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Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo 01/06/10 10:02

Processo Nº 583.00.2008.245007-8

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Texto integral da Sentença

Autos nº 583.00.2008.245007-8 21ª Vara Cível Central da Capital DULCE MAIA move AÇÃO INDENIZATÓRIA contra EMPRESA
FOLHA DA MANHÃ S.A. Em 12 de março de 2008 o jornal Folha de São Paulo, editado pela ré, publicou artigo de Elio Gaspari
sobre as indenizações pagas às vítimas do regime instaurado em 31 de março de 1964. No decorrer do texto, mencionou de
modo inverídico que a autora participara de atentado a bomba no consulado norte-americano nesta Capital. Dois dias depois,
outro artigo foi escrito pelo mesmo jornalista com a mesma notícia falsa, a qual lhe causou danos morais. Entende que a ré
abusou de seu direito de informar, atingindo a honra e a imagem da requerente ao lhe atribuir a prática de um crime.
Requer, portanto, o ressarcimento dos danos morais sofridos. A ré apresentou contestação a fls. 327/343. Negou ter cometido
ato ilícito, pois exercera o direito de informar e criticar, assegurado constitucionalmente. Refutou a ocorrência de danos
morais, pois a informação inexata foi corrigida e teceu considerações sobre eventual fixação da indenização. Réplica a fls.
351/359. É o relatório. Fundamento e decido. O feito comporta julgamento no estado (art. 330, I, do Código de Processo
Civil), registrando-se que as provas pleiteadas pelos litigantes são absolutamente desnecessárias ao deslinde dos pontos
controvertidos. Incontroverso nos autos que a autora pertenceu à Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), grupo que tinha o
objetivo de derrubar o regime instaurado em 31 de março de 1964 e implantar no Brasil, por meio da luta armada, uma
democracia operária nos moldes marxistas e leninistas. É notório, ainda, que a ele e a outros grupos denominados terroristas
foram atribuídas ações violentas consistentes em roubos a bancos, seqüestros de autoridades e explosões em imóveis públicos
e privados. A autora negou ter participado do atentado de 19 de março de 1968 ao consulado norte-americano nesta Capital
e a ré reconheceu na contestação, em consonância com o pedido de desculpas de seu articulista Elio Gaspari, publicado
posteriormente, que de fato essa informação não era verdadeira. O equívoco aconteceu e foi expressamente admitido por
quem o cometeu, de modo que inexiste pertinência em apurar neste feito como a informação errada foi obtida. O que importa
é saber se a ré apenas exerceu o seu direito de crítica e se a correção do erro tem o condão de elidir a responsabilidade civil
pelos danos morais causados à autora, que são evidentes e dispensam prova, pois ocorreram in re ipsa. Ter o nome
associado à prática de um crime do qual não participou é suficiente para sofrer sensações negativas de reprovação social,
angústia, aflição e tantas outras que consubstanciam danos morais relevantes sob o aspecto jurídico e, portanto, indenizáveis.
A ré sustenta que exerceu o direito de crítica assegurado pelo art. 27, VIII, da Lei de Imprensa. De fato, assim agiu ao tecer
considerações e até mesmo juízos de valor sobre a discrepância entre as diversas indenizações pagas às vítimas do regime
militar. Sucede, contudo, que a partir do momento em que afirmou a participação da autora no episódio relatado nos autos,
não só extrapolou o direito de crítica, como olvidou o compromisso legal e ético com a verdade. Pouco importa que a autora
tenha de fato pertencido a grupo ao qual foram atribuídas ações violentas nas décadas de 60 e 70. A notícia de que participou
do atentado ao consulado norte-americano não era verdadeira e, assim, não pode prevalecer diante do direito à honra.
Lembra Antonio Jeová Santos que "existe um consenso de que a imprensa assume o compromisso de informar não só o fato
veridicamente, como também de explicá-lo em seu contexto, em sua verdadeira significação – a verdade acerca do fato –
como recomendava a Comissão sobre a Liberdade de Imprensa dos EUA" (Dano moral indenizável. 2ª ed. São Paulo: Lejus,
1999, p. 325). A ré ainda argumenta que corrigiu o erro e, assim, não tem o dever de indenizar os danos morais sofridos
pela autora. Sem a necessidade de digressões acerca da forma e do lapso temporal consumido até que a retificação da
informação inexata fosse veiculada, o fato é que a correção da notícia, ainda que se desse no modo, no tempo e no lugar
adequados e com o mesmo destaque da informação falsa, não afastaria o ressarcimento almejado. Impossível supor que todos
os leitores da notícia inexata tenham também lido as erratas e os pedidos de desculpas do articulista. Além disso, "a
publicação equivocada, por si só, dá margem à indenização. Eventual retificação a posteriori não faz desaparecer o ato ilícito
praticado" (Enéas Costa Garcia. Responsabilidade civil dos meios de comunicação. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002, p.
294). Resta, pois, fixar o valor da indenização. No arbitramento da indenização oriunda dos danos morais leva-se em
consideração a natureza, a extensão e a repercussão da lesão, bem como a capacidade econômica dos envolvidos, de modo a
compensar os prejuízos experimentados pela vítima sem que haja locupletamento e, de modo concomitante, punir o ofensor
de modo adequado a fim de não transgrida novamente. No caso em foco não se pode esquecer que a notícia inexata foi
produzida por jornalista bastante respeitado por substancial obra em quatro volumes sobre a história recente do país, o que
lhe impunha maior responsabilidade na divulgação de informações sobre aquele período. Por outro lado, a ré não adotou a
postura arrogante de ignorar ou de tentar mascarar o seu erro, de modo que o valor indenizatório mínimo proposto com a
petição inicial se mostra razoável e compatível com as peculiaridades vistas nestes autos e com os parâmetros acima
apontados. Ante o exposto, JULGO PROCEDENTE a demanda para condenar a ré ao pagamento de R$18.000,00 à autora,
com correção monetária desde esta data e juros de mora de 1% ao mês contados de maio de 2008, bem como a publicar no
mesmo jornal em que a notícia inexata foi divulgada, o inteiro teor desta sentença. Pagará ainda a vencida as custas
processuais e os honorários advocatícios da parte contrária, fixados em 10% sobre o valor da condenação. P.R.I. São Paulo,
17 de abril de 2009. Fausto José Martins Seabra Juiz de Direito

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http://www.tjsp.jus.br/PortalTJ/Paginas/Pesquisas/Primeira_Inst…=12960673&codSentenca=1906222&numProcesso=583.00.2008.245007-8 Página 1 de 1

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