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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS

CENTRO DE LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO


Jor

FACULDADE DE JORNALISMO
Edição e viés ideológico
In: MELO, J.M. Jornalismo Opinativo. Campos de Jordão: Editora
Mantiqueira, 2002, p. 73-92.

A Expressão Opinativa
1. A direção ideológica
Ao estabelecer uma fronteira metodológica entre jornalismo informativo e jornalismo
opinativo, com a finalidade de situar os gêneros que agrupam unidades redacionais ou
"matérias" que possuem natureza semelhante, de acordo com os critérios formulados
no capítulo anterior, não pretendendo absolutamente fazer crer que a expressão
opinativa (tomada no sentido de direção ideológica) se reduza à Segunda categoria.
Entendemos que os meios de comunicação coletiva, através dos quais as mensagens
jornalísticas penetram na sociedade, bem como os demais meios de reprodução
simbólica, são" aparatos ideológicos", funcionando, se não monoliticamente atrelados
ao Estado, como dá entender Althusser, pelo menos atuando como uma “indústria da
consciência”, de acordo com a perspectiva que lhes atribui Enzensberger, influenciando
pessoas, comovendo grupos, mobilizando comunidades, dentro das contradições que
marcam as sociedades. São, portanto, veículos que se movem na direção que lhes é
dada pelas forças sociais que os controlam e que refletem também as contradições
inerentes às estruturas societárias em que existem.
Recusamos, portanto, a idéia da "objetividade" jornalística naquela acepção de
neutralidade, imparcialidade, assepsia política que as fábricas norte-americanas de
notícias quiseram impor a todo o mundo.
Mas também não endossamos a tese de que a mensagem jornalística é
necessariamente politizante, naquela acepção persuasiva, instrumentalizadora,
acalentada por tantos exegetas equivocados de Marx.
A essência do jornalismo tem sido historicamente a informação, aí compreendido o
relato dos fatos, sua apreciação, seu julgamento racional. E o espaço da autonomia
jornalística é o da liberdade, concebida como possibilidade de convivência e de
confronto permanente entre diferentes modos de aprender e de relatar o real.
Atividade eminentemente política, o jornalismo não exclui a reprodução verdadeira dos
acontecimentos, seja qual for a orientação ideológica da instituição ou de seus
profissionais. Mas a medida da veracidade é uma conseqüência da disponibilidade de
fontes de difusão jornalística que permitam à coletividade a confrontação dos fatos e
de suas versões. Quando essa disponibilidade inexiste, a sociedade encontra seus
próprios mecanismos para se acercar da realidade...
No sentido de preservar essa confiabilidade em relação ao público, elo fundamental
para que o processo jornalístico se concretize, as instituições ordenam suas
mensagens segundo as categorias já indicadas anteriormente.
Assim sendo, a questão da defasagem que existe entre a realidade e o seu relato nas
páginas de um jornal ou revista ou nos programas de uma emissora de rádio ou de
televisão, não decorre diretamente dos gêneros utilizados e sim do próprio sentido que
a instituição jornalística dá ao ordenamento das mensagens que procuram representar
a realidade observada.

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Essa defasagem se reduz tanto mais quanto se busca um equilíbrio entre as duas
categorias fundamentais. Ou pode FACULDADE
ser aguçadaDE quando existe intencionalmente o
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desejo da instituição jornalística de contrapor a sua versão dos fatos àquelas
proporcionadas por outras instituições. Enquadram-se, por exemplo nessa tendência às
publicações vinculadas a partidos políticos que optam por privilegiar os relatos
jornalísticos de natureza opinativa.
Todavia, a expressão da opinião, não tomada naquele sentido de categorização das
mensagens que pretendem explicitamente atribuir valor aos fatos, mas compreendida
como mecanismo de direcionamento ideológico, corporifica-se nos processos
jornalísticos através da seleção das incidências observadas no organismo social e que
atendem às características de atual e de novo. Materializa-se através da filtragem que
sofrem no processo de difusão, seja através da omissão, seja através da projeção ou
redução que experimentam na emissão.
Vale a pena, antes de traçarmos o perfil de cada um dos gêneros opinativos, descrever
e analisar esse processo de filtro das mensagens captadas e de sua disposição no
conjunto do espaço jornalístico. Trata-se de uma visão esclarecedora sobre o
funcionamento da engrenagem jornalística e que, se por um lado demonstra que a
direção ideológica flui desafogadamente (do ponto de vista da sua percepção pelo
grande público), por outro lado deixa entrever que o controle do sentido jornalístico
está também atravessado pelas contradições que marcam a fisionomia das empresas
jornalísticas brasileiras, onde as relações capitalistas de produção nutrem um conflito
latente entre os jornalistas assalariados e seus empregadores e respectivos
mediadores (editores/gerentes).
A seleção da informação a ser divulgada através dos veículos jornalísticos é o principal
instrumento de que dispõe a instituição (empresa) para expressar a sua opinião. É
através da seleção que se aplica na prática a linha editorial. A seleção significa,
portanto, a ótica através da qual a empresa jornalística vê o mundo. Essa visão
decorre do que se decide publicar em cada edição privilegiando certos assuntos,
destacando determinados personagens, obscurecendo alguns e ainda omitindo
diversos.
Mas até que ponto a seleção da informação reflete exatamente a opinião da empresa?
Ou seja, até onde os dirigentes de uma organização jornalística controlam o que vai
ser publicado?
Não está muito distante o episódio em que o ex-ministro da Comunicação Social, Said
Farhat, propunha uma lei da responsabilidade para os jornalistas, alegando
exatamente que os donos dos jornais e de emissoras de radiodifusão não têm
condições técnicas para controlar tudo o que se publica nos seus veículos. E atribuía
aos jornalistas profissionais que integram as redações um poder significativo nesse
processo. Segundo Farhat, os proprietários das empresas estão impossibilitados de
acompanhar a ação dos seus empregados, advinha daí o extravasamento de matérias
que não coincidem rigorosamente com a linha editorial.
O risco existe, mas ele não é tão grave assim, nem passa desapercebido pelos
empresários do jornalismo. Trata-se muito mais de um conflito consentido, do qual os
dirigentes institucionais participam em condições de manter o controle do processo. Ele
já havia sido diagnosticado pelo sociólogo Orlando Miranda numa pesquisa sobre o
processo de elaboração da notícia nos jornais de São Paulo. Indagando aos jornalistas
pesquisados como eles descreviam uma determinada notícia (que envolvia greve de
trabalhadores) e que orientação assumiria o texto final a ser publicado - se a ótica da

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empresa ou a ótica do próprio jornalista - ele constatou que a versão final seria
produto de uma negociação implícita FACULDADE
entre as partes.
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De qualquer maneira, não existem dúvidas sobre o controle que a intuição jornalística
exerce sobre o que vai ser difundido em cada edição ou emissão. Tampouco existem
dúvidas sobre as possibilidades que têm os profissionais de interferir nesse controle
(participar?).
Vejamos quais os recursos de que dispõe a empresa para controlar a seleção da
informação. O principal instrumento nas mãos dos proprietários é a própria estrutura
da redação, caracterizada por um evidente verticalismo, como é próprio das
organizações complexas. As decisões fluem de cima para baixo, desde o editor chefe
até a chefia de reportagem ou as editorias especializadas. É uma relação de ordem e
obediência, na qual as chefias decidem o que os seus subordinados vão fazer e cobram
o cumprimento integral da execução, dispondo ainda de instrumentos adicionais para
corrigir as distorções. E é claro que as pessoas ascendem aos postos chaves nas
empresas jornalísticas passam também por um processo de seleção, tornando-se
pessoas de confiança. São geralmente profissionais que se afinam com a opinião da
empresa .. Ou então, divergindo dessa opinião, comprometem-se a seguir a orientação
vigente. Os proprietários naturalmente exercem vigilância sobre o andamento das
atividades jornalísticas controlando diariamente o produto final. Quem militar nos
meios jornalísticos sabe que de períodos em períodos as empresas efetuam
reformulações nos seus quadros redacionais, e “expurgam” aqueles que insistem em
desafiar a orientação oficial.
Mas os jornalistas sempre dispõem de artifícios para burlar a linha editorial. Isso nem
sempre ocorre no plano da seleção fundamental, ou seja, informações ou opiniões que
destoam abertamente da orientação empresarial. Quando acontece, são inevitáveis as
soluções cirúrgicas (demissões punições), além do rápido acionamento de mecanismo
de retificação. Mas existe muito campo para a intervenção sutil dos profissionais
naquelas questões que não constituem "pontos de honra” da empresa. E geralmente
essa intervenção é tacitamente aceita pelos proprietários. O jornalistas conseguem
fazer "passar" certas mformações do seu interesse político corporativo.
Trata-se de um pacto informal entre proprietários e empregados que atende a duas
finalidades:
a) quebrar o monolitismo informativo, abrindo brechas para determinadas informações
que correspondem a expectativas de segmentos minoritários do público receptor e
reforçam os interesses mercadológicos da empresa;
b) criar um clima de cordialidade entre patrões e empregados, reduzindo as tensões
que caracterizam a relação assalariada. Essas intervenções dos profissionais na seleção
de informações ocorrem geralmente de forma coletiva, tratando-se de uma ação
colegiada que resulta do "espírito de corpo" bem presente na categoria jornalística.

Filtros: pautas, coberturas, fontes e copidesque

Outros mecanismos intervenientes no processo de seleção das unidades informativas


são: a pauta, a cobertura, as fontes e o copidesque.
A pauta é uma das contribuições do jornalismo norte-americano ao jornalismo
brasileiro. Luiz Amaral define-a como "uma previsão do acontecimento que se
desenrolarão no dia seguinte". Ou seja, é um roteiro destinado à pré-seleção das
informações a serem publicadas. É através da pauta que se distribui o conjunto de
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tarefas destinadas cotidianamente aos profissionais que integram a redação:


repórteres, redatores e editores. FACULDADE DE JORNALISMO
Antes da utilização da pauta, as informações fluíam com menos rigor para o jornal, a
revista ou as emissoras de radiodifusão, conferindo lugar à exercitação do "faro" dos
repórteres, que saíam a campo para descobrir notícias. Hoje, essa ação criativa dos
repórteres está bastante limitada, pois o seu trabalho diário se orienta pelas
prescrições do pauteiro.
A pauta não é apenas um elenco de temas ou assuntos a serem observados pelos
jornalistas, mas uma indicação dos ângulos através dos quais os acontecimentos
devem ser observados e relatados.
Comparando os padrões do jornalismo brasileiro e norte-americano, Clóvis Rossi
assegura que a pauta adquiriu maior amplitude nas nossas redações. Nos Estados
Unidos, o pauteiro, jornalista encarregado da pré-seleção das informações,
circunscreve-se a indicar a existência ou possibilidade de configuração de um fato,
deixando o seu relato por conta do profissional responsável pela cobertura. Enquanto
isso, no Brasil a pauta atingiu extrema sofisticação, convertendo-se em receituário
para a exploração do fato possível de se transformar em notícia.
A explicação dada para essa diferenciação está no plano salarial. O jornalismo norte-
americano conta com repórteres bem remunerados, e portanto mais qualificados para
a coleta de dados. No jornalismo brasileiro, o repórter é mal pago, sendo sua função
preenchida pelos iniciantes, sem grande experiência na profissão. Daí a necessidade de
o pauteiro oferecer um roteiro mais detalhado para busca dos fatos: indica, além das
evidências disponíveis, suas tendências previsíveis e recomenda variáveis que devem
ser observadas mais atentamente, sugerindo fonte, etc.
Rossi identifica com muita argúcia a função da pauta como filtro ideológico no processo
de produção jornalística. Eis as "distorções" que ele aponta:
1) A pauta é elaborada principalmente a partir do que publicam os jornais. Os
pauteiros acompanham com interesse tudo o que os jornais publicam e extraem desse
fluxo noticioso as novas ocorrências ou os seus desdobramentos (geradores de novas
notícias). Cria-se, portanto, um círculo vicioso, através do qual os jornais se "auto-
alimentam". O que foge da percepção imediata dos jornais e não figura nas edições em
circulação deixará de ser objeto de informação jornalística. O que escapa dessa
"evidência" é o que chega através dos serviços de press release, ou seja, informações
orientadas pelos que têm interesse na sua divulgação.
2) A pauta reflete a idealização das pessoas que permanecem na redação e não
daquelas que estão em contato direto com os fatos ou com os protagonistas das
notícias. Como os pauteiros são jornalistas que se enclausuram nos escritórios a pauta
tende a sofrer uma deformação perceptiva, limitando-se ao mundo visto através da
sala de redação. Algumas instituições procuram neutralizar essa distorção admitindo
eventuais recomendações aos repórteres. Mas esta não é ainda pratica generalizada.
3) A pauta é discutida e decidida em círculo muito fechado em reuniões de que
participam exclusivamente os editores, os pauteiros, a chefia de reportagem e o
editor-chefe, Da decisão final participam também dirigentes da empresa, que se
encarregam de orientar a opinião do veículo,
4) A pauta condiciona o repórter, limitando a sua criatividade. O repórter vê-se
obrigado a seguir os quesitos estabelecidos pelo pauteiro, sob o risco de cair no
desagrado da chefia. Na estrutura vertical das redações acaba sempre prevalecendo a
opinião dos que chefiam e raramente dos que fazem o trabalho de captação e relato
dos acontecimentos.
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O papel de peneira informativo/ideológica desempenhado pela pauta completa-se com


o acionamento do sistema da cobertura, através DE
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qual o jornal ou revista espalha
suas antenas para detectar os fatos a serem noticiados.
Trata-se de uma estrutura organizada para garantir o acompanhamento do que está
ocorrendo na sociedade. O esquema de cobertura não implica necessariamente na
produção de matérias a serem difundidas, mas significa uma familiarização com os
fatos e seus personagens, obtendo elementos que orientam as decisões jornalísticas da
própria empresa. Trata-se de uma atividade que alimenta a estrutura informativa da
empresa, prevendo fatos que poderão vir a acontecer.
O sistema da cobertura corresponde, portanto, a um fator decisivo na seleção das
informações, pois ao privilegiar certas organizações ou núcleos da sociedade e ao
omitir outras, a empresa praticamente marginaliza do fluxo noticioso vastos setores da
vida social.
Uma constatação é a de que os grandes jornais e outros veículos jornalísticos
geralmente estruturam sua cobertura no sentido de legitimar os núcleos de poder. Dá-
se cobertura à Presidência da República, ao Congresso Nacional e às Câmaras
Estaduais e Municipais; aos Ministérios às Secretarias de Estado; aos Tribunais e
instâncias judiciárias; às associações das classes produtoras, etc.
O fluxo noticioso rege-se pela atuação das instituições hegemônicas e marginaliza os
núcleos de arregimentação e mobilização comunitária. Tais entidades, evidentemente
mais próximas da vivência dos leitores, ficam excluídas do fluxo noticioso, passando a
figurar apenas quando surgem problemas de grande repercussão (greves, acidentes,
catástrofe).
Predominando uma cobertura dessa natureza inevitavelmente o jornalismo brasileiro,
em especial aquele que se difunde através da imprensa, assume um caráter elitista
tratando predominantemente dos assuntos que interessam a uma minoria, e deixando
de lado as questões que afetam o dia-a-dia da população. Essa é a razão pela qual se
explica, em parte, a baixa tiragem dos nossos jornais diários. O desinteresse gerado
pela estrutura noticiosa, pela qual é responsável a cobertura, afasta os leitores dos
jornais.
Outro aspecto a ser considerado na cobertura é a passividade que muitas vezes conduz
os repórteres encarregados de cobrir determinados setores, aceitando tranqüilamente
as versões dos informantes principais, sem procurar confrontá-las devidamente. Essa
brecha tem sido usada habilmente pelas assessorias de imprensa para "plantar"
notícias que só adquirem significados porque os fatos são precipitados pelas
informações divulgadas através da imprensa e da radiodifusão.
Mas aqui já estamos diante de outro fator que interfere no processo de seleção
informativa: a fonte seu uso, sua atuação.
De um modo geral, as instituições jornalísticas recorrem a três tipos de fontes:
próprias, contratadas e voluntárias.
As fontes próprias correspondem ao serviço noticioso mantido pela empresa:
correspondentes, sucursais, reportagem local. Quanto maior a possibilidade que tem a
organização de manter suas próprias fontes, mais controle ela possui no processo de
seleção. É que seu pessoal, na sede ou fora, atua de acordo com a orientação
oferecida pela pauta e portanto se aproxima do que a empresa quer ver publicado.
Quanto menor a amplitude das fontes próprias, maior a dependência das fontes
externas e maior a possibilidade de ter a sua linha editorial "manipulada" por núcleos
de interesse que atuam como grupos de pressão social.

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Fontes contratadas são as agências informativas que especializam na cobertura de


fatos nacionais ou internacionais. Essas organizações
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político, porque controlam o que se publica ou deixa de ser divulgado. Um dos recursos
possíveis para restringir a dependência das fontes contratadas é a disponibilidade de
mais de uma fonte, o que somente as grandes empresas jornalísticas compram
simultaneamente os serviços de várias agencias noticiosas.
E a maioria dos jornais diários e emissoras de rádio que atuam fora dos grandes
centros nutre-se de apenas uma agência nacional. Isso implica em que o fluxo
noticioso seja direcionado dos grandes centros metropolitanos (Nova Iorque, Londres,
Paris) para os pólos nacionais de concentração jornalística (Rio e São Paulo) e destes
para o restante do país. Assim sendo, o que acontece fora da área de atuação da
instituição jornalística, e a não ser que ela disponha de seus próprios mecanismos de
observação, assumirá uma feição opinativa muitas vezes aleatória em relação à sua
política editorial.
A dependência das fontes contratadas constitui um imperativo econômico. São muito
poucas as empresas em condições de manter correspondentes no exterior ou mesmo
nas principais cidades brasileiras. Esses correspondentes atuam não apenas como
redatores das notícias a serem difundidas, mas como informantes dos fatos e versões
que circulam nos bastidores da notícia e que ajudam as instituições jornalísticas a
formularem previsões sobre o desenrolar dos acontecimentos.
Mais sutil que a interferência das fontes contratadas é o acionamento das fontes
voluntárias. Estas funcionam a partir dos serviços de relações públicas, montadas por
empresas estatais, corporações privadas, órgãos governamentais e até mesmo pelos
movimentos sociais. Todas atuam para lograr a divulgação de acontecimentos do seu
interesse. E se escudam no princípio de que a divulgação de notícias relacionadas com
um personagem ou uma instituição contribuem para forjar sua imagem pública. Essa
imagem se solidificará na medida em que a divulgação for contínua, as notícias se
repetirem. Mais do que projetar nomes, marcas ou siglas, as fontes voluntárias
pretendem direcionar a ótica das instituições jornalísticas.
Gérson Moreira Lima estudou recentemente a "releasemania" que se estabeleceu no
jornalismo brasileiro, com a proliferação dos boletins noticiosos expedidos por diversos
setores empresariais e governamentais. As fontes de informação são usadas pelas
grandes empresas como referencial para a confecção da pauta; isso já não ocorre com
as médias e pequenas empresas, cujo quadro redacional é reduzido por contingências
financeiras e o aproveitamento integral das matérias contidas nos press releases
apresenta-se como recurso rotineiro para o preenchimento do espaço noticioso.
Se, por um lado, esse aproveitamento das brechas editoriais constitui uma política
deliberada das instituições vinculadas aos centros de poder, por outro lado, observa-se
uma tendência recente nos movimentos sociais brasileiros de recorrerem ao mesmo
mecanismo. Evidências disso foram constatadas nos episódios das greves operárias no
ABC, quando os sindicatos dos trabalhadores procuraram de alguma maneira influir na
orientação da cobertura dada pelos jornais diários ou pelos telejornais.
O manejo das fontes tem importância decisiva na orientação dos fatos a serem
noticiados e comentados. Como as instituições jornalísticas não podem cobrir
simultaneamente todos os acontecimentos que poderiam interessar aos públicos, elas
se alicerçam de modo a contar com o subsídio informativo das agências que realizam a
intermediação entre o que acontece (ou está para acontecer) e o relato desses fatos.
Decidir a que fontes recorrer externamente constitui uma dimensão da política
editorial, que está atrelada fortemente às Operações comerciais das empresas.
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Introduzimos aqui um outro fator determinante da produção jornalística, cuja análise


constituiria uma excelente comprovação da dependência
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em relação aos espaços publicitários aqui privilegiado. De qualquer maneira, não se
pode desconhecer que a utilização das fontes voluntárias repousa em grande parte nas
vinculações publicitárias das empresas jornalísticas com as suas fontes financeiras
(anunciantes). Eis aí um critério que ordena fundamentalmente o processo de seleção
das matérias contidas no volumoso serviço de press release encaminhado às redações
e que passa pelo crivo dos editores. Quase sempre os boletins ou matérias que
enchem as cestas do lixo são aqueles que colidem com a linha editorial da empresa, e
por isso não vale a pena sequer tomá-los como "dicas" para as pautas.
Complementarmente à filtragem que ocorre no processo de previsão e seleção das
informações, as empresas jornalísticas contam com dispositivo eficiente durante a fase
de elaboração das unidades redacionais que preencherão o espaço ou o tempo das
edições / emissões noticiosas. Trata-se do copidesque, uma das heranças que o
jornalismo norte-americano legou ao jornalismo mundial e que o Brasil transplantou
perfeitamente.
O copidesque cumpre o papel de microfiltro. Cada matéria passa por uma verificação
antes de ser difundida. Tecnicamente a atividade do copidesque é apresentada como
um recurso editorial para a unificação da linguagem utilizada, e, no caso específico da
imprensa, para a correção dos eventuais deslizes gramaticais. Ou seja, o jornalista
encarregado de reescrever as matérias produzidas pelos demais integrantes da equipe
redatorial atuaria no plano meramente lingüístico-literário. E certamente isso também
ocorre. Foi desta maneira que Nélson Rodrigues sempre o compreendeu e combateu.
Vale a pena transcrever excertos do depoimento de Nélson Rodrigues para captar essa
idéia da rejeição puramente estético - profissional ao copidesque nas redações
brasileiras:
Sou da imprensa anterior ao copidesque ( ... ) Na redação não havia nada aridez
atual... (...) Quem redigia um atropelamento julgava-se um estilista. (...) Havia uma
volúpia autoral inenarrável. E nenhum estilo era profanado por uma emenda. Jamais.
Durante várias gerações foi assim e sempre assim. De repente, explodiu o copidesque.
Houve um impacto medonho. Qualquer um na redação, seja repórter de setor ou
editorialista, tem uma sagrada vaidade estilística. E o copidesque não respeitava
ninguém. Se lá aparecesse um Proust, seria reescrito do mesmo jeito. Sim, o
copidesque instalou-se como afigura demoníaca da redação. (...) Aliás, devo dizer que
o copidesque e o idiota da objetividade são gêmeos e um explica o outro (...) E o pior é
que, pouco a pouco, o copidesque acabou fazendo do leitor um outro idiota da
objetividade. A aridez de um se transmite ao outro. Eu me pergunto se, um dia, não
seremos nós cem milhões de copidesque. Cem milhões de impotentes de sentimentos.

Mas a transcendência do copidesque era maior, como continua a ser. A reação literária
ou estilística que mobilizou e entusiasmou toda a corporação jornalística nos idos de
60 abrandou a reelaboração das matérias, pelo menos nos jornais diários. Sua ação
continua permanente nas revistas semanais cuja padronização da linguagem é um dos
traços de sua estrutura informativa. Deixando de lado a personalidade dos redatores
nos textos que escrevem, o copidesque tornou-se um filtro ideológico, funcionando
como peneira fina para barrar as filigranas da argumentação discursiva que não
convenham à linha editorial.
O copidesque é um mecanismo final de que dispõe a Instituição jornalística para
exercer vigilância sobre o que se publica ou divulga no anonimato, ou melhor, nas
matérias cuja autoria é coletiva (equipes) ou que ficam sob a responsabilidade da

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própria empresa. O que escapa da sua apreensão é justamente o espaço em que o


jornalista exerce alguma influência pessoal ou
FACULDADE corporativa na angulação dos
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acontecimentos divulgados.
É de interesse chamar a atenção para o seguinte aspecto: o copidesque praticamente
funciona como fronteira entre o jornalismo informativo e o jornalismo opinativo na
organização do trabalho jornalístico. As matérias que se enquadram nos gêneros
opinativos, exatamente pela postura orientadora que assumem, escapam da sua
interferência. Não passam pela sua filtragem. Seu campo específico é o das matérias
compreendidas nos gêneros informativos.

Conotação jornalística: títulos e manchetes


A expressão opinativa também ocorre através do mecanismo de projeção ou redução
das unidades redacionais. Uma matéria que aparece na primeira página de um jornal
ou tem chamada na capa de uma revista, ou ainda merece um flash na apresentação
dos radiojornais ou telejornais, sem dúvida provoca maior impacto. E exerce maior
influência.
O contato com essas informações destacadas desempenha um papel decisivo na
formação da visão de mundo que cotidianamente o cidadão obtém. Saber que
determinados fatos aconteceram e outros não, que determinados personagens
atuaram na cena social em primeiro plano, que tais ou quais organizações figuram na
linha de frente das novidades, constitui referencial básico para moldar a atitude
coletiva.
No caso específico dos jornais diários, a organização da primeira página tem sentido
determinante. Tanto assim que publicações morfologicamente avançadas, convencional
da publicidade para motivar seus leitores. Utiliza um recurso narrativo que Francisco
Morel chamou de "anúncio da notícia".
Outro recurso é a titulação. Na verdade, o título da notícia já constituiu a apropriação
de uma forma publicitária pelo jornalismo. O "anúncio da notícia" começa com a
colocação de títulos nas unidades redacionais. Os primitivos jornais não possuíam
títulos com as características atuais. Limitavam-se aos títulos-fixos ou "rubricas",
simplesmente indicado aos leitores pequenas diferenças temáticas entre os textos
publicados. Ou, eventualmente, continham títulos-assuntos, destacando sobretudo as
matérias nitidamente opinativas das que se pretendiam informativas.
Os historiadores do jornalismo norte-americano dizem que os primeiros títulos eram
títulos-rótulos, uma declaração genérica e indefinida com pouca ou nenhuma
informação sobre a notícia. Correspondendo ao estilo de diagramação (ou paginação)
vertical dos jornais de então, esses títulos (label) eram miúdos, pouco maiores que o
corpo tipográfico usado para o texto, ocupando apenas o topo da coluna.
Não diferia muito dos jornais brasileiros do século passado. Walnice Nogueira Galvão
obteve evidências disso quando pesquisou jornais de várias cidades brasileiras ("todos
muito semelhantes entre si") para avaliar a projeção da "guerra" de Canudos. Seu
registro é elucidativo:
O modelo do jornal é um só. Estreitas colunas (nem sempre, mas via de regra, em
número de oito) que obrigam o leitor de um artigo mais longo a iniciar a leitura lá em
cima, logo abaixo do cabeçalho, percorrer quase um metro de papel até o pé da
coluna, e procurar a continuação na coluna, contínua novamente lá em cima. Se o
artigo ocupa várias colunas, o movimento da leitura se repete várias vezes; cada
artigo, uma vez começado, vai até o fim sem interrupção. O tamanho grande da
página, a estreiteza das colunas, os tipos miúdos, realmente dificultam a leitura.
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Só no fim do século, quando a imprensa norte-americana começa a se "popularizar", a


se tornar uma indústria de notícias, é que DE
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paginação dos jornais muda e
conseqüentemente os títulos adquirem novas formas. Theodore Bemstein reivindica
como "inovação exclusivamente norte-americana" o desenvolvimento do título, depois
copiado por toda a imprensa mundial.
Essa transformação ocorre durante a "guerra jornalística" entre os principais
empresários da notícia em Nova lorque: Hearst e Pulitzer. Por ocasião da guerra
hispano norte-americana, os dois magnatas lutavam pela conquista do mercado. E
ambos percebem claramente a influência do aspecto tipográfico na venda dos jornais.
Imediatamente começam a modificar a primeira página, introduzindo uma paginação
equilibrada, com títulos de duas colunas nas margens do jornal, incluindo também
subtítulos e deixando o centro da página somente com texto. Depois, caminharam
para uma mudança mais radical admitindo as manchetes, que ocupam toda a
superfície, em oito colunas, logo abaixo do título do jornal. Generalizou-se então o uso
de títulos chamativos, correspondendo à competição travada entre matutinos e
vespertinos para conquistar as preferências dos leitores.
Nesse período, as técnicas de propagandas já estavam desenvolvidas e o uso dos
títulos e manchetes é uma forma de motivar o leitor. O nascimento dos títulos -
notícias ocorre naquele momento em que a própria notícia se transforma em
mercadoria.
Não obstante Joaquim Douglas atribua ao título funções predominantemente técnicas
(anunciar a notícia e resumir seu conteúdo) e estéticas (dar aspecto atraente à página
do jornal), ele próprio admite seu potencial orientador, quando diz que o título "indica
a importância relativa da notícia". Mas, fiel discípulo da objetividade norte-americana,
Douglas condena a "editorialização" do título. "O mais grave defeito que pode
apresentar o título é, sem dúvida, a editorialização. Sem nenhuma exceção, a opinião
do jornal ou do redator somente pode ser divulgada no confinamento inequívoco das
páginas de editoriais. A preocupação de identificar com precisão um acontecimento
muitas vezes acarreta dificuldades, porque a linha divisória entre a caracterização do
fato e a editorialização nem sempre é claramente definida. (...) Mas, como nos títulos
não há lugar para notas elucidativas, a ordem é usar palavras e frases absolutamente
claras".
Demonstrando uma posição ética inabalável, Douglas perora: "A editorialização do
título - do mesmo modo que a da notícia - constitui fraude ao leitor, que não espera
nem pretende encontrar no noticiário outra coisa senão fatos. O título deve reproduzir
o que está na notícia. Deve limitar-se a expor apenas o que a notícia diz".
Não deixa de haver ingenuidade nessa tese além de algumas contradições. Primeiro,
ele reconhece que muitas vezes é difícil estabelecer o limite entre a informação e a
opinião. Segundo, sugere tornar o título claro, e, para tanto, reproduzir o que está na
notícia. Ora, reproduzir o que está na notícia representa seguir a sua tendência. E isso
é uma manifestação típica de opinião. Por mais objetiva que seja uma informação, no
sentido de registrar fatos verdadeiros, reais, é obvio que a percepção dos fatos
depende do prisma da observação. Toda notícia é, portanto, angulada. Pode conter
informações fidedignas, comprovadas, mas essa informação aparecerá de modo
diferente em diversos jornais. Logo, a notícia dá um sentido ao fato; o título, ao refleti-
lo, também sugere esse sentido.
Assim sendo, entendemos que os títulos e manchetes se apresentam segundo dois
tipos: a) os que emitem claramente um ponto de vista; b) os que dissimulam o
conteúdo ideológico. Enquanto o primeiro tipo é peculiar aos jornais e revistas de
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Jor

combate, vinculados ou não a partidos políticos, o segundo tipo é constante nas


publicações comerciais, aquelas queFACULDADE
se regem pela ganância, pelo lucro, ainda que
DE JORNALISMO
pretendam ostentar uma capa de neutralidade, imparcialmente.
Em suas pesquisas sobre a natureza opinativa dos títulos, Luiz Beltrão diz que o exame
das manchetes de primeira página permite discernir a "personalidade política" dos
jornais. Comparando-os entre si, identificaremos os matizes existentes na sociedade.
Confrontando um mesmo jornal, no tempo, é possível observar sua coerência.
Usar ou não títulos como instrumento para manifestação explícita da opinião é uma
decisão que os jornais doutrinários não titubeiam em tomar. A vacilação existe na
grande imprensa, ou seja, na imprensa burguesa, que converte a informação em
mercadoria. Geralmente essas publicações procuram impostar uma certa
imparcialidade que é superada imediatamente quando ocorrem momentos de
polarização da opinião pública e o público leitor espera um posicionamento frontal da
instituição jornalística que prestigia. Nessas ocasiões, não há como fugir do
posicionamento aberto. Nos momentos de normalidade impera contudo uma atitude de
ambigüidade, que é a de imprimir um certo sentido aos fatos, através dos seus títulos,
agindo porém com cautela.
Numa pesquisa sobre a imprensa francesa, em março de 1960, quando Kruschev
visitou a França como chefe de Estado, Violette Morin reuniu algumas observações
muito pertinentes sobre essa questão da ambigüidade se traduz pela diversidade de
manchetes numa mesma página, o que significa retirar de um acontecimento, que
seria principal, sua exclusividade na cena noticiosa, equiparando-o com outros fatos.
Comparando, por exemplo, as páginas do France Soir (jornal burguês) e do L’Humanité
(jornal comunista), ela verificou que o primeiro continha títulos grandes referentes à
chegada de Kruschev, mas também outros títulos igualmente grandes: motim numa
prisão francesa, um desastre de aviação, etc. Enquanto isso, o jornal do PCF era todo
dedicado à visita do dirigente soviético: todos os títulos da primeira página chamavam
a atenção para os textos referentes ao acontecimento. A ambigüidade também pode se
traduzir pela cautela com que o acontecimento é tratado, sugerindo um sentido, mas
não o levando às últimas conseqüências. Morin observou que, na visita de Kruschev,
os diários franceses usaram dissimulações. Figaro intitulou uma matéria "Um engano
de K", quando na verdade (e o texto o confirmava) queira dizer: "K hipócrita" ou "K
mentiroso".
A vacilação entre ser ostensivamente opinativo nos títulos e operar através da
dissimulação explica-se pela natureza mercantil da maioria das instituições
jornalísticas. Tem razão Violette Morin, quando afirma: "Cada diário, dividido entre o
temor de não satisfazer a seus leitores habituais de desgostar aos eventuais termina
por estabilizar-se em uma prudente duplicidade".
Os títulos podem permitir, portanto, duas expressões opinativas: aquilo que Douglas
chama de "editorialização" e o que Morin chama de "dissimulação". No primeiro caso, a
opinião é explícita no título e pode encontrar respaldo ou maior vigor no texto. No
segundo caso, a opinião do título reduz a carga opinativa contida no texto.
Um dos artifícios usados pelo jornal para encobrir, nos títulos, uma posição que revela
no texto, é a "ênfase". Anne-Marie Loffler-Laurian estudou os títulos do jornal La Razón
de Buenos Aires e concluiu que a ênfase peculiar aos títulos implica em atribuir
"sentido conotativo a um enunciado verbal que se pretende denotativo".
Os recursos mais freqüentes são:

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Jor

a) Interrogação - os títulos formulados interrogativamente funcionam como


"chamada", tendo pouca carga "sêmica"; o pontoDE
FACULDADE de JORNALISMO
interrogação é uma marca visual
significante de um ponto de vista subjetivo; a interrogação nunca é repetida no texto.
b) Exclamação - indica um estado de espírito em relação ao tema, sugerindo
aprovação ou revelando espanto.
c) Negação - trata-se de uma afirmação negada; funciona como chamada: chamada
carregada de subjetividade; apresenta um evento que não ocorreu e, portanto,
espanta.
d) Aspas - põem em relevo declarações de algum personagem, com as quais o jornal
concorda ou quer polarizar, justamente destacando.
e) Sublinhamento - colocar fios embaixo das palavras - chaves ou usar caracteres
diferentes para destacar.
f) Transbordamento - disposição do título em um número de colunas superior ao
espaço usado pelo texto no conjunto da superfície impressa" .
A tese defendida por Loffler-Laurian é a de que os títulos representam um discurso
"marcado" em relação aos enunciados contidos nos textos.
Eles são obtidos a partir dos textos, geralmente fabricados depois, mas contendo uma
dupla codificação:
1°) a expressão de qualquer mensagem lingüística;
2°) passar do discurso neutro (texto) ao discurso enfático (título).
A ênfase consiste portanto no uso de intensivos, de processos de reforço destinados a
colocar em destaque um ou vários elementos de um enunciado, exagerando-o,
acentuando-o, ou seja, aumentando o valor ou o impacto afetivo de um enunciado.

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