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A22 Internacional

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DOMINGO, 25 DE ABRIL DE 2010 O ESTADO DE S. PAULO

Entrevista ✽ Ministro das Relações


Exteriores do Brasil
✽ É chanceler do governo Luiz Inácio
mar Franco. Nascido em Santos, em
1942, entrou no Instituto Rio

Celso Amorim Lula da Silva, cargo que ocupou


também durante a presidência de Ita-
Branco em 1965, foi embaixador em
Londres e já chefiou as missões do
Brasil na ONU e na OMC

cos. É absurdo achar que o Brasil é

‘É UM ABSURDO ACHAR pró-Irã. Veja o que diz (Thomas) Pi-


ckering, que trabalhou com a (ex-se-
cretária de Estado dos EUA) Made-
leine Albright, ou o (ex-conselheiro
de Segurança Nacional dos EUA,

QUE O BRASIL É PRÓ-IRÃ Zbigniew) Brzezinski. Outro dia até


o Estadão publicou um artigo – fi-
quei feliz – defendendo a mesma
coisa que nós. Dizer que Pickering é
pró-Irã é estar no mundo da Lua,

OU QUE ESTÁ ISOLADO’ sinceramente.

● Ahmadinejad fechou um acordo


com AIEA e depois recuou. Como o
sr. vê esse vaivém?
Os EUA também chegaram a conde-
nar Honduras na OEA e depois re-
cuaram, porque senadores não con-
firmavam um embaixador.
Roberto Simon
● São situações comparáveis?
Claro que não. Estou dizendo que
em todos os lugares há posições va-
Chanceler brasileiro defende posição do País na crise riadas. O Irã, independentemente
do julgamento de valor, certamente
hondurenha, fala sobre sua filiação ao PT e rebate as críticas tem um sistema político plural.

de que o governo Lula partidarizou a diplomacia brasileira ● Não é o que pensam os dissidentes
iranianos, sobretudo desde junho.
Um dos primeiros a condenar o
acordo com a AIEA foi o (líder da
oposição Mir Hossein) Mousavi. O
Irã tem um sistema plural, apesar
de todas as suas limitações. Não es-
WILSON PEDROSA/AE
tou falando que é a democracia plu-
le está a 132 dias de ba- ralista que queremos. Acho, hones-

E
ter o recorde de José tamente, que o Irã devia ter aceito a
Maria da Silva Para- oferta da AIEA que permitia o enri-
nhos Júnior, o barão quecimento. Mas não é porque recu-
do Rio Branco, maior saram que diremos ‘então está bem,
mito da diplomacia vamos para guerra’. Ou ‘vamos para
brasileira. Quando terminar o gover- sanções’, que podem não ter efeito
no Lula, Celso Amorim será o chan- ou punir a população.
celer que mais tempo esteve à fren-
te do Itamaraty. Em entrevista ao ● Então, se uma resolução nos atuais
Estado, ele defendeu a posição do termos vier, o Brasil votará contra.
Brasil durante a crise hondurenha, Não darei essa informação. Ainda te-
falou sobre sua filiação ao PT e dis- mos de analisar.
se que estão “equivocados” os que
acham que o País está isolado na ● O vice-presidente José Alencar afir-
questão nuclear iraniana. A seguir, mou que uma bomba iraniana só teria
os principais trechos da conversa fins defensivos. O sr. concorda?
com o chanceler brasileiro. Você só me pergunta sobre o que os
outros dizem (risos). Respeito mui-
● Por que o sr, diplomata de carreira to o vice-presidente e não comenta-
e chanceler, decidiu se filiar ao PT? rei. Surpreende-me a falta de infor-
Estou terminando minha gestão no mação. Achar que o Brasil é pró-Irã
Itamaraty. Sou diplomata aposenta- ou que está isolado é totalmente fal-
do, além do mais. Mas aposentado- so. Nem deveria invocar esses exem-
ria não é a morte. Interesso-me por plos, mas como é tão importante pa-
política – isso não significa que se- ra um certo grupo da elite brasileira
rei candidato. Se quisesse, teria sido saber o que os outros pensam... Ou-
agora. Quero ter um envolvimento tro dia na TV disseram que Hondu-
na política e me identifico mais ras foi um “tropeço” nosso. Não ve-
com o PT. A maioria dos meus ante- jo absolutamente nenhum tropeço
cessores, com exceção do governo nesse caso. Aliás, nossas posições
militar, pertenciam a partidos. públicas foram iguais às dos EUA.
Eles nunca abriram a boca para nos
● Mas não diplomatas de carreira. criticar por dar abrigo ao (presiden-
Não penso assim. Veja meu anteces- te Manuel) Zelaya. Só a mídia nacio-
sor, Celso Lafer. Foi tesoureiro de nal e alguns políticos fizeram isso.
campanha do PSDB. Roberto Cam- Honduras. ‘Você queria que eu o pusessse na rua?’, diz Amorim sobre ‘insurreição’ pedida por Zelaya na embaixada
pos, diplomata de carreira, não foi ● Hoje, olhando para trás, o sr. avalia
chanceler, mas foi ministro. Sincera- Já comentei o que tinha de comentar a ● Sobre o dossiê nuclear do Irã, há que a decisão de abrigar Zelaya bene-
mente, isso é um não-assunto. esse respeito. O presidente fez uma au- PARA LEMBRAR em paralelo um programa balístico e ficiou a crise hondurenha?
tocrítica em relação à greve de fome todos sabem que Teerã fez uma usina Foi corretíssima, positiva para a coe-
● O sr. seria chanceler em um even- que fez em São Bernardo. Agora, cá en- secreta em Qom... rência do Brasil. É espantoso que
tual governo Dilma Rousseff?
Não sei, não tenho mais ambições.
tre nós, quando houve greve de fome
na Irlanda do Norte ninguém nos pe-
Amorim se reúne Não defendemos nada disso. Quere-
mos o que (o presidente Barack)
jornais que foram obrigados a publi-
car receita de bolo em suas páginas
Pretendo levar da melhor maneira diu para romper com a Grã-Bretanha. amanhã com Obama defendia até pouco tempo, por causa da censura de um gover-
esse período final do governo, ao Há maneiras de agir. É muito fácil fa- Ahmadinejad mas parece estar desiludido. Tudo is- no militar achem justificável um gol-
qual me orgulho de ter servido. zer condenações e colocar um diplo- so que você estava enumerando já pe de Estado. Isso me espanta. Hou-
ma na parede. O difícil é contribuir efe- existia. O que há de novo é uma pro- ve um erro e não devemos permitir
● Seus críticos reclamam da tivamente para uma melhora. Após passar por Turquia e Rússia, posta da AIEA (Agência Internacio- que ele sirva de exemplo. Aliás, mu-
'partidarização' da diplomacia, dizem o chanceler Celso Amorim desem- nal de Energia Atômica) para a troca tatis mutandis, o golpe hondurenho
que a agenda do PT está ofuscando ● Mas, ao comparar presos de consciên- barca amanhã em Teerã, onde se- de urânio levemente enriquecido por se assemelha muito ao de 1964. To-
tradicionais objetivos do Itamaraty. cia com criminosos comuns, o presiden- rá recebido pelo presidente Mah- elementos combustíveis para o rea- do mundo diz que o Brasil cometeu
Primeiro, o governo não é só o PT, te não dá um voto de legitimidade ao sis- moud Ahmadinejad. O objetivo tor de pesquisa de Teerã. Achamos um fiasco, como se não fosse corre-
mas o PT dentro de uma coligação. tema cubano? da viagem de Amorim é preparar que ainda é possível trabalhar sobre to dar abrigo a um presidente legiti-
Eu, aliás, fico muito satisfeito quan- Não vejo que ele tenha feito a compara- a visita oficial que o presidente a proposta – assim como os turcos, mamente eleito, tirado de sua casa
do vou ao Senado e à Câmara e – ti- ção entre uns e outros. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará ao membros da Otan e vizinhos do Irã, na ponta de um fuzil.
rando esse período eleitoral – rece- comparou situações. Cada um tem seu Irã no dia 15. Ahmadinejad esteve provavelmente os últimos a querer
bo muitos elogios. estilo, suas metáforas. em Brasília em novembro. uma bomba iraniana. Chamam-nos ● Nenhum grande jornal do Brasil
de ingênuos, mas acho muito mais in- defendeu o golpe. Para o ‘Estado’, o
● Mas, da última vez, dois da mem- ● Outra frase do presidente Lula que gênuos os que acreditam em tudo o novo regime era ‘governo de facto’. O
bros oposição bateram boca com o marcou muito foi a de que os protestos, tos humanos no Irã um empecilho pa- que o serviço de inteligência america- que se questionou foi, por exemplo, o
sr. no Irã, contra a eleição de junho, eram ra a aproximação do Brasil com Teerã? no fala. Veja o caso do Iraque. O últi- fato de Zelaya convocar uma ‘insurrei-
É porque estamos em ano eleitoral. “choro de perdedor, como uma coisa O ideal é que o mundo todo fosse fei- mo relatório da AIEA sobre o Irã não ção’ – foi essa a palavra usada – de
Respeito a opinião dos outros, não entre vascaínos e flamenguistas”. to de democracias. De preferência traz fato novo. O que tem é um novo dentro da embaixada brasileira.
estou dizendo que estão certos ou Vocês querem que eu comente o estilo com um componente social, como a tom, pois mudou o diretor-geral. O que você queria que eu fizesse?
errados. Há alguma diferença de do presidente. Esse estilo é apoiado nossa. Mas não é assim. Não vou res- Converso com muita gente e não ve- Pegasse o Zelaya e botasse na rua?
concepção quanto à diplomacia, por 85% dos brasileiros. O que interes- ponder a sua pergunta como você jo o Irã perto de fazer uma bomba. A Aí sim teríamos uma chance de guer-
mas a maior distinção é que nós não sa é que o Brasil não vai intervir em quer e a recoloco: a ausência de demo- maioria dos analistas tampouco acre- ra civil. Chegamos para ele e disse-
nos limitamos a falar. Nós fizemos. um tema interno iraniano e irá se rela- cracia é empecilho para os EUA – país dita que isso está próximo. mos ‘você fica, mas não fale mais is-
cionar de Estado para Estado com o que seu jornal mais admira, e eu tam- so’. Eu, pessoalmente, disse a ele:
● Há reclamações de uma afinidade Irã. bém – estabelecer relações com al- ● O artigo de capa da última ‘Foreign ‘Presidente, por favor não use a pala-
excessiva da atual política externa guém? Pergunte a um ministro ameri- Affairs’, prestigiada revista de especia- vra morte’. E ele respeitou. Envia-
com países como Venezuela e Cuba. ● Mas, novamente, não foi uma interven- cano se ele pensa em romper laços listas, diz exatamente o oposto. dos americanos iam à embaixada
O sr. discorda? ção? Não estaria Lula legitimando uma por causa de violações de direitos hu- Mas isso virou uma polêmica ideoló- brasileira falar com Zelaya. Só se
Não vejo isso de maneira tão dramá- eleição amplamente contestada? manos. gica. Um artigo publicado nos EUA chegou a uma conclusão – que, cer-
tica. Fui ministro do presidente Ita- Não acho, de forma nenhuma, que seja colocava a estimativa mínima entre tamente, não foi a ideal – porque
mar (Franco) e levei a Cuba uma uma intervenção. Reflete a experiência ● O caso iraniano é bem particular. O três e cinco anos para se obter uma abrigamos Zelaya.
carta dele sobre certos temas. O pró- dele diante de coisas que assistiu no Irã caminha desde junho para uma dita- bomba. Supondo ainda que eles quei-
prio governo Fernando Henrique Brasil. Seria muito pretensioso, nesse dura brutal, com repressão na rua e a ram fazer. Não estou dizendo que ● Recentemente, a revista ‘Foreign
Cardoso teve uma cooperação ra- caso específico, achar que teríamos al- Guarda Revolucionária tomando de as- eles querem ou não. Mas é possível Policy’ afirmou que o sr. é o ‘Henry
zoável com Cuba. guma influência. O que temos procura- salto o país. Nesse contexto se dá a fazer um acordo que dê conforto rela- Kissinger brasileiro’. Como o sr. vê a
do trabalhar com o Irã é o caso do dos- aproximação brasileira. tivo – pois absoluto não há – de que comparação?
● Agora parece ser diferente. Na últi- siê nuclear. Não vejo da forma que você coloca. O o Irã não terá um arsenal nuclear mí- Não tenho o brilhantismo do profes-
ma visita a Havana, Lula comparou Irã é formado por circunstâncias di- nimo a médio prazo, ao mesmo tem- sor Kissinger (risos). E ainda acho
prisioneiros de consciência cubanos ● Antes de falar sobre o programa nu- versas, que vêm desde a traumática po respeitando o direito iraniano de que sou um pouco mais idealista do
como criminosos comuns brasileiros. clear, o sr. considera a questão de direi- ruptura com os EUA. ter energia nuclear para fins pacífi- que ele.

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