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DOMINGO, 30 DE MAIO DE 2010 O ESTADO DE S. PAULO

* ESPECIAL
*

Balanço. Eleitores em
São Paulo: visões tão
diversas quanto a cidade

Classe AB
Classe C 19,4 milhões
PERFIL População Renda familiar per capita (R$)
Renda familiar per capita 91,8 milhões (10%)
DO 186,4 milhões (49%) Classe AB 2.504
BRASIL R$ 592 Classe E
29,9 milhões Classe C 550
Escolaridade (16%)
Beneficiários de programas sociais Classe D 199
6 anos 11,6 milhões (6%) Classe D Classe E 75
45,4 milhões
(24%)

FONTE: CENTRO DE POLÍTICAS SOCIAIS/FGV. ANO: 2008 KEINY ANDRADE/AE

A Construção do Voto
O Brasil olha para a frente
O Estado percorreu 12.980 km, em todo o Brasil, para ouvir os eleitores
sobre o que ocorreu nos últimos anos em suas vidas, sobre sua visão do governo e
do País e como tudo isso repercute na construção de seu voto para presidente

Lourival Sant'Anna cial e geograficamente, sintetizar ciais e regiões do País, que atra- elas continuem melhorando. modelos de políticas econômicas sultados das pesquisas de apro-
as motivações dos eleitores nu- vessa as fronteiras do urbano e Por razões muito concretas, es- e sociais, é natural que não haja vação do governo e de intenção
omose formaovo- ma fórmula única é tarefa impos- do rural, do nível de instrução e seestadodeânimoperpassaelei- um“herdeiro”óbviodoqueéper- de voto e as opiniões expressas

C
to na mente do sível. Até mesmo no indivíduo, a da idade, é essa: os brasileiros tores em situações socioeconô- cebidocomoconquistas,nemum pelos entrevistados. Muitos dos
eleitor brasileiro? construção do voto segue muitos têmosolhosvoltadosparaofutu- micas e com sensibilidades e oponenteclaro daquiloque ainda estereótipos se confirmam aqui:
Quaissuasmotiva- meandrose secompõedemuitos ro. Independentemente de suas compreensões da realidade tão perturba os brasileiros. E há mui- o espírito crítico dos mais ins-
ções? O que é deci- elementos, tanto objetivos quan- preferências e posições sociais, díspares: a melhoria do poder de to o que os perturba: as ineficiên- truídos e urbanos, a gratidão dos
sivo para ele? Para tosubjetivos:simpatiaseidentifi- eles concordam que a vida me- compra dos trabalhadores, o cias do Estado, a precariedade da mais pobres para com os progra-
responder a essas perguntas, o caçõespessoais,resultadospalpá- lhorou nos últimos anos, e veem acesso ao crédito, a expansão saúde,a violência, acorrupção, os massociais,aidentificaçãoespe-
Estado percorreu, nos últimos veis no bolso, grau de satisfação continuidade naquilo que mais dos programas sociais, a geração impostos altos, enfim, os velhos cialdosnordestinoscom opresi-
meses, 12.980 km, de avião e de comosserviçospúblicos,casuali- importa nesses 16 anos de gover- de empregos formais, o cresci- problemas de sempre. dente Lula, as habituais queixas
carro,embuscadegruposdepes- dades da vida, enfim, experiên- nodeFernandoHenriqueCardo- mento com inflação baixa. As narrativas que seguem não einquietudesdosprodutoresru-
soas que, juntos, representam o cias pessoais que têm muito ou so e de Luiz Inácio Lula da Silva: Os brasileiros estão mais con- pretendemter consistênciaesta- rais e dos empresários.
mosaicodaextraordináriadiver- pouco a ver com o governo. as políticas econômica e social. tentesdoqueantes.Issonãosigni- tística. Não são pesquisas, nem Mas mesmo o previsível ga-
sidadedetiposhumanosecondi- Mas, se há uma coisa que defi- As coisas têm melhorado, e o fica que estejam satisfeitos: eles sequer qualitativas: são reporta- nha a vivacidade que só histórias
ções socioeconômicas do Brasil. ne o sentimento dos brasileiros, que eles querem saber agora é querem mais. Como não há um gens. Mas o leitor não deixará de reais podem proporcionar. É o
Num país tão heterogêneo, so- que permeia todas as classes so- em quem devem votar para que embateentreoscandidatossobre notarumacorrelação entreosre- Brasil em movimento.

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DOMINGO, 30 DE MAIO DE 2010 O ESTADO DE S. PAULO

Na Favela do Alemão, eleição ocorre


sob o impacto das obras do PAC
Mesmo quem foi prejudicado por alargamento de rua elogia o governo; até a saúde e a educação melhoraram, testemunha moradora

mo bairro e pertencendo à mes- Eleestáanimadocomoalarga- Até Serra vai continuar. Nin- que não é verdade). outra filha de Laura. “Passam
mafamília, oimpactodoPACso- mentoda rua principal do Morro guém vai querer perder essa Rogéria Pereira de Souza, de 43 aqui e a gente dá (comida).”
bre cada entrevistado é diverso – do Alemão, exatamente o que le- chance.Serranãoestásendocon- anos, outra filha de Laura, tem há “Até a educação melhorou”,
O ESTADO
NO RIO DE JANEIRO, assim como sua visão do gover- vou à demolição de seu bar: “Pa- trário à obra de Lula.” 4 anos um bar em frente à casa da continua Rogéria. “As crianças
RJ
no, dos políticos e das condições ra mim, a estrada vai ser muito Laerte não fala em causa pró- mãe. “Graças a Deus não mexe- não estudam melhor por falta de
de vida na favela e no País. boa, porque os micro-ônibus pria: para o seu negócio, “a dife- ram nem com meu bar nem com incentivodospais.Ogovernopa-
Laerte Pereira Quaresma, de vão poder atravessar o morro e ir rença foi mínima” no decorrer minha casa”, diz ela, referindo-se ga para os adolescentes estudar,
61anos, foi atingidoem cheio pe- para outros bairros.” Hoje o que dos últimos anos; sua aposenta- ao alargamento da rua pelo PAC. e mesmo assim eles não que-

O
acesso às ruas que so- las obras. O bar que ele alugava há são Kombis que chegam até a doria de R$ 780 não aumentou e Como Laerte, ela acha que as rem.”Por causade seubar,Rogé-
bem o Morro do Ale- havia quatro anos foi um dos metade do morro e têm de dar o reajuste “não vale nada”, ava- obras do PAC saem independen- ria tem contato direto com os jo-
mão é bloqueado com pontoscomerciais ecasas derru- meia-volta, porque a rua acaba. lia. “Estou dizendo o País em ge- temente de quem se eleger. “(Jo- vensdafavela.“Crioumaafinida-
estacas de aço finca- bados para o alargamento da via. ral, que teve melhora ampla.” sé) Serra não vai querer se quei- de muito grande, o que não é
das em buracos no asfalto. Rapa- A título de indenização, o gover- Reeleição. “Ainda não vi gover- Suamãe,LauraPereiraQuares- mar por causade R$ 4,5 milhões.” bom, porque acontece alguma
zes armados de fuzis e pistolas no lhe pagou “aluguel social”, no igual a esse”, elogia Laerte. ma, de 87 anos, concorda: “Ele Rogéria não tem dúvidas de coisa com esses meninos, fico
automáticas controlam a entra- em três parcelas de R$ 250. “Para mim, foi o melhor. Pobre estáfazendomuitascoisas.”Lau- que as condições de vida no Bra- sentida, porque são gente boa.
da e a circulação na favela. A polí- “Achei péssimo”, diz Laerte, que agora pode ter eletrodomésti- radizque ébem atendida nopos- sil estão melhorando: “Vamos Estão lá não entendo por quê”,
cia não entra, mas o Programa de há 18 anos possui bar. “O ponto cos,por causadasfacilidadesque pelo básico. Quando é que po- diz ela, referindo-se ao envolvi-
Aceleração do Crescimento erarazoável. Estava trabalhando ele obrigou as empresas a dar pa- Expectativa é de que a bre comia alcatra, contrafilé, mento com o crime.
(PAC) converteu o Complexo do direitinho.” Ele alugou um bar ra os trabalhadores.” Laerte gos- comprava coca-cola todos os Seu marido, de 47 anos, traba-
Alemão em canteiro de obras, na Penha, onde está tirando en- tariaqueLulacontinuassenaPre-
rua principal possa dias? Antes, só comia galinha lhava como agente comunitário
que incluem teleférico com seis tre R$ 1.000 e R$ 1.200 por mês, sidência, mas reconhece que isso atravessar o morro e ir aos domingos. Ovo agora é op- de saúde, até ter um tumor raro
estações, centros culturais, con- ao passo que no Alemão ganhava não é permitido pela lei. Ele vo- para outros bairros ção, não necessidade.” Para o al- diagnosticado há 5 anos, passan-
juntos habitacionais, postos de cerca de R$ 2.000. tou em José Serra em 2002, gos- moço do Dia das Mães, no dia doaviverdecama.Seutratamen-
saúde, escola de ensino médio, Apesardisso,Laertenãoécon- tou do primeiro mandatode Lula tode saúde,mas nãovê diferença seguinte, o cardápio na casa de to é feito no hospital da Universi-
creche e urbanização das favelas. tra o PAC. “Se for concretizado e votou nele em 2006. Agora, vo- em relação a dez anos atrás, por Laura incluiria: lombo de por- dade Federal do Rio de Janeiro,
Em poucos lugares a intervenção igual está no papel, vai sair coisa tará em Dilma Rousseff. “Se ela exemplo. Ela recebe um salário co, bacalhoada, carne assada, no Fundão. Rogéria está conten-
doEstadobrasileiroétãoseletiva boa, mas tem que sair do papel”, fizer pelo menos metade do que mínimo de aposentadoria. “Para feijão, arroz e macarrão ao alho tecomoserviço:“Nãoéfácilcon-
e os seus paradoxos, tão visíveis. insiste Laerte, que acumulava o elefez,oucontinuarcomotraba- mim, que sou sozinha, tá bom”, e óleo. Além dos oito filhos e seguir atendimento no Fundão,
Ao meio-dia de um sábado, na bar com o trabalho na recepção lhodele,játábom. Elasendoelei- contenta-se Laura, viúva há qua- dos netos, os almoços na casa mas, na hora que precisa, faz to-
rua principal do Morro do Ale- de um hospital particular antes ta, ele vai continuar por trás.” tro anos de um encarregado de precisam ter muita comida por dososexameserecebeosmedica-
mão, o Estado ouviu três gera- deseaposentarháseisanos. Não Laerte acredita que, mesmo se limpeza aposentado. “Eu votaria causa do movimento de vizi- mentos.”Elaachaquemuitasdas
ções de uma família no alpendre é o teleférico que empolga Laer- o resultado for outro, o PAC não no mesmo que está lá”,diz Laura, nhos: “Todo mundo conhece a queixas da população se devem
da casa que lhe pertence há 54 te: “É obra de faraó. Não era pre- deve parar: “O dinheiro é fede- queacreditaqueporcausadaida- gente aqui”, explica Laudelina aofatodenãoconhecerafinalida-
anos.Ainda que vivendo no mes- ciso. É para fins eleitoreiros.” ral. Vai ter de ter continuidade. de não a deixam votar mais (o Brum Rosas, a Dina, de 55 anos, de de cada unidade de saúde.
MARCOS DE PAULA/AE

RIO DE População Renda familiar per capita Beneficiários da Previdência Escolaridade


JANEIRO:
FAVELAS
1,1 milhão R$ 379 13% 5 anos
Beneficiários de
programas sociais

2%

Três
gerações.
Família
espera que
PAC torne
Alemão
um bairro
‘normal’

FONTE: CENTRO DE POLÍTICAS SOCIAIS/FGV. ANO: 2008

culpaogovernoLulapeloseude-
Moradora teme que próximo governo pare os trabalhos semprego.Conseguiuvagadese-
gurança em uma loja, mas uma
das empresas em que trabalhou
niada com o SUS. Teve de chegar rique e (Fernando) Collor foram “Eu tenho receio de que quando ção e empregada numa empresa não mandou seus documentos
Jovem desempregado, às 4h porque lá só atendem 15 o que foram. Lula não mostra Lula sair fique tudo esburacado. do bilionário Eike Batista, pas- para a matriz, e não o chamaram.
cuja mulher trabalha pessoas por dia, e de pagar R$ 50 realmente o que é.” Elesentrampensandoemdinhei- soumal,chamaramtáxieomoto- Victor tira R$ 600 por mês fa-
porumaradiografia.Aindapreci- DinavotouemLula,econside- ro. Falam em ajudar, mas que- rista se recusou a subir o morro, zendobico comogarçom emfes-
no PAC, não culpa o sou ir ao Getúlio Vargas, hospi- ra que seu governo foi melhor rem ‘comer’ mais ainda. Igual com medo dos criminosos. Com tas. Como estoquista, ganhava
governo por não tal federal, fazer ressonância que o de Fernando Henrique. quando caiu Niterói”, compara, as obras do PAC, acredita ela, os entre R$ 700 e R$ 800, somando
encontrar uma vaga magnética. Dina conclui: “Gra- “Agora não sei em quem voto. táxis virão. “Não precisará mais salário, comissão e vale-trans-
ças a Deus não fico doente, não Por mim, não votaria em nin- Para costureira ficar implorando: ‘Pelo amor de porte. Sua mulher trabalha há
Dina tem uma visão mais crítica preciso tanto. As poucas vezes guém, mas é pior”, pondera. Deus,moro100metrosacima,os quatromesesnoPAC,cadastran-
do serviço de saúde. Ela conta que fui me decepcionei.” “Vou ser obrigada a votar na Dil-
aposentada, políticos meninos são bons’.” do casas para regularização fun-
que começou a sentir dor no bra- Costureira, ela se aposentou ma. Não conheço muito bem o falam em ajudar, mas Seu sobrinho Victor dos San- diária, e recebe um salário míni-
ço na semana anterior. Foi ao hátrêsanos.Tinhaumsalário“ra- que ela fez. Pode até ganhar, mas querem desviar dinheiro tosBrum,de26anos,estádesem- mo.“OgovernoLulaestámedei-
HospitalRodolpho Rocco, mas o zoável”, mas recebia boa parte Lula vai ficar por trás, igual foi o pregadodesdejulhode2008.Du- xandosatisfeitopelo quevem fa-
aparelho de raios X não estava por fora da carteira. Contribuiu (ex-governador Anthony) Garo- lembrando os deslizamentos de rante quatro anos, ele trabalhou zendopelas comunidadescaren-
funcionando. Na Unidade de pouco com o INSS e recebe cerca tinho com Rosinha (sua mulher abril. Dina gosta do PAC: “Acho como estoquista. Pediu demis- tes”, diz Victor. “As pessoas que
Pronto Atendimento (UPA) de R$ 500 de aposentadoria. e sucessora).” que a obra está ficando muito são para cuidar de sua mãe, que têm situação melhor não estão
inaugurada recentemente no “Agoracomoaumentovouultra- “ADilmasozinhavaiarrasaris- boa, está saindodo aspecto de fa- sofreu derrame e morreu em ou- gostando.Seelepudessesereele-
Alemão pelo governo estadual, passarosaláriomínimo.”Nãoes- so aqui, vai acabar com a UPA, vela e virando bairro.” Ela conta tubro daquele ano. Com ensino ger, manteria ele. Infelizmente
disseram que não era emergên- tá satisfeita. “Lula está sabendo com tudo”, diz Dina. Ao contrá- que, dois dias antes, sua filha de médio completo e curso de mas- não pode. Mas, com Dilma junto
ciaeaencaminharamàGuanaba- enganar bonitinho todo mun- riodeseus irmãos,ela temeque o 27 anos, formada em biblioteco- soterapia, ele diz que procura com ele nessa empreitada, va-
ra, uma clínica particular conve- do”,acusaDina. “FernandoHen- PAC não tenha continuidade. nomia, terminando pós-gradua- emprego todos os dias. Mas não mos votar nela.”
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O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 30 DE MAIO DE 2010

✽ ridade do presidente não cairá, como não dimi- Lula ou fez errado ou deixou de fazer. Os eleito- das e específicas.
Análise: Alberto Almeida nuiu no passado, por causa de críticas ou ataques ressãomuitoespecíficosquandomencionamcoi- Outro aspecto muito relevante do especial do
de quem lhe opõe. É preciso um fato político real, sas erradas que foram realizadas. Para eles, neste Estadoserefereaoquerealmentemobilizaoelei-
como uma profunda crise econômica ou um au- caso, é preciso votar em outro candidato que não tor.Asdiscussõessãocristalinas:oeleitor,dequal-
Reportagens mento agudo da inflação para que a popularidade o apoiado por Lula para que uma lei particular quer escolaridade, só se preocupa com o seu pró-
deLulacaia.Aoquetudoindicaissonãoacontece- seja abolida ou introduzida. prio umbigo. O eleitor, no momento de escolha
mostram a voz rá mais. O recado da população captado pelo Estado é de seu candidato, é mesquinho e egoísta. Ele quer
O que o Estado mostra, ao ir ouvir diretamen- também uma sugestão para a campanha de Serra saber como os candidatos podem melhorar a sua
viva dos eleitores teoeleitor, éque essaelevada popularidadetem a e Marina. A sugestão de que ambos busquem um vida. Eles querem que os candidatos falem para
vercomtersidopossívelcomprarumcarro,refor- discurso mais geral e mais amplo. Vale recordar ele de seus problemas e como serão resolvidos.

Q
uem mora na cidade de São Paulo ou mar a casa, conseguir um emprego melhor. Aque- aqui dois estilos de campanha nas primárias nor- Eis aí mais um recado para as campanhas de
mesmo no Estado de São Paulo tem les que apoiam Lula, e que por isso têm a tendên- te-americanas, o Obama do discurso geral e a 2010. Temas como Banco Central não dizem na-
uma noção limitada de como pensa o cia de votar na sua candidata, estão ao lado do Hillary do discurso específico. da para o eleitor, em particular se comparado
eleitor médio brasileiro. Podemos ir presidente por causa de uma questão geral, am- A mesma pergunta feita a Hillary e a Obama com um tema sobre o qual a atuação do Banco
além de São Paulo. As pessoas de clas- pla, assim formulada pelos eleitores: “A minha recebia duas respostas inteiramente diferentes. Central tem grande impacto: a inflação. Temas
se média e alta das grandes cidades brasileiras vida melhorou com Lula”. Esse “melhorou” se Hillary apresentavaquinze medidas que iriamre- comoreformatributária, carga fiscalesua lingua-
não entendem, muitas vezes, por que o governo aplica às condições financeiras, ao consumo. solver o problema endereçado pela pergunta; gem incompreensível, crise fiscal ou a partilha de
Lula tem uma aprovação tão elevada e por que Não há um motivo específico para ficar ao lado dentro de cada medida ela explicava como e por impostos entre municípios, Estados e União não
Lula é tão querido. de Lula, algo como: “Aprovo ele porque esta obra que seria feito daquela forma. Obama se limitava dizem respeito em nada ao interesse do eleitor. O
A série de artigos do Estado, tão bem redigidos denominadadestaoudaquela maneiramebenefi- a responder indicando o rumo que seguiria. Algo eleitor quer saber e está disposto a votar em
pelo jornalista Lourival Sant’Anna, mostra com ciou.”Ouainda,“estou aolado deLulaporque ele como “todos os americanos terão acesso a trata- quemvai reduzir os impostosdos alimentos, pas-
bastante clareza e realidade o que é captado de apresentou na Câmara, e conseguiu que fosse mento de saúde digno”. sagens aéreas e automóveis. O Estado premiou
maneirafriapelos númerosdaspesquisasquanti- aprovado, um determinado projeto de lei”. Na Obama venceu Hillary na indicação do Partido seus leitores e as campanhas de 2010 com este
tativas. Lula é querido sim, mas não em abstrato. aprovação de Lula predomina uma justificativa Democratapor diversasrazões,mas essadiferen- especial que para nós, pesquisadores, é uma ver-
As pessoas que gostam de Lula pensam desta ma- geral e faltam motivações específicas. ça no discurso de ambos não pode ser menospre- dadeira pesquisa qualitativa.
neira porque associam ao seu governo a melhoria O sinal se inverte quando lemos os depoimen- zada. O eleitor capta e retém muito menos infor-
de suas vidas. tos dos eleitores que pretendem votar nos candi- mações do que as pessoas que gostam de política ✽
Lula não é um deus, um ídolo, ou alguém cuja datos de oposição. O motivo para votar em Serra e a acompanham. Por isso, o argumento geral É SOCIÓLOGO E AUTOR, ENTRE OUTROS LIVROS, DE ‘A
popularidadesejainquebrantável. Aliás,apopula- ou Marina é sempre alguma coisa que o governo tende a ser mais efetivo do que questões detalha- CABEÇA DO BRASILEIRO’

PARÁ: População Renda familiar per capita (R$) Escolaridade


CLASSES Classe AB Classe AB
4% Classe AB 2.015
AB E C
URBANA
138 mil da população
Classe C 474 9 anos
urbana
Classe C Classe C

1,3 milhão 47% 6 anos


FONTE: CENTRO DE POLÍTICAS SOCIAIS/FGV. ANO: 2008
KEINY ANDRADE/AE
gócios. “Voto em quem gera em-

Em Marabá, prego. Meu negócio é vender


meuproduto”,explica. “Essene-
gócio de mensalão, tenho mais o
que fazer do que ficar olhando o
que o governo está fazendo, se

queixas estão roubando. Um dia presta-


rão contas com Deus.” Seme vo-
tou em Serra em 2002 e em Lula
em 2006, porque gostou do pri-
meiro mandato. “Não pensei

de impostos que ele fosse tão bom.” Ele se


identificacomopresidente:“Lu-
la é peão igual eu. Saiu do nada.”
Marabá foi uma das cidades
que mais cresceram no Brasil

elevados nosúltimosanos.NaAvenidaTo-
cantins, no bairro Cidade Nova,
ondeseis pessoas sereuniramna
padaria City Pão para conversar
com o Estado, os preços dos alu-
Cidade cresce vertiginosamente, e muitos guéisdeapartamentosseequipa-
ram aos de São Paulo.
moradores atribuem êxito a esforço próprio A catarinense Cíntia Alves de
Moraes, administradora de em-
ra lucro real. “Passamos a pagar presas de 36 anos, veio em 2007
maisimpostos,temosmaisferra- deSão Paulo, onde trabalhava na
mentas para avaliar se estamos cooperativa de ônibus Nova
O ESTADO
EM MARABÁ,
ganhando ou não e descobrimos Aliança, atendendo a um convite
PA que nossa margem de lucro é paraimplantarobilheteeletrôni-
muito pequena.” co na cidade. “Nesse período,
“Énormal que o governoaper- Marabámudoumuito”,testemu-
te, ele tem de correr atrás do que nha Cíntia. Mas ela não vê nisso

É
difícil encontrar um é devido, mas, já que está arreca- papeldogoverno.“Odesenvolvi-
marabaense em Mara- dandomuitomais,epraticamen-
bá. Típico polo de atra- te não existe sonegação, deveria ‘Governo é falho na
ção da fronteira agríco- diminuir a alíquota”, propõe
la amazônica, essa cidade de 200 Cláudio, que cursou ensino mé-
saúde, na educação e na
mil habitantes no sul do Pará é dio.“O governotem de aprender corrupção’, reclama
povoada de gente que veio de to- aconvivercomporcentagemme- empresária de eventos
das as partes do Brasil em busca nor de imposto e a devolver em
de oportunidades na agricultu- serviços para o contribuinte, o mento da cidade é de interesse
ra,namineração,comércio eser- que não tem acontecido.” dos empresários, e não dos go-
viços. Esse magnetismo deu ori- A única rodovia federal da re- vernos”, diz Cíntia. “O governo
gem a uma classe média urbana giãoéaTransamazônica,quepas- federal é falho, principalmente
empreendedora, com forte liga- sa asfaltada dentro de Marabá, na saúde, na educação e na cor-
ção com a economia rural a seu mas 20 km adiante prossegue de rupção”, critica Cíntia, que tem
redor, que tende a atribuir seu terra.“HáquantosanosaTransa- empresa de eventos em Marabá.
êxito aos esforços próprios, e a mazônicaexisteenenhumgover- Ela votou em Serra em 2002, em
ver no governo mais um estorvo noresolveu oproblema dela”,in- Geraldo Alckmin em 2006 e vol-
que uma solução. digna-se Cláudio. “Continua tará a votar em Serra este ano.
José Cláudio de Paula, de 38 sem pontes, esburacada, cheia “Não confio na Dilma. Ela é só
anos, veio de Rubiataba, interior de atoleiros, quase intransitável fantoche de Lula.”
de Goiás, em 1996, depois que nessa época de chuva.” A City Pão começou com uma
seu pai adquiriu uma fazenda na pequena padaria em 2005. Hoje
região. Em 2000, comprou uma Reserva. Cláudio também se é uma rede de três padarias e res-
partedaCasada Roça,tornando- queixa da exigência de 80% de taurantes e uma fábrica de pão.
se um dos quatro sócios da rede reserva legal nas fazendas da “Acho errado dizer que o gover-
de 12 lojas em 12 municípios do Amazônia. Ele lembra que a no não tem papel nisso”, discor-
Pará. De lá para cá, abriram mais União incentivou a vinda dos fa- daNádia,de 41anos,irmãdeCín-
duas filiais e montaram uma fá- zendeiros – incluindo seu pai – e Prosperidade. Opiniões dos entrevistados se dividem sobre desempenho do governo federal tiaegerentedaCity Pão. “Tudoo
brica de sal mineral. Seus clien- acondiçãopara aliberação dere- que o governo faz reflete no bol-
tespertodeMarabácriamprinci- cursos era que os proprietários res. “Não é que piorou com a lei Serra,que temcapacidadede im- goedeembutidos,com936clien- so. O governo Lula teve um lado
palmente gado; noutras áreas do desmatassem – ou “abrissem”, ambiental, mas precisava existir plantar políticas viáveis para tes espalhados por 30 municí- legal, de incentivo ao pequeno
sul do Pará, o forte é a soja. nojargão rural– pelomenos 50% flexibilidade para deixar usarpe- manter esse pessoal no campo. pios da região. “O Ibama nos tra- agricultor. Criou oportunidades
Cláudio conta que o seu negó- das terras. “Era o contrário”, lomenos50%daáreaquefoides- DilmaeMarina nãotêmconheci- ta como marginais. Dizem que paraproduzir,masmuitos prefe-
cio cresceu entre 2002 e 2006. aponta. “Estamos sendo obriga- matada, senão fica inviável.” mento de causa.” está destruindo a mata, mas o rem viver às custas do governo.”
“Nos últimos quatro anos, esta- dos a assinar TAC (Termo de Àpergunta sobreque candida- É comum ouvir essas queixas americano não destruiu a dele?” Formada em administração,
bilizou.” Ele atribui a interrup- Ajustamento de Conduta, com o to é mais sensível a esses proble- em Marabá. “Tem uma política Seme aprova o governo Lula, ela votou em Serra em 2002 e em
ção no crescimento ao fato de a Ministério Público) para regula- mas, Cláudio responde: “Talvez ambiental contra nós”, acusa o por causa da repercussão do au- 2006 justificou. Este ano ainda
empresa ter mudado seu regime rizar nossa criação.” Seu pai tem hoje o que seria mais sensato – empresário Seme Alcici Assaf, mento do crédito, do emprego e nãosabe emquem vai votar. “Va-
tributáriodelucropresumidopa- 800 cabeças de gado e 450 hecta- não vou dizer ‘melhor’ – é o José de 49 anos, distribuidor de fran- do poder aquisitivo nos seus ne- mos ouvir as propostas.”

ambientalnaUniversidadeFede- maturo” dizer que votará nele. “pedir esmola”. Thaynara quei- muito ruim, em todos os senti-
Opiniões sobre governo ral do Pará, critica o processo de
licenciamentoambientaldaside-
No ano passado, sua irmã,
Thaynara, de 24 anos, fez estágio
xa-se também do serviço de saú-
de. Ela justificou o voto em 2006
dos.” Na sua área, a melhora que
ele viu foi a criação dos hospitais

estadual influem no voto rúrgica e teme por seu impacto


ambiental e social. Dyego critica
tambémodesempenhodagover-
de240 horasnum postode saúde
de Imperatriz, no Maranhão, on-
de se formou em nutrição, e saiu
e não sabe em quem votará. “As
propostassão lindas, é tudo mui-
to fantasiado.” Só sabe que não
regionais, para tratar casos com-
plexos, antes encaminhados pa-
raBelém.Masdiz quefoi iniciati-
nadora Ana Júlia Carepa (PT) desiludida com as políticas so- votariaemLula:“AchoqueoBra- va do governo anterior, do PS-
A grande expectativa em Marabá ficar pronta em 2013. “Vão fazer nasáreas dasaúde,da educaçãoe ciais do governo. Ela diz que viu sil merece coisa melhor.” DB.Háquatroanos,Marcello vo-
gira em torno da implantação de outra cidade aqui dentro”, apos- da segurança pública. Isso influi mães falsificando o peso de seus A visão do cirurgião plástico tou em Alckmin, e este ano vota-
uma nova siderúrgica, a Aços La- ta Seme. “ É outro Eldorado (dos na sua visão do governo federal: filhos para continuar recebendo Marcello Nunes Alves, de 39 rá em Serra. “O Brasil está bom
minados do Pará, investimento Carajás), outra Serra Pelada.” “A governadora é petista, e o pre- o Bolsa-Família, e observou que anos, também é prejudicada por para quem é menos favorecido”,
de US$ 3,7 bilhões da Compa- Dyego Santana Reis, de 20 sidente, também.” Ele tem “sim- ascriançasficamapenasmeiope- sua impressão da governadora: diz o cirurgião plástico. “Quem
nhia Vale do Rio Doce, que deve anos, estudante de engenharia patia” por Serra, mas acha “pre- ríodo na escola, e no outro vão “O governo estadual do PT está tem paga muito imposto.”
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DOMINGO, 30 DE MAIO DE 2010 O ESTADO DE S. PAULO

Lavradores do sertão da Paraíba dizem q


Programas sociais, crédito fácil e obra de represa atingem em cheio
trabalhadores de fazendas no interior da Paraíba e definem seu voto
prejuízo.” Ele pagará R$ 500 este gou há dois anos ao Riachão dos
ano e R$ 1.000 em 2011. Das Do- Pintos, onde Manuel Sabaió mo-
O ESTADO res conta que a vida de seu pai, ra. Júnior vive na cidade, mas diz
EM UIRAÚNA,
PB
aposentado de 89 anos, também que o programa beneficiou seu
“melhora todo ano”, graças aos pai, que mora numa localidade
reajustes do salário mínimo. Seu chamada Siriema. Galego, que
pai costuma dizer: “Ê, governo moraemCasasVelhas,nomunicí-
bom.” pio Poço José de Moura, ainda

N
o sertão da Paraíba, os “Aqui agora também tem aque- não foi alcançado pelo programa,
lavradores que traba- le negócio do teste do pezinho”, apesar de ter feito o pedido há um
lham nas fazendas, em acrescenta Manuel Valdevino da ano. Ele gastou R$ 150 para esten-
troca de diária, meren- Costa Neto, o Manuel Sabaió, de der a rede até sua casa. “Mas,
da e almoço, são chamados de 53 anos. Ele diz que sua filha de 17 quando chegar, eu arranco e ven-
“moradores”, porque suas casas anos tem um bebê de 7 meses, e do o poste.”
ficam dentro das terras dos pa- está encaminhando os papéis pa- A simpatia por Lula é anterior
trões. Nas fazendas Riachão e Rio ra fazer o teste e receber em troca a todos esses programas. “Votei
dos Peixes, perto de Uiraúna, 464 benefício de R$ 2.000. “Isso aqui todas as vezes em Lula, porque
km a oeste de João Pessoa, mo- nunca teve”, sentencia Sabaió. era nordestino e dava valor aos
ram nove famílias. As nove tive- pobres”, explica Sabaió. Sua úni-
ramseusbarracosde taipa(amar- Bolsa-Família. Dos cinco, dois ca crítica ao presidente é por
ração de paus e enchimento de recebem Bolsa-Família. Damião não ter tirado do papel a trans-
barro) trocados por casasde alve- Rodrigues da Silva, o Galego, de posição do Rio São Francisco,
naria pela Fundação Nacional de 36 anos, conta que ganha R$ 90. que ele considera que geraria
Saúde(Funasa),paraevitardoen- Ele tem um filho de 2 anos, e há muitos empregos no Nordeste.
ças como o mal de chagas, trans- três recebe o benefício. “Não foi “Lula não vai sair este ano? En-
mitido pelo barbeiro. É só um difícil conseguir”, testemunha tão, vai dar só um calor”, queixa-
exemplo de como os programas Galego, que com o auxílio com- se. “Vamos ver se a candidata
do governo federal têm mudado a pra gás e paga energia elétrica. dele vai seguir”, continua Sa-
vida dos sertanejos – com fortes “Não tem nada do governo que eu baió, referindo-se ao engaja-
repercussões sobre seu compor- não goste”, resume. “O melhor mento de Dilma Rousseff no pro-
tamento eleitoral. presidente que entrou foi Lula.” jeto. “Acho difícil.”
Eles começam a trabalhar às 7 “Euvotona candidata deLula”,
Proteção.
horas, param às 11 para o almoço, Do próximo governo, atalha Júnior, com um chapéu de
Todas as
descansam, retomam às 13 e vão couro que lembra os cangaceiros
até as 17horas. Depois do almoço,
eles esperam mais obras, que atravessaram essa caatinga
9 famílias
para gerar empregos em 2
à sombra de um juazeiro, cinco há um século. As opiniões se divi-
fazendas
moradores que faziam uma cerca formais na região dem quanto a Dilma. O repórter
ganharam
na Fazenda Riachão, e que rece- pergunta se uma presidente mu-
casas da
bem diária de R$ 20, conversa- “Antes, a gente não ouvia falar lher seria bom, e Júnior reitera
Funasa
ram com o Estado sobre o que nada dessas coisas que vêm acon- que sim. “Se ele dissesse que não
acham do governo do presidente tecendo”, assegura Geraldo Oli- estava bom, ia ser preconceituo-
Lulae sobre aseleições deste ano. veira, de 58 anos. “O governo de so”, coloca em dúvida Manuel Sa-
“Para o pobre, ele é muito Fernando Henrique foi até mais baió. “Eu fico no meio. Acho que
bom”, começa Geraldo Daniel oumenos.”Elelembra,porexem- não vai resolver tão bem igual o
Duarte, o Geraldo Zé das Dores, plo, do Programa Vale Gás. “Nós homem.” Mas pondera: “Se a mu-
de 58 anos. “Hoje, acabou os po- recebeu num dia e cortou no ou- lher continuar o que ele (Lula)
bres. Mudou muitas coisas”, con- tro”, recorda Oliveira, provocan- fez, tá bom.” Geraldo Zé das Do-
tinuaDas Dores,capatazdafazen- do risos entre os demais. Ele tam- resdiscorda:“Àsvezes,mulherre- PARAÍBA: População 46%
da, sob o olhar de aprovação dos bém recebe o Bolsa-Família: “Pa- solvemelhorquehomem.”Olivei- da população
outros. Eles passam a enumerar rece que é R$ 90. Quem recebe é a ra é da mesma opinião: “Eu vou
CLASSE E
RURAL
379 mil rural da Paraíba
os programas federais. mulher. Não vejo nem a cor.” Mas votar na mulher.”
O primeiro que Das Dores cita diz que ela compra material esco- Política mulher não é novidade Renda familiar per capita
é o Seguro Safra, que segundo ele lar para os netos e paga as contas para os moradores da região. Ui-
lhe pagou um total de R$ 550, em de água e luz dos três filhos que raúna, terra da ex-prefeita de São R$ 69
cinco parcelas, como indeniza- moram na cidade. PauloLuiza Erundina(PSB),éad-
ção pela perda de sua lavoura Sabaió recebeu o Bolsa-Escola ministrada pela médica Glória
com a chuva na hora errada no durantetrêsanosdo governoFer- Geane (PSDB). Na vizinha Santa-
ano passado. O capataz lembra nando Henrique e o Bolsa-Famí- rémdaParaíba,outraprefeita:Lu-
em seguida o Programa Nacional liadoisanosdo governoLula.Per- crécia Barbosa (PMDB).
de Fortalecimento da Agricultu- deu o direito porque a venda do À pergunta sobre se pode-
ra (Pronaf), que financia investi- leite de suas vacas elevou sua ren- riam votar em José Serra, caso
mentos na produção. Ele já fez da acima do teto do programa, e ele prometesse manter todos
três saques do Pronaf, por meio porqueseusfilhosforamcrescen- os programas sociais, Oliveira
do Banco do Nordeste: comprou do;José Duarteda Silva Júnior, de descarta: “Ele falou em entrevis-
uma vaca com os primeiros R$ 25 anos, nunca recebeu porque é ta no jornal que, se chegasse no
1.000e,depois,doisparesdenovi- solteiro; Geraldo Oliveira, de 58, poder, cortava.” A informação
lhos, por R$ 1.500 cada. “Quando porque quando o programa che- gera polêmica. “Corta não”, du-
a crise pega, a gente vende a ma- gou seus filhos já eram adultos. vida Das Dores. “Se tem o po-
triz (vaca) e fica com a cria”, des- O Programa Luz para Todos, der, por que não vai cortar?”,
creve. “Tem resultado, não tem também do governo federal, che- insiste Oliveira.
FONTE: CENTRO DE POLÍTICAS SOCIAIS/FGV. ANO: 2008

KEINY ANDRADE/AE

Produtores rurais
responsabilizam governo
por invasões de terras
na pecuária?”, pergunta Wagney. Gir e Holandês: “O BNDES (Ban-
Expansão de crédito “Osfrigoríficoseasredesdesuper- co Nacional do Desenvolvimento
agrícola cria simpatia pelo mercados levam a parte do leão. O Econômico e Social) socou di-
produtor não está levando nada. nheiro no Friboi, e hoje só exis-
governo Lula, mas perfil Ogovernodeveriasustentarapolí- tem ele e o Independência”, diz
de Dilma é associado a tica agrícola com preços.” O agrô- ele, referindo-se aos dois maiores
insegurança no campo nomoMaurícioBueno,de45anos, frigoríficosdo País.CarlosAugus-
queprestaconsultoriaemplaneja- to Ribeiro Franco, de 60 anos,
mento de crédito agrícola, expli- consultor ambiental, criador de
ca: “Os frigoríficos são poucos e gado ede frangos, identifica nisso
O ESTADO põem o preço no boi.” uma política do governo Lula: “É
EM UBERLÂNDIA,
BH Maurícioobservaque“temcin- pretensãodesse governo mostrar
co ou seis empresas comprando a cara do Brasil lá fora e para isso
boi e produzindo fertilizantes, e precisa de grandes estruturas.”
milhões produzindo boi”. Do la- A concentração se reproduz

X
Wagney Azevedo Leão, do dos grãos, grandes empresas nasfazendas.“Há cinco,dezanos,
de75anos,temaagrope- todo mundo tinha condições de
cuárianoDNA.Seubisa- Fazendas tornam-se plantar5,10alqueires(24a48hec-
vô era agropecuarista. tares)”, lembra o agrônomo Mau-
Seus netos cuidam agora das ter-
inviáveis com reserva de rício. “Hoje, ou você é produtor
ras da família. “O agropecuarista mata de 20% e mais áreas de 10 mil hectares ou não é nada.
hoje é um herói”, diz ele, ao lado de proteção, afirmam Com menos de 200 hectares, vo-
de outros quatro produtores, reu- cê não produz mais nada, e 90%
nidos numa tarde de terça-feira como Cargill, Bunge, Sadia e (dos fazendeiros da região) têm Campo. Produtores rurais da região de Uberlândiapedem mais apoio do governo
numa sala do Sindicato Rural de Granjeiros “pagam o que que- esses pedacinhos de chão.” Os
Uberlândia para conversar com o rem”, acrescenta José Luís da Sil- produtores explicam que, ao lado der as fêmeas, que atingem preço so reduzem a sua produção. Nas lavouras, plantam milho em
Estado.Suasqueixasereivindica- va, de 63 anos, que tem 360 hecta- dos preços baixos dos produtos, mais baixo no mercado. Segundo O preço mínimo estipulado pe- cima da outra safra. Não compen-
ções dirigidas ao governo federal res de milho e soja e cerca de 800 as terras têm exigido investimen- ele, o ideal seria vender no máxi- lo governo para a saca de 60 qui- sa colher. Não tem preço.”
incluem os custos altos da produ- cabeças de gado de corte. tosmaisaltosnacorreçãodo solo, mo20%dasfêmeas,masosprodu- los de milho, diz Wagney, é R$ “Nos últimos anos a gente não
ção e os preços baixos dos produ- O governo contribuiu para essa assim como novas pragas têm de- torestêm vendido 45%. É um “cír- 17,50. A saca está sendo vendida a está conseguindo ganhar dinhei-
tos,asinvasõesdeterraseasamar- concentração, observa Otacílio mandado agrotóxicos caros. culo vicioso”, descreve: vendem R$ 13. ‘O governo não pratica o ro,emuitasvezesestáperdendo”,
ras ambientais. Ferreira Matos, de 52 anos, que Otacíliodizqueadescapitaliza- as fêmeas para fazer caixa porque preço mínimo”, critica ele. “Tem diz José Luís. “Compramos insu-
“Que sustentação temos hoje trabalha com genética de gado ção dos pecuaristas os leva a ven- não têm animal acabado e com is- milho estocado do ano passado. mos quando os preços dos grãos
O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 30 DE MAIO DE 2010 Especial H5

que a vida melhorou KEINY ANDRADE/AE

‘Lula é o pai da
Nação’, definem
moradores
da caatinga
Os lavradores dizem que não po-
dem contar nem com o governo
estadual nem com as prefeitu-
ras. Geraldo Oliveira dá um
exemplo: na Emater, órgão de
assistência técnica estadual, pa-
ra tirar 10 kg de milho para plan-
tar, é preciso deixar 20 kg de fei-
jão. “Isso não é ajutório.” A Pre-
feitura de Uiraúna cedeu no ano
passado duas horas de trator pa-
ra a colheita do milho, mas tar-
de demais, quando ele já estava
“seguro” na espiga. “Perdemos
a colheita.”
Em contraste, o governo fede-
ral os apoia, afirmam eles. Geral-
do define assim o presidente Lu-
la: “É o pai da Nação.” Júnior
tem uma justificativa simples
para votar na candidata do presi-
dente: “Tem que ajudar quem
ajuda a gente.” Ele conta que
sua irmã, que tem um filho de 4
FONTE: CENTRO DE POLÍTICAS SOCIAIS/FGV. ANO: 2008
anos, ganha Bolsa-Família e re-
cebeu pelo teste do pezinho.
Além disso, Júnior conseguiu
comprar sua moto no ano passa-
do, em consórcio, com mensali-
dades de R$ 125. “Melhorou mui-
to para nós com a entrada desse
presidente.”
Galego também comprou sua
moto, por R$ 4.800, com o salá-
rio que ganhou trabalhando na
construção da Barragem de Ca-
pivara, que abastece seis municí-
pios da região, onde antes falta-
va água. Ele recebia salário míni-
mo (na época R$ 480) mais R$
Beneficiários da Previdência Escolaridade 120 de hora extra. “A obra aju-
dou muito. Deixou muita gente
9% 2 anos com moto zero.”
As motocicletas converteram-
Beneficiários de programas sociais se num sinal da “prosperidade”
em muitas zonas rurais pobres do
54% Brasil. No agreste nordestino,
elassubstituemostradicionaisju-
mentos como meio de transpor-
te,eosanimaissão vistosabando-
nados nas estradas de terra.
A Barragem de Capivara foi
construída pelo governo esta-
dual, com verbas federais conse-
guidaspelodeputadoWilsonSan-
tiago (PMDB-PB), que apoia Lu-
la, dizem os moradores. São mais
obras assim, como o asfaltamen-
to da estrada que liga Uiraúna a
Icó (Ceará), ou a transposição do
São Francisco, que eles esperam
do próximo governo, para gerar
empregos formais.

MINAS População Classe AB Renda familiar per capita (R$) Escolaridade


73 mil Classe AB
GERAIS:
2,8 milhões 2,6% Classe AB 2.637
ÁREA
RURAL Classe C 439 7 anos
Classe C
Classe C
1 milhão
35,7%
4 anos
FONTE: CENTRO DE POLÍTICAS SOCIAIS/FGV. ANO: 2008

estão altos. Na colheita, caem os ram a região em meados do sécu- ro, lei de 1965. “Está totalmente mento está fora de moda.” agrícola que liberasse da reserva sem segurança. Esse governo não
preços. E aí a dívida está feita.” lo 19. Hoje a cidade tem 600 mil desajustado ao processo produti- Carlos argumenta que em re- legal “regiões antropizadas (mui- traz nenhuma tranquilidade. Es-
Maurício, que arrenda 40 hecta- habitantes. Tradicionalmente vo”, avalia Carlos, que é também giõescujasterrasjá forambastan- to modificadas pelo homem), ses movimentos são uma praga.”
res com feijão irrigado, acrescen- produtora de milho e gado, pas- consultor ambiental. “Sistema de te fracionadas pelas heranças su- com alta vocação agrícola, como A fazenda vizinha à de Carlos, na
ta: “Quando vai planejar a safra, o sou a dedicar-se também à soja e reserva legal só existe no Brasil. cessivas, como Uberlândia, onde oTriânguloMineiro”epreservas- região de Água Limpa, foi invadi-
produtor se anima com o preço tornou-se grande polo avícola do No mundo inteiro acabou. E vêm segundo ele a área média é de 50 se “regiões de baixa vocação, co- da. “São massa de manobra do go-
alto;quandocolhe,opreçocai.Há País. A soja é exportada, enquan- aquipolemizarparaogovernoim- hectares, o conceito de 20% den- mo Mato Grosso”. verno.Usamessepovo.Édesuma-
um descasamento na renda. Jun- to o milho abastece o mercado in- por o cumprimento.” tro de cada propriedade não faz À pergunta sobre que candida- no”, acusa ele. “Não querem pro-
ta-se isso com falta de estrutura terno de ração. Carlos usa um argumento bas- sentido. “São pequenas moitas to à presidência se mostra mais duzir. Vendem (o lote) e vão inva-
de armazenamento e de crédito.” A crise econômica mundial te- tante defendido pelos agriculto- de mata sem corredor de ligação. sensível a todas essas questões dir outra.” Ele estima que, na sua
O consultor acha que falta uma ve impacto sobre o agronegócio res: “Se (a preservação ambien- Que bicho vai viver em moita de 2 levantadas por eles, os produto- região, 90% dos assentados não
políticadogoverno para“direcio- a partir de abril de 2009. “Agora tal) é para o bem da coletivida- hectares? Não dá sustentabilida- res rurais dão respostas diver- sãoosoriginais:compraramdeou-
nar” o plantio e o escoamento. está começando a reagir”, diz de, por que o produtor paga sozi- de nem para a flora nem para a sas. José Luís diz que ainda é tros. “Ofereceram-me dez lotes.”
“Ou que pague para não plantar.” Carlos Augusto, que cria 550 ca- nho?” Os agricultores acham fauna.” Externando uma opinião preciso estudar o perfil dos can- Wagney associa o problema a
Wagneyassinalaque ogoverno se beças de gado de corte, 50 de que devem ser remunerados pe- também bastante comum entre didatos. Carlos e Wagney não Dilma Rousseff: “Conhecemos a
aproveita do produtor ao impor o leite e 130 mil frangos para pro- la manutenção de matas em osprodutoresrurais,Carlosconti- têm dúvida de que o candidato peça muito bem. Foi guerrilhei-
preço baixo dos alimentos. “Para dução de ovos, além de cultivar suas fazendas, como nos Esta- com maior “afinidade” com os ra. O passado dela não merece a
o governo é lindo, excelente.” milho, sorgo e cana para alimen- dos Unidos. Criadores de gado produtores é José Serra. Maurí- confiança do setor.” Maurício
tar o gado. “Tende a melhorar, NaregiãodeUberlândia,areser- cio contesta: “O PSDB gover- também se revela pessimista:
Populismo. Ele vê populismo mas não volta ao patamar de va legal compreende 20% da pro-
criticam concentração de nou do mesmo jeito (que o PT) “Vaiser pior.” Os produtores tor-
também na política agrária. “O 2007 e 2008.” priedade;no cerrado, oíndice é de frigoríficos, estimulada oito anos.” Ele defende o gover- cem para que a senadora Kátia
MST invade o Ministério da Agri- Para ele, a política comercial 35% e na Floresta Amazônica, de pelo BNDES no Lula: “O partido do qual ti- Abreu (DEM-TO), presidente da
cultura, o Incra, as fazendas, e do governo Lula foi “bastante in- 80%. A reserva soma-se às Áreas nham medo fez mais do que o Confederação da Agricultura e
qual atitude o governo tem toma- cipiente”. Seu modelo de minis- de Proteção Permanente (APPs), nua: “A quem interessa gravar governo Fernando Henrique Pecuáriado Brasil(CNA), não se-
do?”,indigna-seWagney,quepar- tro da Agricultura é Marcus Viní- na beira da água e nas encostas 20%? Aos nossos concorrentes lá Cardoso no crédito agrícola.” ja vice de Serra. Não porque não
ticipou do Clube dos 11, embrião cius Pratini de Moraes (do segun- dos morros. O assunto inflama os fora, que já devastaram tudo. Sa- gostemdela. Pelocontrário: “Pre-
da União Democrática Ruralista domandato deFHC).“É umgran- produtores rurais. Eles afirmam bem que somos competitivos e Insegurança. Carlos rejeita a cisamos dela aqui.” No dia em
(UDR). “Estão querendo que de- de comerciante. Abriu muitos que uma fazenda cortada por um quanto mais puderem nos atrapa- abordagem partidária: “Temos de que o Estado esteve no sindica-
pois que invadam a gente tem de mercadosparaoBrasil. Principal- rio a inviabiliza comercialmente. lhar,vãoinfernizar,atravésdeON- verdaqui paraafrente oindivíduo to, um ônibus com 38 produtores
defender? Não existe isso. Piorou mente no setor decarnes, existeo “Tem fazendeiro perdendo meta- Gs financiadas por eles. O gover- maisapropriado.”Eleresponsabi- sairiade Uberlândiarumo aBrasí-
muito nos últimos anos.” Brasil antes e depois de Pratini.” de da fazenda”, observa Otacílio. no não reage a essa intromissão.” liza o governo pelas invasões: lia, para participar do movimen-
Uberlândia foi fundada em Osprodutoresqueixam-setam- Mauríciodefendeexcluirdocálcu- O consultor ambiental diz que “Quesegurança jurídicatemosno to Paz no Campo, liderado pela
1888, depois que paulistas ocupa- bémdo CódigoFlorestal Brasilei- lo a área já desmatada. “Desmata- deveria haver um zoneamento campo? Não adianta ter crédito senadora.
H6 Especial
%HermesFileInfo:X-6:20100530:

DOMINGO, 30 DE MAIO DE 2010 O ESTADO DE S. PAULO

✽ características semelhantes e discutiu com eles nuam com as mesmas reclamações de décadas ticas que atingiram o Nordeste, e não de um pro-
Análise: José Roberto de Toledo temas relativos à eleição: o governo Lula, o Bolsa sobre a falta de garantia de preço mínimo para o grama específico. A percepção dos beneficiários
Família, impostos, o serviço público de saúde, a que produzem na lavoura. Em vez de elogio, fa- é que tiveram um progresso duradouro.
escola, a aposentadoria, o desemprego. Com zem no máximo uma concessão contrariada: Aintensidadenaaprovaçãodogovernofazmui-
Fala dos eleitores uma vantagem: o repórter foi até os eleitores e os “Não podemos dizer que esse governo foi ruim”. ta diferença nas urnas. Na média, os eleitores de
entrevistou em seus ambientes. Isso rendeu aos É no Sul que Lula tem sua nota média mais Dilma Rousseff (PT) avaliam o governo Lula com
revela o que estatística relatos uma espontaneidade rara nos grupos de baixa:7,3,segundooDatafolha.Vistoisoladamen- nota 8,8. Embora mais baixa, a nota média dada
pesquisa tradicionais. A interação com o entorno te, o número é alto, mas embute muitos eleitores pelos eleitores de José Serra (PSDB) também é
não mostra complementou as falas com elementos de obser- que, embora admitam méritos, têm uma lista de alta: 7,4. O que diferencia um eleitorado do outro
vação do repórter. A narrativa ficou mais rica. críticasaogovernoenãoestãoespecialmentepre- é a composição dessas notas.

U
ma das modalidades de pesquisa usada Diferentemente das pesquisas qualitativas, dispostos a votar na sua candidata à sucessão do Dilma tem quase o dobro dos votos de Serra
tanto em campanhas políticas quanto nasreportagensos personagenstêmnome,ende- presidente. entre os 47% de eleitores que dão notas 9 e 10 ao
em sondagens de mercado é conhecida reço, personalidade. Contam suas vidas e reve- O que a combinação dos relatos com as estatís- governo. Serra vence na proporção de 3 para 1 no
por“qualitativa”:ospesquisadoresreú- lam detalhes de seus dramas pessoais que não se ticas parece revelar é que, como o parâmetro de terço dos eleitores que dá nota 7 ou inferior a
nem grupos de pessoas com algo em comum nu- ouvem nas “qualitativas”, porque o código de éti- comparaçãoémuito baixo,ummínimodeprogra- Lula.Adisputaépelos20% queavaliamogoverno
ma sala e estimulam debates sobre temas que cadas pesquisaspreserva o anonimato dosentre- mas com impacto positivo é suficiente para pro- com nota 8. Hoje, os dois estão tecnicamente em-
lhes interessam. Não se pode extrapolar os resul- vistados. duziríndicesde aprovação desproporcionalmen- patadostambémnessesegmento.Porisso,éindis-
tados estatisticamente, nem extrair porcenta- Das reportagens emergem explicações vívidas te altos. pensável aos candidatos compreender as nuan-
gens. Mas as frases e ideias que surgem dessas para os porcentuais frios das pesquisas quantita- Osmaisentusiasmadoscomaatualadministra- ces da avaliação do governo.
discussões ilustram a percepção que cada seg- tivas.Amaioriadosentrevistados aprovaogover- ção federal são os sertanejos. Mas não pelos pro- É o que este conjunto de reportagens permite
mento social tem de um determinado produto, no Lula. Mas os matizes dos discursos revelam gramas que, a distância, costuma-se apontar co- vislumbrar, através das diferentes falas dos gru-
campanha, candidato, projeto de governo, ou te- diferenças transatlânticas entre o que é um mo causa dos 85% de aprovação que o governo pos mais diversos: dos sertanejos paraibanos até
mas mais genéricos como educação, saúde, segu- “bom” governo para quem mora no Morro do Lula tem no Nordeste. O salário mínimo, que os moradores da periferia das metrópoles, pas-
rança. Não raramente, frases soltas nessas pes- Alemão e para os “alemães” que vivem em Rio do recebeu reajustes consecutivos acima da infla- sando pelos emergentes da “Califórnia” brasilei-
quisas acabam se transformando em slogans pu- Sul (SC). ção, parece carrear mais popularidade do que o ra e pelos pequenos agricultores catarinenses.
blicitários, em motes de campanha, em bordões Unssão afetadosdiretamenteporobrasdoPro- Bolsa Família.
de propaganda. grama de Aceleração do Crescimento (PAC) e Em nenhuma outra região brasileira Lula rece- ✽
As reportagens de Lourival Sant’Anna usaram têmreações distintassobreo impactoque aurba- be 48%de nota 10pelo seu governo. A julgar pelos É JORNALISTA ESPECIALIZADO EM REPORTAGENS COM
uma técnica semelhante. Ele reuniu grupos com nizaçãodafavelateráemsuasvidas.Outrosconti- relatos,isso pareceser efeitodoconjuntodepolí- O USO DE ESTATÍSTICAS

KEINY ANDRADE/AE

SALVADOR: População Renda familiar per capita Beneficiários Escolaridade


da Previdência
CLASSE C 1,3 milhão R$ 547 8 anos
44%
57%
da cidade

FONTE: CENTRO DE POLÍTICAS SOCIAIS/FGV. ANO: 2008

Tarde em Itapuã. Zé do Acarajé, Cristiane, Arlindo e Luis (da esq. para dir.): eles compraram e equiparam casas e carros, resolveram problemas financeiros e expandiram seus negócios

Classe emergente festeja progressos


Com maior facilidade de crédito e elevação do poder aquisitivo, eles melhoraram de vida, mas não é necessário que votem em Dilma
dasemumbanco.“Zereimeuno- No dia em que conversou com tem condições de ter TV, micro- No transcurso do governo Lu- Os entrevistados não gostam
me nos bancos, cartões de crédi- o Estado, ela tinha colocado ondas... Antes era mais difícil.” la, José Antonio dos Santos Viei- de Lula apenas porque melhora-
O ESTADO
EM SALVADOR, toecelular.” Comprou umterre- anúncio no jornal procurando Arlindo foi demitido em 2008 de ra, o Zé do Acarajé, de 45 anos, ram de vida durante seu gover-
BH no com uma construção por R$ 7 emprego como enfermeira. uma grande empresa em Salva- transformou-se em arrendatá- no.“Essepresidentefoioprimei-
mil à vista e terminou a casa com “Mando currículo todo dia; nun- dor, onde trabalhara 18 anos. Re- rio e pequeno empresário. Ele ro que teve coragem de mandar
umempréstimonaCaixaEconô- ca me chamaram, talvez por não cebeu R$ 46 mil do Fundo de Ga- abriu seu primeiro ponto de aca- prender corruptos, que mostrou
mica Federal (CEF) de R$ 17 mil, ter experiência”, diz Cristiane, rantia, indenização e férias e ou- rajé em Piatã há 16 anos, mas só os bastidores da política”, cita
pelo qual pagou R$ 23 mil, em 24 formada há quatro anos em Ita- tros R$ 3.800 de seguro-desem- contratou o primeiro funcioná- Luis. “Não é que mandou pren-

M
uitos eleitores de meses. Equipou a casa com TV petinga, sua cidade natal, a 562 prego, em cinco parcelas. Deu rioem2002.Hoje,tem10 funcio- der, não mandou soltar”, assina-
classe média baixa de plasma, computador, máqui- km de Salvador. Ela não culpa o R$40 mildeentradanumaparta- nários, e do ano passado para cá la Zé do Acarajé. “A Polícia Fede-
melhoraram de vida na de lavar, geladeira nova e ar- governo por não ter encontrado mento que vale R$ 120 mil, paga abriu mais dois pontos. ral agora está trabalhando”,
nos últimos anos, e condicionado. “Coisas que nun- vaga em sua área. “Em Itapetin- prestação de R$ 400 e cobra alu- Formado em educação física, acrescenta Arlindo. “Lula en-
associam seus progressos ao go- ca pude ter noutros governos”, ga, todo mundo que fez o meu guel de R$ 500. Juntou o restan- Zé do Acarajé é professor da rede frentou os empresários em favor
verno do presidente Luiz Inácio diz ele. Luis instalou até um curso está empregado”, diz Cris- te com suas economias, investiu estadual.Em 2007, fezemprésti- das pessoas de baixa renda. An-
Lula da Silva. No tabuleiro de DVD player para os passageiros tiane,cujamãetrabalhacomoen- quase R$ 20 mil numa casa que já mo consignado de R$ 13 mil co- tes o governo era muito do lado
acarajé do Zé da Chica, perto da de seu táxi, que é arrendado. fermeiraem umhospital dacida- possuía e aumentou o aluguel de mo servidor estadual no Banco da classe alta. Lula foi o primeiro
praia de Itapuã, em Salvador, O taxista afirma que ganha en- de. “Lá tem bastante emprego. R$ 400 para R$ 700. do Brasil e transformou o sobra- que olhou para o Nordeste, que
quatro integrantes dessa classe tre R$ 4 mil e R$ 4.600 por mês, e Trabalhei seis anos na fábrica de Alémdisso,apensãode suaso- do em que vivia em sete unida- era esquecido.”
emergente se reuniram num fim paga com facilidade a despesa sapatos da Azaléia. Meus quatro gra, cujo marido era ex-comba- des residenciais, que aluga por Apesar de estarem satisfeitos
de tarde para conversar com o mensal de R$ 3.500, incluindo o irmãos também. Mas toda vida tente da Marinha e funcionário R$ 1.700. Paga R$ 380 de presta- com Lula, nem todos definiram
Estado sobre a melhora em suas colégio da enteada de 12 anos, o quis morar em Salvador.” Ela do Correio, deu um salto no go- ção. Pegou dinheiro emprestado em quem vão votar em outubro.
vidas – e as consequências dela sustentodofilhode1anoemeioe conseguiu seu primeiro empre- verno Lula. Ela recebe R$ 6 mil com sua cunhada, comprou ter- “Embora esteja contente com es-
nas suas escolhas na eleição pre- um plano de saúde. “Graças a go em 1999, na época de Fernan- por mês, que repassa para a filha reno e construiu casa num con- se governo, ainda tem muito que
sidencial deste ano. Deus, dá para manter uma situa- do Henrique. Não tem opinião e o genro. Sua mulher está fazen- domínio na Estrada Velha do Ae- melhorar,principalmentenaedu-
O taxista Luis Estrela, de 34 ção muito boa.” sobre o ex-presidente. do curso de publicidade. Como roporto. Em sua nova casa, mon- cação”, diz Zé do Acarajé. “Mes-
anos,contaque“afundouemdívi- O namorado de Cristiane, fun- empregado, Arlindo ganhava R$ mo gostando de Lula, ainda não
das” entre 1998, no final do pri- Endividado no governo cionário da prefeitura de Pojuca, 700 líquidos. Agora, tira R$ Zé do Acarajé cresceu e escolhi meu candidato”, afirma
meiro mandato do presidente a 67 km de Salvador, não gosta do 1.800, somando a renda de alu- Cristiane.“Nãosouligadaempolí-
Fernando Henrique Cardoso, e
FHC, taxista diz que governoLula. “Eleé contra o Bol- guéis deR$ 1.200 e os R$ 600 que
criou empregos: ‘Sem a tica.Só pareiparaprestar atenção
2003, início do governo Lula. “O ‘voltou a respirar’ depois sa-Família”, explica Cristiane. ganha como motorista autôno- facilidade de crédito não em Lula porque senti a mudança,
poder aquisitivo diminuiu mui- que Lula assumiu “Fala que tem que dar trabalho. mo. “Esse governo é bom”, resu- teria conseguido isso’ que foi um choque mesmo.”
to”, diz, e, com ele, o movimento Só que muita gente não tem con- me. “Ficou mais fácil investir e “Ainda é cedo para tecer opi-
de passageiros. “Tudo que eu ti- “Para mim, melhorou muito”, diçõesdetrabalhar.”Cristianeci- conseguir crédito.” tou uma cozinha industrial. Fi- nião em relação a candidato”, de-
nha tive que botar na fogueira”, concorda Cristiane Caetano, de ta o caso de uma vizinha de sua Arlindo tem um carro Vectra nanciou também a compra de clara Arlindo. “Estou em dúvida
recorda Luis. Em 2003, ele devia 31 anos, que fez curso técnico de famíliaemItapetinga,largadape- financiado em 36 meses, e paga sua picape Saveiro e de um Gol ainda. Não gosto muito de políti-
R$ 30 mil a duas financeiras. enfermagem e é uma espécie de lo marido com três filhos peque- R$ 418 por mês. “Com trabalho para a filha, que estuda engenha- ca.EusouLula.Minhaopiniãopo-
“Quando entrou o governo Lula, governanta na casa de duas irmãs nos. Com o dinheiro do Bolsa Fa- honesto, querendo, conseguem- ria de produção. Outra faz ciên- de mudar até setembro.” Luis é
comecei a respirar.” O número de meia-idade. “Consegui finan- mília,elaabriu umavenda emsua se as coisas.” Cristiane comple- cias contábeis. “O governo fede- bemmaisassertivo:“Comoquea
de passageiros foi aumentando – ciar minha casa.” Cristiane paga casa, e assim pode trabalhar e ao ta: “E nome limpo.” Ela conta ral ajudou quando segurou os ju- gentetinhaantes,mudanão.”Ele
ele reconhece que também por prestação de R$ 146 na CEF pelo mesmo tempo cuidar dos filhos. que uma amiga vendedora de ros”, analisa Zé do Acarajé, que jáescolheu:“Queroquecontinue
causa da violência nos ônibus de seu apartamento, que se encaixa “Desde a eleição de Lula, facili- produtosAvoncomprou umcar- faz último ano de direito. “Se opessoaldeLula,Dilma.Seconti-
Salvador–eosjurosdosemprésti- bemnasuarendadeR$800(salá- tou muito”, avalia o segurança ro.Omaridodesconfiouefoiave- não tivesse essa facilidade de fi- nuar como está, já é muita coisa.
mos caíram. riomínimo deR$ 510 maisdiárias Arlindo Barbosa da Silva Filho, riguar. Explicaram que ela tinha nanciamento,eunãoteriaconse- Nãoqueroquepiore.Dojeitoque
Luis reuniu todas as suas dívi- de R$ 35, que faz noutras casas). de 50 anos. “Qualquer pobre rendimento e nome limpo. guido fazer o que fiz.” está, está bom demais.”
Especial H7
%HermesFileInfo:X-7:20100530:

O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 30 DE MAIO DE 2010

CURITIBA: População Classe C Renda familiar per capita (R$) Escolaridade


878 mil Classe C
PERIFERIA
1,4 milhão 59% Classe C 561
Classe D 202 6 anos
Renda per capita Classe D
Classe D
273 mil
R$ 533 19%
4 anos
FONTE: CENTRO DE POLÍTICAS SOCIAIS/FGV. ANO: 2008
KEINY ANDRADE/AE

Periferia de Comerciante
passa por cima
Curitiba de resistência
contra mulher

sente boom O comerciante Amado Pires, de


65 anos, também está contente
com o presidente: “Lula é obriga-
do a sair, mas devia de ficar.” Ele
temressalvasquantoasuacandi-

de trabalho data. “Nunca fui de acreditar em


mulher pela história bíblica”,
confessa Amado, que foi da Igre-
ja Cristã do Brasil, da qual teve
deafastar-seporproblemascon-
Até eleitores que não votaram em Lula jugais. “A Bíblia diz que a mu-
lher, se quiser aprender alguma
aprovam gestão e tendem a escolher Dilma coisa a mais, tem de indagar ao
marido, porque autoridade
Deus deu só ao homem, não à
em vans para São Paulo, onde fa- mulher”, afirma Amado. “Mas
zem compras na Rua 25 de Mar- porque o brasileiro é muito frá-
ço.Aparecido sai às 6 horas e vol- gil, as mulheres estão tomando
O ESTADO ta às 6 do dia seguinte. Por cada partido”,analisa.“ComoLula es-
EM CURITIBA,
PR viagem, ganha R$ 150. Tira R$ tá apresentando Dilma, vou vo-
1.000 por mês. “Trabalho me- tar nela. Vou arriscar na palavra
nos e ganho mais.” Conversão. Amado (2º à esq.) e Salete não gostavam do PT, mas agora são adeptos de Lula dele, para complementar o pro-
Sua mulher, uma cabeleireira cesso que ele começou.”

H
á 18 anos, quando co- de 45 anos, também deixou há 6 É o caso de Adalberto Difert, renda com uma pensão de R$ je tenho computador e internet Amadoprosperou nesses anos
meçou a se formar, o anos um emprego para abrir o que não pôde participar de um 600.O sonhode Adalberto,mes- em casa, a R$ 35 por mês.” Ele diz de governo Lula, e atribui isso à
bairro Sítio Cercado próprio negócio. “Ela trabalhava concurso de agente de saúde do mo, é voltar a ser porteiro. que votou em Lula em todas as facilidade de crédito. Ao lado da
fazia jus ao nome, num salão de gente rica no cen- bairroporquenãotinhaoprimei- Diabético e com perda parcial eleiçõesenão searrependeu.“Só banca de bicho que tem no bair-
com seu aspecto rural. Hoje com tro e agora atende a gente pobre ro grau completo. Aos 55 anos, da visão, Armando Ferreira, de na área da saúde é que estão ta- ro há 14 anos, ele abriu há um ano
180 mil moradores, é o bairro aqui”, descreve Aparecido. Seu ele voltou a estudar em feverei- 49anos,está há 3afastado dotra- pando muito o sol com a penei- uma lojinha de presentes. Mora
mais populoso da periferia de salário era de R$ 1.000. Agora ela ro. Entrou no equivalente à 5.ª balho de motorista de ônibus ur- ra.” Por isso, pensa em votar em num sobrado e tem outro sobra-
Curitiba. Seu comércio acanha- tira R$ 1.500 por mês. Ambos es- série e agora está na 6.ª. “Este bano, e recebe um benefício de José Serra, ex-ministro da Saú- do e uma casa alugados, que lhe
do contrastando com a vasta po- tão pensando em formalizar-se ano termino o primeiro grau”, R$ 1.300, equivalente a 70% de de: “Na área de saúde ele até que rendem R$ 700. Possui ainda um
pulação revela sua natureza de pelo programa Pequeno Em- anima-se. “Tive de me emendar seusalário.Elesequeixadoservi- foibom,introduziuosgenéricos. Ford Ka 2000. “O povo brasilei-
cidade-dormitório, cuja mão de preendedor, do governo federal, depois da meia idade. Comecei a ço público de saúde. Sua mulher, E Lula deixou muito a desejar.” ro nunca teve oportunidades co-
obra se emprega nas áreas cen- passando a pagar INSS. “Na mi- sonhar de novo.” de 48 anos, que trabalhava como “Lula se imortalizou, caiu nas mo hoje, facilidades de comprar
trais da cidade e nas indústrias nha opinião, melhorou a situa- servente numa creche, também graças do povo com o Bolsa-Fa- carro, moradia”, celebra Amado,
da Grande Curitiba. A classe tra- ção do Brasil”, opina Aparecido. ‘Lula fez pobre comer seafastou há 2 anos, por causa de mília”, elogia Adalberto. “Ele fez que antes votava no PMDB.
balhadora de Sítio Cercado vive “Noferiadãoasestradasestãolo- um transtorno psíquico, e rece- o pobre comer picanha. Depois Para a cabeleireira Salete Lú-
intensamente o dinamismo da tadas de carros e a rodoviária es-
picanha. Depois de be R$ 510. Ambos lutam para se- de Getúlio Vargas, ele foi ‘o ca- cia Perin, de 57 anos, o melhor
geração de empregos. Num frio tá cheia. Se estão viajando, é por- Getúlio Vargas, ele foi o rem definitivamente aposenta- ra’.” O pintor sentencia: “Em ti- períododa vidaforam osúltimos
fim de tarde de quarta-feira, cin- que está sobrando dinheiro.” cara’, diz pintor dos, mas não conseguem. Para mequeestáganhandonãoseme- 6 anos, quando ela construiu a
co moradores se reuniram na rá- Há oito meses, o radialista e garantir o benefício, eles têm de xe. Se Lula já plantou a mulher e casa onde mora e funciona seu
dio comunitária do bairro para eletricista Jânio Silva, de 50 Depois de ter trabalhado co- voltar periodicamente ao médi- o partido votou, você não vai ar- salão, e mais o sobrado gemina-
conversar com o Estado. anos, comprou o seu primeiro moauxiliardeescritório,frentis- coparaperícia. Àsvezesnãocon- riscara entregar para um partido do, que aluga para a rádio comu-
O motorista José Aparecido carro,umFusca 74, por R$ 2.500. ta de posto de gasolina e portei- seguem marcar consulta a tem- quevendeuoPaís”,completa,re- nitária. “Consegui por causa da
daSilva,de 39anos, era emprega- “Acho que nos últimos anos as ro, Adalberto tornou-se em 1989 po, e ficam até cinco meses sem ferindo-se à privatização sob o economiadoBrasil”,avalia.Sale-
do de um supermercado até de- coisas têm melhorado”, diz Jâ- sacoleiro de cigarros do Para- receber o dinheiro. governo do PSDB. te votou contra Lula nas duas úl-
zembro. “Saí porque o serviço nio, que apresenta um programa guai. Dez anos mais tarde, que- Apesar desses problemas, sua Aparecido lembra que FHC te- timas eleições. “Nem lembro
eramuito puxado,trabalhava sá- demúsicasertanejagaúchanará- brou, com a desvalorização do avaliação do governo é “positi- veoméritodeimplementaroPla- quem era o outro candidato. Eu
bado, domingo e feriado e o salá- diocomunitária,efazbicodeele- real. Desde então, vive de bico, e va”. Graças às facilidades de cré- noReal.“Issoninguémtiradele.” era anti-PT”, conta ela. “Agora,
rio era baixo: R$ 700.” Agora, ele tricista. “Está tendo bastante tira de R$ 500 a R$ 600 por mês dito, Armando conseguiu trocar MassemprevotouemLula.“Ago- vou virar PT, porque a economia
presta serviços para uma empre- emprego, às vezes as pessoas é pintando portões e casas. Sua seu Escort 87 por um Clio 2008, ra acho que a gente tem de man- foibem.Achoquetemdedarcon-
sa que transporta passageiros que não estão capacitadas.” mulher, viúva, complementa a em60prestaçõesdeR$700.“Ho- ter o que está aí, que é a Dilma.” tinuidade no que foi bom.”

BRASÍLIA População em 2010 Renda per capital mensal Rendimento médio dos ocupados em 2007 (R$) PIB per capita em 2006
Distrito Federal Distrito Federal Distrito Distrito Federal
Federal 1.556
2,6 milhões 2,4 salários mínimos Brasília 3.800 R$ 37.499
Brasília Brasília
Brasil

205 mil 6,8 salários mínimos R$ 12.724


FONTE: COMPANHIA DE PLANEJAMENTO DO DISTRITO FEDERAL (CODEPLAN)
KEINY ANDRADE/AE
sília tem uma péssima medicina
Gestão e corrupção preocupam pública e a de São Paulo melho-
rou.” Ela admite que o salário
dos médicos não é ruim. “O pro-
eleitores de classe alta de Brasília blema na saúde é de gestão. Não
vejo ninguém que preste.”
Sebastiãoprotesta:“Serrafezo
genérico.Nessaárea,eledemons-
co de planejamento aposentado social.” Já Andrea pondera que trou(queépossívelrealizar).”An-
Entrevistados têm do Instituto de Pesquisa Econô- houve alguns avanços na política drea conta que sua mãe teve cân-
avaliações diversas mica Aplicada (Ipea). “Eu gosta- social, e cita o programa Minha cerefoibemtratadaemhospitais
vadoPT,porque eracoeso, tinha Casa Minha Vida como exemplo. públicos de São Paulo. Ela atribui
sobre Bolsa-Família, proposta, consciência social. Os De sua parte, Sebastião elogia o isso ao governo de José Serra.
sistema de saúde e outros partidos não falavam na- aumentodosaláriomínimo.Oca- LeonoravotouemHeloísaHe-
condução da economia da aesse respeito.Chegou ao po- salconsideraoBolsaFamília “pa- lenano primeiro turnoe em Lula
der e podia aplicá-la. Deu no que ternalista”, preocupa-se com o no segundo. Neste ano, preten-
deu”,lamenta. “Viramosumare- risco de a dependência tornar-se de votar em Marina Silva no pri-
públicasindicalista,comquanti- “eterna” e diz que seria melhor meiro e em Dilma no segundo.
O ESTADO
EM BRASÍLIA, dade absurda de ministérios.” investir na educação. Retratos. Grupo tem visões discrepantes sobre o governo “Acho que a política do governo
DF
“Ascoisasnãomelhoraramco- “Acho ótimo o Bolsa-Famí- não foi ruim”, diz ela. “Quando
moesperaríamos”, avaliaaadvo- lia”, entusiasma-se o dono da ca- gócio do funcionário que deixa o deste, acha que se está cometen- vai nos rincões do País, você vê
gada Andrea Rebellatto Adorno, sa, João Nildo Vianna, de 71 paletónacadeira.Agoraéconcur- do exagero ao contratar enge- meninos às 2 e meia da tarde de
de 38 anos, que trabalha na fábri- anos, professor de engenharia so. Não existe mais essa caneta.” nheiros, motoristas e secretá- pé esperando ônibus para ir para

A
s cenas de distribuição ca de revestimentos de madeira mecânica da Universidade de Eleprovoca: “Vocêsempresários rias por concurso, encaixando- a escola. O Brasil melhorou.”
de dinheiro protagoni- de seu marido. “Ser empresário Brasília (UnB). “É uma forma de queremreduziroEstado?"Sebas- os na carreira do Estado, com to- Sebastião votará em Marina
zadas pelo governador no Brasil é um desafio enorme”, distribuição de renda, que bota o tião explica que não é “contra das as dificuldades para depois noprimeiroturno.Quantoaose-
José Roberto Arruda desabafa o marido, Sebastião dinheiro lá na venda.” Ele argu- contratação, mas contra má con- demitir. “Concurso deveria ser gundo, diz que se sente “entre o
(ex-DEM) deixaram acabrunha- Adorno, de 52 anos, formado em mentaque,senãohouverprogra- tratação”, e argumenta que há para agentes reguladores, que capeta e o diabo” e que vai “ten-
do o grupo de eleitores de clas- economia. “Não posso me con- mas como esse, “você tem de fi- muito pessoal terceirizado, além precisam da proteção do Estado. tar escolher o menos pior”. Mas
ses média e alta ouvido pelo Es- vencerdequesóexistaummeca- carentrincheiradocomumacar- dos cargos de confiança. Engenheiro, como eu, deve ser considera que Marina apoiará
tado, mas não se pode dizer que nismo para combater a inflação, tucheira, para não invadirem sua contratado pela CLT.” Serra. Andrea vai votar em Serra,
os surpreenderam nem que in- a taxa de juros. Só favorece ban- casa”. Concorda que o benefício ‘Viramos uma república e promete convencer o marido:
fluem no seu voto na eleição pre- queiros, para atrair o capital es- não deve ser “eterno”, e ponde- Saúde. Leonora Maciel de Sou- “Acho que precisa modificar, e
sidencial. Reunidos numa noite trangeiro e agiotar o consumi- ra: “Nunca vi tanto treinamento,
sindicalista, com número za Vianna, de 59 anos, médica tendo em vista as benfeitorias
de sexta-feira à beira da piscina dor. Ninguém fala de poupança tanto esforço de qualificação.” absurdo de ministérios’, aposentada da rede hospitalar emSãoPaulo.” Veloso votaráem
de uma casa no Lago Norte, seis pública, que significa cortar gas- Sebastião critica o desempe- diz ex-técnico do Ipea do DF e professora de medicina Marina, que descreve como
empresários, profissionais libe- tos e aumentar investimentos.” nho administrativo do governo: da UnB, lembra que, em 1985, “aquela mulher magrinha, frágil,
rais e professores expressaram Sebastião considera que Lula “Gestão do Estado, não tem. É a Marco Antonio Veloso, de 66 quando o presidente eleito Tan- corajosa e séria”. Em 2002, ele
visões muito diferentes entre si. manteve a estabilidade econômi- caneta nomeando apadrinha- anos, aposentado da Compa- credo Neves morreu, dizia-se foi eleitor de Serra e em 2006, de
“Lula para mim foi uma gran- ca conquistada por Fernando dos.”JoãoNildodiscorda:“Amá- nhia Energética de Pernambu- queSãoPaulotinhaamelhorme- Geraldo Alckmin. “Quero dar
de decepção”, confessa Eduardo Henrique Cardoso. “Fora isso, quina pública está cada vez mais co, e que hoje presta consultoria dicina privada e a pior pública e um voto na ética, porque estou
MataMachado,de68anos,técni- avançou muito pouco na política eficiente. Está acabando esse ne- sobre serviços públicos no Nor- Brasília, o contrário. “Hoje, Bra- tão cansado de patifaria.”
H8 Especial
%HermesFileInfo:X-8:20100530:

DOMINGO, 30 DE MAIO DE 2010 O ESTADO DE S. PAULO

Agricultores familiares aprovam


programas, mas cobram preço mínimo
Eles se queixam de arcar com ônus dos alimentos baratos, vendidos abaixo do custo, e da falta de propostas dos candidatos para o setor

SANTA AB rural População Renda familiar per capita (R$) Escolaridade


rural de SC Classe AB
CATARINA:
58 mil 5% Classe AB 1.483
CLASSES AB
e C RURAIS Classe C 517 5 anos
C rural Classe C
718 mil 68%
5 anos
FONTE: CENTRO DE POLÍTICAS SOCIAIS/FGV. ANO: 2008
KEINY ANDRADE/AE
mercado da cesta básica, que fi- Mão de obra. Frederico tem
ca abaixo do custo. “Esse preço uma filha e um filho com mais de
não sustenta o pagamento do 30 anos, e um sobrinho de 38 que
O ESTADO crédito.” ele criou, que trabalham nos 33
NO RIO DO SUL,
SC “Se o governo estabelecesse o hectares de terra dele em Pouso
preço mínimo com garantia, es- Redondo, dos quais 24 hectares
taria desempenhando o papel de de arroz. Já as outras duas filhas
governo”, define Harry. Ele lem- com menos de 30 trabalham na

N
os acostamentos das bra que os produtores tiveram cidade – uma casou-se e foi para
rodovias federais que essa garantia durante os gover- Manaus.Eleaindaarrendaaster-
cortam o Alto Vale do nos de José Sarney e de Fernan- ras de três vizinhos: um tem fi-
Itajaí, há um intenso do Henrique Cardoso. Harry ex- lho farmacêutico, outro tem
tráfego de tratores de grama pu- plica que os sucessivos governos duas filhas que estudaram direi-
xando pequenas carretas de ma- têmmantido,nopapel,umapolí- to e o terceiro tem filhos peque-
deira, que carregam gente e os ticade preçosmínimos,pelo me- nos e não mora na terra.
produtos da região – arroz, mi- canismo da Aquisição do Gover- O filho de Pedro de 26 anos
lho, feijão, leite, cebola, melan- no Federal (AGF). Mas diz que, formou-se em direito e está indo
cia e outras frutas e verduras. na prática, as compras, a cargo trabalhar em Indaial, a 70 km de
São o símbolo da agricultura fa- daCompanhiaNacionaldeAbas- Rio do Sul; o outro, de 23, tem
miliarquehágeraçõesocupater- tecimento (Conab), atingem oficina de eletrodomésticos. A
ras com áreas médias de 20 hec- um “volume muito irrisório”. agricultura familiar da região já
tares,ondepredominamdescen- enfrenta grande dificuldade de
dentes de alemães e de italianos. Falta de infraestrutura encontrar mão de obra. Traba-
Suas pequenas produções ga- lhadoresvêmdePernambucopa-
nham escala na Cooperativa Re-
de escoamento e leis ra a colheita do algodão.
gional Agropecuária Vale do Ita- ambientais são entraves, Eles se queixam também da si-
jaí (Cravil), que reúne 3.500 pro- dizem produtores tuação das estradas para escoar a
dutores de 36 municípios. produção. “A BR-470 não tem
Numatarde ensolaradade ter- Os produtores reconhecem as nem acostamento”, diz Pedro.
ça-feira, oito integrantes da Cra- virtudes de algumas iniciativas Ela liga a região ao oeste de Santa
vil – sete descendentes de ale- do governo. Segundo Pedro Lo- Catarina, onde se concentra a in-
mães e um de italianos –, de di- cks,umprograma queajudamui- dústriadoEstado,eaos portosde
versosmunicípios daregião,sen- to é o Mais Alimento, que dá dois Itajaí e Navegantes. “A BR-282
taram-senumaamplasaladereu- anosparapagarmáquinasagríco- até um tempo atrás estava feia,
niões da sede da cooperativa, em las, com3% dejuros aoano edois agora está boa”, observa Baldoí-
Rio do Sul, a 200 km deFlorianó- anosde carência. JáMoacir War- no, referindo-se à outra estrada
polis,paraconversarcomoEsta- mling, de 43 anos, agrônomo da federal que dá acesso à região. “O
do. Na faixa de idade de 39 a 69 Cravil, cita o Programa Nacional novo governo deveria incremen-
anos,seupontodevistaéinevita- de Fortalecimento da Agricultu- tar a estrada de ferro e a navega-
velmente emoldurado pelos êxi- ra Familiar (Pronaf), destinado ção fluvial”, opina Harry. “Dimi-
tos e fracassos de seu negócio: a ao custeio e ao investimento. nuirianossos custos de transpor-
produção de alimentos para o Mas insiste que,se não tem ga- te e escoamento da produção.”
mercado interno. rantia de preço, o produtor com- Outrapreocupaçãodosagricul-
“Não podemos dizer que esse pra sementes a um preço alto, na toresécomasexigênciasambien-
governo foi ruim”, começa Fre- entressafra, e vende sua produ- tais. Segundo eles, as normas do
derico Seyffert, de 61 anos. “Só ção a um preço reduzido pela CódigoFlorestalBrasileiro–20%
que, como pequenos produto- oferta abundante no período da de reserva de mata legal mais as
res, tivemos diversos proble- safra. “Não tem como pagar”, Áreas de Preservação Permanen-
mas. Com os preços baixando e conclui Moacir. Além do preço te (APPs), que são as encostas de
subindo, tivemos dificuldade mínimobaseadonocustodapro- morro e as beiras de água – não
de pagar os empréstimos.” Pe- dução, o agrônomo acha que o Última geração. Produtores em sua cooperativa: renda insuficiente causa o êxodo dos filhos são aplicáveis na região.
dro Locks, de 51 anos, acrescen- governo deveria estipular uma “Aqui tem muitas nascentes,
ta: “O pequeno produtor não “renda mínima para o produ- mas é ruim para quem produz”, programa via alimento barato.” lhos dos agricultores, que dei- riosquecruzamapropriedadein-
tem certeza de que vai poder tor”. É apoiado por todos. observa Adílson Stédile, de 39 Segundo ele, “com o tratamento xam suas terras em busca de teira”, explica Henrique, que ad-
honrar seus compromissos.” anos, o único “italiano” do gru- quea agricultura vem recebendo oportunidades nas cidades. “Na mite que já foi multado em sua
Ele recorda que o pior ano foi Ônus. Os produtores sentem po. “É bom em termos, porque ao longo dos anos, não só nesse grandemaioriadasfamílias,aida- propriedade de 47 hectares, em
2008: “O preço do adubo estava que estão arcando com o ônus pode faltar no ano seguinte”, governo”, 1% dos agricultores de média passa dos 50”, estima que produz milho, feijão e leite.
muito alto e entramos muito pelo preço baixo dos alimentos pondera Pedro, referindo-se à temabandonadosuasterrasaca- Baldoíno Schütze, de 63 anos. “Se for respeitar, fica inviável.”
descapitalizados.” no Brasil, enquanto enfrentam o falta de estímulo para plantar. da ano. “Muitos vão morar na fa- “(Nossa terra) está virando dor- Baldoínodizquenuncafoimulta-
Harry Dorow, de 63 anos, pro- preço alto dos insumos, que va- OBolsa-Famíliatambémévis- vela, precisam de alimento e re- mitório”, sorri Henrique Back- do, mas ameaçado: “O agricultor
dutor de leite em Itajaí e presi- ria de acordo com o mercado in- to desse ângulo. “É uma maneira cebem Bolsa-Família”, diz ele, meier, de 65. “Como veem que étratadocomobandido.Apolícia
dente da cooperativa, explica ternacional. Segundo Harry, de escoar a produção e dar ali- desenhando um círculo vicioso. não conseguem renda adequada vem com fuzil até. Comprou, pa-
que os produtores precisariam 70% dos alimentos da cesta bási- mento aos que precisam”, anali- O problema, concordam to- na produção, os filhos vão para a gou, e de repente não pode usar.”
degarantia do governo para ven- casãoproduzidospelaagricultu- sa Harry. “Em si, não é ruim. Mas dos,nãoéacapacidadedeprodu- cidade, procuram outro tipo de Os agricultores acham que deve-
der seus produtos pelo preço da ra familiar. “(O preço baixo) é o agricultor, com sua renda bai- zir, mas de gerar renda. Isso fica trabalho e continuam morando riam ser remunerados pelo servi-
produção, e não pelo preço de bom para quem compra comida, xa, está sustentando esse tipo de patente no êxodo dos jovens, fi- com os pais”, explica Harry. çoambiental de manteras matas.

À pergunta sobre qual foi a me- componente cambial. “Investi a sumos ficaram muito caros em ehojevendeaR$ 15.Harryobser- Lula”, diz ele. “Lula só recente-
Para eles, lhor fase para os agricultores. partir de 1996 e consegui fazer relação aos produtos nos últi- va que “os sucessivos governos mente anunciou que a Vale do
Baldoíno responde que para ele muita reserva em seis anos. De- mos anos. Tivemos problemas se preocuparam muito pouco RioDoceeaPetrobrásiamexplo-
problemas se foi o começo do governo de Fer- pois, foi embora.” antes desse governo, mas nos úl- em diminuir a dependência do rar fósforo e potássio.”
nando Henrique Cardoso, quan- Harry explica: “Como o agri- timos anos vêm se agravando.” Brasil de insumos importados”, Eles acham cedo para esco-
agravaram nos do o dólar estava em paridade cultorfamiliar produza cesta bá- “Os defensivos dobraram de comofertilizantesematéria-pri- lher o candidato. “Só posso dizer
com o real e os preços dos seus sicaparaomercadointerno,ava- preço”, afirma Henrique. Em ma para defensivos. “Foi um dos que vou votar no candidato”,
últimos anos produtos faziam frente aos cus- lorização do real é importante.” contrapartida,ele diz quehá oito grandesequívocosde(José) Sar- brinca Frederico, excluindo Dil-
tos dos insumos, que têm um Frederico complementa: “Os in- anos vendeu milho a R$ 25 a saca ney, (Fernando) Collor, FHC e ma Rousseff e Marina Silva.

equipamentos de proteção, in- grandebarreiracontra o PT. Mas estruturantes, e o que deixa de


Classe média alta de SP critica clusão do café da manhã, trans-
porte. “Sou agravado pela con-
corrência desleal, porque gran-
hoje o PSDB está mais organiza-
do, depois do grande desgaste
do governo (federal).”
estruturante? O Brasil está se
endividando.”
Todos na mesa criticam o en-
interrupção das reformas de parte do mercado não atende
aessas exigências”,queixa-se At-
tílio, que tem pós-graduação em
“Vejo no Brasil uma série de
estruturações importantes: an-
tes de Itamar Franco e Fernan-
fraquecimento das agências re-
guladoras no governo Lula. “A
experiência de privatizar servi-
administração de empresas. “Fi- do Henrique, a gente tinha uma ços historicamente estatizados

O
Brasil manteve a esta- sar com o Estado. cou mais difícil manter-se for- moeda louca”, lembra Augusto, depende de ter agências super-
Empresários, artista bilidade econômica, Augustoassociaoêxitodaeco- mal e cresceu a disputa pela mão redondas”, opina Attílio. “Na
plástica e produtor de TV avançounaformaliza- nomiaàestabilizaçãoeàintrodu- de obra. O custo aumentou.” Todos à mesa condenam época em que o PT era oposição,
ção do trabalho e nos ção da responsabilidade fiscal, A entrada de Attílio no merca- essas coisas tinham de ser discu-
elogiam condução da programas sociais, mas falhou como“conquistas” de FHC. Mas do, há 8 anos, depois de uma car-
enfraquecimento das tidas, porque o PT fazia uma ba-
economia, mas acham em não aprofundar as reformas acrescenta que, “durante o go- reira de 15 anos na Sadia, coinci- agências reguladoras rulheira enorme”, recorda Suza-
que Lula deixou a desejar iniciadas no governo Fernando verno Lula, aconteceram muitas diu com o início do governo Lu- no governo Lula naAzevedo, artista plástica de59
Henrique. Esse é o balanço feito coisaspositivas”,comooestímu- la. “Ele teve o grande mérito de anos. “Hoje, elas não são explici-
por integrantes da classe média lo à formalização. Isso teve efei- preservar o que tinha sido feito de46anos,formadoemengenha- tadas, porque, quem faz papel de
alta de São Paulo. “O Brasil só to adverso sobre Attílio Fonta- em termos econômicos”, reco- ria química. “Por outro lado, as oposição?”
O ESTADO
fez melhorar”, avalia Augusto na, um pequeno incorporador nhece.“Todomundoficouassus- reformaspararam,emboraogo- “O que Fernando Henrique
EM SÃO PAULO,
SP
Mello, sócio da cantina Nello’s, de 53 anos, que reforma e cons- tado com a possibilidade de ele vernoLulatalveznãotenhades- fez, com a estabilização, era pa-
nobairro dePinheiros, zonaoes- trói casaspara vender. Paraele, o pôr em prática as ideias de sua feito nenhuma mudança mais ra se ajoelhar no milho, mas eles
tedeSãoPaulo,ondequatroami- governo Lula se caracterizou pe- formação, que contrariavam o séria.Essegovernoficoudeven- não se apropriam do que fize-
gosse reuniram numa noite chu- laampliaçãodos direitosdos tra- que ocorria no mundo.” Attílio do reformas, como a tributária ram maravilhosamente”, nota
vosadequarta-feirapara conver- balhadores da construção civil: não votou em Lula. “Não tenho e do Judiciário. Colheu coisas Suzana, criticando o desempe-
Especial H9
%HermesFileInfo:X-9:20100530:

O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 30 DE MAIO DE 2010

doRioPreto,outracidadeimpor- to da figura dele, acho que ele estadual, responsável direto pe- Ribeirão Preto. “Eu saí da classe

Elogios a tante do interior de São Paulo, é


gerente regional do mesmo ban-
co. “Acho que o País melhorou
muito”, confirma Paulo, forma-
do em administração de empre-
desmoraliza tudo o que vai con-
tra ele”, critica Dante. “Não tem
uma oposição forte, como o pró-
prio PT fez contra os tucanos.
Os tucanos não souberam ser
lasegurançapública, quantoofe-
deral, que repassa as verbas, têm
responsabilidade nisso.
Ele não votou em Lula em
2006, mas acha que o governo
baixa e vejo que quem sai dela
temmaischancedeterumaposi-
ção melhor na sociedade”, diz
Paulo, cuja mãe é costureira e o
pai, vendedor de material odon-

Lula e votos sas. “Anos atrás se tinha uma ex-


pectativa de o salário mínimo
chegar a US$ 100, hoje chega a
US$ 300”, exemplifica. “Clara-
mente, as políticas adotadaspela
oposição. Então ele se saiu mui-
to bem. Criou uma imagem mui-
to superior ao que foi o governo
dele. Acho que o governo não foi
tão bem, mas teve seus méritos,
dele “não está sendo dos melho-
resnemdospiores”.“Tenhoafei-
ção muito grande pelo Serra”,
confessa. “Acho que está no mo-
mento de mudar um pouquinho.
tológico. “A classe alta continua
emposiçãofavorecida.Quempa-
gou o preço foi a classe média,
que foi mais estrangulada.”
Como exemplo, Paulo cita o

em Serra atualpresidênciado Lula,quear-


rastou lá do Fernando Henrique,
têm um forte conteúdo social,
sãovoltadas paraas classes D eE.
Aspessoas melhoraram de vida.”
embora não muitos.”

Corrupção. Dante observa que


o governo Lula “não fomentou a
Polícia Federal” nem outros ór-
Éumatentativa.Pode-seatéque-
braracara.Mas acho queacandi-
datadoLulaaindaémuitoimatu-
ra. Teve uma boa escola, o Lula é
um grande professor.”
Programa Minha Casa Minha Vi-
da.“Aspessoasdeclassemaisbai-
xa têm certa facilidade de com-
prarcasaporqueogovernodásub-
sídio de R$ 20 mil para casas de

em Ribeirão “As políticas internacionais


são muito claras e o Brasil se for-
taleceu muito no cenário inter-
nacional”, continua Paulo. “O
Brasil está muito melhor do que
gãos que combatem o “crime de
colarinho branco”. Ele lembra
que o presidente “atropelou” o
Tribunal de Contas da União,
quetentou embargarobras fede-
A enfermeira Gabriela Levora-
to, de 25 anos, do Hospital Escola
da Faculdade de Medicina de Ri-
beirão Preto, avalia o governo
principalmente pelo ângulo da
até R$ 100 mil”, analisa. “Foi uma
intençãoboa,masomercadoimo-
biliário, que não é bobo, subiu os
preçosdascasasdeR$80milpara
até R$ 150 mil, o que fez inflacio-
Eleitores aprovam políticas do presidente, era há 15, 20 anos.” Ele não votou rais por irregularidades, assim saúde pública. “Em alguns pon- nar o mercado inteiro.” Paulo te-
em 2006, porque estava viajan- como as operações Satiagraha e tos, teve certo desenvolvimento; me que a especulação imobiliária
mas se identificam mais com ex-governador do.Esteano,pensa votaremSer- Sanguessuga da PF, que “tinham noutrossetores,retrocedeu,prin- leveoBrasilaumacrisesemelhan-
ra. “Por mais que eu ache que as muita gente dele envolvida”. “O cipalmentenasaúde”,dizGabrie- te à dos Estados Unidos.
políticas do Lula foram muito próprio mensalão me deixou la, que fez pós-graduação em on- EleitordeLula,oprofessornu-
balhado mais, mas as coisas es- boas, acho que o Lula não tem abismado”, conta Dante. “Não cologia na PUC de Campinas. tre dúvidas sobre a candidata do
tão acontecendo, tem bastante uma boa equipe”, explica. “A concordo que, com uma falta de “Nesses três anos de pós-gra- presidente. “Concordo com Ci-
oportunidade.”Uma dasexplica- equipe dele, do PT, José Dirceu e ética desse tamanho, Lula tenha duação e de trabalho, senti que ro Gomes, que disse que a Dilma
O ESTADO EM
RIBEIRÃO PRETO, ções é o acesso ao crédito. “Hou- outros, prejudicou muito a ima- a credibilidade que tem.” aumentoumuitoonúmerodepa- parece ser boa pessoa, mais cen-
SP
ve políticas do governo federal gem de Lula e do Brasil, levou o “De mil políticos, você tira dez cientes, e o de leitos nos hospi- trada, porém não tem experiên-
que facilitaram o crédito para a País a um estado deteriorado de corretos”, estima Sebastião Al- tais continuou o mesmo, ou cia”, diz ele. “Enquanto o Serra é
população, como o empréstimo corrupção.Lulatemumarespon- berto Monteiro, de 56 anos, só- quando aumentou não se ofere- mais experiente, parece ser mais
consignado do INSS”, ressalta ciodeumaconstrutoraemRibei- ceu a infraestrutura necessária”,

N
anoitede29deabril,Ri- Eduardo, formado em direito e Políticas de acesso ao rão especializada em lojas e salas criticaela.“Assimcomoosgover- Aumenta número de
beirão Preto estava re- em administração. “Era um ni- comerciais. “O resto não está nos estadual e municipal, o fede-
pleta de gente de fora – cho que não era visto. As empre-
crédito criam nichos e preocupado com a Nação, mas ral também tem sua parcela de
pacientes nos hospitais
incluindo os candida- saseosbancos nãodavamaaten- movimentam economia, consigo próprio. Toda a corrup- responsabilidade.Nomeuhospi- públicos, mas não o de
tos José Serra e Dilma Rousseff, ção devida a esse público.” afirma gerente de banco ção que aconteceu no governo tal, a responsabilidade é do Esta- leitos, diz enfermeira
que vieram para a Feira Interna- “O presidente fez um trabalho Lula nós ficamos sabendo. Nos do,eagentenotaumabandono.”
cional de Tecnologia Agrícola muitoagressivo,muitoimportan- sabilidade muito grande de não governos anteriores, não fica- competente, mas tem esse lado
(Agrishow). As mesas lotadas de te, de puxar parcerias com outros ter atuado em relação à corrup- mos sabendo. É tudo a mesma PAC. Gabriela observa que é a mais maldoso.” Ele suspeita que
gente de todo o Brasil na tradicio- governos e empresas fora do Bra- ção. Ele ignorou os fatos debaixo coisa. Não muda nada.” iniciativa privada que desenvol- as obras e políticas que levaram
nal Choperia Pinguim, no centro sil”, elogia Eduardo. “Foi buscar deseus olhos, grande parte deles Sebastiãodizque aconstrução ve a infraestrutura do País, com ao crescimento econômico, no
dacidade,testemunhavamodina- mercados novos em regiões co- gerada dentro da equipe do PT. civil está “bombando”, atenden- as concessões de rodovias, ferro- País e em São Paulo, não tenham
mismo do agronegócio da região. mo África e Oriente Médio. No Então, não voto no PT.” do a uma demanda reprimida ao vias e portos, e a possível privati- resultado de planejamento, mas
EranoutroPinguim,noShopping começo foi até criticado por is- Osproblemas éticos no gover- longo de 15 anos. Embora favore- zação dos aeroportos. “O gover- de cálculo eleitoral.
Santa Úrsula, no bairro de classe so.” Eduardo apoia a política ex- no Lula também incomodam ça seus negócios, ele vê um moti- nolançaoPAC(ProgramadeAce- “Sepudessenãovotariaemne-
médiaaltadeHigienópolis,quese ternadeLulamesmocomrelação Dante Villa Glé, de 27 anos, for- vonegativonesseboom:“Asegu- leração do Crescimento), mas na nhum dos dois, mas são as op-
encontravam moradores da cida- aparceriasmaiscontroversas,co- mado em direito, e que se prepa- rança está péssima. O profissio- verdade nada sai do papel.” Ela ções reais que a gente tem", la-
denaquelanoite.FoiláqueoEsta- mo com o Irã: “Eu acho que tem ra para um concurso de delega- nal liberal que trabalhava no es- votou em Geraldo Alckmin em menta o professor. “Não confio
do ouviu seis visões diversas, po- de ser pragmático. É um parceiro do da Polícia Federal. “Eu não critório de casa está se mudando 2006. “Apesar de Serra ser meu na Dilma por estar vinculada ao
rém confluentes, sobre o País, o comercial que ele preza.” Ele vo- sou ufanista a ponto de achar para sala comercial onde encon- patrão e eu não estar muito con- PT. Serra é competente, mas faz
governo e a eleição presidencial. tou em Lula nas eleições anterio- que Lula foi esse salvador da pá- tra segurança para trabalhar, tente com ele, como não vou vo- alianças com partidos que não
“Sinceramente, não posso re- res. “Não sei se voto na Dilma ou tria que ele se vende, o famoso com porteiro 24 horas, câmeras tar na Dilma Rousseff, acho que, são confiáveis.” Ambos usam
clamar”, diz Eduardo Capretti, noSerra.Preciso entendermais o ‘nunca antes na história desse nafachada.Casasresidenciaises- se não formar outra opinião, aca- muito marketing, reclama Paulo,
de 27 anos, gerente de contas de Serra.Nãovoteinele (para gover- País’, mas acho que ele teve uma tão se desvalorizando. Abriu-se bo votando no meu patrão.” citando os slogans “Brasil, um
pessoasfísicasdeumgrandeban- nadordeSãoPaulo)emearrepen- postura durante grande parte do mercadoparacondomíniosverti- “O governo tem algumas coi- País de todos”, do governo fede-
co em Ribeirão Preto, com clien- di. Fez um bom governo.” governo que foi benéfica em al- caisehorizontais.”Paraoempre- sas boas", pondera Paulo Santia- ral, e “São Paulo, um Estado cada
tes no interior de São Paulo e no PauloSérgioDallaBernardina, guns aspectos, mas no geral não sário, que estudou até o quarto go, de 29 anos, doutor em educa- vezmelhor”,doestadual.“Apolí-
Triângulo Mineiro. “Tenho tra- de47 anos,quemoraem São José aprovo o governo dele, não gos- ano de direito, tanto o governo ção física e professor da USP de ticavirouumgrandemarketing.”
KEINY ANDRADE/AE

RIBEIRÃO População em 2010 Rendimento médio no emprego em 2008 (R$) Renda mensal per capita em 2007 Escolaridade (2000)
PRETO Estado de São Paulo São Paulo

42,1 milhões
São Paulo 1.663 São Paulo R$ 1.889
Ribeirão
Preto
1.396 8 anos
Ribeirão Preto Ribeirão Preto R$ 1.660 Ribeirão Preto

1,2 milhão 6 anos

Ascensão.
Paulo (dir.):
‘Classe
baixa tem
mais
chance’

FONTE: FUNDAÇÃO SEADE

nho dos políticos do PSDB. “E certo. Tinha uma população que fazer com ele: comprar comida, crise não foi uma marola, mas Suzana vê “com tristeza” a si- mica. Voltou em 1997, por causa
também não se apropriam do di- não comia. Caiu drasticamente remédio, roupa.” Ele acredita passou rápido.” Entretanto, ela tuação de sua área, a cultural. da estabilização da economia, e
reito de oposição de ir às ruas. a mortalidade infantil.” Suzana no “garrote da contrapartida” considera a situação insustentá- “Devia ter avançado muito criou a produtora, que desde en-
Estavam habituados a ser situa- diz que não se desapontou com exigida pelo programa: manter vel: “As pessoas estão endivida- mais”, diz ela. “O governo é ex- tão “só tem crescido”.
ção.” Para a artista plástica, o Lula porque não votou nele, mas os filhos na escola e a carteira de das, e uma hora vão ter de pagar tremamente importante na arte, Attílio não vê grande diferen-
PT saiu-se bem como oposição em Geraldo Alckmin em 2006 vacinação em dia. “Como vocês suas dívidas.” masogoverno Lulanãotevesen- ça entre os dois principais can-
e também em sua conversão (em 2002, estava estudando na colocaram, o cara não vai que- Para Augusto, mais importan- sibilidade para reformas nessa didatos. “Na prática, o governo
ideológica: “Foi um governo Espanha). “Vejo com bons tedoqueacomparaçãoentreLu- área, como não teve noutras.” da Dilma não vai ser mais à es-
conservador.” olhos o resgate social, que tinha Outro consenso: a la e Fernando Henrique é o des- Ela reclama da burocracia para querda do que o do Serra, e vice-
Suzana considera um ponto de fazer.” leixo crônico, no Brasil, com o solicitarverbas oficiais,queobri- versa, porque existe hoje uma
positivo do atual governo a ima- A preocupação de Suzana, no
imagem do Brasil no orçamento do governo, e o fato ga a recorrer a um agente cultu- convergência para a centro-es-
gem do Brasil no exterior, e to- entanto, é se há regras para deli- exterior é ponto positivo de ele gastar mais do que arreca- ral. “No fim, seu projeto é limita- querda”, analisa o empresário.
dosnamesaconcordam.ParaAn- mitaroBolsa-Família, ouse“vai- do atual governo da. “A máquina pública funciona do pelo atravessador.” Já Augusto reconhece que o PT
tonioCarlosRebesco,de61anos, se criar uma geração de mendi- mal, contrata demais, o Estado é Antonio Carlos lembra outro é “mais estruturado, com Lula”
dono de uma produtora de TV, gos”. Ela acredita que “o cara rer perder o dinheiro”, argu- altamente ineficiente.” Suzana problema que drena recursos da Mas põe em dúvida a capacida-
“é curioso porque a imagem que que recebe dinheiro sem traba- menta Augusto. “Sim, mas ne- lembra que o governo federal área cultural: o imposto. Mas em de da candidata do presidente:
se tinha era a inversa: Lula era lhar não vai trabalhar nem a nhum dinheiro pode vir de gra- tem muito mais cargos de con- geral ele se sente confiante, por- “Será que a Dilma segura e toca
considerado despreparado em pau”. Attílio também se preocu- ça”,retruca Suzana. “Alguémpa- fiança no Brasil do que nos Esta- que a política econômica foi isso?”
relação a Fernando Henrique”. pa: “Qual o próximo passo?” gou por ele.” dos Unidos ou na Inglaterra. mantida. “Era empregado e me
“Ele se acertou com o FMI e Mas não há só ressalvas ao A artista plástica acha que Lu- “Como é que eles conseguem in- tornei independente, e tenho ti-
com os miseráveis”, observa Su- programa. “O Bolsa-Família la foi “magistral” ao lidar com a dicar tanta gente?”, pergunta-se do trabalho.” Antonio Carlos Veja reportagem sobre outro
zana. “O beneficiário do Bolsa- acaba com o atravessador”, elo- crise econômica mundial do ano Antonio Carlos, professor da Fa- mudou-se para Portugal em grupo de eleitores paulistanos
Família vai votar no Lula sob gia Augusto. “O beneficiário re- passado. “Ele foi à TV e pediu culdade Armando Álvares Pen- 1990, na época do Plano Collor, Página H10
quaisquer circunstâncias, e está cebe o dinheiro e sabe o que vai para as pessoas consumirem. A teado (Faap). desiludidocomasituaçãoeconô-
H10 Especial
%HermesFileInfo:X-10:20100530:

DOMINGO, 30 DE MAIO DE 2010 O ESTADO DE S. PAULO

Críticas e elogios se equilibram em SP


Eleitores das classes AB veem pontos positivos e negativos em Lula e em Serra, expressam desilusão com a política e apreço por Marina

SÃO PAULO, População Renda familiar per capita Beneficiários da Previdência Escolaridade
CAPITAL:
CLASSE AB
2 milhões R$ 2.849 29% 7 anos
18%
da cidade

já pensou em como votará, ele res), e isso me abalou muito, cau- preocupação social.” sua empresa há nove anos, de- que achava que o Brasil precisa-
responde: “Já. Continuísmo.” soumuitadescrença.Éumgover- O publicitário Alexandre Mar- poisdetrabalharcomopesquisa- va de mudança. Ele aprovara a
O ESTADO
“Tem mudanças significativas no muito corrupto.” Ele preten- tins, de 42 anos, discorda de Ca- dor de história e gerente de bar. estabilização da economia e a
EM SÃO PAULO,
SP
para pessoas com carência eco- de votar em Marina, “em busca mila quanto à saúde. Ele diz que “Atribuo a um caminho que vem privatização por Fernando
nômica”,reconheceItamarGon- de alternativa, mesmo sabendo teveinfecção intestinal efoi aum sendo trilhado, desde Itamar Henrique Cardoso, mas acha-
çalves, de 46 anos, coordenador que ela também teria de fazer posto de saúde em São Roque, a Franco, Fernando Henrique e va que era hora de “dar chance
de programas da filial brasileira composiçõesquenãoseriammui- 60 km de São Paulo, onde possui Lula. O mérito que dou ao Lula é aos que não tinham chances e
de uma organização não-gover- todiferentes”.Itamar dizque sua um sítio, foi bem atendido e ga- que nenhum governo pensou também pagam imposto”. E,

N
acalçadadeum restau- namental internacional, que escolha “não é só uma questão nhou remédios. Alexandre, que tanto no social quanto o dele.” de fato, “essas pessoas melho-
rante na Praça Benedi- atua contra o abuso e a explora- programática, mas também de trabalha num banco, acredita No ano passado, seu negócio raram de vida” no governo Lu-
to Calixto, no bairro de ção sexual de crianças. “O Bolsa- ter pessoas dignas no governo”. que a saúde melhorou, e atribui sofreuumaquedafortecomacri- la, diz ele.
Pinheiros, oito profis- Famíliaéumanecessidade”,ates- Ele acha que Marina não tem isso aos três níveis de governo. se econômica mundial. “As em- “Não acredito que seja a me-
sionais liberais e pequenos em- taItamar.“Issopodenãosersen- chances: “É para mostrar que Opublicitáriocontaquedemi- presas não investiam em even- lhor solução dar alguma coisa,
presáriospaulistanos,nafaixade tido aqui em São Paulo. Mas atuo tem uma insatisfação contida.” tiu seu caseiro, que tem quatro tos por medo, não porque não porque as pessoas tendem a
28 a 46 anos, expuseram, numa muito em comunidades caren- “As coisas básicas, como segu- filhos, e só depois de desempre- tinham dinheiro”, analisa. “De- dar menos valor àquilo que elas
noite de sexta-feira, o vasto es- tes de Pernambuco. Lá faz total rança,educaçãoesaúde,nãome- gado ele foi pedir Bolsa-Família. pois se descobriu que era uma ganham do que àquilo que elas
pectro de modos de pensar que diferença na vida das pessoas.” lhoram”, impacienta-se Camila “Em lugares menores, as coisas marola.” Paulo estima que o im- trabalham para conseguir”,
caracteriza a classe média alta de MasItamarcriticaafaltadepo- Aló, de 31 anos. Formada em ad- são mais bem geridas”, acha Ale- pacto sobre o Brasil foi menor pondera Fernando, formado
SãoPaulo.Elesveempontosposi- líticas para que as pessoas dei- ministração, ela trabalhou du- xandre. “Lá tem assistentesocial porsermaisexportadordematé- em administração de empre-
tivos e negativos nos governos xem de precisar do benefício. “O rante dez anos em grandes em- que passa de casa em casa.” Ele ria-prima, para a qual sempre há sas, com MBA. “Mas não é justo
dopresidenteLulaedoex-gover- Bolsa-Famílianãopodeseperpe- presas, como Ambev, Nokia e votou no senador Cristovam demanda, do que de serviços ou eu falar que o Bolsa-Família é
nador José Serra, e gostam da se- tuar, e não vejo solução para ele”, Unilever, da qual saiu há um ano Buarque (PDT) para presidente tecnologia. “O mérito do gover- uma proposta errada quando
nadora Marina Silva. diz Itamar, formado em geogra- para estudar pedagogia na PUC. em 2006. Apesar de seu relativo no federal foi saber usar isso.” vim de uma família que me pro-
“Tenho as mesmas queixas “Para quem tem uma condi- otimismo,nãopretendevotares- porcionou condição de bata-
que qualquer empresário tem: Êxito da política ção de vida ruim, que não é o ca- te ano:“Nenhum dos candidatos Tido como necessário, lhar pelas coisas que tenho.
burocracia, carga tributária”, so aqui da entrevista, melho- que estão aí merece meu voto.” Quem nunca teve nada ter uma
enumera Rogério Acquadro, 28
econômica de Lula é rou”, admite Camila, que vive da Numa coisa, Alexandre e Camila
Bolsa Família é criticado oportunidade de ter alguma coi-
anos, sócio de um escritório de visto como mérito de poupança que fez quando traba- concordam: “Lula é populista.” por fraudes e pela falta sa é justo.”
consultoria em informática. Fernando Henrique lhava. “O governo Lula tem uma O produtor de eventos Paulo de uma porta de saída Mesmo assim, Fernando des-
“Mas, para mim, tem melhora- política totalmente voltada para Tosetti, 38 anos, também votou gostou dogoverno Lula, por cau-
do.” Em 2006, Rogério deixou a fia com especialização em psico- o social, com que às vezes eu não em Cristovam no primeiro tur- “Para mim, o que mais pesa é o sa de sua aliança com o PMDB de
segurança de um emprego com logia. “Eu gostaria de um gover- concordo”, afirma ela. “O Bolsa- no, e em Lula no segundo. “Te- social”, diz Paulo. “Aprovo os JoséSarney. “OPMDBnãoprega
carteira assinada para abrir seu no que criasse condições para as Família é um escândalo. As pes- nho restrições com relação ao programas sociais. Podem ser mais nada, só busca permanên-
negócio. Hoje, fatura entre R$ pessoas terem dignidade, sem soasburlamas regras.Éumaver- Serra”, diz Paulo, formado em melhorados. Itamar e FHC esta- cia nos cargos que tem”, critica.
200mileR$300 milpor ano,tem cair nessa linha assistencialista.” gonha, uma enganação.” história. “Prometeu terminar o bilizaram a economia. Os próxi- “Apesar de eu acreditar que as
três funcionários e oito clientes. Itamar está desapontado com o “A política é uma mesmice”, mandatocomoprefeitoefoican- mos governos precisam conti- propostas do PSDB sejam mais
“A crise do último ano não PT: “Eu tinha uma esperança de queixa-se Camila, que vai votar didato a governador. Não confio nuar cuidando da estabilidade certas,Lula tem um grandetrun-
aconteceu comigo”, testemunha que pudesse ser diferente. Com em Marina. “Acho que ela tem mais nele.” Paulo diz que não sa- para poder olhar para o social – fo, que é o seu carisma, inclusive
Rogério, formado em física. “Ao as composições feitas (no Con- ideias que fogem do padrão, mas be muito sobre Dilma. “Foi cria- saúde, segurança, as condições fora do país”, observa. “Votaria
menos no meu ramo, com meus gresso), não vejo diferença entre não temos a consciência coleti- da porque o PT perdeu seus can- básicas.” Ele acha que Marina se no Serra por alinhamento com o
clientes,nãosenti.”Segundo ele, os governos do PSDB e do PT. A va para fazer isso”, afirma, pre- didatosnacrisedomensalão.Es- preocupa com isso, mas lhe falta PSDB. PT e PSDB fogem dos ex-
“as queixas são as mesmas: o im- política monetária é a mesma.” vendo que sua candidata não se- tou esperando a campanha para um partido forte. “Quem não tremos, caminham no centro”,
posto é alto, trabalha-se muito e “Eu tinha um sentimento de rá eleita. “Gosto da visão social, conhecê-la mais.” tem força do partido para fazer elogia. “O errado é que não pro-
ganha-se pouco, mas as pessoas que fôssemos superar a corrup- mas não da Dilma (Rousseff). “Economicamente, o Brasil política vai pagar mensalão.” curaram se unir. Preferiram bus-
não se queixam como se queixa- ção”, continua Itamar. “O gover- Não sou contra o Serra, até por- nuncaviveu umaépoca comoes- Em 2002, Fernando Molina, car o poder. É muito triste ter de
vam antes”. À pergunta sobre se no Lula foi tal e qual (os anterio- que o PSDB também tem essa ta”, reconhece Paulo, que abriu de 28 anos, votou em Lula por- escolher entre um e outro.”

muito mal assessorado.” que é mais sério do que o PT. desapontei com a política.” dor”. Graziela admite: “Para
Corrupção e ineficiência O empresário conta que a cri-
sedoanopassadoafetouosnegó-
Mas também mantém um nível
alto de corrupção. Pretendo vo-
Trabalhando com marketing
em multinacionais de eletroele-
quem trabalha com isso, é muito
bom.Mas,mesmoquerendoven-
desiludem paulistanos cios,masemdezembroseus efei-
tos estavam superados. Nem a
tar em Serra por eliminação.
Não é um voto feliz.”
trônicoshá10anos,GrazielaCar-
mezini, de 30, é testemunha da
der,pensoalém.Osimpostoseos
juros são altos. O consumidor é
condução da política econômica Eduardo acha “uma piada” a explosão de consumo das classes enganado pelo crediário.”
pelo governo Lula, porém, o en- expansão do metrô de São Pau- mais baixas sob o governo Lula, Ela não concorda com o Bolsa
“Tenho grande aversão a Lula, deira”, diz Eduardo, formado em tusiasma. “Fernando Henrique lo, um dos destaques da gestão graças, sobretudo, à facilidade de Família: “Esses recursos deve-
porque simplesmente deu conti- biologia. “Ele ficou com fama teve o mérito de ter estabilizado Serra. “Para resolver o problema crédito. Mas não se empolga. riam ser investidos na educa-
nuidadeaoquejáestavasendofei- grande no exterior, não entendo aeconomia. Ele arrumoua casa e do trânsito, teria que ser uma “Nunca votei nem votaria no ção.” Graziela gostaria de votar
to”, rejeita Eduardo Coen, de 35 como. É ‘o cara’, só não se sabe do o Lula pegou a coisa pronta.” obra muito maior.” Ele lembra PT”,descartaGraziela,quefezpu- em Marina, mas prefere um can-
anos, que há 5 saiu de uma multi- quê. Deu uma sorte danada.” A Eduardo votou em FHC e Serra; também o acidente na obra da blicidade e MBA em marketing. didato capaz de derrotar Dilma.
nacionalparacriarumamicroem- proximidade de Lula com os pre- teria votado em Geraldo Alck- Estação Pinheiros, em 2007. Pa- “Acho que Lula tentou continuar “Vou votar no Serra, mas não
presadevendadeartigosparafes- sidentesdaVenezuela,HugoChá- min, se não estivesse viajando. ra Eduardo, “o PSDB procura o governo Fernando Henrique, considero que ninguém seja
tas pela internet. “É um governo vez, e do Irã, Mahmoud Ahmadi- “Agora, estou numa complica- dar uma aparência de eficiência que é ‘o cara’, é quem trabalhou bom. Governos são muito cor-
dedesinformação,deprojetospo- nejad, perturba Eduardo. “Ele ção, porque não enxergo mais o e honestidade de gestão, mas é com a inflação.” Para ela, a gestão ruptos. Não acredito que tenha
pulistas, muito levado na brinca- não sabe o que está fazendo, é PSDB como antes. Ainda acho falso”. Eduardo conclui: “Eu me Lula“foiumgovernodeconsumi- político confiável.”

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