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São Sebastião
2009
CLEBER JOSÉ CHAVES DE CARVALHO JERÔNIMO
São Sebastião
2009
Cleber José Chaves de Carvalho Jerônimo
BANCA EXAMINADORA
______________________________
ORIENTADOR
______________________________
ARGUIDOR
______________________________
ARGUIDOR
MÉDIA FINAL:_____________
À minha mãe Fátima, mulher forte cujo único ponto fraco é seu filho.
A meu pai, homem simples e de uma sabedoria ímpar.
À minha irmã Janaina por tudo.
À minha orientadora e amiga, Profª Me. Roseliane Saleme pelo carinho e tanto
acreditar em meu potencial.
A todos os meus professores do curso de Letras Português e Espanhol e suas
Literaturas, por compartilharem de seu conhecimento.
A meu amigo Prof° Doutorando Lucelmo Lacerda de Brito, pela paciência e colocar
meus pés no chão.
À minha irmã de coração Michelle Beisiegel da Silva pelo companheirismo.
“(…) las cosas tienen vida propia (...) todo es cuestión de despertarles el ánima”.
García Márquez
JERÔNIMO, Cleber José Chaves de Carvalho. La luz es como el água: uma
questão de Física Quântica ou Realismo Maravilhoso . 2009. 45 f. Monografia
(Graduação) – FASS – Faculdades São Sebastião, São Sebastião, 2009.
„La luz es como el agua - una cuestión de física cuántica o realismo maravilloso‟
habla sobre el posible punto de intersección entre la teoría literaria y los conceptos
físicos, trata de describir un análisis literario cuya prioridad es provocar una lectura
más allá del texto, utilizando el imaginario como herramienta mediadora y como
instrumento para romper los paradigmas de la realidad y la irrealidad. Se utiliza la
física cuántica, la teoría del caos y la teoría relativista con el fin de promover una
mayor comprensión de la propia obra, apoyados en la esencia de la literatura en esa
obra de García Márquez.
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10
1 INDEFINIÇÕES ...................................................................................................... 14
1.1 Indefinições do Conto ...................................................................................... 14
1.2 Indefinições do Fantástico ............................................................................... 14
1.3 Indefinições: Realismo Mágico ou Maravilhoso? ............................................. 16
1.4 Indefinições: Relativizando os Conceitos Físicos ............................................ 18
2 NAVEGANDO DO CONTO .................................................................................... 21
2.1.1 Realidades: Realismo no conto .................................................................... 21
2.1.2 Realidades: Espaço ...................................................................................... 21
2.1.3 Realidades: Tempo ....................................................................................... 22
2.1.4 Realidades: O cotidiano ................................................................................ 23
2.2.1 Navegando pela narrativa ............................................................................. 25
2.2.2 Entre o Maravilhoso e o onírico .................................................................... 25
2.2.3 Sob a luz da semiótica .................................................................................. 26
2.2.4 Um mergulho nas personagens .................................................................... 28
2.3.1 Realismo Maravilhoso................................................................................... 30
2.3.2 Maravilhoso ou disfarce? .............................................................................. 31
2.4.1 Dos conceitos físicos .................................................................................... 36
2.4.2 Do quântico-relativista ao caos ..................................................................... 38
3 CONSIDERAÇÕES ................................................................................................ 41
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 43
ANEXO - LA LUZ ES COMO EL AGUA .................................................................... 45
10
INTRODUÇÃO
Todorov (2004, p. 81) defende que “a literatura deve ser compreendida na sua
especificidade, enquanto literatura, antes de se procurar estabelecer sua relação
com algo diferente dela mesma”. Desta forma, margearemos a linha divisória entre o
fantástico e a realidade, apontando hipóteses de realidade apoiadas em abstrações
e interpretações da Física em seus vários campos do conhecimento, seja ela
Tradicional ou Experimental3, sem a pretensão de descaracterizar a obra em relação
ao estilo a que pertence, estilo este promovido pelo distanciamento do real “sem
criar tensão ou questionamento” (Camarini 2008) conceituando o corpus desta
análise como “Realismo Mágico” ou “Realismo Fantástico” ou ainda “Realismo
Maravilhoso”, estilo que, também segundo Chiampi (1983) é caracterizado pela
naturalização do insólito e do sobrenatural.
Em Indefinições, faremos um aporte de alguns pesquisadores que estudaram
a questão do fantástico presente na literatura, sua definição, manifestação, e a
constituição de uma literatura maravilhosa chegando ao Realismo Maravilhoso com
o intuito de tornar mais acessível à compreensão do corpus deste trabalho.
Navegando, tendo como porto partida o conto, teceremos uma análise do
objeto de estudo deste trabalho, utilizando os recursos propostos no embasamento
teórico, marcando a ecleticidade de García Márquez em seus nuances de real e
fantástico, buscando os traços distintivos dessa escrita.
Remaremos um pouco sob a luz da linguística e semiótica e apontaremos
uma vertente do real implícito na voz de García Márquez com a finalidade de
enriquecer um pouco mais as possíveis análises que se possa fazer desta obra
literária, reforçando o entendimento de que nada é escrito ao acaso.
1
Há que se fazer uma ressalva, a data mencionada por Martinez Dasi se refere à data de publicação
do livro, García Márquez data o conto como escrito em (mês) 1978, no referido livro.
2
Tradução minha de “(...) En 1992 escribe Doce cuentos peregrinos. Según el propio autor se trata
de:” una colección de cuentos cortos, basados en hechos periodísticos, pero redimidos de su
condición mortal por las astucias de la poesía”. Muchos de ellos, antes de ser finalmente cuentos,
fueron historias escritas con otros fines: cinco fueron notas periodísticas; otros cinco, guiones de cine
y uno, un serial de televisión.” MARTÍNEZ DASI, O. Apunte biográfico, disponível em
http://www.sololiteratura.com/ggm/marquezbiografia.htm acessado em 12/09/2009 as 19:55hs.
3
Não é nossa intenção rotular nenhuma forma de conhecimento científico, todavia utilizamos o termo
“experimental” devido a não ampla divulgação dessas ciências.
12
1 INDEFINIÇÕES TEÓRICAS
opera com a ação e não com caracteres. (...)”, logo, todo contista tem em mente que
não é recomendável a inserção de descrições alongadas na construção da narrativa,
visto que seu desenvolvimento tende a ser estritamente objetivo, a criação das
personagens também deve ser objetiva, “embora as personagens estejam longe de
ser confundidas com bonecos de mola nas mãos do ficcionista. (...) jamais pode
permanecer longo tempo em sua analise”, assim, serão abordados somente os fatos
imprescindíveis para cumprir o intento deste trabalho.
4
MÉLETINSKI, E. M. “O estudo tipológico-estrutural do conto maravilhoso” in Propp, V. Morfologia do
conto maravilhoso, Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1984.
5
Por função, compreende-se o procedimento de um personagem, definido do ponto de vista de sua
importância para o desenrolar da ação”. (PROPP, 1984, p. 26).
15
6
PROPP, V.I. Morfologia do conto maravilhoso, Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1984 (org.
Boris Schnaiderman).
16
De acordo com Lopes (2008, p. 381), “em 1925 foi utilizado pela primeira vez
o termo Realismo Mágico pelo historiador Franz Roh (1890-1965), publicado pela
Revista Ocidente”, cujo título é “O Realismo Mágico”.
O realismo mágico, segundo Valdez-Moses apud Lopes (2008, p. 383) é
caracterizado por um forte entrosamento entre o real e o fabuloso. “A fusão do real e
do mágico, na sua proposta, pode ser entendida como tendo uma linhagem dupla,
ou melhor, como uma convergência de duas tradições narrativas distintas”.
Congregando do mesmo entendimento Chiampi na voz de Camarini (2008, p.
02) aclara um pouco mais a questão terminológica do realismo mágico/maravilhoso:
7
Tradução minha de: (...) maravilloso es lo “extraordinario”, lo “insólito”, lo que escapa la curso diario
de las cosas y de lo humano. Maravilloso es lo que contiene la maravilla, del latin mirabilia, o sea
cosas “admirábles” (bellas o execrables, buenas u horribles), opuestas a los naturalia.(pag. 54)
17
O Realismo Fantástico não está preocupado com o real nem com o irreal
segundo Chiampi (1983, p. 54), “o fantástico se conforma com fabricar hipóteses
falsas (ou seja, o “possível” é improvável), em desenhar a arbitrariedade da razão” 8,
não oferecendo nada além da incerteza, “se constroem sobre o artifício lúdico do
verossímil textual, cujo projeto é evitar toda afirmação, todo significado fixo” (p. 67)9.
Contentaremo-nos com a inserção de mais uma definição e nomenclatura,
dentre tantos outros estudiosos possíveis quanto ao enquadramento do objeto
dentro da literatura, neste selecionado para análise, segundo Spindler (1993, p. 79)
o realismo metafísico, induz a um senso de irrealidade pela técnica do
estranhamento, descrevendo uma cena como se fosse algo novo e desconhecido
“sem recorrer explicitamente ao sobrenatural, como nas narrativas surrealistas e em
alguns textos de Kafka de Buzzati e de Murilo Rubião”.
Há que se fazer bem entendido a linha divisória entre o gênero Fantástico e o
Realismo Maravilhoso que apesar de tênue, na primeira terminologia é criado um
ambiente envolvente e ambíguo, elaborado para cativar o leitor, retomando as
considerações de Todorov (2004) a hesitação é indispensável para sua instauração,
sendo este o contraponto principal para sua diferenciação, na segunda terminologia
não há um clima de mistério, conforme Barthes apud Lopes (2008, p. 383) o mesmo
não ocorre no realismo mágico, “em que não há hesitação, uma vez que os eventos
considerados irreais fluem naturalmente”, e que Todorov (1981, p. 30) chamaria de
um “maravilhoso puro”, “os elementos sobrenaturais não provocam nenhuma reação
particular nem nos personagens, nem no leitor implícito”.
8
Tradução minha de: (...) Lo fantástico se conforma con fabricar hipótesis falsas (o sea lo “posible” es
improbable), en diseñar la arbitrariedad de la razón,(…) (p. 66)
9
Tradução minha de: (...) se construyem sobre el artificio lúdico de lo verosímil textual, cuyo proyecto
es evitar toda aserción, todo significado fijo. (p. 67)
10
Teorias da luz. Experiências, Jaime E. Villate, Departamento de Física - Faculdade de Engenharia -
Universidade do Porto - Exposição na Biblioteca da FEUP - 21 de Abril a 13 de Junho de 2005
18
11
Tradução minha de: (...) los sistemas observados se describen en términos de probabilidades.
Capra (2004, p. 53)
12
Tradução minha de: (...) Esto significa que los relojes en movimiento van más despacio, el tiempo
se ralentiza. Estos relojes pueden ser de cualquier tipo: mecánicos, atómicos o incluso el latido de un
corazón humano. Capra (2004, p. 69)
13
Cabe relembrar que a energia cinética segundo a física tradicional ou clássica, estudada dentro da
Mecânica, versa sobre o movimento, independentemente das causas que o produzam, entendida
como a potencial energia armazenada nos corpo, tanto em repouso quanto em movimento.
14
Massa é a quantidade de matéria que constitui um corpo.
19
15
Tradução minha de: (...) La cantidad de energía contenida, por ejemplo, en una partícula, es igual a
la masa de la partícula c2, el cuadrado de la velocidad de la luz. (pág. 83)
20
2 NAVEGANDO NO CONTO.
A análise que neste momento se principia, tem seu foco em abordar o maior
número possível de interpretações desta obra de García Márquez e mostrar que
essa Nau não precisa necessariamente permanecer presa à poita de uma vertente
literária ou mesmo de um campo do conhecimento científico.
Procuraremos respeitar os sistemas básicos de analises literárias, sobretudo,
das analises de contos quanto aos elementos fundamentais de organização, mas é
na intersecção do Literatura Realista com o Realismo Maravilhoso que nossa
navegação tomará nova dimensão.
16
Tradução minha de: (...) En la casa de Cartagena de Indias había un patio con un muelle sobre la
bahía, y un refugio para dos yates grandes. En cambio aquí en Madrid vivían apretados en el piso
quinto del número 47 del Paseo de la Castellana.(...) (García Márquez)
17
Pela definição de Ataíde (1973) “tempo cronológico é aquele que se mede pelo relógio, pela
sucessividade dos dias e das noites, pelo movimento da terra e da lua, pela alternância das
estações.” (p. 47)
18
Tradução minha de: (...) En Navidad los niños volvieron a pedir un bote de remos (...)” (García
Márquez)
22
70, momento em que de fato estava em cartaz nos cinemas “El ultimo tango en
Paris” e “La Batalla de Argel”.
Traços temporais são referenciados na trajetória narrativa, sendo um dos
mais significativos, o transcorrer das semanas explicitado pelas datas em que
ocorrem os fatos maravilhosos no conto, todas as quartas-feiras, robustecendo a
questão de continuidade temporal: “Na noite de quarta-feira, como todas as quartas-
feiras, os pais foram ao cinema” 19
(García Márquez), ou ainda “(...) meses depois,
ansiosos de ir mais longe, (...)20 (García Márquez).
Cano (2006, p. 72), a respeito do trabalho desenvolvido por García Márquez,
o compara a Salman Rushdie e afirma que o desenvolvimento da narrativa é feito
com total naturalidade “o autor colombiano não mostra nenhuma preocupação nem
pela credibilidade no que esta contando nem em separar os planos de realismo e
fantasia”21, comparação esta que concordamos em parte, pois, por mais que não
haja a intenção consciente de vincular seu texto com a realidade, García Márquez
fortalece o aspecto realista, ao procurar manter um tempo cronológico na narrativa,
determinando o modus vivendis daquela família.
19
Tradução minha de: (...) La noche del miércoles, como todos los miércoles, los padres se fueron al
cine.
20
Tradução minha de: (...) Meses después, ansiosos de ir más lejos, (...) (García Márquez)
21
Tradução minha de: (...) El autor colombiano no muestra ninguna preocupación ni por la credibilidad
de lo que está contando ni por separar los planos de realismo y fantasía; (...) (García Márquez)
22
Tradução minha de: (...) -reveló el papá en el almuerzo- (…) (García Márquez)
23
23
Tradução minha de: “...Pero al final ni él ni ella pudieron negarse, porque les habían prometido un
bote de remos con su sextante y su brújula si se ganaban el laurel del tercer año de primaria, y se lo
habían ganado.” (García Márquez)
24
Tradução minha de: “...su esposa, que era la más reacia a pagar deudas de juego...” (García
Márquez)
25
Segundo Todorov (1979, p. 97) “Fala-se da verossimilhança de uma obra, na medida em que ela
tenta fazer-nos crer que se submete ao real e não às suas próprias leis; quer dizer, o verossímil é a
máscara com que se dissimulam as leis do texto, e que nos daria a impressão de uma relação com a
realidade.” apud
24
É preciso notar que o fantástico que será apresentado num primeiro momento
se resume ao imaginário das crianças, quando esse onírico se manifesta
palpavelmente estabelece-se um padrão de acontecimentos que vão se
intensificando gradativamente.
26
Tradução minha de: (...) Esta aventura fabulosa fue el resultado de una ligereza mía cuando
participaba en un seminario sobre la poesía de los utensilios domésticos. Totó me preguntó cómo era
que la luz se encendía con sólo apretar un botón, y yo no tuve el valor de pensarlo dos veces.
-La luz es como el água - le contesté: uno abre el grifo, y sale. (García Márquez)
25
processo manipulativo em que os elementos que têm apoios mais numerosos e mais
fortes adquirem o direito de acesso ao conteúdo do sonho (...)”, no entanto, esta
argumentação não nos é válida, pois no final do conto as crianças têm uma morte ao
que tudo indica física, e não somente os dois, mas todos os colegas de sala
também, descartando essa possibilidade.
27
Teoria desenvolvida por A. J. Greimas e pelo Grupo de Investigação Sêmio-linguistica da Escola de
Altos Estudos em Ciências Sociais de Tartu.
28
O programa narrativo ou sintagma elementar da sintaxe narrativa define-se com um enunciado de
fazer que rege um enunciado de estado. Integra, portanto, estados e transformações. Barros (2007,
p. 20)
29
Tradução minha de: “(…) La noche del miércoles, como todos los miércoles, los padres se fueron al
cine. (…) ” (García Márquez).
26
apartamento, que não subvertam a ordem, ordem esta que é violada com as
pequenas incursões na luz quando os pais saem.
Partida: no desenrolar da narrativa, vemos mais de uma partida que podem
ser referidas sob a óptica desta função, tanto a partida ou saída dos pais para irem
ao cinema como citado em função anterior quanto à própria morte dos jovens
afogados, entendendo morte como partida do plano terrestre para outro plano astral.
Atribuição de uma prova vs. Enfrentamento da prova: os pais condicionam à
entrega dos presentes desejados, objetos-valor, as crianças, após identificarem uma
melhora nos estudos, prova esta que os jovens aceitam prontamente, expresso no
trecho “(...) Mas a final nem ele nem ela puderam se negar, porque lhes fora
prometido um bote de remos com sextante e bússola se ganhassem o laurel do
terceiro ano primário,30 (...)”(García Márquez).
Recepção do ajudante: devido à dificuldade de levar o bote ate o apartamento
os protagonistas, pedem auxilio aos seus colegas de sala para apoiá-los nessa
empreitada, como vemos em “(...) os meninos convidaram a seus condiscípulos para
subir o bote pelas escadas31 (...)” (García Márquez).
Deslocamento espacial: o deslocamento espacial com significância que
abstraímos do conto é o ir vir dos pais, expresso varias vezes na narrativa e
constante da função Ausência, Partida e Retorno.
Retorno: como contrapartida de cada saída dos pais para irem ao cinema, há
o retorno deles ao lar, expresso em “(...) até que os pais voltavam do cinema e os
encontravam dormindo32 (...)” (García Márquez).
Atribuição de uma tarefa vs. Êxito: a mesma prova atribuída aos jovens num
dos itens anteriores é realizada com grande eficácia pelos meninos, cumprindo-a
acima das expectativas, identificadas na passagem “(...) Mas Totó e Joel, que
haviam sido os últimos nos anos anteriores, ganharam em julho as duas gardênias
de ouro e reconhecimento público do diretor 33
(...)” (García Márquez).
Reconhecimento: os pequenos após desempenharem a tarefa atribuída a eles
30
Tradução mina de: “Pero al final ni él ni ella pudieron negarse, porque les habían prometido un
bote de remos con su sextante y su brújula si se ganaban el laurel del tercer año de primaria, (...)”
(García Márquez).
31
Tradução minha de: “(…) los niños invitaron a sus condiscípulos para subir el bote por las
escaleras, (...)” (García Márquez).
32
Tradução minha de: “(…) hasta que los padres regresaban del cine y los encontraban dormidos
(...)” (García Márquez).
33
Tradução minha de: “(…) Pero Totó y Joel, que habían sido los últimos en los dos años anteriores,
se ganaron en julio las dos gardenias de oro y el reconocimiento público del rector.(…)” (García
Márquez).
27
pelos país, recebem o reconhecimento publico por sua conduta, o que é notado no
fragmento “(...) Na premiação final os irmãos foram aclamados como exemplo para
escola, e lhes deram diplomas de excelência.34 (…)” (García Márquez)
Como é visto várias são as funções que não são contempladas utilizando a
propositura de Propp, visto que o texto não resiste à análise feita com esse
ferramental, e ainda, pela similaridade, segundo Greimas apud Chnaiderman (1989,
p. 94) “para classificar os contos maravilhosos seria preciso que algumas da funções
se excluíssem mutuamente, o que não acontece”, ficaria, portanto, após considerar o
estudo inicial de Propp sobre o conto maravilhoso e apoiando-nos em Greimas, a
função resumida a “atribuição de uma tarefa difícil / êxito”: os meninos recebem em
troca do atendimento ao seu pedido, a tarefa de dedicarem-se mais aos estudos,
tarefa que desempenham e ultrapassam as expectativas.
34
Traduçã minha de: “(…) En la premiación final los hermanos fueron aclamados como ejemplo para
la escuela, y les dieron diplomas de excelencia.” (García Márquez).
35
Tradução minha de: un dispositivo narracional clásico del texto fantástico – el narrador que se erige
um testigo y cuenta uma historia ya ocurrida”. Chiampi (1983, p. 68)
28
36
Condutor da ação: personagem que dá o primeiro impulso à ação; é o que representa a força
temática: pode nascer de um desejo, de uma necessidade ou de uma carência; (p. 49) (Brait, 1985)
37
Oponente: personagem que possibilita a existência do conflito; força antagônica que tenta impedir a
força temática de se deslocar; (p. 50) Idem
38
Objeto desejado: força de atração, fim visado, objeto de carência; elemento que representa o valor
a ser atingido; (p. 50) Ibidem
39
Destinatário: personagem beneficiário da ação; aquele que obtém o objeto desejado e que não é
necessariamente o condutor da ação; (p. 50) Ibidem
40
Adjuvante: personagem auxiliar; ajuda ou impulsiona uma das outras forças; (p. 50) Ibidem
41
Árbitro, juiz: personagem que intervém em uma ação conflitual a fim de resolvê-la. (p. 50) Ibidem
29
García Márquez, aos poucos vai inserindo em sua narrativa fatores maravilhosos,
num primeiro momento quando os pais presenteiam as crianças com o bote que
tanto queriam, o pai informa: “O problema é que não há como subi-lo nem pelo
elevador nem pela escada, e na garagem na há mais espaço disponível” 42
(García
Márquez), e ainda assim, as crianças com a ajuda de seus amigos levam o bote até
o apartamento.
Parafraseando Lewis (2009, p. 80) os fatos extraordinários não se cobrem
hipoteticamente de probabilidades com a finalidade de agregar conhecimentos sobre
a vida real, tecendo uma nova realidade diante desse improvável. “É precisamente o
contrario. A probabilidade hipotética é apresentada no sentido de tornar os eventos
estranhos mais plenamente imagináveis”, assim este evento causa estranhamento, e
nos faz indagar se seria possível terem realmente levado o bote até o apartamento.
Segundo Todorov (2003, p. 150) “a fé43 absoluta, como a incredulidade total, nos
levam para fora do fantástico; é a hesitação que lhe dá vida”, em outras palavras é
possível perceber que se não houver o fator estranhamento, se o que é apresentado
for crível totalmente ou inacreditável isso desmontaria a caracterização do fantástico.
Arrigucci (1987, p. 144) classifica este dito estranhamento, como o embate
entre a inteligência lúcida e certos episódios desconcertantes, o artifício de
estranhamento causado por fatores inverossímeis, “se revelam zonas obscuras de
nosso ser”, perdendo assim o vínculo com a realidade convencional, inserindo-nos
no “mundo do louco, da criança, do sonho, do mito e da poesia”.
Na sequência da narrativa, nos deparamos com o insólito: “Os pequenos,
donos e senhores da casa, fecharam portas e janelas, romperam uma lâmpada
acesa da sala. Um jorro de luz dourada e fresca como a água começou a sair da
lâmpada quebrada.44” (García Márquez), diante desta apresentação do fato
fantástico, agora, nesta realidade ficcional, temos uma nova verdade estabelecida: é
possível navegar na luz.
De posse desta informação, e devido ao “espírito aventureiro” natural do ser
humano, após esta descoberta fantástica, navegar sobre a luz seria algo superficial
demais, então as crianças se veem obrigadas a fazer incursões mais profundas,
42
Tradução minha de: (... ) El problema es que no hay cómo subirlo ni por el ascensor ni por la
escalera, y en el garaje no hay más espacio disponible.” (García Márquez)
43
O termo “fé”, no contexto, entenda-se como acreditar, não se relacionando com religião.
44
Tradução minha de: (...) Los niños, dueños y señores de la casa, cerraron puertas y ventanas, y
rompieron la bombilla encendida de una lámpara de la sala. Un chorro de luz dorada y fresca como el
agua empezó a salir de la bombilla rota. (García Márquez)
30
45
Tradução minha de: (...) “el modo dilemático y barroco de interpretar una sociedad inmersa en
violentos constrastes sociales y brutales anacronismos económicos.” (Chiampi, 1983, p. 105)
31
para uma pequena investigação para averiguar o que está oculto por baixo desse
realismo mágico.
Conforme Leal apud Chiampi (1983, p. 29) “o realismo mágico é, mais que
nada, uma atitude, ante a realidade... (232)46” e esta foi a forma que García Márquez
teria encontrado para demonstrar sua inconformidade com a realidade de seu país,
e ainda segundo Strathern (2009, p. 15) o autor ao evocar a historia atual da
“América Latina, com suas injustiças, horrores e derramamento de sangue” assume
um tom sombrio.
É manifestada, desta feita, a ideologia política de García Márquez, não
necessariamente partidária, mas sim com a intenção de evidenciar a urgência de
criar ou reforçar uma identidade social, tema este recorrente em diversas literaturas,
principalmente nas em formação.
O corpus em questão denota em suas entrelinhas, marcas fortes desse apelo
ideológico de García Márquez, no sentido de que é preciso se posicionar ante a
realidade, transparecendo indícios bélicos em seu traçado.
O conto proporciona uma informação conflitante, ora faz menção à Espanha
em “De acordo – disse o pai, o compraremos quando voltarmos a Cartagena 47”
(García Márquez), ora a Colômbia, como alude em “na casa de Cartagena de Índias
havia um pátio (...)48” (García Márquez), afinal a qual Cartagena pertence a
narrativa?
Nesta linha de pensamento, identificamos um acontecimento importante no
ano de 1978, ano este em que García Márquez escreve La luz es como el água,
consta da publicação do Jornal El País datado de 19 de abril de 1978, em
atendimento a uma convocação feita pelo Partido Cantonal, cerca de 10 mil pessoas
se concentraram na tarde de segunda-feira para solicitar que Cartagena (Espanha)
se tornasse Província49, rememorando o ato de julho de 1873, quando os Federais
intransigentes tomaram o Ajuntamento dos Federais benévolos, se apossaram da
cidade e do porto e então proclamaram o grito cantalonista de viva Cartagena.
García Márquez utiliza a estrutura do realismo-mágico para provocar uma
reação em seu leitor a titulo de protesto, apresenta o insólito e deixa pairar
46
Tradução minha de: (...) El realismo mágico es, más que nada, una actitud ,ante la realidad.. [232]”
(Chiampi, 1983, p. 29)
47
Tradução minha de: (...) De acuerdo -dijo el papá, lo compraremos cuando volvamos a Cartagena.
(García Márquez)
48
Tradução minha de: (...) En la casa de Cartagena de Indias había un patio (...) (García Márquez)
49
Entenda-se como Unidade Federativa de alguns países, equivalente a Estado (divisão política)
32
entendimentos inúmeros que se entendido por este viés, podemos interpretar como
a personificação da indignação do autor devido ao não respeito da identidade
Cartagenense, por isso a confusão proposital, e deixando intrínseca a ideia de
revolução. Propõe, neste contexto, um levante assim como o de Cartagena
(Espanha) focando o resgate da memória coletiva de Cartagena (Colômbia), para
exemplificar, elegemos algumas palavras / trechos-chave, para aclarar este excerto.
Segundo o próprio autor, “Doce cuentos Peregrinos” foi baseado em
periódicos, antes de serem contos, cinco foram notas de jornal, outros cinco, roteiro
de cinema e um, uma série de televisão.
Além da referência feita à manifestação pela provincialização de Cartagena
(Espanha) tornando latente o sentimento de auto-afirmação da identidade
Colombiana, no mesmo ano em que García Márquez escreveu este conto, podemos
identificar outras marcas claras deste sentimento na voz do autor, tal como os filmes
que os personagens pais vão assistir no cinema: “La batalha de Argel” (filme
baseado na guerra de independência da Argélia em relação à opressão colonial
francesa, década de 50) e “El último tango en Paris” (obra fílmica cujo ponto alto é o
pacto de silêncio feito entre os protagonistas, serve como símbolo do anseio de
liberdade e o medo da repressão), ambos com apelo revolucionário.
Ademais, outros trechos50 desta obra podem ser destacados do texto, na
sequencia em que se apresentam para iluminar a senda traçada nos interstícios da
escrita de García Márquez, tais como observado no quadro abaixo:
Excerto Análise subjetiva
“(…) y un refugio para dos As palavras “refúgio” e “apertados”, transmitem a
yates grandes.” sensação de prisão, perseguição, somente precisa de
“(…) aquí en Madrid refugio aquele que é perseguido.
vivían apretados (…)”
“Los niños, dueños y Neste trecho, os protagonistas assumem a função de
señores de la casa, poder dentro da narrativa, subvertem a ordem
cerraron puertas y estabelecida, como em estados de exceção.
ventanas, y rompieron la
bombilla encendida (…)”
50
Optamos por manter estes excertos no idioma original para preservar sua integridade em relação a
traduções que por ventura viesse a distorcer sua significação, salientando que toda tradução é uma
re-escritura do objeto traduzido, podendo incorrer em vicio na tradução.
33
51
Identificamos esta fala como sendo do autor, pois é a do narrador do conto, corroborado pelo entendimento de
Massaud Moisés (1987) ao denotar que este tipo de construção poderia “ser um disfarce do autor” (p, 36)
34
alcoba principal flotaba de crie uma tela na qual a cena retratada seja de corpos
costado, (…)” abandonados ou despachados nos rios, ato rotineiro
quando em regime de exceção.
“En Madrid de España, Neste ultimo trecho do conto, García Márquez faz a
una ciudad remota de amarração da tecitura do conto, fechando a trama com
veranos ardientes y uma crítica ao seu povo, ao qual conclama a uma
vientos helados, sin mar reação a constante opressão, legado dos
ni río, y cuyos aborígenes colonizadores, e falta de reação pela defesa de sua
de tierra firme nunca unidade identitária, lançando mão da afirmação de que
fueron maestros en la os aborígenes de terra firme, os colombianos, nunca
ciencia de navegar en la foram mestre na ciência de navegar na luz, nunca
luz.” souberam como reivindicar, lutar, até mesmo pegar em
armas, para defender seus interesses e cultura. García
Márquez clamaria pela união popular, sabendo que a
grande massa poderia até mesmo destituir um
governo.
É lícito que o ser humano tenha uma resistência natural em negar ou aceitar
fatos novos, estranhos ao seu mundo de conhecimento, mas ao considerar de
maneira, por mais superficial que seja a física quântica, a noção de realidade pode
tomar outra proporção. Se considerarmos a realidade vista por um sujeito que possui
algum tipo de demência ou transtorno mental, mesmo que em meio a alucinações
diversas, ali, dentro de seu universo mental, existe uma realidade “real”, retomando
o conceito de Einstein, tudo está diretamente relacionado com ponto de vista do
observador.
Sá (2003, p. 49) denota que a consciência do individuo é decorrente de sua
forma de encarar a realidade, se a percepção de mundo tiver sofrido algum tipo de
interferência, tais como o uso de drogas, os sonhos, a esquizofrenia, a realidade
será enxergada de uma maneira desvirtuada, “para o fantástico a alteração no
estado de consciência, seja ela de que maneira for, provocaria um desvio na
concepção de mundo realista”.
A construção da narrativa utilizada por Márquez utiliza a inversão dos
acontecimentos por meio de uma reminiscência do narrador, fato que pode
direcionar a análise ao princípio quântico-relativista: estruturalmente cria uma ruptura
temporal por meio desse chiste na narrativa.
Assim, dado que o estopim dessa viagem poderia ter sido o fator psicológico,
a sugestão e no desfecho do conto, as crianças apresentam uma morte ao que tudo
indica física, García Marquez nos faz embarcar nesta viagem e interpretar que neste
momento a consciência no aparelho mental extrapolaria a barreira espaço-temporal
36
52
Enfocamos que segundo Capra (2004, p. 53) “en la teoría cuántica los sistemas observados se
describen en términos de probabilidades”.
37
água cria-se uma relação direta de acontecimento atrelado ao fato gerador, causa e
efeito.
Em relação aos itens 2 (dois) e 7 (sete) se trata de uma estratégia do autor de
criar uma realidade ficcional verossimilhante, conforme aludimos em capítulo
anterior.
No item 3 (três) uma particularidade nos provoca curiosidade: o pai afirma que
não é possível levar o bote pelo elevador e nem pela escada, haja vista que não
haveria espaço suficiente para manejar o bote naquele local, e ainda assim “los
niños” subiram com o bote pelas escadas com ajuda de seus colegas de sala, mas
como?
Analisando literária e não literalmente a Terceira Lei de Newton, seria
possível transcrever que um acontecimento, por menor relevância que tenha,
possivelmente influenciará o resto do universo, reforçado por nossa interpretação da
Teoria do caos, e voltando-a para o objeto em estudo, quando se lança ao cosmo
uma vontade, um desejo, um pensamento, entendendo aqui pensamento com um
ato físico-biológico, no qual a comunicação feita entre um neurônio e outro se
pronuncia por meio de impulsos elétricos que geram freqüência eletromagnética, que
por sua vez pode ser aferida por instrumentos utilizados hoje na medicina, tal como
o eletro encefalograma, ele ou essa energia projetada alcançaria dimensões aquém
do entendimento humano, e é lançado de volta a quem deu inicio a esse ciclo, ação
e reação, conversando claramente com o que preconiza a teoria quântica ao
interpretar energia como essência do universo, pois considera a massa constitutiva
de todas as coisas, uma manifestação energética, logo não podendo ser destruída
apenas alternando de forma (cf. Capra 2004, p. 83).
Nos itens 4 (quatro), 8 (oito) e 9 (nove), García Marquez realiza em sua
literatura o antes impensado, a luz com todos os seus atributos e peculiaridades
transmuta seu aspecto convencional para assumir as particularidades da água, mas
afinal a luz é como a água?
Não nos aprofundaremos sobre outra área do conhecimento cientifico, a
Química, pois não é esse nosso foco de trabalho, apenas rememoraremos a
definição hoje de domínio público que a composição da água, por sua formulação é
a junção de duas partículas materiais de hidrogênio e uma de oxigênio (H2O), possui
massa e pode se apresentar em três estados físicos – sólido, liquido e gasoso.
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53
Teorias da luz. Experiências, Jaime E. Villate, Departamento de Física - Faculdade de Engenharia -
Universidade do Porto - Exposição na Biblioteca da FEUP - 21 de Abril a 13 de Junho de 2005
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nela contida, a ponto de ao ser inalada, essa luminosidade teria invadido os pulmões
das crianças, expulsando todo o ar, ocasionando o afogamento em luz.
4 CONSIDERAÇÕES
REFERÊNCIAS
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STRATHERN, Paul. García Márquez em 90 minutos. Trad. Lygia Maria Jobim. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar 102, 2009.
54
O conto La luz es como el agua, está disponivel em: http://www.ciudadseva.com/textos/cuentos/
esp/ggm/luzescom.htm acessado em 09 de nov 2009 às 15 hs e 21 min.
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escondido entre los árboles. Salía por los balcones, se derramaba a raudales por la
fachada, y se encauzó por la gran avenida en un torrente dorado que iluminó la
ciudad hasta el Guadarrama.
Llamados de urgencia, los bomberos forzaron la puerta del quinto piso, y
encontraron la casa rebosada de luz hasta el techo. El sofá y los sillones forrados en
piel de leopardo flotaban en la sala a distintos niveles, entre las botellas del bar y el
piano de cola y su mantón de Manila que aleteaba a media agua como una
mantarraya de oro. Los utensilios domésticos, en la plenitud de su poesía, volaban
con sus propias alas por el cielo de la cocina. Los instrumentos de la banda de
guerra, que los niños usaban para bailar, flotaban al garete entre los peces de
colores liberados de la pecera de mamá, que eran los únicos que flotaban vivos y
felices en la vasta ciénaga iluminada. En el cuarto de baño flotaban los cepillos de
dientes de todos, los preservativos de papá, los pomos de cremas y la dentadura de
repuesto de mamá, y el televisor de la alcoba principal flotaba de costado, todavía
encendido en el último episodio de la película de media noche prohibida para niños.
Al final del corredor, flotando entre dos aguas, Totó estaba sentado en la popa del
bote, aferrado a los remos y con la máscara puesta, buscando el faro del puerto
hasta donde le alcanzó el aire de los tanques, y Joel flotaba en la proa buscando
todavía la altura de la estrella polar con el sextante, y flotaban por toda la casa sus
treinta y siete compañeros de clase, eternizados en el instante de hacer pipí en la
maceta de geranios, de cantar el himno de la escuela con la letra cambiada por
versos de burla contra el rector, de beberse a escondidas un vaso de brandy de la
botella de papá. Pues habían abierto tantas luces al mismo tiempo que la casa se
había rebosado, y todo el cuarto año elemental de la escuela de San Julián el
Hospitalario se había ahogado en el piso quinto del número 47 del Paseo de la
Castellana. En Madrid de España, una ciudad remota de veranos ardientes y vientos
helados, sin mar ni río, y cuyos aborígenes de tierra firme nunca fueron maestros en
la ciencia de navegar en la luz.