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676. Fonseca, Vitor da : Aprender a aprender: vr Bie 8 educabilidade cognitiva / Forto Alegse : Artmed, 1998, 1. Baucasio cognitiva,1Ttulo cDUusriasaseg22 'a publicagio: M@nicaBallejo Cant ISBN 85-7307.477.9 '0- CRB 0/1 Vitor da Fonseca Mestre em Cincias de Baueacio Doutor em Educagio Especial eReabilitacao Aprender a Aprender A Educabilidade Cognitiva aRlveD PORTO ALEGRE / 1998 ey FILOGENESE E ONTOGENESE DA COGNICAO EVOLUCAO, CEREBROE COGNICAO, Em termos de filogénese da cogni¢ao, parece-nos crucial apresentar uma perspectiva evolucionista sintética, onde, de forma integrada e sisté- ‘mica, se equacione a evolugdo como um processo e um produto da cogni- so, desde os cérebros mais simples ao cérebro humano como o organismo mais organizado do cosmos. ‘Os organismos simples comportam-se de forma estereotipada e pre- determinada pelos genes. O niimero de discriminagdes perceptivas que podem realizar ¢ deveras pequeno, independentemente de ser adaptado 420 seu envolvimento ecolégico. O repertério das suas respostas motores é produrido para se adequarem a ais diferenciagées perceptivas res- ‘ritas, mas, mesmo com um simples sistema nervoso, todos esses orga~ nismos tém capacidade para atingir capacidades adicionais e, conse- qiientemente, podem aprender (Romer, 1956). Os seres vivos que persistiram ao longo da evelugéo sobreviveram a «usta de um cérebro que, como 6rgao, se caracteriza, na sua esséncia, pela candigao intrinseca de estar aberio A modificagio dos padrOes das suas respostas que estio na base de uma adapiacao étima aos seus envol- vimentos especificos, mas nenhum deles pade competir com 0 Homo sa- ‘iens,o vertebrado dominante (Beritoff,1965; Jerison, 1973; Jastrow, 1987), 0 ‘vercadeito animal da aprendizagem e da cognicao (Boas, 1965; Bronowsky, 1973), unico na capacidade de aprender a aprender, a espécie que usa a aprendizagem como um pré-requisito para todas as suas formas de adaptacdo (Feuerstein, 1979). 80 / Viton DA Fonseca Os seres humanos provocaram uma maior transformacéo na Natu. reza em 10.000 anos do que outras espécies vivas em 3 bilhdes de anos Gamat e Neisky, 1981). Esta extraordindria e transcendente (hoje preocs. ante... dominancia devese ao desenvolvimento do cérebro, desde o mi | Riisculo cérebro cilindrico dos animais mais simples ao complexo cérebrp esférico com cerca de 1350 gramas no ser humano (Eccles, 1978; Fonse- 2, 1959b). srigacin OS Sa Me ong ES ee FD a ae dé, Fig.1~ Ao longo da evolusSo, em trmos relatives, amanho da face dlminul enquanto fo timanho do cerebro aurenia ‘Muitos fésseis serdo certamente descobertos no futuro, ¢ inevitavel mente deles surgicéo novas interpretagGes sobre as origens da cognigao humana, mas o alargamento e a complexidade organizativa do cézebro que Ihe da substrato organico 56 se poderiam materializar como conseqiiéncia evolutiva, a partir da reciproca, sistémica e interativa implicacéo neuro- funcional das seguintes conquistas da espéce: = Vinculagdo ténico-emocional (regulada ¢ emergica dos complexos substratos do tronco cerebral e do sistema limbico). ~ Postura bipede(egulada e emergida doscomplexos substrates cere- belosos, subtalémicos e talammicos). ~ Uso da mio (periférico micromotor regulado e emergido dos subs- tratos occipitais e frontais) ~ Surgimento de uma linguagem gestuale mimicalreguladaeemergida os substratos tatilo-qutinestésicos parietais e frorvtais). ~ Sugimento de una linguagem simbdlca mediatizada socialmentee desco- dificada por modalidades auditivase visuais(decorrentes de complexos sistemas funcionais témporo-occipitais e frontais que pragmatizam as funcoes de inpute de ouputda linguagem falada e escrita) (Leroi- Gourhan, 1964; Le Gros Clark, 1972). Em termos evolutivos, 0 tamanho do cérebro tem sido considerado uma medida adequada da inteligéncia, aqui definida como a capacidade APRENDER A APRENDER / 81 1a processar informacao e para atuar adaptativa e favoravelmente Para, ou em beneticio do individuo e a espécie ‘Bfetivamente, o tamanho do cérebro em si nao justifica o surgimento da cognicéo (Gould, 1977; Granit, 1979), Além de outros fatores, a comple- Sidade dos circuitos internos, as conexdes sindpticas, as migracées especi- ficas, temporatias e territoriais dos neurOnios, a sinergia bioquimica reurotransmissora e a organizacio das regides subcorticais e corticais que Consubstanciam os diversos sistemas funcionais sao igualmente impor- fantes (Hubel, 1970; Threvarten, 1980; Denckla, 1983; Changeux, 1983). ‘ndependentemente da insuficiéncia e da permanente perda de was evolutivas, a relagio entre o tamanho do eérebro ¢ do corpo entre s espécies esté filogeneticamente associada 20. desenvolvimento de ances cognitivas mais complexas, devido nao s6,s libertagbes anatomicas, como a emergencia de sistemas funcionais adicionais e ao surgimento de maior massa muscular neurologicamente planificada, regulada, proces- sada e controlada (Fonseca, 1989}. Nos seres humanos, 0 cérebro alarga-se quando o tamanho do corpe se mantém quase na mesma. Homo habilis, erectus e sapiens, que eram similares no famanho do corpo, revelaram que os seus cérebros respectivos cresceram progressivamente. O peso absoluto do cérebro da espécie humana é excedido por varios vertebrados (exemplo: elefante, baleia, etc.) mas 36 ela, em termos evolutivos, atingiu o ponto extremo da escala ma- mifera de encefalizagio (Bourret e Louis, 1983). shomem = Log? Fig. 2~ VariagSes do peso do encéfalo (E) com 0 peso do corpo (P), dos insetivorns acs Primatas. Cada ponte corresponde a uma espéce diferente. Jasetivoras(crculos pretes), [prossimias, como 0s lemurese os tarsianos(losangos pretes), sfnfs, como 0s babUIROS (tiangulo pretos), pongidios, como o orangotango, 0 chimpanzé e 0 gorila (quadrados Pretos). Noalto da ccalao homem moderno. 82 / Viron pa Fonseca Como 0 oérebro do ser humano atingiu tal tamanho e como é que ele atingju a sua capacidade de modificacio civilizacional? Nao sabemos, na realidade, como se deu esta transformacio transcendental, mas podernos oferecer algumas explicagées & luz da fearia da modificabilidade cognitiva estratural, introduzida por Feuerstein, 1979, ‘A medida que 08 organismos se tornam mais complexos, cada ‘capacidade sensorial tem de se integrar neurologicamente com as outras ‘modalidades, conseqlientemente, tal integrago levou a um alargamento do cérebro Jackson, 1931; Fonseca, 19922). Com maior mobilidade ¢ con- ‘role postural, com a possibilidade de se exprimir com micromovimentos seqtienciais e dissociados e com maior integracio de informacao sensorial, as pressdes evolutivas geraram um tronco cerebral, um corpo estriado um tcleneSfalo maiores. Ao ensquecimento newofuncional da integraco sen sorial, principalmente tétilo-quinestésica (proprioceptiva), auditiva e vi- sual (exterexeptiva) e da planificasio e regulagdo motora esteve, portan- to, au logo da evolucau, rlacionada uma melhor adaptagdo 20 envolvi- ‘mento, um percurso de sucesso que culminow no triunfo da cognicéo. A medida que a evolucto cultural, dita extrabiol6gica, ou transbiol6- ica, se expandiu, a informacao nova teve de ser aprendida através de um Sistema de conmunicagdo que progrediu por meio de sinais gestuais, sons inarticulados e, posteriormente, pela fala humana. Como a evolucéo da espécie humana, a crianca tera de progredir de acordo com a mesma traje- toria evolutiva, em sintese, 0 seu desenvolvimento cognitive segue uma hhierarquia predeterminada pela maturago de varios substratos neuro- légicos (Proper e Eccles, 1977) objetivo final da aprendizagem é a adaptacio de respostas a todas a possiveis contingéncias. Todavia, o produto final da mente exige a emergéncia de vérias fungdes superiores, como a atencSo, a percepcao, a imagem, a meméria, a simbolizacio, o processamento, o pensamento, a resolugdo de problemas, a planificagao e a decisao, significando que sub- entende, em termos sistémicos, a cognigdo, isto é, um complexo que retrata 08 fundamentos da subseqiiente automatizag3o das respostas (Kolb e Wishaw, 1985). No sentido de responder com precisio e eficéicia aos problemas co- locados pelas situacdes ecol6gicas imprevisiveis e inéditas, os seres huma- nos tiveram de aperteicoar ¢ refinar os seus sistemas de processamento de detalhes de informacio oriundos do envolvimento e, em paralelo, torna- ‘Fam-sesuficientemente ageis para programar eexecutar padroes de agéiosem hesitago (Gibson, 1966, 1979) ‘Com vigilancia, atengao seletiva e automatizaggo, processamento planificacio, os seres humanos, simultaneamente criadores e produtores de cultura, foram capazes de atingir niveis superiores de realizacio e de desempenho comportamental, ascendendo, portanto, a novas capacidades interativas com 0 meio e a novas estratégias de resolucao de problemas. Apnexner 4 APRENDER / 83 triunfo da cognigéo na evolugéo nao decorre apenas dos genes ou dos cromossomas, nem estes tém por si s6 a ditima ou tinica palavra em termos de aprendizagem e de modificabilidade e plasticidade adaptativa, cla € inexoravelmenie fruto da aprendizagem socio-histérica, desenca- deando, por via dela, processos inferativos ¢ intencionais que so media- tzados pelos outros (Vygotsky, 1972, 1987; Feuerstein, 1979), Em termos evolutive-sintéticos, a cogniclo foi, ée seré eminentemente social, antes de ser individual. A cognicao emerge, portanto, da sintese dialética de processos biolégicos e s6cio-culturais que se influenciaram e influenciam mutuamente ao longo do processo histérico da espécie. DESENVOLVIMENTO COGNITIVO EHIERARQUIA DATINGUAGFM ‘A crianga humana vem 20 mundo equipada com a habilidade para produzir numerosos padrées interativos e sensorio-motores (Peiper, 1963), ra qual 0 seu sistema motor executivo ests pré-programado com siner- gismos tGnico-emocionais espectficos (Wallon, 1962), a fim de atingir a vinculaggo essencial 4 sua sobrevivéncia e seguranga gravitacional, fangées que em si constituem as primeiros substratos da cognicéo. Com a integridade do seu tronco cerebrale da cibernética neurofancional ¢ neuito- evolutiva do cerebelo, 0 seu todo sistémico culmina numa das conquistas fundamentaisda espécie~a postura bipede. Desempenho Postural ¢ Motricidade Global sgravitcional Nec [EN Fae Simm Gn Sue tw Progressivamente, com o seu corpo psicomotar (Fonseca, 19922, 1969b) ecom a sua mdo préxice, um fator imprescindivel da evolugéo humana, a ianca vai evoluindo de mimicas e de gestos a prosédias e a palavras. Com 84 / Vrror DA Fonseca tais instrumentos intra-somiticos, $6 possiveis de surgir em varios con- texto plsisométcos, ela aprende extr-somatcamenteo que significa 1s diferentes objetos, imagens e sons e como, por meio da sua coacéo in- Westila sobre eles, os reconhecse on identfice, processos estes decorrentes da mediatizacéo indispensével dos adultos que a rodeiam. Focando a sua atencao em sensagées integracas, ela vai ganhan- do controle sobre 0 seu corpo e a sua motricidade simultaneamen- te sobre as suas emosdes, isto é com a integracéo e a maturacéo do sistema Inbico, utilizando experiencial e contextualmente a sua mio como periférico cortical inteligente e interativo. Com a mao faz a in- teligéncia, uma verdadeira fovea tétilo-quinestésica de onde emerge 9 sistema visuo-moior exclusivo da espécie, a crianga atinge outro pa- tamar do desenvolvimento cognitivo através de outra conquista fun- damental - a préxia fina. Desempenho Préxico e Motricidade Fina print ompings torre de? ¢ foe creo leon e ae > prenocstil at Onis Fn hwo pane Zann Para Piaget, 1973, 1976, todos os mecanismos cognitivos so ba- seados na atividade motora, Para o célebre autor do desenvolvimento humano, conhecer ndo consiste em copiar a realidade, mas sim em agir sobre ela, com a finalidade de a transformar e de a interiorizar. Por via dessa conquista, a espécie humana (e obviamente a crianca que a repre- senta), com a sua motricidade inteligente, acrescentou & Natureza um mundo civilizacional ‘No pensamento piagetiano, a nosao de “esquema de ago”, de “ob- jeto permanente”, de “intemnalizaco da ago”, etc, nfo S40 mais do que os prérequisitos da cognigio, que medeiam exatamente a mode- Apnenpen « Arexpes / 85 laggo sensorial e a organizacdo das respostas adapiativas, incorpo- ralizagao equilibrada e ativa de assimilacoes e acomodacten 86 possiveis através da multiplicidade de circuitos vestibulares, cerebelosos, suDcOr- ticais e corticais, entre 0 corpo, 0 cérebro e 0 mundo exterior, apesar de ‘9 mesmo autor nao se ter referido a eles. De acordo com A. Rey, 196% toda a exteriorizacio das aces é uma manifestacao tipica de todos OS niveis psicolégicos. Dos niveis mais simples e elementares aos mais complexos ¢ simbélicos, decorre a construgao da inteligéncia da espe cie, Da _macromotticidade & micromotricidade, da oromotricidade a grafomotricidade, decorre a construgao da psicomotricidade na Gilanga (Fonseca, 1996¢) ‘Com movimentos precisos das suas extremidades corporais distais, corticalmente planificados em resposta as suas necessiades interativas intrinsecas, a crianca, no contexto antropoldgica, 0 verdaceiro pai do Homem, vai desenvolvendo a sua linguagem mimica, ocular grata, ‘tonico-postural, tOnico-emocional e interior e vai avancando simulta eamenteno controle oremotor da sua caviclade bucel, dando origem a wna producao incrivel e progressivamente mais complexa de sons, atingindo 4 fala, ou seja, a oromotticidade, outzo grande passo da filogénese € da ontogénese da cognicao (Fonseca, 19924) Na evolusio da espécie, a mao lidera 0 desenvolvimento da tecno- logia e de novas funsdes decorrentes da fabricacao de instrumentos €, POT conseqiiéncia, induz a uma maior quantidade de novas informacoes CO™- licelmente referidas (papel da retroalimentacio e da reaferéneia de ANO- ine, 1985), especialmente com a visio. Reciprocamente, ¢ dado 0 PF~ gressivo tamanho do cérebro, também emergem novos usos da mao, alg que a crianga no seu desenvolvimento psicomotor esié apta a recriat eM extensivas € miltiplas atividades e situagées hidicas. A mio cria a COB nigio e esta, por sua vez, também cria a mao. _,, De acordlo com Wallon, 1963, 1968, a aco gera e clicita a cognic®®, ‘do qualquer tipo de movimentos, mas sim de sistemas de moviment0S, melhor dito de préxias, visando a um resultado ou a uma intenca0 Previamente concebida, isto é movimentos que tém por base uma nificagie, mental que 08 regula, contol, integra, elabora e executa Baseado em sistemas de movimentos organizados neurofuncional- mente ¢ de uma interagdo emocional e mimica, de onde emerge Uma Prevaléncia e uma preferéncia e domindncia sens6rio-motora de UM dos lados do corpo, um componente crucial da organizacio cerebral da espécie que por si conduz a integracéo e a producao da ling¥a- Bem (Ajuriaguerra, 1974, 1976); Geschwind, 1972, 1975), a Jateraliza- §i0 vio corpo e da sua motricidade implicou evolutivamente a espeCia~ lizacao hemisférica, uma diferenca significativa entre os animais ¢ © S€T humano (Zangwill, 1975). Tal processo neurotransiente ilustra a 721/U~ 86 / Virox Da Fonseca ago do corpo caloso, que transforma a linguagem corporal € quines. tésica numa linguagem felada (Quirés e Schrager, 1978), um novo passe gigante da cognigao humana. Witelson & Pallie, 1973, apresentaram evidéncias pertinentes sobre as medidas dos hemisférios cerebrais em adultos e em recém-nascidos, onde o planum esquerdo sargasignifcadamente maior do que o Planum direito em ambos os grupos. Aqueles autores abservaram que a assimetra anatémica do cérebro enconttada em bebés humanes favorece a dren ‘temporal do hemistério esquerdo na recepgio ena expressio da linguage:, dando suporte 4 hipétese de que as crias humanas possuem uma capacidade biolégica pré programaca para processarsonsarticulades Em termos filogenéticos e ontogensticos, a significagao precede a produgio da linguagem, visto que as palavras representam a transfor- magiio da informagio somatico-quinestésica interiorizada como forma comiplexa de linguagem ndo- verbal. Tornando-se proficiente nos gestos ¢ nos sinais, a crianga e o Flomo sapiens integram e integraram uma lin- guagem corporal que precede a aquisicio da linguagem faladae terio de ser eficientes nesta antes de se apropriarem da linguagem escrita (My- Klebust, 1968, 1978; Vellutino, 1979; Fonseca, 19874) E, portanto, razoavel supor que a hierarquia simbélica é atingida pelo hhemisfério esquerdo (hemistério psicoling istico) sensivelmente entre os 6e os 8 anos de idade na crianca humana, uma funcéo lingtifstica que emerge depois de um intenso ¢ sofisticado desenvolvimento postural e psicomotor integraco pelo hemisiério direito (hemisfério psicomoton), oque ocorre evolutivamente durante o 3° e o 5° ano de vida, segundo Luria, 1973, 1980, ¢ Fonseca, 1989b, 19922). De acordo com Yakovlev e Lecours, 1967, a miclinizacfo ponto-cere- belosa da crianca atinge as estruturas idénticas as do adulto por volta do 4 ano, um processo neuroevolutivo que permite exprimir movimentos finos ¢ harmaniosos, nao s6, demonstrados na postura bipede e nas préxias manuais finas, mas também nos movimentos orais sinergéticos da laringe, da faringe e da lingua, que produzem a fala. A rea frontal anterior de Broca ro é a tinica regio que se de- senvolve simultaneamente com a dominéncia manual, muitos outros nfveis e sistemas funcionais corticais desenvolvemse em conjungo com a potencialidade e a expressiviciade postural e manual. ‘Desde oinicio da vida, a motricidade antecipa a cognicio, posteriormen- te, ambas as componentes coincidem ¢ em seguida coexistem neurofun- cionalmente, para, finalmente, a cognigdo processar, planificar ¢ intograr a ‘motricidade. Da aco ao pensamento ¢ do pensamento a acio, retrata um paradigma inseparsvel e dialético da evolucao humana, tanto filogenética, como ontogeneticamente (Wallon, 1963, 1969; Fonseca, 1992a, 1977). O Homo sapiens e, conseqiientemente, a crianga necessitam usar a sua potencialidade corporal (excluindo o seu corpo no sentido de inibir funcio- Aprenber a ArrenpeR / 87 vente), com a finalidade de expressarem 2 sua atividade mental se Schrager, 1978). $6 assim fol possivel e & possivel atingir as gbes superiores da aprendizagem e da adaptabilidade e transformar ¢Migborar a informacgo recebida do envolvimento, o que em si inclui um Satro passo essencial da cognigao, ou seja, a simbolizarfo. ’Kuravés da proprioceptividade e da exteroceptividade (Sherrington, 1947), dois processes vitais de interacao informacional, intra-sométicos ¢ Bara sométicos, produtores de circuitos intra e intersensoriais evolutivos, "gem em comunicagio integrada 0 corpo, 0 cérebro e o envolvimento, Fo lagar a progressiva diferencacio entre espago corporal e 0 espaco extracorporal (Wallon, 1966; Damasio, 1995; Fonseca, 1989b). Estes componentes basicos da cognigo so necessérios para a construgio e co-construcéo da imagem do corpo, paradigma da espécie fumana, matriz corporal de onde emerge a propria mente (Baron-Co- fren, 1995) na especie e na crianca, ou seja, a emanencia antecipada e dindmica da conscioncializacao, o “Sistema centro-encefélico” de Pen- field e Roberts, 1959, a partir do que se formam as imagens que repre- sentam, de forma constante e continua, © ext corporal, a sensagio pro- funda de existir e coexistir, o verdadeiro amago do self; mapa cartogré- fico do corpo, que tem nas regides parietais direitas a sua integracio neurossensorial preferencial, sem os quais a transcend@ncia do gesto & palavra seria impossivel. Trata-se de uma transigio evolutiva da lingua- gem corporal interior & linguagem falada, o que ilustra uma pré-es- trutura do desenvolvimento cognitivo tanto na espécie, como na crian- s@ (Damésio, 1995) Gee pits = _LINGUAGEM ESCRITA 4 | CRAFOMOTRICIDADE (Lin guagem logogrifica e visuogratics) onomorsicnane ~~: LINGUAGEM FALADA ~ rmilhtede tee (Linguagem auditivo-verbal) EA ose mts de oos_f INGUAGEM COR 88 / Vitor Da Foustca Para comunicar com 0s outros, a linguagem corporal a primeira a ser apropriada filogenstica e ontogeneticamente (Hall, 1986), como que prefigurando as diversas formas de linguagem numa seqiiéncia evolutiva dos analisadores sensoriais, descle o tatilo-quinestésico, passando pelo auditivo, até o visual, consubstanciando assim a hierarquia da linguagem, na espécie ¢ na erianga = Corporal nao-verbal), para 2 qual foram necessérios varios milhbes de anos para conquistar; = Falada (verbal), para a qual foi necessério 1 milhdo de anos; = Escrita, para a qual foram necessérios 4000 anos. Todos 0s analisadores sensoriais do corpo esto envolviclos no de- senvolvimento cognitivo e na aprendizagem, por esséncia uma modifica- bilidade multissensorial, que ilustra de forma original 0 cérebro trinico de McLean, 1973. Para desenvolver a cognigao, a crianca aprende a sobrepor 0 sinal visual (grafético) a0 auditivo (fonético) jé anteriormente armaze. aly, depois de justapor o sinal auditivo sobre o sinal tétilo-quinestésico (Bower, 1976; Ayres, 1982; Brierley, 1987; Fonseca, 1987), Como perspectiva, para Fries, 1962, 0s sinais da linguagem so os mesmos, eles assumem em termos neurofuncionais uma duplicacao e tuma equivaléncia na significacio, s6 as moclalidades de processamento € que mudam. Como conseqiiéncia desta re-representacao e duplicagio transiente, 0 processo do desenvolvimento cognitivo traduz-se numa aprendizagem consubstanciada na transferéncia dos sinais. tatilo-qui- nestésicos aprendides anteriormente para outras modalidades neuros- sensoriais, especificamente auditivas, visuais e aprendidas subseqtien- temente, que integram os mesmos sinais, mas estruturalmente trans- formados, ilustrando um passo filo e ontogenético decisivo, a transfe- séncia de complexidade neurofuncional, que ocorre do hemisfério néo- simbélico para o hemisfério simbélico, do direito para o esquerdo, do global-espacial a0 logico-analitico, um percurso inexordvel da apren- dizagem humana ‘ O hemistério simbdlico (0 esquerdo) é o sistema preferencial para 0 processamento verbal e seqiiencial. O hemisfério postusal (0 diteito) 6 0 sistema preferencial para 0 processamento corporal-espacial ¢ simult’- neo, uma explicacéo plausivel para compreender a hierarquia da lin- guagem na espécie e na crianca, da linguagem corporal nio-verbal a linguagem falada, e desta a linguagem escrita, dois dos grandes passos da ascensao da cognicao humana, A hierarquia da linguagem prefigura, portanto, a hierarquia da cognigao, e a neuropatologia hoje confirma-o inequivocamente. desenvolvimento cognitivo emerge, conseqiientemente, das inte- rages dos varios sistemas ecoldgicos [endo, micro, meso, exo e macros- sistemas (Brofenbrenner, 1977)] e das interagdes dos varios sistemas intra e extra-sométicos, ou seja, das multiplas integragoes neurofun- Aprexpe a ApRENDER / 89 ionais entre 0 corpo € 0 cérebro do individuo (Damasio, 1995), sistema {ntegrado complexo, que pode ser destrufdo por pressdes envolvi- jentais ot por condicées patoldgicas inerentes aos substratos neuro- Jgicos pré-estruturados da espécie humana "A cognicao humana envolve uma espécie de sintaxe ou gramatica- idade corporal e cortical, uma aparente liberdade da informagio que reula entre 0 corpo, o cérebro ¢ 6 envolvimento, um anel sinergético e farcional através do qual o cérebro ata no envolvimento ou no mundo exterior e recebe informacio a partir dele por meio das agéncias sensoriais fe motoras do corpo (Trevarten, 1980). Para se adaptar a uma sociedade tecnolégica evoluida e em ace- Jerada mudanca, a crianca teré de integrar na sua mente interior o mundo exterior. Tal integragio aprendida socialmente e contextualizada decorre de diferentes tipos de linguagem, nao s6 integrados como transientes, llustiando uma metamorfose neuroevolativa (Precht], 1981) surgida da lin’ guagem do corpo como tentro das emocies, posteriormente direcionada para uma linguagem falada e, finalmente, transcendentalizada numa linguagem escrita. Em termos evolutivos, o desenvolvimento cognitivo resulta de uma distincia interior entre o corpo e o cérebro, distancia essa a que chamamos consciéncia, uma verdaceira sintese psicomotora tinica da espécie humana, wavelmente decorrente do sentimento profundo do ewe do émago do self Tal consciencializacao mediatizada pela aprendizagem social assegura o controle do sistema nervoso sobre o corpo, o universo somtico que tem. que ser isolado para que se possam procuvir formas superiores de cog- nigio, isto 6, a préviscivilizacional. RESOLUCAO DEPROBLEMASE AQUISICAO, DECOMPETENCIAS COGNITIVAS O desenvolvimento cognitive emerge, portanto, de um proceso se- giiencial faseado e ordenado, nao s6 na ontogénese como na filogénese, como acabamos de equacionar, onde cada fase ¢ marcada por mu- dangas quantitativas ¢ qualificativas como invariantes que ilustram principios organizacionais e regras de sistemas (Gibson e Levin, 1957), de tal forma que a estrutura ¢ imposta ao mundo exterior para lhe dar sentido. Aevidéncia de mudanas sucessivas e a aquisigio de conhecimentos sugerem que as criangas se tornam cada vez mais’ planificadas, catego- tizadas e automatizadas ao lidar com a informagio (Wittrock, 1980). A medida que as criangas se tornam mais conscientes das exigéncias inerentes as tarefas, elas comegam a organizar os seus métodos de abor- 90 / Virox oa Fonseca dagem a informacao e desenvolvem progressivamente uma espécie de programa mestre (Gleitman, 1981) (© grau até o qual as criancas trabalham a informagio, isto é elaboram os detalhes em conceitos mais alargados, afeta a maneire como elas planificam os dados, como automatizam 0s seus compo. nentes © como os problemas sdo resolvidos em menos pasos, mas, ob-viamente mais amplos ¢ integrados sistemicamente (Jeffrey, 1972, Rouke, 1986). Primeito, a crianga aprende modos mais efetivos de resolver pro- blemas, como resultado da sua interacto e mediatizagao com 0 mun. do composto de relagées complexas. Elas tornam-se progressivamen: te mais eficazes na sua capacidade de descobrir e usar estruturas de or dem mais elevada, principios organizacionais ou conjuntos de regras de sistemas (Feuerstein, 1987). Neste sentido, 0 que é aprendido pode ser descrito como um recurso a um repertério de estratégins mais eficiens tes para aprender (Denckla, 1983), consubstanciande uma maior capa cidade de aprender a aprender. undo, a crianga constr6i e co-constréi, com a ajuda dos seus mediatizadores, um armazenamento de conhecimentos em que as novas informagdes se tornam parte integrante dos sistemas preexis- tentes, nao tanto por adicao ou acumulacio pura e simples, mas por elevaséo das relagies previamente estabelecidas, ampliando, assim, os horizontes jé conhecidos, A cognigao cresce e desenvolve-se na medida em que a crianca gera e manipula padrées estruturados de informasao, que fazem sentido e que obedecem a um preenchimento sistémico do tipo “gestaltiano” (Turvey, 1977), A resolusao de problemas é um processo ativo que consiste numa série de’ passos interiotizados ou numa familia de_procedimentos em diresao a uma resposta (output desejada. Desta forme, é fanda- ‘mental identificar ¢ isolar os elementos relevantes do problema (inpus) € depois reformulé-los e elaboré-los em fases no plano geral. Entre- tanto, clentro destes processos cognitivos so propostas varias solugaes alternativas, elas em si analisadas e avaliadas e, finalmente, expressas a luz do plano interior (Feuerstein, 1987). A aquisicso de competén- cias cognitivas é, assim, equivalente ao problema resolvido (Bruner, 197; Koher-Rae, 1977). Em ambos os casos tem-se que identificar as necessidades especificas das tarefas, ou ter-se que desenvolver um plano de ago capaz de atingir a resposta pretendida, isto é usar seqiiéncias préxicas para atingir 0 objetivo final e fugal (Kirk, 1981; Gardner, 1994). Nas criangas muito jovens, para chegarem a um objeto, por exem- lo, os comporentes cognitivos dos movimentos, tais como abrir a méo, Prender, tocar, etc,, estéo organizados de forma soita e flexivel, mas com a experiéncia ¢ a habituagao, os componentes cognitivos do movi- Avnenper 4 Arrenper / 91 mento comecam a tomar uma organizacao segiiencial espaco-temporal jntencional (Paillard, 1961; Bemstein, 1967; Bruner, 1973; Piaget, 1976; Luria, 1980) O fluxo de movimentos e as melodias cinestésicas lurianas, que con- substanciam as solugdes dos problemas, sio seguidos de um dispéndio de cenergia mais econdmico, e por esse dispositivo cognitivo o objetivo é atin- jo com maior sucesso. Parece que por ler resoivido o problema ou ter fido a idéia do movimento necessério para atingir e apanhar 0 objeto, a Subprocess intra - HE->) ir Sulbprocesointegrtiva Z. soraiin \\ a Subprocesso 1Q-v.T0~ Subsistema de Processamento de Nivels de Isformagso = descodificaios = relengio § =gencraliatdoz = attgrizagso V~TQ:V~A; SSS ——= tes A-T0; A-Vi Subprocesso integrative esto al simbalo Fycespecializacio hemisférica Hemisfério | Hemisferio fesquerdo | dizeito Processamente: Processument: expesificias. Basicamente, ela consiste num processo integrativo que depende do desenvolvimento de uma linguagem interna adequada. Esta eficiéncia aumentada, propor- cionada pelas representacies verbais, permite um sisiema allamente de- senvolvico, que é a aprendizagem abstrata Todo este processo cibernético, dotado de uma hierarguia cognitiva, 1ove um Tefinamento futuro dos processos mais inferiores, um feito eferente-aferente que causa a emergéncia de niveis mais elevados e superiores, dentro do contexto de uma completa estrutura cognitiva (Anckhin, 1975). Um modelo conceptual semelhante ao mapa cognitivo que constitui 2 organizacio psicopedagégica e as sete dimensées da ‘aprendizibilidadedo PEL ‘0 modelo total dos sistemas cognitivos esté agora completo, um triangulo cognitivo total dividido em quatro estratos, cada um repre- sentando um nivel informativo, conceitulizagio imagem ercepeto Sistemas para o processamento de niveis de informacio 106 / Viror ba Foxseca SOSH Neto eh ine Trés vis6es de sistemas cognitivos tém sido apresentadas como a base para um modelo neuropsicolégico do PEI. Individualmente ou em combinagéo, elas proporcionam um paradigma particularmente tit] para compreender a avaliacao e a intervengao de modelos para as dis- fang6es cognitivas. ‘O PEI fem demonstrado causar uma influéncia benéfica e duradoura em individuos de prestagao cognitiva baixa, por que nao também em pessoas com lesdes neuroldgicas? O seu impacto nao se limita a estudantes ou formandos, acreditamos que 0 programa pode ter um efeito signif cativo nos individuos com distiirbios neurolégicos. OPEL, como uma prétese cognitiva ou como uma “muleta para a cognicao”,” pode no s6 ajudé-los no seu pensamento, mas também fottificar a sua auto-imagem e os seus problemas emocionais, uma vez que ele oferece abundantes oportunidades para a exploracio de una inultidgo de aquisig6es cognitivas. Este modelo de represen. layau de processus cugnitivos, com concomitantes neurolégicas, po- de oferecer algumas implicagoes clinicas para os individuos com le 86s neurolégicas. Deste modo, um diagnéstico diferencial e um pla- no cognitivo individualizado, desenvolvido para cada individuo a quem tenham sido. identificadas disfunc&es cognitivas, sio essenciais para Ihe permitir a conquista de perfomances cognitivas anteriormen- te consideradas impossiveis. = = Conceitualizagio BAIXO E— RENDIMENTOS fdentifiagio discriminagio atencio Percepsia ApnENDER « APRENDER / 107 Com 0 instrumento para a avaliagao do potencial de aprendizagem (EPAD) com o programa sistémico de intervenciio neurocognitiva do PEI, acreditamos firmemente que é possivel mudar pessoas com lesbes new. ol6gices € com um funcionamento baixo em pessoas com funcio- pamento médio ou mesmo acima dos niveis cognitivos esperados, sim- plesmente porque a pratica ¢ a pesquisa da teoria de Feuerstein oferece {uma solucdo para este problema, algo mais que um simples curticulo tivo. ‘A modificabilidade cognitiva estrutural e a experiéncia de apren- dizagem mediatizada permitem uma pritica original e inovadora pa- ra 0 desenvolvimento de funcdes cognitivas em individuios portadores de lesdes cerebrais, na medida em que se encontram ligadas a uma teoria neuropsicolégica, como tentamos expor. Tais abordagens, em sinte- se, propiciam 0 surgimento de uma intervencio cientifica na reabili- {aio cognitiva, certamente um novo desafio extraordinario para as tera- pias convencionais

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