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Be MIWUITION . Direcéo Benjamin Abdala Junior 1Gd Samirai Yousseg Campedelli Ve tof Preparagao de texto . Mario Tadeu Brugo K forberto LUZ, Projet grtfeatmto Anténio do Amaral Rocha ° Coordenagao de‘composig> (PredugdolPaginaggo em video) Nelde Hiromi Toyota - Capa Ary Normanha Antonio Ubirajara Domiencio Professor de Hist6rie Antiga - da Universidade de Si Paulo sangrat (LALA 143009704 ISBN 8508 01867 4 g & a IBA 2 eaeao 2 BN edig 4994 ESE eS 7 Todos os direitos raservados Editora Atica S.A. Rua Bardo de Iguape, 110 — GEP 01507-900 Tel: PABX 278-9322’ — Caixa Postal 8655, End. Telegrafieo "Bomlivro” — Fax: (011) 277-4146 Sao Paulo (SP) © coaceito Imperiatismo, guerra ¢ expansio Lnperialismo € poder 2. A formagao do império ateniense ‘A Liga de Delos, —__ Desenvolvimento da liga —____— Consolidagéo do império ateniense 3. O imperialismo ateniense: natureza, mo- tivagdes, conflitos A natureza da expansio de Atenas) ——H— Beneficios do império: controle e distribuigao _ Os beneficios do império ¢ sua distribuic& Atenas e 0s Estados siditos, —_—_——— cit “GD imperialismo romaro: natureza, fases— Importincia e significado Imperialismo defensive’ Imperialismo ¢ economia. As fases da expansio 5. Os infcios do imperialismo romano ___ Terra e expanstio — Terras piblicas ¢ conflito agrrio As leis agrérias _—_——- Imperialismo e uta politica —________ Caracteristicas da expanséo inicial. 6. Os tltimos séculos ca republica_____ ‘A organizacio das conquistas____— ‘Transformagdes na economis romana 68 © desenvolvimento econdmico nas provincias___72 ‘Transformacées sociais, tensdes ¢ conflitos__ 74 7. Conclusao ~ 9 8. Vocabulério critico —___ 82 9. Bibliografia comentada 85 FUNDE: 9583 4079 / lod Seu dG ts 95a3 USP ee OMPa_ $583 /_BSb /_ 96 F Conte REL BS Aor | Imperialismo antigo e moderno © conceito Nos estudos contempordneos sobre a economia capitalis- ta, imperialismo & um termo empregado para designar deter- minados. fendmenos.decorrentes_da_expanséo politica econémica da Europa e dos Estados Unidos a partir de mea- dgs.do século XIX. Com excegdo dos economistas neocléssi- cos, que consideram a expansio imperialista européia como uma sobrevivéncia de elementos pré-capitalistas na moderna econo- mia de mercado, o imperialismo é, em. geral, encarado como. uma fase especifica do. desenvolvimento do capitalismo. Seria, assim, uma forma de incentivar os investimentos.(para os key- nesianos) ou um mecanismo acumulador de capitais, seja pela troca desigual entre metrépole e periferia, seja pela exportacao de capitais, que se aproveitariam da mao-te-obra barata e das matérias-primas das nagdes subdesenyolvidas. Tal sistema de exploragao € acumulagio de riquezas tem, por corokirio quase sempre um determinado grau de domina- ‘40 politica, indo desde uma interferéncia indireta, porém for- te, nos assuntos internos dos paises dependentes, até a intervengao militar direta. Quando os interesses da metrépole se véem ameagados pela reagdo da populacdo ou dos governos 8 ocais, procece-se & estituigdo de governantes, com 2 instala- jieres no poder ou mesmo a ocupagao territorial. Anesar desse forte componente politico-militar do impe- riglismo moderne — que decorre,.por sua.vez, do predomainio econdinico da metrdpole —, permanece o fato essencial de que seus mesanismos de concentragio e explorasio.sdo essencial- mente econdmicos, ou seja, occrrem pelo contato forgado en- ive nacdes com modos de produgio ou ulveis de desenvolvimento capitslista diferentes. A interferéncia de fato- res politica-militares dé-se_na constinuigdio € manurencao desse ccontato.em tais condigdes, mas, a0 contrério do. que aconteci ‘com o antigo sistema colonial, no é a responsével direta pela transfertncia de riquezas da periferia para o centro. ?Por analogia com seu emprego contemporaneo, particu- Jarmente em seus aspectos polfico-institucionais, 0 termo im- iperialiszno tern sido utilizado na caracterizagao e definigdo dos {ertdmenos dle expansio em sociedades pré-capitalistas, em par- ticular no que se refere ao mundo greco-romano. Por trés de seu uso, no entanto, esconde-se toda uma série de acepgbes pro- fundamente diferentes que derendem, em grande medida, de ‘como cada autor vé o imperizlismo contempordneo. ‘Assim, como veremos nos capftulos seguintes, posigdes ul- tramodernistas, que associam 0 imaperialismo antigo 20 moderno eira absoluta, com todas as suas implicagdes politico- ~econdmicas — colonialismo, procura de mercados, matérias- “primas etc. —-, alternam-se com pontos de vista psicoldgicos (“o imperialismo € a vontade de dominar”) ou sio essencial- mente politicos, negando qualquer motivagao econémica nos _processos de expansdg de cidades-Estados como Atenas ¢ Roma. A critica recente aos ultramodernistas permitiu descartar definitivamente uma associacio imediata entre imperialismo mo- derno e antigo no tocante As suas causas ¢ conseqiiéncias eco- pomicas. Os trabalhos mais recentes, a0 contrério, parece centrar sua atengdo nos fendmenos relativos & esfera do poder, da dominacio politica e da expansio militar, como elementos is do imperialismo greco-romano. Essa importincia dos fatores politicos em sua definigao é ressaltada mesmo por autores que encontram pouca eficdcia no conceito para se entender fendmenos de expansio e do nio na Antigdidade, como Pau! Veyne no caso de Roma. Per- ‘manece, contudo, uma grande indefinigo sobre o sentido exato conferido ao termo, sobre a validade de seu emprego ¢ sobre sts relagées com o imperialismo no mundo capitalista. O mes- ‘mo ocorre quanto as caracteristicas e & especificidade dos pro- cessos de expansao militar e politica no mundo greco-romano fe sua relagiio com a estrutura econdmica das cidades-Estados da Grécia ¢ da Italia. Imperialismo, guerra e expansio ‘Uma definigao recente, particularmente interessante por sua economia e abrangénela, foi proposta por Moses Finley: “um Estado pode set.denominado imperialista se, em qualquer momento, exerceu autoridade sobre outros Estados (ou comu- nidades ou povos), visando a seus préprios fins ¢ vantagens, ‘quaisquer que teniham sido estas.ailtimas’. |(1978, p. 56). Aes fera politica aparece ai como claramente determinante, mas ‘abre-se a possibilidade para motivagdes econdmicas, que 0 pré- prio Finley localizard, essencialmente, na necessidade de pro- ver a cidade expansionista dos meios bésicos de subsisténcia (irojé), acentuando assim 0 caréter importador do imperialis- mo antigo em contraposi¢ao ao moderno. Tal caracterizagao do imperialismo greco-romano, contu- do, por seu proprio cardter geral, é insuficiente para dar conta das varias modalidades nas quais se expressa esse predominio politico — tanto a nivel das lutas internas dentro do Estado expatisionista como em sua relagéo corn os povos subjugados. Sobretudo, nao é capaz de interpretar as profundas difereneas w entre o imperialismo_ateniense no século V.a.C, ¢ 0 romano tal como se manifesta a partir de meados do século III a.C. E necessirio, portanto, ampliar e aprofundar esse'conceito, para que possamos investigar a especificidade do imperialismo greco- -romano € a dindmica de seu desenvolvimento. primeiro lugar, deve-se ressaltar.que toda expansao politico-militar de uma.cidade-Estado antiga é um empreen- letivo, visando A resolugdo de suas contradigdes in- fernas..e_&_obtenco de_beneficios e_vantagens_ para a comunidade que permitam amenizar os conflitos de classes no ia cidadania. O controle eventual do processo por parte de determinado grupo ou classe ou ainda uma distribuigdio de- sigual dos beneficios, agudizando, ao invés de amenizar, os conflitos internos, dependem ca conjuncao de forcas dentro da cidade e no negam seu cardter coletivo. A expansio, em si, nunca ou raramente ¢ posta.em discussao, mas sim a ma- neira de conduzi-ta ou de distribuir seus frutos. A Tuta de classes no centro expansionista tem, portanto, um papel fundamen- tal nas motivacdes ena dindmica do imperialismo antigo. Embora_a guerra seja usa atividade fundamental na cidade-Estado antiga ¢ esteja intimamente relacionada com qualquer fendmeno de expansdo imperialista, nfo se confunde com esta. Tanto em Atenas como em Roma a guerra é uma atividade da qual participam todos os cidados adultos ca- pazes, cujas obrigacOes militares so distribuidas segundo os recursos materiais das diferentes classes de cidadios. Os ri- cos, que podem adquirir um cavalo, participam da cavalaria ou so encarregados de tarefas especiais, como a construgao de barcos de guerra; os que podem adquirir uma armadura, completa ou nao, compdem a infantaria pesada ou ligeira. Os cidadaos abaixo de um determinado minimo censitario, como os thetes atenienses, partieipam como remadores na ma- rinha ow, como os proletarii romanos, estdo isentos do servi 0 militar (até que este se torne voluntério, no final do sé- u culo IL a.C.). Uma tal relacdo entre guerra e cidadania.é.um dos fatores detetminantes no cardter coletivo da expanséo im- perialista da cidade-Rstado antiga. A distribuicdo dos encar~ 205 relaciona-se, por sua vez, com a reparticao dos beneficios advindos do poder imperial e de seu controle politico interno. A.guerra, contudo, é apenas um dos elementos dessa ex- panso, podendo ocorrer fora.de. qualquer quadro propria- mente imperialists. Existiram, sean divida, guerras defensivas, quando uma comunidade enfrentava um ataque externo, co mo.a luta contra os invasores persas na Grécia, em 480.a.C., ou a resisténcia romana A invasdo gaulesa de 386 a.C. Po- diam igualmente ocorrer guerras motivadas por rivalidades regionais, como disputas fronteiricas pelo controle de rotas de gado ou de sal, ou por territérios restritos, mas q Jevavam & submissao politica de um Estado ou comuni por outro mais forte. A guerra, além disso, possula um cara— ter religioso ¢ ritualistico, particularmente acentuado entre os romanos (ius fetiale) ¢ que teve seu papel na representa- cfo ideolégica da expansio imperialista. Este iltimo aspec~ to, todavia, extrapola a andlise dos mecanismos e da din&mica de expanso que pretendemos desenvolver aqui. imperialismo e poder O imperialismo_ antigo, manifesta-se-através do estabe- lecimento de um diferencial de poder, obtido ou.ndo por meio. da aco militar direta — cuja possibilidade consubstancia e assegura esse poder — ¢ que proporciona.um fluxo centripe- to de, hens para a cidade-Estado em expansio. Trata-se, as- sim, sempre darelagda_entre um centro acumulador — 0 centro do poder — ¢ uma periferia submetida e explorada. ‘As categorias de vantagens materiais e imateriais que com- poem tal fluxo, bem como as modalidades de expressao e exer cicio de tal poder, podem variar profundamente no tempo eno espa70. Exemplos sfo.a busca de riquezas-imediatas.¢ unde volume através do sague ¢.da.pithagem, a obten- doe certitérios para o3.cicadios desprovidos.de terra ou ‘p-estzlzelecimento de uma tributacio fixa que proporcion¢ soa renda estavel cidade-Fs:ado.dominante, Incluem-se, cualmente, fatores dizetamente idealgicns, como 0. prest= or aclyindo das conquistas, que.alteram o quadro das forgas politicas na, metrépole. ‘©. poder imperial pode expandir-se por. meio. de.alian- _sas.razoavelmente igualitérias (inas que o so progressivamen- ‘te menos), protetorados, zonas de infludncia etc., até a submissdo total ou destrnigo do adversiio de itgrio. Independentemente da possivel formas de expresso desse poder, permanece um fator de im- portancia fundamental que diferencia essencialmente o.in- _perialismo antigo.do moderna: enquanto este, como vimos, desenvolve formas econdmicas de exploracdo.de-sua perife- ‘sfio,.antes de tudo, ‘pre, espalincdo, exacdo dircta de.tributos, nao apenas garan- tida,_mas,exercida ¢.obtida par meio.da forga.bruta oda ‘ameaca.de seu emprego. Tal fato,carresponde, em certa me- ida, fs formas de exploracio do trabalho na antigitidade cléssica, baseadas no. controle politico. de uma massa traba Thadora dependente. Dai resultam, a nivel da representagao ideolégica, manifestaydes bastante distintas daquelas gera~ das pelo imperialismo moderno. Tais consideragdes nfio nezam.as motivagdes econGrni- cas por detrds da expanstio de uma cidade-Estado, mas res- saltam que as. necessidades econémicas associadas a0. imperialismo antigo eram si isfeitas por instrumentos politi- cos. Apenas em Roma, a partir do século II a.C. desenvolvem- “se mecanismos propriamente econémicos de exploracao da periferia conquistada, mas mesmo assim de forma parcial ¢ subsididria no conjunto de bens e vantagens que compunham 6 fluxo centripeto. 13 Esse quadro geral gue esbocamos permite-nos levantar algumas questdes sobre os processos de expanséo imperialis- taem Atenas e Roma, que ordenardo nossa investigaco nos capitulos subseatientes. Em primeiro lugar, quais so as cau- sas e motivagbes iniciais e de que maneira a conquista se ar- ticula com a estrutura de classes em ambas as cidades. Isso implica analisar as vantagens que o poder conferia, por quem cera exercido no centro imperial e em beneficio ou prejuizo de que grupos. Nas suas relacdes com a periferia, importa determinar os modos de exercicio do poder, as formas de ex- ploragdo e sua evolugao no tempo, a reagio dos povos sub- metidas a0 dominio do centro. No tocante a Roma, 0 desenvolvimento de formas mais diretamente econdmicas de explorago, concomitante com o notével florescimento eco- némico da Itélia nos séculos Ife ] a.C., merecerd uma aten- Jo especial, pelos problemas que coloca & definicao de imperialismo que propusemos. 2 A formacio do império ateniense A Liga de Delos cde DENA o proceso de expansao imperialista de Atenas esta in) jriamente relacionado com a guerra contra os persas ¢ com / ‘a evoluao da democracia ateniense no século V a.C. O fra: ‘casso da invasio persa de 480 a.C., com as vitérias ares ‘| ‘em Salamina e Platéia, motivou a criagdo de uma liga de ci-| ‘dades gregas em 478/7 a.C. que, sob a lideranca de Atenas,| {pretendia continuar a luta centra os persas em seu préprio} “erritério, para libertar as cidades gregas ainda submetidas |e obter presas de guerra que ressarcissem os gregos dos. pred | juizos da invasto. | |) Essa liga de cidades, que seria a base do império ate) snse, nao surgiu, contudo, por um processo de sujei¢ao ou | he dominio. Definia-se, de inicio, como uma alianca militar, V (uma symmakhia), que previa autonomia para seus, -patticic 4 pantes, reservando a Atenas o.comando (hegemonia) das.ope- | ragdes. E dessa maneira que Tucidides se refere ao surgimento ‘liga, ao recompor o discurso que os embaixadores atenien- jes teriam proferido perante a assembléia espartana, no li- po da guerra do Peloponeso: | Y xt \ 15 Este Império (disseram os atenienses), nés ndo 0 devemos a violencia. Simplesmente vocés (espartanos) no quiseram continuar a guerra contra 0 resto das forgas barbaras, © as- sim 08 allados vieram nos procurar, para pedir-nes esponta- neamente que exercéssemos 0 comand (hegemonia) (A guerra do Peloponeso, 1, 75) Dessa forma, 9 poder executive da liga foi conferido.a Iho federal das.cidades. aliadas, no. qual Atenas ti- nha um papel preponderante, mas nao exclusive. A contri- uicdo das cidades aliadas para_o esforgo de guerra daya-se, | na origem, de duas maneiras:}as cidades maiores, come | Quios, Samos, Lesbos ¢ Naxos, participavam com contingen- | tes militares préprios (navios de guerra e soldados) enquan- | ‘ito as cidades de menor porte, que ndo enviayam barcos, | contribufam com o pagamento de um tributo (phoros) para 0 tesoiiro federal. Este.tiltimo era centralizado no templo de 1a ilha de Delos, e.administrado por dez magistra- 08 helenotamiai “ ‘Segundo. Tucidides (1, 96), 0 tributo original montaya. a 460 talentos (equivalentes a 2 760,000 dracmas), embora esse dado seja contestado pela bibliografia contempordnea (veja-se discussdo em RHopes, 1985, p. 7-8). Os magistrados atenienses elaboravam a lista das cidades confederadas ¢ dos tributos pagos, que eram gravadas em lajes de pedra. listas, que chegaram até nés em fragmentos, constituem um dos documentos mais importantes para a reconstituigéo do império ateniense. A lista.mais antiga que conhecemos data de 454 a.C. e relaciona um total de 140. es com bros da, ‘pagando cerca de 490 talentos como tributo. Sob o comando do general ateniense Cimon, a liga cum- © priu duas tarefas em seu perfodo inicialyproceden a elimina ‘edo dos focos de pirataria que infestavam o Egeu, assolando, as pequenas ilhas gregas e prejudicando 0 comércio mariti- ‘mo; além disso“expulsou os persas do mar, combatendo. com 6 aucesta a armada fenicia, na qual se baseava 0 poderio naval persa (batalha do Burimendonte, em 468 a.C.).Ate 462.a.C., ortanto, a liga exerceu uma atividade essencialmente ma- ritima, apoiada na poderosa frota ateniense que Temésto- ~ cles fizera construir para enfrentar a ameaca de invasio per- ga apds Maratona. - ~ Desdeo ), contudo, © peso. econémico e.militar de. ‘Atenas no conjunto das cidades da liga fez.com que se vow -Centrasse em sas mos 0 poder executivo da aliansa.¢.que. ‘Tendesse.a carrear para sios benelicios que.as ages militares. traziam,O. om teoria deveria ser uma alianga igualitaria ~e com a participagdlo espontanea de seus membros, foi aos jpoucos convertendo-se, pela superioridade de Atenas, num sistema de exploragdo.de seus membros ¢ de c “ide riquezas.em Atenas — mantido pela forca militar idades ndo podiam se desligar Jivremente. ese fato manifesta-se claramente j4 em cerca de 470. a.€., quando Naxos, um dos membros mais poderosos-da \ alianca, tentou desligar-se desta, A cidade foi assediads pela © armada da liga € obrigada a reintegrar-se, devendo entregar seus navios de guerra e demolir suas muralhas. A importn- cia do evento na transformagao da alianga militar num im- pério controlado pelos atenienses foi ressaltada por Tucidides (1, 98), seaundo o qual Naxos foi a primeira cidade que Ate- | nas escravizou contra 0 que fora estabelecido. Dessa forma, desde seu inicio a liga maritima comega | aconfigurar-se como um sistema fechado, do qual Atenas | detém 0 comando militar, o poder politico ¢ aue,.sm breve, | passard a considerarcomo fonte de recursos para resolver seus. j problemas intern: Desenvolvimento da liga Certos acontecimentos permitem balizar e determinar evolucdo das relagées entre Atenas e os demais membros da ie & SS nv liga. A partir de 462 a.C.,.a.alianga, sentindo-se.mais. segura. como refluxo.do paderio persa no Egeu, inicia uma politica militar agressiva dirigida. & anexagdo de.territérios que inte: ressavam particularmente a Atenas. F nesse contexto ofensi-i) ‘yo que se insere ‘0 envio de uma poderosa frota 20 Egito (460/54 2.C.) com o objetivo de auxiliar 0 soberano local con- tra o rei persa. Em 454 a.C., contudo, o exército ateniense foi cercado e praticamente aniquilado pelas forcas persas. Es- se desastre custou aos atenienses a vida de milhares de seus cidadios ¢ foi utilizado como justificativa para que se trans- portasse o tesouro federal de Delos para Atenas. Esta, a par- tir de ent&o, passard a utilizar-se desses recursos de forma cada vez mais discriciondria (a comegar pela cobranca de 1/6 do tributo como oferenda 4 sua deusa Atena). . Bm 449/8 2.C. a liga assinou um tratado de paz com rei persa — a chamada Paz de Ciilias — que, 8s fim & hostilidades entre o império oriental e.a alianca grega. Os per- sas continuariam a intervir na politica grega, mas agora ape- nas de forma indireta, financiando os contendores que se enfrentariam na grande guerra do Petoponeso. ‘A Paz de Célias, portanto, retirou da lige a razio.ofi- cial de sua.existéncia. Com a diminuigéo das presas de guer- 1a, 08 tributos arrecadados das cidades-membros passaram aa ser o nico ingresso assegurado do tesouro da liga, do qual 08 atenienses se utilizaram em beneficio préprio, da forma, como veremos no capitulo seguinte. Correspondentemente, diminuiu a autonomia das cidades em relagdo a Atenas. A esta perda de autonomia acompanhou-se um incremento no estabelecimento de clertiquias de atenienses no territétio das cidades participantes da liga e submetidas a seu poder. As. clerdquias consistiam na ocupagio de lotes (kleroi) das me-_ Ihores terras agricolas no territério dos Estados da lige por cidadaos atenienses que nao dispunham de propriedades agré- * rias.na Atica, Aqueles que eram agraciados com tais lotes con- servavam a cidadania ateniense e ndo se integravam ao corpo L 8 } social das cidades em cujo territério se estabeleciam. Consti- tuiam, assim, ao mesmo tempo uma excelente valvula de es- cape para as pressGes sociais em Atenas e um 6nus ofensivo para os aliados. Consolidacao do império ateniense Da Paz de Calias até 0 inicio.da guerra do.Peloponeso, ura imperial ateniense se completou ¢ a antiga alian- tnilitar viu-se transformada num sistema de.exploragdo en- yolvendo uma vasta regido, incluind¢ gregas do Egeu 2.8 cidades da Grécia do leste, além de territérios no conti- nente europeu. A essa transformacdo correspondeu um re- flexo preciso no vocabulrio referente as relagdes entre ‘Natenienses e aliados. O papel de Atenas, antes.descrito.como | de “lideranca’ (em grego, hegemonia), passa agora a ser ex- | presso por uma série de termos indicando uma relacio de po- { dex bem. intensa ¢ definida (arkhé, kratos)..Os aliados, | que precedentemente.eram, symmakhoi (membros, de uma | alianca militar), aparecem agora.nos textos e inscrigbes sim: | ‘plesmente como ‘‘cidades””.ou, de forma mais direta, como, Stiditos (hypekoot) ou_tributdrios (hypoteleis). <* Nessa mesma época desaparece.o,conselho-federal, que | Agia como drgdo executivo da liga, e o poder decisério é to: | talmente transferido para a assembléia de Atenas, cujo povo torna-se, dessa forma, senhor absoluto da alianca, respon- 1 savel pela arrecadacao e gestdo dos tributos ¢ pela determi- | nagao de seu montante. Para uma.melhor administragao do territério, agora claramente subjugado a Atenas, as cidades sdo repartidas em cinco distritos, em 433 a.C.: JOnia, Céria, Cicladas, Tricia e Bésforc a Com _202 membros, a liga dominada por Atenas atinge entao seu. nimero maximo. Em 444 a,C. 0 tesouro.federal € completamente absorvido pelo tesouro de Atenas, que » constitu‘a o fundo municipal da cidade. Essa fusio legitimou € acentuou 9 uso disericionario do tributo por parte dos ate~ 0s aliados. Também a marinha foi unificada, tornando-se totalmente ateniense. Isto assegurou 0 monopélio io poder para sua cidade, representando uin sério golpe para.as cida- des maiores da liga que, por enviarem contingentes militares e nfo estarem sujeitas ao pagamento de tributo, mantinham ainda uma certa autonomia. Esta tendew'a desaparecer com- pletamente, 0 que em parte foi compensado por uma queda | no montante do tributo cobrado (430 talentos, em 446 a.C.). | Apés 450 a.C., os eliados sdo obrigados a jurar fideli dade e obediéncia ao povo ateniense, expondo a verdadeira esséncia da liga e rompendo com as representacdes ideol6gi- cas que @ queriam ainda como uma alianca de interesse mt tuo, Iustrativo, a esse respeito, é 0 juramento prestado pelos caleidios, em 446 a.C.: Nao me separarei do povo ateniense por nenfum artificlo ou manobra, nem em palavras, nem em atos, e nde obedece- rel a quem se separe dele. Se alguém me incentivar a defec- 40, eu 0 denunciarei aos atentonses. Pagarei aos atenienses © tributo que me for fixado e procurarel ser um aliado bom e tiel. Auxiliarei sempre 0 povo de Atenas, se alguém atacélo, @ obedecerei ao demos de Atenas, Cnscriptiones graecae, 1, 39) A partir de ent4o podemos falar da existéncia de um sis- tema imperialista de exploracdo centrado.em Atenas, segun- do a definicdo esbogada no primeiro capitulo. Tal sistema, | que propicia um fluxo.constante de bens para a metrépole, | € fortalecido por uma série de medidas quie.garantem.o pre- dominio politico de Atenas:'medidas militares, como 0 esta belecimento de guarnicdes em cidades da liga, comandacdlas { por um frurarca; medidas judicidrias, que asseguram o exe cicio formal do poder, como o envio de magistrados atenien- | » ses (episkopol) para algumas vidades, mesmo em grandes cen- tr08, como Samos ¢ Mitilene, ou a eleigdio de Atenas coino foro privilegiado para o julgamento de determinados litigios. ‘Atenas gerantia assim dois instrumentos essenciais pa- ciclo e manutencdo do poder:’o controle dos proce- mentos formais (legais) e,9 dominio dos mecanismos de coucio direva, empregados quando os primeiros fossem des- Prespeitados. A esses iisliuinentos foram acrescentadas me- didas_de_cardter_econdmico/ideolégico, das quais a.miais famosa ¢ importante €, sem citvida, o deereto de cerca de 420 a.C., que obrigava os aliadcs a usarem os pesos, medidas ¢ rae ‘moedas atenienses. Além das suas implicagdes econdmicas,\ tnuito debalidas, esse decreto possufa um claro cardter ideo- ogico, se pensarmos que a cunhagem de moeda prdpria era ‘um dos elementos fundamentais da autonomia das cidades gregas, um instrumento privilegiado de sua autodefinigéo no plano ideoldgico ¢ de sua independéncia politica. Tambémi o pagamento do tributo revestia-se de elemen- tos ideoldgicos tendentes a ressaltar 0 predominio de Atenas ¢ a submissdo dos aliados. Reavaliado a cada quatro anos, © tributo era trazido a Atenas por representantes dos Esta~ dos stiditos e entregue durante as festividades das Grandes Dionisiacas. Além disso, todos estavam obrigados a enviar | oferendas para Atena, & época das Panatenaicas. Assim, a0 | -mesmo tempo que se celebravam ritos religiosos ¢ a comu- nhao do corpo de cidadiios atenienses, ressaltava-se sua im- portincia e poder no cortejo dos tributos extraidos de seu império. ~~ Dessa forma, em cerca de quarenta anos os atenienses formaram um vasto império, que apenas se desmoronaria apés a derrota na guerra do Peloponeso, em 404 a.C. A ques- t&o que se coloca diante de nés, agora, ¢ a qual procurare- mos responder no capitulo seguinte, é a quem beneficiava, em Atenas, o exercicio do poder imperial e que classes ou gru- pos sociais eram responsive's por sua administragao. Trata- a -se, em suma, de investigar como as lutas sociais dentro da propria cidade determinaram os ritmos ¢ a evolugao do pro- cesso expansionista dentro do quadro conceitusl exposto no primeiro capitulo. Além disso, como veremos, as telagées en- tre Atenas e seus aliados estiveram longe de ser univocas ¢ unidirecionais, mas sofreram de forma acentuada a influén- cia da luta de classes no interior das prdprias cidades do im- pério, colocando este como um momento fundamental da profunda crise social que sacudiu os Estados gregos no sécu- lo Vac. 3 O imperialismo ateniense: natureza, motivacGes, conflitos A natureza da expansiio de Atenas Um dos temas centrais no estudo do iniperialismo ate- niense no século V a.C. a questdo dos mecanismos econd- micos subjacentes a0_processo de expansdo,e dominagao de autros Estados por Atenas. A resposta a esse problema de- pende de como se defina a natureza das relagdes econdmicas no Mundo Antigo: seja numa 6tica modernizante, aproximan- do os fenémenos econdmicos da Antigilidade Aqueles obser- véveis no capitalismo atual,’seja ressaltando-se a especifi- cidade das formas de organizagiio econdmica do Mundo An- tigo, utilize-se ou ndo os conceitos de modo de produco an- tigo e escravista. Para os defensores da primeira abordagem — autores como G. Glotz, G. Grundy e J. R. Bonner —, os mecanis- ‘mos € motivagdes por detrés do imperialismo ateniense se- 1m muito semelhantes aos que levaram & expanso européia, com 0 advento do capitalismo, J. R. Bonner via na concen- tragdo do comércio no Pireu, na supressao da pirataria e nas “eis de navegacao” as principais caracteristicas da politica imperial ateniense: _ 2B Ha indiclos de que Atenas regulava 0 comércio das cida- des subordinadas através de medidas semelhantes as leis de navegacao inglesas do século XVIIl,visando eantralizar 0 co: mércio colonial na metrépole. (The commercial policy of imperial sthens. Classical Philology, 18: 193-201, 1923) Essa perspectiva, que via 0 imperialismo ateniense co- mo fundamentalmente comercial, visando ao controle das tro- cas comerciais no Bgeu em beneficio prdprio, baseava-se numa leitura acritica de documentos, como 0 decreto mone- trio de cerca de 420 a.C., mencionado no capitulo anterior, ou em alguns didlogos de As vespas, de Aristéfanes. Um texto do Pseudo-Xenofonte, em particular, é utilizado para de- monstrar o tipo de monopdlio comercial exercido por Atenas: Apenas os atenienses so capazes de possulr as riquezas dos gregos e dos barbaros. Pois, se uma cidade é rica em ma- deiras préprias para a construgdo de navios, para onde pode- Tia vendé-las se nao se entender com o povo, que é senhor dos mares? Se é rica em ferro, cobre ou linho, a quem vendé-ios 8e ndo se entende com 0 povo, que é senhor dos mares? Ora, tals produtos sao aqueles que me servem para construir meus navios. De uma regio obtenho a madeira, de outra o ferto, de uma terceira 0 cobre, deste o linho, daquele a cera. Acrescen: temos que, se nossos aliados quiserem exportar esses produ- tos alhures, ou sero impedidos por nés, ou nao Irdo por mar. Quanto a mim, que sou ateniense, sem qualquer esforgo faco vir do continente todos esses produtos por via maritima, (A repuiblica dos atenienses, 1, 11-2) Uma leitura atenta do texto, contudo, nao autoriza a tese da natureza mercantil do imperialismo ateniense. Como observa a critica moderna, as informacdes transmitidas pelo Pseudo-Xenofonte ndo se referem aos Iucros comerciais ob- tidos pelo dominio maritimo, nao mencionam a venda de pro: dutos atenienses sob qualquer monopdlio, nem tampouco a aquisicao de bens obtidos a precos aviltadas e, talvez, 0 fato mais importante, no restringem aos comerciantes atenien- Yeas a responsabilidade pela circulacdo de tais bens. Trata-se, Ina verdads, de garantir para a metrépole, através do fluxo | contripeto assegurado pelo império, o suprimento de deter- } minados bens estratégicos, no caso aqueles destinados & cons- | tructe de barcos dé guerra, a prépria base do poder ateniense. ("A partir dessas consideracées, a eritica moderna acen- tua o carter importador do imperialismo ateniense. Eu ter- {mos econdmicos globais, is:o é, sem tratar da distribuigto {nferna na metrépote, o império de Atenas estava intimamente iigado & obtenciio de meios basicos de subsisténcia, em espe- { cial de trigo, cuja produgdo na prépria Atica era insuficiente | para alimentar a populacdo urbana. O Estado imperialista, ) dessa forma, ndo buscava mereados para exportago ou fon- tes de matérias-primas e de forga de trabalho a baixo custo | para a sua indistria, mas p-ocurava garantir recursos basi- | cos para sua existéncia e proporcionar um suprimento de bens | de todo tipo — que no caso ateniense se revestia da forma de um tributo em metal —, um fluxo centripeto 86 possivel pelo diferencial de poder estabelecido entre 0 centro ea peri- feria do império. f Aceitando-se essa linha de raciocinio, tampouco pode- se concordar com aqueles autores que, numa visto diame- tralmente oposta, negam qualquer objetivo propriamente eco n6mico 20 imperialismo ateniense, mesmo que reconhecam conseqiiéncias econdmicas, de resto aleatorias, no exercicio do poder. E, Will, por exemplo, afirma que Nossos textes, repetimas, ndo autorizam a afirmagao de que © Imperialismo ate, ‘comportasse, em suas motivagdes eem seu exerefelo, qualquer oolsa que pudesse passar per uma, politica econdmiva, ou seja, consclentemente destinada a as- Seguraro equiliaria © a prasparidade material da comunidade atenianse. (Le monde grec et !’Oriente: Le V sitce. Paris, Hachette, 1972. p. 200) 25 De uma tal perspectiva, a expanséo imperialista s6 po- de ser entendida como resultado de uma “‘vontade de domi: nac&o”, como a expresso de uma espécie de “‘pulsdo de poder” inerente ao ser humano (posi¢do que E. Will condi- vide, por exemplo, com autores como P. Veyne, que insere essa ‘“vontade de dominago” num contexto existencialista). ‘Além de se basear em pressupostos de psicologia histérica que, para dizer 0 minimo, nao sio dbvios e necessitariam de com- provacio, essa visio do imperialismo ateniense toma como verdade a representacdo ideoldgica que os prdprios atenien- ses tinham de seu poder. Encontramo-la:em diversos textos da época e, de forma mais elaborada, 0 debate entre atenien- ses e melianos que antecedeu a destruigiio de Melos, em 415 a.C., tal como reescrito por Tucidides (sobre a concepgao de poder em Tucidides, ver Fkenck, A. Thucydides and the po- wer syndrome. Greece & Rome, Oxford, 27: 22-30, 1980): Atenienses — Também nés pensamos poder contar com 0 favor dos deuses. Nem nossas pretensbes, nem nossa con- uta estéo em contradigdo com as idéias religiosas dos ho- mens ou com 08 principios nos quais se insplram em suas. relag6es mituas, Cremos, tendo em vista o que se pode supor ‘com relagdo aos deuses © o que se sabe efetivamente dos ho- ‘mens, que amibos obedecem a uma lei da natureza que os Im: pele a dominar os outros sempre que forem os mais fortes. N&O fomos nds que fizemos tal lei e tampouco fomos os primeiros aaplicé-la apos sou estabelecimento, Outros transmitiram-na para nés e a obedecemos, come fardo todos aqueles que nos sucederem. Sabemos que mesmo vocés ou qualquer outro povo 1ndo agirlam de forma diferente se dispusessem de um poder comparavel 20 nosso. (V, 8, 105) O nivel de representacao ideoldgica, de resto um elemen- to fundamental do préprio imperialismo antigo, nao deve, contudo, ser confundido com as bases concretas de funcio- namento do sistema posto em acdo pela expansao ateniense. PARICHIUTMG o 26 Mesmo que se aceite uma distin¢do preliminar entre motiva- Ges, freqiientemente envolvidas em complexos sistemas de representagio 20 nivel das mentalidades, e mecanismos efe- j\tivos de uso do poder, um exame acurado das fontes demons- ira que, sem ter um cardter mercantil de cunho moderno, 0 imperialismo ateniense estava profundamente ligado a fato- res econdmicos. Estes, por sua vez, diziam respeito tanto ao abastecimento da cidade, como vimos no texto do Pscudo- -Xenofonte, quanto ao aterdimento de interesses de classe pa propria Atenas, Devemos, portanto, tratar com maior detalhe os pro- blemas envolvidos na distribuicdo interna dos beneficios do imperialismo e no controle de processo de expansao pelos eru- Pos em luta dentro de Atengs. Se o império visava & obten- so de recursos que assegurassem a subsisténcia e 0 predominio do “povo-rei"” — utilizando uma expresstio de M. Austin e P. Vidal-Naquet —, 0 comando do processo de expansiio ¢ a diviséo dos ganhos dai derivados nao se distri- buia de maneira uniforme pelo demos ateniense como um to- do. Assim, de acordo com o perfodo considerado, con- centrou-se em determinadas classes e grupos sociais que exer- ceram uma certa hegemonia no controle do império. H ne- cessdrio, dessa forma, investigar por quem e para quem se administrava 0 império de Atenas no século V. a.C. Beneficios do império: controle e distribuicdo A resposta a essa primeira questo nao é univoca, nem tampouco facil de ser elaboreda, dada a fluidez prépria dos fenémenos politicos, que sao processos de luta nos quais, a periodos de equilfbrio entre os grupos em conflito, seguem- -se constantemente momentos de choque, em que alguns ten- tam ou conseguem sobrepor-se aos demais. Como se sabe, 27 apés a reforma de Bfialtes, em 462 a.C., o rebaixamento do} “censo minimo ¢ a introdugao da mistoforia, a assembléia de} Atenas ¢ 0 conselho dos quinhentos tornaram-se os princi- | pais drgdos decisdrios no governo da cidade. Tal fato asse- gurava a possibilidade de uma ampla participagto das! camadas populares (dos pobres) no processo politico, sendo| irrelevante, no caso, avaliar o interesse ¢ a efetiva atuaclo} do povo na romede de decisoes na assembiéia, que, conti, do, deveria ser grande (cf. Fintey, 1985, p. 92). 4 Contudo, apesar do poder efetivo detido pela assembléia/ e pelo demos, observamos que a conducio executiva e o con- trole do proceso de expansdo permaneceram, por muito tem-| po, nas mos dos chefes militares (strategoi), tinicos ma- gistrados com direito & reeleicdo. Tais magistrados, além de} controlarem diretamente as relagdes com os aliados, exerce- | ram uma grande influéncia nas decisbes da assembléia até meados da guerra do Peloponeso. Isio nao significa que a assembléia cedesse por completo seu poder de deciso, mas ‘que compartilhava esse poder com grupos oriundos da aris tocracia @ que ocupayam postos na estratégia, © que se observa, com a evolucdo politica interna em| meadlos do século V a.C., é uma progressiva passagem do con- trole executivo do império da atistocracia mais conservadora) para uma aristocracia moderada, passagem espelhada no con-| flito entre figuras como Péricles ¢ Cimon ou Tucidides. Tal} conflito, contudo, como ressalta Finley, niio se referia & exis- tncia do império como tal (Cimon, lider dos conservadores, comandou o ataque a itha de Samos, que pretendera uma de- feeedo), mas & distribuicdo dos beneficios internamente e aos desequilibrios que tais beneficios poderiam acarretar na repar- tigdo do poder. Plutarco nos da uma idéia desses contlitos: \ I ( | = Isto, mais do que qualquer outra coisa, atralu o ddic dos adversarios de Péricles, que o caluniavam nas reunies pabli- cas, exclamando que 0 povo havia adquirido mau nome @ f2- ‘ma, por haver transportado o tesouro federal de Delos para Atenas (..). Pérloles explicava aos atenienses que estes no tinham que dar conta desse dinhelro aos aliados, porque com- batiam em lugar daquates e mantinham os bérbaros 4 distan- cla (..). Além disso, era justo que a cidade, estando provida as coisas necessérias para a guerra, convertesse o restante em bens materials, que the trariam gléria etema (..) € que pos- sib‘literiam manter com pagamentos quase toda a cidade, que so embelezeria e nutriria a si propria, (Vida de Périctes, 12) Outro eco desse conflito encontramos na fonte oligir- quica contempordnea do Pseado-Xenofonte, em que este afi ma, no sem ironia: Diria, de inicio, que é justo que o povo, em Atenas, goze de mais vantagens que os ricos ¢ bem nascidos, pols é 0 povo gue sobe nos navios e faz 0 poderio da cidade (... Ao povo parece melhor que cada ateniense gaze individuaimente dos bens dos aliados, ao Invéa de permitir que estes prosperem. “2 Na verdade, a oposicao dos grupos conservadores aris: tocrdticos a forma de condlucio do império ateniense tornou- -se significativa apenas no curso da guerra do Peloponeso, | cm cuja origem muitos atenienses colocavam a prépria ex- } pansao de Atenas (cf. Tucinines, I, 23), e isto por duas ra- | zOes principais. Em primeiro lugar, a estratégia militar, seguida por Péricles e seus sucessores, de combater no mar c abandonar 0 territ6rio agricola as devastagdes do inimigo fazia com que os encargos da guerra recafssem de forma muito mais intensa nos proprietérios rurais e, portanto, entre os aris- tocratas, do que na populagas urbana. Embora boa parte da | populacdo fosse camponesa, os ricos tinkam certamente mais a perder com a devastacdo de seus campos, que dificilmente ! seria compensada pelas distribuigdes de alimentos, salérios ou ofertas de empregos na cidade, enquanto os pobres ex- pulsos do campo poderiam encontrar ai outros meios de sub- | sisténcia (ef. Aristérezes, Constituicdo de Atenas, 24). » outro fator envolvido na oposi¢ao dos grupos cor} servadores aristocriiticos é emine.atemente politico. Como rest salta 0 texto do Psetdo-Xenofonte, citado acima, a crescente imporidncia da maricha, tripulada pela populaefo mais po} bre, no conjunto da forge militar ateniense, tendia a dese! guilibrar a balanga interna do poder etn Atenas em favor das camadas mais pobres de cidaddios. Tal fato é observavel na, ascensio de o1adores como Cleon, Hyperbolo ou Cleofei, personagens ligados ao comércio e a0 artesanato, que supian taro a influéncia politica da aristocracia moderada durante a guerra do Peloponeso. Algumas comédias de Arist6faneS; como As vespas, Zo uma demonstracao da aversao e des- prezo que a aristocracia votava a tais figuras. | Os conilitos politicos acentuaram-se nos trés iltimos lus: tros do século, a medida que os insucessos da politica exter- na ateniense encorajavam os aristocratas a inverter a dis- ttibuigdo interna do poder e restituir o que, segundo a elabo- rapdo ideoldgica da época, denominavam “‘constituigo an- cestral” (pdirios politeia). De tais lutas resultaram dois golpés de Estado aristocraticos, em 411 ¢ 404 a.C., que visavam abo- lir a democracia ¢ reduzir 0 circulo do poder a um nimero! restrito de cidadaos. oy O golpe de 404 a.C, ocorreu eps a queda do império atenjense e com 0 concurso do exército espartano, mas é sig- nificativo que os oligarcas que tomaram o poder em 411 a.C. € aboliram a constituicZo de Clistenes, ndo propusessem 0 fim do império ea libertagtio dos aliados, mas antes tenham lutado por manté-lo intacto, recusando uma proposta de paz espartana em 410 a.C, Igualmente significativo é 0 fato de a reagdo 40 golpe ter partido da esquadra ateniense sediada em Samos, cujos marinheiros se recusaram a aceitar a nova situacdo politica. Os oligarcas em Atenas, divididos entre mo- derados ¢ radicais, acabaram por recuar ¢ o sistema politico anterior foi recomposto. Fa J” Aoposicdo aristocrética ao imperialismo, portanto, nun- [ea se dirigiu contra sua exist&ncia e, sim, contra o poder po- {iitico interno que dele obtiniiam 0 demos e as camadas pobres [da populacdo. O controle desse poder permitia a0 demos dlis- jtribuir os encargos da guerra e os beneficios do imp. [forma desigual, desfavorecendo os mais ricos. Isso ndo significa, contudo, que os cidados pobres fos- sem 03 tinicos beneficidrios da posicdo duiistante de Atenas, como tampouco dispunham do poder politica total, como vi. mos. A repartica0, tanto do poder como dos beneficios ad- vindos de seu exercicio, dependia dos equilibrios desequilibrios sucessivos entre os varios grupos nas lutas in- ternas em Atenas, Devemos, portanto, analisar com maior detalhe quais os frutos geracos pelo império ateniense e a que camadas da populago beneficiavam. Os beneficios do império e sua distribuicaéo Podemos enumerar algumas vantagens bem gerais rela- ivas @ estabilidade politica de Atenas ¢ A auséncia de crises sociais profundas (staseis) curante a exist&ncia do impé | paz social interna, manutencdio do regime democrético e av- {Seacia de tirania, eliminacao do perigo persa, tio premente Os anos que antecederam a liga. Em termos mais concretos, | mas ainda beneficiando a populagdo em seu conjunto, so jde grande importancia o suprimento de trigo garantido, pro- jveniente em grande parte do mar Negro, cujo acesso os ate- {nienses controlavam no Helesponto, e a auséncia de tributa- { so interna (eisfora), abolida para todas as classes em 427 a.C. “Os ingressos do império, contudo, que amontavam a cer- ca de 60% do total de recursos do Estado ateniense (de acor- ‘V'do com R. Meiggs), propiciaram a criacdo de formas de redistribui¢go que visavam especificamente assegurar a par- at ticipagdo politica dos mais pobres. Entre essas formas destaca:, -se a mistoforia, instituida por Péricles, que significava o pa-| gamento pelo exercicio de certas atividades ptiblicas, na Bu-| 1, nos tribunais ow no exército i Segundo Finley, o soldo pago aos marinheiros era um: outro recurso importante na redistribuigZo. Assim, Atenas, dispunha de trezentas trirremes, das quais.cem em atividade | permanente, o que representava a manutengio de cerea de vinte mil cidadaos com um pagamento que se elevou de 2/3 | Gbulos antes da guerra do Peloponeso até um dracma diario no seu decorrer. A atividade de remador constituia-se, por- tanto, em um verdadeiro oficio, garantindo a subsisténcia de grande mimero de cidados pobres. No mesmo sentido devemos considerar a participagdo nas grandes obras ptiblicas executadas 4 época de Péricles em / Atenas, entre as quais se destacam os Arsenais e depésitos | do Pireu, 0 erauimento de um terceiro muro ligando a cida- de ao porto e as construcées realizadas na Acrépole, como © Parthenon e o Propileu. Segundo Plutarct (Périctos}, quorendo que o pove que ndo se ocupava do exér- cito tivesse também ele parte do dinhelro piblico, nao atra- vés do écio e da preguiga, mas pela trabalho, propés 20 povo ‘9 empreendimento de grandes construgées 8 projetou traba- thos envolvendo varias artes e longos periodos de tempo, pa ra que os que permanecessem em Atenas tivessem, no menos do que os marinhsiros, sentinelas e soldados, um pretexto para, obter seu quinhao da riqueza publica. (Wide de Pericles, 12) A execugdo de tais trabalhos, contudo, nao era pri gio dos cidadaos atenienses, pois deles podiam participar, co- mo comprovam as inscrigdes do Erkhteion (cf. Jnscriptiones} graecae, F, 374), também metecos (estrangeiros domicili dos em Atenas) e escravos. Neste tiltimo caso, o sakirio r bido (por volta de um draema diério) deveria permanecer, em grande parte, nas méos dos respectivos proprietérios. *¢ os trabalhos piblicos efetivamente constitufam uma ‘forma ode redrbusto de renda, ndo é necessério que os ob- Jetivos por trds de sua execucdo se restringissem & mesma (co- mo poderfamos supor pelo texto de Plutarco). No devemos juecer a importancia ideoldgica de que se revestia o embe- Iezamento urbano de Atenas, exaltando e magnificando seu poder entre os povos subjugados e em toda a Grécia, difun- i @ admiracao e, assim, de carta farma, contri buindo para a propria manutencao do diferencial de poder que o tornara possfvel e do qual era um sinal visivel. 7 Aseleriquias constitufam-se, provavelmente, na m { vantagem advinda do impétio para os cidadaos pobres, rece- "| bendo entre oito e dez mil atenienses sem terra. Os lotes dis- \tribuidos, no valor de duzentos dracmas, permitiam a clevacio de categoria entre as classes censitarias soloni: representando uma répida ascensdo econdmica e social paca ios. Essa distribuicdo das terras dos aliados (Les- ior os bene} bos, por exemplo, recebew 2 700 colonos) funéionou como uma vilvula de escape no interior do corpo social ateniense, permitindo aliviar a pressdo dos cidadaos sem terra (que, con- tudo, em 404 a.C. ainda amontayam a cinco mil) e minimi- |2ar 0s efeitos da devastago da guerra entre a popul pobre, Aferir as vantagens obtidas diretamente pelos ricos sem diivida, mais dificil, o que nao significa que a eles esti- } vessem reservados apenas os encargos do império. Algum: | dessas vantagens sdo de ordem ideolégica, derivadas do pres- | tigio advindo do comando militar, em geral reservado aos aris- \tocratas. Tucidides enumera, em varias passagens, como 0 texercicio do império conferia aos aristocratas gldria, honra, splendor, renome ou a recordagio de seu feitos. A atribui- [co de tais qualificativos é de grande importancia numa so- {ciedade em que o prestigio individual tem um papel fun- damental na organizaco das relagdes sociais e politicas, Isso se observa, igualmen‘e, no exercicio das liturgias, ou o mais 3 seja, no pagamento de atividades piiblicas como a coregia (no, teatro) ou a equipagem de uma trirreme, que conferiam pres? tigio e influéncia aos cidados mais ricos que delas se encare regavam. t Os beneficios materiais so menos claros, mas de for- ma alguma ausentes. Ha uma passagem em Tucidides, de di- ficil interpretagdo, na qual Frinico, um aristocrata moderado, opde-se, em 412 a.C., & volta de Alcibiades e ao estabeleci- mento de uma oligarquia nos seguintes termos: Além disso (dizia Frinico) acreditava-se entre os allados que tum governo oligarquiee (em Atenas) ndo Jes criaria menos di ficuldades que o democratico, pois era por instigagao dos r- cos 8 sob sua presso que @ democracia cometia seus desinandos, dos quais 0s ricos eram os principais beneficiérios. (vill, 48) Mas beneficidtios de qué? Ou seria apenas uma imagem retdrica que Tucidides empresta a Frinico para ressaltar a in- cousisténcia dos golpistas de 411 a.C.? Pesquisas recentes (cf. Gautier, 1973) permitem entrever ao menos uma das pos- siveis vantagens que os aristocrats retiravam do poder im- perial de Atenas: a posse de terras nos territérios aliados fora das cleriquias. Em O banquete, de Xenofonte, cujo didlogo se passa em 422 a.C., hé uma mengdo a tais propriedades, ‘quando Cérmides, um rico ateniense que participaria do golpe de 406 a.C., afirma: ‘Agora que fui privado das proprieda- des que possuia fora das fronteiras (da Atica) (...)”” (IV. 30). ‘Um outro documento significativo a esse respeito so as estelas de confiscagio dos bens dos hermocdpidas, que da- tam de 415/13 a.C. Em 416 a.C., as vésperas da grande ex- pedicao a Sicilia, que marcaria uma reviravolta no poderio ateniense, apareceram mutiladas as estituas de Hermes que ornavam as ruas da cidade, O sacrilégio gerou uma grande comogdo na cidade ¢ 0 feito foi atribuido aos grupos aristo- craticos como parte de um plano para subverter o regime 4 democratico, Iniciou-se uma grande persegui¢do aos susp tos, que em sua maior rarte situavam-se entre os cidadaos mais ricos, como o famoso Alcibiades, que comandava a expedigio & Sicilia e que, ao saber das suspeitas que pe- savam sobre si, refugiou-se no Peloponeso. Os condenados tiveram seus bens confiscados, ¢ a relacdo desses bens foi inscrita em pedra e exposta, Nessa relacdo podemos iden- fificar grandes proprietarios de teiias em Atenas, mas que ossuiam, igualmente, propriedades no territério de regides j submetidas, como Thases, Eubéia, e Abidos. Essa posse i de terras em territérios estrangeiros s6 pode ser explicada pelo | exercicio do poder discricigndrio conferido pelo império, que | permitia romper as fortes barreiras existentes na época para } a aquisigao de propriedades Por nao-cidadaos, Trata-se, por- + tanto, de um beneficio material direto, e provavelmente nao / oficial, usufrufdo pelos aristocratas através do império ate- niense. {— __ Das consideracées expostas acima podemos concluir que | © imperialismo ateniense, em termos de distribuigdo interna | do poder e de seus beneficios, constituia-se num fenémeno \ complexo e dindmico. A paz social de que go#0u Atenas du- Tante a existéncia do império, apenas abalada pelo golpe de 411 a.C. — que no entanto foi incruento ¢ esgotou-se sozi- nho —, nao deve, Portanto, ser considerada como um dos ppobietivos conscientes da expanso, mas como um de seus re- | Siltados. O poder e as vantagens advindas do império nao [foram objeto de concdrdia entre as classes e, sim, de um acir- rado conflito por seu controle e distribuicdo..O que se pode | considerar é que a grande quantidade de tributos arrecada. { dos € um relativo equilfbrio do poder na metrépole permiti- fam o usufruto geral do império, de forma a minimizar a jintensidade dos conflitos, na medida em que se lutava para | administrar ndo.a.escassez, mas a abundancia. Atenas e os Estados siditos ‘Tampouco as relagdes entre Atenas e 0s aliatos foram univocas. Ao contratio, muitas vezes 0 jugo ateniense foi re-, cebido como um fator de libertago por determinados gru- pos dentro das cidades submetidas (sobre estas questdes, veja-se Ropes, 1985, p. 36-8. Para entender essa aparente contradi¢do € precisu levar ems conta que as cidades eregas} no século V a.C.., foram sacudidas por violentos choques in ternos entre oligarcas e democratas. Tucidides, comentando! 0s distiirbios em Cércira, em 428 a.C., trata longamente das| Iutas sociais do perfodo ! Em sequida, as convuls6es politicas atingiram, por assim dizer, aotalidade do mundo grag. Em todas as clades ovar reram choques entre os chefes demecratas e ollgarcas, os prl- meiros querendo chamar os atenienses e os outros os !acodemdnios(.) uma vex em guerra, cada uma das parts po dla contar com uma aanga externa pare abate seu nig e aumentar seu poder, @ aqueles que desejavam uma revolu- 0 tlveram todas as facilidades para provocar uma Interven: 40 externa (..). Assim, de cidade em cidade @ guerra civil © estendia suas devastagées. I, 82) Dessa forma, os grupos democratas ¢ a populacdo po- bre tendiam a apoiar a associaco com Atenas, mesmo que isso significasse sua submissao ¢ o pagamento de um tributo (que, de resto, recairia com maior intensidade sobre os ricos). Tal foi o caso de Samos, Mitilene, Céreira, Argos e muitas. outras cidades nas quais os demoeratas apoiaram — ¢ foram sustentados — os atenienses. Como afirma o Pscudo- -Xenofonte: (..) 80 08 ricos as camadas aristocraticas prevalecerem nas cidades (do império}, o dominio ateniense terd curta existén- cla, Esta é a razdo pela qual os atenienses privam os homens honestos de seus direitos civis, confiscam seus hens, exilam- -nos ou matam, enquanto elevam as camadas mais pobres, a, 15) Tais relacdes, contudo, ndo eram tio simples. As cida- | des que, sob influéneia dos oligarcas, se rebelavam contra Ate- | nes, cortinm o risco de ser completamente destruidas e de ter } seus Lcbitantes mortos ou escravizados, independente de se- fem ricos ou pobres, deiocratas ou oligarcas. Foi de uma ial Sorte que Mitilene escapou, em 427 a.C., apés longos de bates na assembléia ateniense, nos quais as forcas mais de- mocrdticas, capitaneadas por Cleon, eram precisamente as que pediam a morte tanto de democratas como de oligarcas, Jé os habitantes de Melos, governados por uma oligarquia, € portanto sem poder decisério quanto as relacdes de sua ci- Gade com Atenas, foram! massacrados e escravizados. [> Por tras de tais massacres, ou de sua proposigiio, pode- {mos entrever razdies ideolégicas — implantar o terror entre 08 dissidentes — e motivardes econdmicas, como a ocupa- | cdo das terras deixadas vagas pelos habitantes mortos (como efetivamente ocorreu em Melos e, mesmo sem o massacre da populacao, em Mitilene). | Oimperialismo ateniense do século V a.C. fornece-nos, jportan ito, um modelo para compreendermos os complexos ¢ \fregiientemente contraditorios fatores politicos ¢ econémi- {0s envolvidos na expanséo imperial na Antigitidade. Como vimos, 0 estudo da dominagao imperialista ndo pode se re- ssumir &s relagdes externas, politicas/econdmicas entre a me- trépole e sua periferia, mas deve se voltar para o estudo da utilizaeio desse poder no interior do préprio centro imperial. Por outro lado, se 0 dominio de Atenas freqiientemente sig- nificou alteracdes de regime politico nas regides submetidas, jamais interviu ao nivel de suas estruturas produtivas, que \permaneceram inalteradas em relacko A época anterior. ‘Sobrepondo-se as estruturas locais sém modified-las, 0 impe- 37 rialismo ateniense projetava-se como uma superestrutura de poder que arrecadava tributos, concentrando-os no centro im} perial, sem proceder a uma explorago econdmica que inte} grasse essas regides ao seu priprio sistema produtivo.) Portanto, do ponto de vista dos povos subjugados, e com ex-\ ceco das clerdquias (que na verdade constituiam enclaves), adominacao ateniense sempre foi um fator externo cuja con- cretizagio, em termes cconémicos, dava-se apenias por oca do pagamento do tributo anual. ‘Como veremos nos capitulos seguintes, 0 imperialismo romano, mesmo possuindo muitos pontos de contato com 0 modelo ateniense, apresenta caracteristicas especificas que 0 destacam do conjunto dos processos de dominacdo entre sis- temas politicos na Antigiiidade, 4. O imperialismo romano: natureza, fases Importancia e si ignificado sta em Roma O desenvolvimento da expansao imperial apresenta caracteristicas que 0 diferenciam profundamente Go imperialismo ateriense, em termos das origens ¢ conse- tiléneias da expansfo, de seus ritmos e periodizasio. Mas, acima de tudo, a expanso romana é um f dduracdo, que se estende da monarquia etrusca, nos S ‘VIL-VLa.C., até um momento imprecisdvel no Baixo Iny {fio, quando a distinglo centro—periferia muda de nafureza. ‘Trata-se, portanto, ce quase um milenio deexpansao militar ‘ede dominio de outros Estados © povos por parte de Roma. No periodo que se estende de $09 a.C., data tradi ional «da derrubada da monarquia,.até 0 principado de Augusto, “Roma esteve constantemente em guetia, Desse estado de guer- muna 0 ritual ligado ao templo de Ja- cujas Fa permanente ¢ tester no, divindade propiciatéria das partidas e retornos, © portas se abriam ritualmente ao inicio de cada guerra. Do- pante todo o perfodo republicano, tais portas se fecharam ape ‘has uma vez, em 202 a.C.s para serem reabertas logo em seguida, quando Roma vencen a segunda guerra punica Es ge estado de guerra constante exigiu, uma mobilizagio popt- 3» ee lar sem precedentes na histéria das cidades antigas, tanto na_ freqiiéncia do chamado as armas quanto na duracdo dos pe- ~~ tlodos de mobilizago, que aos policos foi s¢-ampliando,— quando as conquistas se tornaram mais dificeis ¢ distanites Durante o século Il a.C., quando Roma expandit seu poder por toda a bacia do Mediterraneo, estima-se que 20 menos 10% da populagio masculina adulta estivesse em servico a cada ano (cerca de 130 mil soldados), cada suldady seivin- do, em média, seis anos no exército. Uma mobilizacio de tal envergadura provocou uma acentuada militarizacao di _ciedade romana. e teve profundas conseqiiéncias politic ‘econdmicas, como veremos. imperialismo defensivo? Essa importancia da guerra e da expansdo na histéria da Roma republicana fez da problematica do imperialismo ro- mano um dos temas centrais da investigacdo histérica sobre Roma, fundamental para se compreender sua histdria inter- na ea formacio de seu império, Dessa atenc&o derivou um intenso debate, entre os historiadores, sobre as causas, moti- vagdes, natureza e conseqiiéncias do imperialismo romano. _Parte ponderdvel da bibliografia a respeito considera que a “expansdo romana foi o resultado natural ¢ inesperado de guer “ras defensivas, nas quais Roma se envolveu. contra a vonta “de, éntrando na posse de territérios que ndo queria dominar. ‘Nao é facil efetuar um balango critico dessas posicdes, tendo em vista que se referem, em geral, a momentos especificos da expansio romana, como as guerras plinicas ou a conquis- ta do Oriente. ‘Alguns autores, como P. Veyne, descartam 0 uso do con- ceito de imperialismo no Caso romano, afirmando que a ex- pansio foi imotivada e quase involuntaria, na medida em que _ ‘0 senado romano nunca buscou conscientemenle a Hegemno- (com excegao da segunda guerra macedénica, em 200 “a.C)). A prova estaria na recusa romana em anexar os tersi- cdo, T Momsen detendia aida de uma expansao in. voluntaria e defensiva de Roma, que se teria limitado a res- ponder as agressdes externas e a preveni-tas. E na conquista da Gricia helenistiea, em particular, que os defensores da tese do imperialismo “preventivo” ou “de- fensivo” concentram sua atenedo. Segundo M. Holleaux, a intervencao romana na Grécia derivaria da ingenuidade do senado romano, manipulado pelos embaixadores aregos, de seu medo de Antioco ¢ de Felipe e de um sincero filo- -helenismo, manifesto na sua determinagdo em libertar a Gré- cia do jugo maced6nico. ‘Tal tese é seguida por H.Scullard, que identifica em Roma um geauino interesse pelo bem-estar da Grécia. T. Frank, que aceita 0 motivo de ajuda desinte- ressada 20s gregos no surgimento desse conflito, ressalta tam- bém elementos politico-ideolégicos, como a ansia de gloria, fama e dignidade por parte da aristocracia romana. £ freqiiente, igualmente, encontrarmos uma distingo en- tre um primeiro momento, “defensivo”, do imperialismo ro- mano € uma etapa expansionista e agressiva, cujo inicio se coloca, segundo a periodizscdo adotada eo ponto de vista de cada autor, na primeira guerra piinica, quando Roma se aven- tura pela primeira vez fora da ltdlia, na segunda guerra com Cartago (@ a tese de J. Carcopino) ou no curso do século TL a.C,, seja nas campanhas orientais (segundo De Sanctis), seja no episédio da destrui¢ao de Cartago ¢ Corinto, em 146 a.C. Apssar das diferengas que observamos entre os defen- sores do imperiatismo “involuntario e defensivo”’, baseiam- -se todos em alguns pressupostos comuns sobre a natureza da expansio romana ¢ suas causas, Em primeiro lugar ha uma énfase quase absoluta em fatores politicos (ou mesmo psico- légic6s) & a tendéncia a 2egar 4 subjacente & expansio (segundo T. Frank, Scullard, M. Hol- eaux etc.) ow a Jocalizar uma influéncia de tais fatores ape- nas a partir de certo momento (de acordo com De Sanetis eG. Colin). Outro elemento comum é uma maior atengio_ es exter ressto de outros ‘povos, allancas, necessidades defensivas —, em coutraposi- ‘do as circunstincias internas desse processo, em termos de uta de classes, pressio demografica, divergtncias entre fac- gies etc. /? § nogao de “guerra defensiva’”, por outro lado, deriva. em parte de uma leitura acritica de determinadas fontes (em especial Tito Livio) e da aceitacao, como realidade de fato, da auto-representtagiio ideolégica, de cunho religioso, que os romanos elaboraram nas etapas iniciais da expansio.. Na Ro- ma primitiva, com efeito, ao menos até meados do século— Til a.C., a guerra em Roma revestia-se de um_profundo ca-_ riter religioso, A declaragao de guerra envolvia um comple- xo ritual, executado por um colégio de sacerdotes, denomi- nados feciais, e implicava sempre a nog: on seja, a guerra como reparacéo de uma injustiga ou dano cometido contra 0 povo romano. Antes de qualquer ato de guerra, os feciais deviam, segundo 0 ritual, pedir satisfagoes {res repetere), reclamar as injtirias softidas (clarigatio) e, em caso de ndo atendimento, dectarar a guerra, atirando uma lanca ensangiientada em territério inimigo. Vencida a guer- ra, 0s adversérios batidos deviam entregar-se & discrieao, tan- to pessoas como bens (deditio), e estabelecer um tratado (foedus), pelo qual se colocavam sob a protegao de Roma (ue- nire in fidem). Essa alianca, efetuada por meio dos feciais, era consagrada com o sacrificio de um porco, invocando-se a vigilancia de Jipiter para seu cumprimento (para o ritual dos feciais veja-se Tir0 Livio, Histéria de Roma desde a fu dacao da cidade, 1, 24). Podemos, portanto, afirmar que a guerra na Roma pri- mitiva envolvia aspectos religiosos importantes, na forma de 2 tratar 0 estrangeiro ou inimigo e, a0 menos no que diz res- set_apresentada como uma reparacio, como a recuperat _de-algo perdido €; no, como uma conquista ou saque obje- ivand fado. Contudo, embo- gamho consciente e imotiv: 340 Teligiosa deva ter influenciado o proceso de expansao romana, devemos considerar que representa tao- -somente uma das elaboragécs ideolégicas cnvulvendo tal pro- cesso, que preserva tracos bastante arcaicos, devidos A sua insergdo na esfera do sagrado. Nao podemos descartar, des- sa forma, a elaboragiio paralela de explicagées leizas ou po- Iiticas para a atividade expansionista, que surgiam e cram utilizadas nos debates e choques internos que ‘precediam a de- claragdo de uma guerra. Quando dispomos de fontes roma- nas contempordineas, a partir do século II a.C., observamos uma elaboraedo leiga que, sem dispensar a nogdo de guerra justa, ndo centra nela sua atenedo: para os autores do final da reptblica, a expansao se explicava, entre outros fatores, Por uma vocacao divina de Roma (cf. Viraitio, Eneida, 1, 279), pela “paz” ¢ seguransa trazidas pelo império (cf. Ci cero, Repiiblica, 1, 63) ou, mais simplesmente, pela possi- bilidade de se obterem poder e ganhos materiais elevados (cf. Sauustio, Histérias, IV, 69; Cicero, Cartas a Atico, IV, 16). Além do fato de a representagdo religiosa, mesmo que eventualmente predominante, nao ser a winica possivel num mesmo momento, parece-nos que o problema principal en- volvido na noo de “‘guerra defensiva” reside na adogao ime- diata, pelos autores modernos, de uma forma de representacdo que, na sociedade romana, era mediada pelas telagGes sociais e politicas. Os procedimentos envolvidos no direito fecial implicavam 0 estabelecimento de relagdes desi —-guais entre vencidos ¢ vencedores, vanitajosas para estes tilt -mes._Qualquer que fosse a motivagaot fe da guerra, - ortanto, ou a forma de representar/justificar seu inicio, a vitéria_acarretava a obtencao de beiis materials (presas-de~ peito as relagdes entre os omens ¢ 0 mundo divino, devia _ 8 guerra, territérios, escravos e soldados), além-de-poderio po- lifico-(@ISH para of eFiefes, afiangas com aristocracias locas) Estes deveriam ser adiinistrados ¢ distribuidos entre os ven- cedores, seguindo os pereursos de sua prdpria estrutura poli- tica e econdmica. B, assim, absurdo supor que conseqiiéncias de tal entidade, advindas de uma vit6ria, no entrassem nas consideracdes sobre o inicio de uma determinada campanha. Imperialismo e economia Por outro lado, sao igualmente in tivas de explicar a expanso romana a partir de causas uni. camente econdmicas, por vezes conferindo sua economia “um caréter “moderno”, com caracteristicas proximas aque- las do imperialismo contempordneo. Fatores mercantis in- fluenciaram, sem diivida, 0 proceso de expansio-roniaiia, ‘sob “a partic do século IJ, mas.ndo-nos termos em.que_ “aparecem atualmente, nem tampouco, com a possivel exce- Gio de algumas guerras localizadas, constituindo-se no tini co elemento em jogo no desenvolvimento do imperialismo romano. Como afirmamos no primeiro cap{tulo, os fatores politicos e econdmicos sao inextrincdveis no estudo do impe- rialismo antigo. Se a expanso militar ocasiona um diferen- cial de poder entre Estados ou povos, esse poder nao é uma categoria abstrata (como uma “‘vontade de poder”, visto co- mo poder em si), mas se define sempre para alguma coisa, ou seja, tendo em vista objetivos delimitados. Além disso, implica uma dupla relacdo de poder. Uma primeira, que de- fine um centro (expansionista) e uma periferia (submetida) e que permite um fluxo centripeto de bens, materiais ou nao, necesstrios & metropole. E uma segunda, igualmente fund: mental, que se estabelece internamente, a partir da prépria estrutura de poder da cidade imperialista, tendo em vista a delimitacao dos objetivos da expansdo (0 que se visa obter) 4 € de sua distribuicdo (como distribuir seus irutos). Essa es- twuiura de poder, por sna parte, remete a estrutura econdmi- ca da cidade-Estado, as diferencas de acesso a terra entre ricos € pobres e, portanto, est ligada ao equilitrio politico resul- tante da Iuta de classes em seu interior. As fnses da exnensdo © processo de expansio romana pode ser dividido em _periodos Gistintos, que representam ritinos diferentes de c —quista ¢ retracdo, ‘uma organizagao diversa do poder interna e externamiente, afetando os objetivos e consegtiéncias do im- perialismo, em concomitaacia com as transformagdes que Ocorrem na estrutura econémica da metrépole. Sao miiltiplas as maneiras de se periodizar e definir momentos distintos no processo expansionista de Roma, conforme se confira maior importincia a uma ou outra das varidveis em jogo. Diodoro da Sicilia, por exemplo, que escrevia no século 1 a.C., dife- renciava claramente duas etapas no imperialismo romano, de- finidas pelo tipo de tratamento dado aos vencidos: Os romanos, quando decidiram aspirar ao dominio do mun- do, conquistaram 0 impéric com o valor de suas armas, mas, ata seu préprio beneficio, trataram com benignidade os po” vos vencidos. Afastarame tanto da crueldade e do espitito de vinganca contra os vencidos que pareciam comportarse nao como inimigos, mas como benfeitores e amigos (..) a uns ce- Geram a cidadania, a outros 0 direlto de matriménio, a alguns delxaram a autonomia, @ @ ninguém mostraram mais rancor do que era necessario (.). Contudo, tendo assegurado o do. minio de todo 0 mundo, quiseram torndio mais estével por meio do teror e da destmuiodo das cidades mais eminentes. Gom efeito, destruirain completamente Corinto (em 146 2.0) erradicaram a potancia macedénica, arrasaram Cari230 (em 146 a.G) e, na Celtibéia, Numancia {em 133 a.C), aterrori: zando muitos povos. (Bibliotheca historica, XXXII, 4) expansao roiai 5 Saltistio, que, ao contrdrio de Diodoro, preocupa-se com 08 efeitos internos do imperialismo romano, também consi- dera esse periodo, em particular apés a destruigao de Carta- 20, como uma nova fase do poder imperial de Roma, mas por motivos diferentes: Além disso, as tutas entre 9 partido popular @ 2s classes dirigentes, causa de todas os males que se seguiram, haviam urgido pouces anos antes em Roma, rultantes do écio eda fartura, os bens mais estimados pelos homens. Pois antes da destrulgao de Cartago, 0 povo e o senado romano administra- vvam conjuntamente a republica com placidez e moderagao. Nem a giéria, nem 0 padar geravam disputas entre os ckiadéos, pois o meda do inimigo mantinha a cidade no bom caminho. (Guerra de Jugurta, XLL, 1-2) ao . “A moderna bibliografia distingue também fases diferen- tes no desenvolvimento do imperialismo romano, definindo sejam alteragdes politicas em sua condugao ¢ organizacio, sejam transformagées econédmicas — no sistema produtivo romano ou nos objetivos da expansio — ou’ ainda mudan- cas de mentalidade no seio da classe dirigente. Como marcos importantes so mencionados, com freaiiéncia, acontecimen- tos como a primeira guerra punica, em 264 a.C., quando a expansdo ultrapassa os limites da Itdlia, rompendo com 0 an: tigo sistema de aliangas no tratamento dos territérios con- quistados (Sicilia e Sardenha); a segunda guerra puinica, que transformou Roma em uma grande poténcia mediterranea, pondo-a em contato com os reinos helenisticos; diversos epi- sédios da expansdio romana no século II a.C., tanto no Oci- dente como no Oriente, considerados indicativos de alteragdes significativas na condugo do imperialismo romano (por exemplo, a segunda e terceira guerras maced6nicas, as cam- panhas na Espanha, a destr M. Finley (1978, p. 62-3) propde uma periodizacao.da nds fuss, saracterizadas pelo Sistema 6 de organizacio das conquistas ¢pelo tino de vantagens ad. indas da acdo imperialista: um primeiro perfodo, marcado pela cong ‘da Talia Céntral e meridional, que produziu presas de guerra e grandes extensdes de terra confiscadas, além do reforco militar proveniente da insercao, no exército romano, de soldados recrutados entre os povos itdlicos; da guerra com Cartago até o fim da repiiblica deu-se a forma- Gio do sistema provincial, gerando um grande aumento das presas de guerra e taxas regulares das provincias; durante o principado, a pax romana reduziu enormemente as presas de guerra, mas as taxas € requisicdes provinciais aumentaram constantemente. Embora tal esquema tenha virtudes em sua economia e simplicidade, e conquanto se possa concordar, em linhas ge- rais, com os balizamentos cronolégicos adotados, esses cri-. térios parecem-nos insufi i “momentos da expansao_ romana, Em outras palavras, n nao per= mitem observar, comi a riqueza necesséria, a diferente natu- reza do imperialismo romano em suas fases. Para tanto, ¢ do sistema politico, para que a compreender as causas e miotivacoes da expansio 28s formas de sila Orgattizaga6, Por oiitfo lado, como vere- mos, 0 diferencial dé poder entre Roma e sua periferia, bem ‘como o afluxo de riquezas que proporcionou, levaram a trans- formagio das condigées intéernas da prépria metrépole. i lemos distinguir dcis perfodos no imperialismo ro- mano, essencialmente diversos em sua natureza, suas causas; motivagdes e conseqtiénciss. Tal distincdo, a nosso ver, origina-se da especificidade das relagdes econdmicas e politi- cas em Roma nos dois momentos. A expansio da Roma mo- ndcquica-e-republicana, até o século III a.C., foi real ‘por uma sociedade essencialmente camponesa, na qual os ci- os se de vela propriedade de lotes de-terra,.em ge- “ral de pequena extenso, que eram cultivados pelo proprie= smeentos estruturais.internos, - a tario e sua familia ou, no caso das Familias aristocraticas, por ‘Trabalhadores dependentes, ligados & classe dominante por ‘Tagos de clientela. As unidades produtivas tendiam, assim, a Ser antarquicas, e a producZo destinava-se, fundamental- mente, a0 consumo direto do proprio produtor e de seus de- pendentes. Tratava-se, portanto, de uma economia voltada para a producao de valores de uso, na qual o mercado ¢ as trocas eram subsididrios no conjunto das atividades produ vas. Os conflitas sociais envolviam a luta pela terra a5 dividas (qué submietian’ 63 pequet )e, em termos politicos, pela iguald lun pela sce ‘do modo de produ “io escravista co- mo sistema produtivo dominante foi possibilitado e favore- cido pela expansdo imperialista anterior, que propiciara a acumulagio de recursos — em bens materiais, terras e escra- vos — em grande quantidade e sua inversdo numa forma de producdo (a fazenda ou villa escravista) voltada & produgdo de bens agricolas para venda num mercado em expansdo. Por outro lado, essa vasta transformacao econémica alterou pro- fundamente a dindmica e a propria natureza do imperialis- mo romano, na utilizacao e distribuicao dos recursos e na forma de organizar e administrar as conquistas. Esse fato é observavel no apenas no tratamento dado aos vencidos e na forma como o poder é exercido sobre os mesmos, mas igualmente nas disputas politicas em Roma, on- de alteragdes na estrutura socia-levariam-a-uma-agudizacaa dos contifos, no final da repiblica, pe 5a, g¢ tomarmos 9 Conuni dos impetia: spacidade de o imperialisma romano “Tismos antigos,

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