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UM ASSASSINATO COVARDE.
Baiano Candinho não o sabia, mas ele estava marcado para morrer por causa da
humilhação que ele infligira ao povo “arroiense”.
Todos os principais líderes revolucionários, da Serra do Pinto constavam de uma
lista negra. Chegara uma ordem secreta para o escrivão Christovam Schmitt. Não poderia
haver nenhum registro de óbito de tais mortes. Devia ser difundida a idéia que meros
bandidos, da Serra do Pinto, haviam sido eliminados. Tratava-se somente de um serviço de
limpeza, em favor da segurança pública. Aconteceram entre 30 a 50 assassinatos, no
Carvalho e na Serra do Pinto.
Baiano Candinho foi eliminado, apanhado na área mais sensível de sua alma. Ele
era devoto dos “Reis” , e apreciava a tradição natalina conhecida como “Canto dos Reis” ou
“Terno de Reis”.
Era a Noite de Reis, no dia 05 de janeiro de 1898 quando Candinho ouviu a
chamada “louvação dos reis”, diante do seu rancho. Ele desarmou-se, de todo. No meio da
escuridão ecoava, nas proximidades a seguinte letra:
“O Divino Espírito Santo sempre seja o seu guia.
O Divino Espírito Santo le dê toda a proteção.
Santos Reis protejam o Seu Baiano Candinho
E toda a sua família que vivem neste cantinho”.
O que ele mais ansiava, era exatamente isto. Desejava, sob a proteção divina, iniciar
nova vida. Abriu a porta do rancho e, desarmado, foi ao encontro dos cantores. Desejava
agradecer e entregar sua oferta.
Entre os cantores, porém, estavam camuflados, diversos integrantes da Escolta
Policial. O próprio Tenente Cardoso ali se encontrava, na qualidade de Subdelegado da
Colônia de Três Forquilhas. Por baixo dos disfarces e capas, eles portavam pistolas, facas e
até armas de cano comprido.
Candinho não imaginaria jamais em uma armadilha desta natureza, envolvendo,
para ele, o que de mais sagrado existia. Na mente dele não cabia tal possibilidade, de
alguém ser capaz de praticar um tamanho sacrilégio. Os devotos dos “Santos Reis”
mantinham a firme crença de que esse culto trazia proteção e bênçãos para o dono da casa e
todos os familiares. Podemos imaginar da alegria de Baiano Candinho. Que sentimentos
fortes deviam ter invadido seu coração naquela hora. Ele saiu de braços estendidos, abertos,
sorrindo, cheio de devoção e respeito.
Olhando para este aspecto, da cilada feita para Candinho, a minha conclusão só
pode ser uma. O Sub-Delegado e os demais integrantes do grupo feriram o sagrado,
atingiram a fé e o que de mais valioso existe na alma do homem simples. O ato, por isto,
revestiu-se de profunda falsidade. Uma ação traiçoeira, digna de homens pérfidos ou
dotados de uma mente criminosa. Só mesmo, acobertados pela escuridão da noite, para que,
eles, entre si, não vissem os rostos, uns dos outros.
Quando Candinho estendeu o braço, para entregar a oferta, em dinheiro,
destinada para o “Deus Menino”, foi agarrado pelos braços potentes de dois negros, o
Custódio e o João Macaco. Negro Custódio, devidamente instruído, degolou-o, no ato.
Certificando-se da morte, deixaram o corpo jogado, ao lado do rancho, na região
conhecida por Arroio Carvalho (hoje no município de ITATI – RS). Aquele mesmo lugar,
que fora de tão agradáveis lembranças para Candinho. Ali havia ido morar com sua mulher
Maria Witt. Ali haviam nascido os seus três filhos e seis filhas.
A notícia da morte de Candinho correu célere, não só pela Colônia, mas chegou
logo até os líderes castilhistas, de Conceição do Arroio e Porto Alegre. Para eles foi um
motivo de grande júbilo. Haviam devolvido para Candinho um “Vae Victis” com juros,
tirando-lhe além da vida, até a sua honra e dignidade.
BIBLIOGRAFIA:
1 – Fontes da História Oral.
2 – Livros do Registro Eclesiástico – IECLB – Itati – RS.
3 – Fernandes Bastos, NOITE DE REIS, Livraria Globo, Porto Alegre, 1935 (pg 201).