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29 de maio de 2010

OS ESTADOS UNIDOS E A ASCENSÃO


DE NOVOS PÓLOS: OS BRICS

BRASIL
Prof. Dr. André Reis da Silva

Apoio institucional: Apoio logístico:


Projeto “Relações Internacionais para Educadores” – 29 de maio de 2010
OS ESTADOS UNIDOS E A ASCENSÃO DE NOVOS PÓLOS: OS BRICS – BRASIL

OS ESTADOS UNIDOS E A ASCENSÃO DE NOVOS PÓLOS: OS


BRICS - BRASIL

Prof. Dr. André Luiz Reis da Silva1

Os últimos anos vêm demonstrando a capacidade cada vez maior de atuação do


Brasil no cenário internacional. Nesta seção, o objetivo é apresentar as tendências atuais
da inserção internacional brasileira. Para tal, será feito um breve histórico das relações
entre Brasil e Estados Unidos para, depois disso, dar destaque às maneiras como os
governos de Fernando Collor de Mello, Fernando Henrique Cardoso e o atual governo de
Luiz Inácio Lula da Silva buscaram conduzir a política externa brasileira.
Além de falar sobre as relações entre Brasil e Estados Unidos, também se dará
destaque ao relacionamento do Brasil com os países da América Latina e à inserção
brasileira nos grupos de geometria variável, em especial o BRIC.

BREVE HISTÓRICO DAS RELAÇÕES BRASIL – ESTADOS UNIDOS: DE GETÚLIO


AO FIM DO REGIME MILITAR

As dimensões territoriais e demográficas, bem como o potencial de produção de


riquezas materiais e naturais, sempre foram motivo de destaque do Brasil perante os
demais países da América Latina. Consequentemente, existia um latente interesse por parte
dos Estados Unidos em estabelecer relações com o Estado brasileiro, que vieram a se consolidar
quando os Estados Unidos superam a Inglaterra e atingiram a hegemonia do subsistema
americano, após a Segunda Guerra Mundial (SILVA, 2005). Buscou-se, então, o
fortalecimento das relações Estados Unidos – Brasil, na qual o primeiro conquistaria
um importante aliado político e econômico na região e, o segundo obteria sensível
favorecimento pelos investimentos norte-americanos.
Embora claramente o elo mais fraco da corrente, desde os primórdios desta
relação o Brasil procurou manter um projeto próprio de desenvolvimento e de inserção
internacional, mais ou menos próximo da política norte-americana conforme o
presidente brasileiro em exercício. Durante o Governo Getúlio Vargas, esse pressuposto
materializou-se na forma de uma política externa denominada de barganha

1 Elaborado por Mariana Willmersdorf Steffen e Sílvia Carolina Sebben (alunas de Relações
Internacionais da UFRGS).
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nacionalista, a qual procurava negociar o apoio brasileiro aos Estados Unidos em troca
do auxílio norte-americano ao desenvolvimento econômico do país (PINHEIRO, ano),
principalmente por meio do fornecimento de tecnologia industrial. Ainda com esse
objetivo, mas de maneira distinta, o governo Dutra e o governo Café Filho destacam-se
pelo alinhamento automático do Brasil em relação aos Estados Unidos – o que levou, por
exemplo, ao rompimento de relações com a URSS, em 19472–, enquanto, por outro lado,
Jânio Quadros e João Goulart protagonizaram um distanciamento em relação à potência
norte-americana, período conhecido como de Política Externa Independente (PEI).
Na medida em que os interesses norte-americanos no continente encontravam-
se ameaçados pela ascensão de governos populistas e movimentos esquerdistas,
Washington demonstrou-se disposta a apoiar regimes militares que lhe fossem
simpáticos. Com o golpe militar realizado em 1964, a PEI exercida pelos governos
anteriores foi imediatamente interrompida, e o novo governo brasileiro voltou a contar
com diversos privilégios (empréstimos, por exemplo) que lhe haviam sido suspensos
durante o governo de Jango, dado sua postura de aproximação aos países comunistas,
como a China, o que desagradou aos governantes norte-americanos.
Esse fato induz a pensar que o governo militar manteve-se automaticamente
alinhado durante toda a sua duração – o que, no entanto, não se comprovou. Ao longo
dos anos, surgiram diversos pontos de desencontro entre as políticas de ambos os
países, determinando com relativa frequência períodos de distanciamento– a saber,
durante os governos Costa e Silva e Médici, quando o Brasil buscou alternativas à
bilateralidade, bem como a defesa de pontos unilateralmente importantes ao país.
É sobretudo no Governo Geisel que a busca por maior diversidade de parceiros
internacionais, em detrimento dos Estados Unidos, se consubstancia: por meio do
pragmatismo responsável3, o Brasil estabeleceu relações com a China comunista, firmou
acordo nuclear com a Alemanha Ocidental, e rompeu o acordo militar de 1952 com os
Estados Unidos – o qual consistia na cessão brasileira de materiais básicos e
estratégicos, como urânios e areias monazíticas, em troca do envio por parte do exército
norte-americano de equipamentos militares e serviços4, bem como de seu controle e
operação da Escola Superior de Guerra brasileira (RAPOPORT E LAUFER, 2000).
Os seguintes (e finais) anos do regime militar brasileiro seguiram sem romper
com o sistema interamericano de hegemonia norte-americana, mas definitivamente
questionaram-no, por meio de posturas contestatórias às ações norte-americanas

2 As relações com a União Soviética somente seriam retomadas em 1961, pelo então Presidente João
Goulart.
3 A política do pragmatismo responsável constituiu-se em uma série de atuações diplomáticas
processadas através dos chamados alinhamentos indispensáveis. O Brasil buscou atuar mundialmente,
em diferentes cenários, aproximando-se da Europa e do Japão, a fim de contrabalançar sua dependência
dos EUA. Além disso, o Brasil buscou formular políticas específicas para outras regiões do mundo, tais
como China, África e Oriente Médio (SILVA, 2005).
4 SCHILLING, Voltaire. 2002. Em: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/500br/vargas_agosto546.htm.
3
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(como, por exemplo, quando da denúncia, na ONU, às barreiras comerciais empregadas


por Reagan), bem como pela busca de novos parceiros no cenário internacional. Nesse
sentido, o multilateralismo5, o globalismo6 e o terceiro-mundismo7 foram as
características que acabaram dominando as relações internacionais brasileiras durante
o período militar (REIS, 2005).
Com o fim da ditadura, viu-se necessário o resgate da premissa lançada pelo
Barão do Rio Branco, pai da diplomacia brasileira moderna, em 1902, de uma liderança
subregional brasileira, esquecida desde 1961. A lógica de busca de vias alternativas, que
primou durante o regime militar (à exceção do Governo Castelo Branco), gerou grande
preocupação aos Estados Unidos ao longo dos anos 1970 a 80, principalmente quanto
ao contexto de bipolaridade da Guerra Fria. Em realidade, essa preocupação logo viraria
uma ofensiva: durante a década de 1980, o Brasil sofreu pressões políticas e
econômicas, que visavam a seu isolamento e de outros países em desenvolvimento. A
título de exemplo temos a pressão do governo Reagan para a redemocratização do
Brasil, durante o Governo Figueiredo, e a já citada criação de barreiras comerciais à
entrada dos produtos brasileiros nos mercados norte-americanos (SILVA, 2005).
Dessa maneira, a busca pela independência na política externa, considerada
agressiva pela potência norte-americana, foi respondida com uma autonomia pela
distância. Ou seja, de fato o Brasil seria capaz de atingir sua autonomia em relação aos
Estados Unidos, mas em moldes exclusórios, uma vez que as oportunidades de
cooperação junto ao governo norte-americano haviam sido diminuídas.

TENDÊNCIAS DA INSERÇÃO INTERNACIONAL ATUAL DO BRASIL: DE


COLLOR A LULA

As duas últimas décadas vêm sendo marcadas por um intenso debate a respeito
da natureza das prioridades e das perspectivas da política externa brasileira. Tal debate
opõe duas tendências principais: a hemisférica-bilateral e a global-multilateral

5 Cooperação entre três ou mais atores em detrimento do antigo prevalecimento de tratados bilaterais – o
multilateralismo privilegia o estabelecimento de diversos parceiros cooperativos, estes podendo ser
tanto Estados quanto organizações internacionais(LARABURU, 2008).
6 Compreende relações, processos e estruturas de dominação e apropriação desenvolvendo-se em escala
mundial, as quais compreendem todas as realidades sociais, desde o indivíduo à coletividade, ou povo,
tribo, nação e nacionalidade, corporações transnacionais, partidos políticos, sindicatos, entre outros.
IANNI, 1998.
7 Relações no cenário internacional focadas nos países considerados de terceiro mundo – classificação
atualmente considerada ultrapassada, mas que compreendia primeiro mundo (países desenvolvidos, de
importante desempenho econômico), segundo mundo (países comunistas) e terceiro mundo (países
periféricos de baixo desenvolvimento).
4
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(PECEQUILO, 2008). Essa discussão se desenvolve em torno de um eixo principal: o


questionamento das opções dos presidentes brasileiros que defendem a reconstrução
de relações especiais com os Estados Unidos, ao que se opõe a alternativa de um
suposto afastamento de Brasília e Washington,, gerado pelo fato de o Brasil ter buscado
aproximar-se de países emergentes e menos desenvolvidos, seja na África, Ásia, Oriente
Médio, seja na América do Sul.
Entretanto, o debate acima mencionado é enganoso (PECEQUILO, 2008), já que a
tendência atual do Brasil – tendência essa que tem grande destaque na administração,
do presidente Luís Inácio Lula da Lula – é a de focar sua agenda de política externa na
combinação dos eixos vertical e horizontal, mesclando as dimensões Norte-Sul e Sul-Sul.
Assim, se é dito que o âmbito da política externa brasileira atual é bastante
amplo, de forma que não há região ou país nomeadamente priorizado na formulação de
tal política. Vale observar, porém, que tal postura difere significativamente da postura
adotada pelo Brasil nos governos anteriores, principalmente os de Fernando Collor de
Mello e de Fernando Henrique Cardoso, cujas características discutiremos a seguir.

As políticas liberalizantes de Fernando Collor de Mello e de Fernando


Henrique Cardoso
Com o final da Guerra Fria, os EUA surgiram como a única superpotência
restante no sistema internacional, criando uma “nova ordem mundial”8 sustentada por
sua liderança e pela governança multilateral, baseada no papel mediador das Nações
Unidas (PECEQUILO, 2008). Os anos 1990 foram também marcados pelas ideias
promovidas pelo Consenso de Washington, conjunto de medidas formuladas por
economistas de instituições financeiras como o Fundo Monetário Internacional, o Banco
Mundial e o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, a fim de promover ajustes
macroeconômicos para uma série de países que, na época, passavam por dificuldades,
entre os quais se encontravam diversos países da América Latina.
O Consenso de Washington estava baseado em uma série de regras vinculadas
aos princípios do neoliberalismo, tais como a disciplina fiscal, a redução dos gastos
públicos, a abertura comercial, o incentivo ao investimento externo direto (IED) –
através da abolição de barreiras e restrições –, a privatização de empresas de caráter
público, o afrouxamento das leis econômicas e trabalhistas, entre outros.

8 A ideia de “nova ordem internacional” é melhor discutida no material de apoio correspodente à


primeira palestra do curso Relações Internacionais para Educadores, intitulado A Ordem Multilateral e o
Novo Papel dos Estados Unidos no Sistema Internacional e disponível em:
http://cursoripe.blogspot.com/p/materiais-de-apoio.html.

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As regras do Consenso de Washington foram aplicadas em diversos países da


América Latina, entre os quais o Brasil. Entretanto, os resultados não foram favoráveis
para a grande maioria dos países cujas dificuldades tais regras prometiam ajudar a
resolver a crise da dívida externa e a inflação galopante. Para os latino-americanos, a
década de 1980 acabou ficando conhecida como a “década perdida”. Mesmo o Brasil,
que havia desenvolvido sua agenda autônoma, não escapou ao destino proporcionado
pelas práticas de caráter neoliberal, sofrendo de hiperinflação e estagnação econômica
(PECEQUILO, 2008).
No início dos 1990, a visão que prevaleceu dentro do grupo de formuladores da
política externa brasileira foi a de que, com o fim da bipolaridade da Guerra Fria, o
cenário internacional se havia tornado unipolar, o que fazia com que a aproximação com
os Estados Unidos se tornasse um ponto fundamental. Essa visão esteve vinculada à
avaliação de que as agendas prévias da política externa brasileira, baseadas em uma
maior diversificação do sistema de parcerias internacionais do país (como a política do
pragmatismo responsável dos últimos anos dos governos militares), foram deficientes
no sentido de promover grandes intercâmbios. Essa visão marca a tese da já citada
“autonomia pela exclusão”(PECEQUILO, 2008).
Devido a suas escolhas, que primaram pela adoçao das práticas do
neoliberalismo, afirmava-se que o Brasil entrara em uma crise que somente seria
superada com a recuperação de sua credibilidade por meio de sua adequação ao novo
sistema. Atese da “autonomia pela integração”advogava, pois, a adesão às reformas
patrocinadas pelos EUA, personificadas pelo Consenso de Washington. Assim, a fim de
superar os anos 1980, que carcaterizaram a “década perdida”, a opção escolhida foi a da
“década bilateral” (PECEQUILO, 2008).
O Governo Fernando Collor de Mello, o primeiro governo eleito por voto direto
após o término do regime militar, iniciou esse bilateralismo, privilegiando o
alinhamento automático com os Estados Unidos e a implementação das regras do
Consenso dentro do Brasil. Entretanto, apesar da promessa de superar a crise pela qual
o país passava na época, a administração Collor, a fim de seguir as regras impostas pelo
Consenso de Washington (que previam a redução dos gastos públicos e do conusmo, a
fim de diminuir a pressão sobre a inflação), acabou promovendo medidas impopulares e
sem efeito, como o congelamento das poupanças. O alinhamento automático do governo
Collor em relação aos Estados Unidos também se deu pelo apoio do presidente
brasileiro à Iniciativa para as Américas9, visando a estabelecer um futuro de
prosperidade regional compartilhado com os EUA.

9 Programa do governo norte-americano para o continente Americano que pregava a construção de um


futuro econômico e político compartilhado a todas as nações – estrategicamente, na verdade, visava a
construção na América Latina uma zona preferencial de interesse dos Estados Unidos (PECEQUILO,
2008)
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Próximo ao fim do Governo Collor (1990-1992), durante a época do processo de


impeachment, e ao longo do Governo Itamar Franco (1992-1994), alguns elementos
autonomistas, como o nascimento do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), ganharam
destaque, e suplantaram os de alinhamento automático. Nesse período, Itamar lançou
diversas propostas alternativas ao bilateralismo Brasil-Estados Unidos, retomando
contatos preferenciais com a China, a Rússia e a Índia, externamente, e internamente
apresentando focos de resistência às privatizações e ao avanço do neoliberalismo, bem
como reiniciando a busca pela independência e afirmação internacional do país.
Quando assumiu a presidência, em 1995, Fernando Henrique Cardoso (que havia
sido Ministro de Relações Exteriores – de 1992 e 1993 - e Ministro da Fazendo – de
1993 a 1994 - do governo Itamar Franco) optou por uma postura de alinhamento
pragmático no relacionamento com os Estados Unidos, a qual perduraria até 1999, com
alguns focos de resistência – traduzidos, por exemplo, pela preferência ao MERCOSUL
em detrimento à alternativa norte-americana de integração econômica do continente, a
ALCA (Acordo de Livre Comércio das Américas).
Apesar disso, alguns elementos liberalizantes iniciados no Governo Collor são
retomados, tais como a desregulamentação, as privatizações, a abertura comercial, o
controle do câmbio e a diminuição do papel do Estado na economia. Na realidade, a
política de FHC manteve alguns elementos do governo Collor, notadamente as políticas
econômicas de caráter neoliberal, ao mesmo tempo em que a postura diplomática do
Brasil foi diferente, deixando de alinhar-se diretamente aos Estados Unidos e buscando
uma maior autonomia no sistema internacional.
Entre 1995 e 2000, o diálogo bilateral entre Brasil e Estados Unidos amadureceu,
liderado por Cardoso e Bill Clinton, presidente norte-americano, posteriormente
sucedido por George W. Bush. Embora essa diálogo tenha tido lugar, não houve
concessões nas áreas consideradas fundamentais pelo presidente brasileiro, quais
sejam: 1) a reforma da Organização das Nações Unidas (ONU), onde o Brasil pleiteia um
assento permanente no Conselho de Segurança; 2) a ALCA, na qual o governo brasileiro
defendia a permanência dos blocos regionais preexistentes, enquanto os Estados Unidos
desejavam sua diluição; e 3) a OMC, onde o governo Cardoso reivindicava negociações
comerciais equânimes e independentes do grau de desenvolvimento do país.
Essas linhas de fratura acentuariam as divergências entre Brasil e Estados
Unidos, as quais, combinadas com a crise econômica na América Latina e os
desequilíbrios do Plano Real (crise de 1999), determinariam o limite do alinhamento
pragmático brasileiro. Assim, o segundo mandato de FHC (1999-2002) acabou
apresentando uma postura muito mais autonomista, caracterizada pelas críticas à
globalização assimétrica (que privilegiava os países do Norte em detrimento dos países
do Sul, historicamente menos desenvolvidos), pela busca pela reaproximação com os

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grandes países emergentes (entre os quais Rússia, Índia e China) e por uma postura
mais firme na OMC.
Entre 1999 e 2004, as relações entre os governos norte-americano e brasileiro
mantiveram-se em compasso de espera – por parte dos Estados Unidos –, sem avanços
nem rupturas, em parte pelo foco de Clinton em manter-se no poder para terminar o
mandato, e em parte pela agenda neoconservadora de Bush, que deu prioridade à
Eurásia (PECEQUILO, 2008).

A retomada e a ampliação do desenvolvimentismo no Governo Lula


A chegada à presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, ocorrida em 2003, foi
marcante por ter conferido um perfil ainda mais acentuado de autonomia na política
externa brasileira, complementado pelo aumento do poder de barganha nacional. As
mudanças ocorridas na política externa brasileira neste período coincidiram com uma
série de mudanças em diversos outros governos da América Latina, que fez uma “curva
à esquerda” (PECEQUILO, 2008).
Enquanto Brasil (do Presidente Lula), Chile (com Michele Bachelet) e Uruguai (de
Tabaré Vasquéz) representariam uma esquerda pragmática e centrista, buscando
atualizar seus laços com a comunidade internacional e reordenar seus objetivos
internos de acordo com a lógica da cooperação, a Venezuela (de Hugo Chávez) buscou
um caminho diferente, qual seja: o da contestação aberta à diplomacia dos Estados
Unidos. À Venezuela de Chávez uniram-se o Equador de Rafael Correa e a Bolívia de Evo
Morales, com retórica e prática similar.
O próprio Presidente Lula, durante sua campanha eleitoral, era visto como temor
pelos Estados Unidos, que temiam “uma mudança brusca e uma política ideológica
militante” (VISENTINI, 2006). Tal temor pela ascensão de um governo aliado ao projeto
socialista de Hugo Chávez preocupava os norte-americanos, o que acabou resultando
em uma aproximação entre o governo da esquerda brasileira (Lula) e o governo
republicano de Bush.
À época, os principais desafios do Governo Lula em relação a questões de política
externa eram três: 1) superar as percepções equivocadas sobre o Brasil no cenário
internacional (muitas vezes vinculando a imagem do país a uma imagem de fraqueza),
2) inserir-se na nova ordem mundial, cada vez mais caracterizada pelo multilateralismo
e 3) a necessidade de uma reavaliação das relações entre Brasil e Estados Unidos
(PECEQUILO, 2008).
Em relação ao primeiro desafio, a percepção de fraqueza foi substituída por uma
reavaliação do papel brasileiro como potência média e nação emergente, necessitando,

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assim, de uma diplomacia de alto perfil, adequada a capacidade e às necessidades do


país. Em relação ao segundo elemento desafiador, apesar de os EUA possuírem um
incontestável poder no campo militar, passaram a compartilhar tal poder nas demais
esferas (notadamente a esfera econômica), o que tornou necessária a reavaliação da
política externa brasileira, passando a priorizar o estabelecimento de relações
diplomáticas e parcerias com outros países e regiões do mundo, tendência que já vinha
desde o governo de FHC. Por fim, quanto à relação com os Estados Unidos,
especificamente, tem-se que desde o início dos anos 2000, as prioridades norte-
americanas, sua posição relativa nos campos estratégicos e econômicos e sua relação
com parceiros regionais foram reavaliadas, já que, apesar de continuarem
preponderante no sistema internacional, os Estados Unidos passaram a estar
pressionados econômica e estrategicamente, o que proporcionou ao Brasil a
possibilidade de aumentar seu poder de barganha perante os norte-americanos
(PECEQUILO, 2008).
Durante o governo Lula, o Brasil passou a adquirir uma visão realista do que os
Estados Unidos poderiam lhe oferecer – e, embora o rompimento nas negociações
dentro da OMC10 pudesse ter abalado as relações bilaterais, o relacionamento continuou
em uma linha crescente de oportunidades. Se por um lado o Brasil se fortalecia
internacionalmente, assumindo o papel de potência regional e criando laços com nações
de todo o mundo – negociações Sul-Sul, G20, IBAS –, os Estados Unidos se enfraqueciam,
devido às opções unilaterais assumidas por Bush.
De fato, as relações internacionais brasileiras vêm sendo caracterizadas, pela
busca de parceiros em dois eixos: o horizontal e o vertical. O eixo horizontal seria
representado pelas parcerias com as nações emergentes, muitas vezes marcadas por
problemas semelhantes aos enfrentados pelo Brasil no âmbito internacional, como
Índia, China, Rússia (que, informalmente, formam juntamente do Brasil o grupo BRIC, o
qual será detalhado adiante) e a África do Sul. A agenda é composta também pelos
países menos desenvolvidos da África, Ásia e Oriente Médio, cujo poder relativo é
menor do que o brasileiro. Os benefícios potenciais deste eixo são econômicos,
estratégicos e políticos (PECEQUILO, 2008)11.

10 Reunião da OMC em Cancun, em 2003, em que ocorreu a criação do G20 para contestar as posturas dos
Estados Unidos e demais países desenvolvidos, bem como para ampliar as concessões aos países em
desenvolvimento e subdesenvolvidos. PECEQUILO, 2008
11 Nesse ponto, cabe destacar as tentativas da aproximação do Brasil em relação ao Oriente Médio.
Recentemente, a diplomacia brasileira obteve um grande sucesso, tendo se responsabilizado pela
intermediação da organização do Programa Nuclear do Irã. O presidente Lula intermediou, em Teerã,
um acordo entre Irã e Turquia. A intermediação brasileira insere-se dentro do contexto através do qual o
Brasil vem afirmando um maior protagonismo internacional, o que tem feito com que o país procure
manter canais de diálogo com o Irã, assim como com outros países do Oriente Médio (SILVA, 2010).
Disponível em: http://meridiano47.info/2010/05/18/as-relacoes-do-brasil-com-o-ira-e-a-questao-
nuclear-por-andre-luiz-reis-da-silva/#more-2421. Acessado em 23/05/2010.
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Enquanto isso, o eixo vertical da atuação internacional brasileira é representado


pelos intercâmbios com países e regiões do primeiro mundo, como Estados Unidos,
Japão e União Europeia. Tais intercâmbios correspondem a temas econômicos,
estratégicos e políticos, amparados por uma clara percepção das assimetrias de poder,
ou seja, desnível entre os poderes relativos dos países, o que é um dos principais
obstáculos dessas relações (PECEQUILO, 2008). Dentro do eixo vertical da política
externa brasileira, os Estados Unidos mantém-se como o principal e mais importante
parceiro individual brasileiro, seguindo a tradição de parceria entre os dois países, que
marcou praticamente todo o século XX.
No entanto, o que difere do padrão encontrado no século XX é que, ao reconhecer
a liderança regional do Brasil e sua potencialidade como parceiro global, os Estados
Unidos assumem a postura de busca pelo diálogo estratégico com Brasília. Mais do que
nunca, os EUA e o Brasil mantêm-se como “potências parceiras construindo um futuro
comum a partir de opções nacionais individuais” (PECEQUILO, 2008), resultado natural
da evolução de suas relações bilaterais. Ademais, a proximidade política vem impedindo
que divergências (como a reforma da ONU e linhas de fratura comerciais, por exemplo, a
não-abertura do mercado norte-americano para o álcool brasileiro) abalem o
relacionamento diplomático pré-estabelecido.
Atualmente, o Brasil enxerga o bilateralismo com os Estados Unidos como uma
opção dentre muitas, e a reafirmação da parceria com Washington passa por "uma
elevada dose de pragmatismo direcionado aos canais de intercâmbio e ao reforço
positivo das relações com as outras nações desenvolvidas, países emergentes e de
menor desenvolvimento relativo, atrelada a uma política independente e confiante"
(PECEQUILO, 2008). Assim, mais do que nunca, Brasil e Estados Unidos mantêm-se
como potências parceiras, buscando construir um futuro comum a partir de rumos
nacionais individuais.
É interessante notar que tal perspectiva não sofreu mudanças significativas
desde o início do governo de Barack Obama, em 2009. O comércio entre os dois países
continuou sendo um fator de grande importância, tendo, entretanto, passado por
algumas dificuldades geradas pela crise econômica que assolou os Estados Unidos e o
mundo no final de 2008.
Afirma-se, inclusive, que o Brasil também tende a se tornar o interlocutor da
aproximação entre EUA e Cuba. O Brasil, que deu os primeiros passos em favor da
reintegração da ilha nos órgãos de representação política das Américas, durante a
cúpula de líderes da América Latina e Caribe, ocorrida em dezembro de 2008, foi
também ator relevante na revogação da resolução da Organização dos Estados
Americanos (OEA), que suspendia Cuba da organização (CAMPOS, 2010). Já em relação
ao continente sul-americano, o Brasil vem se mostrando como importante mediador e

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facilitador de diálogo entre os países, o que é de grande interesse para os Estados


Unidos (CAMPOS, 2010)12.
Na verdade, as questões acima elencadas poderiam ser vistas como pontos de
convergência entre os governos Lula e Obama. Há também, no entanto, pontos de
divergência. O principal deles talvez seja relacionado à questão da energia nuclear. A já
mencionada aproximação do Brasil com o Oriente Médio, com o governo Lula apoiando
o desenvolvimento iraniano de tecnologia nuclear para fins pacíficos, é um ponto que
vem opondo Brasil e Estados Unidos, já que os últimos creem que o desenvolvimento da
tecnologia nuclear pelo Irã possui fins bélicos (e, portanto, constituem uma ameaça para
a sociedade internacional).
Em relação às convergências e divergências entre os governos Lula e Obama,
Conclui-se que “ambos devem encapsular essas divergências para que não afetem as
áreas de maior convergência no relacionamento bilateral. Somente assim, mais
oportunidades surgirão rumo ao desenvolvimento da parceria estratégica Brasil-EUA”
(CAMPOS, 2010).

A NOVA ESTRATÉGIA DA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA: A


APROXIMAÇÃO DOS PAÍSES DA AMÉRICA DO SUL

No contexto do eixo horizontal da organização da política externa brasileira, que,


como visto acima, busca aumentar a participação do Brasil em acordos dentro da lógica
da Cooperação Sul-Sul13, a aproximação do Brasil com países do continente latino-
americano tem grande destaque. Os projetos de integração sul-americana vêm
adquirindo elevado grau de prioridade para o Governo Lula no tocante à plataforma de
relacionamentos do Brasil com o restante do mundo.
Desde os anos 1970, a política de aproximação da América Latina assumiu o
status de prioridade dentro da agenda da política externa brasileira (PECEQUILO, 2008).
Algumas importantes iniciativas dentro de tal agenda são14:

12 Disponível em: http://meridiano47.info/2010/01/06/oportunidades-para-cooperar-nas-relacoes-


brasil-eua-por-diego-araujo-campos/. Acessado em 23/05/2010.
13 Cooperação estabelecida entre países situados, considerando a divisão política do globo, no hemisfério
Sul. Tais países são, em geral, subdesenvolvidos e/ou em desenvolvimento. Disponível em:
http://www.abc.gov.br/projetos/cooperacaoPrestada.asp;
14 Tais iniciativas serão tratadas em maiores detalhes na palestra do dia 10 de julho do Projeto Relações
Internacionais para Educadores, que tratará do seguinte tema: A Integração Regional na América Latina
e a Nova Dinâmica das Relaçöes com os Estados Unidos.
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1) MERCOSUL: Mercado Comum do Sul, caracterizado por ser uma união


aduaneira (sendo uma zona de livre comércio e de política comercial comum)
e composto por Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai. Suas origens remontam
à aproximação do Presidente Sarney e do Presidente argentino Raúl Alfonsín
ao final da década de 1980, institucionalizada com a Assinatura do Tratado
de Assunção – ao qual os demais membros foram incluídos.
2) ALCSA: Área de Livre-Comércio da América do Sul – em oposição à proposta
dos Estados Unidos da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas). O Brasil
propôs a criação de um programa de redução tarifária e de eliminação das
restrições não-tarifárias que incidem sobre o comércio intra-regional de bens
da América do Sul, exceto para os serviços. O acordo prevê a eliminação
automática, linear e progressiva do universo tarifário para mais de 80% do
valor do comércio. A proposta, entretanto, ainda não entrou em vigo.
3) IIRSA: Iniciativa para Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana,
que visa a promover a integração sul-americana através da integração física
de seus países, moderniazando suas infraestruturas de transporte, energia e
telecomunicações, mediante uma série de ações conjuntas.
4) Unasul: União das Nações Sul-Americanas, proposta de 2004 que visa criar
uma zona de livre comércio continental que unirá o MERCOSUL e a
Comunidade Andina15, juntamente de Chile, Guiana e Suriname.
Essas iniciativas possuem uma dimensão política e estratégica que visa a
estabelecer laços que ultrapassem a livre troca de mercadorias, concentrando-se na
complementaridade existente entre as economias sul-americanas, na existência de uma
identidade cultural e de problemas sociais similares, e associando a somatória de
vantagens estratégicas comparativas nos setores energético, de infra-estrutura e
produção de bens (PECEQUILO, 2008).
Pata o Presidente Lula, a integração da América do Sul depende do Brasil. Isso
porque o Brasil é a maior economia e mais industrializado país do continente e, sendo o
líder da região, não lhe seria interessante estar rodeado de “países pobres”. Para o
Presidente, a integração sul-americana somente pode avançar através de ações
conjuntas e, nesse sentido, a integração não depende apenas do Brasil, mas também de
seus vizinhos.
De fato, “a integração da América do Sul constitui um projeto brasileiro. Nenhum
outro governo o concebeu tão consistente e fez tantos esforços para sua programação
como o governo brasileiro” (CERVO, 2008, p. ? ? ?). Nenhum país da América do Sul

15 A Comunidade Andina é um bloco econômico formado por Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e
Venezuela que, em 1996, substituiu o Pacto Andino, fundado em 1969. Retirado de:
http://www.comunidadandina.org/. Acessado em 23/05/2010.

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exibe tal dinamismo de expansão sobre a vizinhança. Ao contrário, a fim de remediar


situações econômicas e sociais frágeis, por volta de 2000, os países da América do Sul
conceberam projetos de recuperação de caráter introvertido, deixando de lado a
integração (CERVO, 2008).
Dentro de estratégia brasileira, o projeto para a América do Sul é de convertê-la
em uma unidade política, econômica e de segurança. O continente sul-americano vem se
preparando para isso, porém “ainda não fala ao mundo de uma só voz nas negociações
multilaterais e não se constitui um pólo de poder geopolítico e econômico que promova
os interesses do conjunto dos países” (CERVO, 2008).

CRIAÇÃO E INSERÇÃO DO BRASIL NOS GRUPOS DE GEOMETRIA VARIÁVEL

Seguindo a linha do eixo horizontal da política externa brasileira, e na busca pela


afirmação política e econômica independente no cenário internacional, oriunda das
necessidades internas e externas da representação de potência regional, o Brasil
encontrou aliados dentre outros países emergentes para questionar a atual ordem
internacional, principalmente no que diz respeito às normas estabelecidas pelos países
desenvolvidos que a conduzem.
Nesse contexto, o Brasil buscou alianças traduzidas em grupos de geometria
variável – como o G20, o IBAS16, o G4, o G5 e a CPLP – e o próprio BRICs. Essas reuniões
se consubstanciam em ponto de concreta contestação às imposições dos países do
Norte, principalmente no novo contexto de crise econômica internacional – e seus
resultados, inúmeras vezes significativos, expressam o novo papel dos países do Sul no
sistema internacional, bem como a evolução e consolidação de seu peso político-
econômico.
O BRIC – sigla para Brasil, Rússia, Índia e China – é um acrônimo criado pelo
banco norte-americano Goldman Sachs, em 2001, para representar as economias em
desenvolvimento que mais se destacaram no cenário mundial devido ao rápido
crescimento. Para compreender a dimensão econômica do grupo, esse banco estimou
que, em 2050, o grupo acumularia 50% do Produto Interno Bruto mundial, e sua força
econômica ultrapassaria a economia combinada do G617.
Embora não seja especificamente um bloco econômico, e sim um acordo
constituído sobre pontos de interesses individuais convergentes – relacionados a

16 Fórum de Diálogo Índia, Brasil e África do Sul (ver abaixo).


17Grupo das seis nações mais industrializadas e desenvolvidas economicamente, composto por Estados
Unidos, Reino Unido, França, Japão, Alemanha e Itália (Disponível em http://www.g7.utoronto.ca/).
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modificações econômicas, políticas e sociais no sistema internacional, tal que


beneficiem as economias ascendentes frente às desenvolvidas, como abertura de
mercados e maior expressão dentro de organismos internacionais –, o BRIC já faz sentir
sua influência, como ocorreu na reunião da OMC, em 2005, quando países em
desenvolvimento, liderados pela Índia e pelo Brasil, uniram-se contra aos subsídios
governamentais dos Estados Unidos e da União Européia, onde obtiveram relativo
sucesso (apesar de tais subsídios ainda não terem sido retirados). O grupo vem,
progressivamente, tornando-se mais consistente e, em 2009, realizaram a sua primeira
reunião oficial, em Ecaterimburgo, na Rússia.
Internamente ao grupo BRICs, o Brasil desempenha o papel de país exportador
agropecuário, bem como de grande detentor de recursos naturais, com ênfase na
tecnologia sustentável, como o biodiesel. A tendência é de que, nos próximos anos, o
Brasil se torne um país mais relevante, ainda que não expansivo, isto é, não assumirá a
postura de grande potência, criadora de zonas de influência (FIORI, 2007).
Além do BRIC, podemos ver o Brasil presente também em fóruns de diálogo,
como o IBAS, que reúne Índia, Brasil e África do Sul. Também conhecido por G3, o grupo
teve sua origem em 2003, quando divergências comerciais entre Brasil, África do Sul e
Estados Unidos no tocante às leis de patentes da indústria farmacêutica aproximaram
os dois primeiros países à Índia, grande produtora de medicamentos genéricos, para
que contestassem a postura americana relacionada a essa questão dentro da OMC.
Inúmeros países desenvolvidos e subdesenvolvidos apoiaram a postura adotada pelo
Brasil e pela África do Sul, contribuindo para o resultado positivo em favor destes na
OMC – e demonstrando duas possibilidades para o futuro: 1) utilização das estruturas
globais em prol dos países em desenvolvimento, e para a construção de bens públicos; e
2) relançamento das alianças Sul-Sul.
Embora o grupo ainda esteja em fase inicial, sem uma significativa representação
internacional, a médio e longo prazo a aliança pode vir a se tornar relevante. Seu intuito
principal é promover, entre os países membros, cooperação em diversas áreas –
tecnologia, agricultura, cultura, educação, saúde, entre outras –, bem como promover
oportunidades para trocas comerciais e investimentos mutuamente favoráveis, também
demonstrando preocupação com o desenvolvimento social e a diminuição da pobreza
de suas respectivas populações.
Com uma abrangência ainda maior, o G20 é outro grupo do qual o Brasil faz
parte. O G20 surge em 2003, na V Conferência Ministerial da OMC em Cancun, quando
Brasil e Índia lideraram países em desenvolvimento e países subdesenvolvidos (ou
PMDR – países de médio desenvolvimento relativo)18 numa coalizão contrária aos
interesses dos países desenvolvidos dentro da Organização, relacionados a questões de

18 Disponível em http://www.ccibc.com.br/pg_dinamica/bin/pg_dinamica.php?id_pag=1962

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negociações agrícolas, como subsídios e abertura de mercados. Com o passar do tempo,


seus objetivos passam a abranger a promoção dos interesses comuns dos países-
membros dentro da OMC, sempre visando aumentar a cooperação Sul-Sul e as
oportunidades para estes países.
Dentro deste grupo, o Brasil desempenha uma fundamental liderança,
consolidando seu novo papel no contexto internacional, onde os países emergentes têm
se apresentado como um poder real de veto às ações consideradas prejudiciais das
principais potências desenvolvidas.“Ao liderar o G-20, [o Brasil] passou a figurar entre
os grandes players globais nas discussões sobre comércio internacional no século XXI”
(OLIVEIRA, 2005), reforçando o caráter de liderança e afirmação internacional desejado
pelo governo brasileiro.
Outros grupos de geometria variável que também expressam a crescente
importância do Brasil no cenário internacional são o G4 e o G5. O primeiro consiste em
uma aliança entre Alemanha, Japão, Índia e Brasil cujo objetivo é concretizar uma
reforma expansiva na ONU, de forma que estes obtivessem assentos permanentes no
Conselho de Segurança da organização. Por sua vez, o G5 consiste na união de Brasil,
México, Índia, África do Sul e China, que representariam todos os demais países em
desenvolvimento na reunião do G8 – grupo das oito nações mais industrializadas do
mundo –, para defender seus interesses comuns.
Por fim, o Brasil também é membro da Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa (CPLP), juntamente com Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique,
Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. O objetivo principal desta organização é
estabelecer uma estratégia de cooperação entre seus países membros que perpasse
pontos como redução da pobreza, ajudas emergenciais, meio ambiente e,
principalmente, que estejam de acordo com os Objetivos de Desenvolvimento do
Milênio, plano desenvolvido pela ONU em 2002 para reverter quadro de pobreza, fome
e doenças opressivas que afetam bilhões de pessoas19.

O BRASIL DO SÉCULO XXI

A análise das relações internacionais brasileiras ao longo do século XX e na


primeira década do século XXI permite perceber uma notável evolução da organização
da política externa brasileira. O alinhamento automático com os Estados Unidos, que
marcou diversos períodos da história da diplomacia brasileira, já não é mais o ponto

19 Proposta de estratégia de cooperação geral da CPLP – Bissau, 2003. Disponível em www.cplp.org.


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principal da atuação internacional do Brasil. Ao invés disso, tem-se atualmente a busca


por uma diversificação dos parceiros brasileiros no sistema internacional, com a busca
pela inserção em grupos de geometria variável e a aproximação de países semelhantes
(econômica, política e culturalmente) ao Brasil, notadamente os países da América
Latina.
Apesar disso, as relações com os Estados Unidos ainda possuem grande
importância para a agenda internacional brasileira. A cooperação estratégica é uma das
principais tendências para o relacionamento entre os dois países. Cabe a nós esperar
que tal cooperação, dada em relação a questões econômicas e políticas, como, por
exemplo, a questão dos recursos energéticos, proporcione benefícios não somente para
Brasil e Estados Unidos, mas para toda a sociedade internacional.

LEITURAS COMPLEMENTARES20

Leitura obrigatória
PECEQUILO, Cristina S. A Política Externa do Brasil no Século XXI: Os Eixos Combinados de
Cooperação Horizontal e Vertical. Revista Brasileira de Política Internacional, 2008.
Leitura complementar
SILVA, André Reis da. As Relações entre o Brasil e os Estados Unidos durante o regime militar
(1964-1985). Ciências e Letras, 2005.

PECEQUILO, Cristina S. As Relações bilaterais Brasil – Estados Unidos (1989-2008). Nueva


Sociedad, 2008.

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO


1. Quais os motivos da oscilação nas relações entre o Brasil e os Estados Unidos?
2. Como o Consenso de Washington e o neoliberalismo alteraram a política externa brasileira?
3. Porque se considera que o Brasil está sendo pragmático, durante o governo Lula, em relação
aos Estados Unidos?
4. Reflita sobre a presença (cultural, economica, política) dos Estados Unidos em relação ao
Brasil e a América do Sul.

20 Disponível no site do Projeto “Relações Internacionais para Professores”:


http://www.cursoripe.blogspot.com/.
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LINKS ÚTEIS

1. Correio Internacional
Blog de notícias nacionais e internacionais, voltado para o público jovem brasileiro.
Disponível em: http://www.correiointernacional.com/

2. Boletim Meridiano 47
Boletim de Análise de Conjuntura em Relações que publica análises breves sobre temas
candentes da agenda internacional contemporânea.
Disponível em: http://meridiano47.info/

3. IIRSA (Iniciativa para Integração da Infraestrutura Sul-Americana): em espanhol.


Disponível em: http://www.iirsa.org/index.asp?CodIdioma=ESP

4. Unasul (União das Nações Sul-Americanas): em espanhol


Disponível em: http://www.pptunasur.com/

5. MERCOSUL (Mercado Comum do Sul):


Disponível em
http://www.mercosur.int/show?contentid=10&channel=secretaria

LEITURAS SUGERIDAS

FIORI, José Luis. O Novo Mosaico Global, visto por Fiori. Le Monde Diplomatique Brasil, 2007.
Disponível em http://diplo.org.br/2007-10,a1974. Acessado em 20/05/2010.

SILVA, André Reis da. As Relações do Brasil com o Irã e a Questão Nuclear. Boletim Meridiano
47, 2010. Disponível em: http://meridiano47.info/2010/05/18/as-relacoes-do-brasil-com-o-
ira-e-a-questao-nuclear-por-andre-luiz-reis-da-silva/ . Acessado em 23/05/2010.

OLIVEIRA, Marcelo F. de. Alianças e Coalizões Internacionais do Governo Lula: O IBAS e o G20.
Revista Brasileira de Política Internacional, 2005. Disponível em
http://www.scielo.br/pdf/rbpi/v48n2/a03v48n2.pdf . Acessado em 20/05/2010.

VISENTINI, Paulo. O G-3 e o G-20: o Brasil e as novas coalizões internacionais” in ALTEMANI,


Henrique & LESSA, Antonio Carlos (orgs). Relações internacionais do Brasil: temas e agendas.
Vol. 2. São Paulo: Saraiva, 2006.

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BIBLIOGRAFIA

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Analytic. Monthly Review, 2009. Disponível em http://www.monthlyreview.org/090330amin-
khan.php. Acessado em 21/05/2010.
CAMPOS, Diego Araújo. Oportunidade para Cooperar nas Relações Brasil-EUA. 2010. Disponível
em: http://meridiano47.info/2010/01/06/oportunidades-para-cooperar-nas-relacoes-brasil-
eua-por-diego-araujo-campos/. Acessado em 23/05/2010.
CERVO, Amado. Integração da América do Sul Depende do Brasil. Bolteim Meridiano 47, 2008.
Disponível em: http://meridiano47.info/2008/07/22/integracao-da-america-do-sul-depende-
do-brasil-por-amado-luiz-cervo/. Acessado em 23/05/2010.
CORBETT, Deanne. Primeiro Encontro Oficial do BRIC Reflete Nova Ordem Mundial. Deutsche
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DEMASI, João Otávio B. O Brasil, o Sistema Geral de Preferências e a OCDE. Disponível em
http://www.ccibc.com.br/pg_dinamica/bin/pg_dinamica.php?id_pag=1962. Acessado em
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PINHEIRO, Letícia. A Política Externa de Vargas. Disponível em
http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas2/artigos/EleVoltou/PoliticaExterna.
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golpes militares da década de 1960. Revista Brasileira de Política Internacional, 2000.
SILVA, André Reis da. As Relações do Brasil com o Irã e a Questão Nuclear. Boletim Meridiano
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Henrique & LESSA, Antonio Carlos (orgs). Relações internacionais do Brasil: temas e agendas.
Vol. 2. São Paulo: Saraiva, 2006.

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