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Mossoró – 1999
UNIVERSIDADE REGIONAL DO RIO GRANDE DO NORTE
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICA
CAMPUS UNIVERSITÁRIO CENTRAL
BR 110 • Km 48 • CEP:59.600-900 • MOSSORÓ • RN
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LEITURAS DE SOCIOLOGIA
COMISSÃO EDITORIAL:
Edmilson Lopes Júnior
Maria Cristina Rocha Barreto
3. AÇÃO SOCIAL.................................................................................................................................................. 4
3.1 TIPOS DE AÇÃO SOCIAL .................................................................................................................................... 4
3.2 RELAÇÕES SOCIAIS ........................................................................................................................................... 5
3.2.1 Regularidade da ação social ................................................................................................................. 5
3.3 RELAÇÃO INDIVÍDUO/SOCIEDADE .................................................................................................................... 5
3.4 TIPOS DE DOMINAÇÃO ..................................................................................................................................... 7
4. TEORIA DA CIÊNCIA ..................................................................................................................................... 7
9. BIBLIOGRAFIA.............................................................................................................................................. 16
MARIA CRISTINA ROCHA BARRETO
Introdução
Por muitos anos tivemos, na academia brasileira, o predomínio do pensamento marxista e
marxiano. Isso coincidiu com uma época histórica bem determinada do nosso país. O pensamento
marxista representava uma matriz de pensamento que fornecia uma certa independência de posturas
frente a situação política de 30 anos atrás.
Autores como Émile Durkheim, Max Weber, Tönies, Talcott Parsons e Georg Simmel, e
aqui poderíamos citar inúmeros outros, foram quase esquecidos e seus livros constavam sempre nas
prateleiras mais escondidas das bibliotecas, nas universidades. Lê-los significava comungar com
pensamentos reacionários e conservadores.
Felizmente, nas duas últimas décadas, devido à crise de paradigmas, já exaustivamente
discutida, das Ciências Sociais e humanas, esses autores foram sendo aos poucos retomados e lidos
com olhos menos obscurecidos pelas ideologias. Podemos dizer que, esses últimos 20 anos foram
de redescoberta de alguns dos clássicos da sociologia na busca de outras abordagens para
fenômenos novos e antigos, cujas explicações tinham se tornado esgotadas e repetitivas, o que
contribuiu para trazer um novo fôlego à compreensão dos fenômenos sociais.
É nesse intuito que trazemos agora este exemplar sobre Max Weber, lembrando sempre que
cada autor pode fornecer o fundamento para a compreensão de uma gama de fenômenos diferentes.
Cada autor tem sua ótica, torná-lo matriz de explicações da realidade cabe ao sociólogo que o lê e
ao tipo de problema para o qual ele busca resposta.
Ação Social
Para Weber a sociologia é uma ciência que visa compreender a ação social, para explicá-la
no seu desenvolvimento e nos seus efeitos (Weber, 1983:48).
A AÇÃO SOCIAL é o comportamento humano, atitude interior ou exterior voltada para a ação,
ou para a abstenção. Esse comportamento é a ação quando o ator atribui à sua conduta um certo
sentido. “Ação social é quando, de acordo com o sentido que lhe atribui o ator, ela se relaciona
com o comportamento de outras pessoas” (Aron, 1990:509-10). A ação é orientada em função de
outra pessoa ou de um grupo. Por exemplo, o professor que fala lentamente para que seus alunos
tomem nota. Em seu livro Fundamentos da Sociologia, Weber (1983:48) assim define ação social:
Relações sociais
A ação social se organiza em RELAÇÕES SOCIAIS, que são as ações de um ator ou um grupo
de atores e são relacionadas com a atitude uns dos outros, ou seja, são ações mutuamente
orientadas. Ex. conflito, inimizade, amor sexual, relações econômicas, rivalidade, (não)
cumprimento de um pacto, relação professor/aluno, pais/filhos, , rei/súditos, Estado/cidadãos etc. O
conceito de relação social não diz se há ou não solidariedade entre os atores. Ela consiste apenas
“na probabilidade de que uma forma determinada de conduta social, de caráter recíproco por sua
natureza, haja existido, exista ou possa existir” (:77).
A relação social regular leva ao conceito de ordem legítima. A relação social regular pode
ser o resultado de um longo hábito, mas é freqüente que haja fatores suplementares como a
convenção e o direito.
A ordem legítima é convencional, quando a sanção para sua violação é a desaprovação
coletiva. É jurídica quando há uma forma de coerção física. As ordens legítimas podem ser
classificadas de acordo com as motivações dos que obedecem.
E da ordem legítima Weber passa para o conceito de combate. Para ele, a sociedade é feita
tanto de lutas quanto de acordos. O combate é uma relação social fundamental e se define pela
vontade da cada um dos atores se impor sobre o outro. Quando o combate não comporta força física
chama-se concorrência, quando o objetivo é a própria sobrevivência chama-se seleção.
Os conceitos de relação social e combate permitem passar para a própria constituição de
grupos sociais. O processo de integração dos atores pode levar à constituição de uma sociedade ou
de uma comunidade.
Relação indivíduo/sociedade
Resulta num agrupamento. O grupo pode ser aberto ou fechado se a entrada nele for aberta a
todos ou estritamente reservada.
Depois de agrupamento, na conceituação de Weber, vem a EMPRESA, que se caracteriza pela
ação contínua de vários atores e pela racionalidade com vistas a um fim.
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conceitual. A política seria então, o conjunto das ações humanas que comportam a dominação do
homem pelo homem.
Tipos de Dominação
Teoria da Ciência
Para Weber, o traço característico do mundo moderno é a racionalização. Numa primeira
aproximação, a ação com relação a um objetivo (a um fim) corresponde à racionalização. O
empreendimento econômico é racional, a burocratização do Estado também.
A ação do cientista é racional com relação a um objetivo, pois ele se propõe a enunciar
proposições fatuais, relações de causalidade e interpretações compreensivas universalmente válidas.
Porém, o objetivo do cientista é determinado por juízos de valor, isto é, por julgamento
sobre o valor da verdade demonstrada por fatos ou por argumentos universalmente válidos.
Ação científica = ação racional em relação a um objetivo + ação racional em relação a um valor
(verdade)
Racionalidade
↓
respeito por regras da lógica e da pesquisa
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Crítica transcendental – o que é dado ao espírito humano é uma matéria informe, que a
ciência elabora e constrói. Rickert divide as ciências em duas:
1. Ciências Naturais que buscam as características gerais dos fenômenos e estabelecem relações
regulares entre eles, e constróem um sistema de leis, dedutivo, organizando-se a partir de
fenômenos simples.
2. Ciências da Cultura aplicam uma seleção à matéria relacionando-a a valores. Todo relato
histórico é uma reconstrução seletiva do que aconteceu no passado.
Para Weber a ordem da ciência é diferente da ordem dos valores. Na ciência a consciência
depende de fatos e provas, nos valores, o livre arbítrio e a livre afirmação. A sociedade é o ambiente
onde os valores são criados, mas a sociedade real é composta de homens e, por isso, não é a
sociedade concreta que devemos adorar.
A criação de valores é social e histórica. O universo de valores que cada um de nós acaba
aderindo é, ao mesmo tempo, criação individual e coletiva. É a resposta da nossa consciência a uma
situação ou a um meio ambiente.
Os sistemas de valores são históricos: múltiplos e variados e também interessantes por causa
da sua singularidade. De acordo com Weber há uma oposição na ação no que se refere à moral da
responsabilidade e a moral da convicção.
A ética da responsabilidade interpreta a ação em termos de meios e fins. Ela situa o homem
na ação, que procura prever as conseqüências de suas possíveis decisões e procurar agir de forma a
produzir certos resultados ou conseqüências desejadas. Por exemplo a obediência de oficiais do
exército a uma determinada política – torcer a linguagem de modo a levar o ator a executa-la,
mesmo se for contra a sua intenção (tudo pelo dever). A ética da responsabilidade não basta a si
mesma. Em um momento qualquer sempre somos obrigados a escolher entre valores que, em última
análise, são incompatíveis entre si, pois estão encarnados na coletividade, podendo então haver um
conflito espontâneo entre eles. “Em matéria de ação há escolhas que implicam sacrifícios” (Aron,
1990:488).
Dentro de uma coletividade não há medida política que não traga vantagem para uma classe
e sacrifício para outra. Por isso, as decisões políticas, que devem ser iluminadas pela reflexão
científica, serão sempre ditadas por julgamentos de valor não demonstráveis (não se pode falar de
uma relação de custo benefício). O bem da coletividade global só pode ser definido por um grupo
particular.
Para Weber a teoria da justiça implica uma contradição fundamental. Os homens são
diferentes, tanto física, intelectual e moralmente. Este fenômeno de diferença é natural e anterior,
nossa tendência é ou apagar a diferença natural por esforço social ou, ao contrário, retribuir a cada
um segundo suas qualidades. A ciência não pode orientar a escolha entre as duas posições.
O problema da escolha de valores remete à ética da convicção. Esta nos incentiva a agir de
acordo com os nossos sentimentos, sem referência às conseqüências. Ex. o pacifista absoluto e o
sindicalista revolucionário. O primeiro se recusa incondicionalmente a portar armas e matar seu
semelhante. Essa atitude não o leva a impedir guerras e no plano moral da responsabilidade é
ineficiente. No entanto, age de acordo com suas convicções e esse é o seu objetivo. O segundo –
sindicalista – diz não à sociedade, indiferente às conseqüências imediatas ou a longo prazo da sua
recusa.
História e Sociologia
As ciências histórias e sociológicas não são apenas interpretações compreensivas sobre os
sentidos subjetivos das condutas, mas também ciências causais. O sociólogo não se limita a tornar
inteligível o sistema de crenças e de conduta das coletividades; ele quer determinar como as coisas
ocorrem, como uma certa crença determina uma maneira de agir, como uma certa organização
política influencia a organização da economia.
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Esse esquema lógico foi muitas vezes criticado, pois parece exigir o conhecimento daquilo
que nunca conheceremos com certeza – o conhecimento do irreal.
Weber respondia que não se podia deixar de fazer esse movimento de imputação causal
(projeção), pois assim teríamos apenas narrativas puras do tipo em tal data, esta pessoa fez ou disse
tal coisa. Para a análise causal é preciso que se sugira implicitamente que, sem determinada ação, o
curso dos acontecimentos teria sido outro.
A análise causal retrospectiva tende a distinguir o que foi, num dado momento, a influência
das circunstâncias gerais e a eficácia de um certo acidente, ou pessoa, permitindo respeitar o sentido
da grandeza do homem de ação. Está associada a uma concepção de devenir histórico, ligada à
filosofia da história positiva. Nenhum homem de ação age refletindo que “o que quer que eu faça, o
resultado será o mesmo”, ou que qualquer homem no seu lugar faria o mesmo, ou se fizesse
diferente, o resultado seria o mesmo.
Weber enuncia de forma lógica a experiência espontânea e autêntica do homem histórico,
isto é, daquele que vive a história antes de reconstruí-la.
Mas como se pode reconstruir o que não existiu?
Não é preciso reconstruir detalhadamente o que poderia ter acontecido. Basta partir da
realidade histórica tal como ela se apresentou para demonstrar que se este ou aquele antecedente
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singular não tivesse ocorrido, o acontecimento que queremos explicar também teria sido diferente.
Pode-se encontrar por comparação a probabilidade de que outra evolução dos acontecimentos teria
sido possível.
Para Weber é claro que basta um acontecimento – uma vitória ou derrota militar – para
decidir a evolução de toda uma situação histórica dada. Essa interpretação tem o mérito de devolver
às pessoas e aos acontecimentos sua eficácia, de mostrar que o curso da história não está
determinado antecipadamente, e que os homens de ação podem alterá-lo.
Mostrar como fatos parciais podem determinar um movimento de alcance considerável, não
é negar o determinismo global dos fatos econômicos e demográficos. Significa dar aos
acontecimentos do passado a dimensão de incerteza e probabilidade que caracteriza os
acontecimentos, tais como os vivemos, ou como qualquer homem de ação os concebe (479-80).
Em seu pensamento há uma solidariedade estreita entre causalidade histórica e causalidade
sociológica, expressas em termos de probabilidade.
Uma causalidade é adequada, quando concebemos que essa situação tornava-se tão
inevitável, pelo menos muito provável o acontecimento que procuramos explicar. Ex. dado o
sistema político europeu, muitos acidentes poderiam fazer explodir a guerra de 1914.
O pensamento de Weber se exprime em termos de probabilidades ou de oportunidades.
Fazer relação entre o sistema econômico e o regime político é típico. Porém, não há uma
determinação unilateral do conjunto da sociedade por um elemento, seja ele político, econômico ou
religioso.
As relações causais da sociologia são parciais e prováveis. São parciais, no sentido que um
fragmento dado da realidade torna provável ou improvável um outro fragmento. As relações causais
são parciais e não globais; comportam um caráter de probabilidade e não de determinação
necessária.
Essa teoria da causalidade, parcial e analítica, é e pretende ser, uma refutação da
interpretação vulgar do materialismo histórico. Exclui a possibilidade de que um elemento da
realidade seja considerado determinante dos outros aspectos da realidade sem ser também
influenciado por ele (:481).
Exclui também a possibilidade de que o conjunto da sociedade futura seja determinado a
partir de certas características da sociedade presente. Analítica e parcial, a filosofia de Weber proíbe
prever em detalhes o que será a sociedade capitalista do futuro ou o que será a sociedade pós-
capitalista.
Não é que ele ache impossível prever algumas características da sociedade do futuro. Estava
convencido da implantação inexorável da burocracia e da racionalização, mas esta evolução não
parecia suficiente para prever a natureza exata dos regimes políticos, nem a maneira de viver, de
pensar e de crer dos homens de amanhã.
Teoria da causalidade
É a síntese de duas versões da originalidade das ciências humanas, professadas pelos
filósofos alemães de seu tempo:
Interesse pela história e pelo devenir singular, pelo que jamais se repetirá (ciências
ideográficas);
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Destaque para as características originais do homem como objeto de estudo, explicando que as
ciências humanas apreendiam a inteligibilidade imanente da conduta humana.
Weber aceita esses dois elementos, mas se recusa a considerar que as ciências humanas
sejam exclusivamente históricas. Elas se interessam mais pelo singular, pelo devenir único do que
as ciências da natureza, mas também se interessam por proposições de caráter geral.
As ciências humanas são ciências somente na medida em que são capazes de formular
proposições gerais, mesmo quando buscam compreender o singular. Há uma relação íntima entre
analisar os fatos e a formulação de proposições gerais.
Essa solidariedade entre a história e a sociologia aparece muito claramente na concepção de
tipo ideal que é, de um certo modo, o centro da epistemologia de Weber.
determinar, para cada caso singular, em que medida essa construção ideal se
aproxima ou diverge da realidade, por exemplo, em que medida a estrutura
econômica de uma certa cidade deve ser classificada como ‘economia
urbana’.” (Cohn, 1997:106)
O conceito de tipo ideal é o ponto de convergência de várias tendências do pensamento
weberiano.
a) liga-se à noção de compreensão, pois é uma organização de relações inteligíveis próprias a um
conjunto histórico ou a uma seqüência de acontecimentos;
b) liga-se à racionalização, característica da sociedade e ciência modernas;
c) liga-se também à concepção analítica e parcial da causalidade.
Bibliografia
ARON, Raymond (1990). As Etapas do Pensamento Sociológico. 3 ed. São Paulo: Martins Fontes;
Brasília: UnB.
COHN, Gabriel (1997). Sociologia: Weber. 6 ed. São Paulo: Ática (Col. Grandes Cientistas
Sociais).
DIAS, Edmundo Fernandes Dias (1993). Para uma Introdução à Reflexão Weberiana. Campinas:
DCS/UNICAMP. Textos Didáticos (1), abr.
SILVA, Augusto Santos (1988). Entre a Razão e o Sentido. Durkheim, Weber e a Teoria das
Ciências Sociais. 2 ed. Porto: Edições Afrontamento.
WEBER, Max (1983). Fundamentos da Sociologia. 2 ed. Porto, Portugal: Rés.