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Jorge Miglioli ACUMULAGAO DE CAPITAL E DEMANDA EFETIVA Tese de livre Docéncia apresentada & Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e CiSncias Hunanas. Campinas 1979 UNICAMPp BIBLIOTECA CENTRAL Indice rntRopugho . Att [AJA iT DB SAY E suAS InPLICAGOES L 1. A longa vida da lei de Say L 2. Formlagao e significado da "lei" 7 3. Implicagdes da "lei" 20 [EB] WARK: ACUMULAGAO DE CAPITAL REALIZAGKO DA MAIS-VALTA 1. 0 eireutto do capital dinhesro . 2. Reprodugdo simples e ampliada do capital 3, Condigdes materiais da reprodugio 4. Oferta e demenda de forga de trabalho 5. Composigao material da produgdo 6. 0 dinheiro na acumulagao de capital 7. 0 probleme da realizagio aa producao 8. Elementos pare ume teoria da demanda efetiva 85 S]ROSA LUXEMBURGO! ACUMULAGHO DE OAFITAL E MERCADOS DATERNOS 96 1. Formulag&o do problema 66 2. Solugdo do probleme 7 i 107 3, Conquista e ampliegio de merendos externos 116 4. Os erros na teoria de Rosa Luxemburge 126 [4] KALECKI: A DINAMICA DAS BCONOMIAS. CAPITALISTAS 140 1. Introdugfo 140 2.0 esquema de reprodugdo 1eT "3, Deterninantes dos lucros (equag&o simpliticade) 153 i:4. Determinantes dos lucros (equegéo completa) 160 5, Finencluneniv dos geetos 26. Iieros, saldrios e renda nacional 7. Determinantes do consumo dos capita 8. Determinentes. do seldo de exportagao e do AéLicat orgament4rio . 200 9. Determinantes do investimento 208 I¥@RoDUgKO 1. OBJETO DE ESTUDO © problema da demanda efetiva — que até entéo sé era abordado pe- los economistas "heréticos", desligados da tradig&o cldssica e néo-cldssica — findlmente genhou destaque na aécada de 1930 6 a partir def inseriu~se definitivamente na literatura econémica,, Es8a mudenge (de radical implicagio pera uma série de questdes) « se deveu &s obras de trés autores de diferentes formacdes teéri- cas: por ordem de entrada em cena, o sueco Cumnar Myrdal, 0 polo~ nég Michel Kalecki e¢ o inglés John Kayngra Keynes, (1) A matriz teérica de que partiu Myrdal é constitufde pela Escola sustrface e por Wicksell, mas sua contribuig&o pera o esclareci- mento do problema da demanda efetiva é a maiis limitada das trés. Amatriz teérica que serviu de base a Keynes & bem menos "nobre': Thomas Malthus, J. A, Hobson e outros menos conhecidos, como Sil- vio Gesell, Pelo menos essa é a matriz reconhecide pelo proprio Keynes, mas na verdade ele sofreu influéicias de outros estudiosos mais "distintos" do que os dcima citados, como Wicksell e Alfrea muito bem Warshall, ouja obra principal (Principles of Economic conhecida por Keynes) contém elgumas sementes da questSo de demen- da efetiva, De todos, fof Keynes quem obteve o maior reconhecinen: ‘to "pelo desenvolvimento da questo; isto se deve, em grande parte, ao fato de ele jA ser, quando escreveu sua Generel Hheory, um eco~ (2) 9 tratarho de tyrtal £01 publicado en sueco em 1931 © em elex mao em 1933; em inglés, cob o tftulo a Ponetary Equilibriun, apa- veceu em 1939. 0 primdiro trabalho teérico de Kalecki. foi publi do em polonés em 1933 e em frencés ¢ inglés em 1935. 0 livro de Keynes (The General Theory of Euployment, Interest ana | giu en 1936. ney) eur nomista de projegéo mundial. Contude, quem matis profenda tratou do probleme foi Kelecki, toman@e pox base « lit econdmica marxiata. B preeisamente 2 corrente marxdista ligada ao da del & quest nonde efetiva que constit te trabalho. do pre Quando crow seu prime: pel da demanda efetiva no processe de aevmlagdo cep (mais especiticamente, ao movinentd efel pitelistas), jd hevia sobre o a to un aera 60 xista, Nessa literatura o. problona. da” demanda-ef cide -entaéo comodo problema da’ "Fealizag#o" © edimo.o probiesa. do: “nercedos". Essevtoma havie sido aomplomente Giscutido no Pi séovlo XIX e no int cio do XX, particulermente: peldn mary russos. Contudo, no ‘intoie da, década de 1930 eke havia pratica- mente @esaparcei.ac de-cena. Bin nosso entender’, esse desspareci~ tonto pode sex éxplicads por aor motives b&sicos! primetroy 0° fato de. Binin tor ori ticedo “toda agusles ane haviant eolocedo en Primero “planoa questo aos meresdas no procecso de desen- velvimentto ao capi talismas segii do, coin oO estabe ecinento 40 "narxisno oficial", por Stélin no fii da @éeada de 1920, 8 pox sigéo de Lénin em face do assunto foi elevada ao‘ nivel de dogma. Assim, 0 provlend.da reelizagho, que’ era um ponto contirovertido, sumin da literatifa marxista por longo teripo, 6 até hoje.emcou trenos alguns. é6vicos marxistas que idéntifica o problena da demenda, ofetiva anes com ovtra desi nAgho, nada mais €°do “que @) o.velho problema ds yeclteag’ bo) como, vin tema % ipieo aa. Boo “ourguesa" eit sue versao keynes sisna: Kateckt, ‘porém, que nfo ef un warxista oficial, retomou o assunto, A grande exise econémica mmdial de 1929-33. abalou- profundemente a produg&o polonesa, eujo n{vel em 1933 havie v observave que a produce decrescia apesar de haver equipamento de capital e forga de tratalho suficientes para manter a econo- min operando em nivel muito mais alto, Se havia disponibiliaade de capacidade produtiva, a queda da produgio sé poderia ser ex- plicada como uma erise de realizacdo, uma restrig&o de mercados, wna incuficiéncia de demanda efetive, Para formlar sua interpre tagfo, ‘Kalecki recorreu As concepgies de Marx, Rosa Iluxemburgo e ‘Tugan~Baranoveki — os sutores gue maiis diretamente o.influencias rer, Nas a obra de Kalecki, ao fugir do padxSo (de conteddo e. Linguegen) do marxiemo oficial, acabou sendo identificada como + keynesiena. Somente a partir da segunda metade da década de 1950 sua formagZo marxista foi sendo pouce a pouco. reconhecida —. em grende parte gragas A Givalgatfo do oua obva por Paul Baran, Paul Sweezy e Joan Robinson. : Como jé dissenos, no presente trabalho pretendenos estuder a quest&o da demanda efetiva (ou, para semnos mete preeisos, 0 pa~ pel da-realizagdo da masiswalia no -procesco ae acumlagiio capita~ Lista) no pensemento econdmico marist. Assim fancndo, darenos especial destaque & obra de Kalecki, posto que,-em nosso enten der, foi com esse autor, que a referida questo encontron seu ma~ lon desenvolvimento, : 2. CONTEUDO DO TRABALHO © presente trabalho & constitufde de quatio capftulos, onde sho examinados, em seqténcia, os seguintes assuntoc: (1) a influén- cis Ge chamada "lei de Say" sobre a teoria econémica ortodoxa; (2) as conceps Ses de Marx a respeito ao processo de acumlacio capitalista e do papel exereido pela demanda ofetiva; (3) ag “inovagdes" introduzidas por Kora Luxemburgo na teoria de Moxx; (4) a obra de Kalecki acerca das econonias capitalistas madwras, na quel ele esclarece a importfneia da realizagio dg mais-velier vi Cremos ser conveniente esclarecer desde logo dues. eventuais indagagSes: (1) por que comegamos este trabalho pelo estudo da "lei de Say"? (2) por que dedicamos especial atengdo & obra de Kalecki (0 que se reflete no fato de o correspondente capftulo ser o mais longo dos quatro)? Comecemos pelo primeiro ponto. A "Lei dos mercados" de Say (segundo & quel.a produgfo gera “gua prépria demande, o que implica nao hever restrigSo de denan- rdo da para a continua expans& da economia) foi adotada por Ric @ por John Stuart Mill e depois incorporada aos fundamontos de ortodoxia néo-cldssica, tendo influenciado profundamente o en- tendimento de todo wn conjunto de questdes. Um exame superficial da teoria da acumilagéo de Marx, vaseado apenas em seus esquemas de reproducdo ampliada, pode Levar & fal- sa conaluséio de que também Marx seguia, embora sen o saber, « "lei dos mercados" de Say; isto porque, nesses esquemas, ele ado~ tava a hipétese de continua aeumlagSo de capitel, deixando ee lado as possfveis restrigdes impostas pela insuficiéncia de denen da. Foi desse modo que Tugan-Baranovski, por exemplo, utilizou-se dos esquemas de reprodugéio. Até mesmo Rosa Iuxeinburgo, mima pase sagem de seu livro sobre Acumulacdo de Capital, chegou a inter pretar dessa forma a teoria de Marx, como veremos no eaptiulo 3. Was essa interpretagao 6 totalmente infundada, Marx devotava grande desprezo por Say e por sua "lei dos mercados" e nfo perdo- ava Ricardo por té-1g adotado e defendido. Podemos afizmer que fol precisamente ao criticar a vers%o ricardiana dessa "lei apli- ceda & andlise do processe capitelista de acwmlaoSo que Merz eo~ megou'a formuldr sua concepgéo a respeité da importancia da rea- lizdeZo da maiis-valia. Isto pode ser constatado em seu livro 2 da ¥ alia (especificamente na parte relativa a Ric onde Marx trata da acumulacio de capital e das crises). vii Voltamos ent& a perguntar: que faz, no comegs do presente . tmabalho, um estudo da "Lei de Say" e de suas influéncdas? Exis- te um claro motivo para comegar o trabalho com esse estudo: pre- tendemos mostrar como a referida "leit — com todas suas implice~ gdes — encontra-se fortemente enrafzada no pensamento econémico ortodoxo a partir de Ricardo, e isto serve, entre outras coisas, como pano de fundo para ressaltar o quanto, nessa questo (para ficormos apenas nessa), 0 pensamento econémico marxigta se dife~ renela de corrente ortodoxa. Em suma, enquanto os economistas or- todoxos levaram mais de wa século — eontado de Ricardo a Keynes — para descobrir a import&ncia da demanda efetiva no funcionamento das economias capitalistas, a teoria marxiste desde o infeio 34 destacata essa questao, © segundo ponto a esclarecer.se refere A especial atencSo dada a Kelecki, 0 fato de’ o capftulo correspondente a Marx ter a meta- de do mimero de p&ginas do capitulo relative a KaYecki n&o signi- fica que atrituimos a Marx uma importfncia menor, ou que o trata mos como um simples *precursor de Kelecki".(@) tsto & tolice. Os motivos de termos dedicado maior espago a Kalecki so: (1) sua obra_é velativamente povco conhecidd.e merece ser mais estudeda; (2), especificamente na quest&o da demande efetiva (que & 0 tema central do presente trabalno), sua obra & mats completa e mais clara do que e de Merx (para nfo mencionar a de Rosa Iuxeuburgo e outros autores). Quento e este segundo motive, ¢ preciso ressaltar que Marx nao deizou inteiramente esolarecide 6 quest3o do papel a Gemenda efe~ tive no funelonamento des. econonias cepitalistas. Na verdade, D (2) no preféeto & segunde edigie de sew Livro Ai Essay on Marxdan Economies (Londres, Macmillan, 1966}, Joon Robinson. esereve que Fiero Sraffa a aticeva dizendo que cla "tratava Marx como um pow- i"; e ela coneorda em que bd une co conhecido. precursor de Kaleci certa verdade neasa brineadeira. vidi ‘eoncepgdes sobre esse assunto se encontram dispersos em diferen- tes partes de sua obra (tanto em Q Capital como nas eoriag da Mais-Valia), néo constituindo. uma completa e integral formulagao do problema, Tanto isto € verdade que deu lugar ‘a wna série de atvidas, eo livro de Rose Luxemburgo sobre AcwmilcSo de Capttal & evidente exemple disto. Com Kalecki a questo da demanda efetiva pessou e ser o pré- prio ponto de partida para a interpretagio do movimento das eco- nomias cepitalistas, e por isto mesmo sua formulagdo do problema tinha de ser mais abrangente do que a de Marx, onde a realizagao da mais-velia era vista apenas como uma das faces do processo ca~ pitalista de aeumulagao. Queremos aproveitar o momento para fazer uma comparacdo entre Marx e Kalecki no tocante & anélise do processo de acwmlagao, Considerando esse processo como um todo, a anélise de Kaleoki 6 mais limitada, porque se atém &s condigées de realizagée da netic -valia dentro desse processo, enquanto Nerx trata n&o apenas des~ sas condigdes (embora, como dissemos acima, seu tratamento néo seja completo) mas tambéu das condigdes de eriagso da mats-valia, Sejamos mais claros. Marx trata da-maiis-valie, ou lucro, tento pe- lo Angulo de sua geragéo (a qual 6 explicade pela exploragéo da forga de trabalho assalariade) como pelo prisma de sue realizagio, que determina quanto do luero produzido ou potencial é efetivemen- te auferido pelos cspitalistas; mas embora Narx tenha estudedo exaistivamente o processo de eriagie de mais-valia, o processo de sua realizagao nao ficou devidamente eselarecido. Com Kale: acontece o contrério: ele se dedicou exclusivamente ao exame do + 3 processo de realizagao. Nesse sentido espeeffico, sua andliise das economies capitalistas é unilateral. Bm nosso entender, 6 essa unilat realidade que explics certes deficifncias de sua andlise. Onde isto se torna maiis evidente & Ax, em sua.concepgdo dos determineantes do investimento, Kalecki for- mulou diversas explicagdes desses determinantes, mas jamais fi- cou, ele mesmo, satisfeito com elas. Im todas essas explicacdes ele abordou o assunto inteiremente pelo fngulo da dewanda efeti- va; somente em sua tiltima tentativa ele abandonou esse enfoque, passando a coneiderar a concorrtncia entre os capitalistas como o principal determinante do investimento, concorréncia esta que sé. pode ser bem entendida quendo examinada pelo @ngulo da cria- gio de mais-valia, En sua ultima formulagao dos determinantes do investimento, Kalecki simplesmente voltou & explicegdo dada pelo + préprio Marx. (Este assunto seré tratado na ultima segio do capi~ wulo 4.) Segundo dissenos antes, wm outre motivo para dedicarnos mais espago & obra de Kalecki € o fato de ela ser relativemente pouco conhecida, E mesmo quendo conhecida, ela & fregitentemente coloca~ da ao lado da Teoria Geral de Keynes. Apesar de sua contribuicao para esclarecer a formagZo marxista de Kalecki, Joan Robinson, por exemplo, jomeis deixa de comparé-1o com Keynes’ 0 mesmo foi 1.3). mattos poucos : i s8A0 os estudos sobre os fundamentos marxistas da obra de Kalec- feito, em escala ampliada, por George Feiwe' 1a.$4) Gon o presente trabalho esperancs contribuir para isto. (3) gitimo artigo de Joan Robinson sobre esse tema ericontra-se em Oxford Bulletin of Zoonomies and Betatioties, fevereiro de 1977 (mimero especial dedicado « Kalecki), Ver‘ também, nesse mes- mo minero, 0 artigo de Zprime Eshag, "Kaleckits Poli tice] Beonom A Comparison with Keynes". De George R. Feiwel, The Intellectual Capital of Michel Kelecki, Knoxville, The University of Tennessee Press, 1975 (ver particularmente os dois primeiros capftulos), (4) mitre esses poucos, deve~se mencionar o-artigo de Merteno Dtantonlo, "Kalecki-e il Merxismo neiro-margo de 1976. Na introdug&o que eserevemos pare o Livro de > em Studd Storici, ‘n? de jax enseios de Kalecki na série "Grendes Cientietas Sociais" @a Bdite- ra Atica procuremos abordar, embora resumidemente, essa questo, 3. © QUE FALTA Como dissemos antes, 0 presente travelho pretende ser um estude do pensamento marxista sobre a quest&o da demanda efetiva, Para ser um estudo mais ebrangente do que realmente 6, seria preciso incluir elguns temas que foram deixados de ledo. Intre eles des- tacamos o das crises econédmicas e as contrituigdes de certos au- tores. A nao inclusio deeses temas fol intencional, pelas razdes que passamos a explicar, As crises econédmicas estado intimemente relacionadas com a rea~ lizagao da mais-valia, a tal ponto gue uma corrente do pensamento narxiste ac interprota como’ sendo fundamentalmente crises de rea~ Ligagao — isto é, momentos em que uma parte da produgho criada ou potencial n&o encontra mereados, n&io pode ser vendida, gerando as conhecidas mazeles das crises econdmicas: queda do nivel ée ativi- Gases, aumento do desemprego, etc. Assim, 6 dificil tratar do pro~ Dlema da realizagio sem falar dae orises. Apesar disso, preferimos i n&o fazé-lo. As erises (ou, mais genericamente, o movimento efeli- co das economias capitelistas) € um dos pontos mai’s-controvertidos na literatura merxicta (e na literatura econdmica em geral), heven- do pelo menos trés posicdes divergentes: quais sejom, as interpre- tagSes dag crises como uma @ificuldade de realizagao, ou como um Fesultado do desequilfbrio setorial, ou como uma consediiancia da tendéneiea decrescente da taxa de lucro. A discussiio desse tena seria necesseriamente longa e por isto deixamos a questo das eri- ses fora de nosso trabalho; somente em um ou outro capftulo refe- rimo-nos circunstencialmente a clas. Poderianos também ter inclufdo neste trabelho dois outros ca~ pitulos, e chegamos a pensar em fazé-1o. Um desses capfiulos, que deveria vir em seguida & discussfo da "lei de Say", tretaria da. queles autores’ que, na mesma época ou depois de Ricardo (como, por exemplo, I, R. Walthus, S. ée Sismondi, J. Ky Rodbertus), de fim modo ov de outro opuseram-se & concepodo ricardiana de que a acumulacgio de capital n&o encontrava obstéculos por parte da de~ manda, e, nesse sentido, poderiam ser considerados’ como "precur- sores" de Marx. 0 segundo déssen capfiulos, o qual seria inserido entre o capftulo referente @ Marx eo relativo a Rosa Luxenturgo, abordaria o debate ecerca do problema da realizagio (ou dos mer~ cados) que envolveu vdrios estvdiosos de Marx (marxistas e nao narxistas) na Russia no fim do século passado e no comego do a tual: alguns "populistas" (narodniks), alguns "marxistas legeis" Lénin. (como eram chamedos), Tugen-Baranovski, V. I Acontece, porém, que grande parte desses dois imaginados cepf- tulos j& foi exposte por Rosa Iuxemburgo na segunda parte de seu livro Acumlagao ae Capital. Além disto, examinando o assunto mais cuidadosamente, coneluimos que, com raras excecdes, os menciona~ dos autores nade ou muito pouco contrituiram para elucidar a ques- 480 além de simplesmente se oporem (e ds vezes nem isto) & "lei de Sey", Assim, os dois imaginados capftulos tornam-se dispensd- veis; seu interesse seria puramente "ilustrativo"s Talvez precisemos ser um pouco mais explicitos a respeito de Qugan-Barenovski e Lénin, Algumas concepgdes do primero destes dois autores tiveram uma certa influéncia sobre a obra de Kaleo- ki (conforme reconhecido por este Ultimo) e, por isso, pode pare- cer que ele fez grandes contritvigdes para o desenvolvimento do problema da demande efetiva. Mas nfo é verdade, Tugan—Daranovski excluia’a possibilidade de insufici@neias da domanda efetiva em ista ¢@c acumla sua Visio do processo capita . Repetindo a "lei de 2 ay", ele esereve que "a produgéo capitalista eria um mereedo para si mesma't e "Vipto que & expans&o da produgao 6 ilimiteds em si mesma, o mercado, a capacidade Ge absorver seus produtos, também n&o tem Mites". 5) 0 curiono § que, para chegar a e (5) arenserito ge Rosa Iuxemburgo, The Accum) (Londres, Routledge, 1963), cap. 23, p. 311. ion of Capi tal donelus&o, Tagan-Baranovski recorreu aos esquemes de reprodugao ampliada de Marx. :;, A efetiva cortribuigio de Tugen-Baranoveki esté apenas em res~ saltar a import&ncia da demanda por novos bens de capital na ex- pans&o dos mereados. Opondo-se & ingénua idéia de gue toda produ- c&o 6 voltada para a satisfagdo de necessidades humenas, ele in- siste em que o capitalismo é um sistema (denominado de "antagéni- co" por Tugan) onde as mereadorias so produzidas para darem Lu~ eros, nio importando se elas satisfazem ou nao es necessidades hunenas. Assim, 0 capitalismo pode expandir-se produzindo bens de consumo ou méquinas que serviréo para a produgéo de outras m&qui- nas. A insuficitneia de demanda por bens de consumo (que é a tese tas") ndo constitui necessariamente um dos chamados "subconsum: obstfeulo A expansdo da economia: qualquer que seja o nivel de consumo, 0 volume total da produg&o continua a crescer se o nivel de investimento (a demanda por novos bens de capital) for sufici-~ entemente alto para cobrir a diferenca entre o produto nacional eo consumo. Lamentavelmente, porém, Tugen-Baranovski conelufa dat que os capitalistas tendem a investir desse modo, ao que re~ sulta n&o haver insuficiéncia de demanda, ou restrigao de mereado. Considerando ainda que os novos investimentos eriam uma demands adicional por bens de consumo dos trabalhadores (resultante do acréscimo no volume de emprego), seria mentida uma certa "propor- go” entre o investimento eo consumo; somente wma ruptura nessa "proporgio" (no caso, wma queda do investinento abaixo do nivel ° necessério) poderia levar & crise econ e, Qtento a Lénin, ele se limitou, em geral, 2 repetir os argu- mentos de Marx e a eriticar os que sefam da linha, Na perte Ge critica, ele combateu principalmente as teses dos ne rodniks (pox Abilidade de um desenvolvimento puli'stas russes) que néo viem por capitalista na Riscsia, porque esse pats n&o diispunba de wr merca~ do interno suficiente para absorver a produgéo cepitelista (tendo addi ‘em vista ser a economia russa basicamente agricola, com vm crim pesinato extreriamente pobre); @ eventual alternativa serio, en- t&o, conquistar wn mercado externo, mas também isso se moctrave improvével, porque todos os mercados externos jA se achavam sob dominio das exis tentes poténeias capitealistes, Lénin respondia, porén, que essa tese era falsa, Primeire, porque era desnecessd- “pio apelar pare um "mercado externo" a fim de tentur resolver 0 problema. Segundo, porque "o mereado interno para o enpi telismo (6) é eriado pelo desenvolvimento do préprio capitalismo", ow se- jo, para desenvolver-se 0 capitalismo nfo precisa de um prévie mercado interno; esse mercado vai sendo criado e omplindo na me~ aida em que o capitalismo se expande. AtS ef tudo bem. Mas acontece que, em seu fA de combater a éese dos narodniks, Lénin passou a minimizer a importancia da questSo da realigzag&o, e, assim fazendo, contrituiu para refrear o desenvolvimento dela, Essa atitude teve adicionais conseqtén~ clas posteriormente, quando — com o stalinismo — suas concep¢ees foram convertidas.em dogmas. Vejamps como ele trata da questo, Para comegar, ele transfe- re a diseussdo acerca da xealizacao da maiis-velia, que & 0. ponte central, para o problema da realizagio ao capital oc pital este que 6 constitufdo néo sé dc capital fixo mas também dos bens intermedidrios). Por exemplo, aco -criticar dois autores naxodnike, Lénin escreveut ‘ambos autores reduzem todo o problema da realizegao do produto Be realizadcdé da mais-valia, ovidentemente nag nondo que 4 res~ zagio do eapitel constante n&o apresentea. dificuldades, Essa ingénua opinido contén um profundo erro, que 6 & fonte de to: dos os denais erros da teoria narodnik da realivagSo. Na rea~ “‘Vidade, a difiouldade de explicar a realiudgéo é precisaneante a de explicar a realizagio do eapi'tal constante. /iemin, op. cit., cap. 1, segdo 4, p. 44,77 (6) vy. 1. tenin, The Development Progress Publishers, 1964; cap. 1 in Pusat Capitel: secdo 9, Dp. 69. xiv Dizemos nés que o profundo erro estd precisamente. em acentusr a realizagéo do capital constante, porque a maior dificuldade é a de explicer a vealizag&o da mais-valia, Para produzir, os capi-~ tal stas precisam comprar as moreadorins que conetituem seu capi- tal. constante; quando un capitelista efetua sua produgio, ele con~ pra de outros capitalistas esses mercadorias; quendo s¢ considere a produgdo em conjunto, os capitelistas esto comprando essas mer- ‘cadorias uns dos outros, ou seja, elas esto sendo vendidas, rea~ lizadas. Logo, na produgso total, a porte eorrespondente ao valor do capital constante é automaticamente realizada (vendida) no pré~ prio processo de produgdo, Com a parte equivalente A mais-valia totel-isso ndo acontéce, e af esté o grande problema, (Este é o tema central a ser discutido a partir da seg&o 7 do capftulo 2.) Alterando o eixo central do problema, Lénin passa a disevtir « realizagio do capital constante em ternios de reposig&o (por novo capital) do capital desgastado na produgHo, o que é também um es~ tranho modo de colocar o problema, Tem-se af a nitida impresséo de que, com isso, Bénin quer destocar a atengdo de um ponto extrema— mente controvertido (a realizagao da mais-valia) para outros temes 4 suficientemente esclarecidos por Marx; quais sejam: (1) 0 erro de Adam Smith em ndo computer o capital constante no valor totel da produgao, ¢ (2) a inter-relacgdo entre o departamento produtor de meios de produgdéo (capital constante) e o departamento produtor de bens de consumo, 3 nesse ponto Lénin transforma o problema da realizagho inteiramente num problema de inter-relagdo entre os ée~ partementos (ver, na cittada obra, a seco 6 do capftule 1). 4, AGRADECIFENTOS Concluinds esta 0, quero deixer registrados meus ag cinentos aos coleges L % Gonraga Belluzao e Sérgio Silva, que sé discutiram comigo algumes partes do preaente trabalho mas tem- vém manifestaram profundo interesse por todo ele e incentivare a escrevi-lo. A IKI DE SAY E SUAS IMPLICAQOES 1. A LONGA VIDA DA LET DE SAY Isto que hoje em dia denominamos pomposamente de "lei de Say" ou "Lei dos mercedos" de Say (que para o leigo em Economia pode pa~ recer algo de um rigor cient{fico compard4vel ao teorema de Pit4— goras, & lei da gravidade de Newton ou & teoria da relatividede de Einstein) nio passava originalmente de uma concepg&o nao muito pretensiosa do economista francés Jean-Baptiste Say (1767-1832), +o pouco pretensiosa que ele mesmo e infringie no mesmo livro em que a formulava. Infelizmente, porém, para o desenvolvimento da acsim ehama Ciéncia Econémica, David Ricardo (1772-1823) no apenss aceitou @ concepgio de Say como também procurou aplicdé-~la coerentemente no estudo de certos problemas que a envolvia, como, por exemplo, no problema da acumulagéo de‘capital. B como Ricaréo — juntamente com geu antecessor Adam Smith (1723-1790) ~ foi o autor que weior influéacia exerceu sobre a evolucdo @o pensamento econdmico, 2 concepgdo de Say foi paesada adiante como wm dos principios in- questiondveis da Economia Polftica cldssica., E def, com a ajuda considerével de John Stuart Mill (1806-1873), ele foi também in~ corporade pela Economia néo-cléssica, no. pouco que esta escola deixou a respeito do ramo hoje entitulado de Maeroeconomia. Parece que. nem.mesmo.o nome de Say aplicado & famosa concenclo seja-justificdvel, Em primeiro lugar porque nao‘ teria sido ele o autor original da concepcSo. Esta teria sido tomada, segundo } " da idéia de James Mill (1773-1836), pai de John Stuart, de accréo com @ qual exixte um "equilfbrio metaffsico entre vendedores ¢ compradores". (+) am segundo lugar porque todo o prestfgio gor (L) Vejo-ce K. Marx, Meorias da Heis-Valia, vol. II, cap. sobre "A Acumulacgao do Capital e as Crises", parég. 4, p. 26 da e@icd ~ pela concepgSo se Geve no a Say; mas a Ricardo e, depois, a John Stuart mir, (2) Todo o ranco? ou, pelo menos, o desaprego de John Waynerd Key- nes por Ricardo, manifesto em diversos momentos da obra do primed— xo, parece decorrer do fato de ter sido Ricardo o responsével pela incorporag&o da "lei de Say" ao corpo principal da Beonomia Polfti- ca ortodoxa, Sobre este essunto, comparando Ricardo e Malthus (1766-1835) — 0 qual recusava o princ{pio formulade por Sey —, é famose a seguinte afirmagéo de Keynes: Ricardo conquistou a Inglaterra t&o completamente como a Santa Inguisic&o conquistou a Espanha. N&o apenas foi sua teoria acci-~ ta pela City, pelos politicos e pelo mundo académico, mas tam- bén encerrou 9. controvérsia; o outro ponto de vista desapareceu inteiramente; deixou de ser discutido. (3) argentina (Ediciones Brumdrio, Buenos Aires, s.d.). 0 mesmo j& ha~ via sido assinalado por Jolm Stuart Mill. Schumpeter, entretanto, nfo concorda com isso, alegando que a obra de Gninae Mai a Comme: 1808) a0 Livro ds Say, reit Joseph Schumpeter, Hist Unwin, 1954), parte III, cap. 6, §4, p. 621. A verdade, porém, é que a edigo de 1803 ao livro de Say quese nada continhe a respei~ to do Giseutido princfpio; este sé virla a ser formulado na segun- @a edic&o (de 1814) do livro. Veja-se Maurice Dobb, Political nomy end Capitalism (Londres, Routledge & Kegan Paul, segunda edi- gio, 1940), cap. 2, p. 41, nm Economie Analysis (Londres, Alien & (2) io cago de David Ricardo, veja-se o cap, 21 de seus Principlen of Political Economy ana % Imente publicado em 1817); no caso de John Stuart Mill, 2 litical Deonomy” ( de 1848), especialmente livro III, cap. 14, (3) 5, Keynes, The General Phy £ Enploynent, Interest and Koney (Nova Torque, Harcourt, Brat World, 1964), cap. 3, §3, pe 32. Sobre o mesmo assynto, veja-ce tombém o ensaio sobre Malthus no Livro de Keynes, Essaye i jography (nove etigdo, K. Torque, Norton Tibrary, 1963), especialmente yp. 102 e segwintes. ig @ Se a "lei de Say" foi to prejudicial assim para o desenvolvi- mento da Giénela Beonémica e se, ao mesmo tempo, mostrava~se téo conflitante com o mundo real que ela pretendia explicar (como ve~ remos adiante), como poderia cla ganhar tamanha aceitac&o por par- te tanto da teoria como ds polftica econdmica e menter-se intocada sad por mais de un séeulo, isto é, desde os Principles of Politi nomy and Saxation, de Ricardo, de 1817, até a décadea de 1930? E esse longo domfnio da "lei de Sey" 6 ainda mais intrigente quendo consideramos que, durante todo esse tempo, houve autores de maior ou menor inporténcia ~ os denominados “heréticos", como Naltinis, Warx, Rosa Luxerburgo, Aftalion, e outros menos eonhecidos — ave se opuseram firnemente a tal concepedo. Para encontrarmos wita resposta para esta indagacgav, de pouco nog adianta examiner o desenvolvimento “interno” da Boonomia Poli~ tica, como se a "lei de Say" decorresse de outros prinefpios de Beonomia, isto , como se fosse uma concluséio postulacional, assin como a Geometria ou o Céloulo matemftico. Pare obter uma resposte temos de recorrer ao que se convencionou chamar de Sociologia dx eiéneia. . SI Dentro desta. linha, Michal Kelecici — en um discurso na Univer~ sidade de Varsévia, quando recebeu o t{tulo de doutor honori sa, em 1964 — apresenta duas razdes para o domfnio da “lel de Say" por +20 longo perfodo. Antes, porém, de abordar este ponto, € pre- ciso esclarecer, embora sumariamente, que a "lei de Say" estabele~ cé gue toda produg&o encontra uma demanda, ou seja, que toda rende (walérios e lucros) 6 inteixamente gasta na compra de mercadorias e servigos, e, portauto, nfo pode haver um excesso ée produchc ou renda em relagiio & demanda ov 4s despeses efetivamente reelizedas, E def d@ecorre wna série de outras conclusdes 9 serem exeminadse naie tarde. As duas razdes apresentadas por Kalecki séo, em primeiro lugar, o fato de a "lei de Say" representar o interesse da classe cxpite- lista, e, om segundo lugar, ser ela aparentemente confirmada ooti- 4 dimanente pelas experiéncies dos individuos no trato de suas eco~ nomias pessoais. Como disse Kalec en seu discursos rodugéo geral fazio o sistema Uma doutrina que exclufa a super Ko. plona wiiliza capitalista aparecer como sendo capag de um Gos recursos produtivos e desprezava as flutuagdes efelicas co mo sendo insignificantes fricgdes. B. tada pela aplicagdc & eccnomia como wn todo da exper: sa apologética era facili- Snoia economia individual, na qual cleramente um consumo menor signi 2 8 renda de um indiviéuo é or, Mas enquanto fixa, & Fenda nacional num sistema capitalista é detexminada de consumo © de investimento, sendo que ume que- fies wma poupanga me pelas deci aa de qualquer um destes componentes de moto nenhum leva arto~ e maticawente a un anmerto do ovtro. Assim, a experiéneia indivi-~ mia come um todo. @ual no coxresponde ao ovrso da ec En owtras pelavras, « tei de Say era wn dogma escorando os fun- Gementos do capitalinmo, o que era facilitado pela eplicey da experitncia individual cotidiona eo siotema econémico. Zo 4) Temos af uma respoate adequada, aue leva em conta tanto a fuxc! social da "Lei de Say" — enquento euporte teérico do capitelisme ~ como a base desse “lei” na experiéncia dos indivfdues no trate de suas oconomias pessoais. Paltaria, porém, serescentar ums otra unto em pauta é 8 evolugac vagho, nada despresfivel quanto o as = ou melhor, # felta de evoluciio — de une ciénele: qual seje, o simples comodisuo intelectwal, que leva & votina e & adogSo sery~ dos. Esta razdo é imprescindfvel pare tice de principios estabelec explicar por que ceriae coucepgdee subsietem mesmo depois de ener ificar ou velidar teoricamenis un cumpride ses papel social de ju sés dominantes dentro desse si detexminado sistema ou os intere. ma, ea partir 6e entZo tornerem-se imitets ov até mesm contré sto 62 préprie "1 aos interesses do sistema, Un cxempla atia en sobreviver meemo quente es cada ves ma Say" gue pers: das crises e depressdés econ alismo igham "Por que a Reon: ainda ndo 6 uma Ciéneia Hives, sebewbro de 1964. veoncepgdes que ~ antes mesmo de poderem ser usadas para justifi- car o sistema — fossem titeis para dar uma solucfo As préprias cri- ses e depressdes. Wao & por coincidéncia que a derrubada da “lei de Say" dentro mesmo da Economia Folitica ortodexa tenha oecorrido com a maior oftse econdmica por que passou o capitalismo, ou seja, imediatamente depois da erise de 1929-32. Para compreender a permenéncia da "lei de Say" talvez ceja im portente observar que apés John Stuert Mill ele, embora estivesse emtutida em mitas das principals concepedes da Economia ortodoxa (néo-cldssica),.porica atengSo recebia dos economistias que, cons~ ciente ov inconscientemente, a adotavam, Mesmo Alfred Marshall (1842-1924}, que heréare diretamente de Mill o princfpio de say, ) ndo lhe Gedica qualquer anélise em separado, tomando-o gomo um postulado da Economia, Uma des poucas excegdes 6 constitufda por Fred M, Taylor, em cujos Principles of Eoonomies encontram-ze a! gumas p4ginas espécificamente sobre o assunto.'©) & & eurioso no- tar que A. C. Pigov — um dos destacados economistas ingleses que sucederem a Mershall e cuja otra, segundo Keynes, constitufa a versio moderna da tradicéo "“eldssica" — jamais tenhe feito expli-~ citanente referénoia & "lei de Say". (7) Keynes se refere a0 proliLe- (5) Veja-se 2 citagio que A. Marshall, Principles of Economies (oiteva edig&o, Nova Torque, Macmillan, 1948, cap. 13, §10, p. 710), faz de Mill acerca da referida "lei". (5) pea i, Saylor, Principles of Economies (Nova Torque, Ronela, 1921). Segando Lawrence R. Klein, The Keynesian Revolwéion (eegun~ da edicho, Tondves, Mecmillen, 1968, p. 44}, cote livre de Taylor foi durante muitos anos usado como manual nes vniversidades ameri~ eanas, Taylor seria, portanto, un dos principais @ivulgadores da "lei. de Say" entre o# economistas americenos formados nessa época. (1) veto nence este 6 & conelusdc de Alvin H. Hansen, om A % Graw Hill, 1953}, cap. 1, p. 17. Keynes (Nowa Torque, i ‘na do seguinte mod A doutrine: fie Say, como apresentada por Jon S. Mi11/ no é jamais cmposte, hoje em dia, desta forma crua, Ela ainda é, todavia, subjecente a toda a teorie cldssica, que entraria em colapso sem ela, Os econonistas contempor&neos, que poderiam hesitar em concordar com Mill, nio hesitam en aceite concl- 8) ses que requerem a dovtrina de 1 cono premissa. Depois do ataque frontal feito por Keynes em sue Teoria Geral, a "lei de Say" passou a merecer maior atencglo por parte dos eco- nomistas, (9) para finalmente ingresear ~ como ponto de referéucia separando a Economla “eldesiea" da Toonomia "iceynesiana"(20) en todos os manvais Ge Macroeconomia. Néo hd, porém, pelo menos que seja de meu conhecimento, um es- tudo mais profundo da "lei de Say" © de sues diversas implicagdes. Os manuais de Mecroeconomia, por exenplo, limitamse a apresenter wna resumida formulegio — nem sempre conveniente — dessa “lei” e referi-la como sendo um elemento da tradicg&o "eldssica" da Bcono- mia. (1) tum desses manuais, Ackley chega mesmo a dizer que a “let ral Theory, cit., cap. 2, §6, p. 19. (8) Keynes, the Ge (9) yer, por exemplo, Oskar Lange, "Say's-Lew ~ A Restatement ana etical Econometrics, The. University of Chicego Press, 1942; Joseph Schumpeter, History of Economic Analysis, cit., Parte Til, cap. 6, §4¢ Beonom: (10) xemes, os keynesianos e mesmo os pseuds-keynesianos denomi= nan de "cldssicos" a todos 0s economistas que, grosseiramente fas lango, precederam o préprio Keyne obra, o cap. 1, p. 3, n.). Para Mary, a Eronomia eléssice era com (ver, nessa da Beort preendida quase que exclusivamente pela obra de William Petty, Adem Smith e David Fieardo; de Marx denominava de Economia Polftica "vulgar". Ge Ricardo iniciava-se'o que (11) Ver, por exemplo: Dudley Dillard, nard Keynes, Nova Torque, Prentice Hal Ackley, Macroeconom Y y, Nova I ue, Nacmillen, 1961, cap. 5; Edward Shapiro, Macr. 4 : a lorque, Favcourt, 1966, cap. 18. 7 fe Say" néo passa de un ertificio eriado pelos econonistas moder- nos para caracterizear a Economia “elissica" ¢ que ni ta "cldssico" em particular teria adotado essa lei com todas suas implicagdest As idéias que distutiremos sob o nome de "lei de Say" consti- tuem em parte um conveniente “homem de palha" reconstrufao pe-- los ecovomistas modernos para representar o pensanento de seus predecessores "cldssicos". (...) Nonhum economiste "oldssico" individual adotou todas as idé as agora atrilufdas a esse mite 16gico estudioso Sisto 6, Say/. i (42) 0 que pretendemos mogtrar neste capitulo 6 que a "lei de Say" —apesar das contradigdes do prépric Say — efctivamente exerceu wna grande influéneia na formagfo da Economia Polftica a partir de Ricardo, o qual ~ seguido de Jobu S, Mill ~ fol o tedrico que mais consistentemente adotou equela “lei”. Ascd » concentraremos nosso estudo sobre @ obra de Ricardo, estendendo~o &s vezes até as obras de Mill e de Marshall, Referéncias a autores posteriores seréo feitas apenas circwistencialmente, como exemplos de concep~ gdes apoiadas no prinefpio de Say. 2, FORMULAGAO 5 SIGNIFICADO DA “LET a. A_"lei" No capf{tulo 15, sobre os mercados ("Des débouchés"), no livro I da segunde eficéio (1814) de sue.obra Traité a! monie Politique. Jean-Baptiste Say escreveu o seguintes Yele.a pena notar que wunproduto, t&o logo seja evrindo, nasce jnesmo ingtante gera um mercado para outros produtos em, toda. grandeza de seu préprio valor. Quando o. produtox dd.o tcque (22) goxrey, ope cits, pe 109. No texto citedo”@ima, onde se 1¢ “todes as idéias a midas" 2 Say, deve-se entender "todes alidede, ningvém, a ' final a seu produto, cle esté ansicso para vendé-lo imediata~ mente, para quo o valor do produto ndo perega em suas milos. Nem esté ele menos ansioso para se utilizar do dinheiro que pode obter, porque o valor do dinheiro também é pereetvel. Mas o Wmico modo de se desfazer do dinheiro ¢ pela compra ae um produto ou outro, Assim, a mera circunst&ncia da eriagio de um produto imedietanente (13) un néresdo para outros produtos. Basa concepgio passou a ser conheciéa abreviadamente como "lei de Say" ou "Lei dos mercados de Say", ¢ hs vezes 6 também mencionada como “lei da preservagdo do poder de compra", Essa con- cepgio tem sido traduzida, através dos anos, por uma eurta eftyme- Ho: “a produgho ceria sua prépria demanda", : © principio formiado por Say tem sido defendido atualmente co- mo sendo vélido para as economias de produtores simples, isto t, onde cada famflia seria proprietéria de seus meios de producéo e troceria epenas o excedente de bene que ela mesma produz nas n&o consome. Acontece, todavia, que Say, Ricardo, Mill e todos os sub- seqlentes adeptos do principio spresentado pelo primeixo nio ests- vam lidéndo com uma sociedade de produtores simples, mas sim com uma sociedade capitalista. Vejamos, portanto, como podemus tradu- zir a "let de Say" no contexto de uma economia capi telista, : Para comegar, léembremo-nos de que o prego de vm produto pode ser Gecomposto em trés partes: (1) o custo dos meios de producko (depreciagSs do capital fixo, matérias primes, ete.) necessérics pare se.criar o produto; (2) os salérios pagos aos. trabalhadores empregados em sua prodagSo; (3) o iuero auferido pelos capi talig- tas. Leimbremo-nos também de ue o processo de producio fteien de G3 3): gm sew liyro Commerce Defended (de 1808), Janes Will havia escrito; "A produg&o de mercadorias cris, e é a vinica ¢ wriversal ereadorias. (7...) 0 poder de cause que cria, wn mercado pare as ¢ compra dé una nagic é medide exatamente por seu produto anual. Quento mai » Oo mercado nacional, (...) A dem avmonta o produto aaual, mais se amplie, por este mes~ mpine iguel & produgéo de uma nagdo." (Pranserito de Maurice Dobb, op. cite, p. 41-42.) aa ade via nagho € 5 {um bem ou servigo é ao mesmo tempo o processo de geragio de um determinado valor (ou prego) correspondente a esse bem ou servi- go. Assim, a cada produto corresponde um dado valor (ov prego). Ao vender sua mercadoria, 0 capitelista obtém un montante de dinheiro exatamente iguel ao que é necessdrio para compré-la, Isto é 6tvio e equivale & afirmagZo de que toda vends corresponde a vma compra de igual valor, Mas o capitalista nao compra sua prépria mercadoria, Com uma parte de sua receita ele adquire de outros cepitalistas os meios de precugéo necessdrios para manter em mo~ vimento sue prépria atividade. Com outre parte, seu lucro, ele compra tambéx de outros capitelistas os bens de consumo de que precisa ¢ um volume aéicionel de meios de producto para ampliar sua atividade. A terceira parte serve pera pagamento de saldrios aos trabalhsdores, que adquirem bens de consumo dos cepitalistas. Assim, de acordo com esse esquema, a receita total de wm capita lista se distritui de diferentes modos, entre diversas compras num valor totel igual &quela receita, Aplicando esse esquema & economia como un todo, terfemos que e produgfo em seu conjunto gera uma-capacidade de compra exatamente svficiente para absorver a prépria produc&o, Os capitalistes compram e vendem entre si os diferentes tipos de produtos (bens de capital fixo, bens interme- @idrios e bens de consumo) e pagam aos trabalhadores os saldrios que serao usados para a compra de bens de consumo. Em resumo, con~ sidere~se que as mercadorias s&o trocedas entre ei (incluindo-se af a forga de trabalho como mercadoria); ou seja, o processo de 0 & entondtide como’ sendo cons- circulagio da producio em seu conju titufdo por uma troca de produtos por produtes, o dinheiro senéc usado apenas como meio de troca. Esta é a esséncis da "lei de Say", que tanta confuse causou. Eoge mesmo esquema pode ser apresentudo de mode im pouco dife- rente se recorrermos a um aréfico muito utilivade nos manveis néo-cldssicos de Microeconomia, Como sabewos, n Eeonomia néq~ © existem capitaliotas, nem operdrios, nem qualquer outta Classe social. Yodo o esquema tedrico é montado sobre mea dicotomia basica: de um lado, as empresas produtoras de bens e¢ servigos, operando como se tivessem vida prépriay de ovtro lado, os proprietdrios dos "fatores de produgio" (proprietérios ao ce pital e proprietéries do "fator trabalho"), que vendem de empr 889 os "servigos de seus fatores", recebendo em troca wm pagemen= to, que € @ renda desses "proprietérics", Por seu terno, os "pro prictérios dos fatores de produgSo" conpram os bens e servicos produzidos pelas empresas. Temos, portan -pe} FATORES DE BMPRESASs 7 Rendas Produgio de bens e Venda a servicos ene _-[trabelho Recebimentos das empresas As setas em linha cheia representa fluxog en termos "reais", © as setas em linha pontilhada expressam fluxos em texmos monetd~ rios. 0 fluxo de "servigos de fetorea" 6 necessoriamente igual ao fluxo de “rendas", visto que ambos apenas representam wn neamo fox to sob duas formas diferentes (ternos "reais" © "monetérios” do mesmo fenémenc). O mesmo acontece com a igualdade’ entre o Plus de "bens e servigos" e o fluxo de ": cebimeritos das ompresas", Se, agora, supusermos que os dois prim ves fluxes so ignais aos dois Ultimos, temos uma nova epresentugdo da "lei de Say", Em termos monetérios, ac rendas pagas pelas empresas. sio lgaeis As receites das empresas; ou, visto de outro Angulo, sio com as re das recebidas das empresas que “os proprietérios. de capittel e tre+ balho" psgam a elas péloe bens e sezvigos que eles compran; ou, sume, as rendes doe cepitalictas e trabelhadores sio trocadas pe-~ las receitas das empresas. lim termos reais, "oe sexvicos de feton res" sio trocedos pelos bens e sevigos produsidos pelas ewpresas. Nesse caso, computando-se tanto os "bens e servigos" como on “ser= vigos de fatores" na categoria geral de “nereadoriss", temos ¢ es quems de que as mereadorias sto trocades por mercedorias. E nede~ ° 5 mos concluir também que quanto mais as empresas produsirem, 5 seré o volume de rendas e, consegtontemente, maior serd o vole emt ous de vendas das empresas pora os "proprietérios de fatore tras palavras, a produg&o estard gerando sua prépria demanda. Pp + & produg: P No gréfico acims falta obsorvar um detalhe. A compra e vend de bens intermedi & ios utilizados no processo de produgio nio eps- rece no gréfico, porque 6 um processo que se ad entre as prév empresas (e nfo entre estas e os "fetores de produgio"). Aden como a compra de bens intermedidrios por uma empresa € igual & venda desses bens por outra empresa, essas operagdes se anulon. b. A Troca de Produtos por Produt Restan ainda algunas questSes fundamentais para se entender a “lei de Say". A primeira deles & @ soguinterpor que os produtos ve ron cam por produtos (ou ent&o, segundo a interpretacio do gréfico, por que o& dois fluxus de cima sé iguais aos doig.fluxos de bei~ 7 x0)? “ O dinheiro & encarado simplesmente como um meis de trosa e, portanto, n@o exerce influéncia no processo de produgiio © cireu~ lagio. Assim, o fluxo de trensagdes em termos monetSrios pode ser deixado de lado, como sendo um simples reflexo do fluxo real a se d& na trocd entre os produtos. Numa sociedade dé produteres: simples, cada fawflia é proprietdria de seus meios « objetos a trabalho e produz divetemente vara seu préprio consumo. Os tipor Ge bens ave uma famflia no consegue produsixr, ela os sdquire te outres famflies em troca dos excedentes de bean que cla pre Mesme que as trocas sejem realizadas com o auxtlio do @inheire este nao exerce af qualquer papel atiivo; ov seia, nic se produg para ganhar dinheiro e, portanto, o dinheiro é apenas um elemento de intermediagao entre os produtes. Logo, o processo € esaoneial- mente o dé trocé de produtos por produtos. Ricardo assim se manifesta a respeito deste problema: Nenhum honem produa a nfo ser con o obj vo de consum vender, @ ele jomeis vende a nfo ser com a intencZe comp elenma owtra mereedori +s gue pode ser imedletamente Wti1 per ele ou que pode contribuir para a produgiio futura. Produzinés, entéo, cle se torna necesseriamente ov o consumidor de seus préprios bens ov o comprador e consumidor des bens de alguna outra pessoa, (...) Ags produgdes sho se we compredas por pro~ dugSes ou por servi: 3% © dinheiro 6 apenas o mele pelo qual a troca § efetuada, 14 Hotemos, de passegem, que o argumento de Ricerdo 6 um poveo diferente do de Say. Apeser ds.egude comprecnsdo que icaréo tinhe do cepitaliono de cua época, no texto acima transevite parece que ele coloes 0 consumo como o objetive final da produgio, como estivesse tratando de uma sociedade de produtores simples e niio do capiteliono. Como se 1é no texto, o home produz com o ob, de consumir; se ele vende seu produto, € con o fim de comprar ou- nente Wil ( & que tem tra mercedoria que ihe seja "imediat: vém posse ser consumida logo), ov que lhe ta produsiz pera o td e: constmo futuro. Jé no texto de Say, esta iddia nfo wifeita. Entende-se af que o objetivo do “produtor" é 2 obtengic de um bem finel, mas n&o necesseriemente de conswiio; © se ele vende sua mer~ cadoria & porque o valor desta (valor de uso ou de trocs?) é pere- civel, e se ele procura comprar cutra mereadoria eom o dinhe obtido’ & porque o valor deste taut DBeixanée de lado o problema de suier uv que significa "perecfyel" para. Say, pode-se andes para pérceber una diferenga nos argumen cadoria & porque ele quer comps: este, se o produtor vende sva me CG) yawia Ricardo, Princes fe on (Penguin Books, 1971), exp. 21, p. 291-292. Dagui obra seré. designace por ip iples. outra; para Say, se o produtor vende sua mercadoria e logo om se- guida compra ovtra & porque tente o valor de sua morendoria como o do dinkeire por ela obtido sto perecfveis. bpesar dessa diferenga, Ricardo e Say concordem em tré funcamentais: (1) embos parecem estar a referir-se a ume socieda- de de predutores simples, na qual o objetivo da producdo 6 a pré- pria obtengfo do produto, nde importendo se essa obtengéo & dire ta ou indireta, isto &, se o prodwtor obtém a mereadoria através de sua prépria produgSo ov se por intermédia da troca; (2) 0 di- nheiro constitui um simples instrumento de troca, nio exercendo qualquer influénois sobre o processo de prudugio e cireulago; do dinhed (3) dada essa tung xo, TR reelidade os produtos se tro- cam por produtos — "a eriegho ve um produto imediatamente abre un mercado para outros produtos", como din Say, ov "as produgdes sZo sempre compradas por produgdes", como dis Ricardo, ou ainda, cone € mais usual dizer-se, "a produgko cria sue prépria demande" ce. Fungo do Dinheiro Ainéa dentro da questéo de que estamos tretando, cabe chamear a ateng&o pare o papel atribufde ao dinheiro. Como dizia Marx, "o @inheire leva sempre junto a si a possibilidsde de crise", (25) Para Marz a-moeda podia servir como expresséo de valor dos produ- tos, como meio de troca ou de circulagio de mercadorias, e ainda como instrumento de acumulacio e entesouramento. 0 simples fato da noede ser usade como intermedigrio entre ae trocas j& pode eriar um problema para a cireulagdo dos produtos: o capitelista que obtém Ginhesxro pela vende de suas mereadorias pode nfo usd~lo inediotamente pera e compra de outros produtog,-e isto per si 26 provoce um retardamento no Drocesso de cirevleche. Se, meis do isto, o capitalista usa o ai pera eniesourenents (por exe (15) x, Marx, feovias da Mei g-Ve: cite, Pe 26, plo, com o fim de sevmilar dinheiro suficiente para ampliar seu capital}, isso provoca una interrupgSo no processo de esrenlagio de mereadorias, nto - seja pere o préprio Ne formulag&o da “lei de Say", entre t Sey ou para Ricardo ~, o ainheiro & visto nico apenas como consti- elo de troca, mas tambén como sendo tuindo somente um m sto ime= Qiatemente, Isto se explica, pera Sey, pelo fato de o dinheivo sex pereetvel (desvaloriza portonto, o “produtor" nico desejar conservd-lo em suas mos, 2 Ricardo, 8 explicagiio estd na fato isig&o de bens de consvmoe ée o dinheive servir spenas para a eg e/ou de bens de produgfo para erierem bens de consumo no futuro, e, portento, os produtores ou possuidores de dinheiro nio terem motivo para manter o @inheira em sues wios por mais teapo do que 0 necessdrio para edquirirem aqueles bene. Assim, 0 uso do dinkei- woblena pare 2 elreu- Yo como instrumento de troca no const lagiio de mercadorias, Mais do que isto, o @inheiro passa a exp: sar apenas vai valor nominal da troca, e qual, efetivamente, se rea liza entre as préprias mercadorias. a. Igualdade entre Produgho _e Demane H& ainda outro ponto fundamental a cer explicado'ne "led. de Say". Comé o produtor de um determinate valor também um comprador de produtos do mesmo valor, couo os produtos se trocam por produtos, entao decorre def que ndo hd sxdugio, ou seja, a é eo de pa nan da 6 igual A produgio, N&o resta diivida de que cada produtor, ao determinada guantidade de bens ou servicas de certo va~ automaticamente criando para el mesmo. um potencial poder de compra de mesmo valor. Ou seja, a vende de seus produtos fornece um volume de dinheiro igual ao valor dequele vends. Acon~ tece, enbretunto, que os predutos eri pomia como um todo sS0 de diferentes tines, inte é, téa diferentes valores de uso, servem a diferentes houvesse eXecesso de procu~ fins. Para que nh ¢ho, a a ntidede produsida de cada tipo de. bom deveris ser de tal modo a atender exatemente A quantidede demandada de cada bem. Do contrério, embora howvesse na economia eapacidade de compra para toda s produgiso de qualquer tipo de bem (e isto & necessariamente asim porque, como J4-ne explicou, a sixples produgSo de um be gera ume igual cepscidade potencies] de com= pra), certos bens ou certas ousmtide 8 @ a 3 2 & 3 zB 5 8 5 a i 5 a 3 3 ? deriam nfo ser conprados. Neste cr: wos WR excesso de pro~ dugéo, on, ovtre gulo, ua deficiéncia de denanda. A resposta a este problema fol dada por Ricardo no capitulo + 21 de seus Principles e em sua correspondéncia com Malthus, e suc responte. parccia tio convincente que pessou a ser adoteda ingues- tionadamente pele & ortodoxa até a década de 193C. Ele argumentavat Una mercadoria particular pode ser produsida em demesia, da qual pode haver um tal abarrotamento no mercado que nao reem~ volse o capital nela despendido; mas isto n&o pode ceorver com : relacdo a todas as mercadorias; demanda por trigo é limitede pelas bocas que existem pera comé-1c, a dewenda por sapatos. @ ecasacos pelas pessoas que éxistem pera usd~los; mas enbora ume comunidede, ou wma parte dela, possa ter tento trigo e tantos chapéus e sapstos que ela nossa ov deseje consumir, o mesmo néo se aplica a todes as mercadorias produzides pele natureza ou pelo artesanato./Principles, cap. 21, ps 292-2937 Ou seja, a demanda — em relagdo a todos-os tipos de mereadorics (16) em seu conjunto ~ 6 ilimiteda. A demanda por um tips espec: de bem pode estar sotisfelta, mas existird sempre wna dewenda in tiefeits por outro tipo de produto. Assim, com relagio & de: por paver. um exeesse de produgdo; wn deverminade Lem, pode 3 (16) Hote-set felemos aqui de "demanta potencial™ que, ns. verdate, al & "necessidade", no sentido senérico deste Wtino terno. No caso da demenda efetiva, a siwwagso € outre: como di (op-_cit., p. 291), termy " anda" € ¥ potencial e & denenda efet, 7 Rieardo Gontrepartida, haverd uma deficiéncia de producie de intimeros ove tros bens pard os quais existe demanda, Deste argumento resulta que embora possa haver um excesso de produgao, isto acontece ape- nas para certios tipos de mercadorias ¢ em caréter tempordrio. Consideremos ums mereadoria 4. qualquer. Suponhanos que por wt ou outro motivo a produgdo parcial on total dessa mereudoria no seja vendida: por exemplo, ou porque o capitalista que a produz superestimou a demanda por ela ou porsue seus eventuaits conouni- dores mdareaa de gosto. Assim, a produgfo da mereadoria A consti~ tui ‘apenas a criagho de wa eventual poder de compra para 0 eapita~ lista que a produziu, poder de compra que nfo se efetiva porque 5 mereadoria néo é vendida. EB a economia apresenta agora um excesso de produgio, igual ao valor da produg%o da mereadoria A. Se esta mercadoria nfo é vendida, igto significa que seus eventuais consu- midores nao a compraram e, portanto, dispdem de um montante de re~ cursos (ainheiro) que pode ser eplicado na aquisigiio de outras mereadorias. Assim fazendo, a producio destas tltimas serf estimu~ lada, No fim das contas, o ‘capital ueado na produg%o da mereadoria A se deslocaré para a produgdo daqueles bens de maior demanda e novo equilfbrio seré atingldo — no quel n&o naverd exeesso do pro- ducSo, isto 6, onde a demanda seré igual a producto, Evidentemente, nesse processo supde-se.a plena mobilidade de recursos ¢ plenc conhecimento, por parte dos capitelistas, dos re- mos onde eles devem aplicar scu capital. Isto é de fato o que diz Ricardo: Kéo € para se supor que ele fo produtor, o capitaliss: pare qualquer perfodo de tempo, estar mal informado a das nercegorias que ele pode produsir mais vantajosemente pare atingir o objetivo que ten em vista, qual seja, tros bens; e, portanto, n&o & provdvel que ele produs nuamente uma mercadoris pera a quel ngo h4 demanda. cap. 21, p. 291,/ 8 posse de ou ré conti- Principles, / 17 © argumento de que a demmnda 6 iimitada (ou seja, de que a demande efetiva sé 6 ‘limltedea pela produgio) 6 essencial., f isto que assegura a inexisténcia de um excesso de producéo, um abar- rotamento de mereedorias n&o vendides. £ isto que permite efir- mar que um indivfduo, disponde de poder de compra, adquirird ne- # oe ele n&o comprar a cessariamente um bem ou servico qualgue: mercagoria A, compraré a mereadoria B ou C, e assim sendo todo o poder de compra de uma sociedade, gerodo pele produg&o total des- ta mesma sociedade, serd aplicsdo na aquisico desta meama produ~ go. E daf a afirmagio de que a produgSo gera sua prépria demanda, de que nBo pode haver, a nfo ser cireunstancialmente, um execsso de produgao reletivamente & demanda. Mas o argumento nic implica que um indivfduo, @ispondo de wa dado poder de compra, gastardé ele mesmo todo seu @inheiro ne aqui- sig&o de bens ou servigos. Afirma-se, isto sim, que todo o poder de compra criedo pela produgfo seré aplicedo nesta mesma producéo, nGo importando quem ser4 o efetivo comprador da produced criada, Assim, um indivfduo possuidor de um dado pontante de dinheiro se vé em face de trés possibilidades: (1) comprar bens de consumo, (2) adoguirir bens de capitel, (3) deixar de gastar uma parte ou totalidade ao dinheiro. Se ele opta pelas duas primeiras alterna~ tivas, no h4 problema: todo o poder de compra 6 efetivamente aplicado, Mas que aconteceré se o dinheiro ndo for usado para a compra de bens e servigos? Ricardo dé a resposta: o dinheiro seré emprestedo a outre pessoa, a qual o gastaré, e acsin o problema esté resolvido: Se dez mil litras fossem dadas a vm homem que ten £100 000 por ano,.ele nio as trencaria wu bed, mas ou eumentaria de £10 000 suas despesas, ou cle mesmo as empregaria produtivemente, ox as emprestaria a alg quer caso, rentes obj uma ovira pessoa pera este propfeito; em qual- e eumen tata, embora o fusse para dife~ + 21, p.291-292,, 18 Que resulta desta argurentagSo? Nesulita que o poder de compra gerado, por uma deter ada produgéo 6 sempre preservade (def ter- mos dito no infcio que a "lei de Say" 6 também As vezes denomina- Ga de “lei de presetvagéio do poder de compra"), Ou seja, em pri- meiro lugar, de acordo com a seqti@noia. do argunento, o poder de compra sé pode ser criado pela produe&o e seu valor é igual ao ve- lor da produgéo; como os produtos so trocados - isto ¢, compra- Bo pode gerer poder de conpre, dos — por produtos, somente a produc e daf, necessariomente, a demanda glotal n&o yode ser mator do-oue a oferta global, Finalmente, depois de criedo, o poder de compra + nio pode ser alterado, isto 6, @ininvfdo, Ele poderia ser reduci- do se alguém deixacse de gastar o dinheiro aufe ido no processo de produgio. Mas isto ~ ségunde os edeptos da “lei de Say — nao acontece, Um indiv{duo gasta seu-dinheiro na compra de um ou ou~ tro ben e, se n&o gastar, outra pessoa gasta por ele, recebendo o dinheiro por empréstimo. O mesmo acontece no caso das despesas go- estas sko realizedas com as transferénoias de poder vernamentai s¢ ée compra - através de tritwtos ~ dos indivfduos para o Bstado. Em sume, o poder de compra pode ser transferido de was indivi- duos para outros, como pode também eer transferido dos individuos para o Estado. O que néo se concebe, de seorda coma "lei de Sey", é que.o poder de compra — ou, em outras palavras, a demanda efe- tiva’— possa ser aumentada ou diminufda sem que se aumente ou dl~ minua o valor da produgio. De acordo com John Stuert Mill (um dos autores que, depois de Ricardo, mais contritufram' para fazer da "lei. de Say" wn dogma da Economia Polftica ortodoxe e acadtuice): to pelas mereadori O que const{tzi o meio de. pai plesmente es mereaderies. O meio de pagamento de enda pessoa © qué ela pelas produgdes de outros indivfduos mesma possui. Todos os vendedores so inevitevelmente, e pelo . Fudésscnos nés siqificado de palavra, compreove vlicar subitamente os poderes produtivos do pats, duplicerforos a ofer- ta de mercadorias em cada mercado; mas duplicarfamnos tanbém na 19 mesmo golpe, o poder de compra, Todo mmdo traria uma dupla Gemanda assim ¢omo una dupla oferta; todo mundo seria cape de comprar duas vezes mais, porque todo mundo teria duas ve- zes Weis para oferecer em troca, (17) Para concluir esta sec&o, vejamos o que diz Marshall acerca do problema, Em uma de suas primeiras obras, publicada em 1879, ele escreves © totel de rende de um homem 6 despendido na compra de servi- gos ¢ de mercadorias, De fato, diz-se usvelmente que um homen gasta wa parte de sua renda e poupa a ovtra per familiar axioma econémico que um homem trabalho e mereadorias Nas € um com essa parte de sua renda que ele poupa, assim como fax com @ parte que ele gasta. Diz-se que ele gasta quando ele procu- ra obter satisfegio presente dos servigos e mereadorias que adquire. Diz-se que ele poupa quando ele faz com que o traba~ Iho © as mereadorias que ele compra sejam eplicados na produ Go da riqueza de que espera derivar os moios de satisfacto no futuro, (18) Note-se que Marshall ge refere & "lei de Say" como “um fa . lier axioma econdmico" e que ele identifica inteiramente 2 pou- panga com os gastos om atividades produtivas: a compra de forga Ge trabalho e de bens para fins de produgéio de "riqueza". Isto, por si s6, classifica-o como um adepto da "lei de Sey". Was, co- mo cbserva Keynes, nao & f4cil descobrir em obras posteriores de Marshall trechos que o identifigquem tao claramente com tal. Uma das poucas excegdes, encontrads em seus Principles of Leonomics, & a citacHo aprovadora que ele faz do texto de J. 9. Mill acime transerito. Mas o fato de Marshall nZo dedicar ao problena uma andlise especifica talvez se emplique pelo motive mcamo de éle aceitar a “lei de Say" como um exioma e, pertento, isenta do at vidos. 7 7) son stuart Mill, Princ gio, 1909, reimpresea por livro III, cap. 14, §2, p. (8) arerea nar all, Du 20 3. IMPLICAGOES DA "LEI" A partir da "lei-de Say" os economistas tiraram uma série de con- clusées, algunas das quals persistem até hoje — mesmo que seja apenas implicitamente — em certas partes da teoria e polftica econdmicas. Veremos aqui algumas dessas conclusdes de maior im~ portdncia. a, Pleno Emprego Come vimos hé pouco, segundo a "lei de Say" — pelo menos na for- mulagéo de Ricardo —, a demanda potencial 6 ilimitada, o tnico limite para a demanda real sendo o volume de producAo, visto ser ae demanda criada pela produg&o, Assim, os obstéctilos -& expansiio Ga domenda sio os préprios obstéculos ao erescimento da produgao - quais sejam, os volumes disponfveis de forga de trabalho e de meios de produgio, Se o volume de forga de trabalho e tambén o dos meios de produgio so regulados pela prépria producio — como veremos mais tarde —, temos que a economia tende naturalmente a operar com pleno emprego a6 recursos. Se howvesse excesso de capacidade produtiva, seja de capitel ou de forca de trabalho, num determinado ramo de atividade, os recursos -af empregados seriam deslocados para outro remo para o qual existe demanda suficiente para absorver uma produgio adicio- nal e, portanto, para assegurar wma taxa de lucro compensatéria. Um excedente geral de capital também esté fora de cogitagio, pois infringiria frontalmente a “lei de Say", visto que, na economia considerada como um todo, existe uma demanda potencial mais do que suficiente pera absorver a produgdo realindvel com todo 0 capital @isponfvel nesta economia. Sobre este assunto 6 ourioso notar que 0 préprio Say infringie o princf{pie por ele mesmo formuiado, ao dizer que "quanto mais os cepiteis dispontveis so abundantes em relag&o ao volume de emprego pera eles, mais cairé a taxa de juros sobre os empréstimos de capital", Ricarao, observando a ineo cia f él de Say, indagava: "Se o capitel em qualquor grandeza pode ser em pregado por un pate, como se pode dizer que ele 6 abundante em comparagéo com 0 volume de emprego para ele?" (Princi- les, cap. 21, pe 291, n.) Un excedente geral de fora de trabalho também no se justifi- ca, a partir do momento em que, como faz Ricardo, a propria popu- lage, isto é, 0 voltime total de forga de trabalho, passa ser ex- plicada pela producHo. Ou seja, o volume de forga de trabalho ten- de a ajustar-se ao processo de acumulagio de capital, Quando a acu- mulagdo ¢ intensificada, cumente a demenda por trabalho e eleva-se a taxa de salério, Com isto melhora as condigdes de vida dos tra- balhadores ©, consectlentemente, suas. femflies se tornam mais nume- rosas. 0 acrSscimo da oferta de forca de trabalho, por sua vez, pressioneria para baixo os saldrios, até que estes atingissen seu nivel matural", sendo este nfvel igual ao “prego natural do tra+ balho", mais ou menos eorrespondente a um certo nfvel de vida so- cielmente aceito pelos trabalhadores (que &, portanto, meiig do que © chamado nfvel de subsisténcia).(29) no atingirese este ponto, ter-se-ic 0 caso de wma ecumulagSo de capital equilibrada, isto é, com um igual crescimento da forga de trabalho e com uma taxa cons- tante de salério igual eo "preco natural do trabalho", Ne hipstese de uma scumulag&o reduzida, ocorreria 0 mesmo processo, porém em sentido inverso — redugSo dos saldrios e em seguida do volume de forga de trabalho — até se alcangar um novo eguilfbrio. (19) heis tarde J. S. M21 introdusiria a concengao ao “fundo ‘de saldrio" que, | juto’com c volume de emprego da forga de trabalho, determinaria a taxa de salério. 0 "fundo de saldrio" era conetituf- do pelo montante de bens de consumo dos trabalhadores. En seus Principles of Political Economy (livro II, cep. 11, §1), Mill es exeve que os sald m ds proporgao entre "a nimero da ado de Fun~ ste da parte do capital cirewlante (.,.) os @ en classe t: do de Salégr: que é despendida no arrendamento diveto de trabalho", Assim, dado — bulhadora" o Ya grendere do que pode ser eh os, que cons 22 , : Obvviemente Ricardo se refere a um processo de longo prazo, mas éle o usa como se fosse wn mecanismo continuo de ajustemento do forga Ge trabalho & acunmlagiio de capital, Como nota Fasinettis B bastante impre +4 convendido da operagdo deste mecaniemo, Para ser exato, ele onente observar quiio fortemente Ricardo es~ sempre fala de um processo que operaré em "iltima inst&neia", mas sua énfase & t&0 forte que sua endlise é sempre feita como se a resposta fosse quase imediata, (20) Muitos economistas certamente ndo ce sentiram satisfeitos com © mecaniemo descrito por Ricaréo quando precisaram explicar 2 nuteng&o do pleno emprego do trabalho @ curto prazo, e tiveram de . inventer un novo mecanismo. Isto foi o que fizeram os economistas néo-cléssicos sem precisar desfazer-se da "lei de Say". Em primei- ro luger, abandoneram a concepgio vleardiene do “preco netural do trabalho", passando a explicer o nivel vigente de sal4rio pelo por~ to de equilivrio entre a oferta e a demanda de trabalho. Assim sen- 0, néo existe un "salério natural" en torno do qual oscilem os se~ lérios ofetivamente pegos nos diferentes momentos, mas sim diferen- tes nfiveis de sal4rios em funcio da oferta e demenda de trabalho. Em segundd lugar, introdusiram a concepgio da perfeiita, substi tui- g80 entre os assim chamados “fatores de produgdo", de modo que quelquer bem ov servigo pode sex produzido com as mai's diversas combinagiices de “fatores". A’respeito deste segundo ponto, Marshall havia dite o seguinte: A eficiéneia dos agentes Inmencs de produgSo, Ge wn lade, 0 a das uma ‘em relag3o & dos agentes materiais, de outro, sao pes: outra e comparadas com sets custos monetérios; e cade:a, tende a ser empregado ne medide em que seja me te S eficiente do o "fundo de salérios", a taxa de salério (isto é, o saldrio por trabalhsdor) variaria inversamente com o. volume ae emprego da forga de trabalho. (20) tuigi &. Pasinetti, Growth an@ Treo Cambridge University Press, 1974), p. 5. mn (Londres, a3 que o outro, em relagao a seu custo monetfrio, Uma fungio bé- sica da emprese’é ade facilitar a Livre agdo deste grande prinefpio de stbstituigho. (...) Eles /os empresérios/ estio constentemente inventando e experimentando novos arranjos que envolvem o uso de diferentes fatores de proenado, e selecio= ~ s 2 nando os que Ihes' so mais rentdveis, (22 Este. principio da substituic&o de “fatores" 6 parte integrente da teoria néo-cléssica, constituindo mesmo um de seus principals postulados, Evidentemente og economistas cldéssicos e Marx haviam também considérado @ substituicAo de capital fixo por trabalho e vice-versa, e viam no deslocamento de forga de trabalho pela ma~ quinaria uma caracterfstica do progresso técnico, sendo que na obra de Marx o tema da crescente mecanizagao do processo de tra~ valho (ou, segundo suss palavras, a erescente "composic&o organi ca do capital") tem um lugar de destaque. Mas na teoria néo-clds- siea o problema passa a ter outra conotagdo: os "fatores de produ- gHo" passam a ser vistos como perfeitamente substitufveis entre si, de modo que & possivel combinar esses "fatores" nas mais di~ versas proporgdes a fim de se obter uma produgéo qualquer. Quanto ao primeiro ponto, relativo ao "prego do trabalho", 2 oferta ¢ a denanda de m&o-de-obra passaram a ser explicadas pelo princ{pio marginaliste. A oferta de forga de trabalho’ é deterni~ nada pela "desutilidade marginal do trabalho": as pessoas aceitam trabalhar até 0 ponto em que um acréscimo de seu trabalho nBo lhes cause uma insatisfacio superior ov mesmo igual & satisfacdo que obtém do saldrio gue recebem por este montante adicional de tra- palno; assim, a oferta de trabalho auuéute av se elever o saldrio. Por seu ledo, a demanda por forga de trabalho 6 determinada pela “produtividade marginal do trabalho": as empresas empregam pessoas até o ponte em que o produto gerado por um montente adicloneal de 2 (Nove Torque, Macy (21) arprea varshall, Principle 1, §2, pe 662. millen, 1948), livro VI, cap. 2 24, fravalho nfo se tome inferior ou mesmo igual ao custo deate tre- balho para a ehprese; assim, a demanda por trabalho eresce ao se reduzir o salério. Tem-se desse modo uma nove explicagiio do mecanismo automético de manuteng&io do pleno emprego com total utilizagéio do equipamen- to de capital. Quando ocorre uma eventual caréneia de forca de trabalho em relag&o ao estoque de capital, os salérios sobem; o Prego do trabalho se torna maior do que o prego do capital, o que estimula a substituic&o de trabalho por capital, evitando-se assim © aparecimento ou a manuteng&o de capacidade ociosa do aparato pro+ dutivo. Quando existe um ocasional excedente de forca de trabalho em relagao ao equipamento de capitel, isto exerce uma pressfo bai~ Xista sobre os salérios. Com os salérios mais baixos, € possfvel ent&o empregar 0 excedente de forga de trabalho, assegurando o pleno emprego. Como existem infinitas conbinacdes dos "fatores" trabalho e capital (visto que estes "fatores" sio perfeitemente substitufveis entre si), pode-se aumenter o volume de emprego mes- mo que o estoque de capital fixo permanega inalterado. Portanto, dado um certo estoque de capital, o tnicd elemento necessdrio a0 mecanismo de obtenc&o ou preservagio do pleno emprego é a perfeita flexibilidade da taxa de saldrio. . j Note-se que esta concepedo se ajusta inteiramente A "lei de Say". Em primeiro lugar, porque o funcicnamento do mecanismo acima deserito supde a inexisténcia de qualquer obst4cvlo por parte da demarida, ou seja, n&o hd problema ae insuficiéncia-de demanda: haverd mereado para tude o que for produzido pelos diferentes "ta~ tores", qualquer que seja o volume destes; logo, n&o hé limites para‘a utilizagdo produtiva seja do trabalho ou seja do capital, Hm segundo lugar, o mecanismo implica também a preservagiio do poder de compra eriado pela produg&o. 0 poder de compra de um ben ou ser- vigo om particular corresponde ao valor deste ben ov serviso; ne economia como um todo, corresponde ao valor total da produgio, Sue pondo-se, para sinplificar, que o prego das matérias primas e outrog insumos néo se altera, onto um aumento (ou uma diminvi- Gc) dos salérios causardé uma igual redugio (ou acréscimo) dos lueros. Sobre isto voltaremos a falar daqui a pouco. Acontece, porém, que no mundo real ocorre desemprego de force de trabalho juntamente com capacidade ociosa de equipamento de capital. Como os economistas néo~cldssicos adeptos da "lei de Say" explicavam isto? Para eles este fendmenc (assim como as cri- ses. econémicas de que falaremos depois) caracterizaria uma "anor malidade" do funcionamento da economia, Esta "anormalidade" no cox so 4a ocorréncia do desemprego teria sua origem nas restrigses inetitucionais ao livre funcionemento do mecanismo de mercado — como, por exemplo, a intervenciio estatal e a associac&o dos tra~ valhadores em sindicatos. Este tipo de explicagfo pode ser encontrado em Marshall, Im seus Principles of Economics (livro VI, cap. 13, §10), ele fala de "natural tendéneia dos sindicatos a pressionar pare um aumento nos saldrios nominais padrées durante as inflagdes.de crédito", o que provoca a elevagSo dos precos. Nesse perfodo. de inflegio os eitpregadores concordam em pagar maiores silérios. Mas logo e ine flagéo deve declinar, seguindo-se uma depresséio e uma queda dos pregos. Nestas condigdes os salérios nominais. também devem cair, acompanhendo o nivel geral de pregos. Assim ocorrendo, haveria um ajuste entre os pregos e os saldrios, riantendo o nivel de produgdo €.0 pleno’ emprego. Mas os sindicatos de trabalhadores adotan a po~ lftica de sustentagdo dos altos sal4vios antes obtidos. .0 resuite- do disto serig o seguinte: "Quanto mais os sindicatos em geral per sistem nesta politica, mais profundo e mais constente é 0 dano ¢ sado ao dividendo nacional; e menor 6 0 enprego global a tons se lérios em todo o pais." (Kershall, loc. cits, p. 709-710.) xisten imineros testemmhos de que os economistas ortodoxos continuavem afirmando, mesmo durante e depois da grande crise ecc~ 26 hémica de 1929-1932, que og altos salérios constitufem a causa ao desemprego e que os saldrios flexfveis eram a condicho essen- cial para se alcangar e manter o pleno emprego. Em 1929 foi constitufda na Inglaterra a-Comissao Macmillan so— try), composta por pessoas de diferentes setores de atividade. 0 propésito dessa comissdo era o de “investigar os bancos, a finan= ge e 0 crédito, dando atengao acs fatores tanto internos como in- ternacionais que governam sua operag&o, e fazer recomendagdes cal~ culedas para possibiliter a essas agénelas a promogfo do desenvol- vimento dos negécios e do coméreio e o emprego do trabalnot!2) ow seja, sugerir medidas que acebassem com a grave crise econémica na Inglaterra naauela época. A comissio tomou depoimentos de um gran- de nvimero de pessoas, entre economistas, homens de negécios, fun- ciondrios piblicos dos altos escalSes, etc. Se o resultado préti- co da pesquisa realizada pela Conissio Nacmillan foi de nenhun va- lor, ela permitiu pelo menos a elaboracio de um auplo quadro das concepgdes econémicas te6ricas e prdéticas vigentes naquela época. Nos relatérios dessa comissdo encontram-se depoimentos de alguns dos mais destacados economistas ingleses em favor da redugio de saldérios.como forma de eliminar ou, pelo menos, reduzir o desem- prego. Alguns desses depoimentos sao reproduzidos nas obras que tratam de Economia keynesiana, para mostrar e diferenge entre o Keynes da Teoria Geral e os economistas ortodoxos, Lawrence Klein menciona também un artigo do Prof. Edwin Cannen publicado em.1932, em plena crise econémi. Um outro expoente dos cortes de salério era o Professor Cannan, gue-pretendia explicar o desemprego geral exatamente do mesmo modo como se explica o desemprego particular numa firma ou in- (22) Comittee on Finance and Industry, Report (Londres, 1932), trenscrito de Robert Lekachman, The Age of Keynes ~ A tudy (Penguin Books, 1969), p. 37-38. 27 distria especffica, Ele argumentava que no emprego particular meis trabalhadores podem ser empregados a baixo salérios se for eldstica a aemanda pelo produto. No emprego total a deman- a pelo produto é indefinidamente eldstica; portanto, qualquer mimero de trabalhadores, até o pléno enprogo, pode ser empre- gado se eles nao pedirem saldrios mito altos. (23) Mas o mais destacado representante dessa teoria foi, sem divi- da, o Prof. A. C, Pigou, Sua principal obra sobre o assunto (Theo~ xy of Unemployment, 1933) sofreu o mais duro ataque por parte de Keynes (ver ‘The General Theory, cap. 2 ¢ Apéndice eo cap. 19). No= te-se porém que, apesar desse ataque, Pigou, numa obra posterior (Lapses from Full Employment, 1945), embora reconhecendo certas deficiéncias do livro anterior, volte a insistir em seu argumento de que a perfeita concorréncia, entre os trabalhadores — e, portan~ to, a total flexibilidade dos saldrios ~ era e condicgdo essenciel para se obter e manter o pleno emprego. >. Relag&o entre Saifrios e Iueros N&o se pode dizer que a relag&o entre saldrios e lucros defendida por Ricardo e outros economistes posteriores seja derivade da "Lei de Say" embora esteja de acordo com ela. Gomo é evidente no cap. 6 de sous Principles, onde ele trata dos lucros, essa relag&o era i: ferida diretamente da situacgéo de um produtor ~ ou seja, capitalic- ta — individual, para quem o prego de sua mereadoria era dado ex- ternamente. Sendo este prego uma grandeza dada, da qual o saldério e 0 ‘lucro s&-parcelas componentes, a variagio na. magnitude de une pargela hecessariamente implica, para a outra parcela, uma varlegac em sentido contrdrio, Ou seja, a um awnento (ov ‘reduco) de saléri corvesponde necessariamente uma Giminuig&o (ou acréscimo) do luere. Assim, em sua andlise, Ricardo parte do produto? individual: (23) towrenée R. Klein, The cit. p. 46-47. 28 Se um produtor /menufecturer7 sempre vendeu seus bens pelo mesmo dinheiro, por £1 000 por exemplo, seus lucros depenéen do prego do trabalho necessdrio pare fabricar esses bens. Scus jueros seriam menores quando os saldrios montassem a £800 do que quendo ele pagasse apenas £600. Assim, na proporgdio em que os saldrios subissem, os lucros cairiam. /Szincipres, cep. 6, pe 131.7 Dessa situacho do capitalista individual, Ricerdo extrapola Pare a economia como um todo a observada relagiio entre selérios e lucros, Sua teoria dos lueros pode ser resumida do seguinte modo: os lucros (seja para o capitalista individual ou seja na economia eomo um todo) dependem dos presos (ou do valor total da produgio) e dos salérios, aumentando em proporgdo direta a0 aeréscimo dos Pregos e & redugdo dos salérios; ou seja, os lucros consti tuen uma fungGo direta dos pregos e inverse dos salérios. Se, porém, com faz Ricardo, tomamos os pregos como invaridveis, entéo os lucros dependem exclusivamente dos saldrios, ¢ isto ele afirma por diversas veses no cap, 6 de seus Principles. Por que considera ele os precos como dedos? Porque ele racio- cina em termos de una economia sob regime de concorréncia perfei- ta, Suponhamos uma elevac&o de preco dé uma, determineda mercado - via, Se em resposta a essa elevagiio ccorresse uma contragao aa de- manda, 0 prego teria de voltar a seu nfvel original. Imazinemos, porém, que a demanda seja suficiente para absorver o acréscimo do Prego. Neste caso, supondo~se o salério constante, o Iuero eumen= tamia. Isto atrairia novos cepitais para e produgio dessa mercado- iS @ incrementada e, com isto, o prego tenderia 9 rie, ee acair, até que a taxa'de lucro obtide na produgiio dessa mercado Tia ‘se iguaiasse & taxa médie de lucro na economia como um todo. Nas palavvad de Ricardo: Deve-se entender que estou falando de lucros em geral, J4 as- sinalei que o preco de mercedo de uma mereadoria pode exceder Seu prego natural ou necessério, na medida em que ela seja pro- Suzida em menor abundancia do que requer a nova demanda por . f 7 ela. Into, entretanto, é apenas um efeito tempordrio. Os altos lucros do capital empregado em produzir esta mercadoria natu- ralmente atrairdo capital para este negScio; e to logo sejam supridos os fundos requeridos e a quantidade da mercadoria se~ ja devidamente aumentada, seu prego cairé, e os lucros desta atividade se conformaréeo nivel geral. /Principles, cap. 6, p. 138.7 Assim, os lucros passam a depender epenas dos salfrios, os quais, por sua vez, dependem dos precos dos bens essenciais de Consumo, que so constitufdos principalmente de produtos agrfco- las: (..+) 08 lucros dependem de salérios altos ou baixos, os salé- ios dependem do prego dos bens essenciais, e o preco dos bens essenciais dependem principalmente do preco dos alimentos, por que todos os outros requisitos podem ser aumentados quase sem limite. /idem, p. 139.7 E Ricardo vai mais longe. Considerando que o prego dos bens essenciais de consumo (principalmente alimentos) é determinado pela quantidade de trabalho necessério para sua producio: (++) em todos os pafses e todos os tempos, os lucros dependem da quantidade de trabalho requerido para prover os bens essen= cisis-para os trebalhadores, numa terra ou com um capital que no gera renda, /Tbiden, p. 145,/(24) Ricardo encontra ent&o uma tendéncia'geral A queda’ dos lueros: A tendéncia natural dos lucros 6, ent&, a de cair; porque no progresso da sociedade e da riqueza, a quantidade adicional de alimentos requeridos é obtida com o sacrificio de mais e rais trabalho, Este tendéncia, esta espécie de gravitagio dos lueros, felizmente 6 interrompida em repetidos intervalos pelas melho~ vias nas m&quinas’ relacionadas com a producio de bens essenciatis, assim como pelas descobertas na ciéncia da agricultura que nos possibilita liberar uma parcele do trabalho entdo requerida, e, emunerag&o necessdéria do traba- portanto, reduzir o preco a -Inador, Abidem, p, 139-14 (24) Nesse argumento & necessdrio supor, como o faz Ricardo, a inexisténecia de renda da terra, porque o prego dos bens cssenciais depende néo apenas do trabalho necessério para sua produgdo m também da renda da terra, : Ss 30 “Bota 6, em resumo, a teoria formlada por Ricardo no cap. 6 de seus Principles. No cap. 21 ele compatibiliza essa teoria com a “Lei de Say". Ou seja, de acorde com essa "lei", tudo que 6 pro- duzido § demandado (a produgiio cria sua demanda); logo, a denanda nfo constitui um obstéculo a0 erescimento da produgdo. 0 nico obstéeulo que pode surgir 6 constitufde pele queda dos lueros, os quais dependem dos calérios. A "lei de Say” no apenas & compatf- vel com a teoria dos lucros de Ricardo; ela também plenomente jus- tifica essa teoria, Se, conforme essa "lei", a renda (ou poder de compra, ou demande) gerada pela producao é dada, isto 6, consti- tuiuma grandeza fixe, e se ests grandeza se compde de salérios e lucros, ent&o estes Wltimos necessariamente +m de diminuir quando os saldrios aumentem, Bm suma, para Rieardo, os Iucros variam num mesmo montante, porém em sentido contrério, da variagao dos salérios, sendo esta concepefo n&o apenas compativel com a "lei de Say" mes taribém inerente & formlaglo dessa “Lei”. Esta concepc&o d respeito da relagiio entre salérios e lucros foi pescada adiante ua histéria do pensamento econémico ortodoxo e incorporada pela Economia néo-cldéésica, Deve-se frisar, todavia, que o -argumento néd-cldssico & um tento diferente do apresentado pox, Ricardo, pelo menos no que se refere ao aspecto formal, De qualquer forma, como Ricardo, os néo-cléssicos tomam os precos como dados (determinados pela oferta e demanda em condigdes de concorréncia perfeita) e, partindo da situag&o de uma firme par- tichlar, extrapolam essa situagdo para a economia come um todo, ltaae B af encontram que uma vaeriagdo nos salérios ten como re: uma veriecSo inversa nos lucros, sem que isto altere para mais ou 5 “ “perk menos o poder global de compra, (25) (25) para uma erftica dessa teoria, veja-se M. Kalecki, "Selérice Nominais e Reais" em Greseimento i tas, Séo Paulo, Editora Hucitec, 1977. ielo das Leon 31 Ea suma, nem os economistas cldssicos nem os néo-cl4ssicos vi- sualizavam a possitilidadé de wma Tedistriticho de renda (seja de lucros para salérios ou vice-versa) afetar o volume do poder de compra gerado pele produgio, ou, pare usar a terminologia mais conhecida, afetar o nfvel da demanda efetiva. ce. Crises de Producso Repetindo sumartemente o que foi dito antes: a demenda (ou poder de compra) & criada pele prodcSo e & sempre igual a ecta, Portan- to, excetuando os casos de despjustes temporérios e circunseritos. a tipos particulares de bens ov servigos, no pode haver, na eco- nomia como um todo, uma situagio de superprodugéio ou de subdeman- da em geral. Decorre obviamente dessa concepgao a impossivbilidade de aparecimento de crises econdmicas, isto 6, situagSes em oue a produgéo excede consideravelmente a demanda, gerando um abarrota~ mento de produtos no Vendidos no mercado ey logo en seguida, une queda acentuada da produgSo, com uma série de outras consegtiéncias (desemprego, faléncias, trensferéncias de riquezas, eter). Mas, apesar do que diz a teoria,-as crises ocorrem, © muitas vezes com tal intensidade que até méemo ob adeptos aa! "lei ae Sey* se viram forgades a reconhecé-las. E assim fazendo, procuraram pa- va elas explicagdes que ndo conflitessem com a teoria adotada, A primeira tentativa mais conhecida foi a de Joln Stuart M11; uma outta, ne mésma linha da de Mill, foi a de Alfred Nershe12, (26) Nio pretendenos discutir aqui cosas’ tentetivas, tas tEo’ somente assinalar como elas procuraram uma resposta para-o probl. erises sem infringir a "lei. de Say", E desde logo € tom esclare- (26) ks concepgdes de J... Mill encontvamese a: Spersas em ceus Exinciples of Political Boonomy, cit.; as de Marshall, no livro que escreveu junto com sua mulher, Kary Paley Marshell: Zconomic. of Industry (1879). Alvin H. Hensen, em Business Cycles end nel Income (Londres, Allen & Unwin, 1951), cap. 15, apresenta uz resumo dessas concepgées, 32 eer gue tento 1411 como Marshall nao se preocupam em fornecer ima explicagSo integrade do problema das crises: “integrada" no sentido de que essa explicagao se centrasse especificamente naque- le problema. : Ao procurar uma resposta, ambos os autores consideram as crises como problemas eminentemente comercisis e financeiros, em que cer tas cireunstancias ligadas A moeda, ao crédito, & taxa de juros, fazem com que & prépria economia infrinja temporariamente a “lei de Say", levando &: crises. Assim, a "lei de Say" permanece vAli- da; a economia & que de vez .em quando vai por maus ceminhos. Fara Nill, isto decorre des atividades especulativas dos comer- clientes. Por uma rez&o acidental qualquer (que pode ser uma redu- go de colheiras, um impecilho & importagio, ete,), pode ocorrer uma tendéncia ao aumento de pregos e, conseqientemente, de lucros. Antecipando a elevacio dos precos, os comerciantes procuram ampli~ ar seus estoques de marcedorias para vendé-les durante a alta e ineromentar seus lucros. Esse movinento, por seu turno, contri bui efetivamente para a elevagao dos pregos. Choga um ponto em que os comerciantes comecam a vender e, com-isso, os pregos vSo caindo. Para evitar perdas, os comercientes procuran agora vender 0 quanto podem, provocando assim um efetivo colapso de pregos, ¢ daf uma crise comercial. Para efetuarem suas compras durante a fase de euforia, os comerciantes contraem dfvidas; com o colapso de pre- gos, porém, eles obtm recursos suficientes pera pepe as divides. A sithiagiio ce agrava, Nesse processo, segundo N11, 0 sistema de crédito tem uma parcela de responsabilidade pela crise? as taxas ae juros sfo muito beixas, durante a fase de euforia, faci litando eos comerciantes a tomada de empréstimos para seus fins especule- tives, e se elevam com o aumento da demande por empréetimos, o que agrava o problema durante a depressao. Marshall segue no geral a concepgdo de Mill no que se refere ao papel da especulegéo e do crédito, mas introduz tembém alguns ‘clementos novos, Ele explicitamente aceita a "lei de Say" acerca da igualdade entre produg&o e demanda, Entretanto, argumenta: "Has embora os homens tenham o poder de comprar, eles podem pre~ ferir n&o usdé-10."(?7) ou seja, Marshall vé poosibilicade ae rompimento dequela igualdade, que pode ser provocado pela falta de confianca nos negScios: "A principal causa do mal & uma cerén- cia de confianga," £ ele explica: Porque quando 2 confianga foi abalada por faléncias, o capite? no pode ser obtido para iniciar novas companhias ou amplier as existentes. Os projetos para novas ferrovias nao encontran receptividade, os navios permanecem ociosos, ¢ n&o hé& encomen- das para novos navios. Raramente hé uma demanda por trabalha- dores comms, e nfo muita pelo trabalho ae construgSo e de fe~ bricagao de m4quinas, Im sma, hé epenas uma pequena ocupacho em qualquer uma des atividades produtoras de capital fixo. Aqueles cuja capacidade e capital sdo especializados nessas atividedes est@o ganhando pouco e, portanto, comprando poues do produto éas.outras atividades. Estas, encontrando um merce~ do pobre para seus bens, produzem menos; ganham menos e, por tanto, compram menos: a diminuic&o da demanda por seus arti ges levam-nas a demandar menos Ge outras atividades. Assim expan- de-se a desorganizacio comercial: a desorganizacio de uma ati~ vidade pde as outras fora dos eixos, as quate reagem a toto ¢ eumentam sua desorganizagao, Esta longa citagio do texto de Marshall ndo 6.sem finalidade. Por meio dela queremos mostrar como ele concebe uma ruptura no funcionamento da "lei de Say" causada pele falta de confianca. Masi n&o apenas isto. Também desejamcs mostrar como ele lenga mao de uma concepgao muito parecida con.a do mltiplicedor do inves« tamento de Keynes p licer a recessio coonémice: uma queda do nivel de tnvestimento (provocada pele-falta de confienga no mundo dos negécios) gera adiciondis decréccimos do investinento através da, redugdo da demanda, Mes a aproximagéo entre Kershall (21) 05 axgumentos de Nershall aqui, reprodueidos foran extuntdos de seus +, Livro VI, cap. 13, $10, PB. 710-711, Esses argumentos foram também emprezados no Livro es- crito juntanente com lary P. Marshall, The Bconomies of Indusims, cit, 34 e Keynes, neste problema de que estamos tratando, limita-ce a isto e ao papel que o primeiro atribui & falta de confianca (em Keynes, “o estado das expectativas") para explicar a depressio. Un outro elemento utilizado por Marshall para explicar o baixo nivel de produg&o e de emprego durante as fases de depressiio 6 a rigidez dos saldrios resultante da ag&o dos sindicatos de traba- “Inadores, como j4 mencionamos ao tratar do problema do pleno en- prego. Tanto Kii1l como Marshall e outros autores representativos da ortodoxia econdmica até a década de 1930 n&o apenas aceitam a vax lidade da "lei. de Say" mas também a tomam por base para formularem muitas de suas concepgdes. Mas a "lei de Say" nega a possibilidade de ocorréncia de um estado de superproducSo, ou seja, de apareci= mento de crises. Como estas realmente aparecen e muitas vezes se manifestem com relativa violéncia, néo h4 como negf-lag. A solugao mais adequada para essa contradigSo entre a teoria e a realidade seria pura e simplesmente a de reformlar a primeira, ou seja, “abolir" a Lei de Say. Nas para esses economistas ~ educedos € profundahente embufdos das verdades estabelecidas pela mais pura tradigao do pengamento econSmico briténico — €ssa seria uma dolo- rosé solugdo, que talvez nem mesmo lhes tenha passado pela cabeca (embora, pelo menos no ceso de Marshall, isto ndo seja téo certo aseim), Seria uma dolorosa solugio nlo apenas porque eles admiras- sem:a "lei de Say" en si mesia ou porque fosse um elemento da tra« digo fortemente estabelecido por Ricardo, mas. dambém ~ e princi~ palnente — pelo fato de esta solugdo ter outras implicacdes para a teoria econémica, como estamos tentando mostrar, A rejeigfo de "lel de Say" representaria (como dé fato representou mais tarde} we completa reformulagdo de. tradicionais prinefpios ¢ concepgdes da Economia Politica ortodoxa. Fortento, nfo adotando esta solu- g30, os economistas, em face das crises ¢ depressSes, vi obrigados @ buscar explicagdes dentro do quadro de referéneiz 35 posto pela “Lei de Say"; e como esse quadro é rfgido, conflitanco con o préprio problema para o qual as explicagdes so procurades, as respostas encontradas pelos economistas sio necessariamente falsas ou artificiais — se nfo on certos aspectos expect tics, pelo menos no todo. Pols tipos de resposta foram apresentados, 0 primeiro — repre~ ‘sentado pelas coneepSes de John Stuart Wi 11 ¢ Alfred Marshall — € 0 de aceitar que em determinados momentos (que s&o aqueles das crises) @ "lei de Say" possa ser infringtda. A economia nornelnen- +46 funciona de acordo com o principio adotado de que a produgio cria sua prépria demanda, todos os bens e servigos produsidos xo vendidos; havetia, porém, momentos de "enormalidade", nos quets a Gemanda se disassociaria da produgho, gerendo crises. B nes es cas 50s, ou melhor, de acordo com essa concepgdo, caberia aos econo tas buscer apenas as razdes pelas quais a demanda se Givorcia aa produgao. . 0 segundo tipo de resposta mantén ou pode menter inedlume @ “lei de Say", dando uma outra interpretacdo As crises. Estas nado constitutriam inicialmente um excesso de produgHo ou una defici= 8ncia de @emanda que levaria, no desenrolar do processo, a uma queda acentuada da produgZo. Nada disto. 0 processo gerador e ca- racterfotico das crises jé se iniciaria come queda da produgSo, sem ser necessério que a demanda deixe de ser criada pela prétria produg&o; ou -seja, @ demande pode continuar sendo igual & producZo, em Gonformddde com a "Lei de Sey", mas Ysto ndo tnpede que’ a pro- @ugS0 cola — e, portante, haje uma crise econémice — se aceiitenoe a hipStese de a produgZo poder ser afetads por "fetores exdgenos", isto €, fore do dominio de economia, 0 exemplo meis eonhecddo des se tipo de.concepgao das crises econédmices 60 de Wi. Stanley Je- vons. Para ele, as flutuagses econ iniciariam com ce eo~ lneitas egrfcolas irregulares: ae coihelrae abundantes favorece- riam a expansdo econémica em gerel, e as m&s colheites gererian 36 ' as @epressdes, sendo que as variagSes da produgdo agrfeole, por... seu turno, seriam resultados das condigdes neteorolégicas e, maiis especificamente ainda, o préprio cardter efelico das erises seria explicado pelo cerdter recorrente das menchas solares. De qualquer forme, fosse Jevons wm adepto ou no da "lei de Say", ele oferecta una resposta para o problema das crises que nio a infringia. d. Finengas Piblicas E A "lei de Soy" exerceu também grande influéneia sobre as Finenges iu divetamente sobre.(1) a concep~* P&blicas. Essa influéncia inet: go ao pepel das despesas governsmentais no funcionamento da eco- nomia e (2) a teoria da tributacZo, Vejamos resumidamente estas duas questdes. Comecemos pelo problema dos gastos publicos. Recordemos, mat's uma vez, que pela “lei de Say" para uma detverminada produgio exis- te sempre, necessariamente, wna demanda de igual valor e, vortanto, nGo, pode, ocorrer wna insuficiéncia de demanda. Neste caso, que significam os gestos governamentais? Sao apenas trensferéncias de despesas do setor privado para o setor estatel, ow seja, cada li- bra despendida pelo governo corresponde a una libra que os indi- viduos deixaram de gastar, Ao se efetuar a produc&o eria-se ao mes~ no tempo um determinedo volume de poder de compra, uma parte do qual é transferida dos individuos para o Estado através dos tri- batos e/ou de empréstimos piblicos, e 6 com essa parte do poder de compra que o governo efetua sua despesa, Assim; o poder de. com prai total ~ ou demanda efetiva total - nfo se altera, havendo ape~ nas. uma transferéncia de parte é ‘te poder para as m&og do Estado. Dat conclufe-se também o seguinte: certos governos revorrem A. emiss&o de-dinheiro para eumentar seu poder de compra: to pode, ne verdade, ampliaro poder de compra estatal, mas uSo o total, Porque este é determinado pela produgéo; como resultado, o gover- no poéeria efetivamente elevar suas despesas, mas ds custas de, 37 uma diminut go Gos gastos dos individuos, econ uma inflaglo de pregos — porque, embora tenha cumentado a quantidade de dinheiro, © volume de produgio permaneceu o mesmo, Em suma, ocorre apenas um sumento nominal, mes nBo real, do poder de compra. Hd também outro aspecto a considerar. Og eronomistes cléssicos definiam as atividedes governamentais como improdutivas e, portan- to, as despesas piblicas como gastos improdutivos, enquanto as despesas individuais se dividiam en improdutivas (coneuxo) e pro~ dutivas (investimentos), Se os tributos ineidem sobre o consumo. dos “individuos, ocorre entSo apenas uma transferéneia de gasto im produtivo dos individuos para 0 Estado, e o pats como um todo naga perde com isto, Se, porém, os tributos ineidem sobre os investi- mentos, hd entéo nfo apenas une transferéncia de despesas dos in dividuos para o Estado, mas também uma converséio de gastos produ- tivos em gastos improdutivos, e, portanto, uma redugio ne acumla+ gGo de capital — isto é, da futura capacidade produtiva — do pats. Esse mesmo prinefpio se aplicaria também aos impostos sobre o es~ toque de capital jd cons tituido: haveria uma redug&o deste capital en beneffeio do gasto improdutivo do Estado. Esse argumento 6 te- . f eido por Ricardo: | Nao existem tributog que nfo tenham uma tendéncia a enfraque- cer o poder de scumler. Todos os tritutos tém de incidir ou sobre o capital, ou sobre a renda. Se eles se intrometem com o capital, diminuem proporeionalmente este fundo por euja gran— deza deve sempre ser regulcda a grandeza da indtistria produti- va do pafs; ese eles incidem sobre a rends, devem ou redurir @ acumulagdo ou forger os contri buintes a poupar o monbante ao imposto, através de uma correspondente. diminuigao de. seu att rior consump improdutivo de bens essenciais ¢ de luxo. /Prin- ciples, cap. 8, p. 169- 170.7, (0 mésmo argunento é retomado por J. S. 111, porém para demons- trar que o imposto aobre a poupanga corresponds a uma ¢: tagfo e, consegtentemente, fere o prinefpio da via. Assim, cle escrever ple tribi< 38 (...) 0 modo apropringo de determiner wn imposto de renda se~ cia tributer apenas a parte da renda destinade & éespeca /ist¢ 6, a0 consumo/, isentsndo a parte que & poupada, Forgue quanée poupeda e investida (e todas as poupangas, falando em geral, sao investidas), esta parte a partir de entio page imposto de renda sobre juro ou luero que ela gera, néo obstante j& tenha sido tritmtada sobre o principal. Portanto, a menos que as poz~ pangas sejam isentas do imposte de renda, os contrituintes se~ r&o duas vezes tributados sobre o que eles poupam. /Principles Of Political Boonomy, livro V, cap. 2, § 4, p. 813./ Em suma, da exposicio feita até aqui podemos concluir o seguiz~ te. Para os autores cldssicos, baseados na "lei de Say", os gas tos piblicos n&o exerciam qualquer efeite positive sobre a econo~ mia e, em especial, sobre o crescimento econdmigo, visto consti~ tuirem apenas uma transferéncia das despesas privades. Antes pelo contrério, os gastos piiblicos poderiam ser um obstéculo ao cres mento econdmico, -na medida em que transferiam fundos de acumulacgzo para utilizé-los em, atividades improdutivas. Daf a conclusdo de que os gastos*governamentais deviam limitur-se ao estritamente essencial ao bom funcionamento do aparelho estatal naquilo que Ine era inerente: o controle des coisas pivlicas, @ manutencho d= ordem, @ aplicag&o da justiga, ete, H daL, também, os tritutos e/ou as dfvidas piblicas utilizaios para financiar esses gastos. deviiam ser reduzidos Aquele mf{nimo indispensével. Ademais, para que as despesas governamentais nfo constitufesem um fator negativo no crescimento econémico, elas deveriam ser financiadas com impos= toa que n&o incidissem sobre o estoque de ¢: tal j& formedo ow gobie os recursos disponfveis para acumulagao. ‘Wa teoria ortodoza os argumentos dos “ecosomistag eldssicos se nattiveram até a assim chemada "RevolueSo keynes¥ena". Vejemos x. exemplo, J& mencionamos a Comissao Macmillan, constitufda na Tn- glaterra durante @ grande crise de 1929-32. Entré as pessoas ov vides pele comissaio estava o Prof, R. G, Hawtrey, vm dos meis proeminentes economistas da época, Um dos pontos por ele atorde 30 ‘dos em seu depoimento foi o dos gastos governamentais, onde ele nada mais fez do que repetir o argumento don autores cldssicos. 0 depoimento de Hawtrey & comentado por Lawrence Klein (devemos sublinkar que Hawtrey é usado aqui apenas como exemplo, porque igual a ele pensava ‘a maioria dos economistas ortodoxos da época): Ble /Hawtrey/ até mesmo considerou a idéie "radical" do gasto governanental efetuedo com novo crédito banedrio, mas predisse que-o resultado de tal polftica seria inflacionério e uma amea~ ga ao padréo ouro, forgando assim uma elevagiio de taxa pancdria de juro e causando a-contragao do crédito, Tal plano, para ele, fracassaria porque as despesas governamentais feitas com erédi- to vancério significariam o fim do dinheiro barato para a em- presa. privada. (...) Como podiam os economistas se preocupar como vazio inflaciondrio quando havia t& alto nfvel de des prego? A Unica resposta que podemos dar a esta questao 6 a de que eles deviam estar trabalhando com as hipéteses Ge Lei de Say e/ou do pleno emprego. (78) Passemos agora ao outro problema da aplicagSo da "lei de Say" &s finangas piblicas. © montante total de seldrios e lueros (in- eluindo aqui a renda da terra) conctitui a renda global de wn de~ terminado pafs; segundo o prinefpio da preservagao do poder de compra, héo existe qualquer "vazamento" no voluine desta renda glo~ val; ou seja, uma vez pagos os saldrios e gerados os lueros, a renda global é totalmente gasta. Qual a-implicagé ditsto para:a teorie das financas piblicas? A implicag&o € a de que os tributos podem ineidir tanto sobre os salérios como sobre os lucros sem afetar a produgio e o poder totnl de compra. Haverdé apenas uma transferéacia de renda (e, por- tanto, de gastos) dos trabulhadores e capitelistas pera o governc. Bclaro que se os impostos incidirem mais fortemente sobre os sa- lérios, ou sobre os lucros, haverd, depois de dedusides os impos tos, uma mmdanga na relagéo original entre saldrios e lueros. Mas (28) tawrence R. Klein, The olution, cit., p. 46, 40 tisto, como veremos logo, era encarado apenas pelo prisma de jus- tiga ou equidade distrimtiva dos impostos, Nio se vislumbravan maiores problemas econémizos na diferenciagdo dos lueros e dos saldrios como fontes geradoras dos tritutos, além do foto j4 men— cionado de que os tritutos incidentes sobre es poupangas poderiax provocar uma quede na formag&o de capital, e esse risco seria ne~ cessariamente maior no caso dos impostos scbre os lucros, visto serém destes que provém a parcela maior da poupance. Na verdade, Ricardo procurou aprofundar a anélise do protlena. Diverses cepftulos de seus Principles s&o dedicados & endlise des, impostos, Segundo Ricardo, quelquer que seja a forma do imposto ineidente sobre og seldrios — e¢ja como inposto direto ou como in posto indireto —, ele aumentard o preco da forga de trabalho e, portanto, seré no fim das contas um inposto sobre os lueros, isto é, pagos pelos eapitalistas: (...) qualquer imposto que tenha o efeiito de eYevar os seldérios seré pago por ume diminuigdo dos lucros ¢, portanto, um imposts sobre salérios é de fato um imposto sobre lucros. /Erinciples, cap, 16, p. 236,7° i Seu argumento 6 o seguinte., Qualquer mercadoria eunenta de pre= go quando 6 tributada, o mesmo acontecendo com o ielério (0 prego da forga de trabalno). Isto n&o aconteceria se o aumento do prego provocasse uma queda ne demanda, obrigands o prego a ‘voltar a seu nivel anterior, Mas com a forga de trabalho isto néo ocorre. Ao elevar-se 0 saldrio em decorréncia do imposto, os capiitalistas re— alnente reduzem sua demanda por. trabelho, mas, por ovtro lade, eom © atmento de arrecadagio do imposto, o governo incrementard sue demands. Logos : © governo e o povo /na-verdade, os capitalistas/ tornamse ac« sim competidores, c a conseqtténcia de sua céiiieticao é um au- mento no prego do trabalho, O mesmo mimerc de homens seré em- alérios. pregado, mag eles estardo eupregados com maiores s Liaem, p..231,/7 wmbora essa linha de raciocfcio e sue conclusio sejam falsas, § impressionante a coeréncia de Ricardo: convencido de verdade da "Lei de Say", Ricardo se mentém coerente com ela em toda sua obra, e diversas vezes chega a recriminar o préprio Say por infringi-le, como acontece também aqui, quando este escreve, referindo-se & tritutagio: "Quando levada muito longe, ela produz este lament Sve sem efeito: despoja o contribuinte de uma parte de suas riques enriquecer o Estado, "(79) ou seja, Say j4 hevia esquecide o pri: efplo formilado por ele’ mesmo, segundo o quel nfo pode hover ua nyaxamento" no poder de compra criado pela produgdo (e, portento, ndo pode haver ao mesmo tempo wm empobrecimento tento dos contri~ puintes como do Estado, visto.oc reewrsos dos primeixos serem trensferidos para o segundo), Ricerdo, porém, permanece ficl so princfpio, e é por proourar aplicd-lo consistentenente que ele: chege & conclusdo de que os impostos sobre os salérios so na ver= dade impostos sobre os lucros, ‘A conelusao de Ricardo n&o ere agreddvel para os capktalistes. tritar os Se verdadeiva, isto significaria que n&o adi ealdrios, porque seriam eles, os cepitalistas, ane em esses impostos. Sendo falsa, a conclusio era einde mais ircitante, por que podia ser encarada como wus tentativa de dembactrer a iavtili~ dade da tributagdo dos saldrios. De qualquer forma, 8 experiéncia prdtica devia estar mostrando que os impostos sobre os seldérios nao: eLevevam'o prego da forge de trabalho, ©, portanto — mecmo que n&o se pudesse demonstxar teoricamente, cain a mesna forge 16- gica de Ricardo, que sua conciuséo estava errada —, cla foi aban~ donada. © que imperov fol a coneepgiic, j4 mencionada por nés, de que os tributos podem incidir tanto sobre os saidrios como sobre os Jueros, sem que essa ineid@nela sobre un certo tipo de renda afete (29) grenserito por Ricardo, op. cite, pe 245. 42, ' 7 adversamente ou. vantajosemente o outro tipo de renda. Assim, a discusséo sobre os:impostos se deslocou para o problema da equi~ dade da tributagdo. Isto pode ser constatado jd nos Principles of Political B conomy de John Stuart Mill (livro V, cap. 2, relativo aos "Principios Gerais da Tritutagdo"), Em suma, as Flnengas Publicas deveriam ser orientadas por al- guns prinefpios bésicos, entre os quaiis: (1) os gastos governamen- teis deverien linitar-se ao estritamente necess&rio para o funcio~ namento @o aparelho estetal; (2) o problema central da tributagio, para fimenciar esses gastos, era o de encontrar as formas mais justas de impostos, levando-se em conta também a convenitneia de néo restringir, através dos tributos, os recursos disponivei's para investinento, a fim de n&o reduzir ou interromper o processo de expanséo econémica; (3) ndo se colocava o problema de como util: zara tributag&o exatamente para alcangar esse objetivo de expan— sao econémica, porque nao se via a trilmtagSo como forma possfvel de aumentar, em ves de diminuir, o nfvel da produgdo. Sobre este iltimo ponto: se o poder de compre era dado — isto 6, Zixo =, come poderia una simples trensferéncia de.uma parte deste poder de com- pra, dos individuos para o Estado, aumentar a produgie? De fato, a simples. formulacSo desta pergunta era absurda. Ari’tmeticamente ele correspondia ao seguinte problema: como aumentar o valor de un total pelo simples deslocamento de ume parcela deste totel? Ou seja, a pergunta ere absurda porque formlada com base na "lei de Say", segundo e qual. o poder de compre ere fixo, determinado pela produgio. A import4ncia dessas falsas conelusdes sé pode ser devidamento pvaliada quando examinamos o que represente para a Economie (e, mais espeeificamente, pera as Finsngas Piblicas) o abandono de "lei de Say", oS fe. AcumulacSo de Capital ; Jé. vitios que, -segtindo a “lex de Say", a denanda potencial 6 infi- nita, de modo que, por esse lado, nio h& qualquer restrigio ao : crescimento da produgio e do capital, J& mencionamos também que a d@isponibilidade de’ forga de trabalho nao constitui wn obstéculo & acumlagdo, ou porque — segundo Ricardo — a oferta de mio-de- -obra se ajusta & acumulagdo, ou porque — segundo os néo-cléssi- cos > 0 "fator trabalho" é perfeitanente substitufvel pelo "fa- tor capital". Assim, o nico limite & acumulagdo de capital 6 0 volume de recursos dispo: eis para tal fin. 4 esenta na teoria de Ricerdo, VYejemos como esse problema se ap Para comecar, 6 preciso observar que, segundo ele, somente os ce- pitalistas poupam e, portonto, acumlam. Os trabelhaderes gastan todo seu salério em bens essencigis de consumo, enquanto os pro~ prietérios de térra-e a nobroze gastam em bens de luxo quase toda sua renda, a parte restante da renda sendo correspondente a0 con~ sumo de bens essenciais, Assim, toda a acumulacdo de capital 6 efetuada pelos capitdlistas, incluindo-se nesta categoria os cae fe pitalistas industriais (manufacturers) © agnfcolas (farmers) - os quais pagam renda gos proprietériios de tetra (landlords). Portanto, toda a acumulagdo depends do lucro. Esiia afirmagio pode ser desdobrada em duas partes: (1) a acumulagio 6 deterninc~ da pelo volume total do Iucros (2) a aaumulagdo é determinade pela parcela do lucro que & poupaia, mas como este parcela depende do lucro total, temos que a acumlago € uma dungéo do lucro. Ricar— do Gonsiderava os capitalistas como uma eJaase "frugal", qne fics pendia muito pouco em bens de luxo e, portento, procurava poupar © méximo de set 3 lucros € investir toda sua powpenga, "Se consideramos a poupanga uma fungéo do “iuero, a acumulagio de capital também vo é, Ou seje, o tnico limite & acumitagho 6 constitufde pelo lucro. Como vimos so tratarmes da relagdo entre salérios e lucros, estes Ultimos tendem a cair em decorréncia da 44 tenaéncia agcendente dos primeiros. Assim, haveria uma tendéncia histérica do capitalismo a elcangar un estado estacionério, onde a acumulagao de capitel deixaria de existir. Nessa teoria da eeumlagSo, a "lei de Say" 6 utilizada om trés pontos essencisis: (1) a denanda ndo constitui obstéewlo co eres cimento da produg&o, visto ser determinada por esta Witima; (2) og lucros diminuem com o aumento dos selérios, ¥isto ser inalterdével © poder de compra. total, gerado pele produg&o; (3) toda a poupan- ga 6 investide. Os dois primeiros pontos j& foram tratados ante~ riormente; reste-nos dedicar um pouco mais de atengtio ao terceiro. Temos que o investimento ¢ igual & poupangs, Até aqui, nenhuma novidede. Para os economistas cldssicos, no entanto, essa igualda- de era obtida automaticamente. Como vimos antes (secgaéo 2.4 deste capitulo), tanto para Ricardo como para John Stuart Mill um ato de poupanga implicava necessariamente um ato de investimento, ou seja, toda pouvanga era automaticamente investida, Esse concept & justificada hietoricamente por alguns autores, No fim do séoulo XVIII e na primeira metade do século XTX (isto &, na época de Say, Ricardo, Will), eram efetivamente os capitalistas a classe que mais poupava e investia, enquanto o nivel de celdério vigente nio permitia aos trabalhadores o Juxo de poupar e os nobres propric- térios nfo tinham motivo por que poupar; daf, a identificagdo da poupanga com os capitalistas, 41ém disso, ocorriam também dois fa~ tos que devem ser observadoss (1) o capitalicmo encontreva-se om inda em seu pleno desenvolvimento, com a revolug&o industrial apogeu, as oportunidades de investimento eram wuitas enquanto o8 reaursos de poupancga pars ustfruir dessas oportunidudes eram lini- tados; (2) a poupanga.e o investimento eran usuelmente realizados pelos mesmos capitalistas individuais, ou seja, cada capitalista procurava invectir toda sua prépria poupanga, a fim de ev seus negécios. Desses dois fotos teria resultadc natursliente a identificago da poupanga com o investinento, Bm suma, os econo= tmistas cldssicos estariam eproximademente dizendo a yerdede quen- do afirmavam que toda poupanga era automaticamente investids. Mas o que podia ser uma verdade para os economistas Geixou de sé-lo para os néo-cldssicos, e mesmo assim ectes wlti~ mos continuaram afirmando e igualdade entre poupanga e inves*i to. Com o desenvolvimento do capitaliamo, 6 Kpansso dae grences empresas, a ampliagSo do sistema de captagio de recursos por 7 eio ae emprégtimos e emissdes de agdes, e a separagao entre propricté rios e diretores des fizmas, os stos de poupanga c separa dos atos de investimento, os indivfduos que investien j4 nio eram necessariomente os mesmos que poupavem, Necae situa tomave-se diffcil contimuar afirmando que a poupanca eva eutoue~ ticamente investida. Que fizeram os economistas néo-cléssicos? A concep do 6 de Will era insustentével, porém os teéricos néo-cléssices continuerem aferrados & "lei de Say", ao princ{pio da preservaghe @o poder de compra, & idéia de que toda rendu era necessarianents gasta. Se n&o acreditessem nisso, mitas de suas concepedes ruiri am junto.com a “Lei de Say" ©, entre outras colses, teriam de a tir que o capitalismo nfo é este sistema perfeito que assegure 0 pleno emprego dos recursos e 0 desenvolvimento harmoni.oso da eco - nomia. Assim, tiveram eles de buscar outro motivo pare explicar + igualdade entre investimento e poupanga, que néo o simples argu~ mento aa igualdade automftica entre essas duas grandezas. Fara comegar, eles aceitaram'a separagio entre ar decides de investimento e¢ ae de novupenga (e isto, seis divide, foi wm passe adisnte para a compreensio do capi talismo-moderno); passdram a procurar 0 elemento que, no mecanisno de da economia, assegura a igualdade entre o investimento totel e poupanga total, Cada pessoa ou firma pode investix mais ou tiv menos do que poupa, mas na. economia como um todo ¢ inv to & sempre igual & poupanga. Que ass! sara eesu igualiade? 8 ds néo-eldssicos, 6 a taxa de juros, onerando através do mecan mo de mercado, Histo 8, pelo ajuatanento entre a oferta e a deman- da de recursos para investinento. Vejamos mais de perto esse mecanismo. A taxa de juros 6 0 pre- go do dinheiros como qualquer outro prego, a taxa de juros seria determinada pela oferts © demanda, sendo que neste caso a povpan- ga corresponde & oferta ¢ o investimento § demande por dinheiro. Para facilitar o racioofnio, suponhemos cue inicielmente o volume total de investimento (demanda por dinheiro para investir) seja igual eo volume total de poupanga (oferta de Cinheixvo}. Agora va~ mos imeginar que por um motivo qualquer (as pessoas e firmas re~ solvem poupar mais ou investir menos do que entes) a povpenca se tore maior do que o investimento. Que acontece entao? Poupando mais, as pessoas dispoem de maiores recursos para emprestarem a outras; nume palavra, dispdem de maiores “fundes de empréstimo" loanable funds em relagéo & procura por esses fundos, Esto é OBBE DLE SERSS) 1 P ’ ’ Is: - Isso provoce~ em relagéo & demenda por recursos para investiment rvd& ume queda da taxa de juros. Esta 6 0 prego reeebido pelas pes nte, € 6 prego page soas que‘emprestam dinheiro c, inversam pessoas que tomam dinheiro. emprestade. Assi, a queda da juros provocard, de um lado, a redugio da poupanga e, de outro, o aumento do investimento, até que estas duas. grandevas se encontrem novemente em equiliprio, Bm resumo, uma queda da texa de juros desestimula a poupanga e estimula o investimento, enguanto uma subide dessa texa provoca efeitos inversos., Pox sua voz, a taxa de. juros é ume, fungdo do investimento e uma tungZo inversa da poupanga —isto $, sobe quando aumenta o investimento (sendo dado o nivel de poupanca) ov quando diminui a poupanga (sendo dade o nfvel de investimente). Como vemos, este coneepgso esté inmtetramonte &e acorde co: dos pregos da Economia néo-cldssica; o que & um motivo fu Economia. para explicar sua incorporecio por es * Talvez seje conveniente ressaltar que nem todos og aupréstinos sGo ‘réalizados para fins de investimento, uma parte deles sendo usada para consunc, mas isto nfo altera o problema. Suponlanos que uma parcela da populagdo poupa um determinado volume de re- cursos, 0 qual se tofna entio disponfvel para empréstinos; a res~ tente parcela da populag&o usa uma parte desses recursos para con~ sumir e a outra parte pare investi, Obviamente a perte consumida, embtora tenha sido poupade pelo primeiro grupo, na economia como un todo n&o constitui poupanga mas sim consumo: um consumo que a pri- neirapareela da poprlagio transferiu pare a segunda parcele vés de empréstinio, Portanto, comente’ a parte investita de povyen— ga do primeiro grupo de pessoas constitui efetivamente poupenga na economia em seu conjunto, 0 mecunisiio aa taxa de ju a funeionar, Se num dado momente o volume de recursos tomado em~ prestado seja para consumitr como para investir ee eleva em relagho a0 que as pessoas Uesejam poupar, isto aumenta a taxa de juros, o que, por sua véz, provoca um acréscimo de poupanca (dos fundog pa~ ra empréstimos) e uma diminuigéo de tomada de empréstimos tanto para consumo como para investimento, Testo equivale a dizer que ocorre em geral un jeumento da poupanga e uma redugdo do investi-+ ! mento, até que estas duas grandezes voltvem a encobrer-se em equi~ 1fbrio. Estamos falando aqui de wm mmdo monet4rio, onde poupenga e in~ vestimento aparecem como oferta e demanda de dinheire. Gue aconte~ ce, porém, no.mmio da produgaéo de mereadories @ servigos? mento.de poupanga ‘corresponde a uma dininuigSo da procura de bena e sekvigos de consumo, provocando wad baixa de seus pregos, e de uma quede da taxa de lucro nos setores produtores desses vens e servigos, Assim, os capitais se deslocam Gesséy sevores para os setores prodwtores de bens de investimento, aumentando a destes, Portonto, um acréscimo da poupanga e um de: sumo correspondem, no mundo de produgdo, resbectivamente a uma 48 ‘Qiminuig&o de bens e servicos de consumo e a un aumento ae tens de investimento, Quando 08 capitais se deslocam dos setores de bens de consumo para os setores de bens de investimento, isto se justifica, segundo a teoria néo-cléssiea, pelo fato de a poupange ser um consumo diferido, postergado, no tempo ~ de modo que wna poupanga (um néo-consumo) maior hoje significa um consumo maior depois. Portanto, 0 maior investimento hoje 6 necess&rio para pro- duzir maior volume de bens ae consumo depois. Apesar G0 raciocinio cheio de zigue-sagues de Alfred Marshall, esta concepgdo de poupenca ¢ investimento regulados pele taxa de jvros pode ser detecteda em seus Principles of Economics (ver es~ Pecialmente livro IV, cap. 7, © livro VI, eap. 1, §8, e cep. 2, $3: 4). B daft em diante esta concepgiio se difundiu entre os eco- nomistas ortodoxos, embora néo apenas Marshall tenha contri tufao para isto, (30) (30) Ver Keynes, the General Pheory, cite, cap. 14. 2 : . ACUVULAGKO DE CAPITAL E REALTZACKO DA HATS“VAETA = 8 NOTA: Os trechos de autoria de Marx citados no presente trabalho Langue foram extraidos des Gapital, volumes I, IZ e IZ (Fores ges Publishing House, Foscou, s.d,) € Mig Critica de la Teorfa de la Plusvalfa, vol. II (E@iciones Brunario, Buenos Aires, 1974), daqui por diante referida como Deor: ge Mais- Valia . Para facilitar a localizag&o dos: trechos nestes obras, mencionanos n&o apenas a pégina, mas também o capftulo c, quando existe, a segZo do capftulo en que se encontr: 0 vol. I do tal da edicho aqui utilizada tem una nuneragSo de capttmlos diferente da de outras edicdes: o que nestas fltimas constitui O capitulo 4, dividido em trés segdes, passa a ser os capftulos 4, 5.e 6 da edig&o usada por nés (tambén-na Ultima parte do vol. I hd aiferenga de numerago dos cepftulos), } 1. © CIRCUITO DO CAPITAL DIRHEIRO Vamog produrar mostrar, de modo muito sumério, a teoPia da seu mulagdo de Varx, apresentando seus a pectos principais, Para isto comegaremos pelo problema @a reproducdo e acumlagao do capital individual, passando depois pare o problema do capital social. Suponhamos um certo capitalista ne est de. produgho — por exenplo, na indistria — que detenha um dado mon tante D de dint 0. Com este dinheiro o capitaliste ‘compra mercadomias no honten= te My as quais entram no processo a+ produg@o de novae nereadorias. Finalmente, estas novas mereadorias sfo vendides e o capitalicta obtém um montante Dt de dinheivo, sendo B' meior-do que D. Bete eireuite € representedo pela férmula BeM>D', seondoD =e mca. Todo o “segrodo" deste cireuito esté no x }0 como © capi ta consegue transforr ar um dedo montante de dinheiro (D) nm son tante ainda maior (D'), N&o é porque o capitalista compra as -2- 50 mereadorias (M) nor um prego main baixo e as vende por um prego ‘mais alto, 0 "segredo" se explica pelo processo do produg%o en pitelista, . 9 -* Com seu dinheiro o capitalista compra diferentes tipos de mer cadorias, as quais podem ser englobadas em dues: tnicas cateporias: bens de produg&o e forga de trabalho, que constituem, respectiva- mente, o capital constante e o capital varifvel do eapitelicte. Assim, se representurmos por € 0 capital constente e por¥ o cepi~ tal varigvel, tem D=eMso+¥ ‘Combinando estes dois capiteis (C+ ¥), on capitalistas ertam novas mercadorias, as quais siio vendidas pelo prego D'. Sabenos que D'>D; se representanos por P a diferenga entre D' e D, tonos: Dt (@+V) = BP, ou seja Dt = E+rV+P. BP éo mais-valia ou lucro do capitelista. Portanto, o circulto D>M>D' gera un lucro para o capitalista, De ogde provém este lucro? 0 lucro provém do trabalho nao pago efetucdo pelos trabalhadores. Ao vender suse mercadorias por B', uma parte do Uinheiro arrecadado pelo capitalista serve para repor o dinheiro gasto na aquisigao de bene de produgdo (C) e outra parte serve para pagar os salfrios dos trabalhadores (Vv). ov do tratalho reelizedo pelos Acontece, entretanto, que o v trebalhadores néo 6 igual ao montanté de soldrios (¥) que eles receberam, isto 6, nZo corresponde apenas ao custo da forge ae trabalho, Embora, para o capitalista, a mereadoria forga de tre belho custe apenas V (isto 6, seja igual ao nontante de seldrios), © “alor do trabalho incorporedo, ou seja, o valor do.trabelho de eriagio’ das novas mercadorias, 6 de U+P. Mes o capitalista nao pega sos trabalhatores o valor de todo seu tratatho (YD); ele pags apenas uma-perte (¥) deste velor e retém para si a outre. Aya?a u tratda dos trabalho parte (BP), que 6 seu lucro, a moi dores, A relag%o entre o montante de mais-velic (ou lucro Reo nontante de salérios (ou capital varidvel ¥) € a 4 Be a A relagio entre o montante de mais-valia (ou luero BE) © © capital total (C+ ¥) empregado na produgio é 4 te ducro: E/(2 + VW). A relagdo entre o capital constente (fC) eo capital verifvel (¥) & denominada de composig&o orgfnica pital: O/V. No circuito D-+M-+D', o capital dinheiro (2D) se transfor: do cae on capital mercatovia (M, composto @e bens de produgiio e de forga de trabalho, que, no capitelismo, também 6 mercadoria) e, finel- nente, volta a converter-se em capital dinheiro (B'). Neste cir euito o que torna D' moior do que D é 0 processo de transfor gio de M, isto 6, do capital mercadoria, Porque, note-se, as mercadorias compradas eom 0 capital dinkeiro D nao sfo as meszac mercadorias vendidas pelo valor D'. Assim, pare expresser heis corretamente 0 civeutto do capital, seria melhor enpreger a férmla D+ M+ M! »D!, onde M representa os melos de produgao a forga de trabalho edquiridos pelo capitalista, eM represen ta as mercadorias produzidas com estes meios’ de produgio e esta forcga de trabalho. 2. REPRODUGKO SIMPLES E AMPLIADA DO CAPITAL © processo de produgSo — seja socialmente ou seja para cada cepi- taliota om particular — nfo se encerra quando o capital conclui um determinado circuito, isto 6, a0 passar de D pare D'. & pro- dugdo 6 un processo continuo, en eonstante renovagio, onde o ca~ pitel, a0 completar um dado circuito, inicia o cirevito seguinte, este processo de constante reprodugdo, © volume de capitel pode crescer, como. também pode no se alterar ou até mesmo pode dininuir, © processo de reprodugio simples se a¢ quando o montente de capital n&o-se altere ao passar de um cirevito para o cireuite ou oe circuitos seguintes. Jé vimes que, ao iniciar um civenito 2+My e, e0 terminar o cireuito, wt = DB + M+R; © luero B é a diferenga entre B' eB; ou seja, no fim do cirenite me 32 9 capitalista ndo apenas recupera o capital D aplicado na produ- g&o como também eufere um lucro, Se, no circuito seguinte, o cia" pitalista volta a aplicar apenas o capital D, temos entio un pro- cesso de reprodvgio simples, Neste caso, que faz o capitalista como lucro? Isto n&o inte- resca. Ble pode usar o lucro para comprar veng de consumo coro pode guardé-1lo @ebaixo do colchao. 0 importante a assinalar aqui & 0 fato de que, no processo de reprodugZo simples, o montante de capital permanece inalterado, lo processo Je -reprodug&o ampliada, o montante de capital eresce. Para isto o capitalista ineorpora a seu cepital uma parte de seu lucro, Ao finder um determinado cirevito, o capitalicta obtém de volta o capital D aplicado na produgfo bem como eufere wn lucro P; se, a0 iniciar o circuito seguinte, o copiteliste wtiliza uma parte de seu lucro para aumentar sou cepital, isto significa que a reprodugdo se amplia. % também possfvel haver um processo de reproducdo decrescente, caso-em que o volume ge capi'tel diminvi ao se passar de um cir evito para outro, Esta é, todavia, ume situagZo excepeional, como excepcional € até mesmo o processo de reprodugZo simples Isto porque, segundo Marx, a reprodugéo ampliada do capital é wna ‘ceracterfstioa fundamental do capitaliamo: i 0 desenvolvimento éa produgao eapitalista torma constantemente montante de capital aplicado numa dada necessdrio eumenter 0 empresa, e a concorréncia impde a cada capitalista individuel as leis imanentes de produgSo capitalista como. léis eocreiti- vas externas. A concorréneia o compele a ariplier constentoon- te. sou capitel, @ fim de préeservé-lo, mas ele, ndo pode. amplid- -lo a néo ser por meio da acwmlacgfo progressiva. /Cep vol. I, parte VII, cap. 24, seg@o 3, p. 592.7 Ou seja, cada capitalista se vé obrigado a acumuler capttel, expandir sua produgZo, para fazer face & eoncorréncia de outros capitalistas; assim nfo fazendo, ele tenderé a ser expulso do mercado, Portanto, em decorréncia das préprias leis do capite- lismo (no caso, a competig&o entre as empresas), & acumlecto de Se 53 capital se apresenta n&e como uma opgiio, mas como ume necessides ae para cada capitalista. Neste sontido, o-processo de veprodue.. go ampliada do capital se torna o processo normal, caracterls~ tico, do sistema capitalista, (Seta concepgao da necessidade de acumulagdo constitui um probléma que serd diseutido depois.) 3. CONDIQUSS MATERIATS DA REPRoDUGXO Aos capitalistas no interessa que tipo de bem deve cer produ- zido, isto é, ndo interessa o valor de uso do produte. A produ- 80 capitalista & essencialmente « produgiio de mercedorias, a: de valor ae Aroea, e o interesce de cada capitalista estd na mais-valia (luero) que ele pode obter com esta produgio. Fortan+ to, "o processo capitalista de producio consiste essencialmente da produgdo de mais-velia". Apesar disto, existom momentos da anélise do processo capl~ talista de produgéo em que n&o se pode deixar de levar em conta © valor de uso das mereadorias, Isto é 0 que acontece, por exen- plo, na anélise do processo de reprodugéio do capital: embora esta reprodugio se d@ em termos de valor de troce (ou valor sim plesmente), ela requer, pera se efctivar, certas eondigdes espe~ cfficas, onde se incluem as caractorfsticas materiais e o valor devuso das mercadorias envolvidas no processo. i Consideremos, para comegar, o processd de reprodugao simples Un capitelista qualquer, situsdo num certo ramo de atividade, trensforma seu dinheiro em meresdorias que se compSem de meios de produgfo © de forga de trabctho; a partir éafy novas mereado- Mas, so produsidas, as quais stio vendidas e d&o Ao capi talicta wm novo montente de @inhelro (B'), igual do nontante inieial (D) mais uma parcela (E) correspondente eo lucro. Ou seje, no fim éo cirewito o cepitalista obtém um valor D! igusle G+V +P, en que £ ¢ V correspordem @ seus gastos eon meior de produgdo (ec tal constante) e selfrios (capital verigvel), reapee tivancnte, ~6- 54 Suponhanos que o capitalista pretenda aplicar todo sev lucro ' na compra de.bens de consumo e, eom o dinheiro restante (igual 2@+V), reiniciar un novo circuito de produgSo, Fara que isto seja possivel, & preciso que o valor de uso das mercadorios dis« pontveis no mereado seja compatfvel com o emprego que o capita~ Lista pretende dar a clas. Pera que o capitelista possa consumir seu luero, é necessério haver no mercado bens de consumo (isto &, mereadorias cujo velor de uso se caracteriza como de consumo); para que o capitalista reinicie sua produgao, 6 preciso haver neios, de produgéo especfficos. de seu ramo de atividade esrim como forge de trabalho epropriade, Se, por exemplo, o capttalista ove~ va no rato sidertrgico, para continuer produsindo elé prec ‘por de equipamentos adequados, carvio, minérios de ferro, n@o-Ge-obra especializeda em siderurgia, ete. Im owna, ao trans- formar seu capital dinhelro (D) em capitel mercadorie (M), esta mereadoria tem de ter um valor de uso apropfiade ac ramo de ati- Vidade do capitalista, Para simplificar, vamos agrupar todas es mereadorias em apenas quatro categorias,. de acordo com seu valor de usot. bens de inves- timento (on de capital fixo), bens internediérios (ou insumos), bens de consuno dos capitalistas, @ bens.de consumo dos travalha— dores, As,duas primeiras categorias podem ser englobadas: numa categoria mais geral — de meiios de produgio — e as duas Witimas numa outra categoria mais geral — de bens de consumo. tn capitalista qualquer, a0 vender sues mereadorias, obtém ua nontente 2! Ge Ainheiro, montante ete que 6 igual & sora G+ V+ +P. Pera consumir todo seu lucro e reiniciar o processo de pro- auch, o capitalists precisa encontrar no mereato: (1) dens de consumo no valor de PB; (2) meios de produg&o np valor ge G, neces~ edrios para repor 0 capital constante & desgastado no cireuito anterior; (3) forga de trabalho no valor de V, iste é, wi mermo niimero de trabalnadores receiendo um montente de eelérios no valor Ge Y. Agora, para que esta Wltima condigho seja preenchida, é “1 55 preciso também que o mercado disponha de bens de conewmo para os trabalhodores, também no valor de VY, para suprir as neceseiilades de consumo destes trebelhadores. Hm suma, para que o processo de reprodugio simples posea ter prosseguimento, sem desequil{prios, € preciso que o valor de uso das mereadorias disponfveis seja correspondente & utilizagio destas mercadorias no processo de reprodug&o, em quantidades compatfveis com o mesmo, A situagao se torna mais complicada no processo de reprodugiio ampliada, Neste processo, uma parcela do lucro é utilizada para aunentar o yolune de capital — tanto ao capitel constante como do capitel varidvel, Isto significa que a economia precise pro- duzir un erescente montante de meios de produg&o e de bens de consumo dos trabelhadores para permitir o acréeciime go cepital constante e do capital verfével, respectivamente. Suponhanos, por un momento, que a oferta de melos de produg%o nfo eresca; neste caso, de nada adianta os capi'talistas pretenderen ampliar seu capital; eles podem dispor de dinheiro para isto, mas n&o haveré meios de produgio suficientes para que este dinheiro seje convertido em capital constante ad@icional. Ou seja, falta af ea condigio material para a reproduce ampliada, para @ acumulagfo ée capital. : Pare wn capitelista individual o problema das condigdes mete- riais da ecumlag&o dificilmente se epresenta, porque a denanda deste capitalista por novos meios de produgdo e por maior volume de fovea de trabalho constitui, em geral, uma pequena frag&o da demande total, Na-econonia em seu conjunto, peta os capittalistas como um tod, 0 problema dae condigdes teriais da acumilegao é de fundamental importancia. Vamos examiner este problema mais minuciosamente. Trataremos, em primeiro lugar, da oferta e demanda de forcga de trabalho, e, em segundo luger, da composigho material da produgiio, +4, OFERTA E DEMANBA DE FORGA DE TRABALHO - 8. Exéreito Industtial de Reserva A reprodug&o ampliada — a acunulagao de capital — requer un maior emprego de forga de trabalho: erescen tanto o capital constente como o capital variével. 0 acréscimo de forga ae tre- balho pode ser obtido de dois modos: pela exploregiio mais intensa dos trabalhadores j& empregados (aumento da jorneda de trabalho, do ritmo de trabalho, ete.) ou pela ampliagio do niimero ae trax valhedores, isto 6, pela ampliacgdo do éxército industriel etive. Peralelamente ao volume de forge de trabalho empregada em ati-- vidades produtivas, 0 cletena capitelista mantém um exéreito in- Gustrial de reserva — um volume de mo-de-obra eesempregada — a0 quel os capitelistas recorrem nos momentos de intensa aeumu- lagio de capital, quando cresce consideravelmente a demanda por forga de trabalho. Esta regerva de forga de trabalho constitui uma superpopula- eho relativa, isto , n&o wn excedente absoluto de populacio, resultante de leis déemogréfiecas auténomas — como pretendia Malthus © sous scguidores -, was un-excedente de. populagio rele- cionado &s necessidades do cepital ¢ criado pelo préprio proces— so de acumulacSo de capital: # a prépria ecumulac&o capitalista que. produr constantenente cla e amplite de — uma reletivamente excersiva populagdo de trabalhadores, — e produz em resao direta de sua prévria ener isto 8, wna popwlagfo maior do que o necessério pare ac exi- Géncias médias da auto-expans&o'de capital, e,'portento, une populag&o excedente. /Gapital, vol. t parte VII, cap. 25, Be 630.7 : K eriagao © perpetuagio desta superpopulegio relativa no cis= tema capitelicta se deve a diferentes: mobivos. Frimeiro, col o processo de acunulag de capital, em que este teide a ce con centrar © centralizar cada vez meis, wa grande massa de peque- nos proprictérios — seja em atividades rerais ou urbanas — & desapropriada de seus meios de produgdo e langada no exéreito ~9- 57 (de trabalhadores asseleriados. Segundo, a acumlagao de cepitel, a0 longo ‘do tempo, 6 acompanhata por wna crescente composigao orgénica do capital, de modo que o montante de capital consten- te requer um volume cada vez menor de capital varidvel, isto é, ae forga de trabalho, Terceiro, o préprio sistema de saldrio atua no sentido de criar e preservar um excedente de trabelha~ -Gores, Vejamos com mais vagar estes dois Ultimos pontos, come- gando pelos saldrios, vb. Selérios © saldrio — que & 0 prego aa mercadoria forga de trabalho — 6 Geterminedo, como no caso de qualquer outra mereadoria, pelo tempo de trabalho necess&rio para a produgo e reprodugiio da forga de trabatho, Como a manuteng&o da forga de trabalho & efetuada através do consumo, pelo trabalhedor, de meios de sut- sisténcia, ent&o © tempo de trabalho requerido para a produgio da forca de trabalho s¢ reduz so tempo necessério para a produgéo destes meios de subsisténcia; em outras palavras, 0 valor da fores ae trabalho é 0 valor dos melos de subsisténcia neceseérios para a manutengao do trabalhador. /Gapital, vol. I, parte II, cap. 6, p. 171.7 Mas néio se trata apenas do trabalhador j& exigtente, j4 em atividade como trabalhador, 0 capitalismo precisa assegurar—se da. oferta constante de forga de trabalho no mercado; as im, 0 salfrio pago aos trabelhadores deve cobrir n&o somente o custo de manutengio destes mesmos trabalhadores, mos. tambén o custo de sia reproducdo. . A forga de trabalho retirada do mercado por causa de de e morte deve. ser continuamente substitufda por, no mfnimo, am igual montante de nova forea de trabalho. Daf, a soma de geste meios de subsisténcia necesstrios pera a produgio de forga de trabalho tem de ineluir os os neccesfrios para os subs- titutos do tratalhador, isto 6, seus filhos, a de que esti vaca peculiar de proprietérios de mereadoria possa verve seu aparecimento no mercado, /Idem, p. 172.7 ~lo- 58 Nos momentos em que a acumulag&o @e capital se torne intense €, consequentemente, hd uma grande demanda por forga de trabalho, a taxa de saldrio (o saldrio por trabalhador empregado) tende a ser maior do quo o nfvel de subsisténcias om outras palavras, o preco da forca de trabalho se torna maior do que seu valor. Nos momentos em que a acumulagSo se reduz ou estanca, eresce o exér— cito industrial de reserva, e a taxa de saldrio tende a ser me- nor do ‘que o nivel de subsisténeia, De qualquer modo, é este nivel de subsisténcia (0 valor dos meios necessdrios & produgéo e reprodugdo da forca de trabalho) que determina, em nédia, a texa de saldrio, B esta taxa de saldrio reflete, po outro lado, sa necescidade uma exigéneia éo sistema capitelista de product de preservar um mercado de trabalho abundante, que nfo oponha limites A acumlacéo de capital. ©. Composicho Organica do Capital A composigdo orgériica do capital expressa a relacdo entre o ca~ pital constante (C) e o capital veridvel (V): C/V. Como o capi- tal varidvel, em ternos quentitativos, corresponde a0 montante ge saldrios pagos aos trabalhadores, ent&o a composic20 orgénica do capital expressa também a relagSo ‘entre o cepital constante e a force de trabalho empregede, ou ainda, em termas’ materiais, o volume de meios de produgdo utilizados por cada trabelhador. A composicio organica cresce com a acumulag%o de capital ao longo do tempo. Kas n@o se trata de um’simples aunento de capi- taliconstante por trabelhador empregado, como se, por exemplo, Asse @ operer duas rifguinas em vez de uma. eada’ trabalhador. pa: Trata-se, na verdade, de uma alteragSo nas técnicas de producto, onde o volume de capitel constente por trebalhator se torna cada vez maior. Ou seja, a forga de trabalho & crescentemente oube tufda por méquinas; e como isto provoca wna velocidede maior no processo técnico de trabalho (ou, em outros termos, eleva e pro- dutividade do trabalho), ent&o aumenta também o montante de insu~ -l1- 59 mos processados por cada trabalhador; portento, ampliiam-se tanto a parte fixa.como a parte circulante do capital constante. ° erescinento da composig&o orgénice do capital, associado ao progresso téenico, resulta em parte da concorréneia entre os ce~ pitelistas, cada qual estando interessado em inovar os métodos de produgao de sua empresa no sentido de reduzir custos e elevar _sua taxa de lucro, Mas o que efetivamente explica o fato de o progresso técnico no processo de produg%o se traduzir no eresci~ mento da composic&o organica do capital — e nado em seu decrésci- no — 6 a competigao entre o capital e a forga de trabalho, entre os capitalistas e os trabalhadores. 0 crescimento da composigao orgénica ‘permite que a acumilagSo"de capital se processe, mesro intensemente, sem exercer ume forte pressio eltista sobre a de~ manda por forga de trabalho e, daf, sobre as texas de saldrio. Assim, 0 crescimento da composig&o organica leva também & amplia~ go do exéreito industrial de reserva, ao aumento de superpopu- lagio relativa, En resumo, 0 sistema capitalista aispSe de mecanismos préprios que lhe permitem manter uma forga de trabalho potencial suficien- temente grande para n&o criar obstdculos' ao processo de reprodu- gdo ampliads, de acumilagao de capital. 5. CONPOSIGKO MATERIAL DA PRODUGKO Ainda com relag&o As condigées materiais da acumvlag3o, cabe examiner o problema do suprimento de meios de produgdo © de bens de consumo para os tratalhadores a fim de efetivar a ampliagao do eppital constante © do capital veridvel. Para este exame, vamos recorrer aos esquemas de reprodugdo (ver Capital, vol. II, parte III, cap, 20 para a reproducdo simples e tap. 21 para a reprodugio ampliada). wl2- 60 ®. Esquema de Reprodugdo Simples Embora n&o haja acumulagdo de capital no esquema de reprodugiio simples, este esquema & de mais ffeil entendimento e por isto é conveniente comegar por ele. Vamos dividir a economia em dois setores ou departamentos, © Departamento I produz meios de producgio (bens de capital fixo e bens intermedidrios); o Departamento II produz bens de consumo tento para os trabalhadores como para os capitalistas (a produ- g&o de bens de consumo para os trabalhadores e de bens de consuno para os cepitalistas poderia ser separada em dois departamentos, como o fizeram algms autores depoie de Merx, mas ieto 6 dispen- sével para ‘nossos propésitos aqui). Supomos também uma economia fechada (isto é, sem relagdes econémicas com o mundo exterior) e sem atividades governamentais (isto &, sem receitas e despeses governementais). A produgdo dos dois departamentos é computada em valores brutos. (isto 6, antes de deduzir a depreciagio do ca- pital fixo). Rare simplificar a andlise, adotamos a hipétese de que o capital fixo se deprecia inteiremente num tinico circui‘to (d@igamos, num ano) de produgao. Representemos por ¥ o valor de produge, por @ 0 capital cons- tente, por Vo capital varidvel, por S$ a’mais-valia, e usemos os subscritos 1 e 2 para nos referirmos Aquelas grandezas noe Depar- tementos Ie II, respectivamente., O valor da proéugSo nesses departamentos corresponde & soma de capital constante (ou mais exatamente, @ depreciag&o do capital constante), capital varié- vel. 9 mais-v: Up = Sp +¥p + S “Como o Dep. I produz todos os meios de produgéo, tanto para si mesmo como para o Dep. II, isto significa que o valor de sua produgéo é também igual ao capital constante dos dois departa- mentoss -13- 62 Hr +k. Gomparendo as duas equagdes de Wy, tence Herat h += 4 +o e, portanto: Y + 8) = Sp. Vamos agora supor que os caphtalistas e os trabalhadores nao poupam, isto 6, eles gastam toda sua renda na compra de bens de consumo: os capitalistas gastam toda a mais-valia e os trabalha- dores gastam todo o capital varidvel (salfrio) recebido dos ca- pitalistas. Como é 0 Dep, II que produz todos os bens de consu- mo, isto significa que o velor de sus produgiio & igual & soma de mais-valia e capitel varid¥el nos dois departementos: Ho = My + 8 + ¥y + Sy Comparando as duas equagdes de Wy: Bo = So ++ So=-W +8 +Yy +8, e, portanto: % = +8) que € a mesma igualdade encontrada a partir das equagdes de W A equagéio fo = Vy +S) & & equagiio bdsica de equilfbrio do es quema de“reprodugio simples. Bla expressa a relagio entre a vro- aucSo dos dois departementos. ; 0 Dep. I produz dens de producto. no valor de Wy. Uma parte é retida no préprio Dep, I para a constituigio de seu capital cons tantet ). A parte restante, no valor de V, + $,, & vendida ao Dep. II para formar seu capital constente Gos logo, Vy +S) = Go. Agora, como & gue 0 Dep, II pega ao Dep, I pele compra de seus ineios: ae produgio? D Dep. II produsz bens de consumo ho valor de. Ny. Une parte & consumide no préprio Dep, II pelos ‘trabalhado- res'(V) e pelos capitalistas ($,), A perte restante, no valor de Lor & vendida ao Dep, I, isto é, para os trabalhadores () e capitalistas (S,) deste departariento; logo, novanente tenos: Gp = ¥, + 8). Em resumo, os meios de producSo (no valor de 25) ao Dep. II cio adquiridos do Dep, I em troca de bens de consuro

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