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Issues Reysta BRASILEIRA OE CIENCIAS CRIMINAIS no #0 106 9-018 Prsiseie sna Sao Maun Comes coercers36 isc fous ‘osclsurciee cet Reva ozam dls gla oerace de pit ee rts, cabendodtes = reograbiae at eave cncetos emtisos em sve rots, = eaghn eerie ae NTORS RESTA DOS TIBUNAI LOS, Dyes eons (sete Par Tas aeice400 = Fe 1 3615-450 (ep i36-00 Se Pau Sto rauo- ers 1000505 ORENOS RESERVADOS Poti 2 erode {Baleu peal gor gunperme a reseso = be 11998 ‘Pat De RELACONAYENTO RF (straint, er gazes dn B38 179 Ye, on. 702-208, Seaecomer Inslarigoamonsonreute.com nese Brn (00-2018) evento deseo: (20082013 CRIMINOLOGIA CRITICA: DIMENSOES, SIGNIFICADOS E PERSPECTIVAS ATUAIS Citic criminology current dimensions, meanings and perspectives ‘Sato pe CARVALHO oo eis do Parana or G-asain esate Dour «ese SE an 058 ren vo Dans eso: A investigate assert os furs Amacr: Tre rene onsets te pa Tren poltecsecetetgeres wore de foastors sre ete! baogesré oh Cimrologinestacomseererciave nea al criacgy oteyelerevts to gute ‘ssztnea 0 ogca purivita as eccesses de jisnmert ead Ure corenpets A gat ab sie ou; motes scely Thug the Sos pramunesen tte edo derehe Gos trowel surgtons and. he ate" ator Gos bescueneas sokcociriny tee or te goseabctninaunfodng laterraie tps saga eens ere o sesame Pauassacnn Co Giron Desserivanis = F. Puri cane ise merci igce cimersesnsniies «3 Ciro Snuine | Oremaee provi =? Cia ‘Ccomiraigactiien ciecloge UGgociics peagemnarneness gees 280 Rossa Be writs of Ctncis Coraness 2013 © RECOR 104 e pros as poticas criminals atematves [agenda posit _iminologa cries tora cminalogia doe Geites humanos 5. Consideragoes tins & 1. O Tema E 0 PROBLEMA 1.1 Um questionamenta mouvou a redacao deste texto: qual « atualidade da criminologia critica? No entanto para responder a esta pergubta uma anterior se fer presente: o que ¢ a criminologia critica? Se a primeira indagacao parece extremamente pertinente, a segunda é posta como uma espécie de provocacio, sobretudo porque apesar de o terme criminologia critica ser utilizado de forma usual nos trabalhes academicos da drea, os seus fundamentos os seus pressu- ;postos parecem nao ser suficientemente exploraclos, Ortrabalho procura, pois, investigar es saberes que possibilitaram a consolida a0 da critica criminologica como movimento orginico, apresentar os principals temas de investigaedo, abordar os problemas centrais na formago do seu ntcleo teorico ¢ delinear os seus alcances politico-criminais, A constrgdo de-um acor do prévio acerca do significado da criminologia eritica permite, em uim segundo momento, avaliar a sua atualidade, notadamente no que tange & contribuigao do discurso critica na interpretacao dos sintomas sociais contemporaneos, 1.2 problematizacio acerca da avuatidade (ou do esgotamento) desta pers- Pectiva criminolégica ¢ realizada a partir do reconhecimento da crise que atin ght o pensamento critico em geral, ¢ criminolégico em particular, a partir das mudangas no contexto geopolitico que ocorterarn no final da década de 80 No entanto, para além da crise de paradigmas, dois fendmenos concretos servem como tema de analise acerca da validade do pensamento criminolgico critica na contemporaneidade: primero, oatual panorama de erescimento glo- bal dos indices de encarceramento; segundo, as tendéncias poltico-criminais de conversto do pensamento criminolégico em acao administrativa na érea da seguranea publica Neste cendrio ¢ enfatigada a relevancia da criminologia critica como discurso de resistencia a0 punitivismo e, a partir de seu esireito vinculo com a pauta dos movimentos de protecdo aos direitos humans, analisam-se os seus desdobra. ™menios tedricos (Novas correntes eriticas) e as suas projecdes politico-criminais, 2. CrIMINOLOGIA CRITICA: DIMENSOES HISTORICAS 2.1.A consolidagao da criminologia critica a partir da década de 70 do sé culo passado representa o momento de superacio de uma perspectiva micro Crome €Soorome 281 para wma compreensio macrocriminoldgica no interior das ciéncias criminais Nesse sentido, dois antecedentes teoricos fornecerao importantes inovacoes ‘na pesquisa criminologica: o labeling approach (criminologia da reagéo social, teoria do etiquetamento ou rotulacionismo) €as teorias do conflito, Baratta percebe que é com o labeling approach que o centro do problema ct: ‘minologico se desloca das causas da criminalidade para as definigdes do com: portamento slicito (criminalizacao primaria), os seus pressupostos politicos e 1s efeitos sociais da aplicacio desta etiqueta, pois a ctiminalidade passa a ser entendida como uma qualidade ou um status que se aplica a determinados in dividwos.' Assim, embora e teoria do etiquetamento nao seja ume condicao su fictente, ¢ uma condicdo necesséria para a consolidacao da criminologia critica No momento em que Becker questiona a definigao de desvio,o pressuposto causaldeterminista do crime, a natureza patolégica do desviante © os dados oficiais acerca da criminalidade (estatisticas criminals), imicia-se um proces- so de mudanca paradigmatica que sera irreversivel na criminologia contem. pordnea (criminological turn). 0 afrmar que 0 desvio no é wina qualidade do ato ou da pessoa que o pratica, mas a consequéneia de um rétulo aplica do (o desviante € alguém a quem um rotalo fo} saisfatoriamente aplicado comportamento desviante ¢ 6 comportamento que a5 pessoas rotularn como desviante”)," Recker desestabiliza as bases da criminologia ortodoxa de matriz Dositiviste que pressupunha serem neutras as definicdes legals e os processos de atribuicio de responsabilidade que quabiicam como anormais determins- das pessoas ¢ icitos certos comportamentos. [Na precisa andlise de Baratta, com 0 labeting approach ocorre a desretficactio dos conceitos de desvio ede criminalicae. A crimnologia ortodoxa (paradig- 1a etiologico), ao explicar o delito a partir de um modelo causal-naturalista reifcow os resultados dos processos de ctintinalizacdo (debnicbes legis e atu- acao das agencias de controle), no momenio em que considera o debito come um fen6meno que exisic independemente da sua definicao ~ “€ o que ocorte efetivamente na erimminologia ‘tradicional, na qual gevalmente a5 normas € as valoracdes socias restam estranhas do objeto de indagacio"* 1, Baars, Alessandro. Criminolegia erica e crtica do deli peo. Rio de Janno: Re van, 1997, 108 2 Bacarn, Alessandro, Che cosa ¢ la esminologa critic? Ded Delite delle Pomme 1/53, 3, Bo.sux, Howard. Outsiders: studies in the scilogy af deviance. New York Free Press 1991p. 4 Parata, Alessandro. Che 08a. cit, 9.3 282 Revista Braschi ve Ctncus Ci 6 2013 * RECO 104 Chae tSocensoe 288 pectiva macrocriminoligica m que 0 Toco se desprenda rma de controle Ocorre, porém, que apesar de o labeling approach ter possPbilitado este sa 2.20 segundo impulso na mudanca paraa tativa, o modelo permanecia insuficiente ern razao de desconsiderar as 7e- €fornecido pelas teovias confluas, pois possi lagdes de poder que permitem que certas pessoas, grupos ou classes, detenham da anilise do desviante ¢ do desvio ¢ se direcionado 20 si em utna determinada sociedade, « capacidade de eleigdo das conchtaslicitas € social, Assim, as teorias do canflito permitem que a investigagdo criminlé- nas, dos comportamentos normals e anormals. sce incorpore (a) as condigoes de producao das leis penals incriminadoras esse quadro,lembra Shecaira, que a teoria da rotulacdo, a mais proxima ¢ (agencia legislava) ~ “se a criminologia deve progredir coma cigncia, ela deve contemporénea das teorias criminolégicas, nlo escapou as criticas da crimino- ser livre para questionar as causas ndo somente do erime, mas, também, das Toga critica.” Em dislogo com Victor Sancha Mata, Baratta procura ensmerar os normas que, em um sentido primario, criam o crime ~ isto é, normas legais" efeitos da mistificacto do approach, o que de certs forma sintetiza grande (b) a forma seletiva de atuagao das agencias executivas e judiciais na gestao parte dos problemas do rotulacionisme apomiados pela erminologia critica: (.”) € no controle da populacao criminalizada 4 perspectiva subjetivsta (idealista) poderia conduzir a sub ow a desvalorizacao dos problemas reais e das efetivas situacoes de sofrimento, agressées ow injusti- ; (2°) relativa auséncta de problematizacio da for- 'ofusearia 0 reconhecimento que ferencia nao produz sohgbes satisfatdrias; ao contrario, normal: Em decorréncia da redefinicao e da ampliacio dos objetos de investigacio criminologica, ingressam no horizonte de pesquisa as “estrururas gerais da sociedade € os conflitos de interesses e de hegemonia’.” Se © labeling approach havia superado 0 causalismo (determinismo) € co- mente repradzviolenciase cria novos conflitos decorrenesdaestigmatizacao © locado em perspectiva a dimensto da defnica, as teorias do conilio poem em da marginalzacio: (3°) falta de percepeto do carstreeletivo do iteito penal cena a dimensio do poder. Ocorre, portanto, 0 segundo salto quaitativo que timpeditia notar que crimializagno¢ diceionada aos mndidos pertencentes cria 6 ambiente tdrico pare» einetgenicia da criminologia citica ~ "quand, 208 grapos mals vullnervis e exchuidas da sociedade® slemda’dimensio da defnigi’ € suficientemente desenvolvida a dineusto do De forma mais aguda, Cirino dos Santos entende a teoria do etiquetamento como “(...) politicamente limitada e historicamente confusa nao compreende a estrutura de classes ca sociedade, nao identifica as relagbes de poder pol ede exploracao econsimica (e sua interdependéncia) do modo de producso do desvio e 0s efeitos nepativos desivados da ingerencia do sistema punitive, pao que evidenci osgaifiat CO estudo do comportamento desviance. ilberi (org). Desvioe avergencla: wma erica da parologia soil. 6. ed lo de Janeine: Zahar, 1985, p. 11-28; Vezno, Gilbert. F Aesviante em Copacabana. In: Vetno,Gilbero (org). Des {la patologia socal. 6. e8. io de janeiro ier (rg), Deioe deg Zaha, 1985. p. 125-144 ressos de atrbuigaa de et rabi}idade), Zrrasont, Eugenio Bail evan, 1991. p. 270-277; Zar 1. Rio de Janeie: Revtn, 2003, das de seguranca no deta pina brasicv. Sao Paul: Saraiva, 2013. p. 230238) 9. Tae, lan; Watios, Paul, Yours, Jock, Criminologia critica ua Inglatezea, In Porém, nests estudos realiza- (orgs). Crimsinolgiaertca. Rio de Janeiro: Graal, 1980. p. ecada de 70, jie rporacao da andlise das be. ioe procestos de Tematizacio da constraea 10, Banas, Alessandro. p48, poder. so realizadas as condigdes mfnimas, segundo os critérios de classifi- cago que proponho, para que se possa qualificar como ‘critica’ uma teoria do desvio e uma criminologia™." As teorias do conflito, porém, nos termos indicados por Baratta, ainda ca- receriam de uma analise que possibilitasse a individualizacao das condicies estruturais da sociedade no local em que os grupos efetivamente interagem & se confrontam." A investigagao sobre as relagaes de poder e disputas pela he- gemonia estariam restritas exclusivamente a esfera politica, citcunstincia que poderia criar um distanciamento com 0s conflitos concretas A problematizagao ¢ tentativa de superagio desta concepgao abstrata dos cconflitos ocorrem a partir da afirmagto do materialism historico como méto: do de analise dos temas criminologicos. A criminologia critica se afirma, pois, em seu momento de ebulicio, come uma criminologia materialista na qual a natuteza € 0 conteido do crime e da lei nao podem ser compreendidos fora de ‘uma perspectiva historiea que “(.) revelaa primazia nao do pensamento legal mas das condicdes materiais, como determinantes das mudangas normativas em geral, e de normas criminais e legais em particular”, Nesse sentido, as te orias conflituais sao percebidas como deficitatias, pois apenas 0 materialismo ico, como metodo de anzlise das relacoes de poder, permitiria perceber el “proceder anilises sobre a base de categorias gerais (ais como ‘produeao’), argumentando, a0 contririo, que somente existem formas de producto distintas, historicamente limitadas, especificas a dadas épocas ¢ critica emerge, portanio, como uma perspectiva crim noldgica orientada pelo materialismo (método} que, ao incorporar os avancos as teorias rotulacionistas ¢ conflituais, refuta os modelos consensuais de so- ide © 08 pressuposios causais explicativos da eriminalidade de base crossociologica (ctiminologia ortodoxa) ¢ rediteciona o objeto de investigacio. aos processos de criminalizagao, a aluacao das agéncias do sistema penal e, sobretuddo, as relagdes entte estrutura politica ¢ controle social falmente desenha alguns gos Alessandro, Che cosa... Alessandro. Ch 13, Tonos, lan; Wao, Paul You, Jock, 14, Idem, p. 62. te, fundada no marxismo classico, abordar temas proprios como lei, classe ¢ Estado, distanciando-se de forma radical da agenda positivista (criminologia ortodoxa), cujos pressupostos etiologicos) sa0 percebidos como racionali- dacles subservientes a logica ena do capitalismo, Asst imterpretar o crime ¢ © controle social a partir de uma perspec ~econdmica, a critica submete as definigoes legals & investigagao historica e ‘naterialista. Em paralelo, 2 analise¢ expancida de forma englobar os “crimes dos poderosos" (“aqueles danos sociais que o Estado autoriza-se a comete Na conversio da perspectiva micro para a macrossociol6gia, ac denciou o papel de destaque que a criminologia de corte positivista desempe- rmhow na legitimacio da estrutua ¢ das instituicées puitivas e do saber pens Embora no plano eptstemolégico tenha sido reduzida a uma ciéncia menor, auxiliar do direito penal," a eriminologia ortodoxa desenvolveu todas as ferra- mentas necessarias para justificar 0 poder punitive, Nesse aspecto, Cohen, na ia de Foucault, € preciso ao apontar que “o conecimento erimninologico [criminologia cientifica, criminologia positivista] sempre foi altament tario: um elaborado alibi para justifcar o exercicio do poder.” Ema sentido similar, Herman ¢ Julia Schwendinger nominam como doutrinas tecnocrat- as" 05 empreendimentos tebricas que se percebem como livres-de-valor ou Mdeologicamente neutros, mas que operam na garantia da estabilidade e da ‘ordem ao consiruir “(.) uma visto do mundo que estava a serviga do novo 15. Comes, Stanley Aga 16, Sobre a aw nology 4.04. New Jersey, 2099, p. 6 lordade da ado de cincias crim usd de segurance 17. Com, Stanley. op. p. 5. 18. “Basico para a definigio de secnologa IMoutrinas tecnocratias] € a visto de uma rads np ele mfoninados poe perio ss ‘8 goardises doe Pau; Youre, Jock (orgs). Criminalogia Estado hberal corporativo ¢, implicitamente, justificava 0 uso de eritérios que favoreciam a manutengao das instituicdes vigemes®.°-* Assim, ao concentrar as pesquuisas na et lidade) e no nivel de periculosidade criminologia ortodoxa desempenhou um papel ahtamente funcional ao sistema Punitivo, sobretudo porque excluiu do horizonte de investigacao as vielencias Ge)produzidas nas e pelas suas agencias. No caso do carvere, por exemplo, 2 criminologia positivista foi (e segue sendo} totalmente omissa ao desconsiderar nao apenas as graves violagdes aos direitos humanos que sao inerentes a ligica Penitenciaria, mas. igualmente, ao abstratr dos seus juizos os fleros de crimina- acai (seletividade) que agenciam a prisionalizaczo, que evidenciam a vulnera- Dilidade dos sujeitos e que ativam os processos dle mortificacdo da subjetividade ‘encarcerada, © pensamento positivista consolida, portanto, um olhar criminolé- co a-historico que retiva o sujeito do ambiente social em que se encontra e que {esquece ov oculta as violéncias institucionais as quais ¢ submetido.® Exatamen- te por desconsiderar as violéncias inerentes ao sistema punitive, configura win, saber altamente funcional que opera na sua legitimacto, 3. CRIMINOLOGIA CRITICA: PERSPECTIVAS TEORICAS (AGENDA NEGaTIVA) 3.1 Na precisa elaboragao de Baratca, a etiqueta criminologia eritica cor responde a um campo vasto © heterogeneo do pensamento criminologica & soclologico-juridico que tem em comum uma nova forma de definir 9 objeto € (08 problemas relativos a questao criminal ** Desta forma, “opondo ao enfoque ‘dem, p. 164 ‘critica a perspective leyalistica presente nas douitrinas de Sutherland & Herman « Julia Sehwendinger destacam que “gsdos pela era uma garan mpedi os académicos 0, el fl um dos grandes mitos que rem consclenles do carder ideolbgico de biopsicoligico o enfoque macrossociolégico, a criminologia critica historiciza a realidade comportamental do desvio ¢ ilumina a relacao funcional ou dis- funcional com as estruturas sociais, com 0 desenvolvimento das relacoes de produgao ¢ de distribuicao. © salto qualitative que separa a nova da velha criminologia consiste, portanto, principalmente, na superacio do paradigma cetiologico, que era o paradigms fundamental de uma ciéncia entendida, na turalisticamente, como teoria das causas da eriminalidade. A superacio deste paradiga comporta, tamhém, a superacao de suas implicagées ideokagicas a concepcao do desvio e da crimsinalidade como realidade ontoldgica preexis- tente a reacao social ¢ institucional e a aceitagao acril definigoes egais como principio de individualizagdo daguela pretendida x ~ das atitudes, alem de twdo, contraitonias entre si” Nilo por outra ra2so, a agenda primeira da er 0, ou seja, objetiva desenvolver um corpo is fundamentos ¢ dos pressupostos da criminologia posi alguns autores, ao idenificar o saber criminotogico tradicional com o pe 0, define a criminologia critica como uma an psiquiatras adeptos do movimento antimanicom nado antipsiquiatras:* sintese, @ pauta negativa (desconstrutora) da criminologia critica pode ser exposta em quatro distintos planas 1) 2 205 fundamentos ¢ aos pressupostos da (micro)ea doxa (positivismo criminologico): (a) negacio des model ciedade; (b) negacao do postulado causal-de adi tologico do delinquente, (c) nepacdo do cardtercientifico do saber ct € da neutralidade do crimindlogo; (d) invalidagao dos eit de constatagao da eriminalidade (estatisticas eriminais ¢ ambiente carcer 2°) Critica aos fundamentos e aos pressupostes do dieito penal dogiaa: tico: (2) megacao dos discursos de igualdade e de impatcialidade na eleigio dos bens juridicos (criminalizagao primaria): (b) negacae do cardter positive atribuido a sangao penal (pena wu) 3°) Critica as direttizes operacionais (funcionamento) das agéncias e das instieuigdes do sistema punitive: (a) demonstragdo do cazater seletivo de in. eidencia do controle penal (ctiminalizegio secundaria); (b) demonstragao das ccontradigoes existentes entre as fungbes reais exercidas pelo sistema penal e as funcdes declaradss pelo direito penal e pela criminclogia (iscursos oficiais € cientificos de legitimacao) 4°) Critica do sistema politico-econdmico que configura o sistema puni- tivo: (a) denuncia da funcionalidade do sistema penal para a manutengao do sistema capitalist (b) demonstracdo da relacaa de dependencia existente en- ue o sistema politico-econdimico (questdes de poder e relagoes de produco) e © sistema de controle social punitive Fundamental referir, ainda, que a pluralidade de perspectivas sugere que se compreenda a criminologia critica como wm mavinenia pritico-eorice e nao necessariamente como uma escola. O deslocamento e a identificagao da crit como wm movimento permite problematizar as reais necessidades de det de parametros meiodolégicos (metodo ¢ objeto, por exemplo) e, ind questionar uma especie de vontade de sistema que anima alguns autores a pos- ‘ular um status clentific a criminologia critica Duas questdes sio relevantes para enfrentar este problema. A primeira éa do explicito reconhecimento da auséneia de uma unidade de ensamento, motivo pelo qual seria mais correto referir a coexisténcia de er ‘minologias criticas. Todavia, apesar de a pluralidade de perspectivas ser algo fo, sabretudo quando se comparam distintas adicdes eriminoldgicas — a ja anglo-saxonica, a criminologia europeia continental ea crimino- logia Iatimo-americans, por exemplo ~, um dos fies condutores que permitem idemnficar e definir esta heterogeneidade como uma amidade critica & a efetiva negacao do pressuposto do delito natural sustentada pelo paradigma causel-etion ogico (criminologia ortodoxa). Nas Tigoes de Thompsom, se a ct ne A segunda questao, decorrente da primeita, ¢ a da constante autocritica que 0 pensamento eritico se submete. Note-se, por exemplo, que imediata- ctitos € redefinis alguns rumos, Dentre as principais problematizacbes inega- velmente se encontram as percepstes relativas a imagem do criminoso. Con- forme Larrauri e Cid, nesta primeira fase do pensamento ertico, a anilise do da desigual distribuicao da riqueza inerente 0 capitalismo havia provocado uma ceria romantizacao do desviante como tum rebelde politico ou uma vitima do sistema social, Embora a percepcio dos problemas derivados do determinismo econamico que caracterizou a primeira fase da criminologia ertica tenha amadureeido na década de 80, na Crimino- crtica surgem as primeira problematizacdes de que “(..) esta imagem do iquente ¢ insustentavel quando se comeca a estudar € reconhecer que © 3.2 Embora a postura reativa ao positivismo demarque um hori atuacao e defina umn campo de investigacdo bastamte fer, ¢ possvel identi car outto fio condutor que agrega dstintos pensacoves critica a tensao entre Individuo e auoridade, questo inexoravelmente latente nas pra nologia,afirma se tratar de um conhecimento no qual aporta uma ploralidade de discursos que investigam uma heterogencidade de objetos, straves de in- contavels metodos nio homageneizaveis entte si, Tadavia, apesar da impos- idade de definicao de um padrao, entende que ha certos direcionamentos bastante claros entre estes distintos discursos que acabam por pontwar um pro- blema comum: a gari om social, No undo, portanto, haveria em cada reflexdo criminolégi reocupacio com a ordem soctal, com a ameaca a ordem inst A questao que emerge desta preocupacio, © que eria wm criterio para id 1 05 diferentes discursos, € telativa a pos o de mundo) nessa confhtiva relagio entre © problema havia sido pontuado de forma bastante contundente pelo ca sal Schwendinger om Defensores da orem ow guantides dos (1975), no momes interpelam as teorias erimi papel perante o sistema punitivo, Herman ¢ julia Schwendinger confr teorias positivistas,reformistas e tradicionalistas,representadas por 5: therland ¢ Tappan, identificando um modelo tecnocratico de producao crimi- nologica.™ Os problemas lancados pelos Schwendingers avancam até a década de 90 na (auto}critica pertinente que a criminologia critica realizou em razd0 do encanto de certas correntes, notadamente o realismo de esquerda, com a gestao da seguranca publica.” 3.3 A questéo acerca da identidade da criminologia critica como um movi- mento de esquerda € a relagao deste saber contestador com o poder punitivo havia sido igualmente problematizada, com um direcionamento relativamente distinto, nas agudas c con ¢ Young a0 labeling approach e fs teorias do conitito Em 1967, porem, Becker havia publicado um seminalartigo intiuulado Whose side are we en?, no qual prociura responder as eriticas advindas do matnstream criminol6gico (criminologia ortodoxa) de que 2 sociologia do desvio (os teoricos do labeling approach) apresentava leitaras parciais dos problemas que investigava e que, muiias vezes, eram imerpretadas como manifestos de apoio Aqueles que perturbavam a ordem.® Em 1971, na teunio anual da Sociedade Britaniea de Soc! Becker agrega argumentos e apresenta @ primeira versao do texto que posteriormente sera publicado como posficio da edicto de 1973 de Outsiders, intitulado A teoria da retulacao reconsiderada, No trabalho, rocura responder as “criticas morais advindas de perspectivas politicas de centro ¢ de diteita; da esquerda politica ¢ do campo critico. [Pots] as teorias interacionistas foram acusadas de auxiliar¢ confortar 0 inimigo, sejao inimigo j2a.a orddem existente on o Establishment aquele que desestal Becker destaca que a tcoria interacionista inovou em abordar temas desde perspectivas distintas ¢ em incluir sujettos “relativamente ignorados ~ aqucles 2. 30. 3 Sc, Joek, p. 138-171/237-268, 32 230-247, 194 sulfieientemente poderosos, com poder de realizar imputa tica,tibunais, medicos, professorese pais. A mudanea da lente eximinalo ca dos desviantes (rotulados) as autoridades (rotuladozes) ~suscitoua c da quebra da imparciaidade cienuifica e da condescendéncia do investigador lar aquela de “romantizacdo do crieminoso” (“rebel a, digase. este bpo de argumento € bastante comum para desqualifiear 0s saberes criticos, nto apenas no campo criminotogico: designar @ pensamento desconstrutor como atientlico € ideolégico, pressupondo que a producto do conbecimento (ortodoxo) ¢ isento de inlluéncias potiticas e, em decorréncia desta neutraldade axiolégica, dovar este diseurso de validade ou status supe rior em termas cientificos Fm realidade, o interacionismo possibiliton que as autoridades e as ins wuigdes de controle sacal fossem confrontadas, situagao que provacos, em ‘muitos casos, uma desilusio (perda da fe) com os paderes constituidos em razio da exposigao das contradigoes entre os discursos oficais (ungées apa rentes veiculadas) ea sua realidade operacional (fumgoes reais exercidas).” As sim, afirma Becker que todos os envolvidos com o desvio devem ser encarados coino objetos potenciais de pesquisa e que os eriadores c imposivores das re- grasnao podem ficarimunes, parque “isentar-se de estudo significa que as suas pretensoes, teorias ¢ demonstragoes nao estao sujeitas ao debate publico”.» [Nesse sentido, a orientacdo metodoldgica proposta pelo interacionismo no se distancia da perspectiva da clusive no que tange aos temas (objetos) de investigacao do de todos os participantes desses “dra sadores), sem exclusta Cimunizacao) de qualquer urna das pares, aliada (b) (dem, p. 206). | | enlase no poder que certas pessoas possuiem de impor definicbes (atribuicda de rotulos) para determinadas condutas on pessoas, “conferem 20 paradigms imteracionista, nas circunstancias atuais, um carater radical", Inclusive porque tats abordagens “questionam o monopdlio da veidade e da ‘totalidade da histo ria’ reivindicada por aqueles que detém posigdes de poder e de autoridade”.* 4. CRIMINOLOGIA CRITICA, CRI cr LOBIA DA PRAKIS: AS POLITICAS INAIS ALTERNATIVAS (AGENDA PoSrTIvA) 4.1 O deslocamento do objeto de investigagao do desviante (mieroer 4 estrutura poltico-econdmica ¢ &s instituigdes do poder crt ‘macrocriminologia) permite a apreximacto do pensamento ex ‘minoldgico critico com intimeros movimentos sociais de defesa dos direitos Jhumanos. A proposito, € no ambiente de lua pelos direitos eivis€ contra o poder militar no final da década de 60 ~ com as devidas peculiaridades locas: Estados Unidos (movimentes contra Guerra do Vietna), Europa (movimen- tos contraculturais que eclodem nas “Barricadas do Desejo” de maio de 68) e América Latina (luta de resistencia as Ditaduras Civis-Militares) ~ que emerge 4 propria criminologia erttica © entrelagamente da teoria criminalogica critica com a pratica politica dos movimentos saciais cria um grau de erganicidade que permite afar o nase cimento de uma criminologia da prasis,” ou seja, de um saber criminologico evolucionario, subversivo € inovador que assume 0 carater politico da teo- ria e procura contibuir para a uansformacio da ralidade social e a emanci- pagio do honiem*” Em uma apropriaglo da decina primeira das Tees sobre 38. Idem, p. 207. 38, Term utlizado originariamente em Cass, Sal, A poll criminal de drogas mo Brasil 6.04 Sao Paulo: Saraiva, 2013. p. 172-179, na que para Mara era preciso superar a anionomia do conhecimento em relago a realidade e promover una ago ca- paz de tansforma-la: “os criminologos tem se limitado a interpretar o crime & © desvio; rata-se, entretamto, de transformar as estruturas de criminalizacao” ‘Se a teoria coirma da criminologia critica (ou anticriminologis) no campo dos saberes médico-psiquidticos € a antipsiquiatria (psiquiatria crtica)," as- sim como 0s antipsiquiatras deram organicidade a sua teorla no movimento antimanicomial, 2 criminclogia evtica ira projetar sua elaboragao teorica em cio transformadora nas denominadas politcas criminats altcrnativas. Assira, conforme Link ¢ Mayora, “a criminologia critica 96 & criminologia na medida ‘em que esteja desvelando a atuacio do direito penal, principalmente a5 fu ‘ces oculias,latentes ou subterrineas que este exerce na atual fase do cal lismo, e, a partir dat, propondo politicas eriminais alternativas”.*> 4.2.4 constante revisio conceitual, aliada a pluralidade de diregdes ea in rac2o com os movimentos sociais, impulsiona, pois, desenhar a segunda agenda da criminologia critica: agenda positva cotejando-os com a pritica’, pois "..) €na prixis que o ser humano tem que com provar a verdade, isto ¢,aeftividae eo poder, errenalidade do seu pensa FE Mery acrescentava: a contioversia care 8 re ‘mento ~isolado da praxis ~ sto inerigadas, imterdependentes. ceoria um momento necessaro da praxis (essa necsssidade nao ¢-um Inxo: € ums earacteristica que disingue a préeis dss abvidedes meramente repetitivas,cegas, mecanica, op. cit, pI Roberts tyra nologia do die Emer 1972, p 48.52) mance: 0 que ia ales, 10.8 4L. "Os fldcofos tem confers, Anyar de Cas eo, op. ell, p. 160-178; Ca 270-311; Wace, Mor ve (org ). Dire 201. p. 135-160. a ee AT 294 Resi Besuna ue Cenaas C tis 2018 # RBCCout 104 Logicamente que a perspectiva negativa se projeta como acao deslegitima- dora das praticas pumitivas. No entanto esta circunstancia nao incapacita a roposicéo de pautas positivas (construtivas) quie, em decorréncia da hetero- geneidade das perspectivas, constituem-se como projetos politicos de distintos alcances; como plataformas de curto, médio e longo prazo: ov, apenas, como utopias concretas, Conforme o nivel de agudizacao da critica, ou seja, o maior ‘ou menor grau de deslegitimacdo ao sistema punitivo, as perspectivas politico vas variam e podem ser apresentadas da seguinte forma I modelo tedrico-normativo neopasitivista, direcio nado a pritica judicial, fundamentado na defesa das regras do jogo processual penal como forma de tutela dos direitos fondamentais contra o poder pun Vo. Incorpora as pautas politico-criminais do direito penal minimo e refuta 0 abolieionismo 2.a) Direto penal minbmo: movimento pritico-teorico de critiea aos cr ios de selecto da relevancia dos bens juridicos tutelados pelo direi (politicas de descriminalizacdo}; de critica aos critéries quantitativos € quali lativos de determinacao das penas (pobiticas de despenalizacio) ¢ de critica a forma carcerizia de pena privativa de liberdade (politicas de descarcerizaca0 € de implementacio de substitutivos penais). As perspectivas do direito penal rminimo tendem entre a critica (garantismo) ¢ a defesa do abolicionismo ~ na formulacio de Zaffaroni, por exemplo, o dicito penal minimo “(..) nao [pode como passages aque este hoje pareca”** transite para o abolicionismo, por mais inaleancit 19 do dirito penal: movimento pratico-teérico, derivado do direito, que procura, a partir da atuacao dos atores jurici orar as Jacunas e as contradi ‘© garantismo penal em razao da profunda eritica ao positivismo juridico e da aproximacie epistemologica coma sociologia de direito, situagae que permite ‘explorar, de forma virtuoss, o pluralismo juridico. de experts (criminol6ges), em instituigdes geridas por partides politicos de esquerda, objetivando diminuir a seletividade, reduzir os danos da eriminali- zacao ¢ da prisionalizacto e ampliar © tol de alternativas ou substiutivos pe nats, Frojeta,igualmente,« consirucao de politicas pablieas de reforma soci como forma pragmatica de prevencao da criminalidade. & perspectiva realista €é questionada, sabretude, pelos tebricos do abolicionisme que percebem o atu ar na gestao da sistema penal como um movimento de relegitimacao do poder panitivo.* 5.2) Abolicion i: movimento pratico-teorico qu estategias para a superacdo do sistema penal, das agencias + palsies conservade- exemplo). Sobre as pers 296 Rewsia Brasisnn oe Cdwcus Chiamins 2013 © ABCC resposta estatal, enfatizando a necessidade de criagao de mecanismos de pro- teclo © tutela as viimas — quanio mais grave o deli, maior deve ser o apoio estatal as vtimas, Enfatiza a criagao de espacos de mediagao e de mecanismos alternativos para a resolugto de conflitos, através da supesacdo da logica car cerocentrica.” 43 A pluralidade de perspectivas, em alguns pontos mitidamente coniltiva (questio relativa a0 abolicionismo versus gra taculiza, porém, a construcao de uma agenda poltico-criminal alternativa de base direcionada 4 contacao do sistema punitive. Nesse aspecto, entendios 1 estratégia ou como fim, 0 garantismo e o diteto penal minimo parecem Configurar discursos ¢ ferramentas relaivamente consensual no pensamento critico. Por outro lado, a vinculagao de determinadas tendencias tesrico- com os movimentes socias organizades produziu, em certo sentido al contradicbes aparentes, como a demanda de criminalizagae de certas condutas a partir da afrmacso da necessidade do uso simbelico do diteito penal contra as sag0es lesivas praticadas pelos agentes piblicos ou agentes contra a coisa palica E imeressamte perceber, inclusive, que nas primeiras elaboragdes do pen- samento eriminologico eritico se afirmava a inversao da seletividade do diteito penal, através da criminalizacdo das condutas consideradas altamente danosas, tas detentores dos poderes politico e econdmico. sar as perspectivas da c al em relagao 4 criminglo- 10 no pensamenio ortodoxo (greves,dissidéncia pol tas daquelas que importam 4 cntica ( perialismo, exploracio, genocidio, d ico, por exemplo). Assi Criminologia Radical inverte a equacao: relagdes saciais danosasieime, com- preendenda a exploracao imperialista, as violagdes da autodete povos, do Jhadores 20 controle ¢ adm produzida, os abusos de pod definidos como ‘crimes sistémicos 297 Baraita admite que, em certos eas0s, a fungio (meramente) simbelica do, direito penal pode representar um “significado politico importante em wma de~ terminada fase de Iotas pela afirmacao dos direitos humanos, conduzidas pelos seus movimentos representativas”.*® Dentre outros exemplos, cita 0 caso das lutas do movimento feminista contra a violencia de genero ¢ dos movimentos, de direitos humanos pela punicao das agentes puiblicos responsaveis por gra ves delitos (mortes, sequestros, 1orturas e desaparecimentos), sob a justificati- vva da repressio aos erimes politicos, durante 05 regimes autoritérios. Percebe 0 autor, contudo, que esta opcae pela diveito penal simbolico, em muitos casos, € contraproducente, pois acaba, inclusive, por obstacubicar a efetiva tutela d direitos em jogo. 5. CONSIDERACOES FINAIS: A CRIMINOLOGIA CRITICA COMO CRIMINOLOGIA DOS DIREITOS HUMANOS 5.1 A sintonia da pavta politico-criminal com os movimentos sociais de defesa dos direitos humanos ~ aliada ao amadurecimento teérico derivado das crises que atingiram o pensamento critico ém geral nas uhtimas décadas, nota damente a partir da queda do Muro de Berlin ~ permite redefinir o horizonte de projecae da criminol a. A prop afirmagao dos direitos hu ‘manos ¢ a negacso da matriz criminologica positivita possibilitam que imuime- ras correntes de pensamento, mals ou menos auténomas em relag3o & maiz radical, sejam imtegradas no ro] das eriminologlas erfticas ~ por exemplo, «1 minologia feminista, criminologia cultural, eriminologia queer, criminologia racial, criminologia ambiental (green criminology), criminologia pos-moderna, de “empresitios Elena, La herencia de ntlade dos podeeses 8 wa. Raton 3-4 298 Resta Baasurie of Cttcis Catania 2013 # RBCCRay 104 da nio-violencia (peacemaking crimmology), criminologia condenada (convict criminology), newsmaking criminology, criminologia marginal, alémn das ines gotaveis possibilidades de interagao decorrentes, como, por exemplo, a crimal- nologia feminista negra (black feminist crintinology).* Nesse sentido, o postulado de Baratta de os dizeitos humanos serem encata dos como objeto e limite do diteito penal parece ganhar indise ¢ fornecer um inesgotavel campo de investigacao e uma urgente area de vencio: “0 conceito de direitos humanos assume, neste caso, uma dupla fur ‘¢a0. Em primeiro lugar, uma funcdo negativa relativa aos limites de interven- ‘cao penal. Em segundo lugar, una funeao positiva, direcionada @ definicao do de tutela por meio do direito penal conceito tos humanos oferece, em ambas as fungses, © instrumento teorico mais adequado para a estratégia da maxima contencao da violencia punitiva, que atualmente constitui a agenda prioritéria de uma politica alternativa de controle social." Na agenda dos direitos humanos, a criminologia critica parece reencontrar tum rumo bastante definido, babil, inclusive, para excluir deerminadas ten- dencias utilitaristas com forte inspiracio punitivista que procuram sustentar (legitiman), desde um discurso aparentemente critio, a intervencde punitiva € a preponderancia dos poderes em detrimento dos direitos ~ algumas (re)in- terpretagdes (criminalizadoras) do pensamento garantista operim exatamente nese sentido, Assim, alera de um campo teerico revitalizado e aberto aos mo: vimentos sociais, a criminologia critica como eriminolagia dos driv huma nos, nos termos propestos por Lola Anyar de Castro, abre espaco, igualmente, para incervengdes j tzando esta necessidade visceral die contato com a realidade socal (eriminologia da prix) precisa ao demonstrar 0 movimento lsicos que se deslocam do extrema > A reversibilidade do discus: manos parece depender, em grande A proposito, Lola Anyar de Castro pendular dos distintos discursos crim Cie e Sansone 289 medida, da sua maior ou menor adesio as razdes do poder punitive ou, em ‘ultima analise, a ra280 de Estado (punitivo).* ‘4 “vocagio antiautoritatia da criminologia critica” permite, portanto, “(..) com a sua observagao permanente do exercicio do poder, e concentrada na justica social e em toda acaa de democracia emaneipatoria generalizada, incor ‘porar nao apenas estes direitos humanos [liberdade e igualdade], mas todos os lireltos humanos, para todas as pessoas’ * Anyar de Castto adere & perspec- tiva de Baratta de os direitos humanos representarem os limites € o objeto do dircito penal: agrega, contudo, uma funcao de contenido que orienta um saber ica externa a0 dircito penal, pols “a criminolo- aos poderes. Assim, deve ter sob a sua obser- ceriminologico que exerce a c gla dos direitos humanos con ‘vacio permanente os movimentos de toda a relagao fatiea de poder ‘Alem disso, a propasiclo de uma criminologia dos direitos buroanos ad- ‘quire uma capacidade critica poencislizada se a interpretacao do conteutdo, @ enuncia das violagoes ¢ a acaia de tutela dos direitos forem projeladas a partir de uma perspectiva marginal, nos termos propostos por Zaffaront (realist marginal), Marginal ndo apenas por demarcar um Jocal periférico na geopol tica mundial (norte versus sul), mas, sobretud, por identificar elacoes de de- rpendencia com os poderes centrais e nominar aqueles sujeitos que sao objetos e violeneias extremas perpetradas pelo sistema penal.” 54 Nesse semido,¢ fundamental ue se adote uma postara critica em telco ao propio 33 56 cnminalogs dos di n eriminsloge 300 Rest, Brasusea ne Cees Crisnns 2013 # RBCCH 104 5.2 Conforme leciona Vera Malaguti Batista, o neotiberalismo trouxe o sis- tema penal para o epicentro da atuagao politica nas tltimas décadas, conju gando a prisao com novas tecnologias de controle, de vigilancia e de exclusio social. Desta forma, apesar das suas crises, a criminologia critica, no atual ccenario de densiicacao dos processos de criminalizagao seletiva, que resulta no encarceramento massivo de pessoas ¢ grupos volnerdveis, segue fomecendo rumentos sofisticados para a compreensao das violencias. Violéncias que sto inerentes as estruturas dos poderes politico ¢ econdmico € as instituicoes de controle social que as sustentam ¢ as legitimam, © reencontro com o pensamento critico em criminologia é, portant, muito ‘mais do que justficado; é urgente e necessirio.& perspectiva macrocrimninols- ica permite atu a das violencias produsidas pela Iogica de gover- nnanga do capitalismo contemporaneo (violencia estrutural) e problematizar @ fancionalidade das instituig6es do sistema punitive (violencia institucional), sobretudo da prisio, neste cenatio de hiperpunitividade. A otttica ao fendmena do grande encarceramento, bem como as praticas ¢ 908 diiscursos fundamentadores, configura um dos problemas centrais de um pen- samento criminolégico que tenha como horizonte a efetividade dos direitos humanos. odavia as preocupacees macro do clidem a necessidade de redimensionar ‘perspectivas microcriminologicas, desde que entendidas como projets crimi- nologicos de matiz cstica que produzam investgagoes eujo enfoque esteja direcionado aos processos de vulnerabilade & criminalizagio ea vitimizagao ue atingem individuos, coletivos ou grupos sovias concreios, Nesse aspecto, as tendéncias contemporaneas da criminologia critica (ou pos-ritica) refer das acrescentam importantes elementos para a desconstrucio e a resistencia 08 assujellamentos produuzidas pelas estruturas do poder palitico € econdmi- coepel ides do poder punitive Bartsn, Vera, Introdugao eri p99. Cine Socios 307 6. REFERENCIAS BIBLIOBRAFICAS, ‘Aanur, Dat ica restaurativae abo

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