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PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA


SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA
SEGUNDA VARA FEDERAL

Processo n. 2007.82.00.6496-1
Ação penal pública
Autor: MPF
Réu: JUBERLÂNDIA FARIAS DA SILVA

SENTENÇA1

DIREITO PENAL. ESTELIONATO CONTRA O INSS (CP, art.


171, §3º). Utilização de documentos falsos. Não configuração.
Demonstrada na instrução a condição de agricultora da
acusada, o documento que registre essa condição, por registrar
a verdade, não pode ser considerado como ideologicamente
falso. A comprovação do preenchimento dos requisitos para o
benefício previdenciário requerido (salário maternidade) exclui
(a) a incidência em erro por parte do INSS, (b) o proveito ilícito
por parte do agente e (c) o prejuízo da suposta vítima. Provada
a inexistência do fato criminoso. Julgamento de improcedência
da pretensão punitiva. Absolvição.

RELATÓRIO

Tratam os presentes autos de AÇÃO PENAL PÚBLICA promovida pelo


MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL contra JUBERLÂNDIA FARIAS DA SILVA, já
devidamente qualificada, dando-a a peça denunciativa como incursa no art. 171, §3º, do
Código Penal brasileiro.

Consta da denúncia (f. 03-6) que a acusada teria induzido em erro o INSS
para obter vantagem ilícita consistente no pagamento das parcelas de salário-maternidade,
utilizando documentação inidônea à comprovação do período de carência e mesmo
documentos falsos (documento original do PSF e ficha individual de aluno), fato ocorrido (ao

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Sentença tipo D, cf. Res. CJF n. 535/2006.
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que parece, pois a denúncia não diz) em maio/2002 (cf. f. 23 e 28 do inquérito). O MPF
indicou uma testemunha para inquirição em juízo.

Denúncia recebida em 20/11/1998 (f. 09).

A acusada apresentou resposta (f. 26-9) através da defensoria pública do


Estado da Paraíba, alegando inépcia da petição inicial (sem trazer, contudo, fundamento
para isso) e sustentando, quanto ao mérito, a veracidade de todas as alegações da acusada
por ocasião do pedido do benefício previdenciário. Nessa peça, a defesa da acusada
procura descrever com minúcia a situação da denunciada, salientando a atividade na
agricultura praticada por si e por seus pais, bem como a residência em localidade limítrofe
com a zona rural, de modo que não seria admissível falar na apresentação de
documentação inautêntica pela ré. Não indicou testemunhas. Apresentou documentos (f. 31-
3).

Oitiva da testemunha Áurea Maria Gonzaga (f. 60).

Interrogatório da acusada (f. 78-82).

Em alegações finais:

a) O MPF sustentou ter sido comprovada a acusação constante da denúncia,


requerendo o julgamento de procedência do pedido para condenar a acusada como incursa
no art. 171, §3º, do Código Penal.

b) A acusada (f. 95-100) alegou ausência de provas para a condenação,


salientando que procurou reunir a documentação para a obtenção do benefício junto à
respectiva entidade de classe, agindo em plena boa-fé, bem como a natureza ínfima do
prejuízo supostamente causado ao INSS, pedindo dessa forma sua absolvição.

Autos conclusos.

Brevemente relatados.

DECIDO.

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FUNDAMENTAÇÃO

O MPF atribui à acusada a prática do crime de estelionato contra o INSS (CP,


art. 171, §3º), conduta precisamente consistente em pedir e obter o benefício de salário
maternidade (valor total de R$ 701,22) na condição de agricultora, supostamente se valendo
de documentos falsos.

A acusada disse em seu interrogatório judicial que sempre trabalhou na


agricultura, corroborando firmemente o teor de sua resposta prévia, quando afirmou que não
apenas ela, mas também seus pais sempre trabalharam na agricultura. Sua postura na
audiência é extremamente compatível com a condição de agricultora, tendo ela informado
que seu companheiro também trabalha na agricultura. Mencionou os nomes dos lugares
(apontados como “sítios”) em que trabalhou como agricultora, inclusive aquele em que
trabalhava por ocasião de sua gravidez, bem como as culturas cujo plantio fazia.

Friso aqui que, à semelhança do que fazia quando atuava nos juizados
especiais federais da Paraíba, realizei “inspeção judicial” no momento do interrogatório para
averiguar se a acusada tinha calos compatíveis com o trabalho na agricultura, tendo esse
evento ficado registrado na gravação. Como se pode observar, deixei registrado que a
acusada realmente tinha mãos calejadas compatíveis com o trabalho na agricultura, não
com a condição de estudante.

A única testemunha ouvida em juízo, indicada pelo MPF, a agente


comunitária de saúde MARIA ÁUREA GONZAGA afirmou ter conhecimento de que a
acusada JUBERLÂNDIA FARIAS DA SILVA sempre exerceu suas atividades profissionais
na agricultura, conhecendo-a já há sete anos. Disse também que conhecia os familiares da
ré, sabendo que todos eles viviam do trabalho desenvolvido na agricultura.

Em primeiro lugar, desconsidero completamente todos os argumentos


trazidos pelo MPF para confrontar a idoneidade dos documentos (não reputados
inautênticos) para a comprovação do período de carência. A apresentação de documentos
que se considera úteis à causa é direito de qualquer pessoa, sobretudo na condição de
agricultor em pleito perante o INSS. Assim, não interessa à presente lide pena saber se
documentos produzidos posteriormente ao nascimento da criança seriam ou não
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admissíveis à demonstração da carência. Trata-se de matéria estranha ao objeto da


presente lide penal.

Quanto à ficha do Programa Saúde na Família (PSF), documento apontado


como falso (ideologicamente falso, é importante ressaltar) pelo MPF, vejo o seguinte: a
falsidade ideológica se configura pelo fato de a informação constante do documento ser
falsa, não a sua origem. Do apontado documento consta que a acusada e seus pais seriam
agricultores, motivo pelo qual, na ótica do MPF, seria falso.

Contudo, o que vejo é justamente o contrário: a prova documental trazida pela


acusada em sua defesa é contundentemente convincente no sentido de que seus pais são
agricultores. A única testemunha ouvida no processo – indicada pelo próprio MPF – foi firme
no sentido de que tanto a acusada quanto seus pais sempre trabalharam na agricultura. Se
o documento original do PSF diz que a ré e seus pais são agricultores, não me parece que –
segundo o harmônico conjunto probatório dos autos – seja ideologicamente falso.

A alegada falsidade ideológica, desse jeito, cai totalmente por terra, pois a
informação constante do documento – repito, de acordo com o que fora provado nesses
autos – é perfeitamente verdadeira.

Já no que concerne ao outro documento supostamente falso – a ficha de


aluno – penso que siga na mesma linha. Partindo-se do pressuposto de que a acusada é
trabalhadora da agricultura e que utilizou o documento para comprovar essa condição
perante o INSS a fim de obter um benefício a si devido justamente em função da condição
de agricultora (os outros requisitos não foram questionados), pergunto:

a) Onde estaria o “erro” em que teria incidido o INSS e que configuraria o


estelionato, uma vez que a autora era realmente agricultora, como dizia o documento?

b) Se o benefício de salário maternidade era realmente devido à autora, onde


estaria o proveito ilícito auferido pelo agente, e que configuraria o estelionato?

c) Finalmente, se era o INSS quem deveria legitimamente pagar dito benefício


à acusada, onde estaria o prejuízo, também configurador do delito de estelionato?

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Essas questões me conduzem à conclusão de que crime algum houve nesse


caso, tendo sido efetivamente demonstrada a partir da instrução processual penal a
ausência do próprio fato criminoso alegado na denúncia. Tendo ficado provada a condição
de agricultora da acusada, nem se pode afirmar que ela “enganou” o INSS, nem que auferiu
proveito “indevido” e muito menos que causou “prejuízo” aos cofres públicos.

Em suma, não estão presentes as elementares do fato típico definido no art.


171, §3º, do Código Penal brasileiro, o que enseja, nos termos do art. 386, I, do Código de
Processo Penal, o julgamento de improcedência do pedido com a absolvição da acusada.

DISPOSITIVO

Diante do exposto, com fundamento no art. 386, I, do Código de Processo


Penal brasileiro, julgo improcedente a pretensão punitiva para absolver JUBERLÂNDIA
FARIAS DA SILVA da acusação.

Custas ex lege.

Transitada em julgado a presente sentença, certifique-se, preencha-se e


remeta-se o boletim individual da acusada ao IBGE, dê-se baixa da distribuição e arquivem-
se os autos.

Sentença publicada em mãos do diretor de secretaria da vara. Registre-se no


sistema informatizado. Intimem-se a acusada e sua defensora pessoalmente. Cientifique-se
o MPF.

João Pessoa, 05 de março de 2010.

Juiz federal ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU


Substituto da segunda vara

ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU


Juiz Federal

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