0 valutazioniIl 0% ha trovato utile questo documento (0 voti)
74 visualizzazioni4 pagine
1) O autor compara o Brasil intelectual de 1926 com 1916 e observa uma divergência entre os dois momentos, com novos pontos de vista e indivíduos;
2) Ele prefere os intelectuais de 1926 que abolíram o ceticismo e idealismo do passado, embora ainda haja limitações;
3) É necessário romper com diplomacias nocivas e conquistar sinceridade para expressar uma arte nacional, o que o movimento modernista permitiu intuir.
1) O autor compara o Brasil intelectual de 1926 com 1916 e observa uma divergência entre os dois momentos, com novos pontos de vista e indivíduos;
2) Ele prefere os intelectuais de 1926 que abolíram o ceticismo e idealismo do passado, embora ainda haja limitações;
3) É necessário romper com diplomacias nocivas e conquistar sinceridade para expressar uma arte nacional, o que o movimento modernista permitiu intuir.
1) O autor compara o Brasil intelectual de 1926 com 1916 e observa uma divergência entre os dois momentos, com novos pontos de vista e indivíduos;
2) Ele prefere os intelectuais de 1926 que abolíram o ceticismo e idealismo do passado, embora ainda haja limitações;
3) É necessário romper com diplomacias nocivas e conquistar sinceridade para expressar uma arte nacional, o que o movimento modernista permitiu intuir.
Qualquer pessoa que compare o Brasil intelectual de hoje com o de dez anos atrs no pode deixar de observar uma divergncia aprecivel entre os dois momentos, no s nos pontos de vista que os conduzem como ainda mesmo nos indivduos que os exprimem. No quero insistir na caracterizao dessa divergncia, que me parece profunda, nem vejo em que poderia ser til mostrando o motivo que me leva a preferir um ao outro. Est visto que pra mim os que exprimem o momento atual neste ano de 1926 contam muito mais do que os de 1916. A gente de hoje aboliu escandalosamente, graas a Deus, aquele ceptismo boc, o idealismo impreciso e desajeitado, a poesia bibel, a retrica vazia, todos os dolos da nossa intelligentsia, e ainda no muito o que fez. Limitaes de todos os lados impediam e impedem uma ao desembaraada e at mesmo dentro do movimento que suscitou esses milagres tm surgido germens de atrofia que os mais fortes j comeam a combater sem trguas. indispensvel para esse efeito romper com todas as diplomacias nocivas, mandar pro diabo qualquer forma de hipocrisia, suprimir as polticas literrias e conquistar uma profunda sinceridade pra com os outros e pra consigo mesmo. A convico dessa urgncia foi pra mim a melhor conquista at hoje do movimento que chamam de modernismo. Foi ela que nos permitiu a intuio de que carecemos, sob pena de morte, de procurar uma arte de expresso nacional. No se trata de combater o que j se extinguiu, e absurdo que muitos cometem. Mesmo em literatura os fantasmas j no pregam medo em ningum. O academismo, por exemplo, em todas as suas vrias modalidades mesmo o academismo do grupo Graa Aranha-Ronald-Renato Almeida, mesmo o academismo de Guilherme de Almeida j no mais um inimigo, porque ele se agita num vazio e vive custa de heranas. As figuras mais representativas desse esprito acadmico e mesmo as melhores (como o caso dos nomes que citei) falam uma linguagem que a gerao dos que vivem esqueceu h muito tempo. Alguns de seus representantes refiro-me sobretudo a Guilherme de Almeida e a Ronald de Carvalho , graas a essa inteligncia aguda e sutil que foi o paraso e foi a perda da gerao a que eles pertencem, aparentaram por certo tempo responder s instncias da nossa gerao. Mas hoje logo primeira vista se sente que falharam irremediavelmente. O mais que eles fizeram foi criar uma
poesia principalmente brilhante: isso prova que sujeitaram
apenas uma matria pobre e sem densidade. De certo modo continuaram a tradio da poesia, da literatura bibel, que ns detestamos. So autores que se acham situados positivamente do lado oposto e que fazem todo o possvel para sentirem um pouco da inquietao da gente da vanguarda. Donde essa feio de obra trabalhada conforme esquemas premeditados, essa ausncia de abandono e de virgindade que denunciam os seus livros. Toda a Amrica e Raa seriam talvez bem mais significativos para a gente se no fosse visvel a todo o momento a inteno dos seus autores de criarem dois poemas geniais. Essa inteno sobretudo manifesta em Toda a Amrica. um dos aspectos que tornam mais lamentvel e pretensioso o movimento inaugurado pelos nossos acadmicos modernizantes. Houve um tempo em esses autores foram tudo quanto havia de bom na literatura brasileira. No ponto em que estamos hoje eles no significam mais nada para ns. Penso naturalmente que poderemos ter em pouco tempo, que teremos com certeza, uma arte de expresso nacional. Ela no surgir, mais que evidente, de nossa vontade, nascer muito mais provavelmente de nossa indiferena. Isso no quer dizer que nossa indiferena, sobretudo nossa indiferena absoluta, v florescer por fora nessa expresso nacional que corresponde aspirao de todos. Somente me revolto contra muitos que acreditam possuir ela desde j no crebro tal e qual deve ser, dizem conhecer de cor todas as suas regies, as suas riquezas incalculveis e at mesmo os seus limites e nos querem oferecer essa sobra em vez da realidade que poderamos esperar deles. Pedimos um aumento de nosso imprio e eles nos oferecem uma amputao. (No careo de citar aqui o nome de Tristo de Athayde, incontestavelmente o escritor mais representativo dessa tendncia, que tem pontos de contato bem visveis com a dos acadmicos modernizantes" que citei, embora seja mais considervel.) O que idealizam, em suma, a criao de uma elite de homens, inteligentes e sbios, embora sem grande contato com a terra e o povo o que concluo por minha conta; no sei de outro jeito de se interpretar claramente o sentido de seus discursos , gente bem-intencionada e que esteja de qualquer modo altura de nos impor uma hierarquia, uma ordem, uma experincia que estrangulem de vez esse nosso maldito estouvamento de povo moo e sem juzo. Carecemos de uma arte, de uma literatura, de um pensamento enfim, que traduzam um anseio qualquer de construo, dizem. E insistem sobretudo nessa panacia abominvel da construo. Porque para eles, por enquanto, ns nos agitamos no caos e
nos comprazemos na desordem. Desordem do qu?
indispensvel essa pergunta, porquanto a ordem perturbada entre ns no decerto, no pode ser a nossa ordem; h de ser uma coisa fictcia e estranha a ns, uma lei morta, que importamos, seno do outro mundo, pelo menos do Velho Mundo. preciso mandar buscar esses espartilhos pra que a gente aprenda a se fazer apresentvel e bonito vista dos outros. O erro deles est nisso de quererem escamotear a nossa liberdade que , por enquanto pelo menos, o que temos de mais considervel, em proveito de uma detestvel abstrao inteiramente inoportuna e vazia de sentido. No me lembro mais como a frase que li num ensaio do francs Jean Richard Bloch e em que ele lamentava no ter nascido num pas novo, sem tradies, onde todas as experincias tivessem uma razo de ser e onde uma expresso artstica livre de compromissos no fosse uma ousadia inqualificvel. Aqui h muita gente que parece lamentar no sermos precisamente um pas velho e cheio de heranas onde se pudesse criar uma arte sujeita a regras e a ideias prefixados. No para nos felicitarmos que esse modo de ver importado diretamente da Frana, da gente da Action Franaise e sobretudo de Maritain, de Massis, de Benda talvez e at da Inglaterra do norte-americano T. S. Elliot comece a ter apoio em muitos pontos do esplndido grupo modernista mineiro de A Revista e at mesmo de Mrio de Andrade, cujas realizaes apesar de tudo me parecem sempre admirveis. Eu gostaria de falar mais longamente sobre a personalidade do poeta que escreveu o Noturno de Belo Horizonte e como s assim teria jeito pra dizer o que penso dele mais vontade, pra dizer o que me parece bom e o que me parece mau em sua obra mau e sempre admirvel, no h contradio aqui , resisto tentao. Limito-me a dizer o indispensvel: que os pontos fracos nas suas teorias esto quase todos onde elas coincidem com as idias de Tristo de Athayde. Essa falha tem uma compensao nas estupendas tentativas para a nobilitao da fala brasileira. Repito entretanto que a sua atual atitude intelectualista me desagrada. Nesse ponto prefiro homens como Oswald de Andrade, que um dos sujeitos mais extraordinrios do modernismo brasileiro; como Prudente de Moraes Neto; Couto de Barros e Antnio de Alcntara Machado. Acho que esses sobretudo representam o ponto de resistncia necessrio, indispensvel contra as ideologias do construtivismo. Esses e alguns outros. Manuel Bandeira, por exemplo, que seria para mim o melhor poeta brasileiro se no existisse Mrio de Andrade. E Ribeiro Couto que com Um homem na multido acaba de publicar um
dos trs mais belos livros do modernismo brasileiro. Os outros
dois so Losango cqui e Pau-Brasil. Revista do Brasil, 15/10/1926, p.9-10. HOLANDA, Srgio Buarque de. O esprito e a letra. Estudos de crtica literria I, 1920-1947. Organizao, introduo e notas Antonio Arnoni Prado. So Paulo: Companhia das Letras, 1996, p. 224-228.