Resenha Crítica do artigo “Superfícies: Novas Fronteiras para o Design”, de
Fernanda Camargo Guimarães Pereira e Juliana Pontes Ribeiro
Por Cléo Rocha Ramos
Fernanda C. G. Pereira é graduada em Design Gráfico pela Universidade FUMEC
(Fundação Mineira de Educação e Cultura) em 2005 e Pós-Graduada em Design e Cultura pela mesma universidade em 2007. Juliana Pontes Ribeiro é Mestra em Comunicação pela UFMG, e também professora da Universidade FUMEC na graduação em Design Gráfico e na pós-graduação em Design e Cultura. Este artigo, publicado nos anais do 8º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, realizado em outubro de 2008 em São Paulo – SP, teve como base a monografia "Superfícies Gráficas: O Design Gráfico na Moda através do Design de Superfície", desenvolvida pela autora Fernanda C. G. Pereira para sua pós-graduação. A mesma monografia é parte integrante do livro “Na rua: Pós-Grafite, Moda e Vestígios”, organizado pela professora Juliana P. Ribeiro, lançado em março de 2008. No texto, as autoras analisam, principalmente, a interdisciplinaridade entre a área de design gráfico e design de superfície (com um enfoque maior na estamparia), além da importância da estampa como fator de diferenciação em um produto de moda, servindo como um meio de construção de identidade por parte de seu público-alvo. Elas dividem a argumentação em três partes: Design de Superfície como área do Design Gráfico, A Estamparia pensada pelo Design Gráfico, e A Estamparia como Campo para Apropriações Simbólicas Coletivas. Na primeira parte, as autoras conceituam o Design de Superfície e mostram a relação deste com o Design Gráfico. Baseiam sua definição de Design de Superfície na autora Evelise A. Rüthschilling, Profª Adjunta dos cursos de Artes Visuais e Design da UFRGS, coordenadora do Núcleo de Design de Superfície da mesma universidade, e autora do livro “Design de Superfície”: Design de Superfície é uma atividade técnica e criativa cujo objetivo é a criação de imagens bidimensionais (texturas visuais e tácteis), projetadas especificamente para a constituição e/ou tratamento de superfícies, apresentando soluções estéticas e funcionais adequadas aos diferentes materiais e processos de fabricação artesanal e industrial. Entretanto, as autoras do artigo acrescentam um elemento a esta conceituação, afirmando que o design de superfície também pode ser tridimensional, se considerarmos aplicações capazes de “expandir o tratamento visual para fora do plano”. As autoras afirmam que, apesar da conceituação da estampa poder ter como base diversas fontes de referência, durante todo o processo de seu desenvolvimento, “o designer deve estar atento aos fundamentos que regem qualquer criação visual”. Elas também chamam a atenção para a “necessidade de um planejamento de aplicação das composições gráficas para que os elementos imagéticos não percam seus detalhes importantes ou seu impacto visual ao envolver um volume”. Com base no livro O que é [e o que nunca foi] Design Gráfico, publicado pela primeira vez em 1997, do teórico André Villas-Boas (designer gráfico, Doutor em Comunicação pela ECO/UFRJ e professor da PUC-Rio), as autoras afirmam o aspecto interdisciplinar do design, e a importância do designer em “estar atento aos novos processos técnicos, aos diferentes processos criativos, aos novos formatos e às novas tendências e temas com os quais trabalha..., pois é um profissional que elabora projetos para todo e qualquer tipo de cliente, em qualquer área”. No caso do design de superfície, o designer deve estar atento a questões como: “quantidade de cores, tecnologia a ser utilizada, tintas e materiais disponíveis, qualidade dos suportes, custos, entre outros”. Na segunda parte da argumentação, as autoras buscam definir a estamparia quando pensada como produto de design. Primeiramente, definem as várias funções da estamparia dentro da moda: traduzir em imagens gráficas o conceito de uma coleção, valorizar e diferenciar as modelagens das peças do vestuário; trazer exclusividade e identidade para a marca; dialogar com os consumidores através da transmissão de mensagens, construção de afinidades e estímulo ao desejo pelo produto. Explicam que a estamparia, juntamente como a moda, suprem a necessidade humana de decorar o próprio corpo. Entretanto, atualmente, a estampa, como produto de design, não possui somente função ornamental, mas conceitual, com “uma função simbólica específica e um propósito de comunicação”. E concluem que uma estampa pode ser vista como um produto de design se, durante seu desenvolvimento, forem considerados os aspectos definidos pelo pesquisador André Villas- Boas: “aspectos formais, aspectos funcionais-objetivos, aspectos metodológicos e principalmente os aspectos funcionais-subjetivos ou simbólicos”. Na terceira parte, as autoras analisam a estampa como elemento para apropriações simbólicas por parte do consumidor. Primeiramente introduzem o conceito de subjetividade, segundo Peter Pál Pelbart (doutor em Filosofia pela USP e atualmente professor titular da PUC-SP), no livro “A vertigem por um fio: políticas da subjetividade contemporânea” (2000). A subjetividade não é algo abstrato, trata-se da vida, mais precisamente, das formas de vida, das maneiras de sentir, de amar, de perceber, de imaginar, de sonhar, de fazer, mas também de habitar, de vestir-se, de se embelezar, de fruir, etc. (PELBART, 2000, p. 37) A seguir, elas criticam a atual estrutura econômica, ou seja, o chamado capitalismo tardio, ou globalização, conceituado por Fredric Jameson (crítico literário e político marxista, conhecido por sua análise da cultura contemporânea e da pós-modernidade). Segundo as autoras, a atual estrutura econômica é responsável pela padronização da subjetividade coletiva, através da mídia e da propaganda e, conseqüentemente, da moda e do design. E defendem a necessidade do design (tanto em geral como de superfície) e da moda em se opor a essa massificação. Baseiam sua teoria nos livros “Produção Estética: notas sobre roupas, sujeitos e modos de vida” (2005), de Rosane Preciosa, “Moda é Comunicação: experiências, memórias, vínculos” (2005), de Carol Garcia e Ana Paula de Miranda, e em “O Império do Efêmero” (1989), do filósofo francês Gilles Lipovetsky. Analisando do ponto de vista da estamparia, afirmam que a estampa pode ser apropriada pelo usuário tanto como uma forma de integração social quanto uma forma de expressar sua individualidade, e que o profissional deve investir na diversificação como forma de proporcionar ao consumidor uma possibilidade maior de expressar sua individualidade através das roupas e fugir da “submissão de identidades prontas para o uso”. Para isso, a importância de atribuir caráter simbólico às estampas produzidas. É importante também investir na constante inovação, uma vez que, segundo Lipovetsky, na sociedade de consumo em que vivemos há uma necessidade constante de novidades, uma vez que tudo que é produzido é programado para tornar-se rapidamente ultrapassado. O artigo apresenta, de forma resumida, os elementos necessários para o desenvolvimento de trabalhos na área do design de superfície, não somente nos aspectos visuais, mas também simbólicos. Porém, o principal objetivo das autoras foi demonstrar que o designer é um agente capaz de interferir também nos aspectos sociais, econômicos e psicológicos que regem a sociedade.