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Recebi sua carta, precedida de outra de meu querido amigo Fiori, a propósito de sua
intenção de estudar o esforço que venho fazendo no sentido de uma educação para a
liberdade.
Confesso que sua determinação de fazer um tal estudo faz crescer em mim a
responsabilidade no cumprimento do que sempre, humildemente, considerei uma
tarefa a realizar. E é com o espírito de tarefeiro que me disponho a oferecer-lhe todos
os dados necessários a seu trabalho, tal qual venho fazendo com uma jovem italiana e
um professor assistente de Boston University, ambos escrevendo, também, sobre o
mesmo tema, ainda que sob ângulos distintos dos seus.
Concordo com você em suas observações em torno da ”alienação imensa,
profundíssima a que os sacerdotes são sujeitos durante os anos de sua formação
[talvez fôsse melhor dizer de sua deformação] no seminário.” Já é tempo, realmente,
de mudar.
Se é verdade que os seminários, enquanto instituição, não podem ser vistos ou
compreendidos fora da estrutura da sociedade em que estão, o que vale dizer que sua
transformação implica na radical modificação da estrutura, é possível, porém, antes
mesmo que esta se verifique, tentar que eles se façam uma das vozes de tal
modificação. *
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Documento doado ao IPF por Rogério Ignácio de Almeida Cunha, em 26/10/2005. Este
texto, digitado pelo próprio doador, mantém, dentro do possível, o formato original do
documento manuscrito por Freire. Em razão disso, todos os destaques em verde, grifos,
palavras em maiúsculas, números de páginas, formas ortográficas (hoje modificadas), entre
outras características, foram mantidas tais como as existentes no original.
Rogério é Licencidado em Letras e em Filosofia. É também Doutor em Teologia pela
Universidade de Münster. Atualmente, entre outras atividades, assessora a Pastoral Operária e
é colaborador do CEBI - Centro de Estudos Bíblicos - no desenvolvimento da "Leitura
Popular da Bíblia".
*
Deixo de referir-me, pelo menos hoje, a como vejo a transformação do próprio
seminário, em função das experiências de uma fase histórica eminentemente secularizada e à
qual a estrutura hierárquica da Igreja, retrògradamente medieval, não pode responder.
Estou convencido, com IVAN ILLICH, de que o Sacerdócio, como vem sendo assumido, tende
a desaparecer, cedendo seu lugar a uma outra forma de expressão inserida nas novas
condições históricas que vivemos.
2
*
Kreyche, Robert Y. – “God and Reality – an introduction to the philosophy of God”.
Holt, Rinehart and Winsten – New York – Chicago – 1965
pág 97.
4
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Quando falo em TERCEIRO MUNDO em emergência e registro sua natureza utópica,
obviamente não me estou referindo a suas elites do Poder, mas a suas massas
populares, oprimidas e a um cada vez maior número de intelectuais engajados na luta
pela libertação.
5
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Desenvolvo estas teses amplamente num dos meus últimos livros PEDAGOGIA DO
OPRIMIDO, que está sendo traduzido no momento para o Inglês e o Castelhano.
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o
Não poderia haver respondido à sua carta burocraticamente. Sim, talvez, parece, é
possível. Não escrevo burocraticamente a ninguém. Daí que me tenha estendido tanto,
antes de lhe apresentar algumas indicações que me parecem úteis com relação ao
núcleo central de sua carta.
a) Repito: pode contar comigo fraternalmente. Tantas vezes quantas lhe sejam
necessárias, pode escrever-me e eu responderei.
b) Fontes de referências:
1) “Educação como prática da Liberdade”
Indispensável a leitura penetrante da introdução de Francisco Weffort.
Além da edição brasileira, há uma chilena e uma síntese publicada em
Paris – 69 – cuja fonte lamentavelmente não lhe posso dar pois jamais me
mandaram siquer uma cópia. Sei, porém, que tal síntese foi editada por
uma revista dirigida pelo professor de roche.
2) ”Introducción a la Acción Cultural”.
Segundo informação que tive, sairá este mês no Chile. Você poderia pedir
que o Fiori lhe remetesse um exemplar.
3) “Pedagogy of the opressed”
Está sendo feita a tradução para o inglês. Recebi, há dois dias, carta de um
editor alemão, tratando da possibilidade de uma edição aí. Como, porém,
em sua carta ele fala de “Bíblia do oprimido”, preferi escrever dizendo-lhe
que é Pedagogia e não Bíblia do Oprimido e que, no caso de continuar o
interesse, lhe escreveria dando-lhe um resumo do texto. Gosto de “jogar”
muito claramente. As posições que defendo no livro, se bem que para mim
sejam cristãs, são realmente, duramente revolucionárias.
4) “Cultural Action and Conscientization”.
Este ensaio tem duas partes. A primeira com quatro pequenos capítulos,
escrevi aqui. Mesmo que trate temática já discutida em outros trabalhos,
faço algumas análises
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(ass.) PF