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Duas palavras divickem entre sio campo destinado ao trabalho do ator: taininge treinamento. Coexistentes ros textos e nos discursos, nos escritos daqueles que fazem um trabalho pratico e nos dos pesquisadores, ambos os termos parecem ser empregados indistintamente para designar uma mesma e Unica realidade: a do trabalho efetuado pelo ator para ‘aperfeicoar a sua arte antes de entrar em cena. Tal impressao, no enttanto, ¢ tuséria. A palavra traningparece prestes a predorrinar em certas esferas, pelomenos na Franga. Longe de ser apenas um efeito de mocia, © gosto por um “angicismo" faci, essa mudanca lexica Tevela certas transformacdes profundes que hé cerca ‘de trinta anos afetam o campo do treinamento do ator A evolucéo das palavras Atestada em 1440, a palavia inglesa training significa orginalmente “poe, artastar”. Provém do antigo francés trainer es em 1542 adauire o sentido de “sumeter auma aprendizagem, insti, educer, einar Designa entio “a systematic instruction and exercise in ‘some art, profession, or occupation with a view {0 proficiency in t” . Uilizada indiferentemente no campo attistico, esportivo ournitay, ou ainda pare otreinamento de animais, evoca ‘the process of developing the boally vigour and endurance by systematic exercise, SO a5 10 fit for some athletic feat”. Desde 0 seu aparecimento, esté, portanto, intimamente vinculada & nocdo de exercicio e de aperteigoamento ‘Ausente dos dicionéios franceses até os anos 80 do século XX, essa palavra inglesa irrompe subitamente neles, parece que sob a influéncia do esporte e dos estucios em psicologia e em psicandise training autégeno", “training group"). Designa entio um ‘treinamento por meio de exercicios repetidos’, ou ainda “um método psicoterapeutico de relaxamento por Tradugdo e Notas de José Ronaldo Faleiro* auto-sugestio”. Os dicionérios nBo relevam o emprego do termo no meio teatral. Insistem nas nogdes de exercicio e de repeticio metédicos. Os pesauisedores repertoriam ento 0 seu uso anterior. ‘Assim, descobrimos que em 1854, em seu into Guide du sportsman ou Traité de Ientrainement et des courses des chevaux [Guia do esportista ou Tratado do treinamento e des corrides de cavalos], E. Gayot esigna pela palavra traning um “treinamento para uma atividade fisica". Em 1895, Paul Bourget anota em seu livio Outre-Mer [Uttremar): “quase todas {as alunas] se dedicam regularmente 40s exercicios fisicos compreendidos & maneira americana, quer dizer como um training, um treinamento matemitico ¢ racional”. Essa referéncia 40 modelo americano € interessante, pois vincula a palavra a0 esporte (gindstica), cuje utlizagao se espaha do outro lado do Atintico. Em 1872, em ‘suas Notes sur I’Angleterre [Notas sobre a Inglaterra], Taine evoca 0 “training da atencdo". © uso da palavra se espalha tanto, e téo bem, que em 1976 um decreto de 19 de agosto recomends o emprego do termo treinamentoemvez de training no sentido de “ago de aperfeigoamento e de manutengdo do condicionamento, dentro de deterrrinado campo” ‘Apesar dessas medidas, 0 uso da palavra traning ents, no entanto, para 05 sos € costumes, € parece, portanto, valer como sinénimo da palavra treinamento*, que continua 8 ser preponderante nos textos. Do treinamento ao training No mundo de fala inglesa, quando ¢ aplicads 20 teatro, a palawra taining utiizada sistematicamente pare esignar todos os aspectos da formagao do ator. ASSI™, expressa indiferentemente © ensino ministrado nas escolas de formaco, mas também 0s exercicios préticos a que podem se i | entregar 0s atores antes de uma produto, assim como 6 treinamento efetuado por atores con vontade de aprimarar a sua arte sem que o trabalho deles vise @ uma produco espectfica, Essa auséncia de cistingo entre trés finalidades diferentes do treinamento (@ formacéo, a produgéo € 0 desenvolvimento da arte do ator) 0 converte num termo quase genérico no mundo de fala inglesa. Abarca todas as formas de exercicios, técnicas, métados utiizados pelo ator que se esforce por aquiir as bases profissionais do seu oficio. Na Franca, o emprego da palava traning, apicada 20 teatro, apareceu recentemente®. Remonta, no maximo, & metade dos anos itenta do século XX Utiizada predominantemente na linguagem ora, aparece bastante tardiamente nos textos. Os livros so de Grotowski (1971, 1974), assim como 0s primeiros ivtos de Barba (1982), por exemplo, no fazem nenhuma mengao a ela, € preferem a palawra treinamento.O mesmo ocorte com as obras de Brook (1991, 1999), Vitez (1991, 1993), Yoshi Oids (1999), Todos falam em teinamento, e néo em training, De 1982 a 1985, no entanto, comeca uma mudanga, que é possivel retragar por meio dos varios Ivros de Barba. Na verdade, L“Archipel alu théétre {0 Arquipéiago do testrol, publicado em 1982, emprega a palavra treinamento pare designar © trabalho do ator Lemos ai que “o treinamento no ensina a representar, a ser abi, no prepara pare a criacd Tal uso esté confirmado no capitulo seguinte inteiro, intitulado "Questées sobre o treinamento”. Em 1985, porém, com L “Anatomie de Iacteur [A anatorria do ator, a8 coisas mucaram. A palavia treinamento cedeu lugar pare training, 20 mesmo tempo em que continuave ‘a designar o mesmo trabalho do ator. Os textos de R Schechner ('O tiaining numa perspectiva intercultural), de Nicola Savarese ("Training e ponto de partida’), ¢ do proprio Eugenio Barba (Training: de “eprender” a “aprender a aprender"), referem-se explicitamente & ppalavra para evocar 0 trabalho de prepara do ator Esse uso se tomna sistemtico no itimo lvro de Barb” prove de que @ palavta training entrou definitivamente. bdiaei "“Thata-ce simplecniente de um desligamento evico em beneficto de uma palaura cuja consonéncia inglesa de voicula junto com ele unio imagem mais viva ¢ mais dindmica do trababho do ator?” para 0s usos € Costumes, suplantando as vezes completamente a palavra treinamento em certos ‘escritos" Esse evolugio de um uso tipicemente francés, ¢ ainda mais senstvelna medida em que o pxéprio Barba Tris crticas 74 retomadas ainda hoje, por propria conta, por muitos encenadores"* % salientam que, desde 0 inicio do século, impde-se para 0 ator a necessidade de aprender o seu oficio a partir de novas bases pedagdsicas. De Stanislavski a Grotowski, passando por Meyerhold, Vakhtangoy, Taitov, por um lado, mas tamibém por Jaques-Dalcroze, Appia, Craig, Tost YE es leyNm CARLOS MAGNO “HAMLETMACHINE” ANKet te) (ro ano © TEATE® Reinharct, Copeau, Dulin, Jouvet, Decroux, Lecoa, uma ‘nova pedagogia se instaa,vsanclo no somente a uma prepare; fisica dos atores % que se revelanecessiia a partir do momento em que © corpo foi posto no centro da cena % mas, mais ainda, visando a “uma educagéo completa que —desenvolveria harmoniosamente 0 seu corpo, 0 seu espitto € 0 seu caréter de homens" Se muitas vezes a finaiciade do teinamento é cexpressa em termos idénticos pelos viros reformadores % permit que © ator se encontre em estado de Criatividade em cena %, as modalidades desse treinamento, as formas que deve revestr (exerccios, técnices, métodos), preconizadas por uns e por outros, cferem, E interessante notar, por exemiplo, que Copeau fala mais em trabalho do ator, em treinamento fsico, em ginéstca, tudo isso baseado em exercicios que cram uma discipina do corpo". Dulin evoce a necessidade de aperfeigoamento do ator fundamentado numa técnica ¢ em exercicios que assentam as bases de um método"*. Max Reinhardt aborda a questo dos exercicios, dbservando, por sua vez, anecessidade de tum bom funcionamentofsico, mas também intelectal, do ator". Etienne Decroux fala mais em ginéstica e em técnica". Mais perto de nés, Jacques Lecog prefere a ogo de preparagao corpora, de gindstica dramatica, de edlucacéo do compo, a nogéo de treinamerto. Vitez, por sua vez, volta incessantemente ao “trabalho de ator". Por fm, do lado american, Michael Tchethov prefere falar mais em exercicios que em treinamento® Os métodos de treinamento diferem, é claro, mas todos eles implantam os funlamentos necessérios 20 jogo do eto: flexibilidace cdo compo, trabalho sobre 2 voz, mas também trabalho sobre a interioridace. O objetivo ¢ facta a passagem do ator de uma outro, & "Mymethod consists of training oleam to speak powerksty nd with clear articulation, and also to learn to mate the whole body speak, even when one keeps silent... By appting this method, | want to make it posse for actors to develop their abilty of physical expression and ako to nourish a tenacity of Concentration Tadeshi Suzuki, “Culture isthe body", in Acting Gedconsicered, Theoies andprectces, ed. Philip, Za London: Routledge, 1995. p. 155). ~“O meu métado é um treinamento (para aprender a falar com uma wor potente e artculada,€ para censinar@ fazer © compe tod fala, mesmo quando fcarnos em silencio... Aplicando esse método, quero possblitar que os lores desenvotamna cepacicace de exoressio fica ealmentem aconcentragio.” > Brook. Le Dobie c “est I“ennui[O Diabo éo této} Ares: ‘Actes Sud-Popies, 1991. p31. [Mer P Brook A Porta aberta. Retlexbes sobre a interretacdo € 0 teatro Taclucdo de Ant6nio Mercado. Rio de Janeiro: Cvikzacao Brasileira, 1999, a partido loriginal inglés The open door. London: Pertheon Books, 1993. — © primero artigo do Into, “As Artmanhas do Tédlo’, ¢ uma adaptacéo de Le Disble “est “ennuy transcrigéo em lo de. lms oficina que Brook ministrou @ professores franceses nos las 9¢ 10.de marco de 1991 eda qual existe registro emvideo. Ver 8. Brook, Autour de Iespace vide [Em torno do espago vaziol, és fmes de Jean- Gaon! Carasso e Mohamed Chaba. Pats: CICT/ANRAT, 1992. — RF] *Y, Old: L“ActetPHVBRe (OBO NEN Ae” Actes Sud 1998. p. 147. Batobde Fea CSE*hmers, so acueles que pefea sof 6 Bere AE ate ator avenge, enquanto.os exeros sb aperia parte manifesta e vise de um processo unio e ndvshel.A quaidade do trenerto rasce de amos de tba, ds relagdes entre incvicuos, chirtersdade ds stuns, das mocaidades de ica do gp (20 cue € decsvo @ menos 6 exercicio em si do que a temperatura do processo” (erie qui nse (A Energia que ‘dangal. Boutfonneries, n° 32-33. Lectoure, 1995. p. 234).—[Eci¢a0_ em Portugués do Basi: Yoshi Oide, O ator vise Com @ colberagéo de Lome Marsha, Azresentacbo de Peter Brock Tracugo de Marcelo Gomes, Sb Pado: Bea, 2001. = Tio do cig, 2001: The Inve Actor. ~ Pode-se ler tan en otugués do Basi ho anterio do mesmo atorlatoy An Actor ‘Adit de 1992: Um ator eran. Com a colaboracio de Loma Mesh. retécio de Peter Brook Fado de Marcelo Gomes S80 Paso: Beca, 1999 — I] ® J. Grotowsk. Vers um thééire pauvre [Para um teatro pobre], ep.ct 219, 2 barbs Ere qui carse (A energis que dana. oo. ep. 230 * Copeau. Registres I: Appels [Registros |: Apelos}. op. cit .127.-[TheSpintinhe ie hetes" [O escttonospequenes testes 0.190130 — 8] * Acesserespeto, Barba fea em como data, en compo etequotideno. 2 Ver nota 32, Baba. Energie cu dense [A ene cue cincal op cit p34 » Ibid. p. 230. > wid © Grotowsk op. cit p. 101. * Yoshi Oia. “Actes (0 atari, op. op. 40,1.nota 32 — lEdigdo em Portus do rsh Yosh Cid © ator invisvel Com a colaboracéo de Loma Marshal ‘AnresentagSo de Pete rook. TradugBo ce Marcelo Gomes. S80 Feu Beca 2001.— Todo cra 2001: These Actor — ode seer também em Portugués do Bai 0 fio ateoe do mesmo atovauto, An Actor Ait, de 1999: Um ator enante oma colboraggo de Loma Masha Pretécio de Pete rook Taco de Marcelo Gomes, Sto Pao: Beca, 1999-8] *Aeredtamos que Un processo pessoal que nic sep ‘ticdodo' por ume exrtz0;80 do panel nbo € uibertagso « sacobraré no amorto.Esimamos que « composiéo ndo somerte nfo mia o process pessoa, maso ufc’ tarioém notava Golowst op tp. 15, © Groton op ct p15, * Notemos que em fancts a palaa éever pode sgnifcar elvare ectcar. Serb. cueaecucacbo seme eer? UR] “ Copeau. bp. 136. ["Conérence 8a Drama League of “Ameca{Corferénciana Drama League ofAmencalp. 130-135, FY

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