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Vol.

24 nº 1/2010 ISSN 0970 5074

VOL. 24 Nº 1/2010

índia
Perspectivas

Homem a mungir uma vaca, Krishna Mandapa, Mamallapuram, séc. VII.


Uma imagem encantadora de uma vaca a ser mungida enquanto lambe
a sua cria com carinho. Tais imagens asseguram a vivacidade das
cenas na caverna de Krishna Mandapa.
Fotografia: Benoy K Behl.

Editor
Navdeep Suri
Sub-Editora
Neelu Rohra

A Índia Perspectivas é publicada em árabe, língua indonésia, língua bengali, inglês, francês, alemão, hindi, italiano, língua
pachto, persa, português, russo, cingalês, espanhol, língua tâmil e urdu. As ideias exprimidas nos artigos pertencem
aos contribuidores e não necessáriamente à Índia Perspectivas. Todos os artigos originais e re-impressões
podem ser livremente reproduzidos com reconhecimentos.
As contribuições editoriais e cartas devem ser enviadas para o
Editor da Índia Perspectivas, 140 ‘A’ Wing, Shastri Bhawan, New Delhi-110001.
Telefones: +91-11-2338 9471, 2338 8873, Fax: +91-11-2338 5549
E-mail: jspd@mea.gov.in, Sítio: http://www.meaindia.nic.in
Para obter um exemplar de Índia Perspectivas por favor entre em contacto com a embaixada indiana no seu país.
Este número foi publicado para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, Nova Deli,
por Navdeep Suri, Secretário-Adjunto, Departamento de Diplomacia Pública.
Desenho e impressão por Ajanta Offset & Packagings Ltd., Delhi-110052.
Ligações através das Tributo
melodias: A música indiana Leela Naidu:
engloba o mundo O Enigma continua...
Editorial MADHUSREE CHATTERJEE 32 SMM AUSAJA 75

Neste número da Índia Perspectivas, o primeiro de 2010, oferecemos aos


nossos leitores uma combinação pouco usual de artigos que reflectem não
apenas o magnífico património cultural da Índia mas também a cada
vez maior sofisticação tecnológica do país.
A beleza estética dos
O ensaio de Benoy Behl sobre a perícia dos artesãos que criaram os jardins mogores
templos do século VII em Mamallapuram encaixa perfeitamente com o SHUBHRA MAZUMDAR 2
artigo de Shubhra Mazumdar sobre a estética e a simetria dos jardins Dhokra: Os desportos tradicionais
mogores. Leela Venkatraman traça a relação dramática que Protima Uma arte eterna Hóquei em cavalos:
Bedi teve com o estilo de dança clássica de odissi e o estabelecimento REKHA SHANKAR 38 A tradição de jogar pólo no
de Nrityagram, uma aldeia cultural, enquanto Madhushree Chatterjee estado de Manipur
realça a cada vez maior popularidade global das diversas formas A cidade de Lucknow DEBABRATA BANERJEE 78
de música indiana. Também há um artigo a explicar o artesanato e a sua comida popular
de dhokra e um outro sobre os encantos da comida que se encontra ANIL MEHROTRA 44 As plantas sagradas na
enquanto se percorre as ruas da cidade de Lucknow. Os artigos sobre a tradição indiana
tradição de jogar pólo em Manipur e sobre as plantas sagradas da Índia, Uma nova época nas PRAN NEVILE 82
relações entre
o tributo a Leela Naidu e a reportagem sobre o festival literário de Jaipur
a Índia e o Bangladesh
continuam a tradição desta revista de ter um leque variado de textos e
MANISH CHAND 50
oferecer um vislumbre da nossa cultura milenar aos nossos leitores. As rochas vivas de
O Instituto Indiano de Ciência, que acabou de completar cem anos da Mamallapuram A ponte entre Bandra e
sua existência, é uma ponte entre o moderno e o antigo, entre o universo BENOY K BEHL 12 Worli em Bombaim: Uma
cultural e o universo tecnológico. Faz parte da nossa série sobre as maravilha de engenharia
melhores instituições académicas na Índia e é o primeiro de cinco artigos QUAID NAJMI 54
sobre a ciência e a tecnologia. Há dois artigos sobre a medicina remota
e as células germinais, que exploram o tema da tecnologia de ponta Os automóveis O encanto do
para assegurar cuidados de saúde de alta qualidade e custos acessíveis, Desenhados para ganhar Festival Literário de Jaipur
enquanto os artigos sobre os automóveis e a nova ponte que liga Bandra ANNAMMA OOMMEN 58 AMRIT DHILLON 86
e Worli em Bombaim testemunham ao talento nacional na área de Recensão literária
desenho e engenharia. O centenário do
Instituto Indiano de Ciência Os Himalaias:
A reportagem sobre a importante visita da primeira-ministra do P. BALARAM 66 As montanhas vistas das
Bangladesh e os acordos que foram assinados durante a sua estadia nuvens
conferem um toque político a esta edição. Uma única experiência
SUDHIR SAHI 94
O nosso próximo número vai ser uma edição especial dedicado ao poeta na medicina remota 70
Rabindranath Tagore.
Nrityagram As células germinais para
ecemos saber as vossas
No entretanto, boas leituras. Como sempre, agradecemos e a paixão pela dança um futuro sem doenças Capa: Bijayini Satpathy e Surupa Sen
opiniões e reacções. LEELA VENKATARAMAN 22 RICHA SHARMA 72 numa postura da dança clássica odissi.
Fotografia: Deepak Mudgal.

Navdeep Suri
A beleza estética dos
jardins
mogores
SHUBHRA MAZUMDAR

Pela sua definição um


jardim é uma representação
estilizada das paisagens
naturais, especialmente
se o jardim for um dos
numerosos jardins mogores
na Índia, desenhados para
transmitir a ideia de um
vislumbre de paraíso na
terra, através das suas regras
formais e da sua filosofia de
organização.

P ara o próprio imperador,


o espaço do jardim era
uma imagem exterior
representando a majestade do
poder imperial, enquanto para
os místicos e religiosos as suas
serenas paisagens reflectiam o
conceito do charbagh (quatro
jardins) ou o ainda mais antigo
conceito, descrito no livro do
Génesis, de um rio que saia
do jardim de Éden e depois
dividiu-se em quatro caudais.
Paradoxalmente, essa
sublime ligação temática
com a ideologia desaparece
completamente quando se está
dentro de um jardim mogor.
Aquilo que nos impressiona
nessa altura é a maneira em
Amit Mehra

O jardim de Nishat em Srinagar (Caxemira)

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que o espaço foi organizado óptimos exemplos da utilização pedra, com lados esculpidos,
tanto para a utilidade como de água. A sua organização onde a água percorria por
para a ornamentação. As rectangular é a técnica mais cima dessas esculturas. À luz
proezas da engenharia ao económica de regar terras. do luar, quando não se viam
construir os canais de água Em vez de distribuir os canais as esculturas, o brilho das
para regar os jardins moldam a aleatoriamente a paixão dos águas sugeria uma força viva,
sua personalidade. Pelo outro mogores pela estética explorou acariciada pelos elementos ao
lado, as árvores frutíferas e as esse elemento essencial e seu redor.
espécies vegetais exóticas são transformou-o no foco da sua
luxuriantes e transmitem uma arte paisagística nos jardins. Quem foram os construtores
dualidade de forma e liberdade. desses jardins então? Para além
Usando proezas da engenharia, dos próprios imperadores,
Actualmente, esses jardins talvez o apelo visual e acentos, a água foram as princesas da casa real
já não tenham importância desceu para o jardim de uma que deixaram a sua marca na
como pomares frutíferos ou altura, simulando o efeito de construção de jardins durante
amostras de espécies botânicas uma cascata. Ao contrário de a época mogor. A primeira
mas a sua ligação íntima com replicar a natureza selvagem, mulher importante nessa área
Os jardins de Chasma Shahi e Shalimar Bagh,
Srinagar (à direita e em baixo) e Charbagh,
as tradições agrícolas continua esses canais eram contidos foi a Hamida Banu Begum, a
Agra (página de frente). viva, porque esses espaços são dentro de uma cascata de principal viúva do Imperador
Amit Mehra

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Humayun, que mandou criar escombros rodeia esse pedaço um bosque denso, criando um espaço arranjado e cada planta os imperadores. Por isso, as
um jardim ao redor do túmulo de paraíso. Algumas décadas oásis de paz longe das intrigas e árvore crescia lá devido às plantas para esses jardins foram
do seu falecido esposo. Foi o mais tarde, outras princesas da corte imperial. Ao mesmo suas ordens e por sua vontade. escolhidas para promover
primeiro túmulo jardim na Índia, da casa real, especialmente as tempo, uma das mulheres do Naturalmente, importantes a ideia da eternidade. O
com os seus 30 acres de espaço filhas do Imperador Shah Jahan, imperador Akbarabadi, construiu ocasiões cerimoniais cipreste escuro simbolizava
à margem do rio Yamuna. aperfeiçoaram a arte. A princesa um jardim no actual bairro de realizavam-se de preferência o desconhecido, ou a morte.
Enquanto incorporava o estilo Jahanara levou a tradição até a Shalimar Bagh em Deli. Foi nos jardins. Isso explica porque Invariavelmente se encontrava
de desenho do charbagh dos vila de Ambala, situada na linha uma reprodução do jardim do é que Aurangzeb escolheu ser ligado com rosas em flor ou
tempos do Imperador Babur, divisória das águas entre as mesmo nome em Caxemira. coroado em Shalimar Bagh, plantas floridas, simbolizando
o seu esquema quadrado foi bacias dos rios Ganges e Indo. em vez de na mais imponente a vida. O ciclo da vida e a
Os jardins mogores não
dividido com os canais de água. Fortaleza Vermelha, construída continuação da eternidade até se
A sua irmã, Roshanara, deixou eram apenas zonas de lazer
Uma muralha construída de pelo seu pai. esculpiram na pedra, como se
pela posteridade em Deli para a realeza mas também
O jardim ao redor do túmulo do imperador
o jardim conhecido como simbolizavam a posse territorial. Tanto na vida como na morte, pode ver nos trabalhos embutidos
Humayun em Nova Deli. Roshanara Bagh, antigamente O imperador vivia nesse os jardins dos mogores serviam que adornam o Taj Mahal.

Ashok Dilwali
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Os cenários para esses
singulares espaços verdes eram
um outro aspecto notável dos
jardins indianos dos mogores.
Situavam-se às margens de
rios, ao pé de colinas ou com
vistas para os vales. O melhor
exemplo desse último tipo é o
jardim que foi construído em
Caxemira, entre as colinas que
rodeiam o vale e ao lado do
maior lago natural desse estado,
o Lago Dal. O fluxo da água na
medida em que cai das alturas
transmite uma sensação de vida
a correr através das veias das
plantas. As águas plácidas do
lago e a progressão das árvores
magníficas do chinar simulam a
chegada do imperador.
Sem as colinas, o jardim recebe
a sua força das margens dos
rios. O rio que corre ao pé do
Taj Mahal protegia o mausoléu
como um útero enquanto as
muralhas demarcavam-no
da confusão dos mercados e
das planícies poeirentas no
horizonte. Do mesmo modo,
os jardins nas fortalezas e
nos palácios ofereciam um
panorama da paisagem. Foi
uma vista sem interrupções das
conquistas imperiais olhando às
vilas ao redor das cidadelas.
Gradualmente, desde os
cenários para cerimónias
magníficas, fontes de
prazer e os mausoléus das
figuras importantes o jardim
transformou-se num lugar para
interpretar a presença colonial.
Amit Mehra

Uma vista aérea do jardim mogor no palácio


presidencial em Nova Deli.

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Quando Deli se transformou na
capital da Índia, o arquitecto
Lutyens desenhou um jardim ao
estilo dos mogores no palácio
presidencial - Rashtrapati
Bhavan. Na sua localização
arquitectónica esse jardim do
século XX interpreta as técnicas
tradicionais dos jardins mogores
ao fechar um espaço dentro de
um recinto amuralhado. Canais
de água correndo do norte ao
sul e do este ao oeste dividem
o terreno com linhas rectas
em quatro partes, enquanto as
filas de plantas anuais nas orlas
evocam um jardim inglês. Em
vez de ser uma amálgama sem
razão, o elemento mogor na
estrutura desse jardim funciona
como uma fórmula holística.
É essa habilidade de mudar
com os tempos que assegura a
resiliência dos jardins mogores.
Embora começaram como um
preferido passatempo imperial,
os jardins mogores hoje em dia
servem como um modelo para
os jardins formais. Devido à sua
flexibilidade e às suas raízes
históricas esses jardins são um
elemento fundamental da nossa
cultura.

A autora é uma conhecida escritora na área
das artes.
Prakash Israni

Uma outra vista do jardim mogor no palácio


presidencial em Nova Deli.

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As rochas vivas de
Mamallapuram
Texto e fotografias: BENOY K BEHL

Os templos magníficos de Mamallapuram


reflectem os estilos desenvolvidos dos templos
do sul da Índia

O templo do litoral, Mamallapuram, séc. VIII.


O equilíbrio e as proporções das duas delgadas torres do
templo do litoral fazem com que seja um dos melhores
exemplos dos templos estruturais na Índia. Os pormenores
esculpidos estão em harmonia com o conceito global.
Os nandis ao longo da parede exterior saúdam as pessoas e
convidam-nos a entrar no espaço sagrado além.

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N o litoral do estado indiano de Tamil Nadu, na costa oriental da península
indiana, há uma magnífica cidade de templos esculpidos da rocha.
Mamallapuram era um dos mais conhecidos portos marítimos da antiguidade
e tinha uma grande cultura cosmopolita. Nos seus mercados pessoas da Ásia
do Sueste cruzavam-se com romanos. As moedas que foram encontradas aqui
Os magníficos templos de Mamallapuram reflectem perfeitamente os estilos
desenvolvidos dos templos do sul da Índia. Obviamente, templos semelhantes
deviam ter sido construídos desde há muito tempo antes desse período. É
provável que os exemplos mais antigos foram feitos de matérias efémeras e não
sobreviveram.
corroboram o vasto comércio com Roma e outros sítios desde pelo menos o
século I. Também se sabe que houve colónias de romanos em Tamil Nadu Em frente do antigo porto e não muito longe da cidade encontra-se uma das
nessa época. maravilhas da arte escultural da Índia. O vasto rochedo de granito, medindo
quase 34 metros por 17 metros, foi transformado num universo de seres divinos e
Essa cidade portuária se chamava Mamalai, ou «grande colina», Narasimhavarman terrestres. Acredita-se que esse relevo gigante remonta ao início ou aos meados do
Pallava, conhecido como Mamalla ou o «Grande Guerreiro» expandiu a infra- século VII.
estrutura do porto durante o século VII. Os navios sulcavam os mares daí até
o Ceilão e a Ásia do Sueste. Narasimhavarman mudou o nome do porto a Essa cena representa o momento auspicioso quando o rio Ganges descende à
Mamallapuram ou ‘cidade de Mamalla’. terra para conferir as suas bênções e oferecer o tesouro da fertilidade ao mundo.
Alguns estudiosos interpretaram essa cena como a penitência de Arjuna, o herói
Aqui, ao longo de cem anos talvez, desde cerca de 630 a 728 d.C., esculpiram-
da epopeia da Mahabharata. Aproveitou-se uma profunda clivagem no rochedo
se maravilhosos monumentos do granito duro e cinzento. Os rochedos eram
para representar o grande rio na medida em que ela descende à terra. Aliás até há
transformados num universo de animais e pessoas. As rochas eram esculpidas para
um tanque para armazenar água em cima. É provável que nas ocasiões cerimoniais
criar requintados templos. A pedra foi talhada para recriar as formas de animais.
A caverna de Mahishasurmardini, Mamallapuram, séc. VII. Mesmo enquanto os grandes temas estavam a
Descida do rio Ganges, Mamallapuram, séc. VII. Um dos aspectos mais maravilhosos da arte de Mamallapuram ser esculpidos nas rochas em Mamallapuram, as cavernas estavam a ser escavadas das colinas, continuando
é a representação sensível e naturalista dos animais. O elefante parece quase vivo e a tenra imagem das suas a tradição vista na Índia ocidental. No silêncio e nas profundezas do interior, os fiéis viam as histórias das
crias comove os corações. divindades, que personificavam grandes conceitos e as qualidades que temos dentro de nós.

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Gajalakshmi, caverna de Varaha, Mamallapuram, séc. VII. É o tema da divindade Lakshmi a ser banhada Varaha Avatara, caverna de Varaha, Mamallapuram, meados do séc. VII. Para lutar contra a confusão e a
pelos elefantes. Desde a arte budista do séc. II a.C., Gajalakshmi foi um tema perene na arte índica. Aliás, maldade da ignorância, o deus Vixnu é representado aqui a descer à terra na sua poderosa encarnação de
nessa época as imagens eram predominantemente de yakshas e yakshis e ela era a primeira deusa formal a Varaha Avatara, na forma de um javali. Salva a deusa da terra Bhu-devi de se afogar, representando o grande
ser vista. Como as yakshis ela também representa a abundância da natureza. poder dentro de nós, que nos pode salvar do oceano da ignorância. Essa representação tem uma grande graça
e sofisticação, comum na arte que desenvolveu sob o patrocínio real durante o período da dinastia Pallava.
deixavam a água a cair de cima pela clivagem, dando um toque de autenticidade à
cena sagrada. de Govardhan para proteger a aldeia da fúria de uma tempestade. É uma cena
Criou-se um mundo cheio de vida no meio da floresta ao redor da cena do rio. encantadora. Quando a paz foi restaurada e a tempestade se apaziguou, um pastor
Há cerca de cem figuras de animais, homens, mulheres e seres divinos e todos se de gado toca a flauta enquanto um outro ordenha uma vaca. É uma das melhores
viram para prestar homenagem ao rio que dá vida à terra. Todas as figuras são de representações da vida rústica na arte indiana.
dimensões verdadeiras e são esculpidas com grande sensibilidade e naturalidade. Na época Pallava, quando esse relevo foi esculpido, não havia nenhuma mandapa
Os numerosos seres que habitam nesse universo que foi criado ao redor do rio pela frente. Por isso, podia-se ver claramente toda a montanha em cima de Crixna
foram esculpidos de uma maneira muito vivaz. Reflectem um sentido de liberdade e na medida em que ele a levantou. Mais tarde, com a introdução de normas mais
a alegria que os artistas sentiam ao criar essas figuras. formalizadas, construiu-se uma mandapa em frente da cena para realçar o estatuto
da divindade. É claro que a eficácia do tema foi parcialmente perdida.
Os elefantes têm um extraordinário realismo e suavidade. Os pormenores das
crias dos elefantes revelam a preocupação dos artistas para com todos os seres do Pode-se ver as suaves esculturas e as formas delicadas do estilo pallava no mandapa
mundo. Um outro pormenor de um veado a coçar o seu nariz mostra uma grande de Varaha, que remonta aos meados do século VII. Aqui, podemos também ver os
sensibilidade e bons poderes de observar o mundo natural. desenvolvimentos da iconografia e dos estilos arquitectónicos da época pallava. Os
leões sentados nas bases das colunas são um elemento característico.
Perto disso há um outro relevo que representa o mesmo tema. Todavia, não foi
concluído. Um bocado à esquerda da grande «descida do Rio Ganges» uma cena Há quatro principais painéis de esculturas na caverna. Pode-se ver Vixnu na sua
sobre o deus Crixna foi esculpida nas rochas. O deus Crixna levanta a montanha encarnação de Varaha, salvando a deusa da terra, Bhu Devi, de ser engolida

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dos Kushanas, que vieram do começa a haver uma ênfase na dos templos do sul da Índia
sul da China e mandaram fazer personalidade do monarca. durante essa época.
os seus retratos nos santuários
Há nove templos monolíticos Os monólitos foram nomeados
reais datando do século I, esses
esculpidos das rochas. Cinco em honra dos cinco irmãos
são os retratos mais antigos de
deles formam um grupo. São pandava da epopeia da
reis indianos a sobreviver até aos
os mais antigos edifícios desse Mahabharata e da sua esposa
tempos modernos.
tipo na Índia esculpidos de comum, a Draupadi. Formam um
Na Índia antiga, o propósito rocha tanto no interior como grupo coerente e provavelmente
da arte era sempre distrair os no exterior. São conhecidos foram criados em meados do
nossos pensamentos da realidade popularmente como rathas, ou século VII.
efémera da vida ao nosso redor, as quadrigas dos templos. É uma
focando naquilo que era eterno. nomenclatura errada porque Mesmo ao lado das ondas
Por isso, a arte tradicionalmente foram feitos como templos. do mar encontra-se uma das
não representava as figuras São uma maravilhosa imagem maravilhas de Mamallapuram,
efémeras. A partir dessa época esculpida na pedra reflectindo as um templo com duas torres,
notámos uma mudança e variadas formas da arquitectura conhecido como o templo do

O retrato do rei Narasimhavarman, caverna de Adivaraha, Mamallapuram. Depois do séc. I d.C. e o período dos reis Kushana, que vieram
Em cima: Vaca sentada, Krishna Mandapa, pelos oceanos. Todos os mitos Uma das mais magníficas do sul da China, o período da dinastia Pallava oferece-nos os primeiros retratos de reis na Índia. O monarca Narasimhavarman é representado
Mamallapuram, séc. VII. Na visão destes aqui e, num painel ao lado, há um retrato do seu filho também. Esses retratos marcam o início de um novo sentido de importância e
artistas, um homem não vivia a sua vida indianos operam a muitos níveis representações em Mamallapuram esplendor reais, que ia ter um impacto no futuro da arte e da arquitectura índicas.
em isolamento. Vivemos num mundo e isso também significa salvar é a da Mahishasuramardini,
cheio de tantos seres e a verdade da
vida é apresentada aqui sem se esquecer
a humanidade do oceano da esculpida numa caverna no
de nenhum pormenor. É esta vaca, e ignorância. Vixnu é também século VII. É completamente
todos os seres deste mundo, que cria a representada na forma do
alegria da vida capturada pelos artistas de
diferente das anteriores
Mamallapuram. Trivikrama, o conquistador dos representações desse tema. A
À direita: Ancião com uma criança, Krishna três mundos. deusa Durga luta com o búfalo
Mandapa, Mamallapuram, séc. VII. Entre
todo o esplendor dos temas divinos, o
demónio ou Mahisha, que
artista não se esqueceu dos pormenores A parede de trás da caverna representa o mal da ignorância.
da vida. Ao lado da cena onde o deus tem uma imagem da Gajalakshmi. É uma cena muito animada e,
Crixna ergue a Montanha Govardhana, esse
encantador pormenor da vida nas aldeias é A deusa Lakshmi, que representa ao contrário do que no passado,
uma imagem poderosa. a prosperidade, é banhada pelos tem uma escala muito realista.
elefantes aqui. Nessa parede Aqui, o demónio tem um corpo
posterior também há um relevo humano e a cabeça de um
da deusa Durga, que representa a búfalo. As posturas naturais das
vitória sobre a ignorância. figuras, avançando de um lado
e recuando no outro, realça o
Na arte pallava, as figuras são drama e o realismo da cena. Os
esguias e delicadas. A escala é confiantes ganas do exército de
natural. O relevo adquire uma Durga, representando a justiça,
profundidade pelas figuras que são inesquecíveis.
voltam para dentro e por outras
ainda que se vê de costas. A caverna de Adivaraha é
Também se vê tais posturas nas notável pelos seus retratos do
pinturas de Ajanta remontando ao rei Narasimhavarman, com as
século V d.C. e na arte do vale do suas rainhas. Também há uma
rio Crixna no estado de Andhra imagem do seu filho com as suas
Pradesh. mulheres. Depois do período

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litoral. As delicadas e esguias
torres são entre as mais bonitas
estruturas da Índia. O templo
provavelmente foi construído
pelo rei Narasimhavarman II
ou Rajasimha, no início do
século VIII. Acredita-se que
ele estabeleceu a tradição de
construir os templos estruturais
de pedra em Tamil Nadu.
Talvez o aspecto mais memorável
da arte de Mamallapuram é a
representação dos numerosos
seres que habitam nesse
universo – os veados, as vacas,
os elefantes e muitos outros.
O homem é representado no
meio da natureza, como uma
das suas muitas manifestações.
O escultor indiano conseguiu
transmitir as qualidades vivas
e as emoções dos animais com
uma rara empatia. É a sua visão
do mundo: uma visão que vê
a mesma coisa em todos nós,
homens e mulheres, nos animais,
nas plantas, nas árvores e até
no vento que mexe as folhas.
Vê uma unidade em toda a criação,
que confere uma grande harmonia
e compaixão a essa visão.
Publicada pela primeira vez na revista
Frontline.

O autor é um conhecido cinematógrafo,
historiador de arte e fotógrafo.

As cinco quadrigas, Mamallapuram,


meados a finais do séc. VII. Esses cinco
templos, erroneamente chamados rathas,
ou quadrigas, representam as várias formas
adoptadas pelas estruturas dos templos no
sul da Índia. Foram talhadas de enormes
rochas, a imitar os templos estruturais. No
passado teria havido muitas estruturas com
estas formas feitas de madeira e outras
matérias efémeras, que não sobreviveram
até aos nossos dias. Os diversos tipos
de templos vistos aqui, juntamente com
os relevos e as cavernas esculpidos das
rochas, conferem um ar de encanto a essa
fascinante vila cheia de estruturas divinas.

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até que ela transformou-se uma
Nrityagram bailarina muito conhecida.

e A ideia de criar uma aldeia


de dança à maneira da
a paixão pela dança Kalakshetra de Rukmini Devi,
(por coincidência Rukmini Devi
também começou a aprender a
Texto: LEELA VENKATARAMAN dança clássica de bharatanatyam
Fotografias: AVINASH PASRICHA
quando ela tinha quase 30
anos), longe dos sons e das
Nrityagram, uma aldeia cultural dedicada à dança, é distracções das cidades, tornou-
um paraíso onde dançarinos, músicos, escritores e actores se numa obsessão de Protima
amiúde se reúnem para criar uma sinergia das suas uns anos mais tarde. Persistiu
teimosamente a convencer
energias criativas. o então chefe do governo
provincial, Ramakrishna Hegde,

R odeada pelos bosques verdejantes de Hessargetta, Nrityagram,


uma aldeia de dança, trinta milhas longe da cidade de Bangalore,
tem um recinto de dez acres e é um paraíso onde dançarinos,
músicos, escritores e actores amiúde se reúnem para criar uma sinergia
das suas energias criativas, inspirados pela natureza ao seu redor.
A dançarina Kalanidhi Narayanan a ensinar a dança interpretativa
até conseguiu ter um terreno para
uma aldeia dedicada à dança
nessa zona, onde uma zona de
produção cinematográfica tinha
Esse projecto foi concebido pela uma condição. «Se, pela hora em sido demarcada. «Acho que o
falecida dançarina Protima Bedi que chego na cidade de Cuttack ministro ficou tão farto de mi ver
Uma vista de algumas das casas em Nrityagram e foi um sonho pouco comum amanhã pelo comboio, vejo uma em todo o lado onde ele ia – no
para uma pessoa que foi criada mulher vestida tradicionalmente à seu escritório, na sua casa, no
na mais alta sociedade e sob os minha espera na porta da minha seu jardim – que decidiu que
holofotes do mundo do cinema casa, então vou considerar o seu a melhor maneira de se livrar
em Bollywood em Bombaim. pedido». Com a certeza que ele da minha presença era dar-me
A sua vida foi transformada tinha conseguido livrar-se dela, o terreno», disse Protima mais
um dia quando ela foi a um Kelucharan Mohapatra esqueceu- tarde, com um grande sorriso.
auditório para buscar uma amiga se desse encontro até, ao chegar Ela sempre afirmou que se ele
e ficou encantada com a magia em casa, ele viu uma mulher não fosse um ministro liberal e
do falecido bailarino Guru vestida de sari e blusa com um inteligente, a sua visão nunca se
Kelucharan Mohapatra a dançar bindi na sua cabeça à sua espera, teria concretizado. Em seguida
odissi. Não se via a imagem de sentada «com a paciência de um houve vários meses de trabalho
um bailarino calvo com dentes monumento» nas escadas da sua árduo, trabalhando com o
castanhos. Tudo que ela via casa! Achou impossível negar arquitecto Gerard de Cunha
era a êxtase, a paixão e a graça tamanha persistência e pediu para encontrar o financiamento,
da dança. Nesse momento ela Protima a entrar na sua sala de desenhar e criar pequenas casas
decidiu que tinha de aprender aula e seguir os passos dos outros para alojamento e um espaço
essa dança, seja como for. Nos alunos, ainda convencido que para aulas para os mestres e
bastidores depois do espectáculo, o seu interesse ia desaparecer os alunos. Protima viveu muito
ela abordou o mestre bailarino rapidamente. Mas Protima tempo no lote numa tenda,
«Guruji, por favor ensina-me persistiu e foi só mais tarde, onde se encontravam serpentes
essa dança». Olhando pela moça quando Guruji foi a Bombaim e escorpiões com frequência.
vestida de calças e com os seus ensinar aulas, que ela recebeu À noite, tinha que usar uma
cabelos num rabo-de-cavalo o a necessária atenção individual lanterna para ir à casa de banho
mestre casualmente estabeleceu para aperfeiçoar a sua dança, longínqua. Mas ela não desistiu.

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Finalmente, foi um momento de com Gangadhar Pradhan de disso trabalhava como actriz
grande orgulho em 1990, quando Bhubaneswar. A mente criativa e desenhava as luzes para
Nrityagram foi inaugurado no dia de Surupa e os seus conceitos espectáculos, trabalhando no
11 de Maio pelo então primeiro imaginativos de coreografia, mundo do teatro com pessoas
ministro da Índia, V.P. Singh. combinado pelo talento incrível como Barry John, Joy Michael e
de Bijayini e todo o seu grupo, Lillete Dubey. Protima persuadiu
Surupa Sen, a principal aluna de com as suas coreografias ela a visitar Nrityagram. Depois
Protima, partilhou os seus sonhos de grupo espectaculares, de uma estadia de dois meses,
e as suas aspirações. Quando a asseguraram que Nrityagram a familiarizar-se com o sítio e a
Protima morreu inesperadamente é uma força muito potente no ajudar Protima como amiga em
num desmoronamento nas mundo de odissi. muitas maneiras, Lynne ficou
montanhas em 1998 Surupa muito surpreendida quando
assumiu o seu lugar à cabeça de Os instintos de Protima mesmo Protima disse que ele ia nomeá-la
Nrityagram. Surupa trabalhou em outras áreas nunca falhavam. como gerente de Nrityagram.
com uma outra aluna de Protima, Lynne Fernandez trabalha com «Mas porque?» perguntou Lynne.
Bijayini Satpathy, uma bailarina Nrityagram como administradora «Nunca trabalhei no mundo da
que inicialmente estudou e gerente desde 1993. Antes dança e não sei nada sobre as

Protima numa postura ao interpretar um verso do Geeta Govinda de Jayadeva (página de frente) e
três perfis de um movimento executado por Protima (em baixo).

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formas clássicas.» «Tenho Surupa meditação, as artes marciais, trabalhar a terra confere uma clássicos bailarinos de odisso
para a parte técnica. Não te a sânscrito, a mitologia e a qualidade muito especial à sua são incapazes de reproduzir.
preocupes. Durante todos estes literatura, as oportunidades para dança. Tanto Protima como Deve-se dizer que na dança
dias em que estiveste aqui, a aprendizagem integrada são o seu mestre inicial Guru baseada nos jayadeva ashtapadis,
trabalhaste sem parar sem uma infinitas. Com artistas de todas Kelucharan Mohapatra (que por exemplo, os bailarinos de
vez pedir alguma coisa para ti as disciplinas e coreógrafos de atribui a sua sensibilidade artística Nrityagram são muito graciosos.
própria. Apenas pensaste da todo o mundo a visitar ao longo ao facto que na sua infância
instituição. Tenho a certeza do ano para ensinar os alunos, ele tinha trabalhado numa O grupo encontrou um óptimo
que és a pessoa certa para criou-se um raro ambiente plantação, cuidando das plantas) músico em Raghunath Panigrahi
Nrityagram» e desde então Lynne artístico, realçando a interacção acreditavam nessa filosofia. (que não sabia o que fazer
vive em Nrityagram, trabalhando entre as diversas formas de depois da morte prematura de
arte. Todos os espectáculos Como a Protima sempre disse sua mulher Sanjuktha Panigrahi
pela instituição dia e noite.
cuidadosamente reflectem cada «Nrityagram é um estilo de vida». e encontrou em Nrityagram
A escola de odissi é cada vez aspecto de dança, desde a a lembrança da paixão de
Durante o festival anual de
mais conhecida e o grupo apresentação, a música, os ritmos, Sanjukta), um compositor ideal.
Vasantahabba, é uma visão
de dança de Nrityagram já os trajes, as luzes e o espaço. A O seu conhecimento musical
inesquecível ver mais que
ganhou os melhores louvores. excelência dos espectáculos do combinado com os seus estudos
40.000 espectadores sentados no
É espantoso ver o número de grupo de Nrityagram distingue-o. de sânscrito e a criatividade
anfiteatro ao ar aberto a ver os
horas durante as quais esse Os bailarinos também trabalham de Surupa traduzem-se numa
espectáculos de música e dança
grupo treina. Com o ioga, a na quinta e essa sensação de alquimia inesquecível. Os irmãos
de diversos tipos ao longo de
Ganesh e Kumaresh, que tocam
toda a noite.
o violino no estilo carnatic,
Bharati Shivaji demonstrando uma postura
Dançarinos num espectáculo no anfiteatro de Nrityagram Foi em 1996 que o grupo de no estilo clássico de mohiniattam. também compuseram música
dança estreou em Nova Iorque, para Nrityagram.
mudando a sua carreira para
mais recentemente, do Teatro A primeira produção de longa
sempre. Apresentaram os seus
Joyce. Para além da posição duração de Nrityagram «Sri – À
espectáculos nos palcos mais
da tribhanga (uma postura procura da deusa», estreou em
conhecidos da cidade – uma
com três dobras) e chauka Deli em 2001 e nos EUA em
proeza que poucos dançarinos
(uma postura meia sentada 2002-2003, recebendo grandes
indianos conseguiram fazer até
com os joelhos para fora), louvores dos críticos. Ansh foi
hoje. Protima tinha que cuidar de
as principais preocupações uma nova maneira de conceber
Nrityagram e infelizmente morreu
estilísticas de odissi, a abordagem os formatos tradicionais de
antes de ver os espectáculos do
que Nrityagram usa incorpora odissi. A peça «Espaço sagrado»
grupo em Nova Iorque. Hoje
também as extensões das foi inspirada pela arquitectura
em dia o grupo de Nrityagram
pernas e os altos saltos, que dos templos como o templo
já fez espectáculos em Hawaii,
a comunidade ortodoxa dos de Chausat Jogini em Orissa e
nos EUA, no Médio Oriente, no
puristas acha demasiado liberal. estreou em Madrasta durante o
Extremo Oriente e na Europa,
Consideram que tamanho sabor Festival da Academia da Música
criando o seu próprio nicho no
físico vai diluir o lirismo que é em Dezembro de 2005. Recebeu
mundo da dança.
um dos elementos principais o prémio para melhor produção
Ao lado do estilo clássico de de odissi. A formação rigorosa da estação. A peça «Pratima:
odissi herdado do mestre, que os bailarinos de Nrityagram Reflexões» foi encomendada
Nrityagram já fez muito trabalho adquirem lhe oferece uma pela Fundação de Stephen e
inovador, graças ao financiamento variedade de movimentos Cathy do teatro Joyce, onde a
que recebeu do Projecto Nacional e um vigor que talvez seja relação da dançarina com a dança
de Dança da Fundação das mais parecido com o estilo de constrói-se à volta das verdades
Artes da Nova Inglaterra e, mayurbhanj chhau mas que os de criação, contemplação,

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separação e a natureza dual do ashtapadis são encantadores
espírito humano. Estreou em e reflectem perfeitamente
2008 e Joan Acocella, a crítica o esplendor poético dessas
da The New Yorker (12/9/2008) canções. Bijayini também recebeu
listou Vibhakta, uma cena de vários prémios como o Prémio
Pratima, entre os dez melhores Mahari (2003), o Bismillah Khan
espectáculos de dança. Yuva Puraskar do Sangeet Natak
Akademi em 2007, o prémio do
Surupa Sen recebeu o prémio da
Yagaraman Krishna Gana Sabha
Fundação Raza para excelência
em 2008 e o prémio Sanskriti
na dança em 2007 e o prémio
em 2007 e tem trabalhado sem
Yagnaraman do Sri Krishna Gana
parar para criar novas técnicas
Sabha em 2008 para melhor
para a formação na arte de odissi.
direcção artística e coreografia.
Pavitra Reddy, Rasmi Raj e Manasi
Ela continua a trabalhar
Tripathy são as outras bailarinas
infatigavelmente em Nrityagram.
permanentes do grupo.
Os seus espectáculos com Bijayini
são os melhores vislumbres do A Lynne introduziu novos
estilo de odissi que se pode ver espaços como o estúdio de
hoje em dia. Os seus gita govinda dança, o auditório, a sala

Radha e Crixna numa dança do estilo manipuri (página de frente) e um espectáculo de


Yakshagana, uma dança folclórica, em Nrityagram (em baixo).

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das exposições e o centro de
fisioterapia em Nrityagram.
Trabalhando ao longo do ano, é
uma tarefa herculeana manter a
instituição, especialmente devido
a sua localização, que é tanto
uma bênção como uma maldição,
porque é sempre difícil convencer
músicos e percussionistas a morar
lá como músicos residentes.
Muitos bailarinos que querem
aprender durante o dia sem viver
na instituição também acham
que a logística dos transportes
é difícil. Todavia, Nrityagram
também tem um programa onde
envia professores para ensinar
nas aldeias e nas cidades,
beneficiando muitos alunos.
Para qualquer bailarino, estudar
em Nrityagram é realizar um
sonho. É um sítio onde a dança
e a natureza são amigos íntimos.
Esse sonho é mantido graças
aos indivíduos que dedicaram as
suas vidas à arte e que merecem
todo o apoio e encorajamento
possível. A dança – e odissi em
particular – vai beneficiar desse
patrocínio.

A autora é uma crítica de dança.
Deepak Mudgal

Bijayini e Surupa mostram uma abelha


atraída a uma flor de loto – a imagem é uma
metáfora para o amor de Radha e Crixna.

ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 30 ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 31


Ligações através das melodias
A MÚSICA INDIANA ENGLOBA O MUNDO
MADHUSREE CHATTERJEE

Enquanto o mundo canta alegremente «Jai Ho»,

Departamento de Fotografias, Governo da Índia


a canção criada pelo compositor A.R. Rahman, que
ganhou um Óscar, as duas palavras, que significam
‘seja glorioso’ capturam um momento dourado para
a música indiana. A herança musical do país, cujas
raízes remontam a mais que mil anos, adquiriu uma
nova visão global e um novo aspecto.

S.E. Nikolai Bulganin, o primeiro-ministro da Rússia, a apresentar flores aos artistas da peça
«Ramlila» com marionetas de sombra dirigida por Uday Shankar com o seu grupo cultural. Baba Allauddin Khan
O antigo primeiro-ministro da Índia, Jawaharlal Nehru, também está visível nesta fotografia.

O holofote internacional está focado na música indiana como


nunca antes, especialmente peças de fusão que combinam
os ragas clássicos tradicionais e ritmos étnicos e folclóricos
com sons ocidentais. O primeiro Óscar ganho pela Índia para uma
canção chegou ao mesmo momento em que o instrumentalista
indiano Ustad Zakir Hussain, famoso pela sua magia com a tabla, um
instrumento de percussão, ganhou um Grammy.
«O mundo está a descobrir a nossa música mais uma vez. Temos tanto
para oferecer» diz Hussain, que colaborou com músicos ocidentais no
disco que ganhou um prémio Grammy, o «Global Drum Project».
A vocalista Lakshmi Shankar, que ganhou uma nomeação para um
Grammy e especializa-se na música clássica do estilo hindustani, do
norte do país, descreve esse período como «a segunda renascença da
música indiana. No ocidente toda a gente gosta da nossa música e
quer ouvir mais».
Departamento de Fotografias, Governo da Índia

Todavia, a música indiana já está a superar as fronteiras geográficas


desde há quase sete décadas, embora sem atingir o êxito dramático
como hoje em dia.
Muitos historiadores concordam que a música indiana foi ao
estrangeiro pela primeira vez em 1930 com o bailarino e músico
Uday Shankar – cujo grupo, baseado em Paris, fez turnês na Europa,
na América do Norte e na Ásia do Sueste durante oito anos.
Esse grupo contava com alguns dos maiores nomes na história da
música clássica indiana como Baba Allauddin Khan, um lendário

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é parecido com o árabe, vê-se a influência dos mouros com os
pormenores intensos em vários níveis».
Segundo o músico e autor Peter Lavezzoli, um percussionista
profissional baseado em Miami e St. Louis que passa os seus invernos
na Índia ouvindo e escrevendo sobre a música clássica indiana, os
desenvolvimentos tecnológicos ajudaram a música indiana a circular
no ocidente.
No seu novo livro, «Bhairavi: The Global Impact of Indian Music»,
Lavezzoli disse que antes da invenção do disco de longa duração, as
gravações da música clássica indiana limitavam-se a apenas discos de
três minutos de 78 rpm, fabricados exclusivamente para o mercado
indiano.
A tecnologia também permitiu o mestre musical Ali Akbar Khan, que
tocava sarod, a tocar na televisão nos EUA – o primeiro espectáculo
por um músico clássico indiano na televisão americana.
Se 1955 foi o ano em que se semearam as primeiras sementes da
música clássica indiana no ocidente, então 1967 foi um ano notável,
quando a busca para uma visão alternativa do mundo levou os
músicos a percorrer a Ásia, especialmente a Índia, para explorar as
suas tradições espirituais e estéticas.
O maestro e violinista Yehudi Menuhin a apresentar a música clássica indiana a um público ocidental
Ustad Ali Akbar Khan num concerto

músico que tocava o sarod, um instrumento de cordas; o vocalista e


músico Vishnu Das Shirali; e o compositor Timir Baran.
Em 1955, o célebre maestro e violinista Yehudi Menuhin apresentou
ao ocidente «Música da Índia: Raga da manhã e da tarde», o primeiro
disco da música clássica indiana. O álbum tinha Ustad Ali Akbar Khan
tocando o sarod, Pandit Chatur Lal tocando a tabla e Shirish Gor na
tambura, um instrumento de cordas.
No prefácio, Menuhin apresentou cada instrumento musical e os sons
que criava para os ouvidos ocidentais.
Quando o compositor estado-unidense La Monte Young ouviu o som
da tambura pela primeira vez na rádio que estava a transmitir esse
concerto em 1957, foi até a loja mais perto para comprar o disco.

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Young depois estudou a música indiana durante 26 anos com o
vocalista Pandit Pran Nath.
Menuhin também tocou com Ravi Shankar, o lendário músico indiano
conhecido mundialmente pela sua maestria do sitar, um instrumento
de cordas, para o álbum «West Meets East» durante a década dos 60.
Mickey Hart, percussionista da banda popular americana The Grateful
Dead, achou difícil acreditar que Chatur Lal estava a tocar a tabla
apenas com as suas mãos! Hart, um dos melhores percussionistas
da música contemporânea ocidental, disse que: «o ritmo indiano

ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 34 ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 35


Maharishi Mahesh Yogi, um asceta indiano que popularizou a antiga
ciência da meditação transcendental na Europa e na América, capturou
a imaginação dos Beatles – um dos mais célebres grupos britânicos de
pop-rock de sempre.
O quarteto de Liverpool passou quase seis semanas no retiro do asceta
em Rishikesh e compuseram mais que 30 canções lá. Também foi
o início de uma associação vitalícia entre George Harrison, um dos
Beatles, e Ravi.
A popularidade de religiões indianas como o culto de Crixna, o
budismo e o culto de Chinmaya também ajudou a abrir as portas à
música indiana no ocidente.

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No seu livro Lavezzoli se lembra do momento em que Ravi Shankar e
o falecido mestre de tabla Ustad Alla Rakha fizeram um espectáculo
no festival de pop de Monterey na Califórnia em 1967.
«Os eventos desse fim-de-semana eram filmados... capturando
várias figuras lendários no seu pico – Jimi Hendrix, The Who, Otis
Redding e Janis Joplin... quase todos os famosos músicos estavam lá
a ver o espectáculo de Ravi Shankar; a maioria nunca tinha visto o
músico indiano tocar antes... E a reacção do público foi fantástica,

O mestre do sitar Ravi Shankar com Ustad Zakir Hussain a tocar tabla, um instrumento de percussão, num concerto.
O director indiano de música que foi galardoado com um Óscar, A R Rahman a fazer um
espectáculo em Nova Deli no dia 11 de Agosto de 2009 para comemorar os 50 anos de
Doordarshan – o canal nacional de televisão.

assegurando que Ravi Shankar ia se transformar numa estrela ainda


maior».
Em 1994, o músico indiano Pandit Vishwa Mohan Bhatt, que inventou
o instrumento de cordas conhecido como a mohan veena, ganhou um
Grammy juntamente com Ry Cooder pelo seu álbum «A Meeting By
The River».
A maior glória foi o reconhecimento dado à indústria de música dos
filmes indianos – para os compositores como A.R. Rahman ou um
técnico de som como Resool Pookutty, ambos dos quais são nativos
do sul da Índia e ganharam Óscares para o filme «Quem quer ser
milionário» do director britânico Danny Boyle.
Como Vishwa Mohan Bhatt disse: «Se os anos 70 eram sobre os Beatles
e Ravi Shankar então 2009 é sobre os músicos indianos que foram
ao ocidente para preparar a próxima onda musical. O ocidente é
espantado pela nossa disciplina e pelos nossos ritmos, é surpreendido
com as emoções da nossa música; já chamamos a atenção de todo o
mundo».

(Fonte: O serviço indo-asiático de notícias - IANS)

ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 36 ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 37


Dhokra
Os produtos são requintados esses metais têm o aspecto
ou mais folclóricos conforme de ouro. Ao longo dos anos o
a comunidade do artesão. As artesanato em metal, como as
UMA ARTE ETERNA matérias-primas incluem a outras formas de artesanato,
argila, metal, madeira e fios e beneficiou do patrocínio real
os artesãos – o tecelão, ferreiro, e os artesãos dominaram as
REKHA SHANKAR
oleiro ou carpinteiro – são uma técnicas de trabalhar o metal e
parte integral da comunidade fazer esculturas.
A «elegância artística» do artesanato dhokra já passou a local. O artesanato de dhokra é a
prova do tempo. Uma das mais antigas técnicas de trabalhar
A utilização do metal na Índia mais antiga técnica de trabalhar
os metais não ferruginosos da civilização humana, dhokra os metais não ferruginosos
remonta à época dos vedas.
ainda está a evoluir e a forjar novos caminhos. O ferreiro, chamado karmara, no mundo. A própria palavra
gozou de uma alta posição na dhokra literalmente quer dizer

O mosaico cultural e criativo do país que se chama a Índia tem


uma história de mais que 5.000 anos. Uma das civilizações
humanas mais antigas, ao longo dos séculos o povo dessa
sociedade. Há uma referência
no Yajurveda a Rudra, o deus
do relâmpago, homenageando
«mais antigo» e deriva-se do
nome das tribos Dhokra Kamar
no estado de Bengala Ocidental,

Drª. Bimla Verma


antiga terra desenvolveu habilitações e técnicas que são passadas de que tradicionalmente são
a família do karmara. Como
uma geração à próxima através das tradições orais e as actividades ferreiros. São um grupo que se
outras actividades artesanais, a
comunitárias e familiares. Os artesãos indianos trabalham com as especializa nessa forma artística.
arte de trabalhar o metal também
suas mãos para criar objectos bonitos e úteis, amiúde utilizados para Alguns historiadores acreditam
é inextrincavelmente ligada à
a adoração, com as matérias e as imagens do mundo ao seu redor. que as tribos originalmente
religião. Aliás, antes que um
artesão começa a trabalhar reza vieram da região de Bastar no
para orientação ao Tvastram, estado de Chhattisgarh e, sendo
filho de Visvakarma, descrito nómadas, viajaram nas áreas
na grande epopeia hindu, a vizinhas e ao longo do tempo
Mahabharata como, «o lorde estabeleceram-se nas áreas
das artes, executor de mil formas tribais dos estados de Madhya
de artesanato». Os metais têm Pradesh, Chhattisgarh, Orissa,
uma significância religiosa Bengala, Jharkhand e Andhra
para os indianos e pode-se ver Pradesh. Embora têm a mesma
ícones de metal em templos ou origem étnica, são identificadas
em salas de oração em casas por nomes diferentes em cada
em todo o país. Há mais que estado. O seu método de
2000 anos, os ferreiros indianos trabalhar o metal é conhecido
fizeram um grande avanço como a técnica da “cera perdida”
na metalurgia. Conseguiram e é praticada na Índia desde
produzir latão – uma liga de há mais que 4.000 anos. Provas
metais básicos que tinha um de semelhantes técnicas de
aspecto dourado. Alcançaram trabalhar ligas à base de cobre
essa proeza ao fundir zinco e foram encontradas na China, no
cobre, onde a percentagem de zinco, ouro, prata e chumbo, Egipto, na Malásia, na Nigéria e
zinco tinha que ser controlada que foi uma liga popular para em algumas áreas da América
Central.
Drª. Bimla Verma

entre 10% e 12%. Uma outra os ídolos religiosos desde então.


criação notável foi de uma liga O latão e o metal dos sinos, Um dos mais antigos artefactos
metálica chamada panchdhattu também muito popular, é uma esculpidos usando esta técnica
feita com cinco metais – cobre, liga de cobre e estanho. Ambos é a «mulher dançante» de

ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 38 ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 39


descobriram o metal usaram o cera enquanto na área de Sarguja
novo material com o mesmo usam uma resina chamada
tratamento de texturas. Há dhuvan. Em Orissa, a cera é
algumas diferenças nos fornos misturada com dhuna, a resina
usados e pequenas variações da árvore Shorea robusta.
nas matérias de cada região Podem-se ver os pormenores
mas a técnica básica é mais ou do desenho final no padrão
menos a mesma. Na Bengala, que é criado desta maneira com
o forno está em cima do chão essa cobertura de fios de cera.
enquanto em Chhattisgarh e em Os fios finos, de 1/16o de uma
outros estados, é subterrâneo. polegada, são atados tão bem
Em Jharkhand, o aparato de que nenhuma parte do molde
aquecimento é atado ao próprio de areia e argila é visível. Essa
molde. Inicialmente o artesão camada é depois coberta com
tem de trabalhar tanto como argila e deixado para secar ao
escultor como um artista. sol. A camada de argila assume
Primeiro, prepara um molde a forma negativa da cera dentro
básico de areia, argila e hastes e se transforma num molde para
de arroz. Em Bengala, é coberto o metal. Deixam-se buracos
com um fio feito de gala, um para que a cera possa derreter e

Drª. Bimla Verma


pasta de óleo de mostarda e sair quando se aquece o molde.
a cera das abelhas. Na região Uma vez que o molde se seque,
de Bastar em Chhattisgarh, os é aquecido gradualmente e, na
artesãos usam fios e faixas de medida em que a cera começa

Mohenjodaro, uma estátua «para o momento, tem toda a


de bronze de uma altura de confiança nela mesmo e no
10,8 centímetros. Acredita-se mundo. Acho que não há nada
que foi feita em cerca de 2500 como ela em todo o mundo» -
a.C. Foi escavada em 1926 de uma criação eterna.
uma casa na antiga cidade de
Mohenjodaro, hoje em dia no A técnica cuidadosa e árdua de
Paquistão. As pessoas que viram trabalhar o metal nessa maneira
a peça afirmam que parece falar não mudou desde então e, ao
com o espectador através dos contrário de outras formas de
séculos, do seu distante passado artesanato na Índia, o trabalho
até o presente, com uma postura de dhokra é feita igualmente
e uma expressão que são tão por homens e por mulheres.
relevantes hoje como no dia A superfície dos objectos
em que foi feita. Ao descrever a evoca os itens feitos em erva,
escultura, o arqueólogo britânico bambu ou canas. Parece que
Mortimer Wheeler disse que a os artesãos trabalhavam com
pequena moça de Baluchistão ervas no passado e quando

ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 40 ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 41


a derreter, o metal líquido é de óleo decoradas com pavões os artesãos acreditam que e talheres para a mesa, que
colocado no seu lugar. Neste são populares e feitas em muitos não podem ver a deusa então confere um toque exótico
processo, o nome da técnica desenhos diferentes porque assomem que ela está montada à ocasião mais simples. As
deriva-se da perda da cera. O são uma prenda tradicional às no elefante que fizeram. Devido comunidades sonar, bhat e
metal líquido substitui a cera filhas. Os tradicionais pyalae à promoção estatal e aos bhotia fazem joalharia tribal
no molde interior e endurece (copos de medição), em vários projectos patrocinados pelo em latão com um impacto
entre o núcleo e a cobertura tamanhos, eram utilizados governo e por desenhadores, o espantoso. Usam-se essas peças
de argila. Assome a mesma para medir cereais. Hoje em reportório dos artesãos cresceu nos festivais e em ocasiões
forma como a cera. Uma vez dia são uma escolha popular para incluir uma variedade de especiais. Os itens incluem
arrefecida, quebra-se a camada para servir nozes ou água para produtos como estátuas, taças, colares, pulseiras para as mãos e
exterior de argila com uma lavar as mãos antes de uma figuras de animais, criaturas os pés, brincos e ganchos para
grande faca e tira-se a escultura refeição. Em Bastar, é comum míticas, deuses, deusas e uma os cabelos.
de metal. Agora está pronta para ver a imagem de um elefante, gama de acessórios para a casa Alguns dos objectos que se vêem
o acabamento. Com a excepção que é considerado uma forma como lamparinas, maçanetas hoje parecem não ter mudado ao
das esculturas ocas de três da deusa do estado, chamada e cadeias. Alguns dos artesãos longo do tempo mas ainda são
dimensões, o núcleo de argila é Dhanteshwari. É curioso que até começaram a fazer peças relevantes enquanto outras peças
deixado dentro da cobertura de
evoluíram para um outro género
metal para aumentar o peso da
sofisticado e contemporâneo.
peça, especialmente se é uma
Cada criação representa a
obra votiva e vai ser colocada
simplicidade primitiva, tanto
num altar.
nos encantadores desenhos
A qualidade do produto folclóricos ou na representação
final depende não apenas na caprichosa de cenas da sua vida
habilidade do artesão que quotidiana nas composições,
prepara o molde mas também que inclui temas tão diversas
no que faz os acabamentos. A como uma mulher tribal a usar
superfície é lixada para ficar um computador; uma mãe a
suave e acrescentam-se bolinhas, massajar o seu filho ou uma
espirais e motivos entrecruzados vaca a dormir à sombra de uma
para adornar a peça. Um árvore. Sem nenhuma formação
aspecto singular dessa forma de em instituições formais, as
artesanato é que duas peças de habilidades e o sentido estético
dhokra nunca podem ser iguais desses povos resultam da sua
porque cada peça é feita num própria visão do mundo, ainda
novo molde. Não se pode usar o imunes às influências forasteiras.
molde uma segunda vez porque A Índia é sem dúvida um país
é quebrado para extrair a obra. privilegiado a ter essa herança
Cada peça é feita com grande eterna e para poder oferecer ao
amor, cuidado e habilidade mundo a beleza criativa dos seus
e estabelecem-se os preços artesãos de dhokra.
segundo o seu peso, acabamento ◆
A autora trabalha com a Dastkari Haat
e o grau de pormenores na peça. Samiti e era a directora de India Sponsor
Foundation onde encabeçou uma equipa
Drª. Bimla Verma

Tradicionalmente, os artesãos para treinar mulheres desfavorecidas a


faziam divindades religiosas, serem motoristas comerciais pela primeira
vez em Deli.
recipientes e utensílios para a
sua vida quotidiana. Lamparinas

ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 42 ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 43


de pão) são igualmente populares e biryani (um prato de carne e
arroz) é tão famoso como o roomali roti (uma variedade de pão
fino como um lençol) e mutton-do-pyaza (carne cozinhada com
cebolas e especiarias) é tão venerado como malka masoor (lentilhas
cor-de-rosa).
Assim, quando pediram-me escrever sobre a comida popular de
Lucknow, fiquei apavorado. Não me considero um conhecedor
gastronómico embora eu possa identificar e apreciar um bom prato.
Lucknow tem tamanha variedade gastronómica nas suas ruas que
seria uma tarefa difícil mesmo para os peritos. É uma cidade onde a
diferença entre a comida quotidiana e a comida festiva é tão grande
que até têm nomes diferentes para os estilos de cozinha!
Em termos históricos, os nababos são responsáveis para tornar
à gastronomia de Lucknow famosa em todo o mundo – desde o
primeiro nababo, Burhan-Ul-Mulk, ao célebre poeta e bailarino o
nababo Wajid Ali Shah. Para as pessoas que gostam de estatísticas,
Siddarth Kak

pelo menos 19 variedades de kebabs (espetadas), 37 variedades de


pão, 35 variedades de zarda (arroz doce), 47 variedades de pulao
(pratos de arroz), 37 variedades de doce foram criados apenas
durante o reinado do nababo Shuja-Ud-Daula! Lucknow também foi
A cidade de Lucknow o berço da famosa gastronomia do estilo dum pukht, que nasceu
e amadureceu aqui. Desde as suas origens humildes dum pukht
e a sua comida popular já conquistou a imaginação de apaixonados de comida em todo o
mundo. Mas vamos falar disso mais tarde.
ANIL MEHROTRA Os nababos vinham do Irão e patrocinaram as artes em todas as suas
formas, desde a dança até a música, o teatro e a gastronomia. Reza
Lucknow - a antiga sede dos nabobos de Awadh, o centro de a lenda que a água do rio Gomti irritava a frágil constituição dos
nababos, que mandaram os médicos reais a encontrar uma solução
uma cultura requintada, uma cornucópia de artesanato como
aos seus problemas gastronómicos! Depois de muitas discussões, os
chikankari e zardoji, e com uma gastronomia famosa em médicos reais sugeriram o uso de receitas com muito açafrão das
todo o mundo, é uma combinação de culturas e cozinhas, Índias e resolveram o problema.
artes e artesãos, tradição e modernidade. Aqui a gastronomia
Um caril de carne com muitas especiarias Os deliciosos kebabs da loja de Tunde Kebab
transcende os limites da cozinha e é transformada numa
obra de arte.

E m Lucknow, diferentes gastronomias fundem-se, ao contrário


dos outros estados, que têm hábitos culinários muito específicos.
Assim, enquanto Bengala prefere o seu arroz com caril de peixe, a
gastronomia de Guzerate é essencialmente vegetariana. Os estados do
sul usam arroz e coco enquanto o estado de Caxemira é famoso pelos
seus pratos de carne como gushtaba, nos seus célebres banquetes de
wazwan enquanto Jammu, situado ao lado, é famoso pelo seu prato de
Anil Mehrotra

Siddarth Kak
arroz com feijão. Enquanto os estados orientais comem arroz e carne,
os estados de Haryana e Punjab favorecem o trigo e Himachal prefere
arroz e milho. Em Lucknow tanto arroz como roti (uma variedade

ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 44 ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 45


Uma outra história explica como em Gol Darwaza. Disponível
uma variedade muito macia dos apenas durante o inverno, a
famosos kakori kebabs surgiu. natureza singular desse prato
Um velho nababo sem dentes da também se deve ao facto que
aldeia de Kakori que não podia não se encontra em nenhuma
resistir os pratos locais deliciosos outra parte do país. Segundo
mandou o seu cozinheiro a o nababo Mir Zafar Abdullah,
desenvolver uma receita que um descendente directo dos
o permitiria saborear o kebab nababos e um grande amigo
sem a necessidade de mastigar. meu, namish foi um prato
O prato que o seu cozinheiro quotidiano e comia-se com
produziu é hoje em dia famoso taftan – um pão salgado. A sua
mundialmente como o kakori transformação para uma doce
kebab! só aconteceu muito mais tarde.
Deixa-se leite batido em baixo

Anil Mehrotra

Siddarth Kak
Decidimos começar o nosso do céu à noite e o orvalho
passeio gastronómico com os dá-lhe um sabor delicado e uma
shahi gelawati kebabs da famosa linda cor de amarelo!
loja de Tunde Kebab na velha
cidade de Lucknow. A receita Apanhámos um riquexó
foi desenvolvida por Haji Murad até Aminabad, um outro
Ali que, reza a lenda, caiu do mercado antigo onde a comida
tecto e perdeu um braço, assim predomina. Para além de uma
ganhando a alcunha de Tunde filial de Tunde Kebabi, as
(homem de um braço). Embora suas ruelas são famosas pelas
os fieis continuam a encher suas numerosas lojas de chaat
essa loja, a comercialização já (uma merenda salgada). NA
começou e hoje em dia se pode encruzilhada entre os mercados
encontrar os seus pratos nos de Nazirabad e Aminabad é
centros comerciais e outros sítios possível saborear o famoso kulfi
na cidade. É necessário dizer-lhe (leite adoçado com pistáchios
com a encomenda se quer carne transformado num gelado) na
Anil Mehrotra loja de Prakash e há inúmeras

Siddarth Kak
do animal grande (isto é, carne
de vaca) ou carne do animal lojas a vender merendas
pequeno (que seria cabra ou salgadas na avenida principal.
ovelha). A receita é um segredo Costeletas suculentas de carne (em cima) e Wahid biryani – um prato que usa 55 especiarias segredas (em cima) e Durante os invernos, essas lojas
bem guardado e inclui centenas
frango assado numa loja na rua. Tunde Kebab – a herança de um cozinheiro com um braço. vendem rewri, til (sésamo)
de especiarias. Também se diz ladoos e gazak (especialidades
que é bom para a digestão! Haji Abdur Rahim, o seu gilafi conhecido como a ruela de de Ram Asrey, famosa pelas suas garganta mais seca. Se quiser, usados para aquecer o corpo
kulche (pães muito macias) sheermal. Todavia, o açafrão lal-pedas (doces redondas de pode pedir uma infusão de durante o inverno). Em frente
Ao lado há a porta Ajmeri, onde e nihari khaas (pés de vacas que originalmente foi utilizado leite). bhang (cannabis) na sua bebida, de Tunde Kebabi há uma
a cidade velha se funde com ou ovelhas) são maravilhosos. para dar a sua cor laranja, já foi para ter um efeito maior. pequena ruela escura que vai
o mercado Nakkhas. Numa Para encontrar o pão doce de substituído pelas cores sintéticas. Também na zona da Gol até o restaurante Alamgir, que
pequena ruela encontra-se a loja cor laranja conhecido como Na ruela ao lado, Ban Wali Darwaza há a loja de Rajá que Nenhuma visita à cidade velha serve kebabs e roomali roti
de Rahim’s que vende a iguaria sheermal (um pão rico feito com Gali, encontra-se uma loja que serve thandai (uma bebida é completa sem saborear maravilhosos. O ambiente não é
chamada nihari. Estabelecido açafrão e leite) visitámos aruela foi estabelecida há mais que de leite com especiarias). Um namish ou malai makhan moderno mas os pratos são fora
em meados do século XIX por de Chawal Wali Gali também trezentos anos, a loja de doces copo dessa bebida vai saciar a (uma doce como um soufflé) deste mundo. E antes que se

ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 46 ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 47


digam que estou a negligenciar concorrendo como a família Deli e paani poori em Calcutá)
os pratos vegetarianos há uma Sharma. Ambos têm os seus depois do seu passeio à noite.
loja que se chama Purani Qabar adeptos que juram pelas suas
Mais tarde, à noite, as pessoas
wali Dukan que oferece divinos respectivas preparações de
enchem a praça em frente do
pooris e kachauri alu (um pão chaat. Todavia, na minha
restaurante Moti Mahal para
frito com batatas). opinião o vencedor é o King
os cremosos e deliciosos kulfis
of Chaat ou Shukla, ambos no
O restaurante Shiv em (gelado), os imartis quentes
Kaiserbagh, a uma curta bairro de Hazratganj. À saída do
(merendas fritas doces), gajar
distância de Aminabad serve mercado de Halwasiya, também
ka halwa (uma doce de cenoura
uma doce e espessa bebida em Hazratganj, há um homem
e leite com frutos secos), gulab
de iogurte, lassi, decorada que vende desde sempre pratos
jamuns ou centenas de outras
com frutos secos. Ao lado, na feitos de folhas cheios de uma
variedades de doces.
encruzilhada do cinema Novelty preparação deliciosa de ervilhas

Anil Mehrotra

Siddarth Kak
cozidas. Ao lado dos correios em
encontra-se o restaurante de
Hazratganj e antes de Raj
Sharma Chaat House & Tea
Muito perto à loja de Shukla, em Bhawan (a casa do governador)
Corner, gerido pelos dois
frente do prédio LIC, no centro há o conhecido homem que
irmãos Sharma. Essa loja vende As sobremesas deliciosas – zauk-e-shahi alguém. Visto que os clientes
de Hazratganj, preparam-se as vende dahi bade (bolas de (em cima) e makhan malai (em cima
inúmeras chávenas de chá com são fastidiosos na sua escolha
mesas para as pessoas a comer lentilhas fritas cobertas com à direita). Uma refeição em Lucknow é
pães e manteiga desde que me incompleta sem um paan (à direita). de folhas, vários tipos de folhas
os crocantes batashas (bolinhas iogurte e molhos doces). A loja
lembro. são trazidas de tão longe como
de trigo recheados com água é pouco mais que um quiosque Cantonment, no ubíquo mercado
À tarde a família Jains monta cozida com especiarias) com e abre às 14h todos os dias para de Sadar Bazaar, encontra-se Calcutá, Varanasi, Hamirpur
a sua tenda a vender chaat seis variedades de água. além da segunda-feira. Quando o Chappan Bhog, que vende e Mahoba. Preparadas com
em frente do cinema Novelty, A sua clientela consiste de a noite chega, já não lhe maravilhosas doces e chaat. nafasat (requinte) que é quase
fregueses regulares para quem é sobra nenhuma comida. Pode uma reverência e temperadas
Kachauri – uma merenda frita (em baixo) No bairro de China Gate, ao com sabores, condimentos e
obrigatório comer um prato de concorrer com qualquer cadeia
e a preparação de uma chávena de chá fim da Avenida de Mahatma tabaco (para os que querem),
(à direita). batasha (gol gappa no Punjab/ multinacional! Fora do bairro do
Gandhi, na sombra dos famosos

Siddarth Kak
perfumada com água de
restaurantes «Gemini» e «Clark’s rosas e gulkand (folhas de
Awadh» encontra-se a comida de rosa marinadas num xarope
Lucknow. Ainda que a comida de açúcar), é oferecida aos
é quase toda à base de carne é clientes com a maior graça.
as variações. Esse banquete não
um óptimo lugar para saborear Os habitantes da cidade não
é completo até provar a enorme
a comida da rua de Lucknow. O dormem sem visitar a sua loja
gama de pães como o tandoori
aroma de frango com kalimirch preferida de paan, que às vezes
roti, roomali, kulche, bhature
(pimenta negra) mistura-se com pode ser bem longe da sua casa.
taftan, phulke, parathas, laccha,
o perfume de coentros frescos
varki, pooris e naans... a lista é Não me admiro que um poeta
e as sementes de cominhos nas
interminável. uma vez disse:
lentilhas. Os aromas de dum
pukht biryanis, costeletas, tikkas, Muskuraiye Ki Aap Lucknow Aye Shehar-e-Lucknow tujhe
mussallam, rogan josh, kebabs, Main Hain (Sorria, agora mera Salaam hai;
frango marinado e assado até está em Lucknow!) é o lema Tera hi naam doosra Zannat ka
a perfeição, butter chicken e da cidade. Para ter o sorriso naam hai...
muitas outras especialidades perfeito é necessário acabar uma (Ó Lucknow, saúdo-te por ser
Anil Mehrotra

Siddarth Kak

chamam a atenção, juntamente refeição com um paan (bétele) um outro nome para Paraíso)
com peixe chatpati, kali dal é há inúmeras lojas de paan, ◆
(lentilhas), paneer kali mirch e cada uma a loja preferida de O autor é um conhecido escritor de viagens.

ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 48 ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 49


entendimento para expandir no Bangladesh e Agartala na o Bangladesh, Nepal e o Butão.
a cooperação no sector de Índia. Também decidiram Sheikh Hasina concordou abrir
electricidade, que vai incluir designar Ashuganj no Bangladesh os portos de Mongla e Chittagong
construir ligações entre as duas e Silghat na Índia como portos no Bangladesh para mercadorias
redes. comerciais. indo à Índia, ao Nepal e ao Butão.

Assinalando uma nova A reciprocar a amizade que A amizade foi bem visível no
cooperação numa área que recebeu da Índia e os seus banquete que o primeiro-ministro
foi um obstáculo nas suas esforços para inaugurar uma nova indiano, Dr. Manmohan Singh
relações no passado, os dois época nas relações bilaterais, organizou para a líder do
países assinaram três acordos Sheikh Hasina disse que o Bangladesh. Os convidados,
sobre a assistência legal território de Bangladesh não seria especialmente os do estado de
mútua para assuntos criminais, usado para actividades contra a Bengala, louvaram o delicioso
uma transferência mútua de Índia pelos rebeldes dos estados peixe hilsa pescado no rio Padma
prisioneiros que já foram julgados do nordeste. Todavia, é claro que no Bangladesh.
e cooperação na luta contra o há muito trabalho a fazer na área Sheikh Hasina falou com emoção
Um vislumbre do passado: a falecida primeira-ministra da Índia Indira Gandhi caminha com terrorismo internacional, o crime da segurança, embora o primeiro sobre os 6 anos que passou no
o fundador do Bangladesh, Sheikh Mujibur Rahman, num jantar em sua honra em Abril de organizado e o narcotráfico. passo já foi feito.
1974, um ano antes do que foi assassinado com vários membros da sua família. Trinta e seis exílio na Índia quando o seu pai,
anos mais tarde, a sua filha, Sheikh Hasina, visitou Nova Deli como primeira-ministra para o lendário líder Bangabandhu
fortalecer as relações com a Índia. Os dois lados fizeram passos Como sinal da transformação
Sheikh Mujibur Rehman, foi
importantes para melhorar a nas relações, a Índia também
assassinado em 1975.
conectividade, incluindo uma aprovou uma exigência de Dhaka
Uma nova época nas relações entre decisão para começar uma a permitir trânsitos de transportes «A sua visita vai abrir um novo
ligação ferroviária entre Akhaura ferroviários e rodoviários entre capítulo nas nossas relações»,
a Índia e o Bangladesh A primeira-ministra da República Popular do Bangladesh, S.E. Drª Sheikh Hasina, a inspeccionar uma guarda de honra durante a recepção
cerimonial no palácio presidencial em Nova Deli no dia 11 de Janeiro de 2010.
MANISH CHAND

N o meio do frio do inverno em Deli, a Índia e o Bangladesh


inauguraram uma nova primavera nas suas relações bilaterais.
Inspirando-se nos temas de unidade nas obras de Rabindranath
Tagore e Kazi Nazrul Islam, os dois poetas icónicos do sub-continente,
o primeiro-ministro indiano Manmohan Singh e a líder de Bangladesh
Sheikh Hasina Wajed tomaram medidas pioneiras no dia 11 de Janeiro
para aproximar os seus dois países na tarefa comum de lutar contra
o terrorismo e construir um novo futuro ao redor de comércio,
transportes e o trânsito do território nacional.
Na primeira visita de estado à Índia em 2010, o primeiro-ministro
indiano, Dr. Manmohan Singh anunciou uma linha de crédito de
$1 bilhão para estimular a transformação económica do Bangladesh.
A ajuda podia ser crucial para as cada vez maiores necessidades de
Bangladesh de infra-estrutura e ajudar a Sheikh Hasina a realizar o seu
projecto intitulado «Visão 2021», que visa transformar o Bangladesh
num país com um rendimento médio até 2021.
A Índia também concordou fornecer 250 MW de electricidade através
da sua rede central e os dois líderes assinaram um memorando de

ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 50 ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 51


disse o Dr. Manmohan Singh, Segundo Wahiduddin Mahmud,
enfatizando uma maior professor de economia na
colaboração para lidar com «os Universidade de Dhaka, a
desafios comuns das mudanças importância desta vista não
climáticas e assegurar comida, se restringe «ao número e aos
água e energia para os nossos acordos que foram assinados;
povos». muito mais importante é a
A visita de quatro dias da Sheikh expressão de uma vontade
Hasina à Índia tinha um impacto política para a cooperação».
substancial e um ambiente Hiranmay Karlekar, um perito
amigável. nos assuntos do Bangladesh e
As relações bilaterais melhoraram o autor do livro Bangladesh: O
muito desde que Sheikh Hasina Novo Afeganistão?, louvou os
e os seus aliados seculares resultados da visita de Sheikh
ganharam as eleições em Hasina, mas afirmou que não
Dezembro de 2008. havia espaço para a complacência
se os dois países quisessem que
esse processo de ganhos mútuos
A primeira-ministra da República Popular fosse duradouro.
do Bangladesh, S.E. Drª Sheikh Hasina,
com o primeiro-ministro indiano, S.E. Ao tomar passos firmes para
Dr. Manmohan Singh (à direita) e durante
as discussões entre as delegações em
tratar de assuntos como o
Nova Deli no dia 11 de Janeiro de 2010. terrorismo, comércio, trânsito,
A presidente da Índia, S.E. Drª Pratibha Devisingh Patil, a apresentar o Prémio de Indira Gandhi para a Paz, o Desarmamento e o
Desenvolvimento para 2009 à primeira-ministra da República Popular do Bangladesh, S.E. Drª Sheikh Hasina,
em Nova Deli no dia 12 de Janeiro de 2010. O primeiro-ministro indiano, S.E. Dr. Manmohan Singh, e a líder da UPA,
Drª Sonia Gandhi, também são visíveis na fotografia.

transportes e a partilha das águas Cabs, juntamente com o grupo Mas os dois arquitectos principais
dos rios fronteiriços a Índia e o Tata, está a planear um serviço desta transformação descreveram
Bangladesh estão a escrever um de transportes com 20.000 táxis a visita melhor. Sheikh Hasina
novo capítulo nas suas relações em Dhaka. disse que para além de trabalhar
bilaterais. para conseguir criar um «Sonar
A imprensa no Bangladesh
Bangla» (a «Bengala Dourada» da
Na área de comércio e economia, louvou a visita.
história, com um país próspero)
a abertura dos postos de fronteira «Os primeiros-ministros Sheikh ia tentar promover uma paz
de Demagiri-Thegamukh, Hasina e Dr. Manmohan Singh duradoura na Ásia do Sueste.
na fronteira de Mizoram, foram inspirados por mais
Sabroom-Ramgarh na fronteira Acrescentou o Dr. Manmohan
que mera diplomacia ao tratar
de Tripura Border e feiras Singh: «Esta visita de facto abriu
das relações bilaterais entre o
fronteiriças nas fronteiras de um novo capítulo nas relações
Bangladesh e a Índia», disse o
Meghalaya vão dar um ímpeto entre a Índia e o Bangladesh,
Financial Express.
económico para os estados do reflectindo uma autêntica união
A cimeira entre os dois países de mentes e corações».
nordeste na Índia. ◆
«reflecte a maturidade para tratar
(Fonte: O serviço indo-asiático de
O Grupo Bharti da Índia já de assuntos sensíveis, que são notícias - IANS)
propôs um investimento de $ 300 vitais para os interesses mútuos
milhões para construir uma rede dos dois vizinhos», disse o
de telecomunicações e Meru Daily Star no seu editorial.

ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 52 ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 53


engenharia, sustentada por cabos, que marcou uma nova época na
A ponte entre Bandra e Worli em Bombaim Índia da consolidação de infra-estruturas no país.

UMA MARAVILHA DE ENGENHARIA A sua construção demorou dez anos e essa ponte, que foi
inaugurada há pouco, usou quase 40.000 toneladas de aço e 90.000
Texto: QUAID NAJMI toneladas de betão e pesa 270.000 toneladas. Foi feito a um custo
Fotografias: N.K. SAREEN de $327 milhões. A estrada de alta velocidade tem oito faixas para
veículos. A estrada ergue-se nove metros em cima da superfície da

E rgue-se a partir das águas azuis, com as suas duas torres


principais embrulhadas pelas nuvens da monção, e estende-se
para 5,6 quilómetros para ligar dois bairros principais da cidade
de Bombaim, o centro comercial da Índia, através das águas do
Mar Arábico. A primeira ponte aberta no mar na Índia, o seu nome
água, apoiada em duas torres principais, cada uma equivale a um
prédio de 43 andares, com 180 suportes de aço para suster a ponte
contra as ondas do mar bravo.
As duas torres principais ligadas aos cabos que apoiam a ponte
oficial é Rajiv Gandhi Bandra-Worli Sea Link. É uma maravilha de erguem-se para formar um gigantesco mas perfeito namasté, uma
saudação tradicional indiana. com uma portagem entre 50 ($1) S.M. Sabnis, da Direcção
Também tem duas pontes de e 100 rupias ($2), dependendo das Estradas do Estado de
cabos, a no lado norte mede da dimensão do veículo. Maharashtra (MSRDC) ficou
500 metros e a outra, ao sul, emocionado com os louvores
Apesar da portagem, os
mede 350 metros, para permitir que chegaram de todo o país.
habitantes da cidade estão muito
que os navios de pesca possam
contentes com essa maravilha «Fizemos o nosso melhor e
passar por baixo.
de infra-estrutura que sai um estamos muito felizes que toda
A ponte – que foi concebida quilómetro longe da costa e a gente gostou. Aumentou a
em 1963 – incorpora alguns reduz tanto o tempo passado ao confiança de toda a minha
dos sistemas mais modernos volante. equipa», disse Sabnis.
de segurança, incluindo olhos
Os residentes da cidade que Sabnis disse que essa nova
electrónicos em cima e em
passearam pela nova ponte no ligação entre a cidade no sul
baixo.
dia da sua inauguração, com as da ilha e os subúrbios ao norte
O projecto envolveu cerca de ondas do Mar Arábico em ambos podia durar mais que um século,
3.000 profissionais de 11 países, os lados, voltaram sem palavras. se for mantido bem.
incluindo a China, o Egipto, a
«Foi uma experiência fantástica, Também afirmou que a ponte
Singapura, a Tailândia e até a
muito melhor do que foi construída para se aguentar
Sérvia e a Suíça.
imaginámos. É muito agradável, mesmo durante intensos
Todavia, para além dos números é como se a cidade fosse terramotos e ventos de mais
e a perícia técnica, essa ponte renovada», disse Venkat Iyer, um que 125 quilómetros por hora, o
facilitou as vidas de milhões gestor profissional. máximo que se encontra nesse
de habitantes da cidade de litoral.
Bombaim, ao reduzir o tempo «Nasci nesta cidade, vi-a a
crescer durante as passadas Mesmo as ondas mais altas
passado na estrada.
quatro décadas. A ponte alguma vez registadas, de até
A distância entre Bandra, nos é espantosa, as estradas seis metros, não interrompia o
arredores, e Worli, no centro lindas em ambos lados, a movimento do trânsito na ponte,
da cidade, é oito quilómetros e vista desta grande cidade…é explicou Sabnis.
precisavam-se de 60-90 minutos impressionante», disse Nigam R. Sabnis e a sua equipa agora
para a percorrer durante a hora Pandya, um consultor financeiro. estão a trabalhar para completar
de ponta. Hoje em dia essa
Pratap S. Bohra, um homem o restante 20% do trabalho,
distância é percorrida em 6-8
de negócios que mora no nas restantes quatro faixas
minutos.
subúrbio de Juhu, disse que da estrada. «Depois disso, o
Eliminando 23 semáforos que movimento do trânsito vai
ele tinha deixado de ir ao seu
actualmente existem entre melhorar ainda mais, com
escritório na baixa, em Nariman
esses dois bairros, é uma nova oito faixas a funcionar a plena
Point, devido ao tempo que
alternativa à estrada de Mahim, capacidade», disse.
desperdiçava no trânsito. ◆
onde o trânsito já ultrapassa
(Fonte: O serviço indo-asiático de
os 1,4 milhões de veículos «Ouvimos tanto sobre esta ponte. notícias - IANS)
por dia, causando grandes Agora que está pronta, estou a
engarrafamentos, especialmente pensar seriamente voltar ao meu
durante as horas de ponta. escritório no sul de Bombaim»,
diz Bohra.
As autoridades esperam que
cerca de 150.000 veículos vão O engenheiro principal
usar a nova ponte todos os dias, encarregado com o projecto,

ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 56 ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 57


Os automóveis

DESENHADOS PARA GANHAR encorajá-los e se transferirem


para a Índia.
I V Rao, o director de engenharia
Suzuki e fazíamos os testes e o
desenvolvimento aqui. Tínhamos
poucos desenhadores com
também visitaram a Índia em
recentes meses, trabalhando
com os gerentes das empresas
ANNAMMA OOMMEN experiência e assim foi difícil principais indianas na área dos
de MSIL, teve êxito na sua
missão – oito engenheiros executar novos projectos». automóveis. Esses desenhadores
A indústria indiana de automóveis está a atrair talento de Detroit, especialistas no têm a perícia na área de design
Os novos desenhadores
global na área de desenho, na medida em que as principais desenho, modelação e estilo dos e da fabricação de modelos no
internacionais iam ajudar a
empresas estão a contratar desenhadores estrangeiros automóveis e o desenvolvimento sector dos híbridos, motores e
empresa a formar desenhadores
e fabricação dos motores já foram sistemas de transmissão.
para lhes ajudar a lançar uma gama de novos modelos dentro da empresa e transferir os
contratados pelo MSIL. Alguns conhecimentos, acrescentou Rao. Há pouco, Bajaj Auto, a empresa
enquanto algumas empresas indianas gigantescas dos engenheiros e desenhadores gigante que domina o mercado
nesse sector já adquiriram empresas internacionais de dos EUA são de origem indiana e Outras empresas indianas de
de veículos de duas rodas,
desenho de automóveis. estavam contentes aceitar a oferta automóveis, incluindo Tata
contratou Edgar Heinrich de
da Maruti. Motors, Mahindra & Mahindra,
BMW Motorcycles para chefiar o
Bajaj Auto e Royal Enfield,
Segundo Rao, o talento seu departamento de design. «O
também estão a falar com
internacional de design que a mundo já percebeu que houve
desenhadores internacionais na
empresa contratou vai ajudar a uma mudança fundamental na
área de veículos na medida em
Maruti a lançar novos modelos indústria indiana de automóveis,
que estão a lançar programas
inovadores e também a ajudar onde os desenhos modernos
ambiciosos para expandir as suas
a treinar os seus engenheiros. desempenham um papel vital»,
capacidades de desenho.
«Desde muito tempo, tínhamos afirma Heinrich. A empresa é
recursos limitados», realça Rao. Muitos desenhadores baseada em Pune e já lançou
«Recebíamos novos desenhos de internacionais de automóveis uma gama de novos motocicletas

O sector de automóveis na Índia é cada vez maior e está sempre


à procura de talento internacional no sector de design,
com várias empresas principais a contratar desenhadores e
engenheiros de diferentes partes do mundo em recentes meses.
Ao contrário dos EUA, onde a indústria de automóveis está a enfrentar
uma crise, na Índia a indústria dos veículos de quatro e duas rodas
está em pleno crescimento com vendas recordes no ano financeiro
de 2009-10. Os melhores profissionais, incluindo desenhadores,
engenheiros e investigadores, que vêem uma grande potencial para
crescimento no sector dos automóveis na Índia, estão dispostos a se
transferir ao país para trabalhos de média e longa duração.
Um dos gerentes de Maruti Suzuki India Ltd (MSIL), a maior
empresa a fabricar carros no país, esteve em Detroit este ano,
a encontrar-se com desenhadores e engenheiros em Motown, a

ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 58 ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 59


Sullivan, a nova ênfase no papel
do design reflecte a determinação
das empresas indianas de
automóveis a penetrar os
mercados globais.
COM O GRANDE
PRÉMIO X NA SUA MIRA A mudança no cenário global de
fabricação de automóveis, depois
a desaceleração nos EUA e na

T ata Motors, que


surpreendeu a indústria
global de automóveis quando
para além de assegurar
óptimos níveis de satisfação
da parte dos consumidores.
porque o actual consumo de
petróleo não é sustentável
e porque as emissões dos
Europa, também desencadeou um
êxodo de cérebros no inverso,
com muitos desenhadores a
lançou o Nano, entrou na automóveis contribuem procurar trabalho na Índia e na
«Entrámos neste concurso com
nova lista mais curta de 43 significativamente ao China. Pininfarina, a lendária
esta visão, com o modelo empresa italiana de design dos
equipas a competir para o aquecimento global e as
Indica Vista EV-X na classe automóveis, estava à procura
Prémio X para Progresso no mudanças climáticas».
alternativa», diz uma nota da de um investidor para salvar
Sector dos Automóveis. A entidade que está a
imprensa da empresa. a empresa durante a recente
Havia quase cem equipas na organizar o concurso, a crise económica. Na altura,
lista original dos concorrentes O concurso visa inspirar uma Fundação do Prémio X, é havia boatos que uma empresa
para o prémio, que vale nova geração de veículos também conhecida pelo seu indiana de automóveis ia adquirir
$10 milhões – incluindo viáveis e eficientes que Prémio Ansari X, que resultou a empresa mas hoje parece
fabricantes famosos e até oferecem mais alternativas aos no primeiro voo particular no pouco interesse no negócio
estudantes de engenharia da consumidores. O prémio de espaço num veículo com uma visto que muitos dos melhores
Universidade de Cornell – $10 milhões vai ser atribuído tripulação, há cerca de cinco desenhadores já se demitiram da
que têm que desenvolver a às equipas que ganham
um concurso para veículos
anos. A fundação também para enfrentar o desafio das
empresas internacionais,
« empresa.
próxima geração de veículos está a patrocinar concursos Tínhamos recursos limitados,
limpos, aptos para serem incluindo Harley-Davidson, que Os aspectos de design como
ecológicos. As equipas na área da genómica, dos recebíamos novos desenhos
fabricados, que excedem está prestes a entrar no mercado os protótipos e as maquetas de
entregaram uma lista de mais cuidados de saúde e de uma
que 50 veículos. 100 milhas por galão ou aterragem na lua. indiano. de Suzuki e fazíamos os testes argila, que habitualmente eram
o equivalente energético e o desenvolvimento aqui feitos na França, no Reino Unido
Tata Motors, que sempre foi «As equipas e os veículos e na Itália, estão agora feitos por
na vanguarda da inovação,
(MPGe). A ênfase principal
está na eficácia, na segurança, representado neste grupo (de
Royal Enfield contratou Venki
Padmanabhan este ano como
» muitas empresas de automóveis
acredita que é o espírito 43 concorrentes) são os mais o director para o design e I V Rao, na Índia. Tanto as empresas
no preço e no ambiente. Director, MSIL
de «questionar aquilo que viáveis no nosso concurso e para o desenvolvimento de nacionais com as internacionais
nunca foi questionado» «A ideia é desenvolver acreditamos que, juntamente, produtos. Com um doutoramento estão a fazer grandes
que encorajou a empresa a carros verdadeiros, aptos vão ter um grande impacto investimentos na tecnologia e nos
na engenharia industrial da
participar no concurso. A para serem fabricados, no mercado dos automóveis», «Estamos a examinar a recursos humanos, nos centros de
Universidade de Pittsburgh,
empresa pretende desenvolver que os consumidores vão afirmou Peter Diamandis, CEO possibilidade de lançar modelos design na Índia.
Padmanabhan tinha trabalhado
carros que são mais eficientes querer comprar. Não são e Director da Fundação do com a equipa de engenharia electrónicos de injecção de Enquanto a GM e a Chrysler têm
em termos de combustível, projectos científicos o carros Prémio X. O nome da equipa avançada da General Motors nos combustíveis na Índia», diz centros de I&D em Bangalore, a
mais limpos em termos de hipotéticos», afirmam os que ganhou o concurso vai EUA, com a divisão dos carros da Padmanabhan. A Royal Enfield Renault tem um centro de design
emissões e que tenham um organizadores do concurso. ser anunciado em Setembro Daimler Chrysler Mercedes e foi espera vender cerca de 50.000 em Bombaim. Para além de
impacto mínimo no ambiente, «Este progresso é necessário de 2010. o antigo diretor para a Ásia do motocicletas este ano. trabalhar nos projectos indianos
Sueste para as operações globais das respectivas empresas,
de aprovisionamento para a Segundo V G Ramakrishnan, essas unidades também fazem
Chrysler antes de ser contratado director do sector de automóveis trabalhos internacionais para a
pela Royal Enfield. e de transportação de Frost & sua empresa-mãe.

ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 60 ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 61


«O objectivo básico de estabelecer consolidação em todo o mundo «As sinergias resultantes dessa
um ateliê completo de design significa que uma modelação aquisição vão ajudar-nos a
na Índia foi de aprender dos moderna e de alta tecnologia dos fortalecer as nossas actuais
desenhadores indianos e do modelos de carros é o principal capacidades de design e também
mercado sobre os gostos e factor diferenciador. vão ajudar-nos a surgir como
as preferências locais», diz um agente dinâmico no sector
Jean-Philippe Salar, o principal As empresas indianas de de design dos automóveis, num
‘UM SONHO REALIZADO’ desenhador e chefe de Renault automóveis querem comprar contexto global», explica Pawan
PARA OS ENGENHEIROS E DESENHADORES DOS VEÍCULOS Design India. Segundo Salar, o empresas internacionais de
design para produzir produtos
Goenka, o presidente do sector
ateliê de design da Renault têm de automóveis de M&M. «As
16 funcionários e opera como contemporâneos, melhorar a I&D capacidades complementares
e ser mais competitivo em termos
M aruti Suzuki India Ltd,
o maior fabricante de
automóveis na Índia, vai
«As instalações em Rohtak vão
ser um grande avanço para
construir a capacidade de I&D
no sector dos automóveis».
O ambicioso orçamento
para o projecto de Rohtak
um satélite para o ateliê principal
em Paris. «Nos últimos 30 meses,
este ateliê já completou projectos
globais através de uma melhor
gestão de custos.
entre Mahindra e GRD vão
melhorar as suas capacidades
de desenvolver os produtos,
estabelecer uma enorme da Maruti Suzuki e isso vai realça a cada vez maior de design do início ao fim para o A Mahindra & Mahindra (M&M), assegurar uma presença sólida
instalação de I&D de permitir-nos oferecer produtos importância da Índia para o mercado indiano e agora é capaz uma das maiores empresas na Europa para a M&M para
tecnologia de ponta num superiores aos nossos clientes gigante japonês e o facto que de trabalhar nos projectos globais indianas no sector dos veículos alavancar as tecnologias e
recinto de 700 acres em no futuro também», afirma Maruti Suzuki está a revelar-se da Renault», acrescentou. de utilidade recentemente habilitações ao aceder a um
o principal centro de I&D comprou a empresa G.R. Grafica grupo de desenhadores e
Rohtak em Haryana. Essa Shinzo Nakanishi, Director Algumas das empresas
Ricerca Design Srl (GRD), uma engenheiros com muito talento».
nova instalação foi planeada e CEO da MSIL. Segundo para pequenos carros fora do principais da Índia no sector dos
como um centro global para a Nakanishi, o Dr. Osamu Japão, acrescentou. automóveis também começaram empresa italiana baseada em Na medida em que as
I&D para pequenos veículos Suzuki, diretor da Suzuki, a adquirir empresas globais de Turim que se especializa no capacidades dos fabricantes
O projecto de Rohtak também
e também vai fornecer prometeu há seis anos que a design. Uma série de parcerias desenho, engenharia, viabilidade globais no sector dos automóveis
é o primeiro numa série e modelação de automóveis. Com
serviços para o Suzuki Motor MSIL seria o pólo de I&D para com capital entre fabricantes se transferem à Ásia, as empresas
de grandes investimentos indianos e empresas globais essa aquisição, M&M pretende de design estão a estabelecer
Corporation (SMC) no Japão. toda a Ásia, fora do Japão. por MSIL, que transformou em recentes meses realçaram desenvolver um centro global escritórios na Índia para focar
Estima-se que o projecto de O governo do estado de o estado de Haryana num a importância deste aspecto da de design para o grupo e para nas operações nos bastidores,
Rohtak vai custar cerca de Haryana recentemente deu centro global de fabricação. indústria dos automóveis, na as empresas OEM no sector dos depois da fase das ideias. Muitas
$ 325 milhões. Vai ter uma a MSIL 700 acres de terra, Para o seu mais recente medida em que uma onda de automóveis em todo o mundo. empresas globais de design
instalação para os testes de que é um grande passo para modelo global, o «A-Star»,
acidentes, laboratórios para realizar esse projecto. O vasto SMC escolheu MSIL como a
avaliar as emissões, um recinto vai ter um parque única base de fabricação para
túnel de vento e testes de dedicado de 100 acres para as suas necessidades globais.
durabilidade, juntamente com os fornecedores. Espera-se A decisão de contratar os
a infra-estrutura para avaliar que as pistas para os testes desenhadores dos EUA para
os componentes. O projecto vão ser prontas durante a as suas instalações na Índia
de Rohtak vai aumentar as primeira fase, até 2012 e todas reflecte a confiança da MSIL
capacidades de Maruti Suzuki as instalações de I&D vão ser no sector de desenhar os
para desenhar e desenvolver completadas até 2015. carros para os mercados
veículos completos. A Maruti globais.
Suzuki está prestes a desenhar Segundo Nakanishi, o
um carro sozinho e lançar um projecto «vai ser um sonho
modelo indígena fabricado na realizado para os engenheiros
Índia até 2012. e os desenhadores indianos

ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 62 ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 63


também viram uma queda na
procura parcialmente devido
« – que foi estabelecido por
O mundo já percebeu que B V R Subbu, o antigo director de
ao facto que os fabricantes Hyundai Motors na Índia – afirma
houve uma mudança
À VELOCIDADE MÁXIMA de automóveis começaram a
desenvolver mais desenhos fundamental na indústria
que a empresa se posicionou
como uma empresa que fornece
dentro da própria empresa. Cada indiana de automóveis, serviços de design por contracto

A s vendas dos automóveis


na Índia dispararam
dramaticamente em meses
Fiat, BMW e Audi vários novos
modelos em recentes meses.
em comparação a 990.000
unidades no mesmo período
no ano anterior.
vez mais empresas de design
estão dispostas a vender uma
parte da sua capital design na
onde os desenhos modernos
desempenham um papel vital
aos fabricantes dos protótipos.
Argentum estabeleceu uma
parceria com Dassault Systemes,
recentes, na medida em que
A venda global de veículos
– incluindo os carros, os Durante a primeira metade
esperança de ressuscitar os seus » uma grande empresa francesa de
os consumidores gastam para negócios. Edgar Heinrich, software, para fornecer soluções
veículos de duas e três rodas do ano fiscal de 2009-10 Director de design, Bajaj Auto a várias empresas na área de
comprar os novos modelos O design vai ser o factor de
e os veículos comerciais – (Abril - Setembro), as vendas formação.
lançados pelos fabricantes. diferenciação no ambiente
expandiram 10% em Setembro totais dos veículos cresceram
Segundo a Associação dos de 2009, para alcançar 14,51% para alcançar 5,78 globalizado, visto que o Na medida em que a indústria
desempenho, a qualidade da engenharia, os OEMs e os indiana de automóveis acelera
Fabricantes Indianos de 1,09 milhões de unidades, milhões de unidades.
e os custos estão cada vez fornecedores vão estabelecer e entra na via rápida, os
Automóveis (SIAM), as vendas
mais semelhantes. Diz Arun centros de design na Índia e em aspectos de design, investigação
de automóveis cresceram 21%
Jaura, director, I&D, Eaton outros mercados emergentes». e desenvolvimento vão ser
em Setembro de 2009 para NA VIA RÁPIDA Corporation, um grupo industrial uma parte proeminente da sua
alcançar 129.000 unidades, Acrescenta Dilip Chhabria,
Segmento Abril-Set ‘08 Abril-Set ‘09 % variação
diversificado: «Os OEMs indianos estratégia global para surgir como
em comparação com as director, DC Design: «A actual
estão dedicados a construir as um líder mundial.
107.000 unidades vendidas em Veículos para passageiros 779.217 884.118 13,46
tendência dos OEMs indianos ◆
suas capacidades e a aquisição
Setembro de 2008. Treze dos a adquirir as capacidades (Fonte: A Fundação Indiana da Brand
Veículos comerciais 221.685 220.529 -0,52 de empresas de design nas Equity)
16 fabricantes de automóveis de vanguarda é mais como
economias desenvolvidas parece
registaram um aumento nas Veículos de três rodas 184.934 207.809 12,37 offshoring.”
ser o caminho mais rápido
vendas durante o mês. para atingir esse fim. Com uma S D Pradhan, director de
Veículos de duas rodas 3.864.443 4.470.464 15,68
Os fabricantes principais, escassez de talento no sector Argentum Engineering Design
Total 5.050.279 5.782.920 14,51
incluindo Maruti Suzuki, Tata
Fonte: Associação dos Fabricantes Indianos de Automóveis (SIAM)
Motors, Mahindra & Mahindra,

ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 64 ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 65


O centenário do
Instituto Indiano de Ciência Jamsetji Nusserwanji Tata O rei de Mysore, Krishnaraja Wodeyar IV Morris W Travers

P. BALARAM depois de chegar no dia 31 de Bangalore, doados pelo rei eléctricas. O primeiro director,
Dezembro de 1898 foi receber de Mysore em Março de 1907. Morris W Travers, começou a

O Instituto Indiano de Ciência (IISc) foi concebido em 1896


como um instituto de investigação ou universidade de
investigação por Jamsetji Nusserwanji Tata, ao fim do século
XIX. Um longo período de quase treze anos passou até que o
instituto foi inaugurado no dia 27 de Maio de 1909. A história do
uma minuta da proposta da
comissão que foi criada para
planear o estabelecimento
do instituto. O plano passou
Aliás, a contribuição do reino
de Mysore foi um elemento vital
na decisão sobre a localização
do instituto. Num gesto
tarefa de organizar o instituto
depois de chegar na Índia
ao fim de 1906. Travers
começou a construção do
por várias etapas ao longo de extraordinário, sem precedentes edifício principal, que é uma
instituto é um capítulo fascinante na história da educação superior referência em Bangalore hoje
muitos anos difíceis e Burjorji na história da filantropia privada
e da investigação científica na Índia. As personagens do drama em dia. Os departamentos de
Padshah, um grande amigo na Índia, Tata não quis que o
que acabou no estabelecimento do instituto incluem, para além química orgânica e bioquímica
de J.N. Tata, foi encarregado instituto tivesse o seu nome!
do seu fundador generoso, J.N. Tata, várias figures das páginas da foram entre os primeiros
com a supervisão do projecto. O seu sonho era criar uma
história da Índia. Há o Swami Vivekananda, que ficou um amigo departamentos a serem
Infelizmente, J.N. Tata morreu instituição que podia contribuir
de J.N. Tata na sua famosa viagem aos EUA, o rei de Mysore, Shri organizados. O departamento
em 1904 sem saber que a para o desenvolvimento da
Krishnaraja Wodeyar IV e a sua mãe, que reinava no seu lugar, de física foi fundado em 1933,
sua visão ia se concretizar Índia. O nome que foi escolhido
e o Lorde Curzon, o então vice-rei da Índia, cuja primeira tarefa quando C.V. Raman foi o
alguns anos mais tarde. – o Instituto Indiano de
Quando o governo britânico Ciência – reflecte esse desejo de primeiro director indiano do
emitiu a ordem decretando a J.N. Tata. Todavia, pessoas que instituto. Neste século da sua
sua fundação em 1909 uma visitam Bangalore à procura do história, o IISc cresceu para se
experiência sem precedentes no instituto muitas vezes perguntam transformar no centro principal
sector da educação superior e da aos residentes da cidade onde da Índia para a investigação e a
investigação começou na Índia. fica o «Instituto Tata», mostrando educação superior nas áreas da
O IIsc é sem dúvida o primeiro claramente que o acto de engenharia e das ciências. Várias
exemplo de uma parceria generosidade de Jamsetji Tata novas áreas de investigação
pública-particular neste país. A continua vivo na memória do foram estabelecidas, muitas
sua evolução ao longo de um povo, apesar da passagem de delas pela primeira vez na
século testemunha às suas raízes um século. Índia. Os departamentos do
robustas. IISc abrangem sectores desde
O IISc começou com apenas a bioquímica até a engenharia
O instituto situa-se em cerca dois departamentos: a química aeroespacial e serviram para
de 400 acres de terreno em geral e aplicada e as tecnologias promover a investigação e

ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 66 ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 67


o desenvolvimento tanto iniciada no IISc. Muitos a indústria enquanto o Centro
no sector público como dos cientistas mais famosos para a Educação Contínua (CCE)
no privado. A faculdade da Índia são associados dá oportunidades aos cientistas e
e os alunos do instituto com o IISc como alunos e engenheiros a melhorar os seus
estabeleceram e lideraram professores. Esses nomes conhecimentos académicos. O
muitas novas instituições e incluem G.N. Ramachandran, programa de bolsas para jovens
novos programas em todo o Harish Chandra, S. Ramaseshan, cientistas visa atrair jovens
país, representando um grande A. Ramachandran, C.N.R Rao alunos ao instituto durante os
e genuíno desenvolvimento. e R. Narasimha. Hoje em dia, meses do verão. O instituto
Homi Bhabha concebeu a ideia os antigos alunos do IISc também administra o programa
do Instituto Tata de Investigação são os directores de muitas de Kishore Vaigyanik Protsahan
Fundamental (TIFR) e o organizações importantes, tanto Yojana (KVPY) do Departamento
Programa de Energia Atómica na Índia como no estrangeiro. Nacional da Ciência e da
enquanto trabalhava no IISc Tecnologia (DST), que visa
no departamento de física. O instituto oferece uma encorajar os alunos das ciências
Vikram Sarabhai, o fundador variedade de mestrados na área básicas, da engenharia e da
do programa espacial da Índia da engenharia, um programa medicina a seguir uma carreira
estudou no IISc também. integrado (pós-B.Sc.) na de investigação nessas áreas.
Depois da sua morte prematura, ciência e doutoramentos numa A sua dedicação à investigação
O laboratório de química estrutural de estados sólidos.
a Organização Indiana de grande variedade de disciplinas que é socialmente relevante
Investigação Espacial (ISRO) foi nos sectores da ciência e é bem visível nas actividades
em curso, graças a um subsídio fronteiras tradicionais entre as
criada sob a liderança visionária da engenharia. Os seus do Centro para as Tecnologias
concedido pelo governo da disciplinas, assim promovendo
de Satish Dhawan, que também laboratórios de investigação Sustentáveis (CST), em
Índia em 2006. O instituto a investigação transdisciplinares.
serviu como o director do IISc. têm o equipamento de ponta. colaboração como o Conselho
recebe centenas de visitas da O instituto também começou um
O primeiro Instituto Indiano de Muitos centros nacionais estão do Estado de Karnataka para a
Índia e do estrangeiro todos os programa M. Tech nas ciências
Tecnologia (IIT) em Kharagpur albergados no IISc. A sua Ciência e a Tecnologia (KSCST),
anos e é o palco de diversos climáticas e estabeleceu novos
foi estabelecido por J.C. Ghosh, biblioteca e infra-estrutura que é situado dentro do recinto
eventos académicos nacionais e centros nas áreas das ciências
que foi o director do IISc no de informática são entre as do IISc.
internacionais. da terra, as mudanças climáticas
período crucial de 1939-48, melhores da Índia. Um grande A evolução do instituto ao
e a neurociência. O IISc espera
quando muita actividade programa para modernizar os A face da investigação nas áreas longo dos últimos cem anos
promover vigorosamente a
no sector da engenharia foi laboratórios está actualmente da ciência e da engenharia acompanhou o desenvolvimento
investigação interdisciplinar
tem mudado rapidamente e colaborativa nos próximos da ciência e da tecnologia na
O laboratório de engenharia aeroespacial.
em recentes anos. Na medida anos e também pretende Índia. A sua longa história, a sua
em que o instituto começa o promover a investigação de longa tradição de investigação
segundo século da sua história, pós-doutoramento nas áreas da académica e um ambiente
iniciou muitas novas actividades. ciência e da engenharia. que favorece as actividades
As mais notáveis são os académicas foram elementos
programas de doutoramentos O instituto promove uma importantes em assegurar que
interdisciplinares nas ciências interacção com a sociedade o instituto é ainda hoje em dia
matemáticas, a biologia química, e com a indústria através de um centro principal nessa área
as ciências dos sistemas uma variedade de programas. e atrai os melhores alunos e
terrestres, a nano ciência e O Centro para a Consultoria professores.
a nano tecnologia e a nano Científica e Industrial (CSIC) e ◆
O autor é o director do IISc em Bangalore.
engenharia para os sistemas a Sociedade para a Inovação
integrados. Esses programas são e o Desenvolvimento (SID)
desenhados para eliminar as promovem as colaborações com

ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 68 ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 69


Uma única experiência
na medicina remota
A diagnóstica remota na área de medicina oftalmológica
traz nova esperança para prevenir a cegueira infantil na
Índia rural.

H oje em dia, a retinopatia


das crianças prematuras
(ROP) é uma causa
principal de cegueira nas
tratar essas crianças é um desafio
impossível, especialmente nas
áreas rurais.

Para ajudar a tratar deste assunto


crianças. Segundo a OMS, países
de rendimentos médios como o Instituto Oftalmológico
a Índia estão no meio de uma Narayana Nethralaya, um dos
terceira epidemia de ROP. centros principais nessa área,
situado na cidade de Bangalore,
Os números falam por si. A Índia desenvolveu uma experiência
regista mais que 27 milhões singular nos serviços remotos ao
de nascimentos vivos todos longo de dois anos. O projecto
os anos e mais que 8,4% são chama-se “KIDROP” (Karnataka
bebés prematuros com pesos State Internet Assisted Diagnosis
de menos que 2 quilos. Até of ROP).
47% desses bebés prematuros
e de baixo peso estão em risco Sob a liderança do Dr. Anand
de ter a ROP e ficar cegos. Até Vinekar, que é o director do a «retcam») para identificar esses tratamentos são feitos sem custos «Estamos num processo de
15% deles podiam precisar de departamento pediátrico das bebés prematuros e armazenar, ou com custos baixos. Há pouco, expandir. Alguns outros estados
tratamento. Com menos que 300 doenças da retina, técnicos tratar e analisar essas imagens. a Missão Nacional para a Saúde na Índia e alguns países na África
cirurgiões especializando-se na treinados viajem em 7 distritos Usando um portal na internet nas Zonas Rurais (NRHM) apoiou e na Ásia do Sueste já querem
retina e menos que 20 cirurgiões do estado de Karnataka com uma desenvolvido na Índia para tratar esse projecto, para que possa implementar o nosso modelo»,
pediátricos especializando-se máquina fotográfica para observar ROP remotamente, os técnicos alcançar mais seis distritos em disse o Dr. Anand Vinekar.
na retina no país, identificar e a retina infantil (conhecida como conferiram com peritos em Karnataka.
Com cada vez maiores taxas
outros lugares, validando um
Desde 2009, com a ajuda de de sobrevivência dos recém-
modelo singular que eliminou
uma empresa indígena, i2i nascidos, os bebés que nascem
a necessidade para ter peritos
Tele-Solutions, as imagens nas zonas rurais e semi-rurais
presentes fisicamente em áreas
adquiridas nas zonas rurais correm o mesmo risco de
rurais.
agora estão recebidas numa desenvolver ROP que as crianças
Até agora, 2.100 bebés de mais aplicação de software desenhada urbanas. Neste momento este
que 20 centros de saúde para os especificamente para o projecto serviço remoto parece oferecer a
recém-nascidos, abrangendo uma no iPhone da Apple. Agora os melhor opção para cuidar desses
área de 350 quilómetros foram especialistas podem dar uma pequenos e preciosos cidadãos.

examinados. Desses, mais que diagnóstica em tempo real e Este artigo foi escrito à base das informações
230 já receberam tratamentos enviar um relatório através da fornecidas pelo Instituto Oftalmológico
Narayana Nethralaya em Bangalore.
com o laser que salvaram a sua rede GSM, assim reduzindo a
visão sem ter que levar o bebé dependência nas velocidades dos
á cidade. Mais que 80% desses serviços de internet.

ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 70 ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 71


O laboratório das células germinais, Narayana Nethralaya, Bangalore

IISc, Bangalore
Mukesh Ambani, os benefícios de sangue e problemas com as preservam essas células. Embora

As células germinais da tecnologia já chegaram a


milhares de pessoas.
Diz-se que as células germinais
células vermelhas.
Em recentes anos, mais que
10.000 pacientes em mais
ainda numa fase nascente,
os conhecimentos sobre o
sistema de conservar as células
PARA UM FUTURO SEM DOENÇAS são uma maneira natural de que 150 países foram tratadas
germinais do cordão umbilical
estão cada vez maior», afirma
reparar o corpo humano. As com transplantes das células
RICHA SHARMA Mayur Abhaya, o presidente e
células, que são recolhidas do germinais do sangue do cordão
director executivo de Life Cell
sangue do cordão umbilical umbilical. Actualmente, os
Visto que as terapias com as células germinais estão a durante o nascimento, cientistas estão a investigar o uso
International.
surgir como o tratamento do futuro, a Índia juntou-se a são os blocos básicos dos das células germinais para tratar «Para aumentar os conhecimentos
um pequeno grupo de nações que está a promover opções nossos sistemas imunitários e mais que 85 doenças. entre o povo sobre os seus
avançadas de cuidados de saúde. sanguinários e têm o potencial benefícios, a empresa já
A Índia está a acompanhar esses
para se transformar em qualquer estabeleceu parcerias com
desenvolvimentos.
tipo de células. Formam as várias associações ginecológicas

C omo todos os pais, Arvind


Tripathi, um professor
numa escola na cidade
indiana de Jaipur, quer oferecer
o seu filho, que está prestes
Vai juntar-se a 30.000 outros
pais na Índia que conservaram
o sangue umbilical das suas
crianças para lhe dar uma
células brancas que lutam
contra as infecções, as células
vermelhas que transportam o
oxigénio e as placas que ajudam
Embora não haja nenhuma
estimativa das dimensões do
negócio, o sector de bancos para
conservar as células germinais
no país. Também criamos
parcerias com hospitais no país
para contactas as grávidas e
aconselha-las cobre os benefícios
maneira de lutar contra as
o corpo a consertar-se. está a crescer rapidamente com de preservar o sangue do cordão
a nascer, um futuro livre de doenças genéticas, do sangue
empresas internacionais como umbilical», afirmou Abhaya.
doenças. Enquanto a Índia e do sistema imunitário para o As células germinais presentes
Cryo-Save, Cryo-Cell e Cryobank
segue o caminho de desenvolver resto das suas vidas. no cordão umbilical e na medula Estima que o sector está a
a abrir filiais em várias partes do
a tecnologia de ponta nos óssea podem gerar novas células expandir a 25-30% por ano.
país.
cuidados de saúde, esse Desde 2001, quando o primeiro durante toda a nossa vida. As Percebendo o enorme potencial
sonho impossível já está quase banco de células germinais na células germinais do cordão «Com uma alta taxa de para o negócio dos bancos para
ao nosso alcance e Tripathi Índia foi lançado na cidade umbilical foram usadas ao nascimento (43 milhões de as células germinais na Índia
pretende realizar o seu sonho ao de Madrasta por Reliance Life longo dos anos para tratar cada nascimentos por ano), a a empresa europeia Cryo-Save
preservar as células germinais do Sciences, hoje em dia parte do vez mais doenças, incluindo a Índia é um enorme mercado lançou as suas operações na
seu bebé. Grupo Reliance liderado por leucemia, tumores, problemas para o sector de bancos que Índia no Dezembro passado com

ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 72 ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 73


Tributo

ou transferidas a terceiros», diz


Abhaya. Na medida em que a
revolução das células germinais
ganha ímpeto na Índia os
O laboratório das células germinais, Narayana Nethralaya, Bangalore

investigadores também estão a


trabalhar numa terapia que tem o
potencial de mudar radicalmente
os tratamentos para as doenças
humanas.
O Centro para a Biologia Celular
e Molecular na cidade Sulina
de Hyderabad está a colaborar
com a faculdade de medicina
do Deccan Medical College para
investigar a utilização de células
germinais para tratar doenças
do fígado e com o instituto
oftalmológico L.V. Prasad Eye
Institute para cultivar as células
um investimento de cerca de as células durante toda a das córneas.
$206,000. vida do individual», explica
O Instituto Nacional das Ciências
V.R. Chandramouli, director de
Os kits para as células germinais Médicas (AIIMS) em Nova Deli
Cryo-Save na Índia.
– que incluem a recolha, está a desenvolver tratamentos
tratamento e armazenagem do As famílias que não tenham os usando as células da medula
sangue do cordão umbilical – fundos necessários na altura do óssea para tratar as feridas das
custam de cerca de $300 até nascimento podem depositar o vértebras, do coração, diabetes,
$15,000 dependendo do tipo de sangue do cordão num banco AVCs, doenças vasculares
facilidades a serem oferecidas. público e depois transferi-lo periféricas e certas doenças da
Embora não muito cara em para uso exclusivo. Os bancos superfície ocular.
termos relativos, é um preço
muito alto para a maioria dos
indianos. Para encorajar acesso,
as empresas estão a oferecer
públicos das células germinais
operam como os bancos de
sangue normais. Não custa nada
doar as células germinais ao
A faculdade de Medicina das
Forças Armadas (AFMC) na
cidade de Pune, na Índia
Leela Naidu
O ENIGMA CONTINUA...
ocidental, estabeleceu um
os seus serviços pagos por banco público e as células não dos maiores centros na Ásia
empréstimos através de um pertencem mais ao doador. Os Texto & fotografias: SMM AUSAJA
para a investigação nesta área.
plano de pagamento. utilizadores das células pagam Visto que a terapia das células
«Um casal que tem interesse em
preservar as células germinais
pode contactar a empresa dois
meses antes do nascimento. Os
por elas quando encontram
células compatíveis.

«Com um banco particular das


células germinais o cliente tem o
germinais vai ser o tratamento
do futuro, a Índia já juntou-se ao
resto do mundo para oferecer as
melhores opções de cuidados de
N ão há muitas actrizes que fazem um impacto permanente ao
fazer apenas poucos filmes durante a sua vida. Leela Naidu
tinha uma faísca que atraia atenção na indústria cinematográfica
– embora nunca esteve uma ‘estrela’ durante os anos 60. A sua carreira
foi lançada pelo lendário cinematógrafo Hrishikesh Mukherjee e Leela
saúde disponíveis.
nossos conselheiros falam com direito de aceder às células para ◆ fez poucos filmes. Apesar disso ela ganhou os corações dos seus
eles e orientam-nos durante o seu próprio uso ou para os (Fonte: O serviço indo-asiático de adeptos em todo o país e ainda hoje, décadas mais tarde, é uma actriz
notícias - IANS)
o processo. Depois de 21 membros da sua família, fazendo preferida. Nasceu em 1940, filha de um cientista nuclear Dr. Ramaiah
anos, vamos cobrar uma taxa um pagamento pontual. Essas Naidu (um nativo de Chittor no estado de Andhra Pradesh) e a sua
mínima anual para preservar células não podem ser vendidas mulher suíça Marthe (uma perita na cultura indiana). Leela adorava

ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 74 ÍNDIA PERSPECTIVAS VOL. 24 Nº 1/2010 75


a música e a sua mãe cantava e foi baseado no romance epónimo
tocava-lhe melodias em francês, de Ruth Jhabwala. Os seus
muitas vezes ao piano. Ela ouvia diálogos em hindi foram escritos
as canções em hindi e em inglês por Prayag Raaj e Satyajit Ray
na rádio. Quando tinha cinco compôs a música.
anos, apaixonou-se pela música
Leela trabalhou no filme
do compositor polaco Frederic
Baghi de Ram Dayal em 1964,
François Chopin. Começou a
contracenando com Pradeep
aprender o piano e foi uma das
Kumar – Vijya Chowdhry e
mais jovens alunas da Academia
Mumtaz também participaram
de Música em Genebra. Depois
nesse filme. Todavia, não foi
mudou-se pelo universo da dança
um êxito de bilheteira. Depois
e começou a aprender ballet
desse filme a sua carreira como
à idade de oito anos. Estudou
actriz começou a minguar. Teve
dança no Instituto Euritmico. Foi
um papel como actriz convidada
aí que foi filmada pela primeira Leela Naidu e Sunil Dutt em Yeh Raaste no filme Guru de Merchant-
vez à tenra idade de nove anos Hain Pyaar Ke, 1963, realizado por
R.K. Nayyar (em cima) e a capa da banda Ivory em 1969, o ano em que
durante as filmagens para um sonora de Anuradha (à direita). ela se casou com o escritor
documentário.
Dom Moraes, o seu amigo de
Em 1950 pisou o palco na peça actuação no papel principal infância. Anos mais tarde Leela
‘Leela – A alma que quis ser e o filme ganhou o prémio Naidu voltou ao cinema com
como os deuses’ na sua escola em nacional para melhor filme do um papel em Trikaal, um filme
Genebra. Um dos seus colegas ano. A sua música, pelo célebre brilhante do cinematógrafo
ficou tão impressionado com músico Pandit Ravi Shankar, Shyam Benegal, filmado em
o espectáculo que, anos mais ainda hoje encanta o público. O Goa. Mais uma vez Leela teve
tarde, deu-lhe um papel num seu próximo filme – Ummeed – uma actuação memorável nesse
dos seus filmes experimentais estreou em 1962. Foi uma obra filme, que ganhou dois prémios
‘O nascimento da alma’. Esse do lendário Nitin Bose. Aliás Bose nacionais. O último filme que
filme ganhou louvores no tinha tido um grande triunfo no ela fez foi Electric Moon de
festival de cinema de Cannes. ano passado com Gunga Jumna ‘K M Nanawati contra o Estado Pradeep Krishen em 1992. Fez
Leela continuou a fazer peças – um filme que é considerado a de Maharashtra’, que dominou poucos filmes durante a sua
de teatro em inglês e em francês sua melhor obra de sempre. Leela as manchetes em todo o país. carreira mas o impacto das suas
enquanto estudava na Europa, contracenou com Joy Mukherjee Embora as canções compostas actuações é tal que ainda é
enquanto viagens frequentes à e Ashok Kumar em Ummeed, por Ravi – ‘Yeh raaste hain pyaar respeitada e admirada como uma
Índia asseguravam que ela ficou enquanto o compositor Ravi criou ke...’ e ‘Yeh khamoshiyan...’ actriz formidável. Morreu em
em contacto com as suas raízes a música. foram muito populares, o filme Bombaim no dia 28 de Julho de
indianas. Em 1954, Leela ganhou não foi um grande êxito de 2009, deixando para trás óptimas
fama ao ganhar o título da Miss Leela acabou num divórcio e o decidiu dar-lhe o papel principal Naidu teve mais um papel bilheteira. No mesmo ano Leela memórias dos seus papéis para
Índia e foi nomeada uma das dez seu antigo marido conseguiu ter no seu próximo filme Anuradha, memorável em 1963 no filme actuou no filme de Merchant- os seus milhões de fãs.
custódia das suas filhas. Depois onde ela contracenou com Yeh Raaste Hain Pyaar Ke de Ivory intitulado The Householder, ◆
mulheres mais bonitas do mundo O autor é um historiador da indústria
na revista Vogue. Dois anos desse revés ela ficou fraca e Balraj Sahni. Foi assim que Sunil Dutt, pelo cinematógrafo onde desempenhou o papel de cinematográfica.
mais tarde, Leela casou-se com vulnerável e começou a estudar começou a sua carreira nos R K Nayyar. Esse filme deu-lhe uma esposa liberal com tamanha
Tilak Raj Oberoi, de 33 anos, o o espiritualismo sob o conhecido filmes de Bollywood, no ano de uma oportunidade para se dedicação que foi um dos seus
filho de Mohan Oberoi, dono da filósofo J Krishnamurti. 1960. Anuradha era uma história destacar no seu papel de uma melhores papéis de sempre,
cadeia de hotéis Oberoi. Tinham sensível que precisava de um esposa infiel. O filme, sobre um recebendo grandes louvores dos
filhas gémeas – Maya e Priya Hrishikesh Mukherjee viu uma toque maduro. Leela surpreendeu homicídio, foi inspirado por um críticos. O filme foi bilingue, com
Oberoi, mas o casamento de fotografia de Leela por acaso e os críticos com uma óptima processo famoso no tribunal diálogos em hindi e em inglês, e

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Os desportos tradicionais

HÓQUEI EM CAVALOS
em cavalos que geralmente medem por volta de 1,33-1,66 metros em
altura. Sete é um número sagrado para o povo de Manipur porque
representa os setes clãs ancestrais da população, cada jogador tem um
A TRADIÇÃO DE JOGAR PÓLO NO ESTADO DE MANIPUR taco de cana com uma pequena cabeça de madeira na extremidade
Texto: DEBABRATA BANERJEE que se usa para bater a bola. A bola tem uma circunferência de
Fotografias: DILIP BANERJEE 14 polegadas e é feita da raiz de uma planta de bambu. Os jogadores
têm que fazer a bola entrar no golo. É um desporto extremamente

O nome na língua de Manipur para este desporto é sagol kangjei


que traduz como «hóquei montado em cavalos». O jogo
tradicional joga-se com sete jogadores por equipa, montados
veloz e excitante. Joga-se em dois estilos – o pana ou o estilo original
do estado de Manipur e o estilo internacional, isto é o pólo como
se joga no resto do mundo. Os cavalos também são decorados com

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placas de metal para proteger
os seus olhos, cabeça e ancas,
etc. O campo de pólo em
Manipur mede 160 sana-lamjei
por 80 sana-lamjei, onde um
sana-lamjei equivale a 2 metros.
A duração do jogo depende
de um número de golos
estabelecidos antes do jogo, que
acaba quando uma das equipas
atinge esse número de golos.
Se os golos necessários não são
alcançados num dia então o jogo
continua no dia seguinte! Não há
nenhuns postos de golos no jogo
tradicional. Toda a linha do fundo
é um alvo. Também há poucas
regras no formato tradicional.
O árbitro, ou huntre hunba,
começa o jogo ao atirar a bola
no ar. Um jogador pode apanhar
a bola no ar, correr com ela e
bater nela para fazer um golo.
Um jogador pode levar a bola do
chão até as suas mãos e depois
batê-la com o taco para fazer
um golo. Algumas regras foram
introduzidas pelo rei Churachand
Singh em 1928, proibindo cruzar
em frente de outros jogadores
e apanhar os tacos dos rivais
quando em cima do seu cavalo.
Embora o patrocínio real do
desporto já acabou, ainda se joga
na sua forma tradicional. Hoje
em dia há mais que 30 clubes
de pólo em Manipur e cada jogo
atrai multidões de pessoas, que
vem de todos os cantos do estado
para ver um jogo no campo
imperial de pólo em Imphal, a
capital.

O autor é um conhecido escritor.

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As plantas sagradas na tradição indiana
PRAN NEVILE

Desde a antiguidade certas plantas e árvores na Índia foram


atribuídas características divinas. Os hindus adoravam-
nas acreditando que essa adoração podia influenciar o seu
próprio bem-estar. As árvores perenes eram vistas como um
símbolo da vida eterna. Os deuses viviam nas florestas…

A figueira indiana (Ficus benghalensis) é a mais sagrada de


todas as árvores sagradas na Índia. Tem raízes aéreas que
penetram o solo, formando novos troncos. Por isso, é também
chamado bahupada, a árvore de múltiplos pés, e simboliza uma
longa vida. Também representa o deus Brahma, o criador divino.
Invariavelmente se encontra essa árvore em frente dos templos
hindus. Considera-se que os deuses e os espíritos vivem nos seus
numerosos ramos. Os ascetas hindus sentam-se em baixo desta
árvore para meditar, dar discursos e fazer os rituais sagrados.

Templos hindus e a figueira indiana em Agouree, às margens do rio Soane, Bihar, por
Thomas Daniell, c. 1796 (em baixo) e Uma mulher hindu a fazer uma cerimónia religiosa
ao redor de uma planta de tulsi por D.V. Dhurandhar, c. 1890 (página de frente), imagem
gentilmente cedida pelo Museu V&A em Londres.

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as suas reuniões em baixo das A planta também tem muitas
suas folhas sagradas. A mais propriedades medicinais. As
famosa árvore peepul encontra- suas folhas têm um perfume
se em Gaya, onde o Buda agradável e também protegem
atingiu o estado de nirvana contra as tosses. As folhas
ou Iluminação em baixo dessa também ajudam a digestão
árvore. Desde então, esta árvore e previnem doenças como
também ficou conhecida como a constipações. Devido às suas
árvore bo ou bodhi. Também é propriedades medicinais os
um símbolo da fertilidade e as hindus consideraram-na uma
mulheres adoram-na para ter filhos. Adoração da planta de tulsi por planta sagrada. Fanny Parks,
Fanny Parks c. 1830 uma conhecida escritora,
Outras árvores sagradas incluem
estudiosa e artista, mencionou
a bilva (Aegle marmelos) e a
Para além das árvores sagradas, a adoração desta planta.
árvore axoca (Saraca indica
também há plantas sagradas, Descreveu os rituais e a
L), associadas com divindades
a mais famosa das quais é a adoração cerimonial da planta e
diferentes. A axoca é sagrada
tulsi, que se encontra em terras a maneira em que era plantada
para Kama, o deus de amor, e,
arenosas. Uma antiga variedade num vaso em cima de colunas
segundo as tradições folclóricas,
do manjericão, acredita-se que na cidade de Varanasi, onde os
entra em flor quando o pé de
a planta tulsi é a esposa do devotos circulavam ao redor da
uma donzela bonita toca nas
deus Vixnu e é adorada pelos planta sagrada, regando-a.
suas raízes. Com as suas três
folhas semelhantes ao trixul, ou hindus. Acredita-se que tocar a Darbha ou kusha é uma erva
o tridente indiano, a arma do planta purifica a pessoa e dar sagrada que é essencial para
deus Xiva, a bilva é mencionada um ramo de tulsi a qualquer todos os rituais. Essa planta
A árvore sagrada dos hindus em Gyah, Bihar, por Thomas Daniell, c. 1796 na mitologia hindu. A sua fruta pessoa significa protegê-las encontra-se nos pântanos. Tem
purifica o sangue. dos perigos e das dificuldades. uma superfície enrugada e
Algumas árvores podem atingir kalapvriksha, a árvore que uma ponta delgada. Segundo
uma altura de mais que 33 realiza os desejos e que traz às antigas lendas, a planta
Mulheres a adorar uma árvore por William Carpenter, c. 1850,
metros e podem abranger uma prosperidade. É também possível imagem gentilmente cedida pelo Museu V&A em Londres. surgiu quando os deuses e os
área de mais que 300 metros ver imagens da adoração desta demónios agitaram o oceano.
em circunferência. Por isso, não árvore nos textos budistas. Uma Diz-se também que enquanto
é estranho ouvir que até dez outra grande árvore da Índia é o os deuses bebiam amrita ou o
mil pessoas podem se sentar peepul (Ficus religiosa), que se néctar da imortalidade, algumas
debaixo de uma única árvore. encontra em todo o país. Uma gotas caíram nessa erva e, por
Muitos viajantes mencionaram árvore antiga, é mencionada em isso, transformou-se numa
esta árvore nas suas descrições muitos textos hindus como uma planta sagrada. É mencionada
da Índia. O bispo Heber (1825) árvore sagrada, cuja adoração nos antigos textos hindus e nas
foi tão impressionado por essa é considerada homenagear a epopeias e é usada em várias
árvore que escreveu, «que nobre trindade hindu – Brahma, Vixnu cerimónias religiosas porque se
sítio de adoração». As histórias e Xiva. Essa árvore também acredita que purifica tudo ao seu
dos viajantes até inspiraram o é associada com os antigos redor.
grande poeta inglês, Milton, a rituais dos vedas, onde os fogos ◆
aludir a essa árvore no seu livro O autor é um conhecido escritor.
sacrificiais eram acesos com um
Paraíso Perdido. ramo desta árvore. Cada aldeia
Na mitologia hindu, esta tem a sua árvore especial de
árvore é conhecido como a peepul e os anciões realizam

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O ENCANTO DO
Festival Literário de Jaipur
Texto: AMRIT DHILLON
Fotografias: TEAMWORK PRODUCTIONS

H á poucas mulheres no mundo mais ocupadas que Tina Brown,


a célebre editora de Nova Iorque, cuja mais recente iniciativa
é um website de notícias que se chama «The Daily Beast»,
que recebe mais que 50 milhões de visitas ao dia. Todavia, para dois
anos sucessivos bloqueou uma semana na sua agenda para assistir ao
Festival Literário de Jaipur.
«Estou viciada nisso. É uma fantástica reunião dos melhores autores do
mundo e dos melhores escritores indianos. É estimulante e divertido»,
diz ela enquanto bebe uma cidra quente com especiarias no Café
Flow, nos jardins do palácio de Diggi, um antigo e encantador palácio
transformado num hotel onde esse festival se realiza no mês de Janeiro
todos os anos.

Wole Soyinka, o autor nigeriano que foi galardoado com o prémio Nobel. Tina Brown com Vir Sanghvi do jornal nacional Hindustan Times

Antes de chegar em Jaipur, Tina Brown foi entrevistada através da


Twitter pelo Sunday Times na Inglaterra. Quando perguntaram-na o
que estava a fazer nesse momento ela respondeu que estava a jantar
num restaurante em Nova Iorque e estava ansiosa assistir ao festival.
«Depois de Tatler, Vanity Fair e The New Yorker (todas revistas
editadas pela Dra. Brown) não acha que um festival indiano de
literatura é pouco importante?» perguntou-lhe o seu interlocutor.
Ela respondeu azedamente: «O que está a dizer? Este festival tem
os melhores escritores do mundo. Se isso quer dizer abaixar-se eu
faria isso todos os dias». Mais tarde, ao escrever no The Daily Beast,
chamou-o «o maior espectáculo literário do mundo».
Para a «Cidade Cor-de-Rosa» o festival foi mais uma vez uma fonte de
orgulho visto que Wole Soyinka, Michael Frayn, Amit Chaudhari, Pavan
Varma, Louis de Bernieres, Vikram Chandra, Alexander McCall Smith,
Hanif Kureishi e quase 200 outros autores principais participaram em
cinco dias intensos de actividades literárias.
As origens do festival, que começou há cinco anos, eram humildes.
«Li o meu livro numa sala cheia de sofás cobertas de pó com seis
pessoas no público. Quando o projector não funcionou três deles
saíram mesmo quando lhes implorei ficar», disse o co-fundador,
o autor britânico William Dalrymple, que vive na Índia desde há
muitos anos.

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Dois anos mais tarde, em 2007,
Dalrymple e a outra fundadora,
Namita Gokhale, conseguiram
atrair cerca de oito a dez autores.
O ano passado foi o ponto de
viragem quando, de repente, o
festival ficou famoso, atraindo
160 autores, 20.000 pessoas e
estabelecendo-se como o maior
festival literário na Índia e na
Ásia.
O evento orgulha-se de ser o
festival literário mais democrático
do mundo, onde a entrada
é grátis e não há tratamento
especial para os autores famosos
ou as celebridades que visitam.
O ano passado a vedeta
Julia Roberts visitou (sem ser
reconhecida) enquanto Vikram
Seth sentou-se no chão nos
jardins para comer o seu jantar
porque não havia espaço nas
mesas.
Não há secções exclusivas. Os
autores usam as mesmas casas de
banho e comem a mesma comida
que o público. Qualquer pessoa,
incluindo os 200 alunos de Jaipur
e de Deli que são convidados
todos os anos para o festival,
pode encontrar e conversar com
um autor.
Este ano, o autor nigeriano Wole
Soyinka, que ganhou o prémio
Nobel, jantou com um grupo de
alunas encantadas. «Ele disse-nos
como viver uma vida boa e como
ser uma boa pessoa», disse Asha
Gupta, que estuda numa escola
em Jaipur.
O escritor britânico Hanif
Kureishi foi rodeado por alunos a

Uma vista do público à tarde

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querer o seu autógrafo. «Nunca li – realizou-se na famosa fortaleza palácio e ao seu encanto de autores indianos em todo o lado,
os seus romances mas conheço o de Amber em Jaipur. uma outra época. Enquanto menos na Índia.
seu nome», disse Nikhil Rathore, Todavia, voltando às actividades Claire Tomalin explicou a arte de
As leituras de poesia e os
de 15 anos, quando o Kureishi diurnas. Havia discussões sérias escrever uma boa biografia numa
concertos acabam já depois da
assinou o seu livro depois sobre a literatura nas tendas, vasta tenda decorada com riscas
meia-noite, com os jardins cheios
de mostrar-se relutante a dar que atraíram públicos entusiastas verdes, cor-de-rosa, amarelo
não apenas com convidados
autógrafos inicialmente. Depois dispostos a se sentar no chão e magenta, foi interrompida
mas também com os habitantes
acrescentou: «Nunca vi tanta para ouvir os escritores que pelos relinchos dos cavalos nas
locais, curiosos a ver o evento
gente famosa na minha vida». amam e respeitam. cavalariças reais ao lado.
que transformou a sua cidade
Nesse momento o actor Om Montaram as tendas nos jardins num centro literário. «Jaipur é a
«O festival ainda tem o ambiente
Puri, que estava a promover a porque não havia maneira perfeita cidade para um festival»,
de um grupo de amigos a
sua biografia, passou, com um em que a grande sala de diz o produtor do festival Sanjoy
juntar-se para se divertirem» diz
grupo de fotógrafos e repórteres audiências do palácio, com os K. Roy. «Não é apenas sobre os
Dalrymple. «A própria cidade é
atrás dele e Rathore correu atrás seus candeeiros e pinturas nas livros, mas é também sobre a
uma atracção. O que pode ser
dele para obter o seu autógrafo paredes, podia acomodar todos música, as cores e a alegria de
mais simpático no inverno que o
também. os indianos e estrangeiros – mais Rajastão».
sol a brilhar em Jaipur?» William
Nesse festival não importa o O autor Chetan Bhagat numa sessão com Meenakshi Madhavan, Ira Trivedi e Anjum Hasan que 26.000 este ano – que Dalrymple disse que teve a ideia Cada sessão ofereceu alguma
(da esquerda à direita).
quanto uma pessoa seja famosa, inundaram o palácio de Diggi. de organizar um festival na Índia coisa nova. Alexander McCall
têm que fazer tudo sozinho aos autores ou pessoas célebres uma nomeação em 2001 para Muito do charme do festival depois de assistir festivais em Smith, o autor da série popular
desde encontrar um lugar para como o actor Rahul Bose o prémio Mercury para o seu deve-se aos jardins lindos do outros países e encontrar célebres No. 1 Ladies Detective Agency,
se sentar ou encontrar comida, (que fez um brilhante trabalho álbum de estreia «Salt Rain». O
que é servido aos que chegam de moderar uma discussão seu parceiro, o guitarrista, Sam
Um espectáculo pelos músicos folclóricos de Rajastão
primeiro. Michael Frayn, o sobre como os livros deviam Mills, também tocou com ela.
célebre dramaturgo britânico, foi ser adaptados para os guiões Nessa noite de música indiana e
visto procurando uma cadeira cinematográficos) e conversar ou britânica, Nathoo Lal Solanki, que
para se sentar. almoçar com eles. toca música clássica no nagara
As mesmas regras aplicam-se e o músico folclórico Chugge
O ambiente festivo realçou o
a toda a gente. O próprio Khan também encantaram os
melhor do estado de Rajastão
Dalrymple não foi permitido levar espectadores. Os cantores baul
– trajes coloridos e magníficos
o seu café dentro da exposição de Bengala, liderados por Paban
músicos e bailarinos folclóricos,
da livraria Full Circle. Como um Das Baul, eram igualmente
tendas em cores brilhantes e
estudante bem comportado, populares.
homens com turbantes a servir
obedeceu o guarda da segurança. chá com especiarias em khullars A música era ecléctica, desde
(vasos de barra). a música folclórica indiana
Ao contrário dos outros grandes
festivais literários que se Os concertos à noite são uma até à música mística dos sufis,
transformaram em máquinas parte integral do festival. Depois passando pela música marroquina
para fazer dinheiro, com uma de um dia de discussões literárias e músicos populares de fusão
hierarquia rígida, no palácio de estimulantes as pessoas querem como Biddu (que nasceu na
Diggi o ambiente é relaxado, ver um bom espectáculo e este Índia, onde começou a sua
informal, alegre e quase como ano não ficaram desiludidas. O carreira numa banda de pop
um carnaval com grandes público enlouqueceu quando influenciada pelo reportório
multidões a qualquer hora do Susheela Raman, a famosa clássico dos Beatles e dos Rolling
dia ou da noite. Toda a gente, cantora britânica de origem Stones). O grande evento final
desde jornalistas até diplomatas e indiana, mostrou a sua voz – o baile dos escritores, com
estudantes podem aproximar-se rica e ousada, que lhe ganhou um espectáculo de som e luz

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e um fantástico contador de
histórias, contou algumas histórias
hilariantes ao seu público.
Numa tenda toda a gente
estava tão absorvida em ouvir
Omprakash Valmiki a falar sobre
a sua juventude que ninguém
reparou que a antiga chefe do
governo de Rajastão, Vasundhara
Raje, tinha entrado e sentou-se
silenciosamente.
Num outro dia, realizou-se uma
sessão de poesia em honra
do poeta de urdu Faiz Ahmed
Faiz para comemorar o seu 99º
aniversário e a sua filha, Salima
Hashmi, recitou a sua poesia e
falou da sua herança.
Os fãs da actriz Shabana Azmi
ficaram encantados quando
apresentou o livro da sua mãe,
Kaifi e eu, numa conversa com
Urvashi Butalia.
Se o festival continua a crescer
ao actual ritmo fenomenal vai ser
difícil para o palácio de Diggi –
que já estava cheio e com o ar de
um sítio assediado ao fim de cada
dia – a continuar a ser o anfitrião
do evento. Se este fantástico
festival for transferido para um
outro sítio já não vai ter o mesmo
charme.

O autor é um jornalista independente.

Susheela Raman e Sam Mills durante um


espectáculo no festival.

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Recensão literária

Os Himalaias
magníficos do mundo e abrangem planícies e florestas que contém
inúmeras formas de vida.
Um acesso mais rápido a sítios longínquos, mais altos níveis de
AS MONTANHAS VISTAS DAS NUVENS rendimento e aspirações ligadas com o estilo de vida caracterizam
os cada vez mais numerosos turistas de lazer hoje em dia. Como
SUDHIR SAHI em outros sítios dentro da Índia, a cordilheira oferece muitas
oportunidades para experiências únicas, incluindo durante o

D urante muitos anos o célebre fotógrafo Ashok Dilwali


capturou as numerosas facetas das montanhas nos Himalaias.
Como o Dr. M.S. Gill diz no seu prefácio, “As montanhas
sempre foram uma paixão do Ashok e ele simplesmente quis
inverno, quando, por exemplo, o rio Zanskar congela para formar
um lenço de gelo, conhecido como um chadar e, durante um
breve período de tempo, permite acesso invernal ao vale de
Zanskar.
capturar cada humor, cada aspecto de cada raio do sol, em todas as
Nesse vasto anfiteatro serrano há desfiladeiros, lagos e vales, às
suas cores – a cair nos picos cobertos de neve...”
vezes erguendo-se 6.500 metros até os picos das montanhas mais
O ecossistema frágil dos Himalaias estende-se desde o rio Indo até fascinantes do planeta. Por isso, o acesso pela via terrestre é mais
o rio Brahmaputra. Ao sul e ao norte a cordilheira enfrente hoje viável durante os meses de verão, quando os altos desfiladeiros
em dia ameaças que nunca enfrentou no passado. Essas montanhas estão livres de neve, usualmente entre Maio e Outubro.
têm uma influência vital nos sistemas que apoiam a vida humana, Ashok Dilwali já viu tudo. Todavia, nunca se deixa de se espantar
com grandes variações climáticas. É a fonte de alguns dos rios mais com a magia dos Himalaias, que, ainda hoje, revelam os vestígios

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da sua história étnica e cultural. É uma região onde viagens pelas
montanhas até lagos distantes reverberam com o chamamento
dos patos e dos gansos selvagens, juntamente com muitos outros
pássaros. Os sortudos podem ainda ver um vislumbre do leopardo
das neves, o mais fugaz e elusivo dos predadores da cordilheira, já
à beira de extinção.
Ashok já caminhou por muitos trilhos e caminhos em numerosas
direcções. Capturou muitos festivais reflectindo as culturas locais
através da lente da sua máquina fotográfica e pela sua paixão.
Há uma mensagem clara nas fotografias de Ashok. Quando o
equilíbrio dos processos naturais é sujeito a pressões pesadas, os
resultantes prejuízos podem ter um impacto nos padrões climáticos
e nas vidas do povo. Os combustíveis fósseis e o efeito estufa
já resultaram num aquecimento global enquanto a utilização de
produtos que não são biodegradáveis como os aerossóis danificou
a camada de ozónio, aumentando a radiação ultravioleta.
Nesse frágil ecossistema dos Himalaias, é uma dimensão crucial.
As comunidades locais transformam-se na força atrás das práticas
sustentáveis, especialmente na preservação das tradições e
dos ambientes locais. Enquanto balança o impacto da pegada
ecológica, também cria alguma pressão para que o povo local
pode partilhar equitativamente nos benefícios económicos do
«desenvolvimento».

O autor é um conhecido consultor na indústria de viagens.

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