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Fernanda Lemos***
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Scott: Eu penso que gnero ainda uma categoria til, apesar de sua
cooptao por muitas agncias internacionais, ONGs, governos e afins.
Para mim, gnero representa uma pergunta a ser feita por qualquer
sociedade, em qualquer momento: como mulheres e homens esto
sendo definidos, um em relao ao outro? Dito de outra forma, dada
a impossibilidade de realmente dizer o que as diferenas fsicas entre
os sexos significam, como as sociedades tm tentado impor significados e mant-los no lugar? Como os indivduos tm se imaginado, no
se encaixando nessas categorias? Gnero , em outras palavras, uma
norma regulamentadora que nunca funciona plenamente. Assim, as
perguntas interessantes so: quem estabelece as definies? Para que
fins? Como elas so aplicadas? Como indivduos e grupos resistem s
definies? Se usada dessa maneira, como um conjunto de perguntas
cujas respostas no sabemos de antemo, o gnero ainda uma categoria til de anlise.
Mandrgora: Voc considera que, nestes ltimos 20 anos, a categoria
gnero tem se consolidado no campo da histria? Como um recurso
historiogrfico de incluso das mulheres como sujeito? Ou gnero ainda
est reservado ao campo exclusivo dos estudos feministas?
Scott: Eu considero que alguns historiadores mais que no passado
(pelo menos nos EUA e nos pases europeus que conheo) comearam a incluir questes sobre gnero em suas pesquisas. As perguntas e
respostas que eles oferecem no so sempre aquelas com as quais as
feministas concordariam. Mas, provavelmente, um avano existir uma
maior conscincia sobre gnero entre os historiadores do que existia
h 20 ou 30 anos.
Mandrgora: Em seu livro La Citoyenne Paradoxale (1998)2, voc reconhece as tenses internas do movimento feminista na Frana. No Brasil,
alguns setores do movimento feminista consideram que a categoria gnero no capaz de desconstruir as desiguais relaes sociais de sexo,
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Traduzido, em 2002, pela Editora Mulheres, como A cidad paradoxal. Para maiores informaes, consultar: SCOTT, Joan W.. A cidad paradoxal: as feministas francesas e os direitos do
homem. Trad. lvio A. Funck. Apres. Miriam P. Grossi.
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3 O texto citado por Joan Scott, da antroploga Saba Mahmood (2005 e 2012) : Politics of
piety: the islamic revival and the feminist subject.
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