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Desse modo, as apreciações que faremos não têm por objetivo denegrir
a imagem dos autores, sim avaliar a experiência de regressão que, segundo
defendem, atestaria indubitavelmente um evento reencarnacionista. O objetivo
deste trabalho é verificar se tal declaração é suficientemente firme para ser
acatada sem receios.
- sua permanência por algum tempo numa dimensão que escapa aos
nossos sentidos habituais.
Observa-se que Mesmer tinha em alta conta a teoria que elaborou. Para
ele, o caminho que conduziria a medicina à excelência estava descortinado
com o advento do magnetismo animal. Lamentavelmente, passados mais de
duzentos anos de promulgada a hipótese do fluido universal, este permanece
tão sutil e evasivo às investigações quanto na época de Mesmer. O médico
afirmava que as leis que regiam o fluido universal eram, até então,
desconhecidas. Tal afirmação, pressupunha que, pelo trabalho contínuo de
pesquisa, essas leis se tornariam futuramente conhecidas. Contudo, a
existência de tais leis permanece nebulosamente hipotética desde que foi
elaborada.
Boa parte dos pacientes de Mesmer, durante a aplicação do
magnetismo, entravam em convulsão. Esse efeito era desejado e incentivado,
pois, segundo a pensamento do médico, a crise acelerava a cura. Contudo,
outros não convulsionavam, em vez disso, apresentavam-se como que
sonolentos. Mesmer registrou essa reação, para ele diversa da esperada, mas
entendeu que a lassidão constituía falha do tratamento, visto que era
necessário haver crise para que a doença fosse extirpada. Tempos mais tarde,
um discípulo de Mesmer, atuando por conta própria, passou a dar valor ao
efeito sonambúlico das magnetizações. Podemos dizer que Mesmer roçou a
ponta do que seria futuramente a prática hipnótica, mas não lhe deu a devida
atenção.
Franz Mesmer é figura polêmica até os dias de hoje, alguns o qualificam
como santo, outros, charlatão. Buscando um meio-termo, entendemos que foi
um homem de seu tempo. Tinha uma teoria e buscou pô-la em prática,
intentando demonstrar a veracidade do que postulava. Foi um pioneiro e, como
tal, cometeu erros e acertos.
Na atualidade, a teoria magnética é defendida em setores mais ligados à
religiosidade, que à ciência. A hipótese do fluido universal foi perdendo força,
uma vez que nenhum experimento de cunho científico logrou confirmá-la. As
teorias modernas que procuram explicar o processo hipnótico – que é o
sucedâneo do magnetismo – dispensam, por desnecessária, a conjectura de
uma força universal, pretensamente responsável pela ocorrência do fenômeno.
As Experiências
“Aliás, essa foi sempre uma das tônicas do nosso trabalho: nada
forçar, para não provocar roturas, cujas conseqüências poderiam ser
imprevisíveis. Se a regra geral em questões atinentes à memória é
esquecer; é porque há razões bastante sólidas para isso, como já
discutimos alhures, neste livro. Já em outros casos, revelações dessa
natureza são recebidas com serenidade e até contribuem para
explicar certas incongruências íntimas, mediante nova arrumação de
conceitos.” (A Memória e o Tempo. P. 255)
“Esquecimento do passado
___________________________
___________________________
Deus algumas vezes permite que elas vos sejam reveladas, conforme
o objetivo. Se for para vossa edificação e instrução, as revelações
serão verdadeiras e, nesse caso, feitas quase sempre
espontaneamente e de modo inteiramente imprevisto. Ele, porém,
não o permite nunca para satisfação de vã curiosidade.
"Não, isso pode ser revelado, porque dessas revelações podeis tirar
proveito para vos melhorardes. Aliás, estudando o vosso presente,
podeis vós mesmos deduzir o vosso passado." (O LIVRO DOS
MÉDIUNS)
A fim de não nos alongarmos nesta exposição inicial, uma vez que o
objetivo principal é a avaliação da experiência regressionista de Luciano dos
Anjos, apresentaremos a lista de alguns dos pontos controvertidos no discurso
de Hermínio. Em seguida iniciaremos o trabalho principal, que é a avaliação da
suposta reencarnação de Luciano.
"Não; tudo o que a tal respeito vos disserem alguns Espíritos não
passará de gracejo e isso se compreende: a vossa existência futura
não pode ser de antemão determinada, pois que será conforme a
preparardes pelo vosso proceder na Terra e pelas resoluções que
tomardes quando fordes Espíritos. Quanto menos tiverdes que
expiar tanto mais ditosa será ela. Saber, porém, onde e como
transcorrerá essa existência, repetimo-lo, é impossível(...)"
Considerações iniciais
Tanto faz a gente crer como não, o fato é que muitos espíritos têm
tido a oportunidade de trazer depoimentos póstumos da maior
importância. São inúmeros os exemplos e podemos tomar qualquer
um deles entre os de indubitável credibilidade, como o famoso caso
de Patience Worth... A Sra. Henry H. Rogers, médium
americana...manteve, durante vinte e cinco anos, equilibrado e
proveitoso intercâmbio com uma entidade desencarnada que se
assinava Patience Worth. Este espírito, que se identificava com uma
jovem puritana que vivera no século XVI, escreveu através da Sra.
Curran obra literária de inquestionável valor...
O relacionamento Sra. Curran/Patience Worth manteve-se como
verdadeiro mistério para certos cientistas e pesquisadores que
estudaram o fenômeno. Contudo, para os que se acham informados
da realidade espiritual, e a aceitam, a verdade é simples e clara,
como sempre: um espírito desencarnado que veio trazer a
contribuição do seu depoimento pessoal. (...)
Pelo sim, pelo não, o campo está aberto: os espíritos podem ainda se
redimir das inumeráveis comunicações pobres de conteúdo e enviar
elaborações que façam jus à procedência. Isso, além de prover de fortes
argumentos a tese da comunicação entre vivos e mortos, também ajudaria no
trabalho de cientistas e pesquisadores. Esperamos que aconteça...
LUCIANO DOS ANJOS
O que nos interessa deixar claro, por ora, é que Luciano dos Anjos
estava previamente preparado, e bem preparado, para lucubrar criativa
recordação de vivência no período da Revolução Francesa.
É importante destacar que o vivenciado pelo jornalista pode ser
qualificado como “regressão” de boa qualidade. Mesmo se comparadas com as
melhores de que temos conhecimento. Se a cotejássemos com o “caso Bridey
Murphy” diríamos que as lembranças de Luciano “dão de dez a zero” nas
obtidas por Virginia Tighe, a protagonista do caso. Apesar de Bridey Murphy ter
obtido repercussão muito mais ampla que o caso Camille Desmoulins, em tudo
é inferior a este.
Outro caso de regressão, este mais recente, cujo relato em livro vendeu
milhões de exemplares, é o apresentado por Brian Weiss, intitulado “Muitas
Vidas, Muitos Mestres”. Semelhantemente à Bridey Murphy, as regressões
feitas por Brian Weiss em Catherine, são em muito inferiores à aventura de
Luciano dos Anjos.
Entre Hermínio Miranda e Luciano dos Anjos foi firmado acordo tácito,
no sentido de garimparem personalidade da qual muitos detalhes
historicamente corretos pudessem ser revelados. Não dizemos que tenham
articulado ostensivamente o plano, se assim fosse não seria acordo tácito;
afirmamos, sim, que ambos buscavam experiência cujos resultados fossem
superiores ao que normalmente se obtêm nos exercícios regressionistas. Em
outras palavras, nas cogitações de cada um estava patente que poderiam
explorar criativamente as perspectivas alvissareiras que o trabalho conjunto
prometia.
Deste encontro não há muito o que dizer. Teria sido a primeira vez que
Luciano dos Anjos se submetia a uma sessão de hipnose com Hermínio
Miranda. O resultado deixou Hermínio positivamente surpreso, pois o paciente
se revelou facilmente hipnotizável. Rapidamente, atingiu transe profundo, o
que, na visão de Hermínio, favorece boas regressões. Destacamos a
expressão “na visão de Hermínio” em virtude de haver regressionistas
afirmando dispensar o transe hipnótico, estes tão-somente induziriam os
candidados ao estado de relaxamento, − o que poderia ser classificado de “pré-
hipnose” −, o que é por eles considerado mais adequado para que as
lembranças fluam.
Conforme foi dito, o livro “Eu Sou Camille Desmoulins” foi escrito
conjuntamente por Hermínio Miranda e Luciano dos Anjos. Parece-nos claro
que cada qual teve a liberdade de narrar os fatos da forma como entendeu e
sentiu. Isso, a princípio, mostra que não houve “acerto”, para que contassem
exatamente a mesma história. Em tese, trata-se de aspecto positivo, pois
demonstra que o trabalho foi executado de forma espontânea, sem arranjos
destinados a elidir pontos que jogassem dúvidas sobre a interpretação que os
autores apresentam. O que dissemos a respeito de um “acordo tácito” entre
Hermínio e Luciano, linhas atrás, não se aplica aqui.
19/5/1967 (sexta-
2ª sessão Foi rapidamente ao Entra em transe feira) – apart. de Segunda-feira seguinte
transe (P. 23). após 10 ou 15 Hermínio (p.23) à reunião acima – apart.
Revela que seu minutos (p.355). da Sra. E.V. (p.354)
nome é Lucie Ao despertar tenta
Simplice Benoist ficar de pé e cai no
Camille tapete, depois sente
Desmoulins. muita fome e come
bolo. (p.360) (1)
Nenhuma
referência ao Presença do
EVENTOS PRINCIPAIS Data e local
SESSÕE Conforme Conforme Conforme Conforme
S HERMÍNIO LUCIANO HERMÍNIO LUCIANO
Edson (4) Edson (4)
26/5/1967 (sexta-
3ª sessão Revela que a esposa Afirma que Necker feira) – não Segunda-feira seguinte
de Desmoulins é fará besteira (2) informa mudança à reunião acima – não
atualmente sua (p.362) no local da reunião, fala de mudança no
filha! (p. 47) supõe-se que local da reunião, supõe-
continuasse no se que continuasse no
apart. de Hermínio. apart. da Sra. E.V. (p.
361)
4ª sessão Não faz referência à A gravação desse 9/6/1967 (sexta- Ocorreu na “semana
perda da gravação, evento se perdeu feira) - não informa seguinte” (p.365), na
narrada por (Hermínio gravou mudança no local segunda-feira (p.367) -
da reunião, supõe-
Luciano, ao outra sessão por não fala de mudança no
se que continuasse
contrário, afirma cima) (p.365). no apart. de local da reunião, teria
que o “tape” existe Trabalhos Hermínio. continuado no apart. da
(p. 65). Não relata suspensos (p.367). Sra. E.V.
(5)
suspensão dos Para Luciano,
(5)
trabalhos. esta seria a
penúltima reunião,
depois fala do
último encontro em
1/9/1967, o qual,
pelo cronograma de
Hermínio, é o
penúltimo.
5ª sessão Só existe relato de Sem registro. 16/6/1967 (sexta- Sem registro.
Hermínio desse feira). Apart. de
encontro Hermínio.
6ª sessão Só existe relato de Sem registro. 23/6/1967 (sexta- Sem registro.
Hermínio desse feira) Apart. de
encontro Hermínio.
7ª sessão Só existe relato de Sem registro. 7/7/1967 (sexta- Sem registro.
Hermínio desse feira) Apart. de
encontro Hermínio.
8ª sessão Só existe relato de Sem registro. 14/7/1967 (sexta- Sem registro.
Hermínio desse feira) Apart. de
encontro Hermínio.
9ª sessão Só existe relato de Sem registro 21/7/1967 (sexta- Sem registro.
Hermínio desse feira) Apart. de
encontro Hermínio.
10ª sessão Final das sessões de Sem registro 4/8/1967 (sexta- Sem registro.
regressão feira) Apart. de
Hermínio.
11ª sessão 1ª Sessão “especial” Último encontro 1/9/1967 (sexta- 1/9/1967
EVENTOS PRINCIPAIS Data e local
SESSÕE Conforme Conforme Conforme Conforme
S HERMÍNIO LUCIANO HERMÍNIO LUCIANO
(p.248) (Hermínio informa feira) Apart. de Apart. de Hermínio.
ter havido mais Hermínio.
outra reunião).
12ª sessão 2ª Sessão “especial” Sem registro 8/9/1967 (sexta- Sem registro.
(p.233) feira) Apart. de
Hermínio.
Observações:
1)
Na queda de Luciano a seqüência dos acontecimentos está divergente:
Hermínio diz que Luciano comeu o bolo e depois tombou sobre o tapete;
Luciano declara que caiu no tapete e depois devorou o bolo. Além disso, a
queda teria ocorrido em datas distintas, nas versão de cada um! Pode ser
considerado confusão banal, que não afeta o essencial do caso. Vamos
admitir que seja assim, de qualquer modo, isso demonstra que os
participantes não observaram corretamente alguns dos acontecimentos, o
que pode levantar suspeitas sobre a existência de outras discrepâncias que
não foram anotadas.
2)
Segundo Hermínio, no 1º encontro Luciano referira-se vagamente ao
nome de Necker; contudo, no relato de Luciano a citação a esse
personagem é mais ampla e aparece no 3º encontro.
3)
As reuniões conduzidas por Hermínio, todas elas, são noticiadas às
sextas-feiras; Luciano afirma que foram às segundas-feiras!
4)
O “misterioso Edson”. Segundo Luciano o referido teria participado de
pelo menos dois encontros, nos quais deu sugestões e aplicou passes.
Hermínio, em momento algum, faz menção a esta pessoa!
5)
Ao final da 4ª sessão, no cronograma de Luciano, ele informa ter havido
suspensão dos trabalhos, fato não relatado por Hermínio. O jornalista
declara que precisava reavaliar se seria adequada a continuidade do
experimento. Então, consultou o “alto”, recebeu mensagem mediúnica que o
estimulava a seguir adiante e, a partir de então, as sessões reiniciaram.
Contudo, ele não descreve o que houve nas sessões seguintes, nem diz por
quanto tempo perdurou a suspensão.
RELATO DA 1ª REUNIÃO
HERMÍNIO MIRANDA LUCIANO DOS ANJOS
2. O SEMPRE E O AGORA p.353...
RELATO DA 2ª REUNIÃO
HERMÍNIO MIRANDA LUCIANO DOS ANJOS
3. O AGORA QUE JÁ PASSOU p.354...
De tudo isso, uma conclusão era
evidente por si mesma: Luciano apresentava
condições de suscetibilidade que justificavam
o aprofundamento da pesquisa.
Foi o que decidimos fazer, não em
reunião mais ou menos aberta como aquela,
na qual realizamos os testes, mas sob Assim, ao lado da alegria, uma espécie de
condições que nos assegurassem o decepção me tocou: e eu? Contudo, pelo menos
adequado grau de privacidade e segurança alguma coisa nova acabava de acontecer comigo.
para um trabalho mais amplo. A primeira Restava prosseguir para vermos até onde
reunião com estas características foi marcada chegaríamos. Aguardei mais uma semana e, na
para a noite de 19 de maio de 1967, em meu segunda-feira seguinte voltamos ao apartamento
apartamento. da Sra. E.V.
[19/5/1967 caiu numa sexta-feira. Segundo [se formos seguir rigorosamente o que foi dito
Hermínio, houve mudança no local da por Luciano, esta reunião teria acontecido em
reunião, no relato ao lado, Luciano afirma outubro de 1966, numa segunda-feira. Também
que o encontro realizou-se no mesmo o local do encontro não confere, Hermínio
local anterior] noticia que foi em sua casa, para Luciano
continuaram a reunir-se no apartamento da Sra.
E.V.]
RELATO DA 3ª REUNIÃO
HERMÍNIO MIRANDA LUCIANO DOS ANJOS
4. O ANTES E O DEPOIS p. 361...
LEITURA COMPLEMENTAR
Cidadão compatriota,
Camille Desmoulins, meu filho, digo-o por convicção
íntima, é um republicano puro, um republicano por sentimento, por
princípios e, por assim dizer, por instinto. Ele era republicano na
alma e por gosto antes do 14 de julho de 1789; ele o tem sido,
depois, por efeito. O perfeito desinteresse e o amor à verdade,
suas duas virtudes características, por mim inspiradas desde o
berço e por ele praticadas invariavelmente, sempre o mantiveram
à altura da Revolução.
Será verossímil, não será mesmo absurdo, acreditar ter
ele mudado de opinião e renunciado ao seu caráter, às suas
afeições pela liberdade, pela sabedoria do povo, ao seu sistema,
ao sistema de seu coração, no momento em que o voto dele, bem
conhecido e pronunciado, tinha os mais brilhantes sucessos; no
momento em que havia combatido e vencido a cabala dos Brissot;
no momento em que ele desmascarava Hébert e seus aderentes,
autores da mais profunda conjuração; no momento em que devia
acreditar a revolução terminada ou prestes a sê-lo, e a sua
República estabelecida pelas nossas vitórias sobre os inimigos
dela, tanto do interior como do exterior?
Bastariam essas inverossimilhanças para afastar de meu
filho até a sombra de desconfiança e, entretanto, ele sofre os
horrores de uma acusação tão grave, que creio caluniosa.
Preso ao meu gabinete pelas minhas enfermidades, sou
aqui, pelos cuidados que tomam todos em mo ocultar, o último a
saber deste acontecimento próprio a alarmar o mais franco
patriota.
Cidadão, só te peço uma coisa, em nome da justiça e da
pátria, pois o verdadeiro republicano só elas reconhece: é
perscrutares por ti mesmo, e fazer perscrutar pelos jurados, toda a
conduta de meu filho, e a de seu denunciante, seja ele quem for;
saber-se-á logo quem é o mais verdadeiramente republicano. A
confiança que tenho na inocência dele faz-me acreditar que essa
acusação será um novo triunfo tão interessante para a República
quanto para ele mesmo.
Saúde e fraternidade da parte de teu compatriota e
concidadão Desmoulins, que ate aqui se tem honrado de ser o pai
de Camille, tido como o primeiro e mais inabalável republicano.
LC-12 – Duplessis
Vejamos a 4ª reunião:
RELATO DA 4ª REUNIÃO
HERMÍNIO MIRANDA LUCIANO DOS ANJOS
5. O QUANDO E O ONDE p.365...
Vejamos, porém, o
desenrolar da quarta sessão.
Estamos na semana seguinte.
A reunião seguinte foi realizada em 9 de junho de
E foi quando, afinal, surgiu o
1967. O tape guarda o diálogo que a seguir
reproduzimos, com os comentários habituais. acontecimento mais
importante, no quadro até
– Está se sentindo bem, Luciano? – pergunto
eu. – Onde você se encontra no momento?
aqui traçado.
Lamentavelmente, não temos
– A um metro mais ou menos de nós. Acima...
Não posso olhar para baixo; às vezes, uma espécie de
a gravação dessa sessão.
atração me deixa inseguro.
– Você já sabe que o processo não oferece Tendo o Hermínio ido,
riscos. naquela mesma semana, a
– Parece que vai descer e depois sobe. Volta Redonda, gravou, por
É claro que ele ainda experimenta algum temor descuido, outra sessão em
em afastar-se do corpo, provavelmente devido à cima da faixa do nosso
traumatizante experiência da decapitação. Ele próprio diálogo.
tenta explicar:
– É que eu estou numa situação diferente. [Temos uma questão
– Sim, é uma situação nova para o espírito. (O confusa aqui. Luciano diz
desprendimento consciente.) que a gravação deste
– Não sei se estou aqui ou ali – continua ele. encontro se perdeu,
(Isso é verdadeiro também, porque nos estados Hermínio cita textualmente
superficiais a consciência fica como que dividida, ou a existência do “tape”.
melhor, partilhada pelo corpo físico e pelo perispírito.) Apesar de que, há grande
– Devo ficar calmo – diz ele para se incerteza sobre se os autores
tranqüilizar. – Deus nos ajudará. estão falando do mesmo
As sugestões apropriadas são dadas. encontro, tamanha a
– Você vai readquirir o conhecimento discrepância entre o que é
acumulado sobre a existência anterior e vamos dito por um e outro. Seja
desenvolver o plano que combinamos, segundo o qual como for, a palavra de
você vai relatar desde a infância essa existência, para
que possamos coligir o material para um trabalho sério,
Luciano só traz mais
um trabalho importante. confusão a esse quadro já
tão desordenado!
Quando ele retoma a palavra, após nova pausa, somos
surpreendidos com inexplicável fenômeno de gaguez.
Fala com dificuldade, espaçando muito as palavras e É certo que na reunião de
hesitando com um sibilado em algumas que ofereçam 1/9/1967, que será
maior obstáculo. comentada adiante, ambos
– Não tenho uma clareza muito grande. Prefiro concordam que o gravador
que você pergunte e vou localizando, senão tumultua. apresentara falha, mas
Novas sugestões de relaxamento e Luciano fala aqui, neste 4º
tranqüilidade, simultaneamente com os passes encontro, que a gravação
longitudinais. Ele sabe que, seu espírito está preso ao fora realizada e depois
corpo físico por fortes laços magnéticos.
perdida acidentalmente,
– Não vejo (isso) – diz ele. – Mas Deus vai nos coisa da qual Hermínio
ajudar.
Miranda não faz qualquer
Declara ainda não ver os amigos espirituais menção.]
que nos ajudam na tarefa, mas está convicto da
presença deles.
– Essa coragem, pelo menos, eu tive –
comenta ele.
Não obstante, num esforço de
Damos início, pois, às perguntas. memória conseguimos
– Onde é que você nasceu? recordar, em resumo, seus
pontos essenciais. Isto veio a
Antes – explica ele – eu estava nos locais e
era mais fácil e mais rápido. Agora, você tenha um ocorrer posteriormente, em
pouco de paciência se me demoro mais, porque tenho
que recordar. Agora é diferente. Tenho tudo, tudo,
uma de nossas derradeiras
tudo, na memória. Tenha paciência. reuniões, enquanto me
Destaco sua observação de que nas duas
achava inconsciente. Recapi-
sessões anteriores – bem como naquela primeira à tulei, conforme já disse,
qual consideramos mero teste de suscetibilidade – ele durante novo transe e a
estava lá, mas agora se vê obrigado a recorrer aos pedido do Hermínio, os
arquivos da memória. Este ponto, de fundamental
lances principais da sessão
importância, é reiterado em várias oportunidades de
nossa pesquisa, como ainda veremos, mas não perdida.
constitui novidade, pois o mesmo fenômeno foi
observado nas pesquisas do coronel de Rochas, Logo ao estirar-me no sofá,
conforme consta de sua excelente obra Les Vies iniciou o Hermínio seu
Successives, extensamente comentada por mim no comando. Depois dos
meu livro já citado A Memória e o Tempo. Escuso-me,
pois, de repetir aqui considerações que nos afastariam
minutos habituais, comecei a
do nosso roteiro específico. Basta ressaltar, para que entrar em transe, de mistura
fique bem claro, que há uma diferença fundamental com algumas imagens que
entre estar lá e recordar-se Por isso, na parte me iam aflorando à mente.
meramente especulativa de meu livro, lembro que o
tempo é também um local, ou, para dizer de outra
maneira, a memória fica na interseção de tempo e
Pela primeira vez eu estava
espaço, ou ainda, conforme lemos em A Grande vivendo um processo um
Síntese: “no ponto em que o onde se transforma em pouco diferente dos três
quando”. anteriores.
Voltemos a Luciano. [confirma que esta é a 4ª
– Por que você sabia antes e não sabe agora, reunião]
senão com um esforço maior? A que você atribui isso?
– Eu estava no local. Agora estou aqui,
lembrando-me do local. Entende? A não ser que eu vá É que, antes mesmo de entrar
lá. Mas não queria, por enquanto. Nasci em Guise, na inconsciência, pude
departamento de Aisne, na França Setentrional. Sabe mentalizar, perfeitamente,
onde é? Foi lá que eu, nasci. Data? Deixe eu lembrar...
2 de março de 1760.
enquanto se iniciava o
formigamento e a
Como ele enfrenta grande dificuldade para
falar, advirto-o com uma palavra de cautela:
insensibilidade progressiva, a
seguinte cena: alguém estava
– Você acha que está fazendo muito esforço
para isso? Não podemos cansá-lo.
deitado numa cama. Parecia
doente. Muito mal. Eu o
– Não me cansa. Não sei o que é... Porque eu
falo do alto...
estava observando, meio
preocupado e nervoso. O
– E tem que transmitir ao corpo.
ambiente era de tensão, de
– É. Isso sim que faz... não sei por quê. expectativa, de necessária
– Descanse um pouquinho agora. À medida cautela, talvez mistério. O
que formos progredindo no trabalho você irá doente parecia, de vez em
aprendendo a controlar o processo de tal maneira que
vai melhorar seu sistema de comunicação.
quando, diz-me alguma coisa.
– O corpo reage, mas não sinto. Pode espetar Súbito senti-o como se a cena
(agulha) se você quiser. Pode espetar.
fosse real e estivesse
– Mas não podemos exagerar para você não transcorrendo naquele exato
se cansar fisicamente. Vamos prosseguir. Então foi em
Guise, no Aisne, em 2 de março de 1760 que você
momento -, alguém bateu à
nasceu. Como se chamava seu pai? porta. Ele se mexeu,
ligeiramente, no leito e ficou
– Jean Nicolas Benoist Desmoulins. Minha
mãe? Marie Madeleine Godart. de ouvido atento. Voltei a
cabeça em direção à porta e
Intensifica-se a inibição da gagueira, ou
melhor, não uma gaguez daquelas que ficam a repetir me levantei para ir abri-la.
a mesma sílaba, mas de outro tipo, que se demora na Nesse ato de levantar,
primeira letra de cada palavra e de repente solta o aconteceu a surpresa: a
resto num esforço espasmódico. Assim: MMMMMM... imagem se evaporou comple-
arie MMMMM... Madeleine ...
tamente e só vim a saber do
– O que fazia seu pai? resto através da fita
– Era advogado da Corte, em Guise. magnética.
– O que fazia um advogado da Corte naquele
tempo? [Vimos, linhas atrás, que a
– Meu pai era do Bailliage. Sabe o que é? Uma fita se perdera. Aqui ela
jurisdição. Era Lieutenant Général. Você não entende, reaparece. Pode ser que
você não conhece. É que havia uma jurisdição, Luciano esteja se referindo
entende? E os problemas jurídicos da Corte, nos
departamentos, eram entregues a uma espécie de
a outra fita magnética, pois
delegados. LC-13 ele informa que ao final da
– Sei. Como você falou em “tenente-general”
experiência gravaram sessão
pensei que ele tinha também um posto militar. especial, na qual ele, em
transe, recordou os
– Não. É que era um général, geral.
principais pontos deste
Ou seja, a palavra general, aí, é mesmo
encontro. Mas, há uma
francesa e se traduz em português por geral.
Desmoulins-pai era, portanto, um magistrado da Corte coisa estranha aqui: a frase
em Guise. de Luciano não parece
– Geral, civil... Era uma divisão... – prossegue referir-se à pretensa fita
ele. – Os Lieutenants podiam ser geral, civil, ou policial. gravado em segunda mão.
Meu pai era Lieutenant Général Civil. O jornalista, aparentemente,
– Sim. Vamos repousar um, pouco. (Pausa.) esqueceu do que disse há
Ele tinha fortuna própria, era homem de recursos, ou pouco e fala da fita perdida
mais modesto? que, neste ponto, não está
– Não, meu pai tinha algum dinheiro, não mais perdida... Não
muito. Mas era muito... muito... como se diz, muito queremos insistir muito
seguro. Não gostava muito de dar, mas tinha recursos,
sim.
nesta linha de raciocíno,
para evitar sermos acusados
Em outras palavras, o velho Desmoulins era
um tanto pão-duro...
de excessiva severidade na
análise. De qualquer modo,
– Você tinha outros irmãos?
que está confuso, isso está!]
– Tinha. Éramos... (Conta mentalmente em voz
baixa:) Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete ... Sete! Passei a falar como se fora o
LC-14
enfermo! Isto é, "no lugar" do
– Sete com você ou você e mais sete? enfermo, vivendo o papel do
– Não. Havia uma que morreu muito pequena. enfermo. Estava aflitíssimo e
Henriette. Tinha 9 ou 10 anos quando morreu. Ficamos indagava se era o Dr. Richard
sete.
o visitante que acabara de
– Eram todos homens? chegar. Perguntava, nervoso,
– Não. se o Hermínio era o Dr.
– Você é capaz de dizer os nomes? Richard.
– Ah, sim! Henriette Angélique morreu de um
“ramo de ar”. Tinha mais Marie-Toussaint, que me [Esse Dr. Richard aparece
chamava de Preto. na sessão seguinte, no relato
– Chamava você de Preto? Como era isso em de Hermínio Miranda]
francês?
– Crayon, Preto.
O Hermínio acabou dizendo
que não, mas que era "um
– Esse espírito não foi sua irmã depois,
novamente?
amigo do Dr. Richard". O
espírito estava convicto de
A pergunta parece tomá-lo de surpresa.
que o Hermínio era a pessoa
– Não sei. Quando morri ela ainda vivia. que batera à porta e que
– Por que então esse nome de Preto passou entrara na casa. Mas ele
para esta vida? Curioso isso, não é? também se dirigia a um outro
– Porque eu tinha os cabelos e os olhos muito personagem que... estava
pretos. sentado ao seu lado' na beira
Interessante que você renasceu com cabelos e da cama e com quem, até
olhos pretos e ficou com o mesmo apelido. Não é isso? então, parecia conversar.
Faz uma longa pausa para pensar, e acaba Pe:guntou ao Hermínio por
concluindo: ele, pois tinha sido quem
– É a Primerose! abrira a porta ao Dr. Richard
Primerose é sua irmã atual.1 (mais precisamente, ao
– Bem. Depois vamos investigar isso. Vamos
"amigo" do Dr. Richard: o
prosseguir com seus irmãos. E possível que seja o Hermínio)., Insistiu para
mesmo espírito, mas não queremos afirmar. saber onqe tinha ido essa
Sobe novamente o nível das suas emoções pessoa; tinha Um recado a
ante o impacto da conexão Marie-Toussaint/Primerose dar-lhe. E, afinal, declinou o
e ele diz, um tanto aflito: nome dela: Camille
– Me deu um nervoso... Marie-Toussaint Desmoulins. O recado era
Desmoulins... para que Camille publicasse
– Vamos prosseguir. Qual o outro irmão em em seu jornal uma
seguida? advertência sobre nova lei
– Armand, Anne, Lazaré e Clément. que estaria prestes a ser
assinada. Não me lembro se o
1
– E depois?
– Lucie. espírito referiu essa lei. O
– Ah, sim. Você era, então, o quarto ou o Hermínio (o "amigo". do Dr.
quinto? Richard) prometeu dar o
– Não, eu sou o primeiro. O mais velho. recado. O diálogo se
Clément era o caçula. prolongou ainda por alguns
– Henriette foi a que morreu com 9 ou 10 anos minutos, acabando o espírito
com um golpe de ar, provavelmente uma pneumonia, por xingar o Hermínio, pois
como se diria hoje. Não é? começou a desconfiar de que
– É. Ramo de ar... (Parece intrigado com a se tratasse de algum inimigo,
expressão, que continua a repetir.) Eu pensava que simulando ser amigo do Dr.
fosse outra coisa. Que fosse ataque da cabeça. Richard, pronto para delatá-
– Fale-me de sua mãe. Ia. e que o Hermínio tentou
– Cuidava da casa. Coitada! Eu me esqueci saber o nome do enfermo e
muito dela... isso o deixou desconfiado.
– Mas parece um nobre espírito. Dizia, então, em meio a
– Ela... Deixe-me lembrar. (Longa pausa.) Meu
grande ódio;
Deus! Não me lembro... Coitada! Eu estava sendo
preso e não soube que ela morreu. Coitada! Ainda - Seu porco! Você quer me
fiquei mais preocupado naquela hora. Ó meu Deus... entregar!
Eu a esqueci muito! Meu pai era um tanto culpado...
LC-16 Acabou a sessão e despertei,
– Você saiu de casa muito jovem? como de hábito (embora mais
– Saí. Acho que tinha uns 13 para 14 anos. prevenido e mais preparado),
LC-17 Saí para estudar em Paris. Eu queria sair de sentindo os mesmos sintomas
Guise. Só tinha o castelo. de sempre. O Hermínio me
– Você visitou o castelo alguma vez? contou, ain
– Fui em criança. Castelo histórico! Defesa da
cidade! Mas eu não queria Guise, e depois, eu queria da (isto não aparecia na gra-
estudar. Eu queria Paris! LC-18 vaçao), que o final foi
– Onde você foi estudar? horrível, pois o espírito se
– No Clermont... Clermont, não. No Louis-le- comportara como se acabasse
Grand. Clermont era antes, o nome. de ser guilhotinado! Achou,
– O colégio chamava-se antes Clermont, mas também, que o Impropério
quando você foi lá era Louis-le-Grand? "porco" teria sido
– Louis-le-Grand – confirma ele. LC-19
silabicamente articulado em
portugues, mas a idéia
– Lá você conheceu muitas pessoas. Figuras
eminentes saíram daquele colégio.
original do espírito era em
francês: "Cochon." cuja
– Rue Saint Jacques. Você sabia...?
acepção difere um pouco da
– Quais foram seus amigos lá no colégio? nossa, no Brasil. Vale
– Léon... Não me lembro o sobrenome. Léon... acrescentar, como vimos na
Ah! Ó... (Pausa.) Robespierre! (Longa pausa.) Primeira Parte deste livro,
É evidente que a lembrança de Robespierre o
desarmoniza. É como se, ao encontrar novamente
aquele vulto ali, na sua memória do Colégio Louis-le- que meu atual pai, Antônio
Grand, tropeçasse nele e perdesse o rumo. Tento
contornar o problema que, por certo, o aflige.
dos Anjos, viveu, como
médico, na época da
– Você guarda ressentimento de Robespierre,
mas não é necessário isso. Você sabe, como espírito,
Revolução, e se chamava Dr.
que são acontecimentos passageiros e, de certa forma, Richard. Certamente, há de
necessários a nosso progresso espiritual. Ele ser o mesmo de que estamos
provavelmente também passou pelas suas angústias e falando aqui.
sofrimentos, e nem sabemos onde ele está hoje. Você
sabe?
Analisemos, pois, o detalhe
– Ele era padrinho do meu filho. Demos mais curioso, e que foi o
Horace aos seus cuidados. (Longa pausa. Faço uma
ponto de partida da nossa
pergunta que ele parece não ouvir. Em seguida, como
se despertasse:) O que foi que você disse? caminhada na direção da
figura revolucionária de
– Vamos voltar ao período da sua infância.
CamilIe Desmoulins. Antes
Mas ele continua retido na figura de seu ex-
de entrar no estado de incons-
colega de colégio.
ciência, era eu quem estava
– Robespierre já estava lá.
ali, na beira da cama,
– Já estava no colégio quando você chegou? conversando com o doente.
Era de uma turma mais adiantada do que a
Quando este se manifesta,
sua?
depois que caio em sono
– Era.
profundo, ele pergunta pela
– Mais velho do que você também? pessoa que estava ao lado e
– Era. que fora abrir a porta,
– Foi um aluno brilhante no colégio? identificando-a como sendo o
Jornalista francês CamilIe
– Foi.
Desmoulins. Mas eu estou
– Era estimado?
certo de que quem foi abrir a
– Não muito, porque se isolava da gente. porta fui eu! Como se teria,
– Era muito introvertido, não? então, processado o
– Era. Diziam até que ele... (Faz um muxoxo e fenômeno? Talvez de forma
conclui:) Bobagem... bobagem... Ele era muito auto- muito simples: antes de ficar
suficiente, mas era estudioso, dos melhores alunos. inconsciente, eu me vi na
Era um apaixonado de Rousseau. Eu também, mas ele
encarnação passada, naquela
não o seguiu. No final, não. Eu segui.
cena mentalizada. Ocorrida a
– Sim. Vamos falar a seu respeito. Quantos hipnose, meu espírito se
anos você esteve nesse colégio?
afastou e o do outro, que
– Até... espera aí, deixa eu ver... Até 1784. E estava enfermo, deitado na
mais um ano depois, para colar grau.
cama, manifestou-se através
– O que você estudou? do meu corço somatico.
– Direito. Paris! Assim, tivemos, de início,
– E depois que você se formou, o que foi uma visão do passado;
fazer? depois, uma manifestação
– Foi meu primo por parte de mamãe que
arranjou para eu ser advogado (exercer). mediúnica que confirmava a
– Como se chamava esse primo? visão anterior. Essa foi, aliás,
– Era... Espere um pouco... Era Viefville conforme já disse, a
Desessart. explicação dada por mim
Cometo aqui um ato de burrose (burrice mesmo, posteriormente,
eventual, não crônica) e pergunto se não havia um durante outra sessão.
general com esse nome, ao tempo de Napoleão.
Lembro-me, depois, que a confusão se estabeleceu Mas depois dessa reunião
entre o nome Desessart e Dessaix, mas a pergunta
cretina serve para uma resposta genuinamente
duas coisas obrigaram-nos a
coerente: suspender temporariamente
– Napoleão quase que eu não vi.
nossos trabalhos:
– Sim, porque ele começou a aparecer quando
a Revolução já havia passado. Surgiu, como se diria
[Hermínio Miranda não
hoje, na crista da Revolução. Mas, de qualquer relata ter havido suspensão
maneira, seu espírito no espaço não pôde tomar dos trabalhos. Passemos
conhecimento dos acontecimentos posteriores porque uma vista d’olhos nas datas
você deve ter permanecido num período de muita
das reuniões, conforme a
agitação depois da sua execução, que foi algo muito
cruel numa idade em que você era ainda muito jovem, versão de Hermínio:
cheio de esperanças e de vida. Não é isso? (Antes que 1) Maio/1967 (sexta-feira) −
ele se agite novamente, apresso-me em acrescentar:) apart. em Copacabana
Mas isso hoje é acontecimento passado, superado.
2) 19/5/1967 (sexta-feira) –
Isso não o perturba mais, não é mesmo? Conseguimos
apart. de Hermínio
vencer a barreira que existia. Você agora está calmo,
tranqüilo... 3) 26/5/1967 (sexta-feira) –
Mesmo assim ele parece recair naquele terrível apart. de Hermínio.
clima emocional, e diz: 4) 9/6/1967 (sexta-feira) −
– É porque... você não pode imaginar. Por apart. de Hermínio.
mais que a gente queira ser homem, é horrível! Mas o 5) 16/6/1967 (sexta-feira) −
Hébert teve mais medo do que eu! apart. de Hermínio.
– O medo diante da morte é muito natural –
6) 23/6/1967 (sexta-feira) −
digo eu para consolá-lo. – Especialmente para você,
apart. de Hermínio.
naquela época.
– Ele gritou feito um medroso! – conclui ele. 7) 7/7/1967 (sexta-feira) −
apart. de Hermínio.
– Quem é Hébert?
8) 14/7/1967 (sexta-feira) −
– Hébert era um brissotista! – diz ele com
evidente desprezo. – Mas eu não podia... Lucile, apart. de Hermínio.
coitada! 9) 21/7/1967 (sexta-feira) −
– Você deixava muita coisa para trás e é apart. de Hermínio.
evidente que não queria morrer.
10) 4/8/1967 (sexta-feira) −
– Danton foi incrível! Desde a prisão... Incrível! apart. de Hermínio.
Ele gostava também de Lucile, mas ela não ligou! LC-
20 11) 1/9/1967 (sexta-feira) −
apart. de Hermínio.
– Mas por motivos diferentes dos seus. Vocês,
preliminarmente, não acreditavam, na sobrevivência do 12) 8/9/1967 (sexta-feira) −
espírito. Achavam que, ao morrer, desapareciam. apart. de Hermínio.
– Danton, nada! Eu tinha dúvidas... sobre
Deus. Tinha dúvidas. O resto, não. Tinha dúvidas. Na
Conforme Luciano, a
prisão, eu queria acreditar mais, precisava, porque interrupção dos trabalhos
quando senti que Robespierre não iria ter pena... teria ocorrido no 4º
nenhuma! Como é que pode? Incrível! (Está quase encontro, mas observamos
chorando.) Era preciso acreditar em alguma coisa. Eu
que, de acordo com
queria ler.
Hermínio, não houve nada
– Você me disse que leu um autor inglês...
que se pareça com o que foi
Harvey. Você se lembra do primeiro nome dele? Não
conseguimos localizá-lo. dito. No máximo, ocorreu
intervalo de 15 dias entre
– Harvey. Ficou na prisão (o livro). Era um
escritor inglês. Hervey. um encontro e outro, o que
não seria propriamente
– Não é Harvey, com “a”?
interrupção (a não ser que
– Não. Hervey... H-E... Era John Hervey!
Luciano assim o considere).
– Vamos procurar o livro. Você diz que o livro Mesmo assim, do 4º para o
era Méditations sur le Tombeau. 5º encontro, a seqüência
– Méditations sur le Tombeau – repete ele. – E semanal foi mantida.
mais dois livros. Le Nuit, de Young. (Com grande Luciano parece falar de algo
esforço e detestável pronúncia consegue fazer-se
entender, dizendo:) Edward Young (diz, Édouard
que efetivamente não
Yang). LC-21 aconteceu.]
Corrijo a pronúncia no meu inglês – modéstia
de lado, muitíssimo melhor – e comento:
– Vocês, franceses, pronunciam tudo à sua
primeiro, a necessidade de o
maneira.
Hermínio participar de outras
– Le Nuit... Horrível, o livro.
atividades espirituais, nas
– Qual era o terceiro? segundas-feiras, as quais
– Esses, quando me prenderam, apanhei na houvera interrompido pela
minha biblioteca. O outro, tinha comprado numa livraria ausência de companheiros em
pouco tempo antes e pedi a Lucile que me levasse na
férias; segundo, porque
prisão. L’Immortalité. Este... deixa eu ver. Era um
poeta. Eram poesias... Tinha uma capa... Você aquela última sessão, com os
conheceu? Um livro... um poema trágico. agônicos reflexos sobre mim
– Era traduzido para o francês ou você lia
próprio, das vascas de um
inglês? homem guilhotinado,
– Não, eu não sabia inglês. Muito pouco. Era a
reacenderam-me as
primeira tradução para o francês. Desenterrou a filha! E preocupações e o receio, e eu
o Danton também! Desenterrou Gabrielle. Coitado do não estava, de novo, muito
Danton! Gabrielle... Você a conheceu? Conheceu apressado em continuar.
Louise...? Gabrielle foi antes. Depois Louise. Gabrielle
Pensava nos meus filhos e na
morreu. Era amiga de Lucile. Muito amiga. Morreu. E
Danton desenterrou. cautela com que devia agir,
com que devia entregar-me
– Para quê?
– Estava maluco! Completamente louco,
coitado! Totalmente. Tirou do túmulo! Alucinado, àquelas pesquisas.
coitado!
– Era um homem de grandes paixões. Mas essa relação que fizemos
– Foi. Gabrielle... Você conheceu? Era sobre as duas fases da última
baixinha, bonita. Charpentier. LC-22 sessão embora só nos
– Você nunca mais voltou a Guise, depois que ocorresse algum tempo
saiu de lá, com 14 anos? depois - e não imediatamente,
– Voltei. Nas férias eu não ia para lá. No verão como pode o leitor ter
eu ia para Bourg-la-Reine. LC-23 julgado -, já naquela época
– Bourg-la-Reine? Que é isso? me intrigara bastante e,
– Era a fazenda de mon beau-père (meu passado algum tempo,
sogro). Bourg-la-Reine. (Está gaguejando espicaçara-me a curiosidade.
aflitivamente.) Esta, por seu turno, acabou
– Onde ficava isso? por recobrar-me o ânimo e a
– Bourg-la-Reine fica no sul de Paris. coragem. Todavia, para não
cometer imprudências,
– Em que época você conheceu Lucile?
Quantos anos você tinha?
lembrei-me de fazer uma
coisa simplíssima: consultar
– Quando eu era estudante.
o Alto sobre o assunto. Ouvir
– Como foi isso? o Plano Superior e ser
– Foi uma felicidade grande, mas difícil! LC-24 aconselhado sobre a
– Ela era uma jovem de família importante e conveniência de prosseguir
você um estudante mais ou menos desconhecido, daí ou não. Foi o que fiz, e em
a dificuldade para você vencer a barreira social. muito boa hora. Através de
– É... Foi no Luxembourg. um, médium altamente
– Numa festa? evangelizado, cujo nome não
– Não, no jardim. No Jardim de Luxemburgo. quis que eu declinasse,
Eu ia saindo do colégio e ficava passeando, e lá vi uma indaguei aos nossos mentores
moça antes de Lucile. Uma moça bonita também. Uma espirituais sobre se valia a
moça. Fiz uns versos para ela, mas... Lucile, sim. pena continuar nas pesquisas
Depois, Lucile... um dia... Você quer mesmo saber
disso?
e, no caso afirmativo, como
proceder daqui por diante.
– Vamos saber, sim, porque isso interessa à
nossa pesquisa. Além disso, é uma recordação
Recebi a mensagem que o
agradável para você. Hermínio já transcreveu na
Primeira Parte deste livro, no
– É! Lucile ia brincar com a irmã dela.
Capítulo O Quando e o Onde,
– Ela era mais jovem que você?
LC-24.
– Era. E com Madame Darrone. No jardim.
Luxemburgo. Madame Darrone... Você a conheceu? Pedi, ainda, a um outro
Eu é que a chamava de Darrone... Foi um apelido que
eu botei.
médium idêntica orientação.
Desta feita ao confrade
– Qual a razão desse apelido?
Abelardo Idalgo Magalhães.
– Darrone é patrone. É gíria.
– Argot? Sua mensagem ficou perdIda.
– Argot. Patrone... Patrone... (Experimenta a Contudo, ele conseguiu
pronúncia de várias maneiras, até que parece recordá-la, em tese. Guillon
encontrar a entonação adequada.) Patrone. Ribeiro (meu querido amigo
– Você é capaz de falar francês agora? da espiritualidade)
- Oui. Patrone. Francês... não repercute bem, recomendava o
embaixo. (Ou seja, no corpo físico.) LC-25 prosseguimento dos
– Ah, sim. Você pode pensar lá em francês que
trabalhos. Assim, não me
chega aqui, sai em português. É um fenômeno restou mais dúvida de que a
interessante. Está bem. Vamos continuar.2 palavra de ordem era
3
Penso tal qual o Hermínio, quanto à continuar, devendo, muito em
linguagem utilizada durante o transe. No breve, surgir, ao que me era
mais, nesse caso específico, o emprego do anunciado, algum fato
francês não teria acrescentado muita coisa.
"maravilhoso, do qual eu
Eu o falo razoavelmente bem. Não me seria
difícil a utilização e, portanto, nada teria nunca estivera "tão perto" ...
acrescentado á pesquisa, em matéria de
comprovação. (Nota de Luciano dos Anjos.) As mensagens serviram-me
de bálsamo encorajador e -
– Patrone é patroa! Confunde-me tudo isso,
por que nega-lo? -
mas eu dou um jeito. E Darrone é argot (gíria). Muito despertaram-me ainda mais a
boa, Madame Duplessis. Muito boa... Annette. LC-26 curiosidade. Levei-as ao
– Ela, levou, então, Lucile para brincar Hermínio. Ele gostou, achou-
juntamente com a outra irmã? as muito sensatas e, por sua
– Ela se sentou ao meu lado e Lucile brincava vez, tambem se reanimou.
com Adèle. Marcamos o reinício dos
– Adèle é a irmã? trabalhos e daí por diante, os
fatos foram paulatinamente
– Adelette. Adèle, Adelette. Era mais jovem.
Jogavam, brincavam. Duas crianças lindas! se acumulando se
justificando, se encaixando,
– E você conversava com Madame Darrone...
se comprovando, se
– Eu me sentei no vestido dela! Pedi
revelando, afinal, naquele
desculpas. E começamos a conversar. Ela era linda
também! Mas Lucile era minha Loulou... Era linda! "maravilhoso" prometido
Fréron gostava dela também. E Paul também... E pelo Alto e que mais não era
Claude também... (E num sussurro:) Mas ela gostava do que meu reencontro
de mim! comigo mesmo, na sombra
Pelo que se vê, Lucile era uma criatura do passado longínquo há
encantadora e tinha um séquito de admiradores; como, quase, duzentos anos, em
aliás, a Sra. Duplessis.
meio à agitada França
– Como então começou o romance? Você revolucionária de LUlS XVI
estava conversando com madame Darrone no parque,
no Luxemburgo, e daí ficou conhecendo Lucile.
e encarnando a figura do
jornalista CamilIe
– Elas chegaram... Madame Darrone me
2
apresentou. Conversamos, e ficamos amigos.
– Quantos anos você tinha aí? Desmoulins! (p.365-368 –
– 22... 23... Não mais. cap. 4 – 2ª parte)
– E Lucile?
– Garota. Uns 15 anos...
– E daí você passou a freqüentar a casa
deles?
– Custou! Você quer saber?
– Acho que é uma cena que ficou muito
gravada em sua memória, porque em nossa primeira
experiência você se viu numa sala com muitas janelas
e estava ansioso, esperando por alguém. Não sei se já
era sua noiva ou apenas namorada. Você se lembra
disso?
–Sei... Vou contar. Eu inventei um pretexto. Fiz
um libreto... uma ópera. Uma ópera? Não, uma
opereta. Tema? Era um romance frustrado e fui levar.
Madame Darrone e Lucile tocavam piano muito bem.
Lucile não era Lucile. Lucile era apelido.
Atenção para mais um módulo informativo
daqueles a que costumo chamar de a “eletrizante
trivialidade”.
– Ah, o nome dela não era esse?
– Não.
Neste ponto ele interrompe para pedir um
favor: que eu dê alguns passes a mais, o que faço
imediatamente. E como a conversa já se prolonga por
cerca de uma hora, proponho que seja interrompida
para não cansá-lo. E ele:
– Pode continuar, mas devo lhe pedir uma só
coisa. Só uma. Não me importa quanto tempo falemos
assim, que estou bem. Não importa. Ou que você fale
sobre qualquer coisa. Porque temos um compromisso.
Temos que juntar tudo, tudo, tudo... muito depressa.
Mais duas ou três vezes poderei estar conversando
com você.
– Por que isso?
– Porque eu sonhei... Não. Não sonhei não.
Disseram-me aqui... É que confunde. Que temos que
ultimar nossa tarefa nessas condições e prosseguir na
outra, pelo menos comigo, na tarefa da vida de
prisioneiro.
– Isso está muito misterioso. Não estou
entendendo. Você podia explicar melhor? Você diz que
temos mais duas ou três reuniões apenas...
– Eu pediria. Porque devemos... Se você
esperar um instante, vou ler para você o que vai
passar.
Este fenômeno ocorreu com certa freqüência
em minhas experiências. Sempre que o sensitivo tinha
algo a dizer, não de sua própria elaboração mental,
mas de origem mediúnica, espiritual, provinda de
companheiros desencarnados ali presentes, o texto
aparecia diante dos olhos e era lido. Foi assim mais
uma vez.
“Meus caros amigos: louvado seja Nosso
Senhor! Que Ele vos abençoe e vos envolva com a luz
do Seu amor e da Sua paz. A tarefa é grande e,
sobretudo, agradável a Jesus. Por isso, possam os
corações de todos os que nela se acham em trabalho
ouvir e, se quiserem, aceitar nossa sugestão fraterna
para que ela se desenvolva em duas etapas: essa
primeira, propriamente dita, em condições especiais
com o concurso de nossos amigos todos, (através do
recurso do desdobramento e uma segunda, em que se
vejam mais livres e por conta mesma de suas próprias
interpretações e deliberações. Seria um pouco cômodo
a tarefa toda em condições privilegiadas, mas hão de
estar sempre assistidos por todos nós. Depois talvez
sofram um pouquinho, mas Nosso Senhor os
abençoará.” LC-27
O ENCONTRO DE 1/9/1967
Esta é a única sessão na qual a data coincide, e sobre a qual não resta
dúvida de que tanto Luciano quanto Hermínio se referem ao mesmo episódio.
Achamos que desta vez seria possível efetuar comparação dentro dos moldes
desejados. Infelizmente, ver-se-á que os narradores tomaram rumos distintos
em suas explanações e a mesma dificuldade que relatamos nos diálogos
3
anteriores aqui também se fez presente. Para não alongar demasiadamente
este estudo, muitas passagens dos relatos deixamos sem apreciações, mesmo
assim, apresentamos os escritos por inteiro, para que os leitores possam
visualizar corretamente o que foi dito pelos participantes.
[Cesar Burnier introduz uma terceria [Luciano “conclui” que pensara estar
versão dos acontecimentos, não fala diante de uma única informação, mas
de falha alguma na gravação e depois percebeu que eram duas! Desse
assevera que o encontro foi registrado modo, quando Chico Xavier garantira
normalmente pelo aparelho! Temos que Luciano fora um Valois escritor, em
pois, em cada relato, uma visão, não
realidade estaria declarando que o
só diferente, mas conflitante!]
jornalista tinha sido (1º) um Valois; (2º)
Inteirei-me de tudo. Submetido o
um escritor, portanto, dois, em vez de um.
jornalista ao transe hipnótico, um médico
não-espírita16 constatou que o transe era Com base em quê chegou a tal ilação?
completo: relaxamento dos músculos, Por conta de uma vírgula, que ele,
pupilas dilatadas, alterações do estrategicamente, inseriu na mensagem
metabolismo e do ritmo cardíaco. verbal, a qual transformou numa
Confesso que não esperava grande conjunção aditiva e, com um pouco de
sucesso, porquanto sou bastante cético. esforço, converteu em duas asserções!
16
É engano de César que, Os amigos de Luciano, ao retornarem do
como disse de início, ele encontro com o médium, apresentaram a
próprio desconhecia os
seguinte informação: “ele disse que você
presentes. O Dr. Jayme
Cerviño, aliás desencarnado foi um Valois escritor e viveu na França
tão jovem, foi espírita no período revolucionário”.
militante e participou de
grupos da chamada O caso é que depois que se descobriu a si
juventude espírita, quando mesmo como Camille Desmoulins,
estudante. Luciano ficou com um problema a
elucidar, pois a informação dada
Iniciados os trabalhos, o amigo anunciou anteriormente pelo médium não fechava
ao paciente que havia uma visita na sala com a recém-descoberta. Camille, é certo,
e perguntou-lhe se a conhecia (pergunta vivera no período revolucionário, mas
habitual em todos os trabalhos desse não fora Valois. E agora, quem poderá
gênero). Resposta: 'Sim, eu a conheço. É
me defender? Deve ter se perguntado o
M a riu s ’.
jornalista. Súbito, idéia luminosa o
A resposta deixou os assistentes em
envolveu: e se a revelação fosse duas,
confusão. A mim, todavia, imensamente embrulhadas na mesma embalagem?
interessou: Marius era o nome que Lucile Ante esta inspiração, reservou a parte
Desmoulins aplicava a Danton, na sua “período revolucionário e escritor” para
intimidade com o ardoroso convencional, Desmoulins e partiu em busca do Valois
de quem Camille fora secretário. Eu que fora.
havia lido dezenas de biografias de
Danton e Desmoulins. Entretanto
somente numa delas - a de Hermann Só que Luciano esqueceu que a
Wendel, à pág. 334 - encontrei essa informação completa dizia: “fora um
citação, colhida numa carta que Lucile Valois, escritor e vivera na França no
escrevera a Fréron e na qual se queixava período revolucionário”. Esta seria a
da lassidão de Danton, exausto pelas imagem completa da encarnação francesa
lutas revolucionárias e amargurado com de Luciano, que ele desmembrou, para
os homens da Revolução. Lucile achava tornar o discurso de Chico Xavier
Danton muito parecido, política e coerente. Em verdade, ele deveria estar a
psicologicamente, com aquele famoso buscar um Valois com tais características
político romano. De um salto, depois
(escritor, que tivesse vivido na época da
dessa curiosa citação, e depois de
confirmar aos presentes o seu inegável
Revolução). Só que para tanto, teria de
acerto, pus-me a interrogar o paciente abandonar a identidade de Camille
através do caríssimo amigo, de cuja voz Desmoulins e isso ele não faria de jeito
me utilizei, porquanto, estando o paciente algum!
em rapport com você, não poderia ouvir-
me de maneira alguma. (Outro indício do A adaptação reencarnatória feita por
seu estado de transe.) Incontáveis Luciano esbarra no próprio escrito do
perguntas dirigi ao paciente, todas elas jornalista. Vejam o seguinte trecho:
capciosas, difíceis de serem respondidas
em conjunto. Chico Xavier informara-lhes que eu
realmente vivera na França, na última
[nota-se o empenho de Burnier em encarnação, durante o período
valorizar a boa memória de Luciano, revolucionário... que eu tinha sido um
diz que dirigiu ao paciente Valois, escritor!
“incontáveis perguntas”, numa
reunião com pouco mais de uma hora Ora, é mais do que claro que Chico
de duração seria muito difícil Xavier se referira à última encarnação,
conseguir tal feito] portanto fora uma só vivência e não
duas!]
Inquiri-o quanto ao nome da velha ama-
de-leite da família de Danton (ela o O médium, dissera: "Viveu na França: na
acompanhou até à sua morte). Camille e última encarnação, durante o período
Lucile eram comensais do tribuno.
revolucionário, e que tinha sido um Valois,
Provaram muito com as pessoas que o
cercavam. A resposta não tardou: escritor."
Margueritte Hariot.
E a outra empregada, a
que esteve presente ao casamento do É claro que ele se referira às duas
tribuno na cour de Commerce? Danton personalidades: a de Desmoulins e a de
casou-se, na segunda vez, com Louise d'Orléans! Na França, ambos haviam
Gelly. A resposta veio exata: Marie vivido − certo; na última encarnação,
Fougerot. (Ver a biografia de Danton - durante o período revolucionário -, também
autor Dr. Robinet, página 249.) Essa certo, na personalidade de Desmoullns; e
Marie Fougerot e uma outra doméstica - tinha sido um Valois escritor - certo,
Catherine Motin - foram as pessoas igualmente, na personalidade de Charles
encontradas pelas autoridades - Louis
d'Orléans. Absolutamente certo, correto,
Thuller, juiz de Paz da Seção do Teatro exato. Só não sei se o Chico sabia da
Francês, quando esse juiz se dirigiu à distinção e não quis dizer, ou se ele mesmo
residência da falecida Antoinette também a ignorava. Neste caso, sabia agora
Gabrielle Danton para fazer o que, mais uma vez, sua mediunidade não
arrolamento dos seus bens, na ausência falhara, o que, de resto, não surpreende a
de Danton, enviado pela Convenção à
ninguém ...
Bélgica em desempenho de grave
missão junto de Dumoriez. (Ver peça
justificativa nº 6, intitulada 'Apposition des [Parece que o único que não se
scelles chez Danton, Le 12 Février 1793' surpreende com esse nó indesatável é o
- constante das folhas 234, do livro respeitável jornalista!! É bem conforme
Danton, edição 1884, da autoria do Dr. alguém declarou: com um pouco de
Robinet17). Não contente de todo com as criatividade tudo se ajeita!]
respostas dadas, formulei numerosas
outras perguntas vazadas no mesmo O leitor deve estar lembrado também que
estilo. falei, no mesmo capítulo 3 desta Segunda
17
Parte do livro, da informação que me dera,
Foi ao retomar dessa
o médium Homero Lopes Fogaça dizendo
viagem que Danton mandou
desenterrar GabrieIle para
que eu “Vivera na França, fora membro da
se certificar de que ela corte, era assim magro como hoje e
estava mesmo morta. no autorizei a morte de algumas pessoas”.
episódio a que aludiu Estava, portanto, igualmente certíssimo.
Luciano em transe. Não devo deixar passar a ocasião para
assinalar que, pelo menos quanto à
O paciente, vencidos os esforços encarnação como Camille Desmoulins,
naturais, saiu-se esplendidamente. recebi, também, por mais de uma vez, a
confirmação de outro extraordinário
O físico do jornalista L.A. é médium: Divaldo Pereira Franco. Se
absolutamente idêntico ao de Camille quiserem o arremate decisivo, ei-lo:
Desmoulins. Seu cacoete (ligeira Olímpio Giffoni, médium do Grupo Ismael,
gagueira ou tropeço) continua o da Federação Espírita Brasileira, e dos mais
mesmo.18
evangelizados que se conhecem (antena
18 psíquica das raras e sublimes mensagens de
A gagueira só se verificou no estado de
transe. mesmo assim foi eliminada com o Ismael à Terra), e que me confirmou, da
tempo. Luciano não apresenta a menor mesma maneira, essa encarnação.
dificuldade em falar em seu estado de
viglília. E até, a respeito dela, deu-me
muitos conselhos pessoais ... Vamos
[Burnier esforça-se por demonstrar adiante! Entre as vidas de Charles
que existiriam indícios na constituição d'Orléans e de Camille Desmoulins,
corpórea e nas atitudes de Luciano renasci; ainda na França, por mais duas
que o caracterizariam como vezes, ambas exercendo um ofício que
Desmoulins. Porém, é fácil perceber nunca, nenhum de nós, houvéramos ouvido
que exagera: “o físico do jornalista falar: vinagreiro, isto é, vendedor
L.A. é absolutamente idêntico ao de
ambulante de vinagre. Vidas duras,
Camille”, declara em sua euforia. E
ressalta que a gagueira seria outra difíceis, árduas, cheias de tropeços. E foi
comprovação. Hermínio não vê me referindo a uma delas que aflorou, nas
alternativa senão refrear a excessiva nossas pesquisas, a figura do Cardeal
empolgação do visitante: em verdade, CharIes de Guise, sobejamente conhecido
Luciano não é gago, exibia a gagueira da nossa história universal. Quem era ele?
apenas quando representava Camille. Exatamente, como já contou o Hermínio, o
Na sua generosidade identificativa, confrade e amigo atual Abelardo Idalgo
Burnier acaba criando uma nova Magalhães.
vertente na doutrina da reencarnação:
a de que os reencarnados apresentam
O surgimento do nome do Abade
as características físicas e
psicológicas de seus antecessores.
Bossut, acontecido durante aquela mesma
Parece-nos que Kardec não veria essa reunião, tem implicações especialíssimas.
idéia com bons olhos... Também, seria Naquela mesma semana, ninguém sabia,
o caso de perguntar: e César Burnier, ainda, com precisão, de que se tratava;
teria o mesmo físico que Danton? sequer como se escrevia o nome Bossut.
Pena que não dispomos de fotos de Mas o Abelardo Idalgo Magalhães, por via
Burnier para comparação. No relato de de sua própria mediunidade, chegou, mais
Luciano, veremos que ele comunga a depressa do que podíamos esperar, às
mesma idéia de Burnier, mas com conclusões que buscávamos. Em sua casa,
algumas diferenças nos detalhes] no domingo daquela semana, ele recebera
uma forte intuição no sentido de que
Para ser leal, informo-lhe: até o dia da consultasse o Lello Universal. Ora, nós,
nossa reunião com L.A., eu ignorava que
que já havíamos tentado a Enciclopédia
Camille Desmoulins chamava-se Lucie
Simplice Benoist Camille Desmoulins. Britânica, a fim de localizar o Professor
Esse Lucie Simplice passou a ser uma Charles Bossut, não poderíamos supor que
novidade para mim. (Ver Enciclopédia o LeIlo registrasse alguma coisa. Mas a
Larousse, volume 6, pág. 570.) Não intuição fora absolutamente certa. O
conheço uma só biografia de Desmoulins Abelardo me telefona e me dá notícia da
que cite esse Lucie Simplice que o sua descoberta. Três ou quatro linhas
prezado amigo descobriu na Enciclopédia apenas, mas o bastante para confirmar-se
Britânica. que o abade existira de fato.
Posteriormente, foi mais fácil ampliar a
[Conforme comentamos pesquisa, na Biblioteca Nacional. Então,
anteriormente, a citação do nome apuramos tudo sobre o assunto e os fatos
completo de Desmoulins foi
começaram a casar-se de forma
excessivamente enaltecida. Aqui
observa-se Burnier intensificando o maravilhosa. Fatos que não poderiam ser
valor dessa lembrança. Ele declara imaginados, que não poderiam ser
não conhecer “uma só biografia” que fabricados e que estão acima da
cite o epíteto por inteiro. Observem: possibilidade humana, consciente ou
nenhuma biografia, nem umazinha subconsciente, de serem arrumados. Des-
sequer, na qual o informe constasse! cobrimos, por exemplo, que Bossut foi o
Será que faz sentido tal declaração, primeiro tradutor, na íntegra, de Pascal, por
vinda de especialista na Revolução sinal contra recomendação da Igreja da
Francesa? Indagamos: quantas época, que não queria o trabalho. Ora, as
biografias de Camille o declarante Iigações do Abelardo (médium) com o
leu? Temos uma resposta do próprio
Espírito Pascal são muito anteriores as
Burnier: “Eu havia lido dezenas de
biografias de Danton e Desmoulins”. nossas pesquisas. Bossut foi estudioso de
”dezenas” de biografias, significa de assuntos sobre oceanografia, sobre
vinte para além, e em nenhuma delas construção de diques, de represas, etc. O
o nome completo de Camille Abelardo veio a ser, antes das pesquisas,
aparecia?! Uma coisa é certa, entre auditor de uma das raras firmas constru-
essas mais de vinte biografias, Cesar toras de diques no país. E tanto o cardeal
Burnier não leu a que consta da como o abade se chamavam Charles. O
Enciclopédia Britânica, provavelmente Cardeal Charles de Guise fundara uma
da mais popular das biografias o universidade; o Abade Bossut era professor
especialista olvidou a leitura ... um de matemática; o Abelardo leciona
tanto estranho... contudo o maior contabilidade. Bossut viveu, realmente, à
problema não está aí: as boas época da Revolução Francesa, e teve sua
biografias costumam trazer informes condição de abade cassada. Mas, de fato,
pessoais completos sobre os
salvou-se da guilhotina, pois a história não
personagens que descrevem.
Supomos que Burnier tenha registra em contrário.
examinado material de boa qualidade.
Como então aceitar que em nenhum Assinale-se, ainda, que se o Abelardo não
deles o nome inteiro do revolucionário pede ao Hermínio, durante aquela reunião,
aparecesse? Até em biografia que me fosse perguntado se havia mais
mixurucas a informação está alguém conhecido ali na sala, toda essa
presente. Quem quiser conferir, basta história não teria surgido. Não foi,
jogar o nome “Camille Desmoulins” portanto, uma narrativa espontânea, mas
em ferramentas de pesquisa na provocada por uma pergunta de última
Internet, vão aparecer um montão de
hora.
comentários citando o nome inteirinho
de Desmoulins. (Atenção, antes que
digam que não havia internet na época Quanto ao César Burnier, há muito o que
em que as experiências foram dizer. Repito que não o conhecia, nunca o
realizadas, esclareço: a internet não tinha visto antes. Preveniram-me de que
existia, no entanto as biografias participaria da reunião uma pessoa muito
existiam)] estudiosa da história da Revolução
Francesa e que me iria fazer algumas
Esse fato é mais uma contribuição a perguntas. Concordei, pois àquela altura eu
favor da autenticidade do depoimento já não duvidava de que' em transe seria
obtido do seu paciente em estado de capaz de responder a qualquer indagaçao.
transe, como se não bastasse aquela Não me havia dito, porém, que se tratava
declaração sua de que a Sra. Duplessis-
da reencarnação do Danton. Ora,
Laridon, mãe de Lucile, tinha o apelido de
Madame Darrone, 'coincidência'
Desmoulins tinha de reconhecer Danton e
notabilíssima que o distinto amigo indica esse reconhecimento seria, sem dúvida,
em seu magistral artigo, usando as fator decisivo de comprovaçao. Pois bem,
seguintes palavras: 'Cerca de dois anos os fatos ocorreram tal qual o leitor
depois, ao passar por uma livraria, em verifícou, ao ler o relato correspondente na
companhia de L.A. e de César Burnier - Primeira Parte deste livro, sob a
que desempenha nesta pesquisa responsabilidade de Hermínio C. Miranda.
importante papel -, encontrei num velho
volume da história da Revolução a Acrescento, neste ponto, uma outra
confirmação de que Mme. Duplessis informação que não é oriunda das sessões
tinha o apelido de Mme. Darrone.'
feitas com o Hermínio, mas fornecida, oral-
mente, pelo César Burnier: além de Charles
Realmente essa descoberta se deu de
acordo com a sua exposição de motivos.
d'Orléans, do vinagreiro (duas vezes) e de
Nós nos encontrávamos juntos, por Camille Desmoulins. Eu teria vivido como
'acaso', quando entramos na livraria (o lugar-tenente de Spartacus, líder da célebre
almoço não fora combinado pre- revolta dos Escravos em Roma, no século
viamente), onde o livro esclarecedor foi 71 a. C. César Burnier fora o próprio
encontrado ... Quantos 'acasos!'. . . Spartacus, mui antes, e claro, de reencarnar
como o tribuno revolucionário Georges
Sei que o jornalista L.A. tem uma filha, Danton.
registrada em cartório muitos anos antes
das suas pesquisas, com o nome de Ana - [É certo que dar asas à imaginação não é
Lúcia, o mesmo da infortunada Anne- crime e até dá um certo colorido à
Lucile Desmoulins19; sei, também, que narrativa, porém em nada ajuda a
ambas nasceram no mesmo dia e no explicar a experiência...]
mesmo mês - 24 de abril.
Tudo isso o meu distinto amigo relatou no Particularmente, acho possível. Mas
seu brilhante artigo do Reformador de também não tenho provas de nada. E neste
agosto. livro só estamos cuidando de matéria
provada e comprovada cientificamente.3
A leitura da tradução da [?!] [Pena que Luciano dos Anjos não
carta escrita por Camille a quis ampliar a declaração, informando o
seu pai, carta estampada no que, em seu modo de ver, significa
Reformador, constitui
“matéria provada e comprovada
esplêndida prova da
memória regressiva do cientificamente”. Se ele está a se referir à
jornalista L.A.20 sua regressão, e à conseqüente suposição
de que fora Camille Desmoulins, como
20 O fenômeno parece uma matéria cientificamente comprovada,
combinação de memória
então estamos diante de sérias
com vidência, pois ele "via"
a carta diante dos olhos dificuldades. Ressalte-se que nem o
espirituais. próprio Hermínio Miranda ousou emitir
declaração tão contundente! Conforme se
Aliás - é bom precisar aqui -, várias foram vê na nota acrescida por Hermínio ao
as cartas escritas por Desmoulins ao seu declarado pelo jornalista]
progenitor - Nicolas Desmoulins -,
3
homem de muita influência na sua terra Em verdade seria imprudente
natal, porém muito agarrado ao dinheiro. assegurar a identificação de Luciano
Em quase todas essas missivas Camille com Demetrio sem dispor de um mínimo
reclamava ajuda e revelava sua ânsia de de evidências convergentes, como tantas
existentes no caso Luciano/Desmoulins.
querer subir na política. Numa dessas
Certas conotações, no entanto, são
cartas, escritas com letra quase ilegível - singularmente curiosas. Segundo relato
como a de 20 de setembro de 1789 -, de Emmanuel, pela psicografia de Chlco
Camille pedia que se lhe remetessem Xavier, em Paulo e Estêvão, Demétrio
duas camisas e roupas. (Ver era ourives, em Efeso, e tinha
Enciclopédia Larousse - volume 6, pág. consideravel interesse na
570.) comercialização de imagens da famosa
Diana, deusa da mitologia grega que
O Café Procope ainda existe. Seu dono ali se venerava. A pregação da
mensagem cristã, devido ao
chamava-se, de fato, Lopes. Possuo
pioneirismo de Paulo de Tarso, não
ótimos slides coloridos desse café. Nada apenas ameaçava o rendoso comercio
mudou ali. Constatei, através de como, eventualmente, poderia acarretar
informações seguras, que a expressão dificuldades a “toda uma classe de
de que alguém pudesse morrer de 'ramo homens válidos (que) ficava sem
de ar' era comumente usada no velho trabalho", como escreve Emmanuel, se
Portugal daqueles tempos e tinha o ali viesse a implantar-se o culto sem
significado que o meu amigo lhe dá, no imagens do cristianismo nascente.
seu artigo, isto é, o de uma crise de
circulação, ou estupor português." Demétrio viu logo o inconveniente
que aquilo representava para os seus
O longo documento preparado por César interesses pessoais e, por extensão, não
sem certo teor de demagogia – as
Burnier prossegue, expondo fabuloso
implicações sociais, potencialmente
acervo de informações colhidas tanto em explosivas, ante o fantasma do
registros históricos confiáveis, que ele vai desemprego. Foi o bastante para entrar
citando, como no trato com seus em ação com o objetivo de mobilizar a
mentores espirituais, seja através das opinião pública. Promoveu uma reunião
suas próprias faculdades mediúnicas, com seus colegas ourives, que
seja com a valiosa participação de seu concordaram em aliciar e financiar
particular amigo Francisco Cândido arruaceiros e amotinadores que pronta-
Xavier. mente comecaram a espalhar boatos
tendenciosos pelas ruas, fazendo crer
que Paulo e seus seguidores se
César não tem dúvida, assim, em preparavam para tomar de assalto o
identificar Luís XVI o rei que assistiu, templo sagrado de Diana e profaná-Io
impotente, a queda da Bastilha, símbolo com a destruição indiscriminada dos
vivo e sinistro do absolutismo - como objetos do culto.
reencarnação de Carlos V, avô do Duque
Charles d'Orléans, que em 1377 mandara Como Paulo estava programado para
construir a Bastilha, usada, a princípio, falar no teatro local naquela noite,
como fortaleza e, posteriormente, como pequena multidão hostil começou a
prisão política, onde crimes tenebrosos formar-se na praça principal ao
foram· cometidos ao longo dos séculos. entardecer, e a engrossar
constantemente no correr das horas.
Para ele, César, Lucile Desmoulins foi a
reencarnação de Valentina Visconti, Não foi difícil manobrar a turba para
uma verdadeira caçada a Paulo e aos
Duquesa de Milão e de Orléans que
seus. invadiram primeiramente o teatro,
antes de morrer induziu seu filho Charles mas o Apóstolo ainda não estava ali.
- o futuro Camille Desmoulins a - a exigir Prenderam apenas Gaio e Aristarco,
a punição dos assassinos de seu pai e dois macedônios cristãos que estavam
ele próprio a vingar-se de João sem providenciando para que tudo estivesse
Medo. Este, por sua vez, César identifica preparado a tempo e hora para a
com Maximilién Robespierre, como já palestra. Em seguida a multidão saiu na
vimos. (Aliás, até fisicamente eles se direção da pequena oficina de Áquila e
parecem.) César descreve João sem Prisca, onde Paulo tecia suas tendas,
Medo como "homem terrível, hipócrita e pois vivia igualmente do humilde
a· quem Paris temia horrivelmente. O artesanato. Também ali não estava
Paulo, mas a turba exaltada
assassinato de Louis (d'Orléans) ficou
desmantelou a modesta oficina dos
impune, tamanho o medo, o terror que trabalhadores cristãos, atirando na rua
esse João sem Medo inspirou ao povo e teares quebrados e peças de couro. O
ao próprio rei da França - Carlos VII". casal foi preso.
Rochefoucauld e Desmoulins se
aproximaram, à época da Revolução, dados
os seus ideais, ainda que um estivesse entre
os nobres e o outro ligado ao Terceiro
Estado. Essa aproximação transformou-se
em algo mais sólido e duradouro, capaz de
vencer a barreira do tempo e chegar ao
Brasil na configuração de uma amizade
inquebrantável.
COMENTÁRIOS COMPLEMENTARES:
Nota-se que poucas informações são comuns aos dois relatos: basicamente
que a reunião ocorreu em 1/9/1967 e o gravador não funcionou.
Hermínio diz: Temos, porém, um relato que César Burnier escreveu a meu pedido,
com base em suas notas pessoais então colhidas.
Luciano diz: E para que os lances principais não ficassem esquecidos, o Hermínio
fez, logo ao término dos trabalhos, nova gravação, com o testemunho dos
participantes, em especial o do César Burnier.
- Minha filhinha, preste atenção ao que o papai vai lhe perguntar. Preste
bastante atenção. Ouça esse nome: Lucile Duplessis; Anne-Lucie Philippe
Laridon Duplessis; Lucile Duplessis - Fiz uma pausa, olhei-a bem no
fundo dos olhinhos muito abertos e meio alegres. Depois, perguntei,
sério: - Quem é ela? Quem é ela?
Resta repisar para o leitor aquele conclusivo detalhe: Ana Lúcia nasceu
no dia 24 de abril de 1960; Lucile Duplessis nasceu, também, num dia 24
de abril, de 1771! É coincidência demais, não acham?
Encerrando este capítulo, aqui vão alguns traços pessoais da Ana Lúcia.
Adora música. Desde pequenina tinha mania de tirar, no piano de
brinquedo, de sete teclas, as melodias que ouvia na televisão. Quando
começou a estudar piano, sua professora, Odete Calvet, dizia que ela era
uma pianista nata. Não sei se exagerava para estimulá-la, mas, que o
dizia, isso é verdade. Curioso é que não pára no piano. Abre-o, fecha-o,
abre-o de novo, senta, toca, levanta, senta de novo. Está sempre
irrequieta. Tal qual narra um livro que lemos sobre Lucíle. Gosta também
de escrever solitariamente, da mesma forma que no passado francês. É
alegre, está sempre rindo, não sossega, constantemente inventando
alguma coisa nova para fazer. Formou-se em normalista e agora está na
universidade, fazendo pedagogia. Ama as criancinhas. Ama a vida da
fazenda. Ama cavalos. Está fazendo, agora, patinação, depois de ter
cursado um bom período de pintura com a Professora Marina de Almeida
Pinto, que também a elogiava bastante. É muito decidida, voluntariosa,
indomável. Mas sabe ceder quando o clima é de carinho e amor.
O DESACOPLAMENTO DO ESPÍRITO
– Não sei se estou aqui ou ali – continua ele. (Isso é verdadeiro também,
porque nos estados superficiais a consciência fica como que dividida, ou
melhor, partilhada pelo corpo físico e pelo perispírito.) (3)
– Devo ficar calmo – diz ele para se tranqüilizar. – Deus nos ajudará.
– Não tenho uma clareza muito grande. Prefiro que você pergunte
e vou localizando, senão tumultua.
– Não vejo (isso) – diz ele. – Mas Deus vai nos ajudar.
Declara ainda não ver os amigos espirituais que nos ajudam na tarefa,
mas está convicto da presença deles. (p.65,66 – cap. 5)
__________________________
– Deitado.
– Também. (6)
– Por que você disse vocês? Tem mais gente aí? (7)
– É. Fico olhando...
Comentando:
(5)
Ou seja, não se desprendera o suficiente do corpo físico a ponto de
libertar-se da sua influência inibidora.
– Deitado.
– Também.
Para ser bem sucedido, este exame simples exige que o examinador (no
caso Hermínio), em momento algum, leia o que está escrito na página que foi
aberta. Somente depois do espírito se manifestar é que conferiria se houve
acerto.
A GAGUEIRA DE LUCIANO/DESMOULINS
Um dos argumentos em defesa da legitimidade da manifestação foi que,
como a gagueira não aconteceu imediatamente após Luciano ter sabido que
Desmoulins era gago, significaria ponto a favor de uma demonstração real da
personalidade de Camille, que gradativamente ia tomando forma, à medida que
as sessões regressionistas evoluíam. Vamos recordar o assunto e acrescentar
nossas considerações.
Sejamos tolerantes com o velho Duplessis. Camille era de fato uma figura
estranha. Mesmo a Enciclopédia Britânica, que se esmera em informar
sem opinar, diz isto de Camille: “Seu sucesso profissional não era
grande; seus modos, violentos, sua aparência, sem atrativos, e sua fala,
prejudicada por uma penosa gagueira.” Algo aturdido quando viu Camille
a seus pés, num gesto dramático, a pedir-lhe a mão de Lucile, acabou
concordando hesitantemente, com o que não estava de acordo Madame
Duplessis. Por fim ambos cederam, já que Lucile também acabara
aceitando Camille que, a princípio, ela nem soube entender, apesar da sua
impressionante precocidade intelectual.
– Ótimo.
– Agora não mais – digo eu. – Estava tremendo, sim, mas você já
conseguiu controlar. Podemos retomar nosso trabalho? Bem, você sabe
que temos algumas dúvidas para resolver. Um dos problemas que
precisávamos esclarecer é quanto à dificuldade que você tinha em falar.
No momento você não a tem mais, não é? Por que isso? Como você
conseguiu controlar isso?
CONCLUSÃO
Acreditamos que a experiência regressionista aqui analisada pode ter
sido convincente para Luciano dos Anjos, que aguardava ansiosamente
oportunidade de descobrir sua encarnação pretérita. Louve-se o esforço dos
envolvidos em demonstrar que as lembranças eram verazes.
– E você teve outra existência entre aquela que você viveu na França e a
atual?
– Da existência que você teve como Camille até a em que você renasceu
no Brasil, como Luciano, há alguma intermediária?
– Não sei – é a resposta.
– Depois apagou-se tudo... Não me lembro. Acho que não. Estou bem
agora.
____________________________________
(Cap. 4, 2ª parte)
____________________________________
– Você sabe que está tudo guardado em sua memória. É questão somente
de procurar o caminho de acesso. Estamos sendo ajudados por irmãos
nossos do mundo espiritual.
____________________________________
- Não sei.
- Isto, então, é um dos pontos em que não devemos insistir mais, porque,
provavelmente, não está incluído no nosso trabalho, pois seu espírito
sabe. Você pode não estar lembrando, mas isso está registrado. Então
não será possível apurarmos isso. O que for possível, remos apurando,
especialmente o destino de seus amigos daquela época. Onde estará
Danton? O que você imagina tenha acontecido a ele? Será que ele está
aqui no Brasil? (Cap. 9, 1ª parte, “Os Dois Agoras”)
____________________________________
- Não.
- Escuta: entre sua vida no século XIV e essa, na França, no seculo XVIII,
você teve outra existência?
- Foi.
- Também!
- Nada, vivia... Isso é tão distante que a gente fica sem certeza das
coisas .
- No século XV.
- É. Fui vendedor de rua ... (Ambulante.) Tem uma ... acho que era Louis.
Não tem nada.
- Difícil?
- É.
- Ah, isso baralha muito. Eu me vejo na rua, assim ... andando ...
- Não sei. Puxava um baldinho, vendendo. .. Não... isso foi depois. Deixe-
me ver. Vinagre. .. Levando vinagre. A gente amarrava um barrilzinho dos
dois lados e ia puxando com uma corda. Vendia vinagre.
- Como você se chamava? Essa vida aí está mais perto. Você pode se
lembrar.
- Quer dizer que você passou uma existência muito brilhante na corte e
depois duas existências muito obscuras ...
- É, sofri muito!
- Foi para aprender a lição da humildade. Daí, então, depois dessas duas é
que você veio como Camille?
- É, depois Camille. .
- E depoIs de Camille... Você não teve nada aí nesse meio, entre Camille e
Luciano? O bloqueio continua firme.
- Não sei... não consigo. É um vazio imenso... imenso... Uma bola imensa,
vazia. Como se fosse uma bola.
Vejam só, as palavras que Luciano dos Anjos põe na boca de Hermínio,
este declara não serem de sua autoria. Tratar-se-ia da opinião de terceiros,
com as quais não concorda de forma alguma!
Mais poderia ser dito: o material que Hermínio Miranda produziu enseja
trabalho que comportaria páginas e mais páginas de avaliações. O que mostra
que o esforçado pesquisador, mesmo com os equívocos apontados, é um
gigante no estudo e na pesquisa. Deixamos, pois, a presente explanação para
ser avaliada por quem interessado no tema.
Moizés Montalvão.