P ERGUNTA :
“QUANDO E COMO O HOMEM SE
DESVIA DO PADRÃO DIVINO?”
Hugo McCord

 R ESPOSTA :
Adão, o primeiro homem, foi criado perfeito
mas tornou-se um apóstata — ou seja, ele pecou
(Gênesis 3; Romanos 5:12). Da mesma forma, a
igreja de nosso Senhor, embora tenha começado
sob a orientação dos infalivelmente inspirados e
irrepreensíveis apóstolos (João 16:13), foi predita
pelo Espírito Santo como uma instituição que
também enfrentaria a apostasia (Atos 20:29, 30;
1 Timóteo 4:1, 3; 2 Tessalonicenses 2:1–10). Essa
grande igreja, de início, cresceria rapidamente
(Daniel 2:35, 44; Mateus 13:31–33), mas passaria
por uma queda na prosperidade e cairia na
apostasia 1 .
Embora a igreja tenha se desviado do padrão
divino em termos de moral, adoração e em muitos
outros aspectos, enfocaremos aqui o desvio do
padrão bíblico para o governo da igreja.
Na era da perfeição, quando o Espírito Santo
guiou os apóstolos ensinando como deve ser o
governo da igreja de Deus, cada congregação
local estava sujeita a presbíteros, tendo diáconos
para assisti-los. Esses presbíteros são também
chamados nas Escrituras de “bispos” e “pasto-
res” (Atos 20:17, 28; Tito 1:5–7). No esquema
divino, não havia distinção entre os presbíteros;
nem um presbítero sequer era colocado acima
dos demais. Era esse o estado da liderança da
igreja quando o Novo Testamento foi escrito,
mas não demorou muito para o primeiro estágio
de apostasia no governo revelar-se. No ano 110,
11
A crença católica da “Indestrutibilidade” é defini-
da em Um Catecismo da Doutrina Cristã da seguinte
maneira: “…a Igreja, conforme fundada por Cristo,
perdurará até o final dos tempos”. A definição, dos
próprios católicos romanos, prova que a Igreja Católica
não é a igreja bíblica; pois, de acordo com Paulo, a igreja
bíblica é indestrutível. Se uma igreja alega que “ela
nunca cessou, nem nunca cessará de ensinar” a doutrina
apostólica, ela mostra que não é a igreja bíblica, porque
muitos na igreja mundial verdadeira “se afastaram da
fé”, o que poderia ser chamado de “desvio”.
Ignácio escreveu sobre um certo bispo monár-
quico. Quem seria esse desconhecido oficial da
igreja? Uma distinção havia sido feita, segundo a
qual um presbítero se tornara “bispo” enquan-
to os demais
permaneciam
como “pres- “Ora, o Espírito afir-
bíteros” ape- ma expressamente que, nos
nas. E mais últimos tempos, alguns apos-
autoridade tatarão da fé, por obedece-
ainda foi con- rem a espíritos enganadores
ferida ao bis- e a ensinos de demônios”
po, a ponto (1 Timóteo 4:1).
dele ser cha-
mado de “bis-
po monárquico”. Dentro de poucos anos, a
liderança das congregações de Deus mudou de
um governo exercido por uma pluralidade de
presbíteros para “o sistema pastoral”, o governo
exercido por um homem, um papado em mi-
niatura. Tal sistema de governo da igreja é um
desvio humano do sistema divino. “A existência
de um episcopado monárquico não se harmoniza
com o uso de presbíteros ou bispos no plural 2 .”
Até a Igreja Católica admite esse primeiro
desvio do registro escrito do Novo Testamento.
O historiador católico romano George Stebbing,
em A História da Igreja Católica, disse:
Está nos escritos de Santo Ignácio que encon-
tramos primeiramente as três ordens distintas
de bispos, sacerdotes [presbíteros] e diáconos
como já existentes… Sem dúvida, podemos
crer na instituição deles pelo próprio Senhor,
mas só podemos confiar nossa crença na tradi-
ção da Igreja e não nas palavras do Novo Testa-
mento, pois nele não encontramos essa distinção.
12
Adolf Harnack, “organização da igreja primitiva”,
em Samuel Macauley Jackson, ed., The New Schaff-Herzog
Encyclopedia of Religious Knowledge (“A Nova Enciclopédia
de Conhecimento Religioso de Schaff-Herzog”). Grand
Rapids, Mich.: Baker Book House, 1951, 8:263.
1
 Com base nessas informações, o próximo
passo do desvio no governo da igreja não deveria
nos surpreender. O bispo monárquico não se
satisfaria com uma só igreja. Logo uma série de
igrejas ficou sob a supervisão de um bispo
monárquico. Depois disso, “no terceiro século…
emergiu uma organização de vários bispados
sob a liderança de um metropolitano, o bispo da
capital da província” 3 . A seguir, “metropolitanos
da primeira classe” (Alexandria, Antioquia,
Jerusalém, Roma e Constantinopla) vieram a ser
chamados de “patriarcas” 4 . Embora esses patriar-
cas tivessem domínio sobre suas respectivas áreas
do mundo cristão, nenhum exercia liderança
acima dos outros. O fato é que, no quarto século,
antes que um desses bispos metropolitanos
tivesse autoridade universal, o imperador roma-
no, Constantino, “assumiu ele próprio o poder
supremo” sobre toda a Igreja. Foi ele quem
convocou o primeiro concílio ecumênico com-
posto por 318 bispos na cidade de Nice, no ano
325 5 . Todavia, a ambição por poder não impul-
sionou só imperadores mas também clérigos
não-convertidos. No ano 595, um patriarca de
Constantinopla chamado João, aspirou a uma
posição acima de todos os bispos e patriarcas e
nomeou-se como Bispo Universal. Gregório I, o
bispo romano, ficou extremamente furioso e
escreveu ao imperador: “Eu, de fato, confiden-
cialmente afirmo que aquele que chama a si
mesmo, ou aspira ser chamado, Sacerdote Uni-
versal, essa pessoa, em seu vão entusiasmo, é o
precursor do anticristo, porque, através do seu
13
Paul Hinschius, “arcebispo”, em Schaff-Herzog En-
cyclopedia, 1:259.
14
Philipp Meyer, “Constantinopla”, em Schaff-
Herzog Encyclopedia, 3:255.
15
John Laurence Mosheim, An Eccleciastical History,
Ancient and Modern (“História Eclesiástica, Antiga e
Moderna”), trad. Archibal Maclaine, vol. 1. Nova York:
Harper & Brothers, 1871, p. 106.
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orgulho, exalta-se acima dos demais” 6 .
Mal sabia Gregório que ele estava falando
contra muitos papas que o sucederiam, até con-
tra seu sucessor imediato, Bonifácio III. O patriar-
ca de Constantinopla ainda estava usando o título
de bispo ecumênico, apesar dos protestos de
Gregório, quando o bispo romano faleceu. Quan-
do Bonifácio III tornou-se a novo bispo de Roma,
ele fez mais do que protestar a reivindicação de
Constantinopla. Depois de ganhar a amizade do
imperador/assassino Focas, ele pediu que o
imperador retirasse o título da sé (ou jurisdição)
de Constantinopla e o colocasse em Roma. João
Mosheim relatou o caso na jurisdição de Barônio,
dizendo que isto era de comum acordo entre “os
escritores mais informados, e os mais notáveis
pelo seu conhecimento da antiguidade” 7 . Os
bispos contestadores de Constantinopla afir-
maram que a sé deles não era somente “igual em
dignidade e autoridade àquela de Roma”, mas
era também superior a “todas as igrejas cristãs”.
Focas não deu atenção aos protestos deles, mas
conferiu a máxima honra ao bispo romano, “e
assim introduziu-se pela primeira vez a supre-
macia papal” 8 .
O título que ainda é tão ambicionado por Ro-
ma não foi assim conferido por cristãos devotos,
mas pelo interesseiro Focas, “um tirano abomi-
nável, que ambicionou o trono imperial passando
por cima do sangue do imperador Maurício” 9 .
O espaço não permite mais explanações a
respeito de outros desvios que continuam até
hoje. Basta dizer que a apostasia veio e cessou
exatamente como os escritores inspirados pro-
fetizaram.

1
16
Citado em John F. Rowe, A History of Reformatory
Movements (“História dos Movimentos de Reforma”),
9a. ed., rev. Cincinnati, Ohio: F. L. Rowe, 1913, p. 304.
7
Mosheim, p. 178.
18
Ibid.
19
Ibid.