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INSTRUÇÃO PÚBLICA EM LEOPOLDINA (1895 – 1905)*

Natania Aparecida da Silva Nogueira**


nogueira.natania@gmail.com

Fonte: Educ. Soc., Campinas, vol. 25, n. 86, p. 17-36, abril 2004 17. Disponível em:
http://www.cedes.unicamp.br, acesso em 26/04/2010.

Introdução

O Município de Leopoldina, localizado na Zona da Mata de Minas Gerais


foi criado pela Lei 666, no dia 27 de abril de 1854. Tornou-se um dos principais
produtores de café da Mata, em meados do século XIX e um importante centro
educacional da região, com várias escolas particulares que recebiam alunos de
todas as partes do Estado e do país, nas primeiras décadas do século XIX.
Leopoldina recebeu o apelido de Atenas da Zona da Mata pela sua privilegiada
rede de ensino particular.
Sobre sua historiam infelizmente, pouco foi até hoje escrito, mas a
memória local tem sido gradativamente resgatada. Neste ponto, a história da

*
Este texto pode ser reproduzido, mediante a citação da fonte, com crédito ao autor.
**
Professora de História do Ensino Fundamental II na Escola Municipal Judith Lintz Guedes Machado e
no Colégio Imaculada Conceição, ambas escolas de Leopoldina (MG).Especializada em História do
Brasil pela UFJF - área de concentração em história regional.
educação na localidade é particularmente interessante. Analisando relatórios e
mensagens destinadas à Câmara Municipal de Leopoldina, nos anos de 1895 a
1905, pudemos constatar que o tema é uma referência constante. Nasceu
então a ideia de se realizar um breve estudo sobre o ensino público primário,
com base nessas fontes. O leitor irá perceber que há pouco recurso a outras
fontes – artigos e livros. A explicação para essa Carência de referências
bibliográficas está no fato de que desejamos privilegiar nossa fonte primária,
analisando-a sem a interferência de outras fontes e outros autores.
Este estudo irá se terá como lócus privilegiado os problemas
enfrentados pela instrução pública de modo a permitir uma análise comparativa
do sistema educativo do século final do século XIX e primeiros anos do século
XX, com a situação das escolas públicas municipais na atualidade, tendo
objetivo, mostrar a fragilidade do mito construído e reproduzido em torno do
ensino público, que defende que a “escola de antigamente” era melhor do que
a de hoje. Acreditamos que toda escola, assim como todo sistema de ensino,
estão sujeitos a uma gama enorme de problemas e, portanto, a escola ideal –
salvo casos raros – está longe se ser alcançada.

Leopoldina e os desafios do ensino público primário.

Ao analisarem 1895 contava com diversas escolas, na cidade e nos


distritos. Quando falamos de escola, pensamos em prédios grandes, muitas
crianças, funcionários e um diretor. Esqueçam essa construção mental e
troquem-na pela seguinte: um prédio residencial, com uma sala ocupada por
mesinhas e cadeiras – em alguns casos alunos sentados no chão, visto que a
mobília nem sempre era suficiente para todos -, um quadro negro, um
professor e alunos de várias idades estudando todos juntos.
As escolas de então, eram classes de alunos que podiam ser femininas,
masculinas ou, em alguns casos, mistas. Havia várias delas, distribuídas pelos
distritos e contando com um professor responsável e um inspetor escolar. Veja
a relação dos professores e inspetores em exercício no ano de 1895 e os
distritos que atendiam:

Cidade – João Ferreira de Carvalho


Recreio – D. Izabel Guedes de Aragão
Providencia – Manoel Vicente de Castro
Tebas – D. Alba Ramos de Bustamente.
Piedade – Moysés de Souza Lima
Campo Limpo – Alberto A. Jackson.
Santa Izabel – Carlos Ribeiro Franco.
Conceição – Gustavo Pinto.
Rio Pardo – José Maria Tesson, nomeado por ato de 15 de
abril, desde quando está exercendo o magistério.
São Joaquim – Sylvio Barroso, nomeado a 12 de novembro em
substituição de Pedro Rodrigues de Medeiros que ocupava a
cadeira na vaga deixada por dua mulher D. Rita da Gama
Paula e Medeiros.

Também foi nomeada, em virtude da lei n. 71 de 25 de


setembro, a Exmª. Sra. D. Elvira Figueira para a escola do
bairro Grama, nesse distrito, que será instalada no começo do
futuro exercício.

Presentemente exercem funções de Inspetores escolares


distritais os seguintes cidadãos:
Cidade – Está vago o lugar por ter se exonerado o Dr. José
Tavares de Lacerda.
Recreio – Antonio Anacleto Spinola e Castro.
Providencia – Dr Antônio Pedro Cysneiro da Costa Reis,
nomeado em data de 28 de maio.
Tebas – Inácio de Lacerda Werneck.
Piedade – Ezequiel Soares Valente Vieira.
Campo Limpo – Bento Xavier Garcia.
Santa Izabel – Francisco de Assis B. Faria.
Conceição – Theophilo Barbosa da Fonseca.
Rio Pardo – Dr. Pedro Fructuoso da Silva Pires, nomeado em
data de 28 de maio.
S. Joaquim – Antônio Baptista.1

A construção de escolas era considerada pelos administradores públicos


um gasto desnecessário e por vezes dispendioso para o município. Assim, os
professores contratos recebiam juntamente ao seu salário, uma quantia para o
aluguel da casa onde moravam e ministravam as aulas. Havia prédios
pertencentes ao município, mas geralmente estavam em piores condições
físicas e de higiene, pois, geralmente, não se contratavam funcionários para a
limpeza, que ficava a cargo do professor. Em tais condições não é de se
admirar que a evasão fosse muito grande. Em seu relatório anual à Câmara
Municipal, o Oficial de Secretaria, Luiz Bustamante comenta:

(...) dividida a freqüência pelo número da matrícula, dá (...) uma


média para cada aluno de: 132 dias para a Cidade; 144 para
Conceição; 111 para Santa Izabel; 126 para Tebas; 93 para
Piedade; 95 para Rio Pardo; 79 para Campo Limpo; 54 para

1
Relatório apresentando ao Agente Executivo pelo oficial da secretaria da Câmara Muncicial de
Leopoldina em 31 de dezembro de 1901. Câmara Municipal de Leopoldina, 31 de dezembro de 1895, Rio
de Janeiro. Typ. Moreira Maximino, Chagas & C, 1896, p. 39
Recreio; 0 para Providencia e 15, finalmente, para São
Joaquim, quando a dita freqüência deveria ser de 300 dias.
Sendo a instrução pública um dos assuntos que devem
despertar o mais vivo interesse e que deve merece a maior
atenção dos Srs chefes de família, é de estranhar que tenha
sido tão diminuto o comparecimento dos alunos às escolas
municipais, falta esta que, a continuar, será forçoso ao
Governo municipal suprimir a escolas que mantém.2

No ano de 1897 foi rivalizado concurso público de professores conforme


exigido pela lei n. 107 de 1897 3, que realizou algumas reformas nesta matéria,
mas que, segundo José Monteiro Ribeiro Junqueira, Agente executivo em
exercício no ano de 1897, as mudanças impostas pela lei ainda estavam longe
de satisfazer as necessidade do ensino primário.

A lei, apesar dos melhoramentos que introduziu, ainda não


satisfaz, a meu ver as necessidades da instrução municipal.
Penso que o ensino primário deve ser mais simplificado ainda,
curando-se também da educação física e do ensino
profissional.

Urge que tomeis uma providencia quanto a casas para


funcionários das escolas municipais.

Alguns distritos, reconhecendo os proventos que tiram das


escolas municipais, tem fornecido casas para seu
funcionamento; outros porém, não tem feito, obrigando a
Câmara ao aluguel dos edifícios necessários. Este último
sistema tende a se generalizar e já teria se transformado em
regra se não fora a resistência oposta por esta agencia
executiva, falha de recursos para satisfazer a todos os pedidos.

A não se poder fornecer casa para todas as escolas, julgo que


deveis estabelecer como regra, até que a municipalidade
possa ter edifícios próprios, que as escolas funcionarão em
prédios adequados e fornecidos pelos distritos, ficando
suspensos o ensino daquelas que não obtiveram casa do
distrito. Tomada esta providência, que reputo necessária em
face da insuficiência de verba, o ensino poderá melhorar
porque haverá margem para o fornecimento de livros e mesmo
para a reforma, aos poucos, da mobília, hoje imprestável
quase.4

Atentem para o fato de que a reforma foi responsável por suprimir alguns
conteúdos do currículo escolar. A simplificação do ensino era apontada como
uma forma de adequá-lo à realidade da sua clientela pobre, ou seja, de
2
Idem, p. 40
3
Não sei ainda precisar, mas acredito que trata-se de uma lei municipal, com finalidade de organizar a
educação pública no município.
4
Mensagem à Câmara Municipal de Leopoldina apresentada pelo Agente Executivo em 31 de dezembro
de 1898. Rio de Janeiro, Typ. De Carlos Gaspar da Silva & Campos, 1899. p. 15 e 16.
meninos e meninas que vinham de família humildes, sem acesso às escolas
particulares, estas muito bem estruturadas. Outro dado que não pode passar
despercebido é o fato de o Agente Municipal sugerir que os distritos se
responsabilizem pelas escolas, fornecendo prédios e, em alguns casos, se
responsabilizando pelo ordenado dos professores. A Câmara deseja dividir
com os distritos parte do ônus com o ensino primário público. Futuramente,
muitas dessas escolas seriam fechadas, alegando-se que as escolas estaduais
eram mais do que suficiente para atender a demanda.

Apesar de haver o art. 5 da lei orçamentária desse ano cortado


fundo na verba destinada à instrução municipal, ainda assim
não foi possível a manutenção das escolas no próximo
exercício.

O vosso ato, deixando o orçamento futuro sem verba para a


instrução, o que obrigou a agencia executiva a declarar
suspenso o ensino em todas as escolas, embora doloroso,
revela o empenho firme dos poderes públicos em manter o
crédito da municipalidade.
É sem dúvida preferível suprimira serviços a mantê-los com
sacrifício para o crédito e sem pagar em dia aqueles que os
prestam.

O professorado municipal é digno dos maiores elogios pela


correção que sempre revelou no cumprimento de seus
deveres.

Somente as escolas municipais da Cidade (Grama), Recreio,


S. Joaquim e Rio Pardo funcionaram de princípio a fim do ano.
O ensino em todas as outras foi suspenso no correr do ano,
por falta de freqüência numas e por transferência ou renuncia
dos professores em outras.
No relatório do oficial da secretaria encontreis dados
detalhados sobre este assunto.
As escolas que funcionaram, e durante o tempo em que o
fizeram, tiveram a seguinte freqüência diária: da Cidade 31
alunos; de Recreio 20 alunos; de S. Joaquim 18; de
Providência (Campestre) 17; de Rio Pardo e de Piedade 16; de
Tebas 10 e de Campo Limpo 7.

Apesar de suspenso o ensino nas escolas municipais, penso


que não sofrerá grande golpe a instrução primária, visto como,
felizmente, o governo do Estado está provendo de professores
as escolas estaduais e que se acham vagas, sendo certo que
para essas vagas concorriam as escolas municipais, que
tiravam a freqüência das estaduais.
Quando a Câmara puder reorganizar este serviço penso que
severa faze-lo, curando especialmente do ensino profissional e
criando escolas primárias, de preferência, nos pontos que não
forem servidos por escolas estaduais.
Será esse o meio único de tirar a população do município o
maior proveito possível dos sacrifícios feitos pelo estado e pelo
Município em prol da instrução primária.5

Também na época buscava-se no ensino particular um caminho para o


problema da instrução. Assim como hoje, o governo oferecia alguns beneficio
ou um pagamento regular a donos de escolas particulares que aceitassem
alunos pobres.

Suprimida pelo art. 1º § 1º da lei 163 – de 10 de fevereiro a


escola municipal do barro da Grama, foi, entretanto, e pelo § 2º
na citada lei, concedida à professora daquela escola, d. Elvira
Figueira da Costa, uma subvenção de 60$000 mensais com a
obrigação de manter em seu estabelecimento particular 20
alunos pobres indicados pelo presidente da Câmara. Aceita
essa obrigação e matriculados os 20 alunos indicados de
acordo com o preceito legal, funcionou regularmente a escola
durante o ano letivo, sendo por ocasião dos exames, elogiada
a professora pelos bons serviços prestados, à instrução.6

Um dado interessante, que eu não poderia deixar de mencionar antes de


concluir este texto, diz respeito ao ensino noturno. As primeiras notícias sobre
a existência de ensino noturno no Brasil, datam dos anos entre 1869 e 1886.
Esses cursos eram dirigidos aos adultos analfabetos trabalhavam durante o
dia. Estas escolas representam as primeiras formas de organização do ensino
noturno, por iniciativa do poder público. O acesso aos cursos noturnos era
muito restrito, pois estes eram oferecidos apenas nas capitais ou em centros
urbanos maiores.7
Acredito ter localizado um dos primeiros cursos noturnos de Leopoldina,
nos primeiros anos da República, em 1900, em um relatório Luiz Bustamante
faz alusão a uma classe noturna: o “Curso Noturno Eugênio Alvarenga”, que
foi aberto em 15 de abril de 1900. Teve como seu primeiro diretor (e acredito
que também professor), o então jovem Dilermando Martins da Costa Cruz,8
que recebia da Câmara Municipal
5
Mensagem à Câmara Municipal de Leopoldina apresentada pelo Agente Executivo em 31 de dezembro
de 1902. Leopoldina – Minas. Typ. da Empresa Gazeta de Leopoldina, 1903, p. 10 -11
6
Relatório apresentado ao Presidente da Câmara Municipal pelo Oficial da Secretaria da Câmara
Municipal de Leopoldina em 31 de dezembro de 1905, p. 21.
7
CARVALHO, Marie Jane Soares. A escola noturna de ensino médio no Brasil. Revista Ibero-
Americana, Número 44: Mayo-Agosto / Maio-Agosto 200. Disponível em
http://www.rieoei.org/rie44a04.htm, acesso em 25/04/2010.
8
Natural de Dilermando Cruz foi político mineiro, escritor e membro fundador da Academia Mineira de
Letras.
a quantia de 800$000 para auxiliar a fundação de uma aula
noturna, essa agencia executiva, a requerimento do referido
diretor, expediu ordens para que se lhe pagasse mensalmente,
a contar do dia em que começou a funcionar o curso noturno, a
quantia correspondente ao auxílio , tendo sido satisfeitas ,
pontualmente, todas as mensalidades. 9

É difícil prever quanto tempo durou o curso. Talvez exista alguma nota
referente a ele a Gazeta de Leopoldina, mas ainda não tivemos a oportunidade
de verificar. Em 1º de dezembro daquele mesmo ano, Dilermando Cruz
comunicou à Câmara o afastamento do cargo de diretor.

Considerações finais

A educação pública em Leopoldina, e em todo o Brasil, enfrentou e


ainda enfrenta muitas dificuldades, muito preconceito, principalmente ao
trabalho do professor, que tem tido sua formação cada vez menos suficiente
para que possa estar realmente preparado para a realidade das salas de aula.
Paralelamente o discurso oficial, ontem e hoje, enaltece suas qualidades e sua
importância para o país.
Se no final do século XIX o ensino público de qualidade era considerado
um reflexo de “civilização”, atualmente ele aparece uma necessidade de
desenvolvimento capitalista.
Infelizmente, se alguns problemas foram resolvidos, outros surgiram
para se contrapor. Se antes não havia escolas nos moldes das que temos hoje
– prédios próprios, equipados com material didático – muitos deles precisam de
reformas, de mais equipamentos e de pessoas capitadas para manipulá-los.
Por exemplo, escolas que possuem laboratórios avançados de informática que
ficam fechados ou são mal utilizados porque falta profissional da área na
escola.
E existe ainda da permanência e reprodução de outros problemas
escolares. Não é raro a televisão mostrar que, em lugarejos do Brasil ou
periferias de cidades grandes o quadro mais acima descrito, de escolas em
prédios antigos e sem reparo, com crianças sentadas no chão e sem material
didático mínimo, ainda persiste. Escolas que não recebem uma pintura –
9
Mensagem à Câmara Municipal de Leopoldina Apresentada pelo Agente Executivo em 31 de dezembro
de 1900. Leopoldina – Minas. Typ. Da Empresa Gazeta de Leopoldina, 1901, p. 34.
reparo que considero mínio – há mais de 6 anos. Carteiras quebradas, paredes
sujas, professores mal remunerados, falta de funcionários técnico-
administrativos.
A escola de ontem e a escola de hoje, em Leopoldina, precisam ser
lembradas e os discursos bonitos devem ser substituídos por ações concretas
de valorização dos profissionais da educação e do ensino.

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