esperamos que a leitura deste trabalho seja prazerosa, leve e divertida.
Esperamos que, ao lê-lo, possa-se encontrar um sorriso constante no seu rosto.
Finalizando esta apresentação, transcrevo um trecho de um conto popular:

“Entrou por uma porta


E saiu por outra,
Quem quiser
Que conte outra!”

Boa leitura!

Leonildo Guedes
Breves (PA), 19 de novembro de 2002.
SÍNTESE BIOGRÁFICA DE “MÁRIO CURICA” 1

Mário Moreira da Silva, o famoso “Mário Curica”, nasceu no rio Macujubim,


interior do município de Anajás (PA), no ano de 1898. Era filho de Francisco
Moreira e Maria Eliana do Espírito Santo.

A alcunha “Mário Curica” advém do apelido do seu filho Antônio: este era
chamado de “Curiquinha”, pois tinha os dedos parecidos com os dedos de uma
ave da região chamada de “curica”. Portanto, a partir do apelido do filho, veio a
apelido do pai: Mário Curica.

Passou sua infância no interior do município de Anajás. De lá, foi morar no


rio Mapuá, onde passou aproximadamente dez anos de sua vida (neste rio,
conheceu a senhora Jocimes Monteiro da Silva, com quem se casou). Em
seguida, Mário volta ao rio Macujubim e, posteriormente, vem para a cidade de
Breves com sua família. O senhor Mário Moreira da Silva e família chegaram à
cidade de Breves por volta de 1946.

Não sabia ler, nem escrever. Trabalhou com extrativismo vegetal


(borracha), era lavrador e (na cidade) realizava serviço gerais: carpintaria e outras
atividades.

Foi pai de dez filhos, dentre os quais seis estão vivos: Maria de Nazaré,
Raimundo, Antônio, Rosendo, Maria e Erundina (a caçula, que tem hoje 59 anos
___ quando vieram morar na cidade, Erundina tinha apenas três anos de idade).

Na cidade, o senhor Mário Moreira da Silva era benquisto por todas as


pessoas: vereadores, prefeitos, comerciantes, etc.

As pessoas adoravam ouvir suas histórias. A frase que sempre ouvia era
“conte uma história rapidinho, seu Mário”. Em muitos carnavais brevenses, seus
amigos e admiradores o homenageavam: saíam vestidos a estilo “Mário Curica” e
sempre o procuravam nessa época para ouvir suas brilhantes histórias.

1
Síntese biográfica elaborada a partir de informações fornecidas por Erundina Monteiro da Silva,
filha do senhor Mário Moreira da Silva, casada com o senhor Sandoval Pereira Lima. Data da
entrevista: 05 / 11 / 02.
Sua característica principal era ser um grande contador de histórias.
Também, duas de suas características marcantes era usar chapéu de palha e uma
saca de lona embaixo do braço; às vezes, também era visto com terçadinho na
mão.
Sua esposa faleceu em 1983 (aproximadamente).
Nos últimos anos de sua vida, residia no bairro da Castanheira. Foi
acometido de derrame. E no dia 12 de maio de 2000, aos 102 anos de idade, veio
a falecer. Morre a pessoa, mas ficam suas histórias povoando o imaginário
popular brevense, histórias essas que, devido a sua notoriedade local, podem ser
consideradas como patrimônio histórico-cultural brevense.

Mário Moreira da Silva, o “Mário Curica”.


1. BANHOS E MERGULHOS NO RIO

1.1. O “PUM” DO JACARÉ

Mário Curica foi tomar banho no antigo trapiche da B. I. S. A. (Breves

Industrial S. A.). Ele correu e saltou dentro d’água. Quando ele ia chegando na

água, foi engolido por um jacaré que estava de boca aberta esperando por ele. E

como Mário Curica se saiu dessa?

Mário Curica explicou:

___ Ainda bem que jacaré solta gases!

Assim, Mário Curica conseguiu se safar porque foi expelido pelo “pum” do

jacaré.

(Acredite se quiser!).

Informante: Ademir Neves


1.2. QUE MERGULHO!

Certa vez, Mário Curica estava tomando banho à beira do rio. Quando

estava se ensaboando, o sabonete escapoliu e caiu n’água. Seu Mário

prontamente pulou atrás para pegá-lo. Quando ele boiou, ficou espantado, pois

estava num trapiche de Belém e... (detalhe) estava com o sabonete na mão!

Informante: Sebastião Oliveira


1.3. PERSEGUINDO O JACARÉ

Seu Mário, certa vez, estava próximo do Matadouro Municipal. Quando

olhou para o rio Parauaú, viu um jacaré enorme submergindo. Seu Mário Curica

não resistiu e quis pegar o jacaré. Pulou atrás dele e mergulhou tão

profundamente, perseguindo-o, que, quando voltou à tona, se espantou: estava

perto de Melgaço!

(Haja fôlego!).

Informante: Benedito Guedes


1.4. MAIS RÁPIDO QUE UM MARTELO

Um dia, Mário Curica estava trabalhando no trapiche do Antonino da

Paragás. Durante o trabalho, descuidando-se, deixou cair seu martelo na água.

Tchibum! Rapidamente, ele pulou na água atrás do martelo para pegá-lo. Quando

ele chegou lá no fundo do rio, procurou o martelo e não o encontrou. De repente,

sente o martelo cair na sua cabeça!

Mário Curica chegou ao fundo do rio primeiro que o martelo!).

Informante: Rosely Lobato


1.5. BANHO DISTRAÍDO

Certa vez, seu Mário Curica estava tomando banho na beira do rio Pracaxi.

Ele estava na ponta de um tronco de miritizeiro. Estava tomando banho e tal. . . A

água estava “vazando”. . . Para poder se molhar melhor, ele passa um pouco à

frente do miritizeiro. Senta-se em algo estável, plano, e prossegue o banho.

Abaixa a cabeça e fica se esfregando, esfregando. . . Quando ele levanta a

cabeça, percebe que já está perto da vila de Corcovado. Quando olha para baixo,

percebe que estava sentado sobre uma grande arraia!

Informante: Pedro Nascimento


1.6. A APOSTA

Certa vez, seu Mário Curica foi desafiado. Um funcionário de uma serraria

apostou com ele que não conseguia chegar nadando da serraria até o trapiche

municipal. Seu Mário aceitou a aposta.

Assim, saiu nadando da serraria até o trapiche municipal. Quando seu

Mário estava perto de chegar ao trapiche, ele cansou e resolveu voltar nadando

para a serraria.

(Foi a única aposta que Mário Curica perdeu!)

Informante: Ajax Guedes


2. UM DIA DA PESCA . . .

2.1. ETA PEIXÃO!


Certa vez, Mário Curica estava pescando na boca de Breves. Como queria

fumar cachimbo (e precisava utilizar as mãos para acendê-lo), trançou a linha de

pesca no seu pé. Nesse instante, um peixe foi fisgado, puxou a linha e levou Mário

Curica com tudo para o fundo do rio. O peixe o arrastou por uma boa distância, até

que Mário viu um enorme tronco no fundo do rio, agarrou-se a ele e conseguiu

boiar; já estava aqui em Breves, em frente ao trapiche da B. I. S. A! Ainda com a

linha de pesca segura, Mário Curica saiu por terra e foi providenciar um guindaste

para puxar o enorme peixe. Assim, o guindaste puxou o peixe: era uma enorme

piraíba. Todos os funcionários da B. I. S. A. receberam um pedaço de peixe. . . E

ainda sobrou piraíba!

Informante: Josely Costa


2.2. ASSANDO PEIXE EMBAIXO D’ÁGUA

Mário Curica e seu filho foram lanternar num igarapé. Chegando lá, um

peixe bastante grande bateu no casco e a lanterna caiu na água. Mário Curica

pulou atrás da lanterna e pra lá ficou. Demorou, demorou. . . E seu filho pulou

atrás dele. Quando ele chegou lá no fundo, Mário Curica já estava assando o

peixe!

Informante: Samara Brasil


3. CAÇADAS E AVENTURAS

3.1. PUXANDO A ONÇA PELO AVESSO

Seu Mário foi caçar com dona Maria. Sua espingarda tinha apenas um

cartucho.

Saíram pelo mato. Não havia caça. Andaram muito até que encontraram um

tucano num galho de uma árvore. Seu Mário atirou. “Pêi!” Matou o tucano e lá se

foi seu único cartucho.

Foram embora. De repente, ouviram um rugido. Era uma enorme de uma

onça pintada. Nesse momento, dona Maria estava se borrando de medo. Seu

Mário colocou dona Maria e a espingarda sem cartucho num canto. Deu a volta

em umas árvores. E a onça não parava de olhar pra ele, piscando. Seu Mário

avança sobre a onça e bate uma mão contra a outra. “Plá!” Nisso, a onça abre

bem a boca e avança sobre ele. Seu Mário mete o braço pela boca da onça (mete

lá pra dentro, mesmo) e puxa a onça pelo avesso!

Informante: Benedito Guedes


3.2. A DISPUTA
Mário Curica e seu amigo, certa vez, estavam contando vantagens. Veja só

quem contou mais (ou maior) vantagem:

Mário Curica contou que estava no mato, caçando. De repente, atravessa

na sua frente uma onça. Ele prontamente se prepara. Quando a onça abriu a boca

para agarrá-lo, ele apertou o gatilho. . . O tiro entrou pela boca e saiu pelo rabicho

da onça ___ passou direto (Essa onça teve uma sorte, hein!).

O seu amigo também contou a sua. Ele estava caçando no mato. Quando

se espantou, uma onça pulou sobre ele. Sua espingarda caiu. A onça abriu a boca

para pegá-lo; nisso, o homem meteu o braço na boca da onça e a puxou pelo

avesso!

(Quem conta um conto, aumenta um ponto!).

Informante: Janilson Nascimento


3.3. DUAS ONÇAS E UMA BALA
Certa vez, Mário Curica estava caçando. De repente, depara-se com duas

onças. Porém, estava enrascado, pois só tinha uma bala na sua espingarda.

Então, o que fazer? Se ele conseguisse matar uma das onças, ficaria desarmado

e a outra o mataria. O que fazer, então?

Seu Mário teve uma idéia! Fincou o seu terçado no chão (com o fio da

lâmina em sua direção); esperou que as duas onças ficassem próximas uma da

outra; mirou para as duas onças, tendo o fio do terçado entre sua espingarda e as

onças; e atirou. “Pêi!” Quando a bala foi projetada, acertou o fio do terçado,

dividiu-se em duas e cada uma parte acertou uma onça!

Pronto! Assim, com uma bala, Mário Curica consegue matar duas onças!

Informante: Ademir Neves


3.4. A BACABEIRA DA ANTA

Mário Curica saiu para caçar,

mas não tinha chumbo. Ele resolveu,

então, colocar um caroço de bacaba

no cartucho. Depois disso, saiu pro

mato.

O primeiro bicho que ele

encontrou foi uma anta; ele atirou

nela, acertou, mas ela sumiu. Muito

tempo depois, ele foi caçar outra vez

no mesmo lugar. Neste, ele

enxergou uma bacabeira com um

cacho muito grande. A bacabeira

ficava em cima de um monte de

terra. Ele pensou: “vou já tirar esse

cacho de bacaba”. Seu Mário fez

uma peconha e subiu na bacabeira.

Quando ele começou a cortar o cacho, a bacabeira começou a se mexer. Seu

Mário se lembrou, então, que a bacabeira em que estava tinha surgido do caroço

de bacaba que ele atirara na anta!

Informante: Josely Costa


3.5. UM DIA DE SORTE
Um certo dia, Mário Curica saiu para uma caçada. Levou consigo uma
espingarda e um terçado. Foi pelo igarapé no seu reboque de tábua (canoa).
Quando ainda ia ao igarapé, avistou uma preguiça-benta, e logo capturou e
amarrou na corda de seu reboque.
Chegando no caminho que ia caçar, encostou o reboque e disse:
___ Eu tenho que agradecer a Deus!
Assim, saiu e ajoelhou-se. Largou a espingarda e o terçado e começou a
rezar. Quando terminou, ele viu que nem a espingarda nem o terçado estavam
onde ele tinha arriado, e observou, dizendo:
___ Mas aqui não tem ladrão. Como sumiu a minha espingarda e o meu
terçado?
Quando olhou direito, viu que tinha se ajoelhado na costa de um jabuti-
grande e enquanto rezava, o jabuti caminhava com ele na costa. Então, ergueu as
mãos para dizer graças a Deus. Quando fechou as mãos, um inhambu, que por ali
voava, caiu bem na mão dele. Logo ficou agradecido. Voltou para o seu reboque.
Chegando onde havia deixado o reboque, não estava nem o reboque e nem
a preguiça. Ficou triste, mas logo observou que estava pingando água de cima.
Ele olhou e viu que era a preguiça que tinha subido com o seu reboque pendurado
na cintura. Ele disse:
___ Hoje é meu dia de sorte!

Informante: Benedita Rodrigues


3.6. CADÊ O OLHO?
Certa vez, seu Mário Curica estava no mato, caçando. Ele estava com seu
cachorro.

Durante a caçada, o cachorro vê um veado e começa a persegui-lo. O


cachorro estava atrás de um veado, e o seu Mário, atrás dos dois. Saíram em
disparada pelo meio da capoeira. Correm muito. Durante essa correria toda, os
três passaram pelo meio de um jupindazeiro2. Atravessaram o jupindazeiro: o
cachorro atrás do veado, e ele atrás dos dois.

Saindo do jupindazeiro, seu Mário dá falta de seu olho. Ele passa a mão no
olho e só sente o buraco dele. Assim, resolveu voltar para ver se encontrava ele.
Voltando, ele vê que um de seus olhos está preso num espinho. Ele tira o olho do
espinho e coloca no lugar dele. Porém, ele coloca do lado errado: a parte que nos
possibilita ver ficou para dentro; assim, ele viu seu rim, fígado e “bobó”. Para
endireitar o olho, ele o amassa pelas beiras até ficar normal.

(Ufa! Que susto! Quase que seu Mário fica caolho!).

Informante: Pedro Nascimento

2
JUPINDAZEIRO é um emaranhado de cipós – chamados “jupindás” – com espinhos grandes,

parecidos com anzóis.


3.7. QUASE CAOLHO!

Mário Curica e seu filho foram para o interior. Quando chegaram lá, seu

Mário pegou uma espingarda e foi para o mato. Chegando lá, ele atirou num

macaco. O macaco caiu em cima de uma raiz e se enterrou um metro e meio.

Mário Curica correu para a casa dele para buscar uma enxada para cavar atrás do

macaco. Porém, para ele voltar para casa rapidamente, tinha que fazer um atalho

no mato. Correu muito pelo mato e, de repente, viu que estava descendo sangue

da sua cara e percebeu que só estava com um olho. Assim, voltou e viu seu olho

pendurado em um espinho de tabocal. Ele pegou o olho e colocou no lugar e

continuou a correr para sua casa!

Informante: Simone Rocha


3.8. ESPINGARDA MÁGICA

Mário Curica estava contando para seu compadre que certa vez tinha

encontrado, durante uma caçada, um monte de guariba no mato. Então, pegou a

espingarda e começou a atirar. “Pêi! Pêi! Pêi!”.

O compadre perguntou:

___ O senhor não trocava o cartucho?

Mário Curica respondeu:

___ Não dava tempo. Era muita guariba!

Informante: Valdirene Corrêa


3.9. CAÇANDO URSO
Mário Curica saiu para caçar urso e levou três cartuchos na sua espingarda.

Ele matava urso preto com dois tiros e o urso branco, com um. No mato, ele

avistou um urso preto, armou sua espingarda e... Pêi! Pêi! Deu dois tiros no urso e

o matou. E continuou a caçada. De repente, ele avistou outro urso preto e só tinha

um cartucho, não podendo, assim, matá-lo. Se conseguisse acertar um tiro, ainda

assim o urso tinha forças para matar seu Mário. Foi aí que ele teve uma idéia.

Armou sua espingarda, se escondeu atrás de uma árvore, quando o urso ia

passando, seu Mário fez bu-u-u-u. Assustando o urso, deixando-o branco de

medo. Foi assim que Mário Curica, com um tiro, matou um urso preto que tinha

ficado branco!

Informante: Rogério dos Anjos


3.10. TIRO TELEGUIADO
Mário Curica saiu para caçar. Durante sua caçada, ele avistou em uma

árvore vinte papagaios. Pegou sua espingarda e um cartucho com vinte bagos de

chumbo. Mirou bem no meio deles e atirou. Pêi! Começou a cair papagaio para

todos os lados. Mário Curica foi conferir e tinha dezenove papagaios abatidos.

Nisso, ele começou a ouvir um zumbido. Zum! Zum! Zum! Ele parou para observar

o que era e conseguiu ver um bago de chumbo passando de um lado para outro,

procurando o vigésimo papagaio.

Informante: Rogério dos Anjos


4. LENDAS NO CAMINHO

4.1. O FOGO-DO-MAR BRINCA COM MÁRIO CURICA


No tempo da borracha, Mário Curica tinha um grande barco. Este barco
servia para transportar borracha para vender e para trazer alimentos para sua
casa. Essa viagem era feita de quinze em quinze dias. Mário Curica ia à vazante e
vinha na maré cheia, aproveitando o movimento das águas para remar mais
comodamente. Ele percorria geralmente a baía do Frechal.

Numa de suas viagens, Mário Curica tinha vendido a borracha e vinha com
a proa do barco cheia de alimentos. Vinha remando que só ele. . . Até que viu ao
longe o Fogo-do-Mar3. Ele ia remando cada vez mais rápido, e o Fogo-do-Mar ia
se aproximando, se aproximando. . . Até que o alcançou. Quando o Fogo-do-Mar
passa pelo Mário, leva consigo a mercadoria do barco.

Assim, Mário Curica não podia voltar para sua casa sem nada. Então,
resolveu voltar para comprar mais alimentos. E haja a remar. Umas duas horas
depois, Mário percebeu que o Fogo-do-Mar estava voltando, até que o alcançou.
Ao chegar perto do barco, o Fogo-do-Mar devolveu o que tinha pegado do Mário
Curica e disse:
___ Eu só estava brincando contigo, Mário! Pode voltar em paz para sua
casa. Só que você vai ter que remar mais. . . Muito mais.

Informante: Pedro Nascimento

3
FOGO-DO-MAR é um negrinho envolto em muitas chamas que aparece na baía.
4.2. A COBRA-GRANDE PERSEGUE MÁRIO CURICA
Um dia, Mário Curica tinha que vir a Breves. Vinha em seu reboque a remo,
junto com o seu filho amado, trazendo para vender um cacho de banana, um
porco e um paneiro de farinha.
Viajava tranqüilo pelo rio de Breves, até que foi abordado por uma cobra-
grande. Ele remou, remou. . . Mas a cobra logo o alcançou. Ele jogou o porco e o
cacho de banana, e a cobra engoliu. Mas a cobra continuou a persegui-los até
alcançá-los. Ele logo jogou o paneiro de farinha, e a cobra também o engoliu. Mas
continuou a correr atrás dele. Ele, já próximo da beira, jogou um banco do casco,
e a cobra engoliu. Mas continuou a perseguir. Vendo que não havia jeito, jogou se
filho amado, e a cobra engoliu. Enfim, parou a perseguição.
E continuou a viagem muito triste. Ao chegar em Breves, haviam matado
uma cobra-grande. Ele falou sobre o que tinha acontecido e logo partiram a cobra.
Dentro dela estava seu filho amado sentado no banco, comendo banana e
jogando a casca para o porco.
(Que sorte, não!).

Informante: Benedita Rodrigues


4.3. A COBRA-GRANDE ENGOLE TUDO
Mário Curica e seu filho foram pescar e levaram algumas coisas. Quando

chegaram ao meio do rio, havia uma cobra de boca aberta. Mário Curica jogou um

cacho de banana, e a cobra engoliu. Depois, jogou um porco e, posteriormente,

seu filho; a cobra engoliu os dois. Em seguida, a cobra começou a comer o casco

com Mário Curica e tudo. Quando ele chegou dentro da barriga da cobra, viu seu

filho deitado na rede comendo banana e jogando a casca para o porco.

Informante: Samara Brasil


4.4. FOI A COBRA-GRANDE?
Um dia, na frente de Breves (no rio), caiu a hélice do navio Padre Cícero. E
agora? Só Mário Curica podia dar um jeito nisso. Assim, chamaram-no para ir tirar
a hélice do fundo do rio.
Ao meio-dia, Mário Curica foi, chegou lá, mergulhou, fez tipitingueiro (ou
tipitinga4) e sumiu! Vendo aquilo, as pessoas pensaram que a cobra-grande tinha
engolido ele.
Às três horas da tarde, Mário Curica boiou. As pessoas disseram para ele:
___ Mário, nós pensamos que a cobra-grande tinha te engolido!
Mário Curica disse:
___ Não foi nada disso, como podem ver. Eu tava procurando a hélice até
agora!

Informante: Rosely Loba

4
FAZER TIPITINGA: revolver a terra do fundo do rio, igarapé – parte rasa –, tornando as águas

turvas, sujas.
5. VISÃO FANTÁSTICA

5.1. VISÃO PRECISA

A primeira vez que Mário


Curica foi à Belém é um caso de
impressionar! Quando chegou
perto de um alto edifício (Manoel
Pinto da Silva), olhou para cima,
observou atento e disse para o
seu compadre que o
acompanhava:
___ Está quase perfeito.
Porém, está torto.
O seu compadre replicou:
___ O quanto está torto,
Mário?
Mário Curica respondeu:
___ Meio centímetro!
(Espantoso, não?).

Informante: João Guedes


5.2. BOM DE VISTA E ATUANTE

Mário Curica foi à Belém. Chegando lá, ele foi à avenida Presidente Vargas.

De repente, ele observou que o edifício Manoel Pinto da Silva (até então o edifício

mais alto de Belém) estava torto. Ele saiu correndo; foi até a beira do rio, pegou

alguns braços de miriti e escorou o prédio que estava torto, para que não caísse.

Informante: Ronaldo Souza


5.3. FORMIGA OU MUCUIM?
O Sr. Lino Alves e o Sr. Tupinambá estavam sentados na frente da cidade.
De repente, eles avistaram o Mário Curica. O Tupinambá disse para o Lino Alves:
___ Queres ver como eu tiro um sarro com a cara do compadre Mário?
Nesse momento, o seu Tupinambá se põe de pé e começa a olhar para
uma árvore que está no outro lado do rio (Parauaú). O Mário se aproxima e
pergunta:
___ O que é que o Sr. tá vendo aí, compadre?
O Tupinambá responde:
___ Tá vendo aquela árvore ali, compadre?
O Mário responde:
___ Tô.
O Tupinambá perguntou:
___ Aquele bicho que está naquele galho é uma formiga ou um mucuim?
O Mário pega os óculos, limpa-os e pergunta:
___ Qual compadre? O que está no galho da direita ou da esquerda?

Informante: Ronaldo Souza


5.4. OS MUCUINS

Havia um homem que estava fazendo uma vistoria nos prédios da frente da
cidade de Breves. Nesse momento, seu Mário ia passando por perto. O homem da
vistoria resolveu tirar um sarro da cara dele. O homem perguntou:

___ Seu Mário, estou vendo na ponta daquele pau um mucuim. Eu quero
agora que o senhor me responda: ele está sentado ou em pé?

O seu Mário Curica replicou:

___ Qual? O macho ou a fêmea?

Informante: Ronaldo Souza


6. NÚMEROS PRECISOS

6.1. NOVENTA E NOVE PERIQUITOS

Mário Curica foi o primeiro morador da atual rua Capitão Assis. Naquele
tempo, existia só a sua barraquinha e muito
mato. No quintal de sua casa, havia um
mamoeiro carregado de mamões. E é
nesse mamoeiro que se passou este fato
curioso.

Numa tarde, seu Mário estava


sentado à porta dos fundos de sua casa. De
repente, chegou ao seu quintal uma
revoada de periquitos. Seu Mário ficou
observando. Nisso, um periquito furou um
mamão e entrou nele. E depois outro
periquito fez o mesmo; em seguida outro,
depois outro. . . Ao todo, seu Mário contou
noventa e nove periquitos que tinham
entrado no mamão.

Ao contar este estranho fato às pessoas, estas lhe perguntavam:

___ Mas seu Mário, não eram cem periquitos?

E Mário Curica replicava:

___ Tu achas que por causa de um periquito eu vou contar uma mentira?

Informante: Ademir Neves


6.2. UMA TARTARUGA DE 149,5Kg
Certa vez, seu Mário Curica estava viajando de Belém para Breves.
Durante a viagem, uns conhecidos do seu Mário pediram para que ele contasse
uma mentira. Seu Mário se recusou (e não contou mesmo). Mas ele aproveitou o
ensejo para contar um fato interessante. Ele disse:

___ Olha gente, acabei de ler numa revista uma reportagem que fala que
encontraram uma tartaruga que pesava cento e quarenta e nove quilos e meio!

E um dos presentes perguntou:

___ E por que não eram cento e cinqüenta quilos logo?

Seu Mário retrucou:

___ Você acha que por causa de meio quilo eu vou contar uma mentira?

Informante: Pedro Nascimento


7. SUPER OBJETOS E UTENSÍLIOS

7.1. MISTURANDO AS PEÇAS (I)


Seu Mário Curica tinha um rádio velho e uma espingarda. Ele tirou um
tempo para consertá-los. Desmontou os dois ao mesmo tempo e as peças foram
misturadas. Mesmo assim, ele conseguiu “consertar” os dois objetos.

Ele saiu à tarde para caçar. Quando estava caçando, viu um veado e atirou.
A espingarda fez “pe-lec-pe-lec! Rádio Clube do Pará”. E a caça fugiu.

E o rádio ficou em casa. Quando a sua mulher foi ligar o rádio, fez “pêi! Pêi!
Pêi!”, e ela prontamente o desligou. Quando Mário Curica chega de sua caçada
sem sucesso, sua esposa lhe fala:

___ Mário, eu acho que o Brasil está em guerra. Quando eu liguei o rádio,
só ouvi barulho de tiro.

Seu Mário explicou:

___ Não é nada disso, mulher. Eu é que fui consertar a espingarda e o


rádio e acabei trocando as peças. As peças do rádio eu coloquei na espingarda, e
as peças da espingarda coloquei no rádio. . .

Informante: Pedro Nascimento


7.2. CONSERTANDO O RÁDIO E A ESPINGARDA

Em Breves, havia um técnico que consertava tudo quanto é aparelho.

Numa certa manhã, um rapaz foi levar um rádio para ele consertar. Depois,
outro foi levar uma espingarda. Ambos queriam os objetos consertados para à
tarde. Assim, apressado, o técnico foi consertar os dois ao mesmo tempo.
Primeiro desmontou o rádio, depois a espingarda. Na hora de montar, misturou as
peças do rádio e da espingarda. Mas montou assim mesmo.

Os homens foram pegar à tarde os seus pertences, como fora combinado.


Antes de levarem, os dois testaram. Primeiro, o rapaz ligou o rádio e fez um
estrondo forte. “Pêi!” O outro tinha um cartucho vazio e foi testar a espingarda.
Colocou o cartucho e disparou. A espingarda fez “Rádio Cultura do Pará!”.

Informante: Benedito Guedes


7.3. MISTURANDO AS PEÇAS (II)

Mário Curica foi consertar uma espingarda e um rádio só de uma vez. Ele
colocou a peça do rádio na espingarda, e a peça da espingarda no rádio. Depois,
ele foi caçar.

Quando ele estava no mato, sua mulher ligou o rádio e aí era tiro pra todo
lado. A mulher dele disse:

___ Ai! Minha Nossa Senhora! Tão só numa guerra! Vou desligar o rádio.

Quando Mário Curica estava caçando, viu um veado, começou a fazer a


pontaria pro veado e atirou. A espingarda começou a falar:

___ Rádio Clube de Belém do Pará! Programa “Valdir Araújo!”.

Informante: Josely Costa


7.4. RELÓGIO BOM, HEIN!

Seu Mário Curica foi para uma caçada. Enquanto descansava, tirou o
relógio do pulso e deixou numa arvorezinha. Seu Mário se esqueceu e foi-se
embora.

Muito tempo depois, passando por onde tinha esquecido o relógio, ouviu um
barulho: “tic, tac”. Olhou para o alto e viu o seu relógio preso num galho de uma
árvore. “Tic, tac”.

(Esse relógio é bom, hein!).

Informante: Helena Souza


7.5. LAMPARINA À PROVA D’ÁGUA

Certa vez, Mário Curica e seus companheiros foram tirar madeira do fundo
do rio. Chegando lá no fundo, Mário viu que estava muito escuro. Ele subiu para a
beira do rio e pediu uma lamparina aos seus companheiros. Deram a lamparina.
Ele a levou para o fundo do rio e ficou, assim, trabalhando no claro!

(Essa Lamparina é poderosa!).

Informante: Pedro Nascimento


7.6. E O BARCO SUMIU!

Certa vez, Mário Curica trouxe uma grande quantidade de palha do interior.
Era tanta palha que, logo após o embarque, não se podia ver o barco. Mas tudo
bem. O barco partiu do interior com destino à cidade. E o Mário Curica veio em
cima das palhas (esse barco não tinha motor).

Quando chegou na cidade, foi desembarcar a palha. Foi tirando palha,


tirando palha. . . Até que percebeu que o barco não estava mais lá, tinha ficado no
meio do caminho.

E ele nem percebeu. . . Mas a palha chegou à cidade!

Informante: Pedro Nascimento


7.7. O CASCO SUMIU!

Mário Curica foi tirar palha na ilha de Melgaço. Ele tirou um monte de palha.
Colocou em cima de seu casco e subiu em cima dele. Vem remando até em
Breves. Ao chegar em Breves, ele foi olhar para baixo das palhas e viu que o
casco não estava mais lá. Então, ele pensou: “eu vim lá de Melgaço só em cima
das palhas”. Depois, ele começou a rir.

Informante: Maria Urbano


7.8. O DISCO QUE TOCAVA NO ESPINHEIRO

Mário Curica tinha um disco de vinil. Esse disco caiu de suas mãos uma vez
e quebrou-se. Aborrecido, ele jogou o disco lá pro meio do mato. Esse disco ficou
preso numa árvore de espinho (tucumãzeiro). Quando dava vento, uma folha com
espinho dava no pedaço de disco, saindo a música “o que é meu, é teu. O que é
teu, é meu”.

Assim, sempre que dava vento, ouvia-se parte da música lá para as bandas
do tucumãzeiro: “o que é meu, é teu. O que é teu é meu”.

Informante: João Guedes


7.9. O DISCO DO MÁRIO

Seu Mário Curica tinha um disco que se quebrou. Ele morava numa tapera
no meio do mato. Então, ele pegou o pedaço de disco e jogou lá para o meio do
mato, caindo sobre uma folha de uma árvore. Certo dia, ele ouvia um som que
vinha do mato: “Cantareira, Cantareira”. Mário foi ver o que era. Olhou para o alto
de uma árvore e viu algo inusitado: quando o vento dava, o espinho de uma folha
dava no pedaço do disco (no sentido vai-e-vem) e o som saía: “Cantareira,
Cantareira”.

(Que coisa, hein!)

Informante: Raimundo Farias


8. BACABEIRAS, MANGUEIRAS E AÇAIZEIROS

8.1. TIRANDO BACABA SEM SAIR DO CHÃO


Certa vez, a mulher do Mário Curica estava gestante e desejou tomar
bacaba. Nesse dia, estava o maior temporal.

Mário Curica não estava em casa. Quando ele chegou, fugindo do temporal,
sua mulher lhe falou:

___ Mário, eu tô desejando tomar bacaba.

E o Mário respondeu:

___ Logo agora mulher! Na hora desse tempo! É... Mas eu vou atrás.

Assim, Mário Curica saiu pro mato e achou a bacabeira com cacho. Porém,
ele não sabia subir na árvore. O que fazer então? Mário teve uma idéia! Como
estava dando uma ventania, resolveu esperar o vento entortar a bacabeira. E
então aconteceu: deu um vento forte que entortou a bacabeira; esta arriou a copa
até o chão. Nisso, Mário Curica aproveitou para cortar, do chão, o cacho da
bacaba.

(Pronto! Conseguiu tirar o cacho da bacaba sem sair do chão! Se o


problema era conseguir bacaba, estava solucionado!).

Informante: Rosely Lobato


8.2. O JEITO ERA GIRAR A BACABEIRA

Certa vez, Mário Curica subiu numa bacabeira com uma peconha. Quando
estava lá em cima, perto do cacho de bacaba, ouviu um tiro. “Pêi!” Quando se
espantou, viu que a bala vinha em sua direção. Nisso, ele girou a bacabeira e o
tiro pegou nela.

(Ufa! Foi por pouco!).

Informante: Raimundo Farias


8.3. DESGALHANDO MANGUEIRA

Certa vez, seu Mário


Curica estava trabalhando no
terreno da Maçonaria. Ele estava
em cima da mangueira cortando
seus galhos. Porém, veja que
interessante: ele estava de
cabeça para baixo com os pés
seguros nos galhos. . . E haja a
cortar (detalhe: ele estava de
botas).

Numa dessas suas


diferentes empreitadas, a juíza de
Breves o viu e mandou chamá-lo
depois para censurá-lo. Seu
Mário Curica foi intimado a
comparecer no Fórum.

Ele foi ao Fórum.


Chegando lá, a doutora (Juíza)
começou a chamar-lhe a atenção:

___ Seu Mário, o senhor já é um homem aposentado. Não tem precisão de


fazer isso. O senhor é na verdade um “pouquista” que faz pouco caso da sua vida.
Pare de fazer isso!

A partir desse dia, seu Mário parou de desgalhar mangueiras de cabeça


para baixo.

Informante: Pedro Nascimento


8.4. O PRÉDIO DE AÇAIZEIROS

Na boca do rio Pracaxi,


certa vez, seu Mário fez uma
construção diferente. Ele pegou
vários açaizeiros e construiu um
prédio de dezoito andares.

Todos os navios, princesas5


que passavam por perto não
resistiam e fotografavam aquela
maravilhosa/espantosa
construção!

Informante: Pedro Nascimento

5
PRINCESA é um tipo de navio grande para turismo.
9. CASAS E FOGUETES

9.1. A CASA ALTA DO MÁRIO CURICA

Seu Mário Curica conta que tinha uma casa alta, muito alta. Dava até pra
ver de lá (Rua Capitão Assis, próximo ao atual bairro Santa Cruz) a procissão de
Nossa Senhora Santana, que passava pela avenida Rio Branco!

(Eta casinha alta!).

Informante: Benedito Guedes


9.2. PROMESSA QUASE BEM PAGA

Certa vez, Mário Curica, quando morava no interior, passando por uma
grande dificuldade, fez uma promessa. Se conseguisse a graça de que precisava,
soltaria um foguete de 40Kg de pólvora.

Conseguida a graça, Mário Curica foi pagar a promessa. Mas como, onde
colocar tamanha quantidade de pólvora? Ele pegou parte de um miritizeiro (a
metade e apenas uma banda) e fez o rabo do foguete. Após pronto o foguete, ele
o soltou. O foguete foi-se embora pro céu.

E o tempo passou. Quando Mário Curica estava na sua casa, ouviu um


barulho. Foi ver o que era e percebeu que era parte do seu foguete que tinha
voltado do céu. Chegou próximo ao foguete e viu um envelope com uma carta.
Abriu o envelope, leu a carta. Nela estava escrito o seguinte: “Da próxima vez que
pagares uma promessa, não faça um foguete desse tamanho para me importunar
aqui no céu. Ass: Jesus Cristo”.

Informante: Pedro Nascimento


10. HISTÓRIAS RAPIDINHAS

10.1. UMA MENTIRA RAPIDINHA


Mário Curica tinha a fama de ser muito engenhoso, muito criativo. Certa
vez, um amigo dele queria ver se ele era tão rápido em inventar histórias.

Mário Curica estava na beira de um igarapé. Seu amigo chegou e disse:

___ Mário, conta uma mentira rapidinho.

Mário Curica retrucou:

___ Pssss! Fala baixo. Uma paca acabou de pular n’água. Estou esperando
ela boiar. . . Espere aqui, compadre. Vigie enquanto vou a casa pegar minha
espingarda.

O amigo do Mário ficou esperando, esperando. . . Até de tarde e nada. Foi-


se embora. Quando ele se encontrou depois com Mário Curica, disse:

___ Mas Mário, eu fiquei esperando a paca até agora à tarde e não tinha
nada. Você me enganou!

Mário Curica replicou:

___ Não era para contar uma mentira rapidinho?

Informante: Francisca Amaral


10.2. ESPERANDO UMA PACA BOIAR
Mário Curica estava num casco na beira do rio. Passou o compadre dele e
disse:

___ Conte uma mentira sem pensar, seu Mário!

Mário Curica disse:

___ Cale a boca, compadre! Pulou aqui agorinha uma paca. Estou
esperando ela boiar. Fique aqui, compadre, que eu vou lá em casa buscar minha
espingarda.

O compadre ficou vigiando. Isso eram três horas da tarde. E o tempo


passou... E deram seis horas da tarde; e nada de Mário Curica voltar. O compadre
dele resolveu não esperar mais e foi embora.

Passou na casa de Mário Curica e viu que este estava se embalando na


rede. O compadre perguntou:

___ Compadre, o senhor não veio buscar a espingarda para matar a paca?

Mário Curica respondeu:

___ Não! O senhor não mandou eu contar uma mentira sem pensar?

Informante: Cristiane Aguiar


10.3. QUE SUSTO!

Seu Ataíde estava há um tempão tentando o seu Mário Curica para que lhe
contasse uma mentira. Só que o Mário não aceitava. Até que um dia. . .

Seu Mário ia passando pela avenida Presidente Getúlio. Era tarde e estava
chovendo. Seu Ataíde voltou a insistir na sua proposta:

___ Seu Mário, conte uma mentira!

Mário Curica disse:

___ Agora não posso, compadre. Inclusive eu tenho uma notícia, mas não
sei se posso lhe dizer. Mas eu vou dizer, tenho que dizer. Eu vinha passando pela
sua casa e sua mãe estava passando muito mal. Já tinham procurado um táxi
para levar ela no hospital e não tinham encontrado.

Seu Ataíde prontamente saiu para ir até a casa de sua mãe. Nessa hora,
não tinha chuva, não tinha nada que o impedisse. Quando seu Ataíde chegou lá,
sua mãe estava bem e olhando pela janela.

(Que susto para o seu Ataíde, não! Queria ouvir uma mentira e a ouviu.
Ainda bem que era só isso!).

Informante: Raimundo Farias


10.4. SEU RIBAMAR E MÁRIO CURICA

Certa vez, seu Ribamar estava sentado à beira do rio, próximo ao atual
posto São Benedito. Seu Mário Curica ia passando por perto e o seu Ribamar
disse:

___ Mário, vem cá. Conta-me uma mentira rapidinho.

Seu Mário respondeu:

___ Agora não dá, porque a dona Pequichita está te chamando. É para o
senhor ir lá na sua casa com ela.

O seu Ribamar foi falar com a dona Pequichita. Chegando lá, ele
perguntou:

___ O que foi, Pequichita?

Ela respondeu:

___ Não foi nada, Ribamar. Não estou te chamando.

(Seu Mário não perdia tempo. Inventava histórias e falava tão sério que
eram tomadas como verdade!)

Informante: Benedito Guedes


10.5. O PASSARINHO FUGIU. . .
O seu Tupinambá estava na frente da igreja Matriz. Quando o seu Mário ia
passando por perto, o seu Tupinambá lhe disse:

___ Seu Mário, me conte uma mentira rapidinho.

Seu Mário respondeu:

___ Agora não vai dar, não, compadre, pois o meu passarinho voou com
gaiola e tudo, e estou atrás dele!

Informante: Raimundo Farias


10.6. O JACARÉ NO BUEIRO
Seu Mário Curica vinha descendo a avenida Presidente Getúlio. Uma amiga
sua vinha subindo. (Naquele tempo, essa avenida não era asfaltada, mas tinha
um grande bueiro).
Ela pediu para ele contar uma mentira. Seu Mário se recusou. Foram
conversando. Chegando próximo ao buraco do esgoto (bueiro), ele deu um pulo.
Ela se espantou e perguntou:
___ O que foi, seu Mário?
Mário Curica respondeu:
___ Acabo de ver um jacaré entrando nesse esgoto. Fique aqui vigiando,
comadre, que vou lá em casa buscar um machado. Quando a água (do rio)
encher, o jacaré sai, e eu o pego.
Assim, seu Mário foi buscar o machado. A mulher ficou reparando. Ela ficou
lá, na beira do rio. Ia para um lado e para outro, até que alguém indagou para ela:
___ O que a senhora faz aí? Tá esperando barco?
Ela respondeu:
___ Não. Estou vigiando esse buraco, porque nele entrou um jacaré. O seu
Mário foi à casa dele buscar um machado e está demorando (era quase meio-
dia).
A mulher esperou, esperou. . . e nada do seu Mário voltar.
(Ela tinha pedido para ele contar uma mentira rapidinho... E foi o que
aconteceu.).
Informante: Raimundo Farias
11. OUTRAS HISTÓRIAS

11.1. CORRENDO ATRÁS DO PATO DO CÍRIO


Certa vez, seu Mário foi passar o círio em Belém. Ele ia levando pato para o
almoço do Círio. Chegando no porto, ele foi negociar com o taxista. Ele perguntou:

– Quanto você cobra pra me levar até a Basílica de Nazaré?

O taxista respondeu:

– Vinte reais.

E seu Mário voltou a perguntar:

– E quanto você cobra para levar o paneiro com pato?

O taxista respondeu:

– Não custa nada levar o pato. É de graça!

Então Mário Curica concluiu:

– Então você pode levar o pato que eu vou correndo atrás.

Informante: Simei Miranda.


11.2. UMA FOLHA DE ABADE6 FAZ TODA A DIFERENÇA

Seu Mário Curica conhecia sua casa como a palma de sua mão, ou melhor,
como a palma de seu pé. Este misterioso fato aconteceu quando ele ia subir na
escada de sua casa. Quando ele pisou com o pé direito no primeiro degrau,
imediatamente sentiu a diferença. Ele não continuou o percurso, ficou parado
procurando explicação para a diferença no degrau. Seu Mário disse:

– Alguma coisa está errada por aqui. O primeiro degrau desta escada está
mais alto. Ou a terra subiu embaixo da casa, ou o céu ficou mais baixo.

Foi aí que seu Mário teve a idéia de olhar para a sola da sandália que
estava usando... Quando ele foi olhar (adivinhem o que viu?), viu que havia uma
folha de abade presa na sola da sandália.

Informante: Davi Ferreira

6
Abade é uma folha pequena e bem fina de papel utilizada para envolver tabaco no preparo
caseiro de fumo.
SOLICITAÇÃO AOS LEITORES

Devido à expressiva criatividade e imaginação do senhor “Mário


Curica”, não seria de estranhar que aparecessem histórias e mais histórias cuja
autoria lhe fosse atribuída. Assim, se você conhece uma dessas histórias que
ainda não se encontra neste trabalho, solicitamos que nos procure e nos conte ou
a escreva e nos forneça. Dessa forma, estaremos contribuindo na definição de
uma cultura genuinamente brevense e na expansão da tão carente produção
bibliográfica local.

Leonildo Guedes
ALGUNS DOS NOSSOS CONTADORES DE HISTÓRIAS (COLABORADORES)

Ademir Neves
Ajax Guedes
Ana Kátia Lopes
Benedito Guedes
Davi Ferreira
Enilda Pereira
Francisca Guedes
Gleiciane Barbosa
Helena Souza
Janilson Ladislau
Jhonai Bitencourt
João Guedes
Maria Lucicleide Souza
Neuzilene Aquino
Patrícia Silva
Pedro Nascimento
Raimundo Farias
Rogério dos Anjos
Sebastião Oliveira
Simei Miranda
NOSSOS TRANSCRITORES AUXILIARES7

01. Ademir Neves (professor)


- O “pum” do jacaré
02. Benedita Rodrigues
- Um dia de sorte
- A Cobra-Grande persegue Mário Curica
03. Cristiane Aguiar
- Esperando uma paca boiar
04. Josely Costa
- Eta peixão!
- A bacabeira da anta
- Misturando as peças (7.3)
05. Maria Urbano
- O casco sumiu
06. Ronaldo Souza (professor)
- Bom de vista
- Formiga ou mucuim?
07. Rosely Lobato
- Tirando bacaba sem sair do chão
- Foi a Cobra-Grande?
- Mais rápido que um martelo
08. Samara Brasil
- A Cobra-Grande engole tudo
- Assando peixe embaixo d’água
09. Simone Rocha
- Quase caolho!
10. Valdirene Corrêa
- Espingarda mágica
7
Com exceção dos professores, os demais transcritores foram alunos do professor Leonildo
Guedes (4ª série/2002).
Ninguém é, sem ter se feito assim.
Kierkegaard

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