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Um Papa realista

O conclave de 2005 que elegeu Joseph Ratzinger foi dos mais rápidos. Durou24 horas e o novo Papa foi eleito após
somente quatro votações.

O panorama dos cardeais eleitores foi muito diferente dos conclaves anteriores, cuja predominância era
essencialmente europeia e italiana. Desta vez, o leque foi muito mais diversificado e, por isso, equilibrado, em
idades e proveniências, correspondente à vitalidade da Igreja espalhada pelo mundo.

Foi esse “mosaico” que se uniu para escolher o actual Papa. A rapidez da escolha desmentiu os prognósticos de
muitos sectores (incluindo meios eclesiásticos e comunicação social) de que havia uma forte resistência à eleição de
Ratzinger. Aconteceu exactamente o contrário: os cardeais deram ao mundo um sinal de união ao elegerem tão
depressa este Papa.

Depois da eleição, alguns consideraram que este Papa não viajaria tanto como o anterior, tendo em conta a sua
idade.

Afinal, Bento XVI já realizou 14 viagens fora de Itália, numa delas visitando dois países (Camarões e Angola) e foi a
quatro continentes (só falta a Ásia). Para este ano, depois de Malta e Portugal, tem agendadas mais três visitas
pastorais – todas elas na Europa. O Papa vai a Chipre, em Setembro, à Grã-Bretanha e a Espanha (Santiago de
Compostela e Barcelona), em Novembro.

O panorama da Europa

Entre as preocupações que Bento XVI tem manifestado nos últimos tempos e em viagens pastorais, vale a pena
sublinhar algumas coisas que tem dito à Europa - a esta Europa “cansada da fé”, onde Portugal se inclui, e que,
explica a prioridade do Papa em centrar todas as suas viagens pastorais deste ano no Velho Continente.

Quando Bento XVI visitou a Baviera, em Setembro de 2006, afirmou que o Ocidente está ferido de morte. Ou seja,
“sofre de patologias mortais da religião e da razão”, cujas consequências só podem ser desastrosas para a
humanidade.

E os sintomas destas “patologias” percebem-se pela maneira como os outros nos olham: “As populações da África e
da Ásia admiram as nossas realizações técnicas e a nossa ciência, mas, ao mesmo tempo, assustam-se perante um
certo tipo de razão que exclui Deus da visão do homem. (...) Para eles, a verdadeira ameaça à sua identidade não
está na fé cristã, mas no desprezo de Deus e no cinismo que considera um direito da liberdade ridicularizar o
sagrado”. (Munique, homilia, 10.09.2006)

Foi também na Alemanha que o Papa deixou várias advertências: não sabemos usar a razão convenientemente,
estamos “mirrados” desde o iluminismo, perdeu-se o temor de Deus e o respeito pelo sagrado. Enfim, “o Ocidente
está há muito tempo ameaçado por esta aversão contra as perguntas fundamentais da sua razão”. (Universidade de
Regensburg, lectio magistralis, 12.09.2006)

Esta insensibilidade do homem ocidental penetra na nossa maneira de encarar o mundo, disse o Papa, desta vez, na
Praça de Espanha, em Roma. Insensibilidade ao ponto de nos acostumarmos “todos os dias, através dos jornais, da
televisão e da rádio ao mal narrado, repetido e ampliado”; habituamo-nos assim “às coisas mais horríveis que nos
tornam insensíveis e nos intoxicam. (...) E os meios de comunicação social tendem a fazer que nos sintamos sempre
«espectadores», como se o mal só afectasse os outros.” Resultado: está em curso uma “contaminação do espírito,
que faz com que os nossos rostos sorriam menos, estejam mais tristes e não olhem os outros nos olhos (...). Passamos
a ver tudo superficialmente”. (Roma, homenagem à Imaculada 08.12.2009)

A questão viria ser retomada na República Checa, no passado mês de Setembro: “Nada é mais desumano e destrutivo
do que o cinismo que nega a grandeza da nossa busca da verdade. Não há pior do que o relativismo que corrompe os
verdadeiros valores que inspiram a construção de um mundo mais unido e fraterno.

Por isso, é preciso readquirir confiança na fidelidade e nobreza de espírito e na sua capacidade de alcançar a
verdade”. (Praga, Discurso às autoridades civis e políticas, 26.09.2009)

Um Papa realista

Bento XVI tem-se revelado um Papa realista e uma chave de leitura fundamental para perceber este pontificado
é a última homilia que proferiu antes de ser eleito, onde ficaram famosas as palavras quer sobre a “ditadura do
relativismo” quer sobre o risco de permanecermos com uma fé infantil, “em estado de menoridade”. “Ter uma fé
clara, de acordo com o Credo da Igreja, é com frequência rotulado como fundamentalismo. Ao passo que o
relativismo, isto é, o deixar-se levar de um lado para o outro, ao sabor de qualquer vento de doutrina, surge como a
única postura adequada aos tempos de hoje. Vai-se, assim, constituindo uma ditadura do relativismo que não
reconhece nada como definitivo e que deixa como última medida apenas o próprio eu e as suas vontades”. Nesta
homilia, Ratzinger acrescentou ainda que “adulta” não é uma fé que segue as ondas da moda, nem a última
novidade. Adulta e madura é uma fé profundamente enraizada na amizade com Cristo”. (Homilia Pro Eligendo
Romano Pontefi ce, 18.04.2005)
Esta lucidez de Ratzinger sobre o panorama da nossa fé vem da sua vasta experiência como Prefeito da Congregação
para a Doutrina da Fé. Pelas funções que desempenhou durante mais de 24 anos, conhece bem onde estão as feridas
do homem e da Igreja. Por isso, são profundamente realistas as suas intervenções - tão realistas que afirmou, em
Malta, que “no contexto da sociedade europeia, os valores evangélicos estão a tornar-se contra-cultura, tal como
aconteceu no tempo de São Paulo”. (Discurso aos jovens, 18.04.2010)

Portugal

É com estas e outras preocupações que Bento XVI definiu a sua agenda de viagens para este ano. E é com elas que
aterrará em Portugal, amanhã.

Quatro dias para uma visita papal é mais do que é costume na Europa (em Malta, por exemplo, foram dois dias e em
Chipre serão três), sendo significativo que o seu programa inclua encontros com fiéis em Lisboa e Porto, com toda a
visibilidade que isso implica. Uma visita apenas centrada em Fátima, seria arrumá-la numa espécie de “prateleira
religiosa”, confinada ao perímetro de um Santuário – um dos maiores do mundo, é certo, mas que muitos consideram
a “sacristia do país”. Seria, aliás, pouco “ratzingeriano”, uma vez que este Papa, não tendo uma relação pessoal tão
intensa com Fátima como tinha João Paulo II, tem-se distinguido também por falar aos que estão fora da
Igreja. É prova disso o interesse com que largos sectores intelectuais seguem este pontificado (a partir das suas
interpelações culturais), tendo em conta a lucidez e extraordinária capacidade do Papa para falar aos que estão de
fora, ou aos hesitantes. É também neste contexto que se têm organizado sucessivos encontros com o mundo dos
intelectuais e da cultura. Em Lisboa, será na manhã de quarta-feira, no CCB.

Aura Miguel

(Fonte: ‘Página1’, grupo Renascença, na sua edição especial sobre a visita de Bento XVI com data de 10.05.2010)

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