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Introdução
1
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana da Universidade de São Paulo, sob
orientação do Profº Dr. Eduardo A. Yázigi.
2
Bondage, dominação, sadismo e sadomasoquismo.
3
Lésbicas, gays, bissexuais e transexuais.
Não é tarefa fácil analisar o espaço urbano de uma cidade como São Paulo,
inserida no circuito mundial da economia globalizada, com acentuado fluxo de pessoas,
mercadorias, capitais e informação, sem dizer do tamanho de sua área e população, com
estimativa de 10.998.813 habitantes no ano de 2009, distribuídos numa área de 1.509
km² (SEMPLA, 2009).
Para a elaboração de uma pesquisa, é indispensável a base teórico metodológica
que a norteie. Assim, ao analisarmos o turismo na cidade de São Paulo, especialmente
do ponto de vista da Geografia, precisamos buscar elementos para a compreensão de
suas especificidades. Para isso, serão elencados alguns conceitos para análise e
compreensão desse processo.
Como referencial teórico de partida foram escolhidos o conceito de espaço, em
função de estar associado às relações e práticas sociais, concomitante às transformação
ocorridas resultante da interação dos sistemas de objetos e dos sistemas de ações
(SANTOS, 2004); o território, como resultado das relações de poder, seja simbólico-
cultural, econômico ou político (HAESBAERT, 2004), que acaba por resultar numa
referentes à sexualidade. Segundo Castells (2006, p. 501), espaço de fluxos são “uma
nova forma espacial característica das práticas sociais que dominam e moldam a
sociedade em rede”.
No segundo tipo, há as redes de relações reais, geradas a partir da demanda, do
turista e dos equipamentos turísticos que acabam por materializar o turismo
underground em lugares como São Paulo.
Ao analisarmos o turismo na cidade de São Paulo a partir da junção dos
conceitos e o objeto de estudo, tem-se a consolidação do turismo underground a partir
da apropriação do espaço pelo turista, criando relações de poder, simbólico e identitário,
que se efetiva a partir da conexão das diferentes territorialidades existentes.
A metodologia utilizada na elaboração desta pesquisa dividiu-se em 3 partes:
empírica, bibliográfica e trabalhos de campo. A empírica baseou-se em fontes informais
e acompanhamento de redes sociais na internet, buscando compreender as relações entre
possíveis turistas e seus deslocamentos para práticas sexuais, identificando a formação
de uma identidade underground. A bibliográfica deu sustentação teórica para a
elaboração da pesquisa com base nas categorias da geografia, juntamente ao
planejamento territorial do turismo, além do suporte para o entendimento e elaboração
do conceito de turismo underground. Os trabalhos de campo foram e estão sendo
fundamentais, tanto para legitimar a existência dos equipamentos e conseqüente
mapeamento, quanto para relacionar o turismo e o espaço urbano da cidade de São
Paulo.
O Turista e a Identidade Underground
A partir do olhar geográfico, o underground seria a formação/conjunto de
territorialidades efêmeras e/ou flexíveis, individuais ou grupais, tendo como
característica fundante a clandestinidade e/ou anonimato. A partir dessa premissa, no
qual ocorrem novas relações sociais e culturais, em contradição à moralidade vigente, o
underground se materializa. O hedonismo e o sexo são os alicerces de sua sustentação.
Underground, segundo o dicionário Larousse (2005, p. 196), traduzido da língua
inglesa para a portuguesa, significa subterrâneo, secreto, clandestino. Essas
características seriam a base da identidade formada pelo potencial turista. Já
clandestino, segundo o dicionário Novo Aurélio (1999, p. 483), significa “feito ou
realizado às ocultas”; e anônimo (1999, p. 146), “indivíduo obscuro, sem nome ou
renome”.
Correlacionando com o tema, seria um tipo de turista que busca nas práticas
sexuais o seu lazer, porém de forma “oculta”, “secreta”, preservando sua moralidade.
O deslocamento não é necessariamente exclusivo do turismo underground, pode
ser simultâneo a outros segmentos turísticos que a cidade oferece. Como exemplo, um
executivo hospedado na cidade para um evento de negócios que, nos momentos de ócio,
busca o underground, seja na contratação de uma prostituta ou na ida a uma sauna
LGBT, ou mesmo um casal que viaja para o turismo cultural e, após assistir uma peça
teatral, vai a um clube de troca de casais.
Apesar de o senso comum ditar que o “povo brasileiro” tem em sua essência a
liberdade de expressão, sendo passivo com o que pode ser chamado de “liberal”, tendo o
carnaval e a exposição de corpos nus como um dos ícones dessa ideologia, na realidade,
os preceitos morais ainda estão ligados à sociedade.
Existe um tabu quando se fala em sexo, é incomum uma referência livre em
relação ao tema. Como exemplo, pode-se citar Almeida (2007, p. 153) que numa
pesquisa sobre práticas sexuais, originada no PESB (Pesquisa Social Brasileira),
classificou o Brasil de conservador. Eis alguns dados: 81% do país é totalmente contra o
homossexualismo masculino, 78% é totalmente contra o homossexualismo feminino,
60% é totalmente contra o sexo anal entre homem e mulher, 50% é totalmente contra o
homem fazer sexo oral na companheira, 49% é totalmente contra o uso de revistas
pornográficas para excitação sexual, 49% é totalmente contra a mulher fazer sexo oral
no companheiro, 44% é totalmente contra a masturbação feminina e 40% é totalmente
contra a masturbação masculina. Por essa pesquisa observa-se uma contradição entre o
“país liberal” e a realidade vigente.
Dessa forma, pressupomos imaginar a existência de pessoas que se chocam ao
verem casais homossexuais de mãos dadas na Avenida Paulista ou no Shopping Frei
Caneca, apelidado carinhosamente de “Gay Caneca”; ou mesmo quando descobrem
algum conhecido (a) fazendo parte da engrenagem da indústria do sexo na cidade de
São Paulo. Entretanto, estão ocorrendo transformações sociais e culturais na sociedade
contemporânea que colocam em xeque esse conservadorismo.
Alguns autores, dentre eles Featherstone (1995), Giddens (1993), Harvey (2005)
e Maffesoli (2006), tratam das mudanças socioculturais ocorridas a partir da década de
1970, chamada de “pós-modernidade”, “pós-modernismo” ou simplesmente “pós-
moderno”, no qual sustentam o argumento de que estão ocorrendo mudanças
Stuart Hall (2006, p.12) traz uma concepção de identidade que ajuda a
compreender esse novo tipo de turista, flexível em sua essência. Para o autor, “o sujeito,
previamente vivido como tendo uma identidade unificada e estável, está se tornando
fragmentado; composto não de uma única, mas de várias identidades”. Por essa
abordagem, o turista assume identidades diferentes em diferentes momentos, ou seja,
mantém sua moralidade preservada no contexto social e se torna um turista
underground nos momentos de lazer.
d) 148 clínicas de massagem: são ambientes que têm como característica a oferta
de massagens sensuais e de relaxamento, feitas por mulheres.
g) 21 cinemas pornôs: locais onde são exibidos filmes eróticos. São divididos por tipos de
freqüência e práticas sexuais. Existem cinemas com territorialidades distintas, divididas
em LGBT, prostituição feminina, travestis e, mais recentemente, casais adeptos do
swing.
h) 15 Clubes de swing: são similares às boates, com bares, pistas de dança etc, porém, a
prática predominante é o voyerismo e a troca de casais.
encontradas, 15 estão na região central com o restante dividido entre os bairros de Vila
Mariana e de Pinheiros. Importante ressaltar que tais números são parciais, vista a
dimensão da cidade de São Paulo e pela efemeridade de alguns equipamentos.
Considerações finais
ANÔNIMO. In: DICIONÁRIO novo Aurélio século XXI. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1999.
CASTELLS, M. A galáxia internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a
sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
CLANDESTINO. In: DICIONÁRIO Novo Aurélio Século XXI. 3. ed. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1999.
FIX, Mariana. São Paulo cidade global: fundamentos financeiros de uma miragem.
São Paulo. Editora Boitempo, 2007.
______. Por uma geografia nova: Da crítica da geografia a uma geografia crítica. São
Paulo. EDUSP: 2002.