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FACULDADE DE JORNALISMO
Edição e viés ideológico
In: MELO, J.M. Jornalismo Opinativo. Campos de Jordão: Editora
Mantiqueira, 2002, p. 73-92.
A Expressão Opinativa
1. A direção ideológica
Ao estabelecer uma fronteira metodológica entre jornalismo informativo e jornalismo
opinativo, com a finalidade de situar os gêneros que agrupam unidades redacionais ou
"matérias" que possuem natureza semelhante, de acordo com os critérios formulados
no capítulo anterior, não pretendendo absolutamente fazer crer que a expressão
opinativa (tomada no sentido de direção ideológica) se reduza à Segunda categoria.
Entendemos que os meios de comunicação coletiva, através dos quais as mensagens
jornalísticas penetram na sociedade, bem como os demais meios de reprodução
simbólica, são" aparatos ideológicos", funcionando, se não monoliticamente atrelados
ao Estado, como dá entender Althusser, pelo menos atuando como uma “indústria da
consciência”, de acordo com a perspectiva que lhes atribui Enzensberger, influenciando
pessoas, comovendo grupos, mobilizando comunidades, dentro das contradições que
marcam as sociedades. São, portanto, veículos que se movem na direção que lhes é
dada pelas forças sociais que os controlam e que refletem também as contradições
inerentes às estruturas societárias em que existem.
Recusamos, portanto, a idéia da "objetividade" jornalística naquela acepção de
neutralidade, imparcialidade, assepsia política que as fábricas norte-americanas de
notícias quiseram impor a todo o mundo.
Mas também não endossamos a tese de que a mensagem jornalística é
necessariamente politizante, naquela acepção persuasiva, instrumentalizadora,
acalentada por tantos exegetas equivocados de Marx.
A essência do jornalismo tem sido historicamente a informação, aí compreendido o
relato dos fatos, sua apreciação, seu julgamento racional. E o espaço da autonomia
jornalística é o da liberdade, concebida como possibilidade de convivência e de
confronto permanente entre diferentes modos de aprender e de relatar o real.
Atividade eminentemente política, o jornalismo não exclui a reprodução verdadeira dos
acontecimentos, seja qual for a orientação ideológica da instituição ou de seus
profissionais. Mas a medida da veracidade é uma conseqüência da disponibilidade de
fontes de difusão jornalística que permitam à coletividade a confrontação dos fatos e
de suas versões. Quando essa disponibilidade inexiste, a sociedade encontra seus
próprios mecanismos para se acercar da realidade...
No sentido de preservar essa confiabilidade em relação ao público, elo fundamental
para que o processo jornalístico se concretize, as instituições ordenam suas
mensagens segundo as categorias já indicadas anteriormente.
Assim sendo, a questão da defasagem que existe entre a realidade e o seu relato nas
páginas de um jornal ou revista ou nos programas de uma emissora de rádio ou de
televisão, não decorre diretamente dos gêneros utilizados e sim do próprio sentido que
a instituição jornalística dá ao ordenamento das mensagens que procuram representar
a realidade observada.
Essa defasagem se reduz tanto mais quanto se busca um equilíbrio entre as duas
categorias fundamentais. Ou pode FACULDADE
ser aguçadaDE quando existe intencionalmente o
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desejo da instituição jornalística de contrapor a sua versão dos fatos àquelas
proporcionadas por outras instituições. Enquadram-se, por exemplo nessa tendência às
publicações vinculadas a partidos políticos que optam por privilegiar os relatos
jornalísticos de natureza opinativa.
Todavia, a expressão da opinião, não tomada naquele sentido de categorização das
mensagens que pretendem explicitamente atribuir valor aos fatos, mas compreendida
como mecanismo de direcionamento ideológico, corporifica-se nos processos
jornalísticos através da seleção das incidências observadas no organismo social e que
atendem às características de atual e de novo. Materializa-se através da filtragem que
sofrem no processo de difusão, seja através da omissão, seja através da projeção ou
redução que experimentam na emissão.
Vale a pena, antes de traçarmos o perfil de cada um dos gêneros opinativos, descrever
e analisar esse processo de filtro das mensagens captadas e de sua disposição no
conjunto do espaço jornalístico. Trata-se de uma visão esclarecedora sobre o
funcionamento da engrenagem jornalística e que, se por um lado demonstra que a
direção ideológica flui desafogadamente (do ponto de vista da sua percepção pelo
grande público), por outro lado deixa entrever que o controle do sentido jornalístico
está também atravessado pelas contradições que marcam a fisionomia das empresas
jornalísticas brasileiras, onde as relações capitalistas de produção nutrem um conflito
latente entre os jornalistas assalariados e seus empregadores e respectivos
mediadores (editores/gerentes).
A seleção da informação a ser divulgada através dos veículos jornalísticos é o principal
instrumento de que dispõe a instituição (empresa) para expressar a sua opinião. É
através da seleção que se aplica na prática a linha editorial. A seleção significa,
portanto, a ótica através da qual a empresa jornalística vê o mundo. Essa visão
decorre do que se decide publicar em cada edição privilegiando certos assuntos,
destacando determinados personagens, obscurecendo alguns e ainda omitindo
diversos.
Mas até que ponto a seleção da informação reflete exatamente a opinião da empresa?
Ou seja, até onde os dirigentes de uma organização jornalística controlam o que vai
ser publicado?
Não está muito distante o episódio em que o ex-ministro da Comunicação Social, Said
Farhat, propunha uma lei da responsabilidade para os jornalistas, alegando
exatamente que os donos dos jornais e de emissoras de radiodifusão não têm
condições técnicas para controlar tudo o que se publica nos seus veículos. E atribuía
aos jornalistas profissionais que integram as redações um poder significativo nesse
processo. Segundo Farhat, os proprietários das empresas estão impossibilitados de
acompanhar a ação dos seus empregados, advinha daí o extravasamento de matérias
que não coincidem rigorosamente com a linha editorial.
O risco existe, mas ele não é tão grave assim, nem passa desapercebido pelos
empresários do jornalismo. Trata-se muito mais de um conflito consentido, do qual os
dirigentes institucionais participam em condições de manter o controle do processo. Ele
já havia sido diagnosticado pelo sociólogo Orlando Miranda numa pesquisa sobre o
processo de elaboração da notícia nos jornais de São Paulo. Indagando aos jornalistas
pesquisados como eles descreviam uma determinada notícia (que envolvia greve de
trabalhadores) e que orientação assumiria o texto final a ser publicado - se a ótica da
empresa ou a ótica do próprio jornalista - ele constatou que a versão final seria
produto de uma negociação implícita FACULDADE
entre as partes.
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De qualquer maneira, não existem dúvidas sobre o controle que a intuição jornalística
exerce sobre o que vai ser difundido em cada edição ou emissão. Tampouco existem
dúvidas sobre as possibilidades que têm os profissionais de interferir nesse controle
(participar?).
Vejamos quais os recursos de que dispõe a empresa para controlar a seleção da
informação. O principal instrumento nas mãos dos proprietários é a própria estrutura
da redação, caracterizada por um evidente verticalismo, como é próprio das
organizações complexas. As decisões fluem de cima para baixo, desde o editor chefe
até a chefia de reportagem ou as editorias especializadas. É uma relação de ordem e
obediência, na qual as chefias decidem o que os seus subordinados vão fazer e cobram
o cumprimento integral da execução, dispondo ainda de instrumentos adicionais para
corrigir as distorções. E é claro que as pessoas ascendem aos postos chaves nas
empresas jornalísticas passam também por um processo de seleção, tornando-se
pessoas de confiança. São geralmente profissionais que se afinam com a opinião da
empresa .. Ou então, divergindo dessa opinião, comprometem-se a seguir a orientação
vigente. Os proprietários naturalmente exercem vigilância sobre o andamento das
atividades jornalísticas controlando diariamente o produto final. Quem militar nos
meios jornalísticos sabe que de períodos em períodos as empresas efetuam
reformulações nos seus quadros redacionais, e “expurgam” aqueles que insistem em
desafiar a orientação oficial.
Mas os jornalistas sempre dispõem de artifícios para burlar a linha editorial. Isso nem
sempre ocorre no plano da seleção fundamental, ou seja, informações ou opiniões que
destoam abertamente da orientação empresarial. Quando acontece, são inevitáveis as
soluções cirúrgicas (demissões punições), além do rápido acionamento de mecanismo
de retificação. Mas existe muito campo para a intervenção sutil dos profissionais
naquelas questões que não constituem "pontos de honra” da empresa. E geralmente
essa intervenção é tacitamente aceita pelos proprietários. O jornalistas conseguem
fazer "passar" certas mformações do seu interesse político corporativo.
Trata-se de um pacto informal entre proprietários e empregados que atende a duas
finalidades:
a) quebrar o monolitismo informativo, abrindo brechas para determinadas informações
que correspondem a expectativas de segmentos minoritários do público receptor e
reforçam os interesses mercadológicos da empresa;
b) criar um clima de cordialidade entre patrões e empregados, reduzindo as tensões
que caracterizam a relação assalariada. Essas intervenções dos profissionais na seleção
de informações ocorrem geralmente de forma coletiva, tratando-se de uma ação
colegiada que resulta do "espírito de corpo" bem presente na categoria jornalística.
Mas a transcendência do copidesque era maior, como continua a ser. A reação literária
ou estilística que mobilizou e entusiasmou toda a corporação jornalística nos idos de
60 abrandou a reelaboração das matérias, pelo menos nos jornais diários. Sua ação
continua permanente nas revistas semanais cuja padronização da linguagem é um dos
traços de sua estrutura informativa. Deixando de lado a personalidade dos redatores
nos textos que escrevem, o copidesque tornou-se um filtro ideológico, funcionando
como peneira fina para barrar as filigranas da argumentação discursiva que não
convenham à linha editorial.
O copidesque é um mecanismo final de que dispõe a Instituição jornalística para
exercer vigilância sobre o que se publica ou divulga no anonimato, ou melhor, nas
matérias cuja autoria é coletiva (equipes) ou que ficam sob a responsabilidade da