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1) O documento discute como Pitágoras dissociou os números da coisa numerada, fazendo com que os números passassem a existir de forma abstrata e autônoma.
2) Ao longo do tempo, os números foram se descolando ainda mais do mundo concreto, culminando no dinheiro virtual de hoje em dia.
3) Isso permitiu fraudes contábeis em grandes empresas, mas ignorou os seres humanos que sofrem no mundo real.
1) O documento discute como Pitágoras dissociou os números da coisa numerada, fazendo com que os números passassem a existir de forma abstrata e autônoma.
2) Ao longo do tempo, os números foram se descolando ainda mais do mundo concreto, culminando no dinheiro virtual de hoje em dia.
3) Isso permitiu fraudes contábeis em grandes empresas, mas ignorou os seres humanos que sofrem no mundo real.
1) O documento discute como Pitágoras dissociou os números da coisa numerada, fazendo com que os números passassem a existir de forma abstrata e autônoma.
2) Ao longo do tempo, os números foram se descolando ainda mais do mundo concreto, culminando no dinheiro virtual de hoje em dia.
3) Isso permitiu fraudes contábeis em grandes empresas, mas ignorou os seres humanos que sofrem no mundo real.
Como sabemos, o comrcio sempre existiu, louvado seja.
Primeiro, na forma de troca: se tenho em excesso coisa que outros necessitam, e se careo do que outros guardam sem consumir, troco o que tenho pelo que me falta. A inveno do comrcio to simples como a inveno da roda. Cada coisa tem seu preo. Se quero trocar uma coisa que tenho por outra que no sei qual seja, surge o dinheiro, coisa que no serve para nada a no ser para ser trocada por todas as coisas que servem para alguma coisa. Esse smbolo - conchas do mar, bronze, ouro eram difceis de transportar e, a partir do sculo XVII, converteu-se em papel verde ou de outras cores, mas, como papel apodrece rolando de mo em mo, criou-se o compromisso de que poderia ser trocado pelo ouro, metal precioso. Com o comrcio surge a aritmtica, aquela parte da matemtica que trata das propriedades elementares dos nmeros inteiros e racionais, como dizemos, o Aurlio, o Houaiss e eu. O comrcio nos obriga a prestar muita ateno aos nmeros, ao valor e quantidade das coisas trocadas: cinco sacos de arroz podem valer uma cabra monts; trinta de lentilhas, uma vaca leiteira. Nestes casos, um igual a trinta ou a cinco a aritmtica comercial no abstrata: tem cheiro, peso e cor. Antes de Pitgoras a aritmtica estava ligada a objetos reais, tocveis. Para somar sete vacas e nove bois era necessrio que os dezesseis animais estivessem de acordo em ser contados, pastando no pasto, pacientes. Os nmeros nove e sete existiam apenas referidos a alguma coisa, no em si mesmos. No sculo VI j existiam outros filsofos que queriam descobrir a essncia do Universo, sua matria prima: dizia este A Culpa do Pitgoras!
que tudo era gua; para outro, era o apeiron, substncia
indefinida; ou o tomo, indivisvel; ou combinaes de ar, terra, gua e fogo. Pitgoras observou que duas vacas mais duas cabras somavam sempre quatro animais; dois sacos de feijo e dois de arroz, quatro sacos de gros; dois homens e duas mulheres, quatro pessoas humanas. Essa foi uma descoberta fantstica: dois mais dois eram sempre quatro, independentemente do que representassem! Pitgoras conseguiu essa faanha extraordinria para o pensamento humano: dissociou o nmero da coisa numerada, como criana que joga ao lixo o intil baco, ou pra de contar com os dedos1. Toda criana tem seu dia de Pitgoras. Depois dele, o nmero passou a existir de forma abstrata, autnoma, no relacionado a nada, bezerros ou vacas. No entanto, os nmeros estavam em todas as coisas e todas as coisas eram nmeros: uma pessoa era uma s, e a multido cinco mil. Uma biga romana tinha dois cavalos, uma triga, trs... Tudo era nmero ou frao desse nmero que, como Deus, estava em todas as coisas, Onipresente. Se o nmero se assemelhava a Deus pela Onipresena, talvez fosse Deus. Pitgoras fundou uma nova religio em que Deus era o Nmero. Deus e o Universo se confundiam a Criatura era o Criador, e vice-versa. Em sua Igreja, Pitgoras assumiu o posto de Nmero Um dessa nova religio, sendo tambm o primeiro a enlouquecer. Terminou sua vida em um asilo, rezando incontveis vezes ao dia ao Deus de sua devoo, o Nmero Abstrato! Seus seguidores, menos religiosos, comearam a trabalhar com os nmeros sem pensar em sacos de batatas ou cabras, e foram se transformando nos economistas de hoje, que so Clculos, do latim calculus, eram pedrinhas com as quais se calculava. Ainda hoje a palavra se usa nessa acepo: clculos renais, que doem dores sem conta.
A Culpa do Pitgoras!
matemticos e no apenas aritmticos, pois que introduziram
incgnitas em todas suas equaes, chegando at subjetividade dos clculos infinitesimais e integrais, metamatemtica, ao risco-Brasil e ao supervit primrio. Para eles, s os nmeros contam, e no importa a que ou quem esses algarismos se refiram, coraes ou pedras so nmeros, sem corpo e sem alma, cujo nico desejo manifesto o de equilibrar o oramento interno sem cessar os pagamentos externos da dvida impagvel. Quadratura do crculo. O ltimo elo que os nmeros ainda mantinham com o mundo concreto foi cortado por um presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, nos anos cinqenta, quando decretou o fim da conversibilidade do dlar em ouro: at ali, o papel verde representava o metal amarelo. Pensava-se que, para fazer a troca, houvesse abundante ouro no Tesouro. Foi-se l ver e... no havia. Nixon teve a virtude da inabitual sinceridade e mostrou que o dinheiro, como objeto, papel sem valor, v promessa, smbolo de alguma coisa o ouro que ns sabemos que no existe, mas fingimos acreditar que est nossa espera, em alguma esquina sua. Dinheiro abstrao que perdeu sua consistncia no espao translcido papel. Com a inveno do computador, perdeu a consistncia no espao e no tempo: hoje, imaterial e instantneo. Neste breve segundo em que voc comea a ler esta linha, bilhes de dlares em Hong-Kong, com um simples enter no teclado, antes que acabe de ler a frase, estaro na Malsia ou no Rio de Janeiro. Nunca o dinheiro foi to abstrato, mera fantasia. Isso permite que, nos Estados Unidos, executivos da Enron, Worldcom, Xerox, Merks, Squibbs, Johnson & Johnson, AOL... - e sabe-se l quantas mais! - simulem, no mundo ectoplsmico A Culpa do Pitgoras!
dos computadores, fabulosos lucros inexistentes e, entre si,
dividam dividendos reais, sonantes. Materializa-se o Nada. Enquanto isso acontece em Gotham City, nestas obscuras esquinas do mundo, - como disse Bush, conosco sempre to simptico - os seres humanos no so essncias transparentes: so concrees que existem no tempo e no espao - no Brasil, morrendo de fome; na frica, de fome, de guerra e de Aids. Os seres humanos, ignorados pelos computadores, sofrem a dor real. Os modernos economistas pensam em alquotas, dividendos, juros, spread, taxas de risco, etc. A economia moderna matemtica e no apenas aritmtica, pois que a matemtica , como nos socorrem o Aurlio, o Houaiss e as minhas lembranas do professor Erasmo a cincia que investiga as relaes entre entidades que so definidas abstrata e logicamente. Vejam bem a definio: abstrata e logicamente! Os economistas pragmticos no pensam que os nmeros possam se referir a homens e mulheres com suas trmulas bocas abertas. Ignorando o ser humano, sacrificam parte da Humanidade a maior parte aos lucros necessrios para que sua matemtica seja boa, as contam batam e os balanos fechem. Ns, que temos uma viso humanstica do mundo, necessitamos mais do que nmeros e curvas: necessitamos da presena humana em carne e osso, imagens, pinturas, fotos, esculturas, teatro e cinema; precisamos da voz e do canto, da cor e do trao, do corpo no espao - precisamos da Arte. A Arte, que a representao do real e no a sua mera reproduo,
A Culpa do Pitgoras!
A Arte transcreve o real - cuja familiaridade o torna
invisvel aos nossos olhos - para que esse real possa ser compreendido na sua dimenso humana, que lhe d sentido e razo. Alm das aparncias cotidianas, a Arte nos ajuda a descobrir o real em seu significado escondido, acostumados que estamos a no v-lo, tal o horror que nos causa. A Arte desnuda a Verdade.