Sei sulla pagina 1di 7
NETO, Wenceslau Gongalves. Estado e Agricultura no Brasil. Sao Paulo, Hucitec, 1997. Estudos Histéricos, 33. Barsanufo Gomides Borges* ‘A questo agréria ¢ as politicas agricolas implementadas pelo Estado brasileiro tém sido objeto de varios estudos académicos. Acalorados debates tedrico-metodolégics sobre os temas tém-sé travado, dentro e fora das universidades, entre as diversas correntes do pensamento econémico brasileiro. Na perspectiva da andllise critica, o Estado “desenvolvimentista”, instituido no Brasil apés 1930, é visto como uma instituigdo burguesa que planejou e orientou os investimentos para © setor urbano-industrial em detrimento da agricultura, a qual foi submetida a uma politica de confisco de renda, Dessa forma, a agropecuaria cresceu na horizontal ocupando novas reas na fronteira com baixo coeficiente de tecnificagic. O poder piblico apenas criou algumas condigdes operacionais que possibilitaram a expansio da fronteira agricola e do mercado interno: implantando uma infra-estrutura de transportes e eliminando as tarifas aduaneiras interestaduais € intermunicipai O setor agrario tradicional, todavia, teve suas compensagées: © pacto politico entre burguesia industrial ¢ latifundiarios permitiu a continuidade da arcaica estrutura agraria e sua reproducao nas areas de fronteita, numa sociedade que se organizava dentro da légica da economia de mercado. A legislagéio trabalhista, instituida no Governo Vargas, nvdo chegou ao campo passando ao largo do trabalhador rural. * Doutor em Histéria Econdmica pela LISP e Professor Titular do Programa de Mestrado em Historia das Sociedades Agrérias da Universidade Federal de Goids. Histiria Revista, 3(12): 131-137. jan idez. 1998 It Assim, 0 moderno setor urbano-industrial do Sudeste se desenvolvet articulado @ uma economia agraria tradicional que se especializava na produgao de alimentos, a prego baixo, para atender a demanda da populago urbana. A partir dos anos 60, porém, iniciou-se um processo de modernizagéo conservadora no campo que, sob a égide do Estado autoritério e mediante grandes investimentos de capitais, implantou-se um novo padrao agrario no pais. A obra do Prof. Wenceslau Gongalves Neto vem contribuir pata ‘oavango desse debate acerca das politicas agrarias do Estado brasileiro € para a compreensio do papel da agropecudria no desenvolvimento capitalista. Com o propésito de analisar a questdo agraria no conjunto da. economia nacional, o autor a vinculada & totalidade sécio-econdmica e politica, fazendo uma ampla anélise historica das relagdes Estado € economia no Brasil, nas tiltimas décadas. primeiro capitulo analisa as transformagdes econdmicas politicas do pais nos anos 60 ¢ 70. Discute 0 modelo de substituigao de importagdes ¢ seu esgotamento, relacionando-o com o colapso do populismo ¢ a instauragao do regime militar. A politica de substituigaio de importagdes adotada pelo Estado desenvolvimentista, & vista como uma forma de reduzir a dependéncia econdmica do pais em relagiio a0 mercado internacional; Ressalta, todavia, que este modelo de desenvolvimento, bascado na produgao industrial doméstica, agravou o déficit no balango de pagamento do Brasil, pois a instalagao de indiistrias voltadas para a produgao de bens antes importados tende a expandir 0 mercado interno, ¢ como esta produco substitui apenas uma parte do valor agregado (anteriormente proveniente do exterior), cresce a demanda por matérias-primas ¢ outros insumos industriais ndo produzidos internamente, levando ao aumento das impottagdes e A nova crise de divisas. Instaura-se, entdo, uma fase seguinte de substituigao de importagdes destas novas necessidades, ¢ assim sucessivamente. Frente as contradigdes do modelo de substituigao de importagoes © seu elevado custo pago pela sociedade brasileira, o pais vivia um impasse no inicio dos anos 60. Discutia-se uma nova politica de crescimento econémico © duas propostas ocupavam o cenario da discussio: a do desenvolvimento nacional auténomo e a do desenvol- vimento associado ao capital estrangeiro. Iniciava-se uma fase de crises econdmica e institucional na sociedade brasileira em razio, sobretudo, 132, BORGES, Batsanufo Gomides. - Resenba: Eval e agricnlara do colapso do “pacto populista” e do esgotamento do modelo de substituigdo de importacdes. Nos debates sobre o crescimento econdmico do pais, deslumbrava-se a necessidade de se caminher para um estagio mais avancado do desenvolvimento capitalista, autor mostra que o modelo de desenvolvimento econdmico associado ao capital estrangeiro, bascado na indiistria de bens de consumo durdveis (Departamento III), nfo mudou o padrao de acumulagao na ‘economia e ampliou a dependéncia tecnologica e financeira do pais em relagiio as poténcias capitalistas, vez que a indistria de bens de capital (Departamento J) permaneceu atrofiada, Para recompor o processo de acumutagtio, os governos militares apelaram-se, sobretudo, para a contengio dos salarios dos trabalhadores, facilitada apés as intervenes nos sindicatos mais combativos e a imposigfio de uma legislagto antigreve. Para resolver a caréncia crénica de divisas cambiais, recorreram-se & poupanga externa disponivel no mercado finaneeiro intemacional, intensificando os empréstimos estrangeiros que elevaram muito a divida externa do pais. ‘Neste quadro de desequilibrio da economia, intensificaram-se as discusses em torno do atraso relativo da agricultura que resultaram nas propostas de reforma agriria e de modernizagao da produgao agropecuaria. A partir de 1970, tem inicio a implantagao de um novo padrio agrério no pais, o qual gera um novo desequilfbrio na estrutura produtiva rural: houve um avango consideravel das eulturas de exportagio sobre as de consumo doméstico. Este cardter do crescimento da agropecuaria mareara © processo de transformagGes do capitalismo no campo brasileiro. O segundo capitulo, analisa a discussao que envolve a questo agraria brasileira nos anos 60 e 70. Trabalha basicamente com duas correntes de interpretagao do tema: uma, de cunho conservador, que advoga a funcionalidade da agricultura as demandas de mercado e proga a modernizagdo no campo: e outra, de cardter critico, que analisar 0 desenvolvimento do capitalismo no campo e a subordinacao do agro ao setor urbano-industrial. O autor explicita os debates sobre o papel da agricultura no desenvolvimento capitalista do pats, nas dltimos décadas, e a defasagem do agro em relago ao setor urbano-industrial, No meio dos debates politicos e académico sobre os rumos da economia brasileira, as andlises Historia Revista, 31/2): 131-137, jan ez. 1998 133 estrutural-duialistas, elaboradas a partir da matriz do pensamento cepalino, foram pioneiras. Nesta linha de interpretagao, a agricultura aparece como uma atividade econémica “atrasada” e incapaz de contribuir para 0 desenvolvimento nacional. O setor agrario, da forma que estava organizado, nao reagiria adequadamente aos estimulos presentes nas mudangas ocorridas na estrutura da demanda. Assim, a agropecuaria tradicional seria incapaz de transformar-se no sentido de absorver tecnologia moderna em preporgées significativas: dificultando a formagao de um mercado para os produtos da indiistria ¢, em geral. limitando ou impedindo a constituig&o de um mercado interno amplo. Dessa forma, na visdo dualista a agricultura aparece como um setor que ndo cumpriu sua fungao no processo de desenvolvimento bra- sileiro, principalmente pela existéncia de relagdes de produgao em esté- gio hist6rico distinto do capitalismo (relagdes feudais) e por apresentar ‘uma estrutura de propriedade extremamente concentrada. ‘As criticas a este esquema de interpretagao da realidade brasi- leira ressaltam que a agricultura cumpriu, grosso modo, as tarefas que Ihe foram impostas pelo desenvolvimento econémico nacional. © fato de existirem no processo produtivo agrario manifestagdes de atraso teenoldgico ¢ a nao subordinagao formal do trabalho ao capital (a nao generalizagao do assalariamento no campo), nao daria argumentos sufi- cientes para comprovar a existéncia de um “obstaculo” do setor agrario a0 proceso de desenvolvimento capitalista e muito menos a existéncia de feudalismo no campo. A critica conservadora foi a primeira a insurgir-se contra as reses, estrutural-dualistas. Suas postulagdes encaminham-se para a andlise da produgio, da produtividade e dos precos agricolas, bem como da estrutura interna do agro nacional. Esta vertente analitica, chamada de funcionalidade da agricultura, defende a tese de que 0 setor agrario cumpriu seu papel econémico, ndo apenas respondendo a demanda urbano-industrial, sem pressionar seus custos, mas contribuindo decisivamente para o processo ao cumprir as chamadas tarefas da agricultura em um processo de desenvolvimento econémico. Uma outra corrente de pensamento, ligada aos intelectuais da chamada “nova esquerda”, fez avangar a critica ao diagnostico cepalino, a qual, ao rever os esquemas de andlises do pensamento desenval- vimentista, refutam o dualismo estrutural ea fese feudal na interpretagao 134 BORGES, Barsanul Gomides, - Resenha: Estado e agriewlinra, da realidade brasileira. Ressalta a capacidade do capitalismo, no seu processo de desenvolvimento, de criar e recriar formas nao capitalisias de produgaio no campo em fung3o do mercado. Argumenta que a subordinagao da agricultura ao processo de acumulagao do capital nao 86 reproduz relagées néo capitalistas de produgdo na zona rural, como também faz dessas relagdes a forma dominante de organizacao da producdo agraria Nos anos 70, sob o impulso do chamado “milagre brasileiro”, intensificaram-se as discussdes em torno da proposta de modernizagao, da agricultura brasileira como mecanismo capaz de fazer deslanchar, no meio rural, as transformagées requeridas pelo novo estagio de desenvolvimento capitalista da economia. Os teoricos da modernizagao, segundo Gongalves Neto, nao modificaram estruturalmente a concep¢aio funcional da agricultura, Este pensamento conservador praticamente abandonou a discussdo em tomo da estrutura agraria, dos obstéculos ao desenvolvimento ¢ da necessidade ou improbidade de uma reforma agréria; concentra suia atengao, sobretudo, no desempenho da produgao agricola, no aprofundamento do processo de modernizagao e nos novos desafios que se colocavam para a politica agricola do pais. O terceiro capitulo, aborda 0 papel do Estado no processo de desenvolvimento e na compatibilizagao de interesses divergentes, destacando-se as proposiges apresentadas pelos governos brasileiros em seus planos de desenvolvimento para o setor agropecuatio. Analisa, especificamente, o Plano Trienal (1963-1965), o Plano de Agao Econdmica do Governo (1964-1966), as Diretrizes de Governo do Programa Estratégico de Desenvolvimento (1968-1970), o Metas e Bases Para a Agao de Governo (1970-1973), 0 I Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) (1972-1974), € 0 If PND (1975-1979). O grande desafio do Estado brasileiro, segundo o autor, tem sido ode conciliar interesses do capital no campo e na cidade, sem permitir diminuigéo de espago e poder do hegeménico setor urbano-industrial. Assim, as politicas agricolas colocada em pratica pelos governantes visam basicamente manter inalteradas as formas de acumulagao dominante na sociedade, compatibilizando interesses dispares de setores que lutam pelo controle dos principais fatores econdmicos. Constata-se que, nas dltimas décadas, o Estado tem promovido a modernizagio de Historia Revista, 3(12): 131-137, jam idez., 1998 138 boa parte da agricultura, aumentando a produgao ¢ a produtividade sem, contudo, tocar nos padrées de acumulagéo. Assim, o Estado brasileiro tornou-se instrumento principal no processo de crescimento econémico do pais, com especial importincia para 0 setor agrério, 0 qual ocupa posig&io subordinada no nivel das decisdes econdmicas, e que depende do seu reduzido poder de pressiio e do arbitrio do poder publico para conseguir um quinhe que Ihe permita continuar reproduzindo o capital que se instala em seu interior. Quanto aos planos de desenvolvimento elaborados e implemen- tados pelos governos brasileiros, conclui-se que ambos tinham em comum a busca da modemnizagio do setor agririo, Mesmo o Plano ‘Trienal, originério de uma realidade politica diferente, ¢ pretendia investir primeiramente contra os descompassos da estrutura agraria, preocupava- se ao mesmo tempo com a modernizacAo das técnicas das relagdes de trabalho. Nos planos dos governos militares, & proporgdo que se esvai a as propostas transformadoras da estrutura agraria, vao tomando cada vez mais forga as propostas modernizantes, as quais nortearfio a politica agricola dos anos 60 e 70. Assim, no pos-64 a questo da agricultura passa a ser tratada pelo principio da eficiéncia, dando-se énfase a reagio do setor aos pregos e a necessidade de se proceder na intensificagfio da utilizagdo de insumos modernos, para 0 aumento da produgdo e da produtividade. Visando atingir tal objetivo, diversos mecanismos de intervencdo estatal no agro foram desenvolvidos ou aprimorados, como a politica de precos minimos, o crédito agricola, a pesquisa agropecudria © aextensao rural. O quarto e iltimo capitulo, analisa o significado do planejamento rural e as medidas implementadas pelo Estado para o desenvolvimento do setor agririo. As politicas piiblicas a ele conduzidas determinaram o sentido de sua evolugao, que nao podera se distanciar do sentido geral ditado pelo planejamento estatal para o conjunto da economia. O objetivo primordial era atrelar 0 setor agnirio 20 processo de desenvolvimento econdmico, nao permitindo que ele possa obstar o crescimento da economia capitalista. O autor constata que os governos militares desenvolveram uma politica especffica para o setor agrario. Medidas foram tomadas a fim de cercar a atividade agropecuaria de todos os elementos necessarios a0 seu desenvolvimento e a sua modernizagtio. Assim, a politica agricola 136 BORGES, Barsanuio Gomides. -Resenha: Fstudo e agriculiura pos-64 procurou dar conta de todas as fases: 0 capital necessirio ao investimento, custeio ¢ comercializagao; a garantia de pregos minimos, assegurando a renda do produtor: seguro agricola, que elimina parcialmente a ameaga dos riscos climatoldgicos; pesquisa agricola, fornecendo novas tecnologias para o setor; assisténcia técnica que promove e auxilia na utilizagao das modernas tecnologias; estimulos ¢ facilidades para utilizagao de insumos modernos, ete No ambito da politica macroecondmica dos governos militares, porém, ficou evidente que o sinalizador maior das medidas implemen- tadas para o agro cncontrava-se fora dele, Assit, apesar de reconhecer a importancia do setor, as decisdes que o afetavam estavam atreladas primordialmente 4 politica econdmica global, que visava o desen- volvimento industrial, setor hegeménico que estava no centro das preocupagdes dos planos governamentais. Ressalta que dentro do planejamento estatal para o conjunto da economia, estavam embutidas as metas para a agropecuaria que, apesar de subordinadas, foram aquinhoadas com grandes parcelas de recursos, visando transformar a base técnica da produg%o no campo, dando suporte ao crescimento econémico e a actimutlagao do capital. Em iiltima andlise, constata que o crédito agricola subsidiado foi o instrumento fundamental para a modernizagao do agro brasileiro. Todavia, somente aqueles grupos que tinham maior acesso a informagées ¢ influéncia politica que usufruiam desse privilégio, eram principalmente 98 grandes proprietirios que agambarcavam a maior parte dos recursos alocados ao setor. Os pequenos produtores, dedicados & produgaio para ‘0 mercado interno, principalmente aqueles situados fora das regides hegem@nicas, ndo tiveram acesso ao sistema de crédito rural. Este fato revela apenas um dos aspectos do modelo de desenvolvimento concentrador implantado no pais pelo regime militar. Como se observa, Estado ¢ Agricultura no Brasil € um estudo de fdlego da realidade econémica do pais. Uma anélise histérica contundente das contradigdes do desenvolvimento capitalista ¢ dos interesses politicos que envolvem o aparelhio de Estado e suas politicas piblicas para o agro brasileiro. O livro é leitura obrigatéria € indispensdvel para a compreenstio da questo agraria no Brasil. Historia Revista, 2), 131-137, janes, 1998 7

Potrebbero piacerti anche