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BREVES – PARÁ
2002
MÁRIO CURICA
MÁRIO CURICA
BREVES – PARÁ
2002
DEDICATÓRIA
Tão criativo,
Tão inteligente,
Tão lutador,
Tão sonhador,
Tão esperançoso e
Estimulado e
Auxiliado;
À senhora Erundina Monteiro da Silva, filha do senhor Mário Moreira da Silva, que
mui gentilmente me recebeu em sua casa, respondendo às
minhas perguntas e me doando uma foto de seu famoso e
benquisto pai.
Jorge Larrosa
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO...................................................................................... 03
1.6. A aposta.......................................................................................... 17
2. UM DIA DA PESCA. . .
3. CAÇADAS E AVENTURAS
3.2. A disputa.......................................................................................... 19
4. LENDAS NO CAMINHO
5. VISÃO FANTÁSTICA
5.4. Os mucuins...................................................................................... 29
6. NÚMEROS PRECISOS
9. CASAS E FOGUETES
Boa leitura!
Leonildo Guedes
Breves (PA), 19 de novembro de 2002.
SÍNTESE BIOGRÁFICA DE “MÁRIO CURICA” 1
A alcunha “Mário Curica” advém do apelido do seu filho Antônio: este era
chamado de “Curiquinha”, pois tinha os dedos parecidos com os dedos de uma
ave da região chamada de “curica”. Portanto, a partir do apelido do filho, veio a
apelido do pai: Mário Curica.
Foi pai de dez filhos, dentre os quais seis estão vivos: Maria de Nazaré,
Raimundo, Antônio, Rosendo, Maria e Erundina (a caçula, que tem hoje 59 anos
___ quando vieram morar na cidade, Erundina tinha apenas três anos de idade).
As pessoas adoravam ouvir suas histórias. A frase que sempre ouvia era
“conte uma história rapidinho, seu Mário”. Em muitos carnavais brevenses, seus
amigos e admiradores o homenageavam: saíam vestidos a estilo “Mário Curica” e
sempre o procuravam nessa época para ouvir suas brilhantes histórias.
1
Síntese biográfica elaborada a partir de informações fornecidas por Erundina Monteiro da Silva,
filha do senhor Mário Moreira da Silva, casada com o senhor Sandoval Pereira Lima. Data da
entrevista: 05 / 11 / 02.
Sua característica principal era ser um grande contador de histórias.
Também, duas de suas características marcantes era usar chapéu de palha e uma
saca de lona embaixo do braço; às vezes, também era visto com terçadinho na
mão.
Sua esposa faleceu em 1983 (aproximadamente).
Nos últimos anos de sua vida, residia no bairro da Castanheira. Foi
acometido de derrame. E no dia 12 de maio de 2000, aos 102 anos de idade, veio
a falecer. Morre a pessoa, mas ficam suas histórias povoando o imaginário
popular brevense, histórias essas que, devido a sua notoriedade local, podem ser
consideradas como patrimônio histórico-cultural brevense.
Industrial S. A.). Ele correu e saltou dentro d’água. Quando ele ia chegando na
água, foi engolido por um jacaré que estava de boca aberta esperando por ele. E
Assim, Mário Curica conseguiu se safar porque foi expelido pelo “pum” do
jacaré.
(Acredite se quiser!).
Certa vez, Mário Curica estava tomando banho à beira do rio. Quando
prontamente pulou atrás para pegá-lo. Quando ele boiou, ficou espantado, pois
estava num trapiche de Belém e... (detalhe) estava com o sabonete na mão!
olhou para o rio Parauaú, viu um jacaré enorme submergindo. Seu Mário Curica
não resistiu e quis pegar o jacaré. Pulou atrás dele e mergulhou tão
perto de Melgaço!
(Haja fôlego!).
Tchibum! Rapidamente, ele pulou na água atrás do martelo para pegá-lo. Quando
Certa vez, seu Mário Curica estava tomando banho na beira do rio Pracaxi.
água estava “vazando”. . . Para poder se molhar melhor, ele passa um pouco à
cabeça, percebe que já está perto da vila de Corcovado. Quando olha para baixo,
Certa vez, seu Mário Curica foi desafiado. Um funcionário de uma serraria
apostou com ele que não conseguia chegar nadando da serraria até o trapiche
Mário estava perto de chegar ao trapiche, ele cansou e resolveu voltar nadando
para a serraria.
pesca no seu pé. Nesse instante, um peixe foi fisgado, puxou a linha e levou Mário
Curica com tudo para o fundo do rio. O peixe o arrastou por uma boa distância, até
que Mário viu um enorme tronco no fundo do rio, agarrou-se a ele e conseguiu
linha de pesca segura, Mário Curica saiu por terra e foi providenciar um guindaste
para puxar o enorme peixe. Assim, o guindaste puxou o peixe: era uma enorme
Mário Curica e seu filho foram lanternar num igarapé. Chegando lá, um
peixe bastante grande bateu no casco e a lanterna caiu na água. Mário Curica
pulou atrás da lanterna e pra lá ficou. Demorou, demorou. . . E seu filho pulou
atrás dele. Quando ele chegou lá no fundo, Mário Curica já estava assando o
peixe!
Seu Mário foi caçar com dona Maria. Sua espingarda tinha apenas um
cartucho.
Saíram pelo mato. Não havia caça. Andaram muito até que encontraram um
tucano num galho de uma árvore. Seu Mário atirou. “Pêi!” Matou o tucano e lá se
onça pintada. Nesse momento, dona Maria estava se borrando de medo. Seu
Mário colocou dona Maria e a espingarda sem cartucho num canto. Deu a volta
em umas árvores. E a onça não parava de olhar pra ele, piscando. Seu Mário
avança sobre a onça e bate uma mão contra a outra. “Plá!” Nisso, a onça abre
bem a boca e avança sobre ele. Seu Mário mete o braço pela boca da onça (mete
na sua frente uma onça. Ele prontamente se prepara. Quando a onça abriu a boca
para agarrá-lo, ele apertou o gatilho. . . O tiro entrou pela boca e saiu pelo rabicho
da onça ___ passou direto (Essa onça teve uma sorte, hein!).
O seu amigo também contou a sua. Ele estava caçando no mato. Quando
se espantou, uma onça pulou sobre ele. Sua espingarda caiu. A onça abriu a boca
para pegá-lo; nisso, o homem meteu o braço na boca da onça e a puxou pelo
avesso!
onças. Porém, estava enrascado, pois só tinha uma bala na sua espingarda.
Então, o que fazer? Se ele conseguisse matar uma das onças, ficaria desarmado
Seu Mário teve uma idéia! Fincou o seu terçado no chão (com o fio da
lâmina em sua direção); esperou que as duas onças ficassem próximas uma da
outra; mirou para as duas onças, tendo o fio do terçado entre sua espingarda e as
onças; e atirou. “Pêi!” Quando a bala foi projetada, acertou o fio do terçado,
Pronto! Assim, com uma bala, Mário Curica consegue matar duas onças!
mato.
Mário se lembrou, então, que a bacabeira em que estava tinha surgido do caroço
Saindo do jupindazeiro, seu Mário dá falta de seu olho. Ele passa a mão no
olho e só sente o buraco dele. Assim, resolveu voltar para ver se encontrava ele.
Voltando, ele vê que um de seus olhos está preso num espinho. Ele tira o olho do
espinho e coloca no lugar dele. Porém, ele coloca do lado errado: a parte que nos
possibilita ver ficou para dentro; assim, ele viu seu rim, fígado e “bobó”. Para
endireitar o olho, ele o amassa pelas beiras até ficar normal.
2
JUPINDAZEIRO é um emaranhado de cipós – chamados “jupindás” – com espinhos grandes,
Mário Curica e seu filho foram para o interior. Quando chegaram lá, seu
Mário pegou uma espingarda e foi para o mato. Chegando lá, ele atirou num
Mário Curica correu para a casa dele para buscar uma enxada para cavar atrás do
macaco. Porém, para ele voltar para casa rapidamente, tinha que fazer um atalho
no mato. Correu muito pelo mato e, de repente, viu que estava descendo sangue
da sua cara e percebeu que só estava com um olho. Assim, voltou e viu seu olho
Mário Curica estava contando para seu compadre que certa vez tinha
O compadre perguntou:
Ele matava urso preto com dois tiros e o urso branco, com um. No mato, ele
avistou um urso preto, armou sua espingarda e... Pêi! Pêi! Deu dois tiros no urso e
o matou. E continuou a caçada. De repente, ele avistou outro urso preto e só tinha
assim o urso tinha forças para matar seu Mário. Foi aí que ele teve uma idéia.
medo. Foi assim que Mário Curica, com um tiro, matou um urso preto que tinha
ficado branco!
árvore vinte papagaios. Pegou sua espingarda e um cartucho com vinte bagos de
chumbo. Mirou bem no meio deles e atirou. Pêi! Começou a cair papagaio para
todos os lados. Mário Curica foi conferir e tinha dezenove papagaios abatidos.
Nisso, ele começou a ouvir um zumbido. Zum! Zum! Zum! Ele parou para observar
o que era e conseguiu ver um bago de chumbo passando de um lado para outro,
Numa de suas viagens, Mário Curica tinha vendido a borracha e vinha com
a proa do barco cheia de alimentos. Vinha remando que só ele. . . Até que viu ao
longe o Fogo-do-Mar3. Ele ia remando cada vez mais rápido, e o Fogo-do-Mar ia
se aproximando, se aproximando. . . Até que o alcançou. Quando o Fogo-do-Mar
passa pelo Mário, leva consigo a mercadoria do barco.
Assim, Mário Curica não podia voltar para sua casa sem nada. Então,
resolveu voltar para comprar mais alimentos. E haja a remar. Umas duas horas
depois, Mário percebeu que o Fogo-do-Mar estava voltando, até que o alcançou.
Ao chegar perto do barco, o Fogo-do-Mar devolveu o que tinha pegado do Mário
Curica e disse:
___ Eu só estava brincando contigo, Mário! Pode voltar em paz para sua
casa. Só que você vai ter que remar mais. . . Muito mais.
3
FOGO-DO-MAR é um negrinho envolto em muitas chamas que aparece na baía.
4.2. A COBRA-GRANDE PERSEGUE MÁRIO CURICA
Um dia, Mário Curica tinha que vir a Breves. Vinha em seu reboque a remo,
junto com o seu filho amado, trazendo para vender um cacho de banana, um
porco e um paneiro de farinha.
Viajava tranqüilo pelo rio de Breves, até que foi abordado por uma cobra-
grande. Ele remou, remou. . . Mas a cobra logo o alcançou. Ele jogou o porco e o
cacho de banana, e a cobra engoliu. Mas a cobra continuou a persegui-los até
alcançá-los. Ele logo jogou o paneiro de farinha, e a cobra também o engoliu. Mas
continuou a correr atrás dele. Ele, já próximo da beira, jogou um banco do casco,
e a cobra engoliu. Mas continuou a perseguir. Vendo que não havia jeito, jogou se
filho amado, e a cobra engoliu. Enfim, parou a perseguição.
E continuou a viagem muito triste. Ao chegar em Breves, haviam matado
uma cobra-grande. Ele falou sobre o que tinha acontecido e logo partiram a cobra.
Dentro dela estava seu filho amado sentado no banco, comendo banana e
jogando a casca para o porco.
(Que sorte, não!).
chegaram ao meio do rio, havia uma cobra de boca aberta. Mário Curica jogou um
seu filho; a cobra engoliu os dois. Em seguida, a cobra começou a comer o casco
com Mário Curica e tudo. Quando ele chegou dentro da barriga da cobra, viu seu
4
FAZER TIPITINGA: revolver a terra do fundo do rio, igarapé – parte rasa –, tornando as águas
turvas, sujas.
5. VISÃO FANTÁSTICA
Mário Curica foi à Belém. Chegando lá, ele foi à avenida Presidente Vargas.
De repente, ele observou que o edifício Manoel Pinto da Silva (até então o edifício
mais alto de Belém) estava torto. Ele saiu correndo; foi até a beira do rio, pegou
alguns braços de miriti e escorou o prédio que estava torto, para que não caísse.
Havia um homem que estava fazendo uma vistoria nos prédios da frente da
cidade de Breves. Nesse momento, seu Mário ia passando por perto. O homem da
vistoria resolveu tirar um sarro da cara dele. O homem perguntou:
___ Seu Mário, estou vendo na ponta daquele pau um mucuim. Eu quero
agora que o senhor me responda: ele está sentado ou em pé?
Mário Curica foi o primeiro morador da atual rua Capitão Assis. Naquele
tempo, existia só a sua barraquinha e muito
mato. No quintal de sua casa, havia um
mamoeiro carregado de mamões. E é
nesse mamoeiro que se passou este fato
curioso.
___ Tu achas que por causa de um periquito eu vou contar uma mentira?
___ Olha gente, acabei de ler numa revista uma reportagem que fala que
encontraram uma tartaruga que pesava cento e quarenta e nove quilos e meio!
___ Você acha que por causa de meio quilo eu vou contar uma mentira?
Ele saiu à tarde para caçar. Quando estava caçando, viu um veado e atirou.
A espingarda fez “pe-lec-pe-lec! Rádio Clube do Pará”. E a caça fugiu.
E o rádio ficou em casa. Quando a sua mulher foi ligar o rádio, fez “pêi! Pêi!
Pêi!”, e ela prontamente o desligou. Quando Mário Curica chega de sua caçada
sem sucesso, sua esposa lhe fala:
___ Mário, eu acho que o Brasil está em guerra. Quando eu liguei o rádio,
só ouvi barulho de tiro.
Numa certa manhã, um rapaz foi levar um rádio para ele consertar. Depois,
outro foi levar uma espingarda. Ambos queriam os objetos consertados para à
tarde. Assim, apressado, o técnico foi consertar os dois ao mesmo tempo.
Primeiro desmontou o rádio, depois a espingarda. Na hora de montar, misturou as
peças do rádio e da espingarda. Mas montou assim mesmo.
Mário Curica foi consertar uma espingarda e um rádio só de uma vez. Ele
colocou a peça do rádio na espingarda, e a peça da espingarda no rádio. Depois,
ele foi caçar.
Quando ele estava no mato, sua mulher ligou o rádio e aí era tiro pra todo
lado. A mulher dele disse:
___ Ai! Minha Nossa Senhora! Tão só numa guerra! Vou desligar o rádio.
Seu Mário Curica foi para uma caçada. Enquanto descansava, tirou o
relógio do pulso e deixou numa arvorezinha. Seu Mário se esqueceu e foi-se
embora.
Muito tempo depois, passando por onde tinha esquecido o relógio, ouviu um
barulho: “tic, tac”. Olhou para o alto e viu o seu relógio preso num galho de uma
árvore. “Tic, tac”.
Certa vez, Mário Curica e seus companheiros foram tirar madeira do fundo
do rio. Chegando lá no fundo, Mário viu que estava muito escuro. Ele subiu para a
beira do rio e pediu uma lamparina aos seus companheiros. Deram a lamparina.
Ele a levou para o fundo do rio e ficou, assim, trabalhando no claro!
Certa vez, Mário Curica trouxe uma grande quantidade de palha do interior.
Era tanta palha que, logo após o embarque, não se podia ver o barco. Mas tudo
bem. O barco partiu do interior com destino à cidade. E o Mário Curica veio em
cima das palhas (esse barco não tinha motor).
Mário Curica foi tirar palha na ilha de Melgaço. Ele tirou um monte de palha.
Colocou em cima de seu casco e subiu em cima dele. Vem remando até em
Breves. Ao chegar em Breves, ele foi olhar para baixo das palhas e viu que o
casco não estava mais lá. Então, ele pensou: “eu vim lá de Melgaço só em cima
das palhas”. Depois, ele começou a rir.
Mário Curica tinha um disco de vinil. Esse disco caiu de suas mãos uma vez
e quebrou-se. Aborrecido, ele jogou o disco lá pro meio do mato. Esse disco ficou
preso numa árvore de espinho (tucumãzeiro). Quando dava vento, uma folha com
espinho dava no pedaço de disco, saindo a música “o que é meu, é teu. O que é
teu, é meu”.
Assim, sempre que dava vento, ouvia-se parte da música lá para as bandas
do tucumãzeiro: “o que é meu, é teu. O que é teu é meu”.
Seu Mário Curica tinha um disco que se quebrou. Ele morava numa tapera
no meio do mato. Então, ele pegou o pedaço de disco e jogou lá para o meio do
mato, caindo sobre uma folha de uma árvore. Certo dia, ele ouvia um som que
vinha do mato: “Cantareira, Cantareira”. Mário foi ver o que era. Olhou para o alto
de uma árvore e viu algo inusitado: quando o vento dava, o espinho de uma folha
dava no pedaço do disco (no sentido vai-e-vem) e o som saía: “Cantareira,
Cantareira”.
Mário Curica não estava em casa. Quando ele chegou, fugindo do temporal,
sua mulher lhe falou:
E o Mário respondeu:
___ Logo agora mulher! Na hora desse tempo! É... Mas eu vou atrás.
Assim, Mário Curica saiu pro mato e achou a bacabeira com cacho. Porém,
ele não sabia subir na árvore. O que fazer então? Mário teve uma idéia! Como
estava dando uma ventania, resolveu esperar o vento entortar a bacabeira. E
então aconteceu: deu um vento forte que entortou a bacabeira; esta arriou a copa
até o chão. Nisso, Mário Curica aproveitou para cortar, do chão, o cacho da
bacaba.
Certa vez, Mário Curica subiu numa bacabeira com uma peconha. Quando
estava lá em cima, perto do cacho de bacaba, ouviu um tiro. “Pêi!” Quando se
espantou, viu que a bala vinha em sua direção. Nisso, ele girou a bacabeira e o
tiro pegou nela.
5
PRINCESA é um tipo de navio grande para turismo.
9. CASAS E FOGUETES
Seu Mário Curica conta que tinha uma casa alta, muito alta. Dava até pra
ver de lá (Rua Capitão Assis, próximo ao atual bairro Santa Cruz) a procissão de
Nossa Senhora Santana, que passava pela avenida Rio Branco!
Certa vez, Mário Curica, quando morava no interior, passando por uma
grande dificuldade, fez uma promessa. Se conseguisse a graça de que precisava,
soltaria um foguete de 40Kg de pólvora.
Conseguida a graça, Mário Curica foi pagar a promessa. Mas como, onde
colocar tamanha quantidade de pólvora? Ele pegou parte de um miritizeiro (a
metade e apenas uma banda) e fez o rabo do foguete. Após pronto o foguete, ele
o soltou. O foguete foi-se embora pro céu.
___ Pssss! Fala baixo. Uma paca acabou de pular n’água. Estou esperando
ela boiar. . . Espere aqui, compadre. Vigie enquanto vou a casa pegar minha
espingarda.
___ Mas Mário, eu fiquei esperando a paca até agora à tarde e não tinha
nada. Você me enganou!
___ Cale a boca, compadre! Pulou aqui agorinha uma paca. Estou
esperando ela boiar. Fique aqui, compadre, que eu vou lá em casa buscar minha
espingarda.
___ Compadre, o senhor não veio buscar a espingarda para matar a paca?
___ Não! O senhor não mandou eu contar uma mentira sem pensar?
Seu Ataíde estava há um tempão tentando o seu Mário Curica para que lhe
contasse uma mentira. Só que o Mário não aceitava. Até que um dia. . .
Seu Mário ia passando pela avenida Presidente Getúlio. Era tarde e estava
chovendo. Seu Ataíde voltou a insistir na sua proposta:
___ Agora não posso, compadre. Inclusive eu tenho uma notícia, mas não
sei se posso lhe dizer. Mas eu vou dizer, tenho que dizer. Eu vinha passando pela
sua casa e sua mãe estava passando muito mal. Já tinham procurado um táxi
para levar ela no hospital e não tinham encontrado.
Seu Ataíde prontamente saiu para ir até a casa de sua mãe. Nessa hora,
não tinha chuva, não tinha nada que o impedisse. Quando seu Ataíde chegou lá,
sua mãe estava bem e olhando pela janela.
(Que susto para o seu Ataíde, não! Queria ouvir uma mentira e a ouviu.
Ainda bem que era só isso!).
Certa vez, seu Ribamar estava sentado à beira do rio, próximo ao atual
posto São Benedito. Seu Mário Curica ia passando por perto e o seu Ribamar
disse:
___ Agora não dá, porque a dona Pequichita está te chamando. É para o
senhor ir lá na sua casa com ela.
O seu Ribamar foi falar com a dona Pequichita. Chegando lá, ele
perguntou:
Ela respondeu:
(Seu Mário não perdia tempo. Inventava histórias e falava tão sério que
eram tomadas como verdade!)
___ Agora não vai dar, não, compadre, pois o meu passarinho voou com
gaiola e tudo, e estou atrás dele!
O taxista respondeu:
– Vinte reais.
O taxista respondeu:
Seu Mário Curica conhecia sua casa como a palma de sua mão, ou melhor,
como a palma de seu pé. Este misterioso fato aconteceu quando ele ia subir na
escada de sua casa. Quando ele pisou com o pé direito no primeiro degrau,
imediatamente sentiu a diferença. Ele não continuou o percurso, ficou parado
procurando explicação para a diferença no degrau. Seu Mário disse:
– Alguma coisa está errada por aqui. O primeiro degrau desta escada está
mais alto. Ou a terra subiu embaixo da casa, ou o céu ficou mais baixo.
Foi aí que seu Mário teve a idéia de olhar para a sola da sandália que
estava usando... Quando ele foi olhar (adivinhem o que viu?), viu que havia uma
folha de abade presa na sola da sandália.
6
Abade é uma folha pequena e bem fina de papel utilizada para envolver tabaco no preparo
caseiro de fumo.
SOLICITAÇÃO AOS LEITORES
Leonildo Guedes
ALGUNS DOS NOSSOS CONTADORES DE HISTÓRIAS (COLABORADORES)
Ademir Neves
Ajax Guedes
Ana Kátia Lopes
Benedito Guedes
Davi Ferreira
Enilda Pereira
Francisca Guedes
Gleiciane Barbosa
Helena Souza
Janilson Ladislau
Jhonai Bitencourt
João Guedes
Maria Lucicleide Souza
Neuzilene Aquino
Patrícia Silva
Pedro Nascimento
Raimundo Farias
Rogério dos Anjos
Sebastião Oliveira
Simei Miranda
NOSSOS TRANSCRITORES AUXILIARES7