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Enfrentamento à Exploração Sexual

de Crianças e Adolescentes

Guia de Referência
para o Diálogo com a Mídia
Realização: ANDI Parceria estratégica: Childhood Brasil
Guia de Referência
para o Diálogo com a Mídia
Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes

Realização: ANDI Parceria estratégica: Childhood Brasil


EXPEDIENTE
ANDI – AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DOS DIREITOS DA INFÂNCIA

Presidente do Conselho Diretor: Oscar Vilhena Vieira SDS – Ed. Boulevard Center – Bloco A – sala 101
Secretário Executivo: Veet Vivarta CEP: 70391-900 – Brasília/DF
Secretária Executiva Adjunta: Ely Harasawa Tel: (61) 2102-6508 / Fax: (61) 2102-6550
Gerente do Núcleo de Mobilização: Carlos Ely Site: www.andi.org.br

FICHA TÉCNICA
Guia de Referência para o Diálogo com a Mídia
Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes
(ISBN: 978-85-99118-15-3)

Realização Parceria Estratégica


ANDI Childhood Brasil

Supervisão Editorial Projeto Gráfico, Diagramação e Capa


Veet Vivarta Viviane Barros

Texto Impressão e Acabamento


Marília Mundim. Colaboração: Ana Flávia Flôres Pancrom Indústria Gráfica

Edição Tiragem
Adriano Guerra e Marília Mundim 5.000 exemplares

Revisão de Texto São Paulo, novembro de 2008


Maria do Socorro Novaes de Senne
Advertência: o uso de linguagem que não discrimine nem estabeleça a diferença
Análise de Mídia entre homens e mulheres, meninos e meninas é uma preocupação deste texto.
O uso genérico do masculino ou da linguagem neutra dos termos criança e
Railssa Alencar e Diana Barbosa adolescente foi uma opção inescapável em muitos casos. Mas fica o entendimento
de que o genérico do masculino se refere a homem e mulher e que por trás do
Produção termo criança e adolescente existem meninos e meninas com rosto, vida, histórias,
Tainá Frota desejos, sonhos, inserção social e direitos adquiridos.
Sumário

04 Apresentação

Capitulo 1 05 A Imprensa como Aliada

Capitulo 2 13 Construindo Estratégias de Comunicação

Capitulo 3 21 Fontes de Informação: Papel Central na Notícia

Capitulo 4 39 Por Dentro da Redação

Capitulo 5 51 Violência Sexual na Pauta da Imprensa Brasileira

Capitulo 6 65 Mídia em Foco


Apresentação
Este guia de referência integra uma série de estratégias desenvolvidas pela Agência de Notícias dos
Direitos da Infância (ANDI) e pela Childhood Brasil com o objetivo de contribuir para a qualificação
da cobertura jornalística oferecida às temáticas relacionadas ao universo de crianças e adolescentes
brasileiros – especialmente no que se refere à exploração sexual.
Atentos ao fato de que o processo de aprimoramento do trabalho da imprensa nesse campo vai além
da capacitação de jornalistas e demais profissionais da comunicação, ANDI e Childhood focalizam na
presente obra outro agente fundamental nesse âmbito: as fontes de informação. Organizações sociais,
pesquisadores, agentes públicos, membros da academia e demais atores ligados à temática da Explora-
ção Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes (ESCCA) constituem, portanto, o público-alvo deste
material. A proposta é estimular e preparar esses profissionais para um diálogo mais articulado e pro-
dutivo com os veículos de comunicação.
Para isso, ao longo da publicação são apresentadas, em detalhes, as dinâmicas de funcionamento da
mídia: a lógica da notícia, o processo de construção da pauta jornalística, como se dá a elaboração de uma
reportagem nos diferentes meios e outras especificidades da área.
Com mais esta iniciativa, ANDI e Childhood Brasil esperam contribuir diretamente para o fortaleci-
mento do jornalismo investigativo com foco na ESCCA – capaz de informar, pautar e fiscalizar as inicia-
tivas públicas do setor. O objetivo fundamental é potencializar a atuação da imprensa como aliada estra-
tégica nos processos de mobilização da sociedade e do poder público para o enfrentamento desse grave
problema que atinge meninos e meninas de todo o país.

Ana Maria Drummond – Diretora Executiva


Childhood Brasil

Veet Vivarta – Secretário Executivo


ANDI – Agência de Notícias dos Direitos da Infância
A Imprensa A liberdade de imprensa é um preceito de qualquer
sociedade democrática. Thomas Jefferson, terceiro pre-
como Aliada1 sidente dos Estados Unidos, disse que entre um governo
sem imprensa e uma imprensa sem governo, não tinha
dúvida em escolher a segunda alternativa. O comentário
de Jefferson, um dos fundadores da democracia estadu-
nidense, constitui uma defesa intransigente da capacida-
de da mídia em exercer um efetivo controle social sobre
o Estado e os governantes – um dos princípios inegociá-
veis em qualquer sistema democrático de governo.

1 Parte do conteúdo deste capítulo foi baseada em trechos da publicação Orçamento


Público, Legislativo e Comunicação – três eixos estratégicos para incidência nas
políticas públicas, editada pela ANDI em parceria com o Instituto Ágora, o Instituto
de Estudos Socioeconômicos (Inesc), o Instituto Telemig Celular, a Fundação Avina, a
Fundação Vale e a Oficina de Imagens – Comunicação e Educação.
6 Guia de Referência para o Diálogo com a Mídia

No Brasil, não por acaso, a liberdade de Ainda que possa ser freqüente a presença
imprensa foi uma importante bandeira dos de tal tratamento nos meios brasileiros, essa
movimentos contra a ditadura. Hoje, ain- está longe de ser uma regra aplicável a todos os
da que não possamos afirmar que essa é uma veículos ou profissionais. Assim como ocorre
questão superada para a sociedade brasileira em outros segmentos, é importante aqui saber
– haja vista os casos ainda registrados de co- diferenciar o bom jornalismo do mau jornalis-
erção, de agressão e até mesmo de assassinato mo. Precisamos, portanto, aprender a analisar
de profissionais da imprensa –, certamente mais detalhadamente a produção da imprensa,
contamos com um contexto político de maior identificando os vários parâmetros que podem
abertura e com melhores condições para o contribuir para uma cobertura de qualidade.
exercício de nossas liberdades. Nesse âmbito, é fundamental que as avalia-
Mesmo que ninguém duvide da relevância ções que costumamos fazer sobre o trabalho dos
de uma imprensa livre e plural, também é ver- veículos passem a levar em consideração os as-
dade que os meios noticiosos são alvo constan- pectos de ordem técnica – e não sejam pautados
te de críticas endereçadas por variados atores apenas por abordagens genéricas ou com base
sociais. Isso porque o noticiário muitas vezes no senso comum. Cabe aos grupos organizados
repercute os principais temas presentes na da sociedade o papel de monitorar o trabalho
esfera pública sem levar em conta os diferen- jornalístico, partindo de parâmetros objetivos,
tes ângulos e visões existentes na sociedade. capazes de diagnosticar, por exemplo, falhas e
Da mesma forma, são comuns críticas avanços na cobertura.
questionando a abordagem dada por alguns Estudos sobre a função do jornalismo em
veículos de imprensa a temas como violência sociedades democráticas, sistematizados em
e direitos humanos de crianças e adolescen- pesquisas recentes da ANDI, apontam para três
tes. Não é raro ouvir de representantes dos
importantes características de um tratamento
movimentos sociais comentários do tipo: “os
editorial qualificado dos temas sociais:
jornalistas distorcem tudo que eu falo quando
dou entrevistas”, “os noticiários só querem • Prover a sociedade com informação con-
mostrar sangue e crimes”, “a mídia só traz no- fiável e contextualizada – de forma a
tícias ruins”. empoderar cidadãos e cidadãs, que assim
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podem melhor conhecer seus direitos e as campanhas de vacinação, os períodos de ma-


passar a exigi-los. trícula escolar ou os direitos do consumidor –
é um bom exemplo de como a mídia noticiosa
• Introduzir questões relevantes na agenda pode apoiar o exercício da cidadania.
pública de debates, de forma plural – ou
A oferta de informação qualificada está tam-
seja, a mídia pode não ter o poder de nos
bém no cerne do que chamamos de jornalismo
dizer “como” devemos pensar, mas define
preventivo, que busca antecipar ameaças – tais
fortemente sobre “o que” pensamos.
como enchentes ou epidemias –, apontando
• Exercer controle social sobre os represen- medidas capazes de evitar crises futuras ou
tantes do governo e as políticas públicas, minimizar seus impactos. Além de disseminar
assim como sobre os demais atores sociais. orientações relativas a ações mais imediatas,
um jornalismo preventivo eficiente encoraja
Qualidade das informações cidadãos e cidadãs a participarem ativamente
A primeira das importantes contribuições do combate ao problema e a cobrarem medidas
que a imprensa pode oferecer ao processo de objetivas por parte das autoridades públicas.
consolidação das sociedades democráticas é
informar sobre os temas de interesse público Agendamento
de maneira qualificada. Uma cobertura jorna- Um segundo papel relevante dos veículos de
lística contextualizada fortalece a cidadania e imprensa diz respeito à sua capacidade de
a construção de capital social, contribuindo influenciar a construção da agenda pública.
para reduzir a assimetria de informação que Em outras palavras, isso significa dizer que
tradicionalmente existe entre os governantes os temas abordados pela mídia serão, quase
e a população – a qual, ao conhecer seus direi- sempre, também aqueles priorizados pelos
tos, pode também passar a exigi-los. governos – e pelos atores sociais e políticos de
Embora ainda deva superar desafios nesse maneira geral –, no momento de definir suas
campo, a imprensa brasileira registra impor- linhas de atuação. Por outro lado, os assuntos
tantes avanços no que se refere à disponibiliza- “esquecidos” pelos jornalistas dificilmente
ção de informações de qualidade. O tratamento conseguirão receber atenção da sociedade e,
dado a questões de amplo alcance – tais como conseqüentemente, dos decisores públicos.
8 Guia de Referência para o Diálogo com a Mídia

Mídia ou imprensa?
Entenda a diferença

É preciso ter em mente que muitas vezes se usa Já o entretenimento está relacionado ao lazer e à
os termos “meios de comunicaçäo” ou “mídia” diversão: filmes, novelas, desenhos animados, revistas
como se fossem sinônimos para o jornalismo. Na em quadrinhos e programas de humor são algumas
verdade, tais termos abarcam também outras for- das atrações que se enquadram nessa categoria.
mas de conteúdo midiático além da imprensa. De O Jornal Nacional, por exemplo, é um programa
maneira geral, podemos apontar três categorias jornalístico, ao passo que o Domingão do Faustão é
mais comuns, no que se refere a estes conteúdos: uma atração da grade de entretenimento da TV Glo-
jornalísticos, de entretenimento e publicitários. E bo. Essa diferenciação também pode ser encontrada
todos eles podem ser veiculados nos mais diver- nos veículos de mídia impressa: existem os espaços
sos tipos de mídia, como jornais, revistas, rádio, jornalísticos e os que têm como foco o divertimento
televisão ou internet. dos leitores (horóscopo, quadrinhos e palavras cru-
O jornalismo – foco de nosso interesse – con- zadas são alguns dos exemplos).
siste na divulgação de acontecimentos e informa- Já a publicidade consiste em anúncios de pro-
ções sobre a realidade. Nesse sentido, os profissio- dutos ou serviços, geralmente veiculados no intervalo
nais dessa área da comunicação atuam na coleta, dos programas, nas mídias eletrônicas (rádios e tevês)
redação, edição e publicação de informações sobre e ao lado das reportagens, nos veículos de mídia im-
eventos atuais e de interesse público. pressa (jornais e revistas).
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É a chamada Teoria do Agendamento (ou na


expressão em inglês, agenda-setting).
Essa talvez seja a característica da mídia Imprensa e
mais comumente reconhecida pelas pessoas.
Ninguém estranha quando se diz que “o que
desenvolvimento
não está na mídia não é importante”. Apesar
de conter um certo exagero, tal expressão é Da mesma forma que mantém uma relação di-
uma tradução popular para o que afirmam os reta com os mecanismos que contribuem para
estudiosos da Teoria do Agendamento. a consolidação da democracia, a imprensa tam-
Reconhecer e entender tal característica bém desempenha um papel central quando estão
da imprensa é um passo importante para que em debate as políticas de desenvolvimento de
os movimentos e organizações sociais pensem um país. Ao observarmos o trabalho jornalístico
nos jornalistas como aliados estratégicos e a partir desta perspectiva, fica claro porque seu
não como adversários. Estabelecer um diálo- impacto nas sociedades contemporâneas vem
go ético e construtivo com esses profissionais sendo estudado, cada vez, mais por especialistas
pode contribuir para aumentar a visibilidade de um novo campo de conhecimento, chamado
de temas e causas sociais que normalmente de “comunicação para o desenvolvimento”.
recebem pouca atenção da sociedade. Trata-se de um conceito abrangente, no
Vale destacar, no entanto, que a presença de qual estão abrigadas as mais diversas mani-
um assunto na imprensa não representa a única festações comunicacionais, quando buscam
condição para que ele seja considerado por go- incidir em aspectos sociais, culturais, econô-
vernos e parlamentos. O trabalho de incidência micos e de sustentabilidade ambiental, para
política, por exemplo, costuma favorecer gran- citar alguns exemplos. Nesse sentido, pode-se
demente esse processo. Da mesma forma, é ne- afirmar que os níveis de democratização e de
cessário considerar que questões com impacto liberdade de expressão e de imprensa de uma
mais direto na vida das pessoas – como saúde nação são também fatores determinantes para
e educação – sempre serão foco de atenção de seu processo de desenvolvimento.
governantes e parlamentares, independente-
mente de estarem presentes na mídia.
10 Guia de Referência para o Diálogo com a Mídia

É o que afirma, por exemplo, o ex-presidente Infância e adolescência


do Banco Mundial, James D. Wolfensohn: “uma im- Quando observamos o debate sobre mídia e desenvol-
prensa livre não é um luxo. Ela está no núcleo do vimento a partir de um de nossos campos de interesse
desenvolvimento eqüitativo. Os meios podem expor a – os direitos de crianças e adolescentes –, um exem-
corrupção. Podem se manter vigilantes em relação às plo chama a atenção: a contribuição oferecida pela
políticas públicas, lançando luz sobre as ações gover- imprensa brasileira a essa agenda, a partir dos anos
namentais. E permitem às pessoas exprimir suas di- de 1990. Desde a aprovação do Estatuto da Criança
ferentes opiniões sobre governança e reformas, além e do Adolescente (ECA), a atividade jornalística passou
de contribuir para os consensos públicos necessários a ocupar um papel central tanto na disseminação dos
às mudanças”. princípios estabelecidos pela nova legislação quanto na
Não por outra razão, o indiano Amartya Sen, Prê- discussão sobre os progressos e deficiências das polí-
mio Nobel de Economia e um dos formuladores do ticas públicas direcionadas a essa população.
conceito de Desenvolvimento Humano, enfatiza: “a li- Essa constatação não significa que a cobertura
berdade de imprensa exige a nossa mais forte defesa, nessa área não continue apresentando limites. Mas o
entretanto a imprensa tem tanto obrigações quanto fato é que o interesse da imprensa sobre a tema cres-
direitos. Na verdade, a liberdade de imprensa define ceu vertiginosamente – e com repercussões muito po-
ambos – um direito e um dever – e nós temos boas sitivas. O registro deste processo vem sendo feito, ano
razões para lutar pelos dois”. a ano, pelas metodologias de monitoramento e análise
Entre as funções que cabem à mídia, no âm-
de mídia desenvolvidas pela ANDI – Agência de Notí-
bito do desenvolvimento, vale relembrar aquelas
cias dos Direitos da Infância (veja mais no Capítulo 5).
que abordamos anteriormente: produção de infor-
mações contextualizadas no campo da cidadania; Fonte: Orçamento Público, Legislativo e Comunicação – três eixos
agendamento de temas sociais relevantes na pauta estratégicos para incidência nas políticas públicas (Oficina de
da agenda de debates; e controle social das institui- Imagens / ANDI / Ágora / Inesc / Fundação Avina / Fundação Vale
ções públicas. do Rio Doce / Instituto Telemig Celular)
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Cão de guarda tar a sociedade sobre equívocos e, também,


Ao mesmo tempo em que influencia a cons- acertos dos governos.
trução da agenda pública, a imprensa pode Nesse sentido, o acompanhamento, não
exercer outra importante função: fiscalizar apenas do lançamento oficial de projetos, mas de
a atuação do Estado e dos governantes. Para sua continuidade, da idoneidade em sua execu-
diversos estudiosos da comunicação, a liber- ção e de seus resultados é – ou deveria ser – uma
dade de imprensa assegura aos profissionais das responsabilidades centrais dos jornalistas.
da notícia uma voz independente e a capaci- Existem casos clássicos, com repercussão
dade de monitorar as instituições públicas mundial, que ilustram claramente esse papel
nos mais diversos campos. desempenhado pelos meios de comunicação –
Esse papel exercido pelos meios de co- como o Watergate, que acarretou na renúncia
municação foi chamado pelos especialistas de Richard Nixon, então presidente norte-
de “cão de guarda” (ou watchdog, em inglês). americano, e o impeachment do ex-presidente
O termo indica o potencial da mídia em aler- brasileiro Fernando Collor de Mello.

Impeachment na Presidência

Os meios de comunicação estiveram no centro do único processo de afastamento legal de um presidente da República
no Brasil: o impeachment de Fernando Collor de Mello, ocorrido em 1992. O escândalo que marcou a história política
brasileira começou a tomar corpo quando a revista Veja publicou entrevista com Pedro Collor de Mello, irmão do então
presidente, trazendo graves acusações sobre corrupção e tráfico de influência no governo. Com a denúncia, o Con-
gresso Nacional instaurou uma comissão de inquérito para investigar a veracidade e abrangência do crime. Durante
todo o processo, a mídia esteve engajada em levar ao público os principais desdobramentos da questão, contribuindo
na mobilização da sociedade (nesse âmbito, o movimento mais representativo foi o dos “caras pintadas”), que passou
a exigir das autoridades respostas à crise no governo. Menos de cinco meses após a denúncia veiculada pela revista,
Fernando Collor foi julgado pelo Senado Federal e condenado à perda do cargo de presidente e a uma inabilitação
política de oito anos.
12 Guia de Referência para o Diálogo com a Mídia

No entanto, não apenas em situações com a cobertura de fatos negativos é exagerada, e


essas proporções, verificamos a imprensa exer- 64% disseram que raramente encontram na
cendo sua função de “cão de guarda”. Em 2004, grande mídia as informações que gostariam
por exemplo, o governo federal enviou para o de obter.
Congresso Nacional uma proposta orçamentária Apesar do resultado aparentemente negativo,
prevendo o corte de 80% dos recursos desti- a pesquisa Trust in the Media – que ouviu mais de
nados ao Programa de Erradicação do Trabalho 10 mil pessoas em dez países, sendo mil delas
Infantil (Peti). O jornal Folha de S.Paulo teve de nove regiões metropolitanas brasileiras –
acesso ao documento e denunciou a intenção concluiu que a credibilidade da imprensa ainda
do governo. A repercussão gerada pela matéria, é maior que a dos governos, especialmente nas
associada à mobilização e à articulação do movi- nações em desenvolvimento. Em nosso país,
mento social de defesa dos direitos da criança e o percentual de credibilidade é de 45% para a
do adolescente, fez com que o governo recuasse mídia contra 30% para o governo (a íntegra da
logo em seguida. pesquisa, em inglês, pode ser acessada em: www.
globescan.com/news_archives/bbcreut.html).
Credibilidade da imprensa Já a pesquisa Trust Barometer, divulgada
Seria exagerado afirmar que todo o conteú- em janeiro de 2008 pela empresa de rela-
do publicado nos meios de comunicação está ções públicas Edelman (www.edelman.com/
correto ou vira tema de interesse da socie- trust/2008), revelou que a mídia é a institui-
dade. Entretanto, como vimos, não há como ção mais confiável para 64% dos brasileiros
negar a forte influência e a credibilidade que formadores de opinião, seguida por empresas
a imprensa possui junto a públicos distintos, (61%), ONGs (51%), instituições religiosas
como gestores públicos, empresários e a po- (48%) e governo (22%). O levantamento ou-
pulação em geral. viu 150 pessoas no Brasil e permite fazer um
Estudo realizado em 2006, a pedido da comparativo com outras 17 nações que tam-
BBC, da Reuters e de The Media Center, reve- bém foram pesquisadas. Na Suécia, na Ho-
lou que 55% dos brasileiros não confiam nas landa e na Bélgica, por exemplo, onde o poder
informações obtidas por meio dos veículos público está mais presente, os governos fica-
jornalísticos. Além disso, 80% afirmaram que ram mais bem classificados.
Construindo Q ualquer ator social que busque incidir de forma
mais ampla no debate público não poderá ignorar a
Estratégias de relevância da imprensa na definição do foco das dis-
cussões, independente do cenário ao qual estejamos
Comunicação nos referindo: político, econômico, social, ambien-
tal ou cultural. Hoje, já não é possível imaginar, por
exemplo, uma organização que tenha como foco a mo-
bilização social em torno dos direitos da criança e do
adolescente que não conte com uma eficiente – ainda
que simples – estrutura de comunicação.
Para manter uma incidência mais sistemática na de-
finição dos temas da agenda pública, o contato com a im-
prensa deve ser feito de forma constante e profissional.
Para isso, é desejável que a instituição possua uma polí-
tica comunicacional bem definida, ou seja, com orienta-
14 Guia de Referência para o Diálogo com a Mídia

ções bastante claras, tanto para a comunicação a instituição pode contar com a contribuição
interna (dentro da organização) quanto para a de profissionais voluntários; desenvolver par-
externa (parceiros, público-alvo e imprensa, cerias com universidades (algumas possuem
por exemplo). Esse processo pode ser inicia- agências juniores que prestam serviço à co-
do com uma reflexão simples: “o que eu quero munidade); ou contratar jornalistas freelances
informar e para quem eu quero informar?”. O para ocasiões nas quais a demanda é maior.
fundamental, porém, é que a estratégia de co- O diálogo com os profissionais e veículos
municação adotada esteja pautada nos princí- de imprensa também pode ser buscado por
pios e valores éticos da instituição, bem como meio de parcerias com os sindicatos de jorna-
na sua missão, visão e objetivos. listas (cada estado tem o seu) e com organiza-
Para isso, um passo inicial é a construção ções não-governamentais que atuem na área de
de um plano de comunicação – documento que comunicação. O importante é que instituições
define objetivos, metas e estratégias da organi- que trabalhem para promover os direitos de
zação, tendo em vista a visibilidade de seus pro- crianças e adolescentes – entre as quais estão
jetos bem como da temática sobre a qual traba- incluídas aquelas que lidam com o enfren-
lha. Para que esse plano seja eficiente, é preciso tamento da Exploração Sexual Comercial de
estruturá-lo cuidadosamente. De preferência, Crianças e Adolescentes (ESCCA) – não fiquem
ele deve estar acompanhado de uma planilha de de fora do debate público agendado pela cober-
ações a serem desenvolvidas, na qual constem tura jornalística. Com criatividade e parcerias,
informações como o responsável pela ação, o é possível superar as dificuldades financeiras e
público-alvo, o objetivo, as metas e o prazo de estruturais e desenvolver iniciativas capazes de
execução (veja modelo na página 17). dar visibilidade para a pauta da violência sexual
O ideal é que o trabalho de comunicação que tem como vítimas meninos e meninas.
fique nas mãos de um comunicador habilitado
para isso (seja jornalista, seja relações públi- A imprensa e o combate à ESCCA
cas). No entanto, nem todas as organizações Como vimos até aqui, a capacidade de informar,
possuem condições de arcar com um profis- pautar e fiscalizar as iniciativas públicas faz da
sional com dedicação exclusiva. Nesse senti- imprensa uma aliada estratégica nos processos
do, algumas alternativas podem ser pensadas: de mobilização social e de monitoramento das
Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes 15

políticas públicas, especialmente quando es- as especificidades que cercam o intrincado


tamos falando de um fenômeno multifacetado universo da Exploração Sexual Comercial de
como a violência sexual contra crianças e ado- Crianças e Adolescentes.
lescentes. Do mesmo modo, os meios de co- Outro fator que dificulta o trabalho dos
municação são parceiros fundamentais para o jornalistas – e que deve ser suprido na medida
esclarecimento da população sobre o tema, in- do possível pelas fontes – é a quantidade limi-
clusive no que se refere ao papel de cada pessoa tada de dados e estatísticas oficiais, em parte
na prevenção e na erradicação do problema. resultante da própria característica criminosa
Vale destacar, contudo, que a tarefa de for- do fenômeno. Esse obstáculo pode ser supe-
talecer a relevância do assunto entre as reda- rado por meio da sugestão de novas formas de
ções não é exclusiva dos jornalistas já sensíveis abordar a temática, apresentando-lhes olha-
ao problema. Pelo contrário, as fontes de infor- res e enfoques sobre a questão que tenham
mação especializadas também são peças fun- sido pouco abordados pela imprensa de sua
damentais para a inserção da problemática da região. Por exemplo, o impacto na vida social
ESCCA no noticiário veiculado por jornais, si- da criança ou adolescente explorado, a pouca
tes, rádios, revistas e tevês de todo o país. Mais visibilidade dada ao cliente ou a quantidade de
do que isso, especialistas na área desempe- projetos de leis sobre o tema que tramitam nas
nham um papel estratégico na qualificação dos casas legislativas do país sem que sejam apro-
conteúdos disponibilizados para a população. vados e colocados em prática.
Certamente, não estamos falando aqui No diálogo com os profissionais da im-
de uma temática simples de se abordar no prensa, é preciso tomar cuidado, porém, para
noticiário, pois sabemos das complexidades não exigir atitudes que vão além da sua capa-
que permeiam essa grave questão: trata-se de cidade/responsabilidade. Não é certo querer
um tema delicado e cercado de preconceitos. que a imprensa resolva sozinha os problemas
Sendo assim, cabe a especialistas e fontes de do Brasil, entre os quais a questão da ESCCA.
informação a missão de repassar os dados, Não podemos transferir para ela demandas e
conceitos e reflexões de forma clara e preci- ações que são do escopo do poder público e da
sa para os jornalistas, certificando-se de que sociedade civil organizada – como a elaboração
compreenderam exatamente a amplitude e e a apresentação de propostas de enfrentamen-
16 Guia de Referência para o Diálogo com a Mídia

Agenda de Comunicação
Como vimos, a elaboração de uma Agenda de • Também é possível identificar, entre as enti-
Comunicação – ou de ações mobilizatórias – é dades parceiras, a programação de eventos
importante para garantir a presença de um tema organizados em cada uma delas e articular
na mídia. Nesse sentido, seguem algumas orien- uma agenda de acordo com as atividades
tações para garantir a efetividade desse instru- previstas. Exemplos: lançamentos de pes-
mento de trabalho: quisas e estudos, campanhas, atividades es-
pecíficas com a mídia (como a elaboração e
• A agenda deve incluir várias estratégias e
envio de artigos de opinião para publicação),
sua elaboração precisa ser articulada com
atividades de mobilização (panfletagem, se-
diversos setores. Umas das formas de se
minários), articulação com empresários, etc.
compor a Agenda de Comunicação é por
meio da criação de ações locais e nacionais • Uma outra possibilidade é traçar uma lista de
a partir das datas de mobilização – como o temas relevantes e, a cada mês, organizar
Dia Nacional de Combate ao Abuso e Explo- atividades no contexto do assunto estabe-
ração Sexual de Crianças e Adolescentes (18 lecido – educação, direitos, saúde, etc. Por
de maio), Dia do Aniversário do Estatuto da exemplo, se em determinado mês o tema é
Criança e do Adolescente (13 de julho) e o saúde, a discussão pode se dar em torno da
Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil vulnerabilidade de crianças e adolescentes
(12 de junho). Ou ainda aproveitar grandes vítimas de Exploração Sexual de Crianças e
eventos nos quais o tema “Direitos da Crian- Adolescentes a doenças sexualmente trans-
ça” possa ser difundido. missíveis, como a Aids (veja ao lado modelo
Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes 17

de tabela a ser preenchida pelo


conjunto de instituições mobiliza- AGENDA DE COMUNICAÇÃO
das no tema).
Atividades
• Ao lançar um livro ou estudo, focar Período
Instituição
a divulgação em dois ou três temas, Responsável
Tema Janeiro Fevereiro Março
pois informação em muita quanti-
dade não é assimilada de imediato
– seja porque existe pouco espaço
Saúde
na imprensa, seja porque a opinião
pública não consegue digeri-la.
Nesse sentido, sugere-se utilizar
os temas do estudo para pautar a Educação

mídia ao longo de um período que


pode se iniciar antes do lançamen-
to e perpetuar-se por meses após o Direitos
Humanos
mesmo –, sempre fornecendo um
enfoque ou leitura diferenciados de
um determinado aspecto, ou en-
Inclusão
tão priorizando um dado ainda não
muito explorado do mesmo estudo.
18 Guia de Referência para o Diálogo com a Mídia

Palavra de fonte to ao fenômeno. Os meios de comunicação precisam ser


vistos como mediadores do debate público e aliados na luta
por um país mais justo e igualitário – e não como os agentes
“Entre os erros mais comuns cometidos
responsáveis por fazer esse desejo se concretizar.
pela imprensa destaca-se o uso de cha-
vões ou conceitos equivocados sobre o
tema ou sobre aspectos relacionados a Espaço aberto
ele. Um exemplo bem atual está na discus- Está claro que o trabalho de divulgação das estratégias
são sobre os pedófilos. Existe uma grande de enfrentamento da Exploração Sexual Comercial de
confusão sobre a situação da pedofilia e a Crianças e Adolescentes não deve se resumir ao período
situação de abuso sexual. Uma não pres- do 18 de maio e a outras datas relevantes. Nesses mo-
supõe a outra, mas via de regra as ma- mentos, entretanto, é importante uma intensificação na
térias reforçam o entendimento contrário. tarefa de sugerir pautas para os meios de comunicação,
Cabe a nós (fontes de informação) tentar pois há, espontaneamente, maior abertura para assun-
esclarecer essas confusões conceituais e tos dessa natureza (veja mais informações sobre sugestões
torná-las compreensíveis não só para os
de pauta no Capítulo 4).
jornalistas, mas para o público em geral.
Nessas ocasiões, vale aproveitar para discutir de forma
Os papéis precisam estar muito claros. A
nós, das organizações, cabe oferecer fonte mais aprofundada os avanços conquistados, apresentar ex-
de consulta, dados, conceitos e reflexões periências exitosas e, se for o caso, denunciar a omissão do
sobre o tema. E aos jornalistas cabe utili- poder público ou a falta de articulação e/ou mobilização das
zar dessas informações para elaborar ma- instâncias responsáveis por combater os casos de ESCCA.
térias de qualidade que estejam de acordo Por outro lado, é preciso tomar cuidado para que a questão
com a pauta definida e que respeitem a não seja banalizada. Lembre-se de que todas as informa-
linha editorial do veículo. Não podemos ções passam por um amplo processo de seleção nas reda-
extrapolar nosso papel e querer escrever o ções – e somente as mais interessantes e/ou impactantes
texto pelo jornalista, ou definir como deve ganham espaço no noticiário.
ser a foto que ele vai utilizar”.
A ocorrência de casos que naturalmente geram grande
Carolina Padilha,
coordenadora de programas da Childhood Brasil. visibilidade também abre espaço nos meios de comunica-
ção. Por um lado, crimes de violência sexual contra meni-
nos e meninas geralmente comovem a opinião pública e
Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes 19

impulsionam maior mobilização da imprensa cas para a área. Aqui segue uma breve lista de
para o debate sobre as causas e as políticas para formas pelas quais o trabalho da imprensa pode
a área. Por outro, em momentos assim se acen- contribuir na erradicação do problema:
tua a tendência a um enfoque mais sensacio-
nalista. O importante em tais situações é que as • Denunciar situações de Exploração Sexual
fontes de informação estejam atentas para co- Comercial sempre que estas forem identi-
laborar no sentido de que a cobertura da mídia ficadas e cobrar medidas efetivas para re-
evite adotar estes comportamentos. solver o problema.
Um outro aspecto é que, ao contrário das
• Conscientizar a população sobre a impor-
datas consagradas, situações de denúncia
tância de denunciar.
costumam surgir repentinamente e deman-
dam um posicionamento imediato das orga- • Pressionar o Legislativo para a aprovação
nizações que atuam no combate a esse tipo de leis que garantam a proteção integral de
de violência. Por isso, é fundamental que elas meninos e meninas, especialmente no que
estejam preparadas para agir em contextos de diz respeito à Exploração Sexual Comercial.
emergência. Assim, não perderão a oportuni-
dade de dar maior visibilidade ao tema, colo- • Cobrar do Executivo a elaboração e a im-
cando-o na agenda de discussões da sociedade plementação de políticas públicas de en-
de forma consistente e responsável. frentamento da questão.

Contribuições da imprensa para


• Monitorar a dotação e a execução orça-
o fim da ESCCA mentária dos projetos de combate à vio-
A essa altura, já deve estar evidente que os lência sexual.
meios de comunicação são peças-chave no es- • Questionar a ausência de dados e estatísti-
clarecimento da população sobre as questões cas sobre o problema.
que envolvem o universo da Exploração Sexu-
al Comercial de Crianças e Adolescentes. Da • Divulgar ações e estratégias desenvolvidas
mesma forma, a mídia é central no acompa- pelo movimento social focadas na Explo-
nhamento e monitoramento de políticas públi- ração Sexual Comercial.
20 Guia de Referência para o Diálogo com a Mídia

Critérios para uma boa reportagem


Embora o processo de avaliação de uma matéria jor- • Pesquisar o que está por trás do fenômeno, como
nalística não tenha a objetividade de uma equação valores culturais, questões de gênero e raça/etinia.
matemática, existem fatores que auxiliam na identi-
• Discutir o sistema de recuperação de agresso-
ficação de um bom trabalho. Mais do que o espaço
res e de assistência às vítimas.
oferecido pela imprensa, é preciso levar em consi-
deração outros importantes critérios. Vale apontar • Acompanhar o inquérito policial e atualizar a
alguns dos parâmetros a serem observados: população sobre os desdobramentos do caso.
• Oferecer ao público um conteúdo de qualidade, • Não tratar suspeitos ou acusados como crimi-
com análise crítica da questão. nosos. Vale lembrar que a lei brasileira prevê
que o acusado só será considerado culpado
• Ouvir todos os lados da história, com opiniões e
em casos de flagrante, confissão ou após o
pontos de vista divergentes.
julgamento.
• Buscar informações que levem à prevenção do
• Evitar identificar a vítima e pessoas da família.
fenômeno e à punição dos agressores.
• Evitar identificar parentes do agressor.
• Oferecer serviços (como denunciar, indicar ins-
tituições que oferecem apoio, etc.). • Evitar utilizar tarjas pretas nos rostos de crian-
ças e adolescentes, bem como fotos que exi-
• Tratar a criança e/ou o adolescente vítima de ex-
bam as crianças na rua ou em trajes íntimos.
ploração sexual como sujeito de direito, respeitan-
do sua condição de pessoa em desenvolvimento. • Fugir da cobertura baseada nos BOs (boletins
de ocorrência).
• Produzir a reportagem pautada pelo discurso éti-
co e contextualizado, com linguagem acessível. • Evitar o sensacionalismo.
Fontes de C umprir o papel de fonte de informação exige mais do
que simplesmente responder às perguntas feitas por um
Informação: jornalista. Esta, aliás, é somente a etapa final do processo
de atuação de uma fonte comprometida com a qualidade
Papel da notícia. A produção de uma boa reportagem envolve

Central na
um processo longo que passa pela contribuição direta de
especialistas, agentes do poder público, de representantes

Notícia de organizações não-governamentais e da população afe-


tada pela questão em foco – enfim, todos os que, de alguma
forma, podem apontar uma visão relevante ao debate.
Quem domina ou trabalha com questões de inte-
resse coletivo, como é o caso daqueles que lidam com
o fenômeno da ESCCA, assume também uma função
estratégica na produção de conhecimento e no debate
público. A atuação das fontes de informação pode ser
22 Guia de Referência para o Diálogo com a Mídia

Palavra de fonte central, por exemplo, ao oferecer uma perspectiva mais


contextualizada sobre as temáticas em pauta e sugerir di-
ferentes elementos de pesquisa, dados atualizados ou no-
“Um especialista no tema, seja soció-
logo, psicólogo, advogado etc., precisa
mes de especialistas capazes de trazer análises comple-
ter consciência de que nada sabe sobre mentares e até mesmo divergentes em relação a um certo
as técnicas do jornalismo. O seu papel é aspecto. Quando a fonte consegue estabelecer um diálogo
explicar ao repórter o conteúdo temático. mais qualificado com o jornalista, o resultado é visível na
É preciso respeitar o papel e o trabalho densidade do conteúdo final.
do jornalista, reconhecendo-o naquele Não por outro motivo, o relacionamento com a impren-
momento como o principal parceiro no sa precisa, cada vez mais, ser pensado de forma estratégica
enfrentamento dessa causa. E com di- pelas instituições, tanto em ações e campanhas específicas
plomacia, cabe ao especialista mostrar como no dia-a-dia. O diálogo deve ser sistematicamente
ao repórter a importância de proteger fortalecido, seja a partir de iniciativas internas – criação de
os direitos dos vitimados, de seus fami-
um mailing de mídia, por exemplo –, seja pela articulação
liares e dos agressores sexuais, não os
expondo a situações constrangedoras,
de atividades voltadas especificamente para as redações,
seja em palavras, seja em imagens. É como uma oficina de capacitação sobre um tema relevante.
importante, também, sensibilizar os jor-
nalistas para que não tratem o agressor Mas o que se entende por fonte?
como culpado, pois quem julga é o sis- De modo geral, podemos dizer que fonte de informação
tema legal”. é toda pessoa ou documento (livros, enciclopédias, si-
Marlene Vaz, tes, boletins, jornais, revistas, etc.) que fornece dados
consultora em Violência Sexual e/ou emite opinião para uma reportagem, de forma a
Contra Crianças e Adolescentes.
contextualizá-la, esclarecer fatos ocorridos ou refletir
sobre o tema abordado. No universo da imprensa, as
fontes consideradas mais confiáveis são os documen-
tos oficiais e os especialistas renomados. A possibili-
dade de haver o repasse de alguma informação equivo-
cada é considerada pequena nesses casos. Já quando se
trata de pessoas diretamente envolvidas com o aconte-
Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes 23

cimento, o cuidado com a checagem das informações Direto da redação


tende a ser maior – não por se tratar de fontes pouco
qualificadas, mas por estarem emocionalmente envol-
“O grande problema de muitas fontes é
vidas com o fato. querer aparecer mais do que a notícia.
São consideradas fontes “oficiais” aquelas ligadas ao Mais importante do que ter o nome es-
poder público, nas três esferas de governo (federal, esta- tampado no jornal é criar um laço de
dual e municipal) e nos três níveis de Poder (Executivo, confiança com o jornalista, que possivel-
Legislativo e Judiciário). No entanto, especialistas e ato- mente fará outras entrevistas e, aí sim,
res sociais engajados no assunto a ser abordado pela ma- poderá fazer menção às fontes com mais
téria também são considerados fontes particularmente segurança. Outro problema é esperar
qualificadas pelos veículos de comunicação. A diferença é que tudo se resolva com a publicação/
que não falam em nome do Estado, mas da sociedade civil veiculação de uma reportagem. Há que
organizada – a qual, muitas vezes, serve como contrapon- se compreender que a imprensa tem li-
mites no seu campo de atuação”.
to à perspectiva governamental apresentada.
Mauri Konig,
Gazeta do Povo (PR),
Diversidade necessária vencedor da 2ª edição do Concurso Tim Lopes
Vamos imaginar que, ao final do seu contato com o jorna- de Investigação Jornalística,
lista, ele lhe peça para indicar outras fontes de informa- categoria Jornal.
ção, a fim de repercutir diferentes pontos da questão ou
apresentar argumentos opostos ao seu. Isso significa que
o conhecimento aportado não satisfez às necessidades da
matéria, donde você não é uma boa fonte, certo? Errado.
Se uma situação como a descrita acima acontecer é porque
você está diante de um bom profissional, comprometido
com a ética e a qualidade do produto jornalístico.
Reza a cartilha da imprensa que o conteúdo deve ser
imparcial e isento de qualquer julgamento. Para isso, o
profissional precisa apresentar ao leitor os diferentes la-
dos de uma determinada história – ou seja, os vários ato-
24 Guia de Referência para o Diálogo com a Mídia

Palavra de fonte res envolvidos no fato em questão devem ter direito à voz.
Desta forma, o público terá condições de fazer sua avalia-
ção e tirar as próprias conclusões sobre o acontecimento
“Um jornalista hoje sai da redação com três retratado na reportagem.
pautas para cumprir: uma sobre violência
Entretanto, a atual situação das redações – quadro re-
sexual, outra sobre uma feira de automóveis
duzido de jornalistas, profissionais sobrecarregados e com
e outra sobre problemas de saneamento da
cidade. Pode parecer um exemplo grotesco, formação acadêmica deficiente, etc. – não tem favorecido
mas não está longe da realidade. Ele não que esta prática seja comum na rotina de jornais, revistas,
tem condições de saber dos conceitos; da rádios, tevês e sites de todo o país. O que ocorre com certa
diferença entre abuso e exploração sexual; freqüência é um jornalismo superficial, baseado no depoi-
da Convenção Internacional sobre os Di- mento de uma ou duas fontes, quando muito – as quais,
reitos da Criança; de o Brasil ter um Plano não raro, corroboraram a tese previamente definida pelo
Nacional de Enfrentamento; das parcas jornalista. Por isso, é importante que as fontes de informa-
rubricas orçamentárias para esta política; ção estejam atentas às oportunidades de colaborarem na
das limitações do Direito Penal brasileiro; de produção da notícia, sugerindo ao repórter outras pessoas
que nós queremos denunciar o crime, mas
e documentos que possam contribuir para a construção de
queremos cobrar atendimento de qualidade
conteúdo mais contextualizado e abrangente.
às vítimas. As escolas profissionais formam
para o mercado e não para estes temas. É
nossa responsabilidade oferecer um reper- Princípio do contraditório
tório conceitual e existencial que aquele Conforme vimos, na cobertura jornalística é sempre
jovem profissional não teve. Oferecer-lhe importante haver pessoas que repercutam o assunto
de forma didática (mas não simplista) este sob diferentes pontos de vista. Embora a diversidade
repertório é responsabilidade pública”. de fontes seja essencial, ela deixa de ter fundamento
Renato Roseno, se todos os atores ouvidos defenderem exatamente o
advogado, é ex-coordenador do Cedeca Ceará, mesmo argumento.
da Anced e ex-conselheiro do Conanda.
Atualmente assessora organizações e Em uma matéria sobre orçamento da educação, por
movimentos de direitos humanos. exemplo, espera-se encontrar tanto leituras críticas a res-
peito dos recursos destinados para a área quanto as razões
dos gestores governamentais. O importante é que sejam
Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes 25

ouvidas – de ambos os lados – pessoas que possuam um Direto da redação


discurso qualificado e bem fundamentado. Assim, serão
oferecidos subsídios ao fortalecimento do debate público
em torno das políticas para o setor. “Uma boa fonte na área de Exploração
Sexual Comercial de Crianças e Adoles-
Embora a pauta da Exploração Sexual Comercial de
centes, ou em qualquer outro tema, deve
Crianças e Adolescentes não seja polarizada entre os que
falar a verdade. Ser transparente. Não
são contra e os que são a favor do enfrentamento da ques- pode ficar se escondendo atrás da legis-
tão – já que hoje trata-se de um crime inaceitável perante lação para não revelar dados. Pode pedir
a opinião pública –, o princípio do contraditório pode (e sigilo e discrição para proteger a si e a
deve) ser observado por meio da discussão sobre a eficácia outros envolvidos, mas jamais negar uma
de determinada política pública ou do método de atendi- informação pública. Repórter e fonte têm
mento de uma unidade de ressocialização, por exemplo. o mesmo objetivo, embora os caminhos
Além disso, a matéria deve buscar garantir espaço aos ato- possam ser diferentes”.
res que representem os diferentes aspectos daquela ques- Nelcira Nascimento,
tão: o explorador, o poder público, psicólogos, familiares, Rádio Gaúcha (RS),
vencedora da 1ª edição do Concurso Tim Lopes
entidades de atendimento às vítimas, etc. de Investigação Jornalística,
categoria Rádio.
Valor-notícia
Um dilema freqüente de instituições que dialogam com
a imprensa é definir o que deve ser repassado para os
meios de comunicação. Quais dados e informações po-
dem interessar aos jornais, revistas, rádios, tevês ou
sites? Por que alguns acontecimentos são notícia e ou-
tros não?
Para ser considerado “notícia” o fato deve possuir
algumas características básicas, também chamadas, nos
estudos sobre o jornalismo, de “valores-notícia”. Entre
os principais estão:
26 Guia de Referência para o Diálogo com a Mídia

• Caráter inédito. lificadas sobre a ESCCA, especialmente no


• Atualidade. que se refere ao monitoramento das políticas
públicas na área.
• Impacto que pode exercer sobre as pessoas
e sobre suas vidas. Relacionamento com as redações
• Curiosidade que desperta. Além de reconhecer os meios de comunicação
• Grau de imprevisibilidade e/ou improba- como potenciais aliados estratégicos, as fontes
bilidade. de informação precisam estar atentas a aspec-
tos simples, mas fundamentais, para o forta-
• Proximidade com o acontecimento. lecimento de sua relação com as redações. Vale
• Nível de importância dos envolvidos. apontar algumas dicas gerais:

Sendo assim, não faz sentido tentar em- • O tempo de fechamento dos conteúdos
placar nos meios jornalísticos uma pauta de- jornalísticos é escasso. Não faz sentido
satualizada, desgastada ou que desperta pouco querer ser perfeccionista ao extremo e
interesse no público daquele veículo ou local. É demorar para dar o retorno ao repórter.
preciso que organizações e fontes de informa- Por isso, procurar saber o prazo que ele
ção repensem suas estratégias comunicacionais tem para concluir a matéria deve ser uma
com freqüência, buscando aprimorar a forma preocupação constante da fonte. Nos casos
de apresentar os fatos aos órgãos de imprensa em que não for possível disponibilizar as
– de tal maneira que aumentem a possibilidade informações em tempo hábil, é indispen-
de serem considerados “notícia”. sável fazer um primeiro atendimento e ex-
As organizações devem sempre ter em plicar a situação ao jornalista.
foco que o diálogo com a imprensa, mais do • Deixar de dar retorno a uma consulta da
que garantir espaço para suas agendas ins- redação é uma situação ainda mais deli-
titucionais, é uma oportunidade para a pro- cada se foi sua organização que mobilizou
moção de um debate mais amplo sobre a te- a imprensa. Nesse caso, é essencial ga-
mática. Por isso, é fundamental que estejam rantir espaço na agenda para responder
preparadas para aportar informações qua- às demandas.
Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes 27

• Deve-se evitar o excesso de releases (su- ângulo ou o enfoque que considerem mais
gestões de pautas) encaminhados à im- apropriados para a reportagem, com o ob-
prensa. Trata-se de um recurso a ser jetivo de facilitar o trabalho jornalístico.
utilizado somente em situações que justi- Entretanto, a palavra final é sempre do re-
fiquem a mobilização dos meios de comu- pórter ou do editor.
nicação. Encher as caixas de e-mail dos
jornalistas com sugestões de pautas sobre • Pedir para ver o texto ou a reportagem an-
assuntos de pouca importância geralmen- tes de ser publicada ou ir ao ar demonstra
te provoca resistência dos profissionais que a fonte não confia naquele profissio-
em relação àquela instituição/fonte (veja nal que a entrevistou. Além disso, o ato
mais sobre releases no Capítulo 4). pode ser visto pelo repórter como forma
de intimidá-lo ou de interferir no seu
• Objetividade é fundamental no relacio- trabalho. A melhor maneira de evitar
namento com a imprensa. É importante essas situações é certificar-se de que o
que as fontes de informação busquem jornalista compreendeu bem o conteúdo
responder ao que lhes foi perguntado. repassado durante a conversa.
Ser prolixo, além de não facilitar o traba-
lho do jornalista, pode abrir espaço para • Ao constatar ter feito repasse de dados in-
interpretações amplas e distorcidas da corretos, é dever da fonte informar o jorna-
mensagem que realmente se deseja pas- lista o mais rápido possível. Além de evitar
sar. Mas atenção: isso não significa que a publicação de uma informação inverídica,
a fonte não possa contribuir para a am- esta atitude revela o comprometimento e a
pliação e o enriquecimento da cobertura, preocupação da fonte com a qualidade da
contextualizando, por exemplo, dados e reportagem, gerando, inclusive, mais con-
estatísticas sobre o problema. fiança por parte do repórter.
• Não cabe à fonte interferir na edição da • Fazer insinuações sobre aspectos que não
matéria, dizendo ao repórter o que deve se deseja ou não se possa mencionar aber-
e o que não deve constar no texto. O que tamente abre espaço para que o jornalista
fontes qualificadas podem fazer é sugerir o possa fazer interpretações equivocadas.
28 Guia de Referência para o Diálogo com a Mídia

Pauta exclusiva • Ao fazer declarações para qualquer veículo de comu-


nicação, é importante que a fonte de informação não
se afaste dos conceitos e convicções defendidas pela
A idéia da pauta exclusiva é que a pu-
blicação da informação cause grande
instituição a qual representa.
impacto entre a população e possa gerar • Discriminar um veículo de comunicação qualquer por
repercussões em toda a mídia, além de este não se enquadrar no grupo dos chamados “gran-
provocar o posicionamento das autorida- des” é um erro que não pode ser cometido por fontes
des públicas em relação ao problema em
de informação qualificadas. O mesmo se aplica em
foco. Nesses casos, deve-se manter um
contato telefônico inicial com o repórter
relação a possíveis posicionamentos políticos ou ide-
e, em seguida, estabelecer encontros ológicos dos veículos.
para que sejam repassados todos os • Os meios alternativos de comunicação – como rá-
detalhes, com o intuito de garantir um dios e televisões comunitárias e jornais de bairro
melhor aproveitamento da informação.
– atingem grande público, principalmente nas co-
Embora a pauta exclusiva seja uma es-
tratégia importante de comunicação, é
munidades populares. Firmar parcerias com esses
sempre importante avaliar com cuidado veículos é uma forma interessante de ampliar o raio
se a exclusividade é a melhor forma de de ação das entidades do Terceiro Setor na missão
divulgação de uma determinada pauta de educar a sociedade para prevenir e denunciar a
de impacto. Dependendo do assunto, faz violência sexual.
mais sentido disponibilizá-lo para vários
ou todos os veículos de comunicação.
• Repassar uma informação com exclusividade para
determinado veículo faz parte da estratégia de co-
municação e divulgação de qualquer instituição. No
entanto, é preciso tomar cuidado para que haja rodí-
zio entre meios e profissionais, de modo a garantir
que o diálogo não esteja focado em um grupo muito
restrito (veja mais na nota ao lado).
• Quando não se sentir qualificada ou não quiser tra-
tar de um assunto, a fonte deve dizer isso claramente
Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes 29

ao jornalista e se colocar à disposição para esclare- Identidade resguardada


cimentos futuros sobre outros temas. Além disso,
é importante indicar para o repórter fontes de in-
No Brasil, é garantido ao jornalista o di-
formação que possam responder à demanda que ele reito de não revelar a sua fonte de in-
possui no momento. formação. Geralmente este recurso é
• Quando o assunto é Exploração Sexual Comercial de utilizado em situações complexas, nas
Crianças e Adolescentes, muitos profissionais não quais a integridade física ou moral da
fonte pode ser violada. Mas também
querem dar entrevistas, temendo represálias por
ocorre quando a fonte não quer aparecer
parte das pessoas envolvidas no crime. É importan- por outras razões, sejam elas pessoais
te saber que o jornalista tem meios para resguardar a ou profissionais. Nesses casos, ninguém
identidade da fonte (veja mais na nota ao lado). pode obrigar o jornalista a dizer quem foi
• É importante buscar estratégias para estreitar o re- a pessoa ou o órgão que lhe forneceu a
informação. Assim, alguém que tenha
lacionamento com a redação. Dar telefonemas ou
algo importante a revelar pode sentir-se
enviar cartas aos jornalistas, quando publicam ma- seguro a fazê-lo, em segredo.
térias de qualidade, são exemplos de ações nesse
sentido. As críticas também devem ser feitas, mas
em tom ponderado, apresentando argumentos e in-
dicando caminhos para o repórter melhorar o enfo-
que em outras oportunidades.
• Uma boa estratégia de comunicação deve buscar man-
ter uma relação não só com os repórteres. É impor-
tante buscar acesso também a editores e diretores de
redação, pois esses profissionais são os responsáveis
pelo foco editorial das matérias, com poder para alte-
rar o ponto de vista da cobertura.
• Organizações governamentais e não-governamen-
tais podem e devem estabelecer parcerias com os
30 Guia de Referência para o Diálogo com a Mídia

Gerenciamento de crises

A relação com a imprensa não é uma via de mão • Ignorar a demanda gerada pela imprensa não
única. Da mesma forma que as organizações é a melhor estratégia nunca. Atenda a todas as
da sociedade civil buscam acessar os meios de solicitações de explicação/informação e, se ne-
comunicação, estes também demandam delas cessário, convoque uma coletiva de imprensa.
informações e posicionamentos. No entanto,
• Não responda no susto. É importante sempre
nem sempre este é um diálogo amistoso. Podem
avaliar o melhor momento para dar as expli-
também ocorrer situações de conflito, nas quais a cações e somente oferecê-las quando todos
demanda gerada por um lado não corresponde à os posicionamentos institucionais estiverem
resposta oferecida pelo outro. E, geralmente, em bem definidos.
momentos assim as bases desse relacionamento
ficam estremecidas. • Por outro lado, o tempo da imprensa é curto;
Ter habilidade para gerenciar crises – como não faz sentido estender em demasia o prazo
denúncias de maus-tratos em instituições de in- para apresentar respostas eficazes.
ternação, ou de mau uso de recursos públicos, • É importante saber o quê e para quem falar,
por exemplo – revela maturidade e clareza quanto atendendo às especificidades de cada tipo de
à atuação pública exigida de instituições sérias e mídia (rádio, tevê, impresso, internet).
comprometidas com a qualidade e a transparência
• Busque fazer uso de linguagem clara e de
das suas ações.
fácil compreensão.
O que vem a seguir são algumas dicas de como
as organizações devem agir diante de fatos e acon- • Manter o equilíbrio emocional é fator essen-
tecimentos inesperados: cial nessas situações.
Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes 31

veículos de comunicação e com as


faculdades de jornalismo, estimu-
lando discussões sobre o tema com
o qual trabalham. Isto pode ocorrer
por meio da realização de cursos es-
• Estar atento para não falar nada que não pecíficos de curta ou média duração,
deva ser publicado ou que não possa ser ple- palestras, seminários e grupos de de-
namente esclarecido. bates. Essa é uma forma de conscien-
tizar os atuais e futuros profissionais
• Não faz sentido mascarar o problema. Ser
a trabalhar o assunto com a sensibili-
verdadeiro é o caminho mais eficiente para
dade necessária, objetivando reper-
resolver a situação da melhor forma possível.
cussão positiva junto ao público.
• Procure não privilegiar este ou aquele veícu-
lo. Em momentos de crise o conteúdo trans- Diálogo pedagógico
mitido à imprensa deve ser igual para todos. Como já reiteramos até aqui, a respon-
sabilidade pela qualidade da informação
• É necessário eleger um representante da institui-
pública veiculada em jornais, revistas,
ção para atuar como o porta-voz da crise. Essa
rádios, tevês e sites de todo o país não é
pessoa deve ser segura e conhecer a fundo to-
atribuição exclusiva dos jornalistas. A
dos os detalhes do que está sendo questionado.
produção cada vez mais “generalista” da
• Se necessário, busque a ajuda de um espe- imprensa praticamente não permite que
cialista. Existem no mercado profissionais repórteres e editores se especializem
capacitados para agir em crises de imagem. em uma ou outra temática. Com exceção
das editorias consideradas “nobres” pe-
Fonte: A era do escândalo: lições, relatos e bastidores
los veículos de comunicação – tais como
de quem viveu as grandes crises de imagem, Mário
política, economia e internacional –, a
Rosa. São Paulo: Geração Editorial, 2003.
tendência é que os assuntos sejam cober-
tos por profissionais capacitados apenas
na prática jornalística em si. Lamenta-
32 Guia de Referência para o Diálogo com a Mídia

Direto da redação velmente, com freqüência este é o caso das temáticas


da agenda social – incluindo a Exploração Sexual de
Crianças e Adolescentes.
“O prazo das redações é sempre mínimo Tal realidade certamente não representa o contexto
e com pouca negociação. Para esse tipo
de trabalho ideal ou desejado pelos jornalistas. Trata-
de matéria (ESCCA), no entanto, é sem-
se de uma distorção provocada, em grande parte, por
pre necessário o maior cuidado possível.
Checar, rechecar, cruzar e voltar a bater uma herança cultural perversa – em um dos países com
as informações, para que nada saia do maiores índices de desigualdade do planeta, a temáti-
prumo. Qualquer falha pode virar uma ca social não é entendida como pauta prioritária. Esse
acusação leviana. As fontes precisam ter contexto termina agravado por questões mercadológi-
noção de que geralmente os prazos são cas relacionadas, inclusive, à própria sobrevivência dos
curtíssimos, mas que existem casos em veículos de comunicação – que operam, como vimos,
que a denúncia precisa ser apurada ao com redações cada vez mais enxutas. No entanto, algu-
máximo, para que a redação se resguar- mas experiências no sentido de superar esse formato
de de processos judiciais e problemas têm sido desenvolvidas em redações brasileiras, parte
similares. É preciso perceber esses tem-
delas motivadas pelo fortalecimento da agenda social
pos diferentes”.
registrado no âmbito do governo de Luiz Inácio Lula da
Cláudio Ribeiro,
O Povo (CE), vencedor da 3ª edição do
Silva. Ainda assim, esta é uma lógica de trabalho que
Concurso Tim Lopes de Investigação Jornalística, precisa ser revista em muitos dos veículos de comuni-
categoria Temática Especial. cação do país.
Nesse cenário, não é excessivo sublinhar que a atu-
ação das fontes de informação torna-se fator muito im-
portante para um bom resultado final da reportagem.
Uma fonte bem preparada – e consciente do seu papel
nesse processo – sabe que está diante de um profissio-
nal da área de comunicação e não de um especialista na
temática X ou Y. Por isso, conforme temos destacado, é
fundamental que a questão seja apresentada da manei-
ra mais simples, prática e objetiva possível.
Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes 33

O uso de jargões ou de expressões técni- a imprensa. São cursos de curta duração, que
cas, por exemplo, não facilita em nada a com- repassam dicas e orientações sobre como dia-
preensão da mensagem que se quer passar. logar melhor com os meios de comunicação,
Pelo contrário, além de dificultar o entendi- como se sair bem em entrevistas para os dife-
mento, pode gerar um distanciamento entre rentes tipos de mídia e como agir em situações
fonte e repórter – capaz de comprometer não de crise ou comoção.
só a qualidade do material, mas a inclusão No entanto, além de não serem, na
daquela abordagem no texto a ser publicado. maioria das vezes, elaborados para insti-
Ter paciência e explicar o assunto quan- tuições da sociedade civil, respeitando suas
tas vezes forem necessárias é outro indi- singularidades, esses cursos – chamados de
cativo de uma boa fonte de informação. media training – costumam apresentar um
Dificilmente um jornalista coloca um dado custo alto. Para capacitar cinco pessoas, por
equivocado na matéria de propósito. Qua- exemplo, certas empresas chegam a cobrar
se sempre o erro é resultado da pressa, que até R$ 20 mil, quantia fora do orçamento
leva à má compreensão durante o processo da maior parte das organizações brasileiras
de captação das informações. Por isso, é com foco social.
importante certificar-se de que o conteúdo Uma forma de superar essa dificuldade é
repassado foi compreendido em toda a sua buscar parcerias com organizações não-go-
amplitude, sem espaço para interpretações vernamentais que atuam com foco na inter-
dúbias ou equivocadas. Não se furtar a repe- face mídia–direitos humanos. Algumas de-
tir uma informação sempre que for preciso las não só oferecem material de orientação
pode ser o fator determinante para uma re- sobre como dialogar de forma mais eficien-
portagem de melhor ou pior qualidade. te com a imprensa, como também realizam
cursos de capacitação para atores sociais a
Capacitação para o relacionamento preços bem mais acessíveis. De resto, se-
com a mídia guir algumas dicas simples, ter bom senso e
Atualmente, existem diversas empresas espe- buscar dominar amplamente o assunto a ser
cializadas em oferecer treinamento com o ob- abordado são fatores que tendem a facilitar
jetivo de preparar para o relacionamento com muito essa relação.
34 Guia de Referência para o Diálogo com a Mídia

Especificidades loque em contato com crianças vitimadas.


A apresentação de um caso real traz o proble-
da ESCCA ma mais para perto de quem acessa a notícia e
causa um impacto maior junto à opinião pú-
blica como um todo. Apontar que milhares de
De modo geral, a conduta a ser adotada pelas crianças e adolescentes brasileiros sofrem com
fontes de informação requer os mesmos cui- a ESCCA não tem o mesmo peso, do ponto de
dados para toda e qualquer área de atuação. vista da sensibilização do público, que relatar
No entanto, quando o assunto em pauta é a em detalhes a história de uma menina de 16
Exploração Sexual Comercial de Crianças e anos que começou a ser explorada aos 13 e pas-
Adolescentes, alguns aspectos exigem aten- sou por toda a sorte de problemas e desrespei-
ção redobrada. tos. “Via de regra os jornalistas buscam retratar
Além da escassez de dados quantitativos um lado bem cruel das situações de violação de
sobre o problema (os quais facilitariam a in- direitos de crianças e adolescentes, ainda se-
terlocução com os meios de comunicação), guindo a lógica de que o que choca a sociedade
especialistas em violência sexual cometida deve servir como instrumento para a mobili-
contra meninos e meninas lidam com um zação”, lembra Carolina Padilha, coordenadora
conjunto amplo de questões bastante delica- de programas da Childhood Brasil.
das. Podemos mencionar como exemplo os Qual deve ser, portanto, a postura da
aspectos culturais e legais envolvidos, além fonte diante desse tipo de solicitação? Será
da necessidade de orientar a mídia quanto aos que sempre dizer não é a melhor solução? De
riscos de exposição indevida e revitimização acordo com a consultora em violência sexu-
da criança ou adolescente explorado sexual- al contra crianças e adolescentes, Marlene
mente. Trata-se, portanto, de uma temática de Vaz, o ideal é que o especialista, de forma
difícil manejo. didática, ajude o jornalista a compreender a
razão pela qual os vitimados não devem ser
Busca por personagens expostos. Ao mesmo tempo, caberia a ele
Geralmente, ao produzir uma matéria sobre oferecer dicas de quem pode ser entrevista-
ESCCA, o jornalista solicita à fonte que o co- do e/ou fotografado.
Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes 35

Fontes que atuam em instituições de atendimento às Direto da redação


vítimas podem identificar mais facilmente aqueles ga-
rotos ou garotas mais bem preparados para falar sobre
o assunto. Vale lembrar que, no processo de entrevista, “A boa fonte sobre Exploração Sexual
possivelmente a vítima reviverá muito do sofrimento ex- Comercial de Crianças e Adolescentes é
aquela que tem formação e sensibilidade
perimentado durante o tempo em que foi explorada. É por
para repassar informações ao jornalista
isso que só devem ser indicados meninos ou meninas que dentro dos critérios de respeito aos di-
já tenham passado por um amplo processo de acompa- reitos humanos. Ela não utiliza as vítimas
nhamento e tratamento psicológico. como ‘troféu’ para coroar o seu trabalho,
Não dá para esquecer, porém, que embora a impren- ou seja, não expõe crianças e adolescen-
sa desempenhe um papel importante no enfrentamento tes para dizer que fez o seu papel. Além
a este problema, algumas vezes a cobertura pende para o disso, está sempre disposta a contribuir
viés sensacionalista. Por isto, é importante que um pro- com as reflexões levantadas nos meios
fissional da instituição discuta com o jornalista a pauta de comunicação e indica aos jornalistas
da conversa, de forma a definirem juntos as melhores pautas novas e interessantes”.
perguntas a serem feitas. Além disso, ele deve acompa- Ana Quezado,
TV Verdes Mares (CE),
nhar o repórter durante toda a entrevista. vencedora da 1ª edição do Concurso Tim Lopes
Em resumo, cabe à instituição checar o nível de com- de Investigação Jornalística,
preensão do profissional de imprensa sobre o assunto e categoria Televisão.
suas intenções/propostas em relação àquela cobertura.
A mídia precisa entender que proteger a criança ou o
adolescente violentado deve ser prioridade e que nem
sempre a entrevista é a única ou a melhor alternativa.
Muitas vezes uma descrição bem feita e sensível pode
ser tão esclarecedora quanto um depoimento. De qual-
quer forma, em último caso, é mais sábio não permitir
que a entrevista seja realizada. Afinal, é menos grave
perder a reportagem do que revitimizar um menino ou
uma menina.
36 Guia de Referência para o Diálogo com a Mídia

“Estamos falando de uma violência com que o autor da matéria seja capaz de, sem ser
conseqüências muito complexas. Uma reda- piegas ou sensacionalista, descrever que há
ção fria e desprovida de sensibilidade não al- elementos muito profundos da subjetividade
cança a magnitude do problema. Redigir sobre humana envolvidos. Reconhecer esta subje-
violência sexual não é a mesma coisa que redi- tividade é chave, inclusive, para compreender
gir sobre outras formas de violência como, por porque é melhor não forçar um depoimento”,
exemplo, um assalto a banco ou mesmo sobre sintetiza Renato Roseno, assessor de organi-
um problema no sistema de transportes. Exige zações e movimentos de direitos humanos.

Tribunal midiático: as fontes de informação e o julgamento precipitado

Diante de crimes bárbaros – como os de violência sexual contra crianças e adolescentes – é comum que o desejo de
responsabilização e justiça imediata tome corpo na sociedade. Via de regra, essa ânsia punitiva – que também se reflete na
imprensa – se mostra de duas diferentes formas: a responsabilização da vítima ou o julgamento precipitado do agressor.
Como sabemos, não são raras as reportagens sobre ESCCA que estampam vítimas – especialmente meninas
– sob ângulos que tendem a reforçar uma imagem de sedução e consentimento. Esse é um equívoco perigoso e
diante do qual as fontes de informação devem sempre estar atentas. É importante esclarecer aos profissionais da
notícia que crianças e adolescentes são suscetíveis a serem manipulados, induzidos ou pressionados a consentir
relacionamentos, atividades e contratos e que, acima de tudo, meninos e meninas são indivíduos em processo de
desenvolvimento, donde precisam ter seus direitos fundamentais garantidos.
Outro deslize ao qual as fontes de informação devem estar alertas diz respeito a prejulgamentos do agressor.
Por vezes, a cobertura da imprensa tende a ganhar um caráter policialesco, reforçando julgamentos precipitados e
de apelo punitivo – que em nada contribuem para o debate acerca da solução para o problema em seu aspecto mais
amplo. Uma contribuição que as fontes podem oferecer para tornar essa cobertura mais equilibrada é ressaltar junto
ao jornalista a importância de uma abordagem esclarecedora e educativa, e que também assegure ao agressor o
direito de receber o tratamento judicial legalmente determinado pelas instâncias competentes.
Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes 37

Cuidados com imagens fia ou imagem eletrônica para veicular nos


Um dos desafios de quem atua na interface mí- meios de comunicação. Embora a fonte de
dia e violência sexual é administrar o uso de fo- informação não tenha ingerência sobre o
tos e vídeos em jornais, revistas, tevês e sites. processo de edição da reportagem, é papel
Embora o Estatuto da Criança e do Adolescente dela alertar o jornalista para os cuidados ne-
seja claro – em seu artigo 17 – com relação à in- cessários nessa área, esclarecendo dúvidas e
violabilidade da integridade física, psíquica e orientando o profissional a agir segundo as
moral da criança e do adolescente, abrangen- diretrizes estabelecidas no ECA. Confira a
do a preservação da imagem e da identidade de seguir algumas sugestões:
meninos e meninas, ainda é intensa a demanda
• Orientar o jornalista a não utilizar tarjas
dos meios de comunicação por fotografias ou
pretas nos rostos das crianças. Além de não
imagens eletrônicas de garotos e garotas víti-
garantir a proteção da identidade da vítima,
mas das mais diferentes formas de violação de
que pode ser identificada por meio de ou-
direitos, inclusive a exploração sexual.
tras partes do corpo ou até mesmo por rou-
Esta demanda tem relação direta com a
pas e objetos pessoais, esses recursos ten-
prática jornalística em si. Quem nunca ouviu
dem a reforçar estereótipos e passar uma
dizer que uma imagem vale mais do que mil
imagem negativa do menino ou da menina.
palavras? Nos meios de comunicação im-
pressos – jornais e revistas –, a utilização de • Há uma outra prática com relação à pre-
imagens funciona como um chamariz para o servação da vítima que precisa ser in-
texto. Já no caso da mídia televisiva, a função corporada ao fazer jornalístico: evitar a
da imagem vai além: ela representa a própria identificação de crianças e adolescentes
razão de ser do veículo de comunicação. Em explorados por meio do uso das iniciais
ambos os casos, a imagem ajuda a reforçar a dos nomes. Além de fortalecer um as-
idéia que se quer passar sobre o assunto em pecto pejorativo construído ao longo dos
discussão e pode, se mal utilizada, contribuir anos, se associado a outras informações
para disseminar estereótipos e preconceitos. contidas no texto, esse dado pode per-
Por isso, é preciso que se tenha muito mitir facilmente a identificação da vítima
cuidado na hora de selecionar uma fotogra- por parentes, conhecidos ou vizinhos.
38 Guia de Referência para o Diálogo com a Mídia

• Não adianta preservar o nome da vítima e, • Recursos técnicos como a contraluz, a


ao mesmo tempo, estampar uma foto ou distorção da voz e o desfocar a imagem da
mencionar nomes de parentes ou fornecer criança ou do adolescente podem ser uti-
o endereço do local onde a criança mora. lizados pelos meios de comunicação no
Embora pareça impensável, esta ocorrên- sentido de preservarem a identidade e a
cia é mais comum na cobertura jornalísti- integridade de meninos e meninas vio-
ca do que se imagina. lentados sexualmente.

Abusos por parte dos meios de comunicação

Como visto, os profissionais da imprensa estão sujeitos a incorrer em equívocos na cobertura jornalística cotidiana, espe-
cialmente quando abordam temáticas mais complexas – como é o caso da violência sexual contra meninos e meninas.
Nesses casos, uma atitude proativa das fontes de informação é buscar um diálogo franco com o jornalista, esclarecendo
as especificidades da questão e os caminhos para uma cobertura mais qualificada. Esse, inclusive, pode ser um caminho
importante para a construção de uma relação profícua com aquele repórter.
Nem sempre, no entanto, esse diálogo propositivo alcança o resultado esperado. Como em todas as áreas, o jor-
nalismo também está sujeito a profissionais pouco éticos e que, deliberadamente, utilizam o espaço midiático como
palco para desrespeitos de direitos. Para esses casos, é importante saber que a sociedade dispõe de instrumentos
legais para coibir abusos por parte dos meios de comunicação.
Em novembro de 2005, por exemplo, uma decisão judicial inédita tirou do ar por 60 dias o programa Tarde Quen-
te, exibido pela Rede TV! e que tinha à frente o apresentador João Kléber. A suspensão foi determinada pelo Poder
Judiciário, que atendeu a denúncias sobre a constante violação de direitos humanos cometida pela atração Durante
mais de um mês, a Rede TV! foi obrigada a exibir, no horário antes ocupado por João Kleber, o Direitos de Respos-
ta – série de 30 programas produzidos em conjunto por seis entidades da sociedade civil organizada, entre elas o
Intervozes, que abordava temas como direitos humanos, diversidade sexual e direitos da infância e adolescência.
Por Dentro C onhecer bem os processos de trabalho por trás da
produção da notícia constitui estratégia central para
da Redação aqueles que pretendem dialogar mais sistematica-
mente com os meios de comunicação. Além de saber
discernir os diferentes papéis que cabem à imprensa
e às fontes de informação nas dinâmicas que viabili-
zam a inserção de uma determinada temática no de-
bate público, é também necessário entender quais os
recursos adequados para alcançar os diferentes meios
existentes. Os procedimentos podem variar não so-
mente de acordo com o tipo de mídia: jornal, revista,
rádio, tevê ou internet. Cada veículo de comunicação
possui lógica própria de trabalho, o que demanda das
fontes uma abordagem que leve em conta tanto suas
características positivas quanto suas limitações.
40 Guia de Referência para o Diálogo com a Mídia

Não se deve esquecer, tampouco, do cui- (especialistas, ONGs, etc.) que possam apro-
dado com aspectos básicos, como o momento fundar a discussão da temática.
adequado para envio de sugestões de pauta, o
• Trazer dados que ajudem a contextualizar a
tipo/formato de entrevista a ser concedida e o
questão em foco.
prazo para fechamento das reportagens – todos
eles indicativos de uma relação qualificada en- • Apresentar o assunto de forma atraente e
tre fonte de informação e jornalistas. Em sínte- consistente.
se, a construção de um diálogo produtivo com
Outra dica interessante é buscar oferecer
as redações depende de fatores que a princípio
no release uma abordagem original. No caso
podem parecer simples, mas que fazem toda a
da Exploração Sexual Comercial de Crianças
diferença no dia-a-dia da cobertura.
e Adolescentes, por exemplo, apresentar aos
meios de comunicação novos olhares ou as-
A construção da pauta
pectos pouco conhecidos da questão pode ser
Um dos instrumentos mais eficientes de contato
a chave para o aprimoramento da cobertura. O
com os jornalistas é o release, nome dado ao texto
trabalho de conscientização da população sobre
com sugestões de boas histórias que chegam dia-
a importância do assunto, bem como de redu-
riamente às redações – enviadas por especialis-
ção de preconceitos e estigmas, pode começar
tas, instituições ou assessorias especializadas. O
com uma pauta bem feita e encaminhada da
uso desse recurso, no entanto, não pode ser ex-
maneira correta aos meios informativos.
cessivo. É importante avaliar sua real necessida-
Além da preocupação com o formato, é pre-
de, evitando sobrecarregar as caixas de e-mail,
ciso que a instituição esteja atenta aos horários
telefones ou faxes dos veículos. Vale apontar al-
de fechamento das edições. As informações
gumas características de um bom release:
precisam chegar aos jornalistas de forma que
• Ser curto (sempre que possível, o texto não ele tenha prazo suficiente para avaliar sua re-
deve ultrapassar uma página). levância – afinal, o assunto proposto estará dis-
putando espaço com centenas de outros fatos. É
• Possuir linguagem clara e acessível.
sempre bom lembrar que o release é apenas uma
• Indicar contatos de fontes de informação sugestão de pauta, e não a matéria pronta para
Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes 41

ser veiculada. As equipes das redações precisam de tem- Artigos de opinião


po para trabalhar o texto e/ou a edição final, averiguando
as informações fornecidas e buscando outros dados/esta-
tísticas, de modo a complementar a reportagem e oferecer É desejável – e possível – ocupar novos
ao leitor/ouvinte/telespectador o panorama mais completo espaços na mídia. Especialistas e repre-
sentantes de organizações não-governa-
possível da questão.
mentais podem estabelecer a rotina de
O ideal, portanto, é que os releases sejam encaminhados enviar sistematicamente artigos sobre os
com antecedência razoável às redações (de maneira geral, diversos aspectos da ESCCA para a im-
entre 3 e 5 dias é uma boa solução). Nos jornais impressos, o prensa. O conteúdo dos textos não deve
fechamento da edição do dia começa, geralmente, por volta ser superficial. Ao mesmo tempo, é impor-
das 17h. Nesse caso, se o tema não exige maiores investiga- tante evitar uma linguagem excessivamen-
ções e o objetivo do release é que a matéria seja veiculada na te técnica. Os artigos de opinião enviados
edição do dia seguinte, é aceitável seu envio ainda no período devem também apresentar diferentes
da manhã ou, em último caso, até às 14h30. Já para os ou- pontos de vista. Não é recomendável que
tros tipos de mídia – revistas, rádios e tevês –, é necessário os textos sejam preparados sempre pelas
observar aspectos como a periodicidade da publicação ou o mesmas pessoas.
horário de veiculação do programa. Fonte: Boas Práticas em Comunicação: um guia
para fontes de informação (Agência de Notícias
Além disso, o apoio qualificado ao trabalho do repórter dos Direitos da Infância – ANDI; Organização
– com a indicação de fontes de informações e de pesquisa, Internacional do Trabalho – OIT).
por exemplo – pode significar, especialmente em casos de
urgência, o diferencial entre a veiculação, ou não, de uma
reportagem. Daí a importância de que a organização busque
sempre oferecer uma visão contextualizada da situação, de
preferência dispondo de um amplo e atualizado banco de
fontes e de dados confiáveis sobre a questão em foco.

Corpo a corpo
Nem sempre o envio de um release garante que seu conte-
údo seja aproveitado e transformado em uma reportagem.
42 Guia de Referência para o Diálogo com a Mídia

Pelo contrário. Muitas vezes, os jornalistas dentro das redações e quais respondem me-
não têm tempo de analisar atentamente cada lhor às mobilizações promovidas pelos mo-
uma das sugestões de pauta que chegam dia- vimentos sociais. Assim, no contexto do mai-
riamente às redações. Por isso, nos casos em ling (lista de contatos) de mídia – para o qual
que a questão é de importância fundamental, devem ser encaminhados os releases –, poderá
recomenda-se que a organização também faça haver uma subdivisão reunindo aqueles pro-
contato com os repórteres por telefone. fissionais que merecem uma ligação especial
Trata-se do chamado “corpo a corpo”, es- em situações de maior gravidade. Podem ser
tratégia que envolve um diálogo mais direto incluídos nesta lista de destaque os jornalis-
com o jornalista, com o objetivo de ressal- tas que tenham se mostrado sensíveis à te-
tar a relevância de um determinado conte- mática trabalhada pela organização (ESCCA,
údo noticioso. Nesses casos, vale lembrar educação, saúde, etc.) ou que atuem dentro
que é sempre preciso ter cuidado, para que
de uma perspectiva de promoção e defesa dos
o contato não se torne rotineiro e nem in-
direitos de crianças e adolescentes.
conveniente. Apelar para o lado sentimen-
É sempre importante lembrar que mesmo
tal (“preciso emplacar essa matéria, senão
jornalistas sensíveis à causa podem, em deter-
a causa da infância sairá derrotada”, por
exemplo) também não costuma ajudar no minados momentos, não atender à sugestão
processo de convencimento do jornalista. O de pauta proposta – em virtude da própria fal-
ideal é que o intercâmbio seja fundamentado ta de disponibilidade de tempo em sua rotina
na relevância informativa e no impacto que de trabalho. Com o diálogo franco, o jornalista
a pauta sugerida pode ocasionar. Vale ter em sinalizará sua situação e cabe à organização su-
mente, também, que não é necessário ligar gerir ou encaminhar a pauta a outro profissio-
para todos os jornalistas que tenham rece- nal que possa cobrir o tema. Por essa razão, é
bido a pauta – o trabalho de “corpo a corpo” fundamental buscar diversificar ao máximo os
consiste em uma intervenção mais focada. meios e veículos de comunicação trabalhados.
Para facilitar, sugere-se que as organiza- Afinal, não adianta fazer contato com dois re-
ções tenham conhecimento sobre quais pro- pórteres de um mesmo jornal e deixar de fora
fissionais ocupam postos mais estratégicos outro veículo de comunicação da cidade.
Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes 43

lea lo
se
Grandes obras aumentam o risco de
re mp
de Exe

exploração sexual de crianças e adolescentes


19/05/2008 (Pauta ANDI)

• Especialistas alertam que a relação entre • Projeto criado antes do início das obras na
as grandes construções e o aliciamento de BR-163 tem como objetivo reduzir o pro-
crianças e adolescentes é histórica no país blema e criar uma rede de proteção

Historicamente, as grandes obras de infra-estrutura afirma Socorro Tabosa, assessora da Subsecretaria de


contribuem para o aumento de Exploração Sexual de Promoção dos Direitos da Criança, da Secretaria Es-
Crianças e Adolescentes nas regiões onde se instalam pecial dos Direitos Humanos (SEDH)
os canteiros. A constatação é feita tanto por especia- O Projeto de Enfrentamento da Violência Sexual
listas quanto pelo governo federal, que pela primeira contra Crianças e Adolescentes na Área de Influência
vez colocou em prática um projeto de prevenção ao da Rodovia BR-163 foi criado no ano passado, como
problema, antes do início das obras na BR-163, que parte de um planejamento sustentável elaborado pelo
liga as cidades de Santarém (PA) e Cuiabá (MT). Grupo de Trabalho Interministerial (GTI), coordenado
A rodovia é a única obra prevista no Plano de pela Casa Civil. De acordo com Socorro, após uma
Aceleração do Crescimento (PAC) que, até agora, fase de articulações políticas, o projeto entrará na
possui um planejamento voltado para o enfrenta- fase prática neste ano.
mento à exploração sexual de meninos e meninas.
“Existe essa preocupação no governo. Nas obras, cir- Falta de estrutura
cula muito recurso financeiro e tem uma concentra- A obra da BR, realizada em etapas, está prevista
ção alta de homens sem famílias. É muito mais fácil para reiniciar em breve no trecho que passa por
se instalar a rede de exploração sexual nesses locais”, Santarém, maior cidade entre as seis atingidas
44 Guia de Referência para o Diálogo com a Mídia

pelo projeto – são cerca de 270 mil habitantes, denadora do programa Na Mão Certa, da Childhood
de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Brasil, que trabalha com o enfrentamento à explora-
Estatística (IBGE). A coordenadora do Centro de De- ção sexual em rodovias brasileiras.
fesa da Criança e do Adolescente (Cedeca) de Belém O pesquisador da Organização Internacional do
(PA), Ana Celina Hamoy, reforça a preocupação com Trabalho (OIT) Pedro Américo de Oliveira ressalta que
o início das obras. Ela crítica a falta de recursos no o problema não acontece só no Brasil. Um caminho
Orçamento para o projeto e a ausência de ações de de solução possível, segundo ele, seria criar uma
fortalecimento dos conselhos tutelares, que concen- cláusula no contrato firmado entre governo e empre-
tram a maior parte dos atendimentos a vítimas. sas para condicionar o trabalho à mão-de-obra local.
“É uma cláusula muito simples de ser incluída”, diz.
Especialistas apontam caminhos
Primeiro se instalam os canteiros de obras. Milhares de Sugestões de abordagem:
trabalhadores, de toda parte do país, chegam logo em
seguida em busca de renda, sem família, sem qualquer • Questione o governo federal se o projeto dispõe
vínculo afetivo ou social com a comunidade local. De- de recursos previstos no Orçamento 2008, e se
pois, pouco a pouco vai se formando uma rede de ser- eles são suficientes para a execução das ações.
viços para atender à nova demanda: pequenos bares, • Quer saber quais são as grandes obras de infra-
restaurantes e boates. Uma estrutura de lazer precária estrutura do PAC em andamento no seu estado?
e temporária, geralmente distante dos grandes centros Acesse www.planalto.gov.br/pac/ e clique em
urbanos e, principalmente, da presença do Estado.
“Baixar Relatórios Estaduais”. Você encontrará
O retrato acima é desenhado por especialistas,
as obras previstas para cada estado e o está-
ao explicar como se dá o processo que deságua em
gio em que se encontrava cada obra no início do
esquemas de aliciamento de crianças e adolescentes.
ano, quando foi divulgado o balanço.
“Primeiro chega a rede do sistema ilegal. O Estado,
com seu sistema de direitos e garantias, vai chegar • A partir da relação das obras, procure os conse-
muito tempo depois”, aponta Carolina Padilha, coor- lhos tutelares próximos às cidades onde estão os
Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes 45

Atenção às leis e à terminologia


É indispensável apresentar aos jornalistas
canteiros. Outra fonte são os Centros de Re-
o respaldo legal que fundamenta o comba-
ferência Especializados da Assistência Social,
te à ESCCA. Sempre que possível, portanto,
que trabalham no atendimento às vítimas.
as fontes de informação devem mencionar a
• Por que só em uma obra existe esse trabalho legislação na área: Estatuto da Criança e do
preventivo, já que o governo admite o risco? Adolescente, Constituição Federal, Conven-
ções da OIT – sobretudo a Convenção 182
• Se possível, visite o local das obras e veri-
(sobre proibição das Piores Formas de Tra-
fique o que mudou na região após a insta-
balho Infantil) –, Convenção sobre os Direi-
lação do canteiro. As empresas têm algum
tos da Criança e outras. O jornalista tende a
trabalho de conscientização dos operários?
se sensibilizar ainda mais ao constatar que,
Sugestões de fontes: mesmo com um marco legal considerável,
alguns direitos das crianças ainda não são
Leila Paiva - Coordenadora do Ligue 100
(SEDH) Responsável pelo projeto da BR-163 garantidos. Nesse sentido, deve-se informar
(61) 3429-9940 – leila.paiva@sedh.gov.br também sobre o que acontece com relação ao
Ana Ribeiro - Casa Civil / Assessoria de não-cumprimento das leis, destacando quais
imprensa do PAC instâncias recebem denúncias e as encami-
(61) 3411-1410 nham para redes de proteção.
Carolina Padilha - Coordenadora de progra- Outro aspecto importante de sensibiliza-
mas da Childhood Brasil ção refere-se à utilização de certos termos e
(11) 3841-4812 – cpadilha@wcf.org.br expressões (“menor”, por exemplo) que po-
Neide Castanha - Coordenadora do Comitê dem dar vazão a uma leitura pejorativa sobre
Nacional de Enfrentamento à Exploração a criança e o adolescente, pois reproduzem e
Sexual (61) 3340-8708
endossam de forma subjetiva discriminações
Ana Celina Hamoy - Coordenadora do CEDE- arraigadas e postura de exclusão social. Da
CA de Belém (PA) mesma maneira, deve-se estar atento a as-
(91) 3224-7967 e 3241-7007
pectos relacionados a gênero, raça/etnia ou
deficiência, entre outros. A explicação dos
46 Guia de Referência para o Diálogo com a Mídia

Empresas privadas impactos dos usos de tais termos junto ao leitor e junto à
fonte (que pode em alguns casos ser a própria criança) é
fundamental na sensibilização do jornalista, para que ele
Lembre-se de que os veículos de co-
não revitimize a criança ou o adolescente que já está em
municação são de propriedade privada.
Ou seja, mesmo tendo papel social, são
situação vulnerável.
empresas – funcionam em um mercado
de muita concorrência e necessitam ob- Diferenças no universo midiático
ter lucro. Portanto, pautas que “vendem” Como já colocado anteriormente, é preciso respeitar as
(aquelas que obtêm maior repercussão especificidades de cada tipo de mídia, para que o contato
junto ao público) serão sempre prioriza- com as redações seja eficiente. Diferentes veículos colo-
das pelo repórter ou editor. De qualquer cam exigências distintas para aspectos como o tratamento
forma, é possível conseguir espaço nes- da informação, a velocidade no atendimento e o nível de
ses veículos para tratar de temas mui-
detalhamento do assunto apresentado pela fonte.
tas vezes vistos como menos “quentes”.
Para auxiliar nessa tarefa, envolva toda
A diversificação da abordagem incide também na
sua equipe no processo: peça opiniões e escolha da mídia mais apropriada para se atingir o pú-
idéias aos colegas da organização e pro- blico-alvo no que se refere a determinada atividade ou
fissionais da mídia, de forma a identificar temática. Assim como há notícias mais adequadas para
informações que podem se transformar uma cobertura dos jornais e que não renderiam boas
em uma notícia “vendável” e, ao mesmo reportagens nos veículos eletrônicos, também existem
tempo, de impacto social. aquelas que podem ser mais bem trabalhadas – e ter
Fonte: Boas Práticas em Comunicação: um guia mais impacto –, se veiculadas em rádios ou tevês.
para fontes de informação (Agência de Notícias
dos Direitos da Infância – ANDI; Organização
A seguir, um breve panorama das especificidades
Internacional do Trabalho – OIT). de cada tipo de mídia:

Jornal
• Na maioria das vezes, o repórter recebe a pauta as-
sim que chega à redação e precisa apresentar a ma-
téria pronta no final do dia, antes do fechamento
Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes 47

da edição. Por isso, o retorno das fontes • Apesar de chegar a um número limitado
de informação à solicitação de entrevista de leitores, os jornais diários estão entre
precisa ser rápido, quase instantâneo. A os segmentos de maior credibilidade da
exceção fica para as matérias especiais imprensa. Além disso, eles têm um grande
(geralmente publicadas nos finais de poder de influência sobre os formadores
semana), quando o jornalista tem mais de opinião e gestores públicos.
tempo para apurar e redigir o texto da
reportagem. Mas mesmo nesses casos é Revista
importante estar atento ao prazo para o
• Por serem, geralmente, semanais ou men-
fechamento do texto.
sais, as revistas tendem a ter um pouco mais
• O processo de apuração de uma notícia de tempo para a apuração das matérias. No
algumas vezes permite que o jornalista entanto, é importante também estar atento
realize longas entrevistas com as fontes aos prazos estabelecidos pelo repórter.
de informação. No entanto, isso não sig-
• Assim como ocorre nos jornais diários, as
nifica que o especialista terá um espaço
entrevistas para revistas podem ser um pou-
de destaque na matéria finalizada. O re-
co mais longas. Contudo, a duração da con-
pórter pode priorizar outras questões ou
versa também não tem relação com o espaço
os fatos podem ser sobrepostos por ou-
final dedicado à fala do especialista. Durante
tros mais urgentes ou atuais, tendo em
a edição, o jornalista pode pinçar uma ou
vista que a notícia às vezes passa por um
duas frases de tudo o que foi discutido.
longo caminho de edição até chegar à sua
versão final.
Rádio
• Embora o foco do jornal seja o texto, as
• É uma mídia de ampliado alcance, com al-
imagens (fotos, gráficos e ilustrações)
guns veículos cobrindo, inclusive, pratica-
apresentadas ao longo da reportagem
mente todo o território nacional.
funcionam como importantes aliados no
processo de atrair o leitor para o que está • Trabalha com o tempo contado em segun-
sendo veiculado. dos. Por isso, é importante que, ao dar uma
48 Guia de Referência para o Diálogo com a Mídia

entrevista, a fonte utilize frases curtas e ob- vale a regra de frases curtas e objetivas. Em-
jetivas. Assim como ocorre nos meios de co- bora as falas possam ser editadas, na tevê o
municação impressos, as falas também po- resultado final não fica bom se vários cortes
dem ser editadas. No entanto, o efeito final precisarem ser feitos. Daí a importância de
não fica bom se vários cortes precisarem ser se buscar passar a mensagem já na forma
feitos para se chegar ao resultado desejado. como ela deve ir ao ar, ou seja, sintética.
• As palavras devem ser pronunciadas de • O cuidado com a postura e com a aparência é
forma clara e correta. Evite termos difíceis importante, ao dar entrevista para emissoras
ou análises longas. Busque facilitar a com- de tevê. Se possível, evite usar roupas com
preensão do ouvinte (neste tipo de mídia cores muito chamativas ou estampadas.
não há recursos visuais disponíveis). • O horário nobre do jornalismo na tevê é à
• A entonação e a naturalidade são impor- noite, a partir das 19h.
tantes recursos atrativos no rádio.
Internet
• Os horários mais nobres do jornalismo no
rádio são das 7h às 9h e das 17h30 às 19h, • O jornalismo on-line caracteriza-se por atuar
de segunda a sexta-feira. em tempo real. Por isso, respostas rápidas a
esses veículos são fundamentais.
Televisão • Embora o espaço não seja um problema para
• Meio que atinge o maior número de pes- a produção de grandes reportagens, a prática
soas no Brasil. Segundo a Pesquisa Na- do jornalismo investigativo nos veículos de
cional por Amostra de Domicílios 2005- internet não é comum no Brasil.
2006, do IBGE, 91,4% dos lares brasilei- • A principal característica é o uso de notícias
ros têm pelo menos uma televisão entre curtas e pouco aprofundadas. São flashes
seus bens duráveis. dos fatos que ocorrem ao longo do dia.
• Assim como no rádio, o tempo na televisão • Em caso de erro, é possível que a fonte en-
é contado em segundos. Por isso, também tre em contato com o repórter, para que a
Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes 49

correção seja feita imediatamente. Não é dação, ainda, a tarefa de funcionar como o elo
preciso esperar o dia seguinte ou o próxi- entre a administração da empresa e a redação.
mo noticiário para fazer a correção.
Chefe de redação – decide quais matérias serão
• Os critérios para entrevistas são os mes- veiculadas. Também tem a função de coordenar
mos observados nos veículos impressos. e supervisionar todo o trabalho desenvolvido
nas diferentes editorias (política, economia,
Quem é quem esportes, cidade, cultura etc.) e de selecionar
O processo de produção de uma reportagem os destaques da edição do noticiário.
nos veículos de comunicação conta com ato-
Secretaria de redação – é o órgão responsá-
res bem definidos, responsáveis por dife-
vel pela coordenação dos trabalhos jorna-
rentes etapas da construção da notícia e do
lísticos. Normalmente cuida, também, do
gerenciamento das informações. Cabe res-
fluxo de fechamento da edição.
saltar, contudo, que nem todos atores estão
presentes em todas as redações. As especi- Editor – é o responsável por uma editoria
ficidades de cada veículo, assim como sua (seção) do veículo. Cabe a ele coordenar a
abrangência e capilaridade, são aspectos que equipe na produção da notícia, de forma a
interferem na constituição dos membros garantir que a linha editorial seja respeita-
da sua redação. Em alguns casos, uma única da. Geralmente é quem define o jornalista
pessoa pode acumular duas ou mais funções. responsável pela apuração de uma certa ma-
Confira a seguir as principais funções: téria. Cabe a ele, também, revisar as repor-
tagens e definir os títulos ou chamadas, no
Direção de redação – responsável por defi-
caso da mídia televisiva.
nir e orientar a execução do projeto editorial
do veículo de comunicação. No caso da mídia Redator – é o jornalista responsável pela ver-
impressa, é ela que responde legalmente em são final do texto. Atualmente esta função não
processos decorrentes de matérias não assi- é muito comum, mas nos veículos onde está
nadas – é co-responsabilizada pelo material presente, ele geralmente é também o respon-
veiculado na tevê e no rádio, mesmo que o au- sável pela elaboração dos títulos, das legendas
tor esteja identificado. Cabe à direção de re- das fotos e dos textos de apoio.
50 Guia de Referência para o Diálogo com a Mídia

Repórter – apura os fatos e escreve o texto. Colunista – possui espaço fixo no jornal,
Ele pode tanto sugerir elementos gráficos com periodicidades variáveis. Alguns co-
que complementem a matéria quanto novas lunistas são diários, outros semanais, por
pautas para serem trabalhadas pela editoria. exemplo. Assim como os colaboradores, os
colunistas são pessoas especialistas em de-
Repórter-fotográfico – é o profissional que
terminado assunto.
registra as informações por meio da foto-
grafia. Ao contrário dos demais fotógrafos, o Articulista – especialista que escreve texto
repórter-fotográfico consegue captar uma no- opinativo sobre determinado assunto, ge-
tícia através das suas lentes. Trata-se de uma ralmente publicado/veiculado na seção de
linguagem fotográfica diferenciada. opinião dos veículos de comunicação.
Colaborador – geralmente especialista em al- Ombudsman – profissional cuja tarefa prin-
guma temática, que tem textos publicados nos cipal é receber reclamações, criticar o ma-
veículos de comunicação. Não possuem vín- terial veiculado e estabelecer um canal de
culo empregatício, atuando como convidados. diálogo com o público.
C
Violência omo a mídia noticiosa brasileira trata a Exploração
Sexual de Crianças e Adolescentes? Que terminologias

Sexual e conceitos os jornalistas costumam utilizar em suas


matérias? De que maneira as vítimas são retratadas?

na Pauta Quais as fontes mais comumente ouvidas?


Conhecer de forma aprofundada a abordagem que

da Imprensa os meios de comunicação dedicam à ESCCA é uma im-


portante estratégia para se aprimorar o diálogo com as

Brasileira redações. É a partir da compreensão das fragilidades e


méritos deste noticiário que as fontes de informação
especializadas podem apoiar os profissionais da im-
prensa a produzirem uma cobertura mais propositiva e
qualificada da questão.
É precisamente com o objetivo de diagnosticar a
evolução desse cenário que, há mais de uma década, a
52 Guia de RefeRência paRa o diáloGo com a mídia

Análise especial ANDI monitora e analisa os principais veículos impres-


sos do país no que se refere ao tratamento dedicado às
Este capítulo traz os principais resultados mais diversas temáticas da infância. Quando o foco da
de um estudo realizado em 2007 pela pesquisa se concentra na violência sexual contra meni-
ANDI e a Childhood Brasil sobre a co- nos e meninas, fica evidente que a cobertura tem avança-
bertura da violência sexual na imprensa do significativamente nos últimos anos, apesar de ainda
brasileira. Utilizando dados do noticiário permanecerem desafios importantes.
de 2006, a pesquisa buscou identificar Entre 2000 e 2006, por exemplo, o espaço dedi-
os avanços e retrocessos em relação à cado às temáticas relacionadas à ESCCA quase tripli-
produção de 2000 – ano em que foi ela- cou na imprensa brasileira. Mais importante do que o
borado um amplo levantamento sobre a avanço na quantidade, porém, é o aprimoramento na
atuação da mídia sobre o tema e cujos
qualidade desse noticiário. Trazendo uma abordagem
resultados foram publicados no livro O
mais pluralista e crítica, as reportagens vêm buscan-
Grito dos Inocen-
tes: os meios de do diversificar suas fontes de informação – antes con-
comunicação e a
violência sexual Tabela 1
contra crianças
e adolescentes EVOLUÇÃO DA COBERTURA SOBRE EXPLORAÇÃO
(ANDI/Unicef/ & ABUSO SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Cortez Editora). (Total de notícias acerca do tema)

Para mais detalhes sobre o livro, veja a


página 68. Já a metolodogia utilizada nas Número de Total estimado
notícias de notícias*
análises de mídia realizadas pela ANDI da amostra
pode ser conhecida por meio do texto dis-
ponível no seguinte endereço eletrônico: 2000 167 2.004
www.andi.org.br/_pdfs/metodologia.pdf 2006 457 5.484

Evolução 2000-2006 173,65% 173,65%


*Estimativa obtida a partir de amostragem por método de Mês Composto.
Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes 53

centradas principalmente nas delegacias Desafios e oportunidades – Embora mais con-


de polícia. Também é possível detectar um sistentes na cobertura oferecida à questão,
esforço em não limitar a pauta à simples de- jornais e revistas brasileiros ainda devem su-
núncia: o exercício de questionar as causas perar diversos limites, a fim de garantir um
e apontar as soluções para o problema vem, tratamento editorial capaz de responder às
paulatinamente, sendo integrado à rotina inúmeras complexidades associadas à Explo-
das redações. Da mesma forma, gradual- ração Sexual Comercial de Crianças e Adoles-
mente passa a ganhar corpo a cobrança por centes. Entre os equívocos freqüentemente
políticas públicas na área – uma importante cometidos por muitos veículos está o uso de
contribuição para um debate mais efetivo termos pejorativos na qualificação de vítimas
em torno do problema. e agressores, assim como a divulgação des-

Incentivo ao jornalismo investigativo


Com o objetivo de mobilizar os jornalistas para uma cobertura mais aprofundada sobre o Abuso e a Exploração
Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes, a ANDI e a Childhood Brasil lançaram em 2002 o Concurso Tim
Lopes de Investigação Jornalística. Diferentemente dos demais prêmios jornalísticos, o projeto – que já realizou
quatro edições (2002, 2004, 2006 e 2008) – não reconhece reportagens já veiculadas, mas sim propostas de
pautas originais e inovadoras sobre o tema. As melhores idéias nas cinco categorias do concurso (Impresso,
Rádio, Tevê, Mídia Alternativa e Temática Especial) recebem uma bolsa de incentivo à produção das reportagens.
Os jornalistas selecionados também dispõem de apoio técnico oferecido por especialistas na área e, após a
veiculação de seus trabalhos, um prêmio em dinheiro.
O Concurso Tim Lopes de Investigação Jornalística conta com apoio técnico do Fundo das Nações Unidas
para a Infância (Unicef), Organização Internacional do Trabalho (OIT), Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj)
e Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). Mais informações em: www.andi.org.br/timlopes
54 Guia de Referência para o Diálogo com a Mídia

Olhar para os crimes sexuais necessária de dados sobre meninos e meninas ou suas
famílias. O noticiário também falha na apresentação de
O tratamento dispensado pela imprensa um panorama mais amplo do problema. De acordo com
brasileira aos crimes sexuais envolvendo os estudos feitos pela ANDI, jornais e revistas ainda não
meninos e meninas é, geralmente, mais discutem as conseqüências do fenômeno de uma maneira
qualificado do que o oferecido às outras abrangente. Muitos veículos, ainda, optam por destacar
formas de violência cometidas contra essa aspectos mais apelativos do problema – como a morte das
população. A constatação tem como base a vítimas, por exemplo.
comparação entre estudos realizados pela Mais do que simplesmente criticar essas falhas, é im-
ANDI com foco em diversas outras formas
portante que as fontes de informação identifiquem aqui
de violência contra crianças e adolescen-
uma oportunidade de colaborar para o aprimoramento do
tes (maus-tratos, roubos e homicídios, por
exemplo) e aqueles que tratam especifica- trabalho da imprensa. É a partir desse diálogo mais pró-
mente da violência sexual (reunindo abu- ximo que o problema da violência sexual contra crianças
so e exploração). Em 2002, por exemplo, e adolescentes poderá ter sua visibilidade fortalecida em
16,89% das matérias sobre Exploração e nossa sociedade – de modo que venha a se tornar em uma
Abuso Sexual discutiam soluções para as prioridade também para os decisores públicos.
questões retratadas. No tema Violência
em Geral, o índice foi bem menor: 3,99%. Mobilização factual
A discussão do problema sob a ótica legal As pesquisas realizadas pela ANDI confirmam a percep-
também é mais presente nas reportagens ção geral de que a cobertura sobre Exploração e Abuso
sobre violência sexual: 12,35%, contra
Sexual ganha força nos meses de maior relevância para
5,06%. No que se refere às políticas públi-
os movimentos sociais da infância. Tanto em 2006
cas na área, novamente a cobertura focada
nos crimes sexuais se destaca. Cerca de quanto em 2000, a maior concentração de matérias
5,25% desses textos discutiam ações im- sobre a temática esteve no mês de maio, com 16,70%
plementadas pelo poder público, enquanto e 19%, respectivamente, do total de textos publicados
as reportagens sobre Violência em Geral sobre o assunto, naqueles anos. Os outros meses de
não ultrapassam 0,45%. destaque são julho (aniversário do Estatuto da Criança
e do Adolescente), com 9% e 11%, e outubro (mês da
criança), com 12,70% e 9,50%.
Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes 55

Para além dos adjetivos bém agressores. Embora avanços tenham sido
Como sabemos, o Abuso e a Exploração Sexual registrados entre a cobertura de 2000 e 2006,
Comercial de Crianças e Adolescentes são cri- ainda é possível encontrar nas páginas de jornais
mes ainda cercados por muita desinformação e e revistas termos como “monstro”, “maníaco”
preconceito. Não raras vezes, a imprensa acaba ou “tarado” para designar agressores. A tenta-
por reforçar estereótipos, utilizando termino- tiva de atribuir à vitima a responsabilidade pela
logias inadequadas para designar vítimas e tam- violência sofrida também ocorre: “assanhada”,
“biscateira” ou “espevitada” são algumas das
Tabela 2 expressões para apontar vítimas do crime.
Oferecer um tratamento mais ético aos en-
EVOLUÇÃO MENSAL DA COBERTURA SOBRE
EXPLORAÇÃO & ABUSO SEXUAL DE volvidos em casos de violência sexual é, portan-
CRIANÇAS E ADOLESCENTES to, um desafio que segue central para boa parte
dos profissionais de imprensa e para fontes
Total de notícias sobre o tema em 2000 e 2006
de informação. Segundo Leila Paiva, assessora
Mês 2000 2006
da Subsecretaria de Promoção dos Direitos da
Janeiro 4,60% 9,40%
Criança e do Adolescente, da Secretaria Espe-
Fevereiro 7,30% 7,00% cial dos Direitos Humanos (SEDH), um cami-
Março 12,20% 7,90% nho possível para as entidades que trabalham
Abril 5,20% 5,30% com o tema seria orientar repórteres e editores
Maio 19,00% 16,70% acerca da inadequação de algumas terminolo-
Junho 6,40% 5,90% gias. “É importante produzir uma proposta de
Julho 11,00% 9,00% release diferenciada, que além de oferecer con-
Agosto 5,20% 7,50% teúdo qualificado, também oriente com relação
Setembro 6,40% 6,10% à utilização de expressões que contribuam para
Outubro 9,50% 12,70% o entendimento da questão.”
Novembro 6,40% 3,90%
Exposição da vítima
Dezembro 6,40% 8,60%
O artigo 17 do Estatuto da Criança e do Ado-
Total (N) 2.004 5.484
lescente é muito claro quando aponta: “o di-
56 Guia de Referência para o Diálogo com a Mídia

Palavra de fonte reito ao respeito consiste na inviolabilidade da integri-


dade física, psíquica e moral da criança e do adolescente,
abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da
“Em que pesem todos os avanços de
autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e
mudança na linguagem jornalística com
o advento do Estatuto da Criança e do
objetos pessoais”. Essa orientação vale tanto para os me-
Adolescente (ECA), infelizmente alguns ninos e meninas que são vítimas quanto para os que são
profissionais ainda utilizam o termo ‘me- agentes de atos infracionais. Entretanto, nem sempre
nor’, sobretudo em matérias relacionadas esse direito fundamental é respeitado no âmbito da im-
ao tema da Exploração Sexual. Outros prensa brasileira.
erros comuns são a confusão conceitual Aproximadamente 14% dos textos sobre violência
entre as situações de Abuso e Explora- sexual contra crianças e adolescentes analisados pela
ção Sexual e o desconhecimento sobre ANDI em 2006 identificam as vítimas mencionando
as diferentes modalidades de Exploração seus nomes e em mais de 2% há fotos que permitem
Sexual Comercial, em especial o tráfico identificá-las. Preocupa também constatar que esses
para esse fim”.
percentuais cresceram bastante, quando comparados
Graça Gadelha,
socióloga e consultora da aos encontrados em 2000.
Partners of the Americas Segundo Carolina Padilha, coordenadora de pro-
gramas da Childhood Brasil, é papel fundamental das
organizações que trabalham na área da violência sexual
contra crianças e adolescentes contribuir para mudar
esse olhar. “A Childhood sempre busca, no início de
qualquer conversa com jornalistas e demais profissio-
nais de imprensa, deixar claro quais são nossas preo-
cupações em relação à exposição de meninos e meninas
(seja num depoimento, numa foto ou na descrição de
alguma situação de violência). Orientamos os profis-
sionais a utilizarem falas de psicólogos, assistentes so-
ciais, médicos e conselheiros tutelares quando há ne-
cessidade de depoimentos”, exemplifica.
Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes 57

Tabela 3

PRESERVAÇÃO DOS DIREITOS DA


INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA

(% sobre o total de notícias de cada período acerca do tema


Exploração & Abuso Sexual de Crianças e Adolescentes)*

VÍTIMA 2000 2006

Há a presença de descrições minuciosas sobre o corpo ou estado da vítima 4,60% 5,20%

Menciona nomes de crianças e adolescentes envolvidos 3,10% 14,00%


Menciona, quando o nome não é citado, características e/ou informações que
13,10% 2,80%
permitam identificar as crianças e adolescentes envolvidos
Há foto explicitando a violência a que as vítimas foram submetidas 1,80% 0,20%

Há foto de crianças e adolescentes que permite identificá-los 0,90% 2,20%

Há o uso de tarja preta** - 0,20%

AGRESSOR 2000 2006

Menciona nomes de crianças e adolescentes envolvidos 0,00% 1,50%


Menciona, quando o nome não é citado, características e/ou informações que
0,30% 4,60%
permitam identificar as crianças e adolescentes envolvidos
Há foto de crianças e adolescentes que permite identificá-los 0,00% 0,00%

Há foto com tarja preta** - 0,00%


* As variáveis permitem marcação múltipla. Os percentuais dizem respeito ao total projetado de 2.004 textos (2000) e 5.484 textos (2006).
** Variável não analisada em 2000.
58 Guia de Referência para o Diálogo com a Mídia

Palavra de fonte Por trás dos crimes


Apresentar os aspectos que poderiam influenciar a ocorrência
da violência sexual contra crianças e adolescentes ainda não é
“A imprensa pode contribuir para o enfren- uma prática adotada pela maior parte da imprensa brasileira.
tamento da Exploração Sexual Comercial Em 2006, apenas 22% das matérias que abordaram o tema
passando informações precisas e seguras
mencionaram possíveis causas para o fenômeno. Embora
sobre a problemática e radicalizando na
limitado, é importante destacar que o número é bem maior
defesa do direito da criança e do adoles-
cente em desenvolver a sua sexualidade que o registrado na mensuração anterior, de 2000 (8%).
de forma saudável (compatível com sua Em 50% das reportagens que desenvolvem essa aborda-
idade) e segura (sem moralismo ou tabus). gem, a pobreza aparece como principal fator para a ocorrên-
Para isso, é necessário que jornalistas e cia de crime sexual. Em segundo lugar, estão a desestrutura-
comunicadores, de modo geral, abordem ção familiar e problemas psicológicos – ambos com 24,04%.
o tema sob a ótica dos direitos humanos, Um ponto positivo captado pela análise comparativa, entre
o que significa muito mais do que sim- 2000 e 2006, é a maior atenção das redações a aspectos re-
plesmente dar espaço para a questão. lacionados a ações públicas de combate à violência sexual.
É preciso que os meios de comunicação Em 2006, a falta de políticas de atendimento às vítimas foi
criem condições de aprofundamento do
apontada como fator responsável pela violência em 6,73%
tema, tratando do combate à impunidade
dos textos. A ausência de políticas voltadas para a solução do
e também da proteção às vítimas”.
problema apareceu como causa em outros 15,38%. Os dois
indicadores apresentam avanços significativos, já que, em
Neide Castanha,
secretária-geral do Cecria (Centro de 2000, o primeiro índice havia sido nulo, e o segundo corres-
Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e pondia a 7,14% – ou seja, menos da metade do valor verifi-
Adolescentes) e presidente do Comitê Nacional
de Enfrentamento da Violência Sexual Contra cado em 2006.
Crianças e Adolescentes. A maior conquista do processo de qualificação da im-
prensa, porém, pode ser percebida na redução de maté-
rias que responsabilizam a vítima pela violência: de quase
18% em 2000, o percentual caiu para 2,88% em 2006.
Merece destaque também o fato de que os textos que
apontam causas gerais para o problema reduziram muito
Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes 59

Tabela 4

CAUSAS DO ABUSO & EXPLORAÇÃO SEXUAL,


SEGUNDO OS TEXTOS

(% sobre total de notícias acerca do tema que abordaram Causas)*

2000 2006
Pobreza (desemprego, tensão social) 64,29% 50,00%
Desestruturação familiar 3,57% 24,04%
Problemas de ordem psicológica 17,86% 24,04%
Abusos sexuais sofridos em outras fases da vida 0,00% 20,19%
Ausência de políticas públicas direcionadas para a solução do problema 7,14% 15,38%
Drogas 3,57% 14,42%
Falta de ação ou preocupação da sociedade com o tema 17,86% 9,62%
Fator cultural 0,00% 9,62%
Inadequação da família aos problemas enfrentados pela criança 10,71% 7,69%
Falta de política de atendimento às vítimas 0,00% 6,73%
Ineficiência das diversas autoridades ligadas ao tema 28,57% 5,77%
Corrupção policial 7,14% 3,85%
Banalização da sexualidade pela sociedade/mídia 14,29% 3,85%
Culpabilidade da vítima 17,86% 2,88%
Erotização precoce 10,71% 0,96%
Inadequação da educação – escolar/familiar 7,14% 0,96%
Outras causas gerais 53,57% 21,15%
Total (N) Tol 168 1.248
* A variável permite marcação múltipla.
60 Guia de Referência para o Diálogo com a Mídia

Tabela 5 em 2006: 21,15% contra 53,57%. Ou seja, os


CONSEQÜÊNCIAS DO
jornalistas já estão buscando investigar mais
ABUSO & EXPLORAÇÃO SEXUAL, detalhadamente os aspectos que propiciam a
SEGUNDO OS TEXTOS manifestação desse tipo de crime. Por outro
(% sobre total de notícias acerca do tema que
lado, preocupa a queda dos índices em tópicos
abordaram Conseqüências)* como a ineficiência das autoridades ligadas ao
tema, a erotização precoce e a banalização da
VÍTIMA 2000 2006 sexualidade pela sociedade e a mídia.
Morte 8,70% 79,82%
Gravidez 50,00% 17,43% Discutindo conseqüências
Problemas psicológicos 17,39% 11,93% Além de compreender as causas da violência
Aborto 26,09% 5,50% sexual, outros dois componentes essenciais
Fuga de casa 13,04% 5,50% para o enfrentamento do fenômeno são a dis-
DST/ AIDS 6,52% 5,50% cussão sobre os impactos desses crimes na vida
Problemas físicos 32,61% 4,59% das vítimas e a busca por soluções para o pro-
Abandono da escola 2,17% 3,67% blema. Na análise feita pela ANDI em 2006,
Expulsão de casa 2,17% 0,92% cada um desses fatores aparece em 23% do
Suicídio 0,00% 0,92% material jornalístico avaliado. Os índices es-
Tentativa de suicídio 0,00% 0,00% tão bem próximos dos registrados nas matérias
que abordaram as causas da violência sexual e
Total (N) Tol 276 1.308
apresentam crescimento em relação à medição
AGRESSOR 2000 2006 anterior. Em 2000, 14% dos textos haviam dis-
Morte 16,67% 79,31% cutido as conseqüências do ato violento para as
Violência física 33,33% 37,93% crianças, e apenas 7% apontaram soluções.
Linchamento 66,67% 20,69% Uma constatação preocupante, contudo, foi
Violência sexual 8,33% 0,00% o aumento, em 2006, dos casos em que a mor-
te da vítima é apontada como conseqüência da
Total (N) Tol 72 348
violência sexual. Quase 80% das reportagens
* A variável permite marcação múltipla. pesquisadas trazem essa abordagem, que apa-
EnfrEntamEnto à Exploração SExual dE CriançaS E adolESCEntES 61

recia em menos de 8% das matérias em 2000. Outro ín- Guia para jornalistas
dice que cresceu muito na comparação entre os dois anos
é o que aponta a morte do agressor como conseqüência:
79,31% em 2006, contra 16,67% em 2000. O Guia de Referên-
cia para a Cobertu-
A Tabela 5 evidencia um grave reflexo desses proble-
ra Jornalística sobre
mas: a tendência de focar casos de morte relacionados Exploração Sexual
aos crimes sexuais contribuiu para reduzir a cobertura de Crianças e Ado-
jornalística que tratava de outras conseqüências – menos lescentes tem co-
graves para as vítimas, mas de forte impacto tanto em ter- mo objetivo auxi-
mos pessoais quanto sociais. Alguns aspectos em que se liar os profissionais da imprensa na pro-
observou queda de 2000 para 2006 foram: gravidez (50% dução de bons textos sobre o fenômeno.
para 17,43%), aborto (de 26,09% para 5,50%) e proble- A publicação oferece elementos práticos
mas psicológicos (de 17,39% para 11,93%). a serem utilizados no dia-a-dia das re-
Graça Gadelha, socióloga e consultora da Partners dações, como sugestões de abordagens
of the Americas, destaca que essa “espetacularização do temáticas e um guia de fontes. Também
traça um panorama geral da legislação
crime” acaba por prejudicar a compreensão mais ampla
nacional e internacional sobre ESCCA. O
do fenômeno: “a morte física é a conseqüência extrema, Guia é o primeiro volume da série Jor-
mas há também uma série de seqüelas que geram uma nalista Amigo da Criança, uma realização
morte imperceptível: a morte psicológica, a da auto-es- da ANDI com o patrocínio da Petrobras
tima, a da representação da figura masculina. A socieda- e do governo federal e apoio do Unicef.
de precisa estar atenta a essas subjetividades, inclusive O documento está disponível para down-
cobrando políticas públicas que possam assegurar a re- load no site da ANDI (www.andi.org.br/_
construção do projeto de vida dessas vítimas”. pdfs/Guia_de_referencia_ESCCA.pdf).

Qual é a solução?
Se no debate sobre conseqüências a mídia demonstrou re-
trocesso na sua linha editorial, privilegiando casos de gra-
vidade extrema, ao focalizar o quesito soluções, encontra-
mos indicadores mais positivos. Apesar de as campanhas
62 Guia de Referência para o Diálogo com a Mídia

Tabela 6 de conscientização aparecerem como principal


SOLUÇÕES PARA ABUSO & EXPLORAÇÃO
solução para o problema – registrando o maior
SEXUAL, SEGUNDO OS JORNAIS crescimento entre 2000 e 2006 –, chama a aten-
(% sobre total de notícias acerca do tema
ção o aumento das matérias que cobram ações de
que abordaram Soluções)* combate por parte das instituições diretamente
2000 2006 responsáveis pela criança e pelo adolescente,
Campanhas de como a escola, a família e a comunidade.
conscientização (contra o Impressiona, porém, o baixo índice de
6,50% 38,80%
turismo com fins sexuais, por
exemplo) textos que identificam o Estado como prin-
Combate à impunidade 38,70% 29,10% cipal responsável pelas políticas de comba-
Melhor política de te ao fenômeno. Tal abordagem não ocorre
11,30% 13,60%
acompanhamento das vítimas nem mesmo pela discussão de contextos de
Parcerias (ONGs, governo,
11,30% 11,70% fundo, como os que enfocam a melhoria das
empresas, igrejas)
condições socioeconômicas como uma das
Penas mais severas 3,20% 10,70%
soluções possíveis. Mesmo com 50% dos
Soluções a serem tomadas pela
própria família
8,10% 9,70% textos jornalísticos trazendo esse fator como
Soluções a serem a principal causa das práticas de Abuso e de
1,60% 5,80% Exploração Sexual de Crianças e Adolescen-
implementadas na escola
Ações da comunidade 0,00% 4,90% tes, apenas 3,9% das reportagens entendem
Eficiência administrativa 1,60% 4,90% que garantir condições dignas de vida para as
Melhoria das condições socio- famílias seja uma forma efetiva de enfrenta-
1,60% 3,90%
econômicas mento do problema.
Capacitação de policiais 1,60% 2,90%
Política de cultura/arte e
1,60% 1,00% Polícia tem menos destaque
educação
Ao analisarmos atores e instituições que pre-
Protagonismo juvenil 1,60% 0,00%
dominam nos textos sobre a violência sexual,
Outras soluções apresentadas 11,30% 16,50% é possível perceber que, em 2006, ocorreram
Total (N) Tol 132 1.236 mudanças substanciais no perfil das fontes
* A variável permite marcação múltipla. ouvidas. Por um lado, as autoridades poli-
Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes 63

Gráfico 1

Fontes Ouvidas na Cobertura


(% sobre o total de notícias de cada período acerca do tema
Exploração & Abuso Sexual de Crianças e Adolescentes)*
25, 00%

20,00%

15,00%

10,00%

5,00%

0,00%
Executivo

Legislativo

Judiciário

Ministério Público

Defensoria Pública

Conselhos tutelares e

Autoridades policiais

Autoridades de saúde

Autoridades de educação

da sociedade civil
Organizações
conselhos de direitos

2006

2000

ciais deixaram de ter domínio absoluto so- Essa pluralização das fontes pode ser en-
bre o discurso jornalístico – um dos aspectos carada como uma mudança de perspectiva da
mais preocupantes identificados na análise cobertura oferecida à pauta da Exploração e do
realizada em 2000. Ao mesmo tempo, outros Abuso Sexual contra Crianças e Adolescentes.
atores ganharam espaço: Poder Executivo, As fontes que tiveram presença fortalecida, vale
Legislativo, defensorias, conselhos, autori- notar, tendem a garantir maior qualidade ao
dades de saúde e, ainda que em menor escala, texto jornalístico, pois estão mais diretamente
organizações da sociedade civil. relacionadas à formulação de políticas públicas.
64 Guia de Referência para o Diálogo com a Mídia

Além disso, podem oferecer dados que permi- Legislação


tem contextualizar e problematizar a questão – Mapear, debater e difundir o arcabouço jurídi-
ao contrário do que geralmente ocorre quando co no qual se insere o crime da Exploração e do
a fala fica restrita às autoridades diretamente Abuso Sexual de Crianças e Adolescentes é uma
ligadas ao encaminhamento do crime. ação indispensável, quando se deseja esclarecer
a sociedade sobre o problema e cobrar medidas
Atenção às políticas públicas do setor público para a área. Essa, no entanto, é
As pesquisas realizadas pela ANDI e seus par- uma estratégia que ainda precisa ser fortalecida
ceiros constataram que, em 2000, menos de no âmbito das redações brasileiras.
10% da cobertura oferecida pela imprensa bra- Segundo os estudos feitos pela ANDI em
sileira à temática da Exploração e Abuso Sexual 2000 e 2006, poucas são as notícias sobre
abordava programas e ações governamentais de violência sexual que trazem referência aos
combate à violência cometida contra crianças e documentos legais nos quais estão firmados
adolescentes. Em 2006, esse percentual apre- as garantias e direitos conferidos a meninos
sentou uma melhora substancial:16,6%. e meninas.
Outro sinal de avanços consiste no aumen- A legislação mais citada é o Estatuto da
to do volume de notícias que discutiram a pauta Criança e do Adolescente, presente em pou-
sob uma perspectiva que extrapola a descrição co mais de 11% das matérias publicadas em
de casos individuais, embora esse aspecto ainda 2000 e não chegando a 8% dos textos veicu-
seja o predominante nos textos de 2006. Tam- lados em 2006.
bém merece destaque o maior uso de elementos Instrumentos importantes como a Cons-
que permitem a contextualização desses crimes tituição Federal e os Tratados e Convenções
e a expansão, ainda que tímida, de matérias que Internacionais focados na população infanto-
apontam falhas de políticas públicas e cobram as juvenil foram citados em menos de 1% das
autoridades responsáveis. Tais índices indicam reportagens publicadas em cada um dos anos.
que começa a haver espaço para a mídia exercer Em 2006, no entanto, foi registrado um pe-
mais efetivamente seu papel de controle social queno acréscimo nas referências a legislações
sobre as atividades governamentais, quando está ordinárias (leis, decretos, portarias, etc.), que
em foco essa grave violação. subiram de 0,9% para 2%.
Mídia A influência que exerce na agenda pública, a relevân-
cia para a sociedade e até o glamour que alguns conferem à
em Foco profissão fazem com que o jornalismo seja uma das temá-
ticas mais discutidas e representadas em livros, filmes e,
mais recentemente, na rede mundial de computadores.
Sem ter a pretensão de esgotar o material já produzido
sobre esse universo, listamos algumas das produções que
apresentam fatos – verídicos ou não – e debates a respeito
da produção jornalística e dos bastidores das redações.
Trata-se de uma listagem inicial para quem deseja co-
nhecer o funcionamento dos diferentes veículos e desen-
volver estratégias para o diálogo com profissionais da mí-
dia. As sugestões também valem para aqueles que querem
ter acesso a uma boa literatura ou ao entretenimento que
tenha os meios de comunicação como eixo central.
66 Guia de Referência para o Diálogo com a Mídia

Livros sobre como a mídia e a sociedade produzem os


escândalos e como as empresas e os profissio-
A arte de fazer um jornal diário nais podem evitá-los e, em última instância,
Autor: Ricardo Noblat superá-los. O que fazer para proteger sua cre-
Editora: Contexto dibilidade numa crise? Como se preparar de
O livro é um resumo das lições aprendidas pelo forma eficiente? Estas são apenas algumas das
jornalista Ricardo Noblat ao longo de 35 anos perguntas a que o livro tenta responder.
de profissão. Na publicação, ele faz uma de-
fesa empenhada do jornalismo responsável e A prática da reportagem
realmente informativo, oferecendo uma visão Autor: Ricardo Kotscho
ampla a respeito dos parâmetros que deveriam Editora: Ática
guiar o processo de operação de um jornal. O livro é uma resposta às questões funda-
mentais da prática da reportagem, por um
A aventura da reportagem dos maiores repórteres da imprensa brasi-
Autores: Gilberto Dimenstein e Ricardo Kotscho leira. O autor esclarece as dúvidas mais co-
Editora: Summus Editorial muns sobre o fazer jornalístico e sobre como
Os autores analisam a produção de notícias sob elaborar uma reportagem.
duas vertentes: a cobertura jornalística do po-
der e a das questões sociais. O livro apresenta Assessoria de imprensa e relacionamento
bastidores das notícias e o modo de produção com a mídia
de algumas das matérias mais importantes já Autor: Jorge Duarte (organizador)
publicadas no Brasil. Editora: Atlas
O livro apresenta uma coletânea de textos ela-
A era do escândalo – Lições, relatos e bastidores borados por pesquisadores e profissionais com
de quem viveu as grandes crises de imagem ampla experiência em assessoria de imprensa.
Autor: Mário Rosa Além de apresentar a história das assessorias
Editora: Geração Editorial de imprensa no Brasil, nos Estados Unidos e
A partir de dez escândalos que se tornaram casos na Europa, a publicação conta com textos sobre
de repercussão nacional, a publicação discute imagem corporativa, release, relacionamento
Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes 67

da fonte com os meios de comunicação, geren- tificar essa percepção nos variados segmentos
ciamento de crises, entre outros. de mídia: rádio, televisão, revistas e jornais.

Assessoria de imprensa – Como se relacionar História da imprensa no Brasil


com a midia Autor: Nelson Werneck Sodré
Autor: Maristela Mafei Editora: Mauad
Editora: Contexto Apresentando a trajetória dos órgãos de im­
O livro revela os bastidores de grandes cri- prensa que marcaram, fizeram e registraram a
ses envolvendo a mídia e o papel essencial História do Brasil, o livro expõe e analisa cri-
desempenhado pelo assessor de imprensa ticamente a evolução do jornalismo em nosso
em empresas de grande porte, tanto do se- país, desde a época colo­nial até a década de
tor privado quanto do público. Além disso, 1960. Na obra, o historiador e ensaísta Wer-
a autora preocupa-se em apontar as parti- neck Sodré aborda ainda a interferência es-
cularidades que distinguem e, por vezes, trangeira em nossos meios de comunicação.
aproximam o trabalho de assessoria ao de
relações públicas. Manual da Redação – Folha de S.Paulo
Editora: Publifolha
Complexo de Clark Kent – São super-homens Além de oferecer dados sobre as estruturas física
os jornalistas? e operacional do jornal, apresenta o projeto edi-
Autor: Geraldinho Vieira torial e os critérios de padronização e estilo que
Editora: Summus Editorial devem ser adotados por seus colaboradores e
A publicação discute se o jornalista realmente repórteres. O manual apresenta, ainda, diversos
quer ser um super-homem (a exemplo do que anexos que facilitam o acesso a dados e infor-
ocorre com o protagonista de Superman) ou mações sobre temas como economia, geografia,
se é a sociedade que projeta nele esta missão. matemática, legislação, religiões, entre outros.
Por meio de depoimentos de bem-sucedidos
jornalistas brasileiros – como Gilberto Di- Manual de redação e estilo – O Estado de S.Paulo
menstein, Marília Gabriela, Joelmir Beting e Autor: Eduardo Martins
Otávio Frias Filho –, o livro procura desmis- Editora: Moderna
68 Guia de Referência para o Diálogo com a Mídia

Lançado em 2008, o livro reúne 25 artigos


Além de apresentar o projeto editorial do jor-
trazendo reflexões e informações capazes de
nal, o manual mostra como evitar os erros mais
subsidiar avanços na cobertura da impren-
comuns do idioma e ensina a preparar um texto
sa sobre políticas públicas sociais, direitos
com simplicidade, correção, elegância e estilo.
humanos e desenvolvimento humano. Es-
O Grito dos Inocentes - Os meios de comuni- pecialistas de diferentes áreas e afiliações
cação e a violência sexual contra crianças e institucionais, além de jornalistas, comuni-
adolescentes cólogos e professores de jornalismo assinam
Autor: ANDI, Childhood Brasil, Unicef a publicação.
Editora: Cortez
Guia para uma cobertura qualificada sobre vio- Quem tem medo da imprensa? Como e quando
ência sexual contra crianças e adolescentes. Di- falar com os jornalistas
rigido a jornalistas, estudantes, professores de Autor: Regina Villela
comunicação e profissionais da área social. Editora: Campus
O livro dá dicas para quem é procurado por
O que é jornalismo jornalistas e pensa em evitar o contato. A au-
Autor: Clovis Rossi tora defende que esta trata-se de uma estra-
Editora: Brasiliense tégia ruim, que pode prejudicar a imagem da
O autor conceitua a prática jornalística a partir empresa e passar a sensação de covardia, ad-
da experiência vivida em algumas das mais im- missão dos erros ou incompetência.
portantes redações do país. Além disso, oferece
ao leitor uma discussão sobre aspectos como Quem tem medo de ser notícia? Da informação à
a objetividade do jornalismo, a diversidade de notícia: a mídia formando ou “deformando” uma
opiniões e o processo de seleção das notícias. imagem
Autor: Marilene Lopes
Políticas Públicas Sociais e os Desafios para o Editora: Makron Books
Jornalismo O livro conta como a Xerox do Brasil virou
Autor: ANDI / Fundação W. Kellogg exemplo em comunicação empresarial, a
Editora: Cortez partir da implantação da política “De por-
Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes 69

tas abertas com a Imprensa”. A estratégia elas criam para a civilização ocidental – da
consiste na idéia de que jornalistas mere- invenção da prensa gráfica à internet.
cem tratamento de “clientes” dentro de uma
empresa, e que, por sua vez, precisam de um Sites
agente “facilitador” para atendê-la: a asses-
soria de imprensa. www.comunique-se.com.br
Portal voltado para profissionais de comu-
Sobre ética e imprensa nicação. Estão disponibilizadas notícias de
Autor: Eugênio Bucci bastidores do mercado jornalístico e opor-
Editora: Companhia das Letras tunidades de emprego, além de uma seção
A publicação faz uma reflexão sobre o po- com cursos e eventos sobre a temática. Con-
der da imprensa e a possibilidade de um ta ainda com uma seção na qual colunistas
jornalismo ético que atenda ao interesse discutem diversos aspectos relacionados à
de informar bem o público. A obra discorre imprensa. O portal existe desde 2001 e, para
sobre os pecados cometidos pela imprensa, acessar todos os seus conteúdos, é preciso
especialmente no que diz respeito à condu- que a pessoa seja cadastrada.
ta ética, questionando a independência dos
meios de comunicação diante dos conflitos www.direitoacomunicacao.org.br
de interesses. O Observatório do Direito à Comunicação con-
siste em um ambiente de acompanhamento/
Uma história social da mídia – De Gutemberg fiscalização e reflexão sobre as políticas públi-
à internet cas do campo da comunicação. O projeto inclui,
Autores: Asa Briggs e Peter Burke também, a criação de indicadores que serão
Editora: Jorge Zahar Editor usados para acompanhar a situação do Brasil na
O livro faz uma análise dos meios de comu- garantia e efetivação deste direito.
nicação, destacando os contextos sociais e
culturais em que emergem e se desenvolvem. www.liberdadedeimprensa.org.br
Além disso, a publicação traça a história das Partindo da premissa de que antes de ser um
diferentes mídias e das novas linguagens que direito de profissionais e de empresas liga-
70 Guia de Referência para o Diálogo com a Mídia

das a essa atividade, a liberdade de imprensa Filmes


é um bem da sociedade, o site apresenta uma
lista de casos nos quais os meios de comuni- A Montanha dos Sete Abutres
cação tiveram sua liberdade cerceada, além (Ace in the Hole, 1951)
da legislação que garante esse direito e um Direção: Billy Wilder
comparativo sobre como a liberdade de im- O filme é um olhar ácido sobre a exploração da
prensa é administrada em outros países do mídia. Um jornalista é excluído da grande im-
mundo. O site é uma iniciativa da Rede em prensa e vê sua chance de voltar ao “jogo” com
Defesa da Liberdade de Imprensa no Brasil. uma matéria sobre um homem preso em velhas
ruínas indígenas no Novo México. Ele vislum-
www.midiaepolitica.unb.br bra a possibilidade de prolongar a permanên-
O site é uma iniciativa do Núcleo de Estudos cia do mineiro dentro dos escombros como sua
sobre Mídia e Política (Nemp) da Universi- chance de se tornar famoso.
dade de Brasília (UnB) e tem como objetivo
a divulgação de notícias, análises e críticas
sobre a cobertura política oferecida pela im- Boa Noite, Boa Sorte (Good Night, and Good
prensa brasileira. Luck, 2005)
Direção: George Clooney
www.observatoriodaimprensa.com.br Um âncora de tevê entra em confronto com o
Coordenado pelo jornalista Alberto Dines, senador Joseph McCarthy, ao expor as táticas e
um dos mais conhecidos e experientes pro- mentiras por ele usadas em sua caça aos supos-
fissionais da imprensa brasileira, a página tos comunistas. Além de documentar um im-
eletrônica é dedicada à reflexão sobre o pa- portante período histórico dos Estados Unidos,
pel e o desempenho de nossa mídia. O portal ocorrido após o final da Segunda Guerra Mun-
possui, também, seções dedicadas a blogs so- dial, o filme retrata o dia-a-dia de uma redação
bre as temáticas do universo midiático, bole- jornalística, com seus altos e baixos.
tins eletrônicos e uma biblioteca virtual onde
estão disponibilizadas diversas publicações Nos Bastidores da Notícia (Broadcast News, 1987)
para download. Direção: James L Brooks
Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes 71

Mostra o competitivo mundo dos bastidores O Preço de uma Verdade (Shattered Glass, 2003)
da tevê a cabo dos EUA, habitado por jornalis- Direção: Billy Ray
tas ambiciosos e prontos para tudo. No filme, O filme conta a história do jornalista Stephen
uma produtora de tevê obcecada pelo trabalho Glass, que rapidamente passou de repórter sem
se envolve com um inexperiente e atraente lo- relevância a um dos mais respeitados e requi-
cutor de noticiário, ao mesmo tempo em que é sitados redatores de Washington. No entanto,
assediada por um competente repórter. descobriu-se mais tarde que ele inventava gran-
de parte de suas matérias.
O Informante (The Insider, 1999)
Direção: Michael Mann O Quarto Poder (Mad City, 1997)
Os atores Al Pacino e Russell Crowe mostram Direção: Costa-Gavras
a luta de um cientista recém-demitido de uma Narra a história de um repórter que, ao cobrir
fábrica de cigarros e um produtor do progra- uma matéria sobre a falta de pagamento dos fun-
ma de tevê 60 Minutes para divulgar segredos cionários de um museu, se deparou com a revol-
escandalosos da indústria do tabaco. O filme é ta de um ex-funcionário, que invadiu o local e fez
baseado em fatos reais, que levaram a indús- crianças de reféns. A obra discute o poder da mí-
tria do tabaco a pagar mais de US$ 246 trilhões dia sobre a opinião pública e mostra o comporta-
em indenizações nos Estados Unidos mento do repórter em busca de audiência.

O Jornal (The paper, 1994) Rede de Intrigas (Network, 1976)


Direção: Ron Howard Direção: Sidney Lumet
O longa-metragem conta um dia na vida de um O filme mostra o dramático fim da carreira de
editor do tablóide sensacionalista New York um importante âncora da tevê americana que,
Sun que precisa administrar o fato de sua mu- ao ser demitido devido à baixa audiência da sua
lher estar prestes a dar à luz e a apuração de um atração, anuncia no ar que irá se matar durante o
duplo assassinato que pode, ou não, ter sido programa da semana seguinte. A película faz uma
cometido por dois negros. O fato de os mortos dura crítica à falta de ética da televisão e discu-
serem dois brancos pode fazer com que o caso te, ainda, o papel dos meios de comunicação de
se transforme em uma briga racial. massa e a necessidade de um controle social.
Braço brasileiro da World Childhood A ANDI é uma organização social com
Foundation, organização criada por S. 15 anos de experiência dedicados à pro-
M. Rainha Silvia da Suécia, a Childhood moção dos direitos de crianças e ado-
Brasil trabalha pela proteção da infância lescentes. Um de seus objetivos é con-
contra o abuso e a exploração sexual. tribuir para que jornalistas e empresas
  A Childhood Brasil desenvolve três de comunicação abordem de forma
grandes linhas de trabalho que buscam: sistemática e prioritária os temas que
• Informar a sociedade, por meio de afetam a qualidade de vida da popula-
ações e campanhas; ção infanto-juvenil.
• Educar, mobilizando e articulando O modelo de Comunicação para o De-
empresas, Governos e organiza- senvolvimento implementado pela ANDI
ções sociais para uma ação mais se baseia em três grandes eixos de ação:
eficaz contra a violência sexual, e • Monitoramento e Análise de Mídia
• Prevenir, desenvolvendo projetos • Mobilização
inovadores e fortalecendo insti- • Qualificação
tuições que protegem crianças e As metodologias elaboradas pela
adolescentes em situação de risco.  ANDI constituem hoje uma tecnologia
Desde a sua fundação, em 1999, a social que vem sendo reaplicada tanto
Childhood Brasil vem desenvolvendo em diferentes estados brasileiros (Rede
projetos em comunidades, além de pro- ANDI Brasil, presente em 11 estados)
gramas regionais ou nacionais, com mais quanto internacionalmente (Rede ANDI
de 700 mil beneficiários em todo o país. América Latina, presente em 13 países).
Acesse www.wcf.org.br e participe! Acesse: www.andi.org.br
Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes – Guia de Referência para o Diálogo com a Mídia
Esta publicação busca facilitar o processo de interlocução entre
especialistas na temática da Exploração Sexual Comercial de
Crianças e Adolescentes e profissionais da imprensa, estimulan-
do um diálogo que venha a contribuir de forma efetiva para o en-
frentamento dessa grave violência. Além de dicas práticas acerca
das dinâmicas de funcionamento da mídia, este guia de referência
destaca para as fontes de informação os diferentes aportes que
a cobertura jornalística pode oferecer à agenda da promoção, ga-
rantia e defesa dos direitos de meninos e meninas.

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