Sei sulla pagina 1di 32
978.95-7241-862-1 Capitulo 3 Diagndstico e Nexo com Trabalho Silvia Rodrigues Jardim Andréia Ramos Débora Miriam Raab Glina *{.) 98 minha opiniso, 0 médlco assume deveres no sé em relagéo 20 paciente individual, mas também em relacao& ciénca; e seus deveres para coma circa sigificam, er iltima andlise, nede mis que seus ‘deveres para com os inimeros outros pacientes que sofrem ou softerdo um dia do mesmo mal." FREUD, 5. Um caso dehistera. ESB, Vil (1901-1905), p. 6. Introducéo ‘A Organizac3o Mundial da Satide (OMS) estima indices de 30% de transtornos men- tals menores e de 5 a 10% de graves, na populacdo trabalhadora ocupada. Estima, ainda, que até 2020, se persistirem as tendéncias atuals da transicao demografica e epidemiologica, a carga da depressao subir a 5,7% do de doencas, tornando-se a segunda maior causa de anos de vida ajustados em razo da incapacidade (AVAl) perdidos. Em todo o mundo, somente as doencas isquémicas do coracdo comprome- ‘tem mais AVAI que os transtornos mentais. Pesquisas multicéntricas realizadas em paises desenvolvidos e em desenvolvimento mostram que mais de 25% das pessoas apresentam um ou mais transtornos mentais ou comportamentais ao longo da vida! De acordo com Mendes, os dstirbios mentais esto aumentando como problema ‘em todo mundo, principalmente nas éreas metropolitanas, onde estima-se que 18% dda populacio necessitam de algum tipo de ajuda psiquistrica®, Cadilhe et al. apon- ‘tam 0s “transtornos mentais e do comportamento” como as doencas que afastam por mais tempo os trabalhadores do trabalho® Os dados de beneficios concedidos pelo Instituto Nacional de Seguridade Social {(INSS) em 2002 apontam as les6es e envenenamentos; as doencas osteomusculares € do tecido conjuntivo; as ciculatérias, e as mentais e do comportamento como os quatro maiores grupos de causas de beneficios concedidos a trabalhadores segura- dos no Brasil. Os transtornos mentais ocupam a terceira posicao entre os motivos de concessao de beneficios previdenciérios’. Barbosa-Branco et al, estudaram os anos de trabalho potencialmente perdidos pela populacdo trabalhadora segurada pelo INSS no periodo de 2003 a 20048. 9 50 Aspectos Concetuas Em 2004, foram concedidos 103.393 beneficios do tipo auxilio-doenca para doencas mentais, dos quais 99,4% referem-se a auxilio previdenciério, ouseja, sem reconhe- cimento da relacéo trabalho-doenca. Em 2004, as doencas mentais responderam or 9,8% do total de beneficios de auxilio-doenca. Entre as doencas mentais espe- cificas mais comuns, a depressao fica em primeiro lugar, com 53.269 beneficios concedidos. Seguem-se os transtornos ansiosos (11.059 beneficios), alcoolismo (7.078), reacées ao estresse grave (4.623), esquizofrenia (4,596) e transtornos afe- tivos bipolares (4.151). Os autores identificaram, ainda, que, no periodo analisado, concederam-se 270.382 beneficios por doencas mentais e do comportamento a uma Populagao média de 17,183,827 vinculos empregaticios, resultando, no perlodo, em uma prevaléncia de beneficios por doenca mental de 15,73 por 1,000 vinculos. Na ~anélise da distribuigao dos beneficios decorrentes de doenca mental em relacdo a0 © ramo de atividade, observou-se que as maiores prevaléncias (a cada 1.000 vinculos) foram na administracdo publica, defesa e seguridade social (138,6), servicos presta- dos principalmente a empresas (88,6), fabricacdo de maquinas e equipamentos (72,3) extracao de petroleo (43,8). Em termos epidemiol6gicos, particularmente no conjunto das doencas mentais, 05 episédios depressivos e o estresse esto entre os mais estudados na populacio trabalhadorat. Entretanto, nao é simples estabelecer relacdes de determinacdo entre o trabalho @ as doencas ou transtornos mentais. Trata-se, entdo, de um processo diagnéstico que se da em diversos niveis, mas que necessariamente passa pela clinica, pois somente nesse nivel pode-se estabelecer um vinculo entre uma teoria a respeito do psiquico ou uma classificacéo dos transtornos mentais os efeitos do trabalho ou, mais es- pecificamente, da organizacio do trabalho sobre os trabalhadores, Os transtornos mentais ¢ do comportamento relacionados ao trabalho podem ser definidos como aqueles determinados pelos lugares, tempo e acées do trabalho. Pois, as agbes implicadas no ato de trabalhar podem nao s6 atingir 0 corpo dos trabalhadores, produzindo disfungées e lesdes biol6gicas, mas também acarretar reagbes e efeitos psiquicos devido as “situacbes de trabalho", ou seja, as caracte ticas do processo, das condicdes e da organizacao do trabalho, incluindo as relagoes de trabalho, quando patogénicas. Em decorréncia do lugar de destaque que o trabalho ocupa na vida das pessoas, sendo fonte de garantia de subsisténcia e de posicdo social, a sus falta gera sofri- mento psiquico, pois ameaca a manutengo material da vida do trabalhador e da sua familia. Além disso, a falta de trabalholemprego abala o valor subjetivo que o individuo atribui a si mesmo, produzindo sentimentos de menos valia, angustia, inseguranca, desanimo e desespero, que caracterizam os quadros ansiosos e de- Pressivos. © trabalho também ocupa um lugar fundamental na dinamica do investimento afetivo das pessoas, Por isso, 0 trabalho satisfatério determina prazer, alegria e saide. O trabalho desprovido de significagao, nao reconhecido ou fonte de ameacas a integridade fisica e/ou psiquica determina sofrimento. Em uma car- Feira profissional, fracasso, acidente de trabalho, mudanca de posi¢ao (ascenso ou queda) na hierarquia podem determinar quadros psicopatologicos diversos, indo desde os chamadk ses graves e ince © trabalho oc Vigilia. Jornadas d com refeicoes de alternados ou ini controle do temp ‘ou chefias impede tho, gerando qua Osniveisde ate nados com a press do trabalho que c flexibilidade) pod quadros caracteriz As intoxicacoes razdo da acao toxi nam distirbios me nervosismo, inguie €, por fim, com ev Os acidentes de exemplo, afetam « cranio-encefélicos tes de trabalho qu determinam, por v dromes psiquicas p Diversos tipos d psiquico dos trabal agdo sobre o céreb tendo fungées, ou Temos, ainda, a cerebral (sindromes psicossociais (ansie de mudancas no pi seguridade social, 1 dos quadros psiqui 05 riscos quimice objetiva e mais an como o primeiro ag @ mental, em que essa substncia?. M > mentais, destacand envolverem acoes ¢ € 0 caso de contate elevada tensio, es ORIEL U6 Diagnéstcoe Nexo com Trabalho ~ St desde os chamados transtornos de ajustamento ou reacées ao estresse até depres- ses graves e incapacitantes. 0 trabalho ocupa grande parte do tempo em que os trabalhadores esto em vigflia. Jornadas de trabalho longas, com poucas pausas destinadas a descanso e/ou com refeicdes de curta duracao e em lugares desconfortaveis, turnos noturnos, alternados ou iniciando muito cedo pela manhi, ritmos intensos ou monétonos, controle do tempo de trabalho em r2zo das maquinas e presséo de supervisores ou chefias impedem que o trabalhador detenha o controle do tempo do seu traba- tho, gerando quadros ansiosos, fadiga crénica e distdrbios do sono. Os niveis de atencao e concentracao exigidos para a realizacao das tarefas combi- nnados com a pressio exercida especialmente pelas novas tecnologias de organizaco do trabalho que caracterizam a chamada reestruturacao produtiva (enxugamento, flexibilidade) podem gerar tensdo e outros sinais de ansiedade, culminando em quadros caracterizados como esgotamento profissional (burnout). ‘As intoxicagoes ocupacionais, especialmente por metais pesados e solventes, em razdo da acdo tOxica direta sobre os sistemas nervosos central e periférico determi nam distirbios mentais com comprometimento do comportamento (irritabilidade, rnervosismo, inquietacéo), da meméria e da cognicao, inicialmente pouco especificos «, por fim, com evolucao crdnica, muitas vezes irreversivel e incapacitante. Os acidentes de trabalho podem ter consequencias mentais diretas quando, por exemplo, afetam diretamente o sistema nervoso central, como nos traumatismos cranio-encefalicos com concussao e/ou contusdo. Entretanto, a vivencia de aciden- tes de trabalho que envolvem risco de morte ou que ameacam a integridade fisica determinam, por vezes, quadros psicopatolégicos tipicos, caracterizados como sin- dromes psiquicas pés-traumaticas. Diversos tipos de cargas de trabalho interferem de forma direta com o estado psiquico dos trabalhadores, ou seja, agem no dinamismo da vida psiquica ou pela ago sobre o cérebro de cargasfisicas, quimicas, biolégicas, mecanicas, comprome- tendo func6es, ou sobre os sistemas cerebrais cortical e subcortical Temos, ainda, a combinacéo de sindromes relacionadas @ disfungao ou leséo cerebral (sindromes neuropsiquiatricas),sindromes psiquicas reativas aos estressores psicossociais (ansiedade, depressio) e deterioracao da rede social em decorréncia de mudangas no panorama econdmico das relacdes de trabalho (orecariedade da seguridade social, niveis de emprego/desemprego etc.), aumentando a gravidade dos quadros psiquidtricos relacionados 20 trabalho. 5 riscos quimicos ocupacionais figuram entre aqueles com caracterizagao mais objetiva e mais antiga com os distrbios mentais, O sulfeto de carbono aparece ‘como primeiro agente quimico (1856) a ter sua relacao estabelecida com a doen- cz mental, em que se descreve um quadro de depressao associada a exposicao a essa substancia’. Mas diversos fatores ocupacionais estao relacionados as doencas mentais, destacando-se as atividades socialmente desprestigiadas, em razao de envolverem aces e materiais considerados desagradéveis ou repugnantes (como & 0 caso de contato com cadaveres, esgoto, lixo), e 2s ocupacdes sob constante € clevada tenséo, especialmente quando nao ha apoio social e reconhecimento, S52 Aspectas Concetuals destacando-se as atividades perigosas, grande densidade de atividade mental, tra- balho mondtono, isolamento, afastamento prolongado do lar, entre outros® ‘0 Decreto n® 3.048/99, de 06 de maio de 1999, do Ministério da Previdéncia € Assistncia Social (Diério Oficial da Unido de 12 de maio de 1999 - n® 89) é um marco histérico de avanco no reconhecimento das relac6es de determinacéo entre +ranstornos mentais e condicdes de trabalho, ao apresentar, na Lista B do Regula- mento da Previdéncia, a nova Lista de Doencas Profissionais e Relacionadas 20 Trabalho, que inclui diagnésticos do Capitulo V da Classificacao Estatistica Interna- ional de Doengas e Problemas Relacionados a Satide, décima edigao (CID-10), ou seja, dos Transtornos Mentais e do Comportamento (capitulo do digit F). Ess lista caracteriza-se por ter uma dupla entrada: na primeira coluna, encontram-se 0s diagnosticos das doencas, e na segunda, os agentes etiol6gicos ou fatores de risco de natureza ocupacional. Faz parte dessa listagem um conjunto de 12 categorias diagnésticas de transtornos mentais. A lista proposta é, como toda a classficagao, representativa de um estagio do conhecimento e que, portanto, deverd ser sempre aperfeicoada. As categorias diagnésticas indicadas sao as seguintes: Investig ‘Quadro 3.1 — Trang (codificados sequny Relacionados @ Sad = Deméncia, em “G ‘= Delirium no sob = Transtorno coat * Transtorno oraéa Transtorno ment Sindrome de dep Episédio depress = Transtorno de-est 1 Neurastenia (48 1» Outros transtorn + Transtornos naa¢ = Sensasio de esta Deméncia, em “Outras Doencas Especificas Classificadas em Outros Locais” (F02.8) do Trab Delirium n&o sobreposto a deméncia (F0S.0) * Transtorno cognitivo leve (F6.7) O estabeleciment Transtorno organico de personalidade (FO7.0) ‘objeto de questio Transtorno mental organico ou sintomatico néo especificado (FO9-) de satide, aos dre Alcoolismo crénico (F10.2) ‘sequranga do tral Episédios depressivos (F32.-) premissa de que é ‘Transtorno de estresse pés-traumatico (F43.1) Tho, sob o argume ‘Sindrome de fadiga (incluida em Neurastenia) (F48.0) ‘um carater exclusi [Neurose ocupacional incluida em Outros Transtornos Neurdticos Especificados)(F48.8) previdenciarios, c Transtorno do ciclo sono-vigilia (incluido em Transtornos do. Ciclo Sono-Vigilia Ocampo de in nao Orgénicos) (F57.2) ipressoes historice Burnout ou sindrome do esgotamento profissional (273.0) “problema da pro “expostos agrave COs agentes etioligicos ou fatores de risco de natureza ocupacional (Quadro 3.1), incluindo a org: arrolados na nova Lista de Doengas Profissionais e Relacionadas a0 Trabalho, vao imir, com om desde agentes quimicos, como manganés, sulfeto de carbono, chumbo, merciirio, idade social, a a solventes organicos, até condicdes dificeis de trabalho, circunstancia relativa as Fesa e promocé condigées de trabalho, problemas relacionados ao emprego e desemprego, ritmo ppenoso de trabalho. Sempre se podem usar os codigos X, ¥ eZ, da CID-10, para A construgao « dlassificar, no caso em avaliacdo, a condicao ‘encontrada como relacionada ou cau- yr em perman sadora do transtorno mental. u de criativide Neste capitulo, portanto, vamos abordar a construcao do diagnéstico dos trans- mao que permi tornos mentais relacionados ao trabalho considerando a anamnese ocupacional, a de responsabil historia de trabalho e o exame dos trabalhadores adoecidos, ou seja, indicando o cuja atengao processo de estabelecimento dos nexos causais entre os sinas e sintomas apresen- adoecimento tados pelo paciente/trabalhador € 0 trabalho exercido. yuranga.e dire 978-85-7241-862- Diagnéstco e Nexo com Trabalho ~ 53, ‘Quadro 3.1 —Transtornos mentals e do comportamento relacionados 2o trabalho (codificados segundo a Classificacdo Estatistica Internacional de Doengas e Problemas Relacionados a Saude, décima edigao) 7 Deméncie, em *Qutras Doencas Especificas Classificadas em Outros Locals” (F02.8) Dalirium nao sobreposto & deméncia (F05.0) Transtarno cagnitivo leve (FO6.7) “Transtorno organico de personalidade (FO7.0) “Transtorno mental orgdnico ou sintomtico nao especificado (FO9) Sindrome de dependéncia de slcool (F10.2) Episodio depressvo (F32) Transtorna de estresse pés-traumstico (F43.1) Neurastonia (F48.0) Outros tronstomos neuréticor especifcados- incuinde neurose profissional(F48.8) Trenstornes nao orgBnicos do ciclo sono-vgiia 51.2) Sensagao de estar acabado - burnout 273.0) Investigacdo Diagnéstica em Satide Mental do Trabalhador O estabelecimento da relacio causal entre agravos & salide mental e o trabalho ¢ objeto de questionamentos entre os diferentes profissionais vinculados aos ervicos de satide, aos érgaos previdencidrios, aos sindicatos e aos servicos de medicina e seguranca do trabalho das empresas. Nesse contexto, ha aqueles que defendem a premissa de que ¢ impossivel estabelecer nexo causal entre doenga mental e traba- Iho, sob o argumento de “invisibilidade” dos sintomas psiquicos, atribuindo a estes um cardter exclusivamente subjetivo, Nao & comum o reconhecimento, pelos 6rgdos previdenciérios, de nexo ceusal entre o trabalho e um transtorno psiquico. ‘O campo de investigacao das condicées de trabalho ¢ especialmente sensivel as pressdes historicas dos interesses sociais que se contrapde, uma vez que toca no problema da producao econdmica. Posto que todos os trabalhadores podem estar expostos a agravos sua sate fisica e mental (agravos esses gerados pelas condicoes = incluindo a organizagao - em que o trabalho é realizado), surge a urgéncia de se ‘assumir, com 0 maior rigor cientifico que se possa ter e com profunda responsabi Tidade social, a andlise dos fundamentos teéricos utilizados como ferramentas de defesa e promoco de praticas que permitam uma relacao mais harménica e menos lesiva entre o trabalhador e sua atividade ‘A construcéo de um pensamento critico no campo das ciéncias da sade ha de estar em permanente processo de recriacéo, razo fundamental para manter o alto rau de criatividade e renovacdo dos caminhos teéricos®. Portanto, ter instrumentos 3 mo que permitam reconhecer a precocidade de agravos relacionados ao trabalho de responsabilidade dos campos de saberes nao s6 médicos, mas também daque- les cuja atencdo esta voltada as relagGes que cercam condigdes de trabalho/riscos de adoecimento, como a psicologia, servigo social, enfermagem, engenharia de seguranc@ e direito do trabalho. St Aspettos Coneeituas Em virtude de haver poucos profissionais de sade treinados especificamente para reconhecer ou prevenir doencas relacionadas ocupacao, corre-se 0 risco de nao se fazer a associacdo entre os riscos ocupacionais e a doenca manifestada pelo trabalhador. Quando profissionais de satide falham em perguntar 20 pa- ciente sobre seu trabalho, doencas podem ser incorretamente atribuidas a causas no ocupacionais; exames desnecessérios, solicitados; pacientes, referencia- dos a médicos especialistas igualmente despreparados para relacionar exposicoes cocupacionais @ doenca; e uma oportunidade, perdida para proteger outros tra- balhadores em risco'®, ‘A obtencdo da histéria ocupacional & um momento importante do processo de construgdo das associagbes entre os sintomas principais do paciente e o trabalho, sendo seguida por questionamentos mais detalhados, se as respostas produzirem uma suspeita clinica. Para se obter tais informacdes, é importante que o profissional de saiide inclua a anamnese ocupacional, de forma que informacées vilidas e sequ- ras sobre exposigdo ocupacional possam ser fornecidas sem sacrificar 0 tempo gasto com 0 individuo, evitando, por exemplo, a pratica de solicitar a pacientes que res- pondam a questionérios antes de serem observados por um profissional de sauide, Deveria ser uma pratica comum entre os psiquiatras e demais profissionais da sade mental incluir na entrevista uma simples pergunta: “Qual a sua profissao?” Bernardino Ramazzini jé salientava a importancia da anamnese ocupacional 20 dizer: “Tal pergunta {qual 2 sua profisséol, considero oportuna emesmo necessario lembrar ao médico que trata um homem do povo, que dela se vale para chegar as causas ocasionais do mal ..)." Trata-se, portanto, do primeiro instrumento do qual se pode langar mao no processo de investigacao dos agravos a satide relacionados ao trabalho", Muito se tem discutido sobre as anamneses ocupacionais, propondo-se modelos que sejam completos. Devemos ponderar, entretanto, que talvez no seja necessério um modelo exclusivo de anamnese ocupacional, mas sim que as perguntas referentes 20 ‘tema sejam incorporadas as anamneses tradicionais, Pode-se naturalmente incuiritens sobre a histéria laboral do individuo, em conjunto.com aqueles a comumente avaliados. Assim, questées como condicées de trabalho, medidas de protecio, descrigéo de um dia laboral, relacdes no local de trabalho e atividades exercidas anteriormente podem ser avaliadas quando se realiza uma entrevista em sade mental Através de uma anamnese ocupacional e de trabalho bem colhida, 0 profissional de satide mental poders, mesmo sem visitar o local de trabalho, ser capaz de cole- tar dados sobre os tipos de exposicées do ambiente de trabalho do paciente. Na anamnese livre, a entrevista que busca a formulagso de uma hipdtese diagnéstica, deve-se atentar para alguns pontos essenciais & deteccio da relacdo dos sinais € sintomas psiquicos com o trabalho: + Perguntar sempre pelo trabalho do paciente, * Explorar os relacionamentos no trabalho e fora dele. * Considerar a historia clinica e ocupacional, em correlagéo com a histéria de vida. Obter informa alimentacio, t Obter informa as datas e outr a consulta as No levantame Ihador vé a su ‘Quando o pac ‘comunicagao trabalho, cont cimento social Ao abordar a: as fontes, tipo ailuminacao i substancias qu ‘ar sobre as c Indagar sobre instrumentos, Com relacao : (fixo, alternac ticas de pesso de trabalhade Buscar a com _repetitivos e | ‘trada, memér a processar, t cionais) que aptides e po Na descricao | descricéo das exatos em qu tam a sua atu Abordar taml Considerar a trabalho, con ‘Além da que de sintomas ‘trabalhadora irritabilidade em questao. Atentar para Perguntar sol "tomas aprese uma sintese -r98-EL-SE-8LG 62 o7s.95-7241 Diagnéstco e Nexo com Trabalho ~ 55 Obter informacdes sobre as condigoes de vida (familia, convivio atual, moradie, alimentaczo, trajeto). Obter informacées fidedignas e completas da histérie ocupacional, explorando as datas e outros fatos importantes relativos a empregos anteriores. Pode-se usar a consulta as carteiras de trabalho do paciente como parte do roteiro. No levantamento da hist6ria ocupacional, procurar compreender como o trabe- Ihador vé a sua trajetoria profissional as repercuss6es em sua satide. Quando o paciente detalhar a situacao atual de trabalho, atentar também para comunicagio e relacionamentos interpessoais, conhecimento do processo de trabalho, controle sobre o trabalho, natureza e contedido das tarefas e reconhe- cimento social Ao abordar as condicées de trabalho, identificar cada uma, qualificar, apontar as fontes, tipo e tempo de exposicao a0 calor ou ao frio, & vibracao, 4 umidade, 8 iluminacio inadequada, as radiacdes ionizantes e nao ionizantes, ao ruido, &s substancias quimicas neurotoxicas, aos agentes biolégicos, entre outros. Pergun- tar sobre as condicées de higiene e ventilacéo. Indagar sobre as caracteristicas do posto de trabalho: mobiliario, equipamentos, instrumentos, materiais etc. Com relagao 2 organizacao do trabalho, abordar: horario de trabalho, tumos (fixo, alternado, noturno), escalas, pausas, horas extras, ritmo de trabalho, poli- ticas de pessoal existentes na empresa, quantidade de trabalho versus numero de trabalhadores, tipo de vinculo empregaticio e treinamento recebido. Buscar a compreenséo sobre as exigéncias fisicas (esfor¢os fisicos, movimentos repetitivos e posturas adotadas), mentais (niveis de vigilancia, atengo concen- trada, meméria imediata e de curto e longo prazos, quantidade de informacoes a processar, tomada de decisoes etc) e psicoafetivas (elementos afetivos e rela cionais) que o trabalho coloce, bem como a possibilidade de utilizacao das aptiddes e potencialidades. Na descricdo da situacéo atual de trabalho, além de uma detalhada e acurada descrigio das atividades do trabalhador, ¢ importante localizar os momentos ‘exatos em que este comeca a perceber mudancas em si e problemas que dificul- ‘tam a sua atuacdo no trabalho e fora dele ‘* Abordar também as perceps6es do trabalhador sobre os riscos ocupacionais. © Considerar a existéncia de riscos combinados e simultaneos nas situagoes de trabalho, com seus sinergismos e outras possiveis interacdes, ‘Além da queixa principal trazida pelo paciente, podemos usar uma checklist de sintomas com prevaléncia reconhecidamente aumentada na populacio trabalhadora em geral, como fadiga, tensao muscular, distarbios do sono e irritabilidade, ou buscar uma checklist especifica para a hipotese diagnéstica em questao. Atentar para uso e abuso de drogas. Perguntar sobre como 0 paciente sente a relacao entre o seu trabalho ¢ os sin- tomas apresentados. Essa pergunta permite ao trabalhador fazer uma reflexéo uma sintese sobre as formas como o trabalho o afeta também subjetivamente 58 Aspctos Conceitues Segundo Lima, a investigacdo diagnéstica compreende a busca de evidéncias epi- demiolégicas que revelem a incidéncia de alguns quadros em determinadas categorias profissionais ou grupo de trabalhadores;o resgate da historia de vida de cada traba- Ihador e as raz6es que apontam para o seu adoecimento; 0 estudo do trabalho real; a identificago de mediadores que permitam compreender concretamente como se da a passagem entre a experinci vvidee o adoecimento; e uma complementacso com informacées decorrentes de exames médicos, psicologicos e socials". A partir dos dados iniciais, poder-se-& pensar em uma rotina de outi sitivos de investigacao (tais como exames complementares) que po: estabelecimento do nexo causal entre adoecimento e atividade laboral. Para a consolidacao do nexo causal com o trabalho, diferentes técnicas podem ser com- binadas. Podem-se usar entrevistas com maior ou menor estruturacdo e/ou testes psicoldgicos. Uma entrevista estruturada segue rigidamente uma sequéncia de perguntas com respostas fechadas, tipo miiltipla escolha. Na entrevista semiestruturada, hd um roteiro de perguntas fixas com respostas abertas. Nas entrevistas nao estruturadas, t8m-se as entrevistas livres com poucas perguntas, mas bastante amplas, ou total- mente livres. Porém é importante um roteiro de perguntas dirigidas para que nao seja esquecido algum ponto importante. A entrevista em sade mental do trabalhador pode ser composta por uma com- 12c0 desses tipos de entrevistas, procurando-se sempre respeitar a0 més forma como o trabalhador constréi o seu discurso, anotando as frases mais signifi- cativas dos relatos do trabalhador. Os testes psicolégicos vao de inventarios ou questionarios adaptados, validados padronizados (por exemplo, inventério ansiedade estado-traco, escalas Beck de depressao) a testes projetivos. 978.85-7241-862-1 Investigacao Diagndéstica da Exposicao a Produtos Neurotdxicos Della Rosa e Colacciopo afirmam existir7 milhes de substancias quimicas conhecidas, sendo 65 mil de uso industrial (das quais 1.000 possuem algum estudo e limites de ‘exposi¢ao, e 136, limites de tolerancia estabelecidos na legislacao brasileira)". Dados do Chemical Regulation Reporter de 1986 (citados por Hartman) apontam para a existencia de 850 substdncias quimicas potencialmente neurot6xicas no local de trabalho". O risco varia de acordo com a ocupagao e neurotoxina especifica, com a idade do trabalhador, quantidade de atividade, sexo e suscetibilidade individual. Podem-se dividir os neurotdxicos em quatro grandes grupos: + Metais: podem afetar os sistemas nervosos central e periférico. Alguns produzem efeitos neurotéxicos no sistema extrapiramidal, tudo depende do metal eda forma em quese encontra. Depende também da habilidade de eliminar substancias toxicas, diferengas metabdlicas, suscetibilidade cerebral ou permeabilidade da barreira hematoencefalica as toxinas. Exemplos: aluminio, arsénico, cadmio, cobre, ouro, ferro, chumio, ltio, manganés, mercirio, nique, platina, selénio, tio, zinco, entre outros. = Solventes: rx emtempera dissolver ou dutos tais co produtos fa ‘octanos; aro ttricloroetile (éteres dep ticas comun nao envolve olhose trat diarreia etc aco anesté duradouros neurolégico ropsicol6« ‘tamental e + Pesticides: tude da exp Incluem or (diclorodife * Outras neu formaldeid Os danos n Efeitos nos e degenerz Efeitosnos seja por di Efeitos con _Paradiagne Indicadore Indicadore Os sinais e Distrbios eficiéncia escrever, fi + Disturbios forca mot Diagnéstico «Nexo com Trabalho- 87 Solventes: nome genérico para um grupo de compostos quimicos que sao liquidos fem temperaturas variando de 0 a 250°C. Sao usados industrialmente para extrait, dissolver ou suspender materiais nao soliveis em agua. Estao presentes em pro- dutos tais como tintas, adesivos e colas, sendo usados em tingimento, polimeros e produtos farmacéuticos. Incluem hidrocarbonos (alifaticos: hexanos, pentanos, ‘octanos; aromaticos: benzeno, estireno, tolueno, xileno), compostos halogenados (tricioroetileno, percloroetileno), alcodis (metanol, etanol), solventes complexos (teres de petréleo, nafta etc.) e cetonas (metiletilcetona), Todos tém caracteris- ticas comuns: volatilidade, solubilidade, ipoflia. Os efeitos toxicos variam, Alguns rndo envolvem o sistema nervoso central (irrtam as membranas das mucosas dos olhos e trato respiratério superior, provocam nauseas, perda de apetite, vomito, diarreia etc.); podem deprimir a atividade do sistema nervoso central (SNQ) pela ‘ago anestésica, Pode ocorrer sensacio de embriagués e ataxia, Efeitos mais duradouros s6 ocorrem com alguns: dissulfeto de carbono, tolueno etc. Exames neurologicos sao normais, ano ser em casos mais graves de exposicso. Efeitos neu- ropsicoldgicos podem surgir bem cedo, incluindo disfuncées cognitiva, compor- tamental e emocional Pesticidas: afetam tanto funcOes cognitivas como emocionais. Apesar da magni- ‘tude da exposicao potencial, existem poucos estucos sobre seus efeitos neurot6xicos. Incluem organofosforados (malation, parationa etc), hidrocarbonos clorinados (diclorodifenittricloroetano {DDT}, carbamatos etc. Outras neurotoxinas: gases anestésicos, mondxido de carbono, éxido etileno, formaldeido etc. 978-85-7241-862 Os danos neurotéxicos podem ser de trés tipos: Efeitos no sistema nervoso periférico (SNP), incluindo desmielinizagao segmentar e degeneracao axonal. sema nervoso central, seja por consequéncias diretas nos neur6nios, seja por disturbio no metabolismo dos neurotransmissores. Efeitos combinados no SNC e SNP, Para diagnosticar esses danos, podem ser utilizados dois tipos de técnicas diagnésticas: ‘© Indicadores de dose interna. ‘= Indicadores de efeito (este ¢ 0 caso dos testes neuropsicolégicos). Os sinais e sintomas mais frequentes de neurotoxicidade so: Disttrbios cognitivas: inteligéncia, atenc3o, concentracéo, raciocinio abstrato, eficigncia cognitiva, afetando inclusive as habilidades aprendidas na escola (le, escrever, fazer contas) e podendo ser globais (como no caso da deméncia). Disttirbios motores: velocidade motora, coordenaco motora fina € grossa e forga motora. al 58 AspectasConcetuas Disturbios sensoriais: visuais, auditivos e tateis, além de parestesias/anestesias. intoxicacso por Disturbios de meméria e aprendizagem: meméria a curto prazo (informac3o thador (incluind verbal e nao verbal) ea longo prazo (verbal e nao verbal), além de aprendizagem Lapa, So Berns (definida como a codificaco de novas informacées). Municipal de Se Distrbios visuais-espaciais: incluindo as apraxias construtivas (incapacidades ou sidade de Sao dificuldades de reproduzir ou desenhar espontaneamente formas antes repro- Ecologia Huma duzidas ou desenhadas sem dificuldades; por exemplo, ma utilizagao do espaco, ‘coordenacéo d incapacidade de executar uma figura independentemente do modelo, ma incl- bstituindo ak ago das linhas verticais, horizontais e obliquas, m4 jungo das linhas com perseveracdo em certos detalhes). Distirbios de personalidade: mudancas de comportamento, itritabilidade, alte- rages de humor. da rapidez ¢ OMI PeL Se NLE — Discos de\ Além dos pontos de anamnese desenvolvidos anteriormente, diante de historia — Contas de de exposi¢ao aos neurotéxicos deve-se investigar as habilidades anteriores do tra- = Pontithag balhador, como desempenho escolar e em empregos anteriores, ajustamento mao-olho interpessoal, mudancas de comportement, lateralidade (mao, olho, pé). Pode-se \dagar ao paciente e/ou seus familiares sobre alteracdes da linguagem oral e es- Esses itens p crita, perturbagées gestuais e desorganizacées do “saber-fazer", das condutas adaptadas e da meméria. Verificar como esta 0 sono, o consumo de café, cha ecola, Funcéo cogr ‘0 fumo e 0 uso de bebidas alcodlicas na véspera da realizacao do teste. Explorar = Codificac também a existéncia de doencas que possam comprometer a acuidade visual e 0 = Aprendiz desempenho cognitive ou psicomotor. ‘Afeto: 0 tes Em seguida, constrdi-se a bateria de testes psicologicos, que deve ser psicome- Bra identifi tricamente adequada e compreensiva, enfatizando as areas de funcionamento Se p0sicbo a neuropsicolégico correlacionadas aos danos possivelmente causados pelo neuroté- xico especifico. A bateria deve, no minimo, fornecer dados sobre aspectos motores, cognitivos e emocionais A bateria utilizada pela Organizacéo Mundial da Sade, denominada Neuro- behavioral Core Test Battery, € composta pelos sequintes testes": Federal * Profile of Mood States (POMS): investiga estados de humor. lizados por | * Reaction Time: mede a velocidade de reacao. estabelecic ‘+ Digit Symbol: pertence & Wechsler Adult Intelligence Scale (WAIS) e mede a efi- Batok ciéncia cognitiva e as velocidades perceptual e motora jormente Alguns subitens do Wechsler Memory Scale: Digit Span Forward, digitos em ordem utilizadas¢ direta (mede a meméria verbal imediata), e Digit Span Backwards, di ‘ordem inversa (avalia a meméria de trabalho). + Santa Ana Dexterity Test: avalia a destreza manual. Deteccéo pr * Benton Visual Retention Test: mede a retencSo visual das informacOes apresentadas. ‘Sdo seguros Aiming Pursuit: mede a atencao concentrada e raciocinio. Na década de 1990, apés varias reunides e discussées técnicas, um grupo de psicé- Bateria Mec logos de Sa0 Paulo e Rio de Janeiro envolvido na avaliagao neuropsicolégica da Centro de P Diagndstico e Nexo com Trabalho -59 intoxicago por merciirio e que atuava em servigos universitarios e de satide do traba- Ihador (incluindo os Centros de Referéncia em Satide do Trabalhador de Santo Amaro, Lapa, Sa0 Bernardo do Campo e Santo André, o Departamento Médico da Prefeitura Municipal de So Paulo, o Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da Univer- sidade de Sao Paulo [HC-FMUSP] e 0 Centro de Estudos de Satide do Trabalhador e Ecologia Humana da Fundacao Oswaldo Cruz [CESTEH-FIOCRUZ}) passou a usar, sob coordenacgo de Beatriz Lefévre (HC-FMUSP), uma bateria semelhante 4 da OMS, substituindo alguns dos testes por similares nacionais, descritos brevemente a seguir: + Funcéo motora: Bateria de Aptidao a Mecénica de Léon Walther, subteste de habilidade manual’. Visa avaliar a habilidade manual por meio da mensuragso da rapidez de movimentos. Utilizaram-se os seguintes itens: = Discos de Walther: mede a destreza manual ea rapidez do movimento horizontal = Contas de Descocudres: mede a coordena¢ao motora fina. = Pontilhagem de Binet e Vaschid: mede a rapidez motora e a coordenacao mo-olho. Esses itens permitem observar ainda a existéncia de tremor. ‘+ Fungo cognitiva: Teste de Atengdo Concentrada, de Suzi Vijande Cambraia’® = Codificacdo: item "Simbolos Numéricos" da WAIS"”. Aprendizagem e meméria: Wechsler Memory Scale ~ Revised"®. « Afeto: o teste POMS, traduzido e adaptado para 0 portugués, foi selecionado para identificar mudancas de humor ou afeto associadas a efeitos precoces de exposicéo a0 mercirio. ‘As conclusées devem sintetizar os achados em termos de aspectos motores, cog- nitivos e emocionais e mostrar as influéncias de fatores pré-mérbidos e de outros aspectos relacionados ao trabalho elou uso de drogas. Mais recentemente, 0 Con- selho Federal de Psicologia, no intuito de garantir a qualidade dos instrumentos Utilizados por psicdlogos, proibiu o uso de testes que nao se adequassem aos crité- rios estabelecidos até que as editoras melhorassem os estudos que embasam esses exames. [sto levou a substituigao de diversos dos testes que compoem a bateria anteriormente descrita. No momento, diversas baterias, incluindo as informatizadas, sao utilizadas em diferentes servicos. Hartman aponta as vantagens e desvantagens dos testes", As vantagens sa0: * Deteccéo precoce de sintomas de exposicéo. # So seguros e no ameacam a integridade dos trabalhadores. Bateria Mecanica de Léon Walther: manual preparado pelo Departamento de Estudos do Centro de Psicologia Aplicada (CEPA), Rio de Janeiro. 60 Aspetos Conceituais + Flexibilidade e grande gama de fungoes medidas. + Objetividade e reprodutibilidade (em razao dos estudos estatisticos a que os testes sao submetidos). + Baixos custos de aquisicao. + Facilidade de transporte para todos os locais. + Complementam informacdes clinicas. fados de padronizacio € Quanto as desvantagens, o mesmo autor aponta: * Desconhecimento dos efeitos de certas subst8ncias, dificultando a seleco dos testes que comporgo a bateria. * Interpretacoes dos testes podem ser dificultadas pela existéncia de fatores pré- -mérbidos confusionais. + Inexistencia de tabelas espectficas para trabalhadores de empresas, obrigando ‘comparac6es com a populacio geral, o que pode diferir em algumas das carac- teristicas daqueles individuos. * Informagées fornecidas pelos testes muitas vezes no podem ser comprovadas por achados clinicos, na medida em que possibilitam a deteccdo precoce de sin- ‘tomas de exposicio. * Possibilidade de ambiguidades diagnésticas em termos da classificacao dos sin- ‘tomas no continuo, que vai do dano primério da intoxicacéo reatividade do achado a estressores de ordem psicossocial ‘Mas as desvantagens apresentadas nao contraindicam o uso dos testes neurop- sicol6gicos (TNP). O que precisa ser salientado & que os TNP devem ser encarados apenas como informagées complementares ao exame clinico-neurologico-psiquia- ‘rico, e no como técnicas que sozinhas podem fornecer um diagnéstico conclusivo sobre a intoxicacdo por neurotoxicos. Segundo Hartman (1988), ha quatro possiveis relacdes entre os sintomas psico- lagicos e a exposicSo 40s neurotéxicos"™: * Os sintomas primérios da lesdo estrutural ou neuroquimica podem ser simulta- neamente comportamentais, cognitivos e afetivos. '* Ossintomas podem ser reativos ao aumento de estresse como uma consequéncia secundaria da inabilidade neuroldgica. '* Ossintomas podem ser mais reativos a estressores psicossociais da exposigdo que {as anormalidades estruturais ou neuroquimicas. ‘+ Os sintomas podem nao ter relacdo com a exposicao, sendo ligados a dificul dades preexistentes ou a estressores que coincidentemente ocorrem com a ‘exposicao. Por isto, é importante realizar o diagnéstico diferencial entre as situagdes anteriormente descritas ou apontar quando duas delas ocorrem de forma simultanea. eos 1rcese-8e6 Diagnd: edo Co Deméncia Rel ‘A deméncia € ut ‘uma doenca enc ias das func de aprender, ling eas deficiancias deterioracao do ‘Um declinio de terferéncias e em outras esfer diagnéstico. Entr néstico de demé gravidade do qui ‘Ademencia pr secundariamente reoidismo adquit Pode ocorrer ain cigncia humana doenca de Parkit quémicas, bem ci ‘As deméncias correspondem a 1 por 1 2 5% dos deméncias relaci © estabelecim trabalho é feito toriais, em que 2 de trabalho. Encontram-se as sequintes sub: roetileno, éter, g de carbono, met ‘organometlicos Delirium nao Delirium & uma s com disturbios ¢ 978 85-7241-862-1 Diagndstico Nexo com Trabalho -61 Diagnéstico dos Transtornos Mentais e do Comportamento Deméncia Relacionada ao Trabalho ‘A deméncia é uma sindrome, geralmente crénica e progressive, decorrente de uma doenca encefalica, de carater adquirido, em que se verificam diversas defi- ciencias das funcbes corticais superiores: memoria, cognicao, célculo, capacidade de aprender, linguagem e julgamento. A lucidez da consciéncia nao est afetada, €-a5 deficiéncias cognitivas s80 acompanhadas e, ocasionalmente, precedidas por deterioracéo do controle emocional, da conduta social e da motivacao. Um declinio da meméria e cognicdo é essencial para o diagnostico de deméncia. {As interferéncias no desempenho de papéis sociais dentro da familia, no trabalho fe em outras esferas da vida no devem ser utilizadas como dnica diretriz ou critério diagnéstico. Entretanto, podem servir como indicadores da investigagao do diag- néstico de deméncia e, uma vez feito 0 diagnéstico, ser indicadores teis da gravidade do quadro. ‘A deméncia pode estar associada a inumeras doencas que atingem primaria ou secundariamente 0 cérebro, como epilepsia, degenera¢ao hepatolenticular, hipoti- reoidismo adquirido, lupus eritematoso sistémico, tripanosomiase e intoxicacées. Pode ocorrer ainda nas doencas decorrentes de infeccéo pelo virus da imunodefi- ciéncia humana (HIV, human immunodeficience virus), doenca de Huntington, doenca de Parkinson, miiltiplos infartos e outras doencas vasculares cerebrais is ‘quémicas, bem como nas contusbes e concuss6es cranio-encefalicas ‘As deméncias decorrentes de drogas e toxinas (incluindo alcoolismo crénico) correspondem a 10 20% dos casos em geral. Os traumatismos cranianos respondem por 1 a 5% dos casos. Nao dispomos de dados indicando qual a frequéncia de deméncias relacionadas ao trabalho e 3 ocupacao. ‘0 estabelecimento da relacao do diagnéstico de sindrome demencial com 0 trabalho ¢ feito a partir de evidencias da historia, exame fisico ou achados labora- toriais, em que a perturbacao é consequéncia direta ou indireta de uma situagao de trabalho. Encontram-se quadros de deméncia entre os efeitos da exposigao ocupacional as seguintes substancias quimicas téxicas: solventes organicos (cloroférmio, triclo- roetileno, éter, gasolina), substancias asfixiantes - CO, H,5 etc. (sequelas)-,sulfeto de carbono, metais pesados (manganés, mercirio, chumbo e arsénico) e derivados organometalicos (chumbo tetraetila e organoestanhosos)". Delirium nao Sobreposto 4 Deméncia Relacionado ao Trabalho Delirium 6 uma sindrome caracterizada por rebaixamento do nivel de consciéncia, com distirbios de orientacao (no tempo e espaco) e aten¢do (hipovigilancia 62 AspectasConcetuas hipotenacidade), associados a0 comprometimento global das fungdes cognitivas. Podem ocorrer alteracbes do humor (iritabilidade), das vivéncias perceptivas(ilusbes e/ou alucinacées, especialmente as visuais), do pensamento (ideacao delirante), do comportamento (reagées de medo e agitacéo psicomotora). Em geral, o paciente apresenta uma inversao caracteristica do ritmo vigilia-sono, com sonoléncia diurna e agitagao noturna, Pode vir acompanhado de sintomas neurolégicos, como tremor, asterixe, nistagmo, incoordenacéo motora e incontinéncia urindria. Geralmente, 0 delirium tem um inicio sibito (horas ou dias), um curso breve e flutuante, e uma melhora répida assim que o fator causador ¢ identificado e corrigido. Para o diagnéstico de delirium, 0 aspecto fundamental é 0 rebaixamento do nivel da consciéncia, isto é, reducao da clareza da consciéncia em relagao 20 am- biente, com diminuigéo da capacidade de direcionar, focalizar, manter e deslocar a atengao. Além disso, as alteragdes na cognicio, tais como déficit de memoria, de- sorientacio, perturbacao de linguagem ou desenvolvimento de uma perturbacgo da percencéo, ndo sdo explicadas por uma deméncia preexistente, estabelecida ou em evolucéo. Porém, o delirium pode ocorrer no curso de uma deméncia e evoluir para deméncia, recuperacéo completa ou morte, apresentando niveis de gravidade que variam de formas leves a muito graves. Cerca de 15 2 25% dos pacientes em alas de medicina interna e 30% daqueles ‘em alas cirurgicas de tratamento intensivo e unidades cardiaces apresentam delirium por intoxicagao com substancias; o médico deve verificar a droga especifica envol- Vida e a ocorréncia de abuso ou abstinéncia de substncia, fazendo o diagnéstico diferencial de delirium decorrente de outras etiologias. 0 estabelecimento da relacdo do estado de delirium com o trabalho é feito a partir da existéncia de evidéncias na histéria, exame fisico ou achados laboratoriais, ‘em que a perturbacdo é uma consequéncia direta ou indireta da situacdo de traba- tho. Quadros de delirium séo encontrados entre os efeitos da exposicao ocupacional 4 seguintes substancias quimicas téxicas: solventes organicos (cloroférmio, triclo- roetileno, éter, gasolina), substancias asfixiantes — CO, H,S etc. (sequela) -, sulfeto de carbono, metais pesados (manganés, merciirio, chumbo e arsénico) e derivados ‘organometalicos (chumbo tetraetla e organoestanhosos); além de nos traumatismos cranio-encefélicos (TCE) ocorridos no trabalho. Transtorno Cognitivo Leve Relacionado ao Trabalho 0 transtorno cognitivo leve caracteriza-se por alteraces da memeéria, da orientagdo € da capacidade de aprendizado, bem como por redugo da capacidade de concen- tracdo em tarefas por periodos prolongados. O paciente se queixa de intensa sensacdo de fadiga mental ao executar tarefas intelectuais, e um aprendizado novo € subjeti- vamente percebido como dificil, ainda que objetivamente consiga realizé-lo bem. Esses sintomas podem manifestar-se precedendo, acompanhando ou sucedendo qu dros variados de infeccées (inclusive por HIV) ou de distuirbios fisicos, tanto cerebrais quanto sistémicos, sem que haja evidéncias diretas de comprometimento cerebral. é © principal as J duindo queixas = ou de concent & preciséo e quant 2 a sindrome pés: da historia clinic Encontram-se ‘ocupacional ass @ seus compost compostos toxic rotéxicos; triclo organicos halog} Transtorno 0 Transtorno orgai lidade e do cor residual de uma racdo significati do paciente, par des e impulsos. particular ou m tando consequet que pode ocorre outras areas cer Além de uma cerebral, um dia tes aspectos: + Capacidade o determinados gados e gratit + Comportamet alegria super para iritabili + Expresso de vencées socia vorazmente 0 + Perturbacoes ocupagao exc religido, certe + Alteragao ma pectos como ¢ 978:85-7241-962-1 Diagnésticoe Nexo com Trabalho - 63 0 principal aspecto do diagnéstico é um declinio no desempenho cognitivo, cluindo queixas de comprometimento da meméria e dificuldades de aprendizado ou de concentracao. Testes psicolégicos podem ser titeis para definir com mais preciso e quantificar 2 deficiéncia. O diagnéstico diferencial entre essa doenca € a sindrome pés-encefalitica ou a sindrome pés-traumatica pode ser feito a partir da historia clinica e laboral Encontram-se quadros de transtorno cognitive leve entre os efeitos da exposicao cocupacional as seguintes substancias quimicas téxicas: brometo de metila; chumbo @ seus compostos toxicos; manganés e seus compostos tOxicos; mercirio e seus compostos t6xicos; sulfeto de carbono; tolueno e outros solventes aromaticos neu- rot6xicos; tricloroetileno, tetracloroetileno, tricloroetano e outros solventes organicos halogenados neurotéxicos; e outros solventes organicos neurotéxicos. Transtorno Organico de Personalidad Relacionado ao Trabalho Transtorno organico de personalidad é conceituado como a alteracao da persona- lidade e do comportamento que aparece como um transtorno concomitante ou residual de uma doenca, lesio ou disfuncao cerebral. Caracteriza-se por uma alte- racao significativa do comportamento em relacdo as caracteristicas pré-morbidas do paciente, particularmente no que se refere a expresso das emogées, necessida- des e impulsos. As funcdes cognitivas podem estar comprometidas de modo particular ou mesmo exclusivo nas éreas de planejamento e antecipacao, acarre- ‘tando consequéncias pessoais e sociais, como na chamada sindrome do lobo frontal, que pode ocorrer nao apenas associada aos lobos frontais, mas também a lesdes de outras areas cerebrais circunscritas. ‘Alm de uma hist6ria bem definida ou outra evidéncia de doenca ou disfuncao cerebral, um diagndstico definitivo requer a presenca de dois ou mais dos sequin: tes aspectos: Capacidade consistentemente reduzida de perseverar em atividades com fins determinados, em especial aquelas envolvendo periodos de tempo mais prolon- gados e gratificacao postergadsa. Comportamento emocional alterado, caracterizado por labilidade emocional, alegria superficial e motiveda (eu‘oria, jocosidade inadequada) e mudanca facil para iritabilidade, explosdes répidas de raiva e agressividade ou apatia. Expresso de necessidades e impulsos sem considerar as consequéncias ou con- vengdes sociais (por exemplo, roubo, propostas sexuais inadequadas, comer vorazmente ou mostrar descaso pela higiene pessoal). Perturbacoes cognitivas na forma de desconfianca, ideacao paranoide elou pre- ‘ocupacao excessiva com um tema Unico, usualmente abstrato (por exemplo: religido, certo e errado) Alteracéo marcante da velocidade e fluxo da producéo de linguagem, com as- pectos como circunstancialidade, prolixidade, viscosidade e hipergratia. {64 Aspectos Conceituais * Comportamento sexual alterado (diminuigao da libido ou mudanga de preferén- cia sexual). Quadros de transtorno organico de personalidade séo encontrados entre os efeitos da exposicao ocupacional 85 sequintes substancias quimicas toxicas: brometo de me- tila; chumbo e seus compostos toxicos; manganés e seus compostos t6xicos; merctirio seus compostos t6xicos;sulfeto de carbono; tolueno e outros solventes aromaticos neurot6xicos; tricloroetileno, tetracloroetileno, tricloroetano e outros solventes orgé- niicos halogenados neurotéxicos; e outros solventes orgénicos neurot6xicos. Transtorno Mental Orgdnico ou Sintomatico Especificado Relacionado ao Trabalho O diagnéstico de transtorno mental organico ou sintomético especificado compre- ende uma série de transtornos mentais, agrupados por terem em comum uma doenga cerebral de etiologia demonstravel, uma lesao cerebral ou outro dano que leva a uma disfungo primaria (como nas doencas, lesdes ou danos que afetam feta e seletivamente o cérebro) ou secundéria (tal como nas doencas sistémicas ‘que comprometem o cérebro e envolvem multiplos 6rgaos). Essa categoria diag- néstica inclui a psicose organica e a sintomatica. diagnéstico de transtorno mental organico ou sintomatico especificado rela- cionado ao trabalho ¢ feito com base nos seguintes critérios: * Evidencia de doenca, lesdo ou disfuncéo cerebral ou de uma doenga fisica sisté- mica, sabidamente associada a uma das sindromes encontradas. Uma relacao temporal (semanas ou poucos meses) entre 0 desenvolvimento da doenga subjacente e o inicio da sindrome mental. Recuperacao do transtorno mental seguindo-se a remoco ou melhora da causa subjacente presumida, ‘Auséncia de evidéncia que sugira uma causa no relacionada ao trabalho para a sindrome. Encontram-se quadros de transtorno mental organico ou sintomatico entre os efet- tos da exposicio ocupacional as sequintes substancias quimicas tbxicas: brometo de ‘meta; chumbo e seus compostos toxicos; manganese seus compostos toxicos; merct- rio e seus compostos t6xicos;sulfeto de carbono; tolueno e outros solventes aromaticos neurotéxicos;tricoroetileno, tetracloroetileno, tricloroetano e outros solventes orga nicos halogenados neurotdxicos; e outros solventes orgénicos neurotéxicos. 978-85-7241-862-1 Alcoolismo Crénico Relacionado ao Trabalho Alcoolismo é um modo crénico e continuado de usar bebidas alcodlicas, caracteri zado pelo descontrole periédico da ingesto de bebidas alcodlicas ou por um padréo de consumo com episédios frequentes de intoxicagdo e preocupacéo com a subs- tancia e seu uso, vida e satide do} riza-se por ser ce camente a “neg: uso abusivo doa © dos problemas n Asindrome di ‘trés ou mais das ‘menores que un 1-85-7241-862-1 + Um grande de presentes ou + Comprometia tancia quanto em quantidad desejo persist + Um estado fi interrompido + Evidéncia det dade de quan + Preocupacso. de important ou pelo gaste paraa obteng * Uso persisten nocivas e da ¢ O alcoolismo mentais, a saber torno amnésticc outros transtorn fungées e molt e pele), transtor zido pelo alcoc induzido pelo ai 0 trabalho e! desenvolviment ta efeitos farm euforizante, est ‘consumo coletiv Iho tem um aspi ‘A “ideologia partithada pelos 2 2 Diagndstico Nexo com Trabalho - 65 ‘tancia e seu uso, apesar das consequéncias adversas desse comportamento para a la esatide do usuério. A perturbaco do controle de ingesto de alcool caracte- riza-se por ser continua ou periédica e por distorcdes do pensamento, caracteristi- camente a "negacéo”, Isto é, 0 bebedor alcodlatra tende a néo reconhecer que faz Uso abusivo do élcool. Segundo a OMS a sindrome de dependéncia do dlcoo! é um dos problemas relacionados ao trabalho. A sindrome de dependéncia do dlcoo! caracteriza-se pela presenca conjunta de trés ou mais das seguintes manifestac6es, por pelo menos um més ou por periodos menores que um més, de modo persistente no tempo: Um grande desejo ou compulsio de consumir élcool em situacdes de forte tenso presentes ou geradas pelo trabalho. Comprometimento da capacidade de controlar 0 comportamento de uso da subs- ‘tancia quanto 20 seu inicio, término ou niveis, evidenciado pelo uso da substancia em quantidades maiores, por um periodo mais longo que o pretendido, por um desejo persistente ou esforcos infrutiferos para reduzi-la ou controlé-a. Um estado fisiolégico de abstinéncia quando 0 uso do alcool é reduzido ou interrompido. Evidéncia de tolerancia aos efeitos da substancia, de forma que ha uma necesst- dade de quantidades crescentes da substancia para obter 0 efeito desejado. Preocupacdo com o uso da substancia, manifestada pela reducdo ou abandono de importantes prazeres ou interesses alternativos, por causa de seu consumo, ou pelo gasto de uma grande quantidade de tempo em atividades necessérias paraa obtencéo, consumo ou recuperacio dos efeitos da ingestio da substancia. Uso persistente da substancia, a despeito das evidéncias de suas consequéncias nocivas e da consciéncia do individuo a respeito do problema. 0 alcoolismo crénico esta associado a0 desenvolvimento de outros transtornos mentais, a saber: delirium (delirium tremens), deméncia induzida por alcool, trans- torno amnéstico induzido pelo alcool, transtorno psicético induzido pelo dlcool, ‘outros transtomnos relacionados ao alcool (além do cérebro, a substancia afeta outras funcbes e miltiplos 6rgdos, como o sistema nervoso periférico, coracéo, figado, rins pele), transtorno do humor induzido pelo élcool, transtorno de ansiedade indu- zido pelo alcool, disfuncao sexual induzida pelo alcool, transtorno do sono induzido pelo alcool. trabalho esta entre os fatores psicossociais de risco capazes de influenciar 0 desenvolvimento da dependéncia do alcool e suas manifestacdes. O alcool apresen- ta efeitos farmacolégicos popularmente conhecidos ¢ utilizados: é calmante, euforizante, estimulante, relaxante, indutor do sono, anestésico e antisséptico. 0 consumo coletivo e individual de bebidas alcodlicas associado a situacdes de traba- lho tem um aspecto de pratica defensiva, ‘A “ideologia defensiva” caracteriza-se por ser uma defesa suscitada pela vivencia partilhada pelos trabalhadores(as) dos perigos, riscos, sofrimentos e adoecimentos (65. Aspectos Conceituais no trabalho. As vivéncias coletivas das situacdes de trabalho determinam o surgimen- to de verdadeiras “estratégias defensivas”, produzidas ¢ vivenciadas coletivamente ce que, em muitos casos, chegam a caracterizar uma tradiao da profissdo. Um exem- plo classico so as estratégias de defesa elaboradas no enfrentamento do perigo inerente ao trabalho pelos trabalhadores da construcao civil (atitudes contrafobicas, como subir a lugares altos sem protecdes). ‘As estratégias defensivas apresentam as seguintes caracteristicas: pseudoincons- ciéncia do perigo que resulta de um sistema detensivo destinado a controlar o medo; ‘arater coletivo, a eficicia simbélica da estratégia defensiva somente € assegurada pela participacéo de todos; refere-se sempre 2 um grupo trabalhador, isto é, ndo apenas a uma comunidade que trabalhe no mesmo local, mas que tenha um traba- Iho que exija uma divisdo de tarefas entre os seus membros, sendo também um meio de garantir pertencimento ao grupo e, portanto, uma forma de viabilizar 0 préprio trabalho. ‘Assim, em trabalhos perigosos, insalubres e penosos, muitas vezes o alcool é usado como estratégia defensiva na realizacéo individual e coletiva do trabalho por suas propriedades farmacologicas associadas a sua representacao social. Na clinica, ‘encontramos os efeitos individualizados do abuso e dependéncia do alcool usado primariamente para fins defensivos na viabilizagao do trabalho. Uma frequéncia maior de casos de alcoolismo observada em determinadas ‘ocupacées, especialmente naquelas caracterizadas por serem socialmente despres- tigiadas e mesmo determinantes de certa rejeigdo, como as que implicam contato com cadaveres, lixo ou dejetos em geral, apreensao € sacrificio de cdes; nas ativi- dades em que a tensao é constante e elevada, como nas situagdes de trabalho perigoso (transportes coletivos, estabelecimentos bancérios), de grande densi- dade de atividade mental (reparticdes publicas, estabelecimentos bancérios ‘comerciais), de trabalho mondtono, gerando tédio; nas ocupagdes em que a pes- soa trabalha em isolamento do convivio humano (vigias); e em situagoes de trabalho que envolvem afastamento prolongado do lar (viagens frequentes, pla- taformas maritimas, zonas de mineracéo). (0s fatores relacionados ao trabalho que determinam o alcoolismo crénico so classificados pela CID-10 como “problemas relacionados com o emprego e com 0 desemprego: condicées dificeis de trabalho” (codigo: 256.5) ou “circunstancia re- lativa as condicdes de trabalho" (cédigo: Y96). Episédio Depressivo Relacionado ao Trabalho 0s episédios depressivos caracterizam-se por humor triste, perda do interesse € prazer nas atividades cotidianas, sendo comum uma sensacéo de fadiga aumenta- da. O paciente pode se queixar de dificuldade de concentracéo, apresentar baixa autoestima e autoconfianca, desesperanca e ideias de culpa e inutilidade, visoes desoladas e pessimistas do futuro, ideias ou atos suicidas. O sono frequentemente se encontra perturbado, em geral por ins6nia terminal. O paciente se queixa de Leos HCL SERS 978.85-7241-862-1 diminuigso do dade s8o muit tarde. As altere haver lentidao O diagnostic seguintes sinte «0 do interes: triste, marcant veis, diminuics do peso corpo comotor, fadi excessiva ou ir ou indecisao, ¢ além de ideag ou plano espe Os episédio da, grave sem A relacao di sucessivasem anos de trabal pelo excesso d na hierarquia trabalho, no c ves, mais ou r Em varios e esta associade tivos controla operadores d consultores. Sintomas di seguintes subs +05 t6xicos; mi sulfeto de car tileno, tetracl neurotoxicos; Nesses caso primario e, er por essas sub: torno organic do especific to, toda vez historia ocupe téncia de um 978.85-7241-86241 Diagndstico Nexo com Trabalho - 67 diminuicio do apetite, usualmente com perda de peso sensivel. Sintomas de ansie- dade s80 muito frequentes. A angustia tende a ser mais intensa de manha que & tarde. Asalteracbes da psicomotricidade podem variar da lentidao a agitacgo. Pode haver lentidao do pensamento. O diagnéstico de episédio depressivo requer a presenca de pelo menos cinco dos seguintes sintomas (e a0 menos um dos sintomas deve ser humor triste ou diminui- cao do interesse ou prazer), por um periodo de pelo menos duas seman: triste, marcante perda de interesse ou prazer em atividades normalmente agrada- veis, diminuicao ou aumento do apetite com perda ou ganho de peso (5% oui mais do peso corporal, no ailtimo més), ins6nia ou hipers6nia, agitagdo ou retardo psi comotor, fadiga ou perda da energia, sentimentos de desesperanca ou culpa excessiva ou inadequada, diminuicao da capacidade de pensar e de se concentrar ‘ou indeciséo, pensamentos recorrentes de morte (sem ser apenas medo de morrer), além de ideacdo suicida recorrente sem um plano especifico, tentativa de suicidio ‘ou plano especifico de suicidio. Os episddios depressivos devem ser classificados nas modalidades: leve, modera- da, grave sem sintomas psicéticos, grave com sintomas psicéticos, ‘A relaco dos episédios depressivos com o trabalho pode ser sutil. As decepces sucessivas em situagdes de trabalho frustrantes, as perdas acumuladas ao longo dos anos de trabalho, as exigéncias excessivas de desempenho cada vez maior, geradas pelo excesso de competi¢ao, implicando em ameaca permanente de perda do lugar na hierarquia da empresa, e a perda efetiva da posi¢do ocupada ou do posto de trabalho, no caso de demissio, podem determinar depress6es mais ou menos gra- ves, mais ou menos protraidas. Em varios estudos de diferentes paises, a situacao de desemprego prolongado esta associada ao desenvolvimento de epis6dios depressivos®, Estudos compara- tivos controlados mostraram prevaléncias maiores de depressao em digitadores, operadores de computadores, datilégrafas, advogados, educadores especiais € consultores. Sintomas depressivos também esto associados com a exposigao ocupacional 3s seguintes substancias quimicas téxicas: brometo de metila; chumbo e seus compos- ‘tos t6xicos; manganés e seus compostos t6xicos; merctirio e seus compostos tdxicos; sulfeto de carbono; tolueno e outros solventes aromaticos neurot6xicos;tricloroe- tileno, tetracloroetileno, tricloroetano e outros solventes organicos halogenados neurotéxicos; ¢ outros solventes organicos neurotoxicos. Nesses casos, a sintomatologia depressiva habitualmente nao constitu o quadro primario e, em geral, esté associada aos transtornos mentals orgnicos induzidos por essas substéncias, como deméncia, delirium, transtorno cognitivo leve, trans- tomo orgénico de personalidade ou transtorno mental organico ou sintomético 1ndo especificado, conforme anteriormente descritos nos itens pertinentes. Portan- to, toda vez em que estiver caracterizada uma sindrome depressiva e houver histéria ocupacional de exposicao a substancias toxicas, deve-se investigar a coexis- téncia de um transtorno mental orgénico,indicativo de disfuncSo ou lesao cerebral. 68 Aspectos Concetuais Transtorno de Estresse Pés-traumatico Relacionado ao Trabalho © transtorno de estresse pos-traumatico caracteriza-se como uma resposta tardia e/ou protraida a um evento ou situacSo estressante de curta ou longa duracao de natureza excepcionalmente ameacadora ou catastréfica, a qual reconhecidamente ‘causaria extrema angustia em qualquer pessoa (por exemplo, desastres naturais ou produzidos pelo homem, acidentes graves, testemunho de morte violenta de outra pessoa e ser vitima de tortura, estupro, terrorismo ou outros crimes). Encontra-se fem individuos que experimentaram, testemunharam ou confrontaram-se com um ‘ou mais eventos implicando morte ou ameaca de morte, de leso grave ou da in- tegridade fisica do paciente ou de outros. Fatores predisponentes, como tracos de personalidade ou historia prévia de doenga neurética, podem baixar o limiar do desenvolvimento da sindrome ou agravar seu curso, mas ndo S30 necessérios nem suficientes para explicar sua ocorréncia. ‘A sindrome tipica inclui episédios de repetidas revivescéncias do trauma, sob a forma de sonhos (pesadelos) ou memérias que se impdem a consciéncia clara. © paciente apresenta uma sensacao persistente de entorpecimento ou embotamento femocional, diminuigéo do envolvimento ou da reagao ao mundo que o cerca, ane- donia e evitacdo de atividades e situagGes que lembram a situacdo traumatica. Podem ocorrer epis6dios dramaticos e agudos de medo, pénico ou agressividade, desencadeados por estimulos que despertam uma recordacao e/ou revivescencia sibbita do trauma ou da reacéo original a ele. Em geral, observa-se um estado de excitagdo autonémica aumentada, com hipervigilancia, reacdes exacerbadas aos estimulose insénia. Poder ser apresentados, ainda, sintomas ansiosos e depressivos, com possivel ideacao suicida. O abuso de élcool e de outras drogas pode ser mais uma consequéncia complicadora. ‘O inicio do quadro segue o trauma, com um periodo de laténcia que pode variar de poucas semanas a meses (raramente excede os seis meses). O curso ¢ flutuante, mas pode-se esperar a recuperaco na maioria dos casos. Em uma pequena propor- cdo dos pacientes, a condiggo pode evoluir de forma cronica por muitos anos, transformando-se em uma alteracao permanente da personalidade. © diagnéstico de transtorno de estresse pds-traumatico relacionado ao trabalho pode ser feito em pacientes apresentando quadros clinicos com inicio dentro de um periodo de até seis meses apés um evento ou periodo de estresse traumatico™ Pode-se realizar um diagnéstico “provavel” se a latancia entre o evento e 0 inicio da sintomatologia for superior a seis meses (Quadro 3.2) (© quadro clinico caracteriza-se por: Evento ou situagio estressante (de curta ou longa duracéo) de natureza excep- cionalmente ameacadora ou catastrofica, em uma situacéo de trabalho ou relacionada ao trabalho do paciente. Rememorac6es ou revivescéncias persistentes ¢ recorrentes do evento estressor, por meio de imagens, pensamentos, percepcdes ou memérias vividas, pesadelos, eae reeseaLs Quadro 3.2 (de acordo\ * criterio A = 0 indi ‘envolve de outr = O indivi Gritério = Lembra = Pesadel = Sensacg = Sofrime = Reativic Critério € = Esforge = Bstorco = incapac = interes = Sensagé = Restig = Sensacé Critério B = Insénia = wetabi = bificul = Hipervi = Respos Grier € Griterio F agir ous cluindo dissociat do intox exposto do event Persister evento « pensame ou pesse Incapaci portant« Interesse Sentime istanci Sentime com cari Diagnéstica © Nexo com Trabalho ~ 69 ‘Quadro 3.2 ~ Criterios diagnésticas de transtorno de estresse pés-traumatico (TEPT) Ge acordo com Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, quarta edicao) + Giltério A —definiaa de evento traumatico (presenca dos dots tens) = 0 individuo vivenciou, testemunhou ou confrontou-se com um ou mais eventos que fenvolveram ameaga de morte, de grave ferimento fsico, da propria integridade fsica ou de outros = O individuo reagiu com intenso medo, impoténcia ou horror Ctitéro B ~ revivescéncia do trauma (presenca de um ou mais tens) = Lembrancasintrusivas@ recorrentes = Pesadelos com o evento traumatico = Sensagio de reviver © evento, incluindo ilusdes, alucinacbes flashbacks dissociativos = Sofrimento psiquico evocedo por estimuls relacionades ao trauma = Reatividade fisiologica evocada por estimulos relacionados ao trauma Critério C- esquivalentorpecimento emocional (presenga de trés ou mais tens = Esforgos para avitar pensamentos,sentimentos ou conversas associados ao trauma = Esforgos pare evitaratividades, lugares ou pessoas que evoquem lembrangas do trauma = tncapacidade de lembrar algum aspecto importante do trauma = interesse ou participacdo marcadamentte diminuido em atividades significatives = Sensacio de distanciamento das pessoas. = Restrigdo da expressio afetiva ~ Sensagao de futuro abreviado CritérioD ~ hiperativagio autondmica (presenca de dois ou mais tens): = IngOnia inicial ou intermediaria = Initabilidade ou acessos de raiva = Dificuldade de concentragio = Hipervigilancia = Resposta exagerada de sobressalto Criterio € ~curagso dos sintomas da triade (critérios B, Ce D) igual ou superior a um més Critério F— prejuza signficativo do funcionamento social, ecupacional ou em outras areas agir ou sentir como se 0 evento traumatico estivesse acontecendo de novo (in- cluindo a sensacéo de reviver a experiéncia, ilusbes, alucinacées) e epis6dios dissociativos de flashback, inclusive aqueles que ocorrem ao despertar ou quan- do intoxicado. Além de angustia e/ou reacéo fisiolégica exacerbada quando exposto a indicios internos ou externos que lembrem ou simbolizem um aspecto do evento traumatico. Persistente atitude de evitacdo de circunstancias semelhantes ou associadas a0 evento estressor (ausente antes do trauma), indicada por esforcos para evitar pensamentos, sentimentos ou conversas associadas ao trauma, além de lugares ou pessoas que tragam lembrancas do evento. Incapacidade de relembrar, de modo parcial ou completo, alguns aspectos im- portantes do periodo de exposicao ao estressor. Interesse ou participacao significativamente diminuida em atividades importantes. Sentimentos de distanciamento ou estranhamento dos outros Distanciamento afetivo (por exemplo, incapacidade de ter sentimentos amorosos) Sentimento de futuro curto (por exemplo, nao espera mais ter uma vida normal, com carreira, casamento, filhos). Sintomas persistentes de estado de alerta exacerbado. 70 Aspectos Conceituas Dificuldade para adormecer ou permanecer dormindo Irritabilidade ou explosbes de raiva. Dificuldade de concentraca Hipervigilancia. Resposta de susto exagerada. A prevaléncia estimada do transtorno de estresse pés-traumético na populacéo geral & de 1 2 3%. Nos grupos de risco (por exemplo, combatentes), as taxas de pre- valencia variam de 5 a 75%. Nao dispomos de dados epidemiol6gicos referentes as ‘ocupagbes e profissbes que apresentam risco de eventos suficientemente ameacado- res para desencadear o transtomo. Ha estudos restritos a pequenos grupos e relatos de casos. 0 risco de desenvolvimento do transtorno de estresse pés-traumético rela- cionado ao trabalho parece estar relacionado a atividades perigosas, que envolvem responsabilidade por vidas humanas, com risco de grandes acidentes, como os bom- beiros, trabalho nos sistemas de transportes ferrovisrio, metroviario e aéreo etc. O transtorno de estresse pés-traumatico € mais comum em adultos jovens, mas pode surgir em qualquer idade, em decorréncia da natureza das situacées desen- cadeadoras. 0 transtorno acomete mais solteiros, divorciados, vitvos e pessoas prejudicadas social ou economicamente. Os fatores relacionados ao trabalho determinantes do transtorno de estresse -traumatico podem ser classificados segundo a CID-10 como “outras dificuldades sicas e mentais relacionadas ao trabalho: rea¢ao apés acidente de trabalho grave ou catastréfico, ou apés assalto no trabalho” (cédigo 256.6) ou “circunstancia re- lativa as condigbes de trabalho” (cédigo Y96) 78 5.7201-862-1 Sindrome de Fadiga Relacionada ao Trabalho (Incluida em “Neurastenia”) A caracteristica mais marcante da sindrome de fadiga relacionada ao trabalho é a presenca de fadiga constante, resultante de uma acumulacao ao longo de meses ‘ou anos em situagées de trabalho em que nao hi oportunidade de se obter descan- so necessario e suficiente. Essa categoria deve incluir a sindrome de fadiga crénica, a chamada sindrome de fadiga industrial, considerada como decorrente da mono- tonia do trabalho repetitivo dos trabalhadores industrials, e a sindrome de fadiga patol6gica, associada ao trabalho em servicos. A fadiga ¢ referida pelo paciente como constante (“acordar cansado”) e, a0 mesmo tempo, mental e fisica, caracterizando uma fadiga geral. Outras manifesta- Ges importantes so: ma qualidade do sono (dificuldade de aprofundar 0 sono, despertar frequente durante a noite e, especificamente, insonia inicial - “dificul- dade para adormecer”, “a cabeca nao consegue destigar”),iritabilidade ("falta de paciéncia”) e desénimo, Outros sintomas sao: dores de cabeca e musculares (geral- mente nos musculos mais utilizados no trabalho), perda do apetite e mal-estar geral. Trata-se, em geral, de um quadro crénico resultante da fadiga acumulada ao longo de meses ou anos. 978-88-7241-862-1 Odiagnés! qualquer coi abe pergun cluindo as ci as condicbes no trabalho descanso e la A ssindrom Ihadores des 0s aritério angustiantes corporal apd resentes: ser do sono; ince cuperar dos transtorno «¢ 0 diagnés ser feito com sindrome po do panico (F diferencial di Nas pesqu de fadiga sac nal que pare sao: ritmos d digdes para r horas extras, muito longo, jornada de tr te da interag Neurose P Neurético. © grupo out comportame cultura. A ca esta incluida ‘Atualmen repetitivo (L mais recente associadasa vezes muito Diagnéstico e Nexo com Trabalho -71 0 diagnéstico de sindrome de fadiga relacionada ao trabalho depende, antes de qualquer coisa, de uma anamnese ocupacional e histéria de trabalho bem feitas Cabe perguntar a duracdo da jornada de trabalho, as condicées de trabalho cluindo as circunstancias para descanso durante a jornada -, 0 ritmo de trabalho, as condicdes de processo laboral (oresenca de ruido e outros agressores), a pressio no trabalho e as condigdes de vida e habitacionais, visando avaliar as situacoes de descanso e lazer do trabalhador. A sindrome de fadiga relacionada 2o trabalho pode ser encontrada em traba- Inadores desempregados, pois pode ter sido adquirida durante o trabalho anterior. 05 critérios seguintes auxiliam a concluir o diagnéstico: queixas persistentes € ~angustiantes de fadiga aumentada apés esforco mental ou de fraqueza e exaustéo corporal apés esforco fisico minimo. Pelo menos dois dos seguintes devem estar presentes: sensacio de dores musculares; tonturas;cefaleias tensionais; perturbacbes do sono; incapacidade de relaxar; iritabilidade; dispepsia; incapacidade de se re- ‘cuperar dos sintomas por meio do descanso, relaxamento ou entretenimento; ‘transtorno com duracao de pelo menos trés meses. 0 diagnéstico diferencial da sindrome de fadiga relacionada ao trabalho deve ser feito com: sindrome de fadiga pés-viral (693.9), sindrome pés-encetfalica (FO7.1), sindrome pés-concussionéria (FO7.2), transtornos do humor (F30-F39), transtorno do panico (F41.0) e transtorno de ansiedade generalizada (F41.1). O diagnéstico diferencial depende quase que exclusivamente da anamnese. Nas pesquisas epidemiol6gicas com grupos de trabalhadores ocupados, as queixas de fadiga sio extremamente frequentes. Os fatores de risco de natureza ocupacio- nal que parecem contribuir para o surgimento de um quadro de fadiga patol6gica s20: ritmos de trabalho acelerados, sem pausas ou com pausas sem as devidas con- dicdes para repouso e relaxamento, jormadas de trabalho prolongadas (excesso de horas extras, tempo de transporte de casa para o trabalho e do trabalho para casa ‘muito longo, dupla jorada de trabalho para complementar a renda familiar) e Jornada de trabalho em turos alternados. A fadiga patolégica parece ser decorren- te da interacio de diversos desses fatores entre si, a0 longo de meses ou anos, Neurose Profissional (Incluida em “Outros Transtornos Neuroticos Especificados”) © grupo outros transtornos neuréticos especiticados inclui transtornos mistos de comportamento, crencas e emocées, estreitamente associados a uma determinada cultura, A categoria neurose ocupacional, que engloba a “caimbra de escrivao”, ‘esta incluida nesse grupo, assim como os transtornos especificamente culturais. ‘Atualmente, a “cBimbra de escrivlo" reconhecida como lesGes por esforgo repetitivo (LER), distirbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT) ou, mais recentemente, LER/DORT. Apesar de as LER/DORT estarem, com frequéncia, associadas a quadros psicoemacionais caracterizados por ansiedade e depressao, 3s vvezes muito graves, ndo se trata de modo algum de reduzi-las a quadro neurético Th Asgectos Concetuas ‘ou psicégeno qualquer. As LER/DORT sao, em origem, afeccOes osteomusculares decorrentes especificamente de processos que impliquem movimentos repetitivos, cexercidos em situagdes de intenso trabalho, sob pressao e sem pausas adequadas. 0 grupo outros transtornas neur6ticas especificados compartilha dois aspectos principais: nao sao de facil encaixe nas categorias das classificagoes psiquistricas estabelecidas e internacionalmente usadas e foram primeiramente descritos em uma populaco ou rea cultural em particular e depois associados a elas. Por isso, as chamadas neuroses profissionais podem ser clasificadas nesse grupo de trans- tornos, pois nao dispdem de critérios diagnésticos estabelecidos na classificacéo 105 sintomas apresentados sao inespecificos: cansaco, desinteresse, iritabilidade, alteragées do sono (Insonia ou sonoléncia excessiva) etc. Muitas vezes, a inibigao para 0 trabalho surge como primeiro sintoma, indicando a presenca de uma neu- rose profissional: a pessoa que antes trabalhava bem disposta e com dedicagéo nao consegue mais trabalhar, sente-se cansada, mas no consegue explicar os motivos exatos. A anamnese, incluindo a ocupacional, e o exame fisico n3o revelam deter- minantes somaticos para 0 quadro. O diagnéstico ¢ estabelecido pelas definicées dadas anteriormente, pela histria de trabalho e pela andlise da situacao de traba- Iho atual. Por exemplo, na neurose de exceléncia, os valores pessoais caracterizados pelo alto nivel de exigéncia so determinantes que se articulam com a cultura or- ganizacional, em que 2 "exceléncia” & imperativa, A categoria neurose profissional é definida por Aubert como “uma afeccao psicégena persistente, na qual os sintomas sdo expressbes simbélicas de um con- flito psiquico cujo desenvolvimento se encontra vinculado a uma determinada situagao organizacional ou profissional"®. A neurose profissional apresenta trés formas clinicas: Neurose profissional atual: neurose traum 1, reativa a. um trauma atual. Psiconeurose profissional: uma dada situacao de trabalho funciona como desen- cadeante, reativando conflitos infantis que permaneciam no inconsciente. ‘Neurose de exceléncia: desenvolvida a partir de certas situaces organizacionais que conduzem a processos de estafa (burnout) e por pessoas que investem in- tensamente seus esforcos e ideais em determinada atividade. abe distinguir burnout, ou sindrome de esgotamento profissional - conforme definido nesse capitulo -, da neurose de exceléncia. Esta pode ser um dos determi- nantes da sindrome de esgotamento profissional. Entretanto, esa sindrome possui outros determinantes diretamente ligados & organizacdo do trabalho (ver Sindrome de Esqotamento Profissional, ainda neste capitulo). As neuroses profissionais tendem a se definir como padroes de comportamento do trabalhador, 20 passo que o bur- rout significa uma ruptura com 0 padrao de anterior, caracterizando-se como um quadro agudo ou subagudo. ‘A categoria neurose profissional serve, entdo, para classificar 0s quadros psico- emocionais relacionados ao trabalho, em que chamam a atencao os aspectos subjetivos eas caracteristicas pessoais aliadas as condicdes organizacionais laborais eas 1ycL-s8-846 como determinar cronica que tende ‘Go do trabalho « padrées de comp 0s fatores relac ~anteriormente cor mas relacionados mudanga de emp rnoso (256.3), dese trabalho 256.5) ~« Transtorno do (Incluido em ‘ Decorrentes a Qs transtornos de nidos como ura ou de sor yem organ psicol6gicos, psi ‘nado ao trabalho determinado pele variaveis, ou seja, O trabalho em de trabalhadores num esquema de mal” da média d do tempo de trat em 40h semanas modificando seu: permanecem em Para os seres hi sincronizadores d nos pode compro ‘so os transtorno. que podem estar 05 psicossociais, c ratio disponivel p 0 transtorno « cialmente pelas ¢ 978 85-7241-962-1 Diagndstico Nexo com Trabalho - 73 como determinantes do sofrimento psiquico. Em geral, so quadros de evolucéo crénica que tendem a se definir como um padrao de comportamento. A organiza- fo do trabalho desempenha um papel determinante no desenvolvimento desses padrdes de comportamento, ao incentivar e explorar essas caracteristicas pessoais. 0s fatores relacionados ao trabalho que determinam a neurose profissional, como ~anteriormente conceituada, podem ser cassficados, segundo a CID-10, como *proble- mas relacionados ao emprego e desemprego” (cédigo Z56.-), desemprego (256.0), mudanca de emprego (256.1), ameaca de desemprego (256.2), ritmo de trabalho pe- rnoso (256.3), desacordo com o patréo e colegas de trabalho ~ condicdes dificeis de ‘trabalho (256.5) -e outras dificuldades fisicas e mentais relacionadas ao trabalho (256.6). Transtorno do Ciclo Sono-Vigilia Relacionado ao Trabalho (Incluido em “Transtornos do Ciclo Sono-Vigilia Decorrentes de Fatores nao Organicos”) 0s transtornos do ciclo sono-vigilia decorrentes de fatores ndo organicos s8o defi- niidos como uma perda de sincronia entre o ciclo sono-vigilia do individuo eo ciclo sono-vigiliasocialmente estabelecido como normal, resultando em uma queixa de ins6nia ou de sonoléncia excessiva, Esses transtornos podem ser psicogénicos ou de origem organica presumida, dependendo da contribuigéo relativa de fatores psicol6gicos, psicossociais ou organicos. O transtorno do ciclo sono-vigiliarelacio- nado ao trabalho pode ser incluido nessa categoria, uma vez que, por definicso, € determinado pela jornada de trabalho em horérios do dia e da noite incomuns ou variaveis, ou seja, “trabalho em turnos” © trabalho em turnos é uma forma de organizacéo do trabalho em que equipes de trabalhadores se revezam para garantir 2 realizaco de uma mesma atividade, ‘num esquema de horérios que diferem sensivelmente da jornada de trabalho *nor- mal” da média da populaco. Considera-se jornada de trabalho normal a diviso do tempo de trabalho no hordrio entre 6 e 18h, com base na semana de 5 dias € ‘em 40h semanais. No trabalho em turnos, os trabalhadores exercem suas atividades modificando seus horérios de trabalho durante a semana (turnos alternados) ou permanecem em horérios incomuns pela manha, tarde ou noite. Para os seres humanos, 0 ambiente social circundante e a hora do relagio sao os sincronizadores do ciclo sono-vigilia mais importantes. Por isso, 0 trabalho em tur- nos pode comprometer 0 ciclo sono-vigilia dos trabalhadores. Os distirbios de sono 40 0s transtornos mais frequentes dos trabalhadores em tumnos. Outros distirbios que podem estar presentes séo os gastrintestinais (dores de estdmago e diarreia) € sexuais, problemas conjugais e fa- mmiliares, bem como dificuldades de participar da vida comunitaria com a familia, vizinhos e amigos. 0 trabalhador nao consegue descansar adequadamente no ho- rario disponivel para dormir nem participar da vida social em geral. 0 transtorno do ciclo sono-vigilia relacionado ao trabalho caracteriza-se espe- cialmente pelas queixes de fadiga, irritabilidade, sonoléncia diurna e tendéncia a TA Aspectos Concetuas cochilar durante o horério de trabalho (diminuicao dos niveis de atencéo, ou seja, da vigilancia e da tenacidade), O trabalho em turnos esta associado a ocorréncia de acidentes, especialmente em processos de trabalho perigosos. O diagnéstico de transtorno do ciclo sono-vigilia relacionado ao trabalho imp! cao preenchimento dos seguintes critérios: trabalhar em sistema de turnos; o ciclo sono-vigilia do paciente é diferente do padrao da sociedade em que vive, compar- tithado pela maioria das pessoas no seu ambiente cultural; ins6nia durante o principal periodo de sono e hipersonia durante 0 perfodo de vigilia, quase todos os dias, por pelo menos um més, ou de modo recorrente, por periodos mais curtos de ‘tempo; a quantidade, qualidade e regulacdo insatisfatérias do sono causam anguis- tia marcante ou interferem com o funcionamento social ou ocupacional; nao ha fator organico causal identificado, tal como uma condicéo neurolégica ou outra condigao médica, transtorno de uso de substéncia psicoativa ou de um medicamen- +o. A presenca de sintomes psiquidtricos, como ansiedade, depressao ou hipomania, no invalida o diagnéstico de um transtorno nao organico do ciclo sono-vigilia, desde que esse transtorno (preenchidos os critérios estabelecidos anteriormente) seja predominant no quadro clinico do paciente. ‘O principal fator de risco associado 20 transtorno do ciclo sono-vigilia relaciona- do ao trabalho é 0 trabalho em turnos, conforme mencionado anteriormente. Os processos de trabalho mais associados a ocorréncia desse transtorno sao: sistemas de transporte de massa (especialmente aéreo, ferroviario e metrovisrio), trabalha- doresda satide (em particular, enfermeiros e médicos), indistria pesada (metalurgia), policia e servicos que implicam trabalho em turnos continues (24h por dia, todos os dias da semana), Considera-se que hé uma selecao dos trabalhadores que supor- ‘tam 0 trabalho em turnos. Mesmo assim, aqueles que permanecem trabalhando fem turnos, como grupo, tém uma expectativa de vida menor quando comparados com 0s que trabalham em jornada “normal”. 0s fatores relacionados ao trabalho que determinam 0 transtorno do ciclo sono-vigilia decorrente de fatores ndo organicos, como anteriormente conceitua- do, podem ser classificados, segundo a CID-10, como “problemas relacionados ‘a0 emprego e desemprego: ma adaptacio & organizacao do horario de trabalho (trabalho em turnos ou noturno)" (256.6) ¢ “circunstancia relativa as condigoes de trabalho” (Y96) Sindrome de Esgotamento Profissional (Burnout) ‘A-sindrome de esgotamento profissional & um tipo de resposta prolongada a es- tressores emocionais e interpessoais crénicos no trabalho. Descreve-se como resultante da vivéncia profissional em um contexto de relacées sociais complexes, ‘envolvendo a representacao que o individuo tem de si e dos outros. 0 trabalhador, que antes era muito envolvido afetivamente com os seus clientes, com os seus pa- ientes ou com o trabalho em si, desgasta-se e em um dado momento desiste, COR HRELSERLE perde a eneraia ‘sua relacgo com Segundo Mas nal & composta de desgaste em gativa, insensib 05 servicos ou ¢ trabalho (sentin (Quadro 3.3). Deve-se difere formas de respc atitudes e cond trabalho, sendo cionais para 0 t envolve tais ati do individuo, m 0 diagnostic uma historia Ia trabalho, func do o carater d afetivo (exaust tamento exces oferecidos pele nuigéo da com) presentes sinto desinteresse, 2 depressiva e/ou mento dos crit profissional. Es da para doence dos sintomas, t Asindrome a quando em cor satide, policiais, Ultimamente mento profissic [> Braustio emo * Despersonatz ‘envolvem 0 tr + Baixarealizag’ > Eta dimensto f Sprimoraremt Diagndstio e Nexo com Trabalho -75 perde a energia ou “queima completamente”. 0 trabalhador perde o sentido de sua relagao com o trabalho, desinteressa-se e qualquer esforco Ihe parece iniitil Segundo Maslach e Maslach e Jackson, a sindrome de esgotamento profissio- nal composta por trés elementos centrais: exausto emocional (sentimentos de desgaste emocional e esvaziamento afetivo), despersonalizacao (reacso ne- gativa, insensibilidade ou afastamento excessivo do publico que deveria receber 05 servicos ou cuidados do paciente) e diminuicao do envolvimento pessoal no trabalho (sentimento de diminuigéo de competéncia e de sucesso no trabalho)?5?* (Quadro 3.3). Deve-se diferenciar 0 burnout, uma resposta ao estresse laboral crénico, de outras formas de resposta ao estresse. A sindrome de esgotamento profissional envolve atitudes e condutas negativas com relag3o 20s usuarios, clientes, organizacdo e 2 trabalho, sendo uma experiéncia subjetiva que acarreta prejuizos praticos e emo- cionais para o trabalhador e a organiza¢éo. O quadro tradicional de estresse no envolve tais atitudes e condutas; 6 um esgotamento pessoal, que interfere na vida do individuo, mas nao de modo direto na sua relacéo com o trabalho. 0 diagnéstico de sindrome de esgotamento profissional, ou burnout, implica uma histéria laboral caracteristica, com grande envolvimento subjetivo com 0 trabalho, funcao, profissao ou empreendimento assumido, muitas vezes ganhan- do o carter de missao; sentimentos de desgaste emocional e esvaziamento afetivo (exaustao emocional); queixa de reaco negativa, insensibilidade ou afas- tamento excessivo do piiblico que deveria receber os servicos ou cuidados oferecidos pelo tabalhador (despersonalizacéo); queixa de sentimento de dimi- nuigéo da competéncia e do sucesso no trabalho”. Geralmente também esto presentes sintomas inespecificos, como insénia, fadiga, irritabilidade, tristeza, desinteresse, apatia, angustia, tremores, inquietacdo, 0 que caracteriza sindrome depressiva e/ou ansiosa. O diagnéstico dessas sindromes associado ao preenchi- mento dos critérios anteriores leva a0 diagnéstico de sindrome de esgotamento profissional. Essa sindrome pode estar associada a uma suscetibilidade aumenta- ‘Asindrome afeta principalmente profissionais da érea de servicos ou “cuidadores” quando em contato direto com usuarios, como os trabalhadores da educacéo, da satide, policais, esistentes sociais, agentes penitencidrios, professores, entre outros, Ultimamente, descrevem-se aumentos de prevaléncia da sindrome de esgota- ientes de trabalho que ‘Quadro 3.3 — Dimensoes do burnout®2° ~ Exaustdo emocional (EE): fadiga, sensacdo de esgotamento dos recursos fsicos e emacionals, + Despersonalizagso (DP): atitude insensivel e excessivamente distanciada das questes que tenvolver 0 trabalho «ava realizacao pessoal RP}: sentimento de incompeténcia e InsatistagSo pessoal eprofissional * ita dimens fo poseriormenterenameada come cinismolcedcisme (0. de acordo com 0 ‘primoramenta do conceit de burourt,resuitan em Novas versbes da Masch Burnet Inventory. T5~ Aspectos Concetuals passam por transformacées organizacionais como dispensas temporérias, diminul- do da semana de trabalho, sem reposigdo de substitutos, enxugamento (downsizing) a chamada reestruturacéo produtiva. O risco da sindrome de esgotamento pro- Tissional & maior em todos aqueles que vivem a ameaca de mudancas compulsorias nna jomada de trabalho e declinio significativo na situacéo econémica. Todos os fatores de inseguranca social e econémica aumentam o risco (incidéncia) de esgo- tamento profissional em todos os grupos etérios Em geral, os fatores relacionados ao trabalho estdo mais fortemente relacionados a0 transtorno que os aspectos biograficos ou pessoais, Os mais importantes fatores laborais predisponentes da sindrome so: papel conflitante, auséncia de suporte social e perda de controle ou autonomia. 0s fatores determinantes do burnout ou da sindrome de esgotamento profissio- nal podem ser classificados, segundo a CID-10, como "problemas relacionados 20 emprego e desemprego: ritmo de trabalho penoso” (256.3) ou "circunstancia rela- tiva as condig6es de trabalho” (256.6). Nexo Causal em Sade Mental do Trabalhador Podemos classificar os transtornos mentais e do comportamento relacionados a0 trabalho em grupos de acordo com o tipo de relacSo causal entre 0 trabalho € 0 {quadro clinico, utilizando, para isso, a Classificagao de Schill + Grupo Ida Classificacao de Schilling: 0 trabalho ou a ocupacéo desempenham © papel de “causa necessaria”, excludas outras causas néo ocupacionais. Sem eles, seria improvavel que o paciente desenvolvesse a doenca. Nesse grupo, incluem-se os diagnésticos de deméncia, delirium nao sobreposto 4 deméncia, transtorno cognitivo leve, transtorno organico de personalidade, transtorno mental organico ou sintomatico no especificado, episédio de- pressivo relacionado ao trabalho em individuos que apresentem quadro clinico e histéria ocupacional de exposicéo a substéncias quimicas neuroto- xicas ou de acidente de trabalho com TCE, sindrome de fadiga e transtorno do ciclo sono-vigilia. Grupo Ilda Classificacao de Schilling: 0 trabalho ou a ocupacio sao considerados fatores de risco associados & etiologia multicausal da doenca. Nesse grupo, in- cluem-se, por exemplo, os diagnésticos de alcoolismo crénico - quando verificado em trabalhadores pertencentes a grupos ocupacionais em que ha evidéncias epidemiol6gicas de excesso de prevaléncia de alcoolismo crénico - e sindrome de esgotamento profissional (burnout). Grupo Ill da Classificagao de Schiling: circunstdncias ligadas ao trabalho ou ‘ocupacao que podem eventualmente desencadear, agravar ou contribuir para arecidiva da doenga. Nesse grupo, incluem-se, por exemplo, a neurose profissio- ral eos diagnésticos de alcoolismo crdnico em casos individuais de trabalhadores previamente alcodlatras e que apresentem recaida relacionada ao trabalho. Teor TZL-s8-816 ‘Como se pode v ais poderdo so nese e 0 € Jimportante lem 1a, ou seja, yprevencgo em r de trabalho. O nexo com o para cada indivi detalhado de cad clinicos, em seu d de uma descricac leboral, que salie lizar os transtorr ‘rabalhador.£ im “ingredientes" v festar-se de form Aemissao da « se evidenciou, nc cadeante ou ag acompanhada d com 0 trabalho. Oencontro en para a autorreal formas. Trata-se trabalhador cria pode contamina canso e lazer. O individuo fr de modo deleter anamnese desen faz elaboractes =~ NexoT Amedida provi © regime da pr prova do aciden que regulament 21-A, na lein® 8 nal quando de presungéo na |i Diagnéstico e Nexo com Trabalho -77 ‘Como se pode ver, as classificagoes quardam certas arbitrariedades e, portanto, jamais podergo sobrepor-se ao exercicio diagndstico de cada caso clinico, em que a anamnese e o exame do trabalhador adoecido antecedem e imperam sempre. E importante lembrar que a ocorréncia de um desses diagnésticos é um evento sentinela, ou seja, 0 acontecimento de um caso deve indicar ages de investigacéo € prevencio em relacéo ao coletivo de trabalhadores envolvidos naquele processo de trabalho. ‘O nexo com 0 trabalho nao é simples, pois 0 processo de adoecer é especifico para cada individuo e envolve suas historias de vida e de trabalho. $6 0 estudo detalhado de cada caso pode oferecer uma visdo da articulacdo dos diversos quadros clinicos, em seu desenvolvimento e dinamica, com a vide laboral. O nexo depende de uma descricéo do contexto organizacional, do proprio trabalho e da situac5o laboral, que saliente os fatores problematicos no trabalho que poderiam potencia- lizar os transtornos mentais e do comportamento, de acordo com a vivéncia do ‘trabalhador. £ importante mostrar, de forma processual, como todos esses e outros “ingredientes” vao se articulando até a eclosao do quadro clinico, que pode mani- festar-se de forma insidiosa e gradativa ou por meio de uma crise. ‘A emisséo da comunicacdo de acidente do trabalho (CAT) deve ocorrer quando se evidenciou, no diagnéstico, que a situacdo de trabalho teve papel como desen- cadeante ou agravante do adoecimento. € recomendavel que a CAT venha acompanhade de um relatério que deixe claro o processo de adoecer e 0 nexo como trabalho. O encontro entre trabalhador e situaco de trabalho pode propiciar as condicées para a autorrealizacdo ou levar a0 sofrimento patolégico em suas mais diversas formas. Trata-se de uma relacdo dialética, em que o trabalho afeta o individuo eo trabalhador cria uma realidade de trabalho a cada momento. Assim, 0 trabalho pode contaminar os relacionamentos extralaborais, assim como o tempo de des- canso e lazer. O individuo frequentemente tem consciéncia de que o trabalho o esta afetando de modo deletério. Ao fazer uma retrospectiva sobre seu trabalho, orientado pela anamnese desenvolvide pela equipe ou profissional de satide mental, o trabalhador faz elaboracées sobre 0 vivido e compreende de que forma adoeceu. 978. 85-7241-860-1 Nexo Técnico Epidemiolgico ‘A medida proviséria (MP) n? 316, editada em 11 de agosto de 2006, a0 ampliar © regime da presuncéo legal, introduziu substancial alteracéo no critério de prova do acidente de trabalho por doenga ocupacional. Em meio aos que regulamentam o reajuste dos beneficios previdenciérios, a MP criou o artigo 21-A, na lei n* 8.213/91, adotando o sistema de presuncao da doenca ocupacio- nal quando demonstrado 0 nexo técnico epidemiolégico. A introducao da presuncao na lei, pelo critério do nexo técnico epidemiolégico, certamente 78 AspectosConceituas constitui avanco, na medida em que torna clara a obrigacéo legal de médicos peritos do INSS de fazer uma ampla investigacao das suspeitas das doencas ‘ocupacionais a partir do ambiente de trabalho, o qual deve ser equilibrado e livre de riscos ocupacionais. Com a implementacao do nexo técnico epidemiolégico (NTE), 0 trabalhador que contrair uma doenga cujo diagnéstico estiver relacionado ao ramo da atividade em {que trabalha terd automaticamente reconhecido 0 nexo com o trabalho. Com a nova metodologia, o segurado nao precisaré mais provar que adoeceu por causa do trabalho. Ao empregador, no entanto, caberd a tarefa de demonstrar que néo hd nexo causal (relacdo) entre o acidente de trabalho e a funcéo do trabalhador na empresa, invertendo-se, portando, o énus da prova. ‘Onexo epidemiolégico estabelecido pela Previdéncia afirma que, se determina- da doenca é mais frequente em uma dada atividade econémica, todo caso identificado deve ser considerado como doenca ocupacional. Ou seja, pressupde-se dano ocupacional pela simples associagao de duas variaveis. Os primeiros efeitos do NTE ja podem ser constatados na concessao de auxilios- -doenca acidentarios. Em abril de 2007, més que o NTE passou a vigorar, foram concedidos 28.594 beneficios em todo Brasil, nmero 147,8% maior que no més anterior. Com a implementacio do NTE, acredita-se que é possivel obter informacoes ‘mais consistentes acerca das doencas relacionadas ao trabalho, de forma a permi que politicas piiblicas e privadas de preven¢ao aos agravos a satide dos trabalha- dores sejam criadas. Transtornos Mentais e Avaliacéo da Incapacidade para o Trabalho: Uso da Classificagao Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saude ‘A Classificagdo Internacional de Funcionalidade, incapacidade e Satide (CIF) per- tence a “familia” das classificac6es internacionais desenvolvida pela OMS para aplicaggo em varios aspectos da satide. Essa familia de classificacSes proporciona um sistema para a codificagao de uma ampla gama de informacées sobre sade (por exemplo, diagnéstico, funcionalidade e incapacidade, motivos de contato com os servicos de saiide) e utiliza uma linguagem comum padronizada entre varias disciplinas e ciéncias, visando a comunicagao sobre satide e seus cuidados em todo o mundo. A avaliacdo da deficiéncia e da capacidade para o trabalho é importante, tan- to para fins de pagamento de auxilio-doenca, auxilio acidentario, aposentador por invalidez temporsria ou definitiva, seguro acidentério ou indenizagéo quanto para a analise da possibilidade de retorno ao trabalho. No primeiro caso, trata-se de dimensionar 0 dano psiquico ¢ o grau de incapacidade dele resultante, além da necessidade funcional e a ft ao trabalho. ACIF passa a processos de af nal, na avaliac, transtornos me Concl Este capitulo fc Manual de Proc nnadas ao trabal CID-10 e 0 comy inglas?9282, vj mento mental, da satide do tra lodo diagnésti construgao, abe conceitos e, es} cando sempre a entre o trabalhi adoecimentos Referéncias B 1. WORLD HEAIT? new hope. Gen 2, MENDES, .0in Pibsica, v.22. 3, CADE GR prestada pelos 1.43, .9,p.47 4 MINISTERIO DA MPSIDATAPREV 5. BARBOSA-ERAN pordoencamen DE SAUDE COLE Brasileiro ce Sa 6. THOMAS, C. 1 18, p.51451 7, MENDES, R Pat 8 SEUGMANNSIL 2.ed, Sao Paul 9, BREILH, Ede ménica. (Mime 10. GENNART,1.P; ‘ed to units of Diagnésticoe Nexo com Trabalho -78 da necessidade de afastamento do trabalho. No segundo, de verificar a restricao, funcional e a funcionalidade residual, de forma a facilitar 0 proceso de retorno 20 trabalho. A CIF passa a ser uma referéncia balizada pela OMS que pode auxiliar, tanto nos processos de afastamento do trabalho como nos de retorno a atividade profissio- nal, na avaliacdo clinica (e pericial) continua dos trabalhadores/pacientes com transtornos mentais. 978-85.7241.862.1 Conclusdo Este capitulo foi escrito seguindo as orientacdes do Ministério da Saude em seu Manual de Procedimentos para os Servicas de Saude, referente as doencas relacio- rnadas ao trabalho, o Capitulo 5 (“Transtornos Mentais e do Comportamento”) da CID-10.e 0 compéndio de psiquiatria de Kaplan e Sadock, em sua sétima edi¢ao, em inglés*2828, Visamos expor a dimensdo das relagdes entre o trabalho e o adoeci- mento mental, incluindo as nossas experiéncias clinicas e as contribuicdes do campo da sade do trabalhador e da satide mental no trabalho (SMT). Por isso, o capitu- Jodo diagnéstico dos transtornos mentais relacionados ao trabalho esté sempre em construgdo, aberto @ novos esclarecimentos, a mais pesquisas, a refinamentos dos conceitos e, especialmente, ao testemunho da clinica com os trabalhadores, bus- cando sempre aprimorar o saber dessas relacées tdo fundamentals quanto delicadas entre 0 trabalho— tao importante er nossas vidas — e nossos regozijos, sofrimentos, adoecimentos e morte. Referéncias Bibliogrticas 1, WORLD HEALTH ORGANIZATION. The World Heath Report, 201 ~ Menta Heath: new understanding, ‘new hope, Geneve: World Health Organization, 2001 MENDES, R. impacto dos efeitos da ocupacso sobre a sade dostrabslhadores|:morbidade. Rev Saude Publica, 22, n. 4, p- 311-326, 1988, CADILHE, GR L. etal. Trabalho e asstncia a sadde: um estudo sobre a asssténca em sade mental prestada pelo servigo médico de uma empresa bancria no municipio do Rio de Janeiro. Bra. FQ, 1143, n,9,p. 475-482, 1994 MINISTERIO DA PREVIDENGA E ASSISTENCIA SOCAL. Anuéro Estatitico de Prevdéncia Soca. Brasil: MPSIDATAPREV, 2003 EAREOSA-BRANCO, A; OUVEIRA, PR. A; MATEUS, M. Epidemiologla da Incapacidade para o trabalho pordoenca mental ne Brasil. in:x!CONGRESSO MUNDIAL.DE SAUDE PUBLICANI CONGRESSO BRASILEIRO DE SAUDE COLETIVA, 2006. Rode Janeiro, Anais do XI Congresse Mundial de Sade PiblcaVIl Congreso Brasileiro de Side Coletva, 2006. THOMAS, C. Ml; MORRIS, S. Cost of depression arnong adults in Enolané in 2000. Brit J. Psych, 183, 514.518, 2008, MENDES, R Patologia do Trabalho. 2. ed. So Paulo: Athen, 2003 SELIGMANN.SILVA, E sicopatalogiaesaide mental no trabalho. in: MENDES, 8. Patologia do Trabalho 2. ed. S40 Paulo: Atheneu, 2003. v. 2. p. 1141-1182, BREILH, J. Epidemiologta cl Teaajo:reflexiones metodolégias para un avance del linea contrahege- ménica. (Mimeo). Equador, 1992. p.3-28, GGENNART, 1: HOET,P; LISON, Oe al Importance of accurate employment histories of patients admit- ‘ed to units of medicine, Scan, J. Work Environ. Health 1, p. 336-38, 1991. 2. 8. 2, 2. Py 2B 6 2 2. - AspectosConeetuas RAMAZZIN|B. De morbisarificu diatriba, 1700, ESTRELA, R (rad). As Doencas dos Tabalhadores. S80 Paulo: Fundacentro, 1974, LIMA, ME 0s problemas de sate na categorie banca: consideracGes acerca do estabeleimento do exo causal. Bletim da Saude, v.20, n. 1 . 57-68, 2006. DELLA, RH, Vz COLACCIOPO, S.A cantibicze da higienee da toxcologia ocupaconal.n: ROCHA, L. Es RIGOTTO, RM; BUSCHINELLL J.T. (org) sto ¢ Trabalho de Gente? Vida, Doencae Trabalho no Bras So Paul: Vozes, 1993. HARTMAN, DE Neuropsycholagcl Toxicology: identification and assessment of neurotoxic syndrome. New York: Pergamon Press, 1988. 5. CASSITO, ML; GILIOL, R:CAMERINO, D, Experiences with the Milan automated neurobehatvioral system in neurotoxic exposure. Neurotol Teratl, v.11, 6, p- 571-57, 1989. CCAMBRAIA 5. V. Teste AC-atoncio concentrad. Sao Paula Vetor, 1967. [WECHSLER D. WAS Manual. Wechsler Aut Inteligence Scale, Rio de Janeiro: CEPA 1980. WECHSLER, D. Wechsler Memory Scale Revised Mana. So Paulo: Casa do Pscélogo, 1963. RAMOS, A. etal. Asnectospsiquldricos da intoxcacSo ocupacional pelo mercirio metalccrlato de um as clinio, Revista ABP-APAL, 2, n. 4, p. 200-206, 1998, SADOCK, 8; SADOCK.V. Kaplan & Sadock’s Comprehensive Textbook of Psychiatry. 7. ed. Philadelphia: Lppincott Wiliams & Wilkins, 2000, 2344p RAMOS, A. etal. Solent related chronic toxc encephalopathy asa target inthe workers mental health esearch An. Acad Bras. Cenc, v.76, 4, p. 757-769, 2008. BUCASI E. et al. Tanstomo de estessepos-raumstico como acidente de trabalho em um bancirio: relate de um caso, Rex Psguiatr, v.27, 1 . B68, 2005, BORGES, LH. Saciabildade Sofrimento Piquce e Lesées por EsforcosRepettvos entre Cates Bancéros Sao Paulo: Fundacentro, 2001. 180p. "AUBERT, NA. Neuroseprofisional. Rex, Adm. Empr. v 33,1, p. 99-106, 1993, MASLACH, C. Burned Out. Hum. Behav, v5, p. 16:22, 1976 [MASLACH,C What have we learned about burnout and health? Pychol. Health, 16. 607-511, 200 VIEIRA Leta. Burnout nacinica psiquitrca. Rew. Piguet, . 28 n. 3, p. 352-356, 2006. 3. MINISTERIO DA SAUDE. DoengasRelacionadas ao Trabalho: manual de procedlmentos para os servgos de sade rasa: MS, 2001, CORGANIZACAO MUNDIAL DA SAUDE (OMS), Classifcacdo de ranstornos Mentais ede Comportamento dh C1010: descrisesclnicas retrizsciagndsticas.CAETANO, D. (tree) Coord. Organizagso Mundial da Sade. Porto Alegre Artes Médicas, 1993. 35ip, SELIGMANSIVA,E. Desgaste Mental no Trabalho Dominado. Sao PauloRio de Janeiro: Cortez/UFRY, 1954 97885-7241-862-1 Aspect Traba Introd Em nosso meio, doengas relacio trabalhadores. mantes, chegan que a Guerra dc pela perda audi foram as lesbes trabalho (LERID| 2000, 0s transto dades mais ger uma atencao es das recentes leg na, sob oenfog. periciais e da ce labora, utilizani do Niicleo de Est pertencente a0 de Sao Paulo. O presente ca do campo da Ps coma Medicina 2 principais sind nésticos e a inve ‘trabalho, de int questbes da inc mente, abordan

Potrebbero piacerti anche