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São Paulo, quinta-feira, 27 de maio de 2010

SILVIO MEIRA

O plano, a banda e a inclusão digital


A ineficiência de operadoras fixas no provimento de acesso em banda larga é a mãe do PNBL

NOS ÚLTIMOS dez anos, regredimos mais de 20 posições nos índices de quantidade e
qualidade da infraestrutura digital. Não que o Brasil estivesse indo para trás de forma
acelerada: no período, o país viu uma quase universalização dos celulares, um bom aumento
da proporção de residências com PCs e a conexão de um bom número de casas à rede.
O que a década de queda -do 38º para o 59º lugar no Network Readiness Index do World
Economic Forum, por exemplo- quer dizer é que outros países se moveram muito mais rápido.
E isso é um problema, agora e no futuro próximo, primeiro porque muitos deles são nossos
competidores, mas também, e mais gravemente, porque o mundo conectado vive,
intensamente, a sociedade e a economia da informação e do conhecimento. Estar fora da
rede, hoje, é como estar fora do mundo.

E o Brasil perdeu tempo. Muito tempo. Desde os primórdios da internet por aqui, havia planos
de universalização do acesso. Sabia-se desde o princípio que a rede iria mudar o mundo e se
tornar mais uma de suas infraestruturas básicas, uma "utility" tão essencial como eletricidade,
água e esgoto.

O conceito - hoje universal - de tratar telefonia e telefones como apenas mais uma aplicação
sobre uma infraestrutura (servidores, roteadores, satélites...) e serviços (os protocolos da
rede) padrão da internet tem quase década e meia.

Ou seja, faz tempo que se sabia e se dizia, aos quatro ventos, que tudo o que era comunicação
ia convergir, mais cedo ou mais tarde, para a internet. Por que, então, ainda estamos no
estágio de penetração e uso de banda larga relatado no "Comunicado 46" do Ipea (ouça um
debate sobre esta assunto no link http://bit.ly/a3lIHV)?

A razão fundamental é que o Brasil não teve, na última década e meia, políticas públicas que
cuidassem de conectar o país na quantidade e na qualidade que precisamos.
Banda larga não chega nem à metade dos municípios e só existe em cerca de 21% dos lares.
Como se não bastasse, mais de 54% das nossas conexões "de banda larga" têm velocidades
nominais abaixo de um megabit por segundo, o que significa que vídeo pela rede, por aqui, é
coisa rara. E de má qualidade. O que torna muito difícil educação, saúde e negócios pela rede,
entre outras tantas coisas que existem e são usadas, como fato consumado, mundo afora.
Sem falar que, mesmo para o uso comum da rede, mesmo para o que "dá para fazer" com a
rede que se tem, o preço do megabit por segundo brasileiro é estratosférico: aqui, como
porcentagem da renda familiar, banda larga custa dez vezes mais do que nos países mais
conectados. Depois de quase 15 anos de privatização do setor, o "mercado", ou seja, o que
temos de políticas públicas, regulação, reguladores e empresas, simplesmente não fez o que
deveria ter feito.

Resultado? Voltamos quase a um ponto de partida e decretamos um Plano Nacional de Banda


Larga, cuja gestação tem que ser debitada ao cenário descrito acima. A ineficiência das
operadoras fixas no provimento de acesso em banda larga em quantidade, qualidade e preço
acessível é a mãe do PNBL (ouça um debate em http://bit.ly/bPHa26). Poderiam ter feito - e
exigido - muito mais. Não o fizeram. Deu no que deu.

Um PNBL bem executado pode se tornar uma intervenção estatal de qualidade nos negócios
de conectividade, e não necessariamente uma nova infraestrutura de serviços de rede
necessária para tal.

Até porque o PNBL parece um novo "plano de integração nacional" e seu papel pode ser muito
parecido ao das estradas e TVs no passado, ao trazer para a rede mais da metade dos
municípios e 70%, 80% das casas.

Muita gente reclama e desconfia do plano, quase como se fosse uma reestatização do setor de
telecom. Mas telecom, a das antigas companhias de telefonia, não existe mais, transformou-se
em conectividade, fixa e móvel. E é significativo que o PNBL não trate de mobilidade, e sim de
conectividade fixa, onde o mercado, simplesmente, falhou.

SILVIO MEIRA , 55, fundador do www.portodigital.org e cientista-chefe do www.cesar.org.br , passa a


escrever mensalmente nesta coluna.

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