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TT
S
PO
Pastoral Operária
Metropolitana
MAS
Movimento
Avançando
BRASIL de São Paulo Sindical
Índice
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Apresentação ....................................................................................................................... 001
Teses
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Avançando Rumo ao Socialismo ..................................................................................... 002
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Avançar na Unidade para Fortalecer as Lutas da Classe Trabalhadora ........................ 016
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Construindo a Unidade Proletária ...................................................................................... 046
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Em Defesa de Uma Central de Classe ............................................................................... 070
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Oposição Revolucionária - Apeoesp ................................................................................. 078
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Por uma Central de Luta, Antigovernista, de Base e Socialista ...................................... 081
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Por uma Central de Trabalhadores Classista .................................................................... 094
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Por uma Entidade Classista, Democrática, e Construida pela Base .............................. 102
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Sindicatos e Centrais Combativas para Fazer a Diferença na Luta de Classes ............ 117
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Tese da Intersindical ao Congresso Nacional da Classe Trabalhadora ......................... 128
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Tese da Pastoral Operária Metropolitana de São Paulo .................................................. 146
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Tese do Meio Ambiente dos Trabalhadores ..................................................................... 149
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Tese do MTL ......................................................................................................................... 158
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Unidos por uma Central de Trabalhadores ....................................................................... 181
Ä
Unificar as Lutas por Salários e pelo Socialismo ............................................................ 200
Apresentação
Prezado(a) Companheiro(a),
E-mail: contato@congressodaclassetrabalhadora.org
Telefone: (11) 3105.5195
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
I. CONJUNTURA INTERNACIONAL limites dentro dos quais tem que mover-se a conserva-
1. A Crise Estrutural do Capital A crise atual ção e valorização do valor-capital, que repousam
não é “só mais uma crise cíclica” que interrompe a sobre a expropriação e pauperização das grandes mas-
“prosperidade capitalista” (o capitalismo já viveu 25 sas de produtores, choquem-se constantemente com os
crises, desde o início do século XIX, marcando ciclos métodos de produção que o capital se vê obrigado a
econômicos com quatro fases – crise, depressão, recu- empregar para conseguir seus fins e que se dirigem a
peração, auge - 16 até 1929 com duração média de 10 um aumento ilimitado da produção, à produção como
anos e depois mais 9 ciclos com média de duração finalidade em si mesma, ao desenvolvimento incondi-
encurtada para um período de 6 a 9 anos). A presente cional das forças sociais produtivas do trabalho. O
crise também não é um fenômeno fortuito, explicável meio empregado – desenvolvimento incondicional
por escolhas de agentes públicos ou privados ou por das forças sociais produtivas do trabalho – choca-se
incidentes econômicos e políticos imediatos. O colap- constantemente com o fim perseguido, que é um fim
so do mercado subprime e o estouro da bolha imobiliá- limitado: a valorização do capital existente. Por conse-
ria estadunidense, seguida da falência de bancos foram guinte, se o regime capitalista de produção constitui
apenas detonadores que precipitaram a crise (como o um meio histórico para desenvolver a capacidade pro-
problema do petróleo em 1973). É um erro confundir dutiva material e criar o mercado mundial que lhe cor-
estes detonadores superficiais com as causas essencia- responde, ele é simultaneamente uma contradição
is das crises determinadas pelo movimento dos com- constante entre esta sua tarefa histórica e as relações
plexos contraditórios do sistema do capital. sociais de produção próprias deste regime.” (Marx,
Karl - O Capital III/1: 189). Marx nos deixou em suas
Em um nível mais sofisticado de análise, as teori- principais obras elementos suficientes para a elabora-
as do ciclo industrial se dividem na oposição abstrata ção de uma teoria totalizante das crises.
entre tendências unilaterais: os que explicam as crises
pela “insuficiência da demanda” (subconsumo das O importante é destacar a especificidade desta cri-
massas e superprodução de bens de consumo), os que a se como um momento da crise estrutural do capital;
explicam pela “super-acumulação” (insuficiência de cuja teorização mais sistemática se de deve ao marxis-
lucros para expandir o Departamento I que produz mei- ta húngaro István Mészáros. As crises das últimas déca-
os de produção) e “desproporcionalidade” entre esta das (1973-75; 1979-82; 1989-92; 1997-2002; e a que
esfera de produção de bens de capital e o desde meados de 2007 está em curso) são recidivas crí-
Departamento II (produção de meios de consumo). ticas de uma época de crise estrutural do capital e tem
Ambas cometem o erro de desligar o que está organi- um caráter diferente das tradicionais crises cíclicas
camente ligado no interior do modo de produção capi- setoriais. O domínio do capital, desde seus primórdios,
talista: os problemas resultantes da lei tendêncial da se desenvolve internacionalmente e o desenvolvimen-
queda da taxa de lucro, da super-produção de merca- to desigual da economia mundial sob o capitalismo
doria e da super-acumulação de capital são determina- sempre ocorreu de modo destrutivo, devido ao caráter
dos pela unidade contraditória entre os complexos con- antagônico de suas leis e princípios estruturais inter-
traditórios das relações entre produção e controle, pro- nos. Mas na atual crise estrutural isso assume manifes-
dução e consumo e produção e circulação. tações cada vez mais graves. Há um prolongamento
das crises, sua freqüência é mais curta, suas manifesta-
Marx mostra que a produção capitalista vai supe- ções são mais destrutivas, e há uma tendência a tornar-
rando constantemente os limites que lhe são imanentes se um continuum depressivo, em que uma recessão
deslocando suas contradições, mas “só as supera por segue a outra. A crise estrutural da ordem metabólica
meios que lhe antepõem novamente estas barreiras em do capital abre uma brecha irremediável na ordem
escala mais poderosa”, aproximando o sistema de seus vigente, que não é mais capaz de proporcionar os bens
limites históricos absolutos: “A verdadeira barreira da que lhe serviam de justificativa no passado; trata-se de
produção capitalista é o próprio capital; isto é: que o um período único na história do domínio do capital em
capital e sua auto-valorização constitui o ponto de par- que este se aproxima dos seus limites absolutos (não
tida e a meta, o motivo e o fim da produção, o fato de meros limites imediatos, mas limites últimos desta tota-
que aqui a produção só é produção para o capital e não, lidade histórica) que não podem ser efetivamente supe-
inversamente, que os meios de produção sejam meros rados sem o estabelecimento de um modo de produção
meios para ampliar cada vez mais a estrutura do pro- e controle social socialista. A sua novidade histórica
cesso de vida da sociedade dos produtores. Daí que os
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
torna-se manifesta em quatro aspectos principais: “1) e outras adaptações reformistas do passado não podem
seu caráter é universal, em lugar de restrito a uma esfe- ter êxito duradouro. A crise estrutural é demasiado pro-
ra particular (por exemplo, financeira ou comercial, ou funda para isto, coloca em risco a sobrevivência da
afetando este ou aquele ramo particular de produção humanidade. Uma saída sustentável exige uma trans-
(...); 2) seu escopo é verdadeiramente global (no senti- formação estrutural radical, que supere o capitalismo e
do literal o mais ameaçador do termo), em lugar de inicie uma transição efetiva para o socialismo.
limitado a um conjunto particular de países (como 2. A Manutenção da Agressividade do
foram todas as principais crises no passado); 3) sua Imperialismo Estadunidense no Governo Obama.
escala de tempo é extensa, contínua -- se preferir: per- Diante desta crise, Obama se comporta como um suje-
manente -- em lugar de limitada e cíclica, como foram ito histórico do e para o imperialismo. Muitos quise-
todas as crises anteriores do capital; 4) seu modo de se ram acreditar que ele seria um presidente progressista
desdobrar é rastejante -- em contraste com as erupções (ou “menos pior” do que Bush), esquecendo-se que o
e colapsos mais espetaculares e dramáticos do passado imperialismo é inerente ao domínio do capital finance-
-- desde que acrescentássemos a ressalva de que nem iro estadunidense e que a eliminação do imperialismo
sequer as convulsões mais violentas poderiam ser requer a derrubada do capitalismo. Seguindo a lógica
excluídas no que se refere ao futuro: a saber, quando a de um presidente do Estado imperialista hegemônico
maquinaria complexa agora ativamente empenhada na mundialmente, Obama inicia seu mandato com uma
'administração da crise' e no 'deslocamento' mais ou política externa ainda mais agressiva e perigosa para a
menos temporário das crescentes contradições perder Ásia, África e América Latina, com o maior gasto mili-
sua energia” (Mészáros, I. - Para Além do Capital: tar anual da história dos EUA, US$ 708 bilhões. Tal
796). conjuntura não é surpreendente de acordo com a lógica
Há particularidades da crise atualmente em curso do capital. O imperialismo caracteriza-se principal-
que a diferenciam: é muito mais grave, irrompeu nos mente pelas guerras, como uma forma de amenizar as
EUA (a superpotência hegemônica imperialista que é crises e centralizar capital. Com a crise estrutural essa
hoje o coração do sistema) e tem ali o seu centro de gra- realidade se intensifica.
vitação, mas se expande com um caráter verdadeira- Na África, está sendo implantando o AFRICOM,
mente mundial; implica uma separação radical entre a um exército dos EUA que ficará permanentemente no
valorização do capital fictício e a valorização produti- continente. De acordo com a Casa Branca, o objetivo
va, que também se desgarrou por completo da capaci- com esse exército é combater o terrorismo e fortalecer
dade de consumo realizadora da mais-valia. A presente os “regimes democráticos” da região. Contudo, sabe-
crise está longe de ter atingido o seu auge, mas já pro- se que o AFRICOM foi projetado como força interven-
movu o maior assalto à economia popular que se tem tora para apoiar governos locais contra movimentos
notícia na história. Os recursos que até ontem faltavam progressistas e garantir o controle imperialista do “ter-
para financiar políticas públicas hoje são esbanjados ritório econômico”, do petróleo e dos grandes recursos
de modo desesperado em inéditas medidas de “estati- minerais daquele continente. O Pentágono mantém for-
zação da falência capitalista” (até junho de 2009 já ças nas Seychelles e em Djibuti (a partir dali bombar-
tinha sido injetado US$ 28 trilhões para o salvamento dearam a Somália, país chave para os EUA). Na Ásia,
dos monopólios capitalistas, valor igual a quase oito contrariando o discurso “crítico” aos gastos bélicos
vezes o PIB da América Latina, US$ 15 pelo governo durante sua campanha, Obama intensifica a invasão.
dos EUA). Seu efeito imediato foi a parcial desacele- Gasta 160 bilhões são para manter a ocupação do
ração da crise, mas deixa os Estados sem recursos e rea- Iraque, Afeganistão e Paquistão. A promessa de retirar
limenta todas as contradições do capitalismo (refor- as tropas do Iraque está longe de se concretizar: dos
çando a centralização do capital através da sucção da 142 mil soldados que ocupam o país, 50 mil ficarão
mais-valia de várias partes do mundo, gerando infla- para treinar as “forças de segurança” do país. Já no
ção devido a impressão desmedida de dólares pelo Afeganistão as tropas foram aumentadas significativa-
governo americano e ampliando o capital fictício, mente. Desde então, aconteceram os piores massacres,
gerando novas e colossais bolhas). Tais medidas são, com os bombardeios às províncias Farah e Kundus que
no entanto, insuficientes para superar a crise que vai mataram mais de duas mil pessoas. Na Palestina segue
ressurgir com força (provavelmente até o segundo a ocupação e os massacres por parte de Israel (país que
semestre de 2010). A crise já começa a produzir res- mais recebe financiamento militar dos EUA).
postas radicais e desafiadoras por parte dos movimen-
tos proletários e populares em escala considerável. As Cresce a escalada de ingerência (com sanções eco-
políticas da direita radical fracassaram devastadora- nômicas) e agressão israelo-estadunidense contra a
mente. Simultaneamente as respostas de conciliação soberania de países do Oriente Médio como o Líbano,
de classe também fracassam: as políticas keynesianas a Síria e o Irã. O falso pretexto para a invasão do Iraque
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
- a existência de “armas de destruição em massa” que e de Portugal e sim dos EUA. Para tanto, a principal
já foi desmentida até pela ONU – é hoje cinicamente proposta é a ALBA (Aliança Bolivariana das América)
repetido nas ameaças ao Irã, com o agravante da chan- que hoje já integra sete países: Cuba, Venezuela,
tagem nuclear. Em 2010 o governo Obama ameaçou Bolívia, Equador, Nicarágua, Dominica, São Vicente e
oficialmente declarar guerra ao Irã, caso este não pare Granadinas (o ingresso de Honduras foi um dos moti-
com o projeto de enriquecimento de urânio (para fins vos do golpe, que retirou o país da Aliança). A ALBA é
pacíficos). Aqueles que hipocritamente acusam sem um bloco que está promovendo um processo concreto
provas o Irã (membro do Tratado de Não Proliferação de integração econômica e cultural com princípios que
de Armas Nucleares e sujeito as exigências de supervi- se baseiam no intercâmbio solidário e no desenvolvi-
são de seu programa civil) são os mesmos que mantêm mento conjunto de requisitos necessários para a supe-
intactos grandes arsenais de ogivas nucleares operaci- ração da dependência. Além do incremento comercial,
onais. estão em curso importantes ações conjuntas:
3.A Resistência dos Povos em Luta e a Petrocaribe e outras empresas de exploração e refino
Necessidade da Formação de um Bloco de petróleo; de alimentos; de manejo e preservação de
Internacional Anti-imperialista. Diante da crise e águas; distribuidoras de fármacos; centros de vigilân-
seus efeitos nefastos para o conjunto da classe traba- cia epidemiológica; programas de educação (Univer-
lhadora, povos do mundo todo tem resistido às demis- sidade dos Povos do Sul; Universidade da ALBA; erra-
sões; ao desemprego; às perdas salariais, às perdas de dicação do analfabetismo através do método cubano
direitos trabalhistas e sociais, à criminalização dos yo sí puedo; massiva edição livros); programas de
movimentos populares e da pobreza; às opressões; às segurança comunitária; Banco da ALBA e criação da
invasões e às guerras. A Grécia, um dos países mais afe- moeda SUCRE (Sistema Único de Compensação
tados pela crise (o setor industrial está em recessão des- Regional), como alternativa para o subcontinente supe-
de 2005, os investimentos agrícolas diminuíram em rar a dependência do dólar. Enfim, a ALBA é inspirada
80,1% em 2008 e o PIB não pára de cair) teve duas gre- em alguns princípios que são pré-requisitos do socia-
ves gerais em fevereiro deste ano, convocadas pelo lismo: produção de riquezas de acordo com as necessi-
PAME (Frente Militante de Todos Trabalhadores) e dades reais dos povos; planificação mínima da econo-
mobilizadas por mais de 300 sindicatos. Em Portugal mia e intercâmbio solidário que realmente busca aju-
(5/2/2010) mais de 50 mil funcionários públicos reali- dar um povo irmão e não explorá-lo.
zaram uma greve geral, convocada pela Frente O fantasma “socialismo” reaparece com mais for-
Comum dos Sindicatos da Administração Pública. Na ça (pois Cuba sempre o manteve vivo) com as transfor-
França (também em fevereiro), operários ocuparam a mações reais na Venezuela: avanço da reforma agrária,
sede da Total em Paris (refinaria petrolífera francesa) e urbana e educacional; estatização dos principais meios
lançaram um ultimato à administração, que pretende de produção; criação de novas empresas públicas;
fechar as instalações até o próximo verão: ou a produ- revolução democrática com a criação de Conselhos
ção é retomada ou os trabalhadores “tomarão posse Comunais e de redes de comunicação públicas (estata-
das instalações”. is e comunitárias) pondo fim aos monopólios priva-
Na América Latina, a manutenção da revolução dos. Esse fantasma também se fortalece com o movi-
cubana e as lutas populares na Venezuela, na Bolívia e mento de massa na Bolívia que defendeu o Governo
no Equador, que levaram à eleição de presidentes com Morales dos ataques golpistas e separatistas da direita
elas identificados e a proposta de construção do “soci- fascista (por considerá-lo antiimperialista e promotor
alismo do século XXI” (como eles chamam) faz o de reformas democráticas básicas para a construção do
Império estremecer diante do “fantasma”, que ele jul- socialismo). O Governo Correa no Equador é outra
gava morto com a queda da URSS e tentava ilhar em encarnação do espectro: a não renovação da base dos
Cuba. Embora ainda não estejam construindo uma EUA em Manta (cujo contrato venceu em 2009), a audi-
sociedade socialista, as lutas destes povos mostra que toria da dívida externa e interna e o não pagamento de
eles não querem mais ser subjugados ao imperialismo, grande parte destas, a aprovação da nova Constituição,
e que já tomam consciência da necessidade do socia- o ingresso na ALBA e no SUCRE, são políticas avan-
lismo. çadas que o colocam na honrosa companhia da
Venezuela, Bolívia e Cuba dentro do “eixo-do-mal”.
Mais do que discursos que denunciam o EUA são
as ações concretas que fortalecem posições antiimpe- Contudo, as experiências anti-imperialistas cita-
rialistas que têm causado preocupações ao Império. das acima enfrentam diversas dificuldades. Assim
Inspirado em Simón Bolívar, Chávez tem proposto a como os demais países latino-americanos, estes se
integração latino-americana para conquistar a segunda desenvolveram sob as bases de um capitalismo depen-
e definitiva independência, hoje não mais da Espanha dente. Suas forças produtivas são pouco desenvolvi-
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
das e a massa de operários industriais é relativamente dos direitos humanos. A ofensiva do Império continua.
pequena. Além disso, o massacre reacionário de gera- Além da Colômbia e o Peru, o Chile agora deve se
ções inteiras criou imensas dificuldades para o desen- somar às operações contra-revolucionárias, com a elei-
volvimento da organização popular e de partidos revo- ção do pinochetista Sebastián Piñera. No Haiti, após o
lucionários. Dessa maneira, hoje, a luta requer a cria- terremoto que destrói o país, mata cerca de 250 mil pes-
ção das condições para a superação da dependência soas e deixa mais de um milhão de desabrigados, os
econômica e do atraso cultural e político-organizativo, EUA envia 20 mil marines e instrumentos de guerra.
buscando criar as bases para o socialismo. Porém, elas Nessa ocasião se efetiva a quinta e maior ocupação
são atualmente o que existe de mais avançado na militar estadunidense no país. Elas vem completar a
América Latina. Tanto é que os EUA já anunciam a pre- ocupação do Haiti pela MINUSTAH (Missão das
paração de uma guerra contra a Venezuela; com o intu- Nações Unidas para a Estabilização do Haiti), cujas
ito de barrar o avanço da unidade antiimperialista lati- tropas são lideradas, vergonhosamente, pelo Brasil. A
no-americana e da perspectiva socialista. No Relatório “Missão” tem cumprido o papel de conter as revoltas
de 2009 da CIA isso fica evidente: “Em países como populares e limpar a área para uma ocupação escanca-
Venezuela, Bolívia e Nicarágua, líderes populistas rada do EUA, que além dos objetivos econômicos, pre-
estão caminhando para um modelo econômico e polí- tende usar seu território como base de agressão à Cuba.
tico mais autoritário e tem se unido para rechaçar a Esta foi colocada na lista de países terroristas e está
influencia dos EEUU, seus interesses e suas políticas sofrendo uma intensa campanha imperialista que bus-
na região. O Presidente da Venezuela Hugo Chávez tor- ca isolá-la e derrotar seu projeto socialista.
nou-se um dos detratores principais em nível interna- Conscientes das intenções imperialistas, lutado-
cional contra os EEUU, denunciando o modelo demo- res da Nossa América criaram o Movimento
crático liberal e o capitalismo de mercado”. Continental Bolivariano: um espaço de coordenação
Em 2008, o Governo Bush já preparava a ofensi- de lutas continentais e de articulação entre os diferen-
va hoje seguida por Obama: promoção da guerra civil tes movimentos e organizações revolucionárias latino-
e divisionismo na Bolívia; invasão do Equador por tro- americanas. Além desta iniciativa há também a pro-
pas colombianas que matou Raul Reyes, quatro estu- posta de Chávez de construir a Quinta Internacional
dantes mexicanos e outros 21 insurgentes das FARC- Socialista, com o objetivo de formar uma frente anti-
EP (até hoje o Equador tem suas relações rompidas imperialista no mundo e lutar pelo socialismo. A partir
com a Colômbia); e reativação da Quarta Frota. Em da reorganização dos partidos comunistas e operários
2009, primeiro ano do Governo Obama, a linha seguiu ressurge a Revista Comunista Internacional. Estes são
a mesma. Nesse ano, vários fatos evidenciam o objeti- espaços importantes que visam a unidade dos povos
vo de controle do subcontinente. Jones Jr., assessor de em torno do socialismo como única alternativa real à
Segurança Nacional de Obama, propôs ao Governo barbárie. Mais do que nunca é tempo de dizer: “prole-
Lula uma parceria estratégica Brasil-EUA (com a par- tários e povos oprimidos do mundo, uni-vos”.
ticipação do Império na exploração do pré-sal em troca
de armas de alta tecnologia) e buscou um alinhamento
do Brasil contra Chávez. Com claro apoio dos EUA, II. CONJUNTURA NACIONAL
realizou-se o Golpe Militar em Honduras, após este O leopardismo do Governo Lula: “Mudar
país ter ingressado na ALBA e seu presidente Zelaya tudo” para que tudo continue como está
ter proposto plebiscito sobre mudança ou não da A “aprovação política” do governo Lula, registra-
Constituição. Em 2009, ocorre ainda, o acordo de uso da nas enquetes, é um fenômeno fugaz, muito seme-
de sete bases colombianas pelos EUA (além das três lhante à aprovação de FHC em 1998. Como naquela
bases estadunidenses já existentes no país), bem conjuntura, estamos em um ano de eleições presiden-
como, um outro acordo que anexa, na prática, a ciais no meio de uma crise internacional do capitalis-
Colômbia aos EUA. O objetivo é promover uma guer- mo em que seus efeitos mais nefastos ainda não apare-
ra contra a Venezuela e combater as guerrilhas, princi- ceram no Brasil; mas certamente virão a tona. Apesar
palmente, as FARC-EP e o ELN. A Colômbia vive sob das condições favoráveis para os países dependentes
a ditadura de um Estado narco-terrorista. No início de entre 2003-2007 (quando houve um soluço de cresci-
2010, foi descoberta no país uma vala comum com mento planetário, com aumento dos preços dos bens
2.500 corpos de militantes assassinadas pelos parami- primários), houve uma paradoxal melhora conjuntural
litares e exércitos ligados ao Governo fascista de acompanhada de piora da vulnerabilidade externa com-
Uribe. Estima-se que há mais mil valas como estas parada do Brasil. A política do governo Lula é a repeti-
espalhadas pelo país. Os próprios órgãos oficiais admi- ção da velha política de reprodução “reciclada” do
tem que há mais de 25 mil desaparecidos políticos na capitalismo monopolista dependente, de sua ordem
Colômbia; país que é campeão do mundo em violações
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
social autocrática com um Estado a serviço do bloco mudanças substantivas nas estruturas capitalistas e
de poder formado pelo imperialismo, os monopólios e autoritárias, num sentido socialista” (Prestes, L. C. –
o latifúndio; hegemonizado pelo capital financeiro “Proposta Para a Discussão de um Programa de
que constitui o amalgama da fusão orgânica ou da asso- Emergência..., op. cit., p. 81).
ciação (nos seus interesses, negócios e empresas) entre O Programa Fome Zero original era avançado e
estas frações da grande burguesia. O governo Lula criaria uma dinâmica social progressista; no entanto
manteve a mesma política econômica do segundo foi abandonado e substituído por um programa rebai-
governo FHC: explosão da relação dívida interna/PIB xado, adaptado ao viés das “políticas compensatórias”
por causa da troca de dívida externa, de maior prazo e do FMI e BM (o que levou Frei Beto, um dos formula-
menos juro, por dívida interna, de prazo menor e taxas dores do Fome Zero, a romper com o governo). O con-
de juro mais elevada; câmbio flutuante; ajuste fiscal teúdo da política social do governo Lula é, no essenci-
permanente e megas-superávits primários; juros astro- al, a mesma política regressiva do governo FHC.
nômicos; queda dos salários reais nivelados por baixo; Ambos aplicaram a política neoconservadora do
precarização do trabalho e retirada de direitos. Banco Mundial de substituir os direitos sociais univer-
O próprio crescimento econômico tem que ser sais (emprego, saúde, educação, moradia, transporte,
pensado em termos qualitativos: que tipo de cresci- etc.) conquistados pelos trabalhadores no século XX
mento e com que finalidade? O crescimento alcançado como “direito de todos e deve do Estado” pela lógica
no governo Lula não corresponde a melhorias signifi- perversa das “políticas focalizadas” (para “os mais
cativas das condições de vida do povo brasileiro; não indigentes entre os miseráveis”). A política social do
avança no sentido da superação da dependência do governo Lula combina a “flexibilização” e precariza-
Brasil ao imperialismo e reforça a cultura da desigual- ção do trabalho (que retira direito dos trabalhadores)
dade dominante. Forja-se uma identidade ilusória das com políticas “focalizadas” para acalmar e cooptar os
classes trabalhadoras com o presidente que não corres- miseráveis, com uma “compensação” (limitada e bara-
ponde à realização no âmbito das políticas econômico- ta) diante dos efeitos da política econômica que repro-
sociais do seu governo. Sem dúvida, em um país como duz o capitalismo dependente: baixo crescimento, pau-
o Brasil, a eliminação da fome, da miséria e do perização, elevadas taxas de desemprego, diminuição
desemprego deve ser considerada uma prioridade dos salários e rendimentos populares. O programa
máxima na alocação dos recursos escassos do Estado. Bolsa Família, peça central da política social do atual
É neste sentido que Luiz Carlos Prestes formulou em governo, não pode sequer ser considerado como de ren-
1982 uma Proposta para a Discussão de um da mínima, pois, além de não ser universal, também
Programa de Soluções de Emergência Contra a Fome, não é constitucional e nem seu valor atende as necessi-
a Carestia e o Desemprego (Prestes Hoje, Codecri, dades mínimas reais de sobrevivência das pessoas. O
R.J., 1983, pp. 77-95). A proposta de Prestes, é abran- salário mínimo necessário do DIEESE (definido para
gente e eficiente, articula as medidas de emergência uma família de dois adultos e duas crianças) daria uma
para o atendimento das necessidades imediatas das renda mínima per capita quase quatro vezes maior que
massas pobres com políticas de elevação do nível de o valor definido como linha de pobreza pelo “Bolsa
vida do proletariado, com a ampliação de direitos e Família”. O Programa serve, no entanto, como pode-
garantias sociais universalizantes e volta-se para a eli- rosa arma político-eleitoral e eficiente instrumento de
minação das causas estruturais da fome, da miséria e manipulação ideológica. Permite um discurso “politi-
do desemprego. Seu método liga medidas transitórias camente correto” na perspectiva do grande capital, que
com uma estratégia socialista: ao buscar colocar as forja uma falsa consciência do que seria um “bom”
necessidades dos de baixo no centro da luta política, governo para os trabalhadores.
incorporá-los como força organizada na luta de classes Este processo político apresenta características
e fortalecer a hegemonia do proletariado no interior do novas, em especial o “transformismo” do governo
bloco de forças sociais revolucionárias. Proporciona Lula e do PT, que propagandeando a mudança for-
condições políticas para uma interação entre a massa taleceram a continuidade e a manutenção da
menos politizada e os revolucionários organizados ordem herdada: uma reciclagem da velha autocracia
com formação marxista; visa criar espaços para o sur- burguesa, onde até as ilegalidades da ditadura militar
gimento de novas lideranças diretamente escolhidas são preservadas (como a lei da anistia que protege os
pelas massas, formar quadros proletários na luta que torturadores e mantém secretos os arquivos da ditadu-
faz a mediação entre o programa revolucionário e as ra). O “transformismo” é um conceito de Gramsci que
preocupações imediatas das massas. Assim concebi- trata da adesão (individual ou coletiva) ao bloco domi-
das, “as soluções de emergência contribuem para cons- nante de lideranças e organizações políticas ligadas às
cientizar e organizar as classes trabalhadoras, prepa- “classes subalternas”, com o abandono de suas antigas
rando, desta maneira, as condições necessárias para
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
posições políticas. O rápido e amplo “transformismo” nômica e controla a execução do Orçamento Federal,
de Lula e do PT em mais um “partido da ordem” sur- subordinando as ações do Estado nas demais áreas. O
preendeu a muitos. No entanto, desde o início da déca- agronegócio e os interesses exportadores apoderaram-
da de 90 o núcleo dirigente do PT se lançou no projeto se do Ministério da Agricultura e do Ministério do
de chegar ao governo com a chancela da classe domi- Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior;
nante (negociando com a direita, com o grande empre- aprovaram a liberação dos transgênicos, conseguiram
sariado, com o governo dos EUA, etc.); deformando compensações para o câmbio valorizado e afetaram
seus quadros no ethos da “pequena política” (pragmá- inclusive o foco da política externa, principalmente as
tica, oportunista, carreirista, sem nenhum compromis- negociações no âmbito da OMC.
so com transformações sociais profundas, sem estatu- As frações hegemônicas no bloco de poder da for-
ra sequer para ser reformista). mação social brasileira são personificações do capital
O governo de Lula trilhou, no fundamental, o mes- financeiro (integração orgânica entre o capital bancá-
mo caminho do governo de FHC, dando novo fôlego a rio e industrial com preponderância do primeiro);
um modelo econômico que estava esgotado; perdendo dominância da fração imperialista (grandes bancos
a extraordinária oportunidade criada pela conjuntura estrangeiros, fundos de investimento e empresas trans-
internacional entre 2003-2008, que permitia a realiza- nacionais) e os monopólios brasileiros a ela associada
ção de uma política democrático-radical, anti- (na maior parte dos casos, de modo subordinado).
imperialista e de transformações econômico-sociais Também importante no bloco dominante são as dema-
voltada para a elevação do nível de vida das massas is frações do grande capital que não são organicamente
populares. Para além da burocratização interna do PT financeirizados (na indústria, comércio e serviços) e o
(enquadramento das tendências mais à esquerda pela latifúndio (em geral modernizado como “agro-
“Articulação”, destruição dos núcleos de base e virtual negócio”). Estes últimos e os demais segmentos
eliminação dos espaços democráticos de debate, ques- exportadores do grande capital ganharam maior peso
tionamento e formulação) houve um rápido amálgama no governo Lula do que tinham com FHC (revitalizan-
espúrio entre governo, partido e os sindicatos e demais do o bloco de poder, abalado com a crise cambial de
organizações de massa (transformadas em “correias 1999), permitindo (nas condições favoráveis da con-
de transmissão” do governo). O “patrimonialismo” juntura internacional de 2003-2008) tanto os superá-
ultrapassou o clientelismo tradicional na relação do vits comerciais como o pagamento em dólar dos rendi-
governo com os partidos que compõem a sua base de mentos do capital financeiro.
apoio; renovaram-se as modalidades cooptação políti- Com a crise as elevadas taxas de juros, a desvalo-
co-ideológica, como é o caso emblemático de dirigen- rização do dólar e os gargalos da dívida pública (que
tes e funcionários do PT e da CUT (e outros setores sin- exige elevadíssimos superávits fiscais primários) vão
dicais governistas) que se tornaram uma camada soci- aumentar as tensões no bloco dominante (que se man-
al específica identificada com interesses de classe bur- tém unido na defesa do arrocho salarial e da “desregu-
guesa formada por administradores de fundos públi- lamentação” do mercado de trabalho). Mais importan-
cos (especialmente de bancos oficiais, com destaque te: com o reaparecimento da crise o comando do capi-
para o FAT do BNDES) e fundos de pensão estatais tal financeiro terá dificuldades crescentes para exercer
(Previ, Petrus, Funcef). sua hegemonia para além do bloco de poder e incorpo-
O “modo petista de governar” não é significativa- rar (ainda que passivamente) os grupos e classes
mente distinto do PSDB e PMDB; com um pequeno exploradas, oprimidas e subalternizadas; pois o capita-
diferencial de eficiência no uso funcional das políticas lismo monopolista dependente (que é o único capita-
assistencialistas o lulismo fala para os pobres, viven- lismo possível no Brasil) não permite um crescimento
cia as benesses do poder e garante mesmo a boa vida sustentável capaz de estabilizar tal hegemonia, devido
para os grandes capitais. No essencial a identidade polí- não só ao crédito caro, mas, sobretudo: às perdas inter-
tica do PT é a mesma dos partidos da ordem que ocupa- nacionais, à reduzida capacidade de investimentos
ram os governos anteriores, passando pelas mesmas públicos (se mantidas as privatizações, os compromis-
equações: financiamento de campanhas pelos grandes sos de apoio à acumulação de capital e as garantias de
capitalistas, nepotismo e ocupação patrimonialista do pagamento da dívida externa e interna), à forte con-
Estado, relações “fisiológicas” que garantem o atendi- centração de renda e patrimônio e às dimensões gigan-
mento dos interesses de distintas frações das classes tescas da miséria, degradação coletiva e demandas
dominantes (que repartem entre si o saque representa- reprimidas do proletariado e das massas populares.
do pela apropriação aberta dos segmentos do aparelho O PAC foi apresentado como expressão de uma
estatal). O capital financeiro controla o Ministério da “nova postura”: a primeira gestão teria servido para
Fazenda e o Banco Central, determina a política eco- “arrumar a casa”, para no segundo governo se enfren-
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
tar a “retomada do crescimento econômico”. Na reali- associações que lutam pela transformação social. A atá-
dade, o PAC significou, um “programa de atendimento vica incapacidade de conviver com a democracia para
aos credores” da dívida pública, uma peça de propa- os “de baixo” que reaparece nas autoridades judiciári-
ganda enganosa do governo e um envoltório do con- as brasileiras, o velho trato da questão social como “ca-
junto de sua política a serviço do capital monopolista: so de polícia”, está se recompondo numa nova e auto-
não garante o crescimento econômico, está articulado crática estratégia das forças conservadoras com forte
com as contra-reformas, dá continuidade ao desman- peso estatal.
che dos serviços públicos e ataca os direitos dos traba- A ofensiva da direita se dá num contexto de con-
lhadores. O PAC nunca chegou perto de ser um verda- tinuidade da autocracia burguesa. Não se trata de
deiro plano integrado de desenvolvimento para o uma rearticulação dos conservadores para “voltar ao
Brasil, pois segue a política imposta pelo imperialismo poder”, mas de uma ofensiva reacionária para manter e
(em conluio com as elites da burguesia nativa) de reforçar um poder autocrático que eles nunca perde-
transformar o país em mera plataforma de valorização ram. É nesta conjuntura de tentativa de estabilizar a
financeira internacional. Um verdadeiro plano nacio- outrora chamada “transição prolongada” – a qual nun-
nal de desenvolvimento exige, no mínimo, a conquista ca foi mais do que uma reciclagem da autocracia bur-
das da capacidade do país fazer política econômica guesa - que aparece toda a gravidade da conciliação de
soberana: reorientação da intervenção do Estado na Lula com a extrema direita e seu recuo diante das pres-
economia, repúdio do modelo herdado de ditadura que sões para neutralizar os efeitos potencialmente demo-
subordina tudo ao pagamento da dívida, redução da cratizantes do 3º Plano Nacional de Direitos Humanos
vulnerabilidade externa e um planejamento democra- (PNDH). Apoiamos a campanha “contra a anistia aos
ticamente centralizado (combinado com a mobiliza- torturadores” lançada em dezembro de 2009 pela
ção popular) voltado para a elevação qualitativa do Associação dos Juízes pela Democracia (AJD) e repu-
nível de vida do povo. diamos a acusação de que somos movidos por “revan-
Protestamos diante da crescente onda de crimi- chismo”. Jamais pretendemos fazer a eles o que fize-
nalização dos movimentos sociais e do novo patamar ram a nós. Não reivindicamos que quem assassinou
de repressão às organizações, protestos e manifesta- deva ser morto, quem torturou deva ser seviciado,
ções populares. É um insulto ao povo brasileiro - que quem estuprou deva ser violentado. Queremos justiça:
conquistou liberdades democráticas em décadas de entregar as famílias os restos mortais dos que foram
luta contra a ditadura - o Relatório aprovado por unani- mortos e enterrados clandestinamente, comprovar que
midade no Conselho do Ministério Público do RS, que a maioria dos militares não é conivente com as atroci-
estigmatiza o Movimento dos Trabalhadores Sem dades; punir os culpados dentro da lei e livrar as Forças
Terra (MST) como “organização criminosa” e promo- Armadas da influência de figuras antidemocráticas
ve ação civil pública com vistas à “dissolução do MST que fazem a apologia da ditadura, escondem a verdade
e a declaração de sua ilegalidade”, exige a “desativa- e acobertam os criminosos. A ofensiva da direita não
ção e remoção dos acampamentos” e ainda a “inter- pode ser reduzida a uma questão de tática eleitoral, até
venção nas escolas do MST”. Segue na mesma linha a porque ela se articula também por dentro do Estado e
condenação à prisão por dois anos e meio de do próprio governo Lula. O que está em jogo é a memó-
Coordenadores da Comissão Pastoral da Terra que ria histórica nacional e a luta pela efetiva democratiza-
assessoraram um protesto de dez mil trabalhadores ção do Brasil. A impunidade dos torturadores a resis-
rurais contra o INCRA na região de Marabá (PA) em tência reacionária contra a concretização de direitos
1999. Multiplicam-se casos de criminalização de movi- humanos que envolvem limites à interesses particula-
mentos legítimos dos trabalhadores e dos pobres, dos ristas do grande capital e do latifúndio e a defesa da
jovens e estudantes e, sobretudo, dos trabalhadores do liberdade pessoal e da auto-realização individual (em
campo e suas lideranças. Estudantes e trabalhadores oposição às forças crescentemente mais destrutivas de
das Universidades públicas que protestam contra polí- desumanização, alienação, opressão e exploração)
ticas privatizantes e antidemocráticas são processados mostram que a ditadura e a sua lógica ainda estão pre-
e enquadrados como “terroristas”; movimentos e orga- sentes em nosso país.
nizações populares sofrem espionagem sistemática e Defendemos a realização de uma Reforma
crescente violência policial na repressão às suas mani- Agrária Radical; com o fim da propriedade monopo-
festações; intensificam-se práticas anti-sindicais com lista da terra na mão dos latifundiários e garantias: de
demissão de dirigentes (desrespeitado sua estabilidade posse da terra por aqueles que nela trabalham, do aces-
legal), multas e confisco de patrimônio em caso de gre- so aos necessários meios de produção e gestão e de con-
ve e uso da legislação anacrônica para golpear a liber- dições adequadas de comercialização (que protejam
dade sindical. Surgem propostas de mudanças na tantos os trabalhadores rurais como os consumidores
legislação visando proibir e punir a existência legal de
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
urbanos da espoliação dos monopólios agro- tória contemporânea. Nas últimas décadas tornou-se
industriais e comerciais). Lutamos pela renacionaliza- dominante - não só entre apologistas da ordem, mas
ção e reestatização das empresas estratégicas, como: a em parte da intelligentsia radical e de esquerda – a defe-
Petrobrás a Vale do Rio Doce, a Telebrás e a sa de teses que formam um problemático “senso
Eletrobrás. Estes complexos produtivos, dotados de comum” em torno da negação da centralidade da
elevada competência técnica e organizacional, devem categoria trabalho (como atividade produtiva e mode-
tornar-se a base para um planejamento estatal (com lo de toda práxis e seu papel na estruturação objetiva
controle democrático) capaz de garantir a soberania das relações de produção e como “momento predomi-
sobre nossos recursos naturais e um desenvolvimento nante” na produção e reprodução do homem na socie-
socialmente justo e emancipador. Apoiamos a propos- dade e da sociedade como totalidade) e a negação do
ta de realização de um plebiscito em favor da retomada papel revolucionário do proletariado (a classe dos
do monopólio estatal do Petróleo e da reestatização da trabalhadores assalariados explorados pelo capital) na
Petrobrás; consideramos que ele deve ser estendido a luta pela emancipação humana.
uma campanha pelo monopólio estatal sobre todos os Houve de fato várias mudanças no perfil e distri-
recursos naturais estratégicos e reestatização das buição do proletariado (seja por ramos da economia,
empresas estratégicas (a serem nacionalizadas sem seja em termos geo-econômicos). Empiricamente, se
indenização e não recomprando as ações privatiza- forem examinadas as estatísticas da OIT no último
das). O controle democrático dos trabalhadores sobre meio-século, fica evidente que houve um gigantesco
o planejamento democraticamente centralizado destas crescimento do proletariado em escala mundial e em
empresas (combinado com auto-gestão interna desde a todos os continentes; algo que se mantém se conside-
base) é a única solução duradoura para a garantia da rarmos variações médias relativas de cerca de dez anos
soberania nacional a serviço das efetivas transforma- (e não oscilações curtas em épocas de crise) e se não
ções sociais necessárias na sociedade brasileira. reduzirmos o proletariado aos trabalhadores manuais.
Medidas neste sentido têm como pré-requisito a derro- O proletariado é “a classe dos assalariados modernos
ta política do atual bloco de poder, a liquidação do que, não tendo meios de produção, são obrigados a
poder dos monopólios e a destruição do Estado auto- vender sua força de trabalho para sobreviver” (Nota 1
crático burguês. de Engels ed. de 1888 do Manifesto Comunista);
excluindo os que por seus rendimentos elevados
III. CENTRALIDADE DO TRABALHO E podem acumular capital suficiente para viver de juros
LIBERDADE SINDICAL e aqueles cuja função única é gestionária (definição
clássica assumida por Lênin: Observações ao Projeto
A chamada “crise da sociedade do trabalho” é um de Programa de Plekhanov do POSD russo 1902,
modo significativamente invertido de abordar a crise Obras Completas v. 6); mas incluindo todos os desem-
estrutural do capital aberta no inicio dos anos 1970, pregados que não se tornaram pequenos empresários
que forma o estofo da terceira fase do estágio imperi- (Cf. Marx - O Capital I, cap. XXIII sobre o “exército
alista-monopolista do capitalismo. A nova fase his- industrial de reserva”). O próprio proletariado indus-
tórica torna a capacidade de adaptação do capitalismo trial produtivo (de mercadoria, que combina trabalho
muito menor e o deslocamento de suas contradições concreto produtor de valor de uso e trabalho abstrato
cada vez mais difícil; bloqueando objetivamente o criador de valor de troca) se ampliou com a proletari-
espaço das acomodações de “consenso” dentro da zação dos trabalhadores do campo e com os que inte-
ordem (“pleno emprego”, “Estado de bem estar soci- gram o “trabalhador coletivo” (Cf. Id. O Capital I, esp.
al”, etc.) eliminando as condições para reformas séri- cap. XIV; e Cap. VI Inédito). A classe como um todo
as. A crise estrutural do capital cria a necessidade his- inclui ainda os trabalhadores do comércio, dos bancos
tórica e as potencialidades objetivas de uma ofensi- e dos serviços que também fazem parte do proletari-
va socialista, mas isto ocorre em condições de desori- ado, isto é, os “trabalhadores improdutivos” para o
entação teórica e político-ideológica do movimento capital em geral, (pois não transformam a natureza
proletário e popular e de ausência de instrumentos produzindo e transportando mercadorias – unidade de
políticos prático-organizativos adequados que valor de uso e valor de troca – e, portanto não produ-
poderiam transformar esta potencialidade em rea- zem o “conteúdo material da riqueza social” nem
lidade efetiva. Na busca de contribuir com elementos incrementam a massa global de mais-valia), mas que
para a superação destes limites analisamos aqui as são produtivos para os capitalistas destes ramos,
bases objetivas da atualidade do socialismo proletário pois permitem que eles valorizem seus capitais e parti-
e a particularidade concreta (com suas dificuldades cipem do rateio da mais-valia (Cf. Id. O Capital II cap.
específicas) do sindicalismo brasileiro. VI e III cap. XVII). Nos EUA o proletariado aumentou
1. Centralidade do trabalho na luta emancipa- em números absolutos de 62 milhões em 1950 para
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
124 milhões em 1990; ainda que no chamado “terceiro gico para a revolução da nossa época. Uma revolução
setor” houve um crescimento proporcionalmente mai- do trabalho (na medida em que as classes trabalhado-
or (passou de 22 para 78 milhões) Se considerarmos as ras, sob a hegemonia do proletariado, formam o sujeito
estatísticas sobre o período mais recente, entre 1990 e coletivo das lutas emancipatórias com capacidade
2005, verificamos que a força de trabalho mundial pas- objetiva de estabelecer uma alternativa histórica viá-
sou de 1,43 para 1,93 bilhões de pessoas. Ainda que o vel ao domínio do capital) e uma revolução no traba-
setor de serviços aumente proporcionalmente muito lho (na medida em que deve auto-abolir o trabalho abs-
mais (e mais rápido), o emprego na indústria (em sen- trato e alienado, abolir sua própria subordinação estru-
tido amplo) vem aumentando nos últimos 50 anos em tural ao capital bem como a subordinação de qualquer
termos absolutos numa média em torno de 3% ao ano; classe por outra, instaurando uma sociedade baseada
e num ritmo em torno de 5% no chamado “terceiro do trabalho concreto emancipado que produz coisas
mundo” (Cf. BIT – Le Travail dans le Monde, Genéve, socialmente úteis e amplia cada vez mais o campo de
1984, 1991, 1996 e 2006 e US Departament of Labor, liberdade da auto-atividade humana).
Montly Labor Review, 1991). 2. A Estrutura de Sindicalismo de Estado e sua
Assim com não podemos compreender as leis de Reciclagem A estrutura de Sindicalismo de Estado
movimento do modo de produção capitalista sem a (implantado no Brasil nos anos 30, inspirado na Carta
categoria marxiana de “capital social total”, também é del Lavoro de Mussolini) é o sistema de relações que
impossível compreender os múltiplos e agudos pro- assegura a subordinação dos sindicatos (oficiais) às
blemas do trabalho (nacionalmente diferenciado e soci- cúpulas do aparelho de Estado (Executivo, Judiciário
almente estratificado) sem ter presente o irreconciliá- ou Legislativo) tendo como base a necessidade do
vel antagonismo entre o capital social total e a “totali- reconhecimento oficial-legal do sindicato pelo
dade do trabalho”. A relação capital-trabalho não é Estado. Deste fundamento – a “investidura sindical”
simétrica: o capital depende absolutamente do traba- por um ramo do aparelho do Estado - dependem todos
lho, mas a dependência do trabalho diante do capital é os demais elementos que compõem a estrutura: unici-
historicamente superável. Os movimentos populares dade sindical obrigatória (o Estado reconhece um
e suas modalidades de luta (ecológica, feminista, de sindicato único e outorga a representação dos trabalha-
nações espoliadas e etnias discriminadas, de jovens e dores sob a forma de monopólio por força de lei), a
estudantes, de homo-afetivos, etc.) contra a opres- tutela do Estado sobre a atividade reivindicativa do
são, possuem significado relevante e positivo na busca sindicato (particularmente da Justiça do Trabalho, que
de uma individualidade e uma sociabilidade rica de emite sentenças aplicadas não só aos associados do sin-
sentido humano. Mas deve-se ter presente a centrali- dicato, mas ao conjunto da categoria), as contribui-
dade das classes trabalhadoras expropriadas e ções sindicais compulsórias (imposto sindical e
exploradas (que atravessam aqueles movimentos) nas outros; a “carta sindical” define a entidade que exerce
transformações que se opõem à lógica de acumulação legalmente esse poder tributário delegado pelo
de capital e o protagonismo estratégico do proletari- Estado). Uma estrutura sindical cuja representativida-
ado como um todo (tendo por “núcleo de vanguar- de e recursos materiais são uma outorga do Estado por
da” o proletariado industrial produtivo) como suje- força de lei (coesionado por uma ideologia legalista
ito revolucionário na luta pela supressão do capitalis- que estimula o “fetichismo do Estado”) gera um apare-
mo, capaz de ser conseqüente até o fim na luta para lho sindical integrado ao Estado e separado dos traba-
superar o domínio do capital e estabelecer um modo lhadores (Cf. A. Boito Jr. – O Sindicalismo de Estado
viável de controle socialista da produção e reprodução no Brasil).
social. Esteve em voga a teoria da “integração definiti- Marx e Engels em sua luta contra o “bismarkis-
va do proletariado no capitalismo organizado”. Hoje, mo” de Lassale e depois Lênin e Rosa Luxemburg nas
com a crise estrutural, o capitalismo está “desorgani- polêmicas contra o “revisionismo” demonstraram que
zado”, mas persiste a “integração regressiva” de lide- certo tipo de sindicalismo desempenha funções con-
ranças e organizações que se reclamam representantes servadoras; mas que a unidade sindicalismo-
dos trabalhadores. O proletariado pode ser temporaria- revolução é possível e indicaram os meios pelas quais
mente privado de uma liderança com consciência de ela pode se dar: 1) como meio de acumulação de for-
classe, mas não pode ser “integrado” ao sistema do ças, base para o crescimento da organização política
capital (incapaz de impedir a agudização de suas con- independente do proletariado e o desenvolvimento
tradições e antagonismos estruturais). Por isto a reor- massivo de sua consciência de classe; 2) contribuir
ganização do movimento socialista, em oposição às para o desencadeamento de crises revolucionárias; 3)
lideranças oportunistas, é um desafio inevitável. O integrar as massas na luta pelo poder de Estado, utili-
desenvolvimento do proletariado, como classe hege- zando seus meios típicos de luta (greves) como instru-
mônica autosuperadora, segue como principio estraté-
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
mento de apoio de uma insurreição. Já a função do sin- arraigada (...) o empresariado logrou um triunfo
dicalismo de Estado é sempre (a despeito de suas vari- enquanto a CUT perdia sua maior batalha na
ações conjunturais) manter a hegemonia burguesa Constituinte. O 'novo sindicalismo' e a revolução
sobre o movimento sindical inviabilizando um sin- democrática sofreram um revés; as correntes que vêm
dicalismo classista. No caso brasileiro favorece a do passado venceram”. Contra este projeto Florestan
manutenção da ordem capitalista autocrática e perma- propôs: “Dê-se nova redação ao art. 9º da
nentemente dependente: 1) Ao contrário dos movi- Constituição: 'É livre a associação profissional ou sin-
mentos sindicais autônomos (onde a separação entre dical em todos os níveis; a aquisição da personalidade
sindicalismo e socialismo é apenas uma possibilidade) jurídica de direito privado se dará mediante registro
a estrutura sindical tutelada mantém de modo inevitá- em cartório; §1º a lei não poderá exigir a autorização
vel a separação entre a luta sindical e a luta revolucio- do Estado para a fundação de sindicato; § 2º é vedada
nária. 2) Submete o movimento sindical aos interesses ao Poder Público qualquer interferência na organiza-
que tem hegemonia no bloco de poder (o próprio “sin- ção sindical (...)” (Fernandes, F. – “Sindicato Único e
dicalismo oficial de oposição” fica dependente das fis- Pluralidade Sindical”, In: Jornal do Brasil,
suras entre os interesses de fração dos diversos setores 02/11/1987).
burgueses, sem sair do terreno do interesse geral do blo- 3. A Degeneração da CUT e a Contra-Reforma
co dominante). 3) Debilita a ação sindical reivindicati- Sindical e Trabalhista do Governo Lula. O movi-
va que fica aquém do “tradeunionismo tradicional” mento que criou a CUT foi gerado num contexto de cri-
(um sindicalismo sob hegemonia burguesa, mas com se da ditadura e ressurgimento das greves de massa (or-
maior eficácia na luta reivindicatória). O sindicalismo ganizadas e dirigidas por fora dos sindicatos oficiais a
integrado ao aparelho de Estado implica uma profunda partir da participação militante dos operários no local
desorganização da luta reivindicativa dos traba- de trabalho). Sem respeitar o “calendário de datas-
lhadores por melhores salários e melhores condições base”, surgem greves simultâneas em São Paulo e no
de trabalho. O sindicalismo de Estado é um sistema ABC, atemorizando a burguesia que a possibilidade de
que intervém para manter os trabalhadores dispersos e uma “greve geral por contágio da base”) atendeu as rei-
desorganizados, seleciona dirigentes sindicais vindicações. O momento mais crítico da crise da dita-
governistas e aburguesados e torna a luta sindical dura coincidiu com a reorganização do movimento
“moderada” e a reboque das empresas monopolis- operário em 1978; quando as correntes anti-pelegas
tas (gerando um sindicalismo frágil mesmo para os articuladas no ENTOES propuseram a organização
padrões latino-americanos). imediata de uma Central de Trabalhadores para unifi-
O sindicalismo de Estado original foi destruído car nacionalmente o movimento e romper com a estru-
com a derrota do nazi-fascismo e depois com o fim das tura do sindicalismo de Estado. O governo Figueiredo
ditaduras de Franco e Salazar. Seu equivalente na realizou a “abertura sindical” que liberalizava o con-
América Latina, implantado por governos “populistas, trole do Estado sobre os sindicatos, mudou a política
tornou-se ferramentas das ditaduras e foram sendo eli- salarial para conter a onda grevista e decidiu negociar
minadas com o seu refluxo. No Brasil, a supressão pela só com as diretorias de sindicatos oficiais; buscando
Constituinte de 1988 do modelo ditatorial de gestão e reciclar os pelegos para “disciplinar” e boicotar por
controle governamental sobre os sindicatos oficiais dentro o movimento. O grupo majoritário do novo sin-
(com seu repressivo e pormenorizado estatuto padrão) dicalismo, preso à ideologia da legalidade sindical, se
não eliminou, mas ao contrário (devido à ação do “Cen- desviou da luta conseqüente pela autonomia sindical:
trão”, com a colaboração de Roberto Freire e do derrotou a ala esquerda e abandonou a proposta de rea-
PCdoB) preservou (ainda que reformada) a velha lização de um Congresso Sindical sem os pelegos. O I
estrutura do sindicalismo de Estado e seus elemen- CONCLAT só se realizou quatro anos depois em 1981
tos centrais. O Brasil não ratificou Convenção 87 da e só formam a CUT em 1983, quando após muita vaci-
OIT (que trata a plena liberdade sindical como direito lação “racham” com os pelegos que vinham conse-
humano fundamental e determina a proteção contra guindo protelar sua criação. A ditadura ganhou tempo
praticas anti-sindicais) e a Constituinte manteve (art. para levar adiante sua auto-reforma que desemboca no
8º) a necessidade de reconhecimento do Sindicato pelo “tacredismo”, usando os pelegos para bloquear a unifi-
Estado e os “impostos sindicais”; preservou (art. 111 a cação, na base e no topo, de um movimento sindical de
114) a estrutura da Justiça do Trabalho e sua tutela massas.
sobre o movimento sindical. Florestan Fernandes, O campo majoritário na direção da CUT - apesar
então deputado constituinte, fez uma análise precisa de proclamar a intenção de romper com o modelo de
da questão: “o § 3º do art. 9º do novo projeto de consti- organização sindical vigente; defendendo a liberdade
tuição restringe a liberdade sindical proclamada (...) a sindical e a oposição à unicidade, ao imposto, à tutela
unicidade sindical corre pelo leito de uma conciliação
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
da Justiça do trabalho – na prática negava o que este de trabalho. A prática dos anos 90 mostrou que ser “pro-
discurso afirmava e caminhava para integrar-se ao sin- positivo” significa disposição de entregar direitos.
dicato oficial. No Congresso de Fundação (1983) der- O processo de degeneração político-ideológica
rotou as propostas que previam alguns tipos de filiação da CUT não pode ser entendido sem levar em conside-
à CUT por fora da estrutura sindical oficial. O III ração o “transformismo” do partido que a dirige. Com
CONCUT, em 1988, reforça essa integração ao dimi- a chegada do PT ao governo federal a cooptação trans-
nuir o peso das oposições sindicais. Ainda assim o I formou-se em promiscuidade: a CUT se transformou
CONCUT, em 1984 aprova o documento Por Uma num “ministério do governo Lula”. A CUT apoiou a 2ª
Nova Estrutura Sindical; em que defende a revogação Reforma da Previdência, opondo-se a greve convoca-
dos artigos da CLT sobre a unicidade e os impostos sin- da pelas entidades dos servidores públicos. Foi emble-
dicais. A CUT seguiu como uma Central combativa mática a ação de Lula em 2003 impondo a eleição de
nos anos 80, apesar de permanecer mais como uma “re- Marinho para presidente da CUT, personagem que em
ferência” e não como uma direção efetiva dos traba- 2005 é cooptado para Ministro do Trabalho. Diante da
lhadores. Bloqueada na base pelo efeito dispersivo da crise atual, a CUT, depois de embarcar no discurso
estrutura sindical oficial (que “para na porta das lulista que a reduz a “marolinha”, passou a apoiar a doa-
empresas”) a CUT não conseguiu alcançar uma ção de dinheiro público para salvar grandes empresári-
ampla e efetiva organização nos locais de trabalho, os, além de aceitar reduções salariais impostas pelos
condição para um sindicalismo efetivamente enrai- patrões. A CUT e a Força Sindical se aproximam e par-
zado nas massas. A virada a direita começa no III ticipam em conjunto do FNT, fórum tripartite criado
CONCUT, que realiza mudanças estatutárias limitan- pelo governo Lula em 2003 para “produzir consensos”
do a participação da base e cria uma estrutura verticali- entre três “bancadas” (entidades patronais e de traba-
zada, burocrática. Esta virada se consolida no IV lhadores e governo) sobre as “reformas” sindi-
CONCUT (1991): limitou ainda mais a democracia cal/trabalhista. O FNT propõe uma reforma sindical
interna e filiou a CUT à CIOSL, central internacional que altera os artigos 8º e 11º da Constituição, os substi-
que pratica o “sindicalismo de negócios” e defende tuindo por 238 artigos. No Anteprojeto de Lei sobre as
posições conservadoras e pró-imperialistas (apoiou Relações Sindicais o governo Lula acolhe o pacote de
golpes e ditaduras militares e várias guerras de agres- 238 artigos, conveniente cortina de fumaça para revi-
são deflagradas pelo imperialismo). Nos anos 90 a talizar a velha estrutura do sindicalismo de Estado.
CUT passou a receber dinheiro do FAT, substituiu a for- Se a intenção fosse, como é declarada pelo então
mação política pela formação profissional (função dos ministro Berzoini, “rever o sistema corporativo que
patrões); abandonou a luta direta dos trabalhadores remonta à década de 30” (PEC 369/2005) bastaria para
para privilegiar a participação nas câmaras setoriais e uma reforma sindical radical dois ou três artigos cla-
fóruns tripartites, legitimando o processo de retirada ros garantindo a proteção dos trabalhadores contra
de direitos dos trabalhadores. A CUT tornou-se parte práticas anti-sindicais e eliminando: a obrigatorieda-
da estrutura do sindicalismo de Estado. A manipu- de da autorização do Estado para o funcionamento do
lação política da distribuição de cartas sindicais pelos sindicato; a unicidade sindical (permitindo aos traba-
governos da “Nova República” faz parte da lógica de lhadores a decisão soberana sobre qual sindicato os
funcionamento da estrutura sindical: preservou o sin- representa e sobre as normas que regem o funciona-
dicalismo de conciliação de classe, mantendo inclusi- mento de suas organizações; a organização fora das
ve a força do velho peleguismo, que continua com uma “entidades de carimbo” controlada pelos pelegos), os
amplitude e presença nacional que não teria se o país impostos sindicais (sendo os sindicatos sustentados
vivesse plena liberdade sindical. Esta integração per- pela contribuição associativa voluntária, controlada
verteu o “novo sindicalismo cutista”, cujas correntes pelos próprios trabalhadores, extinguindo os recursos
majoritárias vergaram aos efeitos políticos e ideológi- que garantem os “sindicatos de gaveta”), o poder da
cos que incidem sobre as forças que se acomodam nos Justiça do Trabalho de criminalizar as greves (garan-
sindicatos oficiais: burocratismo, legalismo, descren- tindo o direito de greve com a extinção dos julgamen-
ça na capacidade de auto-organização dos trabalhado- tos sobre as greves e da arbitragem judicial obrigató-
res; falta de estratégia classista e adoção das táticas ria, que mesmo quando julga dissídios favoravelmen-
defensivas (economicistas e fragmentadas corporati- te aos trabalhadores para encurtar a greve costuma
vamente) do sindicalismo de negócios (chamadas com revogá-los quando o sindicato patronal recorre da sen-
eufemismo “de resultados” ou “propositivo”). A CUT tença).
divulgou documentos considerando “inevitável” a “re-
estruturação produtiva”: os mitos da “flexibilização” e Ao contrário, o Anteprojeto do governo Lula pro-
“desregulamentação”, que na realidade significam põe uma efetiva contra-reforma sindical (cuja trami-
desemprego e uma implacável precarização da força tação no Congresso foi suspensa, mas continua orien-
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
tando mediadas provisórias e negociações com as e legaliza a criminalização das práticas de mobilização
Centrais, pelas quais ela vem se realizando “em fati- dos trabalhadores e luta contra o capital. Por trás da
as”). Ela mantém e renova mecanismos que o Estado retórica da modernização da função da justiça do tra-
dispõe para controlar o movimento sindical mediante balho, o projeto propõe que ela passe a julgar a greve
a cooptação – material e ideológica – de suas direções (que é transformada em crime) e não as reivindica-
com o objetivo de reduzir as lutas e impedir sua auto- ções. A despeito do discurso de Lula - que iniciou o
nomia; de modo a dificultar as mobilizações e a cons- debate no FNT alegando primeiro “fortalecer os sindi-
trução de um projeto (democrático-popular, anti- catos” para depois realizar a reforma trabalhista - esta
imperialista e socialista) alternativo ao bloco domi- vem sendo realizada sutilmente e sem debate. Trata-se
nante. É típico do transformismo lulista um discurso é claro da continuidade da contra-reforma traba-
que dissimula o conteúdo da contra-reforma do lhista de FHC, pois Lula segue “flexibilizando” direi-
Estado: o máximo de apoio à acumulação de capital e o tos: o Contrato de Primeiro Emprego e a Lei do Super
mínimo de controle púbico sobre a propriedade, o Simples impõe perdas materiais (eliminação de direi-
máximo de controle sobre o trabalho e o mínimo de tos) e tem o efeito ideológico de estimular a divisão de
direitos. Assim, fingindo ter por alvo a eliminação do trabalhadores, criando “cidadãos de segunda classe”.
imposto sindical o projeto do governo cria uma “Con- A Super-Receita (Lei 1457/07) cria a “pejotização”,
tribuição de Negociação Coletiva” compulsória anual que elimina a fiscalização dos auditores da RF sobre os
(que pode atingir até 13% de um salário, quatro vezes reais vínculos empregatícios entre empresas que con-
mais que o imposto sindical que é de 3,3%) cujo objeti- tratam os serviços e os indivíduos que se apresentam
vo é a verticalização das Centrais (que não recebiam como pessoa jurídica (“pj”); fraudando o pagamento
diretamente o imposto e agora ficam com 10%). Mas o de direitos trabalhistas e encargos sociais. O PAC, des-
velho imposto sindical não foi extinto: o governo nego- respeitando acordos com setores do funcionalismo,
ciou com as Centrais uma lei de reconhecimento que restringe, por 10 anos, o aumento salarial à variação da
estabelece critérios de representatividade provisórios inflação mais 1,5%. O PLC 92/07 ameaça o serviço
e repassa para elas 10% do imposto (PL 1990/07, apro- público ao criar “fundações públicas de direito priva-
vado em março de 2008). Dizendo buscar fortalecer a do” em áreas que devem ser responsabilidade do
representatividade dos sindicatos e o fim das “entida- Estado (saúde, educação, assistência social, cultura,
des de carimbo”; o projeto propõe critérios de registro, ciência e tecnologia, meio-ambiente, etc.) que poderão
financiamento e representatividade que pressionam contratar funcionários segundo as regras do setor pri-
sindicatos a se filiarem as Centrais; concentrando vado. Já está em pauta uma 3ª Reforma da Previdência,
poderes de negociação a que são subordinados ações e que propõe novo aumento do tempo de contribuição e
acordos dos sindicatos de base; que são enfraquecidos da idade mínima para aposentadoria.
enquanto se fortalece a burocracia sindical, facilitando 6. Central das Classes Trabalhadoras E
os conchavos de cúpula. O princípio da unicidade sin- Coordenação de Lutas Populares. No campo da opo-
dical é mantido com o nome de “exclusividade de sição de esquerda não se construiu ainda uma alternati-
representatividade” para sindicatos que já possuem va política relevante ao lulismo, nem mesmo um pólo
registro. Dentro da lógica da verticalização a liberdade com capacidade de convocação de massa. A elevação
de organização sindical é ainda mais restringida, com do nível de organização, mobilização e consciência do
o critério de “representação derivada” que permite às movimento proletário e popular brasileiro – com a for-
Centrais criar sindicatos onde não houver entidades mação de um sujeito político coletivo capaz de impul-
com a “exclusividade”, mas impede “sindicatos sem sionar as transformações sociais – passam, hoje, pela
centrais sindicais” (invertendo a lógica de construção formação de um consenso mínimo: sobre a natureza e
pela base do sindicalismo anti-pelego). A peça chave limites do governo Lula; e sobre os objetivos progra-
do projeto é a “negociação coletiva” hierarquizada máticos que devem ser perseguidos pelas forças que
que centraliza poder nas cúpulas sindicais nacionais; compõem este campo. A reconstituição de uma oposi-
num sistema em que as convenções trabalhistas e con- ção de esquerda mais vigorosa, aguerrida e identifica-
tratos coletivos de maior abrangência têm cláusulas da com o socialismo, passa pela revitalização dos
que não podem ser alteradas nos níveis inferiores (en- movimentos populares, pela reconstrução do sindica-
tidades estaduais e municipais); criando o mecanismo lismo e pela unidade da esquerda (as forças que lutam
ideal para a legitimação de uma contra-reforma tra- pelo socialismo e não se deixaram cooptar pelo bloco
balhista que retire direitos dos trabalhadores (além de de poder dos monopólios). Passa também pelo surgi-
forçar contratos em condições rebaixadas no varejo). mento de novas lideranças em substituição aos oportu-
Por trás de uma retórica democrática que diz pretender nistas identificados com a conciliação de classe.
assegurar o “direito de greve”, o projeto amplia as difi-
culdades para o reconhecimento legal do uso da greve A aproximação entre Conlutas e Intersindical -
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
promotoras (ao lado do MST e das pastorais sociais) Central das Classes Trabalhadoras: classista e com-
em março de 2007 do Fórum Nacional de bativa; independente dos patrões, do Estado e das igre-
Mobilizações Contra as Reformas chegando no jas; com uma democracia construída pela base e orga-
Seminário de novembro de 2009 à convocação deste nizativamente autônoma em relação aos partidos polí-
CONCLAT (Congresso da Classe Trabalhadora) – for- ticos; que organize os trabalhadores do campo e da
ma um importante campo de resistência, mas certa- cidade, do setor privado e do setor público, bem como
mente ainda com fraco enraizamento e capacidade de “formalizados” e “precarizados”. B) Coordenação
direção das classes trabalhadoras. Durante o ano de Nacional de Lutas Populares: com as mesmas carac-
2009 debatemos sobre o caráter da nova Central sem terísticas de combatividade, autonomia e democracia,
chegar a um acordo. Os debates se polarizaram princi- reunindo o movimento das classes trabalhadoras e
palmente nas divergências acerca de construir uma cen- os demais movimentos populares; isto é, não só os
tral sindical ou sindical e popular. A questão deve ser sindicatos e outras organizações das classes trabalha-
examinada a luz de uma reflexão mais ampla, tendo doras (camponeses, soldados, terceirizados, desem-
em mente as novas necessidades organizativas da fase pregados, camelôs, etc.), como também: organizações
de crise estrutural do capital, mencionada na abertura ecológicas; de estudantes e de jovens; de “sem-teto”,
da Parte III de nossa Tese, seguida pela análise da cen- “moradores”, “mutuários” e “meninos e meninas de
tralidade do trabalho em relação aos movimentos popu- rua”; de luta contra o racismo, o machismo, o patriar-
lares e organizações setoriais. Se pensarmos tal centra- calismo e a homofobia; de índios e povos originários;
lidade em termos do complexo de organizações de luta movimentos em defesa da cultura nacional e popular,
socialista e contra todas as formas de opressão explo- contra as privatizações, de pequenos proprietários
ração (partidos proletários, sindicatos, movimentos e urbanos e rurais contrários aos monopólios e ao lati-
organizações populares/setoriais), a questão deve ser fúndio; etc. É certo que os estudantes e pequenos pro-
posta em termos de sua reestruturação de modo que prietários não podem decidir como os trabalhadores
eles complementem e intensifiquem a eficácia um vão se organizar, ou deliberar sobre a deflagração de
dos outros. uma greve; nem os sindicalistas querem definir como
1) Esta reestruturação não pode sucumbir à visão o MST ou MTST devem organizar assentamentos e
pós-moderna (fragmentadora e subjetivista) que vê o ocupações. Por outro lado a solução radical dos pro-
real construído pelo “discurso” (embora ninguém blemas brasileiros não será alcançada “sem a partici-
explique o que isto significa) e baseia-se nas “diferen- pação efetiva dos movimentos populares organizados
ças de identidade”. Ao contrário é necessário partir da e unificados em torno de um programa de transforma-
“unidade na diferença” (Marx) em que a identidade ções capazes de imprimir um novo rumo à política do
de interesses comuns deve ser organizada em ins- Estado. Um rumo que tenha por objetivo contemplar
trumentos políticos. Porém, para articular de modo os interesses da maioria e não os de grupos privilegia-
adequado esta unidade deve-se ter clareza da necessi- dos, incluindo setores da própria classe operária, movi-
dade de várias instituições autônomas entre si, orga- dos muitas vezes por interesses corporativos” (Anita
nizadas de modo a desempenhar adequadamente suas Prestes - Luiz Carlos Prestes e Luiz Inácio da Silva (Lu-
distintas funções e tarefas. Segue válida a distinção la): duas grandes lideranças X duas opções políticas
leninista entre as estruturas organizativas (com inde- opostas, fev. 2006). O próprio proletariado (que no
pendência recíproca) de sindicatos de trabalhadores e Brasil ultrapassa 60% da PEA) é profundamente hete-
de partidos (mesmo revolucionários de vanguarda) e rogêneo. A alternativa hegemônica do trabalho não
entre eles e o Estado (mesmo o Estado operário), vencerá sem a plena solidariedade (um valor socialista
garantindo a plena autonomia organizativa, mas bus- vital) com seus mais diversos setores; inclusive os
cando também a “ligação” entre as organizações de desempregados (e não só por um imperativo ético, mas
luta pelo socialismo (Cf. esp. Lênin – “Sobre os também pela força adicional que a mobilização de
Sindicatos, o Momento Atual e os Erros de Trotsky” milhões de desempregados oferece ao movimento).
!920; “Mais Uma vez Sobre os Sindicatos e os Erros Trata-se de superar o corporativismo e enfrentar o difí-
dos Camaradas Trotsky e Bukharin” 1921, OC, 42). cil desafio de construir uma central de trabalhadores
No caso concreto do Brasil de hoje, consideramos que capaz de superar as dificuldades decorrentes da divi-
a aparente antítese entre central sindical versus central são sócio-alienada do trabalho sob o capital, articulan-
sindical e popular, não deve inviabilizar o caminho da do e unificando os vários estratos que compõem as clas-
unidade entre as forças aglutinadas na Intersindical e ses trabalhadoras; e de criar uma coordenação de
na Conlutas; pois ambas são necessárias. No entanto, lutas populares que ligue e organize a luta de todas as
a unidade real só será alcançada (e só será duradoura) organizações de massa que se opõem ao bloco de
com uma resolução que supere as unilateralidades e poder dominante no Brasil.
confusões. Trata-se de entidades diferentes. A) 2) Na questão da Liberdade e Autonomia é uma
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
tarefa central das forças empenhadas na terrenos econômico e político ao mesmo tempo. A
Reorganização do Movimento das Classes questão ficou obscurecida por praticas equivocadas
Trabalhadoras que procuram unir a luta sindical à em países em transição para o socialismo (em que os
luta pelo socialismo, elaborar táticas de luta ade- sindicatos foram muitas vezes degradados à condição
quadas contra a estrutura de sindicalismo de de “correia de transmissão” da propaganda oficial),
Estado. Não basta a (correta) denuncia das Centrais pelo aparelhismo oportunista realizado inclusive por
pelegas e de como a CUT se transformou numa agente partidos de esquerda, pelo cretinismo eleitoreiro e,
da política do Estado autocrático burguês de criar uma mais recentemente em nosso país, pela promiscuidade
burocracia estatal no seio da classe trabalhadora. É entre a CUT-PT-Estado. Na realidade foi o Estado bur-
necessário ter claro que o problema não se limita ao guês que sempre buscou tornar ilegal a ação política
controle visivelmente externo do Estado; pois o siste- dos sindicatos, buscando tolher o imenso potencial
ma vigente tornou a integração ao Estado burguês algo combativo dos trabalhadores; além de pressionar os
inscrito na própria estrutura organizativa interna dos partidos proletários e populares a se restringir à ação
sindicatos oficiais. A liberdade sindical exige a extin- eleitoral e parlamentar. O próprio PT afastou-se, já ao
ção do sindicato oficial. Isto não será uma concessão final dos anos 80, de uma atuação militante nas fábri-
do Estado burguês; será necessário que o movimento cas e no movimento sindical combativo real; o sindica-
nacional de reorganização assuma na prática e sem lismo oficial induz ao apartidarismo (forma enviesada
ambigüidades a luta contra o sindicalismo de Estado. de manifestação do estatismo).
O processo deve combinar uma adequada concepção 4) A crise estrutural recoloca a questão da difícil e
de construção da Central (objetivada em seus esta- imprescindível articulação entre interesses imediatos
tutos) que, além da coerente recusa dos famigerados e a necessidade estratégica de uma ofensiva socia-
impostos sindicais, promova a participação efetiva da lista. É certo que a crise confronta os trabalhadores
base (inclusive das oposições sindicais e de sindicatos com problemas imediatos angustiantes: desemprego,
e associações não oficiais), com a reconstrução do aumento da exploração e aceleração dos ritmos de tra-
movimento pela base, organizado nos locais de traba- balho, arrocho salarial e retirada de direitos sociais, ata-
lho, para além da fragmentação compulsória dos tra- que às liberdades e direitos políticos conquistados. O
balhadores em categorias profissionais. movimento proletário não pode se contentar em opor à
3) Os sindicatos devem ser independentes dos par- crise a mera proclamação da necessidade de uma luta
tidos, mas não podem ser neutros politicamente (pois a anti-capitalista: não há melhor meio para desencadear
despolitização só serve para reforçar a influência bur- este combate geral do que algumas lutas parciais bem
guesa sobre os trabalhadores). Há uma racionalidade sucedidas, que demonstrem na prática que os trabalha-
classista: a construção da unidade nas greves e lutas dores podem defender seus empregos, seus salários,
reivindicativas não exclui o necessário debate das seus direitos conquistados e ainda impor aos de cima
divergências políticas; mesmo na questão relativa à novos direitos e o atendimento de suas reivindicações
como se deve lutar para conseguir conquistas e melho- mais sentidas. No entanto, todo sucesso em um com-
rias dentro da ordem. Hoje a Central das Classes bate defensivo será frágil e provisório e, na medida em
Trabalhadoras e a Coordenação de Lutas que continuarmos no capitalismo, a lógica do capital
Populares (e não só os partidos de esquerda) devem em crise estrutural se imporá contra os trabalhadores,
assumir um programa de profundas transforma- com a perversidade redobrada de um período de
ções sociais que combine soluções paras as necessi- desemprego massivo e tendência à depressão econô-
dades emergenciais mais sentidas do povo traba- mica crônica. Por isto toda luta defensiva deve se
lhador com a acumulação de forças na formação de integrar numa estratégia revolucionária socialista
um bloco proletário e popular organizado e mobili- totalizante, que permita tornar cumulativas as vitórias
zado em torno de um projeto com um horizonte parciais, e ligue efetivamente a mobilização dos traba-
socialista (e não fique amarrado às ilusões da concilia- lhadores por reivindicações transitórias ao combate às
ção de classes e à administração da crise do capital). O causas fundamentais da exploração e opressão que nos
fundamental é ter claro que partidos e sindicatos das atinge.
classes trabalhadoras devem ser combativos nos
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
apoio à direita golpista deste país e denúncia clara das nalismo conservador e ficar ao lado de nossos irmãos
ações promovidas por ela. Ao mesmo tempo, declara- que lutam para defender seus direitos trabalhistas e a
mos nosso apoio incondicional às mobilizações dos soberania de seus países. A construção do internacio-
trabalhadores em defesa de suas reivindicações e dire- nalismo proletário deve ser parte das resoluções mais
itos democráticos, mesmo que essas mobilizações importantes do Congresso de Unificação.
sejam contra ou se choquem com Chávez e seu gover- 3 - Conjuntura Nacional
no.
Em 2010 completam-se os oito anos do Governo
A principal lição que podemos tirar da experiên- Lula. O crescimento econômico no período anterior à
cia venezuelana é que somente a auto-organização e a crise, o avanço conjuntural nos últimos meses, o apoio
luta independente da classe trabalhadora, aliada aos incondicional do capital e das principais direções do
movimentos populares, à juventude e ao conjunto dos movimento de massas brasileiro a este governo e as
explorados e oprimidos e o combate à colaboração de políticas sociais compensatórias devem fazer com que
classes e às alianças com a burguesia, poderá derrotar Lula termine seu mandato com alto índice de apoio
os ataques que virão e construir uma alternativa socia- popular.
lista.
Esta realidade coloca um importante debate para
A importância do Internacionalismo Proletário os movimentos sociais classistas e combativos e para a
Diante da crise econômica e suas conseqüências esquerda socialista: O Governo Lula foi ou não uma
para os trabalhadores, a tarefa para os movimentos continuidade do governo FHC? Lula fez o que poderia
sociais classistas e combativos é levantar bem alto a ter sido feito, dentro dos limites da correlação de for-
bandeira do internacionalismo, adotando como estra- ças do país? Este debate vai polarizar todos os movi-
tégia o fortalecimento da via da ação direta das lutas mentos sociais neste ano e o Congresso de Unificação
dos trabalhadores e de todos os explorados e oprimi- não pode deixar de responder a estas importantes ques-
dos e a total independência de classe frente à burguesia tões.
e seus governos. Para nós, o Governo Lula, em grande parte, signi-
Estamos realizando uma campanha de solidarie- ficou a continuidade dos oito anos do Governo FHC.
dade ao povo haitiano, recolhendo fundos e enviando No poder, Lula mudou rapidamente de amigos.
para organizações da classe trabalhadora no Haiti, Abandonou os velhos camaradas metalúrgicos, pro-
especialmente para o Batalha Operária. Esta campa- fessores, bancários. Procurou distância dos sem-terra
nha é um grande exemplo de como devemos encarar a e dos sem-teto, da população ribeirinha do São
tarefa de solidariedade internacional entre os trabalha- Francisco. Quer ver de longe os estudantes. Agora tem
dores. Além da campanha de solidariedade ao povo hai- como amigos Sarney, Delfin Neto, Maluf. Andou abra-
tiano e o prosseguimento da luta pela retirada das tro- çado com gente como Olavo Setúbal e, acreditem,
pas militares daquele país, especialmente as tropas bra- Bush. Os usineiros viraram seus heróis. Coerente com
sileiras, temos que estender a prática do internaciona- essa sua nova turma, tem golpeado os seus antigos alia-
lismo para as lutas mais concretas que os trabalhadores dos. A começar pela política econômica, que foi essen-
estão protagonizando. Por isso a denúncia da repres- cialmente a mesma, preservando e aumentando os
são brutal feita por Israel, contra os palestinos é tarefa lucros das grandes empresas, aprofundando a depen-
de todos nós. dência do país ao Imperialismo (30,5% do orçamento
Buscar coordenar internacionalmente as lutas dos de 2008 foi para pagar os juros da dívida pública) e des-
profissionais da educação, dos metalúrgicos, dos ferindo duros golpes aos trabalhadores, como vimos
petroleiros, do movimento popular, da juventude, na reforma da previdência, por exemplo.
entre outros setores, deve ser a nossa grande tarefa. A política de privatizações também continuou. A
Realizar também campanhas internacionais de apoio à realização dos leilões das reservas de petróleo e gás e o
luta dos trabalhadores de empresas brasileiras (muitas projeto para o pré-sal mantém e amplia a participação
associadas a transnacionais) que em outros países, do capital privado, inclusive estrangeiro, na explora-
especialmente na América Latina, como a Petrobrás e ção do petróleo brasileiro. E, neste momento, o gover-
a Vale, praticam uma política de ataques aos trabalha- no ameaça transformar os Correios em sociedade anô-
dores. Um exemplo positivo é a solidariedade e a luta nima (S.A.), dando mais um passo na privatização da
comum realizada pelos trabalhadores da Vale. Empresa.
O papel da organização que vamos construir é de Na última década, se fortaleceu o papel do Brasil
apoiar a luta dos trabalhadores latino-americanos con- dentro de nosso continente. Cada vez mais nosso país
tra a exploração que as empresas brasileiras vêm serve de plataforma avançada para a instalação de
desenvolvendo. Devemos nos livrar de todo o nacio- empresas transnacionais, que se fixam aqui com o obje-
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
com controle dos trabalhadores; uma sociedade sem classes como horizonte maior da
Contra o projeto de privatização dos correios nossa luta. Sua posição intransigente na oposição de
por parte do governo Lula; esquerda aos governos de frente-popular e sua presen-
ça em praticamente todas as lutas da nossa classe. Sua
Contra os planos de congelamento salarial do disposição à unidade de ação ampla no enfrentamento
funcionalismo público; aos patrões e governos e na defesa dos direitos dos tra-
Contra as Organizações Sociais que levam a balhadores e demais setores explorados. A inclusão,
privatização da saúde e não atendem as demandas como um dos elementos programáticos prioritários, da
da população, transferindo os procedimentos com- luta contra toda forma de opressão e discriminação.
plexos para os hospitais públicos e o SUS. Em defe- Sem dúvida um dos mais importantes foi a expe-
sa do SUS. Contra a Autarquização dos Hospitais riência inovadora de construir uma organização clas-
Universitários. sista de natureza sindical e popular. Ela incluiu, além
Rompimento com o FMI e com todos os laços dos trabalhadores representados pelos sindicatos, os
de dominação imperialista sobre o nosso país; Não desempregados, os precarizados, trabalhadores da eco-
pagamento das dívidas externa e interna; nomia informal, aqueles organizados nos movimentos
Punição aos assassinos e torturadores do regi- populares urbanos e rurais de diversos tipos, os que se
me militar; organizam nos movimentos contra a opressão, bem
como a juventude que se agrupa nas organizações estu-
Contra a criminalização dos movimentos soci-
dantis.
ais. Fim às perseguições e às punições aos trabalha-
dores e seus representantes. Pela reintegração de Em seu I Congresso a Conlutas foi além e avan-
todos os demitidos políticos e retirada de todos os çou ainda mais nessa concepção, definindo a hegemo-
processos criminais e administrativos contra os nia que os trabalhadores devem ter nessa organização.
lutadores(as). Decidiu-se delimitar um percentual de representação
estudantil na entidade e ficou definida, como tarefa da
Direito de organização dos trabalhadores nos
Conlutas, o planejamento de iniciativas para fortalecer
locais de trabalho;
a sua presença na classe operária industrial do país,
Lutar em defesa do meio ambiente denuncian- pelo papel protagonista do operariado na superação da
do o capitalismo como predador da natureza. Por sociedade capitalista.
uma visão classista e socialista da luta por preser-
Os princípios de ação sindical da Conlutas, dentre
vação do meio ambiente;
eles a sua independência frente à burguesia e seu
Por uma sociedade socialista. Estado, incluindo a luta pelo fim do imposto sindical e
da interferência da Justiça nos conflitos coletivos de
4 - Balanço da Conlutas. trabalho, a autonomia política frente aos partidos, a
ação direta e coletiva da classe trabalhadora, a mobili-
A Conlutas se organizou num dos momentos mais zação como instrumento principal de atuação, o inter-
difíceis para a classe trabalhadora brasileira: a existên- nacionalismo ativo e a democracia operária, foram per-
cia de um governo de frente popular com apoio de mas- manentemente reafirmados como marcas e perfil da
sas, atacando direitos dos trabalhadores, com o supor- entidade. Por fim, a experiência inovadora de seu fun-
te das principais organizações sindicais, populares e cionamento, ao trazer a representação das entidades
da juventude. filiadas diretamente para a sua Coordenação Nacional,
A ruptura ensaiada pelo funcionalismo público no elevando a um patamar significativo a concepção de
enfrentamento à reforma da previdência em 2003 não frente única e democracia operária no interior da
se estendeu para outros setores, mas animou a van- Central.
guarda para a construção de um novo organismo de Em que pese os inúmeros acertos, queremos des-
frente única e aglutinação das lutas dos trabalhadores. tacar algumas debilidades dentre várias que tivemos.
Provavelmente o maior mérito das organizações e enti- Apesar da ousadia de pautar e enfrentar temas como a
dades que vieram a compor a Conlutas foi o de ousar burocratização dos sindicatos e a necessidade do tra-
enfrentar a maioria das direções do movimento de mas- balho de base, não conseguimos aprofundá-los e
sas em nosso país que, ao se aliar ao governo, traíram implementar medidas concretas que pudessem avan-
os interesses da classe trabalhadora. çar em soluções. Além disso a incorporação dos movi-
Da experiência da Conlutas, reivindicamos mentos populares, de luta contra a opressão e organi-
alguns elementos principais. A clareza de seu progra- zações da juventude pode e deve melhorar. As formas
ma e a definição por uma estratégia socialista, a luta de representação (pelo fato do Brasil ser um país conti-
pelo fim da exploração capitalista e a construção de nental) seguramente exigem ajustes e melhoramentos.
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
São temas sobre os quais a nova entidade unifica- posicionar contra toda forma de discriminação, de
da deverá se debruçar. Incorporar as experiências da gênero, raça, sexo, de etnia etc., e ter como estratégia a
Conlutas e dos demais setores envolvidos no processo construção de uma sociedade sem classes, uma socie-
de reorganização será fundamental para que votemos dade socialista. O internacionalismo é componente
políticas corretas para a superação destes problemas. essencial dessa concepção e exige da Central respon-
Ao mesmo tempo em que reivindicamos e nos orgu- der aos fatos da luta de classes mundial com uma polí-
lhamos da experiência da Conlutas, reconhecemos tica classista. Nesse momento, em especial, estamos
seus limites, determinados pelo estágio da luta de clas- chamados a dar uma resposta de classe à reconstrução
ses em nosso país e por sermos uma organização ainda do Haiti, símbolo da decadência capitalista e do neo-
minoritária. Por isso um dos nossos maiores acertos colonialismo, pelo papel das tropas brasileiras na
políticos foi o de ter definido, desde o Congresso de repressão e opressão de nossos irmãos haitianos. Essa
Sumaré, a busca pela unificação de todas as entidades deve ser uma marca da nova organização: o internacio-
e setores do movimento sindical e popular que não nalismo ativo e militante, a solidariedade internacio-
foram cooptados pelo estado burguês. nal como parte de nossa concepção de transformação
da sociedade.
5 - Processo de Reorganização. Caráter da nova entidade
Enfrentamos uma brutal ofensiva do Capital que, Esse tema foi dos polêmicos do debate travado até
dentre outras formas, se expressa no rebaixamento das agora e está relacionado à estratégia e ao programa que
condições de vida em todo o planeta. Essa situação ten- defendemos para a Central. O Congresso deve dar um
de a se agravar com a crise econômica mundial aberta. passo adiante e aprovar a incorporação, na Central, dos
O impulsionamento das lutas econômicas e em defesa movimentos classistas contra a opressão e as organiza-
dos direitos da classe trabalhadora é a primeira razão ções da juventude que queiram se aliar aos trabalhado-
de ser da Central que devemos fundar no Congresso. res. Essa posição se baseia na visão que temos sobre os
desafios que estarão colocados para a classe trabalha-
No entanto, a natureza da sociedade capitalista, dora no próximo período.
na atual fase imperialista, nos exige apontar um pro-
grama que, partindo da defesa das demandas concretas A construção de uma organização que possa aglu-
dos trabalhadores, questione o sistema de exploração tinar todos os setores em luta e direcioná-la de forma
em sua globalidade. A organização capitalista da soci- correta exige que esse instrumento tenha a vocação de
edade só nos reserva mais miséria, arrocho dos salári- ser de massas, de frente única, plural e democrático.
os, desemprego, redução dos direitos trabalhistas e Assim será capaz de unir a todos que estão na luta, inde-
sociais, dos serviços públicos, e também mais violên- pendentemente de suas opções políticas, ideológicas,
cia e ataques ao direito de organização dos trabalhado- de credo religioso etc. A construção das alianças de
res e demais setores explorados. Em síntese: mais deve- classe necessárias para os enfrentamentos futuros
res e menos direitos. deve começar desde já, pois isso não se pode improvi-
sar.
A luta econômica e a luta política contra o capita-
lismo e suas instituições são uma mesma e única. A unidade de todos os explorados e oprimidos não
Trata-se, em última instância, da luta para que os traba- implica no desconhecimento das especificidades de
lhadores assumam o poder político na sociedade, úni- cada setor. A Central deve manter e reforçar sua tarefa
ca possibilidade de avançar rumo à destruição do regi- de organização “sindical” e responder às necessidades
me de propriedade privada e construir uma nova socie- dos sindicatos que estarão em seu interior, pois estes se
dade em bases socialistas. Esta deve ser a perspectiva constituem na principal forma de organização dos tra-
das lutas econômicas que travamos a partir dos sindi- balhadores em nosso país. Mas ela tem que ir além.
catos e movimentos populares. Sem essa perspectiva, Precisa incorporar e organizar o movimento popular,
nossa luta imediata se perde no sindicalismo economi- os movimentos contra as opressões e os estudantes. Os
cista, na luta corporativa e reformista. A adoção de trabalhadores e, em particular os setores mais explora-
uma estratégia revolucionária e socialista não é tarefa dos, devem ser o foco central de atenção da nova enti-
exclusiva dos partidos políticos que têm esta orienta- dade, principalmente a classe operária industrial, setor
ção. Assumir esse compromisso cabe também aos sin- mais importante na luta pela transformação revolucio-
dicatos, movimentos populares e da juventude que que- nária da sociedade em que vivemos.
iram lutar de forma coerente. Os estatutos da Central devem traduzir os prin-
A Central que vai nascer do Congresso de unifica- cípios que nortearão o seu funcionamento.
ção deve estar à frente de todas as lutas: por salário, O nosso estatuto deve refletir princípios que
emprego, moradia, terra, saúde, educação. Deve se enfrentem as contradições da estrutura sindical brasi-
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
leira e os problemas herdados da estrutura sindical deve ser aproveitada pela nova Central. Esse funciona-
getulista, em particular a ausência de trabalho de base, mento, além de possibilitar a participação de todos os
a burocratização das direções sindicais e a dependên- setores e correntes de opinião existentes na direção,
cia do Estado (imposto sindical). Como princípios, des- faz com que os congressos tenham como centro o deba-
tacamos: te político, ao não serem polarizados pela eleição da
Ação Direta – Reafirmar a ação direta dos traba- direção.
lhadores como forma privilegiada de luta. Outras for- Já a garantia estatutária da proporcionalidade tam-
mas de luta como a atuação parlamentar e a luta jurídi- bém permite a composição de uma Secretaria
ca, bem como as negociações e acordos, se colocam a Executiva por todas as forças que tenham algum grau
serviço de fortalecer a mobilização de nossa classe, de representatividade. Não é um modelo definitivo,
principal garantia de sua vitória. mas uma experiência que avança para além do funcio-
Unidade - É um meio fundamental para fortale- namento das centrais existentes.
cer os trabalhadores nas suas mobilizações e deve se
subordinar à independência de classe dos trabalhado- 6 - Os sindicatos: Combater o economicismo
res e à luta. e o corporativismo, em defesa de um sindicalismo
Democracia e Unidade na Ação – O funciona- classista e socialista
mento da Central deve se pautar pelo debate democrá- Os sindicatos são a principal forma de organiza-
tico e participação das bases, pela garantia do respeito ção da classe trabalhadora e devem ser a base funda-
à diversidade e a expressão das minorias em suas ins- mental da organização unificada que surgirá do
tâncias. Todas as organizações que vierem a compor a Congresso da Classe trabalhadora. No entanto, não é
nova entidade devem ter, em relação a ela, total inde- demais lembrar que estas entidades tanto podem se
pendência, seja ideológica, organizativa, programáti- constituir em uma poderosa ferramenta para a luta dos
ca ou política. As decisões tomadas coletivamente trabalhadores contra a exploração capitalista, como
devem assegurar a unidade de ação de todos os seus também podem ser o oposto disso e colaborar com o
componentes. capital para facilitar a exploração. A diferença entre
Independência de classe - A Central deve ser um e outro está nos princípios e concepções que gover-
política e administrativamente independente do nam a organização e a ação sindical e política destas
Estado, de governos, dos patrões e das instituições reli- entidades.
giosas. Tampouco há independência política sem inde- A direção política do sindicato – combativa, clas-
pendência financeira. A Central deve ser financiada sista, socialista – é um componente básico deste dife-
pelas organizações que dela fizerem parte e pelas con- rencial. Por esta razão o primeiro passo no combate ao
tribuições voluntárias dos trabalhadores. sindicalismo pelego é o fortalecimento das oposições
Autonomia em relação aos partidos políticos - sindicais, construindo uma nova direção para, desde a
A Central não pertence nem terá relação de subordina- base, substituir os pelegos, velhos e novos. No entanto,
ção a nenhum partido político. Recebe e valoriza a mili- além das definições políticas da direção, é necessário
tância dos partidos da classe trabalhadora bem como estabelecer os princípios da ação e da organização dos
aqueles que não têm filiação partidária. A autonomia sindicatos. Estes devem corresponder à estratégia e
da Central frente aos partidos se materializa em duas aos princípios gerais da nossa luta e da organização
questões: as decisões serão tomadas nas suas instânci- que estamos construindo, anteriormente definidos n
as de deliberação e o caráter da nova entidade deve ser Sindicalismo de Luta, Classista e Socialista
sindical e popular, e não partidário.
A concepção classista e socialista da luta dos tra-
A democracia operária e a direção da Central balhadores implica vincular as demandas imediatas e
Um dos temas principais é como avançar na demo- suas lutas econômicas à luta política geral contra o
cratização da tomada de decisões e no envolvimento capitalismo, à denúncia permanente deste sistema de
das bases na condução cotidiana das nossas entidades. exploração e da impossibilidade de nossa classe ter
O modelo de organização que precisamos construir uma vida digna enquanto ele persistir. Não se trata de
não pode ser o da centralização pelas cúpulas Isso capricho, mas da natureza do capitalismo em sua fase
implica enfrentar efetivamente o processo de burocra- atual, que além de não abrir espaço para concessões
tização que vive o movimento sindical. aos trabalhadores, busca aprofundar cada vez mais a
Nesse sentido reivindicamos como vitoriosa a exploração. Portanto é tarefa fundamental dos sindica-
experiência vivida na Conlutas, de constituir a sua tos a luta contra as instituições que dão corpo a este sis-
Coordenação Nacional a partir da representação direta tema de exploração: o Estado capitalista (compreen-
das entidades filiadas, experiência que, acreditamos, dendo aí os governos, justiça, parlamento, polícia, etc)
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
e as ideologias que buscam legitimar este sistema. as condições para que toda decisão seja antecedida de
Decorre desta visão o entendimento de que a luta debate democrático, respeitando-se a pluralidade polí-
sindical não pode se limitar aos horizontes corporati- tica existente. Destacamos duas questões que se relaci-
vos. As próprias tarefas colocadas questionam a opção onam a esta discussão – a luta contra a burocratização
corporativa de sindicalismo. Este não seria eficiente dos sindicatos e a organização dos trabalhadores nos
nem para assegurar o atendimento das reivindicações locais de trabalho. Consideramos que debatê-las e
econômicas, pelo contrário, tende a abrir mão das con- superá-las são fundamentais para enfrentarmos limita-
quistas obtidas anteriormente (vide o papel da CUT e ções sérias das entidades sindicais, mesmo daquelas
da Força Sindical nos dias de hoje). Assim a busca de dirigidas pela esquerda socialista.
transformar cada luta corporativa em defesa de uma A Luta Contra a Burocratização dos
reivindicação econômica qualquer, em uma luta de Sindicatos
classe contra o capitalismo, assim como a busca de A burocratização do sindicato implica uma usur-
unir os diversos processos de luta de cada categoria em pação da representação e do poder que os trabalhado-
uma ação unificada da classe trabalhadora, devem ser res concedem a uma diretoria eleita para dirigir a enti-
objetivos permanentes da nossa atuação sindical. dade. Os trabalhadores esperam que esta diretoria res-
Neste tipo de sindicalismo a centralidade na ação peite a vontade da categoria e utilize a representação e
direta, na mobilização é decisiva. É preciso rechaçar a o poder que lhe foram concedidos para defender os
ação sindical baseada na parceria, na conciliação e na interesses da classe. Em um sindicato burocratizado
negociação permanente. Não se trata de negar a ação isto não acontece, a representação é utilizada de forma
institucional dos sindicatos, seu papel na negociação e antidemocrática e em função dos interesses materiais
na contratação com os patrões e governos. Trata-se de e/ou políticos da diretoria ou de dirigentes da entidade.
estabelecer que esses instrumentos devem estar sem- Isto ocorre de várias formas, mas poderíamos apontar
pre subordinados à estratégia permanente que é a mobi- três mais importantes. Primeira: transformação do sin-
lização dos trabalhadores e sua organização numa pers- dicato em um instrumento de colaboração política
pectiva classista, socialista e internacionalista. com os patrões, ao invés de fazer a defesa intransigente
Independência de Classe e dos interesses dos trabalhadores. Aqui se abandona o
Liberdade/Autonomia Sindical programa dos trabalhadores e a prioridade na luta e
adota-se a negociação permanente, a parceria, que faci-
Os sindicatos devem ser independentes da bur- lita a implementação da política dos patrões. Segunda:
guesia, seu Estado e governos. Esta independência a ausência de democracia e do controle da base nas
deve se dar também na esfera financeira. Por isso ações do sindicato. A diretoria toma as decisões mais
somos contra o imposto sindical e que os sindicatos importantes em nome da entidade, sem a participação
recebam verbas do Estado e dos patrões. Rechaçamos dos trabalhadores. Terceira: a utilização pela diretoria
a interferência do Estado e dos patrões na organização ou diretores da entidade, da representação política
sindical. Este o sentido da defesa da liberdade e auto- e/ou dos recursos materiais do sindicato em benefício
nomia sindical. Os trabalhadores devem decidir livre- próprio.
mente sobre como organizar e financiar suas organiza-
ções. Não é um problema fácil de ser enfrentado, na
medida em que, na sua base se encontram fatores obje-
Democracia Operária tivos que atuam permanentemente sobre os dirigentes,
O sindicato, em nossa concepção, existe em fun- pressionando-os para o abandono da perspectiva clas-
ção dos interesses da classe trabalhadora. Deve, por- sista de atuação. Estes fatores vão desde as caracterís-
tanto, estar sempre sob controle dos trabalhadores. É ticas da estrutura sindical brasileira até as pressões
em base ao critério da democracia operária que ele desenvolvidas sobre os sindicatos pelo capitalismo, no
deve ser organizado e funcionar. Isso implica que, não sentido de que eles busquem a parceria com o Estado
apenas nos momentos de eleição da diretoria, mas per- para enfrentar o poder das empresas. O Estado não é
manentemente, os trabalhadores da base devem ser os neutro, é do capital, e esse caminho acaba sendo uma
sujeitos das decisões mais importantes. Muitos meca- via de colaboração com o capital. Contribuem também
nismos podem ser utilizados para isso: congressos, reu- neste processo o atraso na consciência e a pouca for-
niões, assembléias, conselhos deliberativos com parti- mação política dos dirigentes e ativistas.
cipação de representantes dos trabalhadores de cada O combate a este processo é um dos desafios
empresa, etc. importantes que temos na construção da organização
Por outro lado, o funcionamento cotidiano da enti- unificada. Ou superamos o processo de burocratização
dade deve assegurar formas democráticas para expres- ou este processo vai acabar por incidir sobre o nosso
são das diferentes idéias que existem em seu interior e projeto político, levando ao abandono de bandeiras e
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
ao seu completo comprometimento. A estrutura e o fun- darmos passos concretos. Também será decisiva para
cionamento das entidades sindicais não é um proble- combater uma política de formação permanente dos
ma de ordem organizativa. Ela é a expressão organiza- dirigentes e ativistas do movimento. Ela deve se orien-
tiva de um projeto político reformista, de colaboração tar pelo princípio do classismo, da independência e
com o capital. Por isto a CUT ou a Força Sindical não autonomia, do internacionalismo, solidariedade de
tem nenhuma contradição com sindicatos burocratiza- classe e do socialismo. Deve ser ampla e plural dentro
dos, pelo contrário, precisam que eles sejam burocráti- destes princípios e dotar nossa militância de ferramen-
cos. Para nós e nosso projeto, isto seria mortal. ta teórica para enfrentar o capital e dificultar as pres-
A Importância fundamental da Organização sões que os aparatos da burguesia exercem. Como não
de Base teremos tempo agora para esse debate, o Congresso
deve aprovar a realização de um Seminário Nacional
A ausência de organização dos trabalhadores no em 2011 sobre estes temas, que prepare e impulsione
local de trabalho torna muito difícil que estes possam esta discussão em todas as entidades
estabelecer algum grau de controle da entidade e da
própria diretoria do sindicato. Isso também dificulta
um funcionamento democrático, não há como os tra- 7- Unir o movimento popular da cidade e do
balhadores governarem os sindicatos sem que estejam campo com o movimento operário
organizados a partir dos locais de trabalho. Apesar de Com o aumento da exploração capitalista, mais
reconhecermos a importância desta questão, não avan- trabalhadores no campo e nas periferias das grandes
çamos nesta tarefa, salvo honrosas exceções. Existem cidades vivem em condições subumanas, sem terra,
obstáculos objetivos (a repressão patronal, a própria moradia, trabalho, direitos sociais. São vítimas da vio-
situação da luta de classes e sua incidência na cons- lência do Estado, da marginalização social e até da des-
ciência dos trabalhadores), mas também seria possível truição do meio ambiente. A luta pela reforma agrária
estarmos melhor que hoje neste quesito. sob controle dos trabalhadores, assim como pela refor-
No setor privado, nem mesmo espaços como as ma urbana que concilie moradia digna com serviços
CIPAs costumam ser bem utilizados para enfrentar a públicos de qualidade, é parte fundamental da luta de
ausência da organização de base. As atividades das toda a classe trabalhadora. O mesmo vale para a luta
diretorias dos sindicatos, a administração do seu tem- em defesa do meio ambiente seriamente ameaçado por
po e da sua ação cotidiana conspira contra a organiza- um sistema econômico e social que busca apenas o
ção de base, pois no dia a dia do sindicato, geralmente lucro e a riqueza concentrada mesmo que isso signifi-
a base é excluída. Não há uma obsessão em integrar os que a destruição das condições naturais de vida na
trabalhadores nas ações sindicais, formar novos ativis- Terra.
tas e dirigentes para a categoria. As diretorias tendem a A luta dos trabalhadores sem-terra no campo só
substituir o papel da vanguarda e a concentrar as tare- pode encontrar uma perspectiva de vitória se estiver
fas e decisões cotidianas mesmo nos momentos de vinculada à do conjunto dos trabalhadores nas cidades.
luta. Quando fazemos uma greve, a preocupação é Da mesma forma, sem um projeto de reforma agrária
sobre o resultado econômico a ser obtido e, na maioria que democratize e socialize o acesso à terra e acabe
das vezes, não há preocupação com o saldo de organi- com o latifúndio e priorize a produção agrícola para o
zação dos ativistas nos locais de trabalho. É comum povo e não os lucros do agronegócio, não haverá con-
menosprezarmos a chance de estabelecer relações soci- dições de vida digna para o conjunto da classe traba-
ais e, a partir daí relações políticas com os trabalhado- lhadora e do povo brasileiro.
res, via atividades culturais, sociais e esportivas do sin-
dicato. Na luta urbana por moradia digna, creches, postos
de saúde, transporte, saneamento básico, contra as
No setor público, mesmo com a relativa estabili- enchentes, encontramos a parcela mais oprimida da
dade de emprego dos servidores e mesmo pelo fato dos classe trabalhadora, muitas vezes excluída do proces-
sindicatos terem sido construídos num contexto geral so produtivo, marginalizada com a super-exploração
de mobilização e de independência em relação ao e precarização das relações de trabalho. Essa camada
Estado, há retrocessos importantes na organização de da nossa classe e do povo oprimido muitas vezes
base e, principalmente, no papel que estas organiza- encontra no movimento popular, antes mesmo que nos
ções cumprem no dia a dia das entidades. sindicatos, o instrumento de luta mais próximo de sua
Avançar no processo de organização dos traba- realidade imediata. São trabalhadores, desemprega-
lhadores nos locais de trabalho é outro desafio inerente dos, donas de casa, jovens sem perspectiva que não
ao projeto que estamos construindo. É preciso, em podem ou não conseguem se organizar sindicalmente,
cada entidade, estudar a realidade e nossa prática para mas o fazem na luta de bairro, nas ocupações urbanas e
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
nas diferentes organizações do movimento popular. ação se manteve a mesma para negros e negras.
A unidade do movimento popular do campo e da Apoiado pela maioria da direção do movimento,
cidade com o movimento sindical no dia a dia das lutas Lula construiu uma cortina de fumaça: a Secretaria
fortalece toda a classe. É o caso dos moradores de ocu- para a Promoção da Igualdade Racial (Seppir), que
pações participando dos piquetes de greve, por exem- não trouxe nenhum resultado real, mas sim formal,
plo, e os sindicatos, por sua parte, ajudando na resis- como uma Secretaria com status de Ministério que não
tência contra as tentativas de desocupações por parte tinha sequer orçamento. Para combater o racismo é pre-
do Estado. Essa prática, que fortalece a luta e eleva o ciso mais do que palavras, é preciso ação concreta. A
nível de consciência classista, precisa se generalizar e juventude negra é ainda a que mais morre, sem ter tido
somente a unidade orgânica do movimento popular e oportunidade de estar nos bancos escolares e universi-
sindical na mesma Central pode dar um salto de quali- tários. Segundo dados da UERJ, até 2012 morrerão
dade nessa relação. mais de 226.000 jovens e os negros serão mais de 70%
Com o governo Lula, muitas das direções dos dos mortos. As políticas de segurança pública que pre-
movimentos sociais foram cooptadas e passaram a atu- gam o endurecimento da violência “legítima” do
ar como parceiros do governo na implementação de Estado como solução para o aumento da violência urba-
programas assistencialistas e na tentativa de conten- na nos grandes centros e suas periferias implicarão
ção das lutas sociais e do processo de tomada de cons- mais insegurança e morte da juventude negra.
ciência de amplos setores populares. Como parte desse A ocupação do Haiti, liderando a MINUSTAH -
processo, as ONG's se proliferam de maneira assusta- força de ocupação da ONU - mostra o vergonhoso
dora, com o claro intuito de vender projetos para o papel cumprido por Lula e foi desmascarada com o ter-
beneficiamento de seus próprios dirigentes, além de remoto que assolou o país. Em toda a imprensa vimos
buscar ocupar o espaço dos movimentos sociais rei- cenas de salvamento de pessoas nos mais diversos loca-
vindicatórios que organizam, mobilizam e conscienti- is de Porto Príncipe, e a grande ausente era exatamente
zam o povo. Dessa forma, buscam amortecer e desviar a MINUSTAH, que estava salvando os “investidores”
as justas lutas da população mais oprimida. nos poucos hotéis chiques e caros da cidade. Isto con-
Uma tarefa fundamental de nossa nova Central firma que essa força da ONU está no Haiti para garan-
deverá ser a luta para trazer os movimentos populares tir a manutenção do status quo econômico da elite hai-
para uma perspectiva classista. A experiência da tiana e os interesses imperialistas naquele país.
Conlutas no movimento popular do campo e da cidade MULHERES
demonstra que isso é possível e necessário e esse acú- As mulheres seguem sendo um forte alvo da supe-
mulo deve ser transmitido, aprofundado e desenvolvi- rexploração capitalista. Em geral ocupam cargos com
do pela nova Central. menor remuneração (em média, 70% do salário de um
homem, e, no caso da mulher negra, 30% do salário
8-A Luta Contra as Opressões médio de um homem branco). Mais do que isso, tam-
bém sofrem com a dupla e às vezes tripla jornada de
NEGROS E NEGRAS trabalho! Além de trabalhar tantas horas quanto os
Ao longo da história do país, o mito da democra- homens, são, em regra, responsáveis pelo trabalho de
cia racial ajudou ao Estado e todas as instituições bur- casa, o cuidado com os filhos, além de estudar, muitas
guesas a aplicar uma política perversa sobre a classe vezes.
trabalhadora. Por um lado, excluiu o trabalhador O aumento do desemprego entre as mulheres, fru-
negro, recém libertado do regime de escravidão, ao tra- to da crise, aumenta também a dependência econômi-
zer o imigrante para substituí-lo na lavoura e depois na ca em relação aos homens, o que agrava ainda mais a
indústria; e por outro, tratou os trabalhadores imigran- violência doméstica. Apesar de algumas conquistas
tes como os novos escravos, desvalorizando ao máxi- históricas, como o direito ao voto, ao divórcio e ao tra-
mo sua mão de obra. Além disso, a falta de escola, de balho, as mulheres da classe trabalhadora seguem
moradia, de assistência social e o desempregado aju- sofrendo dobrado com as mazelas do capitalismo e a
daram a jogar o povo negro na marginalidade estrutu- pressão machista.
ral.
Na atual conjuntura de reorganização do movi-
O Estado Brasileiro manteve essa situação intac- mento de massas, organizar a luta e fortalecer a mobili-
ta. Não houve políticas sociais profundas que corrigis- zação das mulheres trabalhadoras contra a opressão e a
sem os 350 anos de atrasos do regime de escravidão no exploração é uma grande tarefa que temos pela frente.
país. Os dados do IBGE, IPEA e DIEESE mostram em Lutar pela libertação das mulheres é parte da luta geral
números a diferença racial e econômica entre a popu- pela libertação da classe trabalhadora contra a sua
lação negra e branca no país. Sob o governo Lula a situ-
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
de milhões de reais que foram escândalos durante os governo, a democracia interna da entidade e a relação
anos de governo Lula. É basicamente dessas experiên- intrínseca com a classe trabalhadora. A ANEL nasceu
cias que surge a debate sobre a construção de uma filiada à Conlutas, para expressar organizativamente
alternativa de luta e de organização que unifique os essas concepções e também por isso, se incorporou
setores combativos, independentes do governo do nos debates acerca da unificação com a Intersindical e
movimento estudantil. Em junho/2009, realizou-se o outros setores.
Congresso Nacional de Estudantes, que reuniu parte Nos marcos da nova central, marcado pela unida-
do ativismo estudantil que viveu a experiência de de entre os setores combativos dos movimentos socia-
2007, além do ativismo que entrou após 2007. is, é necessário recolocar em pauta, agora envolvendo
O Congresso configurou-se a maior e principal setores mais amplos, a necessidade de uma alternativa
iniciativa por fora da UNE, reunindo 2000 estudantes unitária no movimento estudantil, independente do
de mais de 20 estados do país. Um dos resultados do governo. Em nossa opinião essa alternativa unitária
Congresso foi a fundação da ANEL, que busca resga- deve se incorporar organicamente ao esforço de cons-
tar concepções importantes ao movimento estudantil, trução da nova central, garantindo a aliança operário-
que garantem sua efetividade na luta pela transforma- estudantil.
ção social, como a independência diante de qualquer
Assinam esta Tese: Sindicato dos Químicos de Goiás (GO); Sindicato dos Bancários de Bauru (SP);
Diretorias das seguintes Entidades Sindicato dos Trabalhadores da Construção Sindppd – Sindicato dos Trabalhadores nem
Sindicais: Civil de Belém (PA); Processamento de Dados (RS);
Federação Sindical e Democrática dos Sindicato dos Trabalhadores da Construção Sintappi (MG);
Metalúrgicos de Minas Gerais (MG); Civil de Fortaleza (CE); Sindicato dos Servidores Municipais de
Federação Nacional dos Gráficos; Sindicato dos Trabalhadores da Confecção Santo André (SP);
Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Feminina de Fortaleza (CE); Sindicato dos Servidores Municipais de
Campos (SP); Sindicato dos Rodoviários do Ceará (CE); Bauru (SP);
Sindicaixa (RS); Sindicato dos Rodoviários do Amapá (AP); Sindicato dos Servidores Municipais de
Sindicato dos Metalúrgicos de Itajubá, Sindicato dos Vigilantes do Amapá (AP); Betim (MG);
Paraisópolis e região (MG); Sindicato dos Vigilantes de Santa Cruz do Sindicato dos Servidores Municipais de
Sindicato dos Metalúrgicos de Pirapora e Sul (RS). Santa Cruz do Sul (RS);
Buritizeiro (MG); Sindicato de Trabalhadores de Asseio e Sindicato dos Servidores Municipais de
Sindicato dos Metalúrgicos de Várzea da Conservação do Amapá (AP); Alagoinhas (BA);
Palma (MG); Sindicato dos Comerciários de Passo Fundo Sindicato dos Servidores Municipais de
Sindicato dos Metalúrgicos de Três Marias e Região (RS); Teodoro Sampaio (BA);
(MG); Sindicato dos Comerciários de Santa Cruz e Sindicato dos Servidores Municipais de
Sindicato dos Metalúrgicos de Divinópolis e Região (RS); Ouriçangas (BA);
região (MG); Sindicato dos Comerciários de Nova Iguaçu Sindicato dos Servidores Municipais de
Sindicato dos Metalúrgicos de Itaúna e e Região (RJ); Pedrão (BA);
região (MG); Sindicato dos Trabalhadores dos Correios de Sindicato dos Servidores Municipais de
Sindicato dos Metalúrgicos de São João Del Pernambuco (PE); Esplanada (BA);
Rei (MG); Sindicato dos Trabalhadores dos Correios do Sindicato dos Servidores Municipais de
Sindicato dos Metalúrgicos de Ouro Preto Vale do Paraíba (SP); Juazeiro (CE);
(MG); Sindicato dos Trabalhadores da USP – Sindicato dos Servidores Municipais de
Sindicato dos Metalúrgicos de Governador Sintusp (SP); Limoeiro (CE);
Valadares (MG); Sindicato dos Serventuários da Justiça Sindicato dos Servidores Municipais de
Sindicato dos Metalúrgicos de Itabira (MG); Estadual do Rio de Janeiro – Sindjustiça (RJ); Quixeré (CE);
Sindicato Metabase de Congonhas e Região Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário Sindicato dos Servidores Municipais de
(MG); Federal de São Paulo - Sintrajud (SP); Cocal de Telha (PI);
Sindicato Metabase de Itabira (MG); SITRAEMG; Sindicato dos Servidores Municipais de
Sindicato dos Petroleiros de Sergipe e Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário Capitão de Campo (PI);
Alagoas; Federal e MPU no Maranhão - Sintrajufe/MA; Sindicato dos Trabalhadores em Educação
Sindicato dos Petroleiros de Pará / Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário do Município de Belo Horizonte - Sind-Rede
Amazonas / Maranhão e Amapá; Federal e MPU em Alagoas - Sindjus/AL; (BH);
Sindicato dos Gráficos de Minas Gerais Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário Sindicato dos Trabalhadores em Educação
(MG); Federal e Ministério Público da União em Mato do Município de Lagoa Santa (MG);
Sindicato dos Gráficos de Brasília (DF); Grosso do Sul - Sindjufe/MS; Sindeess Belo Horizonte e Região (MG);
Sindicato dos Gráficos de Feira de Santana Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário Sindeess Divinópolis (MG);
(BA); Federal e Ministério Público da União em Mato Sindicato dos Trabalhadores em Serviço de
Sindicato dos Gráficos de Petrópolis (RJ); Grosso - Sindjufe/MT; Saúde de Formiga (MG);
Sindicato dos Trabalhadores do Cimento, Sindicato dos Servidores Públicos Federais Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores
Cal e Gesso de Sergipe – SINDICAGESE; de São Paulo - Sindsef (SP); nas Atividades do Reflorestamento,
Carvoejamento e Beneficiamento de Madeira
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
(BA); Grêmio do CTU de Juiz de Fora (MG); Alternativa Socialista (AS) e Democracia e
Associação dos Trabalhadores em Educação Ocupação Vila Nova (RS); Luta – Minoria da Diretoria do CPERS (RS);
de Lauro de Freitas (BA); Movimento de Urbanização e Legalização Coletivo Paulo Romão e Alternativa de
ASFUNPAPA - Associação de Funcionários do Jardim Pantanal – Zona Leste/SP (MULP); Classe - Minoria da Diretoria do SEPE (RJ);
da FUNPAPA (PA); Centro Cultural Pau Brasil (BH-MG); Haroldo Teixeira, Alessandra Abelha e Luiz
Associação dos Professores da Universidade Eduardo – Diretores da APEFAETEC (RJ);
Federal do Maranhão - APRUMA - SS do Oposições e Minorias de Diretorias de Oposição Bancária do Município do Rio de
Andes; Entidades Sindicais: Janeiro – MNOB (RJ);
SINDURCA - Seção Sindical do Andes-SN Ferramenta de Luta – Oposição do Sindicato Oposição Bancária da Baixada Fluminense –
(CE); dos Metalúrgicos de S. Bernardo do Campo MNOB (RJ);
Sub-sede da Apeoesp de São Miguel (SP); (SP); Oposição Conlutas do Sindicato dos
Sub-sede da Apeoesp de Ribeirão Preto (SP); Beth e Patrick – diretores da Condsef; Trabalhadores dos Correios (RJ);
SEPE – Núcleo deCachoeira de Macacú; Doni e Marcelino – diretores da Fasubra; Ivanilda Reis, Estevão de Moura (Moura),
SEPE – Núcleo de Porciuncula; Antonio Carlos Neves (Manteiga) e Paulo José
Oposição Nacional Sindicato de Luta Ferreira (Paulinho) - Oposição do Sindicato
SEPE – Núcleo de Valença; (Assibge-SN); dos Trabalhadores da Universidade Federal
SEPE - Núcleo de Teresópolis (RJ); Tedesco e Agnelson – representantes dos Rural do Rio de Janeiro;
SEPE - Núcleo de Petrópolis (RJ); trabalhadores no Conselheiro Deliberativo da Minoria do Sintsprev (MG) ;
SEPE - Núcleo de Nova Friburgo (RJ); Petros;
Oposição do Sindicato dos Metalúrgicos de
CPERS - Diretoria Núcleo de Estrela (RS); Eduardo Henrique (diretor Sindipetro-RJ), BH/Contagem (MG);
Buca (diretor Sindipetro-RJ; CIPA Edise),
CPERS - Diretoria Núcleo de São Gabriel Claiton (diretor Sindipetro-RJ), Brayer (diretor Oposição Bancária de Belo Horizonte (MG);
(RS); Sindipetro-RJ; vice-presidente CIPA Edise), Minoria da Diretoria do Sindicato dos
CPERS - Diretoria Núcleo de Carazinho Marquinho (diretor Sindipetro-RJ), Paulo Metalúrgicos de Lavras (MG);
(RS); Roberto (diretor Sindipetro-RJ Aposentado), Hilário Milagres e Paulo Adriano Pereira -
CPERS - Diretoria Núcleo de Passo Fundo Sérgio Gomes (diretor Sindipetro-RJ), Antony Diretores do Sindicato dos Trabalhadores
(RS); (diretor Sindipetro-RJ; vice-presidente CIPA Ferroviários de Conselheiro Lafaiete -
CPERS - Diretoria Núcleo de São Borja Castelo); Coaracy (vice-presidente CIPA SINTEF-CL;
(RS); Cenpes 2009); Philipp (vice-presidente CIPA Oposição ASSIBGE (BA);
CPERS - Diretoria Núcleo de Camaquã Cenpes 2010); Pardal (CIPA Cenpes); Álvaro José Jeová Bezerra, representante da
(RS); (CIPA Cenpes); Marcello Gomes (CIPA Oposição dos Mineiros (SE);
Cenpes); Dener (CIPA Cenpes); Amaro (vice-
CPERS - Diretoria Núcleo de Osório (RS); presidente CIPA Metropolitan) - Bloco Nelia Olímpio e Maurinice Anselmo -
CPERS - Diretoria Núcleo de Soledade Alternativa Sindical de Esquerda – Base – Presidenta e diretora do Sindicato dos
(RS); Minoria da diretoria do Sindipetro-RJ; Servidores Municipais de Tabuleiro (CE);
CPERS - Diretoria Núcleo Porto Alegre/Sul Rogério Carvalho da Silva e Sérgio Luis Oposição Bancária da Conlutas – MNOB
(RS); Rodrigues Silveira - Minoria da Diretoria do (CE);
CPERS - Diretoria Núcleo Gravataí (RS); Sindipetro-RS; Oposição Conlutas dos Correios (CE);
CPERS - Diretoria Núcleo Bagé (RS); Vanildo, Pisco e Thalles - integrantes da Oposição do Sindicato dos Metalúrgicos de
Sub-sede de Capanema do Sintepp (PA); Oposição União dos Petroleiros – Reduc; Juazeiro do Norte (CE).
Regional de Ceará Mirim do Sindicato dos Mateus - Terminal de Cabiúnas; Jean - Oposição do Sindicato dos Professores de
Trabalhadores em Educação – SINTE (RN); Plataforma P35; Carlos Magno - Plataforma Maracanau (CE);
Núcleo de São Gonçalo do Amarante do P37; Clausmar - Plataforma P31; Leandro - Juary Chagas e Carlos Antony Siqueira -
SINDSAÚDE (RN); Praia Campista - integrantes do núcleo FNP Minoria da diretoria do Sindicato dos
Norte Fluminense (RJ); Bancários (RN);
Regional de Mossoró e Região do
SINDSAÚDE (RN); Oposição do Sindicato da Alimentação de Rosália Fernandes, Simone Dutra, Flávio
São José dos Campos e região (SP); Gomes (Natal-RN), Vivaldo Junior (S.
Minoria do Sinpro Guarulhos (SP); Gonçalo do Amarante) e João Morais e
Movimento Popular e Movimento Jussirene Silva (Mossoró-RN) – OPOSIÇÃO
Estudantil: Movimento Construindo a Conlutas em
Professores - Minoria da Diretoria do Sinte SINDSAÚDE (RN);
Anel – Assembléia Nacional dos Estudantes (SC); Antonio Radical e Martinho André -
Livre; Sindicato dos Servidores Municipais de
Minoria da Diretoria do Sindicato dos
Ocupação do Pinheirinho – MUST – São Servidores Municipais de Florianópolis (SC); Bayeux (PB);
José dos Campos (SP); Lisandro Saraiva (Tanque) e Daniel Neto -
MTS e Educadores Socialistas na Luta -
MTST de Roraima (RR); Oposição Alternativa na Apeoesp (sp); Diretor do Sinpro (PB);
APRABAB - Associação dos Pequenos Sonia Evarista da Silva - Diretora do Rama Dantas - Oposição do Sindicato dos
Produtores Rurais do Assentamento Benedito Sindicato dos Servidores Municipais de Jacareí Trabalhadores da Educação Municipal de João
Alves Bandeira (PA); (sp); Pessoa (PB);
Ação Eco Socialista de São José dos Campos Minoria da Conlutas - Diretoria do Sindprev Oposição dos Rodoviários / Conlutas (PI);
(SP); (SP); Oposição Avançar com Lutas - Servidores
Movimento Hip-Hop da Baixada Minoria da Direção do Sindicato dos Municipais de Teresina (PI);
Fluminense (RJ); Químicos de OSASCO e Região (SP); Oposição do Sindicato dos professores esta-
Centro Comunitário Bom Jesus da Terra – Oposição Bancária de São Paulo – MNOB duais (PI);
Firme – Belém (PA); (SP); Oposição bancária – MNOB (PI);
DCE da Universidade Federal Rural da Altino, José Carlos, Raimundo Cordeiro, Luiz Noleto - Minoria da diretoria do
Amazônia (PA); Narciso e Celso Borba - Oposição Alternativa SINDSALEM (MA);
DCE da Universidade Estadual do Pará (PA); Sindical de Base - Metrô de SP; Movimento Luta Urbanitária – Oposição
União dos Estudantes Santa-cruzenses - Oposição dos Servidores Municipais de (MA);
UESC (RS); Cruz Alta (RS); Oposição do SINDSAÚDE (PA);
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
mulheres e a luta contra sua opressão, a luta contra expressa na taxa de desemprego no próprio EUA com
a opressão dos negros e LGBTT; não se tratam ape- cerca de 10% ou na Espanha com cerca de 20%, tam-
nas de pontos que elencamos ao final de nossas teses, pouco conseguiram “sanear” o mercado financeiro. A
pontos que somente agitamos no 8 de março, no 20 de crise internacional, expressando um beco sem saída do
novembro, em datas especificas que até mesmo agên- padrão de crescimento implementado através dos ata-
cias imperialistas como a ONU pode incorporar, mas ques neoliberais, demonstrou a falácia das justificati-
se trata de questões também fundamentais para toda a vas de déficit que os governos utilizaram para minar
classe trabalhadora. É preciso romper com a lógica de com as políticas sociais, saúde, educação, assistência
datas marcadas para lutar pelos nossos direitos se alme- social, ficando em evidência como os governos têm
jamos arrancá-los da burguesia e governos, mesma todo o dinheiro para salvar os capitalistas e para a clas-
lógica que é imposta pela patronal, governos e toda se trabalhadora eles têm as demissões, redução salari-
legislação, através das “datas-base” que determina al, miséria, repressão policial e fome. Apesar das
qual dia “podemos” iniciar nossa luta e determina que demissões e do aumento da exploração, os capitalistas
o teor dessa luta só pode ser salarial e não política, o não conseguiram atingir o nível de destruição de for-
que contribui ainda mais para dividir e disciplinar a ças produtivas (demissões, fechamentos de fábricas)
nossa classe que luta em datas diferentes e na maioria capaz de garantir para si um novo ciclo de acumulação
das vezes por lutas somente salariais. Dizer um basta a permitindo extrair mais lucros de nosso trabalho, e tão
tudo isso e contribuir para forjar uma nova tradição no pouco restabelecer um outro padrão de crescimento
movimento sindical e popular é uma das tarefas pri- mundial. Por tudo isso, é necessário que a classe traba-
mordiais deste congresso! Diante disto, consideramos lhadora se prepare para enfrentar futuros ataques
que a unificação de centrais sindicais devem se dar patronais, que constituem a primeira resposta que os
em torno das discussões que dizem respeito à pro- capitalistas lançam mão em tempos de crise.
grama, independência de classe e atuação política NOSSA LUTA É INTERNACIONALISTA E
na realidade (na luta de classes) para que não seja ANTIIMPERIALISTA! (Princípios e programa)
somente uma unificação por cima, mas sim uma forma
de organizar os trabalhadores e trabalhadoras desde a Em todo o mundo milhões de mulheres e homens
base com um programa afiado para enfrentar os sofrem as brutais conseqüências da política imperia-
patrões, os governos e a burguesia. lista. Com as regras que dita o imperialismo sobre os
países, milhões de pessoas são condenadas a viver na
Chamamos a todas as trabalhadoras e traba- miséria. Com suas guerras e ocupações, o imperialis-
lhadores, da cidade e do campo, correntes políticas mo mata, oprime e saqueia povos inteiros. E não pode-
e sindicais, movimentos de mulheres, de negros, de mos deixar de dizer que mulheres como Hillary Clin-
LGBTT e de direitos humanos, a juventude, as dele- ton, secretária de estado dos Estados Unidos, não
gadas e delegados que concordem com nossas teses representam a luta das mulheres. Uma mulher que é o
ou compartilham os conteúdos aqui expostos a nos braço direito de Obama só pode ser inimiga de milhões
unirmos neste CONCLAT. de mulheres que estão subjugadas pelas políticas
assassinas do imperialismo. E como homem negro,
INTERNACIONAL Obama é também um grande inimigo do povo negro: o
imperialismo mata nossas irmãs e irmãos negros no
A crise capitalista não acabou. Por mais que o pre- Haiti com as suas milhares de tropas militares; promo-
sidente Lula tenha dito que era apenas uma marolinha, ve guerras e fome e arranca as riquezas naturais da Áfri-
o aguaceiro de desemprego e ataques aos trabalhado- ca. Além disso, os países imperialistas diante da crise
res que continua invadindo a Grécia, Espanha, Portu- aprofundam sua ostensiva política contra os imigran-
gal e outros países da Europa, mostra seus efeitos no tes, sobretudo os latino-americanos, chineses, árabes,
mundo e aqui no Brasil. Pouco mais de um ano desde nos EUA, mas também contra os bravos imigrantes
que se levou adiante a política dos governos no mundo das ex-colônias francesas na França, ainda podemos
transformando a dívida privada em dívida pública, citar a Inglaterra, a Espanha...
com cerca de 12 trilhões de dólares tirados dos cofres
públicos e dados aos capitalistas pelos governos mun- Denunciamos o imperialismo com rosto de
do afora para salvá-los da quebradeira, os capitalistas e mulher. Hillary Clinton veio recentemente ao Brasil
seus governantes conseguiram evitar por enquanto negociar com Lula o reconhecimento do governo gol-
que a crise capitalista adquirisse uma dinâmica catas- pista de Honduras, que assassina as feministas e a
trófica, com falências generalizadas e massivas. Mas juventude que seguem resistindo ao golpe instaurado
nem com todas as medidas que os distintos governos nesse país há mais de um ano. A mesma Hillary esteve
do mundo lançaram mão, não conseguiram conter o no Chile recentemente abalado por um terremoto e
desemprego, sobretudo nos países centrais, como se anunciou à Michele Bachelet que os EUA estão dis-
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
postos a “qualquer ajuda” para reprimir a população multa em torno de 25mil euros, readmitir os funcioná-
chilena que, sem casas, comida nem água, vão as ruas rios e manter a fábrica aberta. Apesar de não terem con-
em busca de sobrevivência. A ex-presidenta do Chile, seguido fazer como na fábrica ceramista Zanon
Michelle Bachelet colocou 14 mil soldados nas ruas (Argentina) que permaneceu sob o controle operário e
para manter o povo faminto e sedento em “ordem” e expropriou o patrão, os trabalhadores/as da Philips dão
longe das cheias prateleiras dos grandes supermerca- um exemplo para a classe trabalhadora francesa e do
dos, defendendo a propriedade privada quando a popu- mundo de como lutar sem negociar os termos de suas
lação mais necessitava. Essa é mais uma mostra de que demissões, enfrentando os patrões e governos para bar-
meia dúzia de mulheres no poder nada muda a situação rar as demissões. Por isso estivemos em março deste
das mulheres oprimidas e exploradas pelo capitalismo. ano na filial da Philips Mauá no ABC paulista, levando
E apesar de muitas feministas afirmarem como estra- nossa solidariedade aos trabalhadores diante da amea-
tégia para sua luta que as mulheres devam ocupar os ça patronal e levando o exemplo francês dizendo que é
espaços de poder, acreditamos que as Hillary Clinton, possível enfrentar a patronal e as demissões. É reivin-
Michelle Bachelet, Condolezza Rice, Ângela Merkel, dicando esse espírito que nos dirigimos aos delegados
Cristina Kirchner e mesmo Dilma Rousseff e Marina e delegadas deste CONCLAT colocando a necessida-
Silva, são mulheres que representam os interesses do de e importância do internacionalismo proletário e a
imperialismo, da burguesia e dos patrões, e, portanto, solidariedade de classe! Pois é preciso que diante de
nada farão pelos reais interesses e necessidades das cada acontecimento que ataca brutalmente nossas
mulheres oprimidas e exploradas. irmãs e irmãos de classe, nos coloquemos todas e
É com um espírito internacionalista que o Pão e todos juntos nas ruas expressando nossa solidariedade
Rosas na América Latina se solidarizou com as mulhe- ativa, o que infelizmente não aconteceu nem diante do
res e o povo de Honduras contra o golpe de estado e jun- golpe em Honduras, nem após o terremoto que abalou
to às “Feministas em Resistência de Honduras” exigi- o Haiti.
mos a saída dos golpistas em 2009, indo às ruas em Neste ano, completou-se 100 anos em que Clara
diversas cidades. Colocamo-nos ombro a ombro com Zetkin na 2ª Conferência Internacional de Mulheres
os operários e operárias da maior fábrica alimentícia Socialistas propôs a celebração do Dia Internacional
da Argentina, a multinacional Kraft (ex-Terrabusi), da Mulher. Saímos no 8 e março às ruas em diversas
que protagonizaram uma duríssima luta e foram repri- cidades da América Latina com o mesmo espírito de
midos brutalmente pela polícia de Buenos Aires auto- luta internacionalista que inspira a história desta data e
rizada pela presidenta Cristina Kirchner a mando da desta lutadora colocando no centro da nossa luta a exi-
patronal imperialista, luta onde os trabalhadores/as gência da imediata retirada das tropas brasileiras e
deram um grande exemplo de como podemos travar imperialistas do Haiti, pois é essa a maior demonstra-
uma dura luta e derrotar a patronal imperialista. ção de solidariedade operária e popular que podemos
No estouro da crise financeira internacional, em dar ao povo, aos trabalhadores e às mulheres haitianas.
2008, nós do Pão e Rosas, inspiradas pelas lutas contra Diferentemente da esquerda em nosso país, que infe-
os ataques da patronal e dos governos na Europa, nos lizmente se contentou em realizar uma coleta de ajuda
levantamos para dizer em toda a América Latina: que a financeira, quando a questão do Haiti é eminentemen-
crise seja paga pelos capitalistas! No 8 de março e no te política, pois o próprio povo é impedido de se orga-
1º de maio de 2009, quando o Brasil já tinha altos índi- nizar para receber qualquer ajuda, pois são dia-a-dia
ces de demissões e perdas de postos de emprego, reprimidos pelas tropas invasoras, cujo comando está
enquanto a burocracia sindical cumpria um papel de sob a direção das tropas de brasileiras de Lula.
cúmplice dos grandes empresários, saímos às ruas e Viemos nesse Congresso para lutar por um
dissemos “basta de acordos e de demissões, nós somos internacionalismo que abandone as datas pré-
mulheres que enfrentam os patrões”. E hoje com a cri- definidas que impedem que expressemos nossa soli-
se retomando espaço e os capitalistas dando mostras dariedade ativa, que observe a realidade e decidi-
que querem que sejamos nós quem a carreguemos nas damente demonstre sua solidariedade de classe,
costas com as demissões e o desemprego, a classe tra- que deve ser internacional, que não hesite em colo-
balhadora francesa se levanta na Philips Dreux derro- car todas as suas forças por uma forte mobilização
tando a tentativa da patronal de fechar a fábrica rele- nas ruas se solidarizando com a classe de outros paí-
gando as trabalhadoras e os trabalhadores ao desem- ses.
prego, se uniram, colocaram a fábrica para funcionar e Q U E A C R I S E S E J A PA G A P E L O S
durante 10 dias produzindo demonstram que são capa- CAPITALISTAS! - BASTA DE VIOLÊNCIA ÀS
zes de controlar e produzir sem patrões, e obrigou com MULHERES DOS PAÍSES OCUPADOS COMO
que o governo punisse Philips, que teve que pagar uma IRAQUE, HAITI E AFEGANISTÃO! - FORA AS
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
TROPAS BRASILEIRAS QUE DIRIGEM A salários. Este é o cenário traçado sob Lula, enquanto
M I N U S TA H N O H A I T I ! - F O R A O aumentam contradições na economia internacional
IMPERIALISMO DO BRASIL E DA AMÉRICA com ameaças de falência de vários Estados europeus, e
LATINA! - FORA AS TROPAS MILITARES DAS a dívida bruta brasileira vai aumentando com o tesouro
RUAS DO CHILE! imprimindo moeda e dívidas para entregar ao BNDES
para que este empreste aos capitalistas...
NACIONAL No cenário internacional muito se diz sobre o Bra-
sil atuar como um líder dos “países do sul”. Mas no Hai-
O governo de Lula e do PT se mostra a cada dia ti é sob seu comando que é garantida há quase 6 anos
como continuidade do governo neoliberal de FHC. Ao uma sangrenta ocupação que impede a organização
contrário do que disse Lula e repetiram vários analis- dos trabalhadores e reprime manifestações, inclusive
tas, o Brasil não passou intacto ao primeiro capítulo da contra a fome. Às mulheres muita demagogia em tor-
crise capitalista atual. De setembro a dezembro de no das discussões sobre o direito ao aborto ao mesmo
2008 ocorreram mais de 600 mil demissões, muitas tempo em que são assinados acordos com o Vaticano
regiões ainda não têm seu nível de produção recupera- para que este opine sobre as leis brasileiras e tenha pri-
do e menos ainda de emprego. A resposta dada à crise vilégios no sistema de ensino. Milhares de mulheres
pelos capitalistas foi um aumento da tendência que são processadas por abortos clandestinos e sob gover-
vinha se expressando no país: aumento da exploração nos do PT, como o de Ana Júlia Carepa do Pará, meni-
dos trabalhadores. Hoje as fábricas e empresas vão se nas são colocadas em cadeias de homens para serem
recuperando e contratando, mas os empregos são mais sistematicamente estupradas. No campo as promessas
precários, pagam menos que pagavam antes, têm jor- de reforma agrária não se efetuaram e o que prospera
nadas mais extensas, há mais terceirização. Os produ- são os grandes latifundiários e a impunidade dos assas-
tos mantiveram ou subiram de preço, mas a participa- sinos de sem-terra. Nas universidades públicas uma
ção dos salários caiu, ou seja, os lucros aumentaram. expansão (REUNI) com aumento da precarização do
Esta tendência ocorreu incentivada por Lula e seu ensino e do trabalho, incentivando alterações nos cur-
governo que rapidamente resgataram as empresas. rículos para torná-los mais vinculados ao mercado, e
Mais de R$ 200 bilhões foram entregues às empresas bilhões de reais para os tubarões das privadas
enquanto estas demitiam, enquanto as multinacionais (PROUNI) lucrarem enquanto oferecem algumas pou-
estrangeiras sangravam bilhões de reais do Brasil para cas vagas. Ocorre uma expansão que não afeta o vesti-
enviar a suas matrizes. O dinheiro, arrancado dos bular, seja com ENEM ou outras provas, o funil que
impostos dos trabalhadores, foi usado para salvar os faz que pouquíssimos possam entrar na universidade
negócios capitalistas e não para a saúde, a educação. pública e a maioria dos filhos dos trabalhadores seja
Esta atuação do governo Lula na crise aumenta o que forçada a pagar fortunas para estudar nas privadas.
já vinha se mostrando. Sob FHC as 500 maiores Enquanto escrevemos essa tese, continua a greve de
empresas do país haviam lucrado US$ 73 bilhões de professores e professoras do estado de São Paulo. Nós,
1997 a 2002. Já sob Lula o mesmo número de empre- mulheres do Pão e Rosas, temos atuado na greve, nas
sas lucrou US$ 255 bilhões de 2003 a 2008. Um escolas, assembléias e atos, lutando contra os ataques
aumento de 249%! Já o salário mínimo aumentou do governador Serra, mas também denunciando que
somente 112,5% (de R$ 240 para R$ 510)! Este dado e esses mesmos ataques também fazer parte do plano
o pequeno aumento acima da inflação que tiveram as nacional de educação do governo Lula. Frente ao pro-
principais categorias ilustram como os aumentos que cesso de precarização, cada vez mais duro, temos luta-
os trabalhadores tem recebido são migalhas frente ao do nessa greve pela efetivação de todos professores
aumento da parte do leão que fica com a burguesia. temporários, que são praticamente metade dessa cate-
Se durante um grande crescimento econômico os goria, que é também majoritariamente feminina.
aumentos nominais dos salários dos trabalhadores sig- Foi também no governo Lula que assistimos mais
nificaram uma perda relativa aos lucros, o que esperar uma reforma da previdência, para aumentar os anos de
em momentos de maior crise? A capacidade de consu- contribuição e trabalho, dificultando a aposentadoria e
mo será afetada e esta base da popularidade e propa- diminuindo os valores dos benefícios e direitos como
ganda de Lula, a “nova classe média” será profunda- auxílio doença. Esta reforma da previdência atinge
mente atacada. Todas as famílias têm experimentado mais ainda às mulheres, já que pretende igualar entre
um aumento do consumo, mas este consumo em geral homens e mulheres o tempo de serviço para aposenta-
tem sido em base de empréstimos, crediários. Isto se doria, ao mesmo tempo em são as mulheres que
dá em toda a economia nacional, o consumo cresce seguem carregando o peso da dupla jornada de traba-
mais que a economia, o endividamento mais do que os lho. A reforma trabalhista representa outro grande ata-
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
que, impondo a retirada de direitos trabalhistas como República, sobre as resoluções e bandeiras históri-
férias e licença maternidade. Ou seja, coloca-se em cas do movimento de mulheres, inclusive das
xeque um direito fundamental para uma mulher traba- mulheres de seu próprio partido, podemos dizer
lhadora que é a licença maternidade, que deve garantir que Lula não tomou nenhuma medida concreta. O
que não trabalhe no período entre o fim da gestação e o direito ao aborto continua sendo negado e as
início da amamentação dos filhos. A tática do governo mulheres criminalizadas sobre o peso do Código
Lula foi a de “fatiar” a reforma para não ter que votá-la Penal de 1940. A Lei Maria da Penha que rendeu a
de uma só vez. Assim, no ano de 2006, foi aprovada a Lula o prêmio da ONU na luta contra a violência às
Lei do Super Simples, que legaliza a flexibilização dos mulheres só foi possível se tornar lei após uma
direitos trabalhistas nas micro e pequenas empresas, mulher que quase foi assassinada ficar mais de 20
que abarcam cerca de 60% da classe trabalhadora. Sob anos, paraplégica, lutando por seus direitos. Ainda
o argumento do “incentivo à micro e à pequena empre- assim, os avanços apresentados nessa lei não
sa”, o governo garante com essa lei que os direitos podem se concretizar até o final, já que fazem parte
sejam “negociados”, ou seja, o patrão concede o direi- de um Estado burguês que sustenta e legitima a vio-
to apenas se quiser. Vergonhosamente, precisamos lência contra as mulheres. Para isso, vale dizer, que
dizer aos companheiros e companheiras deste partido a mesma ONU que premiou Lula contra a violência
que estão neste Congresso que essa medida foi aprova- as mulheres, coloca suas tropas sob a liderança des-
da contando com o voto dos parlamentares do PSOL. te presidente para estuprar as mulheres haitianas.
Uma simples passagem no Plano Nacional de Mas se em 7 anos, Lula não acenou nenhuma
Direitos Humanos III, o PNDH-3, que explicitava medida para descriminalizar e legalizar o aborto,
apoio à aprovação do projeto de lei que descrimina- por que em ano eleitoral faria isso? Se por um lado,
liza o aborto, considerando a autonomia das a Igreja possui uma importante base eleitoral, o PT
mulheres para decidir sobre seu próprio corpo, foi que pretende eleger uma mulher, também precisa-
alvo de uma enorme polêmica. Entretanto, esse epi- rá do apoio do movimento de mulheres. Isso
sódio é também a expressão, em pequeno, do que demonstra, cabalmente, o fracasso do projeto
foram os 7 anos de governo Lula no que diz respeito reformista das feministas do PT, PCdoB e outros
aos direitos das mulheres. Essa passagem evidente- partidos governistas, que por anos venderam a
mente não significava a legalização e descriminali- idéia de que “com Lula e o PT os direitos das
zação do aborto. Mesmo assim, com uma forte ofen- mulheres seriam conquistados”. Ao contrário, nun-
siva a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil ca antes os setores reacionários tiveram a ousadia
(CNBB) e outros setores, questionaram esta passa- de utilizar a justiça para processar mulheres por
gem e também a união e adoção homossexual, e por terem recorrido ao aborto, como no Mato Grosso
isso o Ministro dos Direitos Humanos, Paulo do Sul, coisa que somente no governo petista-lulista
Vanucchi, fez um mea culpa dizendo que foi um se viu. Sem falar no Encontro “Em Defesa da Vida”
erro dele e passagem sobre o direito ao aborto foi que irá ocorrer no Brasil por ser “modelo” na luta
suprimida do PNDH-3. pela criminalização do aborto. Isso é resultado, tam-
Ainda com esse retrocesso, o movimento de bém, de uma estratégia reformista das feministas
mulheres ligado ao governo, como a Marcha Mun- que atuam “por dentro da ordem”, impedindo a
dial de Mulheres (PT), a União Brasileira de mobilização ativa das mulheres e suas organiza-
Mulheres (PCdoB) e a Articulação de Mulheres ções. A demagogia lulista, apoiada por essas femi-
Brasileiras (PT), além de diversas ONGs, fazem nistas, se transforma dessa forma em retrocesso.
questão de fechar os olhos diante de tamanha dema- Por isso é necessário lutar pela organização inde-
gogia, colocando no centro de suas manifestações a pendente das mulheres trabalhadoras, estudantes,
luta pela concretização do PNDH-3. Evidentemen- donas de casa, sem nenhum atrelamento ao gover-
te que nem Lula e nem Paulo Vannuchi, quando no e aos patrões.
assinaram este Plano, acreditavam que de fato Acreditamos que como parte dessa luta todas as
poderiam concretizá-lo, ainda que fossem tímidos mulheres que são ameaçadas de morte pela clandesti-
passos progressivos. Pois não podemos esquecer nidade do aborto, humilhadas pela terceirização do tra-
que em novembro de 2008 o presidente Lula foi balho, desamparadas pelo trabalho escravo no campo,
ator de um acordo entre o Estado Brasileiro e o Vati- desiludidas e enfraquecidas pelo pesado trabalho
cano, um retrocesso claro, que nem mesmo Fernan- doméstico, sugadas pela violência capitalista, todas
do Henrique Cardoso tinha sido capaz de levar adi- devem gritar numa única voz pela retirada das tropas e
ante. como parte desta luta levantar suas demandas! E por
Hoje, há mais de 7 anos na presidência da tudo isso marchamos no 8 de março no ato da Conlu-
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
ESTUDANTIS E UNIVERSIDADES!
DESCRIMINALIZAÇÃO E LEGALIZAÇÃO
TRABALHO DOMÉSTICO E DUPLA DO ABORTO
JORNADA Na maioria dos países da América Latina o aborto
Há quem defina o trabalho doméstico como uma só é legalizado em caso de incesto, estupro e risco à saú-
série de tarefas pertinentes à reprodução da vida: cozi- de da mãe e no caso do Brasil, apesar de ser legal desde
nhar, limpar, lavar, etc. Entretanto, esta definição não é 1989, nestes dois últimos casos, a regulamentação dos
suficiente já que há trabalhadores que recebem um salá- serviços públicos de atendimento para tais operações
rio por realizar estas mesmas tarefas. O trabalho só ocorreu em 1997 e mesmo assim, o procedimento
doméstico é o que se realiza na família para satisfazer jurídico é demorado e pode ultrapassar o período para
as necessidades de seus integrantes. E além de não ser um aborto seguro à mãe e, além disso, não está dispo-
remunerado, é realizado pelas mulheres. nível nos estados de Roraima, Amapá, Tocantins, Pia-
uí e Mato Grosso, e nos outros, com exceção de São
Enquanto os trabalhadores se sabem explorados, Paulo e Rio Grande do Sul, só está disponível nas capi-
pisoteados e humilhados pela patronal, a opressão das tais.
mulheres no trabalho doméstico não é reconhecida
como tal: milhões de pessoas acreditam que estas tare- Anualmente na América Latina, 5.000 mulheres
fas correspondem “naturalmente” as mulheres apenas morrem e mais de 800 mil são internadas por conse-
pelo fato de ser assim. qüências de abortos clandestinos realizados precaria-
mente. Só no Brasil, todos os anos, 750 mil a 1 milhão
O capitalismo tornou possível que todos os pro- de mulheres brasileiras abortam em condições clan-
dutos e serviços que uma família necessita para man- destinas. O aborto é considerado a 4° causa de morte
ter-se se realizassem em escala industrial, que pudes- entre as mulheres no nosso país, sendo as principais
sem ser obtidos com dinheiro. O lar deixou de ser a uni- vítimas, as mulheres jovens, negras e pobres.
dade básica de produção e foi substituído pela fábrica e
o lar transformou-se numa unidade de consumo quase Ao mesmo tempo, sabemos que são milhares as
exclusivamente. A família operária não produziu mais mulheres ameaçadas pelos patrões para que elas não
os meios de subsistência para si mesma e a venda da engravidem. Sabemos que essa é uma situação cotidia-
força de trabalho de todos seus integrantes se conver- na a que estão submetidas muitas trabalhadoras. Basta
teu na única maneira de sobreviver. de imposições da patronal para que as mulheres não
engravidem. Exigimos a garantia de atendimento no
Contraditoriamente, uma pessoa pode comprar sistema público de saúde: basta de mulheres morrendo
sua comida pronta, lavar sua roupa em lavanderias ou perdendo seus filhos nos corredores dos hospitais
comerciais, mas continua sendo natural que as mulhe- sem leito e médico.
res são as encarregadas de satisfazer as necessidades
da família sem remuneração. Isso porque assim o capi- No último período, temos visto que as campanhas
talista não tem que pagar ao operário pela preparação contrárias ao direito ao aborto têm conquistado cada
de sua comida, pela limpeza de sua casa, pela lavagem vez maior repercussão nos meios de comunicação.
de sua roupa, garantindo maiores lucros. Enquanto Tais campanhas colocam como eixo o discurso de defe-
isso, as mulheres trabalhadoras seguem carregando sa da vida. Por trás dos discursos “em defesa da vida”,
nas costas o peso da dupla jornada de trabalho. Como contrários ao direito ao aborto, segue a realidade em
parte dessa realidade, muitas vezes nos vemos numa que milhares de mulheres são condenadas a morrer ou
situação em que não contamos com creches que se des- a carregar seqüelas para o resto da vida. Isso porque as
tinem ao cuidado e educação de nossos filhos enquan- trabalhadoras e as mulheres pobres não podem pagar
to trabalhamos, o que representa horas diárias de preo- os altos preços cobrados pelas clínicas clandestinas,
cupação. onde as mulheres ricas abortam. Como se não bastas-
se, a Igreja mantém sua posição contrária ao uso dos
PELO FIM DA DUPLA JORNADA DE contraceptivos. Isso significa, na verdade, um controle
TRABALHO! sobre o direito à sexualidade da mulher. Afinal de con-
PELA CONSTRUÇÃO DE CRECHES, tas, se o direito ao aborto não é garantido, se os contra-
L AVA N D E R I A S E R E S TA U R A N T E S ceptivos são igualmente condenados, cabe às mulhe-
COMUNITÁRIOS EM CADA BAIRRO E res somente duas opções: abrir mão da sua vida sexual
LOCAL DE TRABALHO, GARANTIDOS PELO ou ter muitos filhos, mesmo sob a miséria a que são
ESTADO E A PATRONAL. POR UM SALÁRIO condenadas milhões de mulheres que vivem com um
MÍNIMO QUE CORRESPONDA AO salário mínimo, e tirando-lhes o direito a decidir quan-
SUSTENTO DE UMA FAMÍLIA (SALÁRIO- tos filhos desejam ter.
MÍNIMO DO DIEESE).
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
O governo Lula, além de deixar claro nesses 7 GRATUITO PARA NÃO MORRER.
anos de governo que seus objetivos são enriquecer os PELO DIREITO À MATERNIDADE. BASTA
banqueiros e os grandes empresários, assim como DE IMPOSIÇÕES DA PATRONAL PARA QUE AS
governar pelos interesses imperialistas, também não TRABALHADORAS NÃO ENGRAVIDEM. POR
hesitou em atacar diretamente as mulheres trabalhado- ATENDIMENTO MÉDICO GRATUITO E DE
ras. O Plano Nacional de Direitos Humanos III, por QUALIDADE DURANTE A GESTAÇÃO, O
exemplo, do qual o governo se infla ao citá-lo, está mui- PARTO E PÓS-PARTO.
to longe de ser uma medida de avanço nesse sentido,
pois na verdade o documento significa uma simples e ABAIXO O PROJETO LEI DO “BOLSA-
vaga passagem onde é colocado o apoio à aprovação ESTUPRO” QUE QUER IMPOR ÀS MULHERES
do projeto de lei que descriminaliza o aborto. Porém QUE RECONHEÇAM OS FILHOS CONCEBIDOS
sequer é citado o já existente projeto de lei e, além dis- POR UM ESTUPRO EM TROCA DE UM SALÁRIO
so, em momento algum é colocada uma perspectiva de MÍNIMO POR MÊS.
concretização dessa lei. LUTAR CONTRA TODAS AS FORMAS DE
Não podemos esquecer que em novembro de VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER!
2008 o presidente Lula selou um acordo entre o Estado Todos os dias mulheres são vítimas de violência.
Brasileiro e o Vaticano que em resumo, significa con- Mulheres que são espancadas, encarceradas e assassi-
verter a Igreja Católica em beneficiária de uma série de nadas pelos maridos, namorados; mulheres que são
privilégios, que envolvem benefícios fiscais, regime vítimas do precário sistema de saúde, morrem ou
trabalhista de religiosos, casamento, imunidades, assistem seus filhos e filhas morrerem nas filas dos hos-
patrimônio cultural, ensino religioso nas escolas pitais. Mulheres são humilhadas, agredidas, estupra-
públicas, entre outros. Ou seja, fica claro que este acor- das, dentro e fora de casa, mas diferente do que dizem,
do aprofunda um atrelamento nacional e internacional essa violência praticada contra as mulheres não é indi-
do Estado brasileiro com a Igreja, e que, portanto vidual, doméstica, familiar, mas sim social. Essa vio-
nenhum tipo de decisão sobre a legalização do aborto lência também tem outras formas, como a violência
poderia estar por fora deste consenso aprovado na policial nas periferias, morros e favelas, que deixa cor-
Câmara e no Senado. Um retrocesso claro, que nem pos de jovens e crianças no chão, estupram e roubam,
mesmo Fernando Henrique Cardoso tinha sido capaz reprimem manifestações, com toda a “legitimidade”
de levar adiante. Tamanho é o espaço que os setores de serem agentes do Estado, de terem o monopólio da
reacionários tem tido atualmente para atacar as mulhe- violência, enquanto os que roubam a riqueza do nosso
res, que neste ano o Brasil sediará um Encontro Mun- suor e trabalho, seguem em paz dentro de seus condo-
dial “Em defesa da Vida”, ou seja, contra a legalização mínios com câmeras, muros e 'segurança'.
do aborto. Também se expressa na rede de tráfico de meni-
Por tudo isso, vamos lutar pelo direito de decidir nas e mulheres para exploração sexual, que nos salta os
sobre nossos corpos, sem qualquer tipo de intervenção olhos no Nordeste, com seus coronéis, latifundiários,
dos patrões, do Estado e da Igreja! que também se utilizam do trabalho escravo. A violên-
QUEREMOS EDUCAÇÃO SEXUAL DE cia também se expressa no assedio moral e sexual nos
QUALIDADE EM TODOS OS NÍVEIS DE locais de trabalho, na diferença salarial, desemprego,
ESCOLARIDADE NAS ESCOLAS PÚBLICAS E na discriminação no trabalho. Em pleno século XXI
PRIVADAS! tivemos que assistir um caso revoltante no Pará, quan-
do uma menina de 14 anos em 2008 ficou presa duran-
A NOVA CENTRAL DEVE TER EM SEU te vários dias numa cela masculina sendo estuprada
PROGRAMA E LUTAR PELA IMEDIATA por todos os homens. E isso aconteceu sob o governo
ANULAÇÃO DO ACORDO BRASIL-VATICANO de uma mulher petista, Ana Júlia Carepa, ligada à
ASSINADO POR LULA! Democracia Socialista, a mesma corrente que dirige
QUE O ESTADO GARANTA MÉTODOS no Brasil a Marcha Mundial de Mulheres.
CONTRACEPTIVOS DE QUALIDADE PARA O capitalismo sustenta e legitima toda a violência
TODA A POPULAÇÃO E POR FIM, QUEREMOS O que existe contra a mulher. É muito comum que quan-
ABORTO LEGAL, SEGURO E GRATUITO PARA do uma mulher é violentada pelo marido ou namorado,
QUE NÓS MULHERES NÃO MORRAMOS EM a primeira pergunta seja: “Mas o que ela fez?”, como
DECORRÊNCIA DE ABORTOS PRECÁRIOS! - se existisse algo que pudesse justificar essa violência.
PELO ACESSO GRATUITO AOS MÉTODOS E esse questionamento é recorrente nas delegacias poli-
CONTRACEPTIVOS PARA NÃO ABORTAR. ciais, quando a mulher decide denunciar, passando por
PELO DIREITO AO ABORTO LEGAL, SEGURO E cima das ameaças e da vergonha que a violência
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
impõe. A verdade é que o Estado capitalista ainda legi- mulheres. Mas é um problema de quem? Como se
tima a idéia de que a mulher é propriedade do homem. resolve? Qual é a saída? A saída da burguesia, susten-
Mais do que um problema que pode ser considerado tada pela classe dominante e pelo Estado, é a saída que
“individual” existe uma forte ligação entre o aterrori- propõe nos dizer que os culpados são os homens que
zante cenário de violência que nós mulheres sofremos, nos violentam. Isso por dois motivos: o primeiro é que
com um sistema que tem como fundamento a explora- não consideram todas essas outras formas de violência
ção de milhares de seres humanos em benefício de um como violência contra as mulheres, e o segundo é que a
punhado de parasitas capitalistas. A existência da pro- “violência doméstica” para eles não é um problema
priedade privada dos meios de produção, defendida social e econômico, mas sim doméstico, familiar, indi-
através da violência pela classe dominante contra vidual, do homem, companheiro, marido, contra a
todos os explorados, condenou as mulheres a serem mulher. A “Lei Maria da Penha” expressa em certa
um grupo subordinado socialmente. medida esse cenário. Para resolver a situação de vio-
Para mostrar mais concretamente quais as conse- lência a qual estão sujeitas as mulheres, o Estado pren-
quências de enxergar a violência contra a mulher ape- de o homem, pois não se considera responsável pela
nas de um ponto de vista “doméstico” ou “familiar”, situação de miséria que se encontram as mulheres e
voltemos a 2006, quando foi sancionada no Brasil, homens trabalhadores, e considera que o culpado dire-
pelo presidente Lula, a chamada “Lei Maria da to é o homem. Exigiremos sempre a punição dos vio-
Penha”, que busca tornar o processo de punição aos lentadores e a necessidade de auto-organização da clas-
homens mais rápido, pois prevê que os agressores se trabalhadora e de auto-defesa das mulheres. Entre-
sejam presos em flagrante ou tenham sua prisão pre- tanto é evidente a maneira como a classe dominante se
ventiva decretada. Maria da Penha foi uma mulher que utiliza da violência pra dividir a nossa classe.
lutou durante 20 anos para conseguir que seu marido Quando um trabalhador violenta sua companhei-
fosse preso pelo fato de ter atirado nela e a deixado ra, isso enfraquece a luta da classe trabalhadora. Mas
paraplérgica. Aí começa o primeiro absurdo. Vejamos: por quê? Por que essa mulher perde a confiança em
é necessário que uma mulher violentada e quase assas- suas próprias forças, retrocedendo também o horizon-
sinada passe 20 anos clamando por justiça? Na demo- te da liberação de todos os explorados. Afinal, como
cracia burguesa sim! Devemos lembrar também que uma mulher violentada pelo seu próprio companheiro
são os policiais que atendem as mulheres em situação pode se enxergar enquanto classe, da qual ele também
de violência segundo a “Lei Maria da Penha”. A polí- faz parte? É contra isso que também devemos lutar,
cia é o aparelho repressor do Estado que defende a pro- contra a ideologia burguesa dentro de nossa classe, e
priedade privada, e para isso assassina quem tiver que portanto pelo fortalecimento de nosso programa. Lute-
assassinar. Aqui é importante ressaltar que se a ONU mos para que os sindicatos incorporem em seus pro-
diz que o Brasil está em 1º dentre as melhores leis con- gramas a luta contra a violência as mulheres.
tra a violência às mulheres, vale lembrar que o Brasil Por tudo isso, é muita hipocrisia que o Governo
também está em 1º lugar dentre os países com a polícia Lula siga dizendo que está protegendo as mulheres
mais assassina do mundo. Somente no Rio de Janeiro a com uma lei, ao mesmo tempo que compõe um Estado
polícia mata 3 pessoas por dia e é responsável por 18% que sustenta essa violência contra as mulheres. A “Lei
das mortes. Que contradição é essa? Para o Estado não Maria da Penha” poderia ser a melhor lei contra a vio-
há contradição nenhuma, já que não considera que a lência às mulheres, mas mesmo assim seria incapaz de
violência de suas forças repressivas contra os oprimi- resolver nossos problemas já que faz parte da política
dos e explorados seja um problema das mulheres. de um Estado que para existir necessita da violência
É necessário lutar contra todas as formas de vio- contra os explorados e oprimidos, e portanto, contra as
lência exercidas contra as mulheres, que se expressam mulheres. Senão, como explicar que mesmo com a
com os estupros, abusos, espancamentos e assassina- “Lei Maria da Penha” , as mulheres seguem sendo vio-
tos, mas também se expressam com a repressão polici- lentadas nessa sociedade de exploração? Sendo assim,
al, a subordinação imposta pela Igreja, a proibição de nosso combate à violência contra a mulher deve ser fei-
direitos como o direito ao aborto legal, seguro e gratui- to de maneira independente do Estado e dos governos.
to, o salário menor pelo mesmo serviço, o assédio sexu- Sabemos que nessa sociedade capitalista e machista,
al e moral dos patrões, chefes e gerentes que acham mesmo sob os regimes ditos democráticos, a violência
que somos sua propriedade, a escravidão das trabalha- contra a mulher vai persistir. Por isso, em nossa luta
doras imigrantes, o sequestro de mulheres pelas redes colocamos a necessidade de acabar com essa socieda-
de prostituição, a utilização da imagem da mulher de de exploração e opressão que se perpetua a violên-
como um objeto sexual para o desfrute de terceiros. cia contra a mulher. Por isso nos colocamos a grande
Todas essas formas de violência atingem muitas tarefa de lutar para destruir o capitalismo com a classe
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
trabalhadora tomando o poder das mãos da burguesia e sociedade, ou seja naqueles trabalhos que consistem
garantindo as bases para uma sociedade onde possa- em limpar, cuidar, educar e organizar, funções ditas da
mos acabar de fato com todo tipo de violência contra “natureza” feminina. Alguns exemplos: professoras,
as mulheres. faxineiras (ou auxiliar de limpeza), enfermeiras e téc-
Ao mesmo tempo, enquanto seguimos nessa soci- nicas, secretárias e recepcionistas, cozinheira (ou auxi-
edade miserável, não toleramos que as mulheres conti- liar de cozinha), entre outros.
nuem perdendo suas vidas. Por isso, é fundamental Como historicamente a mulher compõe parte
organizar comissões a partir dos sindicatos, organis- importante do exército industrial de reserva e também
mos de direitos humanos, etc para combater essa vio- recebe salários inferiores, os patrões se utilizam disso
lência e exigir que toda mulher violentada receba do para fazer baixar os salários de toda a classe. Mas não
Estado todas as condições materiais para que não con- pára por aí. Com o avanço da tecnologia e o desenvol-
tinue sendo agredida. vimento das forças produtivas, ao invés de se trabalhar
BASTA DE VIOLÊNCIA CONTRA AS menos e fazer menos esforços, o que temos é um
MULHERES! ORGANIZAR AS MULHERES EM aumento no ritmo de trabalho, maior exposição às
SEUS BAIRROS, LOCAIS DE TRABALHO E doenças ocupacionais. E entre todos os trabalhadores
SINDICATOS PARA COMBATER TODA FORMA são as trabalhadoras as mais expostas a estas condi-
DE VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES. ções! Por exemplo, um/a trabalhador/a de telemarke-
ting hoje, trabalha 6 horas por dia, entretanto o ritmo
QUE TODAS AS MULHERES de trabalho intenso e os níveis de tensão no ambiente
V I O L E N TA D A S O U A M E A Ç A D A S D E de trabalho expõem os/as tele-operadores/as a doenças
VIOLÊNCIA TENHAM ACESSO, JUNTO COM ocupacionais e a problemas psiquiátricos, como por
SEUS FILHOS E SEM PRAZO DETERMINADO A exemplo são a tendinite e o stress. As trabalhadoras da
CASAS DE ABRIGO, MANTIDAS PELO limpeza em muitos locais trabalham 44 horas por sema-
ESTADO, COM ATENDIMENTO MÉDICO E na e ganham um salário mínimo (!), manuseiam pro-
PSICOLÓGICO DE QUALIDADE. PELA dutos químicos fortíssimos, carregam peso, têm que
GARANTIA DE EMPREGO AS TODAS AS pagar pelos seus uniformes de trabalho, não têm mate-
MULHERES VIOLENTADAS COM SALÁRIOS riais de proteção necessários, como luvas, ou mesmo
QUE PERMITAM MANTER SUAS FAMÍLIAS instrução e orientação sobre os riscos do trabalho. E
SEM DEPENDER FINANCEIRAMENTE DO são muitos os exemplos que podemos citar: nas cozi-
AGRESSOR. PUNIÇÃO AOS AGRESSORES! nhas industriais o choque térmico faz parte da rotina de
PELO FIM DO TRÁFICO E DA trabalho, no comércio, as vendedoras além de sujeitas
EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS E ao assédio moral e sexual, boa parte de sua renda vem
JOVENS! POR COMISSÕES DE da produtividade, ou seja, as comissões por item ven-
INVESTIGAÇÃO INDEPENDENTE, dido.
COMPOSTAS POR SINDICATOS, ORGANISMOS Além disso, as mulheres quando estão grávidas
DE DIREITOS HUMANOS, ORGANIZAÇÕES DO muitas vezes não são respeitadas pela sua condição,
MOVIMENTO NEGRO E DE MULHERES PARA que em casos extremos como diante da epidemia da
INVESTIGAR E PUNIR TODOS OS Gripe A, fica em evidência, onde não tinham nenhum
RESPONSÁVEIS. tipo de proteção, mesmo sendo um grupo de risco.
PELO FIM DO TRABALHO ESCRAVO NO Portanto, para falar em saúde das mulheres traba-
CAMPO, CONFISCO DOS BENS DOS lhadoras há de se falar em melhores condições de tra-
LATIFUNDIÁRIOS PARA REFORMA AGRÁRIA! balho, diminuição da jornada de trabalho, salário míni-
BASTA DE VIOLÊNCIA POLICIAL CONTRA mo do DIEESE, além das questões básicas da saúde
AS MULHERES E A JUVENTUDE NEGRA E como direito à maternidade, direito ao aborto, atendi-
POBRE. POR COMISSÕES DE INVESTIGAÇÃO mento médico e psicológico de qualidade garantido
INTEGRADAS POR PARENTES DAS VÍTIMAS, gratuitamente pelo Estado. Combinado a isso é neces-
SINDICATOS, ORGANIZAÇÕES DE DIREITOS sário colocar de pé já uma ampla campanha contra a
HUMANOS, DE MULHERES, QUE SEJAM privatização da saúde, que tem como objetivo apenas
INDEPENDENTES DAS FORÇAS POLICIAIS, diminuir os custos que o governo tem que ter com o
DA JUSTIÇA BURGUESA E DO ESTADO. nosso direito à saúde.
SAÚDE DO/A TRABALHADOR/A BASTA DE IMPOSIÇÕES DA PATRONAL
Já não é de hoje que as mulheres no mercado de PARA QUE AS MULHERES NÃO ENGRAVIDEM.
trabalho ocupam principalmente os postos de trabalho EXIGIMOS A GARANTIA DE ATENDIMENTO
que estão relacionados ao papel que tem a mulher na NO SISTEMA PÚBLICO DE SAÚDE: BASTA DE
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
da “ama-de-leite”, amamentando e cuidando dos ram que enfrentar novamente a repressão policial: ago-
filhos dos senhores de engenho. Essa retrospectiva his- ra sendo espancadas numa manifestação.
tórica é justamente para demonstrar que muitos aspec- Os números demonstram o que já se sabe há mui-
tos da opressão à mulher negra permanecem até os dias to tempo nas periferias e favelas do país. No estado da
atuais. Afinal de contas, continua sendo retirado nosso Bahia, foram registrados 1.307 assassinatos, sendo
direito à maternidade, seja de formas consideradas “in- 96% negros e 78% com o envolvimento direto da "po-
diretas” como os salários de miséria a que estamos sub- lícia do Estado”. Nos primeiros 20 dias de 2008, numa
metidas, seja através do impedimento direto da gravi- operação conhecida como “faxinaço” recorrente todos
dez, como se expressa nos casos de esterilização força- os anos antes do carnaval, foram 14 jovens assassina-
da de mulheres negras, assunto quase inexistente nos dos pela polícia em Salvador, todos negros e sem ante-
meios de comunicação e inclusive no movimento de cedentes criminais. Essa realidade, no entanto, não é
mulheres em geral. exclusividade da Bahia.
Somos a camada mais explorada da classe traba- No ano passado, as operações da Força Nacional
lhadora do nosso país e temos um papel fundamental a no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, deixaram
cumprir na luta pela libertação do povo negro e da um saldo oficial de 42 mortos, grande parte com sinais
emancipação das mulheres, luta que para nós insere-se de execução. Os trabalhadores e trabalhadoras não
no marco do combate da luta de classes, do combate à podiam sair ou voltar para suas casas sem correr o ris-
burguesia e a propriedade privada. Não acreditamos co de ser mais um assassinado. As mulheres com seus
nas políticas de “justiça social” de instituições como a filhos no colo, desviavam-se num labirinto repleto de
ONU (Organização das Nações Unidas), que por trás soldados com suas armas potentes. A política de exter-
de seus projetos sociais promovem a política imperia- mínio dos moradores de morros e favelas vem sendo
lista que mata tantas mulheres e crianças em todo o escancarada cada vez mais. No ano passado, o secretá-
mundo – seja pelas políticas de espoliação sobre as rio de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro
semicolônias, seja diretamente pela violência de suas José Maria Beltrame declarou: “Buscá-los [os trafi-
tropas em países ocupados. cantes] na Zona Sul, no Dona Marta, no Pavão-
PELO FIM DA DIFERENÇA SALARIAL Pavãozinho, eu [polícia] estou muito próximo da popu-
ENTRE HOMENS E MULHERES, ENTRE lação. É difícil a polícia ali entrar. Porque um tiro em
BRANCAS/OS E NEGRAS/OS. PUNIÇÃO ÀS Copacabana é uma coisa, um tiro na Coréia, no Ale-
E M P R E S A S Q U E PA G A M S A L Á R I O S mão, é outra. E aí?." Ou seja, os milhares de trabalha-
DIFERENCIADOS PARA AS MESMAS dores que moram na Coréia ou no Alemão não são con-
FUNÇÕES OU QUE FAZEM EXIGÊNCIAS DE siderados “população”...
“BOA APARÊNCIA” PARA CONTRATAÇÃO. Ou representam justamente a parte da população
PELO DIREITO À MATERNIDADE PARA que para o governo deve ser exterminada, como com-
AS MULHERES NEGRAS. ABAIXO ÀS provou Sérgio Cabral Filho (PMDB), governador do
POLÍTICAS DE ESTERILIZAÇÃO FORÇADA. Rio, com sua declaração de que o aborto deveria ser
CONTRA A DISCRIMINAÇÃO, O legalizado como forma de combater a violência. Esse
PRECONCEITO E O RACISMO EM genocida racista teve coragem de dizer que isso “tem
ENTREVISTAS DE TRABALHO. ABAIXO O tudo a ver com violência. Você pega o número de
ASSÉDIO MORAL NOS LOCAIS DE filhos por mãe na Lagoa Rodrigo de Freitas, Tijuca,
TRABALHO. PUNIÇÃO AOS PATRÕES QUE Méier e Copacabana, é padrão sueco. Agora, pega na
COAGIREM AS TRABALHADORAS A NÃO Rocinha. É padrão Zâmbia, Gabão.” Como se não bas-
ENGRAVIDAREM. POR COMISSÕES DE tasse o extermínio de adolescentes e jovens negros,
MULHERES NOS LOCAIS DE TRABALHO esses governos ainda querem impor controle sobre os
RESPALDADAS PELOS SINDICATOS E corpos das mulheres – em suas palavras, somos “uma
E N T I D A D E S E S T U D A N T I S PA R A fábrica de produzir marginal” –, impedindo nosso dire-
INVESTIGAREM CASOS DE ASSÉDIO ito a decidir pela maternidade, sob um falso discurso
SEXUAL E MORAL. de direito ao aborto. Outra demonstração de como
somos tratadas pelos governos e políticos burgueses
ABAIXO A REPRESSÃO POLICIAL AO está na proposta de “bolsa-estupro”, feita por um depu-
POVO NEGRO tado do PT. É uma política opressiva e humilhante para
Enfrentando a pressão de se esconder com medo, as mulheres que, disfarçada de política “assistencialis-
as mães de Salvador colocaram seus rostos negros na ta”, que quer nos obrigar a reconhecer os filhos conce-
rua e mostraram as fotos dos seus filhos, assassinados bidos em um estupro.
pela polícia sem nenhuma punição aos culpados. Tive- A resposta do governo Lula a situação no Com-
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
plexo do Alemão foi dizer que a operação era um exem- pendência dos patrões, do governo e do Estado bur-
plo a ser seguido em todo o país e criou o PAC da Segu- guês, ou seja, que é possível se emancipar dentro do
rança, um projeto que, entre outras medidas, vai desti- estreito horizonte do sistema capitalista. Ao contrário,
nar mais dinheiro para armamentos e construir 187 pre- o que está na ordem do dia é a luta pela organização
sídios destinados para a juventude. Além de aumentar independente das mulheres, em seus locais de trabalho
a repressão sobre nossos filhos e companheiros, o PAC e estudo, e nós desde o Pão e Rosas nos colocamos essa
da Segurança também tem um programa destinado às perspectiva e chamamos todas as mulheres que se rei-
mulheres. Além disso, na cidade sede da Copa e das vindicam combativas, classistas e revolucionárias a
Olimpíadas, Rio de Janeiro, avança a repressão à popu- buscarmos uma forma de atuação comum, e por isso
lação que mora nos morros e favelas com a instalação fazemos um chamado especial às mulheres que com-
das UPPs (Unidade de Polícia Pacificadoras) que ins- põem a Conlutas, como nós, devem estar na linha de
tauram medo, repressão, cerceamento político e cultu- frente desta unidade na ação.
ral, e toque de recolher. Na luta pela unificação da nossa classe é preciso
Além de oferecer migalhas para as mulheres que colocar de pé os métodos combativos da classe traba-
vivem no desemprego ou no trabalho precarizado lhadora – greves, ocupações, piquetes – organizando a
(com baixos salários, sem carteira assinada e direitos luta nas bases, unindo e coordenando as trabalhadoras
trabalhistas) – muitas tendo que sustentar a família e trabalhadores. Frente ao ataque aos direitos é preciso
sozinha depois de perder seu companheiro pela vio- centrar forças em organizar uma grande campanha exi-
lência policial – o governo ainda quer jogar nas nossas gindo que todos as trabalhadoras/es tenham carteira
costas a responsabilidade de fazer brotar a paz onde a assinada, direitos integrais, lutando pelo salário míni-
polícia e a Guarda Nacional entram, atiram e matam mo do DIEESE, de modo a incorporar a esta luta gran-
como bem entendem. de parte da classe trabalhadora que hoje é precarizada,
É necessário que Nova Central levante uma polí- sofrendo uma super exploração ainda maior, princi-
tica conseqüente contra o extermínio da juventude palmente os trabalhadores e as trabalhadoras negras.
negra no país. É inadmissível que enquanto tantos PELA FORMAÇÃO DE SECRETARIAS DE
jovens negros são assassinados pela polícia setores da MULHERES, COMISSÕES DE MULHERES OU
esquerda apóiem as greves policiais, as mesmas gre- OUTRA FORMA DE ORGANIZAÇÃO DAS
ves que reivindicam melhores condições para a polícia MULHERES NOS SINDICATOS: QUE SEJA UMA
“trabalhar”, ou seja, para reprimir e matar. FERRAMENTA PARA TRAZER CADA MULHER
ABAIXO O PAC DA SEGURANÇA DO PARA A LUTA, EFETIVAS, TERCEIRIZADAS,
GOVERNO LULA! POR UM VERDADEIRO ESTATUTÁRIAS E FUNDACIONAIS!
PLANO DE OBRAS PÚBLICAS, QUE SEJA ENCONTROS DE MULHERES QUE TENHA
C O N T R O L A D O P E L O S S I N D I C AT O S , COMO PERSPECTIVA DISCUTIR O PLANO DE
ORGANIZAÇÕES POPULARES E DE LUTAS DOS SINDICATOS E SE COLOCAR A
MORADORES! LUTAR PELAS TRABALHADORAS EFETIVAS,
ABAIXO À REPRESSÃO POLICIAL NOS TERCEIRIZADAS, ESTATUTÁRIAS, ABERTO A
MORROS, FAVELAS E PERIFERIAS! FORA AS TODAS AS CATEGORIAS PARA ORGANIZAR A
UPPS DOS MORROS E FAVELAS CARIOCAS! LUTA!
POR UMA AMPLA CAMPANHA NACIONAL Por fim, destacamos que tanto a “Estrutura Sindi-
CONTRA A VIOLÊNCIA POLICIAL AO POVO cal”, a “Concepção e prática sindical”, como o “Pro-
NEGRO! POR COMITÊS INDEPENDENTES DE grama, princípios e estratégia”, estão desenvolvidas
INVESTIGAÇÃO E MOBILIZAÇÃO, ao longo destas teses. Compreendemos que a “compo-
ORGANIZADOS A PARTIR DOS SINDICATOS, sição e o funcionamento da direção” da Nova Central
ORGANIZAÇÕES DO MOVIMENTO NEGRO, deva ser pensada a partir de seu conteúdo, e tal como
ASSOCIAÇÕES DE MORADORES, DE DIREITOS expressamos aqui, acreditamos que deva ser discutido
HUMANOS, ENTRE OUTROS, PARA GARANTIR e construído pela base, em observância dos princípios
A PUNIÇÃO AOS CULPADOS! da democracia operária.
A Nova Central deve ser operária e popular,
defendemos a hegemonia proletária, e portanto, as for-
ORGANIZAÇÃO mas de representatividade devem expressar isso, defi-
O feminismo burguês, as feministas reformistas e nindo porcentagens de representação.
ligadas ao governo já demonstraram o fracasso de sua Entretanto, os trabalhadores precarizados, tercei-
estratégia “por dentro da ordem”. É uma estratégia que rizados e informais não encontram espaço na atual for-
vive na utopia de que é possível se organizar sem inde-
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
ma de organização das centrais anti-governistas, não QUE TODOS SETORES QUE ESTEJAM OU
podendo ter o direito a serem delegados e delegadas ESTIVERAM EM LUTA CONTRA A PATRONAL E
caso não tenham disputado a direção do seu sindicato. O S G O V E R N O S T E N H A M D I R E I TO À
Diante disso, uma das tarefas desse CONCLAT deve DELEGAÇÃO VOTADA EM ASSEMBLÉIAS,
ser de definir critérios mais justos para a participação PARA ALÉM DE SUA INSERÇÃO NAS DISPUTAS
destes importantes setores da classe que possuem sin- ELEITORAIS DOS SINDICATOS.
dicatos patronais e pelegos. Por isso PROPOMOS
Assinam essas teses: Estado de São Paulo e Municípios de São Paulo, Diadema e São Caetano
Grupo de mulheres PÃO E ROSAS (LER-QI e independentes) do Sul; IBGE; Judiciário; Telemarketing; Terceirizadas da limpeza;
Comerciárias; Trabalhadoras precarizadas da Saúde e da Habitação.
Integrado por: Estudantes: UNESP (Rio Claro; Marília; Franca; Araraquara);
UNICAMP; USP; PUC-SP; Fundação Santo André; UNICASTELO/SP;
Trabalhadoras: USP; UNESP; Professoras e Profissionais da Educação do Unicid/SP; UFRJ; UEMG.
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
americano. Os números mostram que a crise, portanto, A resposta imediata veio célere para remediar a
não tem “olhos azuis”, como afirmou Lula em 2008, e etapa até agora mais aguda da crise, em 2009: injeção
nem depende da maior ou menor responsabilidade dos de bilhões e bilhões de dólares, diferentes pacotes eco-
banqueiros e investidores, mas sim que é lei de funcio- nômicos de ajuda aos bancos com balanços compro-
namento do sistema capitalista. O capitalismo segue metidos, logo expandidos para ajuda aos bancos mais
claramente o curso analisado por Marx: diminuição saudáveis, às empresas de crédito ao consumidor e às
tendencial dos lucros, queda de salário e miserabi- montadoras do país.
lização das massas, impedindo a redistribuição e o Falsos otimistas, como o presidente Lula, viram
crescimento econômico. Deter a marcha do capitalis- antes do final de 2009 os “brotos verdes” de recupera-
mo exige muito mais do que soluções paliativas ou ção da crise mundial e da recessão. O Banco Mundial,
reformistas – exige, isso sim, a sua destruição enquan- tão comprometido quanto o governo Lula/PT com os
to sistema produtivo. interesses do capital, mas um pouco mais cauteloso,
O ano de 2009 mostra o futuro dentro do sistema anunciou que a crise econômica chegará ao fim com a
capitalista. Os efeitos da crise americana alastraram-se recuperação de países emergentes, Brasil, Rússia,
imediatamente pelo mundo globalizado. A Bolsa de Índia e China - especialmente a China -, compondo o
Nova York recuou ao nível que sustentava 12 anos bloco dos BRICs. Mas no outro lado da moeda, o enor-
antes, a de Tóquio ao de 26 anos e a taxa de desempre- me repasse dos Estados para o setor privado para
gados foi a maior desde o fim da Segunda Guerra conter a crise internacional aumenta sobremaneira
Mundial. O colapso financeiro do EUA afeta o sistema o déficit orçamentário. E se o leste europeu já não
financeiro mundial e o “efeito dominó” provoca a sabia como pagar a fatura ao FMI, agora os PIGS
recessão das grandes economias européias com a pri- (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha) subs-
vatização dos lucros, a socialização dos prejuízos e a tituem os BRICs nos noticiários econômicos e polí-
volta da presença do Estado – para atender os interes- ticos. Troca de siglas, bem ao gosto dos economistas
ses do grande capital. e banqueiros burgueses, para tratar do crescente
Para os trabalhadores, o de sempre: desemprego, endividamento de vários países do mercado comum
diminuição de salários, direitos e pensões, precariza- europeu e discutir mais uma “crise de confiança” no
ção da saúde e educação pública. Nos países emergen- mercado financeiro. Temendo um calote dos chama-
tes, declínio das exportações de commodities primári- dos PIGS, os investidores estrangeiros fogem da
as colocando em xeque a estratégia de crescimento via Europa e tornam a se refugiar no dólar e em títulos do
exportações. Com o declínio dos preços de commodi- tesouro norte-americano.
ties, há impacto na balança de pagamentos. Mercados A crise econômica mundial, que começou no sis-
de crédito e fluxos de capital secam, resultando em tema financeiro em 2007, ameaça converter-se em cri-
crescimento negativo durante alguns meses e desem- se fiscal. Os mais recentes impactos da crise na Grécia,
prego (8-10% no Brasil), especialmente na indústria quando 2,5 milhões de trabalhadores foram às ruas pro-
metalúrgica e automobilística, e redução dos salários. testar contra a retirada de direitos, é apenas a ponta de
O capitalismo está definhando? Pergunta que se um iceberg e encobre números assustadores do
coloca imediatamente para a esquerda na conjuntura aumento da dívida pública das economias desenvolvi-
apresentada. Resposta marxista: o capitalismo não das. Na França, trabalhadores também se colocam em
cai se não for derrubado. E sua derrubada exige con- marcha contra os pacotes do governo Sarkozy, que ata-
dições objetivas e subjetivas. Diversos exemplos de cam direitos conquistados através de lutas históricas.
contra-tendências que dão sobrevida ao capital funda- O déficit fiscal alcança quase 10% do PIB em
mentam a afirmação. Nos anos 1940 a 1960, mecanis- 2009 nos Estados Unidos. Na Espanha, mais de 11%;
mos como a poupança de pessoas físicas durante a no Reino Unido, mais de 14%; e na França, quase 8%
guerra, despesas governamentais civis e militares, do PIB. Nos cinco países atingidos por crises financei-
reconstrução da Europa e do Japão, corrida armamen- ras sistêmicas (Estados Unidos, Reino Unido,
tista na Guerra Fria, inovações tecnológicas como a Espanha, Irlanda e Islândia), a dívida pública aumen-
segunda onda de automobilização do pós-guerra tou em média cerca de 75% em termos reais de 2007 a
deram sobrevida ao capital. Mais recentemente, de 2009, enquanto a dívida externa bruta (dívida pública
2000 a 2007, aparecem a extensão da fronteira de acu- e privada colocada no exterior) dos países desenvolvi-
mulação capitalista para Europa Oriental, ex-União dos, bem menos comentados, alcança em média nada
Soviética e China, criação e expansão do mercado menos que 200% do PIB de cada um desses países.
interno no países emergentes, crescimento do consu- A ingerência direta dos países que compõem o
mo das famílias, jornadas mais longas, múltiplas ocu- mercado comum europeu mostra o enfraquecimento
pações etc. da autoridade dos Estados nacionais diante do poder
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
do capital, fenômeno que se repete em várias partes do ro de pessoas, no mais breve intervalo de tempo da his-
mundo. A crise, que já era alardeada como “superada” tória. O capitalismo americano, endividado e afunda-
pela mídia burguesa, retorna à pauta diária, com a do na monstruosa máquina militar mundial que drena
intensidade propositalmente esmaecida pela Copa do sua economia nacional, reduz os níveis de vida interna
Mundo, na África, o continente mais pobre do mundo. para financiar suas inesgotáveis e intermináveis guer-
Fica claro, portanto, que a recuperação parcial obser- ras no estrangeiro.
vada no segundo semestre de 2009 correspondeu à res- Toda essa análise permite compreender que o
posta imediata da economia aos trilhões de dólares inje- Congresso Nacional da Classe Trabalhadora se rea-
tados pelos governos para salvar bancos e grandes liza num momento marcado pela dramática con-
empresas, mas que não significa o fim definitivo da cri- juntura enfrentada pela classe trabalhadora em
se – sobretudo porque os mecanismos utilizados para a escala mundial. Trabalhadores, milhares de traba-
recuperação não fazem outra coisa que aprofundar as lhadores, são dizimados, assassinados impunemen-
causas estruturais da eclosão da crise. O cenário que se te, em toda sorte de catástrofes naturais e políticas.
avizinha – e já se apresenta claramente na Europa – é Um milhão de desabrigados e mais de 200 mil mor-
de mais ataques aos salários e direitos dos trabalhado- tos é o saldo parcial do terremoto no Haiti. No
res, exigindo organização e respostas concretas pela Chile, mais 880 mortos em terremotos e nos tsuna-
via da mobilização. mis subsequentes. Temporais, enchentes urbanas,
Central na análise conjuntural, a crise do capita- desabamentos e deslizamentos, chacinas étnicas e
lismo também precisa ser entendida a partir de religiosas. Catástrofes que se repetem e se transfor-
mudanças de importância definitiva: a emergência da mam em notícias, não mais que notícias vendidas
Ásia como centro econômico mundial. Agora o capita- em jornais burgueses com a mesma rapidez com
lismo asiático, em particular a China e a Coréia do que são substituídas.
Sul, compete com os Estados Unidos pelo poder mun- As catástrofes diretamente políticas registram
dial. E, ao contrario do estadunidense, cresce de for- números aterradores. O mundo atinge a cifra de
ma dinâmica e não através da construção de um impé- mais de 1 bilhão de desnutridos - com um aumento
rio militar, a estratégia de crescimento estadunidense de 100 milhões somente em 2009. Holocausto pales-
continuada pelo presidente Obama. tino, mais de 100 mil mortos na guerra do Iraque,
Nesse cenário, Obama cria uma quarta frente de 90 civis mortos em um único dia na guerra do
batalha no Yemen, na “guerra contra o terror”. A Afeganistão, enormes cemitérios clandestinos e uso
China anuncia sua decisão de manter sua moeda vin- de fornos crematórios para desaparecer com o rastro
culada ao dólar americano, como mecanismo de pro- de pessoas assassinadas ou queimadas vivas na
moção de seu dinâmico setor de exportação, e a Colômbia, mais de 20 mil civis assassinados em qua-
Coréia do Sul ganha um contrato de milhões de dóla- tro semanas no norte do Sri Lanka na mais recente ofen-
res para o desenvolvimento de uma central nuclear de siva do exército contra a guerrilha separatista tâmil.
uso civil nos Emirados Árabes. E, enquanto a Casa São exemplos que caracterizam a recente conjuntura
Branca e o congresso norte americano subvencionam internacional.
o Estado militarista-colonial de Israel, o PIB da China Guernicas e Hyroshimas repetindo-se com velo-
multiplica por dez nos últimos 26 anos. Exemplos que cidades assustadoras. Trazem, como singularidade, a
caracterizam a nova realidade na grande divisão do passividade amortecida e descompromissada de todos
mundo e da sua reordenação. Os países de Ásia, lidera- os representantes da classe dominante. A quase totali-
dos pela China, alcançam o status de potências mundi- dade dos intelectuais e formadores de opinião se
ais através de grandes inversões nacionais e estrangei- calam, subjugados, domesticados e aprisionados,
ras na indústria manufatureira, de transporte, tecnolo- todos, pela lógica do capital, produtivista e alienante.
gia, mineração e processamento de minerais. Já os A barbárie reificada, racionalizada e aceita - não mais
Estados Unidos aparecem como uma potência mundi- como aterradora exceção, mas como exigência do nos-
al com graves sinais de declínio. so tempo. Mega shows, showmícios e ajudas pretensa-
O capitalismo chinês se fortalece seguindo as mente humanitárias substituem o enfretamento direto
regras de funcionamento inerentes ao sistema: explo- e a luta de classes explícita. Correlação de forças bas-
ração do trabalho, desigualdade de distribuição das tante desfavorável para aqueles que sonham e lutam
riquezas e do acesso aos serviços, empresas que extra- pela construção de uma sociedade comunista, sem clas-
em minerais e outros recursos naturais dos países sub- ses, justa e igualitária.
desenvolvidos sem maiores contemplações. Ao mes- Na trajetória histórica de lutas da classe trabalha-
mo tempo, cria milhões de empregos na indústria e dora, o fim da “Era de Ouro” do capitalismo e do
reduz os níveis de pobreza para um significativo núme- Estado de Bem Estar Social na década de 1970 provo-
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
caram uma nova fase de espoliação. As chamadas polí- to para depois dividir o bolo”, tão propagandeado por
ticas neoliberais, implementadas por Thatcher e Delfim Neto, ministro na época da ditadura militar bra-
Reagan, inauguraram a era da usurpação com o violen- sileira e agora consultor importante do governo Lula,
to arrocho salarial e a sistemática retirada dos direitos produziu aqui e em toda America Latina a redução agu-
mais elementares da classe trabalhadora – conquista- da das taxas de crescimento e de outros índices macro-
dos, sempre, através de lutas históricas e com derrama- econômicos, com todos os efeitos sociais que os acom-
mento do sangue. panham.
A última etapa do “breve século XX” foi marcada Na nova reconfiguração do capitalismo, o conti-
pelo fim do socialismo real na Europa, simbolizado e nente procura, de novo, seus caminhos. Caminhos desi-
festejado com a queda do Muro de Berlim em 1989. guais que retratam a real dimensão e diferença de pro-
Como resultado, um período de enorme e grave recuo jetos políticos para a região. Alan Garcia, que agora
da esquerda em escala mundial, terreno fértil para a leva ajuda humanitária ao Chile, promoveu há um ano
consolidação da hegemonia estadunidense. Inaugura- um dos mais sangrentos banhos de sangue no Peru.
se o mundo do pensamento único neoliberal: um só Uribe, que patrocina toda sorte de extermínios, trans-
modelo “globalizado” reproduzido em escala interna- forma a Colômbia numa base militar dos Estados
cional. Globaliza-se a absurda concentração da rique- Unidos. Do outro lado, todo um matiz de presidentes
za e de renda e a pobreza é generalizada. Sua aplicação que se auto-intitulam socialistas, como Lugo, Correa,
na America Latina põe fim aos modelos de Estados Morales, Chávez e Mujica. Em corrida solo, o presi-
desenvolvimentistas e dissemina a pobreza, fome, dente Lula - figura midiática e peça mais importante e
doenças e dilapidação dos recursos naturais. eficiente para a sobrevida do capital e da manutenção
O historiador Eric Hobsbawn, em 1994, aponta o das políticas e ideologia conservadora na America
nível que atingem as contradições capitalistas: "O futu- Latina. O presidente todo poderoso, emissário pacifi-
ro não pode ser uma continuação do passado e há sina- cador do Oriente Médio, já que tem inoculado o “vírus
is que chegamos a um ponto de crise histórica. As for- da paz”. O vírus da paz que aqui é disseminado da
ças geradas pela economia tecnocientífica são agora seguinte forma: criminalização de movimentos socia-
suficientes para destruir o meio ambiente, ou seja, as is, assassinatos em números crescentes de lideres sin-
fundações materiais da vida humana”. A certeza que a dicais e ativistas sociais e com violentas repressões aos
destruição e a barbárie se alastrariam celeremente, no movimentos estudantis, de professores e trabalhado-
entanto, não impediu a continuação do passado no res em geral.
século XXI. Ao contrário: a primeira década deste De maneira geral, a adoção do modelo neoliberal
século carrega e aprofunda a “continuação do passa- no continente aplica de forma igual o receituário eco-
do”. A intervenção militar estadunidense e brasileira nômico do FMI e determina a situação da classe traba-
no Haiti é apenas um dramático exemplo a ser registra- lhadora latino-americana: enxugamento do Estado via
do. privatização da saúde, educação, previdência, empre-
Na América Latina e Central a mesma dinâmica: a sas estatais, rodovias, etc., seguido da “flexibilização”
China assina acordos comerciais de bilhões de dólares das leis trabalhistas e adoção de políticas assistencia-
com a Venezuela, Brasil, Argentina, Chile, Peru e listas focalizadas. O resultado conhecido por todos nós
Bolívia e assim assegura seu acesso a fontes estratégi- é a crescente miserabilização das massas, escalada
cas de energia, recursos minerais e agrícolas. desenfreada da violência rumo à barbárie, lucros exor-
Washington, em estreita colaboração com o presidente bitantes para o capital financeiro e enorme concentra-
colombiano Uribe, aporta seis bilhões de dólares em ção de renda.
“ajuda” militar à Colômbia, ameaça a Venezuela Ao final da década de 1990, o neoliberalismo
obtendo a concessão de sete bases militares, apóia o começa a apresentar sinais de esgotamento, com que-
golpe militar em Honduras, promove a intervenção das na taxa de lucro da burguesia. O capitalismo, no
militar junto com o Brasil no Haiti e pressiona o Brasil entanto, não encontra nenhuma outra faceta para subs-
por seus vínculos com o Irã. tituir o neoliberalismo, e a saída para fazer frente às
Mais de 500 anos depois das conquistas espanho- quedas da taxa de lucro é justamente aprofundá-lo.
la e portuguesa, a América Latina ainda procura cami- Para aplicação desta política genocida, figuras emble-
nhos para sua real independência. Sua história colonial máticas das lutas contra as ditaduras e referências para
ainda se arrasta, marcada por todo tipo de desigualda- a esquerda ascendem ao poder.
des e dependências que se reproduzem e se aprofun- Emergem, como Lula, figuras necessárias para a
dam. Os últimos 25 anos de programas e reformas neo- aplicação e institucionalização do modelo neoliberal,
liberais, aplicadas rigorosamente no continente, enri- mais eficientes que os governos tradicionais da bur-
queceram as elites e destruíram países. O “crescimen- guesia exatamente por terem penetração nas classes
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
trabalhadoras e conseguirem, com mais facilidade, das relações de trabalho, via políticas de terceirizações
implementar os ataques necessários ao capital sem dar e de reformas trabalhista, administrativa, fiscal e tribu-
a respectiva visibilidade política ao aprofundamento tária, complementa a transferência e descentralização
das contradições no campo econômico, com o aumen- do Estado para instâncias locais, indivíduos e institui-
to da exploração. ções privadas, especialmente as organizações e corpo-
Neste quadro, necessariamente, temos de analisar rações religiosas e não-governamentais, aumentando
os governos de Morales e especialmente Hugo Chávez visivelmente a miserabilização das massas e a violên-
de forma diferenciada. Se certamente não são revolu- cia urbana e rural.
cionários, o que afirmam constantemente, represen- Como sabemos, a implantação inicial deste proje-
tam um processo diferenciado pelo fato de ascende- to no Brasil coube especialmente aos governos Collor
rem diante de processos de intensa mobilização da clas- e FHC. No momento em que o próprio neoliberalismo
se trabalhadora em seus países – o que os coloca em começa a apresentar sinais de desgaste, como já apon-
posição diferenciada, como reflexos institucionais, tamos anteriormente, cabe a um líder operário o apro-
mais recuados do ponto de vista político, do processo fundamento e institucionalização do projeto neolibe-
de lutas que se desenvolve. Hugo Chávez, que afirma ral brasileiro. Assim, o sujo papel de algoz da classe
sistematicamente que não é comunista nem marxista, trabalhadora cabe a um líder sindical carismático que,
professa um Socialismo do Século XXI, pautado pela por isto mesmo, consegue, de forma mais eficiente do
via institucional e centrado em reformas ainda capita- que qualquer representante clássico da burguesia,
listas, mas com medidas pontuais que favorecem a clas- implantar as reformas necessárias à sobrevida do capi-
se trabalhadora e ao povo, entendido no seu sentido tal com menor pressão enganando parte da classe tra-
mais amplo. balhadora e desmobilizando temporariamente o país.
Cabe à esquerda revolucionária, desta forma, Parte do proletariado, ainda submetida ideologi-
organizar-se para onerar o capital neste momento de camente ao capitalismo, depositava expectativas nas
debilidade, criando também as condições objetivas mudanças prometidas durante a campanha eleitoral
para sua desestabilização. Isso passa, sem dúvida, pela mesmo depois da constituição de um governo no qual
necessidade de construção de um programa classista banqueiros, empresários e latifundiários hegemoni-
para enfrentar a crise e, complementarmente, pela zam a linha política e o projeto apresentado era o pro-
necessidade de construção de alternativa de organiza- jeto da burguesia nacional e do FMI.
ção capaz de unificar a classe no combate ao capital – Sabemos todos que em períodos que o capitalis-
tarefas para as quais ainda estamos, a esquerda revolu- mo tem dificuldades de reprodução, a tendência é que
cionária como todo, debilitados. partidos com penetração nos sindicatos e que repre-
sentem a pequena burguesia assumam a centralidade
Conjuntura Nacional: Lula e o capitalismo do poder capitalista. É justamente por ter penetração
no Brasil junto ao proletariado e por não representar diretamen-
te nenhuma das duas classes fundamentais da socieda-
Luiz Inácio Lula da Silva é eleito presidente do de, a burguesia e o proletariado, que a sua atuação tem
Brasil num cenário de intensos ataques às conquistas o sentido de diluir e não dar visibilidade política à con-
dos trabalhadores e às suas organizações políticas e sin- tradição que se agudiza cada vez mais no campo eco-
dicais. A necessária implantação do projeto neoliberal nômico, reafirmando, desta forma, a subordinação do
para dar sobrevida ao capital é consequência direta de proletariado à ideologia dominante.
mais uma crise do capitalismo, quando a queda das
taxas de lucro do capital mundial obriga a burguesia a Transforma-se, assim, Luiz Inácio Lula da Silva
abandonar o modelo de Estado de Bem-Estar Social e numa eficiente e descartável marionete da burguesia e
adotar uma estratégia de intensificação da exploração do capital financeiro, que passeia em carruagens com
da mais-valia absoluta e relativa. Estratégia esta reis e rainhas e, sem o menor pudor e respeito com tan-
necessária para reprodutibilidade do sistema que tos companheiros mortos pelo sonho de construção de
impõe, mais uma vez, sacrifícios ao proletariado mun- um Brasil mais justo, chegou a chamar Bush de com-
dial e ao brasileiro. panheiro – e, mais do que isso, ainda hoje sustenta a
política internacional dos EUA: prova disso é o escan-
Sob eufemismos diversos, como “Racionalização daloso envio de tropas militares brasileiras para opri-
do Estado” e “Reestruturação Produtiva” implanta-se mir e sustentar a exploração do povo haitiano e dar
o projeto neoliberal, com o "enxugamento" das empre- suporte à invasão dos EUA ao Iraque, que demonstra
sas públicas e privadas, programas de demissões agora, depois do terremoto de janeiro, ainda mais cla-
voluntárias e privatizações que produziram desempre- ramente seu papel de servir aos interesses do grande
go em massa a nível mundial. A desregulamentação capital e defender a propriedade privada. Certamente a
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
história está repleta de exemplos semelhantes. Mas resultado dos programas assistencialistas, do apoio do
esta é a nossa história e cabe a nós, vanguarda da capital financeiro com lucros sempre crescentes e o
esquerda brasileira, retomar a construção de um proje- bom desempenho da economia na ótica burguesa.
to de independência da classe trabalhadora. De toda forma, observa-se que no segundo man-
A política desenvolvida por Lula e pelo PT repre- dato o governo já apresentou uma dificuldade maior
senta e representava, desde seu início, uma continua- para implementar suas reformas e a política neoliberal
ção das políticas burguesas desenvolvidas no país. como um todo. Depois de fortalecer-se no ano da ree-
Este eficaz comitê gestor da economia e da política bur- leição (quando freou alguns de seus ataques e mobili-
guesas tem como uma das suas especificidades históri- zou mesmo parte da esquerda que já não acreditava
cas o fato de se encontrar ancorado em um líder sindi- mais no projeto do PT com a falsa polarização com a
cal como presidente e em um partido e entidades (PT, direita tradicional representada pelo PSDB), o gover-
CUT, UNE) que, de uma forma ou de outra, detinham no volta a atacar logo no primeiro ano do segundo man-
significativo poder de representação, dificultando dato e encontra uma resistência já mais organizada por
enormemente a retomada das lutas contra as reformas parte da esquerda. Ainda que tal resistência não tenha
neoliberais e o trabalho de reorganização partidária, sido capaz de barrar objetivamente muitos dos aspec-
sindical e estudantil no campo da esquerda. tos da política do governo Lula, o enfrentamento se
Assim, durante o primeiro mandato de Lula deu em níveis superiores, colocando maiores obstácu-
observamos que, mais cedo do que se esperava, o cará- los aos ataques neoliberais e refletindo o avanço do pro-
ter de agente da dominação capitalista do governo cesso de reorganização da esquerda brasileira.
Luiz Inácio Lula da Silva veio à tona. A aprovação da
primeira parte da Reforma da Previdência logo no pri- A necessidade de uma resposta classista à cri-
meiro ano de mandato e o início das demais reformas se
(Universitária, Sindical e Trabalhista) demonstrou a
maior facilidade de Lula implementar os ataques à clas- Ao final do segundo mandato, especialmente no
se trabalhadora. Ao mesmo tempo, esse processo inici- final de 2009, o governo constrói um novo momento
ou um desgaste do governo junto aos setores organiza- de fortalecimento conjuntural. Depois de, no final de
dos dos movimentos proletário e estudantil. 2008 e especialmente no primeiro semestre de 2009,
os efeitos da crise terem atingido em cheio o Brasil e
Neste período, surgiram mobilizações em todo o provocarem uma onde de demissões, reduções nos
país para enfrentar as reformas que foram dificultadas salários, cortes nos orçamentos dos serviços públicos
por fatores importantes como o aprofundamento, cau- como saúde e educação e ataques aos direitos dos tra-
sado pelo governo Lula, do refluxo dos movimentos balhadores, a retomada da economia capitalista que se
proletário e estudantil, a presença da “esquerda do PT” configura a partir do segundo semestre de 2009 é alar-
no interior das mobilizações, que impedia que a luta deada pelo governo como a confirmação do discurso
contra as reformas do governo se chocasse contra o de Lula de que a crise no Brasil seria “apenas uma
mesmo – atuando como “quinta coluna” do governo – marolinha” e que o país seria “o último a entrar e o pri-
e, certamente, o total alinhamento e apoio da CUT ao meiro a sair” da crise. Os ataques aos trabalhadores
governo Lula. para sustentar o repasse de milhões do dinheiro públi-
Desta forma, se inicia um processo de reorganiza- co para salvar empresários e banqueiros são escamote-
ção dos movimentos operário e estudantil, mas os ata- ados e Lula aparece como o grande responsável pela
ques do governo são implementados com relativa faci- façanha de “salvar o país da crise”. Nas palavras de
lidade. Os escândalos de corrupção que atingiram o PT Obama, Lula é “o cara” – sob a ótica, é claro, dos inte-
e a alta cúpula do governo foram, sem dúvida, mais um resses do capitalismo mundial.
elemento para desgastá-lo, em que pese que a figura do Obviamente, sabemos que, diferentemente do
presidente conseguiu sair sem maiores arranhões do que alardeia a grande mídia e o governo, a crise não
processo. acabou. Se analisarmos a retomada do setor produtivo
No primeiro ano do segundo mandato do governo no final do ano passado, veremos que, sustentada por
Lula, tais denúncias tornam-se rotina, demonstrando subsídios públicos e isenções fiscais, a produção
mais uma vez e claramente a deterioração do PT e a aumenta sem ser acompanha pelo aumento dos empre-
conivência e apoio da CUT a toda política neoliberal, gos extintos durante o período mais agudo da crise –
incluída aí a corrupção como uma de suas manifesta- ou seja, a retomada se fez com superexploração dos tra-
ções. Em rápidos e sucessivos intervalos ocorrem balhadores. Dados da Federação das Indústrias do
denúncias, crise, apreensão no poder e rápidas recupe- Estado de São Paulo demonstram que a perspectiva
rações. A aceitação do governo se mantém em alta, dos empresários é aumentar a produção em 15% neste
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
primeiro semestre de 2010. Os mesmos empresários, implementados por esse mesmo governo. Esse ele-
no entanto, prevêem aumento de 3,9% no número de mento é, precisamente, o caráter das lutas que foram
empregos. A análise conforma, portanto, que a econo- construídas durante o período mais agudo da crise,
mia ainda enfrenta profundas dificuldades e que se ala- cujo conteúdo foi incapaz de contribuir para a denún-
vanca somente às custas da exploração cada vez maior cia concreta dos ataques do governo e, mais do que
da classe trabalhadora. Somam-se a isso os já analisa- isso, ajudou a fortalecê-lo. Nos referimos aqui à opção
dos dados que demonstram o início de um novo ciclo feita pelos setores majoritários da esquerda anti-
de aprofundamento da crise, dessa vez começando governista, PSTU e PSOL.
pelos países europeus, que já afeta a economia mundi- Essa opção, ancorada numa avaliação catastrofis-
al e certamente terá reflexos no Brasil. ta e pouco científica da crise, que identificava o pro-
No entanto, uma avaliação comprometida e apro- cesso como tão arrebatador a ponto de impossibilitar
fundada da conjuntura nacional, dos reflexos da crise e uma reação da burguesia dentro dos marcos do capita-
do fortalecimento do governo Lula não pode ignorar lismo, julgou que bastava a realização de manifesta-
um elemento fundamental para a composição do atual ções amplas contra a crise para que o governo e seus
cenário: o papel das lutas da classe trabalhadora nesse planos fossem consequentemente desmascarados.
período. Se defendemos que a sociedade capitalista é Objetivamente, isso significou um retrocesso das pau-
marcada e movida pelo conflito de interesses entre tra- tas dessas próprias organizações (e da linha que imple-
balhadores e burgueses e que, portanto, o nível de avan- mentaram no movimento) à já superada – e por elas
ço da luta de classes é que determina qual dos dois mesmas criticada – política estritamente centrada em
pólos fundamentais da contradição do capitalismo – exigências ao governo para que “se colocasse ao lado
burguesia ou proletariado – sai fortalecido de determi- dos trabalhadores” e editasse medidas que restringis-
nada conjuntura, chegaremos rapidamente à conclu- sem os efeitos da crise sobre a classe trabalhadora.
são de que, ao constatarmos um cenário de ataques da Esperavam, certamente, que a crise avançasse
burguesia e retomada da produção através do aumento desenfreadamente, que Lula fosse incapaz de orientar
da exploração, isso só foi possível diante da fragilida- uma reação da economia capitalista e que as suas “exi-
de da classe trabalhadora para contrapor-se a esse pro- gências”, ao não serem atendidas, demonstrassem aos
jeto. trabalhadores o caráter do governo e seu comprometi-
Certamente, a compreensão desse fator deve mento com os interesses dos grandes empresários e
levar em consideração o período de refluxo dos movi- banqueiros. Desenrolaram-se, então, inúmeras mani-
mentos sociais de todo o mundo, sustentado pela con- festações que denunciavam abstratamente “os ricos”,
solidação política, econômica e ideológica do neolibe- “os empresários”, ignorando o governo que os repre-
ralismo – que implica no afastamento da classe traba- senta, e que pediam que Lula ajudasse os trabalhado-
lhadora dos projetos coletivos, a exacerbação do indi- res. A pauta, perfeitamente compatível com os interes-
vidualismo capitalista e a configuração do pensamen- ses das entidades que representam o governo dentro do
to único neoliberal através das perspectivas do “fim da movimento social – CUT, UNE, CTB e outras -, foi por
história”. No Brasil, a esse cenário geral somam-se as elas defendida em manifestações “unitárias”, com o
especificidades do governo Lula que, como dissemos, claro intuito de fazer Lula passar incólume por esse
consegue estabelecer logo após a sua eleição um perío- processo.
do de paralisia nas mobilizações da classe trabalhado- E qual o resultado disso? A avaliação catastrofista
ra, ancorado em sua identificação ideológica com os não se confirmou, o governo conseguiu – amparado
setores explorados e em seus sustentáculos no seio do pelo amplo crescimento econômico dos anos anterio-
movimento social. res - dirigir uma recuperação parcial da crise nos mol-
Esses fatores, sem dúvida, explicam a dificuldade des clássicos do capitalismo e a pauta rebaixada da
de construção de mobilizações e iniciativas de luta esquerda se mostrou, concretamente, incapaz de res-
independentes da classe trabalhadora no atual período, ponder às tarefas impostas pela conjuntura. Longe de
ainda débeis para barrar ataques da magnitude dos ser “inevitavelmente desmascarado”, Lula saiu mais
implementados pela burguesia durante a crise. No fortalecido do que nunca do primeiro período mais agu-
entanto, há ainda um outro importante elemento que, do da crise, aplicando com muita facilidade mais e
somado aos expostos anteriormente, é fundamental mais ataques aos trabalhadores.
para compreender a debilidade da resistência dos tra- Durante todo esse processo, defendemos em
balhadores aos efeitos da crise e o processo que teve todos os espaços a necessidade de construção de mobi-
com o principal resultado o fortalecimento da figura de lizações avançadas, classistas, que denunciassem o
Lula como “salvador” do país, expressando a incapa- papel do governo, não depositassem mais esperanças
cidade da esquerda de denunciar e resistir aos ataques de que ele se colocasse ao lado dos trabalhadores e que
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
fossem ancoradas em pautas concretas de reivindica- É daí, pois, que surge a reorganização no movi-
ção, sustentadas por lutas capazes de forçar o atendi- mento sindical: da urgência pela construção de uma
mento a tais pautas e, assim, avançar nas conquistas nova ferramenta, capaz de organizar e impulsionar a
dos trabalhadores. Nesse momento, julgamos funda- luta dos trabalhadores a partir do marco da indepen-
mental que a esquerda faça um balanço sério e conse- dência de classe e, também, da necessidade histórica
quente desse processo de lutas, para que tire deles as de se derrotar a CUT, assim como o governo, para
necessárias lições para a construção das lutas futuras. fazer avançar a luta de classes no país.
Ora, se o grande diferencial do governo Lula, que
A falência da CUT e o processo de reorgani- o faz mais eficiente para a implementação do neolibe-
zação ralismo que os governos tradicionais da burguesia, é
justamente o fato de ser um representante ideológico
Para pensarmos no processo de reorganização da da classe trabalhadora e de ter sustentação no seio do
classe trabalhadora e o caminho em direção à constru- movimento operário, está claro que a derrota do gover-
ção de uma nova central para os trabalhadores, é preci- no e suas políticas passa, necessariamente, pela derro-
so que entendamos o significado político da conversão ta da CUT. É justamente por isso que o debate de reor-
da CUT em aparato do governo e que tipo de tarefa isso ganização não pode ser visto como algo secundário,
coloca para as nossas lutas. A falência da CUT deve, reduzido à disputa de direção do movimento, feito ape-
necessariamente, ser analisada em conjunto com a nas no campo da propaganda e do qual podemos abrir
transformação do PT num partido parlamentar bur- mão em qualquer momento.
guês e com o papel que ambos cumpriram na implanta-
ção das políticas neoliberais no Brasil. Adotar uma aná- Não. O debate da reorganização passa, necessari-
lise isolada é erro metodológico estranho ao marxismo amente, pela definição do caráter e do conteúdo das
e certamente só interessa àqueles que precisam apre- lutas que a classe trabalhadora deve travar contra o
sentar meias verdades e fragmentar a realidade para capital, o neoliberalismo e seus agentes. Ou levamos
encobrir e defender o indefensável: a traição da CUT, as mobilizações às suas últimas consequências, fazen-
do PT e do governo Lula à classe trabalhadora brasilei- do com que se choquem com o governo e seus apêndi-
ra, latino-americana e mundial. ces, ou estaremos nos furtando a responder às tarefas
centrais colocadas hoje pela conjuntura, quer sejam: a
A traição do PT, do governo Lula e de seus princi- desconstrução de Lula enquanto representante ideoló-
pais órgãos de sustentação – a CUT e a UNE – fecha gico da classe trabalhadora e a destruição da CUT para
um ciclo da história brasileira iniciado no começo da que, no fogo da luta, se construa uma alternativa inde-
década de 1980, momento de ascensão dos movimen- pendente e classista para o proletariado brasileiro.
tos proletários que se libertavam das amarras da dita-
dura militar instalada em 1964 e que coincide com a
derrota do socialismo real e com o processo de conso- Balanço da experiência da Conlutas
lidação mundial do neoliberalismo. A criação da Conlutas em 2004, em Encontro
A história do PT, porque recente, todos conhece- Nacional amplamente vitorioso, foi um marco decisi-
mos: sua transformação de um partido de esquerda em vo para a reorganização da esquerda brasileira, que em
um partido burguês a serviço do capital ocorre em con- grande medida possibilitou a reorganização dos movi-
junto com sua opção por privilegiar a via parlamentar, mentos sindicais e sociais, a retomada das lutas e o
com sua degradação, com o cerceamento da disputa enfrentamento com o governo Lula. A Conlutas, assim
política e com o uso crescente da máquina do partido que criada, constituiu-se como opção frente à falência
para o fortalecimento do campo majoritário. das entidades tradicionais do movimento e desempe-
Com o ascenso do governo Lula, a CUT se con- nhou um papel de vanguarda no combate ao governo
verte em um legítimo aparato governista, funcionando Lula e suas políticas, papel este indispensável para a
como o braço sindical de Lula e da burguesia. Mais do reorganização do movimento e para a retomada da
que uma simples entidade incapaz de tocar a luta, a lutas de massas.
CUT tem o papel de atuar no movimento contra a luta Tratamos, aqui, de um período em que não existe
dos trabalhadores, legitimando o governo e sua políti- mais uma referência nem um projeto, onde o velho não
ca neoliberal. Ou seja, freia as mobilizações, impede serve mais, e que, por isso, abre espaço para o surgi-
que se choquem com o governo e seus aliados e defen- mento do novo. Mas este novo ainda está para ser cria-
de a retirada de direitos dos trabalhadores. A CUT, por- do – e só o será sobre os escombros do velho! É justa-
tanto, é o grande diferencial do governo Lula, o que o mente quando tratamos da necessidade de construção
permite avançar na implementação da agenda neolibe- do novo que devemos estar atentos às tarefas que a
ral, seu elemento de sustentação. esquerda como um todo precisa cumprir neste
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
momento de reorganização. Isso significa que este pro- sos inimigos de classe – de esconder todas as pautas
cesso deve se desenvolver – e só assim será vitorioso – políticas que atingissem o governo Lula? Uma suposta
a partir de uma caracterização precisa do estágio em “disputa das bases” destes setores?
que se encontram as lutas de classe a níveis mundial e É preciso, aqui, que façamos um sério e profundo
nacional, do nível de organicidade em que se encontra debate sobre os marcos para a construção da unidade.
a classe trabalhadora, sobre quais são e, principalmen- De nosso ponto de vista, a unidade só é possível quan-
te, por onde passam suas possibilidades de avanço. do o movimento é capaz de identificar objetivos
No primeiro Congresso da Conlutas, realizado comuns e traçar ações unificadas para alcançá-los.
em 2008, era exatamente esse o desafio que estava Para além disso, se trata de nada mais do que “a viola-
colocado: a sua consolidação como alternativa concre- ção da unidade sob os gritos da unidade”, já apontada
ta para a classe trabalhadora brasileira, capaz de orga- por Lênin – trata-se, assim, da ruptura da unidade real
nizar e impulsionar suas lutas contra o governo e seus da classe trabalhadora contra seu inimigo de classe em
sustentáculos dentro do movimento social. Para tal, prol da construção da “unidade” impossível, sem pau-
era preciso que se tornasse uma entidade com mais ta política, que se traduz, pura e simplesmente, como
organicidade, que avançasse do ponto de vista organi- conciliação.
zativo, na construção privilegiada de fóruns de base e Conciliação porque, para construir tal “unidade”,
na preocupação permanente no combate à burocratiza- é necessário simplesmente ignorar a identificação de
ção. um objetivo comum. Se nosso inimigo é o governo
No entanto, o Congresso pouco avançou nesses Lula e nosso objetivo é derrotá-lo, não poderemos, em
temas e centrou-se, por opção do setor majoritário da momento algum – a não ser que queiramos abandonar
Conlutas, o PSTU, na agitação esvaziada da constru- tal objetivo em favor da conciliação - deixar de enfren-
ção da “unidade” o, que inclusive, serviu para impedir tá-lo para podermos construir “unidade” com aqueles
que o Congresso aprovasse um plano concreto de lutas que traíram a classe trabalhadora e querem exatamente
sob a desculpa que isso afastaria “os que não estavam o oposto de nós: defendê-lo, consolidá-lo como refe-
lá”. Uma forma, sem dúvida, de esvaziar a Conlutas rência para a classe trabalhadora e garantir a imple-
como alternativa e instrumento de lutas. Do ponto de mentação dos ataques neoliberais. Esta é a contradição
vista do caráter e conteúdo das lutas a serem travadas, central da conjuntura hoje, e é ela que deve nortear os
há também um grande debate a ser feito. marcos da construção da unidade.
Apontávamos, desde o surgimento da Conlutas, como Sobre a disputa das bases das entidades governis-
maior equívoco político, a proposta de construção de tas, estamos certos de que só iremos trazer para o nosso
uma unidade em marcos rebaixados com setores da lado a gama de trabalhadores e trabalhadoras que hoje
CUT, da UNE e do PT. ainda estão nas fileiras da CUT quando formos incisi-
Os chamamentos a unidades dissolvidas que pro- vos no combate às políticas da central, e jamais ao
liferaram e uma incorreta “paciência”, que nada tem reproduzi-las. Ou por acaso a classe iria compreender
de revolucionária, foram erros sistematicamente apon- a necessidade de abandonar a CUT e construir a
tados por nós neste período. Sabemos que a história Conlutas enquanto a última fazia exatamente a mesma
não pára, qual o correto papel da vanguarda e sabemos política que a primeira? É, pois, no combate à CUT e
todos que, em política, falta de clareza e indecisão sem- ao governo e consolidando uma alternativa completa-
pre estão a serviço de objetivos conciliadores que aca- mente diferente na política e na forma que conseguire-
bam por fortalecer sempre a ideologia dominante. mos fazer avançar a consciência de tais trabalhadores.
É dessa análise que devemos partir para estabele- Cabe ressaltar que aqui não nos referimos aos atos
cer nossa relação com os aparatos burgueses e gover- por pautas objetivas e concretas que por ventura, por
nistas encastelados no movimento social do país e para conta de suas pressões e contradições internas, a CUT
entender a opção feita pela Conlutas. Já identificamos vier a participar. Uma luta por reajustes salariais num
o diferencial do governo, o papel que cumprem as enti- sindicato, por melhores condições de trabalho, ou, até
dades tradicionais para sua sustentação e para o com- mesmo, contra uma política específica do governo
bate ao movimento independente e classista. para a qual consigamos construir uma pauta coerente
Identificamos, a partir daí, a necessidade de derrotá- com as demandas da luta. Obviamente, não deixare-
las, junto ao governo, como condição fundamental mos de participar de tais mobilizações. Obviamente,
para o avanço das lutas de classe e da consciência do também, que o faremos com um conteúdo completa-
proletariado brasileiro. O que justificaria, então, a mente diverso do defendido pela Central, que leve a
opção prioritária da Conlutas pela construção de atos luta às suas últimas conseqüências, aponte o caráter do
unificados com tais entidades, que só foram possíveis governo como um todo, e, inclusive, denuncie o papel
a partir da aceitação da condição – imposta pelos nos- da entidade para frear o avanço das mobilizações – tra-
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
zendo, assim, o debate da reorganização e da constru- redução de todo esse debate a uma perspectiva forma-
ção de alternativas de classe para o dia-a-dia das lutas. lista e de disputa de direção travestida sob a discussão
Sobre questionarmos os atos em unidade com o do “caráter” da nova central. Sem dúvida alguma, é
governismo, nos referimos, isso sim, aos atos DE muito importante discutir como e com quem essa cen-
PROPAGANDA, sem reivindicações concretas, cons- tral irá se construir, mas insistimos que esse debate só
truídos pelo setor majoritário da Conlutas em conjunto pode ser feito com coerência se partir de uma profunda
com a CUT ao longo dos últimos anos e que, como dis- análise de conjuntura, da avaliação das lutas dos traba-
semos, foram incapazes de responder às tarefas impos- lhadores, do nível de unificação e dispersão entre os
tas pela conjuntura. Acreditamos que esse debate equi- setores oprimidos e de uma caracterização científica a
vocado sobre o método e o conteúdo da construção da respeito dos melhores caminhos a seguir para alavan-
unidade foi um dos fatores determinantes para que a car os processos de luta com a construção de novos ins-
Conlutas não respondesse aos desafios que estavam trumentos. Tudo isso só faz sentido se for casado a um
colocados para sua consolidação como alternativa debate de programa e estratégia desse instrumento, hie-
para os trabalhadores e, inclusive, conduzisse de mane- rarquizado pelos interesses históricos da classe traba-
ira superficial e insuficiente o debate sobre a fusão lhadora.
com a Intersindical e, posteriormente, a construção de Mas o que assistimos foi um desalentador reduci-
uma nova central. onismo ao debate sobre a entrada ou não de estudantes
e movimentos populares na central que, além de tudo,
ignorava os elementos fundamentais que deveriam nor-
A construção de uma nova central tear, somada à discussão programática, a decisão sobre
Esse debate sobre o método, o conteúdo, o pro- a composição do novo instrumento. Chegamos ao limi-
grama e as perspectivas dos instrumentos da reorgani- te de reduzir o debate sobre se os estudantes “são ou
zação se faz essencial no atual momento, em que dis- não de luta”, se “são ou não os patrões de amanhã”,
cutimos a construção de uma nova central para os tra- num festival simplista que ignora o imperativo debate
balhadores no Congresso da Classe Trabalhadora. O a ser feito. Insistimos: o debate fundamental a ser feito
tema surge fundamentalmente impulsionado pelos para a construção da nova central é o de programa e
setores majoritários da Conlutas e da Intersindical, estratégia. A partir daí e hierarquizado por isso, o deba-
agregando novos atores ao processo. te sobre o caráter precisa se dar em outros marcos que
Estamos certos de que a construção da unidade superem o senso comum e discutam a forma do novo
entre todos aqueles que querem lutar contra o governo instrumento a serviço das tarefas da classe trabalhado-
e suas políticas é uma necessidade para o avanço das ra na atual conjuntura.
lutas de classe, e que a consolidação de uma entidade
sindical passará pelo sucesso em construir tal unidade. Programa e estratégia da nova central
Para nós, que participamos desde o início do processo
de construção da Conlutas, não se trata, portanto, de Acreditamos que todo o debate de programa da
um debate de “paternidade” sobre a ferramenta que nova central passa pelos elementos que expusemos
queremos construir. anteriormente: a avaliação da conjuntura internacio-
nal, do desenrolar da crise capitalista, a análise da con-
O que devemos ressaltar, sobre esse aspecto, é, juntura nacional, dos diferenciais do governo Lula, do
em primeiro lugar, o conteúdo dos debates que devem papel que cumprem as entidades que o sustentam no
ser feitos para a construção de uma nova alternativa. movimento social, do impacto da crise no país e das
Acreditamos firmemente que uma alternativa superior consequências para os trabalhadores, da retomada da
só pode ser construída a partir de um balanço profundo produção capitalista às custas da superexploração, do
de todas as experiências da reorganização e, mais do fortalecimento conjuntural de Lula e da insuficiência
que isso, de uma análise rigorosa da realidade na qual das lutas construídas até aqui pela classe trabalhadora,
queremos intervir. Precisamos pensar profundamente com destaque para os equívocos programáticos come-
no momento histórico em que vivemos, no nível de tidos pela esquerda anti-governista em suas mobiliza-
avanço ou retrocesso das lutas de classe e nas tarefas ções.
que esse momento nos coloca para a construção de
uma alternativa. Todos esses elementos, quando profundamente
analisados, nos demonstram a necessidade de constru-
Mas assistimos, lamentavelmente e com muita ção da nova central a partir de um programa classista,
preocupação – especialmente no Seminário da que coloque em primeiro lugar as lutas dos trabalhado-
Reorganização, realizado em São Paulo em novembro res em seu enfrentamento aos ataques do capital. Mas
do ano passado e que deliberou pela realização do isso não pode, de maneira nenhuma, significar a ado-
Congresso Nacional da Classe Trabalhadora – a uma
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
ção de um programa vago, abstrato, que coloque o capi- de 2006, que apontavam claramente para a ruptura
tal como um fantasma que paira sobre nós sem cara e com a CUT. Significaria, assim, mais uma conciliação,
sem nome. mais uma diluição, mais uma negação em responder
Pelo contrário, só construiremos um programa aos desafios colocados para a esquerda brasileira –
verdadeiramente classista se formos capazes de tradu- política contra a qual nos colocamos frontalmente.
zir objetivamente esses princípios para a conjuntura Estamos dispostos a construir em conjunto com
em que atuamos e identificarmos, concretamente, todos os trabalhadores e trabalhadoras uma alternativa
quem são os responsáveis pela implantação, manuten- de classe para o proletariado, um instrumento capaz de
ção e aprofundamento dos interesses capitalistas e ata- unificar suas lutas e cumprir as tarefas históricas que
ques aos trabalhadores no atual momento. Isso signifi- se colocam para nós. E, para isso, é necessário avan-
ca que um programa classista, hoje, só pode ser um pro- çarmos, e jamais retrocedermos, diante do que já cons-
grama anti-capitalista e anti-governista. truímos com muitas lutas até hoje, em direção à eman-
Cabe ressaltar, mais uma vez, que um programa cipação do proletariado e à superação revolucionária
com princípios anti-governistas não se concretiza ape- do capital.
nas com palavras de ordens, panfletos e cartazes que
denunciem o governo Lula/PT. Isso deve ser princípio O caráter da nova central
norteador para a construção da luta concreta, diária,
para a construção de mobilizações e pautas de reivin- Hierarquizada pelo debate programático, a dis-
dicação. Isso significa que a cada luta, responderemos cussão sobre o caráter da nova central deve estar sus-
com a pauta mais consequente para as necessidades tentada, igualmente, por uma profunda análise da con-
dos trabalhadores, e não a rebaixaremos por imposição juntura e das tarefas que nos coloca. Para tal, não nos
dos segmentos comprometidos com o governo. Isso serve avaliar a conjuntura tal qual queríamos que ela
significa que, programaticamente, entendemos a des- fosse, tal qual queremos que seja a curto ou médio pra-
construção do governo Lula e seus aparatos no movi- zo. Isso, obviamente, é também importante – mas ape-
mento social como representantes da classe trabalha- nas se combinado com a avaliação concreta da situa-
dora uma condição para avançar no nível de consciên- ção concreta, pois é daí que retiraremos nossas tarefas
cia dos trabalhadores, na percepção dos ataques que imediatas, tanto do ponto de vista político como orga-
sofrem e na conquista de suas reivindicações mais ime- nizativo. Isso significa que, para que a nova central pos-
diatas. sa cumprir seu papel na reorganização do movimento
sindical brasileiro, precisamos ter clareza que ainda
Portanto, um debate importante do ponto de vista não vivemos um momento de unificação das lutas de
programático, para nós que construímos a Conlutas e classe no país. Esse é o desejo de todos os lutadores e
que nos dispomos aqui a construir uma nova central, é lutadoras da esquerda brasileira, mas apenas isso não
entender as debilidades das atuais ferramentas, que basta.
não podem ser repetidas e precisam ser avaliadas e
superadas nesse novo processo. Já discutimos as debi- É justamente porque queremos que as lutas de
lidades da Conlutas no balanço de sua experiência, e classe se unifiquem no próximo período que precisa-
aqui queremos chamar a atenção para o fato de que a mos impulsionar esse processo a partir do que temos
Intersindical se torna débil para responder as tarefas de de concreto, hoje, na conjuntura, e não tentar unificá-
reorganização do movimento sindical por aglutinar las artificialmente – o que só faz o processo retroceder.
uma série de setores cutistas e, assim, estar impedida Este é um debate fundamental do ponto de vista orga-
de consolidar uma alternativa independente e classis- nizativo e também político para a nova central, e é nes-
ta. Não vamos nos repetir aqui sobre o papel da CUT e te sentido que não acreditamos que possam contribuir
a necessidade de romper com a central, mas está claro com o avanço da luta as propostas de transformá-la em
que a construção de uma ferramenta que esteja à altura algo parecido como um “soviet”, numa conjuntura em
de cumprir seu papel histórico passa, necessariamente, que a unificação das lutas ainda não está colocada.
pelo abandono e destruição da CUT como referência É por isso que apontamos a necessidade de uma
para o proletariado, e não pela “coexistência pacífica” nova central sindical de trabalhadores e de uma nova
com a central traidora. entidade de representação dos estudantes, já que iden-
Neste sentido, mantidos esses marcos, a constru- tificação de classe se dá por um entendimento real dos
ção da nova central significaria um enorme retrocesso trabalhadores sobre o papel que representam nas rela-
na construção do novo instrumento da classe trabalha- ções de produção. Defendemos, obviamente, que tra-
dora brasileira. Significaria não apenas um, mas vários balhadores e estudantes atuem em unidade contra o
passos atrás no que se refere ao que a Conlutas foi, no capital, resgatando a herança da unidade operária-
que construiu desde 2004 e nas deliberações do Conat estudantil. Defendemos, igualmente, a realização de
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
fóruns amplos, que reúnam o movimento sindical, soci- is; entre outros.
al e estudantil para a avaliação e organização de lutas
conjuntas. Defendemos, objetivamente, que os estu-
dantes e movimentos populares possam, organizados Concepção e estrutura sindical: o funciona-
em suas próprias ferramentas específicas (cuja tarefa mento da nova central
de construção está igualmente colocada), participar e Finalizamos apresentando alguns elementos fun-
intervir no processo de construção da nova central em damentais para a garantia do caráter de classe da nova
pontos que digam respeito às suas pautas unitárias. O central a ser construída pelos trabalhadores.
movimento sindical deve possuir uma central forte, Acreditamos que a forma da organização precisa cor-
consolidada e que possa, em seus fóruns, estabelecer responder e materializar todos os elementos progra-
espaços de discussão dos temas conjuntos com o movi- máticos e as propostas políticas por ela defendidas.
mento estudantil e popular. Mas isso não quer dizer Por isso, o debate da estrutura sindical precisa também
que o caráter dessa central não seja sindical e que os levar em conta toda a experiência e fazer um balanço
espaços para a discussão profunda das pautas e deman- da burocratização do projeto do “novo sindicalismo”,
das da unificação do movimento sindical não tenha que tem como expressão máxima a CUT. É importante
que ser garantido. lembrar que o processo de burocratização da CUT e
Essa participação dos demais segmentos nos muitos de seus sindicatos se gestou e consolidou mes-
fóruns da central não pode substituir a construção de mo antes da eleição do governo Lula. Isso, obviamen-
organizações de classe e categoria, capazes de atender te, está relacionado às opções políticas e programáti-
às necessidades específicas de cada movimento e, cas feitas pelo setor majoritário da Central que, justa-
assim, fazer avançar o nível de consciência da classe mente por adotar posições que iam de encontro aos
trabalhadora e da juventude no fogo de suas lutas, interesses dos trabalhadores e apontavam para a conci-
rumo a uma real unificação do movimento. Se ignorar- liação com o capital, exigiam, para ser implementadas,
mos tal tarefa e tentarmos, artificialmente, unificar as a restrição da participação direta e do controle dos tra-
lutas de classe apenas pela nossa vontade, à revelia da balhadores sobre a máquina sindical.
conjuntura, estaremos construindo uma ferramenta Mas há que se ficar atento e ter-se a clareza de que
superestrutural, na qual as necessidades específicas não há fórmula mágica contra a burocratização. Se é
dos trabalhadores e da juventude serão objetivamente evidente que a identificação dos sindicatos e da nova
relegadas a segundo plano, assim como o avanço de central com as lutas e interesses dos trabalhadores é
suas consciências. condição fundamental para evitar a burocratização,
também não podemos abrir mão de mecanismos e ins-
trumentos que assegurem a mais ampla participação e
Plano de Lutas controle dos trabalhadores sobre suas entidades. Isso
Diante da conjuntura analisada, é igualmente fun- significa fortalecer fóruns de base, garantir participa-
damental que possamos sair do Congresso Nacional ção em todos os organismos e valorizar as representa-
da Classe Trabalhadora com um instrumento forte pro- ções diretas dos trabalhadores.
gramática e estrategicamente, e também munido de Por isso, defendemos que o Congresso Nacional
um plano de lutas concreto para orientar as lutas do da Classe Trabalhadora deve eleger uma coordenação
segundo semestre de 2010. para a nova central, composta pelos sindicatos da clas-
Apresentamos, então, alguns pontos que julga- se trabalhadora. Os sindicatos devem enviar suas
mos fundamentais para esse plano de lutas: representações diretamente à coordenação, e essas
* contra as reformas neoliberais do governo representações devem ser eleitas ou indicadas em
Lula/PT, defender todos os direitos; fóruns de base de cada uma das entidades. A coordena-
ção da nova central deve realizar amplas reuniões naci-
* mais verbas para saúde, educação, políticas de onais a cada dois meses e, além de encaminhar as ativi-
trabalho, moradia e transporte públicos; dades da central, planos de lutas e ações, deve se ocu-
* reestatização das empresas privatizadas; reesta- par da construção do primeiro congresso da nova cen-
tização da Petrobrás, petróleo 100% estatal; tral, que elegerá sua direção.
* participação ativa nas campanhas salariais das
diversas categoriais, defendendo os direitos e salários Resoluções:
dos trabalhadores;
Programa e estratégia da nova central
* pelo fim do superávit primário e pelo rompi-
mento com o FMI; O Congresso Nacional da Classe Trabalhadora
resolve:
* contra a criminalização dos movimentos socia-
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
A Intifada palestina, a resistência iraquiana e afe- polêmica nos meios acadêmicos e na própria mídia de
gã concentram o enfrentamento contra o imperialis- uma maneira geral: debateu-se acerca do final ou não
mo, independente do caráter de suas direções e dos da crise capitalista, ou mais precisamente do crash
métodos utilizados. Querer taxar os heróicos resisten- financeiro instalado em setembro de 2008. A esquerda
tes iraquianos, afegãos e palestinos de terroristas como revisionista, que no início de 2009 tinha prognosticado
faz a esmagadora maioria da esquerda mundial, refém a hecatombe final do capitalismo, como produto de
da opinião pública pequeno-burguesa, é colocar-se sua própria impotência política em galvanizar as mas-
objetivamente no campo militar do imperialismo. sas na perspectiva revolucionária do poder, logo abra-
Nessa batalha, os revolucionários estão incondi- çou a “doce” tese de que o final da crise não passaria de
cionalmente no campo militar dos povos oprimidos, um conto de fábulas irradiado pelos apologistas de
independente de suas direções reformistas, nacionalis- Wall Street.
ta-burguesas ou islâmicas, preservando seu programa Estabelecida esta falsa e ingênua polarização,
da revolução socialista e seu método de construção nada melhor do que eximir-se de prestar contas à clas-
para forjar o partido revolucionário internacionalista. se operária de suas próprias caracterizações catastro-
Não fazemos coro com o imperialismo e seus congê- fistas, que não se confirmaram de nenhum ângulo, seja
neres da esquerda domesticada, em condenar as ações político, social ou econômico. Abraçar o campo dos
“violentas” das massas oprimidas que utilizam os mei- que defendem que a crise capitalista não chegou ao fim
os de que dispõem para infringirem baixas no campo se assemelha mais à própria perda completa de refe-
imperialista. Como marxistas revolucionários defen- rência da esquerda revisionista na revolução socialista
demos a destruição do enclave usurpador de Israel e a e no marxismo como paradigma teórico dos explora-
construção de uma Palestina Soviética como parte da dos. Significa, em resumo, vestir a camisa da ala key-
luta pela Federação das Repúblicas Socialistas do nesiana da burguesia que clama por mais subsídios
Oriente Médio e da Ásia Central. Temos profunda con- estatais, para auferir ganhos de capital, independente
vicção de que as burguesias árabes e as organizações da crise do mercado e produção. É absolutamente
de corte islâmico, como o Hamas, são adversárias mor- óbvio e ululante que a crise capitalista não chegou ao
tais desta estratégia política, mas entendemos o exato fim, simplesmente porque não teve seu começo em
momento da frente única e da unidade de ação para der- setembro de 2008, como tentam nos convencer os ilu-
rotar o imperialismo mundial! Esta política não signi- sionistas do “wellfare state”, assim como também é
fica emprestar apoio político às direções burguesas e evidente, para os analistas minimante sérios e compro-
fundamentalistas da resistência, mas uma unidade de metidos com o proletariado, que a burguesia imperia-
ação militar ao lado da resistência para combater o ini- lista soube manejar a economia evitando que o crash
migo maior, ao mesmo tempo em que se denuncia e financeiro paralisasse os ramos centrais da produção
alerta as massas em luta que essas direções capitularão industrial, às custas de uma brutal ofensiva sobre o
frente às pressões imperialistas. nível de emprego e condições de trabalho da classe ope-
Pela vitória militar da resistência iraquiana e hai- rária.
tiana! Como já vínhamos afirmando insistentemente,
Fim do genocídio do povo palestino! Pela destru- desde meados de 2008, o crash financeiro e a subse-
ição do Estado nazi-sionista de Israel! qüente “queima” de ativos bursáteis, superalavanca-
dos gerando a explosão da bolha do crédito e o abalo
Viva a Intifada Palestina! do sistema bancário nos principais centros imperialis-
Fora o imperialismo do Afeganistão, Oriente tas é parte integrante do ciclo da crise estrutural do
Medio, Haiti e de toda a América Latina! capitalismo, que diante do esgotamento histórico de
Defesa incondicional do Estado operário cuba- suas forças produtivas tem uma única possibilidade de
no! Pela construção do partido revolucionário em acumular riquezas na geração de capital fictício gesta-
Cuba para promover a revolução política e liquidar a do a partir de um sofisticado mercado de derivativos.
burocracia castrista! O intenso repique da crise em 2008 segue a lógica das
ondas largas e curtas dos surtos de crescimento da eco-
Pela revolução proletária e o socialismo!
nomia capitalista e estão muito longe de significar a
2009: APESAR DAS PROFECIAS morte súbita do capitalismo pelo “auto-suicídio finan-
REVISIONISTAS, O CAPITALISMO NÃO ceiro”. Não cansamos de repetir até a exaustão que só a
ACABOU. SOMENTE A REVOLUÇÃO ação consciente do proletariado mundial, através da
PROLETÁRIA COLOCARÁ UM FIM NO REGIME revolução socialista, pontuará o fim do regime da pro-
DA PROPRIEDADE PRIVADA! priedade privada dos meios de produção.
O final do ano de 2009 foi crivado por uma falsa Para a esquerda revisionista trata-se exatamente
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
do contrário, nada mais fácil do que substituir o papel A destruição contra-revolucionária da União
protagonista do proletariado na condução do processo Soviética e dos Estados operários do Leste europeu
revolucionário e “decretar” segundo suas intenções impôs uma dura derrota à consciência e à ação direta
eleitorais a falência do capitalismo: “Assistiremos não do proletariado mundial, abrindo uma nova etapa da
só a crise dos governos, mas dos regimes” (PSTU, luta de classes em todo o planeta. O fim da polarização
19/12/2008) para logo depois vaticinar “a crise vai se EUA versus URSS, conhecida como Guerra Fria,
aprofundar seguramente durante todo o ano de 2009” encerrava simbolicamente na consciência das massas
(PSTU, 09/02/2009). Poderíamos contrapor a esses o confronto entre dois modelos de sociedade absoluta-
“prognósticos” simplesmente a própria realidade do mente antagônicos. A “vitória” do imperialismo sobre
ano de 2009, ou melhor, a correlação de forças entre as as conquistas herdadas da revolução bolchevique de
classes sociais neste período. Os “grandes levantes” 1917, ainda que torpemente deformadas pela burocra-
não ocorreram; ao contrário, as massas desorganiza- cia stalinista, deu início não ao fim da história, como
das e sem uma direção revolucionária que se colocasse tentava nos convencer Fukuyama, mas à história sem
a altura das tarefas exigidas, permaneceram atomiza- fim da barbárie capitalista que ameaça a existência
das diante da vigorosa ofensiva patronal. O caso das humana em seu conjunto e só poderá ser superada pela
demissões na Embraer e a “inoperância” da direção via da revolução socialista mundial.
morenista comprovam de forma cabal o que sustenta- Qualquer tentativa de mediação entre estes dois
mos teórica e politicamente. Mas o que revela o pro- projetos históricos irreconciliáveis, só dará margem ao
fundo equívoco das projeções catastrofistas é a própria charlatanismo político de vários matizes, desde os neo-
ignorância em comparar o grau das crises anteriores keynesianos defensores da regulação dos mercados,
com a atual e concluir que o capitalismo “encontra-se a passando pelos vigaristas aderentes à fórmula burgue-
beira mesmo de uma explosão” (PCO, 31/12/2009). sa do “Socialismo do Século XXI”, até por último aos
Se, por exemplo, nos detivermos nos índices da econo- revisionistas do trotskismo, profetas da hecatombe
mia mais “pujante” do planeta, aferiremos que a cha- capitalista em seus periódicos e pragmáticos da cola-
mada crise do petróleo que eclodiu na metade dos anos boração de classes e do cretinismo parlamentar em sua
70 castigou muito mais a indústria automobilística ian- práxis concreta. Por esta razão a principal tarefa colo-
que do que a atual crise dos títulos “subprime”, impin- cada para os leninistas na nova década que se abre é
gindo a falência total de três grandes montadoras e a depositar toda a energia revolucionária na perspectiva
retração do PIB norte-americano, em termos relativos, da reconstrução da IV Internacional, de suas seções
no pior índice da história, somente superado com o nacionais, lastreada na plena vigência e atualidade do
crash do final dos anos 20. A diferença da crise atual, programa de transição.
que teve seu epicentro no coração do monstro e não na
periferia, fica por conta do massivo aporte do tesouro
estatal as grandes corporações industriais e financei- CONJUNTURA NACIONAL
ras, que elevarão o déficit da divida pública preparan- NAO À CONCILIAÇÃO DE CLASSES! PELA
do o terreno para novas crises ainda mais devastadoras LUTA DIRETA CONTRA O GOVERNO BURGUÊS
do que assistimos em 2008. DE LULA!
A grande questão que deve ser levantada é a capa- NENHUM APOIO ÀS FRENTES POPULARES
cidade de absorção das crises financeiras, ou seja, do NEM À OPOSIÇÃO CONSERVADORA!
capital fictício, a própria dinâmica de uma economia
Os institutos de “pesquisa” já “oficializam” o que
capitalista que é lastreada na lei do valor, apesar do
já era uma decisão do establishment político da bur-
emaranhado de mecanismos de circulação de dados e
guesia, ou seja, a ultrapassagem da candidatura petista
serviços informatizados, resultado de um subproduto
da ministra Dilma Rousseff sobre o candidato tucano e
da chamada “revolução tecno-científica”. Exatamente
até então favorito, o governador José Serra. Para nós
a capacidade de reciclagem das crises, combinada à
não foi nenhuma surpresa, ao contrário dos prognósti-
ausência de um contraponto ideológico à sociedade de
cos “catastrofistas” da esquerda revisionista que passa
consumo, prolonga a existência de um regime social já
os dias a sonhar com o débâcle eleitoral do governo
esgotado em toda sua potencialidade histórica. Como
Lula, para que possa “faturar” algum dividendo parla-
nos ensinou o velho Trotsky: “encarar a realidade de
mentar com a suposta crise final do capitalismo.
frente e não procurar a linha de menor resistência; cha-
mar as coisas pelo seu nome” não são conceitos vazios Para se ter uma noção dos delírios eleitorais da
que devem ser substituídos por uma falsa euforização moribunda Frente de Esquerda, o PSTU afirmava há
das massas, para distorcer uma realidade abertamente poucos meses o seguinte: “Existe uma crise que come-
desfavorável à classe operária mundial. ça a se abrir no projeto governista para 2010. A candi-
datura de Dilma Rousseff começa a manifestar suas
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
fragilidades desde já... A confiança alardeada da tran- fazendo com que o governador de Minas, Aécio
sição dos votos de Lula para Dilma já não existe” (A Neves, declinasse de sua candidatura à presidência e
crise do PSOL e a necessidade de uma frente socialis- nem cogitasse sequer por brincadeira dividir a chapa
ta, Eduardo Almeida, direção nacional do PSTU). As de Serra como vice. Outro tucano, o coronel da indús-
tendências da virada de Dilma sobre Serra, já se mani- tria, Tasso Jeressati, seguindo o caminho de Aécio, tam-
festavam desde 2008, quando a frente popular soube bém recusou-se a ser vice do “Titanic” Serra. Instalada
contornar a crise financeira, galvanizando o apoio polí- a crise no terreno da oposição burguesa, Serra tenta
tico massivo da burguesia para a continuidade do pro- equacionar uma fórmula eleitoral capaz de pelo menos
jeto petista de poder, baseado na colaboração de clas- garantir a manutenção de sua anturrage a frente do
ses e na estabilidade do regime capitalista. Só os visio- governo de São Paulo. Esgotado todo um ciclo de ges-
nários da ultradireita reacionária irmanados com as tão, iniciado em 1982 pelo então senador Franco
análises da esquerda revisionista, sedenta por um Montoro, passando por Quércia, Covas e Serra, a pode-
lugarzinho no Congresso fantoche e corrompido, pode- rosa burguesia paulista procura um novo eixo político
riam vaticinar “uma crise que começa a se abrir no pro- que possa restabelecer o link financeiro com o Estado
jeto governista”. central e a conseqüente retomada de linhas internacio-
A indicação da ministra Dilma realizada de forma nais de financiamento público.
consensual no recente congresso do PT, por uma impo- Em um quadro internacional de fragilidade da eco-
sição de Lula, revela no momento, que mais importan- nomia norte-americana e européia, onde a crise finan-
te do que indicar uma liderança fincada na história do ceira asiática prolonga-se quase que ad infinitum um
PT (o PT dispõe de uma cepa de quadros com forte massivo aporte de capitais, preventivamente resgata-
potencial eleitoral), foi a necessidade de consolidar dos das turbulências de Wall Street, desloca-se para os
um nome já completamente “azeitado” entre os gran- países semicoloniais como Brasil. Aproveitando-se
des negócios da burguesia industrial e financeira. desta situação econômica o governo da frente popular
Dilma, a frente da Casa Civil desde o desterro do “ca- acumulou uma folga relativa em suas reservas cambia-
po” José Dirceu, vem gerenciando as linhas centrais de is, afastando temporariamente o risco de uma crise
créditos e verbas públicas, centralizadas no chamado monetária, ajustando o preço do dólar às próprias
“PAC” do governo Lula. Com a política de Estado de necessidades do mercado exportador. Com esta políti-
subsidiar todos os prejuízos da burguesia oriundos do ca de câmbio flutuante, lastreada em uma generosa
crash financeiro internacional, a obscura Dilma que reserva cambial, Lula vem manejando o déficit públi-
nunca disputou uma única eleição, ganhou a simpatia co, que embora crescente não ameaça ultrapassar uma
dos grandes grupos econômicos, servindo também aos margem de segurança na conta de transações corren-
interesses pessoais de Lula em retornar à presidência tes. A sensação econômica resultante desta relativa
da República em 2014, já com olho na realização das estabilidade contamina a população trabalhadora, que
Olimpíadas no Rio de Janeiro em 2016, evento que visualiza um período de pequenas conquistas sociais
movimentará uma extraordinária soma de recursos como as políticas compensatórias do governo e a
sem nenhum controle institucional. Desta forma, a expansão do mercado de oferta de empregos, tendo a
marionete de Lula conquistou o posto de candidatura construção civil e o setor de serviços ponteando esta
preferencial, desde o gabinete de Barack Obama até a dinâmica econômica.
direção da corrompida CUT e congêneres sindicais. Atordoada com esta conjuntura, a esquerda revi-
Do campo da oposição burguesa as notícias não sionista começa a admitir, depois de terem ironizado
são nada alvissareiras. As pretensões presidenciais de as caracterizações da LBI em 2008 e 2009, que a etapa
Serra vão se desarticulando a cada fato político novo. política se apresenta desfavorável, que a ofensiva capi-
Muito mais importantes do que os desastres midiáticos talista desferida em setembro de 2008 não enfrentou
que abalaram a candidatura Serra, como a prisão do uma resistência à altura por parte dos trabalhadores,
seu provável vice, o governador do DF José Roberto atados a direções políticas umbilicalmente vinculadas
Arruda, as enchentes de São Paulo ou até mesmo a pos- à institucionalidade burguesa e seus apetites eleitorais.
sível cassação pela justiça eleitoral do prefeito Kassab, Tardiamente admitem que: “essa é só mais uma
são os sinais dados pela própria burguesia paulista, expressão do apoio majoritário do governo entre os tra-
concentrada no covil da FIESP, de que não mais seria balhadores” (editorial do Opinião Socialista, nº
interessante para seus negócios que o PSDB retornas- 399/PSTU).
se ao Palácio do Planalto. Este aviso vocalizado pelo
presidente da FIESP, Paulo Skaf, ele próprio postulan-
te ao cargo que Serra ocupa em terras bandeirantes, FALÊNCIA POLÍTICA DA “FRENTE DE
detonou um processo de pânico no ninho tucano, ESQUERDA”
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
A esquerda que vem se postando como oposição CONLUTAS em particular, que poderia catalisar esta
ao governo da frente popular começa a sair do “mundo tendência latente da conjuntura, está completamente
da fantasia”, onde projetava o ocaso de Lula a partir da absorvida em recompor a “frente de esquerda” agora
crise financeira de 2008, e admitir uma situação de con- no terreno sindical. A fração psolista da
solidação política do “modelo de gestão” estatal finca- INTERSINDICAL como a APS do deputado Ivan
do na estratégia de colaboração de classes. O PSOL e Valente, sonha todos os dias que a greve dos professo-
seu arco colorido de grupos internos, o PCB e também res de São Paulo possa catapultar a remotíssima possi-
o próprio PSTU já confessam publicamente que não bilidade da reeleição de Valente. Desta forma, a
conseguiram romper a barreira da falsa polarização CONLUTAS, sob a direção do PSTU, atua nas greves
entre a frente popular e a oposição conservadora em como um verdadeiro cabo eleitoral do próprio PSOL,
função das profundas ilusões dos trabalhadores no pro- reivindicando assim a continuação da estilhaçada fren-
jeto de poder da frente popular. A chamada oposição de te de esquerda também no campo eleitoral.
esquerda debita este fato na conta das políticas com- O então planejado apoio do PSOL à candidatura
pensatórias do governo e numa certa retomada do cres- presidencial de Marina Silva do PV, colocou inicial-
cimento econômico a partir do segundo semestre de mente em cheque a pretendida unidade sindical opor-
2009. tunista. Agora, diante dos novos desdobramentos, que
A miopia política destes setores os impede de indicam a negativa do PV em coligar-se com o PSOL,
enxergar plenamente a realidade, assim vão tateando a fusão da Conlutas e a Intersindical deve ocorrer, ain-
no escuro e levando socos da própria conjuntura aberta da que no marco de uma profunda desmoralização da
em 2006, quando o PT e toda corja lulista conseguiu Frente de Esquerda nas eleições presidenciais de 2010.
contornar a crise do mensalão e impor a reeleição do Ao se confirmar este quadro, o PSOL lançará candida-
presidente operário com as mãos sujas da corrupção tura própria e o PSTU seguirá o mesmo caminho ou
burguesa. Como caudatários do regime democratizan- voltaria a sonhar com a Frente de Esquerda mendigan-
te, tentam equacionar a realidade exclusivamente do do a vaga de vice, em uma coligação ainda mais à dire-
ângulo parlamentar e eleitoral, relegando a ação do ita que a de 2006.
movimento operário a uma plataforma economicista e A fusão com a Intersindical, neste ano eleitoral,
tradeunista. Por esta razão todas as iniciativas do movi- cumpre o papel de sedimentar sindicalmente a Frente
mento de massas foram sufocadas em uma perspectiva de Esquerda e transformar a nova central em seu cabo
institucional. eleitoral, colocando os trabalhadores que romperam
Agora estamos diante do início de um novo fenô- com o governo Lula e com a CUT governista reféns de
meno, que passa bem longe das urnas eletrônicas de uma mini-frente popular, adepta do programa burguês
outubro, ou seja, o despertar da luta contra o arrocho de respeito à propriedade privada e ao Estado capita-
salarial que permeia o conjunto dos trabalhadores assa- lista. Para que a central a ser fundada esteja a serviço
lariados. As multitudinárias assembleias dos professo- da construção do socialismo e não atrelada a uma can-
res de São Paulo realizadas em março, em meio a uma didatura ainda mais à direita que a de Heloísa Helena
greve levada a cabo pela direção da APEOESP com o em 2006 e ainda por cima sem qualquer peso eleitoral,
objetivo de desgastar eleitoralmente o governador que reivindicava já naquela época, entre outras coisas,
Serra, refletiram a enorme disposição da classe em que o BNDES injetasse recursos públicos na
romper o “cordão sanitário” imposto aos salários pelos Volkswagen para coibir as demissões, é imprescindí-
governos tucanos e petistas. As chamadas políticas vel que rejeitemos qualquer apoio à Frente de
compensatórias e a expansão do crédito para a peque- Esquerda e defendamos o Voto Nulo, com a elabora-
na burguesia não atingem o miolo do proletariado assa- ção de um programa revolucionário que tenha como
lariado que percebe a retomada dos níveis inflacioná- eixo a denúncia do circo eleitoral montado pela classe
rios em patamares muito mais altos do que as recom- dominante para enganar os explorados, voltado a legi-
posições dos índices oficiais. Mais cedo do que tarde o timar a “escolha” do gerente de seus negócios. Por isso
funcionalismo federal também sairá espontaneamente a LBI conclama os trabalhadores agrupados na
em mobilização, assim como as categorias industriais Conlutas e as correntes de esquerda que se reclamam
importantes. revolucionárias a defenderem o Voto Nulo programá-
A questão a ser resolvida é que o conjunto das dire- tico para desmascarar o circo eleitoral.
ções, sejam as “chapa branca” ou as de “oposição”, Repousa nos ombros da vanguarda política, cri-
movem-se exclusivamente em função do calendário vada pelo classismo e combatividade, uma enorme res-
eleitoral, esgotando toda a potencialidade de deflagrar ponsabilidade histórica neste momento. Faz-se neces-
uma campanha nacional unificada contra o arrocho sário compreender que não podemos derrotar “Lula
salarial, promovido seja por tucanos ou petistas. A nas urnas”, como freneticamente repete este bordão a
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
esquerda democratizante. A derrota da frente popular dirigido pelo PSTU desde a década de 80. Não satisfei-
passa necessariamente pela superação da política de to, utiliza este trágico episódio que desmoralizou naci-
colaboração de classes, apontando o centro programá- onalmente a militância da Conlutas para “teorizar”,
tico para uma plataforma de ação direta no sentido de “justificar” e finalmente absolver o peleguismo, quali-
deter a ofensiva imperialista, camuflada de “crise eco- ficando como “despolitizada” e “desqualificada” qual-
nômica global”, “crise” que aliás fez multiplicar a for- quer luta política travada contra a traição aos trabalha-
tuna de centenas de “bilhardários sem fronteiras”. dores: “Muitas vezes fazemos críticas despolitizadas à
Somente a retomada da consciência de classe, embota- burocracia sindical e, depois, ficamos prisioneiros do
da com a destruição contra-revolucionária da URSS, e mesmo critério. A LBI nos fez uma crítica furibunda
a elaboração de um programa marxista-leninista para a por não termos 'parado e ocupado' a Embraer no episó-
atualidade pós “queda do muro” poderá conduzir a dio recente das demissões na empresa, desconsideran-
classe operária na rota de colisão frontal com a crise do completamente a ausência de disposição para a luta
estrutural do modo de produção capitalista, mais além por parte dos trabalhadores da empresa. Às vezes nós
dos repiques cíclicos dos crashes financeiros, ineren- fazemos crítica desta mesma natureza à burocracia sin-
tes a atual etapa de parasitismo bursátil e mercantil dical, e o problema é que muitas vezes desconsideran-
Para efetivamente combater a Frente Popular e os do também a disposição real dos trabalhadores para a
charlatões de “esquerda”, a classe operária precisa luta que exigimos que a burocracia faça. Trata-se de
construir seu próprio instrumento revolucionário, pau- uma forma despolitizada de luta política, ao invés de
tado na ação direta e na luta contra a institucionalidade apoiarmos nossa diferenciação com ela em uma dis-
burguesa. A conjuntural hegemonia da Frente Popular cussão política e programática mais qualificada.”
não significa de forma nenhuma seu triunfo histórico, (Observações sobre o nosso trabalho sindical de base,
ou seja, a vitória definitiva da colaboração de classes José Maria de Almeida).
em oposição à encarniçada peleja classista do proleta- Para o dirigente do PSTU e da Conlutas, o pele-
riado. A breve recuperação econômica de forma algu- guismo da CUT, da CTB, da sua aliada Força Sindical
ma significa o fim da crise estrutural do capitalismo, etc. e agora do Sindicato dos Metalúrgicos de São José
este sim, um regime social que leva a humanidade à dos Campos é responsabilidade dos trabalhadores, e
barbárie e à destruição do planeta. Somente a instaura- não da despolitização e desmobilização à qual foram
ção da ditadura do proletariado pela senda da revolu- submetidos pela direção sindical ao longo dos últimos
ção socialista poderá apontar uma saída progressista 20 anos! Qualquer trabalhador ou dirigente honesto
ao atual impasse da crise revolucionária de direção do que integre a Conlutas sabe que esta excrescência de
proletariado mundial. “teoria” deve ser vigorosamente rechaçada, pois o
papel de uma vanguarda combativa tem peso decisivo
na orientação das lutas por demandas imediatas e his-
Por uma campanha nacional em defesa do Voto tóricas da classe trabalhadora. Com o episódio da
Nulo, com a elaboração de um programa revolucioná- Embraer, a realização de dois atos unitários em 2009
rio que tenha como eixo a denúncia do circo eleitoral. junto com a Intersindical e as centrais pelegas reivindi-
cando que Lula isentasse o IPI para “desonerar” as
PLANO DE LUTAS montadoras e editasse uma Medida Provisória para
supostamente livrar os trabalhadores das demissões, a
RECHAÇAR A POLÍTICA DE PARALISIA E
fusão tornou-se palatável para a Intersindical.
ILUSÕES NA JUSTIÇA BURGUESA APLICADA
FRENTE ÀS DEMISSÕES NA EMBRAER! Frente ao único direito elementar no capitalismo,
que é o direito do trabalhador ser explorado pelo capi-
OCUPAR AS FÁBRICAS QUE DEMITIREM!
tal, não se pode limitar nossa luta ao que os capitalistas
POR UMA JORNADA NACIONAL DE LUTA dizem poder oferecer nem alimentar ilusões na justiça
CONTRA O DESEMPREGO! patronal. Somente a luta desequilibrará a correlação de
Em sua última reunião nacional de 2009, a forças em favor da classe operária para que ela possa
Conlutas praticamente assina seu atestado de óbito romper a camisa-de-força, imposta pela política de
político com o documento elaborado por José Maria de colaboração de classes das direções governistas.
Almeida. A falência política que apontávamos é sinte- Definitivamente para que os explorados possam barrar
tizada no trecho em que o dirigente da Conlutas justifi- o desemprego é necessário um plano de lutas unitário
ca sem meias palavras a capitulação da nossa central com um eixo ofensivo de enfrentamento com o gover-
no episódio da massiva demissão da Embraer, em seu no Lula, responsável pelo brutal ataque às conquistas
bastião localizado no Vale do Paraíba paulista, o históricas dos trabalhadores. Ao mesmo tempo, é pre-
Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, ciso levantar um programa de reivindicações operárias
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
para garantir a redução dos ritmos de produção no inte- CUT sob a égide do governo da Frente Popular e não
rior das empresas e a absorção dos desempregados. um instrumento de luta semelhante à combativa
Que os patrões paguem pela crise, já que eles a fomen- Central criada na década de 80, responsável por orga-
taram. nizar a classe operária em plena ditadura militar.
Em oposição às “soluções de mercado” da pele- A continuar sendo aplicado o programa que o
gada da CUT e a política de ilusões na Justiça burguesa PSTU imputou à Conlutas e o PSOL à Intersindical no
da direção da Conlutas e da Intersindical, a vanguarda papel de suas respectivas direções ao longo deste
combativa tem a tarefa de impulsionar uma Jornada período, será fundada uma nova entidade que já nasce
Nacional de Lutas que acumule forças para a prepara- com os desvios que a CUT apenas veio assumir em sua
ção de uma greve geral no país contra o governo da fase senil. Entre os mais graves, destaca-se: a burocra-
Frente Popular, a partir de uma plataforma de luta clas- tização, o eleitoralismo e a subordinação aos ditames
sista que defenda os reais interesses operários e uma estatais em troca de sua legalização. Por isso, a
política de independência de classe: Conlutas em 2009 buscou com mais vigor conquistar o
Contra as demissões, ocupação das empresas que aval da ordem vigente, tendo como marco a negocia-
demitirem em massa ou falirem, exigindo a sua estati- ção com a Justiça patronal, em conjunto com a Força
zação sob controle dos trabalhadores; Sindical, no caso da demissão em massa na Embraer
de 20% da planta da empresa, equivalente a quase 5
Nenhuma ilusão na justiça patronal; mil trabalhadores. Desgraçadamente, a TRS combateu
Repartição das horas trabalhadas com os operári- quase que sozinha, em nossa intervenção no interior da
os desempregados, através da redução da jornada de Conlutas, este liquidacionismo aplicado pelo PSTU
trabalho sem redução salarial, utilizando a escala através da paulatina adaptação cobrada pela
móvel de salários; Intersindical e pelo PSOL. Pontuamos que a busca
Fim dos selvagens ritmos de produção, pela for- pela legalização e pela unificação com a Intersindical
mação de comitês de fábrica que estabeleçam tetos de levaria fatalmente a Conlutas à falência prematura, o
produtividade para absorver a mão-de-obra desempre- que vem se consumando.
gada; Como parte desta luta pela criação de uma central
Formar comitês de trabalhadores demitidos, sus- livre da colaboração de classes, a vanguarda agrupada
tentados financeiramente pelos sindicatos, até que pos- na Conlutas deve combater por uma total independên-
sam impor a efetivação da repartição das horas de tra- cia frente aos patrões, aos partidos burgueses e ao
balho. Estado capitalista. Devemos nos opor às atuais dire-
ções da Conlutas e da Intersindical por sua prática cada
Os sindicatos devem estar a serviço das lutas e
vez mais freqüente de dirimir os conflitos entre patrões
não dos privilégios da burocracia corrompida;
e trabalhadores na Justiça patronal. É urgente que se
aborte a orientação de legalização da central! O reco-
ESTRUTURA SINDICAL nhecimento legal significa a intervenção das institui-
NÃO À FUSÃO COM A INTERSINDICAL ções estatais na forma de organização dos trabalhado-
REBAIXANDO O PROGRAMA DA CONLUTAS! res, no regimento de suas lutas e na sua disciplina para
que a ordem de dominação capitalista mantenha-se res-
POR UMA CENTRAL OPERÁRIA, guardada. A desenfreada busca pelo atendimento das
CAMPONESA, ESTUDANTIL E POPULAR exigências do Ministério do Trabalho fez com que a
CAPAZ DE ROMPER COM O ELEITORALISMO E Conlutas aumentasse seu apetite pelo aparato sindical.
A INTEGRAÇÃO AO ESTADO BURGUÊS!
Intermediada pela Intersindical, conformou cha-
Depois de quase cinco anos de um processo de pas com alas governistas da “esquerda” do PT ou mes-
profunda adaptação por parte da direção da Conlutas mo do PCdoB, abandonando qualquer perspectiva de
para promover a unificação com a Intersindical, o semi- construir oposições sindicais na base de cada catego-
nário realizado em São Paulo no final de 2009 consu- ria. A Intersindical deu “exemplos práticos” a
mou este ciclo com a convocação do Congresso de Conlutas de como fazer chapas com a burocracia sin-
fusão para junho de 2010. dical governista sem nenhum pudor político, integran-
Apesar dos setores envolvidos indicarem como do a chapa cutista da Articulação/PT contra a oposição
nome do fórum o mesmo que viria a fundar a CUT em em sindicatos importantíssimos como o dos bancários
1983, ou seja, Congresso Nacional da Classe de São Paulo e Rio de Janeiro. A Conlutas aplicou esta
Trabalhadora (CONCLAT), o encontro que ocorrerá fórmula, conformando chapas com setores que se pos-
no meio deste ano tragicamente está mais próximo de tavam como oposição de direita ao próprio PT, a exem-
parir uma entidade aos moldes do que se transformou a plo de PDT e PSB, em sindicatos como o dos eletricitá-
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
rios no Rio de Janeiro, e do PCdoB, nos metalúrgicos privilegiar as instâncias dos inimigos, como a Justiça
de Volta Redonda-RJ. patronal, como forma de avançarmos na luta para pôr
Sob esta orientação, boicotou e dividiu oposições abaixo o regime de exploração, que hoje tem a sua fren-
na base de diversas categorias para buscar uma media- te o governo Lula como gestor preferencial.
ção com setores governistas. Exemplo disso pode-se
citar as categorias dos professores e bancários do CONCEPÇÃO E PRÁTICA SINDICAL
Ceará, onde a LBI impulsionava estas oposições. Nos
fóruns da Conlutas, como no Congresso marcado para ABAIXO A UNIFICAÇÃO BUROCRÁTICA
acontecer dias antes do CONCLAT, a representação DOS APARTOS SIDICAIS “DE ESQUERDA”!
das oposições é desprezada para, literalmente, acomo- ORGANIZAR UM VERDADEIRO
dar as direções de sindicatos. Os próprios critérios CONGRESSO OPERÁRIO E CAMPONÊS PELA
para participação do CONCLAT sinalizam por parte BASE!
da Intersindical e por parte da Conlutas que o peso das As poucas lutas que ocorrem no país não conse-
oposições será muito sacrificado! Se nos dois congres- guem alterar minimamente o quadro de estabilidade
sos da Conlutas (CONAT, que a fundou e o I política do regime que, na representação da Frente
Congresso) as oposições tiveram representações limi- Popular no comando do governo central, atinge um
tadas a apenas dois representantes, o CONCLAT é ain- confortável grau de controle da luta de classes no sen-
da mais burocratizado, sem participação de fato das tido mais amplo das conseqüências políticas para cada
oposições, sem espaço para debate das correntes mino- classe social e seus interesses históricos e imediatos,
ritárias, com chapa única indicada pela coordenação principalmente em um ano eleitoral. Trata-se de um
do Congresso a partir de acordo de bastidores entre as fenômeno político que a LBI/TRS vem alertando em
forças majoritárias. vários momentos, ou seja, o movimento operário sai à
Ainda que tragicamente as tendências apontem luta de forma defensiva e limitada a repor a corrosão
no sentido oposto, a única saída para construirmos salarial produto de uma gradual retomada inflacioná-
uma central de combate e anticapitalista é resgatar a ria ou para barrar ataques as suas conquistas, mas abso-
tradição do movimento operário, fortalecendo oposi- lutamente desprovido de uma estratégia de combater e
ções na base dos sindicatos pelegos, agrupando o derrotar o governo da Frente Popular na afirmação de
melhor da vanguarda classista para criar uma alternati- um projeto independente, apesar de identificar este
va de direção que varra as direções vendidas. Isso exi- governo burguês com os planos de arrocho e subtração
ge a renúncia dos atalhos aparatistas buscados até ago- de conquistas constitucionais. Essa situação tem per-
ra pela Intersindical e pela Conlutas para “ganhar” a mitido a Lula manejar as disputas interburguesas com
direção dos sindicatos, pois não organiza os trabalha- o trunfo da estabilidade social e de uma relativa calma-
dores para a luta direta, retarda sua consciência de clas- ria no terreno econômico. Ajustando cada vez mais o
se e conforma direção com seus odiados traidores. aparelho do Estado às demandas do capital financeiro,
Mesmo que hoje a situação esteja mais adversa a Frente Popular conseguiu, inclusive, o seu credenci-
que na ocasião da formação da Conlutas, quando amento junto ao imperialismo ianque como o principal
espontaneamente os trabalhadores rompiam com a protagonista dos seus interesses no cenário latino-
CUT e com o governo Lula a partir da primeira grande americano.
medida impopular, a reforma da Previdência, conside- Sinais indeléveis dessa etapa de franco retrocesso
ramos imprescindível retomar a bandeira pela constru- ideológico, onde o movimento de massas não é capaz
ção de uma Central Operária, Camponesa, Estudantil e de romper o cordão de isolamento, imposto pelo “êxi-
Popular (COCEP). Esta Central não apenas teria em to” do governo da Frente Popular, é o quadro eleitoral
sua composição social diversos setores dos explorados que se avizinha. Está cada vez mais colocada na ordem
da cidade e do campo conforme a Conlutas defende do dia a eleição de Dilma Roussef. A correspondência
hoje, mas necessitaria dispor de um caráter de luta polí- deste fenômeno no plano eleitoral são as projeções de
tica anticapitalista. Um verdadeiro embrião de alterna- um grande fiasco da chamada “Frente de Esquerda” se
tiva revolucionária de poder do conjunto dos explora- essa vier a de fato existir ou mesmo sua completa frag-
dos. Convocamos todos os lutadores que não se verga- mentação.
ram ao oportunismo sindical e aos atalhos aparatistas a A caracterização dos elementos mais reacionários
cerrar fileiras conosco nesta empreitada de construir da atual etapa política, de forma nenhuma, pode signi-
um genuíno organismo da classe. Este deverá utilizar ficar a defesa de uma política de prostração ou mesmo
dos métodos da ação direta como greves unificadas, de “falsa euforia” como tem oscilado as correntes revi-
piquetes radicalizados, comitês de autodefesa, corte sionistas que integram a Frente de Esquerda. A ausên-
de estradas, ocupações de fábricas e terras em lugar de cia de uma correta avaliação da correlação de forças
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
entre as classes sociais, somada à adoção de um pro- Portanto, como consequência, sua “linha sindical” pro-
grama reformista burguês, sem dúvida tem aprofunda- fundamente tradeunista advoga a manutenção da atual
do a desmoralização da vanguarda classista assim estrutura sindical que, durante décadas, vem alimen-
como reforçado as tendências mais retrógradas do pró- tando esta imunda burocracia parasita e traidora das
prio campo governista no cenário nacional. Pela sua lutas proletárias. É necessário, a partir das experiênci-
própria natureza programática o revisionismo trotskis- as concretas e mais avançadas da vanguarda, apontar
ta é impotente para apresentar uma “saída” progressis- outro caminho e incentivar, mesmo que embrionaria-
ta, do ponto de vista da classe operária, diante do mente, a chama da construção de uma alternativa revo-
período de fortalecimento das instituições do regime lucionária de poder para a classe operária, através da
democratizante. A tática de confundir as massas com o propaganda e agitação da necessidade da realização de
discurso eleitoreiro “prometendo” sempre a débâcle um verdadeiro congresso soviético do movimento ope-
do governo para as próximas eleições, ou simplesmen- rário, camponês, popular e estudantil com massivas
te cruzar os braços à espera dos efeitos da crise finan- delegações da base em luta, sem nenhum tipo de restri-
ceira internacional em solo brasileiro, já tem demons- ção administrativa ou financeira que deforme a vonta-
trado ser um beco sem saída para as mobilizações em de da classe em por fim a este regime infame.
curso. CONSTRUIR UMA FRAÇÃO PÚBLICA
Para romper a camisa-de-força a qual o proletari- REVOLUCIONÁRIA EM DEFESA DA
ado encontra-se atado, é necessário, em primeiro INDEPENDÊNCIA DE CLASSE DOS
lugar, estabelecer uma ruptura com a própria instituci- TRABALHADORES
onalidade burguesa, superando os atuais limites éticos As regras de participação no II Congresso da
com que o movimento de massas enfrenta-se com o Conlutas e no próprio CONCLAT estão voltadas a res-
Estado capitalista. Adotar o método da ação direta e tringir o debate político, impor cláusulas de barreira e
radicalizada das massas norteada por um programa pré-condições financeiras à representação das corren-
marxista e revolucionário é uma condição sine qua non tes minoritárias e ativistas classistas independentes.
para superar o atual estágio das lutas economicistas e Trata-se de calar os que não coadunam com o progra-
corporativistas que são plenamente absorvidas pela ma de colaboração de classes da “Frente de Esquerda”,
estrutura do regime burguês. Neste sentido, o debate que segue inexoravelmente uma senda de economicis-
em torno da organização da autodefesa no campo e na mo vulgar e eleitoralismo febril.
cidade e da formação das milícias de segurança revo-
lucionárias para enfrentar a repressão policial, deve Fazemos o alerta que esses congressos estão lon-
assumir cada vez mais o centro das discussões nos ge de representar as tendências mais latentes da radica-
fóruns operários. lidade do movimento operário. A orientação progra-
mática do PSTU e PSOL, em relação aos governos
A enorme capacidade política que o governo da paladinos do “Socialismo do Século XXI” ou mesmo à
Frente Popular tem demonstrado na superação das cri- Frente Popular, quando muito não ultrapassa os estrei-
ses parlamentares está umbilicalmente ligada à inca- tos limites de uma “oposição de esquerda” nos marcos
pacidade das direções reformistas de “oposição” em toleráveis do regime da democracia dos ricos. Sua “li-
alçar o movimento de massas na rota de colisão com o nha sindical” profundamente tradeunista advoga a
Estrado burguês. O respeito à democracia como “valor manutenção da atual estrutura sindical que, durante
universal” vem pautando estes setores na condução de décadas, vem alimentando esta imunda burocracia
um lobby institucional onde a classe operária sempre é parasita e traidora das lutas proletárias. O projeto de
derrotada no final. Não por coincidência, toda vez que fusão com a Intersindical como a melhor expressão da
ocorre alguma expressão de maior radicalidade, ou “unidade” na verdade representa a liquidação da
mesmo algum risco que a explosividade espontânea Conlutas pela via de enorme concessões políticas a
do movimento ameace a imagem de respeito à “lei e a esses setores paragovernistas.
ordem”, os paladinos da “democracia social” atuam
como polícia política do Estado burguês. Portanto, declaramos que para os sindicalistas
revolucionários não resta outra opção no marco do pro-
Nesse contexto, o CONCLAT está muito longe de grama apresentado para ambos os congressos e das
representar as tendências mais latentes e profundas de regras burocráticas impostas para o funcionamento da
radicalidade do movimento operário em uma perspec- futura Central a não ser a organização de uma Fração
tiva histórica. A orientação programática do PSTU e Pública, que exponha claramente ao ativismo classista
PSOL, em relação aos governos da centro-esquerda, nossa oposição de princípios ao programa revisionista
ou mesmo à Frente Popular, não ultrapassa os estreitos levado a cabo pelo PSTU e setores do PSOL, dirigen-
limites de uma “oposição de esquerda” nos marcos tes de um condomínio de vacilações e burocratismo.
toleráveis do regime da democracia dos ricos. Temos o direito e mesmo o dever de não seguir as ori-
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
entações burocráticas, políticas e organizativas que jul- te sindical, mas agrupe todos os explorados do país.
gamos ser um obstáculo à independência de classe dos Nesse sentido, a COCEP (Central Operária,
trabalhadores, travando essa batalha pública e aberta- Camponesa, Estudantil e Popular) expressa a nova eta-
mente nos fóruns da nova central e de base da própria pa de construção da frente única dos explorados.
classe para construir uma genuína alternativa de dire-
ção revolucionária para o movimento operário.
Convocamos o conjunto da vanguarda classista, que PLATAFORMA PROGRAMÁTICA DE
reivindica a construção de uma nova central classista LUTA CLASSISTA
como um patrimônio dos trabalhadores da cidade e do Que o CONCLAT aprove um programa anticapi-
campo e as organizações políticas que se reclamam talista e revolucionário para a nova central!
revolucionárias, a cerrar fileiras conosco na constru- Como expressão do que defendemos, a COCEP
ção de uma Fração Pública Revolucionária, que empu- deve ter um programa claro de combate contra o capi-
nhe a bandeira da revolução socialista e da ação direta tal a partir das bandeiras imediatas e históricas dos tra-
das massas em oposição ao velho sindicalismo buro- balhadores e explorados do campo e da cidade:
crático e de colaboração de classes que domina o con-
Salário-mínimo vital;
junto das centrais sindicais existentes no país e que,
neste momento, tragicamente se assenhora na direção Escala móvel de salários com reposição de todas
da nossa central. as perdas salariais;
Escala móvel de horas de trabalho sem redução
salarial;
PROGRAMA, PRINCÍPIOS E
ESTRATÉGIA Não pagamento das dívidas interna e externa;
CONSTRUIR UMA NOVA DIREÇÃO Ruptura com o FMI;
R E V O L U C I O N Á R I A PA R A O S Estatização do sistema financeiro sob controle
TRABALHADORES DO CAMPO E DA CIDADE! dos trabalhadores;
P O R U M P Ó L O C L A S S I S TA E Por um banco estatal único, sob controle dos tra-
REVOLUCIONÁRIO NO CONCLAT! balhadores;
A construção de uma direção realmente classista Fim das privatizações e anulação das já realiza-
e revolucionária foi abdicada pelo PSTU neste proces- das;
so de fusão da Conlutas com a Intersindical. Abdicou Pelo controle operário da produção;
na medida em que estas direções se opõem a acelerar e
transformar as tendências de ruptura das massas com o Pela previdência pública sob controle dos traba-
regime e suas instituições em uma ação política cons- lhadores;
ciente. Para nós, trata-se justamente do contrário, ou Pelo monopólio estatal do petróleo, energia e tele-
seja, intervir abertamente nos debates do CONCLAT comunicações;
pela defesa de uma perspectiva de independência de Pela educação pública, gratuita, laica;
classe, sobre a base de um programa que parta das rei-
vindicações históricas e utilize os métodos próprios de Fim do vestibular;
ação direta para unificar e centralizar as lutas no senti- Revolução agrária e reforma agrária sob controle
do da destruição do Estado burguês. dos trabalhadores, com expropriação do latifúndio pro-
Desse modo, chamamos os ativistas, grupos, cole- dutivo e das agro-indústrias, sem indenização;
tivos sindicais classistas, organizações políticas e os Pela autodefesa no campo;
militantes de base combativos do PSTU a construir um Construir milícias armadas;
pólo revolucionário e classista no CONCLAT para
Nenhum apoio às greves das polícias;
defender a criação de uma central classista e anticapi-
talista, através de uma delimitação programática que Não a filiação de sindicatos de policiais, sejam
clarifique a vanguarda do país a necessidade da civis, militares ou federais;
COCEP, não como uma proposta prematura ou divisi- Por um governo operário e camponês;
onista, mas sobretudo como a única alternativa capaz Pela revolução proletária em nível internacional;
de romper o bloqueio da Frente Popular em todas as
suas variantes. Pelo socialismo.
Portanto, neste CONCLAT, defendemos que é
preciso avançar com as forças combativas na forma- COMPOSIÇÃO E FUNCIONAMENTO DA
ção de uma Central, cujo caráter não seja simplesmen- DIREÇÃO
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
dores. E isso continua acontecendo. Ao analisar então dos supostos efeitos destrutivos da crise, e também o
a conjuntura atual poderemos ver como isso se dá. tipo de decisão empresarial que leva ao aumento do
desemprego. A Volkswagen cortou os empregos tem-
porários, que eram de 16.500 no mundo no final de
2. Conjuntura Nacional: cenários estratégi- 2008. A montadora americana General Motors (GM)
cos da luta de classes no Brasil e perspectivas demitiu dez mil empregados em 2009 em todo o mun-
para os próximos anos do, reduzindo sua força de trabalho em cerca de 14%.
O ano de 2010 apresenta uma nova conjuntura. As No Brasil, o caso das demissões da EMBRAER é
condições econômicas e políticas com as quais Lula ainda mais emblemático. Apesar de distribuir 50
encerra seu mandato presidencial são completamente milhões para seus diretores em salários e participação
diferentes de quando o PT assumiu presidência pela nos lucros, manteve as demissões de 4.300 trabalhado-
primeira vez. res. Fica nítido que, pelo menos na sua fase atual, o
Naquela ocasião, a economia brasileira ainda esta- desemprego gerado pela crise não é fruto dos impasses
va presa a um ciclo de estagnação. A economia mundi- da “superprodução” sobre a economia capitalista, mas
al não tinha adentrado o ciclo expansivo centrado na sim resultante da estratégia de adaptação toyotista,
bolha imobiliária gerada nos EUA. As reformas neoli- através da demissão dos trabalhadores temporários e
berais estratégicas não haviam sido plenamente con- precarizados.
cluídas. No Brasil, a concentração de capital irá se dar prin-
A conjuntura do primeiro mandato e os compro- cipalmente nas áreas mais afetadas pela crise econô-
missos assumidos pelo PT com o Capital implicaram mica: financeira, construção civil, agronegócio e
numa série de medidas, tomadas pelo Governo, clara- comércio varejista. Isso significa um fortalecimento
mente continuístas em relação ao período FHC. A de grandes empresas e do capital monopolista nesses
reforma da previdência de 2003 foi o grande marco des- setores. A fusão do Itaú com o Unibanco é um exemplo
sa conjuntura. Isso explicitou o caráter de classe do PT disso, bem como a fusão dos grupos varejistas Casas
e de sua política. Mostrou também a subordinação das Bahia e Pão de Açúcar.
direções das centrais sindicais e grandes sindicatos à No mundo, as fusões e semi-estatizações de gran-
burguesia e ao governo. des bancos e fusões e aquisições das grandes montado-
Mas a conjuntura atual é completamente diferen- ras, apenas confirma o processo de concentração de
te. O ciclo econômico internacional favorável do capital, que caminha cada vez mais rápido no sentido
período 2004-2008, e mesmo a crise econômica de da formação de ultra-monopólios. Esse é o principal
2008, modificaram substancialmente a situação. E o aspecto da crise: nos setores automotivo e bancário,
Governo Lula se beneficiou de duas maneiras. avança um processo ultra-monopolista de concentra-
Primeiro do ciclo econômico favorável iniciado ção de capital. Ao mesmo tempo, consolida-se o meca-
em 2004, conseguindo aumentar o crescimento econô- nismo da precarização (por meio dos contratos tempo-
mico do país (o que era usado para acobertar os ata- rários e sem direitos trabalhistas) como mecanismo
ques aos trabalhadores). Depois, da crise econômica estratégico do capital.
que, ao contrário do que as análises catastrofistas afir- Por isso, uma análise materialista e dialética pre-
mavam, não teve um impacto direto na economia bra- cisa observar as relações de classes e os movimentos
sileira. E mais, criou uma conjuntura favorável à revi- das forças econômicas que servem de base para as polí-
talização da ala “desenvolvimentista” do bloco gover- ticas do Governo Lula. E ao mesmo tempo, ver como o
nista. Governo Lula e o Bloco Reformista PT/PCdoB tenta
O quadro atual indica uma combinação de reces- incidir sobre tais condições, no sentido de favorecer a
são e desemprego em escala global. As reações diver- acumulação de capital.
sificadas na Europa, França e Grécia como exemplo, O novo cenário econômico internacional é favo-
indicam que há um processo crescente de mobilização rável a um intervencionismo estatal relativo, às políti-
e radicalização. A recessão se combina com aumento cas fiscais expansivas (aumento dos gastos públicos) e
do desemprego que cresce nas diversas regiões do mun- ao maior controle do Estado sobre o capital financeiro.
do. Segundo a previsão da OIT serão 50 milhões a Esse cenário foi perfeito para o PT e o PCdoB fortale-
mais de desempregados no mundo chegando a um cerem a tese da “disputa” de linhas dentro do Governo,
total de 230 milhões. No caso do Brasil, o IBGE indi- entre setores neoliberais e setores desenvolvimentis-
cou um crescimento de 8,2% para 8,5% nas regiões tas. A crise seria a ocasião para que esse setor suposta-
metropolitanas. mente “progressista” avançasse e ganhasse terreno.
O problema é interpretar o que se passa por trás O PT e o PCdoB estão conseguindo neutralizar a
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
oposição de direita no congresso e manter o apoio do al contexto de crise, o de curto prazo e o de médio pra-
empresariado. Ao mesmo tempo revitalizam a força da zo. No curto prazo o setor reformista e governista (PT
CUT e CTB (antiga CSC) no movimento de massas e PCdoB) sairá fortalecido na conjuntura de crise. No
depois da breve crise de 2003-2005. A crise foi provi- médio prazo, é possível que mais uma vez o bloco
dencial para o PT, o Governo Lula e os setores gover- governista tenha que coordenar um ataque à classe tra-
nistas do movimento. Hoje eles se apresentam com sua balhadora (como foi na ocasião das reformas de 2003).
legitimidade renovada: são os setores que tem um pro- E essa seria uma ocasião para a criação de uma alterna-
grama de reformas e de fortalecimento do Estado para tiva nacional de sindicalismo, um sindicalismo de tipo
combater à crise, protegendo supostamente os interes- revolucionário de massas.
ses dos “trabalhadores e o desenvolvimento do país”.
Assim, os cenários da luta de classes nesse ano de 3. O projeto de construção de uma central de
eleições presidenciais são extremamente favoráveis às classe: as contradições em meio à reestruturação
correntes estatistas e reformistas do movimento, espe- do capitalismo (Concepção, estrutura, estratégia
cialmente o PT e o PCdoB. Mas esse é um cenário ape- e programa).
nas.
3.1 A degeneração da CUT e das centrais oficia-
Certas mudanças nas condições econômicas listas/condições objetivas e subjetivas:
internacionais podem fazer cair por terra esse edifício
aparentemente sólido. Em primeiro lugar, a evolução As reformas neoliberais implementadas no início
da crise econômica mundial é um elemento fundamen- do Governo Lula desencadearam um processo de crise
tal. Caso a recessão econômica nos países centrais não de legitimidade da CUT e do PT. A eliminação dos dire-
seja superada (e vários elementos indicam que não itos o ataque contra os sindicatos e trabalhadores, espe-
será), e caso alguma outra região (no caso, a Ásia) não cialmente do serviço público ajudaram a desmascarar
consiga formar alguma outra bolha especulativa para o caráter de classe do Governo Lula para parcelas sig-
fazer girar o processo de acumulação em escala mun- nificativas de trabalhadores. Foi criado um sentimento
dial, dificilmente os instrumentos “expansivos” e o de indignação frente à “traição” que se manifestava.
poder de um futuro Governo Dilma Roussef para com- Elementos concretos mostravam que o Governo
bater os efeitos da crise irão se manter. estava implementando reformas neoliberais que con-
Ou seja, um prolongamento da crise no centro trariavam parte do seu discurso anterior. Ficou claro
deve implicar que ela alcance os principais países da que a CUT estava cumprindo o papel de correia de
América Latina, arrastando-os para a crise e aprofun- transmissão do Governo Lula e do Estado. Que não
dando-a em escala global. Isso pode provocar então representava mais os trabalhadores e nem encaminha-
novas mudanças no cenário político nacional. E isso ria suas lutas. Estavam dadas as condições objetivas e
pode provocar também uma crise do próprio governo e subjetivas para o início de um processo de ruptura com
das forças políticas e sindicais dirigente no país. o peleguismo da CUT e demais centrais.
Num cenário como esse, o bloco governista As organizações de luta do proletariado brasilei-
PT/PCdoB e CUT/CTB irão, assim, ver-se diante de ro, criadas nos anos 1980, degeneraram. A CUT (Cen-
um problema: sustentar o governo Dilma Roussef, só tral Única dos Trabalhadores), criada para servir como
que aí, não mais com o discurso e políticas floreadas de arma de luta pelos direitos dos trabalhadores, transfor-
“desenvolvimentistas e progressistas”, mas sim coor- mou-se na prática, num instrumento da burguesia.
denando um novo ataque contra os trabalhadores e Para formular hoje uma alternativa de luta popular-
uma nova reestruturação do capital no Brasil. sindical é preciso refletir criticamente sobre as causas
desta degeneração.
As perspectivas de médio prazo indicariam (caso
a crise econômica se confirme e os demais fatores polí- Para entender então como a CUT degenerou deve-
ticos e econômicos se mantenham inalterados) que um mos então correlacionar alguns fatores: 1) Um fator
futuro e provável Governo Dilma terá condições fundamental na degeneração da CUT foi sua acomo-
menos favoráveis que as atuais. E terá de assumir o con- dação às velhas estruturas sindicais do corporativis-
fronto contra os interesses dos trabalhadores, reduzin- mo; 2) as contradições internas da CUT, que transfor-
do o déficit fiscal que tenderá a crescer e protegendo os mam a central num órgão burocratizado onde as deci-
interesses dos latifundiários e do próprio capital asso- sões eram tomadas de cima para baixo; 3) o desenvol-
ciado. Mas a questão é que isso pode acontecer em um vimento de uma força política hegemônica (a
ano ou em quatro, cinco, dependendo da evolução dos Articulação do PT), de caráter reformista, através da
fatores econômicos e políticos. relação “Partido-Sindicato”, em que as tarefas estraté-
gicas (conquistar o Estado) eram atribuídas ao PT; 4)
Temos então dois cenários distintos dentro do atu- outro foi sua adaptação aos padrões toyotistas, o sindi-
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
da CONLUTAS. E no caso do SINTRASEF ocorreu o tas”, ou seja, também são formados por frações bur-
melancólico retorno à CUT. guesas.
Por fim, a eclosão da crise econômica mundial em O primeiro argumento deriva de uma visão idea-
2008 transformou o que antes era uma política aberta lista que, como tal, não tem nenhum amparo na reali-
de aliança com os governistas. A crise econômica dade e na história das revoluções da classe trabalhado-
virou pretexto para uma reconciliação não somente ra. Em todas as revoluções desde a Comuna de Paris de
com a CUT, mas com todas as centrais pelegas (Força 1871, passando pelas revoluções mexicana, de 1910, e
Sindical, CTB). Esse chamado implica numa comple- russa, de 1917, chegando até as revoluções chinesa
ta abdicação da política de ruptura com o governismo, (1949) e cubana (1959), a vitória dos trabalhadores foi
o corporativismo e o legalismo. determinada pela participação do conjunto das frações
A outra tática do campo dirigente da CONLUTAS do proletariado, especialmente do campesinato.
foi conclamar a Intersindical para um processo de Mesmo hoje, a recente história da América Latina
fusão. Esse chamado à unidade era esfacelado pela nos mostra que as principais lutas foram encampadas e
política da Intersindical em diversas categorias, como lideradas por diversas frações do proletariado: 1) no
no funcionalismo publico federal, em que atuava ao Brasil, na década de 1990, os camponeses, sob a lide-
lado dos governistas, defendia acordos rebaixados, rança do MST, constituíram a principal oposição ao
recusava a greve e quando a fazia era para reduzir a neoliberalismo de FHC; 2) na Argentina em 2000 esta-
luta ao economicismo e à fragmentação. Isso continua vam na vanguarda das lutas os trabalhadores desem-
acontecendo agora recentemente. Em 2009 nas das ele- pregados e movimentos populares; 3) na Bolívia desde
ições dos bancários/RJ a Intersindical constituiu uma 2003 o movimento indígena e camponês lideraram as
chapa com a CUT e a CTB. revoltas populares.
O primeiro aspecto a ser criticado nessa tática é Afirmar que o movimento sindical é o mais orga-
noção de “reorganização” do movimento que vem sen- nizado da classe trabalhadora é desconhecer a atual
do utilizado pelo campo majoritário. A idéia de reorga- estrutura do sindicalismo brasileiro. Até porque a orga-
nizar deveria ser sinônimo de ruptura com o governis- nização não é um em fim em si. Em termos de auto-
mo e de reconstrução pela base de um movimento naci- organização dos trabalhadores a grande maioria dos
onal de oposição. Mas não é isso que está sendo feito. sindicatos é frágil. Quem organiza os sindicatos no
Os debates pela base foram abandonados. Por Brasil é o Estado, que concede a carta sindical e o
outro lado, a própria Intersindical rachou no ano pas- imposto sindical.
sado, o grupo que está no processo de fusão é domina- Segundo a estrutura sindical brasileira, de inspi-
do por correntes do PSOL (APS, C-SOL e Enlace) e ração fascista, a representação sindical e o financia-
são essas correntes que assinam seus documentos e mento dos sindicatos são outorgados pelo Estado, por
mandam seus representantes para os debates. Ou seja, isso um sindicato não precisa de filiados para ser reco-
a representação é por corrente partidária, não pelas nhecido como tal e receber o imposto sindical. Isso faz
entidades de representação dos trabalhadores. com que facilmente os sindicatos se tornem represen-
Nesse processo um dos principais impasses era o tantes do Estado e do patronato e não dos trabalhado-
caráter da CONLUTAS e o caráter da “nova central”. res. Tal organização é antes um elemento a ser comba-
Os setores da Intersindical não aceitam uma central de tido do que a ser exaltado.
classe. Querem uma central exclusivamente sindical. E a estrutura do sindicalismo de Estado se ampli-
Se a CONLUTAS representou um avanço nas lutas do ou no ano passado com a Lei 11.648/2008, que incor-
proletariado por ser uma central do conjunto da classe porou as centrais sindicais à estrutura sindical oficial.
trabalhadora, a “nova central” representará um retro- Assim, as centrais são igualmente tuteladas pelo
cesso, pois, discutir se os estudantes e os movimentos Estado e financiadas pelo imposto sindical. A conver-
sociais e populares podem ou não participar da “nova são das centrais em “centrais oficialistas” reforça a
central” já é em si uma forma de exclusão desses seto- burocratização das entidades sindicais. E infelizmente
res da classe trabalhadora. a CONLUTAS não encaminhou uma luta séria contra
É importante ressaltar o caráter idealista e reacio- isso, mas se acomodou ao processo.
nário dos argumentos utilizados para justificar a exclu- Portanto, a estrutura sindical tem um efeito desor-
são dos estudantes e dos movimentos sociais. ganizador sobre o movimento dos trabalhadores, pois
Resumidamente, os argumentos são dois: 1) os operá- impõe a formação de sindicatos sem base (os chama-
rios constituem a classe revolucionária, por isso, dos “sindicatos cartoriais”) e promove a tutela estatal
devem ser a direção do movimento dos trabalhadores e sobre o conjunto das entidades sindicais. Os sindicatos
2) os movimentos estudantil e sociais são “policlassis- ficam frequentemente à serviço da burguesia, não dos
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
trabalhadores. A Estrutura sindical deve ser combatida Intersindical, processo que se assemelha com a dege-
na sua totalidade não em aspectos isolados. Desse neração da CUT nos anos de 1980 que se consolida na
modo, afirmar a necessidade de lutar contra a burocra- segunda metade da década de 1990. Congresso após
tização dos sindicatos mas buscar a adequação de uma congresso, a representação da base foi diminuindo na
central à estrutura oficial é proferir com discurso CUT e, finalmente, no IV CONCUT a Corrente
vazio. Sindical Classista, do PCdoB, entrou na central e for-
Já o segundo argumento, acerca do caráter poli- mou o bloco hegemônico com a Articulação
classista do movimento estudantil, nega a perspectiva Sindical/PT que aprovou as teses do “sindicalismo pro-
classista para esse setor da classe trabalhadora. E positivo”, ou seja, de colaboração com o Estado e a bur-
negar isso é permitir o desenvolvimento de políticas de guesia.
colaboração com a burguesia no seio do movimento. E é exatamente esse processo que observamos no
Esse é argumento é extremamente pobre. É óbvio interior da CONLUTAS: a proposta de excluir impor-
que a condição de estudante não se confunde com a tantes setores da classe trabalhadora da “nova central”
condição de classe. Mas a grande massa dos estudan- e a proposta de reduzir proporcionalmente o número
tes brasileiros é de trabalhadores. E se faz necessário de delegados de base no “congresso de fusão”, marca-
construir um movimento estudantil classista e comba- do para junho desde ano - No 1º CONAT, realizado em
tivo. Betim/MG no ano de 2008, a proporção para a tiragem
de delegados era 500 na base para 1 delegado, com fra-
Da mesma forma é falso o argumento de que os ção de 250, agora a proposta é 1.000 na base para 1
movimentos sociais de corte ético-racial e de gênero delegado, com fração de 500. Isso implica em uma
são “policlassistas”. O racismo e o machismo são ins- drástica redução da participação dos delegados.
trumentos da dominação burguesa, utilizados para
superexplorar esses segmentos dos trabalhadores. As A história só se repete como farsa ou tragédia.
mulheres e negros do Brasil são submetidos às piores Estamos diante na iminência de um erro histórico,
condições de trabalho e recebem os menores salários. cometido por setores dirigentes da CONLUTAS. Estes
Os indígenas são submetidos a condições desumanas. foram incapazes de capitalizar o movimento de oposi-
ção e ruptura no interior da classe trabalhadora. A gui-
A luta contra a homofobia e a pela extensão dos nada representada por essas táticas é a negação dos
direitos civis aos homossexuais também tem que ter princípios e programa da CONLUTAS fixados no I
um caráter de classe. Essa não é uma questão individu- CONAT.
al, mas uma questão social que tem que ser respondida
pela luta da classe trabalhadora. Somente a ação políti- 3.3 Uma central de novo tipo e sua política de
ca do conjunto do proletariado pode superar o racismo construção.
e o machismo. A CONLUTAS representou um ensaio na cons-
A condição objetiva de classe desses setores é pro- trução de uma central de classe. Agora nossa principal
letária. É a ausência de uma política classista e socia- tarefa é garantir que nossa central se torne de fato uma
lista para organizá-los e integrá-los na luta de classes central sindical e popular, que reúna e organize o con-
que os deixa à mercê de políticas e ideologias da bur- junto da classe trabalhadora.
guesia e de Estado. Somente uma perspectiva metafí- Em uma central de classe, que tem como um de
sica de segunda categoria pode desconsiderar as con- seus pilares a democracia operária, não pode estabele-
dições econômicas materiais e substituí-las por uma cer pesos diferenciados aos setores que fazem parte da
vaga disputa de ideias e projetos individuais como cri- entidade. Somos contrários à deliberação do 1°
térios centrais na definição do caráter de classe. CONCLAT/2008 que estabeleceu um percentual de
Firmar que os movimentos estudantil e sociais 10% para a participação dos estudantes na
são policlassitas e, portanto, não podem estar na mes- CONLUTAS.
ma central é reproduzir a fragmentação imposta pela Infelizmente o processo de burocratização e
burguesia. É importante lembrar existem certas ocupa- mudança do caráter da “nova central” está avançando,
ções e sindicatos que agrupam “profissões” que pois a proposta do setor majoritário é que na “nova cen-
podem ter burgueses em seu ofício (como é caso de pro- tral” o movimento estudantil, movimento negro, movi-
fissões liberais e serviços públicos), além da existên- mento de mulheres e contra a homofobia tenham uma
cia de sindicatos de patrões (industriais, latifundiários, participação simbólica, com um percentual de 5%.
banqueiros, etc). Nem por isso se afirma que o movi- Esse tipo de formulação fere a natureza sindical e popu-
mento sindical é policlassista. lar da nossa central.Quer dar a aristocracia operária a
Por último, destacamos o aspecto burocratizante maioria compulsória na direção da entidade.
da política de fusão da CONLUTAS com a Do mesmo modo, somos contrários à constru-
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
ção de uma central sindical que permita a filiação do tura de ofensiva burguesa, a partir das políticas neoli-
movimento estudantil e popular. Porque essa formu- berais e da reestruturação produtiva. A superexplora-
lação muda o caráter sindical e popular e estabelece a ção e a precarização atinge parcelas cada vez maiores
formulação de uma central sindical que concede a fili- da classe trabalhadora, aumentando a nossa fragmen-
ação aos demais setores da classe trabalhadora. Na prá- tação e ampliando os lucros da burguesia. Nessa con-
tica, essa formulação não passa de um “favor” que os juntura somente uma Central de Classe é capaz de dar
sindicatos concedem aos estudantes e aos movimentos respostas às necessidades do conjunto dos trabalhado-
populares e sociais. res.
Defender uma central de classe significa defen- A Central de Classe deve estar estruturada na base
der uma entidade que reúne em seu interior as dife- da democracia interna e do federalismo (coordenação
rentes organizações da classe trabalhadora: o movi- da autonomia local com as funções diretivas das ins-
mento operário, o movimento sindical urbano (co- tâncias centrais), preservando as decisões de “baixo
mercio e serviços); o movimento camponês e de tra- para cima”. Esta democracia proletária tem um objeti-
balhadores rurais; o movimento estudantil; movi- vo de mobilizar; a democracia visa garantir a entrada
mento de desempregados e informais, o movimento das massas proletárias na arena da ação política. Além
negro e indígena, os movimentos de gênero e contra da democracia interna, a Ação Direta (greves, mobili-
a homofobia. Desta maneira, será uma organização zações e etc) deve ser o meio central da luta, e não as
ampla e representativa das lutas. negociações nos espaços da burguesia (justiça, parla-
A natureza de uma Central de Classe possibilita mentos, câmaras, prefeituras e governos).
romper com o sindicalismo social-democrata e corpo- O mais importante é que tal tipo de organiza-
rativista, que reproduz a fragmentação da classe traba- ção dá uma resposta às características do capitalismo
lhadora imposta pelo capital, ao mesmo tempo, garan- contemporâneo. Ele neutraliza as táticas burguesas de
te o combate a estrutura de sindicalismo de Estado. esfacelamento e fragmentação. Ele contorna também
Esse é o caminho para a construção de um amplo movi- os aspectos desorganizadores do sindicalismo de
mento classista e combativo dos trabalhadores. Estado e do sindicalismo social-reformista. E é um
Nós trabalhadores, estamos vendo numa conjun- tipo de organização que esteja adequada as necessida-
des de uma efetiva luta pelo socialismo.
de do rompimento por parte dos trabalhadores com a nária enquanto uma FRAÇÃO PUBLICA
CUT, iniciaram intervenção entre os trabalhadores. REVOLUCIONÁRIA assumindo a tarefa, tanto de
Durante esses anos a pratica dessas frentes já estão apoio as iniciativas de rompimento dos trabalhadores
totalmente comprometidas com alianças e vícios das com o controle pelas direções traidoras como de pro-
demais centrais que estão freando e boicotando as curar dar respaldo político e organizativo a estes tra-
lutas dos trabalhadores. balhadores e suas lutas, organizando as oposições sin-
Durante as várias lutas ocorridas nesses períodos dicais, comandos de base, assembléias etc.
em várias categorias não houve se quer uma plenária Organizar e unir os trabalhadores em torno da
de base. Em 2008 junto com a articulação petista a dire- orientação política classista e independente, compro-
ção da Conlutas na Apeoesp chamou o fim da greve metido com a função de apoiar, construir e unificar as
levando os professores a acreditarem no TRT. O resul- lutas em curso dos diversos setores de trabalhadores.
tado está sendo a demissão de milhares de professores Perante o conjunto do movimento operário, popular e
devido à aplicação da prova seletiva pelo governador do campo, se comprometa em construir a unidade dos
José Serra. trabalhadores; combater o divisionismo e corporati-
Sabemos que a unidade dos trabalhadores é vismo imposto pelas camarilhas burocráticas da CUT,
imprescindível para derrotar os patrões. Nesse sentido Força Sindical e agora CTB:
a ausência de uma central que trabalhe essa necessida- Defender a unidade política e organizativa dos tra-
de permite um ataque ainda maior da burguesia sobre a balhadores através da estruturação da CENTRAL DE
classe trabalhadora. A unificação das lutas sobre os LUTA PROLETÁRIA com os Comandos de base deli-
métodos burocráticos dos velhos pelegos em nada berativos em escalas regionais, estaduais e nacionais.
trará frutos para a classe dos explorados , pelo contra- ORGANIZAÇÃO E PLANO DE LUTA
rio, é apenas mais uma traição.
Nas organizações de massa e nas lutas, defender a
Unidade deve ser norteada pelos métodos classis- soberania das assembléias de base e dos Comandos de
tas através das plenárias e assembléias massivas per- Base com eleições para levar a luta dos trabalhadores a
mitindo o poder da base e a materialização de uma polí- ganhar autonomia e relação ao controle das direções
tica anticapitalista. Os métodos pacifistas e oportunis- governistas e burocráticas;
tas defendidos pelas direções fazem parte da disputa
aparelhistas e parlamentares da falida frente popular.
Seminários no ano de 2009 sobre a Unificação os AÇÕES
métodos e o teor dos debates não permitiram se quer Organizar as plenárias de base nas categorias para
aplicação da democracia operaria, foram marcados a estruturação das lutas;
pelos acordos de cúpulas. No ABC paulista PSTU e o Construir oposições, nos organismos de massa
PSOL combateram arduamente as propostas classistas dos trabalhadores, armadas com o programa e política
apresentadas pela Oposição Revolucionaria. Postura revolucionária,
essas demonstradas durante as greves no magistério
Reconhecer e defender a necessidade dos traba-
paulista em curso.
lhadores se organizarem em partidos revolucionários
da classe;
CONCEPÇÃO SINDICAL
Por uma Central Proletária Unificada nacio- BANDEIRAS
nalmente regida pela democracia operária através
Abaixo as reformas de Lula/FMI (previdência,
dos comandos de base (categorias, ramos de traba-
trabalhista/sindical e educacional);
lho, bairros, comitês de fábricas etc.) que nortearão
as plenárias e congressos nacionais com delegados Defender o Salário Mínimo Vital calculado pelos
de base. trabalhadores e aprovados nas assembléias;
A conquista da central que unifica as lutas dos tra- Emprego a toda à juventude proletária, adequado
balhadores deverá ser objetivo das organizações revo- ao estudo;
lucionárias. Estaremos impulsionando o rompimento Escala Móvel de Salário e horas de trabalho;
dos trabalhadores com a política e controle burocráti- Sistema Único de Previdência, saúde e educação
co das direções da CUT e FORÇA SINDICAIL e dema- Estatal sob controle dos trabalhadores;
is centrais, mas isso não significará a automática filia-
ção a Conlutas ( Entidade Nacional). Devemos atuar Apoio às ocupações e invasões de terras; expro-
no interior das organizações de massa do proletariado priação dos latifúndios sem indenizações.
em torno do programa e política operária e revolucio- Abaixo o Fórum Nacional do Trabalho.
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
escala para reduzir custos e aumentar lucros. A destrui- Esse recurso burguês, no entanto, não é ilimitado
ção de rios, lagos, florestas e biomas inteiros, como a nem onipotente. Sua força reside justamente em sua
Mata Atlântica, Pampa e Pantanal, para citarmos ape- "novidade" e na ilusão de mudança que traz consigo.
nas o Brasil, mostra o nível da degradação causada Após a experiência de uma década com as Frentes
pelo capitalismo e a urgência em destruir este sistema. Populares, a maioria dos países da América Latina já
Nossa luta política, econômica e sindical deve expressa uma ruptura (em diferentes graus) com este
assumir a bandeira ambiental como parte importantís- tipo de governo capitalista, e o espaço à esquerda tem
sima e integrante da luta pelo socialismo. Devemos se ampliado.
lutar por uma produção planificada, sem desperdício, No Brasil, o PT já é visto como um partido como
escassez ou superprodução, que atenda aos interesses os outros, e se Lula fizer de Dilma Rousseff sua suces-
e necessidades dos trabalhadores e que se preocupe sora, será sem o mesmo entusiasmo que sua eleição
com a preservação e recuperação da natureza. despertou em 2002. No Chile, Bachelet não elegeu seu
1.3 - O fracasso das Frentes Populares. Não há sucessor e assistiu à volta da direita tradicional. No
alternativas por dentro do capitalismo Uruguai, a Frente Ampla fez seu sucessor (José
Mujica), sem empolgar ninguém e com vários elemen-
Sobre qualquer aspecto, seja econômico ou ambi- tos de desgaste.
ental, o capitalismo tem somente obtido fracassos na
busca por soluções. Além de resultados insignifican- Quer dizer: elegendo o sucessor, perdendo as elei-
tes, todos os organismos chamados multilaterais do ções ou em um cenário ainda de disputa, as alternativas
capitalismo estão em crise. É o caso da ONU, desmo- reformistas, que prometiam humanizar o capitalismo
ralizada pela invasão dos Estados Unidos ao Iraque, e, gradualmente, resolverem os problemas sociais, vão
apesar de sua suposta reprovação; da quase falência do sendo desmascaradas, e a população, mesmo que
FMI; dos fracassos das cúpulas do G-8, G-20, etc. e ainda vote nesses partidos, já expressa muita decepção
das rodadas comerciais no âmbito da OMC. Também é e rupturas parciais com esse projeto.
o caso do esvaziamento e desprestígio do Fórum Mudar o capitalismo apenas em seus aspectos
Econômico Mundial em Davos. mais cruéis, com reformas graduais, sem ruptura radi-
A verdade é que nenhum organismo imperialista é cal com o atual sistema e suas instituições, já se mos-
capaz de articular ou apresentar uma saída para a crise trou inviável há mais de um século, desde que o capita-
histórica do capitalismo. lismo entrou em sua fase superior, imperialista e deca-
dente. Atualmente, a política reformista está ainda
Da mesma forma, os partidos burgueses de "es- mais desmoralizada, já que, para cada conquista míni-
querda", que são governo em muitos locais, e uma opo- ma, é preciso lutar até a morte contra o capitalismo,
sição comportada nos outros, não podem dar respos- uma vez que a burguesia não pode mais conceder gran-
tas. Abrigados sob a bandeira social-democrata, nacio- des benefícios à classe trabalhadora.
nalista ou frente-populista, partidos como o PT não
conseguem mais representar alternativa ideológica Junto com a traição do PT, o reformismo se esva-
nenhuma, pois seu discurso foi desmascarado pela prá- ziou enquanto projeto político. É cada vez mais defen-
tica. dido apenas pelas direções social-democratas e pela
própria burguesia. Um exemplo desse esvaziamento
As chamadas Frentes Populares têm sido usadas político é o Fórum Social Mundial que, em seu 10º
como o principal recurso de grandes empresários, ban- ano, teve uma marcha de abertura inexpressiva com 10
queiros e industriais para frear o ânimo das massas e mil pessoas, para quem já contou com marchas com
reforçar a crença nas instituições do Estado burguês. mais de 200 mil.
Este tipo de governo tem por objetivo esfriar a situação
da luta de classes, simulando representar os interesses A Frente Popular é, hoje, portanto, o principal obs-
dos trabalhadores, cooptando suas organizações. táculo para os trabalhadores. Por isso, entendemos que
a unidade nas lutas deve estar a serviço da derrota das
São governos da burguesia, apoiados pelas orga- direções frente-populistas, e que a unidade com gover-
nizações operárias e, no fundo, defendem tanto ou no e governistas, neste caso, não soma, mas, ao contrá-
mais que qualquer outro governo o interesse dos capi- rio, nos enfraquece.
talistas.
Uma leitura equivocada da correlação de forças,
Não é por acaso que o próprio imperialismo, atra- exagerando a força da direita e do perigo fascista, leva
vés dos Estados Unidos, teve que apelar a um governo a conclusões e políticas desastrosas para os trabalha-
com forte prestígio popular e cara de mudança, como o dores, como a busca por unidades permanentes com
de Obama, para conter, provisoriamente, a insatisfa- setores reformistas, nacionalistas burgueses ou
ção das massas. mesmo com as Frentes Populares. A realidade, ao con-
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
trário, exige uma política de enfrentamento muito massas com a Frente Popular está bastante profundo. A
mais forte com esses setores, pois eles representam, pressão e mobilização populares crescem, forçando o
atualmente, a principal sustentação do sistema capita- governo a tomar algumas medidas aparentemente de
lista. esquerda, como as estatizações e programas assisten-
1.4 - A reação da classe trabalhadora cialistas. Mas estas ações têm conteúdo burguês, pois
não transferem a produção aos trabalhadores, além dos
Como resposta aos efeitos da crise, a classe traba- "expropriados” serem ressarcidos com indenizações
lhadora aumentou muito suas mobilizações desde o gigantescas.
início do novo século. O que se expressou, por exem-
plo, nos processos insurrecionais do Equador, Bolívia, Além disso, Hugo Chávez aumenta seu caráter
Argentina e Venezuela (somente na América do Sul), e autoritário (bonapartista), reprimindo com violência
nas resistências históricas no Iraque, Afeganistão, as mobilizações operárias e de oposição ao governo e
Palestina e Líbano. Nos dois primeiros desses 4 países fechando emissoras de rádio e TV de forma mais gene-
de maioria islâmica, a luta impediu que a guerra impe- ralizada, sem que corresponda a uma reivindicação da
rialista, até hoje, seja dada como encerrada; e nos dois população. Foi o caso da RCTV, em 2007, que era vista
últimos, se impuseram derrotas políticas e militares e denunciada pelas massas como golpista e pró-
inéditas a Israel. imperialista. Hoje, o ataque à RCTV mira a imprensa
operária e popular.
Quando analisamos a correlação de forças na luta
de classes, percebemos que a burguesia nunca deixou Assim, quando falamos em mudança da correla-
de atacar. Mas a apatia das massas, que não tiveram for- ção de forças não significa que a classe trabalhadora
ças para resistir e se opor às privatizações, demissões e esteja arrancando vitórias e impondo seu programa.
desmonte do Estado na década de 90, já não se expres- Para isso, seria preciso, além de aumentar ainda mais
sa hoje. as ações de luta, uma direção internacional combativa,
o que não existe. Mas, apesar disso, as lutas têm sido
A classe trabalhadora passou à ofensiva, ainda mais fortes e numerosas nos últimos anos, o que se
que em diferentes graus de mobilização. Onde existia expressa no recuo de parte da aplicação dos planos neo-
luta e resistência, como no Oriente Médio, as mobili- liberais, como as privatizações, a ALCA, etc., e, inclu-
zações e ações contra a ocupação imperialista ganha- sive, ainda que distorcidamente, na onda de governos
ram ainda mais força. Esse cenário criou condições frente-populistas eleitos.
para o crescimento da Al-Qaeda, Hamas e outros gru-
pos que expressam a resistência na região, embora de Esses governos continuam sendo os principais ini-
forma distorcida, pois não defendem um programa migos dos trabalhadores na atual conjuntura. Mesmo
classista e de ruptura com o capitalismo. que, diante de um capitalismo doente e em crise,
alguns setores da burguesia prefiram apostar em alter-
Por outro lado, lugares onde a situação não era de nativas mais de direita, como na Colômbia e
polarização social e conflito aberto, passaram a ser Honduras, por exemplo, o grosso da burguesia mundi-
palco de poderosas greves e protestos. São os casos da al ainda deposita nas Frentes Populares todas as suas
França, Alemanha, Grécia, entre outros. No Leste fichas para tentar conter as lutas e a radicalização do
Europeu, a população repudia cada vez mais a restau- movimento de massas.
ração capitalista e defende o passado dos Estados ope-
rários, pois, mesmo com a degeneração ou deforma- Através de um discurso de esquerda, e de peque-
ção do comando da burocracia, existia emprego, salá- nas migalhas concedidas, esses governos, auxiliados
rio e uma realidade social que foi completamente ani- pelos dirigentes operários governistas e atrelados ao
quilada nesses 20 anos, desde a queda do muro de Estado burguês, representam hoje o alvo mais impor-
Berlim. tante contra o qual os trabalhadores devem direcionar
suas lutas. Combater os governos, além de lutar contra
Na América Latina, os trabalhadores seguem colo- os pelegos sindicais, populares e estudantis em cada
cando a burguesia contra a parede, o que leva ao surgi- disputa de entidade e em cada manifestação de massa,
mento de graves conflitos sociais, como no Peru, ou às deve ser a nossa tarefa.
Frentes Populares, que tentam manter o controle da
situação através de governos nacionalistas ou de retó- 1.5 – Todo o apoio ao povo haitiano
rica anti-imperialista. Em especial no Paraguai, O terremoto que atingiu o Haiti foi motivo de
Bolívia, Argentina e Venezuela há situações bastante comoção mundial por parte dos trabalhadores. Essa
agudas de luta de classes, e os governos não conse- tragédia deve ser encarada do ponto de vista político e
guem impedir que explodam manifestações violentas social. Em nenhum país imperialista e desenvolvido
e radicais. esse terremoto teria causado tamanho estrago, desde o
Na Venezuela, esse processo de experiência das ponto de vista da previsão da tragédia, passando pelo
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
socorro e buscas às vítimas, até a reconstrução do país. tra a exploração. No Oriente Médio, porém, nenhuma
A tragédia recente do Chile prova isso. Mesmo com solidariedade ou intenções de apoio são válidas sem
um poder de destruição bem maior, o número de mor- que se lute por uma Palestina única, laica e não racista,
tos deve ser 200 vezes menor que no Haiti. Por isso, controlada pelos trabalhadores, onde convivam todos
dizemos que os mortos no Haiti são vítimas do capita- os credos religiosos e etnias.
lismo. A vitória dos trabalhadores do Oriente Médio e a
Foi o imperialismo quem saqueou o Haiti durante defesa desses povos contra os ataques imperialistas
séculos. Nesse sentido, a solidariedade dos trabalha- podem significar o maior golpe que o imperialismo
dores é fundamental e urgente, mas o mais decisivo pode sofrer, repercutindo em seu enfraquecimento
deve ser exigir, como questão de reparação histórica, mundial e no consequente fortalecimento da luta inter-
bilhões de dólares, engenheiros e médicos dos gover- nacional da classe trabalhadora. Mais do que nunca, é
nos e da ONU. preciso estar junto à resistência afegã, palestina, ira-
Além disso, é preciso defender que a distribuição quiana e libanesa, e lutar pelo fim do Estado de Israel.
de mantimentos e a reconstrução de escolas, hospitais - Contra as demissões e ataques do capitalis-
e fábricas sejam feitas sob o controle direto dos traba- mo, responder com greves, ocupações e protestos!
lhadores e do povo haitiano, para que o país seja - Estatização, sem indenização e sob controle
reconstruído de forma livre, soberana e socialista, rom- dos trabalhadores, de todas as grandes empresas e
pendo com a burguesia e expulsando o imperialismo do sistema financeiro!
de seu território.
-Fora Obama do Iraque/Afeganistão. Todo
Por último, é necessário que as organizações com- apoio à resistência!
bativas dos trabalhadores aumentem a denúncia das
tropas norte-americanas, brasileiras e da ONU (Mi- - Pelo fim do Estado genocida de Israel!
nustah) no país. Devemos exigir que se retirem imedi- -Pelo Socialismo e pela Revolução!
atamente do Haiti, pois estão lá para legitimar a explo-
ração das multinacionais e reprimir a resistência dos
2 – POLÍTICA NACIONAL
trabalhadores, com o objetivo de reconstruir o país sob
controle direto dos grandes monopólios imperialistas. 2.1 – No Brasil, as lutas estão sendo retomadas
1.6 – Pelo fim do Estado de Israel A classe trabalhadora brasileira, como parte da
situação revolucionária internacional, também está
Um importante desafio à classe trabalhadora, à
lutando mais em comparação a anos anteriores, ainda
Conlutas e à provável nova central é apoiar os elemen-
que em um patamar inferior ao resto do mundo. No
tos mais avançados da luta anti-imperialista. E, já há
Brasil, não existe um grande ascenso dos trabalhado-
algum tempo, um dos epicentros dessa luta é o Oriente
res, com greve geral e enfrentamentos abertos e gene-
Médio.
ralizados com a polícia.
Nessa região do mundo estão concentradas as mai-
Por outro lado, as greves, protestos e ocupações
ores reservas de petróleo e importantes fontes de gás
são cada vez mais fortes, radicalizados e frequentes.
do planeta. É um local estratégico pela sua localização
Em 2008, bateu-se o recorde recente do número de gre-
geográfica, próxima do Afeganistão, Paquistão e da
ves no Brasil (411), fenômeno repetido em 2009. Além
China. Por isso, o imperialismo mantém a maior parte
disso, estas não foram quaisquer greves. Categorias
de suas tropas em território estrangeiro nessa região,
como os trabalhadores nos Correios e os bancários fize-
que conta com duas frentes de guerra.
ram greves todos os anos no último período.
Mas nada disso seria suficiente para impedir a Petroleiros retomaram as mobilizações, mesmo que
vitória das massas contra o imperialismo, se este não ainda parciais; metalúrgicos impuseram derrotas eco-
contasse com um aliado permanente: o ilegítimo esta- nômicas à patronal e aos próprios sindicatos pelegos
do de Israel, fortemente armado e sustentado num regi- em 2009, etc.
me racista, teocrático e terrorista (o sionismo).
Ainda não há uma generalização dessas lutas nem
Não há paz possível sem que se destrua Israel. sua unificação, embora já se perceba um cenário mais
Tampouco há a possibilidade de constituir um Estado favorável do que o anterior, e o espaço à esquerda tam-
palestino livre e soberano, ou de se restabelecer a sobe- bém cresceu.
rania do Líbano, Síria e Jordânia a seus territórios e
Hoje, ainda que as pesquisas apontem altos índi-
recursos, sem o fim de Israel.
ces de popularidade de Lula, a maior parte da classe tra-
Os trabalhadores de todo o mundo devem expres- balhadora rompeu politicamente com o PT, tanto é que
sar sua solidariedade ativa com todos os que lutam con- este partido não transfere toda a aprovação de Lula a
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
sua candidata, e tem muitas dificuldades com suas can- da pública, que ultrapassa R$ 1,5 trilhão, e com a inca-
didaturas estaduais. Mesmo em se tratando de Lula, pacidade de sequer pagar os juros da dívida, uma vez
em comparação a 2003, pode-se dizer que ele ainda que a queda da arrecadação federal arrasou a previsão
tem voto e aprovação, mas já não conta com a euforia e de superávit primário.
ilusão que despertava até tomar posse. O lado humano desses números se expressa nos
Isso se reflete na própria mudança da base social ataques aos direitos trabalhistas; reformas de planos
do PT, que migrou dos operários e setores mais prole- de carreira de funcionários públicos ou de empresas
tarizados e pauperizados da pequena burguesia, para federais, como BB, CEF e Correios, além do arrocho
uma massa popular disforme, boa de voto, mas que salarial e endividamento pessoal.
não se mobiliza em favor do governo, nem é determi- O crédito em alta e fácil tem conseguido impedir
nante no processo produtivo. que as famílias parem de consumir, mas se transfor-
Esse é um debate fundamental para elaborar as mou numa bola de neve. O resultado é que o percentual
principais tarefas e palavras de ordem para as próxi- de dívida do brasileiro, em relação a seu salário, saltou
mas lutas. Não é verdade, como afirma o PSTU, que as de 16,5%, em 2003, para 39,7%, em 2009!
massas confiam amplamente no governo Lula e depo- Os números falam por si. A crise não acabou e os
sitam gigantescas ilusões sobre ele. É menos verdade trabalhadores têm mais motivos para lutar.
ainda em relação ao processo eleitoral, já extrema-
mente desgastado e alvo do deboche de amplas mas- 2.3 – O desgaste da democracia burguesa e as
sas. eleições
É verdade que, em função da ausência de um À medida que aumentam as lutas dos trabalhado-
ascenso dos trabalhadores, e de processos mais radica- res, diminui o número daqueles que ainda acreditam
lizados na luta de classes, essa ruptura política com o nas regras do sistema democrático-burguês. O
governo Lula esbarra na falta de uma alternativa pela Congresso Nacional, o processo eleitoral e as institui-
positiva. Isso gera muito ceticismo e desconfiança por ções em geral estão completamente desmoralizados
parte do conjunto da população, o que afeta o conjunto perante uma grande parte da população. Somente esse
dos partidos eleitoreiros e instituições do sistema capi- ano, os casos Sarney, Yeda, Arruda e Kassab fizeram
talista (o que é progressivo), mas, como efeito colate- aumentar ainda mais o repúdio das massas aos políti-
ral, muitas vezes, também afasta os trabalhadores de cos tradicionais e às eleições.
vislumbrarem a possibilidade de uma organização de Hoje, o conjunto dos partidos políticos são questi-
outro tipo, combativa e revolucionária. onados e o senso comum dos trabalhadores brasileiros
2.2 – Uma economia frágil e dependente é o de que "político é tudo igual e ladrão", incluindo o
PT. O fim da esperança de mudar de vida com um
A economia brasileira começa a ficar mais está- governo do PT representou também o fim da esperan-
vel, mas está longe de ser o que era. Comparando-se ça de mudança pelo voto em qualquer um, o que é um
números do final de 2009 com o final de 2008, o saldo grande problema para a burguesia, já que a democracia
da balança comercial foi o pior desde 2002, com uma burguesa é forte exatamente por passar a impressão de
queda maior que 20%. Além desse resultado negativo, que o povo é quem decide seu governo. Hoje, já não é
a maior parte das exportações continua sendo de maté- isso que a quase totalidade da população pensa.
rias-primas e produtos sem valor agregado, que geram
menos empregos. No próximo processo eleitoral deve predominar a
indiferença e apatia por parte dos trabalhadores com a
Enquanto isso, os produtos industrializados são maioria das candidaturas. Para tentar mudar esse qua-
os primeiros da lista de compras do Brasil, ficando dro, os partidos tradicionais tentam forjar figuras
claro o caráter semicolonial da economia brasileira. “oprimidas” e identificadas com os mais pobres.
Continuamos comprando das "metrópoles" os produ-
tos industrializados, feitos com os artigos que vende- O PT com Dilma tenta repetir o que fez com Lula,
mos em forma bruta - as chamadas commodities, um ex-operário e grevista, que recebeu apoio popular
como os produtos agrícolas, pecuários e minerais. em função de seu passado. O PV lança Marina Silva
que, além de mulher, tem um discurso em defesa do
A queda do PIB em 0,2% em 2009, o que não acon- meio-ambiente, ainda que reivindique na íntegra a polí-
tecia desde o governo Collor em 1992, prova que o tica governista. A própria direita, como nas eleições de
Brasil foi fortemente afetado. A indústria, que é o ramo 2006, deve adotar um discurso mais popular e esquer-
mais dinâmico e desenvolvido da cadeia produtiva, dizante para dialogar com a consciência dos trabalha-
continuava 5,9% abaixo dos índices pré-crise no fim dores, anti-imperialista e antineoliberal.
de 2009.
Nesse sentido, a participação de candidatos da
Estes dados somam-se com o crescimento da dívi-
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
É nesse contexto histórico que reside o acerto da de luta ou eleitoral, para agitar a necessidade de ruptu-
construção da CONLUTAS. Muito mais do que uma ra com essa Central e construir chapas sindicais e estu-
iniciativa correta e progressiva, ela expressava a real dantis cuja preocupação era com um programa classis-
necessidade do movimento de massas brasileiro diante ta e combativo, não em dividir cargos na direção.
de um processo de traição das velhas direções operári- Esses eixos ficaram no passado.
as. A atual realidade determina a urgência de uma
Todas as direções que se negavam a afirmar isso e forma mais dura de enfrentar o governo Lula e o regi-
estabelecer o processo de reorganização sindical para me democrático burguês, com muito mais denúncias
superar as direções governistas estavam cometendo do que exigências (ainda que devam ser combinadas),
um crime contra os trabalhadores. Era isso que faziam ao contrário do que as direções da Conlutas e
setores da chamada esquerda da CUT, constituído pela Intersindical vêm fazendo na atual conjuntura, e que
"esquerda do PT", e setores do PSOL, que apostaram pretendem continuar a fazer.
na Assembleia Popular como uma 3ª via, que não rom- 3.3 - Unidade de todos ou unidade contra o
pia com a CUT e o governo, mas tentava ser indepen- governo?
dente dele.
Infelizmente, a maior parte do aspecto progressi-
Na prática, esta 3ª via se consolidou como um vo e correto da construção da Conlutas começou a ir
canal auxiliar da via governista, ao ajudar a impedir por água abaixo nos últimos anos. No lugar de jorna-
que setores que rompiam com o governo e a CUT fos- das de lutas que já mobilizaram até 1 milhão de traba-
sem construir uma opção de luta. lhadores, como em abril de 2007, de amplas campa-
A Assembleia Popular surgiu com o propósito de nhas e de uma política firme de denúncia do governo
ser esse dique para impedir a luta radical contra o Lula e do regime burguês, temos visto o contrário.
governo e era, portanto, regressiva e nociva aos traba- Desde meados de 2007 até agora, a Conlutas não
lhadores. A Conlutas, neste momento, afirmava isso e foi capaz de organizar nenhuma ação de massas, de rua
a denunciava abertamente. e nacional. Sua atuação se resume a atos regionais,
Na atualidade, a Intersindical é a herdeira política ações superestruturais, como abaixo-assinados ou ape-
e concreta desse papel da ex-Assembleia Popular. No nas em se somar a atos da CUT/governo.
entanto, a posição da direção da Conlutas mudou 180 Construir Frentes contra isso ou a favor daquilo,
graus e, já no seu congresso de 2008, o balanço feito sempre em Frente Única com o governo, é um crime
dizia que "Conlutas e Intersindical são duas expres- para quem se diz marxista. O “bê-a-bá” da luta de clas-
sões desse movimento progressivo de ruptura com os ses, através da experiência de gerações e gerações de
governistas". lutas operárias, nos ensinou que não há programa em
Nesse sentido, é preciso que a direção da comum entre a classe trabalhadora e o governo.
Conlutas faça uma autocrítica do que dizia desde o É inadmissível fazer parte permanentemente de
seu início ou, então, que mude sua política atual. Nós frentes únicas com a CUT, CTB, etc., seja contra as
defendemos que o que a Conlutas compreendia do demissões, pela reestatização da Vale, contra a emenda
papel da então Assembleia Popular é correto, e, por 3 da Reforma da Previdência, etc.
isso, discordamos do modo como hoje se faz a fusão
com a Intersindical. A direção da Conlutas pode pensar Em tese, ao contrário da impossibilidade das
diferente, mas não pode passar a versão de que isso é a Frentes Únicas com o governo, poderíamos fazer
continuidade natural do que sempre fez. É o oposto. ações específicas em comum. Não há nenhum proble-
ma de princípio de realizarmos atos com a CUT e
Na época, se afirmava que a Conlutas poderia CTB, desde que expressem um ponto (e não um pro-
cumprir um papel decisivo na reorganização dos traba- grama) em comum; que a isso corresponda a mobiliza-
lhadores organizados, desorganizados e desemprega- ção da massa; e se faça ainda mais enfrentamento aos
dos; do movimento popular; dos trabalhadores do pelegos, dentro do ato e publicamente, do que já faze-
campo e dos estudantes. Neste início da Conlutas, a mos em qualquer ocasião.
bandeira de defesa do socialismo era algo presente, e o
debate era de que, como a COB boliviana, a Conlutas Mesmo com estas pré-condições, não se pode
teria elementos de uma "central-povo", que poderia criar o fetiche da unidade sempre. Pode ser que ela, cir-
expressar um caminho por onde passaria a organiza- cunstancialmente, não sirva para os trabalhadores.
ção do duplo poder, numa ocasião de crise revolucio- Como escrevemos anteriormente, há casos em que a
nária no Brasil. unidade não soma; só confunde, rebaixa e despolitiza a
luta dos trabalhadores. Mas, assim como pode ser que
Nesse período, o eixo da Conlutas era bater no não sirva para os interesses de nossa classe, pode ser
governo e na CUT, aproveitar cada processo sindical, que seja importante. Devemos saber dar o devido valor
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
à soma de esforços da classe trabalhadora, mesmo com O problema de ir a reboque das manifestações dos
suas diferenças políticas. É desse modo que encara- governistas não é só porque eles não são de fato contra
mos a questão: como uma tática. o desemprego nem são consequentes na luta pela rees-
A direção da Conlutas, porém, não trata a questão tatização. O problema é que eles estão entre os culpa-
assim. Para começar, comete um erro de princípio no dos por isso tudo. Nossos atos deveriam não apenas ser
terreno da capitulação ao governo, ao formar Frentes sem eles, como teriam de ser contra eles!
Únicas (com organismos formais, programa, materia- Portanto, a unidade de ação, que em tese é possí-
is, nome e reuniões regulares) com inimigos de classe - vel com os governistas, hoje se resume, pela prática, e
o governo e seus agentes. não por um sectarismo pré-concebido, a poucas inicia-
Em 2º lugar, no que se refere à possibilidade de tivas, que de fato ocorrem, e todos estamos de acordo.
apenas conformarmos atos em comum, sob uma Hoje, porém, o centro de nossos atos deve ser con-
mesma bandeira, as "unidades de ação", comete erros tra o governo e os governistas, com atos próprios,
táticos e outros de princípio. priorizando a ação direta e o enfrentamento.
O erro tático é que, ainda que possamos fazer atos A gota d'água desta política oportunista que o
comuns com os governistas, e os façamos quando é o PSTU, como direção, leva à Conlutas, é a ausência de
caso, isso só deve ocorrer se o ponto em comum real- enfrentamento aos pelegos dentro destes atos comuns.
mente nos unifica. Por exemplo, se houver um ato con- Em algumas vezes, nem uma diferenciação clara é fei-
tra a presença da Inglaterra nas Malvinas (Argentina) ta, e em alguns casos apenas isso.
podemos, e talvez devamos, estar na mesma manifes- Mas se diferenciar de um pelego é bem diferente
tação com o PT e PCdoB. Isso está colocado hoje em de se enfrentar com ele. Depois de um governista
dia. defender o governo Lula, um orador da Conlutas
Isso ocorreu na marcha de abertura do FSM, em tomar a palavra e apenas criticar o governo é uma dife-
que todos marcharam juntos, poderá se repetir numa renciação. Isso nem sempre é feito. Mas se enfrentar
greve e em muitas outras ocasiões. Lembrando que com a pelegada exigiria mais: denunciar o papel das
isso é tático, e pode ser que haja forças, condições e a direções majoritárias das massas como defensoras
avaliação de que é melhor construir atos separadamen- deste governo e identificar que, para barrar os ataques,
te. Mas se a unidade for positiva, lá devemos estar o desemprego, etc., é preciso construir uma nova dire-
todos nós, como ocorreu várias vezes. ção, e romper com as burocracias da CUT e CTB, por
exemplo. Isso nunca é feito!
Mas a direção da Conlutas, como dissemos, tem o
critério de que é importante lutar junto a qualquer cus- Em nome da unidade, a diplomacia impera, e a
to, mesmo que com os inimigos. O critério não é o do verdade que precisaria ser dita aos trabalhadores é
conteúdo, e sim o do número de pessoas e da "unidade" escondida. Em vez de levar sua base, muitas vezes a
em si, como uma abstração. CUT leva somente seus dirigentes aos "atos unitários",
mas, mesmo assim, condiciona toda a política dos atos
Assim, na prática, existe a tática transformada em e recebe a omissão capituladora da Conlutas em
uma estratégia permanente, com atos em comum com denunciá-la.
os governistas em tudo que envolve questões que são
centrais para a luta de classes: foi assim na luta contra a Pior que abrir mão de mobilizar contra os gover-
reforma da Previdência e suas emendas; quando da pre- nistas, é abandonar a própria independência de classe
sença de Bush no Brasil (ambas em 2007); na luta con- em nome dessa unidade e poupar os pelegos.
tra o desemprego e plano econômico (de 2008 até 3.4 - Chapas com traidores em nome do apara-
hoje), etc. to
Uma marcha a Brasília da Conlutas chegou a ser Na mesma lógica equivocada e oportunista de
adiada muito tempo para coincidir com o MST (que transformar a possibilidade de unidade de ação com
depois nem marchou junto), e assim por diante... amplos setores em uma política permanente e princi-
Há três anos, no mínimo, esta tem sido a política pista, cuja explicação está na “busca da unidade” em si
da Conlutas. Em "dias de festa", como os 1ºs de Maio, mesma, vem a formação, cada vez mais comum, de
8 de Março ou 20 de Novembro, fazem-se atos em sepa- chapas sindicais com setores do governo.
rado para marcar posição. Ultimamente, às vezes, nem É o caso escandaloso que existe na chapa com a
nestas datas. No restante do calendário de lutas, inclu- Articulação (direção máxima do PT, da CUT, do
indo as iniciativas que correspondem às respostas aos governo e do mensalão) em Correios no RJ. Também é
principais ataques contra os trabalhadores, as iniciati- o caso da gestão em comum com a DS nos professores
vas são em unidade permanente com os governistas. do RS e dos inúmeros casos de alianças feitas ou nego-
ciadas com o PCdoB Brasil afora (eleições nacionais
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
horrível, válido por dois anos. Tudo que Lula queria! Nunca nos opusemos à unidade e à possibilidade
Foi uma vacilação e covardia poucas vezes vistas no de fusões entre as organizações operárias. Pelo contrá-
movimento sindical por direções combativas. rio. Achamos que, se baseada em critérios de programa
No RS, onde o sindicato é proporcional, a minoria e concepção sindical, a unificação é absolutamente pro-
de diretores do Movimento Revolucionário, junta- gressiva e fundamental para o movimento sindical.
mente com ativistas independentes combativos, este- Nós fomos dos que sempre defenderam a estraté-
ve à frente da direção da greve, e a história foi outra. A gia da fusão de todos os lutadores, e os há em grande
greve, enquanto ainda era possível tentar mudar a con- número na base da Intersindical, mas, exatamente para
dição nacional, foi continuada por mais alguns dias, e que a unidade venha para acrescentar, sempre fomos
só encerrou quando o desmonte já era irrecuperável. contra o método precipitado e burocrático como aca-
Ainda assim se manteve o estado de greve, rejei- bou se dando.
tando a proposta e aprovando, por unanimidade, uma De qualquer modo, diante da constatação de
moção de repúdio contra todo o Comando Nacional, que é um fato consumado a efetivação da fusão,
incluindo a maioria (PSTU/MRL/PCO/ASS) e mino- devemos tratar de fazer do limão uma limonada.
ria governista, que dizia “eles não falam em nosso Por isso, defendemos que todos os ativistas hones-
nome”. tos, de base ou dirigentes, comprometidos com a
Diferente da greve em bancários, que foi desmon- luta antiburocrática e antigovernista ingressem na
tada politicamente em SP e Brasília, derrubando os nova central, e que juntos conosco, ajudem a cons-
outros todos como um dominó; nos Correios, não truir um polo de luta e socialista, que se diferencie
houve derrota da greve em lugar algum, e sim uma frau- da provável maioria desta nova central, apresen-
de, que adulterou a vontade dos trabalhadores, inclusi- tando uma concepção democrática, plural e da
ve do RJ e de SP. ação direta para esta nova central.
Por fim, outro aspecto que nos preocupa diz res- Apesar dos erros, é possível, com a direção ade-
peito à permanente tentativa de cooptação estatal, atra- quada, dotar a nova central de uma força imensa,
vés do, antes denunciado e totalmente rejeitado, que propicie a derrota do governo e de seus ataques
imposto sindical. aos trabalhadores.
Esse imposto hoje é repassado aos sindicatos da Para isso, vamos precisar de unidade, sim, basea-
Conlutas, sendo que a maior parte das entidades filia- da no respeito às diferenças internas e espaço às mino-
das não devolve este valor confiscado dos trabalhado- rias; vamos precisar, ainda mais, de firmeza e organi-
res. Em nossa opinião, os sindicatos que compõem a zação, para levantar bem alto o programa combativo e
Conlutas ao usarem este recurso patronal, e a Conlutas classista de que necessitam os trabalhadores.
não apenas permitir, como também se beneficiar desse Essa batalha deve ser assumida em bloco pelos
valor (através dos repasses mensais e colaborações diferentes grupos e posicionamentos independentes
financeiras), faz com que todos sejam cúmplices deste que estão hoje na esquerda da Conlutas, mas que tam-
processo. pouco se confundem com a ultraesquerda estéril, que
Defendemos que o imposto sindical seja denunci- não atua na luta de classes e apenas age de modo dile-
ado insistentemente em todas as nossas bases e que tante e denuncista.
devolvamos cada centavo aos trabalhadores, como Nossa tese está a serviço de discutir a necessidade
fazem os sindicatos de bancários do Rio Grande do de agrupar imediatamente os setores independentes ou
Norte e de Bauru, por exemplo. Sem fazer e exigir isso organizados que compreendam a necessidade de se
de seus membros, a Conlutas estará se misturando aos construir esta nova direção.
superpelegos que tanto denunciou, e que estão na cabe-
ça do processo de legalização das Centrais e repartição
do imposto sindical, conforme as novas regras agora 4 – POR UMA NOVA CENTRAL DE LUTA
existentes, e às quais a Conlutas foi incorporada. E PELA BASE
3.6 – Por uma central de base e de luta, cons- 4.1 – Ganhar a nova central para a luta radical
truir uma nova direção contra governo e governistas
Em razão desse recuo da Conlutas, e da dinâmica Defendemos a disputa organizada da nova cen-
de que a fusão serve para crescer do ponto de vista do tral, por dentro, para que assuma um caráter radical e
aparato e não do fortalecimento das lutas com um pro- de enfrentamento aos planos do governo e ao capitalis-
grama classista e socialista, viemos dizendo que está- mo.
vamos contra a fusão, sem discussão e sem programa Será preciso agitar sobre as categorias de entida-
claro. des filiadas ou não à nova central os efeitos dos ata-
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
ques dos patrões e as traições das centrais pelegas. política, abaixo apenas do Congresso e encontros.
Dessa forma, cada ato e manifestação devem ser colo- A realização de iniciativas como atos noturnos,
cados em defesa da mais básica necessidade dos traba- por exemplo, como é tradição na Argentina, e
lhadores, mas sempre ligando esta luta à necessidade outras medidas que possam explorar a possibilida-
histórica de se derrotar o sistema como um todo. de de incorporar novos setores às lutas, além da
A nova central precisa assumir o que a Conlutas “vanguarda” de sempre, precisa ser uma preocu-
dizia ter nascido para fazer: defender o socialismo, na pação constante da nova central.
teoria e na prática, aglutinar todos os setores explora- Outra política importantíssima é a dos rodízi-
dos, lutando para incorporar a juventude, o conjunto os nas direções sindicais. Hoje, existem dirigentes
dos movimentos populares e as entidades de luta con- da própria Conlutas há 15 ou 20 anos como libera-
tra a opressão. dos sindicais. Alguns nem mais vínculo com alguma
Esta nova central precisa ser dirigida e controlada empresa ou categoria têm. Esta realidade deve aca-
pela base, com um programa de combate aos burocra- bar! Defendemos o rodízio, a limitação de manda-
tas e pelegos sindicais, mesmo os que estarão em suas tos e liberações aos militantes sindicais e a luta por
próprias fileiras. Esta luta precisará ser feita de forma formas combinadas de manutenção da estabilidade
fraterna, mas firme, por dentro dos organismos da dos companheiros do setor privado.
nova central, que deve assumir um programa alternati- Por fim, após o Conclat é determinante que se ini-
vo ao que propõe sua atual maioria. cie uma ampla campanha de agitação nacional sobre a
4.2 – Ir à base, combater o burocratismo e cons- nova central, com panfletos, cartazes e adesivos divul-
truir uma alternativa de verdade gando seu programa na base de todas as entidades dos
É preciso que desde o congresso de fundação até trabalhadores e em grandes centros urbanos, para que
os encontros nacionais e regionais, que devem ser regu- ganhe visibilidade entre as massas e a classe trabalha-
lares e mais frequentes, os trabalhadores discutam a dora.
respeito das bandeiras e tarefas que nortearão as ações
da central, o que hoje fica restrito a alguns poucos diri- 5 –PLANO DE AÇÃO
gentes das entidades.
5.1 – Retomar a campanha forte de desfiliação
As teses para os congressos e os encontros regio- da CUT, incluindo a CTB
nais devem ser debatidas em assembleias e, onde for
possível, em locais de trabalho. Nesse sentido, as reu- Uma das tarefas mais urgentes da nova central
niões e encontros devem ser abertos para a base e deverá ser a retomada imediata da campanha de desfi-
amplamente convocados. É fundamental que se mude liação da CUT, CTB, Força Sindical, etc. Temos que
a prática de reuniões de coordenação da central em mapear as entidades em que é mais realista fazer essa
horários que somente liberados sindicais podem disputa e definir um calendário para que voltemos,
participar. com toda força, a esta política que hoje está secundari-
zada.
Como expressão desse caráter de base, a central
deve ter um funcionamento com uma coordenação Em muitas entidades não sairemos vencedores,
aberta, em que todas as entidades que reivindicam e mas nossa agitação pode ajudar a desenvolver rebe-
constroem a central devam estar representadas liões de base ou a ganhar alguns setores para a oposi-
com direito a voto nas reuniões, de modo proporci- ção. Em outras entidades, porém, conseguiremos
onal, considerando seus diferentes trabalhos de base, enfraquecer o poder da burocracia de modo mais signi-
representação, percentual de sindicalizações e peso ficativo, e há um enorme espaço para desfiliar mais
eleitoral. centenas de entidades das centrais governistas.
As finanças devem ter rateio dos custos entre A constituição de chapas próprias da nova central
seus integrantes ou um fundo para isso, revertendo e atos independentes devem ser prioritários, ainda que
a lógica atual, em que participam mais as entidades devam ser analisados todos os casos especificamente.
com mais dinheiro. 5.2 – Por uma agitação de massas sobre a classe
A existência de uma direção executiva deve trabalhadora
estar subordinada à coordenação nacional da nova Além disso, na primeira semana de agosto, é
entidade, composta por todas as suas entidades, e necessário que seja construído um grande processo de
deve ser rotativa e com mandato revogável a cada paralisação das principais categorias de luta do país,
reunião. Ela precisa conduzir os encaminhamentos como uma preparação para a unificação das campa-
deliberados pelas coordenações nacionais, que tem nhas salariais de correios, bancários, petroleiros, meta-
que ser os organismos máximos de deliberação da lúrgicos, servidores, etc., que ocorrerá logo em segui-
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
No Brasil, a crise é real, mas moderada em rela- PCdoB, inclui um amplo leque de partidos burgueses,
ção ao centro capitalista, com consequências econô- entre eles o conservador e corrupto PMDB de José Sar-
micas sérias, mas setoriais, principalmente nas indús- ney, mas principalmente pela sustentação que recebe
trias exportadoras. O impacto da crise vem diminuin- da CUT e CTB e outras centrais sindicais; do MST,
do pelo incremento da exportação de produtos primá- UNE, UBES e movimentos populares e sociais, apoio
rios, enquanto a produção de bens de consumo duráve- político que é um elemento importante para a defini-
is está sendo assimilada pelo expressivo mercado ção do caráter do governo.
interno e pelos incentivos fiscais do governo Lula. Um exemplo recente desta relação de atrelamento
No curto prazo, contribui também para o abranda- é a Conferência Nacional da Classe Trabalhadora
mento dos efeitos da crise no Brasil, o elevado afluxo (CONCLAT), chamada para 1/6/2010, em São Paulo,
de capitais especulativos, tornados ociosos pela crise pelas centrais CUT, Força Sindical, CGTB, CTB,
internacional, que tem ingressado no país, embora não NCST e UGT que, além de boicotar o Congresso da
ignoremos que, no longo prazo, este fator, que sabe- Classe Trabalhadora, está sendo organizada para apoi-
mos volátil, poderá voltar-se contra a estabilidade da ar a candidatura de Dilma Roussef para a Presidência.
economia. As reformas:
Os prognósticos otimistas e exagerados de Lula, a A desmoralização sofrida pelo neoliberalismo,
respeito da superação da crise, apóiam-se, no entanto, com a crise, não diminuiu o ímpeto burguês pelas
em um fato real, que é o impacto menor da crise no Bra- reformas, que continua manifestado pela imprensa,
sil, quando comparado com o centro capitalista, pairando como uma ameaça para os trabalhadores.
demonstrando erradas as avaliações catastrofistas.
As eleições de outubro de 2010 abrirão um novo
> A situação atual da luta de classes no Brasil: período de ofensiva contra os direitos dos trabalhado-
A correlação de forças em relação aos patrões e res. Das duas candidaturas com chances de vitória, o
aos governos, não é favorável ao movimento dos tra- PSDB não esconde que vai implementar as reformas,
balhadores, que não tem a iniciativa política necessá- enquanto o relativo silêncio do governo Lula a respei-
ria para fazer com que as jornadas de luta em nível naci- to, somente se explica pela prioridade que está sendo
onal superem a postura defensiva. dada à eleição de Dilma para a Presidência.
No entanto, no decorrer do 2º semestre de 2009, A central de trabalhadores que vamos constituir
ocorreu uma onda de greves de metalúrgicos, bancári- tem que estar preparada para organizar, desde já, a
os, petroleiros e correios, com força e amplitude para resistência contra uma nova ofensiva burguesa em tor-
obter vitórias parciais importantes na luta econômica e no das reformas da previdência, trabalhista e sindical.
a abertura de concurso para milhares de vagas no Ban- Eleições Gerais de outubro de 2010:
co do Brasil e Caixa Econômica Federal, conquista
que bate de frente com a tendência governamental de Apoiamos a constituição de uma frente eleitoral
redução de pessoal e de desmonte dos bancos estatais. da esquerda socialista para as eleições de 2010, con-
Não foram greves defensivas para manter emprego, e cretizada através de candidaturas unificadas do PSOL,
sim ofensivas, para recuperar perdas e lograr conquis- PSTU, PCB e outras correntes, para a Presidência da
tas. A crise não impediu que os trabalhadores fossem à República e governos estaduais. Esta é a iniciativa que
luta. melhor corresponde ao passo organizativo que esta-
mos dando no campo sindical e popular, com a central
Para entender a importância desta jornada de de trabalhadores unificada.
lutas, basta ver que Lula foi obrigado a intervir direta-
mente, chamando aos dirigentes sindicais da CUT de No entanto, entendemos que o Congresso da Clas-
covardes, por não irem para a base pressionar pelo se Trabalhadora, respeitando o caráter de organização
encerramento das greves. de frente única da central e a sua independência políti-
ca em relação aos partidos, não deve deliberar o apoio
O caráter do governo Lula: a candidatos nas eleições de outubro.
Lula governa de acordo com os interesses da bur- Plano de Lutas
guesia e do capital financeiro. Em meio à crise, seu
governo, que sempre privilegiou o lucro do capital, Luta contra todas as formas de discriminação
transferiu em larga medida os prejuízos dos empresári- sexual e racial:
os para os trabalhadores. > Contra a discriminação, opressão e violência à
Mas, o governo Lula não é um governo burguês mulher, aos negros e aos homossexuais.
clássico. É um governo de frente popular. Não tanto > Contra a xenofobia.
pela sua base de apoio partidária que, além do PT e > Contra o assédio moral e sexual;
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
> Garantia de creche para os filhos das trabalha- sas que demitem;
doras; > Redução da jornada semanal de trabalho, sem
> Implantação da licença maternidade; redução de salário;
> Igualdade na oportunidade de emprego e no salá- > Reforma urbana: Moradia digna, transporte e
rio para mulheres e negros; infraestrutura básica para toda a população;
> Cotas raciais para ingresso na universidade e > Reforma agrária radical, sob controle dos traba-
nos concursos para cargos públicos; lhadores.
> Instituição da História e Cultura Afro- > Emprego dos recursos do Pré-sal para eliminar
Brasileira no currículo das escolas; a pobreza e melhorar as condições de vida das massas;
> Respeito à diversidade religiosa nas escolas Governo Lula:
públicas, reforçando o seu caráter laico; > Contra a Reforma Previdenciária, Trabalhista e
Meio ambiente: Sindical, que atendem aos interesses da burocracia sin-
> Pela efetiva preservação do meio ambiente; dical, do mercado financeiro e dos capitalistas interes-
sados na flexibilização dos direitos dos trabalhadores;
> Contra a privatização da água e dos recursos
naturais; > Estatização dos bancos e do sistema financeiro,
sob controle dos trabalhadores;
> Em defesa da Floresta Amazônica.
> Defesa do direito de greve, da liberdade de orga-
Educação: nização sindical e contra a criminalização dos movi-
> Ensino público, gratuito, laico, gerido demo- mentos sindicais, populares e sociais;
craticamente e de qualidade, organizado em função > Unidade dos movimentos combativos dos tra-
dos interesses dos trabalhadores, que garanta o acesso balhadores na perspectiva da greve geral;
de todo o povo ao conhecimento universal;
> Por um 1º de maio classista, contra as reformas,
> Verbas públicas somente para a escola pública; as demissões; e o imperialismo;
> Ampliação da rede pública de educação infan- > Por um governo dos trabalhadores, operário e
til; camponês.
> Fim do analfabetismo; Não às intervenções imperialistas e à recoloni-
> Fim do vestibular; zação da América Latina:
> Implantação do Piso Salarial Profissional Naci- > Imediata libertação dos presos políticos islâmi-
onal, para os trabalhadores em educação, rumo ao cos detidos em Guantánamo e devolução da base mili-
piso do DIEESE. tar à Cuba;
Defesa do serviço público e dos direitos dos ser- > Fim do bloqueio dos EUA à Cuba;
vidores: > Defesa das conquistas sociais da Revolução
> Não à reforma previdenciária e ao Fundo Com- Cubana;
plementar de Aposentadoria; > Retirada dos soldados dos EUA, brasileiros e de
> Aposentadoria integral e paridade salarial entre outros países do Haiti;
ativos e inativos; > Não à instalação de 7 bases militares dos EUA
> Admissão no serviço público somente através na Colômbia e de 11 no Panamá;
de concurso. Fim da contratação emergencial e da fle- > Retirada das tropas dos EUA da Colômbia e de
xibilização do serviço público. outros países latinoamericanos;
Melhores condições de vida e de trabalho > Pela construção de uma organização unitária
> Pela estatização dos hospitais e da produção de para a luta antiimperialista na América Latina.
medicamentos; Oriente Médio e Ásia:
> Melhoria das condições de trabalho para a pre- . Retirada imediata de todas as tropas dos EUA e
servação da saúde dos trabalhadores; OTAN do Iraque e Afeganistão;
> Melhores condições de vida e de salário para o . Indenização que repare a destruição e mortes pro-
aposentado; vocada pela intervenção imperialista;
> Pelo aumento real do salário mínimo; . Contra as ameaças de agressão imperialista ao
> Contra o desemprego. Penalização das empre- Irã;
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
para isto que surgiu a Reorganização. > Os delegados devem ser eleitos através do voto
universal, em assembléias.
Uma central baseada nos princípios classistas > Proporcionalidade na eleição dos delegados;
1) Democracia operária: > Direito à defesa de teses nas plenárias congres-
suais;
A democracia operária é uma das condições fun-
damentais para os sindicatos e as organizações popula- > Grupos de trabalho para permitir a livre mani-
res, porque dela depende o pluralismo de idéias e a uni- festação do conjunto dos delegados.
dade dos trabalhadores. Ela precisa ser garantida atra- 3) Independência de classe:
vés da mais ampla liberdade de manifestação para Um dos principais fatores que inutilizam para as
todas as correntes políticas, algo difícil de existir ple- lutas e desmoralizam as organizações dos trabalhado-
namente, até mesmo nas organizações combativas. res e a militância, é a falta de independência política. A
A existência da democracia interna implica na CUT é o maior exemplo de uma organização classista,
rejeição dos métodos burocráticos, cupulistas e hege- que se tornou pelega pela prática do atrelamento ao par-
monistas de discutir e deliberar, que marcaram a CUT tido político.
e que, em alguma medida, também estão presentes nas A central e os sindicatos, devem resguardar os
organizações do campo combativo. A central unitária seus objetivos unitários e pluralistas, não podendo
que vamos fundar deve admitir no seu funcionamento estar vinculados a partidos, e nem apoiá-los em elei-
a livre expressão de toda a sua diversidade de correntes ções, “de forma que qualquer trabalhador possa reco-
políticas. nhecê-los como a sua forma de organização, indepen-
Faz parte também da democracia interna, o respe- dentemente de sua opção partidária ou de não ter
ito às diferenças de gênero e raça, sendo particular- nenhuma opção de partido”.
mente importante, dar um fim ao machismo, uma Discordamos da fórmula “independente do Esta-
deformação que desrespeita as mulheres e que se alas- do, governos e patrões, e autônoma em relação aos
tra desde os dirigentes até a base. partidos políticos”, porque deixa em aberto a possibi-
2) Organização de base, ação direta e combati- lidade de apoio eleitoral. Já foi muito usada pelo PT
vidade para justificar o apoio dos sindicatos às suas campa-
É preciso abrir espaço para a participação da base nhas eleitorais.
nas organizações sindicais, populares e sociais, rejei- O apoio a candidatos nas eleições burguesas sig-
tando os métodos e as práticas burocráticas e de cúpu- nifica subordinar a organização sindical, popular e
la. social, a objetivos contraditórios com o seu caráter uni-
A central deve propor as ações políticas que colo- tário, fazendo com que os seus recursos humanos,
quem os trabalhadores como protagonistas ativos e materiais e financeiros sejam disponibilizados para
diretos nas lutas, fortalecendo as instâncias onde é algumas correntes políticas.
mais determinante a participação da base, como a orga- Propomos a independência política da nova cen-
nização por local de trabalho e as assembléias sindica- tral e de todas as organizações sindicais e populares
is e populares (instância que deve estar acima do con- dos trabalhadores, em relação à burguesia, ao estado
gresso destas organizações), e as formas de luta mais burguês, aos governos e aos partidos políticos, para
características da ação direta dos trabalhadores, como preservar a unidade em meio às divergências parti-
as manifestações, piquetes e a greve. dárias e eleitorais.
Enfim, queremos uma organização voltada para 4) Independência em relação ao estado
encaminhar as lutas dos trabalhadores contra os A independência de classe em relação ao estado é
patrões, a sua única razão de existir, e que represente a um princípio que deve ser aplicado integralmente à
negação da colaboração de classes, tendo sempre por todas as organizações sindicais populares e sociais.
método colocar classe contra classe. Em nome dele devemos defender a ruptura com qual-
Propostas para os congressos da central unifi- quer legislação atreladora.
cada No caso específico dos sindicatos, a autonomia
> Congressos a cada 2 anos, com critérios massi- garantida na Constituição Federal de 1988 foi apenas
vos para a eleição de delegados; parcial, e o atrelamento ao estado não foi desmantela-
> As teses devem ser divulgadas com antecipação do completamente. Segue existindo o Imposto Sindi-
para que os delegados sejam eleitos em cima de posi- cal e o Ministério do Trabalho continua interferindo na
ções políticas; livre organização dos sindicatos.
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
A Reforma Sindical do governo Lula, comprome- CUT ampliou ainda mais o espaço para a burocratiza-
te mais ainda a independência dos sindicatos. Não ção dos sindicatos.
podemos aceitar a legalização da central dentro da A burocratização é uma brecha para a penetração
estrutura prevista pela Reforma, porque é contraditó- da ideologia burguesa no sindicato. É a partir dela que
rio com o princípio da independência em relação ao surgem o “sindicato cidadão”, as empresas de assesso-
estado. Temos que lutar contra ela. ria, o “planejamento estratégico”, ou seja, o uso dos
Os sindicatos devem ser reconhecidos pelos tra- métodos empresariais na gestão sindical.
balhadores, e não pelo estado. As associações sindica- As atuais limitações que estão presentes na capa-
is dos servidores dos anos 70 e 80, mesmo sem serem cidade de mobilização dos trabalhadores são o campo
reconhecidas de direito, negociavam com os gover- ideal para a proliferação da burocracia sindical. É pre-
nos, como se fossem sindicatos de fato, inclusive assi- ciso mudar esta realidade, pelo menos nos sindicatos
nando acordos de greve. que dirigimos ou influenciamos.
5) Auto-sustentação financeira Para combater o burocratismo, esta gangrena que
A central deve rejeitar categoricamente o FAT, o adapta os sindicatos ao capitalismo e ao reformismo, a
Imposto Sindical, ou qualquer outra forma estatal de direção combativa deve apoiar-se no movimento da
financiamento das organizações sindicais, populares e classe, ao contrário da direção burocrática, que se
sociais. Os recursos financeiros para o funcionamento apóia no aparelho.
das entidades devem originar-se integralmente da con- Movimentos populares e sociais
tribuição voluntária de seus associados, uma garantia
de independência e desatrelamento. Coerentes com o princípio da frente única dos tra-
balhadores, defendemos que a central organize dentro
6) Internacionalismo proletário: de si os movimentos populares e os movimentos con-
O caráter internacional da luta de classes determi- tra a opressão e a discriminação.
na que a central que vamos constituir no Congresso da A dupla representação é uma dificuldade a ser
Classe Trabalhadora, tenha o internacionalismo prole- superada, mas não deve ser um motivo para vetar a par-
tário, enquanto um de seus mais importantes princípi- ticipação dos movimentos populares e sociais. Deve-
os políticos. mos buscar uma forma de impedir que ocorra, mas sem
Somos conscientes das divergências existentes excluir nenhum setor dos trabalhadores.
em torno do internacionalismo proletário entre as Outra preocupação é a necessidade de dar uma
diversas correntes políticas. Mas, ainda assim, deverá perspectiva socialista para a luta contra a opressão e a
ser uma prioridade identificar os pontos comuns para discriminação, de tal forma que nos diferenciemos dos
ações unitárias. movimentos de natureza burguesa que atuam nesta
A central deve dar uma resposta consequente para área.
as lutas internacionais, divulgando e organizando a par- As associações de moradores fazem parte do
ticipação dos trabalhadores brasileiros em campanhas movimento popular:
propostas por ela ou por organizações de outros países.
As normas que regulamentam o congresso, não
Consideramos uma tarefa fundamental para a cen- fazem referências explícitas às associações de mora-
tral, fazer avançar a consciência antiimperialista no dores de vila ou bairro, entidades que tem o mérito de
Brasil, que reconhecemos muito limitada, como con- encaminhar a luta das comunidades populares por
sequência de um vazio político criado a partir da dege- melhores condições de vida e de moradia, e que foram
neração do PT e da CUT. enquadradas como “núcleos comunitários”.
A central precisará fazer um esforço concentrado A associação de moradores é distinta do “núcleo
para que avance a participação das organizações de tra- comunitário”, porque é uma entidade, e é mais abran-
balhadores brasileiros nas campanhas de solidarieda- gente no local de moradia. Também é distinta das ocu-
de em nível internacional, e particularmente, de Amé- pações ou assentamentos, embora muitas tenham sur-
rica Latina. gido a partir da luta pela conquista da terra para mora-
Burocratização: Um desafio a enfrentar dia.
Ao longo dos anos 90, os sindicatos começaram a Por estas razões, reivindicamos que as associa-
sofrer uma intensa burocratização no seu funciona- ções de vila ou de bairro mereçam menção explícita no
mento, influindo para isto a herança deixada pelo sin- futuro estatuto da central, pois são parte integrante e
dicalismo varguista e a prática política das atuais dire- legítima do movimento popular.
ções sindicais, marcada pela colaboração de classes e Os movimentos populares urbanos não devem
pelo atrelamento ao governo Lula. A degeneração da
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
ser discriminados: A participação dos estudantes na central é legíti-
É um erro exigir que o “assentamento ou núcleo ma para nós, porque corresponde à saída política que
comunitário urbano” tenha que ter 50 famílias presen- defendemos para o movimento estudantil, a Aliança
tes na sua assembléia” para eleger um delegado para o Operária, Estudantil e Camponesa.
Congresso. Composição e funcionamento da direção
Este critério é diferenciado em relação à todas as A tarefa de direção da central não deve ser assu-
demais situações de eleição de delegados, onde o quó- mida por um consórcio das correntes políticas, que fun-
rum exigido é de 5 vezes o nº de delegados a que a enti- cione na base do consenso. Esta proposta não construi-
dade ou movimento tem direito, o que corresponde a 1 rá a central, porque privilegia a média política, deixan-
delegado para cada 5 presentes. do-a sem iniciativa e ofensividade, e mantendo indefi-
Questionamos também o critério “família”: nidamente os blocos formados pelas duas principais
Como se dará a escolha do votante, no caso de dois ou organizações.
mais membros de uma mesma família serem militan- Se nos basearmos exclusivamente na tradição do
tes da mesma entidade ou movimento urbano e rural, movimento operário, sem considerar os limites da situ-
uma realidade que sabemos ser frequente? ação concreta onde hoje se insere a construção da cen-
Qual o critério que vai definir quem vai votar pela tral no Brasil, seríamos favoráveis a eleger a sua dire-
família, nesta lamentável situação, em que o voto dos ção nacional em congresso, através da proporcionali-
presentes nas assembleias de eleição de delegados, dade entre as diversas chapas.
não é definido como universal, e sim indireto? Mas, considerando as dificuldades decorrentes da
Democrático é que não será. Parece mais um integração ainda em curso, das organizações que se uni-
retrocesso político. ficam na central, entendemos necessário um amadure-
cimento maior da discussão sobre a proposta de elei-
Participação do movimento estudantil ção da direção em congresso. Propomos que esta dis-
Somos favoráveis à participação dos estudantes cussão siga adiante, balizada pelo funcionamento
na central de trabalhadores e não concordamos com o comum e pela experiência de intervenção unificada
argumento de que ela vai aparelhar a central. Para nas lutas, deixando que um próximo congresso volte a
impedir a diluição da representação dos trabalhadores, discuti-la, cabendo ao congresso de junho de 2010,
basta que o estatuto da central defina um limite para a encontrar uma alternativa transitória.
participação dos estudantes. Propomos que a central seja dirigida transitoria-
Não existe razão para vetar a participação estu- mente, durante um período definido, através de uma
dantil na central com o argumento do policlassismo. Coordenação Nacional que reúna de dois em dois
Hoje, do ponto de vista de classe, os estudantes são meses, em reuniões abertas, com o direito a voto aos
majoritariamente filhos da classe trabalhadora. Afinal, delegados eleitos na base; e por uma Secretaria Execu-
qual é a prática política e a ideologia dos estudantes tiva, eleita na Coordenação Nacional, através de cha-
que procuram organizações combativas para militar? pas e proporcionalidade. Este foi o funcionamento da
Não temos dúvidas de que os estudantes que pro- direção da CONLUTAS, uma experiência que avalia-
curam a central tem identidade política com ela. Os mos como tendo sido capaz de garantir um bom nível
filhos da burguesia ou da pequena burguesia enrique- de democracia interna.
cida, não procurariam militar em uma central de traba- Esta proposta, não está livre de problemas. O prin-
lhadores como a que pretendemos fundar. cipal deles é o subsídio para os delegados de base, que
Como poderíamos deixar de confiar na juventu- militam nas oposições e nas minorias sindicais, e que
de, ou desconsiderar a importância da participação dos não dispõem das verbas do sindicato para viagem, ali-
estudantes nas lutas? mentação e estadia. É fundamental encontrar uma for-
ma de subsidiar, total ou pelo menos parcialmente, os
Uma organização que vacila nesta questão, não
companheiros que se deslocam para as reuniões da
tem futuro.
direção.
Assinam esta tese: Porto Alegre/Sul, Santa Maria, Caxias do Sul, Alegrete, Gravataí e
Os militantes do Centro de Estudos e Debates Socialistas (CEDS) e Osório);
independentes, que atuam nas seguintes entidades e movimentos do Rio Militantes do Fórum Magister de Aposentados do CPERS-Sindicato;
Grande do Sul: Presidente, diretores e militantes de base do Sindicato dos Municipários
Secretário Geral do CPERS/Sindicato (Trabalhadores em Educação do de Porto Alegre (SIMPA);
RGS) e militantes de base dos núcleos regionais de Porto Alegre/Norte, Oposição da Assoc.dos Trabalhadores em Educação do Município de
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P.Alegre - ATEMPA; Oposição do SINDISAÚDE/RS;
Diretor de Assuntos Intersindicais e militantes de base do Sindicato dos Vice-Presidente e militantes de base da Associação dos Moradores do
Funcionários Efetivos e Estáveis da Assembléia Legislativa - SINFEEAL; Centro de Porto Alegre;
Presidente e militantes de base do Sindicato dos Servidores do Detran - Militantes da Associação Comunitária do Jardim Bento Gonçalves
SINDET/RS; (Porto Alegre);
Oposição da Associação dos Servidores do Grupo Hospitalar Diretores e militantes de base da Associação de Moradores da Vila
Conceição - ASERGHC; São José (Esteio/RS).
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
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outras instituições financeiras ganharam, em apenas um aumento das dívidas públicas, o que gerou grande
um ano, US$ 18 bilhões em ajuda pública”. desconfiança por parte do mercado financeiro que
As ações político econômicas do Estado e de seus prevê a impossibilidade de alguns países, sobretudo da
principais bancos centrais, orquestradas com o FMI e o União Européia, em honrarem seus compromissos
Banco Mundial, deram prova cabal de que os discursos junto aos credores.
proferidos nas últimas três décadas em defesa do Esta- Como forma de “acalmar” os investidores, os
do mínimo e da liberdade do mercado não passam de governantes que contraíram dívidas para salvar os capi-
uma falácia dos ditames neoliberais, ou melhor, dizen- talistas, agora pretendem passar a fatura para os traba-
do, que o Estado mínimo deve ser mínimo para a maio- lhadores, para isso vários planos de contenção ou de
ria da população, ao passo que deve ser bondoso, e sem- austeridade vêm sendo apresentados nos chamados
pre generoso, para os grandes capitalistas, minoria no PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha). Em
mundo. resumo: os ataques aos direitos trabalhistas deverão ser
Para os revolucionários não pode haver ilusão em realizados através da redução ou congelamento de salá-
relação ao Estado no sistema capitalista. Temos que evi- rios do setor público, contenção nos gastos públicos –
tar a confusão que surge nesse período quando para mui- como saúde, educação, ajuste/cortes nas pensões e
tos reformistas a estratégia volta a ser a de fazer com benefícios previdenciários, reforma trabalhista, demis-
que o Estado venha a cumprir a função de representante sões, privatizações e etc.
e protetor de toda a sociedade, transformando-a em Os trabalhadores, por sua vez, como forma de rea-
uma sociedade mais justa e humana, porque priorizaria gir aos constantes ataques à sua condição de vida, estão
os interesses de todos e não somente do Capital. se mobilizando na Grécia, em Portugal, na Espanha e
Precisamos nos valer da conjuntura atual para evi- em outros países que formam a OCDE (Organização
denciar à classe trabalhadora que não é possível, nesse para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), em
sistema, alterar sua lógica, ou seja, supor que o Estado torno do combate às políticas de austeridade adotadas
passe a ser benfeitor de todos. Como marxistas temos pelos governos.
que denunciar que o Estado no sistema capitalista é A crise tende a se prolongar, alguns sinais de esta-
agente direto dos interesses da classe dominante e está bilização econômica ocorreram ainda nos últimos
a serviço dessa classe e que, somente na aparência, meses de 2009, mas de forma definitiva esses sinais
visa o bem comum, pois sua essência é manter a ordem não evidenciam uma verdadeira recuperação econômi-
do capital que controla o Estado e todas as suas ramifi- ca, ao contrário, o desemprego em países de ponta
cações políticas e jurídicas. como EUA, Alemanha e França continua crescendo,
Os 18 bilhões de dólares doados para os banquei- quase atingindo os dois dígitos; segundo dados da pró-
ros e empresários em apenas um ano, para tentar conter pria OCDE a taxa de desemprego, que já tinha alcança-
a crise, devem servir de exemplo para reforçar a denún- do no final de 2009 a marca de quase 15 milhões, pode-
cia do papel do Estado, pois é a prova inconteste de que rá chegar em 2010 em aproximadamente em 25
este está do lado do capital. Por isso, ter como progra- milhões.
ma de exigência que a questão se assenta na inversão de Na América Latina as consequências da crise
prioridades ou opções políticas que são feitas pelos financeira vêm aumentando a instabilidade política e
governantes é abstrair a relação intrínseca que há entre econômica de vários países da região. Como no último
Estado e Capital, não servindo para desmascarar tal período a inserção na economia global da maioria des-
relação e, ao mesmo tempo, não armando a classe para ses países se caracterizou pela exportação de matérias-
uma estratégia revolucionária, qual seja: a constru- primas e de bens primários, principalmente para o mer-
ção de um projeto revolucionário que passe, obriga- cado estadunidense, europeu e asiático, o agravamento
toriamente, pelo controle dos meios de produção – da crise reduziu de forma substancial as exportações e
base econômica da sociedade – pela destruição do fez com que os preços de vários produtos entrassem em
modo de produção capitalista e seu sistema de queda livre, como o petróleo, a soja e os minérios. Ana-
representação política e social. listas econômicos apontam uma leve recuperação dos
CONFLITOS E DESAFIOS preços desses produtos no início do ano de 2010, bem
como a retomada do comércio de exportação. Apon-
O receituário para tentar conter a crise já vem tam, ainda, que a crise só não teve efeitos mais perver-
sendo aplicado: no primeiro momento os governos doa- sos na região devido a forte intervenção dos governan-
ram dinheiro público para empresas e bancos a fim de tes que socorreram, com dinheiro público, os setores
evitar quebradeiras generalizadas e buscar alguns sina- mais atingidos.
is de recuperação da economia; porém como essas doa-
ções foram feitas utilizando dinheiro público, houve No entanto, o saldo negativo a ser pago ficará para
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a maioria da população. Mesmo que alguns analistas prometido com os capitalistas do campo.
burgueses anunciem que o pior da crise já passou, a ver- As questões estruturais não são atacadas. A
dade é que se registrou nesse período o aumento da opção do governo Lula é manter a mesma política
informalidade no trabalho, a redução de proteção soci- privatista de FHC. É por essa ótica que devemos
al à maioria da população, elevação da miséria e o analisar as propostas de partilhas e do marco regu-
desemprego poderá atingir ainda a marca de 18,4 latório do petróleo, em que se ampliará a entrega
milhões somente nas regiões urbanas dos países da das reservas para as multinacionais. Na mesma lógi-
América Latina e do Caribe. ca, ao governar para o capital vemos o setor dos ban-
Diante dessa realidade os trabalhadores irão rea- queiros atingindo lucratividade recorde nos últi-
gir, mobilizações e conflitos se tornarão mais constan- mos anos. Sem contar a ajuda superior a R$160
tes e permanentes. A conta a ser paga, que os capitalis- bilhões que o governo Lula entregou ao setor finan-
tas querem jogar nas costas da classe trabalhadora, pro- ceiro quando da eclosão da crise econômica.
vocará enormes manifestações contra as políticas neo- No setor industrial, o governo aumentou as isen-
liberais impostas. Em defesa de emprego, salários, dire- ções fiscais e tributarias, sem exigência de qualquer
itos trabalhistas e previdenciários e contra a redução contrapartida no sentido de proteger os trabalha-
dos investimentos na área sociais. dores de demissões, vide caso da Embraer. Intensifi-
Entretanto, não podemos balizar nossas lutas por cou os cortes orçamentários nas áreas sociais, para
essas conquistas. Sabemos o quanto elas são funda- garantir a manutenção do superávit primário e
mentais por representarem uma necessidade da classe e segurar a queda das reservas cambiais, mantendo a
por sua importância tática para as lutas a serem trava- tranquilidade dos especuladores.
das. Mas precisarmos reafirmar: nossa estratégia tem As principais mudanças de fundo que esse
que ser a revolução – possível somente com a organiza- governo promoveu, foram as que visavam a atacar
ção da classe para ruptura com o sistema capitalista – e direitos conquistados da classe trabalhadora, como
a construção da sociedade socialista. Esse é o principal por exemplo, a reforma previdenciária; a lei da
desafio colocado para o processo de reorganização em falência, na qual prioriza as empresas credoras em
curso. detrimento dos direitos trabalhistas; a manutenção
do fator previdenciário; as reformas educacionais
O BRASIL E A CRISE que avançam no processo de distribuição do dinhei-
ro público para a iniciativa privada; a restrição do
O governo se vangloria do Brasil ter entrado mais direito de greve etc.
tarde na crise econômica mundial e ter saído antes dos
demais países. O que os governantes e seus agentes ide- A intervenção militar coordenada pelo exército
ológicos não explicam é que essa recuperação econô- brasileiro no Haiti é mais uma prova cabal da sub-
mica está calcada na exploração, ainda maior, dos tra- serviência do governo Lula. A catástrofe ocorrida
balhadores e, principalmente, no fornecimento de maté- no território haitiano é fruto da herança deixada
rias primas e bens primários, como açúcar e soja. Isso pelos capitalistas que nunca aceitaram o fato da
aumenta, ainda mais, a destruição das nossas riquezas liberdade negra em um território latino americano.
naturais e do solo, pois a política de produção de “ali- Historicamente impuseram a mais brutal explora-
mentos” para exportação está calcada no agro-negócio, ção e opressão ao povo pobre daquele país, em
que utiliza, de forma indiscriminada agrotóxicos, des- sucessivas ocupações e intervenções militares, ora
truindo o solo e contaminando rios e mananciais. dirigidas pelo imperialismo europeu, ora pelo esta-
dunidense, fato que somente serviu para destruição
A burguesia controla o governo Lula e atua de acor- da produção agrícola, principal atividade da região
do com seus interesses. A partir dessa constatação, não e negação da autodeterminação do povo a haitiano.
podemos nos iludir com esse governo, ele não repre-
senta a classe trabalhadora e, por ser oriundo da mes- As inúmeras ocupações, ocorridas sobre a
ma, consegue com muito mais facilidade controlar os fachada de ajuda humanitária, sempre estiveram a
trabalhadores, através do domínio que o PT exerce serviço de sustentar as oligarquias nacionais, fanto-
sobre vários sindicatos e sobre a maior central sindical ches dos interesses imperialistas, e ao mesmo tempo
do país, a CUT. servir como braço armado para conter e destruir
qualquer alternativa de ruptura com o capitalismo.
A aliança petista com o agronegócio frustrou um Todas essas intervenções sempre estiveram longe de
dos setores mais importantes do movimento de traba- garantir as mínimas condições estruturais para
lhadores brasileiros, o MST, que esperava do governo a desenvolver o país e ainda menos assegurar condi-
importante reforma-agrária. O governo de Lula não ções sociais da população.
pode promover tal reforma, pois está gravemente com-
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Portanto, é necessário que todos os trabalhadores base nas reuniões da direção nacional, taxas de contri-
e seus organismos de representação deixem de ter espe- buição não abusivas para as entidades, oxigenou a enti-
ranças, com esse governo e com saídas institucionais dade e, ao mesmo tempo, permitiu que virasse referên-
como as eleições burguesas, que na maioria das vezes cia para muitos trabalhadores, embora com o reconhe-
vêem as mobilizações como mero espaço de acúmulo cimento de que ainda somos muito pequenos no cená-
de votos para garantir mandatos parlamentares, e não rio nacional.
como principal tática para organizar a resistência e a Em relação aos GTs consideramos que é necessá-
construção de rupturas com o sistema capitalista e a rio mantê-los, mas evitar que funcionem como se fos-
democracia burguesa. sem organizações em separado dentro da entidade, evi-
A possibilidade de vitória da classe se encontra na tando assim que possuam caráter deliberativo, assim
articulação permanente entre a luta dos trabalhadores como é necessário que a quantidade seja objeto de deba-
da cidade e do campo em unidade com os movimentos te no congresso, instância que autoriza o seu funciona-
populares e demais setores oprimidos pelo capitalismo. mento.
Portanto, para nós, as eleições não podem ganhar cen- Outro acerto foi à perseguição ao chamado de uni-
tralidade nas nossas ações, pois, independentemente dade, na perspectiva de construção de uma central mais
dos governantes de plantão e parlamentares eleitos, a representativa que a Conlutas, política que se compro-
via parlamentar consolidou-se enquanto um espaço de vou acertada com a realização do congresso de unifica-
contenção e de legitimação de retirada de direitos dos ção.
trabalhadores. Diante disso nossa tarefa fundamental
está na organização das lutas com uma estratégia revo- A unificação entre Conlutas, Intersindical e dema-
lucionária que imponha a derrota do capitalismo. is setores significará um passo importante para darmos
um salto qualitativo na construção de um instrumento
Defesa da autodeterminação dos povos que possibilite a unidade orgânica do movimento sindi-
Fora todas as tropas do Haiti cal, popular e estudantil e que seja linha de frente nas
Solidariedade de classe ao povo haitiano mobilizações contra os ataques do capital. Para tanto,
teremos que enfrentar a euforia que existe em torno da
personalidade de Lula. A base de apoio do Governo só é
SINDICAL possível graças à conjugação dos seguintes elementos:
Entendemos que o surgimento da CONLUTAS, as políticas compensatórias que atendem aproximada-
no momento histórico que vivemos, representou um mente 11,5 milhões de famílias através da bolsa famí-
grande avanço para a construção de uma alternativa de lia; os milhões de reais que são doados ao PROUNI e a
luta e socialista para a classe trabalhadora. Por ser uma manutenção das diretrizes macro econômicas do FMI
iniciativa de militantes e organizações que haviam rom- implementadas por FHC e mantidas nos dois mandatos
pido com a CUT - graças ao caráter oficial que esta cen- do atual governo. Como parte de sustentação dessas
tral passou a exercer com a eleição de Lula – por ter políticas o governo Lula ainda conta com a colabora-
uma orientação de autonomia e independência frente a ção direta de Centrais Sindicais e da maioria dos movi-
patrões, governos e partidos, por defender o combate à mentos popular e estudantil.
burocratização e ao aparelhismo, por se organizar a par- A nova organização, que estamos chamados a
tir da base, por privilegiar a ação direta e a organização construir de forma unitária, não pode representar mais
das opressões, estudantes e movimentos populares. uma retórica para vanguarda, tampouco mais um apa-
Já em seu congresso de fundação foi aprovado, rato para as direções sindicais. A necessidade de dar-
por amplíssima maioria, o seu caráter sindical, popular mos centralidade às mobilizações, a retomada das
e estudantil, até então uma novidade em nosso país, o ações diretas como tática privilegiada para nossas
que consideramos um acerto que possibilitou compre- lutas, a importância de termos organismo da classe que
ender melhor que, apesar da centralidade do setor sin- prezem pela democracia operária, bem como pela inde-
dical, temos de contribuir para organizar também pendência e autonomia dos trabalhadores frente ao
outros segmentos da classe trabalhadora, em especial o Estado, patrões e partidos políticos é a única possibili-
movimento popular. dade de superarmos, por exemplo, o que foi a marca,
das duas últimas décadas nas lutas sindicais: o aspecto
Recém saída de seu primeiro congresso, a Conlu-
defensivo das mobilizações, a fragmentação e isola-
tas teve uma série de iniciativas de mobilização, lide-
mentos das mesmas e a política traidora das dire-
rando a resistência às reformas do governo Lula, assim
ções da CUT-CTB–FS e outras.
como organizando os trabalhadores contra retirada e
pela garantia de direitos. O acirramento das lutas que se avizinham, coloca
para todos grandes desafios. Mesmo com a unificação
A sua forma de organização, com representação de
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não seremos de imediato uma referência para o conjun- entanto, depois do processo de burocratização e coop-
to da classe, pois somos pequenos do ponto de vista da tação, defendem o interesse do capital.
representatividade sindical. Salvo alguns sindicatos A CUT, em troca de cargos no governo ou nas
que já fazem parte do processo de unificação, ainda empresas, entrega de bandeja conquistas históricas dos
estamos distantes de possuir trabalho organizado e trabalhadores obtidas por meio da luta de classes.
estruturado nos principais setores da produção, como
metalúrgicos, químicos, transportes etc., bem como A Conlutas, a Intersindical, o MTL, o MTST, a Pas-
necessitamos fortalecer e estruturar, em outros casos, toral Operária, o MAS, que estão envolvidas na criação
trabalhos de oposição nas principais regiões do país de uma nova central necessitam tirar as lições do pro-
em sindicatos controlados por centrais governistas. cesso de falência da CUT. É fundamental que o apare-
lho seja utilizado para alavancar a luta de trabalhadores
O enfretamento que se dará requer que a nova cen- e trabalhadoras. O financiamento deve ser feito pela
tral busque a construção e o fortalecimento das oposi- classe trabalhadora, portanto, contra o recebimento de
ções sindicais na base das entidades governistas, ins- imposto sindical e de qualquer verba de patrões e
trumentalizando as oposições com um trabalho intenso empresários.
e cotidiano, que passe pela denúncia do papel traidor
dessas direções e seu atrelamento à política partidária Nesse sentido a nova organização de classe que
do governo Lula e demais setores da burguesia, denun- iremos fundar tem que se pautar por:
ciando o papel que essas direções cumprem em garan- Defesa do socialismo;
tir a manutenção do regime burguês e do sistema capi- Total independência e autonomia de classe frente
talista. a governos, patrões e partidos políticos;
O sindicalismo com responsabilidade e respeito à É necessário que os trabalhadores e seus organis-
relação capital x trabalho - em detrimento das ações mos de representação deixem de ter esperanças, com
diretas e radicais dos trabalhadores - através de pactos saídas institucionais como as eleições burguesas, que
sociais, câmaras setoriais e de negociatas parlamenta- na maioria das vezes vêem as mobilizações como mero
res, serviu e serve para que os patrões e os governos espaço de acúmulo de votos para garantir mandatos par-
arrancassem direitos. Tal sindicalismo está assentado lamentares, e não como principal tática para organizar
na responsabilidade de manter a propriedade privada, a a resistência e a construção de rupturas com o sistema
economia de mercado e a manutenção do “status quo”. capitalista e a democracia burguesa;
A central tem que ser referência de um sindicalis- Adoção da proporcionalidade direta e qualificada
mo classista, democrático, autônomo e independente em todas as instâncias.
frente ao Estado, aos patrões e aos partidos políticos,
A nova organização deve prioritariamente defen-
construída na base da classe e para a classe que tem
der a ação direta como forma de enfrentamento a
como tarefa as lutas imediatas, específicas, gerais e his-
governos e patrões.
tóricas que servirão para a construção do socialismo.
Plenárias bimestrais de deliberação com a partici-
Estrutura Sindical
pação das entidades filiadas, oposições sindicais, movi-
A estrutura sindical brasileira desde Getúlio Var- mentos populares e de opressão e estudantes;
gas sofre a intervenção do Estado no sentido de regula-
Secretaria Executiva Nacional eleita em congres-
mentar e controlar a atuação dos sindicatos e com isso
so de acordo com a proporcionalidade direta e qualifi-
acabar com a liberdade e a independência da organiza-
cada;
ção dos trabalhadores. Não é por acaso, que sob a falá-
cia de modernização da estrutura sindical, o governo Congresso a cada dois anos;
Lula apresentou a reforma sindical. A legalização das Rodízio na direção e nos afastamentos sindicais.
centrais, numa política de concessão do Estado para Nesse ponto destacamos a importância do rodízio nos
sua representação, atrela as centrais ao governo com o afastamentos sindicais (apenas um mandato) e a parti-
chamado imposto sindical e mantém a lei de greve, que cipação em apenas uma reeleição. O militante pode
acaba com a autonomia e independência dos trabalha- voltar à direção, e ao afastamento, após o interstício de
dores e suas organizações. um mandato;
Ao exigir que o sindicato avise sobre o inicio da Que o militante faça uso da estrutura sindical ape-
greve, sob o pretexto de garantir minimamente o servi- nas para sua militância e em hipótese alguma deve uti-
ço à população, o governo abre espaço para que a patro- lizar recursos do sindicato para o seu bem próprio e mui-
nal se organize e consiga enfraquecer ou, ainda, impe- tos menos como complemento de seu salário;
dir o movimento. Tudo isso acordado com aqueles que Recusa de qualquer forma de financiamento que
deveriam defender a classe trabalhadora, e que, no não seja resultado da contribuição dos militantes e das
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áreas inteiras em que fixam seus negócios no campo e mais conservadora, formada por grandes empresários
nas cidades, como fica patente no caso da Vale, da Ara- a atrasados ruralistas e coronéis que reagem a qualquer
cruz, da Cutrale, da CSN e outros. Some-se a isso os sinal de conquista (ou defesa) de direitos dos trabalha-
megaeventos, utilizando os espaços das grandes cida- dores. Enquanto podem ter espaço por conta do reflu-
des para ampliar os lucros de grandes investidores, da xo do proletariado vêm ganhando espaço com idéias
mídia e empreiteras, como as Olimpíadas e a Copa do retrógradas e reprimindo violentamente o povo: qual-
Mundo. quer atividade de sobrevivência do pobre é taxada de
Apesar da aparente calmaria que reina no Gover- crime, incluindo o seu direito de se organizar e lutar.
no Lula, cresce a degradação da condição de vida nas Fazem críticas à direita ao Lula e ao PT, mas no essen-
cidades e no campo. O Brasil é um país onde a concen- cial essencial concordam, usufruem e ajudam na admi-
tração populacional é assustadora, tornando as capitais nistração estatal de fomento ao capital.
em megalópoles apinhadas de gente e sem infra-
estrutura. Por exemplo, o sanemaneto básico só inclui Situação do Movimento sindical e popular
por volta de 1/3 da população.
A aparente calmaria provocada pela política eco-
Aproveitando-se desta desorganização e da nômica do Governo Lula se fortalece pela ausência de
ausência de políticas sociais, grupos organizados em um movimento social e político de cunho anticapita-
forma de máfias dominam serviços nas regiões mais lista, capaz de responder aos dilemas da realidade con-
pobres das grandes cidades, vendendo “gatonet”, temporânea. Essa ausência se faz sentir pela coopta-
transporte alternativo, segurança privada, etc. Com ção das lideranças de parte dos movimentos sociais e
isso marcam sua posição como grupos econômicos e sindicais, e pela pulverização dos setores que resistem
políticos com força localizada, preenchendo a lacuna à política social-liberal do governo petista.
deixada pelo Estado, na base da pressão e ameaça dire-
ta sobre a população. Os movimentos populares do campo estão atados
à política da distribuição de lotes e pela esperança de
A violência urbana aumenta de forma assustado- uma Reforma Agrária de mercado feita pelo Estado,
ra. A especulação imobiliária e a falta de políticas de implementada em todo o país pelo INCRA. Na prática,
habitação somam-se na depreciação da vida com fenô- não há Reforma Agrária e o Agronegócio segue deter-
menos como enchentes e estiagens (que estão interli- minando a política agrícola com a expansão das mono-
gadas ao ataque ao meio-ambiente e à falta de infraes- culturas da cana de açúcar e da soja, mas os acampados
trutura básica). Os cortes de luz e de fornecimento de são contidos com a chantagem das cestas básicas. Ape-
água são cada vez mais comuns, são péssimas as con- sar disso, 70% dos alimentos consumidos no país são
dições de transporte. produzidos pelo pequeno produtor rural e pela agricul-
É evidente que a privatização dos serviços públi- tura camponesa, além de 3/4 dos postos de trabalho
cos, a falta de planejamento e de investimentos em seto- que são gerados pela pequena propriedade, enquanto
res estratégicos, como educação e saúde públicas, sane- o moderno latifúndio (agronegócio) está voltado para
amento básico, moradia popular estão levando a infra- a produção de mercadorias (commodities) para expor-
estrutura do país ao esgotamento. Isso tudo gera explo- tação.
sões de revolta contra os desmandos e o descaso de Uma grande parte dos sindicatos rurais vem
governos e governantes, que loteiam os espaços públi- seguindo, desde a ditadura militar, uma tendência à
cos e vivem num mar de corrupção explícita, exposta burocratização e ao atrelamento aos patrões e à estru-
todos os dias pela mídia. tura estatal, fato que afetou de forma geral todo o sindi-
No entanto, isso não é suficiente para a conforma- calismo brasileiro. Assim, eles se tornaram mais uma
ção de uma força social consciente, de viés anticapita- arma nas mãos da elite latifundiária, utilizada para con-
lista. A falta de organização de base entre os trabalha- ter a contestação dos trabalhadores rurais mantendo-
dores e o povo pobre das favelas e periferias só favore- os na condição de subordinação. A maioria deles está
ce a confusão e a consolidação de figuras como Lula, sendo dirigido pela CONTAG/FETRAF/CUT/CTB, e
que deve fazer seu sucessor nas eleições presidenciais atuam em oposição aos movimentos camponeses que
deste ano. A recente declaração de apoio de Abílio lutam pela reforma agrária. Como exemplo, os traba-
Diniz (ex-presidente do Grupo Pão de Açúcar) a Dilma lhadores de açúcar e álcool, setor que tem crescido
Roussef é apenas a confirmação de que parcela impor- substancialmente nos últimos anos, não têm represen-
tante das classes dominantes não só convivem como já tação sindical. Ainda há uma tendência ao aumento da
adotou o PT como timoneiro do sistema capitalista no categoria, em virtude da política do governo de
Brasil. aumentar a produção de etanol, o que indica à Nova
Na oposição à direita do governo está a burguesia Central a disputa destes sindicatos, além de orientar
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Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
que os sindicatos dos químicos e de alimentação pos- subempregados que podem ter um vínculo histórico
sam representar os trabalhadores das usinas de açúcar direto com trabalho no campo ou serem de uma gera-
e álcool. ção fruto da expansão urbana configuram a heteroge-
Nas cidades o movimento sindical atravessa gran- neidade de sujeitos encontrada atualmente dentro dos
des dificuldades, dividido e ameaçado pela desregula- movimentos de luta pela terra.
mentação das Leis Trabalhistas, o que facilita a contra- Acreditamos que a Nova Central a surgir com a
tação temporária e precária de trabalhadores. Centrais unificação entre CONLUTAS, INTERSINDICAL,
e sindicatos pelegos e atrelados ao Governo cumprem MTST, MTL e Pastorais Operárias, deve apresentar
papel nefasto de atrasar ainda mais a conscientização e um caráter SINDICAL e POPULAR, unificando a luta
a luta da classe trabalhadora. Por sua vez mesmo nos do campo e da cidade, organizando no interior da
sindicatos tidos como mais avançados, fenômenos estrutura da nova central trabalhadores rurais, traba-
como a acomodação, a burocratização e a luta interna lhadores da cidade sindicalizados e informais, bem
se sobrepõem à necessidade de organização, democra- como os desempregados. Dessa forma, os trabalhado-
cia e participação dos trabalhadores. res excluídos e explorados na estrutura da lógica do
A massa de trabalhadores que não tem represen- capital, exercerão a prática de debater e deliberar as
tação sindical, fora do trabalho formal, está entregue políticas e os rumos da nova central, participando ver-
a sua própria sorte, alijada das condições mais bási- dadeiramente da sua construção. Devemos inclusive
cas de sobrevivência, como o direito à moradia, sendo buscar a inclusão de organizações dos povos da flores-
super-explorados no emprego e sofrendo a violência ta, indígenas, quilombolas e demais setores originári-
policial cotidiana. Dos 96 milhões de trabalhadores os do povo brasileiro e que se encontram ameaçados
economicamente ativos no Brasil, mais de 8% estão de extinção pela ocupação do território por grupos
desocupados, 47% dos ocupados não têm carteira assi- monopolistas nacionais e estrangeiros.
nada, e apenas 18% destes estão oficialmente sindica-
lizados (fonte: IBGE, 2007). Essa massa de trabalha- O movimento popular urbano e seu importan-
dores precarizados não tem organizações que possam te papel na reorganização da classe
dar força e continuidade às suas lutas, fica fragilizada
e mais suscetível aos ataques do capital. A luta do povo pobre da periferia das grandes cida-
des tem aparecido de forma bastante explosiva e mui-
O Brasil passa por uma intensificação da reestru- tas vezes espontânea no cenário nacional. Ano a ano as
turação produtiva do capital, marcada pela precariza- cidades crescem, aumenta o número de veículos, o
ção do mundo do trabalho. “A flexibilização e a desre- transporte público fica cada vez mais caro e pior. A saú-
gulamentação dos direitos sociais, bem como a tercei- de e a educação públicas não comportam a demanda;
rização e as novas formas de gestão da força do traba- os aluguéis atingem níveis desumanos. Atingidas pelo
lho implementadas no setor produtivo estão em curso desemprego, as pessoas são empurradas para as perife-
acentuado e presentes em grande intensidade”. As rias e favelas, sofrendo com a falta das mínimas condi-
novas formas de estruturação do trabalho tornaram a ções para a sobrevivência. As mobilizações desses tra-
organização dos trabalhadores ainda mais complica- balhadores são principalmente devido à falta de mora-
da. Os impactos da desregulamentação são sentidos dia digna, causada pela ausência de política habitacio-
na estrutura sindical e também nos movimentos socia- nal e pelas seguidas expulsões, seja por enchentes ou
is. impossibilidade de conseguirem a oficialização de
Os movimentos populares se tornaram uma alter- suas casas. Outra causa importante dos recentes levan-
nativa na busca por sobrevivência e na organização tes é a violência policial que massacra o jovem negro
pela defesa dos direitos de trabalhadores. Estes traba- da periferia. O povo revoltado busca algum tipo de jus-
lhadores que se relacionam no mundo do trabalho sob tiça e, em geral, não está organizado para fazer a luta
diversas designações são temporários, parceiros, pres- dar continuidade para mudar alguma coisa.
tadores de serviços, conta própria, peões de trecho, Estima-se que o Déficit Habitacional no Brasil
terceirizados, etc. (quantidade de famílias sem lar) seja de oito milhões
Este fato é mais explícito e possui uma manifesta- de lares. Ao mesmo tempo só na cidade de São Paulo
ção de maior porte nos movimentos de luta pela terra. existem 400 mil imóveis vazios. Em todas as cidades,
A precarização do trabalho urbano e também rural as diversas casas e terrenos desocupados, improduti-
levou a um aumento no número de pessoas organiza- vos poderiam garantir moradia digna para todos que
das em bases do movimento, com sucessiva ampliação precisam. É um absurdo: quem trabalha a vida inteira
dos grupos sob diversas “bandeiras”, dissidentes ou não pode ter onde morar! E praticamente não existem
não do MST. Os trabalhadores desempregados ou programas de habitação para quem ganha menos de
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
três salários mínimos. Na verdade, o que existe é a ven- alguma função social e se transformem em moradias
da financiada de imóveis pelos governos, onde quem populares, escolas, hospitais, creches e parques públi-
ganha novamente são as empreiteiras em cima da cos garantindo que tenham utilidade para a população.
necessidade da população, como ocorre no “Minha 2 - Combate à especulação imobiliária, com IPTU
Casa , Minha Vida”. É cada vez maior o número de progressivo e medidas de sanção, garantindo que os
favelas, áreas de risco, famílias sem ter como pagar alu- grandes donos de terras paguem os impostos de suas
guel ou mesmo morando de favor. áreas sob pena de perderem estas terras para o Estado.
Terra Livre atua em conjunto com comunidades 3 - Direcionar os programas habitacionais para
ameaçadas por despejos e expulsões. Em São Paulo, famílias com renda mensal até 3 salários mínimos,
estamos ajudando a organizar o povo do Jardim Pan- garantindo subsídio integral; destinação dos recursos
tanal (Zona Leste) para resistir às remoções que a Pre- do programa Minha Casa, Minha Vida para gestão dire-
feitura e Governo Estadual estão promovendo para a ta das entidades populares, sem participação de
construção do Parque Linear do Rio Tietê, obra eleito- empreiteiras, garantindo que as verbas da habitação
reira visando a Copa do Mundo. Para isso, abriram beneficiem o povo e não o bolso dos empreiteiros.
barragens e causaram uma enchente que durou 60
dias e matou cerca de 20 pessoas. São mais de 10.000 4 - Garantia de boa qualidade das habitações e
famílias que estarão sem alternativa de moradia em política urbana de infra-estrutura e serviços nos novos
pouco tempo. conjuntos; incluindo nisso a possibilidade de partici-
pação das famílias que serão moradoras na elaboração
Desde o fim dos anos 80, as mudanças drásticas dos projetos.
no mundo do trabalho reduziram a importância do tra-
balhador formal, espalhando a produção para fora das 5 - Imediato re-assentamento das famílias atingi-
plantas industriais. Os trabalhadores perderam direi- das pelas enchentes e em áreas de risco em moradias
tos e a sua maior parte trabalha de forma desregula- permanentes, através de desapropriações de imóveis
mentada, sob super-exploração, em empresas terceiri- prontos; nada de alojamentos, cadastros e bolsas-
zadas e com pequenos serviços separados do grosso da aluguel.
produção das fábricas. Essa massa não consegue se 6 – Obras públicas emergenciais em bairros
organizar para lutar por melhores condições de traba- pobres, como instalação de sistema de saneamento
lho pela própria dificuldade estrutural e bem pensada básico, urbanização, adequação a fluxo de águas, etc.
pela burguesia. Assim, as lutas que se baseiam em sua 7 – Apoio a formação massiva de experiências
comunidade local e em demandas econômicas básicas econômicas autônomas dos trabalhadores em comuni-
para a sua sobrevivência ascendem como processos dades da periferia dos grandes centros.
muito importantes para a reorganização da classe e
(O Terra Livre participa da Frente de Resistência
explicam o seu caráter explosivo.
Urbana, composta por movimentos populares em todo
O que os nossos movimentos buscam é a consoli- Brasil, e empresta algumas propostas da jornada “Mi-
dação nas periferias de territórios de hegemonia popu- nha Casa, Minha Luta”)
lar, ou seja, espaços onde são os trabalhadores organi-
zados que pensam e decidem sobre seus interesses. Ter-
ritórios com moradia digna, conquistada através de O Governo não fez Reforma Agrária, apenas
ocupações e resistência, produção coletiva, organiza- implementou uma política de concessão de lotes
da com politização e a necessidade desses trabalhado- para conter as pressões dos movimentos que lutam
res, desenvolvimento de iniciativas culturais próprias, pela Reforma Agrária
alternativa à cultura idiotizante da burguesia, como Governo Lula aposta no agronegócio agroexpor-
estamos iniciando na Baixada Fluminense em um espa- tador, e abandona o programa de Reforma Agrária.
ço cultural, cuidado com meio ambiente e onde as rela- O Governo Lula divulga que nos últimos sete
ções humanas sejam marcadas pelo respeito e pela anos assentou 547.609 famílias, superando a sua meta
democracia dos trabalhadores. Devemos começar a que era assentar 400 mil nos primeiros quatros anos
construir hoje a sociedade que sonhamos para o futuro. em mais 174.604 famílias. Entretanto, estes números
são questionados pelos movimentos, já que o governo
Propostas de campanha de luta em comunida- considera uma família assentada logo que a proprie-
des pobres na cidade. dade é emitida na posse e quando os movimentos apre-
sentam a Relação de Beneficiários (RB). O governo
1 - Desapropriação de todos imóveis urbanos ocio-
Lula usa os mesmos critérios do governo FHC pra
sos, que servem para a especulação imobiliária; que
inflar os números. Consideram como assentadas uma
faça com que os milhares de terrenos vazios tenham
grande quantidade de famílias ainda acampadas e
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
que seriam assentadas em no mínimo dois anos balhar para o agronegócio, aplicando receitas de agro-
Os movimentos só consideram famílias assenta- tóxico, e não para a agricultura camponesa. Precisa-
das quando é realizada a legitimação, as famílias assi- mos de um sistema nacional de assistência técnica e
nam o Contrato de Concessão de Uso (CCU) e após a extensão rural articulados com as EMATERs (Empre-
disponibilização dos créditos de implantação, fomen- sa de Assistência Técnica e Extensão Rural, é pública)
to, habitação, energia elétrica, e com a infra-estrutura nos estados. A forma de produção dos camponeses bra-
do assentamento pronta. Assim, podemos afirmar que sileiros segue sendo pré-capitalista hoje em dia. É pre-
os números apresentados pelo Governo têm uma defa- ciso avançarmos de forma organizada, produzir ali-
sagem de no mínimo 40%. Portanto as famílias anun- mentos de qualidade, sem agrotóxico, e, em aliança
ciadas em um ano só estarão realmente assentada em com os trabalhadores urbanos, continuar perseguindo
média em 2 anos após o anúncio do INCRA. Podemos as formas de produção coletiva.
afirmar que estas famílias só deverão estar efetiva-
mente assentadas em 2011. Educação no Campo na luta dos Movimentos
É importante ressaltar que estes números incluem A educação no campo não se restringe somente
reassentamento de atingidos por barragens, reconheci- aos camponeses, como também aos quilombolas,
mentos de assentamentos de quilombolas, reposição povos indígenas, pequenos agricultores, ribeirinhos,
de parcelas e assentamentos em terras públicas, no povo da floresta, caipiras, lavradores, roceiros, agre-
caso da Amazônia. Portanto estes assentamentos não gados, caboclos, meeiros, bóia-fria, entre outros. A
pode ser considerados como áreas reformadas, não se população do campo tem sua forma de organização,
alterou a estrutura do latifúndio, como pode constatar sua raiz cultural própria, o jeito de viver e trabalhar,
o próprio IBGE, com o Censo Agropecuário de 2006. suas relações com a natureza, o espaço e tempo, na
Portanto a reforma agrária segue sendo uma bandeira comunidade, no trabalho, na família vão se reprodu-
de luta dos camponeses. zindo como seres humanos.
A agricultura camponesa e familiar representa O PRONERA* é uma conquista dos movimentos
20 milhões de famílias, enquanto a agricultura patro- sociais do campo que lutam pela Reforma Agrária no
nal representa 3 milhões de famílias. Entretanto, a Brasil, resultado da demanda desses movimentos pela
grande propriedade ocupa 52,4% dos estabelecimen- efetivação do direito a uma educação de qualidade,
tos rurais. A agricultura camponesa, apesar do apoio que atenda às suas necessidades desde alfabetização,
insignificante por parte do Governo, representa 10% escolarização, técnicos agrícolas, magistério e cursos
do PIB Brasileiro, 1/3 do PIB Agropecuário, e 70 % de de nível superior.
todos os alimentos que abastecem as mesas dos brasi-
leiros, sendo responsável por 3/4 dos postos de traba- No ano de 2009 o governo LULA cortou 65% dos
lho no campo. recursos destinados para educação no campo. Dos
recursos do Pronera aprovados para 2009 (R$ 69
Brasil segue sendo o único país da América Lati- milhões), com o corte baixou para R$ 26 milhões. Hou-
na que não realizou uma Reforma Agrária. A Reforma ve resistência dos movimentos para garantir que cur-
Agrária não é uma bandeira revolucionária. Os países sos como o direito em Goiás não fosse fechado, que
capitalistas já fizeram com objetivo de desenvolver o educadoras e educadores formados em magistério no
capitalismo e dinamizar o mercado interno, ocupação Rio Grande do Sul pudessem garantir o direito de pres-
de território, processo da colonização da Amazônia, só tar concurso público, pois haviam sido vetados com a
que não era um programa de reforma agrária e sim de alegação de que os mesmos já haviam sido beneficia-
distribuição de terras. A Reforma Agrária é uma políti- dos uma vez quando foram assentados pela luta. Os
ca necessária para o desenvolvimento do país, para movimentos se organizaram e levantaram a bandeira
isto os movimentos que atuam no campo precisam de resistência a luta pela educação no campo.
avançar na unidade de ação com os trabalhadores urba-
nos para dirigir os rumos da ocupação territorial do Agora, grande parte da demanda de educação em
campo em uma perspectiva revolucionária; é preciso áreas rurais estão sendo absorvidas pelas cidades. O
reverter o desconhecimento e o preconceito quanto a modelo de educação atualmente aplicado no campo
Reforma Agrária. tem o ônibus como o centro pedagógico, não o profes-
sor ou a escola. As crianças são obrigadas a viajar
A reforma agrária não é só a distribuição de lotes, horas em ônibus velhos sem nenhuma condição de
é organização e escoamento da produção, assistência segurança. Os acidentes são freqüentes, muitas vezes
técnica e extensão rural. A continuidade do processo com vitimas fatais. Tudo isso mantêm o esquema com
de luta é um gargalo da política de reforma agrária. As um determinado grupo aliado dos prefeitos com os con-
universidade formam técnicos, engenheiros para tra- tratos de ônibus, ao invés de organizar as escola no
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
campo e deslocar os professores, e montar uma estru- tência Técnica e Extensão Rural) nos Estados e forta-
tura adequada nos locais de moradia. Sem contar que, lecimento das já existentes.
com esta política, estão tirando as crianças do seu con- 8 - Transformar o Pronera (Programa Nacional de
vívio no campo e as levando para o espaço da cidade, Educação na Reforma Agrária) em política pública per-
já deteriorado. Com isso levam as crianças a abando- manente, com dotação orçamentária, estruturas ade-
narem os seus costumes culturais do campo, os seus quadas, direitos trabalhistas as educadoras no campo e
valores e práticas e vão sendo moldadas na cultura conteúdos específicos com metodologia diferenciada;
urbana, gerando conflitos nos assentamentos. implantação de escolas no campo.
O Coletivo de Educação no Movimento Terra 9- Garantir uma legislação específica aos educa-
Livre está vivenciando sua terceira experiência pelo dor@s no campo que depois de formado tenham o dire-
PRONERA em parceria com INCRA e UFG/campus ito de prestar concurso público e trabalhar nas escolas
de Catalão/GO, a escolarização para jovens e adultos que atendem a população nos projetos de assentamen-
acampados e assentados organizados no Estado de tos.
Goiás. Está luta vem desde 2005 quando encerramos
nossa primeira experiência de alfabetização de jovens 10 - Zoneamento econômico ecológico para as
e adultos. Lutamos pela efetivação dos cursos de técni- monoculturas; em caso de plantio de cana , distância
cos em agroecologia, para que jovens e adultos assen- mínima de 50 km das cidades.
tados tenham a oportunidade de também gerir a aplica- 11 - Revogar a medida provisória que proíbe ter-
ção dos créditos oriundos do PRONAF. ras ocupadas de serem desapropriadas.
Na perspectiva de que a formação aconteça per- 12 - Instalação de varas e promotorias especiais
meando os diversos saberes, defendemos uma educa- agrárias federais e estaduais.
ção no campo emancipadora, libertadora, construída 13 - Mudança na legislação agrária; rito sumario
de baixo para cima. A relação opressor-oprimido deve para julgamento dos processos, em no máximo 90
ser superada. Buscamos avançar para educação no dias.
campo e popular, popular numa perspectiva freiriana,
14 - Defesa do código florestal, não a estaduali-
crítica, libertadora, que esteja no campo da ética, assu-
zação; contra as privatizações e PPPs nas áreas natura-
mimos como uma opção política, temos consciência
is e florestas; revogação da lei da grilagem na Amazô-
de quais interesses estamos a serviço; como dizia Frei-
nia.
re “ninguém liberta ninguém, as pessoas se libertam
juntas”. Confiante, construímos nossa caminhada na 15 - Pela revitalização do rio São Francisco, não a
luta por uma educação no campo, pelo direito a educa- sua transposição.
ção para os jovens, adultos, mulheres e crianças. Por fim, é necessário que a Nova Central contri-
bua na reflexão referente à autonomia financeira dos
Movimentos Populares do Campo e da Cidade (refle-
Propostas de campanhas de luta no campo
tindo sobre a organização e o escoamento das produ-
1 - Campanha contra a criminalização dos movi- ções desenvolvidas nos diversos assentamentos), para
mentos populares. que assim o processo de luta de classes no país se
2 - Limitação das propriedades rurais a no máxi- desenvolva estruturalmente. É importante que a Nova
mo 35 módulos fiscais conforme definiu o Fórum Central contribua também para a formulação de políti-
Nacional de Reforma Agrária e Justiça no Campo.. cas para Reforma Agrária e Urbana no país; bem como
3 - Atualização dos índices de produtividade da para o desenvolvimento da Educação Popular nos
terra; essa mudança é tão importante para o trabalha- assentamentos rurais e urbanos, valorizando assim os
dor do campo como a redução de jornada é para o tra- hábitos e as práticas culturais dos trabalhadores orga-
balhador da cidade. nizados nesse novo instrumento de luta. Dessa forma,
estaremos resistindo não somente de forma objetiva,
4 - Organização do plebiscito popular pela atuali- mas também de forma subjetiva à ofensiva do neolibe-
zação dos índices de produtividade e pelo Limite da ralismo.
propriedade rural.
5 - Criação de um sistema nacional de Assistência
Técnica e Extensão Rural para apoiar o pequeno agri- Uma nova Central pede um novo método de
cultor e assentamentos. ação e funcionamento
6 - Reestruturação do INCRA; contra o seu suca- Uma nova organização de luta dos trabalhadores
teamento; concursos públicos imediatos. deve ter como estratégia a superação do capitalismo O
socialismo deve ter por objetivo a construção de uma
7 - Recriação das EMATERs (Empresa de Assis-
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
nova sociedade com valores morais, sociais e éticos e à garantia da participação dos movimentos populares
opostos aos valores que caracterizam a barbárie do nas atividades da Nova Central (plenárias, reuniões de
capital. Nesse sentido, é importante fazer uma diferen- direção, etc). Por exemplo na experiência da Conlutas
ciação: o socialismo a ser construído, não é o socialis- a participação dos movimentos populares pela limita-
mo real do século XX, mas sim um socialismo huma- ção material foi muito baixa, não chegando à 10%.
no, sem a perversa divisão entre o trabalho manual e Ocorre que nos bastidores dessa proposição – cor-
intelectual, entre os que mandam e os que executam, reta e necessária – existe uma questão central: a preo-
que seja democrático e libertário, que supere a precari- cupação de alguns setores em determinar a política que
zação e a alienação do trabalho, que supere as leis do será implementada pela nova Central a partir de fora
capital e que supere o formato desse Estado, que é a da classe. Esta lógica atende a uma velha concepção de
expressão organizada deste sistema desigual e cor- parcela expressiva da esquerda, que se baseia na máxi-
rupto. É fundamental que se construa uma nova moral, ma de que o movimento dos trabalhadores deve estar
uma nova cultura, uma nova sociedade que contemple necessariamente subordinado a um centro político par-
espaços para o debate e divergências de idéias e pensa- tidário.
mentos.
Se o debate caminhar para este ponto como o cen-
Acreditamos que no processo de luta de classes é tro das preocupações, corremos o risco de ver mais
a “totalidade do trabalho” que abrange de forma igua- uma vez um projeto importante ser empurrado para
litária, com o mesmo peso, todas as parcelas e frag- uma lógica perigosa, que, via de regra, leva a uma eter-
mentos da classe trabalhadora (que estão inseridos no na luta interna, gerando desgaste e emperrando ações
processo de produção, circulação e reprodução do capi- concretas dos trabalhadores e do povo. Defendemos
tal), como o elemento central na luta de classes, no con- um método libertário e democrático, onde esses traba-
fronto entre trabalho versus capital. lhadores não serão apenas massa de manobra, mas sim
Assim, diante da desarticulação das forças sociais sujeitos ativos na construção cotidiana de uma socie-
no Brasil que lutam pela superação do capitalismo, o dade justa, igualitária e sem exploração.
debate sobre a construção de uma nova Central Sindi- Para evitar que a velha fórmula fracional se sobre-
cal e dos Movimentos Populares começa a ganhar fôle- ponha aos interesses da classe é preciso mais do que
go. Este debate teve ensaios na formação da Conlutas um esforço de militância, mas um acordo em torno de
(2004) e da Intersindical (2006), que foram respostas propostas concretas que vislumbrem um novo cami-
defensivas do movimento sindical aos ataques do nho de construção. Assim, elencamos pontos que jul-
Governo e dos patrões. gamos fundamentais para que impere um novo méto-
No caso da Conlutas houve a tentativa de incorpo- do de convivência democrática e de funcionamento da
rar os movimentos populares do campo e da cidade, nova Central:
mas ainda de forma muito tímida na política e na forma
de fazê-lo. Isso se deve por uma compreensão ainda
limitada do caráter e das possibilidades desses movi- Sobre o movimento estudantil e os “novos
mentos, a partir de uma visão de que o centro da luta de movimentos sociais”
classes está no operariado industrial. Em verdade há Nesse debate, nos posicionamos também a favor
muito a luta de classes extrapolou os muros das fábri- da construção de uma unidade na luta entre os traba-
cas e se faz presente de cima a baixo da sociedade capi- lhadores e os setores estudantis que estão cotidiana-
talista contemporânea. Nos movimentos sociais do mente na luta contra os ataques do capital. Achamos
campo e da cidade está boa parte dos trabalhadores importante a busca dessa unidade, por entendermos
desempregados, dos assalariados rurais, gente que per- que essa estratégia contribui por exemplo na disputa
deu a perspectiva de buscar emprego e que se incorpo- de hegemonia na sociedade que estamos travando coti-
rou à luta por teto e por terra. dianamente, potencializando assim as lutas que serão
Diferentemente dos sindicatos, os movimentos realizadas.
populares efetivamente independentes dos patrões e Porém, não discordamos que o caminho seja a
dos governos não têm arrecadação mensal descontada inclusão dos setores estudantis na estrutura de funcio-
em folha salarial. Sua organização e estrutura em geral namento da Nova Central. Pois nessa estrutura, a
são limitadas. No entanto, é sabido o potencial de mobi- juventude trabalhadora estará representada e organi-
lização e luta dos movimentos que lutam por terra e zada em inúmeras fragmentações do mundo do traba-
moradia, demonstrada ao longo das últimas décadas. lho (sejam em sindicatos, sejam em movimentos popu-
Por isso, nós defendemos a tese de que um percentual lares), e quanto a unidade na luta entre os trabalhado-
das contribuições dos sindicatos filiados à nova Cen- res e os estudantes, a Central poderá construir espaços
tral Sindical e Popular seja destinado às mobilizações de diálogo com os setores estudantis, para pensar
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
* O Movimento TERRA LIVRE tem uma rica experiência de luta pela Terra e Reforma Agrária em Goiás e MG, participa dos combates dos moradores
da Zona Leste de S. Paulo e inicia seu trabalho cultural na Baixada Fluminense (RJ) e de educação popular, tanto na cidade como no campo.
* O Movimento Popular pela Reforma Agrária (MPRA) constrói a luta pela terra e Reforma Agrária na região do Triângulo Mineiro há alguns anos,
além de construir ativamente a CONLUTAS no campo e na cidade.
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
em a direção efetiva do sindicato na luta. vivida por três países da zona do euro – Grécia, Portu-
Nós reivindicamos o modelo que estão desenvol- gal e Espanha – e, mais em geral os chamados, depre-
vendo os trabalhadores argentinos da multinacional ciativamente, PIGS (iniciais dos primeiros três países
Kraft que conseguiram configurar um embrião de uni- mais a Irlanda, e que em inglês significa porcos), devi-
dade entre empregados, desempregados e estudantes, do à situação crítica das suas economias, seus imensos
compondo uma aliança de classes pela qual eles lutam. déficits orçamentários e dívidas públicas. Na Grécia e
Ainda que não conseguiram mobilizar massivamente, na Espanha são anunciados e já estão sendo implemen-
puderam fazer com que centenas de estudantes garan- tados planos de duros ajustes fiscais, reformas traba-
tissem onze fechamentos das principais rodovias do lhistas, cortes e descontos salariais. A Grécia antecipa
país, onde se encontra a concentração industrial mais as primeiras respostas dos trabalhadores e do movi-
importante. Enfrentaram a repressão policial, e conse- mento de massas e na Espanha há uma tensa situação
guiram responsabilizar publicamente o governo dito política, e o governo de Zapatero caiu aos níveis mais
populista dos Kirchner. Conseguiram criar uma crise baixos de popularidade. Isso se combina à crise no rela-
no governo, dividir as burocracias sindical e até fazer cionamento entre a China e os EUA que teve origem na
intervir a embaixada dos EUA. Estas ações acompa- recusa da China de valorizar o yuan, um problema que
nhadas por ações solidárias das organizações de dificulta as intenções dos EUA de aumentar a sua com-
desempregados, contribuíram para dar uma grande petitividade internacional e reduzir as importações. A
visibilidade, obrigando os meios comunicação a ter resposta dos EUA é ofensiva, com a venda de armas
que difundir o conflito operário, se pode imaginar o para Taiwan e o encontro de Obama com o Dalai
que aconteceria se essa força se desenvolve em novos Lama, contra a vontade do governo em Pequim. A loca-
conflitos o que poderia acontecer aqui no Brasil se lização da economia dos EUA combina um crescimen-
pudesse-mos conseguir essa coordenação entre as to anualizado de 5,7% do PIB para o quarto trimestre
organizações sociais e sindicais que já fazem parte de de 2009 com o desemprego que se mantém em cerca
Conlutas. Esta é a diferença entre uma perspectiva de 10%, e uma profunda crise fiscal e da dívida, que
classista para os sindicatos e centrais, e a que se empurram para baixo a popularidade de Obama e os
desenvolve com discursos e mera propaganda. Não recentes reveses do Partido Democrata. Esses três ele-
queremos um sindicalismo que se prepare prioritaria- mentos são expressões dos limites da forma como o
mente para superar a burocracia nas alternâncias elei- capitalismo impediu que a recessão fosse transforma-
torais a cada dois anos, enquanto se perdem conflitos e da em depressão, manifestando-se mais ou menos
avançam os ataques. Não queremos um sindicalismo mediada na crise orçamentária e na dívida pública.
que compartilha muitas executivas com as direções Esta poderia ser a abertura de um novo ciclo de crise
governistas, como acontece hoje com APOESP no econômica global.
meio da greve dos professores, onde a Oposição Alter- Impacto da transformação da dívida privada em
nativa contraditoriamente não apresenta nenhuma dívida pública
alternativa nem ao programa apresentado pela maioria Pacotes de estímulo fiscal e taxas de juro histori-
do PT, nem medidas organizativas para superá-los, se camente baixas foram os principais mecanismos para
convertendo em cúmplices das derrotas sofridas pela reanimar a demanda e o crédito. Evitando uma limpe-
categoria nestes dois últimos anos. Lutamos por um za de capitais na magnitude que a crise exigia, conse-
sindicalismo classista e combativo para apresentar guiu conter a atual economia deprimida, mas também
uma alternativa a burocracia fundamentalmente mudou o problema para outro lugar, não conseguindo
na luta, e assim poder triunfar. Desde aqui nos posi- resolvê-lo em sua casa. A intervenção dos estados para
cionamos para discutir e considerar a unidade de conter o curso da crise gerou, assim, um resultado de
Conlutas com a Intersindical. Unidade sim, mas duas faces: contém a quebradeira dos negócios priva-
temos que perguntarmos para que modelo de sindi- dos à custa de absorver a crise e incentivar a geração de
calismo. uma nova bolha de dívida pública. O problema está em
Chamamos a todos os trabalhadores, correntes e que, por um lado, a dívida pública constitui, como
delegados que tenham acordo com nossas teses ou dizia Marx, o mais fictício de todos os capitais fictíci-
compartilhem o conteúdo do sindicalismo que defen- os, já que carece de qualquer tipo de contrapartida real.
demos, a lutar juntos neste Conclat. Por outro lado, no primeiro ato o Estado agiu como ava-
lista dos negócios capitalistas; num segundo ato, se os
estados passam a ser o alvo, quem vai socorrê-los?
1. Internacional: nova fase da crise
Os limites das políticas de saída da crise se
Três elementos chaves se combinaram no cenário expressam, assim, com todo seu potencial nos países
econômico global. A situação econômica e financeira mais pobres da zona do euro, nos quais o antídoto con-
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
tra a depressão econômica não pode deixar continuar o contradições da recuperação negam a possibilidade de
endividamento estatal se desejam manter-se no marco que se restabeleça o equilíbrio relativo entre China e
da moeda europeia. Os países mais ricos, como a Ale- Estados Unidos que regeu durante os últimos anos, e
manha e a França, procurarão manter o euro à custa da determinam uma política internacional mais agressiva
exigência de planos neoliberais para os países mais, da parte dos Estados Unidos. Eles precisam que a Chi-
dando continuidade às políticas de “keynesianismo na valorize o yuan [2], pretendendo diminuir as impor-
financeiro” nos países ricos. No fechamento desta edi- tações mas também para captar uma importante parce-
ção se soube que os governos da eurozona haviam deci- la de seu mercado interno. Estes são os elementos por
dido ajudar a Grécia, o que abre a possibilidade de que trás da mudança na política “amigável” norte-
em troca do plano de ajuste anunciado pelo governo americana e sua atual ofensiva sobre a China com o
seja preparado algum tipo de salvamento que suaviza- objetivo de debilitá-la e subjugá-la[3].
ria momentaneamente as pressões no mercado de títu- Rumo ao incremento das contradições
los.
Muito além dos tempos concretos, estamos diante
A atual crise europeia recoloca em cena o velho- dos primeiros elementos de uma nova rodada da crise
novo problema de que a Europa não é nem pode ser um mundial que muito provavelmente aumentará as con-
“supra-estado”. Nos anos 20 o economista inglês John tradições no interior dos blocos ou semi-blocos, entre
Maynard Keynes denominou o continente europeu os Estados, com maiores ataques ao movimento de
como uma “casa de loucos”. A impossibilidade da uni- massas, maiores desigualdades econômicas e maior
dade capitalista europeia (e o papel do euro) representa luta de classes. Não parece que no imediato se volte a
um problema agudo que, mesmo que pela primeira vez um curso depressivo coordenado do conjunto da eco-
na história, hoje volta a se expor em toda sua dimen- nomia mundial, como ocorreu não final de 2008, entre
são. outras questões porque o principal afetado por ora não
O crescimento dos EUA e o aumento das tensões é nenhum país central. Entretanto, é muito provável
com a China que de forma mais estendida no tempo estejam se ges-
Há poucos dias foram divulgados dados de cres- tando as condições para uma nova recaída que, numa
cimento dos EUA no último trimestre de 2009, com primeira etapa, provavelmente seja mais desigual que
uma cifra positiva de 5,7% do PIB anualizado. Este a de 2008, porém que no médio prazo possa voltar a
crescimento aparentemente impressionante, que cer- colocar na cena de forma mais violenta não apenas as
tamente foi o maior desde o início da crise no final de condições da depressão econômica mas também aque-
2008, se explica principalmente pela recomposição las do enfrentamento entre estados e do desenvolvi-
dos estoques das empresas e os pacotes governamen- mento da luta de classes.
tais de estímulo ao consumo. Tal qual com os “PIGS”, América Latina
os déficits e o endividamento estatal desempenham No que diz respeito à América Latina, Obama se
um papel central em recuperar a economia dos EUA, aproveitou das ilusões que desperta e de acontecimen-
que está acumulando o maior déficit desde a Segunda tos políticos na região para ampliar a presença direta
Guerra Mundial e tem a maior dívida pública do mun- do imperialismo na região, que por sua vez debilita a
do, equivalente a mais de 12 trilhões de dólares. As política de Lula de se alçar como mediador entre o
dúvidas sobre a capacidade de pagamento podem imperialismo norte-americano e as nações latino-
resultar numa fonte permanente de instabilidade na americanas, e disputar cotas de poder regional. Esta
economia norte-americana e mundial. A taxa de ofensiva renovada do imperialismo sobre a América
desemprego é de cerca de 10% e representa um dos pro- Latina se demonstra também na restituição da IV Frota
blemas mais graves enfrentados pelo Estado. Os índi- Naval dos Estados Unidos nos mares da América do
ces de recuperação da economia não afetam a taxa de Sul, nas novas bases militares na Colômbia, e agora na
desemprego, que apenas conseguiu deter o ritmo de presença militar ostensiva e sem data para terminar no
sua elevação. Este problema está na base da queda de Haiti. Este último elemento atua ainda como pressão
popularidade de Obama e do debilitamento do Partido restauracionista sobre Cuba, já que o Haiti ocupado
Democrata. O caráter pouco genuino da recuperação pelos EUA está a poucos quilômetros de distância de
da economoa norte-americana e, com ele, o elevado Cuba, e como toda região do Caribe, mantém uma dinâ-
desemprego, são os elementos que determinam que os mica interligada entre os países que a integram. Tam-
Estados Unidos tenham apostado por uma política de bém termina por golpear o bloco da ALBA, sobretudo
dólar baixo que implica uma atitude internacional Chávez - que ajudou a semear as ilusões em Obama
mais ofensiva com o intuito de aumentar a competiti- afirmando que se abria um novo capítulo das relações
vidade e reduzir as importações. É nesse contexto que entre a região e os EUA - mas que está se debilitando,
ganha relevância sua relação com a China. As próprias tanto internamente, quanto como corrente latino-
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
americana. Entretanto, não devemos tomar este pro- necessidade, além de um plano de racionamento ener-
cesso como se fosse um momento de ofensiva absoluta gético que pressiona sua popularidade e influência a
da direita, mas antes como uma situação de maiores cair. O movimento operário pela sua vez, sofreu nos
enfrentamentos e instabilidades. Um exemplo é o fato últimos anos uma repressão sistemática através de
de que houve resistência popular ao golpe em Hondu- assassinatos e atentados contra dirigentes sindicais por
ras e há o início de lutas dos trabalhadores, como con- via de capangas contratados pela patronal às vistas
tra o fechamento da empresa Luz y Fuerza no México grossas dos governantes chavistas. Hugo Chávez ame-
e as lutas operárias, com destaque para Kraft, na açou militarizar empresas estatais que estiveram em
Argentina, que marcam o fim do ciclo kirchnerista. luta, como a Guayana e o Metrô de Caracas acusando
Como resposta à maior intervenção imperialista os trabalhadores de “sabotadores”, e um plano operati-
na América Latina, os governos da região se lançaram vo contra qualquer mobilização no vale do Orinoco e
a constituir defensivamente uma OEA “sem Canadá e Sidor, marcando a ofensiva de Chávez contra o sindi-
EUA”, buscando ampliar as possibilidades de acordos calismo independente, prendendo seus dirigentes, e os
parciais frente as incertezas econômicas que pairam setores à esquerda do movimento operário. É por isso
no cenário internacional. que os setores combativos e classistas temos que
chamar os operários a não depositarem nenhuma
Lula, que hoje é tido como principal liderança na confiança nesses governos burgueses de direita, e
América Latina, busca ao mesmo tempo se firmar desmascarar ainda mais aqueles que enganam o
como protagonista em todos os temas de importância povo, se disfarçando com discurso de esquerda,
geopolítica na região, uma espécie de aparente “sócio seja socialista ou nacional e popular.
menor” do imperialismo para os temas latino-
americanos. Embora tenha tentado aparecer com uma Por fim, é fundamental ressaltar também o pro-
posição “independente” em relação ao tema das san- cesso de profunda crise política que se desenvolveu na
ções ao Irã não busca enfrentamentos com os EUA. Argentina com o esgotamento do ciclo kichnerista
Entretanto, o fato do imperialismo de Barack Obama enquanto alternativa burguesa à crise de 2001 e que
ter uma política mais diretamente protagonista na Amé- agora prova sua decadência. Dois projetos burgueses
rica Latina impõe limites às pretensões lulistas, de entraram em choque desde a crise do campo em 2008,
emergir como o grande negociador latino-americano. que deu aos Kichner sua primeira derrota, em uma
Mesmo assim, Lula tem buscado aproveitar as brechas guerra de interesses econômicos: por um lado a ultra-
abertas internacionalmente pela decadência da hege- conservadora burguesia agrária, que logrou uma meca-
monia norte-americana para aparecer como maior pro- nização do campo e a partir da subida das commodites
tagonista nos temas internacionais, inclusive sobre os pôde surfar no último ciclo de crescimento econômi-
quais o Brasil não está diretamente envolvido, como co, e pelo outro a burguesia industrial, base de apoio
em relação ao Oriente Médio. Um exemplo foi a recen- dos Kichner, que desde o início os protegeu a partir da
te visita de Lula em Israel. isenção de impostos. A crise nas alturas não parou de
se aprofundar desde a derrota do governo nas eleições
No plano da política internacional, o chavismo, legislativas de junho do ano passado e diversos confli-
como principal corrente latino-americana, se colocou tos vem se travando entre setores burgueses. De forma
à prova e sofreu derrotas. Seu discurso anti- que se atualizam as duas principais forças da burguesia
imperialista foi muito apaziguado durante a eleição de da Argentina semicolonial, o imperialismo norte-
Obama quando anunciou este como um “bom vizi- americano e a classe trabalhadora. Nos interessa res-
nho”. O bloco bolivariano da ALBA, impulsionado saltar com muito destaque o processo chamado
por Chávez não usou a influência que possui para pre- pela mídia argentina como “sindicalismo de base”,
parar politicamente os países ante a ofensiva que os liderado pelo combativo sindicato Ceramista e os
EUA planejaram através da máscara de Obama, pelo operários de Zanon que há 8 anos mantém a fábri-
contrário. A incapacidade de Chávez em liderar uma ca sem patrões produzindo sob seu controle, junto
alternativa concreta à ofensiva da dominação norte- aos combativos delegados dos metroviários da cida-
americana na América Latina e sua aceitação pacífica de de Buenos Aires, que estão lutando pelo reconhe-
de tal ofensiva mostra mais uma vez a fraqueza e sub- cimento de seu sindicato independente, e agora
serviência da dependência da classe burguesa que sus- com a incorporação da combativa comissão inter-
tenta seu governo. Isso se combina com mais debilida- na dos trabalhadores de Kraft. Esse é o sindicalis-
des internas marcadas pela crise internacional que dei- mo que nós reivindicamos, classista, combativo,
xou exposta a enorme dependência do quinto exporta- para que a classe operária possa triunfar.
dor mundial de petróleo. Chávez lançou um plano de
desvalorização da moeda nacional que causa um Somos irmãos destes trabalhadores combati-
aumento imediato dos preços dos artigos de primeira vos e classistas e defendemos esse sindicalismo.
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
propagandística. Para armar todas as entidades para os 4) Lutar para transformar a luta reivindicati-
desafios que temos pela frente, no ponto seguinte pro- va em luta política, lutando por uma ampla aliança
pomos um plano de ação. operária e popular, não só para apoiar a luta dos traba-
lhadores, mas também assumindo as demandas dos
setores populares, começando pelo povo pobre e os
3. Plano de lutas estudantes, colocando os trabalhadores como a única
Propomos uma orientação geral de princípios, classe que pode dar respostas de fundo a esses setores.
considerando a diversidade de reivindicações de todos Como falava Lênin, devemos assumir essas demandas
os sindicatos que compõem o CONCLAT. “não como simples sindicalistas e sim como verdadei-
1) Discutir com centralidade o balanço de todas as ros “tribunos do povo”, assim, nós que assinamos
greves que aconteceram no último período em que essas teses, fizemos no ano passado na USP.
teve responsabilidade a Conlutas e a Intersindical. 5) Lutar para reverter as demissões de Embra-
Este ponto é fundamental, para tirar lições e pre- er e GM, manter essa demanda nos programas, não dei-
parar as batalhas futuras. Por isso, temos que recuperar xar passar nem aceitar as demissões, não podemos
as melhores tradições de nossa classe internacional e naturalizar as derrotas.
de suas correntes revolucionárias fazendo balanços da 6) Campanha eleitoral. Nossa proposta eleitoral
atuação na luta de classes, concretos e reais, baseados tem que estar subordinada a luta de classes. Os parla-
nas conclusões das principais intervenções em que mentares operários não são um fim em si mesmo, e sim
tivemos responsabilidade de direção, ou quando porta-vozes para denunciar as camarilhas parlamenta-
fomos minoria. Partindo desta consideração rechaça- res e essa corja de bandidos à serviço do capital e para
mos os balanços abstratos e propagandistas que não convocar os trabalhadores para luta fora do parlamen-
permitem tirar conclusões para rearmarmos, nem esta- to. Mas não somos abstencionistas e temos acordo em
belecer com clareza as responsabilidades da direção. utilizar as eleições para fazer propaganda das políticas
Achamos fundamental fazer os balanços das principa- operárias e revolucionarias. Lutamos por uma frente
is provas a que fomos submetidos: LG-Phillips, classista. Rechaçamos a chamada Frente de Esquerda
Embraer, GM, Revap, e a greve da USP de 2009 e com objetivos eleitorais com partidos que praticam a
agora a greve de professores de SP março/abril conciliação de classes como o PSOL e o PCB, a inde-
2010. Nós consideramos que a Conlutas e a Intersindi- pendência política da classe operária é uma estratégia
cal não estivemos à altura das necessidades da luta de não um problema tático. Por isso, apoiamos a candida-
classes. tura à presidência de Zé Maria por ser referência para
2) Contra a política corporativista das centrais um setor da classe operária. Os que assinamos esta
e sindicatos governistas. Campanha pública nacio- tese, estamos contra desenvolver um programa de
nal, sistemática e nas estruturas, pela unidade das file- governo, já que não temos que alentar nas massas a
iras operárias entre efetivos, contratados, terceiri- possibilidade de chegar a um governo socialista de
zados, precarizados e desempregados. E uma práti- ruptura com a burguesia, pela via eleitoral. Acha-
ca política sistemática neste sentido. mos que a chave da agitação, tem que ser o chamado
aos trabalhadores a não votar em seus carrascos e sim
* Efetivação de todos os trabalhadores com iguais
em sua classe.
direitos.
Que o Conclat abra esta discussão.
* Eleição de comitês de fábrica e empresas em
todas as estruturas que dirijam a Conlutas e a Intersin-
dical, com delegados conjuntos de efetivos e contrata- 4. Estrutura Sindical
dos, sindicalizados ou não, para forjar a unidade na Consideramos que os sindicatos são ferramentas
base de fábricas e empresas e lutar efetivamente contra dos trabalhadores para a luta de classes em um sentido
a influência do estado em nossas organizações. amplo, começando pela luta reivindicativa, mas para
Assembléias resolutivas como órgãos supremos de levar essa luta ao terreno político contra a burguesia,
decisão. para acabar com esta sociedade de exploração, por
* Divisão das horas de trabalho sem redução sala- uma nova sociedade dirigida pelos trabalhadores. Nes-
rial “trabalhar menos, trabalhar todos”. te sentido, lutamos por sindicatos e centrais classistas
3) Solidariedade ativa, concreta e efetiva com e para a luta de classes. Contra toda a estrutura varguis-
todos os trabalhadores em luta e que enfrentem a buro- ta, queremos em primeiro lugar sindicatos e centrais
cracia sindical. Coordenação imediata de todos os seto- independentes do estado burguês, seus governos, suas
res em luta dos sindicatos, empresas e categorias que instituições e partidos políticos. Contra a burocratiza-
dirijam o co-dirijam a Conlutas e a Intersindical. ção das organizações operárias, que se baseia funda-
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
mentalmente nos privilégios matérias começando pelo tos - cada vez mais servis e incapazes de organizar os
direito de não trabalhar, lutamos por: 1) rotatividade trabalhadores de modo autônomo. Está em curso um
dos dirigentes mantidos pelo sindicato, depois de processo de re-estatização sindical no País. Desde o
um mandato tem que voltar ao trabalho; 2) outro getulismo, as centrais sindicais nunca dependeram
ponto essencial contra a burocratização dos dirigentes tanto do Estado para sobreviver quanto dependem
sindicais: as assembléias de delegados com manda- agora”. Enquanto os burocratas sindicais atrelados ao
to, como órgãos resolutivos máximos, nenhum diri- governo e à patronal ganham milhões, têm cargos nas
gente pode ter mais autoridade do que esta instituição; empresas privadas e órgãos públicos, mantêm postos
3) diretivas constituídas sobre a base da proporciona- como vereadores, deputados, senadores, prefeitos,
lidade; 4) ampla organização nos lugares de trabalho, governadores e até presidente da República, os traba-
delegados eleitos em assembléias revogáveis e com lhadores sofrem os efeitos da exploração capitalista e a
mandato das bases, com representação de toda a população pobre – em sua grande maioria assalariados
estrutura (sindicalizados ou não, efetivos, contra- precarizados - morren nas enchentes, deslizamentos
tados, terceirizados); 5) estamos contra a indepen- de terra e nas chacinas orquestradas por grupos de
dência dos sindicatos de todos os partidos, não igua- extermínio e policiais.
lamos partidos burgueses e proletários, o que constitui
um ponto fundamental para nossa corrente. Pelo con-
trario junto aos combativos operários de Zanon e seu Que unidade queremos construir?
sindicato classista queremos liberdade para todas as Tanto do lado da Conlutas como da Intersindical o
tendências políticas que reivindicam a classe ope- discurso é de constituir “uma central classista e unitá-
rária e suas instituições e lutamos para que a classe ria para as luta dos trabalhadores” para superar a “frag-
operária conquiste sua ferramenta política. Para mentação do movimento sindical” produzida pela
nós este ponto é fundamental ; 6) não aceitação do cooptação da CUT ao âmbito do governo Lula e aos
imposto sindical compulsivo, em caso de ter que acei- interesses diretos dos capitalistas. Nesses termos, não
ta-lo abrir uma conta bancaria independente para colo- haveria ninguém que pudesse se contrapor à fusão des-
car esse dinheiro como fundo de greve à serviço dos ses dois blocos constituídos a partir da ruptura com o
trabalhadores em luta. PT e com a CUT. Faz falta realmente uma central sin-
dical classista, unitária e para a luta de classes, o que
exige ser independente de todos os governos burgue-
5. Concepção e prática sindical: Unificação da ses e do Estado e estar fundamentada em um programa
Conlutas com a Intersindical avançado de combate aos capitalistas e suas institui-
Em primeiro lugar temos que estabelecer em que ções - partidos patronais, leis, justiça, polícia, parla-
contexto se dá o processo de criação de novas centrais mento - que unifique os interesses de todos os traba-
sindicais. Este processo se dá nos moldes determina- lhadores - efetivos, terciarizados, precários e informa-
dos pela Lei de Reconhecimento das centrais sindicais is -, superando o velho sindicalismo corporativista,
promulgada por Lula, em acordo com a burocracia sin- legalista e pacifista que divide e isola os trabalhadores
dical das demais centrais. Essa lei foi uma negociata por sindicatos (categorias) e, pior ainda, deixando de
com as centrais sindicais que apoiam o governo Lula, e lado todo o grande contingente (majoritário) de assala-
todas buscaram garantir o controle burocrático sobre riados sem carteira assinada. Esse sindicalismo herde-
os sindicatos (mantiveram a unicidade sindical, ou iro do regime sindical de Getúlio Vargas, como o que
seja, mesmo traindo, os trabalhadores não podem fun- foi moldado pelo petismo, tem que ser superado. Os
dar outro sindicato combativo). Todas as centrais eram trabalhadores necessitam de organizações de combate
politicamente reconhecidas e existiram até 2008 sem que lutem primeiramente pela unidade da classe supe-
precisar se submeter a qualquer tutela estatal. Com rando a derrota que impôs o neoliberalismo.
essa lei, tudo muda, e as centrais ficam atreladas ao
Estado, o que significa um retrocesso de todas as con-
quistas políticas alcançadas pela luta operária nos anos Necessitamos uma organização sindical que pri-
1970 e 1980, quando as centrais foram reconhecidas orize a luta de classes
“na marra” e a própria Constituição de 1988 deixou de e não a propaganda do socialismo
exigir que os sindicatos fossem homologados pelo Uma organização sindical unitária e classista
Ministério do Trabalho (como na época da ditadura e deve antes de tudo ter em seu programa a resposta para
desde os tempos de Getúlio Vargas). Como disse o o principal problema que atinge a classe trabalhadora
sociólogo Ricardo Antunes em Maio de 2008, no Esta- nacional: a fragmentação imposta pela ofensiva neoli-
dão, “isso configura o triste caminho que atravessa- beral que dividiu a classe ao meio, com mais da metade
mos: o da reaproximação entre o Estado e os sindica- sem direitos trabalhistas, com salários miseráveis e
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
Serra. Sem papas na língua o secretário-geral da Força dos de participar da reunião da coordenação da Conlu-
Sindical, João Carlos Gonçalves (Juruna), estampou o tas no Rio de Janeiro, com o argumento “estatutário”
caráter de conciliação entre os interesses dos trabalha- de que estavam com débito financeiro (!!!).
dores e dos patrões: “é uma demonstração de que é Não basta se dizer anti-governista e até socialista,
possível se unir em defesa da classe trabalhadora, há que preparar esse combate dia a dia nas lutas cotidi-
pela queda na taxa de juros e contra o desemprego”. anas, desenvolvendo a “escola de guerra” como falava
De lá para cá, o processo de unificação Conlutas- Lenin, para nos preparar para essa perspectiva que não
Intersindical avançou, via seminários e reuniões, vai a chegar pela via eleitoral nem cairá do céu.
para alcançar acordos parciais e propagandísticos
não forjados na luta de classes, entre correntes e Por isso nossa consigna é: mudar seu rumo e
dirigentes, mas não significou qualquer avanço na orientar a unificação ao serviço das necessidades
unidade real que servisse para dar passos adiante da luta de classes.
na reorganização sindical e dos trabalhadores que
orbitam em torno dessas entidades. 6. Programa, princípios e estratégia
Um exemplo de que o processo de unidade Estas críticas, baseadas em fatos reais incontestá-
entre Conlutas e Intersindical precisa mudar seu veis, tem o objetivo de discutir franca e honestamente
rumo e se ligar aos processos reais de luta é o caso a urgente necessidade de que os dirigentes da Conlutas
das demissões da Embraer e da Vale, quando todos e da Intersindical mudem os rumos desse processo de
esses trabalhadores não puderam contar sequer unificação, fazendo-o chegar realmente às bases,
com o apoio unitário dos sindicatos das duas orga- ligar-se aos processos de luta existentes, tirando
nizações, que seguiram seus atos e manifestações lições, aprovando planos de luta para que nenhuma
isoladas e separadas. Outro exemplo, logo depois, foi luta (principalmente dos sindicatos dessas duas enti-
o caso da greve da USP, que se transformou numa luta dades) fique isolada, para que obtenha vitória e ajude
vista e acompanhada diariamente em todo o país. os trabalhadores a enxergar que é possível lutar e ven-
Durante mais de três meses os trabalhadores da univer- cer, não mais aceitando passivamente a demagogia do
sidade - co-dirigidos por nossa corrente - foram a linha governo Lula e dos burocratas sindicais que deixam
de frente de uma dura luta contra o regime monárquico passar todos os ataques patronais.
da USP, em defesa das suas reivindicações e contra a
Temos que discutir a necessidade de unificação
repressão e a demissão de seu dirigente (Brandão). O
da Conlutas e da Intersindical ligada a processos reais
país inteiro conheceu essa luta, que era debatida pela
da vida dos trabalhadores e dos ativistas, superando os
imprensa, envolvia políticos e intelectuais. A reitoria,
debates organizativos e aparatistas que buscam acor-
a mando do governo Serra, invadiu a universidade
dos deixando de lado as definições programáticas e de
com a tropa de choque, sitiando-a durante vários dias
reorganização, também pela base, e a participação con-
na tentativa de derrotar os trabalhadores e o seu com-
creta dos atores das lutas e do combate contra o gover-
bativo sindicato (Sintusp), uma das primeiras organi-
no, a patronal e a burocracia sindical vendida. Nós da
zações da capital paulista a se filiar a Conlutas. Entre
LER-QI junto com os companheiros independentes
tantos apoiadores, de toda matriz política e ideológica,
que formamos o Movimento Classe contra Classe, par-
o Sintusp, Brandão e os trabalhadores da USP não
ticipamos ativamente neste congresso de fundação,
puderam contar com os sindicalistas, personalidades e
lutando desde os locais de trabalho e estudo onde esta-
recursos da Conlutas nem da Intersindical. Faltaram
mos em defesa de uma perspectiva classista e combati-
atos, ajuda financeira, plano de unificação das lutas -
va.
os chamados para convocar encontros e coordenar os
setores em luta (havia, nesse momento, campanha sala- Caráter da nova entidade
rial dos metroviários, sabespianos, professores etc.), Nós, estamos pela unidade na luta dos setores
aprovados pelos trabalhadores da USP não obtiveram explorados e oprimidos, ou seja, pela aliança operária
resposta positiva -, até mesmo ações de difusão da luta. e popular, e que sejamos a favor de uma central sindi-
Enquanto essa luta heróica e exemplar se desenvol- cal junto aos movimentos sociais, seguimos acreditan-
via, a Conlutas e a Intersindical se reuniam em semi- do que a chave é a política e o modelo de sindicalismo
nários para discutir a “unificação” propagandísti- que as organizações defendam. Estamos pela aliança
ca, sem qualquer ligação com a luta mais importan- operária e popular concreta, para desenvolver a luta
te do momento. Assim se mostrava, concretamente, anti-capitalista, com os sindicatos e movimentos soci-
que essa “unificação” transcorria “por cima” (entre os ais combativos que sejam ou não sejam parte da nova
aparatos) e sem quase nada a ver com a luta real dos tra- central. Não acreditamos que esta questão possa se
balhadores. Até mesmo os representantes eleitos pela resolver com medidas organizativas e sim com uma
assembléia dos trabalhadores da USP foram impedi- política e uma estratégia para fazer avançar a nossa
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
classe, para fazê-la confiar em suas próprias forças. que a central que surja desta unificação, tenha um fun-
Este ponto tem a ver com as colocações que fizemos cionamento baseado nas assembléias e plenárias gera-
acima, da necessidade de um novo sindicalismo que is de delegados com mandatos, como órgãos resoluti-
rompa os moldes do “modo petista de militar”. vos supremos, que não tem nenhuma instância por
cima. Nada pode ser aceito nas negociações nem assi-
nado sem ser avaliado na assembléia de trabalhadores.
7. Composição e funcionamento da direção Mas faz falta ainda fazer um esclarecimento porque os
Para nós a direção tem que ser composta pelos nomes estão muito prostituídos pelo sindicalismo
representantes das entidades sindicais e oposições, pro- petista/cutista. Queremos assembléias deliberativas e
postas pelas entidades e votados em plenária geral da resolutivas e não atos nos carros de som onde só falam
nova central, com delegados que tenham mandatos das os dirigentes e não tem sequer nenhum debate para dis-
bases, com o método da proporcionalidade. Achamos cutir balanços e perspectivas. Queremos desterrar da
também que nessa direção todas as correntes políticas prática do movimento sindical combativo os acordos
que participam da construção da central tem que estar por cima entre correntes e o chamado consenso das
representadas, logicamente respeitando as proporções burocracias sindicais. Queremos voltar a democracia
com respeito as entidades, mas também entre as pró- direta, para que os trabalhadores tomem em suas mãos
prias forças da esquerda. Nós queremos desenvolver seu próprio destino, acreditamos na democracia direta
todos os mecanismos que contribuam com a autode- e não nos dirigentes individuais. Há que romper até o
terminação dos trabalhadores e por isso, lutamos para final com o modo petista de militar.
classe, mas também, da necessidade da luta ecológica O gradual crescimento da luta popular antiimpe-
compreendida numa perspectiva anticapitalista, pois rialista nesta região da América Latina recolocou em
nenhuma medida que siga exaurindo os recursos da pauta a questão da soberania nacional. O direito a auto-
natureza podem beneficiar, efetivamente, trabalhado- determinação dos povos latino-americanos tornou-se
ras e trabalhadores e o povo pobre, que ao fim, são os uma questão central em que a defesa das riquezas natu-
maiores prejudicados pela destruição ambiental e os rais se articula com uma proposta de integração anti-
desequilíbrios climáticos. imperialista.
A situação do Haiti também é reveladora da A conjuntura política atual na Venezuela, Bolívia
exploração imperialista. Este povo heróico não foi aba- e Equador alargou os espaços de relações com Cuba e
tido apenas por um desastre natural, mas pelo modelo movimentos indígenas e inúmeros movimentos de
de dominação que impediu medidas preventivas para enfrentamentos ao neoliberalismo.
livrar da morte cerca de 200 mil pessoas. A imensa mai- Mas não há duvidas de que as opções social-
oria do povo haitiano, que nada dispõe para a sobrevi- liberais do governo Lula são obstáculos a uma integra-
vência a não ser sua força de trabalho é vítima de uma ção fundada na soberania dos povos e na afirmação de
intervenção militar – com as tropas brasileiras à frente um modelo socialista. Essa realidade exige medidas
– que precisa ter um fim imediato. O Haiti precisa de concretas, particularmente na busca da diversificação
comida, remédios e meios de reconstrução do seu País econômica sob controle popular, pois do contrário os
através da soberania popular e da autodeterminação do riscos de recuos são concretos.
seu povo trabalhador e não de armas.
É importante compreender o papel do governo
No Oriente Médio, a manutenção do massacre ao Lula na utilização de fundos públicos e do dinheiro dos
povo palestino, da invasão no Iraque e da guerra no trabalhadores e trabalhadoras (como o FAT), com des-
Afeganistão não deixa dúvidas do caráter imperialista taque para a atuação do BNDES, para apoiar empre-
e de classe do governo Obama na manutenção das polí- sas multinacionais sejam brasileiras como Petrobrás,
ticas de exploração do maior estado capitalista do mun- Vale, Odebrecht, Itaú, Foods, os grandes grupos de
do. A situação dos povos na Palestina, no Iraque e Afe- matriz estrangeira que atuam na América Latina e Áfri-
ganistão exige da nossa Central a compreensão da ca, explorando a classe trabalhadora e dilapidando os
necessidade efetiva do caráter internacionalista do nos- recursos naturais, sob os ditames da acumulação e do
so instrumento de luta contra o imperialismo e o capi- lucro.
tal.
Para efetivar nossa ação internacionalista, nossa
Na América Latina dá-se um amplo e vigoroso Central deve concretizar num plano de lutas, o comba-
processo de luta popular antiimperialista que termina te à política dessas empresas e a sua ação internacio-
por levar a importantes experiências como da Venezu- nal, através do diálogo com o povo brasileiro, articu-
ela, Bolívia, Equador, atacados pelos EUA e pela direi- lando-se com as organizações populares de todo o mun-
ta do mundo todo. Evidentemente que este impressio- do, particularmente com os países vilipendiados pela
nante processo de mobilização popular antiimperialis- ação das multinacionais brasileiras; assumindo um pro-
ta é positivo. No entanto apontamos limitações políti- tagonismo nesta questão e ampliando vigorosamente
cas, uma vez que não há um nítido projeto que coloque este combate, dando sentido real à palavra solidarieda-
as mudanças das bases econômicas da sociedade. de, ou seja, traduzindo-a na ação internacionalista con-
Sabemos que existem problemas, também, em creta.
relação à autonomia sindical, com visões diferencia-
das, o que tem levado a choques sérios dos governos
com setores da classe trabalhadora. E não temos dúvi- Conjuntura Nacional
das de que nossa Central deva se orientar pela pratica A crise econômica que se abateu sobre o mundo a
da autonomia em relação a quaisquer governos e parti- partir de 2008, ao contrário do que prega o governo
dos, no Brasil e no Mundo. Lula e a imprensa está longe do seu fim. Apesar de uma
No entanto, em cada luta concreta há que se ter recuperação momentânea e parcial, ela segue trazendo
uma análise muito criteriosa para não fazermos coro conseqüências para as trabalhadoras e trabalhadores
com a direita golpista e os diversos setores burgueses, brasileiros. Tudo indica que poderemos viver situa-
particularmente na questão da chamada “liberdade de ções dramáticas como as que marcaram o planeta no
imprensa” dos grandes grupos de comunicações priva- último período.
dos e golpistas. Como aconteceu quando o governo Para a classe trabalhadora as saídas da crise apon-
venezuelano decidiu não renovar a concessão pública tadas pelo capital são sempre as mesmas, ou seja, de
para a RCTV. novas formas de acumulação e exploração da classe:
desemprego, redução dos salários, eliminação de dire-
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
itos e destruição dos serviços públicos, regressão bru- Outro elemento de continuidade se dá na atuação
tal das condições de vida. As grandes corporações diante das crises do capital: se para salvar a lucrativi-
financeiras internacionais investem cada vez com mai- dade do capital FHC transferiu e saqueou o patrimônio
or ganância sobre as riquezas e recursos naturais de público transferindo-o para a iniciativa privada, atra-
todos os países. vés de medidas como o PROER dos bancos; na era do
Essa é a razão da determinação das ações do lulismo, diante da crise aberta em 2008/2009, bilhões
governo para impedir o fim do fator previdenciário de dinheiro público foram desviados para salvar ban-
com o apoio de algumas centrais sindicais pelegas, den- cos, montadoras, empreiteiras etc; que usaram este
tre elas, a CUT e a Força Sindical e para impedir que dinheiro, inclusive, para promover demissão em
as aposentadorias tenham o mesmo reajuste que o salá- massa, como fizeram a Embraer e a Vale do Rio
rio mínimo. No serviço público, piora as já péssimas Doce, por exemplo.
condições de trabalho, aumenta o arrocho salarial e Também é visível a continuidade aos ataques às
impõe perversos mecanismos de controle como a ava- trabalhadoras e trabalhadores, especialmente sobre os
liação de desempenho que tem como único objetivo direitos previdenciários, seja pela primeira reforma da
demitir, punir e culpar os trabalhadores e trabalhado- previdência, seja na tentativa de implantar o fator
ras pelas mazelas nos serviços públicos. 85/95, seja na manutenção do famigerado fator previ-
O enorme volume de recursos públicos desviados denciário ou na negativa de reajustar as aposentadori-
para os grandes capitalistas na crise contrasta com o as de acordo com o reajuste do salário mínimo.
descaso com o povo pobre, vilipendiado inclusive Todas essas questões deverão constar da ação
pelas recentes enchentes em várias partes do país e determinada de nossa Central, bem como deverão ser
com a falta de infra-estrutura básica. elementos de plataforma a serem defendidas nas elei-
A vanguarda da classe trabalhadora no Brasil ções de 2010. Os setores populares que não se rende-
sabe que o governo Lula não representou rupturas ram precisam atuar para desvendar a falsa polarização
estruturais com a era FHC, muito menos com o mode- que busca se estabelecer entre as candidaturas de Dil-
lo de exploração capitalista. Em alguns aspectos, ao ma e Serra. Na essência, poucas diferenças existem
contrário, reforçou as características mais conserva- entre eles/elas. Mas nossa Central, nossos sindicatos e
doras e antipopulares do tucanato. Um aspecto impor- a esquerda combativa precisam tratar com cuidado os
tante dessa caracterização é a forma da governabilida- elementos das duas caras deste mesmo projeto.
de no Congresso nacional através do "toma lá, dá cá", Uma coisa é o debate com a vanguarda mais atu-
dos “mensalões”, “sanguessugas” e com sintonia fina ante. Outra é o debate com a massa, que permanece ilu-
com os empresários e banqueiros. dida com o governo do PT/PMDB e aliados. Não nos
Alguns elementos conjunturais marcam profun- adianta botar um sinal de igual entre PT e PSDB, pois
damente a situação no Brasil. A manutenção dos prin- não será possível furar o bloqueio. É preciso descons-
cipais fundamentos macroeconômicos baseados: a) na truir a falsa idéia de que Lula governou em favor da
política fiscal ancorada no superávit primário para maioria do povo, buscando bases em alguns aspectos
pagamento das dívidas ilegítimas produzidas pelo fundamentais:
Consenso de Washington, que mantém o ajuste fiscal a) Que Lula surfou na onda de crescimento inter-
que impede políticas sociais vigorosas e estruturantes; nacional de 2002-2008, turbinado pelo dínamo da eco-
b) na política de metas de inflação, falseadas pelo deba- nomia estadunidense antes da crise mundial;
te de controle inflacionário, mas que na verdade ser- b) Que não adianta desconsiderar a importância
vem para esconder o lucro exorbitante dos especula- para a adesão das massas ao lulismo os programas de
dores e banqueiros que saqueiam as políticas sociais, bolsas, a pequenina recuperação do salário mínimo
inclusive as constitucionais, em cerca de R$ 170 (de acordo com o índice calculado pelo Dieese e com
bilhões anualmente. a Constituição o salário mínimo deveria ser mais
Enquanto Lula transfere cerca de 45% do orça- que o dobro do que é);
mento para esses agiotas, destina pouquíssimos recur- c) A própria identificação com o simbolismo “po-
sos à Reforma Agrária, à saúde, educação, transporte, pular” de Lula;
saneamento, e inclusive ao Bolsa-Família, vitrine do
lulismo. A conseqüência dessas políticas é a elevação d) Mas que a barbárie que assola a maioria do nos-
em escala do lucro dos bancos, agronegócio e diversos so povo, no entanto, não retroagiu, e permanece laten-
outros setores da economia brasileira. Todos esses te na realidade das periferias e favelas, na ausência da
aspectos são elementos de continuidade do período e Reforma Agrária, no desemprego altíssimo, especial-
do modelo anterior. mente da juventude, na manutenção do analfabetismo,
na ausência de políticas sociais efetivas, educação,
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
transporte, moradia, na escalada da criminalização dos a relação entre a reivindicação imediata e os interesses
pobres e extermínio de jovens, particularmente dos estratégicos da classe.
negros. Nenhum direito a menos, avançar nas conquis-
Entendemos que a defesa da constituição de uma tas
Frente de esquerda que agregue todos os setores, sindi- Os ataques patronais aos direitos trabalhistas,
cais, populares, estudantis poderá ser um elemento de tanto na esfera da produção como da vida, continuam.
grande importância na propaganda e agitação de nos- Nas empresas, crescem os ataques ao limite de jorna-
sas bandeiras imediatas e históricas e ainda potenciali- da, revirando toda a vida dos trabalhadores e trabalha-
zar a organização de nosso movimento de resistência doras e causando doenças e acidentes de trabalho em
ao grande capital e sua agenda de ataque aos nossos grau cada vez maior.
direitos e ainda se colocar como alternativa ao modelo
neoliberal, anticapitalista e socialista. A previdência, a saúde, a educação cada vez mais
são precarizadas e privatizadas, através das denomi-
A criminalização das lutas e das organizações nadas organizações sociais, para favorecer o lucro
populares é uma necessidade do capitalismo. Visa eli- das empresas de serviços. No campo, a reforma agrária
minar obstáculos ao aumento da exploração para reto- não avança e não existe política agrícola que dê apoio
mar o crescimento de suas taxas de lucro. Os capitalis- à população rural. Na periferia, a juventude negra e
tas e seus governos querem impedir, a qualquer custo, pobre é assassinada, quando não morre com as
que haja reação e luta por parte da classe trabalhadora. enchentes e desmoronamentos. É preciso dar um bas-
Isso é o que explicam as perseguições, assassinatos de ta e resistir organizando nacionalmente os trabalhado-
trabalhadores sem terra, prisões de lutadores sociais, res e trabalhadoras, do campo e da cidade para a resis-
demissões, multas e interditos proibitórios e violência tência.
policial na tentativa de impedir greves e manifesta-
ções. Unificação da classe trabalhadora
Mesmo com essa ofensiva, é possível perceber A unidade dos/das trabalhadores/trabalhadoras
sinais de contradição e de dificuldades na sustentação da cidade e do campo, informais e formais, é um dos
da hegemonia neoliberal. Observamos recentemente maiores e mais permanentes desafios que o capitalis-
um aumento do nível de sindicalização e de greves nos mo, com sua face neoliberal, nos colocou: a classe não
setores público e privado, com destaque para a recente apenas aparece diferenciada em função de sua nacio-
greve dos professores em São Paulo e a Greve do nalidade e da histórica divisão entre cidade e campo,
INSS no semestre passado. Frente a todo este quadro mas totalmente fragmentada. Á concorrência entre os
é preciso reafirmar a necessidade do fortalecimento da trabalhadores e trabalhadoras pelo emprego se soma
resistência e da luta dos trabalhadores e trabalhadoras o despedaçamento da identidade de classe entre quem
e de todos os setores. está no trabalho formal e quem está no informal, entre
trabalhador da empresa contratante e o terceirizado e
daí por diante.
Plataforma e Plano de Lutas A construção de nossa central e sua consolidação
A necessidade de responder às questões imediatas vai se dar em cima de ações que unam movimento
de forma articulada com a luta geral continua sendo popular e sindical. Um deles é a questão da terra, outro,
um de nossos grandes desafios, agravado pelos ata- a questão da moradia, que não se encerra a um teto –
ques da patronal contra a organização dos trabalhado- envolve também a possibilidade de viver de seu pró-
res e trabalhadoras, criminalizando os movimentos e prio trabalho com dignidade. Vai se dar também em
a própria população trabalhadora, como se a pobreza cima de ações que unam trabalhadores/trabalhadoras
fosse crime. Os direitos sindicais, trabalhistas, pre- internacionalmente, como o combate às transnaciona-
videnciários e sociais continuam sendo atacados e reti- is e à militarização da América pelo imperialismo esta-
rados, na esfera do trabalho e da vida. dunidense.
Este e outros desafios exigem muita unidade de Campanha contra a criminalização dos movi-
classe, unidade que se coloca como tarefa fundamental mentos populares e da pobreza
e que deve ser construída dentro do enfrentamento prá- A ofensiva neoliberal contra o direito de organi-
tico, na ação direta do dia a dia, nas ações gerais e na zação dos trabalhadores e trabalhadoras, combinada
construção de ferramentas unitárias de luta, como a com os ataques à população pobre, particularmente
central que construímos neste congresso. jovens e negros nas periferias e favelas, visa nos privar
Neste período que se abre, alguns eixos de luta se de liberdade, tirar nossa força de resistência, e fazer
destacam no conjunto de enfrentamento, pela mobili- uma “limpeza” que de época em época a classe domi-
zação que propiciam e pelo seu potencial de explicitar nante faz para evitar que a miséria que ela mesma cau-
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
mental o combate ao economicismo, que reduz a luta à Nossa central deve ser sustentada política e finan-
defesa do interesse imediato, sem vinculação com os ceiramente pelos próprios trabalhadores e trabalhado-
interesses estratégicos, bem como o combate à ideolo- ras.Deve se pautar pela conquista e construção de um
gia da parceria que mascara o fato das classes patronal sindicalismo de ação e classista. Isso implica em com-
e trabalhadora terem interesses inconciliáveis. bate à estrutura sindical vigente, que propicia a buro-
D- Unidade da classe e unificação das lutas cratização e o peleguismo. Implica também em com-
bater poder normativo da justiça do trabalho e todas as
A central defende a classe trabalhadora como um formas de interferência do Estado.
todo, relacionando as reivindicações de dada categoria
com as lutas gerais da classe. Combate, assim, o cor- Deve rejeitar, por isso, a unicidade imposta pelo
porativismo que limita a ação exclusivamente às ques- estado e buscar a unidade da classe, como produto da
tões imediatas de uma determinada categoria, desvin- vontade soberana dos trabalhadores e trabalhadoras.
culando-as das reivindicações gerais da classe, como Deve buscar garantias de autonomia e liberdade sindi-
se uma não tivesse nada a ver com a outra, como se os cal baseada nas convenções 87 da Organização Inter-
problemas de uma categoria não fossem parte da nacional do Trabalho (OIT), bem com nas convenções
exploração imposta sobre toda a classe. 98, 151 e 158.
Pauta a ação pela busca incessante da unificação Deve defender permanentemente o direito de
das lutas o mais ampla possível, em todos os níveis. manifestação e organização dos trabalhadores e traba-
Assim, para unir organicamente a luta e romper com a lhadoras, combatendo a ação repressiva do Estado,
pulverização sindical, tanto é preciso construir sindi- que persegue, ameaça e pune quem luta pelos interes-
catos unificados por ramos de atividade econômica ses da maioria; que restringe o legítimo direito de gre-
(com abrangência geográfica diversificada, de acordo ve, ocupações e manifestações através de interditos
com cada caso) como é preciso buscar a representação proibitórios e outros mecanismos de repressão; que
unitária de todos trabalhadores e trabalhadoras no tenta constantemente criminalizar a pobreza e os movi-
local de trabalho, sejam contatado pela empresa matriz mentos sociais.
ou pela terceirizada – “passou para dentro dos muros G – Conquista e construção da organização
da empresa, é da base”. desde os locais de trabalho
Também nessa perspectiva, nossa central não A organização de base dos trabalhadores e traba-
defende o “pluralismo sindical” apresentado como lhadoras nos locais de trabalho é essencial porque se
alternativa de organização no neoliberalismo (e que faz no coração da produção, onde se vive a contradição
abrange o sindicalismo social-democrata), bem como fundamental entre capital e trabalho, onde se dá a pro-
rejeita o “sindicato orgânico”, que tolhe a autonomia dução das riquezas e a exploração da mais valia, onde
das entidades. patrões e trabalhadores se enfrentam diariamente. É
E – Democracia Operária onde se pode forjar a resistência e luta pela base, ao
mesmo tempo que é uma escola de poder dos trabalha-
Nossa central deve ter como garantir os elemen- dores sobre as condições de trabalho e sobre a produ-
tos fundamentais da democracia dos trabalhadores e ção.
trabalhadoras, que preconfiguram a sociedade socia-
lista que buscamos: firme unidade de ação, baseada na H - Ação direta como linha mestra
decisão da maioria, com a mais ampla liberdade de opi- A ação direta e unificada é a mais importante fer-
nião de todas as posições; que garanta a autonomia das ramenta da classe trabalhadora. Greve, ocupação,
entidades filiadas. manifestação, qualquer forma que tenha a luta massi-
São fatores essenciais da democracia operária: va, nada é mais poderoso. As iniciativas no campo ins-
informação e formação a mais ampla possível para a titucional, seja jurídico, parlamentar, entre outros, sem-
base; com direção eleita, responsável, de mandato pre devem estar combinadas e submetidas à ação dire-
revogável e com prestação de contas de seus atos; ta.
representatividade, abarcando a massa dos trabalha- I - Internacionalismo e solidariedade de classe
dores e trabalhadoras formais e informais como classe, Nossa classe não reconhece fronteiras. O nacio-
independentemente de raça, etnia, gênero, religião, nalismo não pode servir de argumento para opor traba-
categoria; participação das bases na definição e dire- lhadores a trabalhadoras em qualquer situação, por-
ção dos rumos da entidade, com mecanismos que que nossa classe é internacional e internacional deve
favoreçam a participação coletiva; ser nossa luta.
F – Defesa permanente da liberdade e autono- A solidariedade de classe se baseia na luta conjun-
mia sindical ta, na ação para a emancipação dos explorados. É
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
essencial para fortalecer os laços entre os trabalhado- por companheiras e companheiros da nossa central, os
res e trabalhadoras e a resistência do dia a dia; para dirigentes deverão abster-se da utilização da imagem
construir identidade de classe. É um dos elementos do cargo que exerce em razão de sua representação,
que, junto com a democracia operária e o internaciona- exceto se fizer parte de sua própria categoria profissio-
lismo, preconfiguram a sociedade socialista que ire- nal;
mos construir. g. Não admitir acusações morais, agressões
físicas ou verbais etc, entre as chapas;
Da concepção para a prática h. Garantir que as filiações sejam feitas por
A democracia e o internacionalismo como ele- entidades, organizações, oposições, minorias e grupos
mentos estruturais da Central organizados devidamente reconhecidos pelos fóruns;
A Central e os sindicatos são instrumentos de
“frente de única de trabalhadores e trabalhadoras”, e Internacionalismo de classe
precisam ser democráticos, elemento chave para a A classe trabalhadora deve compreender suas
construção da unidade de ação da classe trabalhadora, lutas em escala internacional. Isto exige a busca e a prá-
considerando que em seu seio se expressa a mais tica constante de laços internacionais em torno das
ampla diversidade. A democracia deve ser exercida de lutas concretas dos trabalhadores e trabalhadoras.
forma plena em todos os níveis de organização, garan- Requer que façamos ecoar, sistematicamente, em nos-
tindo a convivência entre as diferentes opiniões, rejei- sas bases os exemplos e as lutas dos trabalhadores de
tando o sectarismo ou as visões hegemonistas. outros países.
Isso deve dar-se no encaminhamento dos debates, Neste contexto a solidariedade de classe deve ser
no compartilhamento das tarefas e responsabilidades, resgatada como prática nas lutas dos oprimidos e opri-
na ampla circulação da informação no interior da enti- midas de todo o mundo, combinado com a busca de
dade, no respeito às decisões das instâncias. enfrentamento conjunto ao imperialismo, às transna-
Algumas questões são necessárias para qualificar cionais, à OMC, às guerras e ao massacre que o capita-
e materializar a democracia dos trabalhadores e traba- lismo tem mais e mais necessidade em desencadear.
lhadoras: Nossa central deve manter as mais amplas rela-
a. Preservar, no debate interno, a ampla liber- ções internacionais, sem privilégio desta ou daquela
dade de expressão das posições, a unidade de ação a articulação, e respeitando as relações das diversas orga-
partir da decisão da maioria e o direito das minorias em nizações e tradições que a compõem. No atual cenário
manifestar publicamente suas opiniões divergentes, mundial inexistem organizações internacionais que
explicitando que se trata de posições eventualmente corresponda à amplitude da organização que estamos
minoritárias; construindo.
b. Construir relações éticas dentro das organi- No dia 07 de junho, após o Congresso da Classe
zações sindicais. A Central como entidade de caráter Trabalhadora, a reunião com a delegação internacio-
nacional deve construir um código de ética fundado na nal presente será um marco das relações internacionais
solidariedade de classe, no respeito e no companhei- da nossa Central e terá como objetivo discutir um pro-
rismo. jeto de ação internacionalista.
c. Afirmar a importância de realização perió- Organização a partir dos Locais de Trabalho
dica de congressos e demais fóruns dos ramos ou como escolas de poder dos trabalhadores e traba-
categorias representadas na entidade - respeitando lhadoras
sempre a plena autonomia das entidades de base - pre- Devemos reorganizar o movimento a partir dos
cedidos de diversificada e ampla divulgação dos obje- locais de trabalho, defendendo o direito de greve e de
tivos, pautas e condições de participação; organização, combatendo a estrutura sindical oficial,
d. Garantir proporcionalidade direta e qualifi- lutando pela liberdade e autonomia e exercendo um
cada em todas as instâncias da Central; sindicalismo com independência frente aos patrões,
e. Nas eleições sindicais, defender a propor- Estados, governos e partidos. Essa tarefa só faz sentido
cionalidade direta e qualificada na composição das se estivermos dispostos a refletir sobre a nossa ação sin-
chapas de lutadores/lutadoras, através de diferentes dical, resgatando o acúmulo de experiências positivas
formas democráticas como convenção, congresso ou adquiridas ao longo dos 510 anos de resistência indí-
prévias na base; gena, negra, feminina e popular.
f. Em casos de mais de uma chapa composta Está nítido que não existem saídas se não dirigir-
mos a organização dos trabalhadores e trabalhadoras
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
desde os locais de trabalho. E isso não pode ser apenas um padrão obrigatório.
afirmação que fique nos nossos princípios. Organizar As mulheres trabalhadoras continuam a arcar
os trabalhadores/trabalhadoras a partir do local onde com a dupla jornada, maior vulnerabilidade ao assé-
se dá a produção e expropriação da riqueza e onde se dio moral e sexual, bem como com as manifestações
manifesta a principal contradição da sociedade do capi- do machismo inclusive dentro dos movimentos. Isso
tal é a única maneira de superar a fragilidade do movi- traz um triplo desafio para a central garantir condições
mento sindical hoje, que ainda que possa ser combati- efetivas de participação das mulheres, combater o
vo, tem pés de barro, pois não basta que a base apóie as machismo no nosso meio e fazermos juntos, homens e
ações do sindicato, a classe precisa tomar para si o des- mulheres o enfrentamento da opressão.
tino das lutas.
Trabalhadores negros e negras sofrem, além da
Por mais combativas que sejam nossas entidades, exploração de classe, a opressão racista, que se traduz
por mais que façamos trabalho de base, por mais que em maior achatamento salarial, falta de oportunida-
busquemos publicar nos boletins sindicais a realidade des, além da violência policial e discriminação em vári-
da classe trabalhadora, a ação sindical hoje se materia- as dimensões.
liza – com raríssimas exceções – de fora para dentro
das empresas. Essa constatação não pode servir para A relação com os povos indígenas, massacrados
martirizar nossas entidades e nossa militância, mas desde a chegada dos brancos à América, exigirá um
para uma profunda reflexão dos limites do modelo atu- esforço particular da nossa Central. Devemos desen-
al, explicada em alguma medida pelo período de resis- volver relações com as organizações indígenas, visan-
tência e reduzida consciência de classe, mas que apre- do não só a solidariedade com a luta destes povos, mas
senta lacunas e possibilidades de superação a partir do contribuindo efetivamente para que a questão indíge-
esforço coletivo do estudo das atuais formas em que se na adquira visibilidade.
apresentam as relações sociais de produção. A liberdade de orientação sexual é mais uma
Este é um desafio que exige nosso esforço tanto frente na luta pela emancipação humana.
de construção como de conquista do direito de organi- Que estas relações e contradições que se expres-
zação e representação dentro das empresas, com esta- sam também dentro da classe sejam tratadas de forma
bilidade e garantia de efetivamente ouvir e prestar con- a ser uma marca de coerência em nossa central com a
tas aos representados. perspectiva socialista; que possamos envolver todos
Organização de base nos locais de atuação os setores que vivem do trabalho, em especial os mais
explorados e marginalizados de nossa sociedade, tanto
A organização de base é a consolidação da luta de na conquista de direitos, como na construção cotidia-
forma permanente e os trabalhadores e trabalhadoras na de liberdade e ação coletiva.
devem usar a criatividade para inventar ou se apropriar
do que existe dando a cara da classe, como os represen- Disputa de hegemonia na sociedade
tantes de rua do bairro do Pantanal na cidade de São É preciso promover o debate acerca da hegemo-
Paulo; assembléias permanentes em assentamentos ou nia e contra-hegemonia e do papel concreto que o Esta-
ocupações; movimentos pelo transporte, como o do do, o mercado, a mídia têm em cada momento históri-
passe livre; associação de desempregados. Combina- co e em cada realidade concreta da formação social.
da com a formação política a ação direta e massiva, é o Da importância estratégica da luta ecossocia-
que garante que a democracia se efetive e que cada lista
luta imediata acumule para a luta estratégica.
A central e os sindicatos devem realizar uma per-
Eixos estratégicos manente agitação em defesa da vida e do planeta, no
Estes são eixos que vão além da questão conjun- sentido de que seus recursos naturais, bem como aque-
tural. Exigem um esforço especial de elaboração e les resultantes da produção humana, sejam apropria-
ação cotidiana, porque são estreitamente permeados dos em condições de igualdade pelo conjunto da huma-
pela ideologia dominante. nidade. A defesa do meio-ambiente se casa com o dire-
Luta contra qualquer tipo de discriminação e ito das gerações atuais e futuras, bem como a integri-
opressão: gênero, raça, etnia, orientação sexual. dade da vida devem ser colocadas no mesmo plano das
reivindicações específicas e históricas.
O capitalismo em sua fase neoliberal ataca o con-
junto da nossa classe, mas alguns setores sofrem mais A luta ecossocialista em defesa dos recursos natu-
fortemente, como as mulheres, os negros e negras, o rais e da vida no planeta é uma luta anticapitalista, pois
povo indígena. .Além disso, na esfera da vida, a dis- não há como conciliar respeito aos bens da natureza
criminação e o preconceito ferem os que têm uma ori- com o modo de produção do capital. No entanto, a rup-
entação sexual julgada “diferente”, como se existisse tura com o capitalismo, por si só, não garante o respei-
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
to aos limites da natureza como demonstraram as expe- cidades pelas condições de vida - moradia, saúde, edu-
riências históricas. Para nós, uma nova sociedade soci- cação, transporte – traz um espaço de unidade entre tra-
alista exige ser, também, ecológica. balhadoras/trabalhadores urbanos formais e infor-
mais cada vez mais importantes para construir a identi-
dade de classe.
Caráter da central
A luta no campo pela reforma agrária sob contro-
Da participação do movimento popular como le de quem na terra vive e trabalha, ou contra a explo-
elemento da estratégia ração capitalista no campo que extrai seu lucro de for-
No início dos anos 70 abriu-se um período de cri- ma ainda mais desumana que nas cidades, aponta
se prolongada do capitalismo em nível internacional. outro espaço fundamental de unidade de classe.
As saídas encontradas pelo capital levaram a impor- Isso nos coloca o desafio de organizar os trabalha-
tantes mudanças na sua estrutura e organização nas dores e trabalhadoras onde quer que estejam incluindo
décadas seguintes, com a combinação das medidas os/as que estão no desemprego e na informalidade, no
neoliberais e da reestruturação produtiva. As conse- campo ou na cidade. Construir a central com o movi-
qüências foram devastadoras. mento popular contribui na organização desses setores
Por um lado, um aumento brutal do desemprego e atualizando a caracterização da nossa identidade de
o avanço das formas de trabalho precário, a tempo par- classe. Esse deve ser um esforço conjunto e não pode
cial, a domicílio, terceirizado; cresceu a extração de significar uma relação utilitarista e sim a potencializa-
mais valia dos trabalhadores e trabalhadoras infor- ção do protagonismo popular pela transformação soci-
mais, falsamente autônomos, enfim uma trajetória da al.
relativa estabilidade no emprego com qualificação pro- Ao fundar as bases do novo instrumento para a
fissional à instabilidade e à superexploração. Por outro luta das trabalhadoras e trabalhadores a síntese das
lado, uma classe fragmentada e pulverizada, o que alte- diversas experiências não deve ser encarada como sim-
rou o processo anterior de ''homogeneização'' e ''con- ples fusão de organizações. Trata-se da construção do
centração'' em regiões operárias e grandes unidades. novo. Este instrumento deve buscar organizar os mais
Desemprego, fragmentação e dificuldade de iden- diversos setores independentemente de função ou car-
tidade de classe (óbvio que com forte peso da perda do go, forma de remuneração, filiação partidária, confis-
referencial socialista) foram fatores que facilitaram o são religiosa, gênero, raça, orientação sexual, naciona-
ataque neoliberal aos direitos trabalhistas e sociais, tra- lidade, vínculo empregatício.
zendo um novo desafio para a nossa luta: o de repensar Este desafio requer uma política de organização
a unidade dos trabalhadores e trabalhadoras, com a que, além de assegurar mecanismos de participação
cara que os anos 90 lhes deram. dos trabalhadores e trabalhadoras que estão na infor-
A concentração de um grande número de traba- malidade e na precariedade dos contratos de trabalho,
lhadores e trabalhadoras empobrecidas particularmen- deverá atuar conjuntamente com o movimento popu-
te nas periferias das grandes cidades tem um potencial lar, o que será um elemento novo na história brasileira.
explosivo. Os setores expropriados de quaisquer direi- Implicará conhecer e respeitar as diferentes dinâ-
tos, na cidade e no campo, muitas vezes travam lutas micas dos movimentos sindical e popular e elaborar
isoladas que poderiam extravasar esse limite em gran- políticas para uma ação que supere o corporativismo e
des movimentos de massa, passar do explosivo para o que fortaleça a unidade entre os movimentos, inclusi-
revolucionário. ve com os movimentos populares que eventualmente
É preciso unificar a ação e as lutas como elemento não estejam organicamente na central.
central da nossa estratégia, bem como elaborar políti- Requer também um efetivo esforço de que o movi-
cas, mobilizar e organizar a diversidade da classe, que mento sindical seja parte da luta pela terra e pela mora-
em grande parte tem pouca ou nenhuma experiência dia, contribuindo no planejamento político e organiza-
de ação coletiva. Alguns setores importantes, como tivo de ocupações, de mobilizações pelas reivindica-
das operadoras e operadores de tele-marketing são ções relativas às condições de vida e de formas de soli-
representativos dessa realidade. No campo, 89,41% dariedade urbana.
dos trabalhadores e trabalhadoras rurais, sem carteira,
não têm organização. Para isso faz-se necessário garantir critérios de
representação que mais se aproximem do peso real no
A moradia como local de produção de bens e ser- movimento, impedindo duplicidades, mas que sobre-
viços é utilizada pelo capital para precarizar de forma tudo contribuam para a defesa da liberdade de organi-
invisível as relações de trabalho, impedindo a fiscali- zação, para a democracia dos trabalhadores e traba-
zação e dificultando a organização sindical. A luta nas lhadoras, para uma estratégia socialista.
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
e no setor público verifica-se uma presença forte da Este fórum, além de garantir a unidade dos diver-
juventude trabalhadora. sos setores, respeitando suas especificidades, pautas e
Portanto, a grande maioria dos/das jovens já faz as diferenças políticas, aumentará a capacidade de con-
parte da base social dos sindicatos e da Central e nos- vocação e diálogo social, potencializará as lutas gerais
sas organizações devem buscar, desde sempre, cons- e especificas, e pode propiciar um ambiente político
truir políticas para ganhar os jovens para a ação sindi- que solde as relações de confiança, na luta e nos deba-
cal combativa. O movimento estudantil tem suas espe- tes estratégicos, e que nos arme a todas e todos nos
cificidades e, na luta, forjaram suas formas de organi- enfrentamentos ao capital, seu Estado e governos.
zação, que devem ser respeitadas e estimuladas. Isso
não significa que não queiramos atuar em conjunto, ou O Nome da nossa Central
que sejamos contra os estudantes, ou suas organiza-
ções. A escolha da denominação de um instrumento de
luta e organização das classes trabalhadoras tem, na
Porém, pelas suas especificidades, pelo respeito à maioria das vezes, relação com o momento histórico e
autonomia de cada movimento, pela necessidade de político dos setores sociais. No passado, o projeto polí-
funcionamento das suas próprias instâncias, não acre- tico dos partidos comunistas, de uma forma geral,
ditamos que a unidade orgânica na Central onde o apontou para a constituição das Centrais Gerais dos
movimento estudantil represente 1%, 2% ou 5% alte- Trabalhadores. Já a idéia de fundar uma Central Única
re, de fato, a realidade brasileira. Parcela importante dos Trabalhadores era norteada pelo princípio de que
do movimento estudantil combativo não concorda todas as forças que participaram do primeiro
com a formulação de que os estudantes sejam dirigidos CONCLAT deveriam compor a Central que surgia
pelos trabalhadores e trabalhadoras. naquele contexto histórico. Outros projetos de central
Isso significa que reconhecemos a importância da traziam em seu nome e insígnia suas opções políticas.
unidade com o movimento estudantil, ou mesmo com A realidade material da luta de classes nas diver-
outros movimentos cujas bases sociais por vezes são sas formações sociais foi outro elemento considerado
policlassistas. Temos a convicção de que esse fórum no processo. Na Europa, por exemplo, os trabalhado-
mais geral não substitui a necessidade de uma central res e trabalhadoras dos países de origem latina como
de trabalhadoras e trabalhadores que deve ser compos- França, Espanha, Itália tenderam a um maior número
ta exclusivamente por aquelas e aqueles que nada mais de centrais e essa pluralidade se expressou em suas
têm a não ser sua força de trabalho para vender ao capi- denominações. Nos países anglo-saxônicos como Ale-
talista, ainda que não encontre compradores. manha e Holanda o caminho foi diferente.
Devemos formular uma denominação que seja o
Unificar a luta para além da central – um mais próximo possível de nossa realidade. Sabemos
Fórum Nacional de Mobilizações que neste momento representaremos parcela das tra-
A central deve ser composta pelos que se organi- balhadoras e trabalhadores e não sua totalidade. Por-
zam nos sindicatos e outros movimentos populares, tanto, faz-se necessário um cuidado especial em evitar
como os que participam como delegadas e delegados a auto-proclamação ou a construção de uma simbolo-
neste Congresso Nacional da Classe Trabalhadora. gia que não tem relação direta com a realidade.
Realizar a luta social para transformar a realidade bra- Já existem no Brasil onze centrais sindicais regis-
sileira requer que além de fundar uma central, deve- tradas no Ministério do Trabalho. Este contexto de
mos impulsionar a construção de um amplo fórum de fragmentação independe de nossa vontade e apresenta
ação unitária que não se limite a agendas e jornadas de ainda mais desafios para demarcar nossa diferença no
lutas comuns, e que ainda que não tenha organicidade cenário nacional, também através da nomenclatura da
possa abrir o debate estratégico em torno da complexi- central.
dade da realidade brasileira. Este nome não deve repetir outros que já passa-
Neste sentido propomos a materialização de um ram na história do Brasil. Como também deve ser dis-
FÓRUM NACIONAL com esta ou outra denomina- tinto dos já existentes. Essa diferença também é ideo-
ção, articulando a central que estamos fundando, lógica, pois se coloca nos marcos da luta de classes.
outros setores combativos do movimento sindical e Não é secundária a definição do nome da Central,
popular que não estão conosco na central, e também o visto que o peso simbólico tem relação direta com os
movimento estudantil, os movimentos contra as opres- princípios e objetivos da organização. Além de, obvia-
sões de gênero, étnico-racial, de orientação sexual, de mente, o acúmulo com nítido contorno de classes, a
deficiências, os movimentos de defesa dos direitos central deverá ser capaz de portar em seu nome uma
humanos, de luta ecossocialista etc. simbologia que unifique as classes trabalhadoras,
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
expressando a riqueza da pluralidade social que nela uma simples fusão, incorporação ou acordo político
estará presente. É preciso evitar comparações e ou sim- entre forças já existentes. Para que nosso projeto tenha
plificações que artificializem a expressão desta nova sucesso nesta difícil conjuntura é preciso ter a ousadia
experiência organizativa. suficiente que nos permita ser um elemento que além
Para definição do nome da central que fundamos de novo possa aglutinar um setor significativo da clas-
neste congresso deve ficar explícito que não se trata de se em torno da nossa central.
Trabalhadores da educação pública (PA) Jussara Ribeiro – Sind.Trabalhadores Federais em Saúde e Previdência Social (PR)
Eliane de Fátima Inácio – SISPMC – Sind. Públicos Federais em Saúde e Previdência Osmar Batista – Sind. dos Trab. Públicos
dos serv. públicos municipais de Colatina Social (RS) Federais em Saúde e Previdência Social (PR)
(ES) Lia Márcia Ragazzi – Sindbancários – Sin- Paulo Cezar Weber – Sind. dos Trab. Públi-
Eliete Baltazar - SINTPREVS/PA dicato dos bancários (ES) cos Federais em Saúde e Previdência Social
Elizabeth Pinto Reis – Sindsaúde – Sindi- Luceni Gomes Novaes – Sindsaúde – Sin- (PR)
cato da saúde (ES) dicato da saúde (ES) Randel Sales – SINTEPP - Sindicato dos
Eloy Borges – SINTEPP - Sindicato dos Lúcia Helena Bernardes – Sindados - Sind. Trabalhadores da educação pública (PA)
Trabalhadores da educação pública (PA) dos trab. em empresas e órgãos públicos de Raymundo Trindade- SINTPREVS/PA
Esdras Henrique Veiga dos Santos – Sind- processamento de dados (BA) Regina Célia Lima – Sind. dos Trab. Públi-
bancários – Sindicato dos bancários (ES) Lucival Pantoja – SINTPREVS/PA cos Federais em Saúde e Previdência Social
Fabiano Porto Rosa - Assufrgs - Associa- Luiz Carlos Castilhos – Sind.Trab. Públi- (ES)
ção dos servidores da UFRGS (RS) cos Federais em Saúde e Previdência Social Rita de Cássia Santos Lima – Sindbancári-
Fábio Nunes - UGEIRM – Sindicato da (RS) os – Sindicato dos bancários (ES)
Polícia Civil (RS) Madalena Barbosa – Sind. Trab. Públicos Ronaldo Rocha – SINTEPP - Sindicato dos
Fabrício Passos Coelho – Sindbancários – Federais em Saúde e Previdência Social (RS) Trabalhadores da educação pública (PA)
Sindicato dos bancários (ES) Marcio Paiva - FENASPS - Sindicato dos Rosa Olívia – SINTEPP - Sindicato dos
Félix Urano (Tibirica) – SINTEPP - Sindi- Trabalhadores Públicos Federais em Saúde e Trabalhadores da educação pública (PA)
cato dos Trabalhadores da educação pública Previdência Social (RN) Rosimeri Vera Pereira – Sind.Trab. Públi-
(PA) Márcio Rodrigo de Vargas – Sind. Trab. cos Federais em Saúde e Previdência Social
Francilene Lima – SINTEPP - Sindicato Públicos Federais em Saúde e Previdência (RS)
dos Trabalhadores da educação pública (PA) Social/RS Rubenixon – SINTEPP - Sindicato dos Tra-
Giuseppe Finco – Sind.Trabalhadores Marcos Soares - SINDTIFES/PA balhadores da educação pública (PA)
Públicos Federais em Saúde e Previdência Maria de Fatima Moura- SINTPREVS/PA Rui João Santos – Sind. dos Trab. Públicos
Social (RS) Maria de Lourdes Ambrósio - Assufrgs - Federais em Saúde e Previdência Social (PR)
Goretti F. Barone Falgueto – Sindbancários Associação dos servidores da UFRGS (RS) Salete Wingers - Assufrgs - Associação dos
– Sindicato dos bancários (ES) Maria Helena da Silva - FENASPS / Sindi- servidores da UFRGS (RS)
Helena Castro - SINTPREVS/PA cato dos Trabalhadores Públicos Federais em Sandra Azevedo – SINTEPP - Sindicato
Idelmar Casagrande – Sindbancários – Sin- Saúde e Previdência Social (MG) dos Trabalhadores da educação pública (PA)
dicato dos bancários (ES) Maria Helena Silvino - COBAP e Sindicato Sandra Maria Santos - Sindicato Trabalha-
Iraldo Veiga - SINTEPP - Sindicato dos dos Trabalhadores Públicos Federais em Saú- dores Públicos Federais em Saúde e Previ-
Trabalhadores da educação pública (PA) de e Previdência Social (MG) dência Social (MG)
Irenilda da Penha Silva Rodrigues - Maria José (Zezinha) – SINTEPP - Sindi- Sandra Marilza Cruzio – SISPMC – Sind.
SINDIUPES e SISPMC - Sindicato dos servi- cato dos Trabalhadores da educação pública dos serv. públicos municipais de Colatina
dores públicos municipais de Colatina (ES) (PA) (ES)
Ismael - Assufrgs - Associação dos servido- Maria Julia Palma Moura – Sind. Trab. Schirley Funck - Assufrgs - Associação dos
res da UFRGS (RS) Públicos Federais em Saúde e Previdência servidores da UFRGS (RS)
Social (RS) Sebastião Jose de Oliveira – Sind.Trab.
Izaneide Dias – SINTEPP - Sindicato dos
Trabalhadores da educação pública (PA) Maria Zenild Nagata – Sind. dos Trab. Públicos Fed. em Saúde e Prev. Social (PR)
Públicos Fed. em Saúde e Previdência Social Severino Santos – Sindicato dos Músicos
Jair Pena – SINTEPP - Sindicato dos Tra- (PR)
balhadores da educação pública (PA) (PI)
Mário Aquino Xavier – Sindbancários – Silvia Regina Vieira – Sind. dos Trab.
Jaqueline Gusmão - Sind. dos Trab. Públi- Sindicato dos bancários (ES)
cos Federais em Saúde e Previdência Social Públicos Federais em Saúde e Previdência
(PR) Maristela Correa da Silva – Sindbancários Social (RS)
– Sindicato dos bancários (ES) Vânia Guimarães - Assufrgs - Associação
Jessé Alvarenga – Sindbancários – Sindica-
to dos bancários (ES) Marlene de Jesus Alves da Costa – Sind. dos servidores da UFRGS (RS)
dos Trab. Públ. Fed. em Saúde e Prev. Social Vera Dorneles - SindicatoTrabalhadores
João Bosco Teixeira – Sindbancários – Sin- (PR)
dicato dos bancários (ES) Públicos Federais em Saúde e Previdência
Marli Brigida – Sind. dos Trab. Públicos Social/RS
Jocimar Pedro Gamas – SISPMC – Sind. Federais em Saúde e Previdência Social (ES)
dos serv. públicos municipais de Colatina Vera Kollet - SindicatoTrabalhadores
(ES) Mateus Ferreira – SINTEPP - Sindicato dos Públicos Federais em Saúde e Previdência
Trabalhadores da educação pública (PA) Social (RS)
Joel Orestes Brasil Soares – Sind. Trab.
Públicos Federais em Saúde e Previdência Maura Silvia Barroso - SINTPREVS/PA Walmir Bastos – SINTEPP - Sindicato dos
Social (RS) Maurilo Estumano – SINTEPP - Sindicato Trabalhadores da educação pública (PA)
Jonathas Correa – Sindbancários - Sindica- dos Trabalhadores da educação pública (PA) Walmir Costa - Presidente do SISPMC –
to dos bancários (ES) Mauro Borges – SINTEPP - Sindicato dos Sind. dos serv. Públ. municipais de Colatina
Jorge Patricio Pires – Sind. Trab. Públicos Trabalhadores da educação pública (PA) (ES)
Federais em Saúde e Previdência Social/RS Moacir Lopes - FENASPS – Sind. dos Walmir Freire – SINTEPP - Sindicato dos
José Rodrigues – SINTEPP - Sindicato dos Trab. Públicos Fed. em Saúde e Prev. Social Trabalhadores da educação pública (PA)
Trabalhadores da educação pública (PA) (PR) William Aguiar Martins - FENASPS - Sin-
Josean Calixto - Sindicato dos trabalhado- Monica (Altamira) – SINTEPP - Sindicato dicato dos Trabalhadores Públicos Federais
res da polícia técnica na (PB) dos Trabalhadores da educação pública (PA) em Saúde e Previdência Social (ES)
Júlia Maria Vieira – Sind.Trab. Públicos Nilza Freitas – Sind. Trabalhadores Públi- Williams Silva – SINTEPP - Sindicato dos
Federais em Saúde e Previdência Social cos Federais em Saúde e Previdência Social Trabalhadores da educação pública (PA)
(MG) (RS) Zila Maria da Silva – Sind. Trab. Públicos
Júlio Passos – Sindbancários – Sindicato Normanci Durães – SINTEPP - Sindicato Federais em Saúde e Previdência Social (RS)
dos bancários (ES) dos Trabalhadores da educação pública (PA)
Orizette Martins – Sind. dos Trab. Públicos
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
Minorias na direção e oposições: Anísio Guató- oposição SINTE/MS Cleonice Boeira Bao - CPERS Lagoa Ver-
Alternativa Sindical Bancários na Luta Antonio Bonfim – Oposição SIMPEEM – melha (RS)
(SP) Sindicato dos profissionais da educação (SP) Corália Saraiva – Sind.Trabalhadores
Dirigentes e Militantes das SUBSEDES da Antonio Carlos - Associação dos veículos Públicos Federais em Saúde e Previdência
Apeoesp (SP): automotores de Campos do Jordão (SP) Social (DF)
Oposição MAIS Bancários - Movimento de Antônio de Padua – Sind.Trabalhadores Cristiano - Oposição Metalúrgica de Cam-
Autonomia e Independência Sindical (SP) Públicos Federais em Saúde e Previdência pinas e Região (SP)
Oposição Sindicato dos Servidores de Cas- Social (SP) Dalvacir Gois - SindicatoTrabalhadores
cavel (PR) Antônio Fernando – Sind. dos Trab. Públi- Públicos Federais em Saúde e Previdência
Oposição Sindicato dos Trabalhadores cos Federais em Saúde e Previdência Social Social/SE
Públicos Federais em Saúde e Previdência (DF) Daniel Nunes – Sindicato dos trabalhadores
Social (BA) Antonio Ferreira dos Santos Neto - Oposi- da UFF (RJ)
Oposição Sindicato dos Trabalhadores ção Sind. dos Serv. Públicos do Estado (SP) Daniel Patti – Sindicato dos petroleiro – LP
Públicos Federais em Saúde e Previdência Antônio Gomes da Costa - Oposição (SP)
Social (DF) SINDSERM – Sind.Servidores Públicos de Daniela - SEPE Magé (RJ)
S.Miguel, Sul-Santo Amaro, Oeste-Lapa, Teresina (PI) Débora Prado - Sindicato dos Jornalistas
Sudoeste, Mogi das Cruzes, São Bernardo do Antonio Salles - Associação dos veículos (SP)
Campo, Taboão da Serra, Itapevi, Itapetinin- automotores de Campos do Jordão (SP) Delma Medice SEPE Lagos (RJ)
ga, Itapeva, Vale do Ribeira, Taubaté, Riberão Bernardo Seixas Pilotto - SINDITEST – Denilce - Oposição SIMPEEM (SP)
Preto, S.João da Boa Vista e Piracicaba. Sindicato dos trabalhadores em educação do Denise Soares- SEPE Costa do Sol (RJ)
Abhigail de Oliveira SEPE Lagos (RJ) 3° (PR)
Denísia Borges- SEPE Lagos (RJ)
Adriana Vasconcellos - SEPE Volta Redon- Brice Bragato- oposição ASSINCRA -
da (RJ) Assoc. dos Servidores do Incra Dinorá Carvalho – Sind.Trabalhadores
Públicos Federais em Saúde e Previdência
Adriano Santos - SEPE/RJ e Itatiaia (RJ) Bruno Deusdará - SEPE Rio/ Regional III Social/DF
Aguinaldo de Melo - Associação dos veícu- (RJ)
Dodora Mota - SEPE/RJ e Volta Redonda
los automotores de Campos do Jordão (SP) Carla Cristina Cobalchine - SINDITEST – (RJ)
Alcebíades Teixeira “Bid” - SEPE Rio (RJ) Sind. trabalhadores em educação do 3° (PR)
Edinei Machado - SINDSEPS – Sindicato
Alcino da Rosa – SIMPA – Sindicato dos Carla Márcia - SINTFUB – Sind. Trabalha- dos servidores da prefeitura de Salvador (BA)
municipários de POA (RS) dores da Fundação Universidade de Brasília
(DF) Edivanildo Rodrigues de Araújo - Sindicato
Allan Rodrigues - Oposição Sind. dos Ser- dos Servidores Municipais de Jucás (CE)
vidores Públicos de Embú das Artes (SP) Carlos Alberto – SIMPA - Sindicato dos
municipários de POA (RS) Edmilson Gomes - SEPE/Japeri e Mesquita
Almerindo Cunha – SIMPA - Sindicato dos (RJ)
municipários de POA (RS) Carlos Alberto Cardoso – Sind.Trab. Públi-
cos Federais em Saúde e Previdência Social Edson Tadeu - Oposição Sindicato dos Ser-
Amilton Melo – SINTAB – Sind.Trab. vidores Públicos de Embú das Artes (SP)
Públicos Municipais do Agreste e da Borbo- (DF)
Carlos André – Didi – Sindicato dos bancá- Eduardo Terra Coelho - SIMPEEM – Sin-
rema (PB) dicato dos profissionais da educação (SP)
Ana Antunes – Sind. Trabalhadores Públi- rios (RJ)
Carlos André de Sousa Araújo - Sindicato Edvânio de Oliveira – Sind. dos Trab.
cos Federais em Saúde e Previdência Social Públicos Federais em Saúde e Previdência
(RS) dos Servidores Municipais de Bela Cruz (CE)
Social (DF)
Ana Cristina - Oposição SINDSERM – Carlos Antônio – Sind.Trabalhadores
Públicos Federais em Saúde e Previdência Egeson Conceição Ignácio da Silva – Sind-
Sindicato dos Servidores Públicos de Teresina metal – Sindicato dos metalúrgicos (RJ)
(PI) Social (DF)
Carlos Barbosa (Chocolate) – As. dos veí- Eliane Slama – Sindicato dos trabalhadores
Ana Lago - SindicatoTrabalhadores Públi- da UFF (RJ)
cos Federais em Saúde e Previdência Social culos automotores de Campos do Jordão (SP)
(RS) Carlos Eduardo – Sind.Trabalhadores Eline Moura SEPE Lagos (RJ)
Ana Lúcia Silva – Sind.Trabalhadores Públicos Federais em Saúde e Previdência Elisa Martins - SEPE/Reg 9 (RJ)
Públicos Federais em Saúde e Previdência Social (DF) Elizabeth Soriano – SEPE/RJ e Vassouras
Social (DF) Carlos Gonçalves Pinto - SINDITEST - (RJ)
Ana Neri – Sindicato Trabalhadores Públi- Sindicato dos trabalhadores em educação do Eurico Arcanjo - Associação dos veículos
cos Federais em Saúde e Previdência Social 3° (PR) automotores de Campos do Jordão (SP)
(DF) Carlos Roberto (Carlão) – Sind.Trab. Eva de Jesus - SEPE Rio/Regional V (RJ)
Ana Rosa Kuster – SINDIUPES - Sindica- Públicos Federais em Saúde e Previdência Evilásio Pereira de Oliveira - Oposição Sin-
to dos Trabalhadores em Educação Pública Social (DF) dicato dos Trabalhadores Públicos Federais
(ES) Celia Maria - Sindicato dos Professores em Saúde e Previdência Social (BA)
Anderson Costa – Sindmetal – Sindicato Boquerão Fabiano Brito – Oposição APLB – Sind.
dos metalúrgicos (RJ) Célio Lima - Associação dos veículos auto- dos Trabalhadores em Educação do Estado
Anderson Luis – Oposição APLB – Sind. motores de Campos do Jordão (SP) (BA)
dos Trabalhadores em Educação do Estado Celso da Silva – SITEP/Sind. Fun. das Fabio Silva – Oposição APLB – Sind. dos
(BA) Empresas Públicas e Fundações do Mun. Cas- Trabalhadores em Educação do Estado (BA)
Anderson Mancuso – Sindicato dos Petro- cavel/PR Fernado Borges – Diretor Estadual
leiro – LP (SP) César Carneiro – Oposição APLB – Sind. APEOESP
André Bonfim - ASSGUARD – Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado Francisca Feitosa – Sind.Trabalhadores
dos guardas municipais de Salvador (BA) (BA) Públicos Federais em Saúde e Previdência
André Luiz Brondani (melão) - APP – Sin- Cida – SINDSAUDE - Sindicato dos traba- Social/DF
dicato dos trabalhadores em educação pública lhadores da saúde (SP) Francisco - Sindicato dos Servidores de
(PR) Cidinha - Oposição SIMPEEM (SP) Areia
Andre Tenreiro - SEPE Rio/Regional VII Cláudia Correia - SIMP Pelotas (RS) Francisco de Menezes - SINDICAN - Sin-
(RJ) Claudia Teresinha SEPE Lagos (RJ) dicato dos Serv. Mun. de Alcântaras (CE)
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
Francisco Ferreira – Sind. dos Trab. Públi- João Kleber Santana Souza - SIMPEEM – Sind. dos Trabalhadores Públicos Federais em
cos Federais em Saúde e Previdência Social Sindicato dos profissionais da educação (SP) Saúde e Previdência Social (BA)
(DF) João Maria – Sind. Trabalhadores Públicos Lidiane Barros Lobo - SEPE/RJ e Nova
Francisco José da Silva (Chiquinho) - Opo- Federais em Saúde e Previdência Social (SP) Iguaçu (RJ)
sição do Sindserm/Teresina (PI) João Novais - Diretor Estadual APEOESP - Lincoln Ramos e Silva - Oposição
Gabriel Alves da Silva - Oposição Sind. (Coletivo de Oposição" Na Escola e na Luta") SINTFEST (TO)
dos Serv. públicos de S.José dos Campos (SP) João Paulo - Oposição Sindicato dos Servi- Lucia de Fátima (Lucinha) – Sind.Trab.
Gerson Gonçalves de Medeiros - Oposição dores Públicos de Embú das Artes (SP) Públicos Federais em Saúde e Previdência
Sinteam (AM) Jorge de Souza - SEPE Rio/ Regional V Social/DF
Giglio - SEPE Volta Redonda (RJ) (RJ) Luciana Araujo - Sindicato dos Jornalistas
Gilberto - SEPE Magé (RJ) Jorge Gonçalves-Jorginho- Sindimetal – (SP)
Gilberto Silva – Sind.Trabalhadores Públi- Sindicato dos metalúrgicos (RJ) Luciana Mello - SEPE/RJ e Duque de Caxi-
cos Federais em Saúde e Previdência Social Josafá Rehen Vieira - Diretor Estadual as (RJ)
(DF) APEOESP - (Coletivo de Oposição" Na Esco- Luciano Rosário – Sindicato dos Bancários
Gilmar Nunes - CPERS Santa Maria (RS) la e na (RJ)
Gilseli Leite Lima – Sind.Trabalhadores Jose Beltrame - Oposição Mototaxistas de Lucinéia Cristina - Associação dos veículos
Públicos Federais em Saúde e Previdência Londrina (PR) automotores de Campos do Jordão (SP)
Social/SP José Bernardo - Oposição Sindicato dos Lucinha - Oposição Sind.Trabalhadores
Gilson Bancker – SINDISINDI – Sindicato Servidores Públicos de Embú das Artes (SP) Públicos Federais em Saúde e Previdência
dos empregados sindicais José Carlos de Assis - SISMMAR – Sind. Social/DF
Giovana Paola – SISMMAR - Sindicato Servidores Públicos Municipais de Maringá Luis Almeida Tavares - ASSIBGE-SN (PR)
dos Servidores Públicos Municipais de (PR) Luisa Gomide- SEPE/Lagos (RJ)
Maringá (PR) José Cruz – ASSGUARD – Sindicato dos Luiz Felipe – SINATI - Sindicato Nac. dos
Givan – ASSGUARD – Sindicato dos guar- guardas municipais (BA) Auditores Fiscais do Trabalho (PR)
das municipais (BA) José de Assis Barros – Sind. dos Trab. Luiz Fernando - Direção Nacional da
Gleci Hoffmann - CPERS Cachoeira do Públicos Federais em Saúde e Previdência Assibge
Sul (RS) Social (DF) Luiza Gomide- SEPE Lagos (RJ)
Guaraci Antunes - SEPE Rio/ Regional V José Edson de Sousa Filho - Sindicato dos Luíza Milca B. de Sá – Oposição do
(RJ) Servidores Municipais de Bela Cruz (CE) SINTE (PI)
Gustavo Mercês – SINDSEPS - Sindicato José Gabriel - Associação dos veículos auto- Magda de Jesus – Diretor Estadual
dos servidores da prefeitura do Salvador (BA) motores de Campos do Jordão (SP) APEOESP - (Coletivo de Oposição" Na Esco-
Hamilton Assis – Oposição APLB – Sind. José Maurício Silva Lima - Sindicato dos la e na Luta")
dos Trabalhadores em Educação do Estado Servidores Municipais de Camocim (CE) Maíra Kubic - Oposição do Sindicato dos
(BA) Jose Roberto Beltrame – Sindicato dos jornalistas (SP)
Hector Paulo Burnagui - SISMMAR – mototaxistas de Londrina e Região (PR) Manoel Gomes - Associação dos veículos
Sind. dos Serv. Públicos Municipais de Josean Calixto - Sindicato dos trabalhado- automotores de Campos do Jordão (SP)
Maringá (PR) res da polícia científica da Paraíba (PB) Manoel Messias Ferais – Sind.Trab. Públi-
Heitor Pereira – Sindicato dos petroleiros Joseilton Melonio - Oposição cos Federais em Saúde e Previdência Social
AL (SE) SINDEDUCAÇÃO/São Luis (MA) (DF)
Heleno Aparecido - Oposição Sind. dos Joselaine de Souza SEPE Lagos (RJ) Marcelo Marchezini – Sindicato dos Petro-
Servidores Públicos de Embú das Artes (SP) Juliana Correa Pessoa - CPERS Caxias do leiros-Rio (RJ)
Hildete Nepomuceno Resende - SIMPEEM Sul (RS) Márcia Maria da Cunha - SEPE/Queimados
– Sindicato dos profissionais da educação Julio – Sindicato dos petroleiros de SJC (RJ)
(SP) (SP) Marcia Varejão SEPE Lagos (RJ)
Hugo Ramirez - Oposição Sind. Jornalista Julio Ribeiro da Costa – Sindicato dos ser- Marcio Ferraz- Sindmetal – Sindicato dos
(PR) vidores de Londrina (PR) metalúrgicos (RJ)
Ilzenery de Souza SEPE Lagos (RJ) Jupiara Castro – USP (SP) Marcio Gomide- SEPE Costa do Sol (RJ)
Inês Paz - Diretora Estadual APEOESP - Juvenil Marques - SEPE Campos (RJ) Marco Ribeiro - Sindicato dos jornalistas;
(Coletivo de Oposição" Na Escola e na Luta") Katia Campelo SEPE Lagos (RJ) base do sindicato radialistas (SP)
(SP)
Katia Francisca- SEPE Costa do Sol (RJ) Marcos Lúcio – Sind. Trabalhadores Públi-
Iolanda da Costa SEPE Lagos (RJ) cos Federais em Saúde e Previdência Social
Katia Gurjão- SEPE/Lagos (RJ)
Israel Benedito - Associação dos veículos (DF)
automotores de Campos do Jordão (SP) Kelly de Moraes - SEPE/Friburgo (RJ)
Landia Tavares - SEPE Rio/ Regional II Marcos Rangel - SEPE/Caxias (RJ)
Itacir Zaffo - CPERS Porto Alegre (RS) Maremy de Quevedo - CPERS Santa Maria
(RJ)
Itamar Freitas - Oposição Sindicato dos (RS)
Servidores Públicos de Embú das Artes (SP) Laura Cymbalista - Oposição SIMPEEM
(SP) Maria da Conceição “Sãozinha” - SEPE
Ivanete - SEPE/RJ e Duque de Caxias (RJ) Volta Redonda (RJ)
Leci Carvalho - SEPE/ São João (RJ)
Jamil – Sindicato dos trabalhadores da UFF Maria do Perpetuo Socorro - SEPE São
(RJ) Leon Cunha – Sindicato dos jornalistas
(SP) Fidelis (RJ)
Janaína de Assis Matos - SEPE/Reg IV Maria do Socorro Malveira Siqueira - Sin-
(RJ) Leonardo Esteves da Silva (Mosquito)
FNP-NF – Sindicato dos petroleiros (RJ) dicato dos Professores e Professoras de Crate-
Japonês - Oposição Metalúrgica de Campi- ús/CE
nas e Região (SP) Leonel David Jesus - Oposição do Sindica-
to dos Jornalistas de Santa Catarina. Maria Eustaquia Alves – Sind.Trab. Públi-
Jeiel webster - ASSGUARD – Sindicato cos Federais em Saúde e Previdência Social
dos guardas municipais (BA) Lícia Viana – SINDSEPS – Sindicato dos (DF)
servidores da prefeitura de Salvador (BA)
Jerusa Sousa – Sindicato dos Jornalistas; Maria Ferreira – Sind.Trabalhadores Públi-
base do Sindicato Radialistas (SP) Lidia de Jesus - FENASPS - Oposição cos Federais em Saúde e Previdência Social
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
Vinicius Vasconcelos – Sind. dos Trab. José Edmar Lages da Silva - Movimento Anália Martins - Base do CPERS
Públicos Federais em Saúde e Previdência Popular (PA) André Augusto da Fonseca - Faculdade Atu-
Social (SP) José Francisco da Silva - Movimento Popu- al da Amazônia e da UFRR -Universidade
Wania Dias- SEPE Costa do Sol (RJ) lar (PI) Federal (RO)
Wendel Leão – Oposição APLB – Sind. dos Júlio Cordovil da Silva - Movimento Popu- Ângela Maria Cavalcante Souto – SINTER
Trabalhadores em Educação do Estado (BA) lar (PA) (RR)
Wilton Porciuncula - SEPE Rio/ Regio- Maria do Socorro - Movimento de Resis- Celso Albano Lavorato – Delegado Sindi-
nal(RJ) tência Camponesa (PI) cal de Base de Bancários (SP)
Zilda Chaves- SEPE Lagos (RJ) Miralva Alves Nascimento - Movimento Ciro Augusto Mota Matias - Base do
Zilton Vicente Duarte Júnior - Sindserm – dos Sem Teto- MSTB SISMA – Sind.Serv. Municipais de Maraca-
Sind. Serv. Públicos municipais de Teresina Nivaldo De Souza Ferreira - Movimento naú (CE)
(PI) dos Sem Teto- MSTB David lobão - SINTEF (PB)
Otavio Brito Rodrigues - Movimento Popu- Eduardo Tacto – Educação (RJ)
Movimento popular: lar (PA) Elisagela Cardoso – Bancária (RS)
Abenoniza Maria Moura - Movimento de Paulo Ferreira (Lauro De Freitas) - Movi- Érica Joyce Rodrigues Cavalcante –
Resistência Camponesa mento dos Sem Teto- MSTB SINTER (RR)
Ajurimar Bentes de Oliveira- Movimento Pedro Cardoso Dos Santos - Movimento Erickison Moraes de Medeiros
dos Sem Teto- MSTB dos Sem Teto- MSTB Everton Martins dos Santos
Ana Vaneska S. de Almeida - Movimento Regina Silva (Regininha) - Mov. Popular Fabiano Galdino - SINTECT (PB)
dos Sem Teto- MSTB (PA)
João Tavares – SINTEP
Antenor Marques de Sousa - Movimento Romualdo Brasil – Movimento de Resis-
tência Camponesa (PI) José Roberto – Sindicato dos eletricitários-
de Resistência Camponesa (PI) Niterói (RJ)
Antonio Raimundo de Oliveira (Conceição Rui Silva dos Santos - Movimento Popular
(PA) Leila Aparecida Cunha Thomassim -
De Feira) – MTSB SIMPA/RS
Carlos Henrique Silva Ruas - Movimento Seani Eliza Trindade de Deus da Silva -
Movimento Popular (PA) Lucimar Souza Barbosa
Popular (PA)
Tâmara Grazielle Ezequiel dos Santos - Luiz Felipe- Educação (RJ)
Eduardo do Espirito Santo Cravo - Movi-
mento Popular (PA) Movimento dos Sem Teto- MSTB Marco Mello - Base do CPERS.
Evandro Pereira Assunção - Movimento Ubiratan Rocha Brito - SINTER (RR) Marcos Carnaval - Empregados de Bares,
Popular (PA) Valdir Almeida Santos - Movimento dos Restaurantes e Similares (DF)
Everton Martins Dos Santos - MSTB Sem Teto- MSTB Mariana Resende – Trabalhadores da UFF
Vivaldo Santos Neto - Movimento dos Sem (RJ)
Gerson de Jesus Brito Rodrigues - Movi-
mento Popular (PA) Teto- MSTB Mário San Segundo - Professor Alvorada
Walter Almeida De Jesus Filho - Movimen- (RS)
Gisele do Socorro Lopes Machado - Movi-
mento Popular (PA) to dos Sem Teto- Mstb Roberto Cunha - professor UFC - ADUFC
Wilson Nunes da Silva - Movimento dos e ANDES/SN
Helbia Maria Bona Sousa- Movimento de
Resistência Camponesa (PI) Sem Teto- Mstb Rodrigo Lima – Assessor dos Eletricitários-
Niterói (RJ)
Helio - Movimento Popular (PA)
Trabalhadores da Base: Sandra Moraes da Silva Cardozo - Profes-
Iane de Sousa Marinho - Movimento de sora da Universidade Federal de Roraima –
Resistência Camponesa (PI) Adeildo Alves – Sindicato dos eletricitários (UFRR)
Ivo Carvalho Da Silva- Movimento dos - Niterói (RJ)
Sérgio Tadeu – Educação (RJ)
Sem Teto- MSTB Alex Braga Mendes
Verônica - Educação Caxias (RJ)
João Batista de Oliveira - Movimento de Aline Simeão - Professora Porto Alegre
Resistência Camponesa (PI) (RS) Yuri Vastuk - SINDISINDI
José Basílio dos Reis Junior - Movimento Ana Magni – Funcionária pública IBGE
Popular (PA) (RJ)
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
grau de amadurecimento e um despir-se de busca de contexto dos trabalhadores em seu momento atual.
hegemonia. Talvez “democracia” seja isso: o amadu- Que momento é esse? A classe trabalhadora enfrenta
recimento sócio-cultural, a luta contra a hegemônia de uma revolução tecnológica acoplada a um grau de pre-
grupos e, a busca de consenso. Isto é fácil de dizer, mas carização nunca visto na longa história de batalhas da
de difícil execução; haja vista o grande número de dis- classe. Isto tem tido conseqüências irreparáveis na
sidências e de correntes no meio sindical. Unidade e maneira de ser dos trabalhadores acuados pelo pele-
pluralismo são as forças que exigem um alto nível de guismo e cooptação de um bom número de direções
diálogo e de criatividade para a criação de espaços de sindicais. Qualquer central sindical defronta-se com
debates que não levem à ruptura. três questões históricas que afligem o íntimo dos traba-
O desáfio não é pequeno: ampla discussão ideoló- lhadores: a organização no local de trabalho – o impos-
gica e unidade de ação no enfrentamento ao Capital. É to sindical – a unicidade. Nenhuma central pode
por isso que os espaços democráticos devem ter priori- encontrar ressonância junto à classe se não estiver em
dade na busca do entendimento. Que entendimento é constante atenção relacionada àqueles entraves que
esse? Ter clareza sobre quem é o alvo a ser folizado podem provocar desmorecimento nos trabalhadores.
pela classe trabalhadora. Na história do sindicalismo Os “princípios” devem estar sempre acoplados a ativi-
brasileiro nem sempre a “classe trabalhadora” foi o nor- dades concretas, e estas a constantes discernimentos.
te das lutas e refregas do movimento sindical. Disso O alvo das ações de classe deve ser mantido a
resulta a dispersão de forças e o fomento de lutas inter- todo custo: o enfrentamento contra a ordem burguesa.
nas. Por ai se vê que a “democracia”, de fácil acordo, Esta é uma tarefa hercúlea: levar os trabalhadores a
mas de difícil prática, é um dos princípios fundamen- superar o fascínio pelas propostas de uma sociedade de
tais que deve nortear a reflexão e a criação de instânci- consumo capitalista, para contrapor os valores que pos-
as de formação da militância. sam fazer nascer uma outra sociedade igualitária em
Na formulação de princípios de um organismo de constante luta contra grupos hegemônicos que abafam
luta da classe trabalhadora é manter sempre à vista o o advento daquela sociedade.
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
contra tendência foi a saída nos anos de 1980 através va atrelada. O efeito dominó atingiu rapidamente toda
do neoliberalismo, caracterizado principalmente pela a economia mundial e logo os ideólogos da direita, atra-
desregulamentação do mercado; pelo Estado privatis- vés da grande mídia, culpavam a “ganância de alguns
ta e privativista; pela financeirização e a internaciona- capitalistas”. Ou seja, a culpa da crise era do capital
lização da economia; e pela abertura das fronteiras especulativo parasitário, apenas um setor da grande
nacionais ao capital. Outra característica deste período engrenagem, e não a lógica deste modo de produção.
foi a incorporação da lógica gerencial de administra- Mostrava-se assim intencionalmente, apenas a apa-
ção empresarial dada pelo toyotismo, que começou na rência do fato imediato e não a sua essência. Como de
produção, mas se espraiou por todas as esferas da soci- praxe.
edade. Intelectuais da direita, empresários e até os ges- A análise científica do fenômeno nos faz ratificar
tores da administração pública foram formados no esti- que estas crises são necessárias ao metabolismo de
lo MBA e passaram a utilizar as diretrizes empresariais reprodução do capital, pois destroem forças produti-
para tratamento dos serviços públicos como: “custo- vas, reorganizando a economia e a produção, como
benefício”, “qualidade total”, “estoque enxuto”, “múl- nos tem demonstrado a história do desenvolvimento
tiplas competências”, “flexibilização”, “terceiriza- da sociedade capitalista. Mas precisamos também com-
ção”, “privatização”, “clientela”, “empreendedoris- plementar que estas crises têm sido cada vez mais
mo”, enfim, todos os elementos constitutivos da cha- intensas e freqüentes e a saída do capital - as contraten-
mada reestruturação produtiva. dências apresentadas - só têm aumentado as contradi-
Esta contra tendência proporcionou por mais um ções do sistema, pois não as resolveram, pelo contrá-
tempo o “reaquecimento” da economia nos países cen- rio, as aprofundaram.
trais e a emergência de alguns outros como os tigres E O BRASIL NESTE CENÁRIO?
asiáticos no Oriente e o Chile na América do Sul, quan-
do estes países serviam como “modelo de eficiência” O capital na sua face mais voraz e desumana pre-
desta fase contemporânea do Capital. A cartilha para cisa expropriar cada vez mais para garantir o seu proje-
atual ordem mundial estava referendada nestes exem- to de acumulação e reprodução. E neste momento para
plos de economias capitalistas “bem sucedidas” (há de a saída dessa crise e para que este sistema se reprodu-
se perguntar “para quem?”) e na “morte do socialis- za, são necessárias novas expropriações dos recursos,
mo” como o fim da história representada pela queda do dos povos, retiradas de direitos, bens naturais (água,
muro de Berlim. Mas novamente o aumento da incor- solo fértil, florestas). No atual contexto da ordem mun-
poração do trabalho morto, proporcionado pelo desen- dial, o Brasil age simultaneamente de forma subordi-
volvimento da informática e da robótica, gerou a nada e associada, assumindo o papel fornecedor de
expropriação da mais valia relativa, levando a outro matéria prima e de imperialista regional. Fazendo um
fenômeno de superprodução. contraponto à idéia de que o Brasil “ainda não comple-
tou seu ciclo de desenvolvimento capitalista”, ou de
No final dos anos 80, o projeto neoliberal vence que o capitalismo brasileiro é “subalterno” ao capita-
no Brasil com a eleição de Fernando Collor para a pre- lismo internacional, ou até às posturas da esquerda
sidência, mas esta contra tendência foi eficaz para o neo-nacionalista de reivindicar o “desenvolvimento
capital por poucos anos, pois no começo da década endógeno para o Brasil”, nós indicamos a leitura de
seguinte os sinais de crise já estavam sendo observa- Mauro Iasi².
dos. Durante os anos de 1990, o Japão “quebrou”,
assim como outras economias tidas como “emergen- “Nós acreditamos que a ordem mundial monopo-
tes” na Ásia, sofreram colapsos. No final da década e lista é imperialista na sua essência e que o Brasil age
início dos anos 2000, países como Argentina, Brasil, de forma simultaneamente subordinado e associada
Rússia e o México, anteriormente incensados no altar em relação a essa ordem, o que nos leva a um proble-
do capitalismo como exemplos do vigor, também esta- ma de interpretação e definição de nossa ação. Nossa
vam prostrados, necessitando sugar cada vez mais o convicção é que esse desenvolvimento do capitalismo
sangue daqueles que vivem do seu próprio trabalho, no Brasil transitou para o capitalismo monopolista,
para realimentar a burguesia local, associada interna- sofisticado, desenvolvido, que difere de outros países
cionalmente. Além disso, a crise da economia globali- da América Latina e do mundo, e que é completo no
zada, como não poderia deixar de ser, afetava também sentido de que desenvolve desde os setores primários,
os países centrais, até atingir no final da década (2008) explorações de matérias primas e minérios de extra-
os EUA com a quebra do setor imobiliário. Inevitavel- ção de beneficiamentos, de construção de máquinas,
mente a bolha financeira inflou de tal maneira que de tecnologia, de comércio externo em profunda asso-
estourou, levando consigo a economia real a qual esta- ciação com o capitalismo monopolista internacio-
nal”.(IASI,p.15)
² Publicação das quatro palestras do SEMINÁRIO ESTRATÉGIA E TÁTICA DA REVOLUÇÃO BRASILEIRA para o XIV Congresso Nacional do PCB,
UFRJ, setembro 2009.
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
Se o domínio das fontes de recursos naturais é des e das áreas mais valorizadas. Ou seja, o papel da
estratégico para o padrão atual de acumulação do capi- América Latina neste cenário é servir como fonte de
talismo, o saqueio do nosso território está em curso. recursos naturais e isto
Alguns exemplos brasileiros são a privatização da flo- ...requer a reprimarização da economia, e por-
resta amazônica, encaminhada em setembro de 2007 tanto, a ampliação do agro-negócio, a expansão das
pela Ministra de Meio Ambiente, Marina Silva; a cons- regiões de extração de minérios e de geração de ener-
trução de barragens no Rio Madeira, a construção da gia, e a abertura de novas rotas para a circulação do
usina de Belo Monte; a transposição do Rio São Fran- capital. (LEHER,p.60)
cisco; a ampliação e construção de novos portos (CSA,
LLX do Eike Batista na cidade do RJ), hidrovias, fer- O carro chefe do governo Lula - o PAC - nada
rovias e rodovias. Todas são intervenções garantidas mais é que do que a consolidação deste plano, que
pelas três esferas de governo, mas não visam o bem- entrega sem pena o ambiente natural e o sangue do
viver da maior parte da população brasileira, pelo con- povo trabalhador à sanha da burguesia nacional e
trário, atendem a uma pequena parte desta população, internacional. Perseguem os pequenos agricultores,
a burguesia local em parceria com o capital internacio- os sem terras e os povos tradicionais, antes donos
nal. do seu meio de sobrevivência, jogando-os nas peri-
ferias do capital. Na cidade, retiram direitos conquis-
Esta reprimarização da economia reabre espaço tados historicamente pelos trabalhadores, precarizan-
para o surgimento do setor agro-minero-exportador, do cada vez mais as condições daqueles que estão
agora associado menor na economia mundializada. No incluídos no mercado de trabalho. Da mesma forma
Brasil, o plantio de cana-de-açúcar para a produção de perseguem os trabalhadores sem tetos e informais
etanol está sob o controle do grande capital internacio- (camêlos/ambulantes) visando proteger a lei de
nalizado, assim como outras áreas voltadas para a patente capitalista.
agro-exportação como a produção da soja, ou o deser-
to verde criado para o cultivo de eucalipto e exporta- A ofensiva da hegemonia do capital no Brasil con-
ção de celulose. Assim, o papel do estado brasileiro solida-se hoje na estratégia da direita de conformação
neste cenário é garantir a expropriação destes recur- do seu bloco histórico, através do alinhamento orgâni-
sos, assegurar a substituição de matriz energética para co com a chamada “esquerda gerente do capital”. Ou
o mercado externo através da concentração de grandes seja, partidos oriundos ou vinculados a classe traba-
latifúndios e conter a luta de classes na América Lati- lhadora como o PT, PC do B, PSB PDT, PPS, aliados
na. Uma das ações é a reforma constitucional brasilei- aos partidos da burguesia industrial-financeira e agro-
ra que tem garantido não só a retirada paulatina de minero-exportadora, são os que garantem a domina-
todos os direitos trabalhistas conquistados na história ção política, econômica e ideológica no país. Repre-
da luta dos trabalhadores, como também garantido a sentados no executivo e no parlamento, este grande
reforma da legislação ambiental. bloco garante hoje a governabilidade e o papel atual do
estado brasileiro em conter as lutas de classes. Os dire-
Estes projetos fazem parte da geopolítica engen- itos sociais dos trabalhadores como a seguridade soci-
drada na região pelo capital imperialista, que prevê al, por exemplo, são transformados em fundos de pen-
uma grande reestruturação geográfica e econômica sões e os gestores destes fundos são quadros oriundos
para a América Latina. O plano foi apresentado pelo desta “esquerda do capital”.
BID em 2000 e assumido por Lula - com a presença de
executivos representando bancos e empresas, capita- A V I O L Ê N C I A E N Q U A N TO B A S E
neados pelo Sr. David Rockfeller - no fórum realizado ESTRUTURANTE DO CAPITALISMO
em São Paulo em 2006. O IIRSA (Iniciativa para Inte- A propriedade privada é essencialmente violenta,
gração da Infra-Estrutura Regional da América do tornar privado os bens da natureza, os meios de sobre-
Sul)³ é um esboço deste plano, estruturado em 10 gran- vivência, os seres humanos, não foi um processo pací-
des eixos: Andino/ Andino do Sul/ Amazonas/ Intero- fico durante a história da nossa civilização, e se violen-
ceânico central/ Interoceânico capricórnio/ Escudo ta são as formas de manutenção deste modo de organi-
Guaynés/ Mercosul-Chile/ do Sul/ Amazônico do Sul/ zação social, violenta deverá ser a sua ruptura. A
Hidrovia Paraguai-Paraná. Seus principais objetivos ascensão do capitalismo teve como base esta estrutura
são controlar os recursos naturais; integrar as vias de violenta da propriedade privada e como a materialida-
exportação de escoamento destes recursos e consoli- de da vida cotidiana em sociedade forma subjetivida-
dar e reduzir custos, nem que para isto tenha que deslo- des, uma das suas faces foi naturalizar a violência
car os povos das florestas, das terras e margens dos rios como “característica dos seres humanos na luta pela
onde vivem há séculos, ou mesmo do centro das cida- sobrevivência”, como se a organização dos seres huma-
³ LEHER, Roberto, Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional da América Latina, Plano de Aceleração do Crescimento e questão
ambiental: desafios epistêmicos, in Cadernos de Estudos dos cursos EMANCIPAÇÕES e Realidade Brasileira - Outro Brasil v. 3, (2009) Rio de Janeiro,
2009.
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
nos em sociedade fosse um processo natural e não soci- cas são naturais do próprio município.
al. Esta forma de pensar, acrescida da miséria exacer- Uma vez que na nova ordem econômica da atual
bada num momento de crise como este, torna a barbá- reestruturação produtiva não há lugar para estas imen-
rie um fenômeno social e aparentemente incontrolá- sas e vastas camadas de trabalhadores expulsos da
vel. Cresce o número de agressões físicas dentro de cadeia de produção e consumo, que lugar lhes resta nes-
casa, homens que espancam mulheres, pais que espan- te mundo? Para a burguesia, devem ser exterminados,
cam filhos(as), brigas de torcidas de futebol, espanca- através de políticas genocidas que incluem desde o
mento de homossexuais, prostitutas, assassinatos de negligenciamento das condições mínimas de exis-
mendigos, balas “perdidas”, aumento das chacinas. tência digna - como o problema das epidemias de den-
A ideologia do medo também é necessária neste gue, de gripe, a situação do SUS, a superlotação das
modelo social. A indústria da violência se apropria da salas de aula - até a criminalização da pobreza e dos
força de trabalho dos filhos da periferia para fazer o tra- movimentos sociais, em que todos passamos a ser des-
balho sujo do varejo na feira das drogas ilícitas, fazen- critos como bandidos, traficantes, desordeiros ou ter-
do girar uma dos maiores e mais lucrativos negócios roristas. O homicídio por arma de fogo em grandes
do planeta: o tráfico de armas e a lavagem de dinheiro cidades como o Rio de Janeiro cresceu muito nos últi-
feito pelo capital monetário. A partir dos anos de 1970, mos anos, é uma guerra civil quando são contabiliza-
nos Estados Unidos, e logo após no resto do mundo, a dos os números de assassinatos mensais. E, pior, nem
política de “mão dura” foi adotada com o título de todas as mortes são computadas porque muitas não são
“guerra às drogas”, já que era “preciso manter o con- publicadas em jornais, nem TV e muito menos entram
trole social”, através da repressão cada vez mais vio- nas estatísticas governamentais. A cada dia aumentam
lenta na medida em que se aumentava a miserabilidade os casos de extermínio, guerra entre facções, polícia e
de grande parte da população. Os governos assumidos exército ocupando comunidades periféricas. Estes
neste período se empenharam em desviar recursos des- fatos comprovam que existe uma política de estado cri-
tinados a habitação, educação e demais políticas socia- minalizando a pobreza, assim como a criminalização
is para aumentar os gastos militares, policiais e peni- dos movimentos sociais. Esta política conta com um
tenciários. O aumento de investimentos destinados à aparato paramilitar, que além de matar pobres, tam-
repressão incluía a aquisição de arsenal mais caro e bém matam militantes organizados na periferia. Os
isso era justificado por eles pela “necessidade de segu- movimentos sociais têm denunciado publicamente
rança da população”, sob a bandeira da “lei e da nos espaços públicos, na imprensa internacional, o que
ordem”. Nos Estados Unidos, o dinheiro investido pas- esta prática tem causado àquel@s que estão muito pró-
sou de US$1,5 bilhão em 1981 para US$17 bilhões em ximos destes conflitos.
1999 nesta área. Sem contar os investimentos no siste- No meio de uma crise como esta, onde aparecem
ma penitenciário. cada vez mais multidões de sem casas, sem terras, sem
Na cidade do Rio de Janeiro a população carcerá- empregos, sem saúde, os representantes do complexo
ria em 2000 somava cerca de dez mil presidiários,4 a industrial militar internacional, vindos de Israel, EUA,
maioria composta por homem, jovem, negro e possui- Comunidade Européia, aliadas ao governo do estado,
dor de baixa escolaridade. Realizado pelo economista município e governo federal, expuseram, divulgaram
Marcelo Néri, o levantamento traça um retrato compa- e negociaram suas armas de última geração numa feira
rativo entre a população do município e a população de negociação Estado do Rio de Janeiro. Colocaram
que vive nas penitenciárias cariocas, analisando algu- em exposição seus blindados terrestres e aéreos, heli-
mas das principais características sócio-econômicas e cópteros, armas pesadas, negociações e propostas de
demográficas desses dois universos, com base no pro- se construírem fábricas de armas por aqui, foram dis-
cessamento dos dados do Censo Demográfico 2000, cutidos na cidade maravilhosa. Já que a cidade empo-
do InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística brecida sediará os megaeventos mundiais, será preciso
(IBGE). A comparação da estrutura etária da popula- o uso da violência para controlar a indignação daque-
ção carcerária com a do município do Rio revela que les que possam impedir o bom andamento dos traba-
os jovens são maioria nos presídios e penitenciárias, lhos. O evento do Panamericano já evidenciou aos tra-
onde 52,7% têm de 20 a 29 anos. Os negros e pardos balhadores que a indústria cultural e esportiva viabili-
representam 66,5% da população carcerária; 80,3% za apenas empregos temporários e precarizados, mui-
possuem baixa educação e 16,3% são totalmente anal- tos despejos, retirada dos meios de sobrevivência e
fabetos. A pesquisa constata, ainda, que os homens são muita, mas muita arma de guerra e munição.
maioria absoluta nas penitenciárias, chegando a Assim, sejam nossos irmãos da periferia, os sem
96,7% do total; que 80% dos jovens presidiários cario-
4
"Retratos do Cárcere" http://www.fgv.br/cps/simulador/retratosdocarcere/Pro_Curto_retratos_dos_presídios_cariocas_VERSAOCOMPLETA.pdf
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
teto e os sem terras, ou todos aqueles que denunciam e cos de sobrevivência provoca o surgimento de diver-
questionam este modelo, para tod@s nós são destina- sos conflitos.
dos os choques de ordem, os caveirões terrestres e Esta lógica do pazismo do estado autoritário de
aéreos e tropas de elite, seja aqui, no Haiti ou no Ira- direito justifica o envio e mantém tropas de “paz” (in-
que ou Afeganistão. A Burguesia nos quer mortos, e tervencionista) nos locais onde surgem os conflitos,
bem mortos. É triste perceber que este momento nefas- assim como institucionaliza a “polícia pacificadora”
to e bárbaro do desenvolvimento capitalista não nos nas periferias. Neste sentido, a atual investida do capi-
deixa vislumbrar um bom futuro nem para nossa espé- tal tem se caracterizado de diversas formas; intensifi-
cie, nem para o planeta. No entanto, a intensificação da cação da extração de mais valia relativa; demissões
expropriação e exploração da natureza e do trabalho massivas na indústria; substituição cada vez mais radi-
humano tem proporcionado resistências. c a l d o t r a b a l h o v i v o p e l a a u t o m a t i z a-
A RESISTÊNCIA DA CLASSE NO MUNDO ção/informatização, privatização dos serviços públi-
O projeto histórico de acumulação e reprodução cos, retirada de direitos trabalhistas e ambientais, reco-
do capital enquanto relação social de expropriação e lonização dos territórios ditos de capitalismo periféri-
exploração do meio ambiente configura subjetivida- co, a expansão das fronteiras territoriais sobre áreas
des, como descrito acima. A lógica que permeia todas em que o capitalismo ainda não havia se instalado
as esferas da sociedade tem como origem a proprieda- enquanto força produtiva. Como era de se esperar, em
de privada dos bens da natureza e dos meios de produ- todo o mundo há resistências a estes ataques, como gre-
ção em prol de uma classe, a burguesia. Para que isto se ves gerais, insurreições populares, guerrilhas e mani-
realize, essa classe tem retirado historicamente dos festações. Estas convulsões sociais e resistências loca-
outros seres humanos as suas condições mínimas de lizadas como em Honduras, México, Colômbia,
existência através da força, da coerção e da ideologia. Argentina, Iraque, Afeganistao, Palestina, Grécia,
Neste processo outra classe é configurada, a classe des- Espanha e França demonstra o poder de luta do prole-
ses seres expropriados, agora trabalhadores que só pos- tariado, em sua nova conformação.
suem a força de trabalho, totalmente alienados do seu Ou seja, o proletário hoje é aquele, assalariado ou
meio natural. Por perderem suas condições básicas de não, “que vive do seu próprio trabalho”, como identifi-
sobrevivência e a livre relação com o meio, estes traba- cado por Ricardo Antunes. São estes trabalhadores em
lhadores são alienados da sua essência, de si mesmo, luta que têm demonstrado resistência às investidas do
enquanto seres transformadores e conscientes em rela- capitalismo na América Latina, através da resistência
ção com a natureza. A alienação do ser humano anali- zapatista, das FARCs, dos povos originários na Bolí-
sada por Marx se configura nesta relação social, deter- via, do Equador, pelos sem-terra e sem-teto do Brasil.
minada pela forma de exploração da força de trabalho Suas lutas são mantidas sob a pauta dos trabalhadores,
sob esta égide capitalista. assim como na Venezuela e em Cuba, onde há enfren-
Como só restou ao homo habilis a força de traba- tamentos, ainda que limitados, na luta contra o imperi-
lho para sobreviver, a sua própria atividade essencial, alismo norte americano. Ao contrário do Brasil,
pensar e agir sobre a natureza, se transformou em Argentina, Chile, onde o potencial das lutas imediatas
sofrimento e escravidão. Além disso, ele também foi para a estratégia de superação política do sistema foi
alienado do produto do seu trabalho, o que ele produz canalizada para a arena institucional do capital por um
não é nem pensado por ele, nem é para o seu uso, é para setor da esquerda que se propõe a ser gestora do capital
o acúmulo de outro ser humano. Assim, o trabalhador imperialista. Mas apesar de não haver situação revolu-
também é alienado da sua própria espécie enquanto ser cionária no Brasil, há a intensificação da exploração,
genérico e social. Ele não mais se percebe como fazen- da expropriação e da militarização para conter, através
do parte de uma coletividade. Transforma-se num robô do Estado, a luta de classes. A resistência ainda é inci-
vivendo numa realidade superficial e sistematicamen- piente, mas existe na periferia, local que segundo
te controlada. A exploração da força de trabalho é a Lênin está o elo mais fraco do sistema e onde pode
grande tirada deste sistema, que a transforma em mer- explodir lutas espontâneas, que podem levar a insurre-
cadoria específica que cria e valoriza mercadorias, ição. Por isso o controle destes territórios não só atra-
enquanto valor de troca. Sendo assim, para que os tra- vés da violência, como da ideologia com políticas
balhadores não percebam as condições precárias vivi- filantrópicas, como as ONGs, com o convencimento
das por sua classe, nem se rebelem contra isso, os apa- da mídia, da religião e até de parte da esquerda do capi-
relhos ideológicos naturalizam estas relações sociais tal.
que se tornam apaziguadas e bem aceitas. Mas em Neste cenário, qual o papel da esquerda revoluci-
momentos de crise como este, o “pazismo” enquanto onária, em especial no Brasil? O papel da esquerda
ideologia é ameaçado porque a retirada de direitos bási- revolucionária é não se subordinar ao oportunismo da
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
esquerda do capital, nem ao anacronismo da esquerda do como sua ecopráxis, a construção de relações supe-
reformista, que ao analisarem a realidade atual a carac- riores de ética proletária e de uma cultura solidária,
terizam como se fosse a mesma realidade dos anos libertária e igualitária. Por Eco-Socialismo e Comu-
1980. A reorganização da esquerda naquele momento nismo Verde entendemos a concepção teórico-prática
de transição para a dita “redemocratização” do país, de luta, métodos, táticas, estratégias, metas e objetivos
após seu esfacelamento nos anos 70, teve como linha programáticos que se sustentam e apóiam na interpre-
política o projeto democrático popular, tendo como tação científica, dialética e histórica do capitalismo,
caracterização as “reformas atrasadas” que precisa- baseados, entre outras contribuições, no materialismo
vam ser feitas pelo estado capitalista brasileiro. Para histórico e dialético, na ecologia política, e demais
tanto, chegar ao governo pelas vias institucionais era interpretações críticas e anticapitalistas do pensamen-
estratégico, não no âmbito do projeto democrático to ecológico e das ciências ambientais.
nacional - em aliança com a burguesia nacional - mas Em nossa atuação como movimento organizado,
agora sob a direção dos trabalhadores. É neste contex- classista e eco-socialista, realizamos duas formas prin-
to que se dá a construção do PT e da CUT, aglutinando cipais de ação direta e intervenção no processo históri-
grande parte dos trabalhadores assalariados e dos co da luta de classes: Ações Táticas, visando atender
movimentos sociais do campo e da cidade. aos anseios e necessidades imediatas da classe traba-
A conjuntura de afluxo popular, de ascensão do lhadora, fomentando e construindo por meio delas,
movimento sindical, de recessão econômica, além da inclusive, processos de educação, formação, organiza-
contínua subida da inflação, criou crises internas por ção e luta autônoma e coletiva do conjunto dos traba-
dentro do governo militar/civil, possibilitando, através lhadores; e Ações Estratégicas visando a superação da
de mobilizações, a universalização de alguns direitos sociedade de classes, e a construção da sociedade
básicos, formalizados na constituição de 1988. Após comunista. Desta forma estamos construindo outra
garantir a redemocratização, a direita com Collor, Ita- cultura, ecológica, social e política, de caráter coleti-
mar, FHC e Lulla, avançou tenazmente expropriando e vista e solidário, como contraponto revolucionário e
explorando toda a classe trabalhadora, assalariados ou ontológico ao ser do capital e à cultura burguesa.
não. Nas duas últimas décadas os trabalhadores orga- Ideologia, cultura e mídia
nizados lutaram na defensiva com o avanço da direita.
A estratégia política do taticismo, ou seja, exclusiva- Somos humanos, somos artistas, somos filósofos.
mente da luta tática, não possibilitou potencializar as Podemos desenvolver nossas capacidades!!! Dentro
poucas, no entanto heróicas, vitórias no terreno das de nossas lutas por terra, vida, saúde, reforma agrá-
lutas imediatas que deveriam estar articuladas aos obje- ria, dignidade, igualdade, liberdade, educação e tra-
tivos estratégicos da ruptura capitalista. Ao contrário, balho, incluamos urgentemente a ARTE! (Apresenta-
jogou toda a potencialidade da luta organizada para a ção da apostila do Curso de Formação Teatral Mili-
arena do capital - do parlamento - criando ilusões no tante do RJ)
povo que vive do seu próprio trabalho, que a saída seja Quando falamos em cultura, estamos nos referin-
a via institucional. Não estamos dizendo que devamos do a toda produção humana material e imaterial, con-
negá-la, entretanto, estamos numa conjuntura na qual cebida, percebida, mediada e reproduzida através de
o capitalismo periférico tem hoje um caráter de “fas- inúmeros meios concretos e abstratos, ao longo de
cismo democrático” enquanto materialidade coerciti- cada diferente história das inúmeras sociedades, exis-
va e subjetivação metafísica para justificar as atrocida- tentes ou passadas, no globo terrestre. A cultura não é
des, seja na Palestina, no Haiti ou nas favelas e nos cam- espontânea e nem determinada, é dialética e nunca está-
pos do Brasil. tica. A arte é uma das facetas presentes em toda cultura
2 – O NOSSO PAPEL ENQUANTO de qualquer povo. Tanto os instrumentos musicais,
REVOLUCIONÁRIOS como os artefatos líticos, as técnicas de domesticação
de plantas e animais, as atividades esportivas, o teatro,
Quem somos nós a dança, a escrita, a pintura, o canto, a culinária, além
O Fórum de Meio Ambiente dos Trabalhadores – de outras tantas e diversificadas ações humanas, são
Movimento Comunista Verde - constitui-se como orga- observados aqui e alhures desde que temos notícias da
nização da classe trabalhadora e fundamenta-se na con- presença da nossa espécie no planeta. Qualquer ser
cepção do Eco-Socialismo e do Eco-Comunismo, ten- humano é capaz de desenvolver qualquer uma destas
do como fim último a realização do que concebemos capacidades e todas elas ao mesmo tempo durante a
como Comunismo. Neste sentido e com esse caráter, sua existência, desde que tenha condições materiais
nossa organização tem como princípios político- suficientes para desenvolver os conhecimentos herda-
organizativos: o classismo; o anticapitalismo; a inde- dos pelo seu povo. A crença em habilidades individua-
pendência, a autonomia e a fraternidade de classe, ten- is, dons naturais, talentos ou na possibilidade de
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
alguns seres humanos nascerem “gênios”, faz parte de grandes estádios e as gigantescas construções, mas
uma concepção que vê a arte e a cultura como algo dis- não exigimos que os investimentos do dinheiro públi-
tante e separado da esfera da produção material da vida co sejam para as verdadeiras necessidades da popula-
social. Distinguir os seres humanos entre capazes ou ção. É o circo moderno para o apaziguamento do povo
incapazes, independente da variedade cultural que ele que precisa só de “pão e circo”. Convence a população
esteja inserido, é reproduzir o erro histórico e científi- e ainda de quebra passa recurso do setor público para o
co de analisar as ciências sociais com as mesmas teori- privado. Contribuindo desta forma para o reaqueci-
as utilizadas pelas ciências naturais. mento da economia “deles”.
Todas as sociedades humanas são espectaculares É bom lembrar que a nossa situação material, nos-
no seu quotidiano, e produzem espectáculos em sa realidade diária, é formadora de consciência, e se
momentos especiais. São espectaculares como forma hoje vemos um grande retrocesso de direitos (traba-
de organização social, e produzem espectáculos como lhistas, previdenciários, políticos, ambiental), acom-
este que vocês vieram ver. Mesmo quando inconscien- panha também um retorno da idade das trevas, através
tes, as relações humanas são estruturadas em forma da retomada de valores conservadores, apregoados
teatral: o uso do espaço, a linguagem do corpo, a esco- especialmente pela religião como a homofobia, o
lha das palavras e a modulação das vozes, o confronto machismo, a intolerância religiosa, o preconceito. Sen-
de ideias e paixões, tudo que fazemos no palco faze- do assim para garantir o controle social, também é pre-
mos sempre em nossas vidas: nós somos tea- ciso reafirmar os valores de uma sociedade onde a
tro!(Augusto Boal) família é núcleo central da estrutura de classes capita-
Mas a dimensão artística da humanidade - que de lista. Assim, a retomada dos valores religiosos, em
forma alguma está separada da sua essência enquanto especial da cultura judaica-cristã, devem ser difundi-
ser coletivo que fabrica a sua própria existência - tem dos. Valores como casamento indissolúvel,5 heterose-
sido cada vez mais expropriada pelo avanço do pensa- xualidade, da monogamia, da fidelidade como valor
mento capitalista no planeta. Afinal, com o advento absoluto, da hierarquia, da função social do homem e
desta nova organização social, todas as dimensões da da mulher, são valores inculcados desde a mais tenra
realidade tornaram-se passíveis de converterem-se em infância através desta moral conservadora. Entender
mercadoria e fonte de lucro para uma selecionada cas- que este elemento faz parte da estratégia de dominação
ta. Assim, a cultura se traduzindo em arte, passa a ser capitalista, nos desafia a fazer as mediações precisas
um produto que precisa ser consumido conforme dita o ao dialogar com os setores religiosos da classe traba-
mercado. Além disso, uma sociedade de classes que lhadora.
mantém a maior parte de seus membros sob domínio O que propomos
de uma pequena casta, carece de convencimento (ide- A nossa tarefa é superar na prática e na consciên-
ologia) e em último caso, da coerção. A arte enquanto cia a velha cultura reformista de grande parte da
criação dos trabalhadores é apropriada pela indústria esquerda, que num determinado momento histórico
cultural para além de gerar lucros, garantir a hegemo- conseguiu universalizar, através da luta unificada,
nia do pensamento do capital, criar subjetividades e algumas conquistas e direitos da classe trabalhadora.
canalizar a revolta popular. A canalização pode ser No entanto o caráter imperialista do capitalismo atual,
emancipadora ou apaziguadora dependendo de qual não permite a ampliação de conquistas dos trabalhado-
classe a apropria. A mídia hoje tem papel fundamental res por dentro de um projeto democrático-nacionalista
por ser praticamente a única possibilidade de comuni- ou mesmo democrático-popular. Só nos resta a estraté-
cação entre as manifestações artísticas da grande maio- gia socialista. Assim sendo, todos nossos espaços de
ria da população brasileira. organização, devem ser o espaço de construção desta
Os conteúdos programáticos das televisões brasi- estratégia.
leiras são cuidadosamente planejados, desde as repor- Para tanto as mediações devem dialogar com o
tagens cotidianas até os realities shows, que além de conjunto do nosso povo no território onde ele vive e tra-
omitirem estrategicamente certos conteúdos das infor- balha, não repetindo velhas palavras de ordem da
mações, alienando ainda mais o ser humano da sua rea- esquerda que só fala para si, também não construindo a
lidade, mantém uma forma de pensar hegemônica de contra hegemonia reformista de “outro mundo possí-
forma ditatorial disfarçada de democracia. Por conse- vel” ou “outro tipo de desenvolvimento”, seja ele “sus-
guinte, vamos perdendo nossa capacidade de leitura tentável”, “endógeno” ou “autônomo”. Qualquer tipo
do mundo, de pensar criticamente. Somos convenci- de reivindicação desenvolvimentista encontra-se no
dos de que necessitamos dos megaeventos como o marco da sociedade capitalista, pois são balelas ideo-
PANamericano, a COPA do mundo, as Olimpíadas, os
5
Reich, W. “Casamento indissolúvel ou relação sexual duradoura”? J. Hassoun. “Critica da alienação familiar, componente essencial do movimento
revolucionário” M. Cartier “A família e a função social da repressão sexual” - Apêndice de Textos Exemplares, 3ª edição, Ed. Martins Fontes, São Pau-
lo.
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
Tese do MTL
todo mundo por outro lado. nos contemplou com uma complexa e intrigante com-
Este domínio dos magnatas produz um cenário binação entre a luta direta das massas, as insurreições
ecologicamente insustentável, com um padrão de pro- populares e os processos eleitorais.
dução e de consumo do capitalismo que ameaça extin- Novos sujeitos sociais e políticos se apresentam,
guir as condições para reprodução da vida humana no expressando as experiências de luta e de organização
planeta num futuro ainda indeterminado, mas cada vez que foram capazes de fundir a batalha pela sobrevivên-
mais presente. cia imediata dos trabalhadores com um projeto estraté-
Este é o pano de fundo sobre o qual se desenvolve gico de transformação política e social.
a resistência de massas em todo o mundo, que determi- As atuais ebulições sociais e políticas na América
na o inicio da derrota dos EUA e de seus aliados na ocu- Latina revelam claramente a existência de uma vigo-
pação do Iraque, que anuncia o crescimento das alter- rosa fase democrática e antiimperialista na luta de clas-
nativas antiimperialista no Oriente Médio e na Améri- ses. Tarefas como a renacionalização dos recursos natu-
ca Latina e explica a derrota eleitoral e a desmoraliza- rais, as lutas por profundas mudanças democráticas, a
ção de George Bush e de seus falcões republicanos jun- defesa de reivindicações populares elementares e vita-
to à opinião publica norte-americana. is e a necessidade história da integração independente
Mesmo diante deste quadro, os círculos dominan- da América Latina adquirem a dimensão de eixos
tes da oligarquia financeira internacional são incapa- estruturantes desta luta continental.
zes, devido ás contradições objetivas do sistema, de Estas experiências estão demonstrando que o con-
oferecer concessões materiais substanciais para as teúdo socialista da luta não se afirma apenas com a pro-
massas pobres do mundo, de respeitar a auto- paganda de bandeiras diretamente socialistas, mas sim
determinação dos povos e a democracia, de superar a tendo como centro, como eixo da política a defesa das
insustentabilidade ecológica do seu sistema econômi- reivindicações democráticas e antiimperialistas mais
co e de banir do horizonte a ameaça de uma catástrofe sentidas pelas massas, cuja realização plena somente é
global. viável como avanço de um programa socialista. Esta é
Por tudo isto é que, neste inicio de século XXI, a a lógica clara de um verdadeiro programa de transição.
humanidade está mais próxima do que nunca do dile- As novas nacionalizações anunciadas por Chavez e
ma histórico antecipado por Marx: socialismo ou bar- suas novas reformas democráticas mostram que o pro-
bárie cesso bolivariano, mesmo com suas contradições, se
aprofunda. Trata-se de uma expressão política de um
Depois de mais de duas décadas de ofensiva neo- nacionalismo que tem enfrentado a burguesia pró-
liberal, a situação está mudando, um processo inicial, imperialista em seu país, ao mesmo tempo em que ten-
mas que sinaliza um cenário distinto. O imperialismo ta desmantelar os instrumentos de dominação política
estadunidense está sofrendo uma derrota no Iraque - a serviço do grande capital e do imperialismo. A Vene-
que influencia a luta em todo o Oriente Médio - zuela se converteu em um país independente, assim
enquanto na América Latina, surgiu um novo movi- como Cuba e o Irã, abrindo brechas importantes na
mento antiimperialista que tem como vanguarda o pro- dominação imperialista em nosso continente.
cesso bolivariano na Venezuela. Estes são os pontos O futuro da Venezuela só poderá ser assegurado pela
mais elevados de uma luta de massas que está inver- luta de seu próprio povo e o avanço da luta antiimperi-
tendo a situação de forte ofensiva neoliberal inaugura- alista, democrática, popular e socialista em outros paí-
da na era Thatcher e Reagan e coloca em questão a ses da América Latina. Assim, poderão ser criadas con-
hegemonia dos Estados Unidos, sobre a qual se susten- dições para que o povo Venezuelano possa tomar de
ta o sistema de dominação do capitalismo imperialista. forma mais decisiva o poder econômico da burguesia e
Na América Latina vivemos uma dinâmica de luta anti- avançar na transição até o verdadeiro socialismo.
imperialista, como não se via desde a década de 60.
Grandes mobilizações desde o levante indígena do O nosso apoio à Venezuela não pode ser uma
Equador, em 1998, chamado "Revolução Arco-Iris", mera expressão de solidariedade. Devemos estar na
seguido das rebeliões populares na Argentina em primeira linha defendendo as nacionalizações, a
2001, Bolívia em 2003 e em 2005, e novamente no ALBA em contraposição à ALCA e à crise do Merco-
Equador em 2006. Na Venezuela, o heroísmo do povo sul, como modelo de integração continental, rechaçan-
impôs uma derrota a um golpe orquestrado diretamen- do o controle dos EUA e de outros países imperialistas
te pelos EUA, através da mobilização de massas e tam- sobre os destinos de nossos povos.
bém pela via eleitoral, sobretudo no referendo revoga- Não haverá condições de resgatarmos um serviço
tório. público de qualidade para nosso povo e para os traba-
Em todas estas ondas revolucionárias, a história lhadores da seguridade sem um contraponto aos inte-
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
resses imperialistas. São os bancos, os grupos finance- governo Lula seguirá cumprindo seus compromissos
iros internacionais os maiores interessados na privati- com o capital internacional. A agenda de Lula e do PT
zação da saúde e previdência. A luta contra a previdên- passa sem nenhuma dúvida por tentar anular qualquer
cia privada, os planos de saúde, a precarização do tra- resistência dos trabalhadores a fim de consolidar as
balho (terceirização, fundações, cooperativas) é uma políticas neoliberais em nosso país sustentando a par-
luta internacional! Lula e o PT optaram por governar a tir do trabalho a crise no centro do império.
serviço do grande capital e do imperialismo. As mudanças no cenário político internacional e
Lula e o PT receberam do povo brasileiro voto e nacional indicam uma unificação dos dirigentes políti-
apoio para promover profundas mudanças na ordem cos ligados aos banqueiros e investidores de plantão
política, econômica e social, colocando, assim, o Bra- (saqueadores dos cofres públicos) que farão de tudo
sil como parte ativa do novo processo latino- para se protegerem. A primeira notícia é reajuste zero
americano. Mas Lula e o PT preferiram aliar-se ao aos servidores, além de avançar nos cortes orçamentá-
grande capital e ao imperialismo dando continuidade rios para a assistência social, saúde e educação.
ao modelo neoliberal implementado por FHC. Tanto Nossa atuação política e sindical na busca por fortale-
no primeiro governo, como no atual servem ao grande cer a recomposição e reorganização do movimento dos
capital brasileiro, estruturalmente associado ao impe- trabalhadores enfrentará novos desafios. Mais que nun-
rialismo norte americano. ca afirmar uma política independente dos trabalhado-
O PT afirmou-se, definitivamente, como Partido res em sua organização sindical é fundamental.
da ordem capitalista. Nascido da luta de trabalhadores, A defesa da saúde pública, a luta por salários dig-
intelectuais, da juventude com forte participação de nos, condições de trabalho se unificar na luta por um
setores progressistas da igreja o PT tornou-se uma projeto político para nosso país que se contraponha ao
grande máquina eleitoral financiada pelas contribui- novo liberalismo implementado por este governo. Não
ções de bancos e empresas capitalistas. Deixou de ser o há saída para os trabalhadores que são vitimados pela
partido dos trabalhadores e tornou-se o partido dos violência urbana, pela miséria, pelo desemprego sem
burocratas que comandavam mandatos parlamentares, unificar nosso povo em torno de um projeto socialista
prefeituras e governos estaduais, se afastando da mili- e libertário.
tância social, tanto organizativa quanto programatica- As atuações políticas construídas pelo MTL, por
mente, cumprindo plenamente a tarefa de governar sindicatos como o Sindsprev/RJ na luta dos servidores
para o capital. públicos, junto aos movimentos sociais, camelôs e da
A traição do PT tem um impacto direto na luta dos juventude apontam um caminho. São passos iniciais,
trabalhadores. Muitos ativistas honestos, que acredita- mas são importantes, pois marcam um movimento de
ram em Lula e que atuavam no PT ficaram desmorali- resistência e organização que precisam ser ampliados
zados, foram para casa. Outros se venderam e torna- e fortalecidos.
ram-se agentes do capital atuando nos sindicatos, nos Portanto neste I congresso teremos duas tarefas
movimentos sociais para frear as lutas e defender os centrais: Organizar a resistência aos ataques neolibe-
interesses do governo. rais e avançar na construção de uma alternativa polí-
Esta traição do PT influenciou diretamente os tica e sindical articulada com os movimentos sociais e
rumos da CUT. A central Única dos trabalhadores assu- a juventude. Fortalecer e inaugurar uma central sindi-
miu o papel de posto avançado do governo Lula. O seu cal que esteja para além da luta corporativa. Avançar
último presidente de fato virou ministro e continua diri- em direção a uma organização que possa respeitando o
gindo a CUT de seu gabinete em Brasília. Além do con- peso institucional dos sindicatos, juntar o povo pobre e
trole dos meios de comunicação de massa, do Estado o a juventude.
governo controla o maior partido e a maior central sin- Estas tarefas se desdobram na necessidade de um
dical construídos pelos trabalhadores no Brasil. Nossa salto político. O CONCLAT pode se consolidar como
luta terá de cada vez mais ser feita diretamente com o um pólo alternativo de esquerda. Para tanto teremos de
povo. superar a fase inicial de organização e consolidá-la
como uma ferramenta de luta e organização política
Participar ativamente da recomposição do dos trabalhadores do campo e da cidade. Este é o desa-
movimento de massas fio a que estamos nos lançando e, se estivermos juntos,
seremos mais fortes.
Existem muitos elementos sobre o desenvolvi-
mento das contradições econômicas e políticas que É necessário intervirmos no processo de recom-
seguem em aberto, mas temos condição de afirmar que posição do movimento sindical e dos movimentos soci-
enfrentaremos um período de dificuldades onde o ais de modo geral. Iniciar um processo de acúmulo de
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
forças para um novo sindicalismo que represente um MTL também discute e implementa projetos de auto-
rompimento com o burocratismo ( este um câncer que sustentação, partindo do pressuposto de que a supera-
deve ter um momento específico de avaliação da nossa ção das relações de produção capitalistas será o resul-
parte), o autoritarismo e o sindicalismo de resultados. tado de um longo processo histórico, no interior do
Este processo só pode expressar-se pela base, constru- qual são experimentadas formas alternativas de orga-
indo um sindicalismo colado nas reivindicações dos nização econômica, solidárias e cooperativas, basea-
trabalhadores. das na apropriação coletiva dos meios e instrumentos
Sabemos que não temos mais a classe operária de produção, submetidos ao controle dos trabalhado-
industrial com o peso social no Brasil como em 1979 res e militantes, que, como seres sociais não excluídos
com o ABC paulista; de fato, avanços tecnológicos e o da esfera da necessidade, vivem num mundo concreto
desemprego crônico contribuem na maior fragmenta- de relações concretas, sejam (ou não) imediatas. Esse
ção da classe e dificultam as mobilizações, mas o anta- estímulo à discussão e adoção de alternativas de auto-
gonismo irreconciliável com os interesses do capital sustentação, acompanhadas de um debate crítico, deve-
segue presente, cada vez mais agravado, de tal forma rá ser, no nosso entendimento, uma das importantes
que a necessidade dos trabalhadores levarem adiante atuações da Central que queremos construir.
uma luta intransigente por seus interesses próprios, Assim, nosso modelo de Central é aquele que bus-
por suas reivindicações imediatas e históricas, conti- ca dialogar com a população, se organizar também
nua plenamente atual. com os desempregados, com os camponeses, sem ter-
Ao mesmo tempo impôe-se ao movimento a rup- ra, juventude,em seus diferentes locais de vida e orga-
tura com o "modelo" de organização baseada na lógica nização; se articulando de modo unificado e lutando
restrita que submete a organização da classe ao proces- em todas as trincheiras.
so de trabalho de forma economicista e corporativa, Neste processo, portanto, devemos lutar por uma
sem perceber que a classe trabalhadora necessita nova direção política e por novos rumos para o movi-
desenvolver sua organização independente, por local mento dos trabalhadores. O movimento sindical hege-
de trabalho, fortalecendo seus sindicatos, mas também monizado pela CUT desenvolveu um profundo pro-
se conectando com o povo. cesso de burocratização e distanciamento das bases e
O exemplo do Sindsprev/RJ demonstra a existên- submeteu-se a cooptação estabelecida pelo governo
cia de um sindicato que tem presença de massas e Lula. Em oposição ao que traiu e faliu é preciso cons-
impulsiona de modo constante as mobilizações popu- truir novas alternativas que possam unir os diversos
lares no Rio de Janeiro. Trata-se de um sindicato que segmentos dos trabalhadores e do povo pobre brasilei-
não abandona suas reivindicações específicas, as ro. A construção do CONCLAT é um primeiro passo.
demandas da corporação, da categoria, mas não se limi- Temos de fortalecer o pólo mais dinâmico da reorgani-
ta a elas. Organizou e impulsionou lutas de outros seto- zação, mas temos também de compreender que isola-
res da saúde, seja estadual, seja de vários municípios, damente como uma nova central sindical sem organi-
se envolveu com a defesa dos camelôs da Lapa, com os zar e animar o povo também não será suficiente.
trabalhadores conhecidos como mata-mosquistos cari- Defendemos e participamos do CONCLAT, seguire-
ocas, e também inicia o desenvolvimento de um traba- mos fortalecendo esta ferramenta. Queremos a unida-
lho nas comunidades pobres através do Sindsprev de com todos os lutadores. Defendemos e lutamos pela
comunitário, projeto de integração da ação política do unificação com a Intersindical e demais setores políti-
sindicato com estruturas independentes construídas cos, mas seguiremos impulsionando a unificação de
nas favelas cariocas (Vila Aliança, Maré, Morro do setores da classe trabalhadora e do povo em espaços
Estado, KM 32, Fomento), em bairros pobres não fave- organizativos cada vez mais amplos.
lizados, em Colônias de Pescadores (Maricá, Barra de Nosso congresso deve afirmar a luta anticapitalis-
São João) e em outros espaços, onde, através de mem- ta e procurar toda unidade de ação com todos aqueles
bros das diferentes categorias, construímos interven- que queiram marchar conosco seja por acordos parcia-
ção política para as lutas contra a violência e por segu- is para a mobilização ou por acordos políticos táticos
rança pública, saúde, educação, saneamento básico, para enfrentar o governo Lula e o regime, bem como os
emprego, em defesa do meio ambiente e da biodiversi- governos estaduais da burguesia.
dade etc. Essas lutas não são feitas por nós de fora pra
dentro, mas por companheiros de dentro e de fora de
nossas categorias, que são parte dessas comunidades, SUPERANDO O SINDICALISMO
de suas lutas e de suas tradições. TRADICIONAL E A ORGANIZAÇÃO
ISOLADA DOS DEMAIS MOVIMENTOS
Tanto nas frentes de atuação do Sindsprev Comu- SOCIAIS URBANOS E RURAIS
nitário quanto no campo, na luta por reforma agrária, o
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
O problema está na fase conjuntural de refluxo apresentar como instrumento de organização dos tra-
das lutas que nossa classe está vivendo, e se encontra balhadores informais e da população em geral, nas
na base social de cada um desses setores, as derrotas suas lutas cotidianas por moradia, saneamento, trans-
impostas pelo projeto neoliberal no Brasil já desde o porte, serviços públicos, emprego, salário e qualidade
final da década de 80, a falta de perspectivas, o distan- de vida.
ciamento dos sindicatos que não se vêem em condi- A questão é que, se a classe trabalhadora se modi-
ções de construir alternativas, a estrutura sindical que fica, sua expressão organizativa também tem de
não consegue mais dar conta de representar a diversi- mudar. Para nós é tarefa da esquerda socialista neste
dade de setores fragmentados que aparecem como momento levar o debate à sua base da necessidade de
novos agentes nesse novo mundo do trabalho. mudança de nossas entidades, é preciso reconstruir
Será possível nesta fase defensiva das lutas da nos- uma concepção de estrutura onde caibam todos os seto-
sa classe no Brasil e no mundo, tentar ainda assim, res novos integrados no ramo de produção ou de ativi-
reconstruir ferramentas de luta de Novo Tipo? Ou dade que nossos sindicatos organizam, por força das
somente poderemos tentar, somente será possível cons- mudanças no mundo do trabalho. Não pode haver um
truir organismos da classe dentro de processos de precarizado, contratado, estagiário, empregado de
ascenso? gata ou mesmo desempregado que não tenha espaço
Achamos que, mesmo de maneira defensiva, a dentro dos nossos sindicatos e de nossa Central. É pre-
classe sempre encontra formas de se rebelar, e a maior ciso repensar a organização de base nos locais de tra-
prova dessa possibilidade são os movimentos da clas- balho para que elas também reflitam essa necessidade
se trabalhadora e suas organizações combativas rumo de reorganizar a todos em uma mesma OLT.
à criação da Nova Central, instrumento e ferramenta
de luta/organização que se apresenta como uma neces- É PRECISO CONSTRUIR UNIDADE
sidade histórica dos trabalhadores, para além das res- SÓLIDA COM A POPULAÇÃO
postas conjunturais.
Esse tipo de organização sindical e popular tem,
Para chegarmos ao debate sobre a necessidade da como já dissemos, plena condição de criar laços orgâ-
Nova Central, da concepção que deve nortear sua cons- nicos com a população pobre, através da política para
trução, se será sindical apenas, ou se será também estas categorias em seus locais de moradia, estudo,
popular,( e fazemos questão de manter este debate, lazer; das suas necessidades mais sentidas e que mui-
pois mesmo que pareça que esta resolvido, um setor tas vezes fogem às necessidades corporativas econô-
importante da Intersindical ainda trabalha pelo caráter micas, tais como a luta por moradia, educação, sanea-
só sindical) é preciso também encararmos o debate do mento, contra a violência dos grandes centros urbanos,
sindicalismo de Novo Tipo que precisamos forjar, com etc. Uma Central socialista, na atual fase de refluxo e
efetiva capacidade de diálogo junto aos movimentos dificuldades do movimento sindical, que não entender
de massa, de caráter popular, forjando, no dia-a-dia, a necessidade de reconstruir novas relações com sua
uma enriquecedora troca de experiências tanto nas base social estará fadada à derrota e ao isolamento. Isto
lutas imediatas como naquelas de maior fôlego e porque nenhuma das alternativas que a esquerda con-
alcance social. Neste sentido, o primeiro desafio (mas segui reconstruir no pós Governo Lula – Conlutas,
não o único) que se coloca à construção da Nova Cen- Intersindical, Conlute etc – isoladamente tem capaci-
tral é superarmos as estreitas concepções do sindica- dade política para questionar de maneira eficaz a gran-
lismo por categorias, incapaz de dar as necessárias res- de Frente Burguesa que se formou em torno desse
postas exigidas pela classe frente a um mundo do tra- governo. Apesar do esforço militante, tanto no campo
balho cada vez mais complexo e fragmentado, no tem- político, quanto no sindical, que foi feito pelo conjunto
po e no espaço. da aguerrida militância socialista, que não se vendeu,
No plano estritamente sindical, propomos a orga- que não se deixou cooptar, para construir cada uma des-
nização por ramo de atividades, na perspectiva de inte- tas alternativas, elas só poderão se transformar em
grar setores que, nos últimos 25 anos, com o advento algo que tenha capacidade de ataque se unificadas, ape-
das políticas neoliberais, foram cada vez mais pulveri- sar de suas diferenças em uma Grande Frente Ampla,
zados sob o manto da chamada reestruturação admi- de Massas, que consiga atrair para a justeza de sua polí-
nistrativa do capital, marcada pela terceirização, quar- tica setores importantes dessa nova classe trabalhado-
teirização e precarização do trabalho em todos os níve- ra brasileira, que apesar de ter sua centralidade manti-
is. da nos setores formais, conta hoje com uma cara com-
Para além da organização por ramo, contudo, a pletamente nova, que tem que ser entendida para ser
Nova Central deve sobretudo ter a capacidade de se organizada com suas bandeiras específicas.
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
Esse tipo de intervenção permite dialogar mais ria profissional e com os eixos de luta da mesma.
profundamente com a nossa classe, fazer a propaganda Para que se possa posicionar que papel histórico
da política socialista, e mais ainda, envolver setores poderá ser desempenhado por qualquer classe, setor
pobres e indignados com a ordem, que conseguem ou camada social numa determinada sociedade, é pre-
encontrar por onde canalizar sua revolta e entender ciso antes compreender que lugar ocupa esta classe,
que precisam de muito mais do que vender seus votos setor ou camada na organização de sua economia. A
pra fazer com que sua condição miserável mude. A juventude, enquanto camada social, não constitui uma
capacidade de mobilização com este tipo de perspecti- classe por si, já que não ocupa uma posição própria no
va de organização política é muito superior, mesmo sistema de relações de produção, no mundo do traba-
em uma fase de refluxos, o que nos leva a crer que o lho.
potencial de mobilização de um instrumento como
este em uma fase de ascenso pode ser determinante Podemos caracterizar a juventude como o estágio
para nossas lutas. que antecede a localização do indivíduo no mundo do
trabalho. A juventude popular, distribuída nos bairros
O Sindsprev/RJ é um exemplo não do ideal, mas e nos movimentos culturais, apresenta vínculos indire-
de como é possível avançar na unidade da classe, não tos ou muito frágeis com o processo produtivo e os mei-
só nos seus locais de trabalho, mas onde ela mora, estu- os de produção. Identifica-se com o proletariado prin-
da, busca saúde, água, reclama do ataque ao meio ambi- cipalmente por sua origem e por suas condições de
ente; de como é possível organizá-la e potencializar vida: habitação, acesso aos recursos tecnológicos e aos
suas lutas permitindo a conquista de vitórias, mesmo aparelhos públicos, como cultura, saúde e educação.
que parciais e mesmo que num quadro geral de refluxo
das lutas da classe. A propaganda capitalista acena com algumas pos-
sibilidades mas com nenhuma alternativa, a não ser
Ao colocarmos aqui o exemplo de nosso Sindica- adequar-se ao sistema para garantir sua sobrevivência.
to irmão, queremos chamar uma reflexao da importân- Fatalmente, lhes restará o papel de explorados. O pri-
cia de também pensarmos nossa relação com a popula- meiro confronto dos jovens com o sistema se dá com a
ção e de iniciarmos um debate acerca de como envol- negação aos valores burgueses que buscam domesti-
vermos o povo em nossas lutas e de como nós também cá-lo e enquadrá-lo como explorado. Estes primeiros
poderemos nos envolver em suas lutas. Isto é estratégi- confrontos com a família e com a sociedade são frag-
co se realmente queremos barrar as privatizações e os mentos de rupturas sociais e representam uma impor-
ataques a saúde e previdência públicas, e garantirmos tante lição: não precisamos aceitar todas as regras, é
nossos direitos, hoje tão atacados pelos governos de possível enfrentar o sistema, mesmo que de forma sim-
plantão. bólica, limitada, individual e temporária. É a primeira
Em conclusão a este ponto, nós, do MTL, estamos experiência enquanto agente ativo na definição de
nas articulações da Nova Central entendendo que nos- valores e conceitos na sociedade.
sa intervenção é feita da experiência que acumulamos É desta rebeldia e da busca por uma nova identi-
no Movimento Social do qual fazemos parte, no cam- dade, que a não a de sujeito explorado, que sai a ener-
po e na cidade. No entanto, mesmo participando ativa- gia que constrói movimentos culturais como o hip-hop
mente deste processo, o MTL não irá se fundir com a e o grafite. Por falta de uma perspectiva que possa cana-
Nova Central. Continuaremos mantendo a autonomia lizar esta rebeldia para a transformação do sistema, por
e independência de nosso movimento e integraremos o muitas vezes se manifesta de forma explosiva e disfor-
Novo organismo de mobilizações e Lutas através das me, como as brigas entre torcidas, gangues, facções ou
estruturas de base das estruturas sociais que dirigimos. até mesmo a entrega desta juventude para o crime orga-
nizado, que lhes vende uma ilusão de ascensão que
JUVENTUDE E MOVIMENTO nem mesmo o capitalismo oferece.
ESTUDANTIL Por mais explosiva que seja sua reação à tendên-
Apesar de todo o potencial contestatório da cia de adaptação à lógica capitalista, sem uma perspec-
juventude, as organizações socialistas tem limitado a tiva revolucionária a juventude é inevitavelmente tra-
sua intervenção ao movimento estudantil, não apre- gada pelo sistema. Aqui entra a importância de um pro-
sentando, na prática, uma proposta estratégica nem jeto político que organize e apresente um programa de
mesmo oferecendo abrigo para a juventude proletária ruptura para a juventude.
e excluída, justamente sua porção mais explosiva. No geral – e aqui reconhecemos os limites das
Não trataremos aqui diretamente da juventude sin- generalizações – as organizações de esquerda adotam
dicalizada ou inserida formalmente no mundo do tra- uma tática que limita-se a disputar as entidades estu-
balho, pois esta encontra identidade com a sua catego- dantis e através delas aplicar uma “política sindical”
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
(mais verbas para a educação, passe-livre, primeiro dades um vigoroso movimento de estudantes e intelec-
emprego). Apesar da importância de ocuparmos as tuais vinculados diretamente à luta socialista, tanto na
entidades e da justeza dessas reivindicações, não nos teoria como na prática.
parece que a isso se limite a nossa intervenção no Movi- O debate central acerca da Juventude dentro da
mento Estudantil. Nova central não é se os estudantes serão integrados,
As escolas são o principal ponto de encontro da se serão 10% dos votos, se um setor é contra sua pre-
juventude na periferia. Os Grêmios podem tornar-se sença, mas antes de mais nada, QUAL O PROJETO
um centro de referência de organização para os jovens QUE TEMOS PARA A NOSSA JUVENTUDE
da região, que podem organizar palestras, oficinas, fes- POBRE, e dentro disto está os setores que estão nas
tivais de música e mostras de filmes e teatro, ativida- escolas e universidades.
des que seriam parte de um processo de formação polí-
tica mais amplo. Esta referência é decisiva nos
momentos de mobilização, como nas campanhas pelo UNIR OS LUTADORES EM UMA FRENTE
passe-livre. ÚNICA
Os estudantes universitários, que caracterizam-se Este é um passo fundamental para que se estabe-
especificamente pela atividade intelectual que exer- leça uma relação entre os movimentos social, sindical,
cem, fazem parte de um setor social - a intelectualida- popular, estudantil e um projeto político de transfor-
de - que não constitui uma classe por si, já que não ocu- mação socialista para o país, com capacidade de supe-
pa uma posição própria no sistema de relações de pro- rar a despolitização de um amplo setor de massas e de
dução. Gramsci afirmava que "cada grupo social, nas- nossa população. Para nós, unir os lutadores e militan-
cendo de uma função essencial no mundo da produção tes dos movimentos sociais e sindicais, de luta pela
econômica, cria para si uma ou mais camadas (de inte- reforma agrária, reforma urbana, gênero, raça e contra
lectuais) que lhe dão homogeneidade e consciência da a opressão e a criminalização é um passo fundamental
própria função, não apenas no campo econômico, mas na recomposição e reorganização da classe trabalha-
também no social e no político". Dessa forma, pode- dora, no Brasil e no mundo. É preciso combinar a luta
mos distinguir dois tipos de intelectuais; os vinculados de massa com a luta eleitoral para sair da resistência e
à classe dominante, que cumprem a função social de avançar na afirmação de um projeto e um programa
organizar política, economica e ideologicamente a antimperialista, anti-latifundiário, anticapitalista e
velha sociedade em declínio; e aqueles que emergem radicalmente democrático e de orientação socialista
junto ao proletariado, refletindo nos campos da ciência materializando assim uma frente social e política que
e da ideologia os interesses históricos dessa classe, possa evoluir para concretizar-se em uma alternativa
cumprindo o papel de organizá-la, educá-la e discipli- para os trabalhadores para a construção de uma nova
ná-la para a conquista do poder político e na execução sociedade, justa, fraterna, igualitária, a nossa socieda-
de suas tarefas revolucionárias. de socialista.
À medida em que consolidamos nossas experiên- Debatemos aqui um novo instrumento de luta por-
cias de ocupações autogestionárias no campo e na cida- que não renunciamos ao desejo de construir uma nova
de, projetamos para a sociedade uma alternativa con- sociedade, na qual os trabalhadores e a população
creta ao capitalismo e, por mais que saibamos que ape- pobre não sejam mais super-explorados ou extermina-
nas essas experiências não são suficientes para derro- dos, como acontece hoje. Apesar das más línguas, não
tá-lo, sentimos que é possível superá-lo. Através das abrimos mão do Socialismo.
áreas sob controle dos trabalhadores oferecemos à
juventude pobre a ao povo uma perspectiva de organi- NOSSAS PROPOSTAS DE RESOLUÇÃO
zação, luta e sobrevivência que os meios tradicionais
Estrategicamente, nosso desafio é encabeçar uma
não mais são capazes de fazer. E oferecemos à univer-
frente, um bloco político que possa impulsionar a luta
sidade e aos intelectuais uma perspectiva alternativa
pela ruptura com o imperialismo, que seja capaz de
de intervenção: agrônomos, veterinários, biólogos,
contribuir para desencadear uma revolução democrá-
geógrafos, educadores, nutricionistas e comunicado-
tica cuja realização plena significa desenvolver a revo-
res que se vincularão aos processos de produção, comu-
lução socialista e conquistar a emancipação social de
nicação e reocupação do campo; engenheiros, arqui-
nosso povo, construindo um modelo econômico eco-
tetos, químicos, médicos e artistas que se vincularão à
logicamente sustentável. Devemos lutar com todas as
processos similares na cidade, que finalmente estari-
forças para aglutinar a mais ampla unidade dos setores
am integrados e não mais divididos nessa dicotomia
sociais que enfrentam, cotidianamente, contradições,
“campo e cidade”. Isso, além de potencializar nossas
insuperáveis, com o poder do imperialismo e do gran-
experiências, pode retornar e criar dentro das universi-
de capital. Nosso esforço deve ser nas ruas lutando
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condições de impor suas reivindicações. dentes das benesses do Estado. Uma massa que se con-
Os ensaios realizados em Honduras e no Chile, forma com os baixos salários, as péssimas condições
bem como a ocupação do Haiti sob pretexto de ajuda de trabalho, a superexploração, a ausência de serviços
humanitária, mostram que o imperialismo e as burgue- públicos decentes, o subemprego, o trabalho temporá-
sias locais estão à postos para retomar o controle dos rio, intermitente, informal, o desemprego aberto, des-
governos do continente da forma que for preciso. A via de que não morra de fome e possa assistir TV. Cria-se
golpista não parece ser necessária no momento, pois se uma classe trabalhadora flexível e domesticada, dispo-
provou que os governos “anti-neoliberais” podem ser nível e desfrutável, que pode ser contratada ou demiti-
derrotados eleitoralmente. A democracia burguesa per- da com agilidade ao sabor das flutuações do mercado
manece sendo o regime mais eficaz de dominação. A mundial para o qual passa a estar voltada a burguesia
lógica da alternância dos partidos permite que as agre- instalada no país.
miações da direita explorem as debilidades dos atuais A implantação dessa miséria funcional contou
governantes “de esquerda”, tais como a corrupção ou a com o indispensável concurso da burocracia do PT e
ausência de melhorias reais na situação material dos PcdoB encastelada no controle dos principais instru-
trabalhadores, para se credenciar novamente como mentos de luta da classe trabalhadora, a CUT, CTB, o
alternativa. A década de governos “anti-neoliberais” MST e a UNE, que impediram os setores mais organi-
no continente não produziu conquistas materiais signi- zados e mobilizados da classe de entrar em luta aberta
ficativas, e se esgota deixando as portas abertas para o contra o governo Lula e atrapalhar os negócios da bur-
retorno da direita tradicional. guesia. As lutas que houveram ao longo de todo o man-
Além das eleições, a democracia burguesa ainda dato de Lula foram contornadas, desviadas e derrota-
conta com uma série de dispositivos de controle social das pela burocracia. Houve importantes mobilizações
que amortecem as contradições de classe, tais como a de resistência dos trabalhadores contra a reforma da
repressão policial, as instituições penais, o judiciário, previdência, operários da construção civil, servidores
que atacam os trabalhadores em luta sem que haja federais, bancários, correios, petroleiros, professores,
necessidade de uma ditadura militar aberta ao estilo etc., bem como ocupações do MST, MTL e Terra
das décadas de 1960 e 70. Livre, que no entanto se depararam com o obstáculo
das direções burocráticas. Essas lutas de resistência
obtiveram conquistas parciais e defensivas, mas não
2) CONJUNTURA NACIONAL puderam pôr em cheque a condução do projeto do
O grande teste para a direita tradicional se dará no governo e da burguesia. A crise atual deu a oportunida-
Brasil, com o processo de sucessão de Lula. O presi- de para uma reestruturação nas empresas, com demis-
dente brasileiro está sendo canonizado em vida por sões em massa, reduções de salários e corte de direitos,
setores da imprensa burguesa brasileira e internacio- com a colaboração ativa da CUT, CTB e demais cen-
nal, que oferecem o seu exemplo como modelo mundi- trais pelegas na assinatura de acordos lesivos aos tra-
al de governante capaz preservar os lucros da burgue- balhadores.
sia às custas dos trabalhadores e ainda assim desfrutar O governo Lula tornou evidente o caráter de clas-
de imensa popularidade. O grande achado do governo se do PT como um partido burguês composto de buro-
Lula é o fato de que, como ele mesmo disse, “dar um cratas. Sua base social está na burocracia estatal, nos
pouquinho de dinheiro para os excluídos não desmon- aparatos sindicais, fundos de pensão, etc. O projeto e o
ta a economia” (O Estado de S. Paulo – 10/12/2009). A programa do PT são nitidamente burgueses. Os traços
exaltação da figura de Lula é também uma exaltação remanescentes de presença operária na base do PT, em
das instituições, um reforço ideológico do Estado e da especial nos bairros e movimentos populares, não tem
democracia burguesa, do mito de que “qualquer um mais qualquer influência decisória em qualquer ins-
pode chegar lá” e o sistema é fundamentalmente justo. tância do partido. É dos aparatos estatais e sindicais
O projeto encarnado por Lula consiste em empre- que essa massa de burocratas aufere seus rendimentos
gar pão, circo e cacetete para criar a “miséria funcio- e privilégios, como as participações nos lucros dos fun-
nal”, ou seja, a miséria que não gera revolta. O bolsa- dos de pensões, os altos salários nos cargos de confian-
esmola, a Copa do Mundo e a repressão feroz são as for- ça, nas diretorias de estatais, os privilégios parlamen-
mas de administrar a deterioração das condições de tares e sindicais, etc. Isso sem falar na captação de
vida dos trabalhadores sem que isso provoque mobili- recursos via corrupção, de cujos exemplos o governo
zações e desafio ao controle da burguesia. Opera-se Lula foi pródigo, desde o mensalão até a Bancoop.
uma espécie de desclassicização da classe trabalhado- O PT defende um projeto capitalista com um pou-
ra, a destruição da sua identidade social em nome da co mais de controle do Estado do que o PSDB e o
sua transformação numa massa de indivíduos depen- DEM. As diferenças entre eles residem na disputa para
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determinar quem vai usufruir maior controle da para associar o prestígio de Lula à candidatura Dilma e
máquina do Estado. Em que pesem as divergências transformar a aprovação do governo em votos, além de
pontuais do PT com o PSDB, ambos têm acordo no pro- demonizar Serra e amedrontar os trabalhadores com a
jeto estratégico de tornar o Brasil um país viável do ameaça da volta da direita.
ponto de vista do capital, o que significa necessaria-
mente a ajuda às empresas e o aumento dos ataques aos
trabalhadores, particularmente com o agravamento da 3) PLANO DE LUTAS
crise. O interesse vital da burocracia e o interesse do
O governo Lula é um governo burguês clássico. É PSDB em retomar o controle do Estado tende a fazer
importante diferenciar o governo Lula do próprio PT, das eleições de 2010 uma disputa duríssima. Essa dis-
pois o governo está mais à direita que o próprio parti- puta deve polarizar a opinião pública ao longo do ano,
do. Isso ocorre pela opção do próprio PT e pela neces- estabelecendo um falso debate que caberá à esquerda
sidade de governabilidade. A base de apoio do governo tentar romper. Mais do que nunca será fundamental
no Congresso se deslocou dos partidos menores e um politizar a política, ou seja, colocar em discussão um
pouco mais à esquerda (como PDT, PSB, etc.) para o projeto político calcado numa perspectiva de classe,
PMDB, que possui uma grande bancada parlamentar, numa disputa ideológica pelo socialismo.
um grande número de governos estaduais e prefeitu- Diante desse cenário, a principal tarefa deste Con-
ras, e portanto uma grande influência perante o gover- clat não pode se limitar à definição do modelo de cen-
no. O PT obedece cegamente as diretrizes traçadas tral. A Reorganização da classe trabalhadora não pode
pelo governo e funciona como instrumento a serviço se reduzir a uma reacomodação de alguns aparatos diri-
da governabilidade burguesa, abrindo mão de qual- gidos por correntes de esquerda. Para que se trate de
quer bandeira programática. Assim, o governo Lula uma Reorganização de fato, é preciso lutar pela reno-
enquanto projeto e política cotidiana não tem nada de vação das estruturas e das práticas de organização dos
essencialmente diferente em relação ao um governo trabalhadores que vigoram no Brasil há décadas. No
burguês normal. que se refere especificamente ao movimento sindical,
Do ponto de vista da disputa entre os partidos, o a estrutura herdada da Era Vargas nunca foi realmente
PSDB conta com um relativo desgaste do PT depois de superada, nem mesmo em períodos de forte ascenso
8 anos de gestão e sucessivos escândalos de corrupção, das lutas dos trabalhadores como no pré-1964 e na vira-
que horrorizam especialmente a pequena-burguesia. O da da década de 1970 para 1980. É preciso romper com
PSDB não precisa apresentar um projeto diferente essa estrutura para que a nova entidade a ser criada
daquele que o PT vem implementando, que na verdade tenha de fato condições de servir como alternativa
é uma continuidade do projeto FHC, o projeto de organizativa.
inserção do Brasil no mercado mundial como exporta- A Reorganização deve ser concebida como cons-
dor de matérias-primas agrícolas e manufaturas de bai- trução de um Movimento Político dos Trabalhadores,
xo valor, às custas da devastação ambiental e da que seja um fórum permanente de organização da clas-
superxploração do proletariado. Tudo o que o PSDB se, que vá além da esfera sindical ou eleitoral e desen-
precisa fazer é apresentar as credenciais de uma gestão volva a disputa política e ideológica pela consciência
tecnocrática mais eficiente do mesmo projeto, em da classe, apresentando uma resposta socialista para a
lugar da versão voluntarista e popularesca protagoni- crise em que vivemos e suas múltiplas dimensões.
zada por Lula. Esse Movimento inclui a atividade sindical e eleitoral,
Em relação ao PT, a vitória de Dilma é uma ques- mas não como um simples arranjo na formação de cha-
tão de vida ou morte. O PT se transformou numa pas, e sim como espaço para a discussão de programas
máquina eleitoral cuja sobrevivência material depen- e expressão da auto-organização da classe e suas lutas,
de mortalmente de mandatos parlamentares, cargos no a partir das quais se constroem chapas sindicais e can-
executivo, cargos de confiança, diretorias de estatais, didaturas eleitorais. Um pressuposto desse Movimen-
etc. Numa eventual vitória do PSDB, a “despetização” to é a construção da unidade, por isso consideramos
do Estado iria obrigar milhares de burocratas a se relo- importante que o CONCLAT aprove uma única candi-
calizar nos sindicatos, nas ONGs, na academia, etc., datura dos trabalhadores para eleições de 2010, como
ou seja, a ter que “pôr as mãos na massa” na relação forma de se contrapor à falsa polarização entre Serra e
direta com os trabalhadores para sobreviver politica- Dilma.
mente e materialmente. Por isso, a burocracia fará da A tarefa desse Movimento é dotar a classe de uma
eleição de Dilma o principal eixo de atividade das enti- alternativa política classista, socialista, independente
dades sob seu controle, secundarizando as campanhas do Estado e funcionando com base na democracia ope-
salariais ou qualquer outra atividade. O PT fará de tudo rária, sem espaço para a burocratização e o aparatismo.
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sista e socialista, assumindo abertamente a defesa da esse quadro, as assembléias são burocráticas, conduzi-
permanência da sociedade burguesa. O sistema capita- das por uma mesa também “biônica”, na qual apenas
lista é concebido como horizonte definitivo de organi- os dirigentes usam o microfone. O mesmo acontece
zação da vida social. O fim da CUT e de seus sindica- em relação à imprensa sindical, em que não há espaço
tos não está só na incorporação ao Estado e de apoio ao para a manifestação da base. Por isso é preciso que a
governo Lula, mas principalmente no fato de que a Nova Central desenvolva formas de organizar os tra-
CUT e demais centrais governistas se incorporaram à balhadores em suas entidades, mas também em seu
lógica de mercado, onde os sindicatos passam a cola- local de trabalho, seja legalmente, por meio das comis-
borar com a patronal e com o Estado na gestão da eco- sões de fábricas ou CIPAs, ou mesmo clandestinamen-
nomia. Os sindicatos assumem o discurso da patronal te.
de que as empresas precisam cortar custos para voltar a FINANÇAS – Quanto à gestão financeira é
ter lucro e assim manter empregos e colaborar com “o necessário desenvolver uma política (até se tornar cul-
bem comum”. Em nome desse discurso, entidades sin- tura) de controle público sobre as finanças e isso
dicais assinam acordos que legitimam, demissões, envolve prestação de contas, com comprovação dos
redução de salários, corte de direitos, precarização das gastos nas Assembléias, bem como a decisão coletiva
condições de trabalho, banco de horas, etc. Tornam-se dos gastos futuros. É preciso abrir o caixa do movi-
a primeira fileira do aparato repressivo do capital. A mento sindical: quanto dinheiro tem os sindicatos,
função de repressão e conciliação de classe se expressa quem decide e como decide o que gastar? Não se pode
também na opção pela via da negociação e da judiciali- fazer essa crítica aos governos da burguesia e deixar de
zação dos conflitos trabalhistas. Ao empregar essa via, construir outra prática. Para desenvolver essa cultura,
os sindicatos pelegos conseguem conter as mobiliza- propomos que:
ções e colocam os trabalhadores numa posição passi-
va, à espera de que os dirigentes sindicais ou o Estado, -cada entidade que receba verba fixa contribuirá
através da justiça trabalhista, resolvam seus proble- com 1% de suas receitas para manter as despesas regu-
mas. lares da central. Se não houver verba fixa, quem define
a contribuição, de acordo com a possibilidade do movi-
ORGANIZAÇÃO DE BASE – O sindicalismo mento popular, associação, oposição e outros, é a Dire-
brasileiro se caracteriza ainda pela falta de efetividade ção/coordenação (cabendo recurso às instâncias deli-
das organizações por local de trabalho, como as comis- berativas);
sões de empresa, CIPAs, corpos de delegados sindicais
e representantes de base. A atividade sindical é desen- - O controle de finanças deve ser por secretaria de
volvida como algo que emana da cúpula dirigente das finanças com 3 membros e deve ser apresentado balan-
entidades sindicais, ao invés de se construir na mobili- cete mensalmente;
zação a partir da base. Os dirigentes atuam de forma - Deve-se criar formas "transparentes e democrá-
exterior, de cima para baixo, de maneira descolada da ticas" de contratação e demissão dos funcionários das
realidade do “chão de fábrica”. O sindicato comparece entidades aprovadas nas Assembléias. Essa é uma
em época de campanha salarial com carro de som ou medida que visa acabar com a admissões pela amiza-
panfletos na porta das empresas, como um “corpo de, pessoalidade e com o aparelhamento das entidades
estranho”, sem identidade com os trabalhadores e alie- por alguma corrente.
nado do seu cotidiano. 4.2) JOGAR PESO NAS OPOSIÇÕES
Quando os trabalhadores atendem ao chamado SINDICAIS PARA DERROTAR A PELEGADA
dos sindicatos, comparecendo às assembléias e parali- As oposições podem ser o ponto de apoio a partir
sando a produção, também agem de forma passiva, do qual se renovarão as formas de organização da clas-
pois não lhes são dadas condições de interferir na con- se, em direção à retomada da sua função histórica de
dução da luta desenvolvida em seu nome. Funcionam instrumentos para a luta contra o capital. Estamos aqui
apenas como massa de pressão usada pelas entidades falando das oposições não como simples chapas para
sindicais para encenar uma ameaça à patronal e ao Esta- eleições sindicais visando retomar administrativa-
do. Os representantes de base não têm voz ativa no inte- mente a direção das entidades. Entendemos as oposi-
rior do sindicato, não se reúnem com regularidade, não ções como um movimento mais amplo que tenha como
tem caráter deliberativo. Da mesma forma, o comando objetivo retomar ideologicamente a direção da classe.
de mobilização e de greve e os representantes nas A tarefa desse movimento é desenvolver o trabalho
mesas de negociação com a patronal e o Estado são que os sindicatos não tem desenvolvido de organiza-
compostos por elementos “biônicos”, indicados pela ção e elevação da consciência da classe. A retomada
direção das entidades sindicais, sem a possibilidade de dos sindicatos é um meio e não um fim em si. O forta-
que trabalhadores de base participem. Para completar lecimento do movimento deve criar condições para
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que cada segmento da classe seja capaz de organizar dora. A burocratização, seja pelo parlamento, sindica-
sua luta cotidiana contra a burguesia mesmo com o obs- tos ou mesmo o partido, é um elemento objetivo e
táculo das direções burocráticas, passando por cima assim temos que lidar.
dessas direções, até que possam ser substituídas por Devido à brutalidade e à alienação a que o traba-
direções combativas formadas no próprio curso da lhador está submetido em seu trabalho, muitos acabam
luta. vendo no licenciamento sindical uma forma de se
Um movimento de oposição com essas caracte- livrarem dessa condição miserável e passam a ter
rísticas teria condições de restituir os sindicatos ao seu como objetivo de sua militância a liberação. Isso tem
devido lugar, ou seja, o de instrumento de luta dos tra- conseqüências porque mesmo esses pequenos privilé-
balhadores no interior da sociedade burguesa. Livrar gios diferenciam o dirigente sindical da categoria que
as entidades sindicais dos burocratas deve ser uma representa. Há também uma conseqüência política
obsessão nossa, tanto para facilitar as lutas contra o danosa que é o afastamento da "pressão" dos trabalha-
governo e contra a patronal, como para a própria cons- dores, pois muitas vezes o militante liberado só vai à
trução da CENTRAL. Nos apresentaremos aos traba- fábrica ou setor de vez em quando. O resultado é que,
lhadores também com propostas de democratização por suas condições materiais, suas necessidades pas-
dos sindicatos, como garantia de que o sindicato volta- sam a ser diferentes dos trabalhadores.
rá, efetivamente, para as mãos dos trabalhadores. É pre- Para que a CENTRAL se apresente aos trabalha-
ciso que os trabalhadores se convençam de que faz dife- dores como algo realmente diferente precisa demons-
rença votar em uma chapa da CENTRAL e que não bus- trar que tem uma estrutura anti-burocrática. Por isso
camos o simplesmente controle do aparato sindical, propomos as seguintes medidas:
mas sim transformá-lo em uma ferramenta de luta e
que nos propomos a construir uma nova concepção sin- a) Todas as decisões políticas importantes preci-
dical, ou seja, classista, socialista e democrática. sam ser tomadas em fóruns amplos, ou seja, deve ser
retirado dos órgãos de coordenação/direção o poder de
Para isso precisamos impulsionar a formação de decidir tudo, sem discutir com a base;
oposições sindicais, e naquelas que já existem, preci-
samos garantir um funcionamento permanente, com b) Defendemos a limitação do número de manda-
atividades constantes e debate político com a catego- tos. Essa discussão precisa ser aprofundada e levada às
ria, mostrando que é fundamental se organizar para var- entidades de base para discutirmos maneiras de viabi-
rer a pelegada dos sindicatos. lizar um limite às reeleições. Muitos dirigentes sindi-
cais ficam anos longe de suas atividades, o que faz com
4.3) A BUROCRATIZAÇÃO que deixem de viver a mesma realidade material dos
O rumo que a CUT tomou e a incorporação de vári- trabalhadores. Temos que acabar com os dirigentes sin-
os sindicatos ao Estado deve nos servir de advertência. dicais "profissionais", ou seja, com esse modo de vida.
Não podemos cair no canto de sereia de que somos imu- Outra importância dessa medida é permitir que outros
nes ao processo de burocratização. Temos que tomar companheiros adquiram experiência em várias tare-
medidas que impeçam desde já o desenvolvimento de fas. Propomos que a Nova Central realize um Seminá-
uma burocracia também no interior da CENTRAL. rio específico, a ser marcado numa data definida neste
O processo de burocratização que afetou inclusi- Congresso, para discutir as medidas necessárias para
ve sindicatos da base da CENTRAL mostrou a gravi- um processo de transição que viabilize a aplicação de
dade e a urgência dessa questão. No CONAT, as pro- medidas anti-burocratização nas entidades, que per-
postas que apresentamos para combater a burocratiza- mita envolver a base na discussão, preparar mudanças
ção nos sindicatos e na própria CENTRAL foram der- estatutárias, etc., estabelecendo medidas concretas
rotadas e a reflexão por nós apresentada foi deixada de para revolucionar os sindicatos.
lado. Isso significou um atraso na elaboração de uma c) Substituição obrigatória de pelo ½ dos mem-
política eficaz para o combate à burocratização. Os bros dos órgãos dirigentes a cada eleição, de forma que
acontecimentos da luta de classes mostraram mais garanta uma renovação permanente;
uma vez a urgência de um profundo debate sobre essas d) A liberação deve ser uma discussão com o con-
questões no movimento sindical, que consiga identifi- junto da categoria, inclusive deve fazer parte da pauta
car a origem dos problemas e combatê-los. de reivindicações. Que seja a categoria que decida
- Combater de fato a burocratização. Não pensa- quem se libera e quem não se libera. Quando a "libera-
mos que a burocratização seja inerente ao ser humano, ção" for aprovada o salário não pode ser superior àque-
mas ao sistema de dominação. Para se manter de pé o le que o militante recebia e deve existir rodízio, com
sistema cria mecanismos ou soluções aparentemente prazo determinado para retorno ao trabalho. Além dis-
mais fáceis para atrair a consciência da classe trabalha- so, o dirigente não pode receber salário do sindicato.
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Essas medidas possibilitam que a liberação não se tor- do “tempo livre” que a condição de licenciado do tra-
ne um "negócio" para os dirigentes sindicais. balho lhes proporciona. Esses dirigentes se aprovei-
e) Deve haver um rígido controle sobre o cumpri- tam dessa condição não para desempenhar melhor o
mento de horário e das tarefas assumidas, de forma que seu papel como liderança dos trabalhadores, mas para
se cumpra no mínimo o mesmo de antes da liberação. ter mais recursos no debate político interno ao sindica-
Todos os trabalhadores estão submetidos a um rígido to e no controle sobre o aparato. Estudam para adquirir
controle de horário por parte dos patrões. Portanto, não autoridade através do status de “especialista”, perpetu-
é justo que os representantes estejam submetidos a con- ando uma lógica tecnocrática.
dições mais favoráveis que os demais trabalhadores; Também nesse campo os sindicatos reformistas e
f) Os sindicatos e demais organizações devem ser burocratizados reproduzem a lógica da sociedade bur-
absolutamente democráticas, com garantias expressas guesa, mantendo uma separação entre trabalho inte-
ao debate entre os ativistas, liberdade de intervenção, lectual e trabalho braçal, entre dirigentes e dirigidos,
discussão, votações, direito de expressão de todas as os que pensam e os que executam. Ao contrário disso,
posições para os trabalhadores nos materiais do sindi- os sindicatos devem ser um instrumento para elevar a
cato (jornais, revistas) e nas assembléias. Também consciência e a organização dos trabalhadores, através
deve haver um impulso sistemático à formação políti- de cursos, seminários, palestras, atividades culturais
ca e teórica, para superar as dificuldades que haja entre abertas a todos. A elevação do nível cultural geral, do
os trabalhadores. grau de consciência e da capacidade política são pré-
requisitos para que os trabalhadores assumam o con-
4.4) FORMAÇÃO TEÓRICA E POLÍTICA trole sobre sua própria luta, ou em outras palavras,
A disputa ideológica requer também uma disputa para que a emancipação dos trabalhadores seja obra
teórica. A formação dos dirigentes sindicais, dos mili- dos próprios trabalhadores.
tantes e dos próprios trabalhadores também precisa ser No plano de formação é preciso entrar as obras de
desenvolvida internamente, dentro das próprias enti- Marx e do marxismo, Lênin e tantas outras que contri-
dades sindicais, sem o recurso a institutos e aparatos buam para "a compreensão nítida das condições, do
exteriores. Além disso, a formação sindical deve ir curso e dos fins gerais do movimento proletário" (Ma-
além de palestras do tipo acadêmico, em que um ora- nifesto Comunista). Para combater a burguesia tam-
dor fala e os trabalhadores permanecem passivos. E bém precisamos estudar os seus clássicos e os autores
também os temas tratados devem ir além das questões reformistas, principalmente porque muitos deles de
imediatas, como CIPA, condições de trabalho, legisla- alguma maneira influenciam setores do movimento
ção trabalhista, etc., que são importantes, mas não dis- sindical.
pensam uma formação de caráter mais ideológico e
político. As atividades de formação não podem ser tercei-
rizadas para institutos e outras entidades externas. Por
É preciso superar a concepção das atividades de entendermos que essa atividade é parte da central
formação apenas como uma série de cursos que não se somos contra transferir essa tarefa de forma perma-
relacionam com o restante da atividade sindical e do nente para qualquer instituto, pois qualquer projeto de
dia a dia do trabalhador. O próprio desenvolvimento formação fora dos organismos da central pode ser a
das lutas deve ser visto como um meio de formar base para a monopolização de uma corrente e criação
novos dirigentes e de educar os trabalhadores em de organismos paralelos à entidade. Assim, devemos
geral, para que desempenhem um papel mais ativo. A aceitar os institutos de formação política que estejam
formação deve ser um processo permanente, em cone- comprometidos com o projeto da nova CENTRAL
xão com a atividade política e a disputa ideológico- como parte de uma transição para o projeto de constru-
cultural. ir com o seu próprio instituto de formação teóri-
Existem sindicatos que chegam ao ponto de ofe- ca/prática para assessorar as entidades de base.
recer cursos de aprimoramento profissional, economi- 4.5) A LUTA CONTRA TODAS AS FORMAS
zando investimento da burguesia e do Estado na for- DE OPRESSÃO E PRECONCEITO
mação da mão de obra, colaborando para aumentar o
lucro das empresas. Ao invés de oferecer cursos sobre A disputa ideológica contra o capital não é com-
a história do movimento operário, as idéias que orien- pleta sem a luta contra o racismo, o machismo a homo-
taram a luta dos trabalhadores, o marxismo, etc., os sin- fobia e todas as formas de opressão. O capitalismo cria
dicatos reproduzem a ideologia burguesa entre os tra- segmentações e divisões artificiais entre a classe tra-
balhadores. balhadora para fomentar a rivalidade e a disputa entre
os diversos setores do proletariado pelas vagas cada
A formação intelectual é também um dos “privi- vez mais escassas no mercado de trabalho num contex-
légios” a que têm acesso os dirigentes sindicais no uso
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
to de expansão do desemprego estrutural e de forma- vida da mulher com dignidade e respeito é a primeira
ção de um exército industrial de desempregados per- questão!
manentes. A segmentação da classe em guetos defini- - Fim de todo tipo de discriminação e preconceito.
dos por etnia, religião, língua, imigração, etc., é mais Reconhecimento da união civil homossexual!
um obstáculo para a ação conjunta do proletariado.
- Uma sexualidade livre dos preconceitos religio-
No sentido de incorporar as mais amplas mas- sos, de raça, de orientação sexual e não submetida às
sas à luta é preciso ultrapassar a costumeira prática de imposições do capital!
isolar as questões relativas de raça, gênero e orienta-
ção sexual em um plano secundário, sob a inadequada - Serviços públicos (escolas, postos de saúde, hos-
rubrica de “temas específicos”, e destinar a cada uma pitais, creches, etc) de qualidade para os filhos da clas-
um guichê no qual deve debater “seus” assuntos. Usu- se trabalhadora, com profissionais aptos e bem remu-
almente, destina-se a cada um desses setores o seu nerados!
departamento isolado e situa-se o conjunto desses - Perda de mandato para todos os deputados e
departamentos num nível inferior ao das questões gera- deputadas que assinam o Projeto de Lei Estatuto do
is. Forma-se o departamento das mulheres, o dos Nascituro que propõe conceder uma bolsa auxílio men-
negros, o GLBT, etc, de uma maneira formal e artifici- sal até os 18 anos para os filhos de mulheres estupra-
al, pois não incorpora as bandeiras e demandas desses das, que concede ao estuprador o papel de pai!
setores como eixos centrais de luta e como parte da - Repúdio às ações machistas, opressoras e con-
mesma luta, que é a libertação dos homens e mulheres servadoras da Igreja Católica!
do domínio do capital. A prática que tem se reproduzi-
- Barrar a Reforma da Previdência do Governo
do é que as “lutas específicas” não apenas são isoladas
Lula e Burguesia!
da luta geral, como são em seu conjunto empurradas
para formar apenas um apêndice, um capítulo a mais - Salário mínimo do DIEESE como forma de
que se incorpora burocraticamente porque consta no elevar o padrão de vida do povo negro em geral e das
“manual” do que é “politicamente correto”, mas que mulheres negras, em específico, principais vítimas do
não se incorpora concretamente. mínimo de fome;
As lutas das mulheres, dos negros e outros setores - Lutas pela implantação imediata das cotas no
oprimidos precisam ser pautadas no dia a dia da nova mercado de trabalho com objetivo de equilibrar, agora,
central e nas atividades das entidades de base. Propo- a situação entre negros e brancos;
mos algumas bandeiras de luta para levar adiantes este - Que o 20 de Novembro seja reconhecido como
debate: feriado nacional e Zumbi reconhecido oficialmente
- Barrar o assassinato, a violência e a agressão das como símbolo dos explorados e oprimidos na luta con-
mulheres, pôr na prisão os assassinos, agressores, tra o regime escravocrata;
pedófilos e seus coniventes! Investimentos para abri- - Cotas proporcionais para negros nas escolas téc-
gos e recolocação das sobreviventes! nicas municipais, estaduais e federais. Com vagas pro-
- Que as verbas retiradas dos projetos de combate porcionais para filhos de trabalhadores oriundos das
à violência doméstica sejam restituídas através da taxa- escolas públicas;
ção das grandes fortunas prevista na Constituição - Titularização de terras dos remanescentes de qui-
Federal! lombo;
- Fim da tripla jornada. Redução da jornada de tra- - Retirada imediata das instalações militares das
balho sem redução do salário! Salário base do DIEESE terras do Quilombo de Alcântara;
igual para trabalho igual! - Reforma agrária com cotas proporcionais para
- Sistemas de saúde compatíveis com as necessi- negros como forma de garantir que nossos irmãos e
dades e as especificidades da mulher negra! irmãs que lutam pela terra não fiquem apenas com a
- Que todas as decisões sobre o corpo e a vida das enxada e a bandeira nas mãos;
mulheres sejam tomadas por nós, inclusive sobre gra- - Imediata preparação de professores e liberação
videz ou aborto. de verbas para compra de livros e materiais necessári-
- Licença maternidade de 06 meses para todas as os para a implementação da lei 10639, que institui a
trabalhadoras! obrigatoriedade do ensino de História e Literatura Afri-
canas em todas as escolas e universidades, bem como a
- Legalização e descriminalização do aborto. Dis-
história de resistência dos negros em áfrica, no Brasil e
tribuição pelo SUS e planos de saúde de preservativos,
no mundo;
anticoncepcionais e pílula do dia seguinte. Preservar a
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
ções sindicais e arrebatar o maior número de sindica- lar das entidades e o apoio às suas demandas;
tos da burocracia. É preciso que essa retomada dos sin- f) Contra a participação em convênios e pactos
dicatos para a luta se baseie num processo de participa- com a patronal e o Estado;
ção dos trabalhadores e de elevação da sua consciên-
cia. g) Pela ação direta como método preferencial de
luta, contra a ênfase nas negociações e a judicialização
É preciso disputar ideologicamente a consciência dos conflitos;
dos trabalhadores não apenas para que votem em cha-
pas combativas nas eleições sindicais, mas para que se h) Pelo funcionamento regular e democrático das
incorporem à atividade sindical e ao processo mais entidades e oposições, com reuniões periódicas, calen-
geral da luta de classes. É preciso que essa luta sindical dário permanente de atividades, presença constante
seja dotada de um horizonte político de enfrentamento junto à base, publicações regulares, canais de comuni-
com o capital. No contexto de crise estrutural do capi- cação, liberdade de expressão, etc.;
tal, que debatemos brevemente no ponto de conjuntura i) Pelo combate à burocratização das entidades,
internacional, as reformas e melhorias parciais nas con- com o fim dos privilégios e o controle da base sobre os
dições de vida dos trabalhadores tendem a ser reverti- dirigentes;
das rapidamente devido à necessidade crucial da bur- j) Pela transparência na gestão dos recursos das
guesia de retomar sua taxa de lucro. Assim, a única entidades, com prestação de contas regulares;
perspectiva de sucesso das lutas está na transformação
k) Pelo avanço da formação teórica e política,
da resistência aos ataques do capital numa ofensiva
com cursos, seminários, palestras, atividades cultura-
contra a ordem estabelecida.
is, etc., de modo a superar a separação entre trabalho
Essa nova concepção parte em primeiro lugar des- intelectual e trabalho braçal no interior das entidades e
sa compreensão teórica do significado (marxista) da combater a influência da ideologia burguesa junto à
luta sindical. Falar em uma nova concepção de movi- classe.
mento é organizar as lutas imediatas, ter posição políti-
ca sobre os acontecimentos, mas é acima de tudo se pro-
por a enfrentar a concepção burguesa de sindicalismo, 8) COMPOSIÇÃO E FUNCIONAMENTO
o que significa que em primeiro lugar a regulação do DA DIREÇÃO
Estado sobre a atividade sindical deve ser abolida pela 1) Direção/coordenação (nacional/estadual e regi-
luta e com ela todo o arcabouço legal e jurídico de con- onal-municipal) da Central deve ser eleita em congres-
trole (direto e indireto) que o Estado exerce sobre as so com proporcionalidade direta e qualificada;
organizações sindicais. Não basta que os trabalhado- a) Os dirigentes não poderão cumprir mais que
res decidam que querem construir uma entidade para dois mandatos consecutivos, sendo que não pode
organizar as suas lutas, pois há uma série de exigências haver reeleição para o mesmo cargo.
legais que tem que ser cumpridas para que essa entida-
de seja reconhecida pelo Estado burguês. Por fim, é b) O afastamento dos dirigentes sindicais não
preciso elaborar um programa que enfrente a forma poderá exceder mais que um ano;
estrutural dessa concepção sindical que vigora no país. c) Todos os mandatos são revogáveis a qualquer
Esse programa passa por lutar: tempo, com amplas garantias de defesa quando houver
a) Pela autonomia política e organizativa das enti- qualquer acusação;
dades; 2) Estrutura da Central:
b) Pela independência financeira dos organismos -Direção Nacional e executiva nacional
de luta dos trabalhadores; - Direção estadual e executiva estadual
c) Pelo fortalecimento das organizações de base e - Direção Regional/municipal e executiva muni-
por local de trabalho, com funcionamento regular e cipal
caráter deliberativo;
3) Na composição das instâncias de direções será
d) Pela unidade da classe trabalhadora e contra o assegurada a proporcionalidade por meio de cotas, con-
corporativismo; forme a representação no congresso, para as mulheres,
e) Pela incorporação das demandas dos negros, GLBT e negr@s
mulheres e demais setores oprimidos à atividade regu-
ASSINAM TAMBÉM:
Faltam poucos dias para o Congresso da Classe tura nessa entidade fez surgir em todo o país os Fóruns
Trabalhadora e a fundação de uma nova ferramenta de Luta contra as reformas do governo, vanguarda
política e sindical para organizar nossas lutas. indiscutível da nova central que estamos construindo.
Quando nos próximos dias 05 e 06 de junho, gra- A criação da Conlutas, a formação da InterSindi-
vemos bem essa data, os delegados (as) eleitos nas cal e o surgimento de oposições sindicais classistas e
bases dos sindicatos, oposições e movimentos sociais combativas para disputar a direção das entidades de
votarem a unificação e a construção de uma nova cen- base dos trabalhadores apenas iniciou esse processo de
tral sindical, estaremos dando um passo a mais no sen- organização. Muito temos que avançar.
tido da organização de uma alternativa de direção para O Conclat ao unificar em uma mesma entidade
a classe trabalhadora brasileira e a tarefa com a qual esse movimento abre uma perspectiva histórica para
desde o inicio nos demos ao fundar a Conlutas, unifi- nossa classe de disputar, superar e construir ao calor
car em um mesmo instrumento parte do sindicalismo das lutas e mobilizações que protagonizam os traba-
combativo de nosso país estará parcialmente concluí- lhadores brasileiros essa nova central.
da.
Unidos Pra Lutar aposta todas suas forças e colo-
Será emocionante o momento em que todos escu- ca toda sua militância política e sindical a serviço des-
tarem pelos microfones o anuncio do surgimento de sa possibilidade.
uma nova direção que organize nossas lutas e mobili-
zações contra o governo e os patrões em defesa de nos- Somos conscientes que a nova central só se con-
sos direitos e conquistas. Estaremos gravando nosso solidará à medida que também avance a luta de classes
nome na história de luta da classe trabalhadora brasile- em nosso país, é sobretudo aí que as coisas se definirão
ira. a nosso favor.
O sentimento de unidade que será expresso na con- Sem que amplos setores saiam a lutar e a se
formação da nova central que vamos fundar, não será enfrentar com o governo e os patrões será muito difícil
obra do acaso, é parte da compreensão política comum avançar na construção de uma Central de massas em
de que o governo Lula não é nosso governo e de que a nosso país.
CUT se esgotou como central para organizar nossas Nesse sentido, será decisiva nossa intervenção
lutas. unitária nas campanhas salariais em curso, nas greves
Esse sentimento de unidade está também no fato e mobilizações por reajuste salarial e melhores condi-
de que juntos, trabalhadores da cidade e do campo, em ções de trabalho, bem como nas disputas sindicais con-
uma mesma organização somos mais fortes e de que tra a burocracia sindical governista.
separados e divididos nos fragilizamos em nossa luta É nela que se testará e se forjará a nova direção
por emprego, salário, saúde, teto, terra educação e ser- que estamos todos construindo.
viços públicos de qualidade. A nova crise que ameaça destroçar a economia
Entretanto a construção desse momento não foi européia e arrastar boa parte das economias mundiais,
algo fácil e o congresso de fundação da nova central a reação do movimento de massas aos planos de ajuste
não resolverá todos os problemas nem superará as difi- dos governos e patrões com seus tradicionais métodos
culdades impostas pela realidade. A disputa pela dire- de luta e mobilizações é o espaço privilegiado para nos-
ção da classe trabalhadora brasileira está apenas come- sa intervenção e construção. Será nosso primeiro gran-
çando. de desafio. Oxalá consigamos obter êxito nessa tarefa.
A eleição do primeiro presidente de origem ope-
rária em nosso país e a incorporação da CUT e demais O M U N D O C A P I TA L I S TA N A
centrais sindicais oficiais ao projeto do governo de ata- ENCRUZILHADA
car os direitos dos trabalhadores para beneficiar o sis-
O palavreado utilizado pelos governos e patrões e
tema financeiro mundial, a burguesia nacional e os lati-
amplificado pelos meios de comunicação de que a cri-
fundiários fez com que inúmeros setores combativos
se econômica mundial foi superada é pura mentira.
rompessem com essa Central e se lançassem na cons-
trução e organização dessa nova ferramenta. A crise enfrentada pela Grécia e que ameaça sub-
meter à soberania econômica desses países ao FMI con-
A reforma da previdência do governo Lula que
trolado pelos Estados Unidos ou aos países ricos da
contou com o apoio da CUT e que promoveu uma fra-
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
União Européia (Alemanha e França) tem demonstra- ta de uma mão de obra semi-escrava e de fortes incen-
do que está longe de se concretizar a profecia feita tivos fiscais patrocinados pelo governo capitalista de
pelos economistas a serviço da classe dominante de Pequim, também não fugiu a regra e mesmo com toda
que entraríamos em uma situação de recuperação a censura típica de um país ditatorial onde a liberdade
financeira com geração de emprego, distribuição de de imprensa não existe e o movimento de massas é
renda e bem estar. duramente reprimido, especula-se que a taxa de
Para sair da crise governos de todo o mundo desti- desemprego seja de 4,2% e a relação dívida/PIB esteja
naram trilhões de dólares para salvar bancos e empre- por volta de 20% (capital) à 70% se incluir as estatais e
sas da falência o que aumentou o endividamento des- as províncias.
ses países que agora o povo tem que pagar. Segundo a revista 'The Economist', estima-se que
É dinheiro público destinado a iniciativa privada hoje é de U$ 35 trilhões de dólares que estaria o déficit
que sem nenhuma garantia de devolução ou contrapar- fiscal dos sete países mais ricos do mundo; de 200% a
tida, como a garantia do emprego de milhões de traba- relação média entre dívida/PIB do Japão, 100% nos
lhadores, só tem servido para enriquecer ainda mais EUA e 90% na União Européia.
meia dúzia de banqueiros e de empresas multinaciona- A síntese da situação econômica atual está
is. expressa em recente estudo encomendado pelo Banco
Não à toa, mesmo com a crise a Souza Cruz teve Mundial em conjunto com o FMI e o Banco Central
lucro de 19% em 2009 e empresas como as do ramo do Europeu cujo resultado, caso não se reverta à atual situ-
minério, da telefonia e energia também lucraram mui- ação é de crescimento da dívida até 2017 em 63% do
to ao mesmo tempo em que aumentou a taxa de desem- PIB nos Estados Unidos, em 47% do PIB no Reino Uni-
prego da população chegando a mais de 10% nos Esta- do e de 70% do PIB na França. Por isso o aumento dos
dos Unidos, 18% na Espanha, 11% na França, 7,6% na ataques aos níveis de vida, direitos e conquistas dos
Alemanha, 8,3% na Itália, 5,7% no Japão só para citar povos de todo o planeta.
alguns países. A crise atual, é uma crise estrutural do capitalis-
Segundo o FMI Também aumentou a dívida mo, tem haver com a queda da taxa de lucros dos prin-
pública dos países em relação ao PIB (125% na Grécia, cipais ramos da economia e por um crescimento
81% na Inglaterra e 80% em Portugal) e o déficit fis- desenfreado do capital especulativo.
cal/PIB (13% Inglaterra e Grécia, 12% Espanha,
10,6% Estados Unidos, 8% Japão e França) AS PESSOAS ACIMA DO MERCADO
A mesma situação também vive a América Latina A crise da economia européia, que é a crise do
que com as bombas econômicas de efeito retardado EURO, é parte da crise econômica mundial. Para sair
patrocinados por governos submissos ao imperialismo dessa situação as burguesias de todo o mundo tem ado-
tem aumentando a miséria o desemprego, bem como o tado um conjunto de medidas cujo objetivo central é
endividamento da população junto à agiotagem inter- fazer com que sejamos nós trabalhadores que pague-
nacional. mos a conta da crise.
Segundo a CEPAL a enxurrada de dinheiro públi- São planos de ajustes fiscais que vão desde o
co que foi entregue aos bancos aumentou a dívida estrangulamento de verbas dos orçamentos para saú-
pública de nossos países o que tem consumido boa par- de, educação, habitação, etc. aumento de tarifas públi-
te da riqueza produzida apenas para pagar juros e amor- cas (água, luz, telefone e transporte) medidas de arro-
tizações (54% no Brasil, 73% Argentina, 34% Venezu- cho e rebaixamento salariais, modificação nas regras
ela, etc.), também aumentou a taxa de desemprego de aposentadorias e demissão em massas de trabalha-
(10% Brasil/Chile, 8,5% Argentina/Venezuela e dores.
6,12% no México).
O exemplo da Grécia e emblemático, lá o governo
A exceção não fugiu a regra imposta pela crise. 'socialista' quer aumentar a idade da aposentadoria dos
Mesmo a China e a Índia que não foram arrastadas pela atuais 58 anos para 62 anos bem como reduzir salários
crise econômica como outros países e que cresceram dos servidores públicos em até 30%; também essa tem
10% e 7% respectivamente também tem problemas. sido a política do 'socialista' Zapatero na Espanha.
A Índia tem hoje 8,2% de desempregados; 52,8% Em Portugal o governo quer congelar os salários
de toda riqueza produzida no país está comprometida de professores e servidores da saúde, na Itália demitir
com o pagamento de sua dívida pública, 7,8% é seu trabalhadores imigrantes, na França reajustar tarifas
déficit fiscal em relação ao seu PIB. públicas, demitir trabalhadores de vários ramos, den-
A China que nos últimos anos tem crescido a cus- tre eles do setor petroleiro, além de fechar refinarias.
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
A resposta dos trabalhadores foi imediata. Entre NÓS NÃO VAMOS PAGAR NADA
os meses de fevereiro e março uma onda de greves e Em nosso país estamos ao lado dos que pela base
mobilizações ocorreu no velho continente. enfrentam o governo, os patrões e a traição das centrais
Primeiro foram os trabalhadores gregos que com sindicais governistas, apoiamos, somos solidários e
duas poderosas greves gerais reuniram mais de 5 procuramos difundir em nossas entidades e no movi-
milhões de trabalhadores e no centro de Atenas as fai- mento sindical as justas reivindicações dos trabalha-
xas e cartazes estampavam na frase as pessoas acima dores europeus por reajuste salarial e melhores condi-
do mercado o sentimento do povo grego quanto a cri- ções de trabalho.
se. Desde as filiais das empresas multinacionais exis-
Na mesma semana ocorreu greve de Petroleiros tentes em nosso país como as do ramo Químico, Cer-
na França contra o fechamento por parte da multinaci- vejaria e alimentação em São José dos Campos, bem
onal Total da refinaria de Dunkerke e contra a demis- como do ramo metalúrgico em Manaus, procuramos
são de trabalhadores em outras. junto aos trabalhadores (as) difundir as lutas de seus
Na Itália ocorreu nas principais cidades a primei- companheiros e irmãos trabalhadores na Matriz sejam
ra greve protagonizada por imigrantes que inspirados elas fixadas na Europa, Ásia ou Estados Unidos. O
na iniciativa francesa de fazer 'UM DIA SEM mesmo está sendo feito no serviço público federal, jun-
IMIGRANTES' pararam suas atividades por 24 horas to aos trabalhadores em educação e da saúde pública.
exigindo direitos sociais, o fim do racismo e a integra- Não podem os trabalhadores pagarem a conta da
ção de 5 milhões de estrangeiros que vivem no país. crise que os ricos nos colocaram, o exemplo a ser
Também na Itália fizeram greves os trabalhadores do seguido não vem só das greves e mobilizações euro-
transporte público, os trabalhadores da Alitalia (em- péias, vem também da pequena Islândia que sufocada
presa aérea que foi vendida para Air France e KLM) pelo forte endividamento de seu país fez com que os
por melhores condições de trabalho, os operários da trabalhadores saíssem às ruas e impusessem ao gover-
Fiat contra as demissões e o fechamento das fabrica da no a convocação de um plebiscito que por 93,2% deci-
Sicilia e os operários da ALCOA (empresa norte ame- diu-se suspender o pagamento de suas dívidas externa
ricana do alumínio) que ocuparam as plantas industri- e interna junto aos bancos privados europeus.
ais da Cerdenha, Veneza e Roma reivindicando melho-
res salários e condições de trabalho.
BRASIL MOSTRA TUA CARA
Na Espanha milhares de trabalhadores saíram às
ruas contra a reforma da previdência que modifica as A crise no Brasil não se expressou com a mesma
regras de aposentadoria e impõe a idade de 67 anos força que nos países imperialistas, ou como no Méxi-
para gozo desse beneficio. Mais de 200 mil pessoas co, que através no Nafta tem uma relação simbiótica
percorreram as ruas de Madri, Barcelona e Valência com a economia ianque.
onde a partir daí somaram-se os trabalhadores de Ovie- Os Bancos brasileiros, graças à extraordinária
do, La Rioja, Ceuta fazendo com que os protestos che- taxa de juros, não tinham como eixo a especulação via
gassem as regiões da Andaluzia, Cataluña, Palma de derivativos, mas obtinha seus lucros com os títulos do
Mallorca e Bilbao. governo, razão pela qual não afundaram como nos
Na Alemanha foram os trabalhadores da compa- EUA. Mas se estes e outros fatores atenuaram a crise,
nhia aérea Lufthansa que cruzaram os braços parali- ela existe e está longe do fim.
sando assim mais de 1200 vôos, organizados pelo sin- Lula tem afirmado que o pior já passou e que 2010
dicato Cockpit exigiam a extensão do reajuste salarial será um ano de prosperidade e de crescimento da eco-
conquistado junto a patronal aos trabalhadores que nomia brasileira. O crescimento negativo (-0,2%) da
exercem suas atividades funcionais no exterior. economia brasileira em 2009 e as dúvidas que ainda se
As declarações de dirigentes da pelega Confede- tem sobre o crescimento em 2010 revelam o quanto o
ração Européia dos Sindicatos de que as greves vão se governo mente sobre a situação do país e que o Brasil
multiplicar, mas sem mobilização sindical e de que a não está descolado do restante da crise mundial.
onda de mobilizações, bem como a revolta dos traba- Se depender do governo e dos patrões, nada muda-
lhadores europeus tem surpreendido os próprios sin- rá. Os ricos ficarão cada vez mais ricos e os pobres
dicatos (Valor Online 24/02/2010) é a demonstração cada vez mais pobres.
de que está surgindo uma nova vanguarda lutadora e Para enfrentar a crise Lula isentou empresas do
combativa na Europa que necessita ser apoiada e cer- pagamento de impostos com a redução de IPI sobre
cada de solidariedade em suas lutas e mobilizações. produtos industrializados (setor automobilístico, linha
branca e construção civil, etc.), aumentou o crédito
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
para pessoas físicas através do 'empréstimo' consigna- Outro fator importante que vem contribuindo
do em folha de pagamento, bem como criou novas para aprofundar a situação de completo abandono em
linhas de crédito as empresas via BNDES, Banco do que se encontra a população é a corrupção e a impuni-
Brasil e Caixa Econômica Federal. dade reinantes nos podres poderes da república.
A resultante dessa política foi o lucro recorde nas Casos como dos mensalões envolvendo a cúpula
vendas de carros, geladeiras, televisores, ar- petista, os tucanos de Minas Gerais e os Democratas
condicionado; o endividamento dos trabalhadores do no Distrito Federal trouxeram a tona o funcionamento
país, em especial do funcionalismo público, enquanto das instituições brasileiras. Até o momento nenhum
o sistema financeiro nunca lucrou tanto. culpado foi punido, a exceção do governador do Dis-
Basta observar o lucro líquido dos maiores ban- trito Federal José Arruda (DEM) preso por obstruir o
cos do país que aumentou em 24,1%, ou seja, R$ trabalho de investigação da justiça.
23,174 bilhões em 2009 contra R$ 18,675 bilhões em Delinqüentes da política nacional como os sena-
2008, enquanto os três maiores bancos privados – Itaú dores José Sarney, Renan Calheiros (PMDB) e Collor
Unibanco, Bradesco e Santander – demitiram 9,9 mil de Melo (PTB) e os Deputados Federais Paulo Maluf
trabalhadores. (PP) e Jader Barbalho (PMDB) de longa 'folha corrida'
“O Itaú Unibanco foi o que mais lucros e também por desvios de dinheiro público dão sustentação políti-
o que mais cortou vagas. O maior banco privado bra- ca ao governo federal.
sileiro lucros R$ 10, 067 bilhões, mas fechou 7.176 pos- Esses sinistros personagens e seus partidos, apoi-
tos de trabalho: tinha 108.816 funcionários em ados pelo PT e pelo presidente Lula, são os responsá-
dezembro de 2008, após a fusão, e um ano depois redu- veis diretos pelos 'bois voadores' de Alagoas, as contas
ziu para 101.604 bancários. No mesmo período, o San- secretas em paraísos fiscais e pelos atos secretos do
tander fechou 1.652 vagas, enquanto seu lucro cres- senado federal que se materializaram na farra de pas-
ceu 40,76%, para R$ 5,508 bilhões. Já o Bradesco cor- sagens aéreas, no pagamento de horas-extras indevi-
tou 1.074 empregados e lucrou R$ 8,012 bilhões, o que das, na nomeação de parentes para cargos comissiona-
representou aumento de 5,08% em relação a 2008”. dos e no desvio de recursos públicos para a Fundação
(Estadão, 19/02/2010). Sarney.
O mesmo ocorre com os gastos bilionários do Pro- O caso do Distrito Federal envolvendo toda a
grama de Aceleração do Crescimento (PAC). Enquan- cúpula do governador José Roberto Arruda (DEM)
to se injeta dinheiro público nos cofres de suas amigas agora é o centro de uma das maiores crises políticas
empreiteiras através do superávit primário que vem ocorridas nas últimas décadas no Brasil. A prisão do
sufocando estados e municípios; enquanto o governo governador em pleno mandato é um fato histórico que
faz contingenciamento de verbas do orçamento da trouxe reflexões sobre o funcionamento do regime
união para áreas da saúde, educação, saneamento bási- político do país. Com apoio reduzido o vice governa-
co, reforma agrária, etc. para financiar as obras do dor e mega empresário Paulo Octávio não sustentou o
PAC e terminar entregando seus resultados nas mãos cargo e também renunciou, no intuito de se livrar das
da iniciativa privada através das Parcerias Públicas Pri- investigações e também da prisão.
vadas (PPPs), a população sofre com o descaso. Não fossem as mobilizações estudantis e as ocu-
Aprofunda-se a crise social nas longas filas por pações da Câmara Distrital, com amplo apoio da popu-
atendimento nos hospitais públicos e postos de saúde; lação e fortemente reprimidas pela policia, Arruda nun-
aumenta a violência urbana e a delinqüência entre ca teria ido parar na prisão.
jovens que é arrastada e destruída pelo consumo do Com a cassação de arruda por infidelidade parti-
crack; também cresce o número de mulheres que se dária, não por corrupção, cabe ao povo de Brasília, não
prostituem como único meio de sobreviver e o conjun- a corrupta Câmara Distrital ou a Justiça, decidir quem
to da população sofre com as enchentes, deslizamen- vai governar.
tos de morros, encostas e com uma nova epidemia de
dengue e com a gripe suína. Os episódios de corrupção elencados acima só
explicitam o nosso argumento de que a corrupção é pró-
Os empregos que o governo diz ter gerado no pria do sistema capitalista, ou seja, das instituições que
'pós-crise', nada mais são do que empregos precariza- o representa.
dos sem nenhum direito social como previdência, féri-
as e 13° salário. Seguir a mobilização para colocar corruptos e cor-
ruptores na cadeia, confiscar bens e patrimônio dos
envolvidos é a única garantia de que o dinheiro desvia-
SE GRITAR PEGA LADRÃO... NÃO FICA do retornará aos cofres públicos para ser investido em
UM MEU IRMÃO! melhorias de vida para a população. Sabemos, todavia,
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
que tais medidas, embora necessárias, são paliativas, ticas o governo dividiu o IBAMA a fim de facilitar as
pois outros casos de corrupção aparecerão na grande licenças ambientais para construção das hidroelétricas
mídia, uma vez que, como afirmamos, são próprios do de Belo Monte no Pará e de Jirau em Rondônia. Avan-
sistema. çou no processo de transformar a FUNASA, responsá-
vel direto pelo combate aos vetores que transmitem a
Dengue e demais doenças tropicais, em mera fundação
A DEMOCRACIA DOS RICOS É UMA pública dirigida por Organizações Sociais, o que sig-
FRAUDE nifica sua privatização. No mesmo sentido tenta deses-
Em nosso país existe um acordo entre a classe truturar a FUNAI que é responsável pela saúde indíge-
dominante que determina que políticos, banqueiros e na e que encontra nesses povos uma grande resistência
personalidades políticas ligadas ao grande capital e contra sua política de destruição ambiental, de benefi-
que ocupam espaços de poder não sejam punidos. Foi ciamento do agronegócio e de devastação da Amazô-
o que ocorreu com o banqueiro Daniel Dantas, liberta- nia com a aprovação de concessões florestais.
do pelo Presidente do STF Gilmar Mendes após sua Enquanto a corrupção corre a solta e os ricos
prisão na operação Satiagraha. ficam mais ricos, a dívida publica já abocanha 54% de
Por isso afirmamos que a democracia dos ricos é toda a riqueza produzida no país. Não podia dar em
uma fraude. A falsa democracia do poder econômico é outra, uma vez que o governo Lula paga os maiores
corrupta e antidemocrática. Com propinas enchem os juros do planeta aos banqueiros e grandes investido-
bolsos, as meias e as cuecas dos políticos para que res. Não temos dúvida que passada as eleições presi-
votem as leis que convêm aos seus interesses econômi- dências, se prepara um grande ajuste fiscal para poder
cos e para que retirem direitos dos trabalhadores, continuar pagando ao sistema financeiro. A ponta do
como fizeram com a reforma da Previdência. iceberg já pode ser visualizada com a aprovação no
Senado do PLP 549 que congela por 10 anos os salári-
os dos servidores federais, bem como seus planos de
LULA É O CARA... DA CLASSE
carreira, com um único fim: pagar a dívida. O gover-
DOMINANTE
no também se movimenta para reajustar as tarifas
“Essas são as paixões. Dê isso ao cidadão (casa, públicas (água, luz, telefone, transporte público, etc.)
carro e computador), que ele não vai fazer campa- cujo aumento ocorrido recentemente está longe de
nha, nem oposição ao governo, passeata, manifesta- satisfazer as exigências das empresas e multinacionais
ção” (Lula, em O Globo, 03/03/2010). que operam nessa área.
É um fato que o governo Lula detém altos índices
de aprovação. Isso se explica em primeiro lugar pelo
COM LICENÇA QUE EU VOU À LUTA
apoio descarado que tem das direções tradicionais do
movimento de massas como CUT, Força Sindical, Em 2009, Lula declarou que em tempos de crise
MST e UNE que de dentro do movimento sindical, econômica não é prudente os trabalhadores lutarem
estudantil, camponês e popular tem servido como cor- por reajuste salarial. Contrariando as 'ordens' do pre-
reia de transmissão da política oficial. Em segundo seu sidente inúmeras categorias foram à luta.
enorme prestigio se dá em decorrência da promoção de Segundo o IBGE em 2009, 92% das categorias
políticas focalizadas, de transferência de renda como o que fizeram greves e paralisações em suas campanhas
'Bolsa Família' e de programas como 'Minha Casa - salariais conseguiram reajuste real acima da inflação.
Minha Vida' financiada com dinheiro do FGTS e utili- Foram trabalhadores das mais distintas catego-
zada midiaticamente como se fosse uma benesse do rias como correios, bancários, metalúrgicos, quími-
governo federal. cos, rodoviários, servidores públicos, etc. que não se
Tanto o 'Bolsa Família', quanto o 'PAC' e o 'Minha intimidaram diante da repressão e tentativas por parte
Casa – Minha Vida', tem sido alvo de denuncias de cor- do governo, patrões e do poder judiciário de criminali-
rupção ou de pouca eficiência social. Os desvios de ver- zar suas lutas.
bas do Bolsa Família para apadrinhados dos partidos O ano de 2010 promete! Não vai ser somente
que dão sustentação ao governo está sendo investiga- um ano eleitoral basta ver as greves e mobilizações
do pelo Tribunal de Contas da União, que também que até o momento ocorreram.
investiga o superfaturamento de obras do PAC e a má
utilização do FGTS para financiar a casa própria, tanto Primeiro foram os trabalhadores rodoviários
é assim que o governo Lula tenta se livrar até do relati- que com uma poderosa greve pararam a região metro-
vo controle do Tribunal de Contas da União (TCU). politana de Belo Horizonte e arrancaram reajuste sala-
rial acima da inflação, seu exemplo foi seguido pelos
Para quebrar ou impedir a resistência às suas polí- rodoviários de Curitiba (PR) que além de reposição
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
salarial conseguiram evitar demissões. das, fragmentadas, sem nenhuma centralização e que
Ocorreram greves e mobilizações de professo- se bem organizadas podem superar as contradições da
res em pelo menos 11 Estados (PR, RN, MS, BA, AL, realidade atual.
PB, TO, RO, PE, PI) pela implantação do piso salarial Evidente que não vivemos ainda um ascenso
nacional e por Plano de Cargos. Destaque para a greve igual ao que vivem os trabalhadores de outros países
da educação de São Paulo cujo eixo foi por reajuste onde com tradicionais métodos de luta como a greve e
salarial de 34,3%, isonomia salarial, o fim da prova de mobilizações não só questionam os planos econômi-
'mérito' e da política de bonificação. cos, como inclusive derrubaram presidentes.
Também paralisaram suas atividades as polici- Nosso centro na atual conjuntura não é só apoiar e
as civis do PR e PI; a Guarda Municipal dos Estados do solidarizar-se com cada luta e mobilização, o central
PR e ES, médicos do RN e PE; Funcionários do deve ser impulsionar essas mobilizações, unificá-las
DETRAN do DF e os metalúrgicos da Phillips contra ao máximo pela base e a partir daí disputar a direção do
demissões. movimento com as centrais sindicais oficiais para der-
Parte desse processo começaram a se organizar as rotar o governo e sua política de fome e arrocho salari-
campanhas salariais dos trabalhadores dos Correios, al.
Bancários, Petroleiros, Rodoviários, Metroviários de
São Paulo, Metalúrgicos, Químicos, Alimentação, UM PROGRAMA PARA SAIR DA CRISE
além de servidores municipais de todo o país e também
servidores federais contra o PL 549 que congela salári- Para obter êxito nessa tarefa é necessário para
os da categoria por 10 anos. além das reivindicações econômicas e por melhores
condições de trabalho, a completa independência e
O ajuste que prepara o governo para fazer com liberdade de nosso movimento em relação ao Estado,
que os trabalhadores paguem a conta de uma nova cri- patrões e partidos políticos.
se econômica vai exigir do sindicalismo classista de
nosso país muita unidade para fazer o enfrentamento. Para defendermos um programa político que nos
possibilite ir avançando rumo a construção de uma
Por isso a necessidade da construção dessa nova sociedade socialista e democrática, tal deve ser desde
central unitária do classismo combativo para disputar sua origem a natureza do instrumento que estamos
a direção e a condução das lutas dos trabalhadores bra- construindo, a nova central não se abstém de fazer a dis-
sileiros. puta política pela direção da classe trabalhadora.
Estamos em um momento importante da constru- Referido programa deve ser materializado em
ção do novo, disputa e superação da velha direção. uma prática de atuação cotidiana onde nosso centro
Nesse sentido, somos conscientes de que estamos deve ser a mobilização permanente com a clareza de
construindo uma nova central com signo distinto do que o eixo que ordena nossa intervenção é a necessária
qual foi fundada a CUT que foi de ascenso e da cons- unidade de todos os que querem lutar para derrotar o
trução de oposições sindicais por todo o país, fator governo e os patrões.
determinante para derrubar os velhos pelegos da CGT Isso se dará em ações e na construção de campa-
encastelados em muitas de nossas entidades. nhas salariais unitárias. Somos contra as divisões das
Estamos em uma situação política transitória, campanhas salariais apenas pelo fato de “não dirigir-
onde nem os patrões, nem o governo conseguiram der- mos o sindicato”, é necessário disputar a direção, pro-
rotar os trabalhadores. curando unir os trabalhadores pela base e não dividi-
As dificuldades hoje existentes provem em pri- los.
meiro lugar do grande prestigio de Lula e do forte e É necessário que já no próximo período saíamos
burocrático controle das centrais oficiais sobre o con- na ofensiva exigindo dos patrões e do governo em cada
junto do movimento. uma de nossas lutas e mobilizações um conjunto de
Mas não somente isso, parte desse processo é a propostas para que não sejamos nós os trabalhadores
cooptação de dirigentes sindicais que ao somar-se ao que paguemos a conta da atual crise.
aparelho político e burocrático do estado brasileiro, Nesse sentido, devemos construir uma marcha
Ministério do Trabalho, Previdência, Superintendên- nacional, com atos nas capitais dos estados já na pri-
cias Regionais do Trabalho (SRT), Conselhos triparti- meira quinzena de agosto contra a retirada dos dire-
tes e fundos de pensão ajudam no operativo de desviar itos e conquistas dos trabalhadores e pelo arquiva-
e trair todas as lutas e mobilizações que vem protago- mento imediato do PL 549 que congela por 10 anos
nizando nossa classe. os salários dos servidores públicos.
Contudo, lutas existem, são dispersas, localiza-
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
Não estamos contra por princípio as negociações zada em suas entidades sindicais e será bem vinda, por
que são fundamentais nas campanhas salariais, greves ser parte da construção do futuro de nosso movimento,
e mobilizações para defender direitos e conquistas, e terá direito pleno por ser parte de nossa classe.
seria a negação da razão de existir do movimento sin- Com o movimento estudantil é diferente, sua loca-
dical, entretanto ela é secundária quando temos a clas- lização social transitória, sem definição e policlassista
se mobilizada e organizada para lutar e impor a neces- não pode diluir o conteúdo do instrumento que tanto
sária correlação de forças a nosso favor. necessitamos construir.
Dentro desse aspecto devemos ter dentro de nossa Não pode haver dúvida que a nova Central é da
Central uma forma de organização que permita a mais classe trabalhadora e organiza a classe trabalhadora
ampla democracia interna. Para tanto é necessário abo- como sujeito social fundamental das necessárias trans-
lir a metodologia dos vetos políticos pelo simples fato formações sociais que necessitamos.
de se pensar diferente.
É fundamental que construamos uma política de
tolerância e também de humildade porque muito ainda A CENTRAL SINDICAL E POPULAR QUE
será testado em nossa intervenção e disputa contra nos- ESTAMOS CONSTRUINDO É:
sos inimigos de classe. 1) CENTRAL SINDICAL E POPULAR DE
Será necessário abandonar velhas práticas que COMBATE: Para intervir nas lutas e mobilizações
desqualificam posições e idéias para daí exercitar a dos trabalhadores contra o governo e os patrões. Não
construção de um 'espírito' fraternal de debate e dis- estamos construindo um “novo aparelho”, a nova cen-
cussões que terminem valorizando os pontos de unida- tral que estamos construindo tem que disputar com as
de em vez das divergências, muitas das vezes de ordem centrais oficiais (CUT e Força Sindical) a direção de
mais táticas do que estratégicas. cada ação por menor que seja, unificando, pela base, as
campanhas salariais e as mobilizações que ocorram
Dito isso acreditamos ser espetacular o esforço não só para tirá-las do isolamento a que estão submeti-
político de poder unificar em uma mesma organização das, mas também para que sejam vitoriosas. Por isso
as diferentes correntes de pensamento, tendências, estamos contra as divisões de campanhas salariais,
agrupamentos e dirigentes independentes que atuam com as que ocorreram nos últimos anos no setor ban-
no movimento sindical brasileiro. cário e a criação de entidade artificiais como se tentou
É um gesto de grandeza que deve ser amplificado fundar na base de correios. Somente seremos uma cen-
porque requisitou de todos os sujeitos envolvidos a tral de massas se disputarmos a direção do movimento,
compreensão comum de que nossos verdadeiros e com propostas unitárias e concretas nos postulando
declarados inimigos são todos aqueles que oprimem como alternativa de direção ao sindicalismo governis-
os trabalhadores e que tentam lhes arrancar seu direito ta.
inalienável de viver com dignidade. Considerando, ainda, que o mundo do trabalho se
diversificou, englobando novas categorias de traba-
A ESTRUTURA DA NOVA CENTRAL lhadores, sobretudo no setor de serviços, setor este alta-
mente precarizado e, ademais, que houve um aumento
A estrutura da Central que estamos construído brutal do desemprego provocado pelas crises do capi-
deverá em primeiro lugar organizar de forma vertical a talismo e que estes últimos enxergaram no movimen-
classe trabalhadora e todas as suas organizações, opo- to popular uma forma possível de organização dessa
sições, minorias de entidade, BEM COMO O parcela da classe, o CONCLAT decide pela incorpora-
MOVIMENTO POPULAR CLASSISTA que no coti- ção das organizações classistas do movimento popular
diano organizam à luta e localizar de forma horizontal DE BASE DEFINIDA e que tenham lastro na classe
toda e qualquer forma de opressão e discriminação trabalhadora, dentro da estrutura diretiva da nova cen-
seja racial, sexual, étnica, etc. tral, com participação plena em suas instâncias de
Somos contrários que o movimento estudantil decisão e execução, de forma a construir políticas para
diga aos trabalhadores como organizarem suas lutas a área, bem como, ao conjunto da classe.
pela única razão que somos nós trabalhadores, classe 2) CENTRAL SINDICAL E POPULAR
social indispensável para o funcionamento da econo- CLASSISTA: Que defenda a unidades dos trabalha-
mia capitalista, os únicos capazes de parar a produção dores com os setores populares. Com os sem terra, sem
e colocar a economia para funcionar a serviço da teto, desempregados, e também com a juventude com-
ampla maioria do povo. bativa, única forma de fortalecer a luta com possibili-
A juventude trabalhadora não importando se sua dade efetiva de vitória no confronto com nossos inimi-
relação laboral é formal ou informal deve estar organi- gos. Porém, está unidade, para nós, tem um eixo claro:
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
a classe trabalhadora e suas entidades. porque é a única Nesse plano, respeitando todas as iniciativas que
classe capaz de paralisar o funcionamento da econo- ocorreram no último período, um dos aspectos centrais
mia; produção , circulação, serviços, golpeando no tem haver com a direção do movimento que estamos
coração do sistema capitalista. A única classe que construindo.
pode por para funcionar a economia sem necessidade O Congresso de uma central sindical é sua instân-
de patrões, a única classe que por essas razões pode ser cia máxima, é nele que os delegados eleitos na base das
a vanguarda na luta pela socialização dos meios de pro- entidades devem decidir no voto a direção da entidade
dução, medida indispensável para conquistar uma soci- que estamos construindo.
edade e uma economia que funcione a serviço da maio-
ria do povo. Nesse sentido propomos que o Conclat delibere
que a direção da nova central se organize por represen-
3) CENTRAL SINDICAL E POPULAR tação de entidade, a exemplo de como hoje nos organi-
DEMOCRÁTICA: Com respeito e tolerância às opi- zamos na Conlutas:
niões divergentes, critérios claros de participação polí-
tica, proporcionalidade qualificada em todas as instân- 1. Sindicatos com até 5 mil trabalhadores na
cias, comissões, grupos de trabalho, fóruns de discus- base; oposições sindicais que já participaram de elei-
são, etc. Que elimine mecanismos de dupla represen- ções e representarem até 5 mil trabalhadores; movi-
tação, localizando os setores ligados à luta contra a mentos populares com base definida ou com até 10 mil
opressão ou a discriminação dentro de suas entidade participantes - 1 voto;
de classe. 2. Sindicatos que tem entre 5 e 20 mil trabalhado-
4) CENTRAL SINDICAL E POPULAR COM res na base; oposições que representem entre 5 e 20 mil
AUTONOMIA: Cabe aos trabalhadores decidirem trabalhadores; e movimentos populares com base defi-
como se organizar para defender seus direitos. Cabe a nida e que tenham entre 10 e 40 mil participantes - 2
eles definir seus estatutos, seus dirigentes, seu progra- votos;
ma e medidas de luta. Cabe a eles financiar sua entida- 3. Sindicatos que tem entre 20 e 40 mil trabalha-
de, de forma autônoma independente. Por isso na nova dores na base; oposições que representem entre 20 e 40
organização que estamos construindo não pode haver mil trabalhadores; movimentos populares com base
nenhuma dependência do Estado, dos patrões e do definida e que tenham entre 40 e 80 mil participantes -
governo seja ele qual for. 3 votos;
5) CENTRAL SINDICAL E POPULAR COM 4. Sindicatos que tenham entre 40 e 80 mil traba-
INDEPENDÊNCIA POLÍTICA: É a própria classe lhadores na base; oposições que representam entre 40
trabalhadora, em suas instâncias que deve decidir e 80 mil trabalhadores; movimentos populares com
sobre todos os aspectos da vida da Nova Central e de base definida e que tenham entre 80 e 160 mil partici-
suas entidades. Não pode haver aparelhamento gover- pantes - 4 votos;
namental ou partidário de nossas entidades. 5. Sindicatos que tenham mais de 80 mil traba-
6) CENTRAL SINDICAL E POPULAR lhadores na base; oposições sindicais que representam
INTERNACIONALISTA: Que apóie as lutas de nos- mais de 80 mil trabalhadores; movimentos populares
sos irmãos, dos trabalhadores, camponeses, indígenas, com base definida e que tenham mais de 160 mil parti-
e setores populares que, no mundo, lutam contra a cipantes - 5 votos;
exploração capitalista e os governos de plantão. Nossa 6. Movimentos populares de caráter classista,
política como Central Sindical e Popular é de classes, com base definida e com real inserção junto à classe
no Brasil e no mundo. Rejeitamos o apoio e o atrela- trabalhadora, poderão participar da nova central.
mento dos trabalhadores aos governos que por mais
progressivos que se definam, e por mais atritos que
tenham com o imperialismo, continuam nos marcos do CONDIÇÕES DE PARTICIPAÇÃO
capitalismo garantindo o lucro das multinacionais e 1. Ter pedido formal de filiação a nova central;
dos patrões, Pelos direitos dos trabalhadores e dos 2. Quando a entidade ou movimento tiver direito
povos do continente, pela autonomia sindical, pelo a mais de um voto e houver disputa na instância da enti-
internacionalismo proletário. dade para definir quais serão os representantes na Coor-
denação Nacional, prevalecerá o critério da proporcio-
TODO PODER A BASE PARA DECIDIR nalidade direta e qualificada da representação da enti-
dade ou movimento popular.
A direção da nova central sindical deverá expres-
sar as experiências acumuladas no último período de 3. Será exigido para credenciamento da delega-
combate ao governo e a burocracia sindical. ção COM DIREITO A VOTO, de dada entidade e
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
movimento, que esteja em dia com suas obrigações se dará no CONCLAT que adotará a proporcionalida-
financeiras para com a Central. As entidades que não de direta e qualificada em sua composição.
estiverem em dia financeiramente com a secretaria, Será vetada qualquer mecanismo de cláusula de
tesouraria ou coordenação de finanças poderão cre- barreira.
denciar OBSERVADORES para as reuniões.
Com objetivo de se obter o máximo de unidade
4. Oposições sindicais que nunca participaram da política possível em suas resoluções a Coordenação
eleição de seu sindicato serão observadoras das reu- Nacional, ao menos em temas relevantes para a vida
niões da Coordenação Nacional. política e orgânica da central, adotará o critério de 2/3
5. Minorias de diretorias de sindicatos que não para aferir qualquer decisão.
sejam filiadas a nova central se enquadram na mesma Referidas resoluções com objetivo de não ferir a
norma das oposições sindicais. autonomia política das entidades que compõe a Coor-
6. Oposições sindicais e minorias de diretorias de denação Nacional não serão obrigatórias de cumpri-
diretorias de sindicatos que sejam filiados a nova cen- mento, sendo permitido o direito das minorias se
tral apenas terão direito a representação caso sejam par- expressarem publicamente sempre que explicitem que
te da representação oficial da entidade. exista posição oficial, decidida por maioria qualifica-
7. As entidades do movimento estudantil terão da.
direito apenas a observadores. O mesmo vale para gru-
pos de trabalho do movimento popular sem base defi- O PAPEL DA CONLUTAS E A NOVA
nida e para os movimentos de luta contra a opressão. CENTRAL
8. Correntes e Tendências sindicais terão direito Estamos convencidos de que vamos ao caminho
apenas a observadores. certo. Quando a Conlutas foi fundada seu principal
9. As entidades e movimentos podem enviar objetivo foi o de impulsionar a construção de uma
observadores à reunião da Coordenação Nacional, nova direção para os trabalhadores brasileiros.
além de sua representação formal. A realização do CONCLAT, a unificação de boa
REPRESENTAÇÃO DE CADA ENTIDADE: parte dos movimentos que de forma conseqüente
Cada entidade e movimento que tenha assento na fazem oposição ao governo Lula e identificam nos
Coordenação Nacional da Nova Central reúnem-se patrões seus inimigos de classe já é uma grande vitó-
antes da Coordenação, definindo o (s) seus (s) repre- ria.
sentante (s) que serão enviados à reunião. Entretanto, na central que agora somamos nos-
Será enviado ATA da entidade informando com sas forças políticas não podem ocorrer situações que
antecedência de 72 horas a Executiva Nacional da coloquem por terra tanto empenho e dedicação.
nova Central o nome dos representantes e suplentes Nunca é demais alertar que na Conlutas tivemos
eleitos. Os representantes eleitos para a Coordenação vários problemas acerca de como compreender e quais
Nacional não terão mandato fixo, podendo, se assim o caminhos trilhar na construção dessa nova ferramenta.
desejar sua entidade e movimento, estabelecer rodízio COMBATE AO HEGEMONISMO E AO
de participação de sua representação. APARELHAMENTO PARTIDÁRIO
Com objetivo de se obter o máximo de unidade Entendemos a constituição de uma Central como
política possível em suas resoluções a Coordenação um organismo de Frente Única, onde a partir da com-
Nacional, ao menos em temas relevantes para a vida preensão comum das necessidades de nossa classe e
política e orgânica da central, adotará o critério de 2/3 das tarefas colocadas, o direito a divergir, a pensar dife-
para aferir qualquer decisão. rente, não pode ser confundido como elemento destru-
Referidas resoluções com objetivo de não ferir a tivo, mas compreendido e respeitado.
autonomia política das entidades que compõe a Coor- Estamos construindo uma nova central, não um
denação Nacional não serão obrigatórias de cumpri- PARTIDO político.
mento, sendo permitido o direito das minorias se
expressarem publicamente sempre que explicitem que Na nova central terá acesso e será muito bem rece-
exista posição oficial. bido todos os trabalhadores (as) que queiram organizar
a luta contra o governo e os patrões. Serão aceitos
todos (as) trabalhadores (as) que queiram lutar contra
EXECUTIVA NACIONAL ELEITA EM o arrocho salarial, as péssimas condições de trabalho e
CONGRESSO por melhores condições de vida. NÃO É PRECISO
A eleição da Executiva Nacional da nova central SER SOCIALISTA E REVOLUCIONÁRIO
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
PARA PERTENCER A NOVA CENTRAL. dos fatos consumados, da chantagem, das manobras,
TODAVIA, ENVIDAREMOS ESFORÇOS PARA mentiras e do vale-tudo para impor posições.
QUE TODOS SEJAM CONVENCIDOS DA A repetição desse método levaria a uma situação
NECESSIDADE DE CONSTRUÇÃO DA limite no interior de nosso movimento, levaria inclusi-
SOCIEDADE SOCIALISTA. Se essa fosse a pré- ve a explosão de um processo duramente construído e
condição estaríamos construindo outra ferramenta. conspiraria contra a construção de uma nova direção
Assim como combatemos no interior da Conlutas para nossa classe.
uma concepção aparatista, de pensamento monolítico CONTRA UMA CENTRAL DENTRO DE
encabeçado por sua direção majoritária, TODOS deve- OUTRA CENTRAL PELA DISSOLUÇÃO DA
mos combater essa manifestação na nova central. CONLUTAS
O instrumento que estamos construindo deve Nesse sentido a direção majoritária da Conlutas
estar a serviço da luta dos trabalhadores (as) e de suas tem uma grande responsabilidade política. Dissolver a
entidades, não da tática privilegiada da construção des- Conlutas como entidade na nova central e colocar tudo
se ou daquele PARTIDO político. o que juridicamente e contábil já foi construido a servi-
Não somos contra que os PARTIDOS, através de ço do fortalecimento desse novo projeto.
seus militantes, tentem constituir maioria política no Feito isso, será o mais importante gesto de que se
interior da nova central, é licito que isso inclusive ocor- aprendeu com os erros e que juntos estamos dispostos
ra. O que somos contrários é que os PARTIDOS por a seguir em frente.
serem maioria, muitas das vezes circunstancial, trans-
formem a central em uma colateral de seus projetos. Não dissolver a Conlutas e estabelecer prazos ina-
ceitáveis de transições jurídicas e contábeis, sem
O que dizer que os dirigentes liberados e que deve- garantias de que não seremos reféns novamente desse
riam estar a serviço do conjunto da central, estivessem ou daquele PARTIDO joga contra o projeto que todos
a serviço somente de um PARTIDO? Que dizer que estamos construindo, alimenta a desconfiança em vez
todos os funcionários da nova central sejam somente de soldar a unidade.
de um PARTIDO e não da construção e fortalecimento
da nova central? Que as viagens, muitas vezes neces- É parte da tradição do movimento sindical e popu-
sárias para apoiar uma eleição sindical, sejam utiliza- lar brasileiro a constituição e formação de correntes e
das como mecanismo de construção partidária. tendências, nós mesmos da UNIDOS somos uma
delas, e respeitamos quem assim decide se organizar.
Essa concepção que confunde PARTIDO e
MOVIMENTO esteve presente desde o nascimento da Não aceitaremos a usurpação do projeto nem mes-
Conlutas, teve sua expressão em sua direção majoritá- mo do nome da entidade que todos ajudamos politica-
ria que muitas das vezes teve como centro de sua polí- mente e financeiramente a construir.
tica aniquilar qualquer vestígio de oposição, com os Acreditamos que o sentimento unitário de cons-
tradicionais rolos compressores, patrolas, etc. expres- trução da nova central como instrumento para unificar
sões e métodos tão utilizadas em nosso movimento nossas lutas contra o governo e os patrões irá prevale-
para materializar seu projeto de construção política. cer. UNIDOS SOMOS FORTES!
Não podemos repetir na nova central a política
Assinam essa tese: cal; João Rosa da Silva - Diretor Sindical; José Diretor Sindical; Vitor Mendes de Morais -
São Paulo: Sindicato dos Quimicos de Carlos dos Santos - Diretor Sindical; José Nata- Diretor Sindical; Wellington Luiz Cabral -
São José e Região: Alldwilliam Cortes Muniz lino Landin - Diretor Sindical; Karina Carla de Secretaria Geral; Claudio Conde Fernandes –
- Diretor Sindical; Amir Paulo Ferreira – Olt; Souza Oliveira - Diretor Sindical; Leandro Uri- Sintajud.
Ana Maria Louzada Amorim - Diretor Sindi- el Ban – Jurídico; Lidia Louzada Cardoso - Sindicato da Alimentação De São José E
cal; Anderson Alexandre Pereira - Diretor Sin- Diretor Sindical; Luis Carlos Ribeiro - Diretor Região: Emerson A. de Lima; José A. de Sique-
dical; Arissemilson Tomas dos Santos - Diretor Sindical; Luiz Eduardo Sanches - Relações Sin- ira; Aguinaldo R. da Silva; Roseli dos Santos
Sindical; Claudinei Lunardelli – Formação; dicais; Luiz Henrique de Barros - Diretor Sin- Teodoro; Luciano Antonio da Silva; Antonio F.
Claudio Norberto M dos Santos - Diretor Sindi- dical; Marcos Valerio dos Santos - Diretor Sin- Cavalcanti; Edson Tadeu de Lima; Iracy José
cal; Cleonice de Jesus - Diretor Sindical; Davi dical; Mauro Amarair Borges - Diretor Sindi- da Silva; José Carlos da Rosa; Marcos Antonio
Paulo de Souza Junior – Imprensa; Eder José da cal; Moacir Francisco Neves - Diretor Sindical; Siqueira; Patricia de Cássia Soares Ferreira;
Costa - Diretor Sindical; Eliseu Candido de Moisés Alves de Macedo – Saúde; Nelson José Romir Santos; Zenildo Silva Nogueira; Aldices
Souza - Diretor Sindical; Emerson Quintiliano dos Santos - Diretor Sindical; Orlando de Bueno de Camargo; Cristina Aquino de Olivei-
de Souza - Diretor Sindical; Fabio José Braga – Siqueira Martins - Diretor Sindical; Paulo Lou- ra; Gilberto A. dos S. Lopes; José Alfredo
Administração; Fabricio Carlos da Rocha - renço - Diretor Sindical; Paulo Sergio de Olive- Domingos; Julio D. dos S. Ramalho; Francisco
Diretor Sindical; Fausto Santos de Jesus Filho - ira - Diretor Sindical; Sebastião Rubens de de Assis Ezau dos Santos; Reginaldo de Medei-
Diretor Sindical; Fernanda Cristina Massud - Moraes - Diretor Sindical; Sergio Martins da ros; Valdemir Chaves Almeida; Alcides Morei-
Diretor Sindical; Helio de Lima - Diretor Sindi- Silva - Diretor Sindical; Sergio Roberto da Cos- ra; Decio A. de Oliveira; Henrique Jose da Sil-
cal; Jeferson Nogueira Pereira - Diretor Sindi- ta - Diretor Sindical; Silvio Antonio Pereira - va; José R. Barbosa Junior; Lucinao André de
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
Moura; Marcos Antonio Valva; Ricardo V. de Subsede de São João da Boa Vista: Fre- Cedae Santana 235 – Direção Ataserj).
Melo. derico José Cerizza. Oposição Bancária: Maria Eloisa C. L.
Oposição Unidos Pra Lutar – Metroviá- Sinpeem: Gicélia Santos (diretoria); Eri- Mendonça.
rios: Ciro Moraes; Alexandre Roldan; Luiz valdo Martins; José Carlos (jc); Adriana P. Cos- Oposição Sintrasef: Juca - Jurgleide Cas-
Fernando; Vania Maria; Ronaldo Campos; ta; Ivair Venceslau; Selma Maria; Edson Abreu tro (direção Nacional da Condsef e Presidente
Antonio Fogaça; Alex Fernandes. Bonfim; Rosilene Franco; Lindiane Vivivane; da Assincra); João (domc Condsef – Mfa); Jadi-
Unidos Pra Lutar – Guarulhos: Verônica Cláudio Romualdo; Paula Oliveira (funcioná- el Messias (Ministério da Fazenda).
Eloi de Freitas - Estudante, Militante Lgbtt; ria de Escola). Sepe: Valdenise Pinheiro (coordenadora -
Sara Veras Cardozo - Aux. de Enfermagem; MMSC: Antonia Barros; Claudia Barreto; Sepe Niteroi); Edson Amaro (coordenador -
Sidinei Roberto Nobre Junior (cerveja) – Servi- Alice, Rose. Sepe São Gonçalo); Rosilene Gonçalves (coor-
dor Municipal Guarulhos; José Carlos Januário ATEEISP: Samanta; Marcia Ramalho; denadora - Sepe Rio Bonito).
(toca Preta) - Servidor Municipal Guarulhos; Ivanilde Santos; Carla Saraiva; Geilza Santos; Sindicato dos Municipários de Itaocara:
Cintia Paulino Januário – Tabalhadora Domés- Ariane do Carmo; Adalgisa Lopes; Liliane Sil- Gelsimar Gonzaga.
tica; José Admilson dos Santos Soares – Taba- va; Mariulza Rodrigues; Elizabeth Ortega;
lhador Ect; Adriano Apolinário Silva – Meta- Sindicato dos Municipários de Bom
Naelza Mariole; Carla Karoline. Jesus: Rogério Araújo de Lima.
lúrgico; Juliana Fernandes Matos – Estudante; Estudantes: Angélica Fontalva; Nathalia
Gildásio Pereira Lisboa – Servidor Municipal Saúde Estadual: Iris Maria Lopes dos San-
S. Assis; Valquiria Fontalva (univ. Mackenzie). tos.
Guarulhos; Paulo César Santos – Servidor
Municipal Guarulhos; Edson Pereira - Servi- São Carlos: Julieta Lui – Apeoesp. Oposição Unidos Pra Lutar em Comer-
dor Municipal Guarulhos; Julio Sergio Pereira Oposição Quimica: Edgar; José Antonio; ciários de Nova Iguaçu: Marcia Chaves; José
- Servidor Municipal Guarulhos; Natalia Ferre- Sonia; Cristiane; Eliana; Gilmar; Francisco; Sabino; Rosane Barros; Welington da Silva.
ira Almeida – Servidora Estadual/advogada; Fabiano; Marcelo; Carlos Henrique; Silvio; Pará: Sindicato dos Trabalhadores no
Natanael Jacintho – Servidor Proguaru; Clau- Eldoaldo; Ranu; Lucia; Porto; Pedro; Ginaldo; Serviço Público Federal do Estado do Pará –
dio Pereira Souza – Trabalhador Aposentado Cleide; Haroldo; Laercio. Sintsep-pa: Diretoria Executiva: Cedício de
Ect; Alexandre Scridelli Oliveira – Operador Jacarei: Suzete Chaffin – Apeoesp; Elza Vasconcellos Monteiro; Genival Rodrigues do
Telemarketing; Jhenifer Couraceira de Olveira Vieira – Presidene do Sindicato dos Servidores Nascimento; Maria da Consolação Rodrigues;
– Desempregada (cidade De Roseira); David Municipais; Marcy da Silva – Direção do Sin- Rozemburgo Ferreira de Souza; Neide Rocha
Reichter Junior – Ambulante; Francisco Eve- dicato dos Servidores Municipais. Cunha Solimões; Eduardo Magno Teixeira;
rardo dos Santos – Desempregado; Mariza São José dos Campos: Tony Marmo – Pro- Francisca Campos de Queiros; Emanuel Vitelli
Rodrigues Lopes Costa – Desempregada; Alex- fessor. Lima; Raimundo Gilberto Marinho; Ivo Pontes
sandro de Castro Costa – Servidor Municipal Paraibuna: Raimundo Nonato Rodrigues Pimentel; Alimar Barreiros; Walcicléa Purifi-
Guarulhos; Hamilton Marmo Peres – Servidor Filho – Servidor Municipal; Antonio Apareci- cação Cruz; Regina Maria Martins Brito; Agui-
Municipal Guarulhos; Wilson Cunha – Servi- do Bernardo – Professor Estadual. naldo Barbosa da Silva; Tereza Helena Barbosa
dor Municipal Guarulhos; Francisco de Olivei- Barros.
ra Junior( Ramone)- Lutador Social; Aninha – Aparecida: Demétrius Vicente Marcelino
– Comerciário; Jaime da Silva – Oposição Ser- Suplentes da Direção Executiva: Miguel
MTST; Rogério Gomes Moreira – Professor Ângelo; Benilda Cardoso; Luiz Paiva; Antonio
Estadual e Municipal de S. Paulo. vidores Municipais.
Municipais de Santo André: Miriam Ger- Castro; Regina Corrêa; Alfredo de Figueiredo
Apeoesp: Subsede Lapa: Silvana Assis Correa; Alfredo Lima da Costa; Paulo Moacir
(diretoria); Marcos Soares (diretoria); Evaldo da Hugenberger; Liliane Sabrin de Almeida
Leitao; José Carlos Taveira; Ana Lucia do Nas- Nonato.
Assis; Alexandre Pinheiro; Gilmar Rocha; Diretorias Regionais: Sul do Pará: Alair
Verônica Silva; Jorge Arlen; Elaine, Demétri- cimento Silva; Sergio Leopholdo Marshall.
Rio de Janeiro: Diretoria Executiva do Cardoso; Germano Queiroz.
os; Carla Janaína; Diva Souza; Vitória Keiko;
Maristela; Maria Margarete (margô); Aldemir Sintuff: Pedro Rosa; Cristina Carvalho ; Heloi- Sudeste do Pará: Francisco Pereira da Sil-
Ribeiro; Danila Maria Nascimento; Maria za Helena; Izilda Veiga; Ligia Regina ; Leila va; Wilson Batista Simões.
Gorete; Riviane Rocha; Amanda Ferreira; Cle- Regina Correa; Anselmo Alves; Edmilson ; Transamazônica: Marcos Rubens Filho;
verson Rodrigo dos Santos; Andre Luis Milani; Vera Regina ; Nivalda Barros; Sandra Guizan ; José dos Santos.
Marcos Lemos; Maria Inês Tamioso; Josué Cor- Eliane Lemos ; Zeny Silva; Isabel Firmino ; Baixo-amazonas: Francisco da Silva Bri-
rea; Walter Baltazar; Lucélia Pereira (funcioná- Neusa Maria ; Arenilda Santana; Valcyara Xavi- to; Benedito Pantoja.
ria de Escola); Rafael Vieira (funcionário de er; Ivonete da Conceição; Milse ; André Pales- Tapajós: Rubem Barbosa; Luiz Quintero.
Escola); Joanes da Silva; Jacqueline Camara. tina ; Paulo Cesar ; Zé Maria ; Luis Andrade ;
Nereu Francisco. Ilhas: Orlando da Cruz Almeida; Nivaldo
Subsede Santo Amaro: Severino Honora- de Lima.
to (diretoria); Marlene, Keno; Eni Gomes, Pau- Coordenação da Delegados de Base de
Aposentados: Ruth Helena ; Vanir Rodrigues ; Estrada: Antonio Maria Matos de Souza;
lo Moreno; Valdecy, João Batista; Domingos Walmir Brito.
Valério; Regina Pícolo; Raimundo Teixeira; Wilson Salles ; Pimentel ; Stela de Oliveira ;
Valmira; Willimar; Maria Helena (Leninha); Teresa Martins. Conselho Fiscal: Titulares: Marlene Antô-
Valdeci; Josécarlos(JC); Valmelírio; Oswald Delegados de Base Hospital: Denise Arau- nia dos Santos; Maria do Carmo; Raimundo
Andrade; Joaquim Paz; Tadeu Medeiros; Alge- jo; Vera Martins ; Walquiria ; Carla Cristina ; Nonato Cardoso. Suplentes: Flávio Pantoja;
nor; Antonio José; Márcia (funcionária de Esco- Beverly Jardim; Angela Maria Anchieta; Maria Bento Ferreira; Maria dos Santos.
la); Gilson; Veridiana; Marilene; Adecir; Das Graças Alcantara; Elisiário José. Servidores de Base do Funcionalismo
Agnaldo; André; Ana Maria; Celso; Chico; Militantes de Base: Carlos Abreu; Maria Federal: Gerson da Silva Lima(Sudam); Edna
Eder; Helga; Katia; Laedson; Leno; Oséas; Cristina; Ricardo; Marilda; Ligia Correa. de Carvalho Martins(ceplac); Paulo Emmanoel
Vanessa. da Costa Moraes(ceplac); Francisco Nazareno
Conselho Fiscal: Cotrim; João Luis; Mar- Coelho Pantoja(funasa); Orlandina Lopes Coe-
Subsede São Bernardo Do Campo: Sid- ledete; Regina Celia.
nei Reinaldo. lho(sfa); Edilson Souza da Silva(marinha);
Oposição Unidos Pra Lutar no Sintsama Lea Pegado (agu).
Subsede de Avaré: Anita Marson (direto- (cedae/inea): Agenor (direção Ataserj) ; Alex
ria); Abigail Resende; Helio Marson; André Sindicato dos Trabalhadores Rodoviári-
«papagaio» (cipa Cedae Ladeira de São Bento os de Ananindeua, Marituba, Benevides e
Barbosa; Osmar Marcelino de Freitas. – Direção Ataserj); Leandro Zangado (cedae Santa Izabel – Pará - Sintram: Direção Exe-
Subsede S. José do Rio Preto: Marineila Gdo) ; Marquito (cipa Cedae Santana 235 – cutiva: Márcio Lima Amaral; Genivaldo Fon-
Marques. Direção Ataserj); Rogério Morfeu (cipa Cedae seca; José Iran Nascimento; Reginaldo do
Subsede de Campinas: Eliete Silveira. Guandu – Direção Ataserj); Ricardinho (cedae Socorro Cordeiro; Delson Lima Ferreira (Vio-
Subsede de Rio Claro: Daniel Mittmann. Pedrugulho); Ataide (cipa Cedae Ladeira de la); Huellen Ferreira (Bebezão); Marcelo de
São Bento – Direção Ataserj); Akihito (cipa Alencar Lourinho; Helton Diogenes Souza (ca-
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
chorrinho); Luiz Fernando Maria; Marcio Anto- mento; Alexandre Brito; Valderlane Lobato; Amapá:direção do Sindesaúde: Lucival-
nio Ribeiro. Suplentes da Direção: Humberto Ronei de Moraes; Clébio Carrias; Antonia Bes- do Régio – Presidente; Gregória Santana – Dire-
Augusto Silva; Diocélio Gonçalves Trindade; sa; Charlene Perdigão. tora de Finanças; Dorinaldo Malafaia – diretor
Fernando da Silva Gatinho; Sergio de Jesus Oposição Unidos Pra Lutar no Sind- de Comunicação; Maria Leia de Araújo Nunes
Clemente; Toni Peter de Souza Mendes; Clei- Saúde: Marcus Benedito; Paulo Sergio; Willi- – Diretora de Assuntos Jurídicos.
ton do Rego Viana; Paulo Antonio Monteiro; am Borges. Conselho Fiscal Sindesaúde: Vanusa de
Marinilde Paixão de Lima. Oposição Unidos Pra Lutar Bancária: Jesus; Elzo Neto ; Richardson Souza.
Conselho Fiscas: Titulares: Aprigio Juni- Claudemir Teixeira (delegado Sindical CEF); Oposição Unidos Pra Lutar na Educa-
or; Mauro Nazareno Silva; Evaldo da Costa Edivaldo – Dida (caixa Economica Federal). ção – Sinsepeap: Raudsson Senna.
Laranjeira. Suplentes: Josiel Fernandes Costa; Minoria do Sindicato dos Guardas Muni- Oposição Bancária: Joana Lustosa – Dele-
João Maria Costa Brás; José Vicente Coutinho cipais de Castanhal: Izael Gama. gada Sindical Banco do Brasil.
Mendes.
Oposição Vigilantes: Joel da Cruz; Iano Minas Gerais: Minoria da Direção Do
Delegados Sindicais de Base: Edmilson Serrão. Sitraemg: Luiz Fernando Gomes.
de Castro Neves (del. Sindical Águas Lindas);
Gean Wevkson (del. Sindical Vialoc); Marcelo Amazonas: Sindicato dos Trabalhadores Oposição Unidos Pra Lutar Sindados:
Augusto Da Costa (del. Sindical Vialoc). dos Correios – Sintect: Direção: Afonso Rufi- Rubens Teixeira.
no; Luiz Ribeiro de Almeida; André da Silva Oposição Unidos Pra Lutar em Correi-
Sindicato dos Trabalhadores da Ufpa – Almeida; João Fonseca Tavares; Carlos Clei
Sintufpa/sindtifes: João Santiago (coordena- os: Luciano. Assincra:
Tomás da Silva; Evandro Gomes de Souza; Sindsep: Arnaldo José Junior.
ção Geral); Katia Rozangela (coordenadora de Mário Jorge Ferreira Tananta; Carlos José da
Saúde do Trabalhador); Afonso Modesto (coor- Silva Bandeira; Jucimara Rodrigues Dourado; Distrito Federal: Angelo Balbino (oposi-
denador de Política Sindical); Sergio Lima – Claudionor Maquiné de Carvalho; Fabio da ção Unidos Pra Lutar – Sinpro-DF); Osmar
Serginho (coordenador de Imprensa); Ivanilde Silva Chaves; Jandreson de Pinho R. Junior; Tonini (oposição Unidos Pra Lutar - Sinpro-
Pinheiro (coordenação de Aposentados); Adol- Elson de Souza Albuquerque; Albério Vieira da DF).
fo Pereira (coordenador de Aposentsdos); Rui- Silva; Melquides Goes dos Santos; Edmilson Espirito Santo: Verônica Grillo (presidet-
silviera (suplente da Coordenação); Elenice de Queiroz Branco; Genival de Souza Pimen- ne do Sindsmuv); Waleska Timoteo (vice-
Lisboa (suplente da Coordenação); Celso tel; Marcio de Amorim Moura; Delcides de Oli- presidente do Sindsmuv); Uerley Waldomiro
Ricardo (suplente de Coordenação). veira Alves; Gilberto Souza de Almeida. (oposição Unidos Pra Lutar – Correios – ES);
Oposição Unidos Pra Lutar Na Educa- Oposição de Metalúrgicos: Daniel Silva Tiago Peixoto (associação dos Fiscais Da Serra
ção – Sintepp: Belém: Silvia Letícia; Andréa Batista (cipa Salcomp); Ademir Miranda (cipa – ES).
Solimões; André Tavares; Carlos Moreira; Miri- Salcomp); Airton Ramos (cipa Salcomp); Dani- Rio Grande Do Sul: Bruno Camilo Mar-
am Sodré; Carlos Alberto; Yara Yonara; Creusa el das Neves (cipa Salcomp); Duda (cipa Lg); chi Pereira - Delegado Sindical - Municipários
Maciel; Lucia Rosa; Alcidema Coelho; Fátima; Roberval (cipa Lg); Gonzaga (cipa Honda); Cachoeirinha; Demétrio Maia - 3º Secretário
Nazaré Couto; Ronaldo – Portel. Mauro (cipa Panasonic); Amauri (cipa Nissin Simpa Gestão 2006-2008 Municipário POA;
Marabá: André Vinicius; Joyce Rabelo; Braik); Max (cipa Semp Toshiba); Noilson (ci- Alfredo Vaz - Delegado Sindical Banrisul;
José Alberto Brito; Edivaldo Viana (coord. do pa Yamaha); Ivani (cipa Siemins). Roberto Seitenfus – Coord. Mov. Desobedeça
Sintepp Subsede-marabá); Arnaldo Santos Fer- Oposição Sinteam: Marcos Queiroz (esc. Glbt POA/RS Presidente D. A. Direito Unirit-
reira (coord. Do Sintepp Subsede-marabá). Gm3/coroado); Carmem Pacheco (esc. Pache- ter Canoas; Anna Miragem - Bancária
Santarém: Edilane Cabral; Helena Muniz; co Gm3/coroado). POA/RS.
Valter Ferreira; Marcos André; Edna do Nasci-
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
ALBA – Alternativa Bolivariana para as Américas e a Sem terra, Sem teto, trabalhadores em greve e demais
criação do Banco do Sul, integram um conjunto de ini- manifestações sociais, tem evidenciado que a direita
ciativas que visam estabelecer o confronto com os reacionária continua mais viva do que nunca e que par-
velhos mecanismos criados sob a tutela dos Estados te dela já escolheu como porta voz o projeto tuca-
Unidos como o BID e a OEA. no/demos, representado por Serra e Aécio Neves para
as próximas eleições. A outra parte encastelada no
governo Lula está construindo uma alternativa perso-
Defendemos: nificada por Dilma Roussef a “mãe do PAC”. Setores
Em Defesa da Autodeterminação dos povos. do governo como PSB, PDT e PC do B, tentam articu-
Todo apoio à luta do Povo Palestino; Em defesa lar outra via encabeçada por Ciro Gomes, mesmo
de um Estado Palestino, laico, democrático e socialis- sabendo que este é um caminho quase improvável.
ta; Buscam condições para poder melhor barganhar
melhores posições no pretenso próximo governo.
Fora Israel dos territórios palestinos;
Fim do embargo econômico a Cuba
b) COMBATER O NEOLIBERALISMO DA
Fora às tropas brasileiras e americanas do Haiti;
VELHA DIREITA
Total solidariedade ao povo haitiano, através da
12. A gestão tucana nos principais estados: São
ajuda às organizações dos trabalhadores;
Paulo, Minas, Rio Grande do Sul e Alagoas; é marcada
Fora os EUA do Iraque e do Afeganistão; pelo aprofundamento das políticas neoliberais. Priva-
Fora o imperialismo do continente africano; tizações, fisiologismo, corrupção e ampliação dos ata-
Abaixo o Plano Colômbia e a intervenção ianque ques contra a classe trabalhadora. São marcas das polí-
na América Latina; ticas da direita tradicional, encabeçada pelo tucano Ser-
ra e disputado também pelo tucanato mineiro na figura
Total solidariedade ao povo haitiano; do governador Aécio Neves. Em São Paulo, a política
de ataques contra o magistério provocou milhares de
c) GOVERNO LULA: CORRUPÇÃO E demissões e de precarizações, além do congelamento
MUITOS BILHÕES DE REAIS PARA OS salarial, representado pela política meritocrática,
BANQUEIROS superlotação de salas, falta de materiais pedagógicos
básicos e imposição de currículo e metodologias neo-
8. O governo Lula destinou 180 bilhões de reais liberais e arrocho salarial. Nos últimos de doze anos,
de recursos públicos, para socorrer os banqueiros. os professores acumularam uma perda salarial de mais
Para as montadoras de veículos destinou mais de 4 de 34%. Como reação todos os trabalhadores da edu-
bilhões de reais. Política também seguida por Serra em cação de São Paulo decretaram uma greve forte,
São Paulo, que deu 4 bilhões de reais para as fábricas parando o centro de São Paulo e realizando passeatas
de automóveis. Recursos públicos têm sido utilizados com mais de 50 mil trabalhadores em educação,
pelas empresas para demitir trabalhadores. Na educa- demonstrando uma grande disposição de luta. É bom
ção só nos últimos cinco anos o governo desviou R$ lembrar que estas política, são aplicadas com grande
32,9 bilhões de reais, o que equivale a um ano do orça- capacidade também nos demais Estados governados
mento do Ministério da Educação, desviados para o pelo tucanato. A política meritocrática, é recomendada
pagamento dos juros e encargos da dívida pública. pelo MEC de Fernando Haddad e pelo governo Lula,
9. No campo aumenta a concentração fundiária, através do PDE – Plano de Desenvolvimento da Edu-
enquanto milhões de famílias continuam sem ter direi- cação.
to a um pedaço de terra de onde possam tirar o seu sus- 13. No campo, os vários conflitos de terras nas
tento. A reforma agrária ficou apenas na promessa ao diversas regiões do Estado, principalmente no Pontal
mesmo tempo em que Lula chama os usineiros de do Paranapanema, mostra a enorme concentração agrá-
“companheiros” e não toma medidas contra a devasta- ria de São Paulo e a necessidade de uma reforma agrá-
ção da Amazônia por parte do agronegócio. ria urgente, enfrentando e derrotando o latifúndio na
10 – Na política externa, mantém as tropas brasi- figura dos ruralistas das diversas regiões. Nesse cená-
leiras no Haiti, gastando milhões de reais, que poderi- rio, crescem os casos de trabalho escravo e semi-
am ser aplicados na doação de alimentos e remédios escravo, nos grandes latifúndios monocultores da cana
para atenuar os efeitos da catástrofe provocada pelo de açúcar, produtores de álcool combustível, onde
maior desastre natural da história provocado pelo ter- todos os anos dezenas de bóias frias perdem a vida, víti-
remoto do início desse ano. mas da super exploração do trabalho e da total falta de
11. A criminalização dos movimentos sociais: condições habitacionais e trabalhistas. Situação em
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
que o governo tucano faz vistas grossas. imprensa proclamem que a crise já passou. A ofensiva
14. Nos centros urbanos a falta de moradia e a vio- sobre os movimentos sociais, tratando-os como uma
lência expressam a tragédia em que se constituiu a polí- questão de polícia -, com amparo da justiça e apoiada
tica estatal dos diversos governos nas últimas décadas, pela imprensa continua avançando.
onde a juventude não tem perspectivas de emprego, 19. È verdade também que começam a pipocar
sendo alvo do assédio do crime organizado. Somente a mobilizações: greves (bancários, correios, professo-
ruptura com este modelo de sociedade será possível res, rodoviários), rebelião popular (Paraisópolis, trens
superar essa situação em que nos encontramos. no Rio de Janeiro). Daí é imperativo para nós a cons-
15. Essa tragédia vem sendo agravada com a rigo- trução de um organismo que possa orientar e dirigir as
rosidade climática, provocada pelo aumento do aque- lutas no próximo período. A nova central deve tirar o
cimento global, evidenciado este ano no hemisfério caráter de movimentações isoladas e voluntariosas
sul pelas mais elevadas temperaturas da história, pro- para mobilizações organizadas, de massas que inaugu-
vocando desequilíbrios de diversas ordens, sendo a re uma nova era de conquistas.
mais visível representada pelas precipitações torrenci- TODOS AO CONGRESSO DE
ais que provocam alagamentos das várzeas e desaba- UNIFICAÇÃO DOS LUTADORES EM JUNHO
mento de encostas, principalmente no Sudeste e Sul do DE 2010
Brasil. Esse processo é agravado pelo descaso dos 20. A defesa da construção de uma nova central
governos com as políticas públicas: moradia, transpor- sindical e popular. Essa é a nossa posição (TLS), do
te, saneamento básico, coleta dos resíduos, saúde, PSOL, da INTERSINDICAL, setores da CONLUTAS
entre outras. A falta de política habitacional permitiu a (UNIDOS). São os trabalhadores quem devem dirigir
ocupação indiscriminada das margens dos rios e ria- suas próprias organizações; os demais movimentos
chos e das áreas de risco das encostas dos morros e são mais amplos, contemplam trabalhadores, e não-
montanhas. O resultado são as sucessivas tragédias. trabalhadores, extrapolam o corte de classe, e no caso
Um verdadeiro crime cometido contra milhões de tra- dos estudantes trata-se de um momento da vida e não
balhadores em todas as regiões do país. do seu ser, uma vez que vivem um processo de transi-
Conjuntura Desafiadora exige Unificação dos ção e que deixarão de ser estudantes para tornarem-se
setores Combativos numa Central Para Unificar as trabalhadores. Nesse sentido, a participação do movi-
Lutas da Classe Trabalhadora! mento estudantil nas instâncias de direção da nova cen-
16. A grande imprensa e a burguesia estão anteci- tral em todos os níveis, não deve desequilibrar a repre-
pando o calendário eleitoral de 2010 com dois objeti- sentatividade dos segmentos diretos da classe: movi-
vos: desviar a atenção das massas em relação à crise mento sindical e popular, devendo ser objeto de deci-
econômica, o desemprego e o arrocho salarial e garan- são consensual do Congresso, sob pena de perder a
tir a vitória dos seus candidatos de um jeito ou de legitimidade política.
outro. A bipolarização apresentada por ela cumpre o 21. A reorganização dos lutadores tem sido o gran-
papel de esconder o setor que faz a crítica ao sistema de desafio dos que resistem a onda de ataques do neoli-
como um todo e, em particular, ao neoliberalismo. Tan- beralismo implementado por Lula através do PDE e
to PT como PSDB são caudatários da política neolibe- Serra através das 10 metas. No dia 2 de novembro o
ral, garantindo os lucros dos grandes magnatas nacio- movimento combativo deu um grande passo na dire-
nais e internacionais, em detrimento ao atendimento ção da unidade. Numa planária da CONLUTAS,
das necessidades e direitos da população trabalhadora. INTERSINDICAL, MTST e outras organizações dos
17. Diante dessa realidade, onde o projeto repre- movimentos populares, foi aprovada a realização do
sentado pela CUT foi incorporado pela burguesia, a Congresso de Unificação de 3 a 6 de junho de 2010.
classe trabalhadora deve organizar seu próprio instru- Diante desse grande fato histórico para a classe traba-
mento de luta antiimperialista, anticapitalista, que lhadora brasileira, a tarefa de todos os lutadores é tra-
defenda a construção de uma sociedade justa, igualitá- balhar duro para que o Congresso tenha a participação
ria e solidária, que defenda a revolução socialista. Nes- massiva de todos os que querem colocar o movimento
se sentido, a conjuntura colocada para o movimento no de massas num novo patamar rumo à grande transfor-
próximo período é extremamente desafiadora. O mação social, política e econômica que é a construção
governo Lula com mais de 80% de aprovação está for- de uma sociedade socialista. A seguir apresentamos
talecido para atacar os direitos dos trabalhadores há nosso acúmulo no que se refere a alguns princípios e
muito tempo conquistados. concepções que defendemos para nova central.
18. As consequências da crise e sua superação ain-
da estão por estourar, muito embora o governo e a CONCEPÇÃO E PRÁTICA SINDICAL
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
uma luta de morte contra burguesia, devem querer pre- uma direção, vitórias anteriores, uma grande comoção
parar-se para tal. Isso não pode ser improvisado, não é social, o nível de organização, entre outros. É por isso,
uma tarefa apenas para o futuro. Conscientização e que o jargão utilizado pela esquerda “construir a greve
organização são fenômenos relacionados e cumulati- geral” é uma frase fazia. Falar em “construir a greve
vos, não nascem prontos. geral” é equivalente a “construir a revolução”. Ao mes-
O oportunismo dominante combate esse método. mo tempo, essa esquerda atribui à greve geral uma vir-
Vale-se do seguinte sofisma: não podemos dizer aqui- tude que ela não tem, por exemplo, a derrubada do
lo que as massas não entendem, não devemos nos des- governo. Ela é um método semi-defensivo. Pode para-
vincular da psicologia das massas, nos chocar com as lisar o Estado, mas é incapaz de derrubá-lo. A derruba-
suas ilusões. Esse discurso espontaneista é reacioná- da do regime burguês requer, muito mais do que a gre-
rio. As massas não aprendem sozinhas. Se dissermos ve geral, a insurreição armada. É por isso, que a preten-
apenas aquilo que elas já sabem, então, as mesmas não samente radical propaganda da greve geral, colocada
precisariam de partido revolucionário, nem sequer de como substituto da revolução, se transforma num méto-
sindicato. A dita vanguarda coloca-se na posição de do reformista.
retaguarda. O mais absurdo na propaganda abstrata da greve
Também é verdade que as massas não aprendem geral – tipo LBI – é desconhecer a inexistência de uma
apenas pela propaganda, mas pela própria experiência. direção revolucionária. Uma greve geral é uma greve
Mas isso não significa que a propaganda seja desne- política. O papel da direção torna-se muito mais
cessária e que a experiência ensine por si só, como importante que nas greves econômicas. A greve geral
quer o oportunismo. Pelo contrário, significa que a nos- deve ser convocada por alguém. Sendo assim, na práti-
sa propaganda deve tomar como ponto de partida a ca, a sua realização é uma tarefa que essa esquerda con-
experiência, ou seja, que a propaganda não pode ser cede à CUT, única direção que poderia encabeçá-la atu-
abstrata. Devemos mostrar aos trabalhadores aquilo almente. Coloca-se como grupo de pressão sobre esta.
que eles não podem compreender por si mesmos, pela É por isso que toda vez que a CUT convoca greves gera-
simples experiência. A emancipação da sociedade é is diversionistas recebe o apoio entusiasmado tanto da
uma necessidade objetiva, que as massas não desco- esquerda doutrinária quanto da esquerda oportunista.
brem sozinhas. Mostrar essa necessidade não depende Outra alternativa seria apostar no espontaneísmo das
do nível de consciência das massas, apenas a forma de massas. É difícil julgar qual a alternativa pior.
fazer essa propaganda é que deve levar em conta a sua 3 – Balanço da Conlutas/Intersindical
psicologia. O aspecto progressivo da Conlutas está se dissi-
2.1 – A greve geral pando aos poucos: o rompimento com a CUT, a denún-
A greve geral é um método de luta muito impor- cia do governo Lula. A sua direção majoritária – o
tante. Mas não é um método universal, válido para PSTU e grupos satélites – impôs uma política perma-
qualquer circunstância. A revolução russa de fevereiro nente de unidade com a CUT à custa da renúncia à
de 1917 foi precedida de uma greve geral. Mas a revo- denúncia do governo Lula. Assumiu integralmente os
lução de outubro prescindiu dela. É um método de luta seus calendários, os seus métodos e o seu programa.
que pressupõe uma radicalização de massas, uma situ- Aproximou-se de uma postura semi-governista. A luta
ação revolucionária ou pré-revolucionária, bem como, direta de massas foi abandonada ou secundarizada.
da existência ou não de uma direção. Não é a greve Substitui a agitação e mobilização de massas por atos
geral que leva à revolução, mas o contrário. Ela é um de vanguarda, desvinculados de um plano de lutas
indicador de uma situação revolucionária. A revolução construído junto às categorias.
é que leva à greve geral. Esse curso oportunista toma corpo a partir de
O doutrinarismo elege a greve geral como méto- 2007. Nesse ano a Conlutas aderiu ao movimento
do privilegiado, válido para todos os momentos e mila- governista Contra a Emenda 3, assinou manifestos con-
groso, capaz de derrubar o governo e levar os trabalha- juntos com a CUT e todas as centrais pelegas em torno
dores ao poder. Faz uma propaganda permanente da de eixos desenvolvimentistas burgueses, tais como:
greve geral, independentemente de conjuntura e dos por uma nova política econômica. A partir daí a Conlu-
seus objetivos, como se esta pudesse ser preparada atra- tas nunca mais de despegou da CUT e seus afins. O
vés de propaganda, como uma receita universal. mesmo se diga da Intersindical. Pegou carona em
Transforma a greve geral, de um método privilegiado, todas as campanhas políticas da CUT e do governismo
num objetivo abstrato. A greve geral não pode ser pre- em geral: plebiscito, pela reestatização da Vale do Rio
parada através de propaganda, ela é uma função de inú- Doce, contra a transposição do Rio São Francisco, pela
meros fatores sociais e psicológicos: a existência de redução da jornada de trabalho, marcha à Brasília,
Fora Yeda, Fora Calheiros, Fora Sarney, e tantas
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
uma forma de adaptação ao Estado burguês. governam para a burguesia e que, dentro do capitalis-
3.2 – A democracia interna mo, é possível conquistar uma universidade democrá-
tica, livre e de qualidade. Com essa política a ANEL
Os sindicatos dirigidos pela Conlutas são tão anti- canaliza o ME para a via institucional, semeando ilu-
democráticos como os dirigidos pela CUT. Muitas sões. Não é verdade que a única maneira de promover
vezes não promove sequer assembléias para fecha- entre os estudantes o sentimento de que o governo está
mento de acordo salarial. Não existe qualquer esforço acabando com educação pública é através de um novo
para promover a organização por local de trabalho. As Projeto de Lei. Ao invés disso, seria preciso uma cam-
instâncias deliberativas da Conlutas são abertas à par- panha de denúncia do governo Lula.
ticipação da vanguarda, com direito à voz. Isso é posi-
tivo, mas insuficiente. Não existem núcleos de base.
As suas oposições sindicais são eleitoreiras. Não tem 4 – A tática de Frente Única
política para o dia a dia das categorias, organizam-se A unidade dos trabalhadores é uma necessidade,
unicamente para as eleições sindicais. decorre da própria natureza do seu movimento. A sua
Os congressos da Conlutas têm muitas semelhan- força reside no seu número, organização e consciên-
ças com os da CUT. Existe uma aparência de democra- cia. Os burocratas sempre promoveram a divisão do
cia. As suas decisões obedecem a uma formalidade movimento como forma de enfraquecê-lo: dividem os
democrática que esconde um profundo autoritarismo, sindicatos, as centrais sindicais, os partidos operários,
através dos seguintes métodos: 1 – a realização de pai- as categorias, não unificam as greves. Daí porque a táti-
néis, que tomam um tempo privilegiado do congresso. ca de recompor a unidade do proletariado sempre foi
Com isso, estreitam-se os tempos para os debates em importante. Mas essa política de frente única deve ser
grupos e nas plenárias. Servem também para o proseli- concreta, deve levar em conta a realidade. Nem toda
tismo político da corrente majoritária – o PSTU – e unidade é boa. O critério fundamental é que sirva para
para a promoção de intelectuais amigos; 2 – as comis- ajudar o movimento. Não existe uma receita. O opor-
sões de sistematização são de fato uma espécie de con- tunismo transforma a política de unidade numa receita
gresso dentro do congresso. A pretexto de sistematizar abstrata: defende a unidade pela unidade como regra.
as resoluções das comissões usa amplamente os seus Esse tem sido o método preferido para justificar toda
poderes de veto e de decidir o que vai ou não para as sorte de oportunismos.
plenárias, através de toda sorte de manobras. Abstratamente, aos trabalhadores interessa a exis-
Não existe democracia nesses congressos. O dire- tência de uma única central sindical. Mas isso não sig-
ito democrático de decisão das bases é expropriado, nifica que devemos lutar pela unificação de todas as
uma forma burocrática voltada contra as minorias, centrais existentes, porque essas centrais pelegas são
mas também contra a própria base do PSTU, para a aparelhos burocráticos desprovidos de massa organi-
qual o congresso transforma-se num ritual de aplauso à zada e onde não existe democracia interna. Devemos
sua direção. estar onde as massas estão. Por isso, é que há casos em
3.3. – A ANEL que podemos propor a unificação entre uma central
burocrática e uma central revolucionária. Para isso se
A Conlute foi uma espécie de setor estudantil da requer certas condições: que a central burocrática abar-
Conlutas. O fato de excluir aqueles participantes da que massas organizadas e que a unificação se dê com
UNE – a esquerda da UNE - colocava uma espécie de base na democracia sindical. Para nós, a unidade não é
empecilho à política de unificação com a Intersindical uma política de boa vizinhança com a burocracia,
e contrariava a sua própria política geral de unidade. como faz a direção da Conlutas, mas uma política de
Por isso, a direção majoritária providenciou a extinção desmascaramento. Toda unidade que não encerre uma
da Conlute e a fundação da ANEL, entidade aberta que luta contra a burocracia é uma unidade oportunista.
comporta aqueles que não querem sair da UNE. Isso “Na realidade, o futuro da revolução não depende da
fica claro pelo fato da ANEL não realizar qualquer cam- fusão dos aparelhos sindicais, mas da unificação da
panha de ruptura com a UNE, ao invés disso, mantém maioria da classe operária ao redor de bandeiras e
uma política de coexistência pacífica. A principal cam- métodos de luta revolucionários” (Trotsky). Unidade
panha da ANEL é um Projeto de Lei (PL) alternativo consiste em cotejar diante das massas duas políticas
ao REUNI de Lula, justificado desta forma: “podemos opostas. A burocracia precisa ser politicamente destru-
mostrar que o projeto do governo Lula é precarização ída. Enquanto ela subsistir não pode haver verdadeira
e privatização e que somente com um projeto como o unidade proletária, que somente pode existir sob bases
PL podemos alcançar a universidade que queremos: revolucionárias. A Conlutas transforma essa tática de
democrática, livre, pública e de qualidade”. O PL pas- desmascaramento em tática de embelezamento.
sa a idéia de que se pode confiar nas instituições que
Caderno de Teses para o Congresso da Classe Trabalhadora
Frente única sempre significou unidade na ação: exigências transformaram-se numa receita geral, váli-
“Unidade apenas nisso: onde lutar, quando lutar e da para qualquer tempo e lugar. Não estão vinculadas a
como lutar”. É uma questão de princípio não fazer qualquer mobilização. São feitas a frio. Assim, não ser-
qualquer unidade política com a burocracia. A unidade vem para nada, a não ser fomentar o balcão das ilusões.
deve ser pontual, em torno de uma reivindicação espe- A Conlutas “exigiu” do governo Lula a edição de uma
cífica: “Nenhum programa comum, nenhum cartaz, medida provisória contra o desemprego. Mesmo não
nenhum manifesto conjunto”. Por isso, todos os mani- sendo essa uma reivindicação socialista, não é uma exi-
festos programáticos conjuntos entre a CUT, Força Sin- gência qualquer. Principalmente num momento de cri-
dical, CTB, Conlutas e Intersindical, baseados num se profunda do capitalismo, as demissões em massa é o
programa burguês, é um crime praticado pela Conlu- principal recurso da burguesia. O direito de demitir tor-
tas: por uma nova política econômica, contra o superá- na-se para ela um direito sagrado. Nessa circunstância
vit primário, pelo fortalecimento do mercado interno, – mais ainda sem mobilização – a direção da Conlutas
contra os juros altos, etc., mesmo que isso venha mas- quer que Lula edite uma medida provisória. Não é uma
carado por algumas reivindicações dos trabalhadores. reivindicação séria, mas uma demagogia. A outra exi-
Um setor da esquerda (PSTU e afins) criou uma gência de que o governo Lula exproprie as empresas
teoria de unidade peculiar, para justificar o oportunis- que demitirem é ainda mais absurda, supõe que um
mo. Dividiu a unidade em dois tipos: unidade na ação e governo pró-imperialista possa expropriar o capital.
frente única propriamente dita. Essa divisão nunca
existiu na ortodoxia do movimento. Para esse setor, o 6 – Os sindicatos e a política
tipo de unidade, que chama de frente única, comporta-
ria programas políticos comuns com outros setores. Inicialmente, a burguesia tolerava os sindicatos
Justifica programas comuns com os inimigos de clas- desde que não se imiscuíssem em política. Os traba-
se, desde que sejam operários. Ora, correntes operárias lhadores eram tratados como crianças que não podem
traidoras é o que mais existe. Na época, essa teoria se “brincar com fogo”. A política seria uma atribuição de
dirigia, principalmente, à frente única com os antigos gente grande, a burguesia. Podiam ser toleradas as rei-
PCs, tradicionais agentes da burguesia. A vanguarda vindicações que passassem pelo parlamento. Mas a
consciente deve rejeitar essa teoria oportunista. Frente política que diz respeito à organização do poder estava
única programática é traição. Frente única e unidade terminantemente proibida.
na ação são uma única e mesma coisa. Os sindicatos surgiram para a luta pela valoriza-
ção da mercadoria força de trabalho, pelas reivindica-
ções elementares dos trabalhadores. Por essa razão são
5 – Exigências e denúncias organismos de frente única. Entretanto, a História não
Esse mesmo setor, criou uma outra tática oportu- é estática. Não existe uma lei que diga que a frente úni-
nista chamada de “exigências e denúncias”. Historica- ca deva se dar exclusivamente e para sempre em torno
mente o movimento sempre se utilizou da tática de exi- de reivindicações imediatas. Pelo contrário, existe
gências, que somente se justifica quando se preste ao uma necessidade objetiva de elevar essas reivindica-
desmascaramento das direções traidoras. Portanto, ções, mantido o princípio da frente única. Essa é a tare-
não é qualquer exigência que pode ser feita, nem em fa da vanguarda nos sindicatos, que o oportunismo
todos os momentos. Para ser efetiva, deve estar respal- renega. Pretende congelar a realidade e restringir para
dada numa mobilização, ser uma exigência das mas- sempre as suas lutas às reivindicações mínimas e
sas. Somente assim, o seu não atendimento pode repre- transforma num tabu a representação política dos tra-
sentar um fator positivo: a conscientização, a perda de balhadores, a questão do seu partido. Reflete os seus
ilusões. A derrota de uma reivindicação prepara uma preconceitos de que sindicato é sindicato, partido é par-
vitória futura. tido. Indiretamente, reflete a influência da burguesia.
Uma exigência a uma direção burguesa deve base- Para essa esquerda, os sindicatos devem ser indepen-
ar-se numa reivindicação específica. Mas não se pode dentes dos partidos em geral ou pelo menos autôno-
exigir de um governo burguês, como o de Lula, reivin- mos.
dicações socialistas ou transitórias. É como se exigís- 6.1 – Sindicato e partido
semos que um governo burguês deixasse de ser bur- A maioria das correntes tem uma posição falsa
guês. Isso semeia ilusões. Devemos passar a idéia de sobre a relação entre partido e sindicato. Escondem a
que essas reivindicações somente podem ser conquis- necessidade de um partido do proletariado nos sindi-
tadas mediante uma revolução. catos e as suas próprias correntes políticas. Defendem
A direção da Conlutas transformou essa tática, de a sua autonomia em relação aos partidos. O que seria
um método de luta, num método de acomodação. As justo. Os sindicatos devem ser autônomos no sentido
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de que as suas decisões são atribuições exclusivas dos os sindicatos se transformam em órgãos da burguesia
seus organismos, que são soberanos. Mas essa defesa para a submissão dos trabalhadores ou em sindicatos
da autonomia sindical é feita de maneira a destilar pre- revolucionários. A velha frente única corporativa, ele-
conceito contra os partidos em geral, sejam burgueses mentar, deixou de existir. Deve dar lugar à frente única
ou proletários. revolucionária. Não podemos parar a roda da história
Alguns grupos satélites do PSTU vão mais longe: na fase dos sindicatos corporativos. Também não pode-
defendem a total independência dos sindicatos dos par- mos saltar a fase da conscientização dos trabalhadores.
tidos em geral, que não poderiam ser “atrelados” e não A nossa tarefa é resolver essa contradição.
podem defender o voto em candidatos, por princípio. 6.2 – Sindicatos revolucionários
Não distinguem partidos operários de partidos burgue- A nossa tarefa é trabalhar por transformar os sin-
ses. Colocada dessa forma, isso é um preconceito bur- dicatos burocráticos em sindicatos revolucionários.
guês que se volta contra a independência política dos Isso não é uma tarefa fácil. Somente um período de
trabalhadores e dos sindicatos. grandes mobilizações pode criar as condições para tal.
Os sindicatos são de todos os trabalhadores, inde- Isso não se faz sem derrotar o peleguismo, sem a cons-
pendentemente da ideologia de cada um, mas não cientização dos trabalhadores e sem uma ampla orga-
estão isolados da sociedade. Sofrem influência dela, nização de base.
das suas classes, do governo, dos partidos políticos. Sindicatos revolucionários não se confundem
Exatamente por serem entidades elementares, sem pro- com sindicatos de minorias. Pelo contrário, é preciso
grama, tornam-se presa das instituições mais consci- que os sindicatos, que hoje abarcam um percentual
entes: os partidos políticos. E como os trabalhadores pequeno de trabalhadores, se transformem em sindica-
não têm um partido revolucionário, os sindicatos colo- tos das grandes massas. Devemos organizar os setores
cam-se sob a tutela política dos partidos burgueses. mais explorados do proletariado, atualmente excluí-
Não existe, nunca existiu e nunca existirá sindicatos dos de qualquer organização: os terceirizados, coope-
politicamente independentes. Mas essa tutela não é rativados, desempregados, aposentados, juventude,
algo formal, mas política e ideológica. O predomínio oprimidos em geral.
político do peleguismo nos sindicatos é a forma políti-
ca de domínio da burguesia e dos seus partidos. Esses sindicatos devem ser independentes do
Estado, dos patrões e dos seus partidos. Isso significa
É uma ilusão reacionária pretender que os sindi- abolir ou desconhecer a legislação sindical vigente,
catos possam se tornar independentes dos partidos bur- levando uma luta permanente contra ela. A indepen-
gueses por si próprios, através dos trabalhadores sem dência financeira é fundamental. Devemos rejeitar
partido. Esse domínio dos partidos burgueses somente toda forma de financiamento dos sindicatos pelo Esta-
pode ser vencido através de uma luta política, encabe- do, principalmente, o FAT e o Imposto Sindical. Infe-
çada por um partido revolucionário, que não existe. lizmente a Conlutas está completamente adaptada a
Mas isso não seria atrelamento. Deve ser uma relação essas verbas públicas. Nada faz no sentido do seu auto-
de confiança, de convencimento, democrática. Os sin- financiamento.
dicatos têm somente duas alternativas: ou a dependên-
cia política dos partidos burgueses ou dos partidos pro- Um novo sindicato implica o fim dos poderes esta-
letários revolucionários. tutários das diretorias, o fim do presidencialismo atu-
al. Os mandatos devem ser curtos e revogáveis a qual-
Na maioria das situações os sindicatos não devem quer momento. Devemos implantar o princípio da
envolver-se oficialmente em campanhas eleitorais bur- soberania da base organizada. Para tanto, é preciso cri-
guesas, estando os trabalhadores divididos entre diver- ar uma ampla organização por local de trabalho, as
sas candidaturas. Isso prejudicaria o seu caráter unitá- comissões de empresa e comitês de fábrica. Essa rede
rio. Mas isso é uma questão a ser analisada caso a caso. organzativa deve unificar-se num Conselho de Repre-
Colocada como questão de princípio é um preconceito sentantes. A diretoria se transforma num órgão execu-
contra a organização política dos trabalhadores, por- tivo submetida ao Conselho de Representantes. Acima
que não se descarta a hipótese de que venha a existir desse Conselho estarão apenas as Assembléias e o Con-
um partido proletário que conquiste a hegemonia entre gresso Sindical. As assembléias, para serem democrá-
a sua classe. Esse objetivo não se conquista destilando ticas, devem ser preparadas por discussões nas comis-
preconceito contra os partidos em geral, em lugar da sões de base e nas assembléias por empresas ou setor.
luta exclusiva contra os partidos burgueses. A relação
entre partidos e sindicatos é uma questão de classe. Um sindicato de base não surge da noite para o
dia, nem espontaneamente. Deve ser um longo proces-
Os sindicatos reformistas do passado não podem so. Depende também das condições, greves e mobili-
mais existir. Na época de domínio dos monopólios, ou zações, mas fundamentalmente de vontade política, de
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uma direção disposta a lutar por isso. Todas as greves e resolvem os seus problemas à longo prazo; que a bur-
lutas em geral são uma oportunidade para aprofundar a guesia retira com a mão direita o que dá com a esquer-
organização de base. Enquanto não pudermos destruir da. Muitas vezes as greves devem repetir-se todos os
a estrutura sindical vigente, podemos levantar algu- anos. A luta por melhores salários e a luta pelo socialis-
mas bandeiras parciais no sentido de ampliar a demo- mo são uma única e mesma luta. Por isso o economi-
cracia sindical: deve-se estabelecer um máximo de cismo é tão nefasto.
dois mandatos para os dirigentes; defender a estabili- Por escola de socialismo entendemos também a
dade para os delegados sindicais pelo mesmo período organização por local de trabalho. Esta, de início, tem
dos dirigentes sindicais; as assembléias devem ser uma função sindical, mas ao se ampliar tende a assu-
democráticas, convocadas amplamente e com antece- mir um caráter de poder localizado dos trabalhadores.
dência e precedida de discussões nas bases; comando As comissões de fábrica podem passar a interferir no
de greves de base, eleitos nas assembléias; todos os processo de gestão da empresa. Por exemplo: podem
acordos coletivos devem ser decididos em assembléia; passar a impedir as demissões. Nesse momento se
prestação de contas periódicas; fim das verbas extras transformam num contraponto ao poder absoluto do
aos dirigentes; rodízio entre os liberados sindicais; patrão. Esse é o princípio do que chamamos de duplo
diretoria colegiada, sem poderes especiais ao presi- poder na empresa. A ampliação disso às principais
dente, secretário, etc.; congressos anuais. empresas do país transforma-se no que denominamos:
controle operário da produção. Por escola de socialis-
7 – A luta pelo socialismo mo entende-se também a consciência de que os traba-
lhadores precisam organizar a sua autodefesa e prepa-
Os sindicatos “devem ser escolas de socialismo”, rar-se para expropriar pela força a burguesia. Traba-
sem contrariar o princípio da frente única. Isso signifi- lhar nesse sentido, de uma forma prática, é o que dis-
ca um processo demorado de conscientização, toman- tingue um sindicalismo revolucionário do sindicalis-
do como base a experiência dos trabalhadores. Deve- mo economicista praticado pela esquerda. Pressupõe
mos mostrar que o capitalismo é o responsável pela uma frente única em nível mais elevado.
sua miséria; que as greves, mesmo vitoriosas, não