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PREDESTINAÇÃO E LIVRE-ARBÍTRIO

Por Eliel Vieira

Provavelmente não houve assunto mais debatido na história da Igreja do que a Predestinação
dos Santos e, consequentemente, se o homem possui ou não papel ativo no processo de salvação.
Então gostaria de deixar claro, já no início deste ensaio, que não pretendo de forma alguma encerrar a
questão deste debate. Sei que seria pretensão demais de minha parte – eu, apenas um curioso sobre o
assunto – desejar isto. Nos poucos parágrafos a seguir eu pretendo apenas expor um pouco sobre esta
controvérsia e chamar a atenção a alguns questionamentos sobre o assunto que me fizeram mudar de
opinião. Como eu já fui calvinista e não sou mais, um título alternativo ao escolhido poderia ser
“Porque não sou mais calvinista”.

Pois bem, o primeiro esboço desta discussão começou no século IV entre Agostinho de Hipona
e Pelágio. Já no final do século XVI, Jacó Armínio e discípulos de João Calvino voltaram a debater a
questão em torno da Predestinação. Isto não quer dizer que não houve outros focos de debates ao longo
da história, apenas que estes supracitados foram os maiores importantes1. Existem, basicamente, duas
formas gerais de pensar sobre a salvação:

Monergismo: Apenas Deus age em todo o processo soteriológico: Ele busca, resgata, justifica,
salva e glorifica o homem. E o que o homem tem que fazer? Nada, apenas “relaxa e goza” (a
pérola de Marta Suplicy se encaixa perfeitamente na posição monergista). De acordo com o
Monergismo, Deus predestina o homem à salvação independentemente do que o homem fizer
ou desejar, pois, para o monergista, até o ato de “querer”, do homem, é predestinado por Deus.

Sinergismo: Homem e Deus agem mutuamente no processo de Salvação. Em linhas gerais,


Deus concede ao homem uma “graça comum” e, se o homem responder positivamente a essa
Graça, Deus o predestina à salvação.

1
Para saber mais sobre a controvérsia histórica da predestinação e os debates ocorridos em todas as épocas, sugiro a
leitora dos livros Sola Gratia, de R. C. Sproul (Cultura Cristã, 2001) e A História da Teologia Cristã, de Roger Olson (Editora
Vida, 2002)

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Existem as posições mais extremas de ambas as posições. Os lados mais extremos do
Monergismo chegam a dizer que Deus predestinou de forma ativa o pecado original de Adão para
salvar e condenar quem Ele bem quiser. Desta forma, nossos pecados, nossos erros, nossos acertos,
toda nossa vida em geral, os males que acontecem no mundo, tudo que de bem ocorre, enfim, tudo está
predestinado de acordo com essa posição mais radical, chamada de “supralápsaria”. O reformador
protestante Zuínglio (1484 – 1531), apenas para citar um exemplo, era adepto desse extremismo.

O Sinergismo também tem seus defensores extremos chegando quase a afirmar que Deus não
exerce papel nenhum no processo de salvação do indivíduo. O homem que quiser, busca e encontra a
salvação quando quiser. Não há Graça ou preferências da parte de Deus. Esta posição mais extrema foi
apontada por Pelágio (≈350 – ≈423) e ironicamente é freqüentemente observada em algumas igrejas
evangélicas hoje em dia.

Teólogos mais ponderados evitam seguir por esses extremos. O Monergismo extremo elimina a
necessidade de sermos pessoas boas, pois, podemos ser mais cruéis que Hitler, mas, caso
predestinados, Deus nos salvará2. Já o Sinergismo extremo torna o sacrifício de Cristo vão já que, em
última análise, todo o esforço para ser ou não salvo depende do homem.

É razoável descartar automaticamente as duas posições extremas por não serem bíblicas. A
Bíblia afirma tanto que não seríamos nada sem o sacrifício de Cristo quanto que o homem é
responsável pelos seus atos e que a fonte de Água Viva está disponível para quem quiser beber dEla. O
teólogo Russell Norman Champlin, PhD., em seu gigantesco comentário versículo por versículo do
Novo Testamento, disse que tanto a Predestinação dos Santos quanto a garantia que todas as pessoas
tem acesso livre à salvação são doutrinas bíblicas claras e que ele não sabia no momento como
conciliá-las, tendendo ora para o Monergismo, ora para o Sinergismo.

Martinho Lutero (1483 – 1546) foi um dos que mudou sua posição, do Monergismo para o
Sinergismo, após anos defendendo a doutrina da predestinação absoluta dos Santos. Lutero chegou a
afirmar, por exemplo, que, se o Livre-Arbítrio existe, ele é um “pecado” e, portanto, não pode ter sido
criado por Deus3.

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Quando eu ainda era calvinista, um amigo meu certa vez ironizou a doutrina da predestinação com o comentário: “Bem,
então quer dizer que em relação à salvação já está definido tudo desde à eternidade, não é!? Bem, eu poderia descolar
esta lista, e ver de uma vez se eu posso chutar o balde”.
3
LUTERO. Nascido Escravo. São Paulo: Editora Fiel, 2001.

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Seguindo as posições moderadas sobre a Salvação podemos, entretanto, traçar alguns caminhos
comuns tanto para o Monergismo quanto para o Sinergismo:

- O ser humano jamais conheceria Deus, caso Deus decidisse não se identificar a ele4.

- O “primeiro passo” no processo soteriológico foi dado por Deus ao decidir se relacionar com
o homem caído.

- Alguns homens responderam positivamente ao chamado a essa relação, outros negativamente.


Os que responderam positivamente são chamados “filhos de Deus”.

- O sacrifício de Cristo é necessário e eficaz para que essa relação “Deus x Homem” aconteça.

- É dada ao homem a obrigação de seguir um padrão moral específico se ele responder a este
chamado divino. O não cumprimento de alguns aspectos deste padrão moral implica em Condenação5.

- Todos os seres humanos pecam, inclusive aqueles que aceitam relacionar-se com o Criador.
Porém, os que responderam positivamente ao chamado de Deus são justificados por causa do sacrifício
de Jesus.

- Deus garantiu a salvação a seus filhos.

A principal problemática nos pontos acima é: o homem responde ao chamado divino por ter
sido predestinado (predestinação pela soberania, Monergismo) ou ele foi predestinado por ter
respondido positivamente ao chamado (predestinação pela presciência, Sinergismo)?

A discussão aqui é bastante ampla. Escreve-se um compêndio enorme apenas expondo as


interpretações de citações de algumas pessoas que já escreveram sobre a pergunta acima.

Por alguns anos eu segui a posição calvinista para responder a esta problemática. Os calvinistas
justificam que Deus é soberano e não depende de ninguém para tomar suas decisões; que se fosse o
contrário, a salvação dependeria em última análise do fator “livre-arbítrio humano” e, assim, a
salvação aconteceria por uma obra do homem; que o homem não poderia tomar uma decisão tão
importante espiritualmente antes de ser justificado, etc.

4
É importante não levarmos esta posição tão ao extremo, uma vez que podemos identificar vários filósofos na história
que elaboraram vários pensamentos “corretos” sobre Deus sem necessariamente serem cristãos. Os cristãos fizeram
muito uso da filosofia de platônica, aristotélica e, argumentam alguns, da estóica.
5
Alguns calvinistas têm problemas com este ponto.

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Após refletir um pouco, eu percebi alguns equívocos na posição calvinista. E também alguns
questionamentos surgem caso defendamos esta posição. Alguns:

- Qualquer pessoa que tenha o mínimo de bom senso usa critérios para tomar decisões e pensa
nas consequências das mesmas. Apenas pessoas insensatas tomam decisões sem levar nenhum
aspecto em consideração. Deus, que é infinitamente mais inteligente que o maior sábio homem
e que ainda têm o atributo de ser Onisciente, não tomaria uma decisão sem ter critérios e sem
levar em conta as conseqüências desta. O exemplo bíblico de Jacó e Esaú6 (antes de praticarem
o bem ou mal, Deus amou Jacó e rejeitou Esaú) que é muito usado pelos calvinistas
simplesmente não cabe aqui. O “antes de praticaram o bem ou o mal” indica apenas que os atos
realizados por Jacó ou Esaú eram irrelevantes para o plano que Deus já havia planejado para
Jacó. Deus teve um plano (que era o surgimento de Israel e, vindo dela, o Messias) e Jacó era a
pessoa certa de quem Israel iria advir. Talvez pela sua personalidade ou pela forma com que
seus filhos seriam educados, diferentemente do que seria caso Esaú fosse o pai, etc. Neste
sentido, “antes de praticarem bem ou mal” (pois isto seria inútil), Deus havia escolhido Jacó
para ser o pai das doze tribos que iriam compor Israel, pois, de acordo com o plano de Deus, os
doze filhos de Israel (que deram origem as doze tribos e consequentemente à nação de Israel)
deveriam ter um pai com a personalidade de Jacó. Além de outros aspectos que poderiam ser
citados.

- É muito dito que se o homem tivesse a liberdade de escolher ou rejeitar a salvação Deus não
seria soberano, mas, eu pergunto, se Deus quisesse conceder ao ser humano o direito de
escolher se ele quer ou não a salvação, onde Deus deixaria de ser Soberano? Em que ponto
Deus seria menos Soberano? Na verdade, Deus teria sua soberania ferida se Ele não pudesse
criar um homem com liberdade de escolha. Quando um calvinista diz que Deus não seria
soberano se a escolha da salvação dependesse do homem, o calvinista está, na verdade,
afirmando que Deus não pôde criar um homem assim (mesmo que Ele tivesse desejado isto).
Mas, se Deus não pode criar um homem com liberdade de escolha, logo Onipotente Deus não
é. Temos uma "sinuca de bico". Se Deus é Onipotente, Ele pode muito bem ter concedido ao
homem o livre-arbítrio de escolher se este quer ou não se relacionar com Ele sem deixar de ser
Soberano. Um pai não deixa de ser soberano em sua casa se ele deixa o filho escolher ser quer
torcer pelo Cruzeiro ou Atlético, ou se ele quer cursar Medicina ou Direito, ou se ele quer ter

6
Romanos 9:11-13.

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cabelo curto ou longo, ou se quer aprender a andar de bicicleta ou a tocar violão. Um pai que
obriga o filho a alguma das escolhas acima, não é soberano e sim autoritário.

- Se a teoria da predestinação pela presciência – Sinergismo - for correta a salvação não está,
em última análise, dependendo do homem como afirmam os calvinistas. Muito menos a escolha
é uma “obra” do homem conforme a Bíblia trata o termo “obra”, quando diz que “a salvação
não é pelas obras”. Imagine o exemplo: eu sou um milionário, sou podre de rico, e você está
atolado em dívidas e sem solução; eu ofereço a você a quantia de R$100.000,00 se você disser
que quer. Você diz que quer e eu te dou esta quantia. Acaso o milionário deixou de ser o
responsável efetivo por você ganhar R$100.000,00, apenas porque você disse “sim, eu quero”?
Ou foi você o fator determinante de ter recebido R$100.000,00? Ou ainda, pode você afirmar
que conquistou estes R$100.000,00 pelas suas obras, ou pelo seu mérito? Se você responder
honestamente cada resposta, ela será "não". Algum calvinista pode dizer: “Mas no tocante à
salvação a nossa situação é diferente!”. Claro, estávamos muito mais perdidos do que o pior
devedor deste planeta e o presente que Deus nos deu é muito maior que qualquer fortuna deste
mundo pode pagar!, ou seja, mesmo que Deus tivesse dito, “A salvação é para quem quiser, e
ainda é necessário que vocês amputem um de seus pés para merecê-la”, mesmo assim o fator
determinante e efetivo para a salvação do indivíduo será Deus, não o indivíduo.

- Não necessariamente o homem tem de ser justificado para tomar boas decisões ou praticar
boas obras. Ora, os justificados não tomam más decisões até hoje? E não existem não-cristãos
que tomam boas decisões hoje em dia? Gandhi, que não era cristão, não fez maravilhas?
Filósofos ao longo da história não pensaram quase corretamente sobre Deus sem
necessariamente serem cristãos? Não havia um Centurião em Cesaréia chamado Cornélio que
era piedoso e temente a Deus antes mesmo de Pedro lá chegar com a mensagem do
Evangelho7? Não estou afirmando que o homem pode se achegar a Deus ou pode escolher amar
a Deus sem o auxílio da Graça – isso é pelagianismo. A teoria da predestinação pela
presciência não diz que o homem escolhe servir a Deus sem a Graça. Ela diz que Deus
“manifestou sua Graça salvadora a todos os homens”8 para que estes escolhessem se queriam
ou não receber o presente da salvação. Os que aceitaram o presente da salvação foram
predestinados por Deus. Os que rejeitaram, rejeitaram porque assim quiseram. Mas houve o
auxílio da Graça a ambos os grupos. E, justamente, quem rejeitou será recompensado.

7
Atos 10.
8
Tito 2:11.

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- Justiça implica em compensar bem ao bem e mal ao mal. Condenar pessoas que não tiveram
nenhuma escolha sobre a salvação ou cuja decisão era impossível para elas, não é justo. Você
que for pai, pense nesse exemplo: seu filho está na escola. No bimestre são distribuídos 25
pontos e a média para passar são 15 pontos. Nas duas primeiras avaliações valendo 8 pontos
seu filho adoece e não pode ir à escola e perde os pontos. Restam 9 pontos a serem distribuídos
e aí você lembra ao seu filho: “Como combinamos, se você tirar nota azul neste bimestre, eu
vou te dar aquele vídeo game que você tanto quer; se tirar nota vermelha, jamais terá o vídeo
game e ainda vai tomar umas correiadas”. Qualquer um responderia que o pai estaria agindo
injustamente. Por que? Ora, pois o pai puniu o filho, mesmo sabendo que ele não tinha outra
opção a não ser tirar nota vermelha. Na teoria predestinação pela soberania, Deus pune
eternamente pessoas a quem Ele não deu chances de escolher amá-lo. Aliás, Deus deu sim, mas
uma escolha impossível de se fazer sem o auxílio da Graça (que Ele, de acordo com o
calvinismo, não concedeu às pessoas “rejeitadas”). Resumindo a posição calvinista a um amigo
que a estava defendo, eu assim o fiz:

Deus cria as pessoas, predestina todos os atos de todas as pessoas, inclusive seus erros e seus
acertos. Então, por causa do Grande Erro cometido pelos seres humanos (que também foi
predestinado por Ele), Ele coloca todas as pessoas sob condenação. Assim, ele escolhe
alguns dentre os bilhões de seres humanos existentes (por alguma razão Ele adora os
ocidentais), provê a eles um Caminho para a salvação enquanto Ele endurece cada vez mais
o coração dos não-escolhidos. Então, no fim, Ele salva os escolhidos e condena os não-
escolhidos como Ele já havia planejado. Deus é mal? Deus é cruel? Não! Ele apenas
condenou aqueles que não O buscaram – aqueles que Ele impediu que O buscassem.

Voltando à analogia do Pai, imagine se o ele dissesse ao seu filho: “Filho, sei que nosso
combinado era que eu te daria o vídeo game apenas se tirasse nota azul, mas reconheço que
você não teve outra opção neste bimestre a não ser tirar nota vermelha. Vou reconsiderar sua
situação, quer o vídeo game?". Respondendo que sim, o pai deixaria de ser soberano se assim
agisse? Deixaria de agir justamente por ter revisto os termos do acordo? Se você responder
honestamente cada resposta, a resposta também será "não".

Tenho pensado nessas questões nos últimos meses. Por um lado, a Bíblia contém passagens
claras apontando que Deus tem um povo eleito e que a escolha é feita por Deus, não por nós. Por

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outro, temos o testemunho da própria Bíblia garantindo que todos podem beber da Fonte de Águas
Vivas, Jesus, que deseja que todas as pessoas se salvem9.

Entretanto, meu próprio senso de identidade, minha personalidade, meu ego, meu “eu” – tudo
isto testifica a mim mesmo que sou livre. Posso pensar em abandonar Deus ou posso decidir amá-lo
cada dia mais. A verdade é que não sou calvinista nem arminiano (mas certamente mais arminiano que
calvinista). Talvez eu seja um calvinista de três pontos? Um calvinista de dois pontos e meio? Ou um
arminiano de dois pontos? É cedo para dizer, tenho que ler muito ainda.

Mas, para concluir, eu sei que alguns calvinistas lerão este texto e, com certeza, irão me
criticar, mas é tentador e delicioso responder a todos eles que, se a predestinação pela soberania
aconteceu de fato e, afinal de contas, tudo está destinado a acontecer, logo, eu estou destinado (pela
vontade soberana de Deus) a crer na predestinação pela presciência e consequentemente eu não tenho
liberdade para pensar diferente. Logo, criticar a minha posição é criticar a vontade do próprio Deus.

Que pecado absurdo, hein!?

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9
I Timóteo 2:3

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