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O DESAFIO SOCIAL EMERGENTE DO TRABALHO ESCRAVO

CONTEMPORÂNEO

Wilson Pontes Maziero1

1 Introdução.

É triplo o objetivo deste trabalho. Pretende-se a leitura de tessituras


históricas dos chamados biocombustíveis brasileiros; bem como a análise do seu
suposto benefício nos cenários nacional e internacional, tendo, como pano de fundo,
a cultura da plantation canavieira.
No campo contemporâneo ainda pairam estreitíssimas relações desta
monocultura com a manutenção do trabalho escravo, com especial respaldo para os
canaviais paulistas.
“O padrão de empreendimento que utiliza esse tipo de mão-de-obra continua
sendo o de fazendas com grandes áreas monocultoras voltadas para a exportação”
(SAKAMOTO, 2008, p. 61).
Como área estratégica da política nacional, o processo industrial do etanol
brasileiro ganha corpo na presente pesquisa, como fonte alternativa para veículos
automotores.
Trabalhadores que foram submetidos à reprimenda da condição análoga à
de escravo, bem como os seus familiares, cientistas sociais, juristas, consultores
legislativos e jornalistas desfilam pelo texto, em um cenário cada vez mais afetado
por mudanças de paradigma dos últimos tempos e que possui o lucro como
engrenagem investida neste ramo, doravante o vetor meio ambiente.

1 O autor é bacharelando do Departamento de Ciências Jurídicas do Instituto de Educação Superior de Brasília –


IESB, autor e formulador do blog AlibiJus: <www.alibijus.blogspot.com>.
2 A História dos Biocombustíveis.

Lançado nos anos 1970, em decorrência da crise do petróleo, o Programa


Nacional do Álcool – o pró-álcool – é um programa governamental que surgiu com a
edição do decreto n° 76.5932, visando fornecer alternativas para suprir, em larga
escala, a dependência e deficiência de oferta daquele combustível fóssil, sendo este
ecologicamente mais viável além de uma fonte de energia renovável.
Importante salientar que, no Brasil, já em meados da década de 20, o
Instituto Nacional de Tecnologia (acrônimo INT) não mediu esforços no sentido de
encontrar, através de exaustivos estudos de cunho científico, combustíveis que
fossem alternativos e renováveis; oportunidade em que fora revelada, pelo então
professor da Universidade Federal do Ceará – UFCE, o senhor Expedito Parente, a
descoberta do biodiesel, o que lhe rendeu a autoria da patente “PI – 8007957”,
doravante a primeira para a produção de biodiesel e de querosene vegetal de
aviação.
Este biocombustível nada mais é do que um combustível de origem não-
fóssil, normalmente produzido a partir de vegetais com potencial econômico
aproveitável, como a cana-de-açúcar ora em análise.
Além da utilização da cana-de-açúcar, como fonte de energia limpa para
veículos automotores, existem ainda outras, exempli gratia: a mamona, soja, canola,
babaçu, mandioca, milho e beterraba.3
Acerca das fontes acima arroladas, o douto relatório intitulado O Brasil dos
Agrocombustíveis: Impactos das Lavouras sobre a Terra, o Meio e a Sociedade -
Gordura Animal, Dendê, Algodão, Pinhão-Manso, Girassol e Canola, produzido e
formulado pela ONG Repórter Brasil, no ano de 2009, revela que ao longo deste
mesmo ano, “a soja continua sendo o carro-chefe do programa brasileiro de
biodiesel. Dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
(ANP) indicam que pelo menos quatro em cada cinco gotas de biodiesel produzido
no país têm origem no óleo de soja.
Em posição minoritária, estão produtos como a gordura bovina e os óleos de
algodão e de palma ou dendê. Já o girassol, canola e pinhão-manso possuem

2 Informações disponíveis no link: <http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=123069>.


Acesso em: 27 jan. 2010.
3 Informações disponíveis no link: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Biocombust%C3%ADvel>. Acesso em: 18 jan.
2010.
participação irrisória na fabricação de biodiesel, mas especialistas alertam para o
potencial dessas culturas em um cenário de demanda crescente. Atualmente, o país
precisa produzir 1,8 bilhão de litros de biodiesel por ano para garantir a mistura de
4% desse agrocombustível ao diesel de petróleo, o chamado B4. Com o B5 à vista,
diante da pressão de um setor industrial que tem capacidade instalada para fabricar
três vezes mais do que produz, novas matérias-primas podem se tornar viáveis para
a cadeia produtiva do biodiesel”.4
Revelando o vetor qualitativo dos biocombustiveis, resultados recentes de
pesquisas de campo mostram que “os biocombustíveis adicionados em veículos
automotores fazem com que os mesmos percorram mais de vinte mil quilômetros
sem necessidade de qualquer modificação mecânica prévia” (LIMA, 2005, p. 09).

2.1 Cana-de-Açúcar: Fonte de Riqueza.

Construindo um juízo mais bem delineado acerca do tema, é importante


registrar que somente no estado-membro de São Paulo, o qual encabeça
atualmente o título de maior produtor de açúcar e álcool do país, a área ocupada
pela plantation canavieira corresponde a 5,1 milhões de hectares5, com tendências
de crescimento cada vez maiores ante a política da mercantilização do etanol6 nos
mercados interno e externo (RIBEIRO e SILVA, 2008, pp. 67-68).
A tabela 0.1 a seguir mostra o multi-processo de produção da cana-de-
açúcar7 nos principais municípios paulistas referentes à área colhida, quantidade
produzida, rendimento médio e variação de produção:

4 SAKAMOTO et. al. O Brasil dos Agrocombustíveis: Impactos das Lavouras sobre a Terra, o Meio e a
Sociedade - Gordura Animal, Dendê, Algodão, Pinhão-Manso, Girassol e Canola – 2009. Relatório Completo.
Informações disponíveis no link: <http://www.reporterbrasil.org.br/escravidao_OIT.pdf>. Acesso em: 19 jan.
2010.
5 O equivalente a 5,1 milhões de campos de futebol.
6 Há grande probabilidade de que o álcool brasileiro perca espaço nos mercados interno e externo dada a recente
descoberta de petróleo na camada pré-sal, descoberta em meados de 2007, na chamada Amazônia Azul.
Informações disponíveis no link: <http://www.petrobras.com.br/pt/energia-e-tecnologia/?video=2#flash>.
Acesso em: 19 jan. 2010.
7 Informações disponíveis no link:
<http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=998>. Acesso em: 7 mar.
2010.
A produtividade do estado de São Paulo, juntamente com a de outros
estados, como o Rio de Janeiro, Mato Grosso, Tocantins, Goiás, entre outros, faz do
Brasil não só o maior produtor de cana-de-açúcar, como também o maior exportador
de açúcar e álcool do planeta.
Importante ainda salientar que o volume de álcool produzido no esteio do
ano de 2004, no Brasil, foi de 15.153.458 (quinze milhões, cento e cinquenta e três
mil, quatrocentos e cinquenta e oito) metros cúbicos, sendo que o valor pecuniário
de suas exportações (em dólares) chegou a cifra de R$ 504,083 (quinhentos e
quatro milhões e oitenta e três mil); somando o álcool carburante e os seus
derivados.8
Em termos de riqueza, o Brasil ocupa atualmente a 6ª (sexta) posição no rol
das maiores economias do planeta; todavia, é um dos países mais desiguais no
quesito distribuição de renda, ocupando atualmente, no cenário internacional, a 75ª
(septuagésima quinta) posição no ranking do IDH, doravante o Índice de
Desenvolvimento Humano9, o qual mede o parâmetro de desenvolvimento de um
determinado país a partir dos quesitos: educação, riqueza e expectativa média de
8 Dados colhidos a partir do trabalho produzido pela ONG Repórter Brasil, cujo coordenador é o jornalista e
cientista político Leonardo Sakamoto, baseado em dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
e do Ministério do Desenvolvimento Agrário. SAKAMOTO, Leonardo et al. Trabalho Escravo Contemporâneo
no Brasil. Contribuições Críticas para a sua Análise e Denúncia. Rio de Janeiro. Ed. UFRJ, 2008. pp. 65-67.
9 O IDH foi inventado e formulado pelo economista indiano Amartya Sen, prêmio Nobel de economia de 1998,
e pelo economista paquistanês Mahbub ul Haq.
vida.
As seguintes tabelas apontam a situação do Brasil nos quesitos Produto
Interno Bruto - PIB10 e Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, respectivamente:

10 O equivalente à produção de bens e serviços produzidos por um determinado País durante o prazo de 01 (um)
ano. No Brasil, a tabela mostra a situação que decorreu do ano de 2007.
2.2. A Cana-de-Açúcar e o Processo Industrial do Etanol Brasileiro.11

Depois de colhida no campo, a cana-de-açúcar chega até à(s) usina(s) por


caminhões. Chegando ao parque industrial, o caminhão carregado de cana é
pesado em uma balança que irá precisar a quantidade de cana que este carrega. O
passo seguinte é a análise da quantidade de açúcar que aquela cana específica
possui; isto é feito com a retirada de uma amostra pequena do carregamento através
da utilização de sondas (que podem ser oblíquas ou horizontais).
A amostra da cana é direcionada a um laboratório que diagnosticará o índice
de ATR (Açúcares Totais Recuperáveis), ou seja, a quantidade efetiva de açúcar que
aquela cana comporta.
Depois da pesagem, a cana poderá ter dois destinos distintos: ou será
encaminhada diretamente à mesa alimentadora da usina, onde, se colhida

11 O presente capítulo fora desenvolvido com base em subsídios científicos disponíveis no link:
<http://www.youtube.com/watch?v=VHqNbX0475A&feature=related>. Acesso em: 25. fev. 2010.
manualmente, poderá ser lavada ou ventilada – em limpeza a seco – para a
remoção das impurezas, ou, no caso da cana colhida mecanicamente, esta seguirá
diretamente ao picador, desfibrador e moenda ou difusor.
Algumas usinas trabalham com pátios de recepção de cana e estocagem,
onde a cana é depositada ou fica simplesmente aguardando nos próprios caminhões
até ser encaminhada à mesa alimentadora.
O próximo passo consiste na preparação da cana para a extração do seu
caldo, aumentando assim sua densidade e capacidade de moagem. Neste processo,
objetiva-se também romper as células para a liberação do caldo nela contido; com
isto, a cana passará por um jogo de facas (processo de preparação) até entrarem
em um desfibrador, onde cerca de 85% a 92% de suas células serão rompidas,
facilitando assim a extração do caldo.
Constituída basicamente de fibras e de caldo, o que interessa para a cadeia
produtiva da cana-de-açúcar é o açúcar contido em seu bojo, o qual se encontra
dissolvido no caldo. Portanto, o objetivo principal se perfaz por extrair ao máximo a
quantidade de caldo presente no bojo da cana.
Tal extração se perfaz por duas diferentes técnicas, a saber: a utilização de
moendas ou difusores.
Nas moendas, formadas por vários termos com dimensões diferentes, a
cana passará por um processo de esmagadura. Cada termo, ou castelos como são
conhecidos, possuem 04 (quatro) rolos principais, a saber: rolo de entrada, rolo
superior, rolo de pressão e rolo de saída. No primeiro termo é onde são extraídas as
maiores quantidades de caldo; depois disso, a cana é embebecida de água para
passar pelos demais termos, eis que cerca de 94% a 97% de seu caldo é extraído.
O número de termos varia de 04 (quatro) a 07 (sete).
A outra forma de extração do caldo é feita pelo difusor de cana. Nesta
seara ocorre a ruptura das células no preparo da cana (onde se encontra a
sacarose) e a lavagem desta com água ou caldo oriundo(a) da própria cana. Neste
processo, os índices de extração podem chegar até a 98% do caldo retirado.
Após a extração do caldo, o processo se divide em 03 (três) diferentes
estágios; de um lado, o bagaço que sobra é dirigido até à esteira ou é direcionado
até às caldeiras, local onde será queimado e o seu vapor transformado em energia,
no processo que se conhece por co-geração de energia ou bioeletricidade.
As usinas brasileiras são altossuficientes em geração de energia durante o
esteio da safra e ainda exportam os excedentes para as redes de distribuição,
vendendo desta forma créditos de carbono, em flagrante conformidade com o
protocolo de Kyoto.
Cada tonelada de cana processada gera em média 260 (duzentos e
sessenta) quilos de bagaço. A energia co-gerada é capaz de acionar as moendas
nos processos elétricos, ou o vapor utilizado para o seu acionamento transforma a
energia térmica em mecânica.
Com a extração do caldo da cana concluída, o próximo passo será o
tratamento deste caldo, objetivando a retirada de impurezas solúveis e insolúveis
nele encontradas.
O tratamento pode ocorrer em várias fases, desde a passagem do caldo por
peneiras até a força centrífuga utilizada para separar os materiais sólidos do líquido,
pesagem do caldo (eis que permite o melhor controle químico do processo) e
tratamento químico do mesmo.
Depois de tratado, o caldo pode ser encaminhado para a fabricação de
açúcar ou de etanol.
No primeiro caso, o caldo passa por um processo químico conhecido como
sulfitação, que tem por objetivo inibir as reações que causam formação de cor,
coagulação de coloides e solúveis, diminuindo assim a viscosidade do caldo; e a
calagem para neutralizar o PH do caldo e eliminar corantes. Logo em seguida, o
caldo é preparado para a próxima fase: a do aquecimento.
Nesta presente fase, o caldo é aquecido a aproximadamente 105 graus
célsius, com a finalidade de acelerar e facilitar a coagulação, aumentando a
eficiência da decantação e possibilitando a degasagem do caldo.
Depois de aquecido, o caldo é purificado em um processo chamado de
decantação ou clarificação. O “caldo decantado” é retirado da parte superior de cada
compartimento e enviado ao setor de evaporação para concentração. As impurezas
sedimentadas formam o lodo, o qual normalmente é retirado do decantador pelos
fundos e enviado ao setor de filtração para recuperação do açúcar nele contido;
depois, o caldo é filtrado com o objetivo de recuperar o açúcar ainda contido no lodo,
na sequência, ele passa por evaporadores para ser depois cozido, cristalizado,
centrifugado e secado.
A figura a seguir mostra como é feito o procedimento no Setor de Filtros:
O passo seguinte diz respeito ao açúcar, eis que pode ser refinado ou
ganhar outras formas, sendo este ensacado, pesado e armazenado para ser, logo
em seguida, transportado por via rodoviária ou ferroviária.
Algumas usinas comercializam o açúcar diretamente para os consumidores,
embalando e ensacando o seu produto em suas próprias unidades; utilizando-se de
marcas próprias.
Após passar pelo crivo do tratamento primário de peneiramento, o caldo é
submetido a um tratamento mais completo, que implica na adição de caldo,
aquecimento e posterior decantação, sendo este um tratamento semelhante àquele
utilizado na fabricação do açúcar.
Já livre de impurezas e devidamente esterilizado, o caldo está pronto para
ser encaminhado para a fermentação, onde os açúcares são transformados em
álcool.
As reações químicas ocorrem nos tanques denominados dornas de
fermentação. O tempo de fermentação varia de 6h a 10h. Ao final desse período,
praticamente todo o açúcar foi consumido com a consequente redução da liberação
de gases e multiplicação do fermento. Após a fermentação, o vinho é enviado às
centrifugas para recuperação do fermento que é tratado novamente e utilizado para
a continuidade do processo fermentativo.
O excedente de fermento pode ser encaminhado para a secagem, dando
origem a um novo produto: a “levedura seca”, a qual será comercializada como
complemento alimentar tanto para animais quanto para seres humanos, como fonte
de proteínas.
O vinho centrifugado é encaminhado para a destilaria, processo este que se
utiliza dos diferentes pontos de ebulição nas diversas substâncias voláteis
presentes, separando-as. A operação é realizada com o auxílio de colunas
distribuídas em vários troncos.
Cada coluna tem a finalidade de esgotar a maior quantidade possível de
álcool do seu produto de fundo, que é denominado vinhaça.
A vinhaça, retirada em uma proporção aproximada de doze litros para cada
litro de álcool produzido, constituída principalmente de água, sais sólidos em
suspensão e solúveis, é utilizada na lavoura como fertilizante, sendo o seu calor
parcialmente recuperado pelo caldo em um trocador de calor.
O álcool hidratado, produto final dos processos de destilação e retificação, é
uma mistura binária álcool/água que atinge um teor na ordem de 96 graus. Este
álcool hidratado pode ser comercializado nesta forma ou pode passar por um
processo de desidratação, transformando-se em álcool anidro, utilizado no Brasil
como aditivo à gasolina.
Depois de pronto, o álcool produzido é armazenado em tanques de grande
volume, situados nos parques industriais ou mesmo embarcado em caminhões-
tanques ou composições ferroviárias, para enfim ser comercializado às
distribuidoras.
A figura a seguir mostra como é feito o processo de secagem e ensaque do
açúcar para a sua posterior distribuição aos varejos e comércios de venda de
açúcar:
3 Os Bóias-Frias: “Classe Oprimida”

A situação econômica do Brasil ora exposta encontra estreita consonância


nas relações de trabalho dos bóias-frias do estado de São Paulo, classe de
trabalhadores que realiza o serviço do corte manual da cana nos períodos de sua
safra (que ocorre entre os meses de abril e novembro), buscando levar às suas
famílias ajuda pecuniária proveniente do labor sazonal (Cf. SAMUELSON e
NORDHAUS, 1993, pp. 661-670) ora aqui em análise, cujo contingente é composto,
em sua maioria, de migrantes nordestinos.12
“Até há pouco tempo, o setor usineiro dependia exclusivamente da mão-de-
obra humana para realizar o corte da cana-de-açúcar. Eram famílias inteiras de
trabalhadores rurais que passavam horas, todos os dias, enfrentando as condições
mais adversas para desempenhar o seu trabalho. Só que de uns tempos para cá, o
processo de colheita da cana passa por um intenso processo de mecanização”.13

12 Grande pólo exportador de trabalhadores para a empreitada braçal é o estado do Piauí, juntamente com o
estado do Maranhão. No estado-membro do Piauí, os municípios de onde o maior número de trabalhadores
emigram são: Barras, Miguel Alves, Esperantina, Uruçuí, Corrente e São Raimundo Nonato, segundo
diagnóstico produzido pela Comissão Estadual de Prevenção e Combate ao Trabalho Escravo (CPTE) [2002].
Majoritariamente, esses trabalhadores se deslocam para o Pará, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul,
Goiás, São Paulo e Brasília. PRADO, Adonia Antunes et al. Trabalho Escravo Contemporâneo no Brasil.
Contribuições Críticas para a sua Análise e Denúncia. Rio de Janeiro. Ed. UFRJ, 2008. p. 316.
13 CANA: Colheita Mecanizada. Revista Rural, São Paulo. rev 92, 2005. Disponível em:
<http://www.revistarural.com.br/Edicoes/2005/artigos/rev92_cana.htm>. Acesso em: 18 jan. 2010.
Com isso, o cenário ao qual se encontram esses trabalhadores comporta o
agravante de que os mesmos estão perdendo cada vez mais espaço nos canaviais,
tendo de concorrerem com o maquinário rural moderno que realiza a mesma tarefa
(o corte da cana) em menos da metade do tempo a que seria feito por esses
trabalhadores, forçando-os a trabalhar por produção em jornadas exaustivas que
ultrapassam facilmente as 10h diárias.
Os pesquisadores Jadir Damião Ribeiro14 e Maria Aparecida de Mores Silva15
discorrem a esse respeito:

“... Ademais, esse processo também implica a concentração dos capitais


e da terra, sem contar que, nos últimos anos, tem se intensificado o
processo de mecanização do corte da cana, responsável pela contínua
redução de empregos não somente para os trabalhadores locais como
também para os migrantes. Ademais, esta produção é caracterizada pelo
constante aumento dos níveis de produtividade do trabalho, por meio da
imposição da média de produção diária, atualmente em torno de 12
(doze) toneladas de cana cortadas. Tais fatos contribuíram para a
ocorrência de 22 (vinte e duas) mortes, no período de 2004 a 2008,
supostamente, por excesso de esforço.” (RIBEIRO e SILVA, 2008, p. 68).

O ponto chave que desvenda o porquê do presente estado de coisas,


dessas relações trabalhistas tão absurdas e de ilegalidade flagrante, é explicado
pelas condições de vida a que se encontram esses trabalhadores/camponeses,
determinadas em larga escala pelos desníveis gerais resultantes do grau de
instrução e das características geopolíticas de seus locais de origem respectivos.
O trecho a seguir aponta a situação sócio-econômica do estado-membro do
Piauí, o qual fora colhido através das esposas dos peões que são ou que foram
submetidos à reprimenda da condição análoga à de escravo:

“À pergunta 'Por que os homens viajam seguidamente apesar de


saberem que voltarão sem dinheiro, que poderão sofrer abusos, como já
aconteceu anteriormente...?', as mulheres afirmaram: 'Aqui não dá, aqui
não tem serviço, se tivesse não saíam [...]. Eles saem para o mundo
porque é o jeito. Aqui não tem um meio'. Ou então: 'Tem mês que ele não

14 Bolsista de iniciação científica do CNPq, sob a orientação de Maria Aparecida de Mores Silva. Graduando do
Curso de Direito da Fundação Municipal de Direito de Franca.
15 Professora livre-docente da UNESP. Colaboradora dos programas de pós-graduação de Sociologia da UFSCar
e de Geografia da UNESP/PP. Pesquisadora do CNPq.
ganha nem um centavo...' É fraco demais aqui...” (PRADO apud
FIGUEIRA, 2008, p. 317)

Em verdade, tal circunstância resulta de uma necessidade profundamente


incrustada na própria essência de sobrevivência desses sujeitos – que são
geralmente chefes de família e (ou) o filho mais velho da prole que saem em busca
de emprego fora de seus estados – que, uma vez restritos ao âmbito do isolamento
de seus lares, encontram-se desprovidos do mínimo existencial a que deveria ser
imbuído pelo Estado por meio das políticas públicas16, sendo assim forçados pelas
necessidades a saírem do isolamento geográfico de suas localidades na busca
esperançosa de melhorarem suas vidas, “vendendo suas forças de trabalho” (Cf.
MARX, 2006, p. 30) aos grandes proprietários de terras que, na maioria das vezes,
pouca ou nenhuma retribuição pecuniária lhes fornecem.
A mão-de-obra cabocla17 utilizada para o corte da monocultura canavieira no
campo também destina-se a outros estados brasileiros além do estado de São
Paulo. O depoimento a seguir é o relato de experiência de Cícero Guedes dos
Santos18, que discorre acerca do que aconteceu consigo em sua redução à condição
análoga à de escravo nos canaviais do estado de Mato Grosso. Verbis:

“- Meu nome é Cícero Guedes dos Santos, nasci em Alagoas, tenho 42


anos, minha companheira e cinco filhos. Ela é uma grande guerreira e me
sustenta.
Comecei a trabalhar com 08 anos de idade, não porque minha mãe me
forçava, mas sim porque os fazendeiros pensavam assim: começou a
andar tem que trabalhar para ajudar, porque senão a fazenda não
desenvolve; só os pais e as mães não dão conta do serviço.19
Não tive pai. Meu pai e minha mãe foram a senhora que me botou no

16 No mesmo sentido aponta o trabalho realizado por Gelba Cavalcante de Cerqueira e Ricardo Rezende
Figueira, em que mostra a principal causa para a persistência do presente crime – trabalho escravo
contemporâneo – “a escassez de políticas públicas voltadas para a reprodução social dos trabalhadores.” Cf.
FIGUEIRA e CERQUEIRA, 2008, p. 200.
17 Eis que sua composição abarca, de forma quase predominante, pessoas com ascendência indígena, hispânicas
(ou pardas) e negras. Na verdade, a escravidão contemporânea pode arregimentar também pessoas de
ascendência asiática ou brancas, diferentemente do que ocorria no passado. Confira o Anexo – I da presente
obra.
18 O presente depoimento fora relatado por um trabalhador rural que reside atualmente em um assentamento do
MST, no município de Campos (RJ). CERQUEIRA, Gelba Cavalcante de et al. Trabalho Escravo
Contemporâneo no Brasil. Contribuições Críticas para a sua Análise e Denúncia. Rio de Janeiro. Ed. UFRJ,
2008. pp. 121-124.
19 O leitor já pode sentir neste trecho as claríssimas violações às normas trabalhistas a que essas pessoas são
expostas todos os dias. Vítimas do arbítrio da cegueira condenável de um fanatismo odioso evocado pelo lucro,
engrenagem investida neste determinado ramo.
mundo através de Deus. Cortava cana no Norte, em Alagoas. Já passei
muita fome, trabalhei com fome, levantava e deitava com fome. E a minha
mãe dizia: 'Meu filho, você não vai aguentar, você vai morrer'. Aí eu dizia
pra ela que se parasse, seria pior.
Meu alimento era a cana, chupava cana para me alimentar. Chegava na
fazenda para me alimentar e o fazendeiro perguntava quanto eu tinha
ganhado no corte da cana. Na época era cruzeiro, eu ganhava Cr$ 5,00.
Então, ele dizia para eu comprar Cr$ 2,00 e os outros Cr$ 3,00 abatia na
conta. Comprava meio quilo de feijão, meio quilo de farinha, não tinha
como comprar carne, nem açúcar. Minha mãe perguntava: 'Meu filho, e o
resto?' Eu respondia: 'Não me deixaram comprar porque eu não tenho
mais recursos para pagar'. Aí, fazia aquela gororoba e comia. No outro
dia ia trabalhar.
Chegava o final de semana e fazia as contas para eu ver se tinha algum
recurso, algum resto de dinheiro para ir à feira. Eu via os carros passarem
para a feira e eu não tinha dinheiro. Eu ficava na mesma situação. Na
segunda-feira eu ia trabalhar na mesma situação. Eu já não aguentava
mais.
Fui para o Mato Grosso trabalhar cortando cana, contratado pelos
famosos 'gatos'. Eles usavam a mesma tática: prometiam o céu, a terra e
as estrelas... Quando chegávamos lá, nós víamos o tremendo inferno. Eu
ia trabalhar nos caminhões de cana. Agora dizem que modernizou,
mudou para ônibus. Mas nós íamos trabalhar nos caminhões de cana.
Muitas vezes eu vi meus companheiros morrerem; eles apanhavam e
eram chicoteados na frente de todo o mundo. Nós não podíamos fazer
nada e quem reclamasse apanhava também.
Eu pergunto: que país é esse em que nós vivemos? O Brasil é nosso,
mas tem a elite, que acha que é dona do Brasil, que escraviza os
trabalhadores, as crianças sofrem, não há respeito pelos idosos.
Não aguentei mais a situação. Em 1993, falei pra minha mulher pra
fugirmos, pra irmos embora, senão daquele jeito morreríamos. Ela me
disse que não tínhamos dinheiro e perguntou o que iríamos fazer. Eu
disse para irmos assim mesmo. Mandei colocar as coisas, mais uns
trapos, botar em uma bolsa algumas panelas, e o resto destruímos
porque não podíamos levar. Os meus vizinhos, me lembro que na época
me deram três quilos de peixe. Levamos na viagem e à noite assamos na
brasa. Os vizinhos me perguntaram como é que eu ia levar três crianças,
se eu não ia acabar matando elas na estrada. Eles fizeram uma vaquinha
e me deram Cz$ 15,00; na época a moeda havia mudado. Eu fui. Quando
cheguei num coletivo na divisa que pega a estrada para o Rio, o dinheiro
acabou. Aí eu falei assim: 'o dinheiro acabou, minha velha. O que nós
vamos fazer?' Tinha um posto carreteiro. Eu fui lá, mas o gerente falou
que se estivesse pensando em durmir, poderia procurar o matagal, por
que ali eles não iriam deixar por causa da segurança do posto. Falei pra
minha esposa que teríamos que durmir no mato. Nisso chega um coletivo
iluminado. Eu acho que foi Papai do Céu que mandou. Quando cheguei
lá, eram dois paulistas que tinham ido comprar o ônibus no Rio Grande do
Sul. Eu expliquei minha situação e eles disseram que meu estado era
realmente crítico, que no caminho viram muito gado morrendo, mas não
sabiam o que poderiam fazer pela gente. Mandaram eu ficar ali, entraram
e tomaram café, e eu fiquei esperando. Depois, na volta, um deles olhou
para mim, de cima a baixo, e falou para eu buscar minha família. Contei
para minha esposa que eu achava que tinha arrumado uma carona. Ela
me disse que não era hora de brincar, que a coisa era séria. Então eu
falei para pegar as coisas que nós iríamos embora. Foi quando eles nos
acolheu, eram dois filhos de Deus, e nós fomos de carona. Deram
alimentação para nós, queriam nos levar para São Paulo, mas eu via na
mídia que São Paulo era muito perigoso e fiquei em Campos.
Campos é uma cidade grande e quando eu pensava onde iríamos ficar,
uma senhora que vendia galinha no abatedouro olhou para as minhas
crianças, olhou para a minha situação, chamou minha esposa e começou
a perguntar de onde nós éramos, de onde vínhamos, onde iríamos ficar.
Minha esposa disse que estávamos atrás de um trabalho. Ela deu lanche
para as crianças e disse que tinha um proposta para nós: irmos para o
Parque Cidade Luz, arrumar uma casinha para ficarmos até nós nos
ajeitarmos. Minha esposa ficou meio espantada, mesmo assim
embarcamos no ônibus. Quando eu cheguei, todo mundo queria saber
um pouco do meu caso, o que tinha acontecido, por que eu tinha fugido
do meu estado. Mas eles já tinham visto na televisão que a fome estava
terrível, a seca... Chegou gente com cesta básica, colchão... Essa mesma
companheira alugou a casa. Ficamos lá, todo mundo solidário com a
situação da minha família. Nós ficamos e não faltou nada para nós. E na
segunda-feira comecei a trabalhar na maldita cana de novo, em Campos,
só que aqui a justiça era um pouco... Não sei, tinha um sindicalista rural
que era comprometido com a classe trabalhadora, mantendo a extração
da cana por um preço – soca, planta –, então tinha mais ou menos um
preço.
Eu trabalhei cortando cana, e o gato se animou e disse que eu era o
bicho para cortar cana. Eu disse: 'não fala isso não'. Aí, a vizinha disse
que eu não comprasse nada que eles me sustentariam, que eu tirasse
meu dinheiro livre. Minha esposa falou que parecia que nós estávamos
em outro mundo. Eu disse que Deus existe. Comecei a trabalhar e recebi.
Aí o gato começou a espalhar que chegou o 'alagoano doido', que era o
rei no corte de cana, e eu disse que ele acabasse com isso por que
estava fazendo muita fama de mim. Eu sei que fui trabalhando, trabalhei
um bom tempo. Depois eu vi que a exploração do corte de cana estava
voltando para a mesma situação. Me levaram para Gruçaí, e eu comecei
a trabalhar de caseiro. Isso já era em 1996.
Trabalhei de caseiro um ano, um ano e pouco. Aí a patroa queria me
botar um cabresto e me levar que nem um cachorrinho de balaio para
onde ela quisesse. Eu disse que esse trato era muito bom, mas tinha
medo dessa situação. Foi quando em 1997 teve a explosão da ocupação
da Usina São João. Eu, vendo aquela situação toda, vi que o meu mundo
estava começando a aparecer. Eu visitei esse assentamento, que era
acampamento, e os companheiros de lá falaram que tinha uma vaga para
mim, se eu fosse disposto. Então, eu disse que coragem eu não tinha
não, mas se todos eles corressem, eu corria também, mas eu não ia me
borrar não.
Estava com muito medo, porque eu tinha vindo do Norte. Lá, se falasse
em terra ou colocasse os patrões na Justiça, nem a cabeça sobrava
porque os jagunços consumiam. Será que isso foi nos anos 1990, será
que isso foi no ano de 2005, será que isso foi no ano de 1970? Não, foi
em 1984 ou 1985, e hoje em dia não adianta ninguém dizer que está
combatendo isso, porque existe a mesma situação, porque há
impunidade e eles acham que são os donos do mundo, acham que
podem comprar todos, Policia Federal, acham que podem comprar o juíz,
senador e deputado, porque eles é que apóiam e nós somos as classes
menos favorecidas. Graças a Deus esse quadro está mudando.
Aí fiquei no assentamento, no acampamento, na luta. Vai para lá e vai
para cá, ações para cá e justiça para lá, polícia vai para um lado e nós
para o outro, eu só sei que o assentamento aconteceu. E uma coisa eu
tenho para dizer para vocês: que hoje sou outro homem, sou feliz, mas
ainda tenho um choro na garganta, porque tem muitas injustiças sociais e
muitos companheiros foram assassinados. Não é o país que nós
queremos ainda, está muito longe de ser o país que nós queremos. Por
isso os companheiros estão aqui lutando por uma causa só. Eu tenho
certeza que no governante eu não confio; eu confio na sociedade
organizada, confio nos trabalhadores organizados, porque se nós
fôssemos esperar por políticos, nós estaríamos dentro d'água. Se fosse
esperar pelo presidente dizer assim: 'Cícero, você será assentado', eu
estava dentro d'água. Foi a luta dos nossos companheiros, hoje nós
somos assentados, 506 famílias. Hoje eu tenho outra vida.
Agora eu não tenho mais fome, eu já mato a fome de outros
companheiros que têm lutado pela mesma situação. Eu já era
comprometido com a situação, eu queria fazer alguma coisa, mas não
podia, se eu não tinha comida para mim como é que ia dar? Hoje eu já
levo uma banana para os companheiros que estão lá na luta. Quando tem
companheiro em má situação, nós ajudamos. Eu sou um homem feliz,
mas não muito feliz, só um pouco feliz porque ainda tem muitas injustiças.
Sabemos que o capitalista diz que não é preciso a reforma agrária, que o
seu projeto está em miséria enquanto milhões de sem-terra estão jogados
na estrada, o medo de ir para a cidade e enfrentar a favela, a fome e o
desemprego. Saindo dessa situação e segurando as mãos desses
companheiros, assim ninguém chora mais, ninguém tira o chão de
ninguém, o chão onde pisava o boi é feijão e arroz capinado. E eu termino
com uma fala: 'Que chore o latifundiário e dêem risadas as famílias
brasileiras'.”

O longo trecho de depoimento acima mencionado, colhido de um ex-


trabalhador submetido à reprimenda da condição análoga à de escravo, não se
perfaz por uma voz isolada de um canavial somente, sendo (a mais não poder!) voz
coletiva de “toda uma geração que clama para ser ouvida; que clama por seus
direitos” (BOAVENTURA, [2006?]).
O estado-membro do Mato Grosso se destaca por abarcar “o maior conjunto
de assentamentos para a reforma agrária do país” (NETO, 2008, p. 242); porém,
este fato logo encontra paradoxo por meio do uso indiscriminado de trabalhadores
em regime de escravidão contemporânea, largamente explorados na assim
conhecida “zona de transição”.
Também neste estado fica localizada a destilaria Gameleira, a qual é
responsável pelo processamento de nada menos do que 280.520 (duzentas e
oitenta mil, quinhentas e vinte) toneladas de cana, valendo-se do uso/exploração da
mão-de-obra nordestina, sendo que, no esteio do ano de 2005, fora acusada de
manter, em suas dependências, mais de 1000 (mil) trabalhadores em regime de
escravidão, um recorde nacional.
As humilhações experimentadas pelos peões, que vão desde o início do
trajeto até o término da empreitada (quando são “largados nos cantos” à própria
sorte, sendo alguns até mesmo mortos), leva esses indivíduos a não mais
regressarem para os seus antigos lares, situação esta em que negam suas
legendas, transformando-se em peões do trecho, ou seja, os “peões que deixaram
suas terras de origem e não mais se fixaram em nenhuma outra região, indo de um
canto para outro em busca de trabalho” (op. cit. p. 243).
Adonia Antunes Prado discorre, com brilhantismo, os sentimentos desses
trabalhadores:

“... A perda do contato do trabalhador com a família nem sempre significa


que este esteja morto. Seu silêncio também pode se dar por vergonha,
pois tendo saído em busca de dinheiro e de novas oportunidades, se vê
na situação de regressar ainda mais pobre, doente, ferido no corpo e na
alma pelas humilhações vividas. Muitos, então, preferem não dar notícias,
não assumindo, diante da família e dos amigos, o fracasso de seus
projetos.” (PRADO apud FIGUEIRA, 2004).

4 “GATOS”. Conversa Agradável; Destino Difícil.

Personagem que se aproveita das péssimas condições de vida a que se


encontram pessoas de “raízes humildes”, o gato, segundo José Carlos Aragão Silva
(2008, p. 208), “é o empreiteiro com grande habilidade para recrutar trabalhadores
por meio de promessas sedutoras de trabalho e ganhos fáceis”; sendo assim um dos
principais elementos responsáveis pela diminuição do custeio da mão-de-obra das
fazendas e por fim assegurar maior locupletamento em seus negócios.
O gato possui estreitíssima ligação com policiais e políticos locais e quase
sempre se adentra em localidades com poucas oportunidades de estudos e
empregos para arregimentar trabalhadores até às fazendas de seus patrões, as
quais estão localizadas a centenas de quilômetros dali, geralmente em outro estado
da federação20 – com o objetivo único de dificultar possíveis fugas –, sob promessas
de um trabalho rápido, com curta duração e retribuição pecuniária razoáveis. “O gato
também recruta mulheres e menores de 18 (dezoito) anos para a empreitada” (SILVA
apud ALMEIDA, 1998).
Como figura convincente e de agradável presença que é, o gato sabe
seduzir o peão ou um grupo de peões munido somente do porte de suas palavras,
ou seja, convencendo – de forma notável – os peões de que o trabalho que está
“logo à frente” é digno de uma pessoa humana, sendo o aliciamento geralmente
praticado nas dependências de pensões, mercadinhos, bares e padarias, no bojo do
qual lhes são oferecidos “pingados de café”, pequenos lanches e até o pagamento
de bebidas alcoólicas (cachaças, pingas e cervejas); tudo visando a facilitar a
arrolagem do processo de recrutamento.
A conversa fácil dos gatos conquista paulatinamente a consciência dos
peões, entabulando o (con)trato verbal de trabalho.
Como se não bastasse, lhes são oferecidos adiantamentos e transportes. O
peão, antes vítima das dificuldades, agora acredita que lhe sobreveio um melhor
rumo; que está sendo premiado pelo destino. No que tange à perspectiva do gato, o
peão comporta o estigma de mão-de-obra barata e descartável, sendo, portanto,
motivo de chacota e desleixo.
Existem ainda escritórios de “agências de turismo” especializados no
transporte desses trabalhadores, sendo que os valores pecuniários oriundos de
alojamentos, viagens e os seus acessórios são descontados dos salários percebidos
pelos peões, sem exceção.
Segundo Vitale Joanoni Neto (2008, p. 244) os trabalhadores “pagam
também pelo uso de equipamentos de proteção individual e medicamentos. Falam
do recolhimento de sua Carteira de Trabalho e Previdência Social, da
obrigatoriedade da assinatura de papeis em branco, e da vigilância armada nos
alojamentos. São comuns os relatos de mais de dez viagens, de casos de acidentes
graves ignorados pelos empregadores (mutilações, cegueira) de trabalho sem
carteira assinada.”
O gato, após modelar algumas dezenas de camponeses à sua vontade,

20 A larga distância entre a casa do peão e a fazenda de destino é, repita-se, empregada com o escopo de evitar a
fuga do peão, segregando-o da civilização.
embarca com estes rumo à fazenda de destino, cuja viagem comporta um joeirado
de percalços de toda sorte e revés, obrigando alguns peões, com medo da aventura,
a abandonarem a viagem, pulando dos caminhões em movimento que saem no
meio da noite não por rodovias, mas ziguezagueando e porfiando por estradas de
chão (com o fito de evitar a fiscalização).
Com a chegada dos peões à(s) fazenda(s) de destino, os trabalhadores “são
desembarcados e divididos em grupos que variam de 04 a 08 pessoas” (SILVA,
2008, p. 212). Logo em seguida, estes são alojados em locais considerados
precários e desumanos para a realização da empreitada, locais estes destinados
anteriormente ao abrigo de animais, como currais e chiqueiros, além de comerem e
beberem em condições subalternas às dos cachorros.
Também há casos registrados de os peões – após o trabalho braçal de 12h
nas lavouras – dormirem em locais considerados irregulares pela legislação,
localizados no meio da floresta e em barracas de lona preta, não oferecendo
qualquer segurança às ameaças que circundam constantemente os trabalhadores,
que vão desde a contaminação por cólera até a contração de dengue e malária.
Alguns indivíduos foram inclusive, devido à falta de segurança, puxados de
dentro para fora dos barracos e mortos por onças e jaguares.
Em entrevista concedida por Aurélio A.M.21, este discorre acerca do seu
relato de experiência nas fazendas do Estado do Pará.

“O barraco era coberto de palha e por cima da palha tinha uma lona,
aquela lona preta. Esquentava demais, e o barraco era cercado de
madeira grossa assim, no pé, pras onças não entrarem e não puxarem a
gente. As onças, de noite... era muito perigoso. Tinha muita onça porque
era dentro da mata. A gente não podia dormir menos de um metro
distante da parede, porque as onças puxavam as pessoas se estivessem
na beira da parede. A gente então dormia longe.” (CERQUEIRA et al.
2008, pp. 117-118).

A vigilância constante22 dos camponeses por parte dos


capangas/funcionários da fazenda é bastante intensa. O segregamento corporal
vale-se pelo uso de facões, ameaças, porte de armas de fogo, pedaços de madeira,

21 Trabalhador rural, à época com 41 anos de idade, residente em Miguel Alves, no Piauí, casado e pai de dois
filhos. Entrevista concedida a Adonia Prado, frei Xavier Plassat e Monique Taranto Tardem. CERQUEIRA,
Gelba Cavalcante de et al. Trabalho Escravo Contemporâneo no Brasil. Contribuições Críticas para a sua
Análise e Denúncia. Rio de Janeiro. Ed. UFRJ, 2008. p.p. 117-118.
22 Comumente chamado de “o controle arbitrário dos corpos”.
vias de fato, etc., causando assim uma barreira intimidativa aos camponeses que
tentem lograr êxito na fuga.
Por todo o exposto, a vigilância constante a esses camponeses “torna-se um
operador econômico decisivo, na medida em que é ao mesmo tempo uma peça
interna no aparelho de produção e uma engrenagem específica do poder disciplinar”
(FOUCAULT, 2000, p. 147).

5 A Organização Internacional do Trabalho - OIT

O relatório global sobre o Trabalho Escravo Contemporâneo, intitulado “O


custo da coerção”, realizado durante a Conferência Internacional do Trabalho, ano
de 2009, em Genebra23, firma o entendimento já há muito tempo assentado entre
pesquisadores brasileiros, no que se refere à forma mais comum de trabalho forçado
(no Brasil e também em todo o continente latino-americano) que é a servidão por
dívidas.
A servidão por dívidas, segundo o relatório, é um procedimento “no qual os
trabalhadores temporários são recrutados através de intermediários informais e não
licenciados, que atraem os trabalhadores através do pagamento de adiantamentos,
e posteriormente incorrendo em lucros significativos através do inflacionamento de
uma série de custos. Este processo pode ter lugar dentro ou fora das fronteiras
nacionais”.24
Seguindo ainda com o douto relatório, o mesmo assevera que “o trabalho
forçado na América Latina encontra-se intimamente ligado aos padrões de
desigualdade e de discriminação, particularmente contra os povos indígenas. A ação
de combate a esta situação necessita, assim, de ser incorporada num
enquadramento mais abrangente de medidas e de programas de redução da
pobreza, lutando contra a discriminação, e promovendo os direitos dos povos
indígenas, bem como a melhoria da situação dos trabalhadores mais pobres nas
zonas urbanas”.

23 O relatório em comento encontra-se disponível em: <http://www.reporterbrasil.org.br/escravidao_OIT.pdf>.


Acesso em: 17 jan. 2010.
24 CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DO TRABALHO, 98ª Sessão, 2009, Genebra. Anais... Genebra, 2009.
“Apesar de a OIT estimar que a América Latina possui o segundo maior
número de pessoas em situação de trabalho forçado em todo o mundo (depois da
Ásia), só alguns países encetaram esforços sistemáticos para investigar e
documentar o trabalho forçado e a sua incidência. No entanto, os fortes esforços
realizados por alguns países, principalmente pelo Brasil e pelo Peru, melhoraram a
compreensão do trabalho forçado contemporâneo e as suas causas subjacentes.
Estes esforços também foram acompanhados por medidas políticas e
práticas, no intuito de coordenar a ação dos diferentes ministérios e das instituições
contra o trabalho forçado, e para definir e libertar indivíduos em situação de trabalho
forçado. Em Novembro de 2008, fora aprovado um Decreto Supremo, pelo Governo
da Bolívia, o qual referia que as propriedades rurais que utilizassem o trabalho
forçado e a servidão por dívidas, seriam transferidas para o Estado, sob a vigilância
do Instituto Nacional da Reforma Agrária”.25
No Brasil, “o primeiro caso de desapropriação de terras por interesse social,
para fins de reforma agrária, aconteceu em 19 de outubro de 2004, no imóvel rural
da fazenda Castanhal Cabaceiras, no município de Marabá, estado do Pará”
(KAIPPER et al. 2008, p. 164).
A seguir, a tabela 02 aponta o demonstrativo do custo total da coerção
decorrente do ano de 2009:

25 Idem, Ibidem.
6 Trabalho Escravo, Fenômeno Também da Elite.

As relações laborativas dos canaviais do estado de São Paulo, seu cenário


maior, são muito mais amplas do que o imaginário comum pode abstrair.
Pesquisadores têm desenvolvido detalhadas manifestações empíricas das
relações de trabalho forçado ao redor do planeta a partir de documentações
individuais das experiências de trabalhos forçados de suas respectivas localidades,
contribuindo com valiosíssimas perspectivas na natureza do problema, que é alvo de
confronto de dimensões globais, repita-se, não se resumindo a um fenômeno
meramente incidental e sim, a um intrínseco liame de desenvolvimento e evolução
da política econômica de abrangência mundial.
Estudos de cunho acadêmico e político, ambos, associam este fenômeno
como típico de países pobres ou em desenvolvimento.
Nicola Phillips26 oferece aos estudiosos do tema uma coerente e analítica
teoria acerca deste fato (o trabalho forçado), ao analisar sua a natureza,
circunscrição(ões) geográfica(s), dinâmica e, por fim, a racionalidade argumentativa
daqueles que arregimentam os trabalhadores em condições desumanas de trabalho.
“Em outras palavras, o trabalho forçado é central para a produção de bens e
serviços...” (PHILLIPS, [2009?], p. 02).
Em sua douta pesquisa acerca da matéria, sob o título “How can a Focus on
Global Productions Network Help Us to Understand Forced Labour?”, Phillips
contraria o senso comum de que trabalho forçado é um fenômeno única e
exclusivamente de países pobres ou em desenvolvimento, eis que uma parte
considerável de sua força motora é proveniente de países desenvolvidos (os
chamados de primeiro mundo), verbis:

“... Política e estudos acadêmicos, ambos, responsabilizam o aspecto em


torno do trabalho forçado a uma comum hipótese de que este fenômeno é
associado, primeiramente, com os países pobres. Esta é uma justificativa
para este assunto. As pessoas trabalhando nestas condições são
concentradas em economias e sociedades caracterizadas por um alto
nível de pobreza e indigência, e, consequentemente, estes altos números
estão localizados em algumas regiões como o sul e o sudeste da Ásia,
26 Doutora e pesquisadora da School of Social Scienses (Escola de Ciências Sociais) da University of
Manchester (Universidade de Manchester), Inglaterra.
América Latina, Caribe e a África, entre outros. A Organização
Internacional do Trabalho – OIT estima que, dos 12.3 milhões de pessoas
que trabalham em condições de escravidão, somente 360.000 estão
fisicamente localizadas em países 'ricos'.” (PHILLIPS, [2009?], p. 08,
tradução do autor).

7 “Solução Verde”?

Nos dias de hoje, há grande questionamento acerca dos benefícios oriundos


da implementação da monocultura nas regiões amazônica e de cerrado, tais como a
monocultura da soja, a do milho e a da cana-de-açúcar, só para citar algumas, eis
que “diversos estudos e teses acadêmicas demonstram que a expansão de
monocultivos representa um risco ainda maior para o aquecimento global do que as
emissões de carbono provenientes de combustíveis fósseis. Apesar do esforço do
governo brasileiro para convencer a comunidade internacional de que o etanol
brasileiro é, sim, uma fonte de energia 'renovável', entre 2007 e 2008 houve uma
mudança significativa em relação a essa imagem” (MENDONÇA, 2008, p.76).
Invadindo grandes áreas de biodiversidade do cerrado, da Amazônia e agora
também às portas do Pantanal, por intermédio da Medida Provisória 42227, a qual
permite ao Incra titular de forma direta, sem licitação, propriedades na Amazônica
com até 15 (quinze) módulos rurais ou 1.500 (mil e quinhentos) hectares; a suposta
esperança de uma energia sustentável, a qual fora motivo de orgulho dos tempos de
chumbo, o pró-álcool, como esperança nacional, tem de a ganhar roupagem de
conto de fadas no quesito energia limpa, eis que não faltam artigos científicos e
notícias publicadas em jornais de grande circulação que se desvalam no sentido
contrário ao de seu suposto benefício.
A jornalista e diretora da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos, Maria
Luíza Mendonça, em sua pesquisa28, aponta efeitos nefastos ao meio ambiente a

27 A presente Medida Provisória já encontra-se convertida na Lei nº 11.763, desde 1º de agosto de 2008.
BRASIL. Lei nº 11.763, de 1º de agosto de 2008. Conversão da MPV nº 422, de 25.3.2008. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 14 dez. 2002. Disponível no link: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2008/Lei/L11763.htm >. Acesso em: 31 mar. 2010.
28 Os impactos da expansão do monocultivo de cana para a produção de etanol. Com a colaboração de Isidoro
Revers, Marluce Melo e Plácido Júnior. Extraído a partir do que fora publicado no relatório “Impactos da
Produção de cana no Cerrado e Amazônia”, pela Comissão Pastoral da Terra e Rede Social de Justiça e Direitos
Humanos.
partir do que fora veiculado em matérias de jornais e revistas mais respeitados da
contemporaneidade.
Ela destaca importante reportagem da Sciense Megazine, sob o título Use of
U.S. Cropland for Biofuels Increases Greenhouse Gases Through Emissions from
Land-Use Change, que fora publicada no dia 28 de fevereiro de 2008 e discorre que
a maioria dos estudos anteriores descobriu que substituir gasolina por
biocombustíveis poderia reduzir a emissão de carbono. “Essas análises não
consideraram as emissões de carbono que ocorrem quando agricultores, no mundo
todo, respondem à alta dos preços e convertem florestas e pastos em novas
plantações, para substituir lavouras de grãos que foram utilizadas para os
biocombustíveis” (MENDONÇA, 2008, p.76).
Não obstante a malgrada causa de danos irreparáveis ao meio ambiente, a
cultura de monocultivos gera lucros rentosos àquele que o implementa29, empurra e
expande cada vez mais o litoral das fronteiras agrícolas das fazendas produtoras de
gado e de soja, diminuindo – principalmente por meio de queimadas – a riqueza
primária das florestas nativas, eis que a floresta secundária não recupera o número
de espécies da flora e da fauna originárias, encarecendo, direta ou indiretamente, o
custeio de gêneros alimentícios, causando danos à boa qualidade do ar e à da água
(altamente demandada na prática da presente atividade mercantil); além de asfixiar
o espaço reservado à pesquisa científica de cunho medicinal, em regiões da
Amazônia e do Cerrado, riquíssimas no campo da biodiversidade e com amplas
possibilidades de oferecer cura e terapêutica para doenças atualmente incuráveis,
como a Aids e o Câncer.
Seguindo com as publicações jornalísticas que decorreram de pesquisas
realizadas no estrangeiro, o jornal El País publicara importante matéria no bojo da
qual diversas pesquisas de cunho científico emitem nota de que os biocombustíveis
poluem ainda mais do que os combustíveis convencionais, eis que destroem
grandes áreas de valor ecológico ímpar por meio das queimadas predatórias, além
de explorar ao máximo relações trabalhistas de cunho criminoso e informal.
Importante registrar, na presente seara, paradoxo peculiar, pois o mesmo
jornal publicou, recentemente, matéria com juízo de valor positivo em prol dos
biocombustíveis brasileiros. Sob o título: Verde, sostenible y con asas, o jornal atribui

29 A cana-de-açúcar tem o mais alto retorno para os agricultores por hectare plantado. O custo de produção do
açúcar no país é baixo (inferior a US$ 200/tonelada), podendo dessa maneira competir no mercado internacional.
Tal mercado é, entretanto, volátil e apresenta grandes oscilações de preços. Informações disponíveis no link:
<http://www.biodieselbr.com/proalcool/pro-alcool.htm>. Acesso em: 17 fev. 2010.
aos biocombustíveis o mesmo valor dado à energia eólica e (ou) à solar como meio
de se evitar o aquecimento global, decorrente do uso feroz de combustíveis
tradicionais, doravante os fósseis.30
No cenário nacional, a posição é divergente à que ocorre no campo
internacional, sendo a produção e a comercialização de biocombustíveis a janela de
saída não só para os problemas ambientais, mas também para os problemas
sociais, pois gera empregos no campo e alavanca as exportações, diz Paulo César
Ribeiro Lima.31 Segundo ele, “para um emprego no campo são gerados 03 na
cidade, seriam criados, então, 180 mil empregos. Numa hipótese otimista de 6% de
participação da agricultura familiar, no mercado de biodiesel, seriam gerados mais
de 01 milhão de empregos” (2005, p. 11).
No que se refere ao campo ambiental, “se comparado ao óleo diesel
derivado de petróleo, o biodiesel pode reduzir significativamente as emissões
líquidas de gás carbônico, um dos grandes causadores do aumento do efeito estufa,
já que ele é reabsorvido quando do crescimento das plantas que fornecerão matéria-
prima. Além disso, o biodiesel permite a redução das emissões de fumaça e
praticamente elimina as emissões de dióxido de enxofre” (op. cit. p. 03).

8 Conclusões.

Conclui-se a partir do que fora exposto, pela urgente utilização de fontes de


energia eminentemente renováveis, verbi gratia o uso das energias solar e eólica,
dentre outras de vetor ecológico abrangente; políticas públicas que ataquem o ponto
nevrálgico da maioria da população: a falta de conhecimento acerca da importância
dos fatos ambientais, através da distribuição de panfletos, do uso da propaganda
educativa, etc.; de ações como o voluntariado em arborização urbana e rural;
recuperação de áreas degradadas por incêndios criminosos bem como a
implantação do modelo agrícola sustentável, doravante a agroecologia.

30 Informações disponíveis no link:


<http://www.elpais.com/articulo/empresas/sectores/Verde/sostenible/asas/elpepueconeg/20091122elpnegemp_7/
Tes>. Acesso em: 17 fev. 2010.
31 Consultor legislativo da Área XII – Recursos Minerais, Hídricos e Energéticos – da Câmara dos Deputados.
Ao Ministério Público, através dos seus instrumentos de atuação (LC. 75/93,
art. 6º), juntamente com o apoio da sociedade e dos meios de comunicação (os
mídias), incumbe denunciar quaisquer atos de abuso e violações aos direitos
humanos, por parte de fazendeiros e de grandes mercados varejistas, e aos direitos
fundamentais aplicáveis aos trabalhadores, com o objetivo de fazer tabula rasa ante
os efeitos nefastos oriundos da inconstitucionalidade e da ilegalidade do ato patronal
discricionário.
A política de mudanças estruturalistas há de ser também empírica, visando
com isto não ser apenas mais um artigo científico acerca da matéria, mas sim fato
gerador de mudanças, mesmo que em sentido estrito.
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<http://pt.wikipedia.org/wiki/Biocombust%C3%ADvel>. Acesso em: 18 jan. 2010.

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nacional do Álcool e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, p.
15257, coluna 01, 14 nov. 1975.

BRASIL. Lei Complementar nº 75, de 20 de maio de 1993. Dispõe sobre a


organização, as atribuições e o estatuto do Ministério Público da União. Diário
Oficial da União, Brasília, DF, 21 mai. 1993. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/Lcp75.htm>. Acesso em: 02 jun. 2010.

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25.3.2008. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 14 dez. 2002. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11763.htm >. Acesso
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Cana-de-açúcar, café e laranja aumentam valor da safra em 2,9%. Disponível em:


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ANEXO I – QUADRO COMPARATIVO DA ESCRAVIDÃO NO BRASIL

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