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1 - INTRODUl;;AO
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o programa desenvolvido enfatizou a estimulac,:ao, que chamamos "adequa-
da", através de orientac,:ao a grupos de gestantes e maes, objetivando seu desempe-
nho na interac,:ao mae-filho, e, conseqiientemente, o reforc,:o a estimulac,:ao senso-
perceptiva dos nenes.
Nao sao grupos de "estimulac,:ao precoce" como tantas pesquisas consagradas
revelam, mas grupos que visam, de uma forma harmonica, chegar a ajudar os nenes a
se desenvolverem melhor no mundo em que vivem.
Alguns pressupostos em relac,:ao a crianc,:a nortearam a execuc,:ao do progra-
ma:
a) a faixa etária áurea' da crianc,:a no que tange ao desenvolvimento neurológi-
co e psicológico é de O a 6 anos; no dia em que nasce já tem 25% do seu cérebro for-
mado, com quinze dias 50%, aos 4 anos 75%;
b) o processo de desnutric,:ao ou mesmo de subnutric,:ao causa lesoes, diminui-
c,:ao ou enfraquecimento das células nervosas, trazendo assim um bloqueio no de-
senvolvimento mental que terá conseqiiencias na área social.
Tais aspectos sao relevantes no contexto da realidade brasileira em que há
uma taxa de 30 milhoes de menores carenciados e cuja mortalidade infantil é altíssi-
ma. Efetivamente, nascem por ano no Brasil, 3 milhoes de crianc,:as, das quais 20%
nao chegam ao 19 ano de vida e as sobreviventes formam uma legiao de mutilados
cerebrais.
Por outro lado, cabe também lembrar que:
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Segundo Freud, coexistem na mente humana os instintos amorosos e agressi-
vos e, de acordo com as experiencias infantis, podemos reforyar o lado positivo se
elas forem boas ou reforyar os estados mórbidos, se forem negativas. Esses conflitos
agravam-se quando vividos num ambiente carente do ponto de vista social, economi-
co, psicológico e cultural.
O referencial teórico, embasador da experiencia, relativo as gestantes, funda-
mentou-se em vários autores.
Em Caplan (3), encontramos um "alerta" para o estado de vulnerabilidade
emocional da gestante, que se encontra num período de transformayoes físicas e
psicológicas, que a deixam a bordo de uma crise emocional. Suas pesquisas reve-
lam que, na urina das mulheres grávidas, encontram-se os mesmos elementos quí-
micos que na urina dos esquizofrenicos. Também o teste de Rorschach revela ma-
terial semelhante ao dos psicóticos, só se diferenciando no que diz respeito aos ele-
mentos do teste da realidade.
Cada trimestre da gestayao, é vivido pela gestante com transformayoes psico-
lógicas próprias, caracterizando o estado de mudanya e perplexidade, acarretando
com isso ansiedades específicas e fantasias próprias que deixam de ser só dela, mas
de modo geral, das pessoas com as quais convive.
Segundo Raquel Soifer (20), o primeiro sintoma do início da gestayao é a so-
nolencia, que a psicanálise ve como o início da regressao que corresponde a identi-
ficayao fantasiosa com o feto. A regressao em si tem origem na percepyao incons-
ciente das mudanyas organicas e hormonais e na sensayao do desconhecido.
Toda a gravidez produz uma sensayao de ambivalencia, ou seja, um conflito
entre a tendencia maternal e a rejeiyao. A negayao é o mecanismo de defesa ade-
quado para resolver o conflito da rejeiyao normal e úti I na gravidez.
As náuseas e vom itos, desde o segundo mes, servem para evidenciar a gesta-
yao e dao vazao a ansiedade causada pela incerteza. Essa ansiedade exprime o con-
flito da ambivalencia, devido a intensificayao das vivencias persecutórias e é produ-
to do sentimento de culpa infantil, resultante dos ataques fantasiados a própria
II~ 7O 7 DE L~ !:~;:
..;"~¡A y ¡'.oOLESCENC ..A
. 1. A. J
Helen Oeutsch (6), por outro lado, exalta a fun<;:ao da maternidade, no senti-
do de que a mulher encontra a maravilhosa oportunidade de experimentar, de for-
ma direta, o sentido de imortalidade. A fun<;:ao reprodutora da femea nao é simples-
mente um ato individual único ou repetido no plano biológico. Pelo contrário, co-
mo tais, podem ser considerados como manifesta<;:oes individuais de flutua<;:ao hu-
mana entre os pólos de cria<;:ao e destrui<;:ao e como a vitória da vida sobre a morte.
Para Marie Langer (12), os transtornos da gravidez e as dificuldades e angús-
tias, em rela<;:ao ao parto, considerados como fenomenos normais em nossa socieda-
de, a luz de um exame psicológico mais profundo, revela-nos que estes transtornos
provem de conflitos psicológicos, da identifica<;:ao com outras mulheres já transtor-
nadas em sua feminilidade.
Margareth Mead (18) diz que cada sociedade tem seus preconceitos frente a
fun<;:ao de procria<;:ao e que a maioria das mulheres adaptam-se a estes preconceitos.
Observou também que, em diferentes sociedades, essa situa<;:ao ocorre em círculos
mais reduzidos. Há famílias, por exemplo, nas quais as filhas, segundo o conceito de
suas maes, nao apresentam temores frente a gravidez e ao parto e, portanto, sofrem
menos do que outras, educadas com temor da feminilidade pelas queixas apresen-
tadas pelas maes. No entanto, percebemos q!-le geralmente a sociedade ve nas fun-
<;:oesfemininas algo doloroso e cheio de perigos.
Maria Tereza Maldonado (14) dá enfase a compreensao da gravidez como um
dos períodos críticos do ciclo vital da mulher, achando mesmo que há uma crise de-
flagrada em fun<;:ao dos vários aspectos psicológicos, sociais e culturais que integram
essa etapa de vida. As constantes reestrutura<;:oes e reajustamentos por que a gestan-
te passa nos vários n íveis de funcionamento, caracterizam uma situa<;:ao que poderá
levar a mulher a atingir navas níveis de integra<;:ao, amadurecimento e expansao da
personalidade ou entao adatar uma patologia que predominará na rela<;:ao materno-
filial.
Para Maldonado, a rela<;:ao materna saudável é a que percebe e satisfaz adequa-
damente as necessidades do bebe, visto na sua individualidade e nao simbioticamen-
te confundido com a mae.
A obra Maternidade, Mito e Realidade, de Myrta Videla (21), aborda alguns
problemas ocultos atrás de grosseiras e sutis mistifica<;:oes. Sua preocupa<;:ao funda-
mental é o homem submetido por outros homens ou por sistemas opressivos, confi-
gurando-se neste campo a situa<;:ao da mulher. Considera "Mito" a imagem do parto
doloroso, mas acampan hado, pelo esposo sorrindo, as crian<;:as sadias e bem alimen-
tadas. A "Realidade" é o abandono e desvaloriza<;:ao do ser humano, é a gravidez
da mae solteira, o salário miserável, a falta de alimento e o desemprego.
Esta autora desenvolve um trabalho grupal, buscando a expressao livre da ges-
tante e do companheiro, nao Ihes provocando culpa nem aumentando-a, mas ten-
tando faze-Ios entender o sistema no qual estao inseridos, que cada um deles consti-
tui "partes de um processo" e nao sao sinais de pato logia.
Ressalta que frente a um doente tentamos "compreender" sua maneira parti-
cular de adoecer e frente a uma gestante nao buscamos "compreender" sua maneira
particular de estar grávida, mas apresentamos grosseiras formas de "aceita<;:ao ou re-
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cha<;:o" a sua gravidez como se essa fosse a única maneira com que nos podemos
aproximar da tarefa psicológica.
Essas referencias fundamentaram nossa "matriz operacional" mostrando nos-
sa a<;:ao no preparo da mulher para a gesta<;:ao e o parto, das gestantes para o parto e
para a própria gesta<;:ao, no sentido de que pudessem encontrar condi<;:oes mais hu-
manas de atendimento as suas necessidades, neste período tao conflituado de suas
vidas, assim como amenizar suas ansiedades na intera<;:ao mae-filho, tornando-o, na
medida do possível, mais sadio.
Por outro lado, a operacionaliza<;:ao do programa teve por base a orienta<;:ao
pedagógica de Paulo Freire, considerada a mais adequada para desenvolver a expe-
riencia.
A educa<;:ao é, para ele, bancária porquanto o educador intervém como um
mero depositante de seu saber para os educandos que o recebem.
A educa<;:ao problematizadora, ao contrário, é de caráter reflexivo, busca co-
nhecer a realidade e criticá-Ia. É apenas nesta medida que se torna possível a criati-
vidade, o saber e a transforma<;:ao. O homem, pela consciencia de estar no mundo e
com o mundo e de estar inserido no seu tempo, torna-se o sujeito de sua própria
história. Nesta perspectiva, o diálogo constitui-se numa exigencia existencial e o
educador abandona sua postura vertical de apenas "dar", assumindo uma rela<;:ao
horizontal em que a confian<;:a de um pólo no outro é fundamental, passando a ha-
ver uma intera<;:ao de "dar" e "receber". É pela troca que os homens se valorizam e
crescem juntos.
2 - HISTÓRICO
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Através dessas observa<;:oes, concluiu-se que o insucesso dos grupos estava vin-
culado nao apenas ao alto risco da clientela como também a postura vertical adota-
da pelo técnico, pela desconsidera<;:ao potencial da clientela e a nao valoriza<;:ao da
sua cultura.
No momento em que os técnicos passaram a valorizar estes aspectos e coloca-
ram-se numa posi<;:ao de dar e receber houve uma resposta da clientela através de
uma maior frequencia, participa<;:ao e consequente crescimento nos grupos. Conse-
guiu-se entao atingir os objetivos propostos, os quais estao relatados no presente tra-
balho.
3- METODOLOGIA
3.1 - Amostra
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Cabe salientar que as gestantes que participaram do programa, foram encami-
nhadas pelo servi<;o do Pré-Natal ao Ambulatório de Saúde Mental, sendo sua parti-
cipa<;ao voluntária.
O grupo de orienta<;ao a maes com Enfoque em Estimula<;ao de Bebes, cons-
tituiu-se de 71 casos de crian<;as, todas de nível sócio-economico baixo.
O levantamento de dados deste programa foi realizado através da ficha SS51
da SSMA-RS. Também foi usada para levantamento a ficha familiar do cadastro do
Servi<;o Social da Unidade Sanitária.
É importante citar que o programa iniciou com crianc;:as encaminhadas pela
Pediatria e, a partir de implanta<;ao do Programa de Gestantes, a nuclea<;ao dos be-
bes passou a ser uma continuidade dos grupos de gestante.
3.2 - Procedimentos
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3.3 - Grupos de orientat;ao a maes com enfoque
em estimular;ao adequada de bebes
Os grupos foram formados por miles com seus bebes na faixa etária de a 6 °
meses, sendo que tres grupos iniciaram com crianc;:asde segundo semestre de vida.
Todos os grupos visavam o acompanhamento até o segundo ano de vida.
Os grupos foram constituídos de oito miles, com sessoes mensais, com dura-
c;:aode 50 minutos, coordenadas por um técnico de saúde mental, obtendo-se uma
frequencia de 81 %.
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Quanto ao estado conjugal das gestantes, constato u-se que 45,85% vivem com
companheiro e 54,15% nao. Pode-se observar que as gestantes sem companheiro
buscam no grupo e com mais intensidade, na figura do coordenador, o apoio para
suas ansiedades. As 45,85% restantes, que mantem um relacionamento regular com
um companheiro, provavelmente pelo fato de terem um suporte sob o ponto de vis-
ta emocional e económico, nao se sentem tao motivadas a fazer uso da red e de ser-
vi<,;osde saúde quanto aquelas que sofrem o estigma social da "mae solteira".
Nos grupos de maes, atenderam-se 68 maes, correspondendo a 71 crian<,;as
(tres gemeos). O atendimento deu-se em grupo na sua totalidade. Em alguns casos,
houve atendimento individual paralelo.
Temos maior número de maes com dois filhos (51,5%) contrastando com a
maior paridade (25%) e filho único (13%).
Desses valores salienta-se a divergencia percentual esperada para a paridade
baixa (25%) com o observado, no que se refere ao nível sócio-economico cultural
baixo. O peso das crian<,;asdo programa áo nascer era superior a 2.900g (92%). É
altamente significativo este número, uma vez que se espera, em realidade, baixo pe-
so ao nascer em crian<,;asoriundas de família de inferior nível sócio-econ~mico e
cultural. Salienta-se que todas as maes vinham do programa de suplementa<,;ao ali-
mentar durante a gesta<,;aoe de um permanente controle pré-natal.
As crian<,;asde baixo peso por ocasiao do nascimento, apresentaram, já nos
primeiros meses, hipotonia e/ou apatia. Daí possivelmente sua evolu<,;ao mais len-
ta no desenvolvimento psicomotor.
Relacionou-se dados como a situa<,;ao sócio-economica das maes, seu baixo
nível cultural, más condi<;oesde moradia, ausencia de saneamento básico e conse-
quentemente precárias condi<;oes de higiene com elevada taxa de hospitaliza<;ao das
crian<,;asdo programa durante o decurso do seu primeiro ano de vida (30%).
A situa<,;aoeconomica da nossa clientela é precária e a renda familiar apresen-
tou-se variando entre abaixo ou igual a um salário mínimo e na sua maioria. Ape-
sar disso, a avalia<,;aosistemática feita com as crian<;as mostrou que obtiveram um
desenvolvimento adequado quanto ao peso. A hipótese levantada foi o valor do
programa suplementar de alimenta<;ao.
Quanto ao grau de instru<,;ao das miies, constatou-se que 47% sao semi-analfa-
betizadas, 42% com primário incompleto, 11% analfabetas. Apesar do baixo nível
cultural, as maes demonstraram ter boa compreensao das técnicas usadas, buscando
solu<;oes adequadas no seu próprio meio para estimular seus filhos.
Em rela<,;aoao estado conjugal das maes, constatou-se que 71% tem compa-
nheiro e 29% nao. As primeiras mantinham-se nos "papéis" de donas-de-casa e mae,
sendo
vam o seu companheiro
programa considerados
com maior assiduidade"mantenedor"
que as demais e"chefe
29%, quedaexerciam
casa". Frequ~nta-
atividades
de sustento do lar.
No final do primeiro ano de implanta<;ao do Programa e após avalia<;ao das
crian<;as pela escala de VINELAND, Manuais de Estimula<;ao de M. Isabel Lira -
primeiro e segundo anos de vida, e Estimula<;ao Precoce - MEC e OEA, constato u-
se que 91 % delas se enquadraram nos limites esperados para sua idade cronológica,
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e 9% abaixo. Relaciona-se este fato com as crian9as que nasceram com baixo
peso.
Na avalia9ao global do grupo, notou-se que em todas as crian9as ocorreu um
déficit na Iinguagem (demora em pronunciar as primeiras palavras, comunicando-se
através de gestos). Relacionamos este fato com o baixo nível sócio-cultural onde
nao é costume falar com as crian9as e estimular a linguagem.
4 - TÉCNICA
A equipe vem utilizando como técnica o grupo operativo. Tal modalidade foi
escolhida por abranger maior clientela, possibi litar a intera9ao das gestantes bem co-
mo oportunizar a troca de experiencias. Observa-se que tal técnica torna-se eficaz,
frente as características da popula9ao: baixo nível sócio-economico-cultural e vulne-
rabilidade a situac;:oes de crise.
Através de um trabalho a nível de preven9ao primária, contribuímos para o
fortalecimento dos aspectos sadios da personalidade dessas gestantes. Procura-se es-
timular a capacidade de crescimento, autocuidado, assim como a rela9ao afetiva
mae e filho, manifestando-se como consequen.cia uma maior auto-estima.
Durante as sessoes de grupo, podemos constatar, através das verbaliza90es as
transforma90es sofridas pela mulher neste período. Observam-se altera90es no seu
equilíbrio físico-emocional, assumindo, por vezes, atitude regressiva e infantil. Ca-
be salientar que a família da gestante, nesta fase, torna-se alvo de proje9ao de seus
sentimentos.
A seguir, apresentamos o relato do manejo de uma primeira sessao de grupo,
constituído por gestantes de "primeiro ao quinto mes".
Gestante A: ... "Voces sentem igual a mim, eu também tenho sofrido por ter
enjoado o meu marido, só que eu achava que isso se passava apenas comigo,
que bom ... "
(Gestante enquanto fala as lágrimas rolam em suas faces,. mas a sua fisionomía
está aliviada)
Gestante B: ... "Tenho me sentido muito mal, parece que nao aguentarei até
o fimo Foi por isso que fui encaminhada a este grupo. É que eu já estive grávi-
da mas perdi com tres meses, depois disso fiquei muito tempo tomando anti-
concepcional.
Agora eu e meu marido quisemos um nene, mas me sinto muito mal. A senho-
ra acha que nao aguentarei?" (dirige-se ao coordenador)
Coordenador: "Foi bom a senhora ter vindo para o nosso grupo, onde poderá
colocar os seus sentimentos e ouvir as demais participantes, o que pensam e
sentem a respeito. Vamos ver o que o nosso grupo pensa sobre isto."
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Gestante C: ... "O início da gestar;:ao é muito difícil, a gente tem a impressao
que nao resistirá, ainda mais quando é de primeiro filho. Eu também sofri
muito quando fiquei grávida da minha primeira filha, quase me separei de
meu marido, mas depois isto foi passando."
Coordenador: ... "Parece que todo mundo aqui no grupo está sentindo a
mesma coisa. As gestantes A, B e e podem estar trazendo os sentimentos de
todas voces. É importante que voces possam estar trazendo as preocupa<;:oes
que estaD sentindo com a gravidez."
O coordenador, neste encontro, trabalhou com o material espontfmeo, trazi-
do pelo grupo, assumindo postura compreensiva e valorizando o potencial do gru-
po. Com base na realidade, evitou negar a situar;:ao da gesta<;:aocomo um período de
crise. Com esta atitude possibi litou que o grupo propusesse solur;:oes para os proble-
mas.
É importante salientar que a postura receptiva do coordenador, nao crítica e
nao diretiva, favoreceu a manifestar;:ao das ansiedades já neste primeiro encontro.
Esta atitude também tem o efeito de retificar as proje<;:oesdas figuras parentais, que
Ihe sao dirigidas devido asua posir;:ao.
Passaremos, a seguir, ao relato de uma parte da uma terceira sessao de grupo,
constituída por gestantes de sexto ao nono mes.
Gestante A: ... "Estou no 9? mes. Me sinto pesada, um certo mal-estar até
para vir ao grupo. É a quinta vez que compare<;:o mas vim hoje poi s acho que
será o último grupo antes do parto.
Estou preocupada sobre as dores próximas ao parto. Nao recebi ainda orienta-
r;:aosobre os exercícios para que o nene nasr;:arápido e nao sofra falta de oxi-
genio."
Coordenador: "O que voces acham que é importante saber sobre o parto e se
ajudarem para que o nene nas<;:abem?"
Gestante B: ... "Gostaríamos de saber como inicia o parto, o que devemos
fazer se a bolsa romper em casa e quando come<;:arem as dores ... "
Gestante C: (está no sétimo mes) "Eu nao tenho mais sexo com meu marido,
porque ele tem medo de machucar o bebí! e nascer antes do tempo, eu nao
quero ter um filho prematuro."
Coordenador: "O que voces pensam disso? Será que o membro do homem al-
canr;:aonde está o bebe? Voces sabe m como está o bebe dentro da barriga?"
Gestante D: ... "Acho que está solto na barriga, mastem a bolsa d' água. O
bebí! fica dentro da bolsa d'água, mais a placenta e o cordao e tudo ¡sto fica
dentro do útero que está bem crescido."
Coordenador: "Acho muito importante o que tu falaste (dirige-se a gestante
A). Tenho aqui algumas gravuras que mostram o corpo da mulher. Penso que
assim voces terao uma idéia mais clara."
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Observa-se que, no último trimestre, as gestantes se voltam para as modifica-
¡;:oesfísicas e preocupa¡;:oes quanto ao trabalho de parto (período pré, trans e pós).
Com isto o coordenador passa a adotar uma atitude compreensiva, continente, in-
formativa desmistificando preconceitos e tabus em rela¡;:aoao período que antecede
ao parto propriamente dito e puerpério imediato.
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de pensar, observar, ouvir outras miles e expressar-se sem sentir-se julgada, mas com-
preendida.
A seguir, transcreveremos alguns trechos de reunioes dos grupos, relacionando
trechos de tres momentos significativos na evolu<;:ao da técnica utilizada.
No início, a técnica era totalmente expositiva e vertical, sem chance das maes
participarem ou contribuírem para o trabalho. Por exemplo, o coordenador apre-
sentava cartazes e "dava aula" comentando-os e aconselhando pequenas tarefas, vi-
sando a estimula<;:ao sensitiva das crian<;:as. Ocorreu nesta época uma evasao comple-
ta das miles. Após esta constata<;:ao, reformulamos nossa pedagogia de a<;:ao. Passa-
mos a utilizar outra forma de interven<;:ao, partindo de assuntos trazidos pelas pró-
prias miles. Por exemplo: (trecho de uma reuniao)
Mae B: "Eu acho que o choro do nene nem sempre é balda. Com o choro, ele
quer dizer alguma coisa, mas a minha sogra acha que ele é baldoso. Será?"
Coordenador: "Algumas pessoas pensam que dar colo para o nene faz mal,
deixa baldoso, mas uma das maiores necessidades dele é sentir-se seguro no
colo da mile, quando se sente só ou quando tem alguma dor. Os nenes que
silo seguidamente segurados pela mile ou pelo pai ou outra pessoa que o es-
teja cuidando, tendem a ser mais calmos quando maiores. Pensem bem, o ne-
ne estava num lugar quentinho e fofo dentro de voces. Depois, de repente,
sentiram-se num mundo estranho, desconhecido, longe da mae. É natural que,
de vez em quando, "chamem" a mae para se certificarem que contam com
ela. Nestes momentos o colo Ihes dá seguran<;:a."
Mae A: (olhando para o coordenador) "Para ser uma boa mae é preciso ama-
mentar sempre ao seio? Eu me sinto culpada porque nao tive leite, isto me
preocupa."
Coordenador: "É muito bom que tu tragas esta preocupac;:ao ... o que voces
acham?"
Mae B: "Eu sei que isso acontece, mas me sinto chateada quando nao posso
amamentar. Falam tanto na TV ... "
Mae C: "Eu acho que o melhor é o leite materno, mas se a mae nao tem, dá
mamadeira com colo e carinho."
Mae O: "Eu, uma vez, nao tive leite e também me senti chateada, mas acho
que o mais importante é o carinho, é a melhor vitamina para a alma do nene."
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Coordenador: "Isto que voces disseram é muito importante. Muitas maes nao
conseguem amamentar seus filhos, mas podem compensar dando a mamadeira
ao colo, olhando e conversando com o nene. Como D disse, a melhor vitami-
na é o carinho."
"Brincando com amor e verdade, podemos dar respeito e ensinar nossos filhos."
"Para que o nene sinta que é sua mae, precisa que ela mesma Ihe de banho,
colo e comida."
"Noto que este meu filho é mais vivo e esperto que os outros."
"Nenhuma mae é perfeita, a gente até que está querendo melhorar, conver-
sando."
"Aqui cada uma conta como faz com seus filhos e isto ajuda todas."
"Para os irmaos mais velhos diminuírem os ciúmes, nada melhor que pedir
que eles ajudem no trato com o nene."
"Muito importante que os pais saibam ser crianc;:as para brincar com os filhos
sem deixar de ser adultos quando tem que dizer nao."
"É bom saber que outras pessoas sao injustas com os filhos e que ninguém é
anjo."
"As maes nao precisam se preocupar em fazer as coisas pelos filhos, mas de-
vem é abrir espac;:o para eles crescerem."
5 - CONCLUSOES
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eram consideradas "pesadas" por alguns pré-natalistas face aos fato res emocionais,
passaram a ser "leves" após a integra<;:ao dos servi<;:os.
Durante o desenvolvimento do trabalho, sentimos que, para maior eficacia do
grupo, era necessário que se realizassem dois tipos de abordagem. Uma, relativa a
grupos de gestantes do primeiro ao quinto mes, e outra referente ao final da gesta-
<;:ilo(sexto ao nono mes). Tal_metodologia foi aplicada em fun<;:ao das necessidades
e das vivencias específicas de cada trimestre do período gestacional.
Cabe salientar que um dos aspectos fundamentais com rela<;:ao a postura do
coordenador, deu-se em fun<;:ao do nao distanciamento dos valores da cultura do gru-
po e da realidade psicossocial da clientela.
O programa de atendimento de orienta<;:ao de maes deve manter-se integrado
e dar continuidade ao programa de gestantes. Também nessa atividade grupal, a li-
mita<;:ao do tempo de atendimento torna-se fator importante para a evolu<;:ao e tér-
mino do grupo, no sentido de que cada crian<;:a tenha, no mínimo, o acompanha-
mento por um ano e a mae ultrapasse o estado de "Preocupa<;:ao Materno-Infantil
Primária" descrito por Winnicott.
Com rela<;:ao ao comportamento das maes, notaram-se melhoras na intera<;:ao
mae-filho, pela manifesta<;:ao de maior afetividade e criatividade, havendo um favo-
recimento do instinto maternal.
Observou-se também que as crian<;:as, cujo atendimento foi adequado, tiveram
melhor desenvolvimento psicossocial e motor. Neste sentido, constatou-se que, nos
tres grupos iniciados com maes de crian<;:as de 6 meses em diante, estas já apresenta-
vam um déficit no desenvolvimento, hipotonia e apatía, o que nao foi observado
nos bebes, cujas maes participaram dos grupos desde a gesta<;:ao.
É relevante a observa<;:ao de que muitas clientes tornaram-se elementos multi-
plicadores de saúde em sua comunidade, levando informa<;:oes e favorecendo a vin-
da de outras pessoas para participarem dos programas.
Um objetivo importante que nao alcan<;:amos é o "companheiro ou pai", que
ele viva o estado de preocupa<;:ao paterna primário mais intensamente. Tal idéia en-
contra-se apenas em forma de planejamento como meta a ser atingida, buscando in-
clusive conciliar seu trabalho para o sustento da família e sua presen<;:a direta no
nosso trabalho. Sabemos da dificuldade desse objetivo em virtude da precária situa-
<;:aosócio-economica da nossa clientela.
Por outro lado, objetivamos também, futuramente, manter vínculos com hos-
pitais, cuja orienta<;:ao esteja voltada nao só para os modernos processos oferecidos
pela Medicina, mas, também, manifeste uma preocupa<;:ao com as condi<;:oes emocio-
nais durante e após o parto, enfatizando a intera<;:ao mae-filho.
Nossa experiencia demonstrou que, apesar de todas as dificuldades ambien-
tais, sociais, culturais e economicas, é possível desenvolverem-se a<;:oes preventivas,
necessitando-se, no entanto, para isso, de uma política de integra<;:ao nas áreas mi-
nisteriais daSaúde, Educa<;:ao e Bem-Estar Social. Pensamos ser de extrema necessi-
dade e urgencia uma política de planejamento familiar em que possa haver uma
conscientiza<;:ao da maturidade e da paternidade, enfatizando o uso de métodos con-
traceptivos, hormonais, mecfmicos e outros.
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A forma<;ao do Ministério da Família, Crian<;a e Adolescente seria a forma
mais viável de integra<;ao de programas que podem trazer maior qualidade de vida
para as famílias brasileiras. Tais medidas, é óbvio, deverao vir acompanhadas de uma
política que consiga oferecer uma melhor situa<;ao sócio-económica a popula<;ao.
BIBLlOGRAFIA
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