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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(7n memoríam)
APRESENTAQÁO
DA EDIQÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos estar
preparados para dar a razio da nossa
esperanga a todo aquele que no-la pedir
(1 Pedro 3,15).
Esta necessidade de darmos conta
da nossa esperanga e da nossa fé hoje é
mais premente do que outrora, visto que
somos bombardeados por numerosas
correntes filosóficas e religiosas contrarias á
_ fé católica. Somos assim incitados a procurar
consolidar nossa crenca católica mediante
um aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
-- aborda questóes da atualidade
-" '-; controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
• dissipem e a vivencia católica se fortaleza no
Brasil e no mundo. Queira Deus abengoar
- - — este trabalho assim como a equipe de
Veritatis Splendor que se encarrega do
respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.


Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.
A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga depositada
em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral
assim demonstrados.
Ano xlii Setembro 2001 472
"...Aquilo para que fui criado" (S. Anselmo)

Sacramentos: por qué?

Por que batizar chancas? E re-batizar?

"Europa sem Deus" (VEJA)

"A invencáo do Cristianismo" (Revista GALILEU)

As Obras Caritativas de Joáo Paulo II em 2000

Poligamia nos Estados Unidos

O caso Me Veigh

Irmáos ou Primos?
PERGUNTE E RESPONDEREMOS SETEMBRO2001
Publicado Mensal N°472

SUMARIO
Oiretor Responsável
Estéváo Bettencourt OSB "...Aquilo para que fui criado"
Autor e Redator de toda a materia (S. Anselmo) 385
publicada neste periódico Prática religiosa:
Sacramentos: por qué? 386
Diretor-Administrador:
Novas linhas pastorais?
D. Hildebrando P. Martins OSB Por que balizar criancas? E re-batizar? ... 388

Administracáo e Distribuicáo: Um balando que faz pensar:

Edicóes "Lumen Christi" "Europa sem Deus" (VEJA) 394

Rúa Dom Gerardo, 40 - 5o andar-sala501 Sensacionalismo:


Tel.: (0XX21) 291-7122 "A invencáo do Cristianismo" (Revista
Fax (0XX21) 263-5679 GALILEU) 399
Relatónos:
Enderezo para Correspondencia: As Obras Caritativas de Joáo Paulo II
Ed. "Lumen Christi" em 2000 411
Caixa Postal 2666 Surpreendente:
CEP 20001-970 - Rio de Janeiro - RJ Poligamia nos Estados Unidos 419

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O caso Me Veigh 428
e "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
na INTERNET: http://www.osb.org.br Sempre em questáo:
e-mail: lumen@alfalink.com..br Irmáos ou Primos? 432

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Obs.: Correspondencia para: Edicóes "Lumen Christi"


Caixa Postal 2666
20001-970 Rio de Janeiro - RJ
"...AQUILO PARA QUE FUI CRIADO"
Santo Anselmo (t 1109) foi monge beneditino e arcebispo de Cantuária
(Inglaterra). Deixou varios escritos preciosos, que Ihe mereceram o título de
"Doutor da Igreja". Nesses escritos encontram-se oracoes, das quais urna vai
a seguir, especialmente destacada:
Que Jiá be íxzer. TwcsomcwDews
O Scvxhor Aitissimo. Tu es o mcw Sensor.
Qwc hÁ toe fAzer E cu mwhca te vi.
Este tcw cxiUbo t*o hn$d No cMtAMto
QwcMÁ&cfAzcr fwi cr¡Aí>o pArA te ver.
Este tcw servo ^ aímüa máo üz Aqwilo
Ansioso pdo ten Amor T>«M*A qMC *"> *<**<>•
E 1aHCAÍ>0 1oM5C bC tWA ^ACC?
Amscía por te contempiAr
£ quÁo grAMbc é
A AWSCHCÍA bC tMA ÍACCÍ
Este belo texto sugere reflexoes:
1) "Exilado...". Exilado é aquele que sabe estar longe da patria; é
caminheiro e viandante em demanda do regaco definitivo. Assim sentia-se
Anselmo, como alias também Sao Paulo, que escreveu: "Sabemos que, en-
quanto habitamos neste corpo, estamos fora da nossa mansáo, longe do Se-
nhor, pois caminhamos pela fé e nao pela visáo" {2Cor 5, 6s). De modo seme-
Ihante todo cristáo tem consciéncia de estar á procura de algo maior e definitivo
que responda as suas aspirapóes mais profundas; anseia por ver a Beleza
Infinita.

2) "...Aquilo para que fui feito". Todo ser humano pode dizer que fez
muita coisa na vida ou realizou tudo o que estava ao seu alcance; apesar disto
a fé Ihe replica que ainda nao realizou o grande ato para o qual foi criado: ver
Deus face a face. As demais tarefas efetuadas neste mundo sao subsidios
para que atinja o supremo termo que é a razao da sua existencia. Esta afirma-
cáo pode causar surpresa a quem a ouve pela primeira vez, mas é lógica de-
corréncia da mensagem do Evangelho. Bem dizia Santo Agostinho: "Senhor,
Tu nos fizeste para Ti e inquieto é o nosso coracao enquanto nao repousa em
Ti" (Confissóes 1,1). Todo cristáo pode dizer corñ Cristo: "Sai do Pai e vim ao
mundo; de novo deixo o mundo e vou para o Pai" (Jo 16, 28).
3) Em conseqüéncia, a vida terrestre toma a feipáo de urna grande pre-
para?áo ou de um noviciado para um encontró face-a-face com a Beleza Infini
ta, única resposta cabal para os anseios mais profundos do ser humano. Esta
afirmacáo nao significa alienacáo aos deveres de estado de cada um, mas, ao
contrario, infunde nova energía e novo estímulo ao cristáo peregrino e lutador
neste mundo.

Possa a oracáo de Santo Anselmo tornar-se a prece continua de cada


amigo de Deus, que nao pode deixar de aspirar á plenitude da vida!
E.B.

385
ti
PERGUNTE E RESPONDEREMOS"

Ano XLII - N9 472 - Setembro de 2001

Prática religiosa:

SACRAMENTOS: POR QUÉ?

Em síntese: Os sacramentos sao sinais que constam do designio,


de Deus, de se daraos homens mediante sinais sensíveis portadores da
graga divina. Tais sao a SSma. Humanidade de Jesús, o Corpo Místico
de Cristo ou a Igreja e os Sete Sacramentos. O designio de Deus
corresponde bem a índole psicossomática do homem, segundo a qual
"nada há no intelecto que nao tenha passado pelos sentidos" (Aristóteles).

Daí compreende-se que o verdadeiro cristáo nao pode prescindir


da prática sacramental.
* * *

O Tratado dos Sacramentos1 se relaciona intimamente com outros


tratados teológicos, como a Cristologia e a Eclesiologia, a Liturgia... Há
em todos estes um denominador comum, que é o conceito de SINAL
(seméion, em grego) eficiente ou sinal que realiza o que ele assinala. Na
verdade, a santíssima humanidade de Cristo é sinal eficiente ou trans-
missor da gracá; a Igreja, como Corpo de Cristo prolongado (cf. Cl 1, 24),
também é tal; a Liturgia, com seus ritos sagrados, continua essa funcáo.
Em conseqüéncia, pode-se dizer que o Cristianismo é essencial-
mente a religiio dos sinais.

E por que isto? - Por duas razóes:

a) o ser humano é psicossomático: passa do visível ao invisível


(prefacio da Missa de Natal). "Nada há no intelecto que nao tenha passa
do pelos sentidos", diz Aristóteles (t 322 a.C);

1 Este artigo corresponde á Introducño no novo livro sobre os Sacramentos a ser


publicado pela Escola "Mater Ecclesiae".

386
SACRAMENTOS: POR QUÉ?

b) o ser humano é social, feito para se desabrochar e formar vendo


e ouvindo dos seus semelhantes as licóes de que necessita. É pelos
sentidos que ele aprende.

Eis, pois, o fluxo dos sinais que atingem cada cristao:

VIDA ETERNA—»- JESÚS CRISTO—» IGREJA —>- 7 SACRA


MENTOS —»► GRACA SANTIFICANTE —♦» CRISTÁO

Muito a propósito escrevia Tertuliano (t 220 aproximadamente):


"A carne (o corpo) é o eixo da saivagáo2... Lavase o corpo a fim de
que a alma seja purificada; unge-se o corpo a fim de que a alma seja
consagrada... O corpo é nutrido pelo Corpo e Sangue de Cristo, a fim de
que a alma se alimente de Deus... Nao podem, pois, ser separados na
recompensa, já que estáo unidos ñas obras da saivagáo" (Sobre a Res-
surreicáo da Carne 8 PL 2, 852). Cf. Rm 12, 1.

A mesma verdade pode ser expressa de duas outras maneiras:


1) Deus se revela aos homens por palavras e por feitos
É o que se lé na Constituicáo Dei Verbum nQ 2:
"Este plano de revelagáo se concretiza através de acontecimentos
e palavras intimamente conexos entre si, de forma que as obras realiza
das por Deus na Historia da Saivagáo manifestam e corroboram os
ensinamentos e as realidades significadas pelas palavras. Estas, porsua
vez, proclamam as obras e elucidam o misterio netas contido. No entan-
to, o conteúdo profundo da verdade seja a respeito de Deus, seja da
saivagáo do homem se nos manifesta pormeio dessa revelagáo em Cris
to, que é ao mesmo tempo mediador e plenitude de toda a revelagáo."
Em síntese, Deus se revela por palavras e por feitos. As palavras
proclamam a mensagem divina, e os feitos corroboram as palavras; es
tas, por sua vez elucidam o significado dos dizeres, donde

Palavras

Feitos

Palavras

ai

Feitos
(Continua na pág. 418)
2 Caro cardo salutis

387
Novas linhas pastorais?

POR QUE BATIZAR CRIANQAS? E RE-BATIZAR?

Em síntese: O Batismo de criangas é implícitamente afirmado pela


S. Escritura e explícitamente professado pela Tradigáo crista. Explicase
pelo fato de que o Batismo nao é mera matrícula numa sociedade cultu
ral, mas é um renascer ou a infusáo de nova vida (filiagáo Divina) na alma
da crianga. Se esta, ao chegar á idade juvenil, recusar os deveres de
cristáo, a graga do Batismo nao perderá seu valor. Aos pais compete dar
aos filhos o que há de melhor, inclusive a oportunidade de renascer da
agua e do Espirito Santo. - A Igreja reconhece o Batismo conferido fora
do Catolicismo quando ministrado com agua e as paiavras rítuais por
quem tenha a intengáo de fazer o que Cristo faz como Sumo Sacerdote;
em caso de dúvida, a Igreja batiza sob condigno: "Se nao és batizado, eu
te batizo...". O presente artigo explana a posigáo da Igreja Católica frente
as comunidades cristas nao católicas.
* * *

Muitos pastoralistas e pais desejariam adiar o Batismo para idade


madura dos candidatos, visto que muitos batizados em idade infantil nao
assumem as conseqüéncias do sacramento quando o deveriam. Em vis
ta dos debates assim oriundos, a Congregagáo para a Doutrina da Fé
publicou aos 20/10/1980 urna ¡nstrucáo sobre o Batismo das Criangas,
em que analisa a problemática. Vejamos o conteúdo deste documento.
1. A S. Escritura nao se refere explícitamente ao Batismo de crian-
cas. Todavía narra que varios personagens pagaos professaram a fé crista
e se fizeram batizar "com toda a sua casa"; assim o centuriáo romano
Cornélio (At 10,1s. 24.44.47s), a negociante Lidia de Filipos (At 16,14s),
o carcereiro de Filipos (16, 31-33), Crispo de Corinto (At 18, 8), a familia
de Estéfanas (1 Cor 1,16). A expressáo "casa" (domus, em latim; oikos,
em grego) tinha sentido ampio e enfático na antiguidade: designava o
chefe de familia com todos os seus domésticos, inclusive as criangas
(que geralmente nao faltavam). Indiretamente, pois, as Escrituras suge-
rem o Batismo de criangas.

Esta impressáo se confirma desde que consideremos que os ju-


deus batizavam os filhos pequeninos dos pagaos que abragassem a fé
de Israel. Ademáis Orígenes de Alexandria (t 250) e S. Agostinho (t
430) atestam que "o costume de batizar criangas é tradigáo recebida dos
Apostólos". No próprio Evangelho, alias, encontra-se a palavra incisiva
do Senhor: "Quem nao renascer da agua e do Espirito, nao poderá entrar

388
POR QUE BATIZAR CRIANQAS? E RE-BATIZAR?

no Reino dos céus" (Jo 3, 5). Estes dizeres sempre foram entendidos em
sentido estrito e aplicados tanto a criancas como a adultos. Quando no
século II aparecem os primeiros testemunhos diretos do Batismo de en
ancas, nenhum deles o apresenta como inovacáo. S. Irineu de Liáo (t
202) considera obvia, entre os batizados, a presenca "das criancas e dos
pequeninos" ao lado dos jovens e dos adultos (Contra as Heresias II24,
4). Sob S. Cipriano de Cartago (f 258), um Sínodo do Norte da África
dispós que se podiam batizar as criancas "já a partir do segundo ou ter-
ceiro dia após o nascimento" (epístola 64 de S. Cipriano).

2. Fazendo eco á S. Escritura e á Tradicáo, os Papas e Concilios


intervieram muitas vezes para recordar aos cristáos o dever de manda-
rem batizar os seus filhos.

O Concilio regional de Cartago, por exemplo, em 418:


"Também os mais pequeninos que nao tenham ainda podido come
ter pessoalmente algum pecado, sao verdadeiramente batizados para a
remissáo dos pecados, a fim de que, mediante a regeneragáo, seja puri
ficado aquilo que eles tém de nascenga" (Denzinger-Schónmetzer,
Enquirídio, ns 223).

Esta doutrina foi reafirmada por toda a Idade Media. No século


XVI, o Concilio de Trento (1547) rejeitou a posicao dos anabatistas, se
gundo os quais "era melhor omitir o Batismo das enancas do que batizá-
las só na fé da Igreja, urna vez que elas ainda nao créem com um ato de
fé pessoal" (DS 1626).

Ainda recentemente, diante de dúvidas levantadas nos últimos tem-


pos, o Papa Paulo VI redigiu o Credo do Povo de Deus, no qual professa:

"O Batismo deve ser administrado também as criancinhas que nao


tenham podido ainda tomarse culpadas de qualquer pecado pessoal, a
fim de que elas, tendo nascido privadas da graga sobrenatural, renasgam
pela agua e o Espirito Santo para a vida divina em Cristo Jesús" ('Credo
ne 18).

3. A razáo teológica pela qual a Igreja pratica o Batismo de crian-


fas, é a seguinte: o sacramento nao é mera matrícula numa associacáo,
mas é um renascer, um receber a vida nova dos filhos de Deus, que tem
pleno sentido mesmo que a crianca ignore o que Ihe acontece; esse re
nascer para a vida eterna é que dá pleno sentido ao primeiro nascimento
(a partir dos país), pois torna a crianca herdeira do Sumo Bem.

O fato de que as criancas ainda nao podem professar a fé pessoal


mente, nao é obstáculo, pois a Igreja batiza os pequeninos na fé da pró-
pria Igreja, isto é, professando fé em nome dos pequeninos. Esta doutri
na acha-se expressa no Ritual do batismo, quando o celebrante pede

389
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 472/2001

aos pais e padrinhos que professem "a fé da Igreja, na qual as enancas


sao batizadas" (nss 2.56).

S. Agostinho dilata o horizonte do cristao ao escrever:

"As criangas sao apresentadas para receber a graga espiritual, nao


tanto por aqueles que as levam nos bragos (embora também por elas, se
sao bons fiéis), mas sobretudo pela sociedade universal dos santos e
dos fiéis... Éa Máe Igreja toda, que está presente nos seus santos, a agir,
pois é ela inteira que os gera a todos e a cada um" (epístola 98, 5).
4. A Igreja só nao batiza as enancas quando os pais nao o querem
ou quando nao há garantía de que a crianca batizada seja educada na fé
católica. Mesmo quando os genitores nao vivem como bons católicos, a
Igreja julga que a crianca tem o direito de ser batizada desde que os
próprios pais ou padrinhos ou a comunidade paroquial se encarreguem
de ministrar-lhe a instrucáo religiosa. Eis o que canon 868 do Código de
Direito Canónico:

§ 1. Para que urna changa seja licitamente batizada, é necessário


que

1S os pais, ou ao menos um deles ou quem legitimamente faz as


suas vezes, consintam;

23 baja fundada esperanga de que será educada na religiáo católi


ca; se essa esperanga faltar de todo, o Batismo seja adiado segundo as
prescrigóes do Direito particular; avisem-se os pais sobre o motivo.
§ 2. Em perigo de morte, a crianga filha de pais católicos, e mesmo
de nao católicos, é licitamente batizada mesmo contra a vontade de seus
pais".

Caso nao Ihe seja possível batizar, a Igreja confia a crianca faleci-
da sem batismo ao amor de Deus, que é Pai e fonte de misericordia,
como se depreende do Rito das Exequias aplicado a tais pequeninos. A
partir de S. Anselmo (t 1109), os teólogos propuseram o limbo como
estado de felicidade natural reservado a tais criangas; elas veriam Deus
indiretamente, como urna criatura, deixada a si mesma, o pode ver. Esta
doutrina tomou-se comum, mas nao é de fé. Hoje em dia bons autores
afirmam que Deus concede as criangas mortas sem batismo a visáo face-
á-face, levando em conta a oracáo universal da Igreja ou a oferta dos
filhos feita pelos pais... E com razáo: a doutrina do limbo supoe que algu-
mas criaturas possam consumar-se na ordem meramente natural; ora
Deus nunca tratou o ser humano apenas como ser racional, mas sempre
como filho elevado á ordem sobrenatural; o homem decaiu desta pelo
pecado original e foi resgatado por Cristo para poder atingir o seu fim

390
POR QUE BAT1ZAR CRIANgAS? E RE-BATIZAR?

sobrenatural (a visáo de Deus face-á-face). Por isto a tese do limbo, que


admite urna felicidade meramente natural, destoa de sólida premissa da
teología católica; conseqüentemente, é cada vez menos professada em
nossos dias.

Passemos as objecóes.

1. Batismo e Ato de Fé

Nos escritos do Novo Testamento, o Batismo se segué á pregacáo


do Evangelho, supóe a conversáo e é acompanhado da profissáo de fé.
Em conseqüéncia, a sucessáo "pregacáo-fé-sacramento" parece normal;
as enancas deveriam estar sujeitas a catecumenato obrigatório.

Respondemos:

1) O Novo Testamento menciona geralmente a conversáo e o Ba


tismo de adultos, pois refere a primeira propagacáo do Evangelho, que
só podia ocorrer entre adultos. Todavía, como observamos, nao excluí o
batismo das enancas; ao contrario, supóe-no em maís de um caso...

2) O Batismo nao é somente um sinal da fé, mas é também a causa


da mesma. Isto quer dizer: O Batismo nao é somente o testemunho da fé
do catecúmeno, mas é também o renascímento do individuo {Jo 3, 5); o
Batismo deposita na alma deste um principio (ou urna sementé, confor
me 1 Jo 3, 9) de vida nova ou de filiacáo divina, que tende a desabrochar
paulatinamente durante todo o decorrer desta vida. Em conseqüéncia,
independentemente do uso da razáo, o Batismo atua no íntimo da enan
ca, comunicando-lhe urna realidade nova, sobrenatural. Ao chegar á ida-
de da razáo, o pequenino pode tomar consciéncia da sua dignidade e
dispor das gracas infundidas na sua alma pelo sacramento.

2. Batismo e liberdade da crianga

Alega-se que o Batismo das enancas constituí um atentado á liber


dade das mesmas. Seria contra a dignidade da pessoa impor-lhe obríga-
cóes religiosas que, mais tarde, talvez nao queira aceitar. Daí a conveni
encia de só se ministrar o Batismo a quem possa assumir Iivremente os
respectivos compromissos.

Respondemos:

1) É de notar que, no plano natural, os pais fazem, em lugar de


seus filhos, opcóes indispensáveis ao futuro destes: assim o regime de
alimentacáo, a higiene, a educacáo, a escola... Os pais que se omitissem
a tal propósito sob o pretexto de salvaguardar a liberdade da crianga,
prejudicariam seriamente a prole. Ora a regeneracáo batismal vem a ser
o bem por excelencia que os pais católicos devem proporcionar aos fi-

391
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 472/2001

Ihos juntamente com a alimentacáo e a educacao; para quem tem fé, a


filiacáo divina é o mais importante de todos os valores.

2) Mesmo que a enanca, chegando á adolescencia, rejeite os de


veres decorrentes do seu Batismo, o mal é entáo menor do que a omis-
sáo do sacramento. Com efeito; o fato de alguém rejeitar a boa educacáo
que recebeu, é daño menos grave do que a omissáo de educacáo por
parte dos país. Observemos ainda que, nao obstante as aparéncias, os
gérmens da fé depositados na alma da crianca poderao um dia reviver;
os pais contribuiráo para isto mediante a sua oracáo e o seu auténtico
testemunho de fé.

3. Ministro e Reitera9§o do Batismo


1. O ministro ordinario do batismo é o Bispo, o presbítero ou o
diácono. Reza, porém, o canon 861 § 2:

"Na ausencia ou no impedimento do ministro ordinario, o catequista


ou outra pessoa para isto designada pelo Ordinario local pode licitamen
te batizar; em caso de necessidade, qualquer pessoa movida por reta
intengao. Os pastores de almas, principalmente o pároco, sejam solícitos
para que os fiéis aprendam o modo certo de batizar".

Isto quer dizer que, em caso de necessidade (por exemplo, em


perigo de vida de urna crianca numa clínica), qualquer pessoa pode bati
zar mesmo que nao tenha sido ela mesma batizada; basta que aplique a
materia (agua natural) e as palavras correspondente ("Eu te batizo em
nome do Pai, do Filho e do Espirito Santo") e tenha a intencao. Os pasto
res de almas, principalmente o pároco, sejam solícitos para que os fiéis
aprendam o modo certo de batizar".

No Brasil, a Conferencia Nacional dos Bispos recebeu da Santa Sé


a faculdade de permitir que as dioceses do Brasil possam designar lei-
gos como ministros extraordinarios do Batismo; deve haver imperiosas
razóes para que isto aconteca. O ministro nao ordenado nao pratica o
exorcismo, nem as uncóes nem o "Efeta" (Abre-te, com a saliva).
2. Diz ainda o Código de Direito Canónico:

"Canon 869 § 1. Havendo dúvida se alguém fot batizado ou se o


batismo foi conferido validamente e se a dúvida permanece após seria
investigagáo, o Batismo (he seja conferido sob condigno.

§ 2. Aqueles que foram batizados em comunidade eclesial nao ca


tólica nao devem ser batizados sob condigáo a nao ser que, examinadas
a materia e a forma das palavras no Batismo conferido, e levando-se em
conta a intengao do batizado adulto e do ministro que o batizou, haja
seria razáo para duvidar da validade do Batismo".

392
POR QUE BATIZAR CRIANgAS? E RE-BATIZAR?

A Conferencia Nacional dos Bispos, depois de urna pesquisa feita


sobre o modo como as comunidades católicas batizam no Brasil, chegou
as seguintes conclusóes:

1) Batizam validamente de modo a excluir outro Batismo, mesmo


sob condicáo: as Comunidades Orientáis Ortodoxas, a Comunidade dos
Velhos-católicos, é a dos Anglicanos (Episcopais), as Luteranas, a
Metodista.

2) Outras comunidades professam conceitos de Batismo diferente


do católico (o Batismo nao justificaría e, por isto, nao seria necessário).
Por isto alguns de seus pastores nao seguem exatamente o rito batismal
prescrito. Todavía, se há certeza de que a pessoa foi batizada de acordó
com o rito adotado por essas comunidades, nao se deve re-batizar nem
sob condicáo. Tais sao: as comunidades presbiterianas, as Batistas, as
Congregacionalistas, as Adventistas, a maioria das Pentecostais (Assem-
bléia de Deus, Congregacáo Crista do Brasil, "Deus é Amor", "Evangelho
Quadrangular", "O Brasil para Cristo"), o Exército da Salvacao (este gru
po nao costuma batizar, mas, quando o faz, costuma fazé-lo validamente).

3) Deixam dúvidas e, por conseguinte, suscitam a necessidade de


novo batismo (sob a condicáo: "Se nao és batizado, eu te batizo...): Igreja
Pentecostal Unida do Brasil (batiza em nome de Jesús, e nao da SS.
Trindade), "Igrejas Brasileiras", Mórmons (negam o papel do redentor de
Cristo), a Igreja Universal do Reino de Deus.

4) Com certeza, batizam inválidamente: as Testemunhas de Jeová


(negam a SS. Trindade), a Ciencia Crista e os grupos religiosos nao cris-
táos, como Umbanda e a Maconaria (na recepcáo de Lawtons).

Ver "Guia Ecuménico", verbete "Batismo", na colecáo "Estudos da


CNBB"n921.

3. O Direito Canónico prescreve outrossim:

'Cañón 870. A críanga exposta ou achada seja batizada a nao ser


que, após cuidadosa investigacáo, conste do seu Batismo".

'Canon 871. Os fetos abortivos, se estiverem vivos, sejam batizados,


na medida do possfvel".

Para aprofundamento:

JESÚS MORTAL S.J., Os sacramentos da Igreja na sua Dimensáo


Canónico-pastoral. Ed. Loyola, Sao Paulo 1987.

393
Um bataneo que faz pensar:

"EUROPA SEM DEUS"

Em síntese: A revista VEJA, ed. de 16/5/01, p. 62 relata o esvazi-


amento das igrejas em geral na Europa Ocidental. O fenómeno deveria
sermais exatamente averiguado. Como querque seja, podem-se indicar
tres principáis causas para o indiferentismo religioso de muitos: 1) o
consumismo, que embota a mente e fecha o olhar dentro do horizonte
terrestre; 2) a dificuldade de viver a Moral católica; 3) o contra-testemu-
nho de fiéis católicos que mais encobrem do que manifestam a face de
Deus. Aos que abandonam a Igreja, mas continuam a crerem Deus, sao
dirigidas palavras de S. Cipriano de Cartago (f 258): "Nao pode ter Deus
por Pal no céu quem nao tem a Igreja por Máe na térra".
* * *

A revista VEJA, edicáo de 16/5/01, p. 62 publicou urna noticia que


chamou a atencáo de muitos cristáos: "Europa sem Deus". - A seguir,
transcreveremos as linhas mais importantes do texto, ao qual seráo acres-
centados alguns comentarios.

1. O texto: Descristianizacáo

«Europa sem Deus


Debandada de fiéis esvazia as ¡grejas e expóe desencanto re
ligioso dos europeus

Na Franca, na Bélgica e na Alemanha, apenas 10% dos católicos


freqüentam a igreja. A cada ano, diminuí em 50.000 a quantidade de in
gleses que assistem as missas de Domingo. Em varios países faltam
padres por causa da queda do número de ordenagóes.
Entre os protestantes, o cenário é igualmente desolador. Sonriente
3% da populagáo comparece aos cultos nos países escandinavos. A cú
pula da Igreja Reformada Holandesa está transformando parte de seus
complexos religiosos em hotel para pagar despesas de manutengáo. A
Catedral de Canterbury, de importancia central na fé anglicana, fica vazia
na manhá de Domingo, o día mais movimentado em qualquer templo crístáo.
O fenómeno é exclusivo da Europa Ocidental. A religiao católica
está em expansáo na América Latina e na África. Mesmo entre os euro
peus há variagoes nacionais. A freqüéncia á igreja continua alta em al
guns países tradicionalmente católicos, como a Irlanda e a Italia, onde

394
"EUROPA SEMDEUS" 11

quase 50% da populagáo adulta vai á missa pelo menos urna vez por
mes. Nao é o único dado surpreendente. Os europeus que deixam de ir
aos cultos cristáos nao mudam de religiáo nem viram ateus, o que explica
o fato de o número de pessoas que acreditam em Deus (50% da popula
gáo européia) ser muito maior que o das que freqüentam urna igreja. Só
4% se declaram completamente ateus. Da mesma forma, a ética crista
aínda orienta a moralidade pessoal da maioria das pessoas. Sessenta
por cento dos holandeses deram adeus á igreja, mas continuam reser
vando urna enorme quantidade de dinheiro para a caridade».

2. Que dizer?

Toda estatística é sujeita a falhas. De resto, o mal e as sombras


costumam chamar a atencao mais do que os valores positivos. Há certa-
mente na Europa muita fé ainda viva e atuante; basta lembrar a Jornada
Mundial de Jovens em Paris no ano de 1999, evento este de que partici-
pou intensamente a juventude francesa para surpresa dos observado
res; as celebracóes do ano jubilar 2000 foram também testemunho de
que os europeus nao estáo "sem Deus", como diz a mánchete de VEJA.

Como quer que seja, é forcoso reconhecer que em certas regióes


da Europa existe o arrefecimento da fé. Donde a pergunta:

2.1. Quais as causas?

Sao muitas e complexas. Todavía tres parecem ser as principáis:


a) Consumismo. Grande parte da Europa vive urna fase de bem-
estar inédito; a tecnología avancada e os lucros daí derivados sao reali
dades que fecham o olhar para os valores transcendentais; Deus pode
parecer desnecessário a quem se senté afagado pela vida. Tal foí o caso
do ricaco da parábola de Le 16,19-31: tudo Ihe ¡a táo bem que ignorava
a presenca de Lázaro posto á sua porta; sofreu tremenda decepeáo quan-
do chamado por Deus para a vida definitiva. O caso pode-se repetir em
nossos dias quando a vida se torna fácil e farta, iludindo o homem acerca
do sentido da existencia humana ou fazendo que esqueca as perguntas
fundamentáis: "Por que vivo? Para que vivo?".

Note-se, alias, que a noticia de VEJA está formulada em termos


contraditórios. Com efeito, a mánchete afirma em letras grandes: "Euro
pa sem Deus", mas o corpo do artigo observa:

- o fenómeno é exclusivo da Europa Ocidental;

- mesmo na Europa Ocidental o artigo faz excecáo para a Italia e


a Irlanda, onde a prática religiosa nao está obliterada;

- "os europeus que deixam de ir aos cultos cristáos... nao viram


ateus";

395
■12 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 472/2001

- "a ética crista aínda orienta a moralidade pessoal da maioria das


pessoas".

Nao é a primeira vez que VEJA exagera e se contradiz em suas


manchetes, provocando um sensacionalismo que o corpo da noticia em
palidece.

b) Dificuldades no plano ético. A Moral católica guarda os princi


pios da lei natural que muitos hoje desconhecem ou, ao menos, nao que-
rem observar. Assim diz ela Nao ao aborto, á eutanasia, ao homosse-
xualismo, ao divorcio, á manipulacáo genética... Tal recusa suscita um
problema de consciéncia em muitas pessoas, que o resolvem optando
pelo mais cómodo ou mais utilitario. Nao se vé por que fazer algum sacri
ficio para observar a lei de Deus quando a lei dos homens facilita uma
saída menos penosa. É certo que as exigencias da Moral católica tém
afastado do Catolicismo muitas pessoas, que váo procurar correntes re
ligiosas "mais abertas" ou preferem ser atéias. Todavía a Igreja nao pode
"comprar a simpatía ou a adesáo do mundo moderno" propondo um
facilitário que traína a lei de Deus. A Igreja deve guardar absoluta fidelida-
de a Cristo; isto Ihe vale o escarnio de muitos, mas também suscita a admi-
racáo e a estima de quem reconhece o valor da coeréncia e da fidelidade.

A Igreja perdeu o reino da Inglaterra em 1534 por causa de um


divorcio solicitado pelo rei Henrique VIII ao Papa, que nao Ihe pode satís-
fazer para ser fiel ao Evangelho. Ela está disposta a manter essa fidelida
de em nossos dias apesar da resistencia do mundo moderno; tal atitude
é um servico prestado á sociedade contemporánea, muito carente de
retidáo e firmeza de bons principios.

c) Contra-testemunho de fiéis católicos. Já o Concilio do Vatica


no II em 1965 observou a responsabilidade dos católicos na propagacáo
do indiferentismo religioso, como se depreende do texto da Constituigáo
Gaudium et Spes ne 19:

«Na verdade os que voluntariamente tentam afastarDeus de seu co-


ragáo e evitar os problemas religiosos, nao seguindo o ditame da sua cons
ciéncia, nao sao isentos de culpa. No entanto os próprios fiéis arcam sobre
isto muitas vezes com alguma responsabilidade. Com efeito, o ateísmo, con
siderado integralmente, nao é algo ¡nato mas antes originado de causas
diversas, entre as quais se enumera também a reagáo crítica contra as reli-
gióes e em algumas regióes sobretudo contra a religiáo crista. Por esta ra-
záo, na gánese do ateísmo, grande parte podem ter os crentes, enquanto,
negligenciando a educagáo da fé, ou por uma exposigao falaz da doutrina,
ou por faltas na sua vida religiosa, moral e social, se poderia dizer que mais
escondem que manifestam a face genuína de Deus e da religiáo».

396
"EUROPA SEM DEUS" 13

O Papa Joáo Paulo II voltou á temática na sua Carta Incarnationis


Mysterium referente ao ano jubilar:

«A historia da Igreja é urna historia de santidade. O Novo Testamento


sublinha esta característica dos batizados: sao 'santos1 na medida em que,
separados do mundo enquanto submetido ao Maligno, consagram-se a pres
tar o culto ao único e verdadeiro Deus. De fato, essa santidade manifestase
ñas vidas de tantos santos e beatos reconhecidos pela Igreja, mas também
na vida de urna multidáo ¡mensa de mulheres e homens desconhecidos
cujo número é impossfvel calcular (cf. Ap 7, 9). Sua vida atesta a verdade do
Evangelho, oferecendo ao mundo o sinal visfvel de que a perfeigáo é possi-
vel. No entanto, é forgoso reconhecer que a historia registra também nume
rosos episodios que constituem um contratestemunho para o cristianismo.
Por causa do vínculo que nos une uns aos outros dentro do Corpo místico,
todos nos, embora nao tendo responsabilidade pessoal por isso e sem nos
sobrepor ao juízo de Deus - o único que conhece os coragóes -, carrega-
mos o peso dos erros e culpas de quem nos precedeu. Mas também nos,
filhos da Igreja, pecamos, tendo impedido á Esposa de Cristo resplandecer
em toda a beleza de seu rosto. Nosso pecado estorvou a agáo do Espirito no
coragáo de muitas pessoas. Nossa pouca fé faz muitos caírem na indiferen-
ga e os afastou de um auténtico encontró com Cristo» (n911).
O texto de VEJA observa que muitos abandonam a Igreja, mas
guardam a fé. A tais pessoas convém lembrar urna página de S. Cipriano,
Bispo de Cartago martirizado em 258.

3. "Nao tem Deus por Pai quem nao tem a Igreja por Máe"
(S. Cipriano)
Sao Cipriano viveu numa época atribulada, em que certos cristáos
de Cartago (África) queriam quebrar a unidade da Igreja, promovendo
um cisma. Isto equivaleria a desprezar a Igreja fundada por Cristo e en
tregue a Pedro e seus sucessores, com a garantía da infalível assisténcia
do Senhor até o fim dos tempos (cf. Mt 16, 16-19; 28, 18-20). Eis o que
escreve em seu livro "Sobre a Unidade da Igreja".

«A Igreja é urna só, embora abranja urna multidáo pelo continuo


aumento de sua fecundidade. Assim como há urna luz nos muitos raios
do sol, urna árvore em muitos ramos, um só tronco fundamentado em
raízes tenazes, muitos ríos de urna única fonte, assim também esta mul
tidáo guarda a unidade de origem, se bem queparega dividida por causa
da inumerável profusáo dos que nascem. A unidade da luz nao comporta
que se separe um raio do centro solar; um ramo quebrado da árvore nao
cresce; coríado da fonte, o rio seca ¡mediatamente. Do mesmo modo a
Igreja do Senhor, como luz derramada, estende seus raios em todo o
397
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 472/2001

mundo, e é urna única luz que a difunde sem perder a própría unidade.
Ela desdobra os ramos por toda a térra, com grande fecundidade; esten-
de-se ao longo dos ríos, com toda liberalidade, e no entanto é urna na cabe-
ca, urna pela origem, urna só máe ¡mensamente fecunda. Nascemos todos
de'seu ventre, somos nutridos com seu leite e animados porseu espirito.
A esposa de Cristo nao pode ser adulterada, ela é incorrupta e
pura, nao conhece mais que urna só casa, guarda com casto pudor a
santidade do único tálamo. Ela nos conserva para Deus, entrega o Reino
dos filhos que gerou. Quem se aparta da Igreja e se junta a urna adúltera,
separase das promessas da Igreja. Quem deixa a Igreja de Cristo nao
alcangará os premios de Cristo. É um estranho, um profano, um inimigo.
Nao pode ter Deus por Pai quem nao tem a Igreja por Máe. Se alguém se
pode salvar, dos que ficaram fora da arca de Noé, também se salvará o
que estiverfora da Igreja. O Senhornos admoesta e diz: 'Quem nao está
comigo está contra mim, e quem nao ajunta comigo, dispersa'. Tornase
adversario de Cristo quem rompe a paz e a concordia de Cristo; aquele
que noutra parte recolhe, fora da Igreja, dispersa a Igreja de Cristo. O
Senhor diz: 'Eu e o Pai somos um1; está ainda escrito do Pai, do Filho e
do Espirito Santo: '£ estes tres sao um\ Quem eré nesta verdade funda
da na certeza divina e adere aos misterios celestiais nao abandona a
Igreja ou déla se afasta, por causa da diversidade das vontades que se
entrechocam. Quem nao mantém esta unidade também nao mantém a leí
de Deus, a fé no Pai e no Filho, nao conserva a vida nem a salvagáo» (PL
4, 510).

Este texto sugere duas reflexóes:


1) o verdadeiro cristáo, que, enxertado em Cristo pelo Batismo (Rm
6, 5), tem Deus por Pai, pertence á Igreja, que é o Corpo de Cristo (Cl 1,
24). Cristo é inseparável da Igreja que Ele fundou, como a cabeca é
inseparável do corpo respectivo. Só há urna Igreja fundada por Cristo,
que goza do caráter de sacramento da salvagáo. Os homens podem fun
dar comunidades, mas nao podem fundar Igreja-sacramento.
2) Fora da Igreja nao há salvagáo... Há dois modos de pertencer
á Igreja: o visível e o invisível. O visível compete aqueles que professam
a mesma fé e recebem os mesmos sacramentos debaixo da mesma hie-
rarquia. O invisível toca aqueles que nao professam a fé católica, mas,
de consciéncia candida e tranquila, seguem fielmente outro Credo, jul-
gando ser o verdadeiro caminho da salvagáo. Estes podem salvar-se,
mas só se salvaráo mediante Cristo e a Igreja; cf. Constituigáo Lumen
Gentium ne 16; Gaudium et Spes nB 22. Ver a propósito PR 464/2001,
pp. 2-9.
Sao estas algumas consideragóes que a noticia de VEJA nos sugere.

398
Sensacionalismo:

"A INVENQÁO DO CRISTIANISMO"


(Revista GALILEU)

Em síntese: A revista GALILEU, de abril 2001, publicou um artigo


segundo o qual Jesús nao seria o fundador do Cristianismo, mas sim o
Apostólo Paulo; os Evangelhos temo sido escritos tardíamente, seguindo
as linhas doutrinárias helenísticas que Paulo haveria comunicado á men-
sagem primitiva de Jesús. - Em resposta podem-se apontar recentes
descobertas de papiros portadores de fragmentos dos Evangelhos de
Marcos e Mateus respectivamente e datados de meados do sáculo I. A
moderna crítica dos Evangelhos chega a admitir continuidade entre Je
sús e a redagáo dos Evangelhos, afastando a hipótese de um hiato entre
o Senhor Jesús e os evangelistas.
* * *

A revista GALILEU, edicáo de abril 2001, traz em sua capa os dize-


res "A Invencáo do Cristianismo" e publica um artigo de Mauricio Tuffani,
cuja síntese vai abaixo reproduzida:

«Para criar uma religiáo mundial, o Jesús libertador do povo


judeu foi transformado no fllho de üeus e ganhou o nome de cristo
A religiáo crista nao comegou com Jesús. Segundo estudos recen
tes feitos por historiadores e teólogos cristáos, a imagem desse homem
como Filho de Deus surgiu alguns anos após sua morte em Jerusalém
por volta do ano 30 do que hoje chamamos Era Crista. Mais aínda: a
versáo de que Jesús teña sido condenado pelo povo judeu passou a ser
construida muito depois de sua morte, com a elaboragáo dos evange
lhos. Diante de um mundo dominado pelos romanos, o cristianismo evi-
tou complicagóes políticas e se distanciou de sua origem: uma seita ju
daica formada porhomens contrarios á dominagáo estrangeira. Liderada
por Tiago, irmao de Jesús, a seita praticamente desapareceu no massa-
cre de Jerusalém pelos romanos na revolta que terminou no ano 70. Para
seus integrantes, Jesús era o Messias, descendente do rei Davi que nas-
cera para libertar o povo judeu da opressáo e fora moño sob acusagáo
de rebeliáo. Fora da Palestina o trabalho iniciado pelo apostólo Paulo
prosseguiu, com a mensagem de um Cristo divino e descomprometido
com a política» (p. 27).

Em suma, Jesús, diz o articulista, quis apenas fundar um movi-


mento político visando á libertacáo do povo judeu oprimido pelos roma
nos. Todavía esse movimento foi sufocado pelos romanos. Entáo Paulo,

399
16 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 472/2001

que era um fariseu, deu urna guiñada a tal iniciativa, helenizando-a ou


tornando-a simpática aos romanos. Os Evangelhos teráo sido escritos
tardíamente, refletindo essa nova feicáo do Cristianismo e lancando a
culpa da morte de Jesús sobre os judeus e nao sobre os romanos.

Pergunta-se: que dizer?

1. A linguagem dos manuscritos

Até época recente registrava-se entre os críticos liberáis a tenden


cia a-distanciar de Jesús a redacáo dos Evangelhos. Esse longo intervalo
ou hiato terá dado ocasiáo a "arranjos" da figura de Jesús, que assim
haverá sido endeusado ou helenizado ou adaptado á mentalidade dos
povos do Imperio greco-romano. - Tais concepcóes forjadas
especulativamente ou em virtude de preconceitos cedem hoje a urna vi-
sáo mais empírica e científica dos fatos. Com efeito; a papiroiogia (ou a
ciencia que estuda os papiros) tem progredido, descobrindo fragmentos
que evidenciam ter sido a redacáo dos Evangelhos efetuada em anos
muito próximos da vida terrestre de Jesús. Eis os mais antigos fragmen
tos papiráceos que hoje possuímos:
1) no Magdalen College de Oxford, o pesquisador alemáo Carsten
Peter Thiede encontrou tres fragmentos que ele e abalizados críticos atri-
buem a meados do século I referentes a Mt 26, como se depreende da
traducáo portuguesa abaixo:

Fragmento 1, verso (Mt 26, 7-8):


derramou-o sobre sua cabega, enquanto ele estava á mesa. Ao
verem isso, os discípulos disseram indignados

Fragmento 2, verso (Mt 26,10):


Jesús percebeu isso e disse: "Por que aborrecéis esta mulher? O
que ela fez por mim

Fragmento 3, verso (Mt 26,14-15):


Entáo um dos doze, o homem chamado Judas Iscariotes, foi até os
cheles dos sacerdotes e disse: "O que estáis dispostos a dar-me
Fragmento 3, anverso (Mt 26, 22-23):
Eles ficaram muito entristecidos e comegaram a perguntar-lhe, um
a um: "Nao eu, Senhor, por ceño?" Ele respondeu: "O que comigo
poe a máo no prato

Fragmento 1, anverso (Mt 26, 31):


Jesús Ihes disse entáo: "Todos vos me renegareis esta noite, pois
está ñas escrituras

Fragmento 2, anverso (Mt 26, 32-33):


eu vos precedereina Galiléia." Pedro, entáo, Ihe disse

400
___ "A INVENQÁO DO CRISTIANISMO" 17

A datacáo de tais fragmentos é feita de acordó com o tipo de letras


gregas utilizadas: trata-se do Zierstil (estilo ornamentado), que caiu em
desuso em meados do século I. O Prof. Thiede escreveu a historia de
sua pesquisa num livro cujo título portugués soa: TESTEMUNHA OCU
LAR DE JESÚS (ed. Imago, 0 XX 21 2293-1092, Rio de Janeiro, RJ). O
título é muito significativo, pois formula a tese do autor, segundo a qual o
Evangelho de Mateus é o relato de quem acompanhou Jesús em sua
vida terrestre. Essa mesma obra também fornece informacóes sobre o
papiro que se segué:

2) Em Qumran, a NO do Mar Morto (Israel), foi encontrado o papiro


classificado como 7Q5 (quinto papiro da sétima gruta de Qumran). O seu
descobridor, Pe. José O'Callaghan S.J., o tem como portador de frag
mentos dos versos de Me 6, 52s\ Pelo seu Zierstil tal documento tam
bém deve datar de meados do século I.

3) O mais antigo papiro do Evangelho de Sao Joáo (Evangelho


escrito por volta de 100) é o Psz, que data do inicio do século II: apresenta
o texto de Jo 18, 31-33.37s. Está guardado na John Ryland's Library de
Manchester sob o número 457.

A papirologia, portanto, atesta a antigüidade da data de redacao


dos Evangelhos, removendo hipóteses segundo as quais tais livros seriam o
eco de remodelacáo esdrúxula da figura de Jesús e de sua mensagem.
Dito isto, vejamos como se concebe a origem e a formacáo dos
Evangelhos segundo os estudos mais recentes.
2. A Origem dos Evangelhos

Os estudos modernos recorrem ao chamado Método da Historia


das Formas. Em que consiste?
2.1. O Método da Historia das Formas

Jesús nada deixou escrito nem mandou que seus Apostólos escre-
vessem, visto que a escrita era difícil e rara na antigüidade. Por isto o
Evangelho foi sendo pregado de viva voz na Palestina e fora desta. Aos
poucos, porém, para facilitar o uso da memoria, os pregadores foram
redigindo secoes avulsas (urna serie de parábolas que ilustrassem o Reino
de Deus, a misericordia do Pai,... urna serie de milagres de Jesús, ou de
altercacóes com os fariseus...). Essas pequeñas unidades (folhas volan
tes) foram sendo colecionadas, de modo a dar urna síntese dos
ensinamentos e dos principáis feitos de Jesús. Quatro dessas sínteses
foram reconhecidas pela Igreja como canónicas ou auténtica Paiavra de
Deus; tais sao os Evangelhos segundo Mateus, Marcos, Lucas e Joao.
' <¿2Nada haviam entendido a respeito dos páes, pois tinham a mente obcecada.
^Terminada a travessia, alcangaram térra em Genesaré e atracaram».

401
18 "PER6UNTE E RESPONDEREMOS" 472/2001

A compilacáo e a redacáo fináis devem ter ocorrido entre os anos


de 50 e 100. Todavia é de notar que foram feitas em continuidade com a
pregacáo anterior, que procedía do próprio Jesús; nao houve hiato entre
Jesús e os evangelistas ou entre o ano 30 (Ascensáo do Senhor) e as
últimas décadas do sáculo I: a palavra do Senhor foi sendo transmitida
ininterruptamente. Ora o Método da Historia das Formas estuda esse
intervalo entre Jesús e os Evangelistas (ou estuda a pré-história do texto
escrito definitivo), procurando reconstituir o ambiente e os fatores que
podem ter influido na redacáo oral e escrita da pregacáo dos Apostólos.
A Igreja Católica reconheceu a validade desse estudo mediante a
Instrucáo Sancta Mater Ecclesia da Pontificia Comissáo Bíblica, de 21/
04/1964. Tal documento apresenta tres fases na confeccáo do texto es
crito do Evangelho.
1) A pregacáo de Jesús aos Apostólos
Jesús, portanto, está na origem do texto que hoje circula (e nao
apenas a fé dos cristáos do fim do século I). A palavra do Senhor foi
entendida com dificuldade pelos Apostólos antes de Páscoa (pois ainda
estavam impregnados de conceitos nacionalistas (cf. Me 4,13; 6,51 s; 8,
16-20; 9,10...). -Todavia depois de Páscoa e Pentecostés os Apostólos
compree'nderam o sentido dos dizeres e feitos do Mestre; entenderam
que o Jesús, companheiro de viagens pelas estradas da Palestina, é o
Kyrios, o Senhor Ressuscitado, o Messias ou o Cristo (ver Jo 2, 22; 12,
16...); alias, o próprio Senhor Ihes havia prometido que o Espirito Santo
Ihes recordaría tudo o que Ele Ihes dissera e os levaría á plenitude da
verdade (cf. Jo 14, 26; 16,12-14; 7, 37-39).
Assim a imagem de Jesús cresceu na mente dos Apostólos; foi
aprofundada e meditada homogéneamente sob a guia do Espirito Santo.
O "Jesús da historia" tornou-se o "Jesús da fé"; é o mesmo Jesús, outrora
percebido com hesitacoes e mal-entendidos, mas finalmente penetrado
auténticamente pela fé e pela experiencia dos seus primeiros seguidores.
Ainda se tém nos Evangelhos vestigios ou ecos diretos da prega
cáo de Cristo ou ipsissima verba Christi (as mesmíssimas palavras de
Cristo); vejam-se, por exemplo,

- a secáo de Mt 16, 16-19, em que se encontram numerosos


aramaísmos, inclusive o trocadilho "Pedro-Pedra", que só podería ocor-
rer em aramaico com a palavra Kepha, e nao em grego (Petros-Petra);
- as disputas de Jesús com os fariseus a respeito de textos bíbli
cos utilizados segundo o método (pesher) dos rabinos antigos: Mt 22,
34-40.41-46; Le 11,29-32;

- as disputas com os saduceus, que também versavam sobre textos


bíblicos interpretados segundo as escolas dos mestres de Israel: Mt 22,23-33...

402
"A INVENCÁO DO CRISTIANISMO" 19

2) Dos Apostólos as primeiras comunidades cristas


Tendo recebido a ordem de pregar ao mundo inteiro (cf. Mt 28,18-
20), os Apostólos disseminaram a Boa-Nova.

O primeiro tema da pregacáo dos Apostólos devia ser a Páscoa,


ou seja, a Paixáo, a Morte e o triunfo final do Senhor Jesús. Quem acei-
tasse esse primeiro anuncio (querigma), era levado á catequese ou ao
estudo da doutrina e dos feitos de Jesús que durante a vida pública havi-
am provocado a condenacáo do Senhor. A pregacáo dos Apostólos po-
dia limitar-se a esses dois momentos; compreendia as ocorréncias entre
0 Batismo e a Ascensáo do Senhor, sem retroceder até a infancia e a vida
de Jesús na casa de Nazaré; cf. At 1, 21.' Foi precisamente o que fez Sao
Marcos no seu Evangelho; Sao Mateus e Sao Lucas acrescentaram episo
dios avulsos da infancia de Jesús (cf. Mt 1-2; Le 1-2) sem ter a intencáo
de fazer urna biografía ou urna narrativa completa da vida do Senhor.2
Ao transmitir a Boa-Nova, os Apostólos e discípulos tmham sem-
pre em vista as circunstancias e particularidades características dos seus
ouvintes.3 Procuravam dar á Palavra de Deus o Sitz im Leben, o lugar, a
ressonáncia na vida dos ouvintes. Assim foram redigindo formas literari
as adaptadas á finalidade da pregacáo:

- a forma da catequese sistemática (Mt 5-7; Le 15...).


- a forma do sermáo litúrgico (cf. as narrativas da Paixáo e Res-
surreicáo em Mt 26-28; Me 14-16; Le 22-24; Jo 13-20);
- a forma de hinos (cf. Fl 2, 5-11; Cl 1,15-20; Ef 1, 3-14; 2Tm 2,11-
13), doxologias (Rm 16, 25s; Jd 24s);

1 Foi Sao Pedro mesmo quem fixou os termos da pregagáo dos Apostólos: ¡a desde
o Batismo ministrado por Joáo até a Ascensáo do Senhor, sendo que a ressurreigáo
era o primeiro e mais importante. Tenhamos em vista as palavras de Pedro antes da
escolha de Matías: "É necessárío que, dentre os homens que nos acompanharam
todo o tempo em que o Senhor Jesús viveu em nosso meio, a comegardo Batismo
de Joáo até o dia em que dentre nos foi arrebatado, um destes se torne conosco
testemunha da sua ressurreigáo" (At 1, 21s).
2 Éisto que explica a lacuna existente, nos Evangeihos, entre os 12 e os 27/30 anos
de Jesús. - Há quem diga que ela se deve a urna hipotética viagem do Senhor pelo
Oriente remoto, de modo que os evangelistas nada sabiam a respeito de Jesús nes-
se período. Tal hipótese é falsa, pois os Evangelistas sabiam que Jesús fora carpin-
teiro (cf. Me 6, 3; Mt 13, 55). Nada ou quase nada escreveram a respeito de tal
período, porque este escapava ao ámbito da pregagáo que os Apostólos tinham em
vista. Cf. PR 206/1977, pp. 61-76.
3 Comparem-se entre siAt 13, 16-41 e At 17, 22-31. No primeiro caso, Sao Paulo em
Antioquia da Pisídia prega a judeus recorrendo aos textos e feitos do Antigo Testa
mento, familiar aos ouvintes. No segundo caso, o Apostólo em Atenas prega aos
filósofos pagaos gregos utilizando nao o Livro Sagrado, mas argumentos filosóficos
e testemunhos da tradigáo do povo ateniense.

403
20 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 472/2001

- a forma de apología: havia textos do Antigo Testamento devida-


mente selecionados para provar a messianidade de Jesús: Is 7, 14 (cf.
Mt1,23);Mq5, 1 (cf. Mt 2, 6); Os 11, 1 (cf. Mt 2,15); Jr 31,15 (cf. Mt 2,
18); Is 40, 3 e MI 3,1 (cf. Me 1, 2s); Is 8, 23-9, 1 (cf. Mt 4,15s)...;
- a forma de controversia destinada a responder as objecóes le
vantadas pelos ouvintes; os Apostólos tiravam do repertorio das respos-
tas de Jesús as palavras adequadas as necessidades dos seus
interlocutores: assim devia haver dúvidas a respeito do sábado (Me 2,
23-3, 6), de casamento e divorcio (Mt 5, 31 s; 19, 3-12), do jejum (Me 2,18-
22; Mt 6,16-18), da volta do Senhor (Mt 24, 36; 24, 42-25,13; Me 13, 32)...
Assim se foi desenvolvendo homogéneamente a mensagem dei-
xada por Jesús sob forma seminal. Todo este trabalho foi assistido pelo
Espirito Santo para que nao houvesse desvio nem perversáo, como o
próprio Senhor o predisse; cf. Jo 14,26; 16,12s. Esta afirmagáo é essen-
cial para o cristao; nao sementé a fé a sugere, mas também argumentos
de ordem racional, que adiante seráo apresentados. O cristao eré que o
texto escrito dos Evangelhos, embora tenha passado pelas fases prelimi
nares que urna mensagem possa atravessar, é o eco fiel da doutrina de
Jesús, desdobrada orgánicamente pelos Apostólos e discípulos a fim de
a encarnar ñas diversas comunidades por eles fundadas.
3) Das primeiras comunidades aos Evangelistas
Aos poucos foi tomando vulto ñas comunidades cristas o desejo de
possuir por escrito o ensinamento de Jesús. Devem ter sido redigidos
entáo pequeños blocos literarios avulsos portadores ou de parábolas ou
de milagres ou de altercacóes ou de traeos biográficos de Jesús.
Essas pegas independentes foram sendo aos poucos agrupadas a
fim de se ter o ensinamento completo de Jesús. Dos muitos ensaios re
sultantes dessa tarefa (cf. Le 1,1), quatro foram reconhecidos pela Igreja
como auténtica Palavra de Deus ou como canónicos: os de Mateus, Mar
cos, Lucas e Joáo.

O agrupamento foi colocado dentro do quadro da vida terrestre de


Jesús. Os mensageiros da Boa-Nova conceberam um esquema simples
da vida pública do Senhor, composto de quatro partes:

1) preparagáo do ministerio de Jesús (Joáo Batista, Batismo do


Senhor, tentacoes...);
2) a pregacáo na Galiléia, com centro em Cafamaum, á margem
do lago de Genesaré;

3) a subida a Jerusalém;
4) os acontecimentos da última semana na Cidade Santa e a glori-
ficacáo do Senhor Jesús.

404
"A INVENgÁO DO CRISTIANISMO" 21

Dentro deste esquema biográfico foram sendo enquadrados os blo-


cos que a pregacáo anterior transmitía independentemente uns dos ou-
tros.

Está claro que cada Evangelista, tendo recebido da Igreja a men-


sagem de Jesús formulada pelos Apostólos, Ihe deu o seu cunho próprio,
enfatizando mais este ou aquele aspecto da Boa Nova e da figura do
Senhor (Mateus, por exemplo, é o Evangelista dos judeo-cristaos, Lucas
o dos pagaos convertidos ao Cristianismo).

A cronología da origem dos Evangelhos pode ser assim concebida:

Mt aramaico5o Tradicáo joanéia

Me grego65/70

^^ __^— Lcgrego75

Mt gregogo

Joáo gregoioo

As datas ácima sao aproximadas, mas muito prováveis. A primeira


redacáo do Evangelho deu-se por obra de Mateus na térra de Israel e,
por isto, em aramaico. Esta redacio serviu de modelo para Marcos e
Lucas, que utilizaram o esquema de Mateus, acrescentando-lhe caracte
rísticas pessoais. O texto de Mateus foi traduzido para o grego, visto que
o aramaico entrou em desuso quando Jerusalém caiu em poder dos ro
manos no ano de 70; o tradutor, desconhecido a nos, retocou e ampliou o
texto aramaico, servindo-se de Me. Isto quer dizer que o texto grego de
Mateus (único existente, porque o aramaico se perdeu) é, segundo al-
guns aspectos, o mais arcaico e, segundo outros aspectos, o mais recen
te dentre os sinóticos.

Pergunta-se agora:

2.2. Pode-se crer nos Evangelhos?

Há quem julgue que a mensagem de Jesús, tendo passado por


varias instancias intermediarias, foi sendo aos poucos desfigurada, de

405
22 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 472/2001

modo que o texto escrito já nao refere a verdade histórica. - Em resposta


observaremos o seguinte:

2.2.1. Testemunhas

Os Apostólos eram muito ciosos da fidelidade a Jesús e á realida-


de histórica. Tinham consciéncia de que a Revelacáo de Deus aos ho-
mens passou pela trama da historia do Antigo Testamento e da vida de
Jesús; os acontecimentos da historia da salvacáo sao portadores de men-
sagem; ligam-se a verdades, como também as verdades da Revelacáo
se prendem a fatos históricos. Sao Paulo chega ao ponto de dizer: "Se
Cristo nao ressuscitou, vazia é a nossa pregacáo, vazia também é a nos-
sa fé... Se Cristo nao ressuscitou, ilusoria é a vossa fé" (1Cor 15,14.17).
Isto quer dizer que toda a sublimidade da sabedoria crista se retira de
campo ou renuncia a se apresentar se nao está ligada ao fato concreto
histórico da Ressurreicáo corporal de Jesús. Por conseguinte, em perspec
tiva crista nao se pode, sem mais, negar a historia bíblica e, apesar disto,
afirmar a doutrina religiosa do Cristianismo. Isto se evidencia, entre outras
coisas, pelo fato de que os Apostólos nao queriam ser senáo testemunhas...
Com efeito; os conceitos de "testemunho", "testemunha" e "testemunhar"
ocorrem mais de 150 vezes nos escritos do Novo Testamento. Ora "testemu
nha" é a pessoa que está habilitada a fazer afirmacoes verídicas, pois tem o
conhecimento de causa mais seguro, que é a própria experiencia pessoal.

É interessante notar a insistencia com que os Apostólos se apre-


sentam como testemunhas de Jesús; afirmam nao transmitir senáo o
que viram e ouviram. Parece, de certo, que a regra de "testemunhar ape
nas", sem nada acrescentar de falso, marcava profundamente a vida e a
profissáo de fé das antigás comunidades cristas. Tenham-se em vista as
seguintes passagens:

Quando entre a Ascensáo e Pentecostés os Apostólos trataram de


substituir Judas, o traidor, estipularam, como qualidade própria do novo
Apostólo, a de testemunha, e... testemunha principalmente da ressurrei
cáo do Senhor. Tais foram entáo as palavras de Sao Pedro:

"Convém que, dentre esses homens que tém estado em nossa com-
panhia todo o tempo em que o Senhor Jesús viveu entre nos, a comegar
do batismo de Joáo até o dia em que de nosso meio foi arrebatado, um
deles seja incluido em nosso número, como testemunha da sua ressur-
reicáo" (At 1, 21s).

No dia de Pentecostés, afirmava Sao Pedro: "A esse Jesús, Deus


ressuscitou. Disto todos nos somos testemunhas" (At 2, 32).

No seu segundo sermáo, voltava a dizer Sao Pedro: "Matastes o


príncipe de vida, mas Deus o ressuscitou dos morios. Disto nos somos
testemunhas" (At 3, 15).

406
"A INVENQÁO DO CRISTIANISMO" 23

Diante do sinedrio, Pedro e os Apostólos responderam:


"Foi Deus quem, com a sua destra, elevou (a Jesús) como Príncipe
e Salvador para dará Israel o arrependimento e a remissáo dos pecados.
E nos somos testemunhas dessas coisas, nos e o Espirito Santo, que
Deus deu a todos os que Ihe obedecem" (At 5, 31 s).
Em casa de Cornélio, dizia S. Pedro: "Enós somos testemunhas
de tudo que (Jesús) fez no país dosjudeus e em Jerusalém. Eles O ma-
taram, suspendendo-0 a um madeiro. Deus, porém, O ressuscitou ao
terceiro dia, e permitiu-Lhe aparecer de modo visfvel, nao a todo o povo,
mas as testemunhas antes escolhidas por Deus: a nos, que comemos
e bebemos com Ele, depois que ressuscitou dos moños" (At 10, 39-41).
Palavras de Sao Paulo: "... Mas Deus O (Jesús) ressuscitou dos
morios. Pormuitos días apareceu aqueles que com Ele tinham subido da
Galiléia para Jerusalém e que sao agora suas testemunhas perante o
povo" (At 13,30s).

Sao Paulo, ao contar sua conversáo, refere a seguinte ordem de


Deus:

"Levanta-te e pde-te em pé, pois eu te aparecí para te constituir


ministro e testemunha das coisas que viste, e de outras para as quais
hei de me manifestar a ti" (At 26, 16).

Sao Paulo fazia questáo de lembrar aos corintios as principáis tes


temunhas da ressurreicáo:

"Cristo morreu por nossos pecados, conforme as Escrituras; foi se


pultado e ressuscitou ao terceiro dia, conforme as mesmas Escrituras;
apareceu a Cefas e depois aos doze. Posteriormente, apareceu, de urna
vez, a mais de quinhentos irmáos, dos quais a maior parte vive até hoje,
tendo alguns falecido. Depois apareceu a Tiago e, em seguida, a todos
os apostólos. Porfim, depois de todos, apareceu também a mim, como a
um abortivo" (1Cor 15, 3-8).

Por fim, Sao Pedro escrevia aos fiéis da Asia Menor:


"Eu, presbítero... etestemunha dossofrimentos de Cristo..."(1Pd5,1).
Alias, ao acentuar o seu papel de testemunhas, os Apostólos nao
faziam senáo cumprir os dizeres do Mestre: "Seréis minhas testemu
nhas" (At 1, 8; cf. Le 24, 48).

Intencionando, pois, passar por testemunhas, os Apostólos teráo


tomado o devido cuidado para ser fiéis á mensagem de Cristo.

2.2.2. Os mitos e o Evangelho

Nao há dúvida, na Igreja nascente houve tentativas de deteriorar a


mensagem evangélica. Sao Paulo se refere a fábulas, erros gnósticos,

407
24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 472/2001

dualistas, docetistas..., que ele compreendia sob a palavra grega mythoi,


mitos, e cuidou zelosamente de que tais mitos nao se mesclassem com a
auténtica doutrina do Cristianismo, chamada logos.

Observemos como os Apostólos tinham consciéncia de que os mi


tos nao fazem parte da mensagem evangélica e, por isto, devem ser
banidos da pregacáo:

1Tm 1, 3s: "Ao partir para a Macedónia, pedi-te (ó Timoteo) que


permanecesses em Éfeso a fim de admoestares certas pessoas a nao
ensinarem doutrina diferente nem se apegarem a fábulas (mythois,) e
genealogías intermináveis".

Sao Paulo tinha em vista lendas inventadas no século I d.C. para


esclarecer fatos do Antigo Testamento; visava também a pesquisas que
correspondiam ao gosto dos doutores judaicos e dos homens ecléticos
da época.

Mais adiante volta o Apostólo a exortar:

"Rejeita as fábulas (mythous; profanas, verdadeiros contos de ve-


Ihas. Exercita-te na piedade" (1Tm 4, 7).

Na segunda carta a Timoteo lé-se ainda:

"Os homens afastaráo os ouvidos da verdade e os aplicaráo as


fábulas (mythous/1 (2Tm 4, 4).

Mais:

Tt 1,13s: "Sede saos na fé nao deis ouvidos a fábulas (mythoisj


judaicas ou mandamentos de homens desviados da verdade".

2Pd 1,16: "Nao foi seguindo fábulas fmythoisj sutis, mas por ter
mos sido testemunhas oculares da sua majestade que vos demos a co-
nhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesús Cristo".

Do mythos se distingue o logos, a palavra, que Sao Paulo muito


recomenda:

Rm 10,8: "Ao teu alcance está a palavra da fé que nos pregamos".

1Ts 2,13: "Sem cessar agradecemos a Deuspor terdes acolhido a


sua Palavra, que vos pregamos nao como palavra humana, mas, como
na verdade é, a Palavra de Deus, que está produzindo efeito em vos".

2Tm 2, 9: "Pelo Evangelho sofro até as cadeias... Mas a Palavra


de Deus nao está algemada".

2Tm 2, 15: "Procura apresentar-te... como um trabalhador... que


dispensa com retidáo a palavra da verdade".

Ver ainda Tt2, 5; Tg 1, 22s; Uo 1, 1;At 13, 26.

408
"A INVENQÁO DO CRISTIANISMO"

Donde se vé que nao se deve admitir tenha sido a mensagem cris


ta penetrada por mitos e confundida com estes, como se os primeiros
pregadores da mesma fossem simplórios e destituidos de discemimento.
De resto, os mitos todos tém estilo vago, do ponto de vista da cro
nología e da topografía; nao podem propor quadro histórico e geográfico
preciso; é o que os isenta de controle. Ora dá-se o contrario nos Evange-
Ihos: a topografía da Palestina é por estes minuciosamente mencionada-
também a cronología respectiva é relacionada com a cronología profana'
como se depreende de Le 2, 1 (referencia a César Augusto) e Le 3 1s
(referencia a Tiberio César, Pondo Pilatos, Herodes, Filipe, Lisánias'...).
Mais ainda: nenhum criador de mitos teria inventado o "mito" do
Evangelho, cujos traeos sao desafiadores e exigentes para a mente hu
mana: a mensagem de Deus feito homem e, mais,... crucificado era es
cándalo para os judeus e loucura para os gregos (1Cor 1,23). A promes-
sa de ressurreicáo ou de re-uniáo da alma com o corpo era contraria ao
pensamento grego; a Moral crista, que valorizava a mulher, a crianca
mesmo indesejada, a familia, o trabalho manual, o escravo (cf. a epístola
a Filemon...), a estrita monogamia sem divorcio..., só podía encontrar
oposicio da parte da Filosofía greco-romana. Nada disto tinha condicoes
de partir da mente dos homens do século I da nossa era.
2.2.3. Os apócrifos

Era natural que a fantasía humana elaborasse lendas e estórías a


respeito de Jesús, visando a completar, de algum modo, o logos ou a
Palavra da pregacáo dos Apostólos. Acontece, porém, que a Igreja, sabi
amente guiada pelo Espirito Santo, soube discernir da historia real essas
fiecóes, relegando-as para a literatura apócrifa. Esta é caracterizada por
estilo evidentemente imagínoso e ficticio, bem diferente do dos Evange-
Ihos canónicos, como se pode perceber através de simples amostragem:
"O menino Jesús tinha cinco anos quando um dia se encontrava a
brincar sobre a passarela de um riacho depois da chuva. Recolhendo a
agua em pequeñas vasilhas, tornava-a cristalina no mesmo instante e a
dominava apenas com a sua palavra.

Depois fez urna massa de barro e com ela plasmou doze passari-
nhos. Era entáo sábado e havia outros meninos a brincar com Jesús.
Certojudeu, vendo o que Jesús acabara de fazer em dia de festa,
foi ter correndo com seu pai José e ¡he contou tudo: 'Olha, teu filho está
no riacho e, tomando um pouco de barro, fez doze pássaros, profanando
assim o sábado'.

José foi ter com Jesús e, ao vé-lo, censurou-o dizendo: 'Por que
fazes no sábado o que nao é lícito fazer?' Jesús entáo bateu palmas e se
409
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 472/2001

dirígiu aos passarinhos de barro, dizendo-lhes: 'Ide-vosV E os passari-


nhos todos se puseram a voar e cantar.
Ao ver feto, osjudeus se encheram de admiragáo e foram contara
seus chefes o que tinham visto Jesús fazer" fEvangelho do Pseudo-
Tomé II).
"Aconteceu que umjovem, ao cortar lenha, deixou cair o machado,
que Ihe cortou a planta do pé. O infeliz ia morreado aos poucos por causa
da hemorragia. Houve entáo grande alvorogo e tumulto de muita gente.
Jesús também se fez presente; depois de abrir passagem, pela forga,
entre a multidáo, chegou perto do rapaz ferido, e com sua máo apertouo
pé danificado dojovem, e este ¡mediatamente ficou curado. Disse entáo
Jesús ao mogo: 'Levanta-te já; continua a cortar lenha e lembra-te de
mim'. A multidáo, ao vero ocorrido, adorou o menino, exclamando: 'Real
mente neste menino habita o Espirito de Deusi'" (ib. n9X).
"Quando Jesús tinha seis anos, sua máe deu-lhe um jarro para que
o fosse encher de agua e o levasse para casa. Mas Jesús tropegou no
caminho e o cántaro se quebrou. Entáo ele estendeu o manto que o co-
bria, encheu-o de agua e levou-o a sua máe. Este, ao ver tal maravilha,
pós'-se a beijar Jesús. E conservava em seu coragáo todos os misterios
que ela o via realizar" (ib. n9XI).
Ao contrario do que se dá nos apócrifos, quem lé os Evangelhos
canónicos, observa ai notável sobriedade de estilo, síntoma de que os
Evangelistas tinham consciéncia de que a sua mensagem narrada com
simplicidade tinha em seu favor o fascínio e o poder da verdade e, por
isto, nao precisava de ser "embelezada" artificialmente para encontrar a
aceitacáo do público.
Pode-se, pois, concluir que a mensagem do Evangelho é de ori-
gem transcendente e nao terá sido produto do ficcionismo de judeus ou
de pagaos da antigüidade. - É isto que mais urna vez nos compete afir
mar diante das noticias sensacionalistas de certa imprensa.

A propósito:

GUITTON JEAN, Jesús. Ed. Itatiaia, Belo Horizonte.


LAMBIASI, E, Autenticidade histórica dos Evangelhos. Ed.
Paulinas.
MESSORI, VITTORIO, Hipóteses sobre Jesús. Ed. Paulinas.
TÉRRA, JOÁO EVANGELISTA MARTINS, Jesús. Ed. Loyola.
PR 219/1978, pp. 95-108 {panorama da moderna crítica dos Evan
gelhos).

410
Relatónos:

AS OBRAS CARITATIVAS DE
JOÁO PAULO II EM 2000

Em smtese: O S. Padre Joáo Paulo II exerce intensa atividade


caritativa mediante tres órgáos filiados á Santa Sé: o Pontificio Con
selho Cor Unum, a Fundagáo Joáo Paulo II para o Sahel e a Funda-
gao Populorum Progressio. Anualmente esses órgáos prestam con-
tas do dinheiro distribuido a populagóes flageladas ou de algum modo
carentes. As paginas que se seguem, propóem os relatónos referen
tes ao ano 2000.
* * #

O Santo Padre recebe doacoes da parte de dioceses, Fundacóes


Instituicoes e pessoas particulares, para que possa atender as necessi-
dades dos homens em geral, sem distincáo de credo. Joáo Paulo II o faz
mediante tres órgáos filiados á Santa Sé:

- o Pontificio Conselho Cor Unum, fundado em 1971 por Paulo VI


e destinado a socorrer populacoes flageladas e á promocáo humana em
geral;

- a Fundacáo Joáo Paulo II para o Sahel, fundada em 1984 por


Joao Paulo II e voltada para as regioes africanas do Sahel sujeitas á
seca e á desertificacáo;

- a Fundacáo Populorum Progressio, criada em 1992 para favo


recer a promocáo humana e crista de populacóes de agricultores indíge
nas, mesticos e afro-americanos pobres da América Latina.
O jornal L'OSSERVATORE ROMANO, ed. francesa de 24/04/01
publicou os relatórios das obras caritativas efetuadas pelo S. Padre atra-
vés dos tres mencionados organismos. Reproduzimo-los ñas páginas sub-
seqüentes.

1. Pontificio Conselho Cor Unum

O Pontificio Conselho Cor Unum atende tanto aos casos de cala


midades públicas emergenciais como aos de promocáo humana em cir
cunstancias ordinarias. Eis os dois relatórios daí decorrentes:
411
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 472/2001
28

1.1. Em favor de vítimas de situacóes calamitosas

TIPO DE CATÁSTROFE AJUDA EM US$


PAÍS
Terremoto 55.000
TAIWAN
Seca 15.000
RUANDA
Inundacóes 10.000
PERÚ
Refugiados 15.000
SÍRIA
Inundacóes 140.000
MOCAMBIQUE
Guerra civil 20.000
INDONESIA (Molucas)
Guerra civil 21.000
INDONESIA (Timor oriental)
Seca 20.000
QUÉNIA
Conflitos étnicos 25.000
NIGERIA
Refugiados 24.500
TANZANIA
Inundacóes e desmorona-
VENEZUELA
mentos 30.000

Catástrofe climática 30.000


MONGÓLIA
Seca 100.000
ETIOPIA
Guerra 20.000
AFEGANISTÁO
Repatriamento de refugiados 15.000
REP. DEM. DO CONGO
Desordens étnicas 20.000
FILIPINAS
Ciclones 20.000
MADAGASCAR
Inundacóes 30.000
ZIMBABWE
Inundacóes 50.000
CORÉIA DO NORTE
Terremoto 2.000
FILIPINAS
Refugiados 115.000
KOSOVO
Refugiados da Eritréia 15.000
SUDÁO
Inundacoes 20.000
REPÚBLICA TCHECA
Inundacóes 5.000
ROMÉNIA
Inundacóes 2.000
ÍNDIA
Refugiados 15.000
ZÁMBIA
Catástrofe nuclear 20.000
UCRANIA
UCRANIA Chancas vítimas de
Tchernobyl 60.000

Refugiados 20.000
ERITRÉIA
Inundacoes 53.300
ITALIA
Refugiados 10.000
UGANDA
Inundacóes 30.000
VIETNAM
1.027.800
TOTAL

412
AS OBRAS CARITATIVAS DE JOÁO PAULO II EM 2000 29

1.2. Em favor de Projetos de Promovió Humana e Crista

PAÍS SETOR CONTRIBUICÁO


EM USS
VIETNAM Criancas 15.000

RUANDA Cidade das Crianzas 5.000

CAMARÓES Saúde 20.000

EQUADOR Promocáo Social 20.000

REP. DEM. DO CONGO Promocáo Social 22.100

REP. DEM. DO CONGO Casas para as vítimas da


guerra 10.000

VIETNAM Educacáo 3.000

RUANDA Casas para os desabrigados 6.200

ANGOLA Promocáo Social 25.000

BRASIL Promocáo Social 20.000

QUÉNIA Saúde 20.000

LÍBANO Promocáo feminina 18.000

MADAGASCAR Centro Social 4.000

NIGERIA Alfabetizacáo 10.000

ROMÉNIA Criancas abandonas 10.000

INDONESIA Saúde 5.000

ITALIA Reinsercáo social de criancas


e jovens 103.440

BRASIL Assisténcia Social 10.000

MÉXICO Promocáo Social 25.000

MOQAMBIQUE Saúde 40.000

JERUSALÉM Educacáo de órfáos 20.000

TANZANIA Maternidade 2.000

HAITÍ Órfáos 5.000

REP. ÁRABE DO EGITO Promocáo Social 12.000

REP. DEM. DO CONGO Agricultura e Alimentacáo 20.000

REP. DEM. DO CONGO Criancas 20.000

CAMARÓES Agricultura e Alimentacáo 25.000

HAITÍ Energía Solar 13.000

IUGOSLÁVIA Socio-pastoral 20.000

413
30 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 472/2001

PAÍS SETOR CONTRIBUICÁO


EM USS
COSTA RICA Socio-pastoral 2.500

CROACIA Assisténcia a Mulheres em


Dificuldades 10.000

ÍNDIA Pobres 5.000

ÍNDIA Promogáo Social 12.000

QUÉNIA Promogáo Social de Jovens 20.000

NIGERIA Promogáo Social 20.000

PERÚ Promogáo Social de Jovens


Agricultores 25.000

SUÉCIA Promocáo Social de


Imigrantes e Refugiados 10.000

MADAGASCAR Promogáo Social de Jovens 15.000

UCRANIA Changas 10.000

ERITRÉIA Agricultura e Alimentagáo 20.000

TURCMENISTÁO Desabrigados 20.000

VIETNAM Promogáo Social de Mogas 20.000

ETIOPIA Criangas Deficientes 20.000

GANA Sócio-pastoral 5.000

TANZANIA Sócio-pastoral 20.000

TANZANIA Cantina Escolar 25.000

CROACIA PessoasIdosas 20.000

GEORGIA Criangas Abandonadas 25.000

ÍNDIA Casas para Desabrigados 10.000

LÍBANO Alimentagáo 15.000

TANZANIA Agricultura e alimentagáo 5.000


VIETNAM Criangas 15.000

VIETNAM Equipamentos 15.565

TOTAL 888.805

414
AS OBRAS CARITATIVAS DE JOÁO PAULO II EM 2000 31

Passemos ao relato de cada urna das duas outras organizacóes


caritativas da Santa Sé.

2. Fundacáo Joáo Paulo II para o Sahel

Esta Fundacáo tem por capital o resultado da coleta efetuada pela


Igreja na Alemanha em resposta ao apelo lancado pelo Santo Padre aos
10 de maio de 1980 em Ouagadougou. Além disto, é sustentada pela
generosidade da Conferencia dos Bispos da Italia, pelo apoio da Papal
Foundation, de diversos Institutos religiosos como também de associa-
cóes e fiéis particulares. Realizou o financiamento de 312 pequeños pro
jetos na luta contra a seca e a desertificacáo das regioes saarianas (Áfri
ca), num total de US$ 2.992.097,26; a hidráulica, a agricultura e a saúde
foram assim beneficiadas, como se pode depreender da relacáo a se
guir:

Total
Total
financiamentos
PAÍS

A B C D E F G H projetos
concedidos
aprovados
emUSS

BURKINA FASO 20 27 17 27 14 4 43 13 8 173 1.174.895,67

CABO VERDE 0 0 1 0 0 0 2 0 0 3 84.448,29

GÁMBIA 3 1 1 0 0 0 0 0 1 6 82.458,91

MALÍ 0 3 0 4 2 0 3 1 0 13 196.747,78

MAURITANIA 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 7.562,96

NIGERIA 11 4 2 3 1 1 1 7 0 30 204.313,59

SENEGAL 4 4 5 8 3 2 2 0 2 30 718.617,63

TCHAD 12 5 2 17 0 10 4 6 0 56 523.052,43

Total 50 44 28 59 20 17 55 27 12 312 2.992.097,26

A) Ambiente, B) Agricultura, C) Criacáo de gado, D) Animacáo, E)


Automacáo, F) Gestáo de projetos, G) Hidráulica, H) Saúde, I) Formacáo
técnica.

3. Fundacáo Populorum Progressio

Este organismo está voltado para as populacóes pobres da Améri


ca Latina. Tem por capital o fundo do mesmo nome, instituido pelo Papa
Paulo VI aos 26 de marco de 1969 e é apoiado por instituicóes diversas
como por personalidades particulares.

Eis o quadro de projetos aprovados pela Fundacáo em 2000:

415
32 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 472/2001

NÚMERO DE CONTRIBUICÓES
PAÍS PROJETOS CONCEDIDAS
APROVADOS EMUSS

ARGENTINA 1 9.000

BOÜVIA 16 143.000

BRASIL 18 153.700

COLOMBIA 23 208.900

COSTA RICA 11 96.400

CUBA 6 62.600

CHILE 13 103.600

EQUADOR 14 124.000

SALVADOR 8 76.500

GUATEMALA 10 97.300

HAITÍ 3 30.000

HONDURAS 1 5.000

MÉXICO 11 100.400

NICARAGUA 9 77.500

PANAMÁ 8 80.000

PARAGUAI 11 90.400

PERÚ 30 276.800

REP. DOMINICANA 9 86.700

URUGUAI 2 20.900

VENEZUELA 4 30.800

ATIVIDADES DE PROMOCÁO 1 50.000

TOTAL 209 1.923.500

Eis a reparticáo em % por setor beneficiado:

EDUCACÁO Formacáo de educadores 9,6%


Comunicacáo 1,6%

Construcóes 4,3%
Transportes e Equipamentos 3,9%
Reunióes 0,8%

416
AS OBRAS CARITATIVAS DE JOÁO PAULO II EM 2000 33

INFRA-ESTRUTURAS Agua potável 8,9%


Eletrificacáo 0,4%

Servicos de Higiene 2,7%


Saldes Comunitarios 1,2%

PRODUCÁO Criacáo de gado 40,7%


Artesanato 1,9%
Micro-empresas 7,0%
Lojas comunitarias 1,2%

SAÚDE Formacáo de agentes 2,7%


Construcóes 0,8%
Transportes e equipamentos 1,9%

ALOJAMENTOS Construcóes 3,1%

TOTAL 100%

Sejam enumeradas ainda outras iniciativas.

4. Outros tipos de ajuda

Em preparacáo do ano 2000, foi fundado na Italia o Movimento


Pañis Caritatis (Pao da Caridade), que exerceu suas atividades em 2000
com os seguintes resultados:

Projeto de fornos para a producáo de pao em Kinshasha (Repúbli


ca Democrática do Congo): US$ 99.750.

Projeto de assisténcia médica a máes e enancas em Guiné-Bissau:


US$ 52.500.

Em favor dos refugiados do Sudáo em Uganda: US$ 57.750.

Ajuda ao desenvoivimento da criacáo de animáis em Kabgayi


(Ruanda): US$66.150.

Escolarizacáo de enancas órfás e pobres de Kabgayi (Ruanda):


US$ 19.950.

Equipamento de oficinas de carpintaria em Kaemba (República


Democrática do Congo): US$ 10.500.

Projeto de fornos para pao em Lodja (República Democrática do


Congo): US$ 32.260.

Total de financiamentos: US$ 335.850.

417
34 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 472/2001

O Santo Padre reconhece que as contribuicoes outorgadas pela


Santa Sé sao pequeña parcela do que se faz necessário para a solucao
dos problemas enfrentados e explica a intencáo da Santa Sé, ao dar sua
colaboracáo, nos seguintes termos:

"A Igreja nao intenciona ser mera agencia de ajuda humanitaria;


ela, antes, deseja testemunhar, de todos os modos possíveis, o amor de
Cristo, que liberta de todo mal o ser humano" (Discurso aos Conselhos
de Administragáo das Fundagóes Joáo Paulo II para o Sahel e Populorum
Progressio, 11/07/2000).

Podem-se mencionar ainda outras formas de ajuda pelas quais se


exprime o zelo do S. Padre pelos ¡rmaos carentes: tais sao as contribui-
góes concedidas através das Pontificias Obras Missionárias, a ajuda ou-
torgada aos pobres de Roma e o sustento concreto atribuido diretamente
aos Bispos em sua acáo pastoral.

"Brilhe a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas
boas obras, glorifiquem vosso Pai que está nos céus" (Mt 5, 16).

(Continuagáo da pág. 387):

Assim o anuncio salvífico penetra a historia sagrada descrita nos


livros do Antigo Testamento, nela "se encarna", fazendo da historia um
discurso. Os feitos do Antigo Testamento sao pontos que parecem ¡sola
dos e insignificantes, mas que o bom entendedor liga entre si, de modo a
perceber ai o nome de Deus.

2) Contato com Cristo

O contato do cristáo com Cristo nao é meramente psicológico ou


afetivo. É, sim, um contato ontológico: a vida de Cristo toca a do cristáo
mediante os sacramentos. Estes sao os cañáis comunicadores da graca
divina.

Assim torna-se evidente que o cristáo nao pode prescindir da prá-


tica sacramental. O Cristianismo nao é apenas urna escola de bons cos-
tumes, mas é comunháo de vida com o próprio Deus nos termos estabe-
lecidos pelo Senhor mesmo.

418
Surpreendente:

POLIGAMIA NOS ESTADOS UNIDOS

Em síntese: A imprensa noticiou que Tom Green nos Estados Uni


dos foi levado a júri por ser polígamo. Esta prática, nao rara no Estado de
Utah, é reconhecida e mesmo favorecida pela denominagáo religiosa
mórmon. Para ilustrá-lo, o artigo expóe breve histórico das origens dessa
denominagáo e um quadro de suas crengas.
* * *

Em maio pp. o grande público foi surpreendido pela noticia de que


se pratica a poligamia nos Estados Unidos. Tal prática é apoiada pelo
Credo mórmon, como se depreende do recorte seguinte extraído do JOR
NAL DO BRASIL de 15/5/01, p. 13:

«Americano com 5 esposas e 29 filhos é julgado

Utah, EUA - Comegou no estado americano de Utah um processo


que promete polémica. Ontem o tribunal da pequeña Provo assistiu ató
nito a entrada do réu, Tom Green, e suas cinco esposas: as irmás Shirley
e Lee Ann Beagley, sua prima Linda Kunz, além das irmás Cari e Hannah
Bjorkman. Green é o primeiro homem no país a ser acusado de bigamia
(na verdade, tres acusagóes de bigamia somadas) em 50 anos.

'Meu crime nao é tanto ser um polígamo em Utah - há dezenas de


milhares como eu. Meu crime é ser polígamo e nao ter calado a boca',
disse Green, 51 anos. 'Esta tem sido a lei nao escrita no estado há 50
anos: vocé finge que nao existe e eles fingem que vocé nao existe'. Ojuiz
determinou o prosseguimento do processo, cujo veridicto será decidido
por um júri popular.

Estimase que existam entre 30 mil e 100 mil bigamos ou polígamos


nos EUA. Em Utah a porcentagem é ainda maior - e nao por acaso. O
estado foi colonizado pelos fiéis da Igreja de Jesús Cristo dos Santos dos
Últimos Dias. Os mórmons, como sao chamados estes religiosos, defen-
diam a poligamia citando os profetas do Antigo Testamento para afirmar
que a abundancia de mulheres e filhos contribuí para o bem-estar no
além. A prática só foi abolida em 1890, e hoje quem adota a poligamia é
expulso da Igreja. Oficialmente, pelo menos. Hoje 70% da populagáo de
Utah é composta por mórmons e poligamia - ás escondidas - é prática
comum.

419
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 472/2001

Green tem 29 filhos e cinco ex-mulheres - duas das quais sao ir-
más e maes de tres de suas atuais esposas. O religioso é acusado ainda
de estupro, por ter mantido relacóes sexuais há 15 anos com Linda Kunz,
entáo com 13. Hoje ela é a 'esposa principal' e tem seis filhos».

A noticia sugere a pergunta: quem sao os mórmons? Que profes-


sam eles? - Segue-se a resposta.

1. O Fundador: Joseph Smith

Aos 23 de dezembro de 1805 nascia em Sharon (U.S.A.) Joseph


Smith, filho de piedosa familia de colonos que professavam o protestan
tismo sob a forma de Metodismo.

Aos poucos o jovem revelou ter urna índole pessoal bem caracte
rística, que um de seus mais abalizados biógrafos, Lemonnier, assim
descreve:

"Melgo e amável, nao deixava de faiar quando estava com amigos,


e a sua eloqüéncia ardente se expandía em historias intermináveis que
ele inventava a gosto; nao podía contar o mais simples incidente da sua
vida sem o transformar em aventura maravilhosa... Nao era muito amigo
de leitura, e mal conhecia a Biblia;... em casa chamavam-no, por vezes,
de iletrado. Era, porém, o filho predileto de seu pai, que o considerava
como o genio da familia. Com seu pai, José andava á busca de tesouros,
de tal modo que os arredores da fazenda estavam cheios de escava-
góes" (Histoire des Mormons pág. 13).

Antes que Smith Jr. fosse favorecido com "revelacóes" pelas quais
mais tarde se tornou famoso, ele desenvolveu o hábito da contemplacáo-
cristalina, usando urna pedra opaca para descobrir propriedades rouba-
das e tesouros escondidos em troca de grandes quantias de dinheiro.

Aos quinze anos de idade, Joseph fez a sua primeira grande expe
riencia religiosa. A populacáo local se vía entáo abalada por novo des
pertar religioso, que se manifestava em contradicóes entre as denomina-
cóes religiosas protestantes. A familia de Smith fez-se entáo, em parte,
presbiteriana; quanto a Joseph mesmo, hesitava... Resolveu conseqüen-
temente ir pedir luzes a Deus, orando em alta voz num bosque. Transcor-
ria urna manhá da primavera de 1820, quando Ihe apareceram dois anjos
que Ihe deram a ordem de nao se filiar a crenca religiosa alguma, pois
ele um dia haveria de restaurar a "Igreja Crista Primitiva".

Dias depois, ele escreveu: "Vi dois personagens cujo brilho e gloria
é impossível descrever, pairando sobre mim no ar. Um deles falou comi-
go, chamando-me pelo nome, e disse, apontando para o outro: 'Este é
meu Filho amado, escutai-o'. Em seguida, eu pedi aos personagens que

420
POLIGAMIA NOS ESTADOS UNIDOS 37

pairavam sobre mim em plena luz, que me indicassem, dentre as seitas,


aquela que fosse verdadeira, a fim de que eu pudesse participar. A res-
posta que tive, foi que nao participasse de nenhuma délas, porque eram
todas falsas".

Tres anos mais tarde, aconteceu outra "revelacáo", considerada


fundamental. Enquanto se encontrava em oracáo na noite de 21 de Se-
tembro de 1823, um personagem vestido de branco apareceu a Smith,
dizendo-lhe que tinha sido enviado por Deus; era chamado Moroni. O
mensageiro disse a Smith que seu nome "seria para o bem e para o mal
entre as nacóes", explicando-lhe em seguida o que deveria ser feito para
o estabelecimento de uma nova religiáo. Eis como descreve Smith a
mensagem recebida:

"O mensageiro disse-me que havia um livro depositado nalgum lu


gar, escrito em placas de ouro, contendo informagóes de ex-habitantes
deste continente e raízes de suas origens. Ele, o mensageiro, disse tam-
bém que nestas placas de ouro o cumprímento do Evangelho eterno se
encontrava revelado tal qual havia sido proclamado pelo Salvador aos
habitantes da antigüidade; que também existiam duas pedras em forma
de arco prateado - pedras ligadas á placa de peito, as quais constitui'am
o que se chama Urim e Thummim - enterradas; aínda segundo o mensa
geiro, a posse e o uso destas pedras seriam a descoberta do que consti
tuía e identificava os 'profetas' da antigüidade, os quais Deus havia pre
parado para que traduzissem o livro sagrado, a Biblia".

Aos 22 de setembro de 1827, o mesmo anjo o levou a encontrar as


famosas placas após haver cavado o cume da colina Cumorah.

O texto da mensagem respectiva era atribuido pelo anjo a um rei


chamado Mórmon (daí o nome "mórmon" que a Joseph Smith e seus
discípulos foi dado posteriormente). O documento estava redigido em
idioma que Smith chamava "língua egipcia reformada" e que ele desco-
nhecia. Para o entender, Moroni fomeceu ao vidente duas pedras mara-
vilhosas ("Urim" e "Thummin"), que comunicavam a necessária compre-
ensáo do texto.

Dizia o jovem Joseph que quem ousasse lanzar um olhar para as


placas de ouro, morrena ¡mediatamente. Por isto, Smith nos tempos sub-
seqüentes se colocava por detrás de uma cortina e ia ditando a traducáo
da mensagem das placas a um secretario, modesto camponés chamado
Martín Harris. Em junho de 1829, sem demora o anjo arrebatou as pla
cas, de sorte que jamáis foram vistas pelo público. Apenas (diz uma de-
claracáo colocada no inicio de cada exemplar do referido livro) tres discí
pulos de Smith as puderam contemplar numa visáo posterior, e atesta-
ram esta visao com juramento.

421
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 472/2001

A título de informacáo, consignamos também o seguinte: existe,


entre os historiadores, urna versáo que visa a explicar de maneira mais
plausível e verossímil a origem do "Livro de Mórmon":

Certo escritor presbiteriano, Salomáo Spaulding, no século passa-


do, redigiu um romance em torno dos primordios das populacóes aborí
genes da América, apresentando-as como descendentes dos hebreus.
Esse romance nao chegou a ser publicado, mas caiu ñas máos de um
pregador batista, depois campbellista, chamado Sidney Rigdon. Sidney
foi associar-se a José Smith na fundacáo da nova Igreja; deu entáo á
obra romanceada de Spaulding aspectos e estilos bíblicos... Daí terá re
sultado o Livro de Mórmon.

Juntamente com a mensagem de Mórmon, José recebia a missao


de fundar urna Igreja, que seria a restauracáo da antiga Igreja de Cristo e
dos Apostólos. Com alguns poucos companheiros, portanto, o vidente fun-
dou a nova comunidade aos 6 de abril de 1830, no Estado de Nova lorque.

Esse núcleo de crentes comecou a propagar ardorosamente as


suas idéias por todas as regióes vizinhas. Apresentavam-se como os
arautos da religiáo de um povo santo, escolhido por Deus para converter
o mundo nos últimos días, ou seja, nos dias anteriores á definitiva vinda
de Cristo; a sociedade, até mesmo os cristáos, estariam todos mergulha-
dos em erros de doutrina e moral; em conseqüéncia, quem nao seguisse
a mensagem de Mórmon deveria ser tido como gentío ou pagáo.

Bem se compreende que tal pregacáo tenha suscitado represalias


por parte do público. Os companheiros de Smith tiveram entáo que pere
grinar por diversas localidades dos Estados de Ohio e Missouri desde
1831 a 1839. Finalmente em 1840 estabeleceram-se em Illinois, fundan
do a cidade de Nauvoo, que seria a "Nova Siáo", verdadeiro Estado
teocrático (isto é, todo regido por leis religiosas ou por "revelacóes" divi
nas); ai se aguardaría o Cristo, que estava para voltar em breve sobre a
térra. O territorio de Nauvoo foi oficialmente concedido aos crentes pelo
Governo do Estado de Illinois; os mórmons lá constituíram poder
legislativo, judiciário e executivo próprio, com direito de manter um exér-
cito para sua defesa sob o comando de Joseph Smith. Este fundou tam
bém um grandioso templo e urna Universidade.

Desdobrando lógicamente as suas idéias, Joseph Smith chegou a


proclamar-se candidato á presidencia dos Estados Unidos em fins de
1843; disseminou apostólos e pregadores que divulgassem o seu pro
grama, no qual estava incluido, entre outras coisas, o resgate dos escravos.

Contudo a situacáo evoluiu desfavoravelmente aos novos crentes...


Com efeito; Smith resolveu apregoar em público urna doutrina que Ihe

422
POLIGAMIA NOS ESTADOS UNIDOS 39

fora "revelada" particularmente e que já era posta em prática na sua co-


munidade: a doutrina do "matrimonio celeste" ou da poligamia. Esta ino-
vacáo provocou a animosidade das populacóes vizinhas de Nauvoo, po-
pulacóes que haviam recebido com simpatía os "santos dos últimos días".

Os jomáis da regiáo ¡ncitaram entáo os cidadáos á guerra contra


os crentes. Estes responderam arregimentando as suas tropas. Isto bas-
tou para que o Governador do Estado acusasse Smith de alta traicáo. O
vidente assim apontado concebeu o plano de fugir. Nao o fez, porém,
visto que seus companheiros o consideravam como covarde; resolveu
mesmo entregar-se aos juízes civis, que o colocaram no cárcere. Contu-
do a multidáo nao se conteve: invadiu a prisáo aos 27 de junho de 1844
e pos termo violento á vida de Joseph e seu irmáo Hyrum Smith. O profe
ta tinha nessa ocasiáo 39 anos de idade.

A sua figura, que já gozava de grande autoridade entre os discípu


los, cresceu na mente destes: Joseph Smith veio a ser tido como mártir e
símbolo sagrado.

Quem havia de Ihe suceder?

O mais antigo companheiro de Smith - Sidney Rigdon - nutria pre-


tensóes. Foi, porém, eliminado pelos discípulos. Em breve tornou-se Presi
dente e Profeta da "Igreja" um jovem enérgico e fanático (mais equilibra
do, porém, do que o fundador da seita) chamado Brigham Young. Este
fora outrora metodista; tendo-se passado ao Mormonismo, em 1835 ha
via sido constituido um dos doze Apostólos da nova seita. Sua eleicáo
encontrou oposicáo por parte de membros da comunidade, entre os quais
um dos filhos de Smith, que resolveu entáo separar-se para fundar a
"Reorganizada Igreja de Jesús Cristo dos Santos dos Últimos Días".
A situacáo era táo tensa em Nauvoo que Young decidiu deixar o
territorio de Illinois, de mais a mais que em Janeiro de 1845 um decreto
do Governo abolía os privilegios concedidos á colonia dos Mórmons.
Retirou-se, poís, com a sua comunidade de crentes para o deserto de
Utah, regiáo entáo pertencente ao México. Á custa de energía férrea,
conseguiram em 1847 ai fundar a Cidade de Salt Lake (ou do Lago Sal
gado). A legíslacáo da cidade permitía a poligamia (o próprio Young teve
mais de vinte esposas celestes!); organizava meticulosamente o traba-
Iho e a economía, de modo que em breve o deserto se tornou térra fértil e
produtora. Em 1848, o México entregou o territorio de Utah aos Estados
Unidos; a poligamia tornou-se entáo grave ponto de discordia entre o
Governo norte-americano e os Mórmons. Somente em 25 de setembro
de 1890, o Presidente da seita, Woodruff, empreendeu a conciliacáo:
declarou que em visáo recebera ordem de abolir a poligamia; isto permi-
tíu que finalmente em 1896 Utah se tornasse Estado da Confederacáo

423
40 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 472/2001

norte-americana. Contudo a poligamia ainda ai é praticada, embora em


termos discretos; a maioria da populacáo de Utah professa a crenga de
Mórmon.

Pergunta-se agora:

2. Qual a Mensagem dos Mórmons?

1. Os Mórmons relatam do seguinte modo o seu histórico: após a


confusáo das línguas em Babel (cf. Gn 11), a tribo de Jared emigrou da
Asia para a América. Contudo, já que se constituía de homens maus,
Deus permitiu fosse punida por muitas guerras e calamidades públicas,
de modo que estava para se extinguir em 600 a.C.

Nesta época, porém, vivia na Palestina um profeta chamado Lehi,


da tribo israelita de Manassés; foi avisado por Deus de que, em breve
(586 a.C), Jerusalém cairia sob os golpes de Nabucodonosor; por isto
veio com outros israelitas para a América, onde encontrou os últimos
descendentes de Jared.

Urna vez morto Lehi, houve divergencias entre seus dois filhos Nefi
e Lama, os quais em conseqüéncia se separaram. A tribo de Nefi conser-
vou-se fiel a Javé, ao passo que os descendentes de Lama prevarica-
vam; em castigo Deus deixou que a cor de sua pele se tomasse verme-
Iha; sao hoje em dia os indios ou aborígenes da América. Quando Cristo
esteve sobre a térra, visitou os Nefitas na América após a sua ressurrei-
cáo. Dois ou tres séculos depois de Cristo, também os Nefitas (de pele
branca) pecaram gravemente e foram exterminados pelos Lamanitas ou
indios. Contudo o último rei e patriarca nefita, Mórmon, antes de morrer
escreveu a historia do seu povo sobre placas de ouro, que ele entregou a
seu filho Moroni; este escondeu táo precioso depósito no alto da colina
de Cumorah, onde finalmente Joseph Smith no século passado, sob a
guia de um anjo (Moroni), o devia descobrir. Daí se origina o Livro de
Mórmon, que é a terceira Revelacáo (enumerada após o Antigo e o Novo
Testamento), auténtica Palavra de Deus, á luz da qual a Biblia Sagrada
mesma deve ser interpretada.

Além do "Livro de Mórmon" e da Biblia, os discípulos de Smith ad-


mitem mais dois livros sagrados: "A Pérola de Grande Preco" e "Doutri-
nas e Pactos da Igreja de Jesús Cristo dos Santos dos Últimos Dias".
Estas obras contém urna coletánea de passagens, auténticas e nao au
ténticas, da Escritura Sagrada, assim como a autobiografía de Joseph
Smith e "revelacóes" que este recebeu de Deus.

2. É por tais escritos que se transmitem as doutrinas e as práticas


do Mormonismo, as quais se podem resumir nos seguintes itens:

424
POLIGAMIA NOS ESTADOS UNIDOS 41

a) Existe um Deus que é dito "Pai, Filho e Espirito Santo". O Pai,


porém, tem carne e ossos1; quanto ao Filho e ao Espirito Santo, sao
apenas emanacóes do Pai.

Julgam os historiadores que Smith admitía outrossim um certo


politeísmo; testemunho disto seria o fato de que no fim da vida traduzia o
nome hebraico Elohim por deuses.

b) O homem é eterno: viveu no Reino de Deus antes de aparecer


sobre a térra. Neste mundo os individuos nao tém recordacáo dessa sua
existencia passada, a fim de poder aceitar ou recusar livremente o Evan-
gelho. Caso nao cheguem a conhecer o Evangelho na vida presente, os
homens o poderáo conhecer após a morte e se salvarao mediante um
batismo postumo.

c) O batismo postumo constituí urna das práticas mais estranhas


do Mormonismo. É administrado, por presumida procuracáo, aos des
cendentes dos defuntos. A descendencia é meticulosamente examinada
em tabelas genealógicas que os Mórmons consultam (se necessário) em
arquivos espalhados pelo mundo inteiro. Assim os descendentes podem
obter a graca de Deus para seus antepassados que nao tenham conhe-
cido a Revelacáo.

d) Há mesmo urna certa identidade de natureza entre o homem


e Deus. Tal como Deus é, tal pode o homem tornar-se'.

e) Nao existe pecado original. O homem se vai continuamente


aperfeicoando pelo arrependimento de suas faltas. O único castigo que o
aguarda, é a dor de ter perdido oportunas ocasióes de melhorar.

f) No Mormonismo foi restaurada a primitiva Igreja, que os ho


mens dos séculos passados deturparam. Estabelecer-se-á urna nova Siao
na América; Cristo vira pessoalmente reinar sobre a térra, cuja face será
renovada, tonando-se o paraíso.

g) Na Igreja dos Santos dos Últimos Dias, o Espirito Santo se ma-


nifesta de maneira extraordinaria e permanente por meio dos dons de
línguas, profecías, revelacóes, curas, visóes, etc. O presidente da Igre
ja é sempre inspirado por Deus ao realizar atos mais importantes em seu
governo.

1 Textualmente, eis o que professam os Mórmons:


"Negar a materialidade da pessoa de Deus é o mesmo que negar Deus; pois urna
coisa sem suas partes nao pode formar o seu todo e um corpo ¡material nao pode
existir. A Igreja de Jesús Cristo dos Santos dos Últimos Dias prega contra um Deus
incompreensivel, desprovido de corpo, membros ou sentimentos".

425
42 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 472/2001

h) A ceia do Senhor é celebrada sob as duas especies: pao e


agua. Nao se usa vinho, embora a revelacáo n2 20 o prescreva. E por que
nao? - Muitos crentes respondem:... porque há cerca de cento e sessen-
ta anos os adversarios dos Mórmons tentaram envenená-los com o vinho
da santa ceia; contudo agua e vinho nao fazem grande diferenca no caso,
porque se trata de meros símbolos destinados a lembrar apenas o Se
nhor Jesús.

i) No que se refere ao casamento, Joseph Smith em 1831 recebeu


a revelacáo de que seria lícita a poligamia; todavía só a conseguiu por
escrito em 18431. Ao ter noticia desta disposicáo, Brigham Young excla-
mou: "Pela primeira vez na vida desejei estar no túmulo"; inclinou-se,
porém, diante da determinacáo. - Os historiadores acham o fato particu
larmente estranho, pois que o Livro dos Mórmons proíbe explícitamente
a poligamia; julga que Smith a deve ter admitido por razóes estritamente
pessoais; embora tal praxe fosse fadada a provocar reacáo e repulsa da
própria comunidade de crentes, ela se terá implantado por razóes pre-
ponderantemente económicas, pois a populacáo recém-estabelecida em
Utah só poderia sobreviver caso se impusesse pela multidáo e pela forca
de seus cidadáos; ora tal condicáo exigía prole numerosa. O éxito que os
Mórmons em seus primeiros decenios obtiveram no plano financeiro e
político, parece ter correspondido as expectativas. A vida civil e económi
ca em Utah foi religiosamente organizada, isto é, organizada segundo o
rigor e a precisáo que somente a religiáo poderia inspirar; um sistema de
dízimos e taxas fielmente observado pelos crentes assegurou á Igreja
nao só a subsistencia, mas até mesmo alta prosperidade material. Toda
vía, já que a poligamia contrariava as leis norte-americanas, foi, por
intimacáo das autoridades civis da nacao, abolida (ao menos em teoría e
de maneira oficial) pelo quarto Presidente da Igreja, Woodruff, em 1890
(Woodruff justifícava sua atitude apelando para especial revelacáo rece-
bida do céu).

1 Eis como Joseph Smith justifícava tal prática:


"Se um homem se casa com urna virgem e deseja casarse com outra com o con-
sentimento da primeira e ambas sao virgens sem nenhum compromisso com outro
homem, tal uniáo deste homem as duas mulheres é justificada. Ele nao pode estar
cometendo adulterio de forma alguma, já que elas por livre e espontánea vontade se
entregaram a ele; elas pertencem a ele e a mais ninguém.
Se o homem possui dez virgens que Ihe foram dadas em casamento pela lei, ele
nao comete adulterio, pois elas Ihe pertencem, urna vez que Ihe foram entregues
pela lei. Logo a sua uniáo com estas dez mulheres é justificada.
Se urna das duas ou duas das dez virgens, depois de casadas decidem viver com
outro homem, elas, sim, cometem adulterio e devem ser apedrejadas, visto que Ihe
foram dadas em casamento, a fim de que multiplicassem e povoassem a térra de
acordó com o mandamento divino".

426
POLIGAMIA NOS ESTADOS UNIDOS 43

A legislacáo mormónica prevé também o matrimonio 'pelos mor-


tos': urna mulher que faleca sem se ter casado nesta vida pode ser, pe
los seus familiares sobreviventes na térra, ligada a um varáo no Além.
Em caso contrario, seria prejudicada em sua bem-aventuranaca postu
ma; diz, com efeito, a revelagáo nB 132: "Aqueles que nao passam por
esse sacramento (do matrimonio) só podem aspirar á dignidade de an-
jos, ao passo que os eleitos podem esperar elevar-se até a dignidade de
deuses".

j) A Igreja Mormónica dirige os fiéis nao somente no plano espiritu


al, mas também no material, prescrevendo até o regime alimentar (es-
táo proibidos o cha, o café, o fumo e as bebidas alcoólicas). Tal atitude é
justificada nos seguintes termos pelo sexto Presidente da Igreja, José
Smith, sobrinho-neto do fundador: "Urna religiáo que nao pode salvar os
homens no plano temporal, tornando-os prósperos e felizes neste mun
do, também nao é capaz de os salvar no plano espiritual, levando-os á
vida futura".

Note-se, por fim, que cada mórmon fiel tem a obrigacao de contri
buir com urna porcentagem de suas rendas para a Igreja, além das horas
de trabalho que ele Ihe dedica todas as semanas.

AÍNDA A RESPEITO DO POLIGENISMO

Alguns leitores se surpreenderam ao ler em PR 469, página 261,


que a hipótese poligenista nao contraria a fé. Á guisa de esclarecimento,
devemos dizer:

1) Os argumentos em prol desta sentenca estáo expostos no pró-


prio texto citado.

2) Nossa revista professa incondicional fidelidade ao magisterio da


Igreja, apenas deseja distinguir o que é de fé do que nao é de fé.

3) É de fé que o género humano é urna única familia descendente


de um só principio; os primeiros pais pecaram e transmitiram a seus des
cendentes a culpa original, de modo que em qualquer parte do mundo
todo homem nasce com o pecado original.

4) É verdade que Pió XII em sua encíclica "Humani Generté' de 12/


08/1950 afirmou que "nao se vé como conciliar a hipótese poligenista

(Continua na pág. 431)

427
Pena de morte:

O CASO McVEIGH

Em síntese: A opiniáo pública foi abalada pelo caso do delinquen-


te McVeigh condenado á morte nos Estados Unidos. O Papa intercedeu
em favor do réu, visto que a sentenga poderia ser injusta. O artigo abaixo
expóe os fatos e explana a posigáo da Igreja frente á pena de morte:
posigáo restritiva, pois a pena capital parece terse tornado inútil em nos-
sos días.
* * *

Ocaso McVeigh, réu condenado á morte nos Estados Unidos, muito


impressionou a opiniáo pública. A seguir, seráo recordados alguns tópi
cos referentes ao assunto e será explanada a posicao da Igreja frente á
pena de morte.

1. Os fatos

Exporemos, a seguir, dois aspectos do tema extraídos da impren


sa cotidiana.

1. A orquestra de Pré-requiem e revisáo de processos

Eis urna das noticias que calaram fundo na opiniáo pública:

«Orquestra tocará para McVeigh antes de execucáo


Condenado ouvirá 'pré-réquiem' pelo radio, em sua cela

• Nova York. Urna composigáo assinada por um músico de Los Angeles


em parceria com Timothy McVeigh será executada por urna orquestra,
numa igreja, durante os últimos minutos de vida de McVeigh, antes de ele
entrar na sala onde será executado, quarta-feira que vem, em Indiana.

A apresentagáo da orquestra será transmitida por urna emissora


de radio, de modo que McVeigh poderá acompanhá-la em sua cela.

Segundo o autor David Woodward, a composigáo, de 12 minutos, é


um pré-réquiem que servirá 'para acompanhar a alma de McVeigh ao
paraíso'. McVeigh foi condenado pela explosao de um predio federal que
matou 168 pessoas, em 1995, em Oklahoma City. Foi o maior atentado
terrorista da historia dos EUA.

McVeigh trocou cartas com Woodward para participar do projeto. A


orquestra, com 45 integrantes, vai se apresentar em Terre Haute, a cida-

428
O CASO McVEIGH 45

de onde ele será morto com urna injegáo letal, na primeira execugáo dos
EUA transmitida em circuito fechado de TV.

O pré-réquiem para McVeigh despertou a ira de parentes das víti-


mas do atentado. Woodward tentou sem sucesso obter autorizagáo para
que a orquestra se apresentasse no presidio» (O GLOBO, 10/05/01, p.
42).

O caráter espetacular dado á execugáo (transmitida por cañáis de


televisáo) é algo de contundente para grande parte dos observadores.

A irregularidade dos processos é reconhecida pelas autoridades


norte-americanas, como atestam as noticias seguintes:

«Oklahoma City revé cerca de 3.000 condenacóes


Perita sob suspeita deu parecer em casos de 11 réus já executa-
dos. Outros 12 estáo no corredor da morte

• Washington. Após a libertacáo de um homem condenado injustamente


por estupro devido ao trabalho de má qualidade de urna perita química
da policía, as autoridades de Oklahoma City estáo aguardando o resulta
do da revisáo de cerca de tres mil outras condenacoes baseadas em
provas analisadas pela mulher ou por seu departamento» (O GLOBO,
10/05/01, p. 42).

Pergunta-se agora:

2. Qual a posicáo da Igreja?

Os documentos oficiáis da Igreja tém-se manifestado em termos


contrarios a pena de morte, como se demonstrará adiante. Todavía a
Igreja aceita a discussáo do assunto.

1. Com efeito. Nao se pode dizer que, em toda e qualquer hipóte-


se, a pena de morte é injusta, pois a própria Escritura a prevé, por exem-
plo, nos casos enumerados em Lv 20, 8-18... Atualmente o problema
versa sobre a questáo: a pena capital seria medicinal (isto é, benéfica
para a sociedade, coibitiva da criminalidade) ou meramente vingativa?
Ora a tal pergunta se dáo as respostas mais contraditórias, pois há quem
julgue que a introducáo da pena de morte seria um freio contra a delin-
qüéncia, ao passo que outros a tém como totalmente estéril e inoperante;
apontam-se estatísticas em favor tanto de urna como de outra sentenca.
Por isto a Moral católica nao tem sentenca oficial sobre o assunto; ape
nas indica o principio: o bem comum prevalece sobre o bem particular;
por isto pode exigir o sacrificio do bem particular, se isto realmente salva
guarda o bem comum. Todo individuo injustamente agredido (no caso, a
sociedade como tal) tem o direito de se defender com os meios eficazes

429
46 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 472/2001

para nao perder a sua vida ou o seu bem próprio injustamente ameaca-
do. Acontece, porém, que ninguém pode garantir que a pena de morte é
esse meio eficaz que realmente salvaguardará o bem comum injusta
mente ameacado pelos criminosos; por isto a questáo fica aberta, e é
lícito ao católico, devidamente fundamentado em argumentos, optar por
urna ou por outra das duas sentencas.

2. Há boas razoes para se dizer que, em nossa época e no Brasil,


a pena de morte, em vez de ser benéfica para a sociedade, seria fonte de
graves males. Com efeito,

a) a populacáo carcerária é geralmente a de baixa renda; seriam


entáo atingidos pela pena capital os delinqüentes menos aquinhoados,
ao passo que os criminosos de classes mais elevadas ficariam impunes
ou conseguiriam escapar dos trámites da Justica;

b) sabemos que, apesar dos esforcos dos magistrados, a adminis-


tracáo da justica humana é falha; ocorrem falsas acusacóes tramadas
por odio e espirito de vinganca, que levam até á condenacio de inocen
tes, com a conivéncia de autoridades públicas. É o que atestam as noti
cias da imprensa;

c) há meios de recuperar os delinqüentes ou evitar que continuem


a cometer o mal. Isto será obtido com mais facilidade se se reformar o
sistema carcerário; este deve oferecer subsidios para que os detidos se
possam regenerar mediante trabalho e recursos educacionais. Desta
maneira o bem comum da sociedade - que se quer salvaguardar medi
ante a pena de morte - será preservado sem que se lance máo da solu-
cáo extrema e ambigua da pena de morte ou do sacrificio capital de
membros da sociedade. É preciso que se faca tudo para salvar o delin-
qüente sem causar detrimento á coletividade. Ora isto nao é impossível
em nossos dias, desde que haja boa vontade e interesse pela causa.

Por isto diz o Catecismo da Igreja Católica n9 2267:

"Dado que se possa reconhecer, sem hesitagáo, a identidade e a


culpabilidade do réu, o ensinamento tradicional da Igreja nao excluí o
recurso á pena de morte, se esta aparece comprovadamente como a
única vía praticável para a defesa eficaz da vida dos seres humanos
ameagados por um injusto agressor. Se, ao contrario, os meios pacíficos
sao suficientes para que a sociedade se defenda do agressor e para
proteger a seguranga das pessoas, a autoridade se limitará ao uso dos
meios nao sangrentos, visto que sao os mais aptos para responder as
condigóes concretas do bem comum e os mais conformes á dignidade da
pessoa humana. Com efeito, hoje, dado que o Estado tem recursos para
reprimir eficazmente o crime, tornando inofensivo aquele que cometeu o

430
O CASO McVEIGH 47

delito, sem Ihe tirar a possibilidade de se recuperar, os casos de necessi-


dade absoluta de supressáo do delinqüente tornam-se extremamente raros
ou mesmo inexistentes".

Aqui se percebe que a pena de morte é descartada nao como algo


de mau ou iníquo em si, mas como um recurso praticamente desneces-
sário, pois nao há contexto que a exija; a preservacao do bem comum
pode ser obtida sem a morte do criminoso, que, deixado em vida, pode
usufruir da ocasiáo de se recuperar.

Por sua vez, escreve o Papa Joáo Paulo II na sua encíclica sobre o
Evangelho da Vida n9 56:

«Claro está que, para bem conseguir todos esses fins, a medida e
qualidade da pena háo de ser atentamente ponderadas e decididas, nao
se devendo chegar á medida extrema da execugáo do réu senáo em
casos de absoluta necessidade, ou seja, quando a defesa da sociedade
nao fosse possfvel de outro modo. Mas, hoje, gragas á organizagáo cada
vez mais adequada da instituigáo penal, esses casos sáojá muito raros,
se nao mesmo praticamente inexistentes».

É clara, portanto, a atitude restritiva da Igreja.

(Contínuagao da pág. 427):

com as verdades reveladas". Ora, os comentadores deste texto observa-


ram bem que o Papa nao disse "Nao se pode conciliar...", mas disse "Nao
se vé como conciliar"; portanto nao quis fechar a questáo, mas deixou-a
aberta para que eventualmente os teólogos formulassem urna sentenca
conciliatoria. Pois bem; após 1950 bons e ortodoxos teólogos propuse-
ram o que está escrito em PR de junho próximo passado, sem sofrer
censura da Santa Sé. Nossa revista acompanhou esses teólogos, sem
querer professar o poligenismo, mas apenas mostrando que o
monogenismo nao é de fé - o que é importante para evitar que surjam
desnecessários problemas de fé nos irmáos menos esclarecidos.

E. B.

431
Sempre em qúestáo:

IRMÁOS OU PRIMOS?

A Redacao de PR recebeu a seguinte mensagem:

"Diz-se que a palavra grega adelphói, nos Evangelhos, significa


primos, e nao irmáos. Todavía observe-se que

- Isabel, em Le 1, 36, é tida como prima de María Ssma;


- emCI4, 10 Marcos é dito primo de Barnabé.

Disto se concluí que a língua grega tem palavra própria para desig
nar o primo. Se o evangelista usou a palavra adelphós em Me 6, 3; Mt
13, 55..., ele o fez porque Jesús era realmente irmáo de Tiago, José
Judas e Simáo".

Em resposta note-se:

- Isabel nao é prima de María SSma., mas é syggenís, parenta,


familiar. A traducáo que verte syggenís por prima, é falha. Ademáis a
diferenca de idade entre María e Isabel era muito grande (Isabel já era
estéril quando Maria aínda nao co-habitava com José); deviam ser de
duas geracoes diferentes e nao primas (da mesma geragáo);
- em Cl 4, 10 Sao Paulo usa a palavra anepsiós, que significa
propriamente primo. Em tal caso, o Apostólo está escrevendo para crís-
táos do Imperio greco-romano, de língua grega, distantes do fundo semita
dos Evangelhos. Nao se pode esquecer que a língua grega dos Evange
lhos supóe um fundo semita, pois o Evangelho é a redacáo escrita da
pregacáo oral dos Apostólos feita em aramaíco. Ora em aramaíco o vo-
cábulo 'ah significa párente ou familiar, e é com este sentido ampio que
ele é traduzido para o grego pelo termo adelphós. Deve-se, pois, enten
der adelphós no sentido de 'ah aramaico.

A amplidáo de significado de 'ah se depreende, entre outros, do


fato de que a própria esposa no Cántico dos Cánticos é dita irmá- cf Ct
4,10.12:5,1.

Estéváo Bettencourt O.S.B.

432
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gregacáo Beneditina do Brasil e no Direito Canónico. 62 págs RS 4,00.
ENCONTRÓ COM A RB - Estudo dirigido - Abade Joaquim Zamith, OSB, Ir. Mónica Casta-
nheira, OSB. Dedicado aos noviciados dos mosteiros que seguem a Regra de Sao Bento,
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Vinnel - 2a ed. Um livro de leitura obrigatória para tornar sua lectio divina urna escola de
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mesmo e a descoberta da atualidade de Bento como modelo e estímulo para seu própno
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descreve de maneira prática e concreta como viver na presenca de Deus, até mesmo
em meio aos afazeres de máe de familia. 153 págs R$ 16,50.

CONVITE

Viráao Rio deJaneiro, em Setembrodeste ano, Pe. Bernardo Bonowitz O.C.S.O., monge trapista, prior
do Mosteiro N. S. do Novo Mundo em Campo de Tenente, Paraná.
Sua agenda, em nossa ádade, será a seguinte:
• entrevista noprograma VoxPopuli, Radio Catedral 106,7FM, dia 19 as l&lOh;
• participacaono programa "Deus éDez" na mesma Radio dias 20,21,24 e 25as 8:30h;
• palestra aberta ao público no auditorio do Colegio Santo Antonio María Zacaria, á rúa do Catete 113
(metro Catete) no dia 20 as 18:30h com o tema: "Thomas Merton e aAscensaopara a Verdade."
Convidamos a todos interessados aparticipare comparecer.
k (SOCIKIMDE DOS AMIGOS FRATERNOS DE THOMAS MERTON)

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