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UNIVERSIDAD DE CHILE

Vicerrectoría de Asuntos Académicos


Unidad de Formación General, Básica y Especializada
La Península Ibérica Contemporánea: Miradas Cruzadas
Primer Semestre 2010
UNIVERSIDAD DE CHILE
Vicerrectoría de Asuntos Académicos
Unidad de Formación General, Básica y Especializada
La Península Ibérica Contemporánea: Miradas Cruzadas
Primer Semestre 2010

O Instituto Camões sente-se honrado em participar no maior acontecimento cultural português


neste virar de milénio, momento em que Portugal procura descobrir uma nova fisionomia,
retomando a sua vocação multicultural.

Como interlocutor privilegiado deste diálogo intercultural, por definição e opção, o Instituto
Camões, ao marcar presença na Expo' 98, concebeu este espaço como uma amostra de culturas
que se cruzam no território da Língua portuguesa.

É uma viagem pelo mar que aqui propomos, tal como o sentem ou sentiram os autores africanos,
brasileiros e portugueses representados.

Viagem em que se cruzam, nos textos, sensibilidades e vivências, expressas nas metáforas, na
simbologia e nas imagens, reveladoras da riqueza e da multiplicidade da Língua Portuguesa, um
verdadeiro Oceano de Culturas.

O Instituto Camões pretende, desta forma, prestar homenagem a todos os autores que, em
português, contribuem com a sua obra para ampliar o nosso olhar, criando um lugar comum no
projecto de interculturalidade lusófona.

É uma ponte que se constrói, uma ponte que une as margens distintas das identidades culturais de
cada um dos países de língua oficial portuguesa, uma ponte que pretendemos inscrever no nosso
imaginário colectivo, num encontro cultural único, que amplie o nosso olhar sobre os outros e sobre
nós próprios, fortalecendo indelevelmente os laços que nos unem e a nossa forma de estar no
mundo.

Jorge Couto

Presidente do Instituto Camões


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Vicerrectoría de Asuntos Académicos
Unidad de Formación General, Básica y Especializada
La Península Ibérica Contemporánea: Miradas Cruzadas
Primer Semestre 2010

1926
Nasceu em S. Tomé. Estudou em Portugal.
Professora. Foi Ministra da Informação e
Cultura e Ministra da Educação e Cultura de
S. Tomé e Príncipe. Colaborou em diversas
publicações literárias. Poeta

Coqueiros e palmares da Terra Natal


Mar azul das ilhas perdidas na conjuntura dos séculos
Vegetação densa no horizonte imenso dos nossos sonhos.
Verdura, oceano, calor tropical
Gritando a sede imensa do salgado mar
No deserto paradoxal das praias humanas
Sedentas de espaço e de vida
Nos cantos amargos do ossobô
Anunciando o cair das chuvas
Varrendo de rijo a terra calcinada
saturada do calor ardente
Mas faminta de irradiação humana
Ilhas paradoxais do Sul do Sará
Os desertos humanos clamam
Na floresta virgem
Dos teus destinos sem planuras

É Nosso o Solo Sagrado da Terra


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La Península Ibérica Contemporánea: Miradas Cruzadas
Primer Semestre 2010

1939
Nasceu em Canchungo (Guiné-Bissau).
Licenciado em Medicina pela
Universidade de Lausana. Colaborou em
diversas publicações. Poeta

O Mar

Olhai: o Mar tem influência singular


Sobre mim. Os animais aquáticos são tantos!
Valia a pena persegui-los no mar alto;
Valia a pena vê-los saltar através das ondas.

O Mar, esse mundo que os homens não habitam,


É imenso, tão belo e tão perfeito!
O Mar tem influência singular
Sobre mim. Eu bem queria ir ver as ondas:
Valia a pena olhá-las a correr
Loucamente; valia a pena
Ver qual delas primeiro entrava na baía.

Ah!, o Mar vasto, no entanto, aqui nos fala


Sim, fala-nos interiormente,
E nós compreendemos a sua língua:
É uma língua que se entende.

(Ah!, que impressão nos faz o Mar!)

Poesia & Ficção


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La Península Ibérica Contemporánea: Miradas Cruzadas
Primer Semestre 2010

1924
Nasceu em Faro. Esteve ligado às revistas
Cadernos do Meio-Dia, Árvore e
Cassiopeia. Tradutor, crítico literário,
ensaísta e poeta. Além de uma grande
depuração da palavra, reflecte sobre o
fenómeno poético

Na Igualdade da Torrente

Na igualdade da torrente, uma só árvore,


palavras e pedras acolhendo
uma cabeça ao ritmo das vagas,
e uma sombra oval sobre as espáduas,
respirando lentamente o ar redondo,
os reflexos nos ramos, semelhanças
de um sopro, os anéis do dia,
sem fim nem centro a inacabada arca
que sobre o mar, errante, é a permanência.

Acordes
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La Península Ibérica Contemporánea: Miradas Cruzadas
Primer Semestre 2010

1927-1996
Nasceu em Lisboa. Licenciado em Filologia Românica
pela Faculdade de Letras de Lisboa, onde foi professor.
Dirigiu a revista Colóquio-Letras. Tradutor, crítico
literário, ensaísta, ficcionista e poeta. Foi uma presença
marcante do mundo literário da sua época

Jogos de Água

1
Corpo meu que no Mar de repente retomas
ao rebentar da onda a posição do feto
Surpreende a matriz de onde partem as ordens

Mas não perguntes mais Porque tudo é incerto

2
A sôfrega aventura A ligação mais firme
A flor de uma só noite A que se crê eterna
Não há forma de amor em que a água não vibre

Ou saliva Ou suor Ou lágrimas Ou esperma

3
Entranham-se na terra os arames da chuva
para apertar melhor as tábuas dos caixões
Ou para transmitir notícias de uma nuvem

Sem saberem que a morte as oculta depois

Do Tempo ao Coração
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La Península Ibérica Contemporánea: Miradas Cruzadas
Primer Semestre 2010

1922
Nasceu em Matosinhos. Esteve ligado às
revistas Távola Redonda, Árvore, Notícias
do Bloqueio e Limiar, entre outras. Tradutor
e poeta

Muda-se o tema, onde o mar começa.


A aventura é o mar ou essa forma
que se forma depois, que vai viver
na memória dos dias? De uma ilha lembro
onde o mar me levou e do conhecimento
várias portas me abriu. O oceano
começava antes, acabava depois, ali
só prosseguia, embalando-me em noites
de velame abatido, de fáceis ananases,
de alta mastreação tocada de saudade
lucilante como a esteira do luar.
Mais tarde soube que estava sem trabalho
pois não havia Índias nem de infantas
o prémio de um sorriso. Mas combates
havia para outros, torpedos e canhões
longe não andavam. Daquela guerra
eu só fingia ser. Ancorado veleiro
eu pensaria a ilha, verde como o slogan,
nela não enjoava como, sobre o mar,
me acontecia nos navios da Insulana.
Marinheiro, eu não era. O mundo antigo
vivia-se nos livros, reproduções offset
multiplicavam os atlas, alguns poetas
banhariam na Grécia os seus poemas. Eu,
estava ali, parado no tempo, onde
o mar começava e acabava, esperando
que na praça da Matriz o relógio do sono
badalasse o regresso. A minha casa
estava a oriente, ali acabaria
para mim o mar, e só quando da praia
o visse, a imaginação poderia segredar-me
que os meus pés começava e da viagem
seria excluído. Um rosto sem segredos
que as marés negras adoecem, e me acena
quando o avião desce e os motores destroçam
um mar de nuvens que se desfaz e recomeça.

in antologia Onde o Mar Acaba


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La Península Ibérica Contemporánea: Miradas Cruzadas
Primer Semestre 2010

1923
Nasceu em Póvoa da Atalaia (Fundão).
Funcionário público. No Porto existe uma
Fundação com o seu nome. Tradutor,
organizador de antologias, ficcionista e
poeta. Nada melhor que as suas palavras
para definir a sua obra: «(...) desde
pequeno, de abundante só conheci o sol e a
água... aprendi que poucas coisas há
absolutamente necessárias. São essas
coisas que os meus versos amam e
exaltam. A terra e a água, a luz e o vento
(...)

Sobre Flancos e Barcos

Havia ainda outro jardim o da minha vida


exíguo é certo mas o do meu olhar
são talvez dois pássaros que se amam
um sobre o outro ou dois cães de pé
é sempre a mesma inquietação

este delírio branco ou o rumor


da chuva sobre flancos e barcos
o inverno vai chegar
sobre a palha ainda quente a mão
uma doçura de abelha muito jovem

era o sopro distante das manhãs sobre o mar


e eu disse sentindo os seus passos nos pátios do
coração
é o silêncio é por fim o silêncio
vai desabar

Véspera de Água
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Primer Semestre 2010

1861-1930
Nasceu na Brava (Cabo Verde).
Autodidacta, funcionário publico, jornalista
e polemista. Dramaturgo, ficcionista e
poeta. Paradigma da crioulidade, autor de
inúmeras mornas
Canção ao Mar
(Mar Eterno)

Oh mar eterno sem fundo


Sem fim
Oh mar de túrbidas vagas
Oh mar!
De ti e das bocas do mundo
a mim
Só me vem dores e pragas
Oh mar!

Que mal te fiz oh mar, oh mar


Que ao ver-me pões-te a arfar, a arfar
Quebrando as ondas tuas
De encontro às rochas nuas

Suspende a zanga um momento


Escuta
A voz do meu sofrimento
Na luta
Que o amor acende em meu peito
Desfeito
De tanto amar e penar
Oh mar!

Que até parece oh mar, oh mar


Um coração a arfar, a arfar
Em ondas pelas fráguas
Quebrando as suas máguas
Dá-me notícias do meu amor,
Amor
Que um dia os ventos do céu
Oh dor!
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Primer Semestre 2010

Nos seus braços furiosos


Levaram
E ao meu sorriso, invejosos,
Roubaram

Não mais voltou ao lar, ao lar


Não mais o vi oh mar, oh mar
Mar fria sepultura
Desta minha alma escura

Roubaste-me a luz querida


Do amor,
E me deixaste sem vida
No horror
Oh alma da tempestade
Amansa,
Não me leves a saudade
E a esperança

Que esta saudade, é quem, é quem


Me ampara tão fiel, fiel
É como a doce mãe
Suavíssima e cruel

Mas máguas desta aflição


Que agita
Meu infeliz coração,
Bendita,
Bendita seja a esperança
Que ainda
Lá me promete a bonança
Tão linda!

Mornas
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Primer Semestre 2010

1888-1935
Nasceu em Lisboa. Entre 1895 e 1905, viveu na
África do Sul. Escreveu quer sob os heterónimos
Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Ricardo Reis,
quer sob o semi-heterónimo Bernardo Soares e
Pessoa ortónimo. É considerado um dos maiores
poetas portugueses de todos os tempos. Poeta e
prosador. Apesar de muito conhecido, Pessoa
continua ainda por conhecer. É, decerto, o mais
complexo e diversificado dos escritores portugueses
Chuva Oblíqua

Atravessa esta paisagem o meu sonho dum porto infinito


E a cor das flores é transparente de as velas de grandes navios
Que largam do cais arrastando nas águas por sombra
Os vultos ao sol daquelas árvores antigas...

O porto que sonho é sombrio e pálido


E esta paisagem é cheia de sol deste lado...
Mas no meu espírito o sol deste dia é porto sombrio
E os navios que saem de porto são estas árvores ao sol...

Liberto em duplo, abandonei-me da paisagem abaixo...


O vulto do cais é a estrada nítida e calma
Que se levanta e se ergue como um muro,
E os navios passam por dentro dos troncos das árvores
Com uma horizontalidade vertical,
E deixam cair amarras na água pelas folhas uma a uma dentro...

Não sei quem me sonho...


Súbito toda a água do mar do porto é transparente
E vejo no fundo, como uma estampa enorme que lá estivesse desdobrada,
Esta paisagem toda, renque de árvore, estrada a arder em aquele porto,
E a sombra duma nau mais antiga que o porto que passa
Entre o meu sonho do porto e o meu ver esta paisagem
E chega ao pé de mim, e entra por mim dentro,
E passa para o outro lado da minha alma...
(...)
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Primer Semestre 2010

1917-1993
Nasceu em Díli (Timor-Leste).
Pseudónimo de Abílio Leopoldo
Motta-Ferreira. Foi presidente da
Sociedade de Língua Portuguesa.
Participante activo da Resistência
Maubere. Poeta, prosador,
dramaturgo e ensaísta

Infância

as crianças brincam na praia dos seus


pensamentos
e banham-se no mar dos seus longos
sonhos

a praia e o mar das crianças não têm


fronteiras

e por isso todas as praias são


iluminadas
e todos os mares têm manchas verdes

mas muitas vezes as crianças crescem


sem voltar à praia e sem voltar ao mar

A Voz Fagueira de Oan Timor


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Primer Semestre 2010

1930
Nasceu no Funchal (Madeira). Frequentou a Faculdade
de Letras de Lisboa. Colaborou em diversas revistas de
poesia. Tradutor, poeta e ficcionista. Indiscutivelmente,
um dos grandes poetas portugueses, com um exímio
domínio da linguagem
As barcas gritam sobre as águas.
Eu respiro nas quilhas.
Atravesso o amor, respirando.
Como se o pensamento se rompesse com as estrelas
brutas. Encosto a cara às barcas doces.
Barcas maciças que gemem
com as pontas da água.
Encosto-me à dureza geral.
Ao sofrimento, à ideia geral das barcas.
Encosto a cara para atravessar o amor.
Faço tudo como quem desejasse cantar,
colocado nas palavras.
Respirando o casco das palavras.
Sua esteira embatente.
Com a cara para o ar nas gotas, nas estrelas.
Colocado no ranger doloroso dos remos,
Dos lemes das palavras.

É o chamado rio tejo


pelo amor dentro.
Vejo as pontes escorrendo.
Ouço os sinos da treva.
As cordas esticadas dos peixes que violinam a água.
É nas barcas que se atravessa o mundo.
As barcas batem, gritam.
Minha vida atravessa a cegueira,
chega a qualquer lado.
Barca alta, noite demente, amor ao meio.
Amor absolutamente ao meio.
Eu respiro nas quilhas. É forte
o cheiro do rio tejo.

Como se as barcas trespassassem campos,


a ruminação das flores cegas.
Se o tejo fosse urtigas.
Vacas dormindo.
Poças loucas.
Como se o tejo fosse o ar.
Como se o tejo fosse o interior da terra.
O interior da existência de um homem.
Tejo quente. Tejo muito frio.
Com a cara encostada à água amarela das flores.
Aos seixos na manhã.
Respirando. Atravessando o amor.
Com a cara no sofrimento.
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Primer Semestre 2010

Com vontade de cantar na ordem da noite.

Se me cai a mão, o pé.


A atenção na água.
Penso: o mundo é húmido. Não sei
o que quer dizer.
Atravessar o amor do tejo é qualquer coisa
como não saber nada.
É ser puro, existir ao cimo.
Atravessar tudo na noite despenhada.
Na despenhada palavra atravessar a estrutura da água,
da carne.
Como para cantar nas barcas.
Morrer, reviver nas barcas.

As pontes não são o rio.


As casas existem nas margens coalhadas.
Agora eu penso na solidão do amor.
Penso que é o ar, as vozes quase inexistentes no ar,
o que acompanha o amor.
Acompanha o amor algum peixe subtil.

Poemacto
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Primer Semestre 2010

1920
Nasceu no Recife (Brasil). Ingressou na carreira
diplomática, tendo estado colocado em Barcelona,
Londres, Sevilha, Dacar e Porto. Foi eleito para a
Academia Brasileira de Letras em 1968. Poeta.
Prémio Camões. Incontestavelmente, uma das
maiores figuras da produção literária brasileira
O mar soprava sinos,
Os sinos secavam as flores,
As flores eram cabeças de santos.

Minha memória cheia de palavras,


Meus pensamentos procurando fantasmas
Meus pesadelos atrasados de muitas noites.

De madrugada, meus pensamentos puros


Voavam como telegramas;
E nas janelas acesas toda a noite
O retrato da morta
Fez esforços desesperados para fugir.

Pedra do Sono
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Primer Semestre 2010

1922
Nasceu em Lourenço Marques (actual Maputo),
Moçambique. Funcionário público, atleta, cronista
desportivo, jornalista.
Primeiro Presidente da Associação de Escritores
Moçambicanos. Poeta e contista. Prémio Camões. Ele é
hoje uma figura incontornável e de referência da escrita
em língua portuguesa
Canto do Nosso Amor sem Fronteira

Estamos juntos.
E moçambicanas mãos nossas
dão-se
e olhamos a paisagem e sorrimos.

Não sabemos de áreas de esterlino


de câmbios
vistos de fronteira
zonas de marco e dólar
portagem do Limpopo
canais de Suez e do Panamá.

Amamo-nos hoje numa praia das Honduras


estamos amanhã sob o céu azul da Birmânia
e na madrugada do dia dos teus anos
despertamos nos braços um do outro
baloiçando na rede da nossa casa na Nicarágua.

Ou
com os olhos incendiados
nos poentes do Mediterrâneo
recordamos as noites mornas da praia da Polana
e a beijos sorvo a tua boca no Senegal
e depois tingimos mutuamente
os lábios com as negras amoras de Jerusalém
ambos entristecidos ao galope dos pés humanos
sem ferraduras mas puxando riquexós.

Karingana ua Karingana
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Primer Semestre 2010

c. 1524-1580
Pouco se sabe sobre a sua vida agitada. Considerado o maior
vulto das letras portuguesas. Autor da epopeia Os Lusíadas.
Poeta e dramaturgo. A influência da sua obra foi marcante na
produção literária portuguesa. «Camões assumiu e meditou a
experiência de toda uma civilização cujas contradições viveu na
sua carne e procurou superar pela criação artística
Já a vista, pouco e pouco, se desterra
Daqueles pátrios montes, que ficavam;
Ficava o caro Tejo e a fresca serra
De Sintra, e nela os olhos se
alongavam;
Ficava-nos também na amada terra
O coração, que as mágoas lá deixavam;
E, já depois que toda se escondeu,
Não vimos mais, enfim, que mar e céu.

Assi fomos abrindo aqueles mares,


Que geração algua não abriu,
As novas Ilhas vendo e os novos ares
Que o generoso Henrique descobriu;
De Mauritânia os montes e lugares,
Terra que Anteu num tempo possuiu,
Deixando à mão esquerda, que à direita
Não há certeza doutra, mas suspeita.
Os Lusíadas, Canto V, 3 e 4
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1950
Nasceu em Idanha-a-Nova. Licenciado
em Direito pela Universidade de Lisboa.
Diplomata.
Poeta e ficcionista

Every Poem is an Epitaph

Desfiz meu corpo nas vivas marés


que os versos me traziam. Solidão
mil vezes retomada, sombra e pó,
palavras que nos doem mais de perto:
tudo desfez meu corpo e neste mar
um navegante encontra o seu deserto.

Outras Canções
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Primer Semestre 2010

1936
Nasceu em Águeda. Estudou Direito na Universidade
de Coimbra, onde esteve ligado aos grupos de teatro
CITAC e TEUC. Poeta e ficcionista. A sua poesia está
eivada de uma grande musicalidade e por ela perpassa
a sua atitude socialmente interventiva
Coração Polar
1.
Não sei de que cor são os navios
quando naufragam no meio dos teus braços
sei que há um corpo nunca encontrado algures no mar
e que esse corpo vivo é o teu corpo imaterial
a tua promessa nos mastros de todos os veleiros
a ilha perfumada das tuas pernas
o teu ventre de conchas e corais
a gruta onde me esperas
com teus lábios de espuma e de salsugem
os teus naufrágios
e a grande equação do vento e da viagem
onde o acaso floresce com seus espelhos
seus indícios de rosa e descoberta.

Não sei de que cor é essa linha


onde se cruza a lua e a mastreação
mas sei que em cada rua há uma esquina
uma abertura entre a rotina e a maravilha
há uma hora de fogo para o azul
a hora em que te encontro e não te encontro
há um ângulo ao contrário
uma geometria mágica onde tudo pode ser possível
há um mar imaginário aberto em cada página
não me venham dizer que nunca mais
as rotas nascem do desejo
e eu quero o cruzeiro do sul das tuas mãos
quero o teu nome escrito nas marés
nesta cidade onde no sítio mais absurdo
num sentido proibido ou num semáforo
todos os poentes me dizem quem tu és.
2.
Ouvi dizer que há um veleiro que saiu do quadro
é ele que vem talvez na nuvem perigosa
esse veleiro desaparecido que somos todos nós.
Da minha janela vejo-o passar no vento sul
outras vezes sentado olhando o ângulo mágico
sinto a sua presença logarítmica
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vem num alexandrino de Cesário Verde


traz a ferragem e a maresia
traz o teu corpo irrepetível
o teu ventre subitamente perpendicular
à recta do horizonte e dos presságios
ou simplesmente a outra margem
o enigma cintilante a florir no cedro em frente
qual é esse país pergunto eu
qual é esse país onde tudo existe e não existe
qual é esse país de onde chega este perfume
este sabor a alga e despedida
esta lágrima só de o pensar e de o sentir.

Não é apenas um lugar físico algures no mapa


é talvez o adjectivo ocidental
o verbo ocidentir
o advérbio ocidentalmente
quem sabe se o substantivo ocidentimento.
Está na palma da mão no nervo do destino
e também no teu corpo aberto ao vento do nordeste
é talvez o teu rosto alegre e triste — esse país
que existe e não
existe.

Eu não sei de que cor são os navios


sei que por vezes
no mais recôndito recanto
no simples agitar de uma cortina
numa corrente de ar
num ritmo
há um brilho súbito de estrela e bússola
uma agulha magnética no pulso
um mar por dentro um mar de dentro um mar
no pensamento.

Há um eu errante e mareante
não mais que um signo
um batimento
um coração polar
algo que tem a cor do gelo e do antárctico
e sabe a sul a medo a tentação
uma irremediável navegação interior
um navio fantasma amor fantástico.

Senhora das Tempestades


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1941
Nasceu em Nova Lisboa (Angola).
Licenciado em Direito pela Universidade de
Coimbra. Desempenhou diversos cargos
oficiais. Colaborou em publicações várias.
Poeta, ficcionista e ensaísta. Figura de
relevo nacional e internacional
Uma Onda e África

1
Uma onda
é amar-te e medo
ciúme deste mar
tan-tan do meu naufrágio
numa canoa de pétala
de acácia

2
Uma jangada
que me tragas feita
de troncos de palmeira
ou de um barco de negreiros
afundado
e dentro de uma concha
uma notícia

3
Amar-te é esta distância
e junto ao mar
senti-lo viajado
azul e com estrondo

4
Amar-te é uma fogueira
sobre a onda
sítio de uma lavra
de milho ou mandioca
na areia que me foge
sob a espuma
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Primer Semestre 2010

5
Amar-te é isto
com o teu perdão
não agarrar a onda
e mastigar-lhe o sal
que apenas sei
ter já beijado
a tua praia

6
Uma onda
que penso.
Outra em que reparo.
A mesma em que pensei
e que retorna ao mar.

7
Porque ficar a onda
— o impossível
(dizem que não havia
mar
remos de sol
nem barcos afundados).

A Onda
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1907-1995
Nasceu em São Martinho de Anta (Vila Real). Pseudónimo de Adolfo
Correia da Rocha. Licenciado em Medicina pela Universidade de
Coimbra em 1937. Poeta, romancista, novelista, dramaturgo,
memorialista e ensaísta. Prémio Camões. Ele é a «reencarnação de
um poeta mítico por excelência - daqueles que vive na intimidade das
forças elementares (a terra, o sol, o vento, a água) para celebrá-las
com o seu canto» (David Mourão-Ferreira)
Mar

Mar!
E é um aberto poema que ressoa
No búzio do areal...
Ah, quem pudesse ouvi-lo sem mais
versos!
Assim puro,
Assim azul,
Assim salgado...
Milagre horizontal
Universal,
Numa palavra só realizado.

Diário XI
UNIVERSIDAD DE CHILE
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1934
Nasceu em Lisboa. Licenciado em Direito pela
Universidade de Lisboa. Dirigiu a revista Anteu –
Cadernos de Cultura. Actualmente é administrador
da Fundação Calouste Gulbenkian. Tradutor e
poeta

Os Nautas

Para a Maria Gabriel

Quando até sobre o tarde navegavam


a luz que dentro vinha sobrepunha
a lantejoula aguda de outro sol
ao passo opaco, idêntico, cercando
os braços intranquilos, a surpresa
que só de pressentida lhes doía.

Ao frio sal que sob os pés sentiam


e à escuridão mais fundo, ao sonolento
e bruto som da corda e da madeira,
às dores de fome e ao gemido fraco
duma saudade parda, à solidão
sem espelho, à gula insaciada, ao medo

— a tudo combatia uma paixão


neles tão nova, nevoenta outrora,
qual a de ver, de ver de olhos abertos
até sentir no roçagar dos dedos,
a mínima paisagem, mais total
que os montes lerdos, pátrios e trocados:

a crispação da vela, o peixe lento


de súbito surgindo, ignotas flores,
cores purulentas, vasto e escasso espaço
para estrídulos pássaros abertos
e outra vida mor,
e ainda bruma
que não sabem se é deste ou doutro sonho.

Depois de Ver
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Primer Semestre 2010

1919
Nasceu no Porto. Cursou Clássicas na
Universidade de Lisboa. Colaborou em diversas
revistas de poesia. Autora de obras de literatura
infantil. Poeta, contista e ensaísta. Na limpidez e
sensibilidade fina da sua poesia, o mar é
presença assídu
Mar

I
De todos os cantos do mundo
Amo com um amor mais forte e mais
profundo
Aquela praia extasiada e nua,
Onde me uni ao mar, ao vento e à lua.

II
Cheiro a terra as árvores e o vento
Que a Primavera enche de perfumes
Mas neles só quero e só procuro
A selvagem exalação das ondas
Subindo para os astros como um grito
puro.

Poesia I
UNIVERSIDAD DE CHILE
Vicerrectoría de Asuntos Académicos
Unidad de Formación General, Básica y Especializada
La Península Ibérica Contemporánea: Miradas Cruzadas
Primer Semestre 2010

1937
Nasceu em Faro. Licenciada em Filologia
Românica pela Faculdade de Letras de
Lisboa. Professora Catedrática da
Universidade Nova de Lisboa. Ensaísta,
ficcionista e poeta

Onda a onda
ser a ser
a Vida
vai
e vem
mar
sem fim
de vidas

Cicatrizes
UNIVERSIDAD DE CHILE
Vicerrectoría de Asuntos Académicos
Unidad de Formación General, Básica y Especializada
La Península Ibérica Contemporánea: Miradas Cruzadas
Primer Semestre 2010

1942
Nasceu no Porto. Licenciado em Direito
pela Universidade de Lisboa. Ocupa
actualmente um cargo directivo na
Fundação Gulbenkian. Tradutor, ensaísta,
poeta e romancista

Crónica

eram barcos e barcos que largavam


fez-se dessa matéria a nossa vida
marujos e soldados que embarcavam
e gente que chorava à despedida

ficámos sempre ou quase ou por um triz


correndo atrás das sombras inseguras
sempre a sonhar com índias e brasis
e a descobrir as próprias desventuras

memória avermelhada dos corais


com sangue e sofrimento amalgamados
se rasga escuridões e temporais
traz-nos também nas algas enredados

e ganhou-se e perdeu-se a navegar


por má fortuna e vento repentino
e o tempo foi passando devagar
tão devagar nas rodas do destino

que ou nós nos encontramos ou então


ficamos uma vez mais à deriva
neste canto que é nosso próprio chão
sem que o canto sequer nos sobreviva

Letras do Fado Vulgar


UNIVERSIDAD DE CHILE
Vicerrectoría de Asuntos Académicos
Unidad de Formación General, Básica y Especializada
La Península Ibérica Contemporánea: Miradas Cruzadas
Primer Semestre 2010

1916-1996
Nasceu em Melo (Gouveia). Licenciado em
Filologia Clássica pela Faculdade de
Letras da Universidade de Coimbra em
1940. Professor de liceu. Romancista e
ensaísta. Prémio Camões.
É um dos mais significativos ficcionistas
portugueses contemporâneos
Uma língua é o lugar donde se vê o Mundo e em
que
se traçam os limites do nosso pensar e sentir. Da
minha
língua vê-se o mar. Da minha língua ouve-se o seu
rumor,
como da de outros se ouvirá o da floresta ou o
silêncio do
deserto. Por isso a voz do mar foi a da nossa
inquietação.
UNIVERSIDAD DE CHILE
Vicerrectoría de Asuntos Académicos
Unidad de Formación General, Básica y Especializada
La Península Ibérica Contemporánea: Miradas Cruzadas
Primer Semestre 2010

1913-1980
Nasceu no Rio de Janeiro (Brasil). Fez da sua poesia
«um espanto permanente com tudo» (Antônio
Cândido). Poeta e músico. O que é simples e
quotidiano, mas essencial, transparece quer nos seus
escritos, quer nas suas canções

Aurora, com Movimento


(Posto 3)

A LINHA MÓVEL do horizonte


Atira para cima o sol em diabolô
Os ventos de longe
Agitam docemente os cabelos da rocha
Passam em fachos o primeiro automóvel, a última estrela
A mulher que avança
Parece criar esferas exaltadas pelo espaço
Os pescadores puxando o arrastão parecem mover o
mundo
O cardume de botos na distância parece mover o mar.

O Encontro do Cotidiano
UNIVERSIDAD DE CHILE
Vicerrectoría de Asuntos Académicos
Unidad de Formación General, Básica y Especializada
La Península Ibérica Contemporánea: Miradas Cruzadas
Primer Semestre 2010

1901-1978
Nasceu na Praia da Vitória, ilha Terceira (Açores).
Professor da Faculdade de Letras de Lisboa. Revelou
dotes de grande comunicador na rádio, na televisão e
como professor. Poeta, romancista e ensaísta. A sua
obra reflecte a temática da insularidade, estando a
realidade açoriana nela patent

(...)
Esta saudade é uma maré que eu sou;
Esta tristeza é já meu mar rolando,
Meu vento levantando-se na voz,
Minha contiguidade separando
Seus bocados inermes e sem área,
Seu percorrido igual em todos os navios,
Seu movente e parado eirado frio
Que se aquece nos reinos de coral
E quer quebrar-se em praias — mas que é delas,
Se não são minhas secas desistências
No inútil desenho de alguns passos?
De onde em onde uma luz — mas nem parece,
De apagada e perdida nos socorros,
De intermitente ao vento que já sou...
(...)

Áspera Vida
UNIVERSIDAD DE CHILE
Vicerrectoría de Asuntos Académicos
Unidad de Formación General, Básica y Especializada
La Península Ibérica Contemporánea: Miradas Cruzadas
Primer Semestre 2010

Exposição

Selecção de textos e coordenação


Maria Armandina Maia
António Massano

Concepção global e design gráfico


Nuno Vale Cardoso

Concepção do espaço · Arquitectura


Eduardo Souto Moura

Fotografias dos escritores gentilmente cedidas por


JL, Jornal de Letras, Artes e Ideias

Coordenação operacional
João Ribeiro

Fotografia digital
O Laboratório

Montagem
Sinalética

Banda sonora da Exposição


Concepção
António Camões Gouveia

Selecção de textos e coordenação


Maria Armandina Maia
António Massano

Design gráfico
atelier Nuno Vale Cardoso

Fotografia de mar
PH3

Depósito Legal: 124 561/98

© Instituto Camões, 2001

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