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FUNDAÇÃO FRANCISCO MASCARENHAS

FACULDADES INTEGRADAS DE PATOS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO (LATO SENSU)
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM
ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

FRANCISCO FONSECA

PROPOSTA DE SISTEMA DE GESTÃO DE RISCOS


PARA ATIVIDADES TURÍSTICAS NO PARQUE
ESTADUAL DA PEDRA DA BOCA, EM ARARUNA – PB

João Pessoa – PB
2007

i
FRANCISCO FONSECA

PROPOSTA DE SISTEMA DE GESTÃO DE RISCOS


PARA ATIVIDADES TURÍSTICAS NO PARQUE
ESTADUAL DA PEDRA DA BOCA, EM ARARUNA – PB

João Pessoa – PB
2007
FRANCISCO FONSECA

PROPOSTA DE SISTEMA DE GESTÃO DE RISCOS


PARA ATIVIDADES TURÍSTICAS NO PARQUE
ESTADUAL DA PEDRA DA BOCA EM ARARUNA – PB

Monografia apresentada, como requisito parcial


à obtenção do grau de especialista em
Engenharia de Segurança do Trabalho, às
Faculdades Integradas de Patos-FIP

Orientadora: Prof.(a) Dra. Nelma Mirian de Araújo

João Pessoa

2007
FRANCISCO FONSECA

PROPOSTA DE SISTEMA DE GESTÃO DE RISCOS


PARA ATIVIDADES TURÍSTICAS NO PARQUE
ESTADUAL DA PEDRA DA BOCA EM ARARUNA – PB

Monografia aprovada em ________/________/________

Professora:___________________________________________
Dra. Nelma Mirian de Araújo (CEFET-PB)
Orientadora

Examinadores:_______________________________________

_______________________________________

João Pessoa – PB
2007
DEDICATÓRIA

A minha Mãe Djanira, com toda sua


dedicação durante toda a minha trajetória.
Ao meu pai Dehon. A minhas queridas e
amadas Irmãs Ana Olívia e Ana Thereza, ao
meu sobrinho “traquino” João Erle e a minha
amada noiva Niedja Maria.

v
AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Grande Arquiteto do Universo, pelas muitas bênçãos que tenho


recebido em todos os anos dessa minha existência; E que esse trabalho sirva para
glorificar o Nosso Pai que está nos céus.
Especialmente a minha orientadora, Professora Dra. Nelma Mirian de Araújo do
CEFET-PB, a quem faço reverência pelo grandessíssimo apoio e incentivo na
elaboração deste trabalho.
Ao Técnico de Segurança Luciano Santana Alves da Xerium Technologies
Brasil – Nortelas - PB, pelos ensinamentos transmitidos, e por demonstrar todo o seu
entusiasmo pela segurança no trabalho.
Ao meu amigo MSc. Adriano Pereira de Figueiredo da APF Eng. e Consultoria
Ambiental, um engenheiro exemplar e uma pessoa a ser seguida.
Aos meus amigos da NEBLINA Adventure Center : Ana Cecília Falcão, André
de Sena, Arthur Moura, Caetano Falcão, Edmilson Montenegro Fonseca, Perón de
Medeiros, Petley de Medeiros, João Henrique dos Santos Júnior (“O Fera”),
Stephenson Hallison e Wolgland Marques. Pessoas que motivam inspiração para
esse trabalho, e que não permitiram que nem o tempo, nem as distâncias, nem tão
pouco os destinos da vida, apagassem o valor da Amizade.
A todos que compõe a Fundação Francisco Mascarenhas, a Faculdades
Integradas de Patos e a Mendonça Consultoria pela cooperação.
A minha turma de Pós-Graduação em Engenharia de Segurança: Adriano
Pereira, Aline Garcia, Antônio de Almeida Jr., Antônio Gomes Pereira. Jr., Chistovam
Alvarenga, Cristiane Grisi, Daniele Gomes de Jesus, Daniel Leão, Etiane Roberta
Bezerra da Rocha, Fisher Bekembawer Medeiros Jardim, Gabrielle de Melo
Rodrigues, Giordano, Giovanna Barbosa Costa, Gláucio de Lucena Cordeiro, Kenia
de Andrade Cavalcanti, Luis Eduardo de Vasconcelos Chaves, Marcos César Soares
Ramalho, Maria Eveline Almeida, Nilson Gouveia Lins, Rafaella Klostermann,
Renata Paiva da N. Costa, Roberta Fechine, Rosangela Evangelista Medrado. Os
quais, tive a honra de conhecer, e o prazer de compartilhar excelentes dias de
aprendizado.
Por fim, agradeço a Você que está lendo este meu trabalho de conclusão de
curso. Todo esse trabalho foi desenvolvido com o sentido único; chegar ao Seu
conhecimento.
vi
FONSECA, Francisco. Proposta de sistema de gestão de riscos para atividades
turísticas no Parque Estadual da Pedra da Boca em Araruna – PB. 2007. 109p.
Monografia de Conclusão de Curso de Engenharia de Segurança – Faculdades
Integradas de Patos, João Pessoa, 2007.

RESUMO

Este trabalho apresenta conceitos do que existe de mais recente sobre a segurança
para praticantes de atividades que integrem o homem e o meio ambiente,
especificamente os condutores e usuários do turismo de aventura no Parque
Estadual da Pedra da Boca no município de Araruna – PB, contemplando os
aspectos da engenharia de segurança e da gestão dos riscos na prática de
atividades ao ar livre. O turismo é a atividade de maior crescimento econômico no
mundo. O turismo de aventura, em seus pacotes, agrega atividades esportivas que
envolvem certo grau de risco. Nos últimos anos, o número de acidentes e de
incidentes vem crescendo, inclusive com vítimas fatais. São analisados neste
trabalho aspectos que envolvem a elaboração de um sistema de gestão de
segurança em unidades de conservação ambiental, conforme normas legais
vigentes. Apresenta-se diretrizes para elaboração e implantação de sistemas de
gestão dos riscos. São abordados os aspectos gerais de uma política de segurança
para unidades de conservação; O planejamento da gestão de segurança é focado
com a proposição de dois métodos de avaliação dos riscos.

Palavras Chave: Gestão de Riscos, Segurança do Trabalho, Turismo de Aventura.

vii
FONSECA, Francisco. Propose of system of risk management in activity of tourism in
State Park of Pedra da Boca in Araruna - PB. 2007. 106p. Monograph of Finish of
Course in Safety Engineering – Faculty Integranting of Patos, João Pessoa, 2007.

ABSTRACT

This work presents concepts of what it exists of more recent on the security for
practitioners of activities that integrate the man and the environment, specifically the
conductors and users of the adventure tourism in the State Park of Pedra da Boca in
city of Araruna – PB - Brazil, contemplating the aspects of the security engineering
and the management of the risks in the practical outdoors activities. The tourism is
the activity of bigger economic growth in the world. The adventure tourism, have in its
packages, sporting activities that involve one risk. In recent years, the number of
accidents and incidents comes growing, as well as, the number the fatal victims.
Aspects are analyzed in this work that involves the elaboration of a management
system of security for units of conservation and protection environmental, following
the Brazilian law. The guidelines for elaborations and implantation of management
system risk are showing in this work. The general aspects of one politics of security
for units of conservation are boarded; the planning of management security is
analyzed among of two methods of evaluation of the risks.

Key words: Management of Risks, Security of Work, Adventure Tourism.

viii
Lista de Figuras

LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Pirâmide de atividades de aventura .......................................................................... 39


Figura 2 – Gráfico da análise de riscos combinando habilidade e isolamento ......................... 42
Figura 3 – Localização da Pedra da Boca – Araruna-PB ......................................................... 51
Figura 4 – Riscos de projeto ..................................................................................................... 57
Figura 5 – Perfil de andamento de projeto. .............................................................................. 60
Figura 6 – Esquema geral da estratégia SOBANE de gestão dos riscos .................................. 71
Figura 7 – Rubrica do método DEPARIS ................................................................................ 74
Figura 8 – Contorno das iso-linhas de fator de risco (FR) ....................................................... 87
Figura 9 – Gráfico de graduação da ordem do fator de risco do projeto - Perfil de análise ..... 91

Lista de Quadros
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Questões para o gerenciamento de projetos .......................................................... 46


Quadro 2 – Características dos níveis de estratégia SOBANE ................................................ 72
Quadro 3 – Resumo de DEPARIS para o rappel da Aroeira ................................................... 79
Quadro 4 – Probabilidade de exposição ................................................................................... 87
Quadro 5 – Probabilidade de controle ...................................................................................... 87
Quadro 6 – Probabilidade de detecção ..................................................................................... 88
Quadro 7 – Conseqüências da severidade potencial................................................................. 88
Quadro 8 – Conseqüências das abrangência ............................................................................ 88
Quadro 9 – Medidas de controle conforme fator de risco ........................................................ 90
Quadro 10 – Fator de risco em escala de impacto .................................................................... 91

Lista de Tabelas
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Fatores de Risco ...................................................................................................... 89


Tabela 2 – Tabela de correspondência entre OHSAS 18001, ISO 14001:1996 e ISO
9001:2000 ............................................................................................................................... 100

Lista de Equações
LISTA DE EQUAÇOES
Equação 1 – Risco no turismo de aventura............................................................................... 32
Equação 2 – Probabilidade de evento ....................................................................................... 86
Equação 3 – Fator de risco ....................................................................................................... 86
Equação 4 – Probabilidade do fator de risco ............................................................................ 88
Equação 5 – Conseqüência do fator de risco ............................................................................ 89

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Lista de Abreviaturas e Siglas

ABETA Associação Brasileira de Empresas de Turismo de Aventura


ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
AS/NZS Australian and New Zealand Standard
BS British Standard
BSI British Standard Institute
DEPARIS Diagnóstico Participativo dos Riscos
EPC Equipamento de Proteção Coletiva
EPI Equipamento de Proteção Individual
ISO International Standardization Organization
IDEME Instituto de Desenvolvimento Municipal e Estadual da Paraíba
NBR Norma Brasileira Regulamentadora
NR Norma Regulamentadora
OHSAS Occupational Health and Safety Assessment Series
PEPB Parque Estadual da Pedra da Boca
PDCA Plan – Do – Check – Act (Plano – Implantação – Verificar – Ação)
PPRA Programa de Prevenção de Riscos Ambientais
SA Social Accountability
SAI Social Accountability Internacional
SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoia às Micro e Pequenas Empresas
SESMT Serviço Especializado em Eng. de Segurança e Medicina do Trabalho
SOBANE Screening, Observation, Analysis, Expertise
UEPB Universidade Estadual da Paraíba
UERN Universidade Estadual do Rio Grande do Norte
UFPB Universidade Federal da Paraíba
UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro
UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte
USP Universidade de São Paulo
WTO World Tourism Organization (Organização Mundial do Turismo)

x
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 13
1.1 Estrutura do Trabalho ........................................................................................ 18
Objetivo Geral ................................................................................................................... 21
Objetivos Específicos..................................................................................................... 21
2 O TURISMO DE AVENTURA .................................................................................... 22
2.1 Operadora de Turismo de Aventura ............................................................... 23
2.1.1 Entrada da viagem......................................................................................... 24
2.1.2 Recreação de aventura e turismo de aventura ......................................... 24
2.1.3 Local fixo e atividade móvel ......................................................................... 25
2.2 Perfil dos clientes de turismo de aventura ................................................... 25
2.3 Indústria do entretenimento ............................................................................. 26
2.4 Interação com outros setores .......................................................................... 28
2.5 Divulgação do Turismo de Aventura .............................................................. 28
2.6 O setor de aventura............................................................................................. 29
2.7 Habilidade, isolamento, risco e recompensa, .............................................. 31
2.8 Evolução do Turismo de Aventura em Áreas Remotas ............................ 33
2.9 Estrutura das Operadoras de Turismo de Aventura .................................. 36
2.10 Atividades de Aventura ...................................................................................... 38
2.11 Riscos em atividades de aventura .................................................................. 41
3 NORMAS DE REFERÊNCIA...................................................................................... 43
3.1 NBR 15.331 Turismo de aventura – Sistema de Gestão da Segurança 43
3.2 NR - 9 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais .......................... 46
3.3 Norma Regulamentadora - 21 – Trabalho a Céu Aberto ........................... 47
3.4 BS 8800 Gestão de Saúde e Segurança Ocupacional ............................... 48
3.5 OHSAS 18.001 Sistema de Gestão para Segurança e Saúde
Ocupacional ...................................................................................................................... 49
3.6 SA 8000 – Norma de responsabilidade social ............................................. 49
4 O PARQUE ESTADUAL DA PEDRA DA BOCA ................................................... 51
4.1 Situação Geográfica ........................................................................................... 51
4.2 Descrição do Parque Estadual da Pedra da Boca ...................................... 52
4.3 Esportes de Aventura ......................................................................................... 53
4.4 Turismo Cientifico ............................................................................................... 53
4.5 Turismo Escolar ................................................................................................... 54
4.6 Turismo Religioso ............................................................................................... 54
4.7 Turismo Contemplativo ..................................................................................... 54
5 GESTÃO DOS RISCOS .............................................................................................. 56
5.1 O projeto de gerenciamento de risco............................................................. 57
5.2 Gerenciamento do risco .................................................................................... 60
5.3 Identificação do risco ......................................................................................... 60
5.4 Tratamento do Risco .......................................................................................... 61
5.4.1 Eliminação do Risco ...................................................................................... 61
5.4.2 Diminuição da exposição aos riscos........................................................... 62
5.4.3 Mitigação de impacto .................................................................................... 62
6 DIRETRIZES PARA ELABORAÇÃO E IMPLANTAÇÃO DE SISTEMA DE
GESTÃO DE RISCOS ........................................................................................................... 64
6.1 Política de segurança ......................................................................................... 65
6.1.1 Definição de uma Política de Segurança ................................................... 66
6.1.2 Intenções de uma Política de Segurança .................................................. 66
6.1.3 Formulação de uma Política de Segurança .............................................. 66

11
12

6.1.4 Características de uma Política de Segurança ......................................... 67


6.1.5 Manutenção de uma Política de Segurança Flexível............................... 69
6.2 Planejamento ........................................................................................................ 70
6.2.1 Estratégia SOBANE ...................................................................................... 70
6.2.1.1 Nível 1 - Diagnóstico Preliminar .......................................................... 72
6.2.1.2 Nível 2 – Observação ............................................................................ 72
6.2.1.3 Nível 3 – Análise .................................................................................... 73
6.2.1.4 Nível 4 - Perícia ...................................................................................... 74
6.2.2 Apresentação do método DEPARIS ........................................................... 74
7 METODOLOGIA ........................................................................................................... 76
7.1 Modelo da Pesquisa ............................................................................................ 76
7.2 Elaboração do Estudo de Caso ....................................................................... 77
7.3 Análise dos Resultados Obtidos ..................................................................... 77
8 RESULTADOS E DISCUSSÕES .............................................................................. 79
8.1 Apresentação dos resultados .......................................................................... 79
8.2 Análise dos resultados ...................................................................................... 82
9 AVALIAÇÃO SEMI-QUANTITATIVA DOS RISCOS ............................................. 85
10 CONCLUSÃO ............................................................................................................... 92
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 96
ANEXOS .................................................................................................................................. 99
APÊNDICES .......................................................................................................................... 101

APÊNDICE A – Modelo de Política de Segurança................................................................ 102


APÊNDICE B – Método de DEPARIS aplicado – Rappel da Aroeira .................................. 104
APÊNDICE C – Folha de avaliação dos riscos em atividades elaborada .............................. 109

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1 INTRODUÇÃO

O turismo é a atividade comercial de maior crescimento econômico no mundo,


segundo a WTO (World Tourism Organization) órgão ligado ao comitê das Nações
Unidas, bem como é um setor capaz de levar o desenvolvimento social e cultural aos
moradores de uma determinada localidade. Por este entendimento apenas, turismo
é um relevante fator em termos de desenvolvimento de conflitos. Contudo, os
benefícios econômicos para as comunidades locais tornam o turismo uma atividade
atrativa.

No Brasil, os principais atrativos eram as praias e o calor do sol, após a reunião


da ECO 92, o foco de turismo foi modificando para o “ecoturismo”, que hoje
encontra-se divido em vários seguimentos, como: turismo rural, turismo ecológico e
turismo de aventura. Todos esses não usam cenários urbanos para atrair seus
clientes, esse mercado é voltado para quem gosta de desfrutar a vida em contato
com a natureza, com maior ou menor grau de emoção e dificuldade durante o
passeio.

Dado o crescimento turístico nos últimos dez anos no Parque Estadual da


Pedra da Boca (PEPB), o governo do Estado da Paraíba decidiu criar a área de
preservação em 2005, com uma área de 156 ha voltada para o desenvolvimento de
atividades turísticas que ligam o homem à natureza, tendo como cenário um
monumental parque de pedras, onde é possível a pratica de esportes e atividades
ao ar livre, e de contemplação à natureza.

A criação do Parque, sem sombra de dúvidas, é um marco para o


desenvolvimento do turismo na micro região do Curimataú Oriental. No entanto, a
forma como foi implantado deixa a desejar quando se menciona o planejamento e os
passos adotados para o desenvolvimento sustentável e seguro.

Ocorreu um crescimento no fluxo turístico sem que houvesse um plano de


ações a serem adotados. Devido a essa morosidade, o PEPB recebe a visita de
mais de 300 turistas por mês, sem que haja um controle nem a fiscalização dos
grupos que ali desembarcam.

13
14

A falta de controle da demanda turística já gerou inúmeros acidentes com os


visitantes e operadores de atividades no parque, havendo registro de acidentes com
vítimas fatais. A vitima mais recente foi um adolescente de apenas 13 anos de idade
que estava no Parque em virtude de uma atividade extra-escolar realizada por uma
escola estadual da cidade de Araruna.

No Brasil, as atividades turísticas vêm tendo um destaque especial a partir da


criação do Ministério do Turismo, devido às tendências mundiais do comportamento
turístico, que hoje buscam novas experiências, aliadas ao contato com a natureza. O
crescimento do turismo de aventura e ecoturismo, e a demanda turística do Brasil,
fez com que o Ministério do Turismo considerasse o Turismo de Aventura um
segmento prioritário para que pudesse ser contemplado com investimentos maciços
e criado uma estrutura organizacional, tudo isso devido ao conjunto de riscos
inerentes às atividades realizadas. A preocupação do governo é em profissionalizar
e dar qualidade as operadoras para competir no mercado internacional, e mostrar
para o mundo que o Brasil oferece Turismo de Aventura com padrões de Segurança.

Baseado nessa necessidade de atender as exigências de segurança, a ABNT


(Associação Brasileira de Normas Técnicas) desenvolveu uma série de normas de
forma a fortalecer e qualificar o turismo de aventura no Brasil, de forma sustentável e
segura. A intenção do governo é difundir a boa prática do Turismo de Aventura pelo
país, através de um Sistema de Gestão da Segurança no Turismo de Aventura
através da NBR 15.331, e das Competências Mínimas do Condutor, através da NBR
15.285. Essas ações buscam estimular a prática segura de esportes de aventura
com empresas certificada e profissionais qualificados, sempre em busca da
minimização dos riscos inerentes às atividades desenvolvidas junto à natureza.

Essas exigências do mercado mundial trouxeram a tona uma realidade


nacional da falta de qualificação dos profissionais envolvidos no Turismo de
Aventura. Os condutores da nossa realidade, Parque Estadual da Pedra da Boca,
não ficam em situação diferente do cenário nacional. A qualificação com as
Competências Mínimas para os Condutores de Turismo de Aventura não são
atingidas, nem tão pouco há pessoal qualificado para a realização de primeiros
socorros. As empresas que operam com o Turismo de Aventura, encontram-se em
um estado distante da certificação, com base nos requisitos mínimos estabelecidos e

14
15

exigidos pela NBR 15.331, que nada mais é do que a certificação de um Sistema de
Gestão da Segurança para o Turismo de Aventura.

A falta de estímulo para a busca da capacitação dos condutores e certificação


das empresas deve ser superada com os incentivos e parceria entre o Ministério do
Turismo, ABETA e o SEBRAE, que juntos vêm buscando incentivar a
competitividade entre as empresas com o desenvolvimento sustentável de micro e
pequenas empresas prestadoras de serviços de turismo de aventura. A parceria deu
origem ao Programa de Qualificação e Certificação do Turismo de Aventura –
Programa Aventura Segura.

Para que os níveis de exigência das normas sejam atingidos é necessário que
a equipe gestora do PEPB desenvolva um Plano de Gestão de Segurança, através
do Gerenciamento dos Riscos inerentes ao cenário do Parque. Segundo Araújo
(2004), a necessidade de prover as diversas atividades econômicas com
mecanismos capazes de administrar, de forma eficiente, a segurança do trabalho é
um anseio ressaltado tanto por pesquisadores como por empresários, trabalhadores
e o próprio governo. Essa necessidade torna-se cada vez mais evite quando se
efetua uma análise dos índices de acidentes.

É notório que algumas evoluções tecnológicas diminuíram sensivelmente os


riscos de um acidente, desde que essas novas tecnologias sejam empregadas de
forma correta.

A segurança de um sistema depende fundamentalmente da experiência


acumulada, e como a produção esta sempre sujeita a certas exigências de
prazos, qualidade e quantidade, que são incompatíveis com a fase de
aprendizagem e de domínio de um novo processo. (ASSUNÇÃO e LIMA,
2003, p.1786).

Por essa perspectiva pode-se analisar que as novas exigências da ABNT


podem levar as operadoras e condutores a um período de defasagem, causado pelo
período de adaptação às novas técnicas a serem empregadas e à forma correta de
utilização dos EPIs ou EPCs .

A análise das situações de risco e a adoção de medidas para controlar esses


riscos é um trabalho que exige medidas técnicas, e a participação de pessoal
qualificado, devidamente treinado para buscar, de forma técnica, a eliminação dos

15
16

riscos para os praticantes de Turismo de Aventura no Parque Estadual da Pedra da


Boca.

Dessa forma, com o propósito de colaborar para a melhoria das condições da


prática segura do Turismo de Aventura no Parque Estadual da Pedra da Boca, esta
monografia, apresenta conceitos, na evolução e a importância da engenharia de
segurança na implantação de um Sistema de Gestão de Riscos para as Atividades
Turísticas em Áreas de Preservação Ambiental. Neste trabalho são apresentadas
diretrizes que possibilitem a elaboração de sistema de gestão dos riscos como prevê
a NBR 15.331. Para isso, são estudados sistemas de planejamento de prevenção de
acidentes, e levantadas sugestões para a melhoria da implantação do
Gerenciamento de Segurança.

A publicação da NBR 15.331, que trata do Sistema de Gestão da Segurança


para o Turismo de Aventura, trouxe uma realidade nacional, a falta de requisitos
mínimos por parte das empresas operadoras de Turismo de Aventura, em atender
as exigências de segurança do mercado mundial.

As atividades de turismo envolvem os operadores e os clientes em uma


atmosfera diferente da rotina diária, principalmente para os clientes, turistas que, em
geral, procuram realizar atividades diferentes e adicionar a sua diversão, um pouco
mais de emoção. As operadoras, por sua vez, no sentido de agarrar esse setor do
mercado turístico, oferece em seus pacotes atividade de contato com a natureza. Na
Paraíba, essas atividades turísticas são realizadas com freqüência. Os pacotes
turísticos de aventura oferecem, entre outros: passeios a ilhas afastadas da costa,
descidas de cachoeiras no interior, caminhadas de longo percurso em regiões de
caatinga, travessias de bicicleta de mais de 60 Km, descida por corda em paredões
rochosos. Todas são atividades realizadas a uma distância de um centro de
tratamento médico adequado e, que requer um planejamento mínimo para evitar os
acidentes com os clientes e com os operadores.

A indústria do turismo tem como resultado final de sua produção a satisfação


do cliente. Satisfação em turismo é o resultado de uma série de fatores, que
começam do primeiro atendimento no balcão de negociações do pacote, até a
revelação das fotos para relembrar o passeio realizado. Segundo Steck (1999),

16
17

o turismo também produz uma forma qualificada de serviço com diferentes


tarefas, porém o grande número de desqualificação profissional no mercado
do turístico não é apenas um julgamento negativo, mas porque eles são
preenchidos pelo povo local que carece de treinamento.

Em se tratando de turismo de aventura, no estado da Paraíba, as operadoras


contratam guias locais, que na verdade são apenas pessoas que habitam a região
de exploração turística e que, como ninguém, conhecem os meandros das trilhas da
região e são peças fundamentais no tocante à sustentabilidade turística.

A premissa da sustentabilidade turística não pode ficar sobreposta ao requisito


segurança, pois não haverá o resultado de satisfação, quando ocorrer um incidente,
por menor que seja, nem tão pouco quando de fato ocorrer um acidente.

A necessidade de um profissional de segurança do trabalho no ramo de


turismo de aventura não se deve ao mero acaso do termo “indústria do turismo”, mas
com a finalidade de detalhar e especificar medidas que seja de segurança, e com
proteção ao produto, ao cliente, através de um projeto especificamente desenvolvido
para as operadoras de turismo, trabalhando em conjunto com as demais pessoas
envolvidas nas atividades turísticas de determinada região. Tudo deve ser realizado
de forma a garantir qualidade na prestação de serviços, segurança nas atividades
desenvolvidas e satisfação do turista.

Segundo Dias (2003),

as exigências de segurança são decorrentes das “demandas sociais


(ambiente), demandas do cliente (qualidade, inclusive custo) e exigência
dos trabalhadores (segurança profissional e saúde), como também
exigências legais[...]”.

Acidentes envolvendo turistas têm sido assunto para alguns artigos de


publicação acadêmica em gerenciamento de segurança ou em literatura de turismo,
apesar dos problemas de segurança com turismo ter escala menor. Segundo Clift &
Page, (1996), o prejuízo potencial e a fatalidade prejudicam seriamente a indústria
do turismo e a economia de paises que investem no turismo.

Algumas publicações em jornais e revistas especializadas são feitas no Brasil


quando ocorre um acidente com vítima fatal, e essa noticia torna-se assunto para os
telejornais, que ganham proporções negativas para o “turismo de aventura”. Na
realidade, o que é apresentado pelos noticiários televisivos nada mais é do que a

17
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falta de um planejamento de gestão dos riscos envolvidos nas atividades turísticas


realizadas.

Desta forma, destaca-se a necessidade de medidas de segurança que


diminuam os acidentes nas atividades do turismo de aventura, de forma a agregar
valor ao pacote turístico com a garantia de um passeio seguro com operadores
qualificados. Para isso, verifica-se a necessidade de conhecer a realidade de outros
Parques Ecológicos brasileiros, a fim de propor soluções e recomendações para
reduzir e, na medida do possível, eliminar os riscos de acidentes nas atividades do
turismo de aventura.

Para análise do setor do turismo de aventura no Brasil, utilizou-se como


elemento de pesquisa o Parque Estadual da Pedra da Boca, no município de
Araruna, no norte da mesorregião do agreste paraibano, que se encontra com o
maior número de acidentes com vítimas fatais registrados no turismo de aventura da
Paraíba, entre os anos de 2000 e 2007.

O PEPB é a segunda Unidade de Conservação criada no estado, em números


não oficiais estima-se que cerca de 800 turistas por mês visitam o local, e desde
2000 com a criação do parque através de decreto governamental, vem aumentando
consideravelmente o número de visitas, inclusive com destaque para realizações de
matérias jornalísticas em nível nacional.

1.1 Estrutura do Trabalho

O trabalho está estruturado em nove capítulos. No primeiro capítulo são


apresentadas às justificativas e motivações para a escolha do tema da pesquisa e os
objetivos a que se destina esse trabalho.

No segundo capítulo, são apresentados os conceitos mais recentes sobre


turismo de aventura no Brasil e no mundo. Destaca-se nesse capítulo o
desenvolvimento de uma equação e uma análise gráfica de riscos em turismo de
aventura, através da combinação entre habilidade e isolamento.

18
19

No terceiro capítulo, estão dispostas as normas de referência par o


gerenciamento de segurança no trabalho, com destaque da primeira norma de
gestão de risco do país, a NBR 15.331, e seus principais aspectos para o trabalho
de gestão dos riscos em atividades de turismo de aventura. É apresentado neste
capítulo a NR-9, que trata de Programa de Prevenção de Riscos Ambientais.

No quarto capítulo, são apresentadas, de maneira geral, as características


físicas e geográficas do Parque Estadual da Pedra da Boca, bem como as
condições e os aspectos de exploração do turismo no local.

O quinto capítulo aborda os aspectos gerais sobre a gestão dos riscos, são
definidas as ferramentas, como: planejamento, organização, coordenação e
controle. São identificados, também, os fundamentos para o gerenciamento. A
identificação e o tratamento dos riscos são abordados de maneira geral. São
apresentadas, também, definições adotadas em um projeto de gestão de riscos.

No sexto capítulo são apresentadas diretrizes para a elaboração e implantação


de sistema de gestão de riscos em uma unidade de preservação ambiental. São
apontados aspectos da política de segurança, como a análise da escolha para
equilibrar a disponibilidade de uso versus a segurança necessária para garantir a
integridade física dos usuários. Neste capítulo é apresentado a necessidade da
participação dos atores que devem ter participação direta na formulação da política
de segurança. O planejamento de segurança é demonstrado através de uma
estratégia denominada de SOBANE, que usa a metodologia DEPARIS, para análise
e diagnósticos dos riscos.

No sétimo capítulo é apresentado o método DEPARIS, uma ferramenta de


diagnóstico geral dos riscos, sua elaboração, utilização, aplicação e análise do
entendimento sobre segurança em uma atividade produtiva.

No oitavo capítulo são apresentados os resultados e as discussões sobre a


aplicação do método DEPARIS, no rappel da Aroeira, no Parque Estadual da Pedra
da Boca.

O nono capítulo é a parte mais importante deste trabalho, destaca-se a


elaboração de um critério semi-quantitativo para a avaliação de riscos que envolvem

19
20

as atividades de turismo de aventura. Esse método poder ser utilizado no processo


de planejamento dos riscos, já que apresenta uma aproximação entre análise
qualitativa e quantitativa. Trata-se de uma análise de avaliação que apresenta
resultados numéricos, permitindo a classificação dos riscos por meio de
probabilidade e conseqüência.

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21

OBJETIVO

Objetivo Geral

Este trabalho tem como objetivo propor diretrizes para a elaboração e


implantação de um sistema de gestão de riscos para atividades de turismo de
aventura em órgãos ou instituições que prestam serviços nessa modalidade turística.

Objetivos Específicos

• Auxiliar na gestão do parque estadual na busca da elaboração de um


planejamento de proteção e segurança dos usuários;

• Estabelecer características técnicas e inovações tecnológicas a serem


implantadas;

• Apresentar medidas, prevista em norma e regulamentos técnicos para


a implantação de procedimentos recomendáveis de forma a garantir
uma melhoria significativa na segurança dos operadores e usuários do
turismo de aventura dentro de parques estaduais;

• Orientar para a realização de atividades que busquem a manutenção


dos sistemas de segurança;

• Atender as necessidades da sustentabilidade turística, acreditando que


seja uma ferramenta essencial para o desenvolvimento social da
região explorada, devido à atuação marcante dos moradores da região
nas atividades turísticas;

• Apresentar sugestões para elaboração de planejamento da gestão de


riscos treinando condutores para prevenção de acidentes;

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2 O TURISMO DE AVENTURA

O turismo de aventura vem crescendo rapidamente nos últimos anos. As


atividades com o contato entre homem e natureza vem incrementando a
comercialização turística. Segundo Buckley (2006), o produto comercial oferecido
atualmente pelas operadoras de turismo de aventura não são analisados de forma
subjetiva, nem apresentam uma coerência nem uma revisão compreensiva das
análises das atividades realizadas.

Ainda, segundo Buckely (2006), a diferença entre turismo natural, ecoturismo,


turismo de aventura, expedição comercial, recreação ao ar-livre e educação ao ar-
livre é obscura. O termo turismo de aventura é utilizado significativamente para a
comercialização desse tipo de turismo, onde o principal atrativo são as atividades ao
ar-livre, que são realizadas e desenvolvidas em terreno natural, geralmente
requerendo esportes ou equipamentos especializados e é uma atividade excitante
para o turista.

Segundo McKinson (2005), o turismo de aventura tem em sua programação


atividades de práticas esportivas com desafio e esforços físicos, passeios cheios de
surpresas e obstáculos a serem superados. O incremento atrativo comercial é o
contato do homem com a natureza.

Estas definições não mostram que o cliente opere o equipamento sozinho, o


turista pode ser simplesmente passageiro, como em uma descida em corredeiras
com bote (rafting) ou em uma descida por corda equipada com roldana sentada em
uma cadeirinha (tirolesa).

Não são apresentados nessas definições artificiais os demais aspectos sobre o


turismo de aventura. O comportamento humano particularizado na prática de
atividade esportivas ao ar-livre é a chave para os estudos contínuos dessa atividade.
Individualmente as pessoas têm varias e diferentes expectativas e experiências em
atividades ao ar-livre, a excitação é apenas uma das manifestações.

O turismo de aventura pode significar diferentes coisas para diferentes


pessoas. A distância da viagem e o tempo utilizado pode variar de pessoa para

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pessoa, e são variáveis contínuas nas atividades desenvolvidas ao ar-livre. O nível


de consciência, auto-suficiência e a posse de equipamentos é uma variável que dá
suporte ao que podemos denominar de grau da aventura.

Não há uma distinção definida entre aventura e “não-aventura”, entre turismo


comercial e recreação individual, entre ponto remoto e ponto localizado, e assim
segue as diferenças em turismo de aventura. Distinção semelhante entre o que pode
ou não pode ser significante, por varias perspectivas. Quando o assunto é nível de
aventura, as considerações podem variar de acordo com a condição individual, os
limites e as capacidades técnicas de cada um. O planejamento de uma viagem de
final de semana pode variar dependendo da condição individual, alguns podem
carregar mais utensílios não apropriados que outros.

O período para a prática do turismo de aventura não é bem definido, depende


da sua essência; as estações do ano definem bem a temporada de cada modalidade
esportiva a ser praticada. Por exemplo: a prática de rafting (descida de corredeira
com uma equipe utilizando um bote) é um tipo de turismo de aventura onde a
operadora providencia todos os equipamentos, o cliente necessita de ter a
consciência previa dos riscos e a principal atração é correr rápido para as margens
do rio. Escalada, caiaque oceânico, exploração de cavernas, balonismo, salto de
pára-quedas, parapenting, mountain biking, são outras atividades que podem ser
também consideradas turismo de aventura.

2.1 Operadora de Turismo de Aventura

Operadoras de turismo de aventura são as empresas legais que oferecem


serviços de passeio para um local onde o meio ambiente é propicio a realização de
uma ou mais modalidades esportivas.

As dificuldades impostas pelos acidentes geográficos que são apresentados ao


longo do percurso é o principal atrativo do turismo de aventura, é importante que
seja relembrado que a condição individual e o nível de exposição aos riscos desse
tipo de turismo determinam o tipo de dificuldade do passeio.

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Existe uma dificuldade de distinguir uma boa operadora de turismo de aventura


e um grupo que opera o turismo de aventura. Buckley (2006) particulariza três
dessas dificuldades, devem ser observadas e aplicadas na escolha da empresa para
a prática do turismo de aventura. A primeira é a determinação da entrada da viagem,
a segunda seria a distinção entre recreação de aventura e turismo de aventura e por
último temos distinção da atividade fixa e a atividade móvel.

2.1.1 Entrada da viagem

A entrada da viagem seria um portal de boas-vindas, um rito de introdução e


mudança de estilo entre a vida cotidiana e os desafios a serem enfrentados. Possui
também um caráter econômico, agrega valor ao pacote turístico. Uma atividade
turística de lazer com qualidade deve ter incluído uma parada noturna e/ou iniciar a
viagem com os participantes a partir daquela “hospedagem”. Essa entrada da
viagem também garante a participação da comunidade local e a fixação da
sustentabilidade turística.

No entanto, esta regra nem sempre é necessariamente aplicada, muitas


atividades de turismo comercial são realizadas com duração de apenas um dia.
Existe uma relutância em considerar estas atividades de um único dia, como sendo
uma atividade turística.

2.1.2 Recreação de aventura e turismo de aventura

No turismo de aventura o cliente paga a uma operadora para providenciar uma


experiência de aventura. Na recreação de aventura o participante é quem realiza
sua própria atividade.

O turismo comercial pode fornecer todos os equipamentos e roupas


especializadas que sejam necessárias aos clientes participantes, já que eles podem
não possuir, nem ter ciência dos equipamentos necessários para as atividades de

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aventura. Por outro lado, a operadora de turismo pode providenciar apenas o guia,
sendo os turistas proprietários de todos os equipamentos e com conhecimento do
seu devido uso. Um bom exemplo é uma atividade de caminhada ou uma expedição
a uma montanha onde um guia conduz os participantes ao destino.

2.1.3 Local fixo e atividade móvel

A linha de divisão não é muito clara. A casa de apoio para atividades de


montanha tem um local fixo, ao passo que as atividades de caminhada na montanha
são atividades móveis. Já a escalada é uma atividade móvel com local fixo para a
sua prática. As trilhas para caminhadas podem ser mudadas com certa facilidade
durante o passeio, o contrário não ocorre com a via de escalada, a rota sempre tem
que passar pelos grampos para garantir a segurança.

Caminhar na montanha e escalar certamente são atividades de lazer


excitantes, para ambas são necessárias a participação de especialistas na área,
consciente e equipado com material de fabricação confiável. No entanto, uma casa
de apoio no roteiro turístico, agrega um componente na estimativa da escala
econômica do turismo de aventura. A casa é uma figura que acrescenta muito se
associada a um estado de desenvolvimento real, quando incluída dentro do roteiro
turístico. Para tanto, torná-la um atrativo, independentemente de que os visitantes
realizem alguma atividade de aventura ou não, tornando a casa um local fixo para
uma simples visita.

2.2 Perfil dos clientes de turismo de aventura

Os moradores dos centros urbanos têm um estilo de vida agitado, sob o ponto
de vista da condição de relaxamento e reposição das energias. Muitas pessoas
desses centros urbanos são relativamente bem de vida, possuem dinheiro, mas nem
sempre têm tempo para o lazer. Elas vêem um ambiente deserto e a vida selvagem

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através dos programas de televisão e por revistas de viagem, apreciando as


maravilhas da natureza com certa distância, e ficam a imaginar a quantidade de
equipamento e a ousadia de algumas pessoas para produzir os documentários da
“vida selvagem”.

O fato de haver pessoas que levam uma vida urbanamente agitada, desperta,
em alguns, o desejo de mudanças, mesmo que por alguns instantes. O dinheiro é
uma das condições básicas para a prática de atividade ao ar livre, no entanto, não é
o suficiente, outras condições são necessárias, como: tempo para a organização da
atividade, treinamento adequado, equipamento de boa qualidade. Em geral os
praticantes de turismo de aventura são adultos, em idade produtiva que desejam ser
envolvidos em uma atmosfera arriscada, diferente do cotidiano. Esse é o perfil do
cliente que procura os serviços do mercado de turismo de aventura.

No passado quando se queria realizar alguma atividade ao ar livre, geralmente


as pessoas se associavam a clubes, ou formavam grupos com familiares e amigos
próximos, adquiriam os equipamentos, já que a disponibilidade para a locação era
difícil, e saiam em busca da sua aventura.

Hoje a realidade é diferente, os equipamentos mais sofisticados e caros estão


disponíveis para locação, bem como a companhia de uma pessoa treinada para agir
de forma a garantir conforto, diversão e segurança ao cliente que busca sua
aventura. Ou seja, as pessoas não mais necessitam possuir seu próprio
equipamento ou sua própria equipe, precisam apenas confiar no plano de viagem
elaborado, na liderança e na proteção oferecida. Um conhecimento básico, um treino
leve e a necessidade de realizar uma atividade ao ar livre podem ser atendida.

2.3 Indústria do entretenimento

No passado, não havia uma comercialização maciça dos produtos fabricados e


desenvolvidos para a realização de atividades de aventura, nem tão pouco havia um
elo entre as fabricantes desses equipamentos com as operadoras de turismo, não
havia nenhuma interação logística.

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Com a indústria do entretenimento, a ligação entre as operadoras de turismo


de aventura e os fabricantes de equipamentos especializados foi estreitada. Hoje os
equipamentos são encontrados com relativa facilidade e as operadoras de turismo
de aventura sugerem e indicam os melhores equipamentos, bem como os locais
para aquisição desses equipamentos. Já é possível observar que alguns
equipamentos, como roupas, mochilas e acessórios, são oferecidos de brindes por
algumas operadoras.

O contexto social, de crescimento do turismo de aventura, impulsionou esse elo


entre fabricantes e operadoras. Podem-se ver inúmeros comerciais, dos mais
diversos produtos, usando como tema a vida ao ar livre e a pratica de esportes
ligado à aventura. As mensagens comerciais apresentam o desafio a ser superado e
a vida alternativa como diferencial para o produto apresentado. Toda essa exposição
leva o cliente a buscar produtos diferenciados, como roupas de tecido técnico,
relógios com bússola, calçados com maior aderência ou cano longo, carro com
tração nas quatro rodas, de forma que as pessoas que vivem no ambiente urbano
busquem de alguma forma, a “vida selvagem”.

O vestuário de um praticante de aventura é diferenciado, o estilo é perceptível,


a roupa é feita com um tecido tecnicamente elaborado para absorver o suor ou para
diminuir a sensação de baixa temperatura. Além disso, possui um desenho de corte
bem interessante. Esse estilo de roupa dá ao usuário um certo status, uma
particularidade em meio a sociedade em que vive. É uma forma de unir o estilo
urbano com o estilo aventureiro.

Os equipamentos são diferenciados por motivos óbvios, a prática de esportes


de aventura exige que os equipamentos garantam a segurança e a integridade física
do usuário, não é para criar um estilo. É impossível imaginar a subida ao cume do
Monte Everest, sem mencionar a qualidade e a tecnologia da roupa utilizada pelos
montanhistas, ou mesmo realizar escaladas sem o uso de uma corda dinâmica
(elástica) e confeccionada com uma capa com resistência abrasiva.

As tecnologias desenvolvidas para a fabricação de equipamentos e roupas


para a prática de esportes de aventura têm levado os fabricantes a criar centros de
pesquisa para garantir o máximo de conforte e a segurança quase que absoluta.

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2.4 Interação com outros setores

O setor de turismo de aventura vem crescendo rapidamente nos últimos


tempos, e vem ganhando destaque com pequenos artigos acadêmicos. Podemos
verificar o interesse dos especialistas de outras áreas correlatas. Trabalhos
científicos sobre educação ambiental, direito ambiental, recreação ao ar livre e
gerenciamento de áreas de preservação ambiental, além dos artigos sobre turismo,
de certa forma, pesquisadores de outras áreas dão substrato para a literatura do
turismo de aventura.

A visita a um jardim botânico ou área de preservação ambiental gera


contribuição econômica à região e busca o envolvimento da sociedade com a
necessidade de conservação daquela área, para garantir acesso desses bens às
gerações futuras. Para pessoas extremamente urbanas que realizam passeios em
jardins botânicos, as sensações fisiológicas causadas pelo contato com a natureza
podem ser consideradas como sensações similares as que são proporcionadas pelo
turismo de aventura.

O desenvolvimento, comercialização, gerenciamento, economia e negócios em


geral do turismo de aventura, ainda recebem poucas atenções do setor turístico
quando comparados aos demais setores do ramo. No ano de 2005, o Ministério do
Turismo apresentou algumas propostas de normalização e certificação do turismo de
aventura. Especialistas de diferentes áreas de atuação participaram e contribuíram
no desenvolvimento de normas para tornar as atividades econômicas do turismo de
aventura mais seguras para os usuários. Em algumas partes do mundo já existem
universidades para a formação de guias de turismo de aventura, são cursos de
graduação com tempo entre 3 e 5 anos para a formação do profissional.

2.5 Divulgação do Turismo de Aventura

Existe uma infinidade de convites destinados a pessoas que desejam participar


e compartilhar expectativas e experiências com certo grau de risco. As operadoras
de turismo de aventura divulgam as informações necessárias à venda do pacote por
folhetos e na internet, no entanto, são poucas as que descrevem o que realmente é
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o produto oferecido e qual é o grau de competência dos guias, o nível de


conhecimento e o tempo de experiência na operação daquela atividade.

No caso do Brasil, o turista que deseja o ramo da aventura, busca as


operadoras e, dependendo da especialização do esporte, da habilidade individual e
do preço de investimento, procura os locais mais visitados da temporada, como:
Chapada Diamantina e Lençóis Maranhenses. Outra forma comum, e mais prática, é
a realizada pelos mochileiros, que buscam os locais mais procurados da temporada
sem utilizar os serviços de uma operadora. Em qualquer uma das duas maneiras é
necessária a análise dos riscos inerentes à atividade, tanto operadoras quanto
aventureiros solitários, devem ter um plano de fuga, caso algo aconteça de diferente.

Comumente as operadoras divulgam seus pacotes, utilizando todos os canais


possíveis de comunicação, de acordo com as regras do mercado consumidor. As
propagandas são objetivas, buscam clientes com forte interesse em uma atividade
diferente, um final de semana excitante e recheado de adrenalina. O turismo de
aventura é vendido como uma atividade que contem riscos, porém, deve ser
lembrado que esses riscos são de certa forma calculados, em outras palavras, para
a operadora de turismo de aventura, o passeio realizado não passa de apenas mais
um dia de trabalho, já para o cliente, que pagou pelo pacote, o passeio realizado foi
um feito de bravura e coragem, o que certamente será divulgado por ele aos seus
amigos, que serão tentados a realizar a mesma aventura.

Grande parte das operadoras prefere fazer sua divulgação através de folhetos,
enfocando os dois principais produtos: aventura e natureza. Alguns folhetos
oferecem um local e uma atividade simples, outros oferecem um local extraordinário
e atividades de aventura bastante técnica. O mais importante aqui é notar que quase
sempre o serviço de aventura propriamente dito, é terceirizado. Ou seja, a operadora
que vende o pacote com sendo mais um produto, não tem controle dos processos
que envolvem as atividades, e em não ter controle desses processos, as operadoras
passam também à condição de cliente.

2.6 O setor de aventura

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Segundo Ruschmann (1997), o turismo de natureza caracteriza-se pelo


envolvimento físico de seus participantes durante a viagem e é divido em hard, com
participação intensa e o soft, com participação leve, sem grandes esforços físicos ou
utilização de técnicas especiais. Com base nessa definição podemos ter, a principio,
a idéia de que o turismo de aventura é hard, no entanto, dentro do setor de turismo
de aventura o termo soft seria aplicado a atividade com menor intensidade de
esforço físico, o esforço existe, porém em menor grau.

O negócio básico do setor de aventura é o que pode-se chamar de aventura


soft. O cliente se apresenta numa operadora e essa por sua vez providencia
transporte, equipamento, roupas especializadas, guias e treinamento suficiente para
a diversão dos clientes, com segurança e emoção. Comercialmente falando, em
ampla escala, a tendência do turismo de aventura é buscar o caminho da redução
dos riscos, utilizar áreas próximas aos grandes centros urbanos e com exigência de
menor habilidade requerida das atividades para ampliar o mercado de demanda.

Ao tempo em que o setor do turismo de aventura se expande, buscando um


maior fluxo de turista em massa, outros pontos se contrapõem a essa expansão: o
alto custo dos produtos necessários, a habilidade dos condutores, o grande risco
que envolve os clientes e, por fim, a operação para levar os turistas a pontos
remotos e áreas inóspitas.

As atividades mais remotas e arriscadas, produtos do turismo de aventura, são


as chamadas expedições, o ápice do turismo de aventura comercial. As expedições
são pacotes onde o cliente deve ter condicionamento físico suficiente e equipamento
adequando para, por exemplo, escalar o Everest. Com toda a certeza, também são
os pacotes mais caros, exige muito da experiência e da condição física do guia e as
condições meteorológicas devem estar favoráveis para o êxito da expedição.

Estruturalmente, o turismo de aventura apresenta-se na margem da indústria


do turismo. Em casos isolados de algumas atividades turísticas comerciais e em
alguns destinos, existe oferta opcional de aventura. Essas ofertas agregadas
ocorrem quando há uma pressão do mercado demandante e quando há um menor
custo de tecnologia empregado. A pressão do mercado ocorre geralmente quando
existe um número considerável de clientes jovens, essa demanda leva as

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operadoras a buscar os serviços de empresas que trabalhem com atividades de


aventura. O menor custo tecnológico é justamente o mais difícil de ocorrer, atividade
de risco requer pessoas qualificadas e equipamentos de ponta, além do mais,
conduzir pessoas para pontos remotos requer uma logística complexa, esses fatores
são determinantes para o aumento dos custos nos pacotes de turismo de aventura.

O negócio básico do turismo de aventura não apresenta grandes vantagens


financeiras, quando comparado às demais atividades do ramo. Já as vantagens
competitivas são fortes, podendo servir como diferencial dentro do mercado. A
competitividade comercial pode substancialmente ser resumida ao preço do pacote.
O menor preço, fatalmente recai sobre a segurança do cliente que pagou menos por
um equipamento de segunda linha e um guia sem habilidades.

Por isso, ao longo do tempo, as operadoras procuram oferecer acesso ao


turismo de aventura, por meio de atividades mais suaves, que requerem um menor
investimento tecnológico e ofereçam um menor grau de risco aos clientes. Exemplos
típicos podem ser vistos em muitas operadoras que oferecem a técnica de descida
por corda, conhecida como rappel, ou um passeio de rafiting com corredeiras de
classe 3, no máximo, sabendo que a escala se estende ate 5.

2.7 Habilidade, isolamento, risco e recompensa,

O fator crítico é o diferencial nas atividades de turismo de aventura, seja nas


atividades mais extremas, que têm um baixo fluxo turístico, ou nas atividades mais
básicas, onde o fluxo turístico desse ramo é mais acentuado. A exigência de
habilidade prévia em atividades extremas separa especialistas no turismo de
aventura das pessoas comuns, as operadoras de turismo procuram fazer dos seus
produtos um pacote acessível sem exigir do cliente habilidades, ajustando o pacote
ao mercado consumidor.

Sendo atividade extrema ou atividades leves, para qualquer um dos casos, é


necessário que o turista tenha uma habilidade prévia, por menor que seja, ao menos
um condicionamento físico adequando para a atividade.

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O fator isolamento é outro pré-requisito para o planejamento dos riscos nas


atividades ao ar-livre, quanto mais afastadas dos centros urbanos, maior é o risco.
Esse fator leva o cliente a reconhecer o privilégio de saber que é uma das poucas
pessoas que passaram por aquele local. Mesmo quando o local é um point, onde o
fluxo turístico visitante ao local é grande, ainda assim o fator isolamento é de grande
estima para os turistas. Dependendo do nível de habilidade do turista o local pode
ser reconhecido como um ponto remoto.

A combinação entre habilidade necessária (H) e isolamento (I) tem como


resultado o risco (R). Essa combinação é uma conseqüência, um fator inverso, que
pode ser apresentado como uma equação:

I
R=
H

Equação 1 – Risco no turismo de aventura

Dessa forma, quanto maior for a habilidade menor é o risco. Quanto mais
isolado for o local, maior é o risco.

As operadoras de turismo de aventura devem ter alguns protocolos de


segurança para diminuir consideravelmente e, sempre que possível, eliminar os
risco.

A redução dos riscos é feita pela operadora de turismo, com: domínio do local
da atividade, guias habilidosos, suporte logístico, assistência de primeiros-socorros
qualificada e um plano de evacuação exeqüível e eficiente.

A redução dos riscos é a medida exata para diferenciar uma operadora de


turismo de aventura e um grupo de recreação de aventura. Qualquer operadora que
lida com o contato entre homem e natureza, deve ter um suporte de primeiros-
socorros e um plano de evacuação. As condições meteorológicas podem interferir
substancialmente no plano principal da atividade, surpresas podem acontecer, e
quem estiver mais preparada para eventualidade irá garantir a reputação e a
integridade física dos seus clientes.

A recompensa no turismo de aventura pode vir de várias formas, nem sempre é


necessário que a atividade tenha êxito. A recompensa é justamente o nível de

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satisfação do cliente. Há casos em que o cliente pode ficar insatisfeito com o nível
de exposição aos riscos, em outros o cliente pode achar que não correu risco algum.
O fato é que a recompensa pode ser percebida na satisfação do cliente em ter
participado de uma atividade diferente do normal.

O turista de aventura é um caçador de recompensas, embora ele saiba onde


quer chegar, o percurso é quem vai determinar a possibilidade de atingir o final.
Caso isso não seja possível, os motivos que não levaram ao final já são capazes de
justificar, e é resultado para uma grande história para os amigos.

2.8 Evolução do Turismo de Aventura em Áreas Remotas

Historicamente, as viagens aos pontos mais remotos, em locais onde o terreno


apresenta severas dificuldades para a travessia, quase sempre está associada a
uma exploração cientifica, ou uma expedição patrocinada, longe de ser o turismo
comercial. Atualmente, a oportunidade para fazer essas expedições é mais comum,
é possível adquirir um pacote turístico para uma ascensão em uma montanha de
mais de 8.000 m, uma descida de corredeiras classe 4, fazer a travessia de um
deserto. Hoje são acessíveis e fazem parte dos pacotes de algumas operadoras de
turismo de aventura comercial. No mundo inteiro existem áreas remotas onde há
uma população local, transporte adequado e acomodações confortáveis, tudo como
é estabelecido pela indústria do turismo comercial. Pode-se citar, como bons
exemplos à ilha de Fernando de Noronha e o acampamento base do monte Everest,
ambos são locais remotos, onde é possível encontrar conforto para diversos tipos de
turista.

Os caminhos, no qual o turismo de aventura tem desenvolvido, são diferentes


entre regiões. Amplamente quatro categorias de áreas para exploração do turismo
de aventura podem ser distinguidas, segundo Buckely (2006):

1. Áreas rurais e parques, uma região, onde é desenvolvida


tipicamente atividades de um dia, podendo ser acompanhado por um guia
turístico e dentro do alcance de serviços de resgate; poucas habitações

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são encontradas, devido à dureza do solo ou por fatores econômicos,


mas não por climas severos ou terrenos inóspitos. Exemplo: O Parque
Estadual da Pedra da Boca;

2. Áreas habitadas em desenvolvimento, com acessos construídos


ou meio de transporte desenvolvidos para dar acesso ao local, há abrigo
e comida de suprimento. Em geral são os pontos mais afastados no
mapa. Exemplos: O Pico do Jabre, ponto mais alto da Paraíba, a ilha de
Fernando de Noronha;

3. Áreas com raras habitações, não há acesso mecânico ou


transporte local, não há infra-estrutura de comunicação e tradicionalmente
existe apenas um estilo de vida de subsistência. Exemplo: as
comunidades existentes nos Lençóis Maranhenses;

4. Áreas inabitadas, são os locais de meio ambiente extremo:


oceano, pólos, alguns desertos, cumes das montanhas.

Na época da necessidade do desenvolvimento nacional, as expedições


científicas utilizavam diversos artifícios, que hoje são utilizados pelo turismo de
aventura comercial. Hoje são cada vez mais reconhecidas como desafios de
atividade de recreação e exploradas pelas empresas de turismo de aventura.

A esquadra de Cabral, em uma expedição comercial as Índias, descobriu o


nosso país. Segundo Freire (1982), a segunda expedição comandada por André
Gonçalves e Américo Vespuccio, saiu de Portugal em 22 de maio de 1501 e avistou
terras do Brasil em 16 de agosto do mesmo ano. Praticamente uma viagem de três
meses completos, uma verdadeira expedição de aventura. As entradas para
desbravar os sertões, realizada pelos bandeirantes que seguiam o caminho dos rios
para atingir regiões do interior do Brasil, também apresentam características do
turismo de aventura. Recentemente, a partir da década de 60, o lema: “o petróleo é
nosso”, moveu pesquisadores do país inteiro na busca e a realizar exploração em
alto mar, com expedições cientificas. A troca da bandeira nacional no pico da
Neblina com 3.014 m de altura, fronteira do Brasil com as Guianas, requer dos
montanhistas um bom preparo físico e equipamentos de alta performance, e é um

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dos roteiros opcionais de turismo de aventura. Essas atividades históricas servem


como fonte de inspiração para a elaboração de roteiros de turismo de aventura.

Em paises onde o turismo de aventura é explorado, como Nova Zelândia,


Canadá, E.U.A e Inglaterra, o nível de qualidade na prestação dos serviços
acompanha o nível de segurança. O risco das atividades oferecidas pode ser alto,
porém os serviços de salvamento, busca e resgate são disponíveis no mesmo grau.
Os guias possuem curso superior em atividades outdoor, as brigadas de resgate
estão sempre prontas e em grande efetivo, há disponibilidade de equipamentos e
veículos para realizar uma intervenção com presteza em tempo hábil.

Uma vez estabelecida uma demanda com fluxo turístico a um point de


atividades de aventura, o volume de visitas que necessita de cuidados diferenciados
aumenta. O turismo de aventura é caracterizado pelo grau de risco para a realização
das atividades e a engenharia de segurança deve buscar atuação neste campo para
fazer a análise desse risco e dar o tratamento devido para conter ou minorar o risco.

As operadoras de turismo de aventura devem ter em seu planejamento um


número de guias suficiente para atender a quantidade de clientes, diferentemente
dos outros ramos do turismo, onde um motorista, um guia e um auxiliar são
suficientes para controlar um grupo de 50 pessoas. Nas atividades ao ar-livre, o
número de guias que acompanha o grupo será diferente dependendo do tipo de
esporte a ser praticado e, também, pela quantidade, bem como pelo nível do grupo.

As expedições são o ápice na evolução das atividades do turismo de aventura,


são realizadas em terrenos tortuosos e em locais remotos. Os acessos a esses
locais são pouco usados, são atividades realizadas por empresas que investem alto
no turismo de aventura. Em geral, essas expedições são autônomas, as atividades
são realizadas com um apoio logístico independente, todos os equipamentos e infra-
estrutura são montados pelas empresas operadoras. Um bom exemplo são as
expedições realizadas ao monte Everest, onde as operadoras são responsáveis por
montar os acampamentos base e os avançados, cilindros de oxigênios são
transportados pelos guias de apoio e deixados em pontos estratégicos. Em fim, todo
um planejamento é executado para o êxito das atividades.

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A atuação da indústria do turismo no setor de aventura, com recepção,


acomodações e logística em locais remotos, tem efeitos práticos. Apesar de serem
pacotes caros, a explosão da demanda só passou a ocorrer depois da oferta de
condições de segurança ao cliente. As condições de segurança fazem a diferença
no fator humano, é a diferença entre continuar a aventura ou abandonar o objetivo.

Principalmente em ambientes remotos, o grau de habilidade em lidar com os


riscos, aliado a um planejamento logístico irá determinar o sucesso da expedição. O
planejamento deve conter em seu escopo a identificação, análise, avaliação e o
tratamento que deve ser dado a esses riscos envolvidos em cada etapa da
expedição. Ainda é necessário lembrar que um planejamento deve conter opções de
evacuação, em caso de algo não sair em conformidade com o plano principal. A
habilidade individual entra no planejamento como fator preponderante para a
segurança individual e para o grupo.

2.9 Estrutura das Operadoras de Turismo de Aventura

O turismo de aventura comercial possui um leque de opções de atividades


esportivas que podem ser exploradas. Portanto, são necessários que se
caracterizem as atividades em diferentes níveis e cada uma com seus riscos, em
cada pacote deve ser analisado os conhecimentos e capacidades de cada membro
que compõe o grupo, alguns podem ser peritos que anseiam por desafios maiores,
outros podem ser novatos que desejam novas experiências.

Estruturalmente, os pacotes de turismo de aventura podem permitir que o


cliente seja essencialmente passageiro, como: em uma decida de rafting, ou uma
ponte tirolesa, ou em um salto duplo de pára-quedas. Ou se os clientes podem
participar ativamente das atividades, como: navegar em caiaque duplo, escalar,
realizar caminhadas de longo ou curto percurso, fazer passeio de bicicleta, etc.

Existem operadoras que, devido à exigência das atividades envolvidas no


pacote turístico, oferecem treinamento em academias para dar preparo físico ao
cliente, consultas com o nutricionista para a elaboração de uma evolução nutricional

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adequada e treinamentos específicos e periódicos com equipamentos e técnicas a


serem empregadas nas atividades turísticas. Essa preocupação com o cliente ocorre
a partir do momento em que durante o planejamento, verifica-se o nível de
exposição aos riscos e o tratamento dado é o de elevar o nível de qualidade dos
clientes para garantir a segurança de todo o grupo em ambientes remotos. Esse
nível de estrutura permite que a operadora durante a realização das atividades,
tenha uma preocupação em apenas guiar o cliente, para atingir o objetivo do
passeio.

No Brasil, a maioria das operadoras que exploram o turismo de aventura, são


empresas terceirizadas ou pessoas que prestam esse tipo de serviço. Uma agência
de turismo oferece os pacotes aos clientes nos grandes centros urbanos e conduz
esses clientes para o local das atividades de aventura. Existe uma parceria entre
agência de turismo e operadora de aventura. Um contrato de risco para a
credibilidade da agência de turismo, pois em boa parte dos casos a agência passa a
ser mais um cliente, justamente por desconhecer os processos que envolvem a
operação de atividades a serem desenvolvidas.

Em geral, para esses casos de terceirização, pode ser oferecido um


treinamento de poucas horas, antes mesmo da saída para as atividades. Na grande
maioria dos casos, o treinamento é resumido a uma breve explicação da atividade a
ser desenvolvida, poucos minutos antes da sua realização. Dois exemplos podem
ser dados: a técnica de descida por corda (o rappel) ou o salto de bungee jump,
onde o cliente conhece superficialmente a atividade, no entanto, nunca operou, ou
desconhece os procedimentos de segurança para garantir sua integridade física.

A distinção entre um grupo habilidoso e um grupo bem equipado deve ser


considerada quando se pensa em nível de segurança da aventura. A experiência do
guia e da própria equipe, analisando individualmente cada membro, deve ser
considerada, pois é da capacidade individual que o grupo pode realizar a atividade
de lazer com segurança. Na formação de uma equipe, o grupo deve ter um líder, que
pode ter um apoiador ou mais, para providenciar equipamentos, auxiliar o líder como
guia e abastecer o grupo durante o passeio. Novamente, a discussão entre
operadora de turismo dotada de guias e apoiadores, e um grupo similar com
“características” de empresa de turismo que realiza pacotes agendados, e realiza

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38

turismo idêntico a uma companhia. A escolha da operadora ou do grupo similar é


uma decisão pessoal do cliente que pode incidir na segurança do passeio.

Estruturalmente é necessário que as operadoras possuam pessoal com título


acadêmico, pessoal devidamente treinado e qualificado para trabalhar com turismo
de aventura, nas diferentes áreas de atuação. As operadoras devem ter, ao menos,
uma preocupação em possuir nos seus quadros de recursos humanos, pessoas com
cursos técnicos, capazes de atuar nas áreas de: preservação ambiental, resgate,
primeiros socorros, orientação com bússola, história natural, geografia, biologia e
tudo mais que puder demonstrar a capacidade de lidar com o cenário da aventura.

A estrutura de uma operadora de turismo de aventura, além das funções


administrativas comuns a qualquer empresa do mesmo ramo, deve, ainda, possuir
guias profissionais treinados, capacitados e experientes para conduzir os clientes
com firmeza e segurança. Deve possuir os equipamentos necessários à realização
das atividades em quantidade suficiente para os clientes e com qualidade para
atender as necessidades dos esforços solicitados. Outro ponto importante são as
opções oferecidas aos clientes, mais que quantidade para a escolha, é importante o
agendamento das atividades, períodos para a realização dos passeios, isso
demonstra que a operadora tem um planejamento tático desenvolvido para cada
temporada do ano.

2.10 Atividades de Aventura

A operadora de turismo deve oferecer um pacote com uma estrutura capaz de


atender os níveis de segurança exigido. Por outro lado, o cliente deve possuir o perfil
adequado para se integrar ao grupo com determinado destino turístico de aventura.

A estrutura oferecida pela operadora e o perfil adequado do cliente são itens


que determinam a quantidade de visitantes a um local de turismo de aventura.
Quanto menor forem as exigências de segurança e de habilidades do cliente, maior
é a quantidade de praticantes e visitantes de um determinado local de prática de
turismo de aventura. O contrário também acontece, quanto maior forem as

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39

exigências de segurança e quanto maior é a necessidade de habilidades do cliente,


menor é o fluxo de visitantes ao local turístico.

Buckley (2006) propôs uma pirâmide de atividades de aventura, um gráfico


para demonstrar a quantidade do fluxo de turismo de aventura em locais para a
prática das modalidades esportivas versus a qualificação e o perfil do cliente.
Algumas modificações foram feitas para a melhor compreensão.

Locais Extremos
100% Locais Remotos
Qualificação Técnica, Experiencia e Nível de

Aventura Especializada
80%
Aventura
Qualificada
60%
Aventura

Aventura Preparada
40%
Passeios com emoções -
parques ecologicos
20% Passeios a destinos
comuns de aventura com
excursões multiplas

0%
Volume de
Volume de Praticantes
Praticantes

Figura 1- Pirâmide de atividades de aventura


Fonte: adaptada de Buckley (2006)

Passeios a destinos comuns de aventura com excursões múltiplas, a base


da pirâmide (nível-1), são os pacotes turísticos oferecidos com destino a parques
naturais e reservas ecológicas, onde é permitido o passeio por trilhas, o desfrute de
belas paisagens e o contato com a natureza. Em geral, essas atividades são
realizadas em áreas próximas de cidades, o que diminui os riscos. No entanto, essa
proximidade aumenta o fluxo e a quantidade de pessoas que necessitam de atenção
especial, afinal o ambiente é de contato com a natureza e nem todos os clientes
possuem experiência com o meio ambiente natural.

Passeios com emoções em parques ecológicos (nível-2), são os pacotes


oferecidos com mais atividades além de uma caminhada em área preservada,
podem ser agregados ao passeio técnicas como o rappel¸ tirolesa, rafting, e outras
atividades que apresentem pequeno grau de risco na realização. As características

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40

do local para esse tipo de passeio são ambientes conhecidos e que apresentam
uma infra-estrutura para a montagem e suporte das práticas esportivas.

No nível-3 tem-se as aventuras preparadas, que são atividades


cuidadosamente elaboradas para causar maior impacto no cliente, caminhadas um
pouco mais longas, travessias de rios pouco caudalosos, ascensões a cumes de
serras e outras atividades que pareçam ser desafiadoras, não pela exposição ao
risco, mas pela exaustão que podem causar ao cliente. Nessas atividades são
utilizadas áreas bem conhecidas pela operadora, não necessariamente são
próximas às cidades, mas há sempre recursos e infra-estrutura necessária para a
realização das atividades.

Nas aventuras qualificadas, no nível-4, fazem parte desse grupo pessoas que
tenham um curso básico nas práticas esportivas a ser em desenvolvida, bom
preparo físico, além de equipamento próprio para a realização da atividade. As áreas
escolhidas para esse tipo de cliente são ligeiramente inóspitas, pode ser que haja
necessidade de planejamento tático, pernoite e suprimentos para a aventura. Nesse
nível já é possível notar a necessidade de uma estrutura organizacional maior, a
realização de pré-expedições para reconhecimento do local, escolha de rotas de
fuga e qualificação e habilidades individuais dos membros da equipe.

O nível-5, aventura especializada, requer planejamento tático, suprimentos,


uma estrutura de apoio maior que as atividades anteriores e uma qualificação
adequada do grupo que compõe a expedição. Nesse nível já há profissionalismo dos
membros da equipe, formada por especialistas de alto grau de conhecimento e
experiência. Os locais para a realização das atividades são de difícil acesso,
exigindo dos membros da equipe um excelente preparo físico e técnicas apuradas.

Os locais remotos, no nível-6, são aventuras profissionais. As necessidades


para a realização dessas atividades são as maiores e mais qualificadas possíveis. O
planejamento é feito com anos de antecedência, o grupo é treinado e qualificado em
ambientes semelhantes aos do local da aventura, os equipamentos são de ponta e
mesmo com toda a estrutura exigida nem sempre a aventura se completa.

Os locais extremos, nível-7, diferenciam-se dos locais remotos por um único


detalhe: a quantidade de pessoas que atingem o objetivo. Nesse nível, a diferença

40
41

está nas condições do tempo para a realização das atividades, o que fatalmente
indica a possibilidade do sucesso, e no melhor condicionamento físico, técnico e
psicológico do cliente. Essas combinações levam o cliente aos locais mais extremos
da aventura, com o retorno em segurança.

2.11 Riscos em atividades de aventura

Na seção 2.7 foi apresentada uma equação como proposta para a análise dos
riscos em atividades de aventura. Analisando a pirâmide de atividades de aventura,
adaptada a partir da proposta de Buckley (2006), observa-se a existência de sete
níveis de locais para a prática de turismo de aventura. Considerando que as
habilidades do praticante podem ser distribuídas em cinco categorias, sendo elas:

1 Amador: o praticante ocasional, o típico turista que procura uma


atividade de lazer, nunca teve oportunidade de entrar em contato com a
atividade esportiva;

2 Iniciante: a pessoa que já detém um conhecimento através de


um contato breve com a atividade esportiva;

3 Praticante: é aquele que regularmente pratica a atividade


esportiva e possui um curso básico para a prática do esporte;

4 Especialista: podemos considerar como sendo o praticante com


técnicas mais apuradas e curso mais avançados;

5 Profissional: é a pessoa que vive a atividade, um guia ou


instrutor da modalidade.

Com essa proposição de categorias de habilidades, os riscos em atividades de


aventura podem ser apresentados através de um gráfico que demonstra o
crescimento do risco à medida que é combinada a habilidade individual com o local
escolhido para a prática do turismo de aventura.

41
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R is c o e m A v e n t u r a

Nível de Habilidade e Isolamento


6

Is o l a m e n t o H a b i li d a d e R is c o

Figura 2 – Gráfico da análise de riscos combinando habilidade e isolamento

A figura 2 apresenta um ponto de equilíbrio entre habilidade e isolamento,


quando esses requisitos se equivalem, tem-se um risco de fator unitário. Para cada
nível de local tem-se uma probabilidade do risco ocorrer. É importante ressaltar que,
de acordo com a análise dos riscos propostas a partir do gráfico, no sexto e sétimo
nível, nos locais remotos e extremos, o profissionalismo não é requisito para diminuir
os riscos, não há ponto de equilíbrio, os fatores externos, como as condições
meteorológicas, são responsáveis por aumentar os níveis de riscos, e, de qualquer
maneira, o perigo é constante, não há como ter garantias de sucesso absoluto.

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3 NORMAS DE REFERÊNCIA

As normas proposta podem apontar as medidas a serem adotadas para a


elaboração e implantação de um sistema de gestão dos riscos em estruturas
organizacionais de qualquer porte. Observa-se a existência de diversos tipos de
sistemas de gestão de riscos, adotados e elaborados em vários países, em geral
elas se completam e são cópias adaptadas para a realidade onde é empregado o
modelo de gestão.

Nesse capítulo serão apresentadas, de forma detalhada, as normas legais e


algumas publicações sobre Gerência de Segurança em organizações. Normalmente
este tema é abordado pelo título de Gestão dos Riscos ou Gestão de Segurança e
Saúde no Trabalho. A necessidade de administração eficiente passa pelo
gerenciamento dos riscos que envolvem as atividades. Garantir a segurança e a
integridade física dos clientes internos e externos de uma organização econômica
não é um processo simples, mas o que se espera do gestor é uma antecipação para
evitar o acidente. As normas aqui apresentadas têm o objetivo de nortear as
diretrizes apresentadas no Capítulo 6 desta monografia.

3.1 NBR 15.331 Turismo de aventura – Sistema de Gestão da Segurança

A Norma Brasileira Registrada (NBR) 15.331 (ABNT, 2006) oferece


informações para a prática da gestão dos riscos em atividades de aventura, a norma
não é um fim em si mesma, como a própria norma sugere. Ela deve funcionar
concomitantemente com outros sistemas de gestão, podendo ser de qualidade ou
ambiental.

O sistema de gestão de segurança pode ser adotado por operadoras de


turismo de aventura para demonstrar o comprometimento com a integridade física e
a saúde dos usuários. Entenda-se por operadora não só as agências que
comercializam o pacote turístico, mas também as organizações públicas ou

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instituições privadas que administram áreas de conservação ambiental ou, ainda,


qualquer tipo de atividade econômica que explore o turismo de aventura.

Através de pesquisa na ABNT, observa-se a particularidade deste tipo de


norma, não há registrado o desenvolvimento de norma para atender os Sistemas de
Gestão da Segurança em outro setor econômico, grande parte das informações e
estudos elaborados para a concepção desta norma tem como base a literatura
internacional, onde existem sistemas de gestão de risco em atividades de aventura
desenvolvidos há alguns anos.

Uma grande preocupação na concepção dessa norma é atender a questão da


segurança em atividades do turismo de aventura, de tal forma que ela se complete e
atenda os requisitos da gestão ambiental. As atividades de turismo de aventura são
realizadas com o contato direto entre homem e meio ambiente natural, e as
agressões ambientais não são permitidas para este tipo de atividade econômica. A
demarcação de áreas proibidas com indicativos de alerta é um impacto ambiental
que deve ser evitado, devido o uso de cores fortes que não fazem parte da
paisagem. Esse exemplo mostra como a NBR 15.331 é diferenciada em termos de
engenharia de segurança, onde comumente em locais que apresentem maior risco,
placas e telas com cores chamativas serviriam bem para atender às necessidades
de segurança.

O modelo de gestão de segurança proposto pela norma baseia-se no principio


da ISO para estruturas organizacionais, dividido em cinco princípios fundamentais
que têm como referência básica o ciclo PDCA.

O primeiro princípio é o da Política de Segurança, onde a organização mostra


suas intenções de fazer o que for necessário para garantir o compromisso com a
gestão de segurança.

O segundo princípio é o Planejamento, nesta fase deve ser formulado e


apresentado um plano, em forma de documento com vistas a atender o primeiro
princípio, o da Política de Segurança.

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45

O terceiro princípio é o de Implantação e Operação, onde a organização deve


usar mecanismos para viabilizar a concretização das metas de Política de
Segurança.

O quarto princípio é o da Verificação e Ação Corretiva, nesta fase a


organização realizará um monitoramento e avaliará o desempenho e as metas
atingidas da Política de Segurança.

O quinto princípio é a Análise Crítica, onde o conselho gestor irá redefinir ou


implantar algo em uma das quatro fases anteriores, a crítica tem o sentido de
melhoramento.

Todos os cinco princípios em que se baseia a norma são finalizados no último


estágio e estendidos para uma busca da Melhoria Continua. Dessa forma o sistema
de gestão de segurança é abordado como uma estrutura organizacional que tem a
preocupação com a revisão contínua dos seus princípios. Esse tipo de modelo
proposto conduz à participação de todos os indivíduos envolvidos no sistema de
gestão, de modo a atribuir responsabilidades individuais na melhoria da segurança.

Dentro da Política de Segurança proposta pela norma são abordados dez itens
para nortear a construção de uma política de gestão da segurança. Alguns pontos
podem ser acrescentados do ponto de vista da engenharia de segurança. Por
exemplo: apontar que as ações de prevenção se sobrepõem às ações de reparação,
essa dicotomia, prevenção versus reparação busca estimular e incentivar as
operadoras de turismo de aventura a adotarem as políticas de segurança, podendo
ser estabelecido instrumentos de certificação de qualidade na gestão dos riscos.
Ainda pelo ponto de vista da engenharia de segurança, outro item a ser contemplado
na Política de Segurança é a capacitação dos recursos humanos, falta a indicação
para a formação de instrutores para ações educativas junto a operadoras, e até
mesmo na capacitação de guias ou condutores comprometidos com a gestão de
segurança.

O planejamento sugerido pela norma é dividido em quatro fases: identificação,


análise, avaliação e tratamento dos riscos. Tem como base as normas de
gerenciamento em projetos de risco elaborado pela Padronização Australiana e
Neozelandesa a AS/NZS 4360 publicada pela primeira vez em 1995 e modificada

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em 2004. Esse modelo é consistente, por isso é utilizado por grande parte dos
profissionais e órgãos ou instituições que trabalham com gestão de riscos, são
usadas como diretrizes em projetos de risco. Os passos do processo de
gerenciamento são sete e, segundo Cooper (2005), para cada um dos passos há um
questionamento para melhor compreensão e desenvolvimento dos passos:

Quadro 1 – Questões para o gerenciamento de projetos


Passos do Gerenciamento de riscos Questionamentos gerenciais
Estabelecer o contexto O que nós queremos realizar?
Identificar riscos O que pode acontecer?
Analisar riscos O que é estabelecido pelo projeto principal?
Avaliar riscos O que é mais importante?
Tratar riscos O que vamos fazer a cerda disso?
Monitorar e revisar Como agir para manter sob controle?
Comunicar e consultar Quem está envolvido no processo?
Fonte: Cooper (2005)

Os passos de monitoramento e revisão, bem como comunicação e consulta,


são ligados aos outros cinco passos para garantir que cada fase do gerenciamento
esteja sendo acompanhada por pessoas com responsabilidades atribuídas em cada
passo e seja garantido o processo de melhoria continua.

O objetivo principal do gerenciamento de riscos é identificar e gerir de forma


significativa o risco. Isto envolve fases complexas, com monitoramento e revisão de
processos continuamente. Uma boa base para o gerenciamento dos riscos é o
gerenciamento das atividades ou monitoramento dos processos. A norma expõe
amplamente as formas de análise e evolução dos riscos.

3.2 NR - 9 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais

A Norma Regulamentadora (NR) número-9 é a norma que estabelece a


obrigatoriedade da elaboração e implantação de um programa de prevenção de
riscos ambientais para garantir a integridade física dos trabalhadores em um
ambiente de trabalho devidamente constituído, considerando a proteção ao meio
ambiente e os recursos naturais.

A norma regulamentadora deve ser utilizada em conjunto com a NBR 15.331,


pois ela estabelece parâmetros mínimos com diretrizes gerais. Os agentes

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ambientais compatíveis com a prática de atividades de turismo de aventura são os


físicos, químicos e biológicos. Pode-se considerar como agente de risco físico as
ações não ionizantes provocadas pelo sol. A exposição aos agentes químicos fica
por conta da absorção através da pele de substâncias urticantes, caso haja contato.
Os agentes biológicos podem vir por parasitas como a sanguessuga ou por fungos
advindos da umidade nos pés, por exemplo.

O Programa de Prevenção de Riscos Ambientais deve ser examinado


anualmente, devido suas metas de curto prazo, o que dá objetividade e maior
possibilidade de alcance. O programa contempla a avaliação por meio de uma
comissão ou conselho. Neste caso, deve haver um corpo formado por pessoas com
qualificação técnica para julgar os procedimentos adotados para o programa.

De um modo geral, o programa busca a antecipação dos riscos, e implantação


das medidas adequadas para contornar os riscos. A norma sugere uma avaliação
quantitativa para mensurar a exposição aos riscos. As medidas de proteção devem
seguir hierarquicamente; em primeiro lugar deve-se eliminar os riscos quando não
for possível, deve-se tentar a redução ao máximo.

A utilização de EPIs é abordado pela norma. São apontados as necessidades


da escolha adequada para cada tipo de atividade, a capacitação para a utilização
correta do equipamento de proteção individual e manutenção adequada para um
bom desempenho para quando forem exigidos esforços ao EPI.

Responsabilidades são atribuídas para os atores que compõem o ambiente,


tanto os gestores quanto os usuários, guias e clientes, todos devem participar no
cumprimento do PPRA, possibilitando a interrupção das atividade quando da
possibilidade grave de risco.

3.3 Norma Regulamentadora - 21 – Trabalho a Céu Aberto

47
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A norma aponta a necessidade de um abrigo, mesmo sendo rústico, a intenção


é a de proteger o usuário das intempéries, diminuindo a intensidade das lesões e
maus súbitos que possam ocorrer.

3.4 BS 8800 Gestão de Saúde e Segurança Ocupacional

Elaborado pela British Standard Institute (BSI) a norma procura integrar o


gerenciamento de saúde e segurança ocupacional com a administração de outros
processos da empresa. Possui diretrizes bastante genéricas que podem ser aplicada
em organizações de grande porte bastante complexas, ou em organizações de
pequeno porte com baixo risco. Um dos principais focos da norma é o
estabelecimento de uma imagem responsável para o mercado consumidor.

A BS 8800 é uma norma inglesa que é integralmente ajustável às Normas


Regulamentadoras brasileiras, e pode ser complementada com outros sistemas de
gestão como: qualidade e ambiental.

Como a norma define princípios de gerenciamento e comportamento, uma


política de segurança deve ser adotada para dar início ao processo de gestão. É
importante lembrar, mais uma vez que, a política é determinada pela alta gestão da
organização e deixa claro o comprometimento com a segurança. A política sugerida
pela norma deve conter: reconhecimento que segurança é parte integrante do
desempenho da organização; o comprometimento com o alto nível de desempenho;
a utilização de ferramentas adequadas para o funcionamento da gestão de
segurança; estabelecimento de metas; a divulgação em todos os níveis de
interessados; a participação coletiva dos envolvidos e é claro a busca da melhoria
continua.

A BS 8800 sugere a implantação de análise inicial para diagnosticar o


desempenho do sistema de gestão. O segundo passo é a formatação de uma
política de segurança. Na seqüência tem-se a elaboração de um planejamento para
avaliar os riscos, identificar os requisitos legais que podem ser aplicados, utilizar
meios de mensuração dos resultados e acompanhamento de melhoria contínua. Na

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quarta fase responsabilidades são atribuídas durante o controle do sistema de


segurança. O quinto e mais importante passo é a documentação que sai como
resultado dos passos anteriores e deve estar acessível a todos. Por fim, com vista
na melhoria continua, a verificação e adoção de ações corretivas rápidas e eficazes.

3.5 OHSAS 18.001 Sistema de Gestão para Segurança e Saúde Ocupacional

A OHSAS 18.001, apesar da sigla não é uma norma britânica, ela é publicada
pela BSI, quem possui os direitos de cópia. A OHSAS 18.001 foi elaborada por treze
instituições de padronização distribuídas pelo mundo. A tradução da sigla OHSAS é
“séries de especificações para avaliação de saúde e da segurança”. Entrou em vigor
no ano de 1999, as especificações foram criada para atender à necessidade de um
padrão reconhecido para a saúde ocupacional e segurança a partir do qual as
empresas pudessem ser avaliadas e certificadas pela gestão de segurança.

Não são estabelecidos critérios para o desempenho de Saúde e Segurança do


Trabalho, também não é contemplado pela norma detalhamento para o projeto de
um sistema de gestão. A aplicação correta da OHSAS 18.001, não exime a
organização de acompanhar as exigências legais vigentes.

Essa norma foi desenvolvida para ser compatível com a gestão da qualidade
ISO 9.001 e com a gestão ambiental ISO 14.001, para facilitar a integração entre os
sistemas. Nos anexos é apresentada a tabela – 7, que mostrando a correspondência
entre esses três sistemas de gestão.

3.6 SA 8000 – Norma de responsabilidade social

A responsabilidade social contribui para a sustentabilidade de um determinado


setor econômico, o comprometimento em resolver problemas sociais é um atrativo
para tomar a sociedade como parceira no empreendimento, uma vantagem
competitiva que chama a atenção do Estado e outras instituições econômicas.
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50

A responsabilidade social nasce de projetos, como: meio ambiente, educação,


geração de emprego e renda e apoio cultural. Em geral, esta norma atende às
necessidades da declaração universal dos direitos humanos.

A norma SA 8000 foi elaborada pela SAI (Social Accountability Internacional)


na cidade de Londres em uma convenção internacional, e tem como objetivo
possibilitar que organizações desenvolvam políticas de gerenciamento de
oportunidades do exercício da cidadania, através de conformidades com requisitos
estabelecidos.

Segundo Oliveira (2002), entre os requisitos estabelecidos pela norma, pode-se


citar: a não exploração do trabalho infantil; a concessão de um ambiente de trabalho
seguro, saudável e agradável, adotando medidas de prevenção a acidentes e
doenças ocupacionais e; deve ser assegurado a remuneração do trabalho para
atender às necessidades básicas do trabalhador.

Essa norma apresenta subsídios para a exploração do desenvolvimento


sustentável, que tem como base a preservação da qualidade dos sistemas
ecológicos, a necessidade de um crescimento econômico para atender às
necessidades sociais e a manutenção dos recursos par as gerações futuras.

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51

4 O PARQUE ESTADUAL DA PEDRA DA BOCA

4.1 Situação Geográfica

Localizado no Município de Araruna, micro região do Curimataú Oriental,


dentro do Agreste paraibano com coordenadas geográficas 35º44’12’’ de Longitude
Oeste de Greenwich e 6º31’18’’ de Latitude Sul, com uma altitude de 580 metros
acima do nível do mar.

Araruna faz fronteira ao Norte com o município de Passa e Fica do vizinho


estado do Rio Grande do Norte, Sul e Oeste com o município de Cacimba de Dentro,
a Leste com o município de Campo de Santana e Riachão. Fazendo parte do
complexo da Borborema, o município tem, em suas formas de relevo, duas serras,
Araruna e Confusão. Estas vão originar os processos erosivos formadores das
diversas simbologias existentes no Parque Estadual.

Figura 3 – Localização da Pedra da Boca – Araruna-PB


Fonte: PERH, 2006

As temperaturas variam entre 18° e 28°, com clima q uente e úmido,


característico de um Brejo serrano, com uma precipitação pluviométrica em torno
dos 1.200 mm (IDEME,1997). O clima frio e um ambiente sempre provido de chuvas
orográficas permitem o desenvolvimento de culturas de várias espécies agrícolas.

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O Parque Estadual Pedra da Boca (PEPB), está situado em uma cota


altimétrica de 334 m, possuindo um clima mais quente que as demais áreas do
município a qual pertence. Segundo Ferreira (2004), a vegetação mais característica
é a de Caatinga, a área tem, em algumas partes, elevadas matas densas e úmidas
características de Caatinga Serrana, o que também acontece nos seus vales e
vertentes.

Uma pequena comunidade reside, atualmente, no entorno do PEPB. Por sua


mobilidade migratória, contam-se em média dezoito famílias, em um local que já fora
bastante próspero e povoado.

Toda a terra em volta do PEPB está dividida entre um número mímimo de


pequenos proprietários, cerca de 6 famílias, e uma grande extensão pertencente a
pessoas que residem em João Pessoa - PB e Natal-RN, dando foro às famílias que
não têm terra própria.

Desde 1995, ano em que se efetiva a visitação no PEPB, com a prática


extencionista de atividades dos alunos, e com a comunidade, da Faculdade UNIPÊ,
o lugar vem tomando notoriedade e se tornando, a cada dia bastante conhecido e
divulgado pelos seus freqüentadores.

4.2 Descrição do Parque Estadual da Pedra da Boca

Criado a partir de Decreto Estadual nº 20.339 de 07 de fevereiro de 2000. Com


uma área total de 157,26 hectares de terreno totalmente irregular em sua topografia.

Há dentro do parque um Santuário, uma construção moderna, com arquitetura


em forma de arena para a devoção do catolicismo, sob a responsabilidade da
Arquidiocese de Guarabira, pólo regional próximo ao parque. A edificação é
equipada com banheiros, lanchonetes e amplo estacionamento. As romarias
acontecem no dia 13 de cada mês.

As trilhas que serpenteiam a área do parque não estão devidamente


catalogadas por falta de uma estrutura adequada de controle. Segundo Ferreira

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(2004) as trilhas mais utilizadas são: a trilha da Aventura, a trilha do Letreiro, a trilha
do Forno, a trilha da Mata do Gemedouro e a trilhas do Coração.

O acesso ao parque se dá por uma estrada de barro, que tem início dentro da
cidade de Passa e Fica, no vizinho estado do Rio Grande do Norte. Em períodos de
inverno rigoroso, o rio Calabouço que divide os dois estados dificulta o acesso ao
parque devido à amplitude das áreas alagadas, da profundidade e velocidade que
apresenta o rio.

4.3 Esportes de Aventura

As modalidades esportivas exploradas e desenvolvidas no parque são:


montanhismo em geral, caminhadas de longo ou pequeno percurso, técnicas
verticais de descida por corda (rappel), exploração de caverna (caving), mountain
bike, corridas de aventura e de orientação. Essas atividades são praticadas por
pessoas que chegam ao parque em dupla ou em grupos bem maiores. O perfil dos
turistas são os mais diversos, com níveis de habilidade, em muitos casos, baixo. O
condicionamento físico, em geral, é duvidoso. Os guias ou instrutores, em geral, são
apenas práticos na modalidade esportiva. E, a maioria dos usuários utiliza
equipamentos de segunda linha. Todos os fatores propensos a um acidente, podem
ser diagnosticados, na grande maioria dos visitantes.

4.4 Turismo Cientifico

Segundo Ferreira (2004), o parque é visitado por pesquisadores de diversos


lugares, já foram registradas as presenças de professores da USP, UFRN, UFRJ,
UERN, UFPB e UEPB. Todos em busca de subsídios para suas pesquisas, devido
às características da diversidade da fauna e flora da Caatinga de altitude, inclusive
com a descoberta de espécies endêmicas na região.

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4.5 Turismo Escolar

As escolas de ensino fundamental e médio da região realizam atividades extra-


classe, utilizam o parque como laboratório para a extensão ao ensino acadêmico.

As instituições de ensino fundamental e médio dos municípios próximos ao


Parque, realizam visitas para que os alunos tenham contato com as formações
rochosas, com a fauna e com a flora do Parque Estadual da Pedra da Boca.

As visitas agendadas têm a intenção de enriquecer o conteúdo das disciplinas


de geografia e biologia.

4.6 Turismo Religioso

Há indícios de que na década de 30, muito antes da criação do parque, o local


já era visitado por romeiros, devotos de N.S. de Fátima.

Uma estátua de N.S. de Fátima foi colocada em uma das pedras que compõe o
cenário do parque, a imagem da Santa atrai multidões sempre no dia 13 de maio e
nos últimos anos no dia 13 de novembro, são procissões realizadas pela
Arquidiocese de Guarabira.

O cortejo é acompanhado por mais de 10.000 romeiros a cada ano, esse


número tende a aumentar graças a construção de um Santuário, uma estrutura em
concreto armado, em formato de arena elaborada para o turismo religioso.

4.7 Turismo Contemplativo

O parque é ponto de visita de turistas que gostam apenas de observar a


paisagem, é o chamado turismo contemplativo.

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Alguns dos turistas realizam pequeníssimas caminhadas para obter uma


melhor visão para uma foto.

A observação e o uso dos sentidos são os atrativos, a contemplação a


natureza é motivo principal desse tipo de turista. Sentir o ar puro, os ventos e poder
desfrutar de uma bela paisagem.

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5 GESTÃO DOS RISCOS

A gestão dos riscos facilita o cumprimento para atingir os bons resultados de


um projeto, dependem apenas da perspicácia, conhecimento e confiança para a
escolha da melhor decisão tomada. Entenda-se como projeto, os pacotes e roteiros
oferecidos ao turista de aventura.

A gestão dos riscos é um processo que usa quatro ferramentas da


administração com o intuito de minimizar os efeitos adversos de acidente.

As atividades do turismo de aventura têm um alto grau de incertezas,


principalmente devido a sua execução, essas incertezas de eventos ou condições
são adversárias aos objetivos das atividades, a gestão dos riscos em atividades de
aventura serve para transformar as incertezas em aliadas, de forma a promover uma
maior qualidade e satisfação na prestação do serviço de aventura.

As ferramentas administrativas utilizadas na gestão dos riscos são:

1 Planejamento: reconhecer e tratar os riscos para fazer um melhor


aproveitamento das oportunidades e estabilizar as ameaças;

2 Organização: mobilizar de forma adequada os recursos humanos


e materiais envolvidos na atividade;

3 Coordenação: direcionar as atividades, analisando os riscos


inerentes, gerenciando os recursos aplicados no desenvolvimento da
atividade;

4 Controle: conhecer e acompanhar os passos do desenvolvimento


sem perder a direção até o resultado final, é a principal ferramenta na
gestão dos riscos de uma atividade.

A ferramenta administrativa de controle deve ser bastante enfocada em turismo


de aventura, pois como já foi mencionada em capítulos anteriores, a maioria das
agências de turismo não detêm o controle dos passos no desenvolvimento da

56
57

atividade. No entanto, para a gestão dos riscos em atividades de aventura, ela é,


sem sombra de dúvidas, a principal ferramenta da gestão dos riscos.

Segundo Cooper (2005), o suporte para melhor decisão sobre um plano é dado
pelo desenho dos processos, modificação do plano de contingenciamento e
melhoramento na alocação dos recursos.

O gerenciamento dos riscos fornece estrutura para evitar surpresas, através de


ferramentas para diminuir os riscos. Pode ser utilizada em qualquer setor de
produção econômica e em qualquer tamanho de projeto.

Um determinado risco pode ter origem ainda quando da concepção do projeto.


As informações e dados sobre o projeto (pacote turísticos) a ser implantado devem
ser bem definidas, as considerações podem ser as mais amplas possíveis para se
ter um panorama vasto da gestão. Os riscos de um projeto podem ter três
ramificações diferentes: riscos técnicos, riscos de gestão e riscos comerciais.

Figura 4 – Riscos de projeto


Fonte: Project Mangement Institute – PMBOK, 2000.

5.1 O projeto de gerenciamento de risco

Segundo Cooper (2005), o risco pode ser considerado anteriormente na fase


de planejamento do projeto, e o gerenciamento das atividades de risco pode ser

57
58

observado continuamente em cada parte do projeto. O plano de gerenciamento dos


riscos pode ser uma parte integral de uma organização.

Identificação, análise e avaliação do risco, contribuem significativamente para o


sucesso do projeto.

É importante que o projeto seja aceito pelas partes interessadas nas atividades
de risco, todo o processo deve ser conduzido de forma transparente e com efetiva
comunicação entre as partes.

Três fundamentos para gerenciamento de projetos são apresentados por


Cooper (2005):

1 Identificação, análise e avaliação prévia, e desenvolvimento de


planos para a manipulação dos riscos;

2 Atribuição de responsabilidades ao grupo, quando necessário,


implementação de novas práticas, procedimentos e sistemas;

3 Garantir que os custos para a redução dos riscos são


compatíveis com a importância do projeto e riscos envolvidos.

Algumas definições devem ser apontadas dentro de um projeto de riscos,


segundo Cooper (2005), temos:

Risco é a exposição a uma conseqüência incerta. Uma mudança para algum


acontecimento que terá impacto sobre o projeto.

Gerenciamento dos Riscos processo e estrutura adotados pelo gestor para


conter os efeitos adversos ao projeto;

Processo de Gestão dos Riscos é a sistemática aplicada para gerir os


conflitos das tarefas estabelecidas durante a execução do projeto;

Identificação dos Riscos é o processo de determinação do que, como e


quando algo diferente a cerca do projeto pode acontecer;

58
59

Análise dos Riscos é o uso sistemático de informações disponíveis para


determinar como especificamente muitos eventos podem ocorrer, e apresentar a
magnitude de suas conseqüências;

Tratamento dos Riscos estabelecimento e implantação de condutas de


respostas para os riscos.

Outras definições são apontadas por Araújo (2004):

Perigo uma ou mais condições de uma variável com o potencial necessário


para causar danos;

Segurança é frequentemente definida como “isenção de perigos”. Entretanto, é


praticamente impossível a eliminação completa de todos os perigos. Segurança é,
portanto, um compromisso acerca de uma relativa proteção de exposição a perigos.
É o antônimo de nível de perigo;

Nível de perigo expressa uma exposição relativa a um perigo, que favorece a


sua materialização em danos;

Dano é a gravidade da perda humana, material ou financeira que pode resultar


se o controle sobre um perigo é perdido;

Causa é a origem de caráter humano ou material relacionado com o evento


catastrófico (acidente), pela materialização de um perigo, resultando em dano;

Perda é o prejuízo sofrido por uma organização, sem garantia de


ressarcimento por seguro ou por outros meios;

Sinistro é o prejuízo sofrido por uma organização, com garantia de


ressarcimento por seguro ou por outros meios;

Incidente qualquer evento ou fato negativo com potencial para provocar danos.

A adoção de um projeto de riscos deve ser feita quando há incertezas sobre o


futuro, isso pode ocorrer devido às mudanças inerentes no andamento do projeto,
onde são envolvidos recursos humanos e materiais.

59
60

Por se tratar de uma gestão de riscos de segurança, o fator humano tem peso
preponderante na gestão da segurança, nesse sentido devemos adotar a figura do
prevencionistas, que segundo Malchaire (2003) apresenta a seguinte definição:

Prevencionistas são pessoas com determinada formação em segurança e


saúde e que desenvolveram uma motivação particular para reconhecer, prevenir,
avaliar e reduzir os riscos.

5.2 Gerenciamento do risco

Um projeto de gestão de riscos deve ser elaborado para entrar em


funcionamento de forma gradativa, em fases.

Segundo Cooper (2005), um projeto de gerenciamento de riscos é iniciado e


tem diferentes estágios, onde o início de uma fase depende da antecessora, como
mostra a figura a seguir:

Figura 5 – Perfil de andamento de projeto.


Fonte: Cooper, 2005

O objetivo do gerenciamento dos riscos é identificar e gerir significativamente o


risco. Em muitos casos o projeto de riscos é envolvido em outro processo de gestão.

5.3 Identificação do risco

Segundo Cooper (2005) a identificação do risco deve ser um processo


compreensivo, um risco que não é identificado não pode ser tratado. O processo é
estruturado usando elementos essenciais de análise sistemática do risco, em cada
área do projeto. Uma grande quantidade de técnicas pode ser utilizada para a

60
61

identificação dos riscos, mas o brainstorming é o método preferido por ter uma
metodologia flexível e eficaz.

A identificação dos riscos pode utilizar informações, como: dados históricos,


análise teórica, dados de análise empíricos, coleta de informações de outros projetos
de gestão e informações de campo.

5.4 Tratamento do Risco

O tratamento do risco envolve: identificação das opções para redução da


probabilidade ou conseqüência do caso extremo; determinação do custo - beneficio
da opção de tratamento; escolha da melhor opção; e desenvolvimento de um plano
detalhado de risco.

Um plano de ação deve ser desenvolvido e implementado para tratar de forma


particularizada o risco.

Durante a identificação das responsabilidades e avaliação dos processos,


contidas dentro da política de segurança, os responsáveis pelo tratamento devem ter
uma abordagem estratégica de gerenciamento dos riscos de modo a observar:

1. Eliminação dos riscos;

2. Diminuição da exposição aos riscos;

3. A prevenção dos riscos;

4. Mitigação dos impactos.

5.4.1 Eliminação do Risco

Prevenções estratégicas são adotadas para reduzir substancialmente a


probabilidade da ocorrência do risco.

Segundo Buckley (2005), a prevenção inclui:


61
62

1. Maiores detalhes no planejamento;

2. A seleção de possibilidades alternativas;

3. Uso de sistemas de engenharia;

4. Mudança de procedimentos;

5. Permissão de trabalhos;

6. Proteções de segurança física;

7. Manutenções Preventivas;

8. Revisão de operações;

9. Treinamento e conscientização.

5.4.2 Diminuição da exposição aos riscos

Em geral essa é a principal forma de gerenciamento dos riscos, atribuição de


responsabilidades para garantir um melhor controle e gerenciamento das atividades
desenvolvidas.

O risco é avaliado, identificando como eles podem surgir, e a partir dessa


identificação, uma série de procedimentos são construídos e elaborados para guiar
cada parte do desenvolvimento da atividade de forma gerencial para contornar o
risco.

Para a gestão dos riscos em turismo de aventura, essa forma de tratamento é


uma maneira de transferência de responsabilidade, mecanismos e protocolos de
procedimentos são elaborados e lançados aos usuários. Desde que haja uma
competência dos usuários e o local da atividade tenham os dispositivos necessários
a garantir a segurança, o tratamento do risco terá alta probabilidade de eficiência.

5.4.3 Mitigação de impacto

62
63

Segundo Buckley (2005), a mitigação de impacto tem a finalidade de minimizar


as conseqüências dos riscos. Em outras palavras, o que se pode dizer é que o risco
permanecerá; existe a probabilidade de outros riscos aparecerem. De fato, o que
pode ser feito é a redução das conseqüências. A redução é feita por uma prevenção
estratégica de riscos. Porém, o risco principal continua presente, de forma
“silenciosa”. A estratégia para a redução de impactos inclui:

1. Plano de contingenciamento;

2. Barreiras estruturais de engenharia;

3. Separação ou re-locação de uma atividade ou recursos;

63
64

6 DIRETRIZES PARA ELABORAÇÃO E IMPLANTAÇÃO DE


SISTEMA DE GESTÃO DE RISCOS

Um sistema de gestão de riscos é uma ferramenta da engenharia de segurança


para a prevenção de acidentes, e pode ser amplamente usada em operadoras do
turismo de aventura, deste que haja um comprometimento da gerência em se
antecipar aos riscos.

O tratamento aos riscos no segmento de turismo de aventura, tem caráter de


urgência, considerando o elevado nível de acidentes registrados com ampla
divulgação em rede nacional de televisão. A NBR 15.331 foi criada para contribuir na
diminuição dos números de acidentes e incidentes no setor turístico.

Como já foram apresentados de maneira geral, os investimentos para a


comercialização do turismo de aventura são altos, os equipamentos são
especializados e diferenciados para garantir a segurança, e os guias devem ter um
nível de instrução e conhecimentos necessários para atender as solicitações em um
ambiente natural. Além de tudo isso, o turismo de aventura é o setor com menor
índice de procura do ramo, ou seja, o tempo de retorno dos investimentos é
relativamente longo.

Devido aos elevados custos envolvidos para a operacionalização de um pacote


turístico de aventura, dificilmente as agências de turismo procuram implementar um
sistema de gestão de riscos dentro da empresa, mesmo porque, em grande parte o
serviço de turismo de aventura é terceirizado a uma empresa prestador de serviços.

Uma saída para o efetivo comprometimento das agências, seria a adoção e


implantação do Sistema de Gestão dos Riscos por parte das Unidades de
Conservação Ambiental, ou seja, o destino de aventura deve possuir e exigir níveis e
padrões estabelecidos para garantir a integridade física do usuário.

As diretrizes para a implantação de um Sistema de Gestão de Riscos nas


Atividades de Turismo de Aventura no Parque Estadual da Pedra da Boca será
descrito a seguir.

64
65

6.1 Política de segurança

A administração de qualquer órgão, empresa ou instituição implica


necessariamente na tomada de decisões, a escolha de determinadas medidas irão
apontar quão segura ou insegura é a forma de gerenciamento adotada. Boas
decisões sobre segurança são determinadas quando existem estabelecidas as
metas. Enquanto não forem determinadas as metas o uso efetivo de qualquer
ferramenta de segurança não terá resultado algum, pois não se tem conhecimento
de quais os pontos devem ser avaliados nem tão pouco se conhece as restrições a
serem impostas.

Segundo McKinson (2007), os objetivos de uma Política de Segurança são


avaliados pelas escolhas analisadas e contrapostas de forma a determinar um
balanço entre as opções propostas. De modo geral devem partir de três
determinantes:

a) Serviços oferecidos x Segurança fornecida: os serviços ofertados


para os clientes já possuem um risco inerente. Há possibilidade de
serviços oferecidos onde o risco é mais elevado, cabendo ao gestor a
eliminação ou torná-lo mais seguro;

b) Facilidade de uso x Segurança: os serviços mais comuns e


fáceis de utilização, deveria permitir o acesso a qualquer cliente que se
disponha a fazer uso sem a devida comprovação de habilidades prévias,
ou seja, não haveria restrições. Solicitar dos clientes uma habilidade
prévia torna o serviço menos conveniente, no entanto, mais seguro.

c) Custo da segurança x Risco da perda: os custos podem ser


diferentes para cada medida a ser adota: pode exigir desembolso de
dinheiro para a implantação de medidas físicas de segurança; ou apenas
exigir a divulgação de um ato legal. O risco também possui níveis que
podem aumentar ou diminuir as perdas, um ato institucional pode

65
66

aumentar a perda de clientes, mas pode elevar o nível de satisfação de


outros e atrair outro tipo de cliente.

Os objetivos, depois de avaliados e analisados de forma a equilibrada por um


corpo técnico competente, devem ser amplamente divulgados e comunicados a
todos os usuários e operadores, através de um conjunto de regras de segurança,
chamado de Política de Segurança.

6.1.1 Definição de uma Política de Segurança

Política de Segurança é a expressão formal das intensões da administração


através de regras pelas quais é fornecido acesso aos serviços, apropriando o nível
de risco envolvido.

6.1.2 Intenções de uma Política de Segurança

A principal intenção de uma Política de Segurança é informar aos usuários e


operadoras as obrigações a serem cumpridas para garantir a proteção e integridade
física de todos. Os mecanismos para alcançar os requisitos de segurança devem ser
especificados.

6.1.3 Formulação de uma Política de Segurança

Para que uma Política de Segurança se torne efetivamente apropriada, ela


deve ter aceitação dos usuários dos serviços prestados. É importante também, que
haja um suporte da administração para complementar o processo de implantação da
política de segurança, estando sujeito a não alcançar o impacto desejado caso não
se tenha um envolvimento maciço.

66
67

Deve haver o envolvimento de alguns atores durante a criação e revisão dos


documentos de Política de Segurança, quais sejam:

a) A administração da unidade de conservação;

b) Os representantes do porder público responsável pela unidade


de conservação;

c) Os representantes das operadoras de turismo;

d) Representantes das entidade de classe de usuários dos serviços;

e) Os representantes da comunidade local;

f) A equipe técnica de engenharia e segurança.

Esses representantes, de forma geral, agregam conhecimento e podem discutir


sobre pontos críticos e conflitantes, como: orçamento, qualificação de pessoal,
medidas legais, opções de novos serviços, contenção ou ampliação do fluxo
turístico, formas de divulgação, realização de eventos e todas as atividades que
podem ser exploradas, mantendo a preservação ambiental e a segurança dos
usuários.

A participação desses atores é importante para que a aceitação da política de


segurança atingida as metas com rapidez.

6.1.4 Características de uma Política de Segurança

As características de uma boa política de segurança podem ser classificadas


pelas seguintes ações:

a) Implementação através de medida administrativa, com a


publicação das regras de segurança a todos os usuários;

b) Exigência do cumprimento das regras de segurança, com a


possibilidade de sanções ao não cumprimento, por parte do usuário;

c) Definição clara das áreas de atuação e das responsabilidades


dos atores.

67
68

As ações apresentadas são medidas administrativas, que de preferência


devem ser complementadas com as seguintes medidas:

a) Distribuição de manuais e guias de comportamento dos


usuários e procedimentos a serem adotados pelas operadoras,
especificando os requisitos mínimos exigidos para a boa conduta de
segurança na unidade de conservação;

b) A fiscalização deve ser permanente. O monitoramento de


ações e atividades desenvolvidas pelos usuários e operadoras deve ter
um acompanhamento, podendo ser através de uma medida de controle
durante a entrada e/ou a saída da unidade de conservação;

c) Uma exposição para definir os direitos, os privilégios,


obrigações e condutas para a manutenção da unidade de conservação. É
preciso que seja uma explanação, de preferência em um local apropriado
ou na entrada da unidade de conservação. Deve servir também como um
“cartão de boas vindas”;

d) Na medida do possível, deve ser apresentado ao usuário um


protocolo de ações e condutas em caso de incidentes, para onde se
dirigir, quem procurar, quais são os meios de comunicação: freqüência do
rádio ou um sinal sonoro;

e) Devem ser apresentados em mapas os pontos remotos, com


dificuldade de acesso e os pontos obscuros, onde o acesso para um
possível resgate é praticamente nulo;

f) Garantir a manutenção dos serviços da unidade de


conservação. À participação solidária entre a administração da unidade
de conservação e os usuários. Os usuários podem auxiliar a
administração mantendo as trilhas abertas e colaborando na renovação e
recuperação dos equipamentos para a prática das atividades;

g) Disponibilizar uma forma de contato com a administração da


unidade de conservação de forma que o usuário demonstre seu nível de
satisfação e faça sugestões ou reclamações.

Uma parte dessas ações, como a fiscalização e as sanções, deve ser

68
69

considerada pelas leis vigentes, para garantir o cumprimento e evitar problemas


judiciais.

A Política de Segurança, depois de estabelecida, deve ser claramente


comunicada aos usuários e operadoras, sendo registrada através de documento
assinado pelos atores, confirmando a plena consciência e que concordam com os
termos da política estabelecida.

A assinatura do documento é uma das partes mais importantes e, com toda


certeza, até chegar essa fase, talvez, muitos conflitos terão sido gerados. No
entanto, o recolhimento das assinaturas é a garantia legal para a segurança dos
usuários da unidade de conservação.

Por fim, a Política de Segurança deve ser revisada regularmente para verificar
se há absorção e suporte por parte dos usuários, para garantir o sucesso às
necessidades de segurança.

6.1.5 Manutenção de uma Política de Segurança Flexível

Para que a Política de Segurança seja viável em longo prazo, é necessária


uma flexibilidade considerável, devendo ser pertinente e independente de regras e
interesses políticos-econômicos.

Os dispositivos para a atualização da Política de Segurança devem ser


estabelecidos de forma clara.

Sempre que possível, a Política deve expressar quais são as expectativas e os


resultados esperados para a existência de cada regra a ser cumprida.

A melhor Política de Segurança é aquela em que as regras são concisas,


objetivas, curtas e diretas. O risco de não ter a política estabelecida cresce quando
as ações são extensas e de difícil disseminação.

No apêndice A é apresentada uma política de segurança proposta para a


unidade de conservação Parque Estadual Pedra da Boca.
69
70

6.2 Planejamento

A fase do planejamento deve ser formulada e apresentada em forma de


documento, com vistas a atender a Política de Segurança. Este documento tem o
objetivo de trazer elementos que permitam evitar, resolver e minimizar os problemas
relacionados aos riscos.

6.2.1 Estratégia SOBANE

Como primeira opção de trabalho é apresentado a metodologia DEPARIS


(Diagnósticos Participativos dos Riscos), onde a situação de trabalho é
sistematicamente revisada e todos os aspectos que condicionam a facilidade, a
eficácia e satisfação no trabalho são discutidas, com o intuito de pesquisar medidas
concretas de prevenção (Malchaire, 2003). Esse método tem uma característica de
fácil compreensão, para os usuários e operadores, as primeiras avaliações dos
riscos e melhorias são feitas por quem realmente atua no setor a ser avaliado. O
método DEPARIS é parte do nível 1 de uma estratégia de prevenção dos riscos
divididos em quatro níveis, chamada de SOBANE, com abordagens progressivas
para as situações de trabalho e exposição aos riscos.

Segundo Malchaire (2003) a estratégia geral de gestão dos riscos SOBANE


(Screening, OBservation, ANalysis, Expertise) possui quatro níveis: Diagnóstico
preliminar; Observação; Análise e Perícia. As abordagens progressivas para
coordenar com a colaboração entre gestores e trabalhadores (clientes) busca a
realização de uma prevenção mais rápida, mais eficaz e menos custosa.

O diagnóstico preliminar, onde os fatores de riscos são detectados e


reconhecidos, e são colocadas na prática as soluções mais evidentes;

No nível da observação, os problemas que não foram resolvidos são


novamente discutidos de forma mais profunda, analisando os fatores de riscos
70
71

separadamente, as causas e as soluções são discutidas de maneira detalhada;

No nível análise deve ser apresentado onde e quando é necessário se recorrer


a um prevencionista para realizar as medições indispensáveis e desenvolver
soluções específicas;

Por último, a perícia onde em casos mais raros um especialista se torna


indispensável para estudar e resolver um problema específico.

Para o estudo de caso apresentado neste trabalho, adotou-se o Parque


Estadual da Pedra da Boca como local para a realização da pesquisa. O método
adotado auxilia na implantação da segurança, colaborando na manutenção da
integridade física de todos os usuários, colocando em prática os princípios gerais da
prevenção de acidentes, como: evitar os riscos; avaliar os riscos; combater os riscos
na fonte e adaptar as normas de segurança aos usuários.

O documento elaborado deve ser dirigido para todos os tipos usuários, de


modo que todos sejam responsáveis por colocarem em prática as técnicas de
prevenção. A eliminação dos riscos ou a redução a um nível aceitável só é possível
quando existem os meios disponíveis para a realização de um trabalho bem feito,
porém no nível de turismo de aventura, os dados não são suficientes, ou, nem
mesmo foram feitas estatísticas para avaliação precisa dos riscos.

A estratégia SOBANE obedece ao esquema da figura abaixo:

Figura 6 – Esquema geral da estratégia SOBANE de gestão dos riscos


Fonte: Malchaire, 2003

As características dos quatro níveis da estratégia SOBANE são apresentadas


pelos critérios da tabela abaixo:

71
72

Quadro 2 – Características dos níveis de estratégia SOBANE


Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4
Diagnóstico Observação Análise Perícia
Quando? Todos os casos Se problema Casos difíceis Casos complexos
Observação Observação Observação Mediações
Como?
simples qualitativa quantitativa especializadas
Leve Leve Médio Elevado
Custo?
(“10 minutos”) (“2 horas”) (“2 dias”) (“2 semanas”)
Pessoas da
Pessoas da
Pessoa da Pessoas da empresa,
Por quem? empresa e
empresa empresa prevencionistas e
prevencionistas
peritos
Competência:
Situação de trabalho Muito elevada Elevada Médio Leve
Saúde no trabalho leve média Elevado Especializada
Fonte: Malchaire, 2003

6.2.1.1 Nível 1 - Diagnóstico Preliminar

Objetivo: identificar os principais problemas e dar um tratamento ao risco com


soluções simples. São analisados os problemas que podem induzir o usuário ao
erro, como: trilha fechada, grampos de escalada mal posicionados, bicos de pedra
cortante, lacas de pedra preste a cair, colméias na via, ponto com erosão e solo
escorregadio, etc.

Atores: essa avaliação pode ser realizada com uma comissão de “pré-
expedição” ou até mesmo pelos usuários que estejam usando o local.

Método: a ferramenta simples de análise do risco, a observação in loco pelo


guia, a exposição ao risco no momento da realização da atividade. No entanto, o
mais próximo do ideal é o uso de uma lista de controle estabelecida pelo setor de
atividade.

6.2.1.2 Nível 2 – Observação

Objetivo: os problemas que não foram solucionados no nível 1 fazem parte

72
73

deste nível, ou seja, há um aprofundamento, medições podem ser realizadas para


garantir a eficácia da observação. Problemas que parecem constituir um risco e
devem ser tratados prioritariamente, como: a instalação de um grampo para diminuir
o fator de queda, a exigência de um cabo guia para rappel em determinado local, a
instalação de uma corda de serviço para auxiliar em subidas íngrimes, a abertura de
trilhas alternativas, a instalação de placas indicativas, etc.

Atores: há uma necessidade de conhecimento mais especifico da situação em


estudo sob os mais diferentes aspectos, em condições normais de trabalho ou nas
condições anormais. Os fatores de risco deverão ser considerados nesta fase a
partir da competência dos atores e da participação da gestão envolvidas. Nesse
nível já é necessário à presença de um prevencionista.

Método: continua o uso da ferramenta simples de análise do risco, o essencial


é induzir o usuário à reflexão sobre os diferentes aspectos da situação, deve ser
estabelecido quais os fatores parecem constituir um risco importante e devem ser
tratados em primeiro instante.

6.2.1.3 Nível 3 – Análise

Objetivo: quando os níveis de diagnóstico preliminar e observação, não


permitem a redução dos riscos em níveis aceitáveis, a análise dos componentes e a
pesquisa de soluções devem ser utilizadas.

Atores: com o auxilio de prevencionistas usuários do local, os prevencionistas


externos de outros locais de similar atuação, são convidados a dar solução aos
problemas apresentados.

Método: é necessária a avaliação de danos, exposição, risco, e análise da


situação especifica. Podem ser utilizados instrumentos de medição para a
otimização dos problemas.

73
74

6.2.1.4 Nível 4 - Perícia

Deve ser realizada por pessoas especialistas na área de segurança do trabalho


com a assistência de prevencionistas para apontar detalhes. Em situações
complexas a perícia se faz necessária.

Segundo Malchaire (2003), é importante que se diga que essa estratégia foca
principalmente, a participação dos usuários, ele é o responsável técnico, o centro da
ação de prevenção. Esse método é simples, pois prevê a auto-gestão, e o período
de aplicação é de curto prazo.

6.2.2 Apresentação do método DEPARIS

O método é composto por rubricas que estão no apêndice - B abordando


aspectos das situações de exposição aos riscos. A intenção das rubricas é analisar
do geral para o particular, partindo da organização geral, espaço de trabalho, a
segurança e as ferramentas e meios de atuação.

Nesse método cada rubrica é composta de campos distintos, compostas por


uma breve descrição da situação desejada e uma lista de aspectos que devem ser
controlados. Em outro campo são anotados o que pode ser feito. Em outra parte da
rubrica são feitas as conclusões para dar suporte a um prevencionista na busca da
solução desejada. A pontuação numérica foi evitada escolhendo um esquema de
figuras intuitivo de cores para a situação satisfatória, medida com possíveis
melhorias e com situação perigosa.

Figura 7 – Rubrica do método DEPARIS


Fonte: Malchaire, 2003

74
75

Dentre os procedimentos para aplicação do DEPARIS é necessário que os


gestores informem aos usuários os objetivos e a necessidade do engajamento de
todos na gestão dos riscos, a realização de reuniões para análise e controle
periodicamente. A rubrica serve apenas para dar suporte e facilitar as discussões,
cria uma estrutura para o debate, não serve apenas para preenchimento dos
quadros.

Os participantes devem ser conduzidos a refletir sobre os custos das soluções


desejadas, e quais os impactos que elas podem causar aos usuários de modo geral,
para isso um breve julgamento pode ser feito através de um esquema, também,
intuitivo, como: zero investimento (0), investimento barato ($), investimento médio
($$), investimento caro ($$$). Por fim os usuários são conduzidos a informar quem
dá a solução, como é essa solução e quando essa solução será implementada.

Esse método serve bem para se ter um diagnóstico preliminar junto às pessoas
que operam com atividade. No entanto ela é meramente qualitativa, o engenheiro de
segurança terá apenas uma idéia subjetiva do risco.

No capítulo oito é apresentado um resultado realizado com o método


DEPARIS, realizado com usuários do Parque Estadual da Pedra da Boca. Os
resultados são apresentados utilizando 10 rubricas, desse estudo resultaram
algumas ações que necessitam da avaliação de uma pessoa com conhecimentos
mais apurados sobre segurança.

75
76

7 METODOLOGIA
Para a realização deste trabalho optou-se por uma pesquisa exploratória,
empírica, empregando um estudo de caso no Parque Estadual da Pedra da Boca, no
município de Araruna – PB, no sentido de verificar a aplicação de algum sistema de
gestão dos riscos no desenvolvimento de atividades de turismo de aventura. Utilizou-
se de uma revisão bibliográfica para tomar como referência para a identificação de
caso e da unidade a ser analisada.

O estudo de caso procurou verificar o nível de entendimento e compreensão


dos usuários sobre gestão de segurança. Procurou-se ainda, verificar a
compatibilidade da implantação de um sistema de gestão de riscos com a realidade
profissional dos usuários, condutores locais e guias de operadoras de turismo de
aventura, bem como procurou adequar às necessidades de segurança para a prática
de atividades de aventura realizadas dentro do PEPB. Verificou-se, ainda, se a
implantação do Sistema de Gestão de Riscos é atendida pelas empresas que
exploram as atividades turísticas no local.

7.1 Modelo da Pesquisa

De acordo com os objetivos gerais desse trabalho, em princípio pode-se dizer


que o estudo tem natureza qualitativa. Segundo Barbosa (2005) apud Dias (2000),
uma pesquisa qualitativa pode ser observada uma vez que esta não busque coletar
resultados quantificáveis e que não se utilize de métodos estatísticos na fase de
coleta de dados.

A realização de pesquisas qualitativas exige uma capacidade de interpretação,


onde o pesquisador assume o papel de tradutor do ambiente pesquisado.

O modelo utilizado para a pesquisa se justifica, pois os levantamentos feitos


apontam à dificuldade que os usuários têm em quantificar o risco de uma atividade
de aventura, sendo mais fácil para os usuários descrever. A partir da visão e
aspectos individuais colhidos na pesquisa, é que se baseia o estudo de caso.

76
77

7.2 Elaboração do Estudo de Caso

Considerou-se o método DEPARIS como sendo o de melhor aplicação, devido


à dificuldade de compreensão dos usuários do PEPB, sobre o tema gestão de
riscos.

Utilizou-se o método DEPARIS em entrevistas realizadas individualmente com


oito usuários do Parque Estadual da Pedra da Boca que realizam frequentemente
atividades de turismo de aventura. Foram abordados nas entrevistas, o gestor da
Unidade de Conservação, dois condutores locais, três guia de operadora de turismo
e dois usuário que freqüenta o PEPB.

Para o estudo de caso, de acordo com o método, adotou-se uma atividade de


turismo de aventura, no caso o rappel da aroeira. Foram elaboradas 10 rubricas de
DEPARIS, as quais foram devidamente preenchidas pelos entrevistados.

Optou-se pela atividade rappel, por se tratar de uma técnica de descida por
corda, muito utilizada pelos escaladores para transpor obstáculos, e, no entanto,
muitas pessoas utilizam essa técnica como um esporte, sem ter conhecimento mais
profundo sobre métodos de “auto-resgate”, tipos de ancoragem e procedimentos
necessários à boa descida por corda. Além disso, é de conhecimento dos
escaladores, que o rappel é a atividade que mais causa acidentes e mortes nas
atividades de montanha.

7.3 Análise dos Resultados Obtidos

Os resultados de DEPARIS são bastante variáveis, em alguns casos


observados, os entrevistados se limitam a uma constatação de insatisfação sobre
um determinado aspecto. Em outros casos, são apresentadas soluções bastante
genéricas.

77
78

As rubricas são elaboradas de forma que haja uma redundância parcial entre
elas. Sendo assim, alguns aspectos devem ser observados várias vezes. No
entanto, buscou-se evitar as redundâncias e permitir que as rubricas fossem
complementares umas as outras, sendo a separação total entre elas uma situação
indesejável. A idéia principal do modo de elaboração das rubricas é que seja um
conjunto de aspectos onde elas se interagem, interferem, se reforçam e se
neutralizam.

De maneira geral, os aspectos apresentados nas rubricas de DEPARIS, são


importantes para o envolvimento dos usuários no processo de implantação de um
sistema de gestão de riscos, melhorando o entendimento e a compreensão
necessárias a melhoria contínua da segurança.

78
79

8 RESULTADOS E DISCUSSÕES

8.1 Apresentação dos resultados

Dos oito conjuntos de rubricas aplicadas, todos os usuários que se depuseram


a preencher as rubricas apresentaram dificuldades no entendimento do que deveria
ser colocado na rubrica. Todos foram devidamente orientados, individualmente,
sendo as dúvidas e questionamentos retirados no momento do preenchimento.

A amostra pode ser considerada excelente, pois abrange os diversos tipos de


atores do Parque Estadual da Pedra da Boca, desde a direção da Unidade de
Conservação, passando pelas operadoras e guias do local, até o simples usuário
que visita o parque.

Mesmo com a grande subjetividade com que cada pessoa percebe a questão
da segurança nas rubricas propostas, os dados foram compilados. Como critério,
utilizou-se as sugestões mais similares e unânimes, bem como as expressões de
pensamentos e idéias de maior relevância.

Os resultados são demonstrados conforme sugere o método DEPARIS, através


do resumo das dez rubricas propostas.

Quadro 3 – Resumo de DEPARIS para o rappel da Aroeira


1- A ZONA DE PRÁTICA DE AVENTURA

O que fazer de concreto para melhorar a situação?


• Instalação de proteção fixa para montagem de uma linha de vida;
• Demarcação do local da zona de espera.

Aspectos a estudar com mais detalhes: a instalação de uma linha de vida


permanente. !

79
80

2- A ORGANIZAÇÃO PARA A REALIZAÇÃO

O que fazer de concreto para melhorar a situação?


• Delimitação do local trabalho e zona de espera;
• Instalação de sinalizadores coloridos;
• Interdição em dias chuvosos.

Aspectos a estudar com mais detalhes: medidas administrativas de interdição.


!

3 – O LOCAL DA ATIVIDADE

O que fazer de concreto para melhorar a situação?


• Manutenção e limpeza do local;
• Seguir as normas de segurança das técnicas empregadas para a atividade.

Aspectos a estudar com mais detalhes: adoção de medidas administrativas para


verificar as habilidades dos usuários. !

4- OS RISCOS DE ACIDENTE

Gravidade Onde?; Quando?; O que fazer?


Aranhões 0 + ++ +++ Durante a descida, caso haja escorregão.
Contusão Em um movimento brusco ou devido a irregularidade
0 + ++ +++ da parede.
Corte 0 + +++
++ Não há possibilidade apontada pelos entrevistados
Desmaio 0 + +++
++ Devido a forte emoção ou por falta de glicose.
Fratura 0 + +++
++ Em caso de queda ou escorregão
Picadas 0 + +++
++ Na espera, ao final do rappel.
Projeções 0 + +++
++ No deslocamento entre espera e saída do rappel.
Queda 0 + +++
++ No deslocamento entre espera e saída do rappel.
Queda de objetos Na descida, no balanço da corda ou movimento dos que
0 + ++ +++ esperam a vez.
Queimaduras 0 + ++ +++ Não há possibilidade apontada pelos entrevistados
Urticantes 0 + ++ +++ Não há possibilidade apontada pelos entrevistados
Outros 0 + ++ +++
Aspectos a estudar com mais detalhes: Exigir o uso de EPI para todos os
usuários e montagem de linha de vida. !

5 – AS FERRAMENTAS E MATERIAIS PARA A ATIVIDADE

O que fazer de concreto para melhorar a situação?


• Utilização de material homologado;
• Disponibilização de equipamentos a todos os usuários, para que não haja
movimentação nem troca de equipamentos entre usuários.

Aspectos a estudar com mais detalhes: verificar a forma de distribuição dos


equipamentos dentro das operadoras de turismo. !

80
81

6 – A TÉCNICA EMPREGADA

O que fazer de concreto para melhorar a situação?


• Adoção de um procedimento padrão para a atividade no local;
• Uso de corda dupla;
• Adoção de auto-blocante;
• Instalação de outra parada para uma corda de serviço.

Aspectos a estudar com mais detalhes: exigir dos usuários o conhecimento de


técnicas de “auto-resgate”. !

7 – O NÍVEL DE CONHECIMENTO SOBRE A ATIVIDADE

O que fazer de concreto para melhorar a situação?


• Capacitar os usuários dentro das normas nacionais;
• Não permitir o acesso como sendo a primeira experiência.
Aspectos a estudar com mais detalhes: definir entre facilidade de uso versus
segurança !

8 – A RELAÇÃO ENTRE GUIA(S) E CLIENTE(S)

O que fazer de concreto para melhorar a situação?


• Deve ser feita uma apresentação prévia, antes mesmo da caminhada, do que é o
rappel da Aroeira;
• O guia deve ter boa apresentação pessoal e saber expor todos os detalhes da
atividade.
Aspectos a estudar com mais detalhes: verificar a norma com relação às
informações mínimas. Formatar um curso de capacitação dos guias e condutores !
locais.
9 – O AMBIENTE SOCIAL LOCAL E GERAL

O que fazer de concreto para melhorar a situação?


• O guia/condutor deve ter um auxiliar pronto para retornar a base, caso necessário;
Aspectos a estudar com mais detalhes: exigir número mínimos de
condutores/guias por grupo !

10 – O CONTEÚDO DA ATIVIDADE

O que fazer de concreto para melhorar a situação?


• Deve ser de acordo com o perfil do grupo;
• Deve ser realizadas avaliações qualitativas da atividade.
Aspectos a estudar com mais detalhes: verificar a quem é permitido o acesso a
!
atividade.

81
82

Síntese do estudo DEPARIS no rappel da Aroeira


1- A zona de prática de aventura
!
2- A organização para a realização !
3- O local da atividade !
4- Os riscos de acidente !
5- As ferramentas e materiais para a atividade
!
6- A técnica empregada !
7- O nível de conhecimento sobre a atividade
!
8- A relação entre guia(s) e cliente(s) !
9- O ambiente social local e geral !
10- O conteúdo da atividade !

8.2 Análise dos resultados

Em relação aos resultados apresentados, pode-se observar o seguinte:

As ações concretas para melhoria são muitas vezes repetitivas, as anotações


feitas pelos usuários são semelhantes entre si. Quase sempre não são apresentadas
novas propostas, além das que estão apresentadas no campo da rubrica onde existe
a situação desejada, apontada pelo autor da rubrica.

As observações mais palpáveis a nível de engenharia de segurança podem ser


feitas a partir da rubrica 4, que aborda os riscos de acidente. A maioria das
respostas aponta pouca ou nem uma gravidade de risco ou conseqüência. De modo
geral, os riscos de acidente, no esquema de avaliação por cores, o rappel da Aroeira
é considerado, sem riscos, de acordo com a maioria das respostas. A exceção de
um entrevistado todos os demais assinalaram a exclamação com a indicação na cor
verde, o que significa dizer que, de acordo com os usuários abordados, o local é
seguro e propício para a prática sem riscos de lesão ou conseqüências mais graves.

Com relação à rubrica 6, que trata das técnicas empregadas para o rappel, a
exceção de um dos entrevistados, os demais não observaram à necessidade de

82
83

técnicas adequadas para a prática da atividade, nem tão pouco a necessidade de


conhecimento avançado para sair de uma situação de risco.

Um ponto positivo, com relação à questão de segurança, pode ser observado


na rubrica 9, que trata do ambiente social local e geral, todos os usuários foram
unânimes em apontar a necessidade do guia/ condutor ter um auxiliar para retornar
a base, caso algum membro do grupo desista da descida por corda.

Em virtude da diversidade do que foi apresentado, verifica-se ambigüidade


entre as respostas dos usuários. Na ausência de conhecimento técnico sobre a
questão de planejamento de um sistema de gestão de segurança, os usuários
utilizam conhecimentos adquiridos com o tempo de prática.

Na diversidade das respostas, observa-se claramente, a repetição da situação


desejada, proposta na rubrica. Em quase toda a totalidade, os entrevistados não
foram capazes de apontar novos itens para garantir a segurança, ou melhorar de
forma definitiva o contexto atual do local.

Em nenhuma das 10 rubricas elaboradas, os usuários assinalaram a cor


vermelha para as situações propostas nas rubricas, não que essa indicação fosse
desejada, mas mesmo com relação aos riscos de acidentes, os usuários não tem a
devida noção do que vem a ser as conseqüências de um pequeno descuido em uma
atividade de rappel em uma área afastada de um centro médico.

Acredita-se que o método DEPARIS apresenta bons resultados quando já


existe um sistema de gestão de riscos devidamente implantado, pois os usuários
seriam abordados para sugerirem novas propostas para a melhoria continua do
processo de gestão de riscos.

Para um planejamento de gestão dos riscos de uma atividade de aventura é


necessário o uso de critérios menos subjetivos, que de certa forma, apontem os
reais riscos e o nível de conseqüência que a atividade pode gerar.

Em virtude dessa necessidade de uma análise mais precisa do planejamento


da gestão de riscos, fez-se uso de uma análise semi-quantitativa, com uso de
probabilidades numéricas e que apresenta resultados mais objetivos, com ações
mais consistentes para garantir a integridade física dos usuários nas atividades de
83
84

aventura que possam vir a ser realizadas no Parque Estadual da Pedra da Boca, e
são apresentadas no capítulo 9 deste trabalho.

84
85

9 AVALIAÇÃO SEMI-QUANTITATIVA DOS RISCOS

O método DEPARIS, aplicado ao estudo de caso analisado, demonstrou o nível


de entendimento de alguns atores no tocante a gestão dos riscos em atividades de
aventura.

A avaliação qualitativa, como a aplicada neste trabalho, apresenta respostas


variadas, com soluções genéricas. A necessidade da aplicação de métodos mais
eficientes para o planejamento da gestão dos riscos nas atividades desenvolvidas
para o turismo de aventura, requer a participação de um especialista na área de
engenharia de segurança, para a aplicação de modelos semi-quantitativos.

Nesse intuito este capítulo é dedicado à elaboração de um método de


avaliação semi-quantitativa como sugere a norma 15.331.

A realização de qualquer atividade de turismo de aventura tem um grau de


incerteza, seja quanto aos seus resultados, ou quanto a sua execução, ou ainda
quanto ao seu planejamento. Essas incertezas de eventos ou condições, podem
trazer benefícios ou serem adversárias aos objetivos das atividades.

Diversos métodos podem ser utilizados no processo de planejamento dos


riscos. A avaliação semi-quantitativa dos riscos é um método muito utilizado, pois
através de elementos de avaliação onde, como e por quem é realizada uma
determinada tarefa é possível apresentar resultados numéricos para a classificação
dos riscos. Um método quantitativo é mais complexo e requer uso de números
específicos de probabilidade e distribuição do impacto.

Segundo Buckley (2005), as análises semi-quantitativas dos riscos faz uma


aproximação entre a análise qualitativa e quantitativa em termos de complexidade,
elas não usam diretamente a probabilidade ou a estimativa de impactos, as análises
semi-quantitativas começam com uma escala qualitativa, depois é transformada em
valores numéricos para usar como indicadores de mensuração indireta da
probabilidade do evento negativo ocorrer.

Para dar início ao processo de análise semi-quantitativa é necessário a

85
86

determinação de parâmetros para a avaliação quanto ao risco. A probabilidade do


risco pode ser estimada por uma identificação de elementos qualitativos que terão
uma classificação numérica. Trata-se de uma técnica que envolve uma mistura de
qualidade e quantidade.

Segundo Buckley (2005), o fator de risco será descrito como uma avaliação de
probabilidades convertidas em medidas numéricas. Os valores numéricos são uma
média adotada para uma dada probabilidade do risco (P), da mesma forma a
avaliação das conseqüências (C) é analisada numericamente. O fator de risco (FR) é
medido a partir dos valores do risco combinados com as conseqüências.

Matematicamente, o cálculo da probabilidade de ocorrer um evento pode ser


dada por:

prob( AouB) = prob( A) + prob( B ) − prob( A) * prob( B )


Equação 2 – Probabilidade de evento

Analogamente para a determinação do fator de risco considerando as


probabilidades e as conseqüências, tem-se:

FR = P + C − ( P * C )
Equação 3 – Fator de risco
Fonte: Buckley, 2005

Os valores de (P) e (C) serão adotados entre 0 (baixo) e 1 (alto) para


representar o reflexo da probabilidade do risco e da severidade das conseqüências e
os seus respectivos impactos. Desta forma, o fator de risco (FR) também
apresentará valores entre 0 e 1.

Os valores de (P) e (C) podem ser representados em forma de um gráfico,


considerando a plotagem do contorno de um gráfico de iso-risco, tem-se a
representação de acordo com a figura abaixo:

86
87

S11

S10

S9

S8

Consequencia (C)
S7

S6

S5

S4

S3

S2

S1
1 6
Probabilidade (P)
11

0-0.2 0.2-0.4 0.4-0.6 0.6-0.8 0.8-1

Figura 8 – Contorno das iso-linhas de fator de risco (FR)


Fonte: Buckley, 2005

Pelo gráfico, quanto mais abaixo e a esquerda os valores estiverem, na zona


azul clara, menor é o fator de risco, à medida que os valores variam, cresce também
o fator de risco, chegando a níveis intoleráveis na zona vermelha, pontos mais à
direita e superior do gráfico.

Para a análise do projeto, a metodologia de classificação do fator de risco e


seus impactos, são adotados três critérios para a probabilidade (P): exposição (e),
controle (c) e detecção (d). Dois critérios são considerados para as conseqüências
(C): severidade potencial (s) e abrangência (a), de acordo com as tabelas a seguir:

Quadro 4 – Probabilidade de exposição


Exposição (e)
Freqüência com que às pessoas ou ambiente interagem com o perigo ou aspecto
Peso Classificação Descrição
0,1 Eventualmente Se a freqüência de exposição e/ou duração da exposição ocorrer
de forma esporádica ou eventual;
0,2 Frequentemente Se a freqüência de exposição e/ou duração de exposição ocorrer
de forma não continua, porem rotineira;
0,3 Continuamente Se a freqüência de exposição e/ou duração da exposição ocorrer
de maneira continua ou durante a jornada de aventura.

Quadro 5 – Probabilidade de controle


Controle (c)
Ação existente que elimine ou minimize a interatividade com o perigo ou aspecto
Peso Classificação Descrição
0,1 Eficaz Existência de dispositivo físico que venha a garantir que mesmo
havendo distração do(s) envolvido(s), impeça a ocorrência de uma
lesão, doença, dano ou impacto;
0,2 Precária Existência de dispositivo (físico ou procedimento específico) que
possa evitar e/ou atenuar a lesão, doença, dano ou impacto, mas
que ainda dependa da atitude ou atenção do(s) envolvido(s), não
bloqueando totalmente o risco ou impacto;
0,3 Inexistente A não existência de dispositivo (físico ou procedimento específico)
que possibilite a atenuação e/ou que evite a ocorrência da lesão,
doença, dano ou impacto.

87
88

Quadro 6 – Probabilidade de detecção


Detecção (d)
Nível de facilidade de identificação do perigo ou aspecto associado
Peso Classificação Descrição
0,1 Fácil Qualquer pessoa, sem nenhum treinamento específico ou
conhecimento da atividade, é capaz de identificar o perigo ou
aspecto existente no equipamento, sistema, atividade ou local de
realização da atividade;
0,2 Moderada São perigos ou aspectos possíveis de serem identificados através
de análise realizada por pessoas com treinamentos específicos
e/ou conhecimentos da atividade;
0,3 Difícil O perigo ou aspectos é identificado apenas de maneira reativa
(acidente ou incidente) ou pelo uso de metodologias e/ou
monitoramento específico.

Quadro 7 – Conseqüências da severidade potencial


Severidade Potencial (s)
Avalia o potencial da conseqüência (lesão, dano ou impacto) caso o evento indesejado aconteça.
Peso Classificação Descrição
0,1 Baixa Se a lesão, dano ou impacto for inexistente ou desprezível, no
máximo lesões superficiais, queimaduras de 1º ou 2º graus pontual
(2cm²), cortes arranhões menores, lesões típicas de primeiros-
socorros, desconforto temporário, irritações e incômodos.
0,3 Média Se a lesão ou impacto resultar em lacerações, queimaduras de 2º
grau localizadas (>2cm²), fraturas menores, contusões, torções ou
entorses, dermatites, doenças de incapacitação para a atividade;
0,5 Alta Se houver potencial para decorrer amputações, fraturas múltiplas,
queimaduras generalizadas de 2º ou 3º graus, envenenamento,
lesões incapacitantes ou fatais.

Quadro 8 – Conseqüências das abrangência


Abrangência (a)
Avalia o número de pessoas possíveis de sofrer as conseqüências, ou a extensão do impacto caso o evento
venha ocorrer.
Peso Classificação Descrição
0,1 Ampla Se a lesão, dano potencial ou impacto decorrente é limitada a
apenas uma pessoa no exercício das suas atividades ou ao
ambiente de fácil acesso;
0,2 Limitada Se a lesão, dano potencial ou impacto abranger mais de uma
pessoa ou o ambiente tem acesso complicado.
0,3 Isolada Se a lesão, dano potencial ou impacto abranger, outras pessoas
fora do local da atividade ou o ambiente tem acesso difícil ou
remoto.

Para cada atividade a ser analisada, os cinco critérios devem ser classificados
e pontuados de acordo com o peso de cada classificação. Para as probabilidades
tem-se:

P =e+c+d
Equação 4 – Probabilidade do fator de risco

88
89

Para as conseqüências, tem-se:

C =s+a
Equação 5 – Conseqüência do fator de risco

Fazendo uso da Equação 3 para análise das possíveis combinações


apresentadas com os pesos adotados para as probabilidades e as conseqüências,
tem-se como resultados:

Probabilidade (P) 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9


Conseqüência (C) 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8
0.44 0.51 0.58 0.65 0.72 0.79 0.86
0.52 0.58 0.64 0.70 0.76 0.82 0.88
0.60 0.65 0.70 0.75 0.80 0.85 0.90
Fator de Risco (FR) 0.68 0.72 0.76 0.80 0.84 0.88 0.92
0.76 0.79 0.82 0.85 0.88 0.91 0.94
0.84 0.86 0.88 0.90 0.92 0.94 0.96
0.92 0.93 0.94 0.95 0.96 0.97 0.98
Tabela 1 – Fatores de Risco

A Equação 3 é capaz de detectar itens com alta probabilidade ou baixas


conseqüências, o contrario também pode ser detectado, ou até mesmo (P) e (C)
com mesmo peso. A existência de itens ignorados em primeiro plano é fortemente
reduzida pela disposição dos elementos da equação. Na Tabela 1 tem-se os
possíveis resultados das combinações entre os critérios de classificação de uma
determinada atividade, nota-se que na medida em que crescem os valores de (P) e
(C) o fator de risco aproxima-se do valor unitário, o que indica um fator de risco
inaceitável com conseqüências catastróficas.

Os critérios de avaliação dos resultados do fator de risco foram elaborados por


equações matemáticas de probabilidade, uma tabela com níveis de medida de
controle conforme a escala de probabilidade do risco, e a escala de impactos
causados estão propostas adiante. No Quadro 9 são apresentados cinco níveis de
reconhecimento do risco, são considerados o valor numérico do fator de risco, a
escala de probabilidade de ocorrência, a escala de impacto das conseqüências
causadas pelo risco e na última coluna, são apresentados, de forma geral, as
medidas de controle que podem ser adotas em cada nível do fator de risco.

89
90

Quadro 9 – Medidas de controle conforme fator de risco


Nível Fator de Risco Escala de Escala de Medidas de Controle
Probabilidade Impacto
1 FR<0,56 Raro Insignificante  Registrar para controle estatístico;
 Não é necessário ação;
 Nenhum registro documental precisa
ser mantido.

2 0,57<FR<0,69 Improvável Baixo  Nenhum controle adicional é


necessário;
 Pode-se implementar uma ação mais
econômica (isolamento, auxílio visual,
avisos preventivos de forma verbal);
 Efetuar monitoramento para garantir
que a ação está mantida.

3 0,70<FR<0,85 Possível Moderado  Devem ser feitas medidas de


controle para a redução ou eliminação do
risco ou impacto;
 Medidas de controle com data
definida para conclusão e nome do
responsável;
 Se a conseqüência do risco ou
aspecto for extremamente prejudicial, uma
avaliação mais detalhada pode ser
necessária para estabelecer mais
precisamente a probabilidade da ocorrência
de prejuízo, como meio para determinar a
necessidade e medidas de controle de
melhoras;
 Alertar o pessoal da área e
envolvidos sobre o(s) risco(s) ou impacto(s);
 Procedimentos de controle
operacional e/ou planos de emergência são
necessários.

4 0,86<FR<0,92 Provável Alto  Não iniciar/continuar as atividades


até que o risco ou impacto tenha sido
reduzido ou eliminado;
 Recursos consideráveis podem ter
que ser apropriados para reduzir o risco ou
impacto;
 Quando as atividades se
encontrarem em andamento, uma ação
urgente dever ser implementada;
 Alertar o pessoal da área sobre o
risco ou impacto enquanto a ação está
sendo implementada;
 Sinalizar e isolar o local se
necessário;
 Procedimentos de controle
operacional, planos de emergência são
prioritários.

5 FR>0,93 Certo Catastrófico  Não iniciar e nem continuar a


atividade nesta condição até que o risco ou
impacto tenha sido reduzido ou eliminado;
 Caso não seja possível reduzir o
risco ou impacto, deve permanecer proibido;
 Procedimentos de controle
operacional, planos de emergência são
prioritários.

Os valores apresentados na Tabela 1 podem ser representados, de acordo


com a escala de impactos e com os níveis do fator de risco apresentados no
90
91

Quadro-10, conforme disposto abaixo:

Quadro 10 – Fator de risco em escala de impacto


Combinação de probabilidade e conseqüência
Insignificante Insignificante Baixo Baixo Moderado Moderado Alto
Insignificante Baixo Baixo Moderado Moderado Moderado Alto
Baixo Baixo Moderado Moderado Moderado Moderado Alto
Risco

Baixo Moderado Moderado Moderado Moderado Alto Alto


Moderado Moderado Moderado Moderado Alto Alto Catastrófico
Moderado Alto Alto Alto Alto Catastrófico Catastrófico
Alto Catastrófico Catastrófico Catastrófico Catastrófico Catastrófico Catastrófico

O fator de risco e a classificação do perfil do impacto podem somente indicar o


nível de atenção no gerenciamento dos riscos e servir como um guia para
propriedades no gerenciamento.
1

0.98
0.97
0.96
0.95
0.94
0.9 0.93
0.92
0.91
0.88
0.86
0.85
0.84
0.8 0.82
0.80
0.79
0.76
0.75
0.7 0.72
0.7
0.68
0.65
0.64
0.6
0.60
0.58

0.5 0.52
0.51

0.44
0.4

Insignificante Baixo Moderado Alto Catastrófico

Figura 9 – Gráfico de graduação da ordem do fator de risco do projeto - Perfil de análise

É importante que os riscos sejam quantificados, documentados e devidamente


tratados, uma fase imprescindível é a ampla divulgação a todos os envolvidos nas
atividades turísticas.

91
92

10 CONCLUSÃO

A implantação de um sistema de gestão de riscos em unidades de conservação


ambiental apresenta um caráter bastante diferenciado no comportamento do fluxo
turístico. Em princípio, pode-se esperar uma queda no número de visitantes devido
às exigências aplicadas, no entanto, essa fase é necessária para a melhoria da
qualidade dos serviços prestados em turismo de aventura. O fator de segurança
certamente apresenta maior influência no comportamento do turista e na escolha do
destino turístico.

A exigência de gestão dos riscos nas unidades de conservação implicará na


necessidade de adaptação às normas pelas empresas e agências que operam o
turismo de aventura. Com isso, os ganhos na gestão serão facilitados, devido à
obtenção de resposta das empresas que exploram esse tipo de turismo. Outro fato
importante é que as operadoras irão perceber as vantagens da gestão dos riscos
como diferencial competitivo e até mesmo para garantir a sua reputação em um
mercado bastante competitivo.

A aplicação da metodologia DEPARIS com sua abordagem progressiva das


situações de trabalho, com avaliação e diagnóstico de forma participativa, utilizando
como fontes de consulta operadores, usuários e condutores do Parque Estadual da
Pedra da Boca, demonstrou uma fragilidade no conhecimento sobre gestão dos
riscos.

Acredita-se que os objetivos propostos no início deste trabalho foram


alcançados, através da elaboração de diretrizes para dar suporte aos gestores de
unidades de conservação ambiental para a implantação de um sistema de gestão de
riscos com sua Política de Segurança e com o seu Planejamento dos Riscos,
melhorando, assim, a qualidade na prestação dos serviços de turismo de aventura.

A importância da adoção da Política de Segurança na Gestão de Riscos em


atividades de aventura, é de grande valia, devido à possibilidade de atribuição de
responsabilidades dos diversos atores que realizam a gestão e que fazem à
exploração comercial da unidade de conservação. A segurança e integridade física
do turista passam a ser de responsabilidade de todos, tanto da unidade de
conservação que disponibiliza as áreas com condições adequadas para a prática

92
93

das atividades, quanto da agência ou operadora que oferece o pacote turístico com
pessoal especializado na realização das atividades. Não se pode deixar de
mencionar que o turista que adquire o pacote e visita a unidade de conservação
também se torna responsável na gestão dos riscos a partir do preenchimento do
formulário padrão de dados pessoais, que contem informações mínimas do pacote
adquirido.

No desenvolvimento do trabalho e com a pesquisa realizada, verificou-se a


grande necessidade de treinamento e capacitação de todos os usuários, para
incorporação e propagação da cultura da segurança em turismo de aventura. É de
fundamental importância que seja elaborada e implantada uma Política de
Segurança para fundamentar que a segurança no turismo é obrigação de todos os
usuários do Parque Estadual da Pedra da Boca.

Foi possível observar que há necessidade de capacitar e preparar os


condutores do parque, focando a preocupação da gestão dos riscos no
planejamento e formação dos grupos de passeio, em geral os grupos ultrapassam o
número de seis turistas para um único condutor. Existe um grande interesse dos
condutores em melhorar o atendimento ao turista, isso é uma porta aberta para a
implantação de uma gestão dos riscos participativa, e atende à necessidade do
princípio da sustentabilidade turística.

A avaliação dos riscos pelo método semi-quantitativo desenvolvido para esse


trabalho, serve para agilizar o processo de Planejamento dos Riscos e adotar
medidas na velocidade e na eficiência que é sugerido pelo método. A técnica
desenvolvida pode ser utilizada em qualquer tipo de atividade explorada pela
unidade de conservação, dentre elas: trilhas, vias de escaladas, técnicas verticais,
corredeiras, etc. O importante é aplicar a metodologia para busca a segurança nas
atividades realizadas dentro da unidade de conservação.

A participação de um profissional em engenharia de segurança no trabalho é


imprescindível na gestão dos riscos em atividades de aventura. Apesar de não existir
nem uma exigência legal, o planejamento e desenvolvimento da técnica de
avaliação, bem como a forma de implantação de políticas de segurança é atribuição
de um profissional de engenharia de segurança. A NBR 15.331 é uma norma de

93
94

gestão de riscos para a segurança, e não faz nenhuma menção à importância do


acompanhamento de um profissional de segurança no trabalho, mesmo porque, de
acordo com a NR-4, que trata dos serviços especializados em engenharia de
segurança e em medicina do trabalho, na parte de classificação nacional de
atividades econômicas, no item de código nº 63.3-Atividades de Agências de
Viagens e Organizadoras de Viagem, que classifica com grau de risco 1 (um) essa
atividade. Para efeitos de dimensionamento do SESMT, esse grau de risco, exige a
participação de um técnico de segurança no trabalho a partir 501 profissionais
atuando na área ou setor produtivo. Em nível do que está disposto neste trabalho, é
possível afirmar a necessidade da modificação das normas pertinentes à gestão dos
riscos em atividades de aventura, bem como a reformulação e adequação da NR-4.

A NBR 15.331 pode ser utilizada em consonância com a NR-9, de programas


de prevenção de riscos ambientais. Sabendo que esta norma regulamentadora visa
à antecipação, reconhecimento, avaliação e controle da ocorrência dos riscos que
possam existir dentro do ambiente de trabalho. A estruturação básica de PPRA tem
as características de uma gestão dos riscos, onde devem ser realizados
planejamentos anuais, estabelecido uma metodologia de ações, divulgação de
dados e com uma metodologia de avaliação. Tudo deve ser descrito em um
documento, e devem estar de acordo gestores e usuários. De preferência, a
formatação de um PPRA deve ser acompanhada da assinatura de um responsável
técnico, profissional de engenharia de segurança no trabalho e/ou por um fiscal do
ministério do trabalho.

Considerando as análises feitas neste trabalho verifica-se a necessidade de


pesquisa e aplicação de:

• Políticas de segurança voltadas para as operadoras de turismo


de aventura, com a convicção fundamental de que a segurança é um
valor comercial essencial;

• Elaboração e detalhamento de protolocos de segurança nos


projetos de gestão dos riscos nas atividades de turismo de aventura, tais
como: passos e check-list para a descida por corda (rappel) e caminhadas
de pequenos percursos e todas as demais atividades de turismo de

94
95

aventura;

• Avaliação dos riscos nas atividades realizadas pelos


condutores e guias locais, identificando as opiniões e pontos de vista de
quem de fato opera a atividade e detém menor grau de instrução,
buscando a solução e implantação de medidas de proteção para a
melhoria imediata de forma contínua;

• Fixação de diretrizes para a elaboração do cronograma de


implantação de medidas de proteção, capacitação, divulgação e
implantação da gestão dos riscos conforme solicitado na NBR15.331;

• Implantação de programas de treinamento e capacitação dos


usuários, distinguindo as palestras para cada categoria de habilidades:
amador, iniciante, praticante, especialista e profissional;

• Criação de um certificado de garantia de segurança e


preocupação na integridade física do usuário;

• Atualização e complementação das Normas Técnicas vigentes


em nosso país, visando à adequação da gestão dos riscos e
acompanhamento por um profissional devidamente preparado e habilitado
para acompanhar a elaboração e implantação das exigências de
segurança.

Com as recomendações e conclusões apresentadas, espera-se que essa


pequena contribuição no setor de turismo de aventura seja mais um passo na
evolução da segurança dos usuários dessa modalidade turística. Ainda há muito que
fazer para a adoção da gestão dos riscos pelas operadoras de turismo de aventura.
No entanto, as discussões e soluções aqui apresentadas buscam o crescimento das
condições e garantias de segurança do turista, para o aumento do volume do fluxo
turístico nesse setor.

95
96

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, N.M.C. Gerência de Riscos. João Pessoa, 2004.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15.331: Turismo


de aventura – Sistema de gestão de segurança – Requisitos. Rio de Janeiro, 2006.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR lSO 9.001:


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ANEXOS

ANEXOS

99
100

Tabela 2 – Tabela de correspondência entre OHSAS 18001, ISO 14001:1996 e ISO 9001:2000

100
101

APÊNDICES

APÊNDICES

101
102

APÊNDICE A – Modelo de Política de Segurança

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103

103
104

APÊNDICE B – Método de DEPARIS aplicado – Rappel da Aroeira

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105
106

106
107

107
108

108
109

APÊNDICE C – Folha de avaliação dos riscos em atividades elaborada


Parque Estadual da Pedra da Boca - Araruna/PB
Chefia do Parque
Departamento de Eng. de Segurança
Folha de avaliação dos Riscos em Atividades

Atividade:

Elemento:
Indicador de Probabilidade
Critérios Peso Classificação Descrição Pontuação
Ação existente que elimine ou Freqüência com que

0,1 Eventualmente Se a freqüência de exposição e/ou duração da exposição


ambiente interagem
com o perigo ou
às pessoas ou
Exposição (e)

ocorrer de forma esporádica ou eventual;


aspecto

0,2 Frequentemente Se a freqüência de exposição e/ou duração de exposição


ocorrer de forma não continua, porem rotineira;
0,3 Continuamente Se a freqüência de exposição e/ou duração da exposição
ocorrer de maneira continua ou durante a jornada de
aventura.
0,1 Eficaz Existência de dispositivo físico que venha a garantir que
minimize a interatividade com

mesmo havendo distração do(s) envolvido(s), impeça a


ocorrência de uma lesão, doença, dano ou impacto;
o perigo ou aspecto

0,2 Precária Existência de dispositivo (físico ou procedimento específico)


Controle (c)

que possa evitar e/ou atenuar a lesão, doença, dano ou


impacto, mas que ainda dependa da atitude ou atenção
do(s) envolvido(s), não bloqueando totalmente o risco ou
impacto;
0,3 Inexistente A não existência de dispositivo (físico ou procedimento
específico) que possibilite a atenuação e/ou que evite a
ocorrência da lesão, doença, dano ou impacto.
0,1 Fácil Qualquer pessoa, sem nenhum treinamento específico ou
identificação do perigo ou

conhecimento da atividade, é capaz de identificar o perigo


Nível de facilidade de

aspecto associado

ou aspecto existente no equipamento, sistema, atividade ou


Detecção (d)

local de realização da atividade;


0,2 Moderada São perigos ou aspectos possíveis de serem identificados
através de análise realizada por pessoas com treinamentos
específicos e/ou conhecimentos da atividade;
0,3 Difícil O perigo ou aspectos é identificado apenas de maneira
reativa (acidente ou incidente) ou pelo uso de metodologias
e/ou monitoramento específico.

Somatório das Probabilidades do Risco (P)


Indicador de Consequencias
0,1 Baixa Se a lesão, dano ou impacto for inexistente ou desprezível,
conseqüência (lesão, dano ou

no máximo lesões superficiais, queimaduras de 1º ou 2º


Severidade Potencial (s)

impacto) caso o evento

graus pontual (2cm²), cortes arranhões menores, lesões


indesejado aconteça.
Avalia o potencial da

típicas de primeiros-socorros, desconforto temporário,


irritações e incômodos.
0,3 Média Se a lesão ou impacto resultar em lacerações, queimaduras
de 2º grau localizadas (>2cm²), fraturas menores,
contusões, torções ou entorses, dermatites, doenças de
incapacitação para a atividade;
0,5 Alta Se houver potencial para decorrer amputações, fraturas
múltiplas, queimaduras generalizadas de 2º ou 3º graus,
envenenamento, lesões incapacitantes ou fatais.
0,1 Ampla Se a lesão, dano potencial ou impacto decorrente é limitada
pessoas possíveis de

conseqüências, ou a
extensão do impacto
caso o evento venha
Avalia o número de

a apenas uma pessoa no exercício das suas atividades ou


Abrangência (a)

ao ambiente de fácil acesso;


sofrer as

0,2 Limitada Se a lesão, dano potencial ou impacto abranger mais de


uma pessoa ou o ambiente tem acesso complicado.
0,3 Isolada Se a lesão, dano potencial ou impacto abranger, outras
pessoas fora do local da atividade ou o ambiente tem
acesso difícil ou remoto.

Somatório das Consequencias do Risco (C)


Indicador de Fator de Risco
Combinação de (P) e (C)
≤ 0,56 Insignificante 1
Conseqüências
0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8
≤ 0,69 Baixo 2
0.3 0.44 0.51 0.58 0.65 0.72 0.79 0.86
Probabiliidades

0.4 0.52 0.58 0.64 0.70 0.76 0.82 0.88


≤ 0,85 Moderado 3
0.5 0.60 0.65 0.70 0.75 0.80 0.85 0.90
0.6 0.68 0.72 0.76 0.80 0.84 0.88 0.92
≤ 0,92 Alto 4
0.7 0.76 0.79 0.82 0.85 0.88 0.91 0.94
0.8 0.84 0.86 0.88 0.90 0.92 0.94 0.96
≥ 0,93 Catastrófico 5
0.9 0.92 0.93 0.94 0.95 0.96 0.97 0.98
Avaliador(a): Data: Revisor(a): Data:

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F676p Fonseca, Francisco
Proposta de sistema de gestão de riscos para atividades
turísticas no Parque Estadual da Pedra da Boca, em Araruna-
Pb./ Francisco Fonseca. – João Pessoa, 2007.
109p.: il.
Orientadora: Nelma Mirian de Araújo.
Monografia (especialização) Faculdades Integradas de
Patos.
1. Engenharia de segurança. 2.Turismo. 3. Gestão de riscos.

UFPB/BC CDU: 62:614.8(043.2)

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