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“VAE VICTORIBUS”

A TOMADA DE CONCEIÇÃO DO ARROIO.


(Tramas, traições e armações no mundo da política).
Elio E. Muller *

No dia 12 de abril de 1895, as tropas revolucionárias federalistas marcharam sobre a


cidade de Conceição do Arroio (Osório – RS). Eram quase 500 homens, vindos
simultaneamente de Palmares, Santo Antonio da Patrulha, São Francisco de Paula e, o
efetivo de “Bahiano Candinho”, da Serra do Pinto, que seguiu via Colônia de Três
Forquilhas, hoje seria uma descida pela “Rota do Sol”, no município de ITATI - RS.
Baiano Candinho vinha à testa do Esquadrão Josaphat, com quase 150 homens.
Contava com o reforço dos sobreviventes do Pelotão Avulso que acompanhara Gumercindo
Saraiva na jornada até Curitiba, que retornara em fuga. Estes eram combatentes experientes
que haviam tomado parte do Cerco da Lapa e da tomada da Capital do Paraná.
A cidade de Conceição do Arroio (Osório) não estava preparada para tal invasão. As
lideranças castilhistas se apavoraram, procurando refúgio no prédio da Câmara Municipal.
No princípio até pareciam querer ensaiar algum tipo de resistência.
Major Baiano Candinho passou a comandar as negociações, exigindo a rendição
incondicional da cidade. Ele desejava somente ocupar simbolicamente a Intendência e a
Câmara Municipal. Queria cumprir um juramento que ele fizera para si mesmo, de sentar
na cadeira do Intendente de Conceição de Arroio . Ele haveria de poupar a vida de todos.
Grande foi o abatimento da população quando viram as horas transcorrendo sem que
os revolucionários se dispusessem a sair da cidade.
No período de tempo em que as negociações com as lideranças castilhistas pareciam
não progredir, Candinho autorizou os integrantes do “Pelotão Serrano” a buscar
suprimentos junto ao comércio local. Seria o preço da derrota sofrida pelos republicanos da
cidade. Para Candinho interessavam apenas alimentos, armas e munições. Candinho
decidira cobrar esse tributo que, no seu entender, a cidade devia para o movimento
federalista. Ele levava em conta, que a morte de Major Luiz Henrique Moura de Azevedo, Chefe
Maragato de Conceição do Arroio e de Padre Fernandes precisava custar alguma coisa aos
“arroienses”. A vida daqueles dois chefes revolucionários não poderia jamais ser devolvida,
é lógico. Porém, a cidade teria que ter recordação, por muito tempo que, ele Baiano
Candinho, viera reclamar da atrocidade, cometida contra esses homens de bem.
Quando a visita aos estabelecimentos iniciou, os comerciantes se apavoraram. Não
tinham como evitar o saque. Diversos peões rudes e analfabetos do “Pelotão Serrano”, que
não haviam, até então, conhecido botas ou bombachas decentes, aproveitaram para logo se
vestirem melhor. Possivelmente eles limpararm alguns guarda-roupas e baús de cidadãos
arroienses. Além disso, duas carretas ficaram cheias de suprimentos (charque, farinha e
rapadura) além de munições, armas e cavalos.
Major Candinho proibira Capitão Luna e “Pelotão dos Brigadas”, de participar dessa
requisição de suprimentos. O motivo era claro: Luna havia desobedecido a ordem de
poupar os moradores da Colônia de Três Forquilhas. Capitão Luna ali estava, com seis
mulas carregadas de charque, farinha e outros víveres, que ele havia extorquido ou roubado
dos colonos, ao cruzar a Colônia de Três Forquilhas. Desgostoso com o chefe, Luna
chamou os integrantes do seu Pelotão, e foi postar-se à margem da cidade. Estava no ar o
cheiro de traição. Candinho que se cuidasse.
Enquanto isto, as lideranças castilhistas procuravam ganhar tempo, na esperança da
vinda de algum socorro de fora. Insistiam sempre numa mesma e única resposta: os termos
de rendição formulados por Candinho eram inaceitáveis. Jamais haveriam de entregar o
prédio da Intendência Municipal aos maragatos.
Finalmente, o Capitão Estevão Brandão, comandante das Forças Republicanas de
Conceição do Arroio, mandou atear fogo ao prédio. Enquanto o fogo ardia, ele e diversos
correligionários, aproveitaram o momento para fugir pelos fundos, através dos matos, em
busca do refúgio nos morros próximos. Na oportunidade, as lideranças castilhistas
queimaram não apenas um prédio. Foi destruído todo o acervo histórico da cidade.
Preciosos documentos e arquivos foram perdidos, em meio às chamas. Esse prejuízo
poderia ter sido evitado. Era sabido quem os maragatos não desejavam se apossar de nada
disto. Apenas fariam a tomada simbólica do Governo Municipal, com garantias de vida,
para todos, além, é claro, do saque indiscriminado ao comércio local.
O Governo da Província encaminhou medidas urgentes com o objetivo de socorrer
Conceição do Arroio. Foram convocados o 6.o Corpo do Exército, de Porto Alegre, o
Esquadrão de Cavalaria de Viamão e o 18.o Batalhão de Infantaria, da própria cidade de
Conceição do Arroio, que, entretanto, se encontrava na fronteira, realizando missões de
combate aos revolucionários federalistas.
Baiano Candinho tomou conhecimento da movimentação dessas forças. Decidiu
deixar a cidade. Conforme já mencionamos anteriormente, estavam em Conceição do
Arroio, outros efetivos federalistas, de diversos municípios próximos. Cada efetivo tomaria
rumo próprio. Candinho seguiu na direção da Colônia de Três Forquilhas. Parecia não ter
nenhuma pressa. Ele sabia que os efetivos do governo demorariam para alcançar Conceição
do Arroio.

“VAE VICTIS” ou “VAE VICTORIBUS”


Comparo Bahiano Candinho com o chefe gaulês Breno que derrotara os romanos
na Batalha de Karnix, no ano de 387 a.C.. Os romanos que haviam capitulado foram
obrigados a pagar um resgate pela cidade. Foram 1.000 libras de ouro. Na hora de pesar o
ouro, Breno colocou sua espada junto com os pesos. Os romanos reclamaram. Breno
respondeu: - “Vae Victis” (Ai dos Vencidos). Será que não teria sido melhor que ele logo
dissesse “Vae Victoribus” (Ai dos Vencedores).
Transcorreram três séculos.
Entre os anos de 58 a.C. até 51 a. C., a hora da vingança, finalmente chegou, para
os vencidos de outrora. Júlio César conseguiu retribuir o “Vae Victis”. Porém, o fêz com
total inclemência. Reuniu um despojo em ouro jamais visto. Além disso mandou
desencadear medidas visando apagar a memória do inimigo derrotado, para sempre. A
historiografia romana passou a falar muito sobre a esmagadora vitória que o declarado
“perpétuo ditador” Júlio César, teve sobre os gauleses. Porém esconderam que, na verdade,
os celtas foram valorosos. Foram poderosos concorrentes dos romanos. Eles haviam
dominado tecnologias desconhecidas para Roma. Foram até capazes de produzir aço de teor
carbônico, a uma temperatura de até 1.400 graus. Mas, os romanos quiseram apagar estas
qualidades, para sempre e, até, apagar a própria memória dos celtas.
Algo semelhante ocorreu com “Bahiano Candinho”, no final do século XIX, no
Litoral Norte do Rio Grande do Sul, quando os chefes revolucionários do movimento
federalista, derrotados, também passaram a ter a memória deturpada e denegrida, deixando-
os expostos como meros bandidos e inimigos da sociedade riograndense.
Considerei necessário contar essa história já milenar do tempo de romanos e
gauleses, para mostrar um pouco sobre maquiagem que se faz e a ficção que comumente é
construída, em torno de inimigos derrotados.
A história de revoluções e de guerras, de praxe, é contada pelos vencedores. E, é
óbvio, recebe enfoques onde a verdade histórica sofre prejuízos.

O Armistíco e o Final da Revolução.


Baiano Candinho estava com os seus dois pelotões (Pelotão Três Forquilhas e
Pelotão Serrano), na Serra do Pinto. O Pelotão dos Brigadas, com capitão Luna, haviam
seguido rumo próprio. Tudo parecia bem tranqüilo. O Governo ainda não enviara nenhuma
nova Escolta da Brigada, para caçá-los. Estavam assim, na expectativa dos acontecimentos.
Eis que no dia 23 de agosto de 1895, na cidade de Pelotas, é assinado o armistício,
dando um fim à Revolução Federalista. Foram 31 meses de lutas e um saldo de mais de
12.000 mortos, sendo talvez a metade pelo método da degola, praticada por ambos os lados.
Três dias após o armistício aparece um estafeta na Serra, com um comunicado
urgente destinado ao Major Baiano Candinho. Todos os oficiais rodearam o chefe. Curiosos
desejavam saber se haveria alguma nova missão para eles.
Baiano Candinho mandou ler o comunicado. Era apenas um lacônico aviso: “O
armistício foi assinado, em Pelotas, no dia 23 de agosto de 1895. A Revolução acabou.
Deponham as armas.Cada qual retorne para a sua família e propriedade. A ordem é de
paz para todos”.
O efetivo do “Esquadrão Josaphat” não queria acreditar na ordem. Devia ser algum
engano. Eles estavam ali com a força plena, em condições de continuar a Revolução. E
como haveriam de terminar com o movimento revolucionário se a ditadura castilhista não
fora ainda derrubada?
Candinho teve que falar energicamente com os integrantes de sua tropa. Explicou
que não existia mais nenhuma possibilidade de continuar a Revolução, pois em muitos
lugares, os efetivos maragatos haviam sido totalmente destroçados. Ordenou que todos
retornassem para suas casas e lavouras ou ao serviço tropeiro. Ficou extinto,
definitivamente, o “Esquadrão Josaphat” e, em conseqüência os Pelotões “Três
Forquilhas” e “Serrano”.

UM ASSASSINATO COVARDE.
Baiano Candinho não o sabia, mas ele estava marcado para morrer por causa da
humilhação que ele infligira ao povo “arroiense”.
Todos os principais líderes revolucionários, da Serra do Pinto constavam de uma
lista negra. Chegara uma ordem secreta para o escrivão Christovam Schmitt. Não poderia
haver nenhum registro de óbito de tais mortes. Devia ser difundida a idéia que meros
bandidos, da Serra do Pinto, haviam sido eliminados. Tratava-se somente de um serviço de
limpeza, em favor da segurança pública. Aconteceram entre 30 a 50 assassinatos, no
Carvalho e na Serra do Pinto.
Baiano Candinho foi eliminado, apanhado na área mais sensível de sua alma. Ele
era devoto dos “Reis” , e apreciava a tradição natalina conhecida como “Canto dos Reis” ou
“Terno de Reis”.
Era a Noite de Reis, no dia 05 de janeiro de 1898 quando Candinho ouviu a
chamada “louvação dos reis”, diante do seu rancho. Ele desarmou-se, de todo. No meio da
escuridão ecoava, nas proximidades a seguinte letra:
“O Divino Espírito Santo sempre seja o seu guia.
O Divino Espírito Santo le dê toda a proteção.
Santos Reis protejam o Seu Baiano Candinho
E toda a sua família que vivem neste cantinho”.
O que ele mais ansiava, era exatamente isto. Desejava, sob a proteção divina, iniciar
nova vida. Abriu a porta do rancho e, desarmado, foi ao encontro dos cantores. Desejava
agradecer e entregar sua oferta.
Entre os cantores, porém, estavam camuflados, diversos integrantes da Escolta
Policial. O próprio Tenente Cardoso ali se encontrava, na qualidade de Subdelegado da
Colônia de Três Forquilhas. Por baixo dos disfarces e capas, eles portavam pistolas, facas e
até armas de cano comprido.
Candinho não imaginaria jamais em uma armadilha desta natureza, envolvendo,
para ele, o que de mais sagrado existia. Na mente dele não cabia tal possibilidade, de
alguém ser capaz de praticar um tamanho sacrilégio. Os devotos dos “Santos Reis”
mantinham a firme crença de que esse culto trazia proteção e bênçãos para o dono da casa e
todos os familiares. Podemos imaginar da alegria de Baiano Candinho. Que sentimentos
fortes deviam ter invadido seu coração naquela hora. Ele saiu de braços estendidos, abertos,
sorrindo, cheio de devoção e respeito.
Olhando para este aspecto, da cilada feita para Candinho, a minha conclusão só
pode ser uma. O Sub-Delegado e os demais integrantes do grupo feriram o sagrado,
atingiram a fé e o que de mais valioso existe na alma do homem simples. O ato, por isto,
revestiu-se de profunda falsidade. Uma ação traiçoeira, digna de homens pérfidos ou
dotados de uma mente criminosa. Só mesmo, acobertados pela escuridão da noite, para que,
eles, entre si, não vissem os rostos, uns dos outros.
Quando Candinho estendeu o braço, para entregar a oferta, em dinheiro,
destinada para o “Deus Menino”, foi agarrado pelos braços potentes de dois negros, o
Custódio e o João Macaco. Negro Custódio, devidamente instruído, degolou-o, no ato.
Certificando-se da morte, deixaram o corpo jogado, ao lado do rancho, na região
conhecida por Arroio Carvalho (hoje no município de ITATI – RS). Aquele mesmo lugar,
que fora de tão agradáveis lembranças para Candinho. Ali havia ido morar com sua mulher
Maria Witt. Ali haviam nascido os seus três filhos e seis filhas.
A notícia da morte de Candinho correu célere, não só pela Colônia, mas chegou
logo até os líderes castilhistas, de Conceição do Arroio e Porto Alegre. Para eles foi um
motivo de grande júbilo. Haviam devolvido para Candinho um “Vae Victis” com juros,
tirando-lhe além da vida, até a sua honra e dignidade.

BIBLIOGRAFIA:
1 – Fontes da História Oral.
2 – Livros do Registro Eclesiástico – IECLB – Itati – RS.
3 – Fernandes Bastos, NOITE DE REIS, Livraria Globo, Porto Alegre, 1935 (pg 201).

* ELIO EUGENIO MÜLLER, nasceu em Panambi – RS em 12/11/1944. Ocupa a cadeira 211 da


Academia de Letras dos Municípios do Rio Grande do Sul – ALMURS. É membro do Instituto
Histórico e Geográfico do Paraná – IHGP. É sócio do Instituto Genealógico do Rio Grande do Sul –
INGERS. Possui morada no histórico “Sítio da Figueira”, em Itati – RS.

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