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artigo de revisão
sobre o conceito de informação no
jornalismo
Frederico M. B. Tavares *
Christa Berger**
N
o contexto das investigações sobre as referente diário da vida cotidiana1.
manifestações jornalísticas, o cabedal de Neste cenário, a idéia de informação está,
estudos e teorias (sejam elas normativas com frequência, vinculada à noção de notícia e
ou críticas) está fortemente marcado pelo enfoque tem nessa sua origem e explicação. O conceito
na imprensa diária. Por isso, quando se fala em ou a palavra – “informação” – estão presentes a
jornalismo impresso, pensando aquele que se todo o momento nos estudos jornalísticos, mas
imprime numa página e circula pela sociedade, pode-se dizer que não há uma grande teoria que
aquele que se volta para a cobertura do cotidiano, se dedique ao termo. Na verdade, expressões
o olhar principal encontra-se sobre os produtos como “jornalismo informativo” ou “conteúdos
jornalísticos noticiosos cujo foco está assentado informacionais” aparecem, pode-se dizer,
na apresentação daquilo que acontece no mundo. como que já “auto-explicadas” pelo seu vínculo
Relembrando os dizeres de Buitoni (1990), o com a notícia. Quando se diz sobre notícia,
jornalismo quer mostrar “todo” o mundo, quer “automaticamente” se fala em informação para
dizer “tudo” a respeito de um acontecimento ou o jornalismo. E isso se dá tanto no jornalismo
questão, assim como quer falar “de tudo”. Mais impresso, quanto em outras manifestações
que isso, como aponta Gomis (1991), os meios
de comunicação periódicos formam, a cada dia,
1 Sobre os processos de midiatização na sociedade ver Berger (2008), Braga
o presente social que nos serve de referência. A (2007), Fausto Neto (2008).
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como percurso teórico, optaremos a seguir por um lugar. Em tal continuum a notícia tem
tensionar alguns aspectos existentes nas noções localização própria. (PARK, 2008b, p. 58,
de conhecimento jornalístico e de produção grifos do autor).
da informação. Na relação aí constituída – que
Park situa a notícia como algo que possui
se singulariza nos mais diversos produtos e
um interesse pragmático para o leitor, abordando
ultrapassa, sob certos aspectos, alguns parâmetros
sobre eventos que causam “mudanças súbitas e
da notícia – outras formas de olhar a informação
decisivas, quase sempre” (PARK, 2008b, p. 64),
jornalística ganham visibilidade e/ou podem
e cuja função poderia ser associada à mesma
ser pensadas, ampliando os sentidos a serem
exercida pela percepção no indivíduo: “não
considerados quando se tem a mesma como foco,
apenas informa, mas orienta o público, dando a
e permitindo pensar a idéia de conhecimento
todos a notícia do que está acontecendo” (PARK,
presente na informação a partir do universo do
2008b, p. 60). Este ponto de vista “parkiano”
jornalismo.
associa-se à idéia de “manutenção da ordem
social”, que aponta para o jornalismo como
4 ENTRE A NOTÍCIA E O CONHECIMENTO: PARA voltado para a manutenção do controle social,
PENSAR A INFORMAÇÃO preservando a cordura do indivíduo e sua
integração na sociedade (BERGANZA CONDE,
Um dos textos inaugurais da idéia 2000).
de “jornalismo como conhecimento” ou de O artigo de Park sofreu desde a sua
“conhecimento jornalístico” é o ensaio de publicação original de 1940, uma série de
Robert E. Park, “A notícia como forma de críticas e revisões. Berganza Conde (2008), por
conhecimento: um capítulo dentro da sociologia exemplo, aponta para a ausência no texto de um
do conhecimento”, onde o sociólogo e jornalista esclarecimento do próprio Park, que diga se as
tenta apontar para dois aspectos: que tipo de notícias, ainda que constituam em si mesmas uma
conhecimento as notícias produzem e oferecem e forma de conhecimento, estão mais próximas ao
quais são suas características. knowledge about ou acquaitance with.
Park (2008b) parte de duas concepções A autora elenca outros estudiosos dessa
do filósofo e psicólogo norte-americano William perspectiva parkiana, apontando trabalhos
James para formular seu pensamento. Segundo que ora tentam associar a notícia a um dos dois
James, que foi professor de Park em Harvard, conceitos de William James apontados por Park,
há duas formas básicas de conhecimento: a de ora tentam criar um conceito “meio-termo”,
familiaridade com as coisas (acquaitance with) ou que permita situar a notícia no “entre” dos
“conhecimento de” e conhecimento das coisas pólos científico e do senso comum. No entanto,
(knowledge about) ou “conhecimento acerca de”. apesar das críticas, Berganza Conde (2008)
A partir dessas duas idéias, o autor situa as reforça algumas idéias interessantes levantadas
notícias como uma espécie de conhecimento por Park e que posteriormente foram melhor
intermediário entre o primeiro saber apontado trabalhadas em outros estudos jornalísticos. A
por James, mais tácito, do senso comum ou da primeira delas é a de que “os meios dirigem a
prática, e o segundo, mais sistemático, formal e atenção do público”, o que está apontado acima.
científico. Diz Park: E uma segunda que diz da consideração do autor
sobre o processo cognitivo gerado pelas notícias,
O que aqui descrevemos como ajudando o indivíduo a interpretar a realidade
acquitance with e knowledge about
são consideradas formas distintas de
que o rodeia, ainda que não a interpretem por
conhecimento – formas com funções si mesmas. Neste caso, deve-se ressaltar o fato
diferentes nas vidas dos indivíduos e da de que ao falar do conhecimento das notícias, o
sociedade – um conhecimento do mesmo autor não estava considerando outras formas de
tipo, porém com diferentes graus de jornalismo como o investigativo e o interpretativo;
precisão e validade. Não são, entretanto,
tão diferentes em caráter e função – pois
formas que ele mesmo trabalharia posteriormente
afinal são termos relativos – que não ao tratar das “grandes notícias”.
podem ser concebidos constituindo um Park, no entanto, relembra Berganza Conde
continuum dentro do qual todos os tipos (2005), por ter como interesse também a temática
e espécies de conhecimento encontram
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um pólo e outro, que noção de informação pode Essa perspectiva, que deixa claro também
ser pensada e como alcançar a mesma? uma postura mediadora e construcionista, apesar
Nesse momento, mais que olhar para o de não abandonar o jornalismo em sua forma
que é dito, para os referentes – sejam eles temas tradicional, da “informação informativa”, expõe
ou acontecimentos –, é válido pensar como os a idéia de interpretação em suas duas dimensões.
mesmos são ditos. Não se deve com isso torná- A dimensão das próprias operações (técnicas
los prescindíveis, mas antes de alcançá-los e de linguagem) e a dimensão textual. Segundo
semanticamente, refletir como os mesmos se Gomis (1991), a interpretação periodística está
dão. E tal condição, pensamos, solicita a reflexão baseada nos seguintes pressupostos: a realidade
e o tensionamento sobre duas questões que está fragmentada em períodos e neste contexto
dizem respeito tanto à vocação do jornalismo na cabe ao jornalismo falar sobre o atual; a realidade
interpretação da vida social, quanto aos gêneros disposta em fatos pode ser captada em textos
textuais que o compõem e fazem com que tal breves e autônomos, as notícias; a realidade
interpretação se processe de distintas maneiras. É captada pelo jornalismo deve ser passível de
quando torna-se explícita, dentro do jornalismo, assimilação em diferentes situações; a realidade
a idéia de informação jornalística de um ponto de interpretada deve “encaixar” tempos e espaços;
vista textual. Segundo Gomis, e, por fim, deve chegar ao público filtrada por
certos gêneros de texto que variam, basicamente
[...] uma consideração um pouco atenta e de maneira complementar, entre a forma da
à atividade que se exerce nos meios
“informação pura” e a do comentário, ou seja,
leva à conclusão de que o jornalismo
é um fenômeno de interpretação e, entre a informação e a opinião.
mais exatamente, a um método para Assim, do ponto de vista do autor, os
interpretar periodicamente a realidade gêneros jornalísticos, no contexto do jornalismo
social que envolve o homem, método como “intérprete” da vida social, estariam ligados
que comporta hábitos e suposições
a duas necessidades básicas do público midiático:
(GOMIS, 1991, p.36, tradução nossa).
a de estar informado e a de carecer de opiniões
Para o autor, a realidade social, grande que ajudem a refletir e comentar sobre o mundo.
referente para o jornalista, solicita deste a Tal classificação dupla, menos que invalidar a
compreensão e a expressão daquilo que a capacidade interpretativa da notícia – já que há
envolve. O jornalista, por isso, como “operador quem diga que na opinião, no comentário é que
semântico”11 deve codificar linguisticamente a persistiria verdadeiramente a interpretação –
“realidade bruta” elaborando mensagens acerca coloca em evidência tipos distintos e textuais de se
dela. olhar para o jornalismo como leitor da realidade.
Evidenciando também uma distinção clássica, no
O jornalismo é, pois, um método de jornalismo, entre o informar e o opinar.
interpretação. Primeiro, porque escolhe, Historicamente, a idéia de gênero
entre tudo o que acontece, aquilo que jornalístico e a sua divisão recorrente entre
considera “interessante”. Segundo, informação e opinião, serviram para consolidar o
porque interpreta e traduz em linguagem
inteligível cada unidade da ação externa papel de certos formatos de texto no interior da
que decide isolar (noticia) e, além produção jornalística, assim como permitiram o
disso, distingue nela entre o que é mais surgimento de outros gêneros que deslocaram,
essencial e interesante (apontado no lead inclusive, o lugar (ou a forma) da interpretação
ou primeiro parágrafo e destacado no propriamente dita realizada pelo jornalismo.
título) e o que é menos. Tercero, porque,
além de comunicar as informações Se num primeiro momento do jornalismo
assim elaboradas, trata também de predominou a opinião, com os jornais ideológicos,
situá-las e ambientá-las para que sejam seguidos posteriormente da fase objetiva e
compreendidas (reportagens, crônicas) e informativa – com a valorização dos relatos
de explicá-las e julgá-las (editorial e, em “imparciais” dos acontecimentos do cotidiano –,
geral comentários) (GOMIS, 1991, p. 38,
tradução nossa). nas últimas décadas do século XX, com a virada
lingüística e sociológica sobre o pensamento
jornalístico e com a expansão dos veículos de
11 Ver também Martínez Albertos (1972).
comunicação (principalmente os eletrônicos e
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digitais), um outro gênero, chamado ele próprio noticioso, apontando para sua relação com o
de interpretativo ou explicativo12, passou também conhecimento, outras formas de se ver e pensar a
a ser considerado13. informação se explicitam.
Para Martínez Albertos (1972), caberia A informação, mesmo que de forma não
ao jornalismo explicativo ajudar o público problematizada, aparece mais explícita e passa a
a distinguir entre o “verdadeiro e o falso”, ser pensada, com destaque, a partir de questões
colaborando para a “digestão intelectual” do textuais e discursivas que dizem muito mais
leitor mediante a exposição de um contexto de processos que conteúdos. Algo que oferece
coerente, no qual as notícias (desde as mais outros percursos mais concretos e abstratos para
simples) tenham sua “verdadeira e adequada” uma crítica que busque, no jornalismo, uma outra
significação. fonte para pensar a informação.
Da teia que aí se forma – entre conhecimento, Nesse cenário, a idéia de informar como
interpretação e texto jornalístico – é possível um ato de seleção e avaliação – perspectiva
construir uma espécie de “óculos” para pensar o compartilhada pelo campo da Comunicação e da
jornalismo para além da notícia. O que não significa Ciência da Informação, como apontam Capurro
simplesmente uma troca de objetos jornalísticos, e Hjorlan (2007) – tangencia os dizeres sobre o
mas a busca por complexificar as dimensões conhecimento que se constrói e se comunica a
dos processos informativos e potencialmente partir da notícia. No entanto, a observação do
investigativos por eles engendrados. Algo que, material noticioso no que há de “informativo” ou
do ponto de vista conceitual sobre a informação, “informacional” antes de ser jornalístico, é algo
indica algumas questões. pouco discutido nos estudos sobre “a informação
Se no jornalismo a informação encontra-se periódica e midiática”. Uma questão, portanto,
atrelada originalmente à idéia de notícia, estando que pode ser pensada – ainda hoje – como ponto
aí, muitas vezes, como algo pouco discutido; de partida para sua análise. Um caminho. Entre
no momento em que se complexifica o conceito muitos.
Abstract This paper aims at discussing the presence of information in Journalism studies, pointing to some
existing gaps when an investigative search about the topic is carried out beyond its content dimension.
Hence, it is developed a chain of conceptual and historical aspects in print journalism researches,
considering the important role that they have in the formation of general epistemological issues that
permeate this scientific area. In this way, taking news as an object of study, some concepts such as
knowledge, journalistic information and textual genres are entangled in order to build a panorama
which allow the thinking of information in such context and beyond it.
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Frederico M. B. Tavares; Christa Berger
BUITONI, D. Jornalismo: o tecido e o acontecido, LUSTOSA, E. O texto da notícia. Brasília: UnB, 1996.
Revista da USP, São Paulo, v. 1, p. 175-182, 1990.
MAROCCO, B.; BERGER, C. A notícia como
CAPURRO, R.; HJORLAND, B. O conceito forma de controle social, Revista Contracampo
de informação, Perspectivas em Ciência da (UFF), Niterói, v. 14, p. 07-17, 2006.
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