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ROBERTO LUIZ POCAI  FILHO

''FAMÍLIA, PÁTRIA E TRABALHO'': A CONSTITUIÇÃO DO CENTRO 
OPERÁRIO CÍVICO E BENEFICENTE (1929 – 1930).

Monografia   apresentada   para   obtenção   do   título   de   bacharel   na 


Universidade Estadual de Ponta Grossa. No curso de História.

Ponta Grossa,   17 de novembro de 2009.

_____________________________
Profº. Ms. Niltonci Batista Chaves
Universidade Estadual de Ponta Grossa

_____________________________
Profº. Ms. Rosângela Petuba 
Universidade Estadual de Ponta Grossa

_____________________________
Prof.º Ms. José Aparício Silva
Universidade Estadual de Ponta Grossa
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Dedico este trabalho àqueles que durante
muito tempo foram silenciados na história, 
aos trabalhadores.
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Departamento de História
Bacharelado em História
Disciplina de Orientação de Trabalho de Conclusão de Curso

TERMO DE ENCAMINHAMENTO PARA APRESENTAÇÃO E DEFESA DA MONOGRAFIA 
COMO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Eu,   [Professor   (a)]   _____________________________________________   encaminho 

para   Apresentação   e   Defesa   Pública   a   monografia   intitulada 

________________________________________________________________________ 

________________________________________________________________________,   do(a) 

aluno(a) __________________________________________________________, do Bacharelado 

em História da UEPG, por considerar que ela atende aos requisitos mínimos de uma monografia 

acadêmica e por considerar o(a) aluno(a) apto(a) a apresentá­la perante a Banca Examinadora.

Por ser verdade, firmo a presente.

Ponta Grossa , _______de___________ de 200__.

______________________________
Assinatura do professor­orientador
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Departamento de História
Bacharelado em História
Disciplina de Orientação de Trabalho
de Conclusão de Curso

TERMO DE COMPROMISSO

Eu,   Roberto   Luiz   Pocai   Filho,   aluno   regularmente   matriculado   no 


Bacharelado   em   História   da   Universidade   Estadual  de   Ponta   Grossa,   sob 
número 061022990 declaro estar ciente das regras definidas pelo Colegiado 
de Curso para o processo de realização do Trabalho de Conclusão de Curso, 
cumprindo,  assim,  os créditos  da disciplina  de  Orientação  de  Trabalho  de 
Conclusão de Curso.

Declaro ainda que me comprometo a cumprir rigorosamente os prazos 
definidos para entrega das diversas etapas do trabalho, bem como a estar 
em todos os encontros previstos com o professor orientador.

Ponta Grossa, 17 de novembro de 2008.

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Assinatura do Aluno

______________________________
Visto do professor­orientador 
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AGRADECIMENTOS

Me apresentei desafinado na música. Coloquei­me como mais um sujeito, percebi 
meus defeitos, assim como os desajeitados, enganosos, baixos e cruéis fatos da História. 
Antes   dos   agradecidos,   comecei   esses   agradecimentos   evidenciando   o   eu.   Mas   para 
além do meu ego, reconheço sim, os personagens que me auxiliaram na construção do 
cenário e na protagonização do teatro da vida nesses últimos anos.
Rememoro agora esses companheir@s que interferiram sensivelmente na minha 
vida   e,   portanto   também,   na   forma   como   esse   trabalho   aqui   se   apresenta.   Um   muito 
obrigado ao amigo Danico, que enquanto secretário do Centro Operário sempre esteve 
disposto a me auxiliar nessa empreitada acadêmica. Um abraço ao compadre Marco e a 
comadre Janaína que em momentos difíceis me incentivaram a continuar prosseguindo na 
produção   dessa   monografia.   Ao   meu   irmão   postiço   Bruno,   que   além   de   tenor   se 
apresentou   um   grande   companheiro   em   jantares   onde   as   discussões   epistemológicas 
eram o prato principal. Aos amicíssimos Olavo, Sílvia e Rodrigo que me mostraram que 
além do estilo de escrita e da minha literatura eu ainda precisava possuir um método. À 
todos   os   camaradas   do   movimento   estudantil,   construímos   experiências   em   comum, 
amadurecemos, nem todos aqui referenciados devido ao grande número de pessoas que 
tive a satisfação de conhecer entre os inúmeros eventos, congressos...
Às tias do R.U. que todos os dias durante esses 4 anos sempre proporcionaram 
aos   estudantes   o   prazer   de   almoçar   com   imenso   agrado.   A   todos   os   professores   do 
Departamento   de   História,   foram   os   intensos   debates   dentro   de   sala­de­aula   que   me 
proporcionaram grande parte do conhecimento que possuo hoje. Mas é claro, um especial 
abraço   ao   Nilton,   agradeço   por   sua   paciência   em   alguns   momentos   e   pelo   seu 
reconhecimento de minhas mínimas virtudes – espero sinceramente que ele receba tudo 
que lhe é de mérito pelo intelectual que é. A todos os acadêmicos dos cursos que me 
agüentaram   nas   últimas   semanas,   lhes   admito   a   possibilidade   de   continuarmos 
contribuindo uns com os outros pois foi perante a interdisciplinaridade que me percebi 
realmente como Historiador.
Não poderia faltar. O início. A criação. Se algumas pessoas, amigos e mulheres 
passaram, a família sempre ficou. Mesmo distante, sempre carreguei comigo o semblante 
da pessoa que vocês são. Todas as linhas aqui não são apenas uma prestação de contas 
ao   seu   apoio,   mas   também,   uma   oportunidade   de   agradecer   por   tudo   que   eles   me 
repassaram durante todo esse tempo. Aprendi a estabelecer relações com vocês e sei 
que sua segurança é a de que essas outras pessoas aqui citadas e tantas outras são 
minha segunda família.
Fica aí, antes de qualquer debate, essa representação da memória. Nesse teatro, 
sempre   me   preocupei   muito   mais   com  tais  personagens   do   que   comigo   mesmo.   Não 
somente gostaria que todos soubessem disso como também procurassem entender que 
além de minhas falhas sempre procurei colaborar de forma humana com minhas relações. 
No sorriso escondido, nos olhos baixos, sempre procurei contribuir com benevolência às 
nossas relações (e se existem pessoas aqui não citadas, saibam que essas receberão 
meus agradecimentos pessoalmente).
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“Quando a Bastilha cai,
os critérios normais do
que é possível sobre a terra
são suspensos, e os homens e
mulheres naturalmente dançam
nas ruas antecipando a utopia”

(Da obra “Os Trabalhadores” de Eric Hobsbawm)
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RESUMO

Este   trabalho   possui   por   finalidade   discutir   o   primeiro   ano   das   atas   do   Centro 
Operário Cívico e Beneficente (entre 1o. De Maio de 1929 e a mesma data de 1930). 
O discurso das atas revela o conjunto de relações sociais que aparecem enquanto 
indicativo de organização dos operários ponta­grossenses. Por meio do auxílio da 
metodologia de Análise de Conteúdo foi possível denotar dentre o texto das atas 
palavras que proporcionavam sentidos a tais relações. Com isso, fica visível que os 
chamados “assumptos políticos”, ao serem citados, são censurados e até evitados 
entre os debates. De antemão, o uso de tal metodologia sobre a fonte proporciona 
descobrir que a principal ação dessa organização operária em seu primeiro ano se 
acentua   pela   prática   da   beneficência   e   pela   sua   aproximação   a   outras   classes 
sociais e ao governo local. Eyecorp.

Palavras­chave: Trabalhadores, organização, relações sociais.
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 01 ­  Fotografia da Praça João Pessoa...................................... 21

FIGURA 02 ­ Seção de Máquinas da Estrada de Ferro São Paulo­Rio  21
Grande......................................................................................................

FIGURA 03 ­  Fotografia de Luigi “Gigi” Damiani...................................... 30

FIGURA 04 ­ Time do Foot Operario Club Pontagrossense em 1926...... 30

FIGURA 05 ­  Greve Geral de 1917 em Porto Alegre­RS.......................... 36

FIGURA 06 ­ Fotografia digitalizada da Ata No. 12 do Centro Operário...  44

FIGURA 07 ­ Ata de Fundação do Centro Operário................................. 55

FIGURA 08 ­  Foto de Albino Wiecheteck................................................. 56

FIGURA 09 ­  Eliseu de Campos Mello..................................................... 60

FIGURA 10 ­ Símbolo do Centro Operário............................................... 68

FIGURA 11 ­  Sede do Centro Operário Cívico e Beneficente.................. 83

FIGURA 12 ­ Palanque montado na chegada de Vargas a Ponta Grossa  85

FIGURA 13 ­  A população ponta­grossense no momento do discurso 
85
de Vargas..................................................................................................

FIGURA 14 ­ Capa do Livro de Inscrição de Sócios................................. 92

FIGURA 15 ­ Relação de associados no Livro de Mensalidades............. 92

FIGURA 16 ­  Assinatura do presidente José Deslandes de Sousa no 
carimbo do C.O.C.B.................................................................................. 93

FIGURA 17 ­ Antiga sede do Centro Operário.......................................... 93

FIGURA 18 ­ Símbolo do Centro Operário Cívico e Beneficente talhado 
em pedra................................................................................................... 94
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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 12

CAPÍTULO 1 – O Mundo do Trabalho: O surgimento da figura do 
operário   princesino,   sua   trajetória,   sua 
experiência........................................................................................... 19

1.1 "Princesa dos Campos": pelo tropeiro e pelo operário......................... 19

1.2 O estrangeiro: Imigração em Ponta Grossa no início do Século XX..... 25

1.3 Personalidades e Organizações: A imagem do militante...................... 27

1.4 A militância no papel: A pena de Hugo dos Reis................................... 32

1.5 Entre o subversivo e o conciliatório: Ponta Grossa e a Greve Geral de 
1917........................................................................................................ 35

1.6 "A União faz a Força": a experiência do proletariado na década de 
1920....................................................................................................... 39

CAPÍTULO   II:     “Homens   do   Trabalho”:   A   representação   do 


operário   nas   atas   do   Centro   Operário,   discurso   e 
sociabilidade........................................................................................ 43

2.1 Classe Operária e Cultura Operária: Uma outra História...................... 48

2.2 O   1o.   De   Maio:   A   Fundação   do   Centro   Operário   Cívico   e 


53
Beneficente............................................................................................

2.3 Entre a Ordem e a Política: O caso do “tellegrama”.............................. 61

2.4 Trabalhadores do Paraná UNI­VOS!: Uma política a portas fechadas.. 63

2.5 Cívico e solidário: Beneficência e lazer no Centro Operário................. 64

2.6 Considerações   Finais   sobre   a   pesquisa   –   O   outro   1o.   De   Maio, 


78
Aniversário do Centro Operário Cívico e Beneficente...........................

3. ANEXOS............................................................................................ 87
11

3.1 Plataforma: Trabalhadores por suas devidas categorias de trabalho e 
87
suas ocupações.....................................................................................

3.2 Gráfico:   Trabalhadores   por   suas   devidas   categorias   de   trabalho   e 


89
suas ocupações.....................................................................................

3.3 TABELAS.............................................................................................. 90

3.3.1 Núcleo de Sentido: Política.................................................................... 90

3.3.2 Núcleo de Sentido: Beneficência........................................................... 90

3.3.3 Núcleo de Sentido: Lazer....................................................................... 91

3.3.4. Núcleo de Sentido: Manutenção............................................................ 91

3.4. FOTOGRAFIAS..................................................................................... 92

3.5 Texto Integral da Ata de posse da 2a. Diretoria..................................... 95

BIBLIOGRAFIA .................................................................................... 96
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INTRODUÇÃO

"o   operariado   [é]   a   lavoura   que   [movimenta]   os   povos,   a  


força   hercules   que   [sustenta]   as   nações   e   elevava­as   as  
suas maiores conquistas; (...) o operariado [é] a reserva dos  
paizes   e   que   no   entanto   até   hoje   não   [havia   sido]   bem  
comprehendida, não se tinha dado o valor que merecia"'1.

Desde minha chegada à cidade de  Ponta Grossa – PR sempre fui intrigado, e 
considero até provocado, por muitos moradores que indicavam que esta era uma cidade 
“conservadora”.   Observando   o   seu   cotidiano   sempre   me   coloquei   a   questionar   não 
somente como havia se criado tal hegemonia em torno daquele termo pejorativo, mas 
também   como   esse   poderia   convencer   a   mim   e   a   tantos   outros   de   que   se   aplicava 
totalmente à realidade.
Foi   numa   tarde   ensolarada   que   da   janela   da   lavanderia   da   minha   República2, 
observei ao fundo entre todo o emaranhado de prédios urbanos e estruturados, alguns até 
em construção, uma propriedade rural extensa que se traduzia também num horizonte 
político   ligado   aos   donos   da   terra.   Entretanto,   esse   termo   se   tornou   ainda   mais 
questionável ao momento que passei a participar com intensa presença no movimento 
estudantil por meio do Centro Acadêmico de História (CAHIS) e do Diretório Central de 
Estudantes (DCE).
Contudo,   esse   toque   na   História   de   um   sujeito   não   satisfaz   para   explicar   o 
surgimento   da   dúvida   e   o   prolongamento   da   problemática.   Pensei   num   momento   que 
além de ser sujeito da minha própria História, poderia enquanto pesquisador do passado 
procurar   outros   personagens,   alguns   que   não   se   convenceram   de   que   Ponta   Grossa 
seguia   simples  e   unicamente  aquela   realidade   conversadora.   Quem   sabe   tornar  parte 
desse passado registrado e escrito na memória seja um desafio interessante, como se 
estivesse deparado frente a um templo parcialmente desmoronado ­ e quem sabe, parte 
dos movimentos que pesquisei e até participei podem ser isso3 – procurando reconstruir 
1  O   discurso   de   Alberto   Lopes,   redator   do   Jornal   Diário   dos   Campos   e   membro   do   Centro   Operário, 
pronunciado na fundação do Centro aparece não somente como incentivo a constituição da entidade. Como 
na citação  de  uma  epopéia,  o saudosismo  da sua  fala contempla  a participação  da  classe  operária  na 
sociedade (COCB. ATA No. 01).
2 Localizada no Edifício Napoli, Rua Tiradentes, 608.
3 O impactante objeto a nossa frente pode ser mesmo a sede do Centro Operário, estagnada e sofrendo a 
ação do tempo, ela parece não denunciar nada. Por outro lado, uma História pode ser contada e modelada 
além  do  dia­a­dia  atual,  olhando aos nossos semelhantes no passado.  Ao  analisar  a sensível  natureza 
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tijolo a tijolo de seus corpos no texto.
Nada como explicitar na respiração e na palpitação emocional, ou seja, na sua 
consciência social, que esse movimento operário estudado me oportunizou desmanchar 
estruturas   ditas   conservadoras,   que   também   se   diziam   sólidas   e   arraigadas   à   vida 
material   da   população   ponta­grossense4.   Procuro   agora   apresentar   uma   História   em 
contrapartida   com   muito   que   não   só   inquieta   o   historiador,   mas   também   desconforta 
muitas   pessoas   que   por   essa   cidade   passaram.   Afinal   essa   não   é   uma   História   de 
sobrenomes entrelaçados ao universo  político, também nem se apresenta apenas como 
uma “história vista de baixo” (BURKE, 1992; HOBSBAWM, 1998), oportunizar um passado 
egoístico ou vitimado não é objetivo dessa pesquisa.
Foi ao se deparar com uma documentação e um tal Centro Operário Cívico e 
Beneficente na Casa de Memória que pude perceber que a evidência das classes sociais 
na sociedade é um dos quadros vivos da História de Ponta Grossa. Agora, em mais uma 
oportunidade, perante todo discurso de desenvolvimento e de progresso, este trabalho 
procura   não   só   reconhecer   vozes   que   antes   estavam   silenciadas   no   passado,   mas 
também pessoas que ajudaram a construir esse passado.
Expressar o desenvolvimento industrial partindo de números, lucros e ganhos se 
torna uma alternativa ao objeto do intelectual, no entanto, esse reducionismo pode ser 
percebido   apenas   em   gabinetes   de   conhecimento   fechados   e   em   corredores   vagos   e 
gélidos das academias exclusivistas.
Considerar   categorias   exatas   nesses   índices   pode   reconhecer   o   cenário   dos 

humana   em   encontro   com   essa   forma   de   produzir   História,   Friedrich   Nietzsche   escreveu:   “os   estudos 
históricos cultivam a qualificação para essa pintura, pois sempre nos desafiam, ante um trecho da história, a 
vida   de   um   povo   (…),   a   imaginar   um   horizonte   bem   definido   de   pensamentos,   uma   força   definida   de 
sentimentos, o predomínio de uns, a retirada de outros. O senso histórico consiste em poder reconstruir 
rapidamente,   nas   ocasiões   que   se   oferecem,   tais   sistemas   de   pensamento   e   sentimento,   assim   como 
obtemos a visão de um templo a partir de colunas e restos de parede que ficaram de pé. Seu primeiro 
resultado é compreendermos nossos semelhantes como tais sistemas e representantes bem definidos de 
culturas diversas, isto é, como necessários, mas alteráveis. E, inversamente, que podemos destacar trechos 
de nosso próprio desenvolvimento e estabelecê­los como autônomos” (NIETZSCHE, 2005, P. 172).
4 Após alguns anos de vivência, se tornou cada vez mais intransponível aos meus olhos a visão de que as 
coisas   sempre   foram   assim.   Além   daquelas   estruturas   de   governos,   postuladas   em   seus   predicados 
chamadas   de   “conservadoras”   por   muito   se   colocava   a   experiência   dos   povos.   Uma   resposta   mental 
pensava e uma resposta emocional palpitava, essas se encontravam em outras vivências, as vivências do 
povo – o sujeito dessa História aqui contada. O conhecimento é o que eu conheço. Antes de estruturas que 
prendem a respiração dessas mulheres e homem, se constrói uma História além das instituições. É isso que 
proporciona sentido ao confronto na sociedade. A experiência se desloca à frente do intelectual e ‘’anuncia 
mortes, crises de subsistência, guerra de trincheiras, desemprego, inflação, genocídio’’ (THOMPSON, 2009, 
p. 17).
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meios   de   produção   a   partir   também   do   número   dos   trabalhadores   naquele   momento. 


Esse é o papel dos censos, mas tal material ali colocado pode nos levar a uma outra 
hipótese de pesquisa. Essa pode proporcionar ao pesquisador um tipo distinto de História 
que não se destina simplesmente a parar na metade do caminho, mas procura responder 
aos questionamentos sobre o passado a partir dali. Como viviam? Como se organizavam? 
Quem eram? 
A História nos atinge dessa forma também, pode falar desse tipo de vida em livros 
didáticos,   em   revistas,   em   um   programa   de   TV   ou   rádio   e   até   em   museus   e   antigas 
construções. Muitos não desejam nela falar, às vezes ela até perturba, mas paralelamente 
“o passado é ao mesmo tempo um jogo de lutas e um elemento constitutivo da relação de 
forças produtivas” (CHESNEAUX, 1995, p. 12). Incomoda sim, mas incomoda muito mais 
aos proprietários dos meios de produção, aos proprietários da terra, aos proprietários dos 
meios   de   comunicação   e   a   muitos   que   não   se   interessam   em   difundir   esse   tipo   de 
conhecimento.
Participar de algumas lutas, nos coloca em outras oportunidades de combate, e 
essa monografia não é a única forma de produção do conhecimento que proporcionei à 
Universidade Estadual de Ponta Grossa. Já que usufruí e produzi lutas e discussões no 
contato  com  entidades estudantis, sindicais e  até  em conversas informais na  casa  de 
amigos, em mesas de bar e em espaços públicos desta cidade5. Minha vivência pessoal 
está   à   mostra.   Acredito   que   essa   pode   servir   para   colocar   diversos   questionamentos 
relativos   à   nossa   forma   de   produção   acadêmica   numa   cidade   dita   “conservadora”. 
Devemos   nos   perguntar   se   estamos   transformando   ambientes   pela   nossa   forma   de 
5 Essa passagem me lembra uma manhã de primavera. A cidade despertava naquele pestanejar de manhã 
quando horrorizada observava o fruto de uma reivindicação. Todos conhecem a fachada do Cine Império, na 
Avenida   Bonifácio   Vilela,   em   frente   ao   bucólico   Ponto   Azul.   Hoje   continua   o   imóvel   abandonado,   sem 
nenhuma ação por parte do poder público em matéria de conservação. Naqueles mesmo tapumes onde 
estava   escrito   “NÃO   COLAR   CARTAZ”   cartazes   foram   colocados   dizendo:   “ESQUECER   É   LEMBRAR, 
DERRUBARAM A CATEDRAL, ARRACARAM OS TRILHOS, CINE IMPÉRIO TUA HORA CHEGARÁ”. Uma 
visível manifestação contra a especulação imobiliária que naquele  ambiente esperava para demolir mais 
uma peça importante do patrimônio cultural da cidade.
   Isso para não falar em diversos desafios travados no cotidiano do movimento estudantil. Naquele tempo, a 
questão do Transporte Coletivo passou por duas vezes pelo Diretório Central de Estudantes. Numa delas, o 
DCE apoiou a garantia do emprego para os funcionários da Viação Campos Gerais (VCG), mostrando que o 
enfrentamento dos estudantes além de questionar o descaso do poder público revestido na simbiose de 
alguns vereadores com os interesses escusos e desumanos por parte dessa empresa, também corroborou 
no apoio desses a causa da classe trabalhadora em prol do transporte. Nesse dia, a Câmara de Vereadores 
foi ocupada por estudantes e trabalhadores que não aceitavam aumentos exorbitantes na passagem, nem 
mesmo a demissão de 750 pais e mães de família a partir da implantação da bilhetagem eletrônica. Nesse 
dia, a população não se permitiu ao autoritarismo do monopólio do transporte público.
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produção acadêmica, ou se estamos contribuindo para a proliferação de um espírito que 
deprime e entristece o ambiente de Ponta Grossa. Como uma palavra taxativa, perante 
tantas monografias e tantos intelectuais, ainda pode convencer tanto de que não adianta 
fazer nada em matéria de lutas sociais6?
Se alguém entender isso como uma provocação, pois bem, mesmo assim espero 
que  continue  lendo. Mas que isso  não seja  motivo  para  virar a página  até o Primeiro 
Capítulo justificando que esse introduzir de palavras não é o início do trabalho. Ele reflete 
grande parte do que será dito depois. Aliás, se falava de um termo que adentra o discurso 
e parece ter por objetivo convencer seus leitores. Das atas do Centro Operário poderemos 
perceber muitas palavras como essa e, com a ferramenta que utilizei dentro da pesquisa, 
deslocar nosso olhar para o entendimento de relações sociais e conflitos em torno do que 
se refletia naquele movimento de trabalhadores.
Os autores usados aqui nesse trabalho não estão expondo uma linha teórica, são 
colocados como forma de diálogo que muito auxiliam o entendimento da realidade – por 
isso parte da minha vida está aqui. A literatura em muitos momentos compartilha dos 
fenômenos observados e não se ocasionam na intenção de finalizar qualquer discussão. 
Pelo   contrário,   a   propósito   do   empenho   aqui   exercido   em   labor   teórico­metodológico 
possui   por  finalidade   intensificar  a  discussão.  Poderia  ser  mais  fácil   me   afirmar  numa 
“Nova” História Social do Trabalho.
Entretanto, não preciso me esconder em nenhuma “toca teórica” (THOMPSON, 
Op. Cit, p. 11), pra mim isso somente vem a produzir disputas em torno da academia. 
Devemos colocar diversas visões sobre o mundo do trabalho antes mesmo de qualquer 
Nova História. Essas, aqui não vão ser desconsideradas.
Que me seja permitido recorrer à memória mais uma vez. Tive o prazer de militar 
ao   lado   de   companheiros   de   uma   organização   trotskista.   A   Corrente   O   Trabalho   do 
Partido   dos   Trabalhadores,   seção   brasileira   da   IV   Internacional.   Aproximando­me   das 
leituras de León Trótsky lembro de um recorte muito significativo de uma de suas obras 

6 Sim, esse retrato de conformismo com o que parece alheio (Ponta Grossa), foi isso o que mais ouvi na 
academia   da   boca   de   estudantes.   Jovens   e   sadios  que,   contraditoriamente,   se   recusavam  a   encarar   o 
cotidiano   como   um   elemento   de   lutas.   O   que   me   surpreende   é   que   a   maioria   dos   que   usavam   essa 
desculpa,  ou esse  “lavar de mãos”,  sobre  a cidade  eram  pessoas  vindas de fora.  Incapazes  de  ver as 
mudanças que podem ser ocasionadas no tempo, chegam aqui como se estivessem deparados com um 
slogan: “Ponta Grossa – Cidade Conservadora”, eles se amedrontam e acabam compactuando com isso e 
fazendo parte do objetivo de diversos membros, estancieiros e industriais do poder local.
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quando falava da degeneração da União Soviética e da ascensão do termidor stalinista. 
Para Trotsky, estudante das letras, um grande fator que  interferiu nesse processo 
não foi apenas uma disfunção entre a linha de produção e as forças produtivas, mas sim 
na introdução de uma palavra. “A palavra sovbour (burguês soviético) logo se introduziu 
no vocabulário dos trabalhadores, para designar os altos funcionários com seu modo de 
vida privilegiado” (apud MIRANDA, 1981, p. 148).
O   interessante   aí   é   perceber   que   antes   dos   estudos   da   História   Social   do 
Trabalho, alguém pensou como a linguagem utilizada no interior da fábrica pode interferir 
em   toda   construção   ou   destruição   de   um   projeto   político­ideológico.   Claro   que   os 
argumentos contra essa burocratização partem de uma versão de Trotsky, o trabalho não 
possui por finalidade defender essa ou aquela teoria em contraponto à prática. Até porque 
isso já fiz em vida nos Congressos da União Nacional dos Estudantes.
O aparecimento de certos autores promove uma discussão intensa sobre o objeto 
observado. Isso ocorre com a finalidade de intensificar o fenômeno em torno da vivência 
pessoal dos sujeitos da história.
  A partir de tais considerações, esse trabalho analisa o primeiro ano do Centro 
Operário Cívico e Beneficente de Ponta Grossa (PR) a partir de 24 atas que compuseram 
o   primeiro   ano   da   entidade.   As   relações   sociais   criadas   são   perceptíveis   no   discurso 
dessas atas e são tratadas como indicativo de organização e sociabilidade dos operários 
locais na pesquisa.
Entre 1º de Maio  de 1929 e a mesma data  de  1930, o trabalho notabiliza  um 
ambiente   onde   os   trabalhadores   proporcionaram   a   si   mesmos   a   oportunidade   de 
organizar   o   seu   “tempo   livre”   por   meio   de   atividades   desenvolvidas.   Perpassando   as 
fontes e evidenciando o relacionamento dos operários de Ponta Grossa, esse trabalho 
discute como os operários se relacionavam na organização e como essa se comporta no 
interior   da   sociedade   ponta­grossense.   Ao   tempo   que   esses   se   organizavam.   Como 
buscavam o reconhecimento de suas funções enquanto membros da sociedade? Nesse 
casual momento histórico, considerada a principal entidade operária do final da década de 
1920, o  Centro  Operário   se   manifestou   de   forma   combativa  ou   conciliadora  perante  a 
sociedade ponta­grossense7?

7  Participando  da disciplina  de “Métodos  e Técnicas” ministrada  pelo  prof.  Dr.  Édson Armando  Silva, o 


projeto de pesquisa e sua tarefa como um todo somente pôde ser desenvolvida com segurança a partir da 
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Esse momento se alinha e se explica em outros acontecimentos como a Grande 
Depressão. Ao momento que observamos tal evento, notabilizamos também a tentativa de 
trabalhadores em se  agrupar em torno  de  associações  de  socorro  mútuo.  Foi  em  um 
momento   de   insegurança   que   as   primeiras   organizações   autônomas   de   trabalhadores 
passaram   a   se   constituir   com   fins   práticos   e   específicos   para   responder   a   problemas 
como doença e morte. Forma­se aí modalidades de agrupamento e organização operária 
que não podem ser ignorados pelos estudiosos. Enquanto os patrões sempre alegavam a 
“crise mundial” para deprimir os salários, os trabalhadores cada vez mais se encontravam 
ligados entre si, em partidos, associações e em clubes (FERRAZ, 2009).
Este   trabalho   se   promulga   no   uso   de   referenciais   teóricos   distintos.   Desde   o 
marxismo até  a  chamada  “Nova” História Social  do Trabalho8, abriram­se  perspectivas 
para um conjunto bastante extenso de debates e reflexões, apontamentos que vieram a 
reconsiderar o comportamento da sociedade a partir da forma como essa se organiza nas 
relações de produção. O que se tornou ponto passivo é que qualquer versão oficial do 
conceito de “classe” não pode ser afirmada como única. Os sujeitos da história aparecem 
e   o  conflito   evidencia   as  classes  sociais de   uma   forma,  sobretudo,   esses  grupos   não 
deixam de existir em outros eventos sociais, nem mesmo em seus devidos cotidianos. 
Percorrendo   algumas   matrizes   teóricas   pertinentes   ao   trabalho,   algumas 
terminologias irrompem ao texto, entretanto, de forma a serem discutidas e não a serem 
consideradas   definidas   para   explicar   a   complexidade   social.   No   caso,   os   métodos   de 
observação e análise usados se condicionam em somente mais uma opção de uso do 
objeto.   Essa   proposta   não   se   apresenta   como   última   e   definitiva,   e   em   formato   de 
publicação procura contribuir com toda a discussão que se desencadeia hoje no ambiente 
acadêmico.
Considerando que as relações de capital­trabalho são construídas culturalmente 

seguinte questão de partida: “Como pode ser percebida a abordagem dos chamados assuntos políticos nas 
atas da associação Centro Operário Cívico e Beneficente entre 1o. De Maio de 1929 e a mesma data de 
1930?”. 
8 Nessa temática, o termo entre aspas "Nova" é constituído a partir de uma proposta de rompimento com o 
que Marcel Linden considera por "nacionalismo metodológico" por um lado e/ou eurocentrismo por outro. 
Contempla ele que: "A Velha História do Trabalho era institucional, focada na descrição organizacional de 
desenvolvimentos,  debates políticos,  líderes  e greves.  Era  representada  por Sidney e  Beatrice  Webb,  a 
Escola Wisconsin de John Commons, dentre outros, mas também por marxistas como Philip Foner. A Nova 
História do Trabalho tentou contextualizar as lutas dos trabalhadores". Ele ainda contempla essa proposta 
em dizer que a Nova História Social do Trabalho analisa todo esse contexto a partir das condições técnicas 
que permitiram ou não que os movimentos de trabalhadores fossem eficazes (LINDEN; 2009, p. 12).
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no tempo e geradas no encontro das classes sociais, permeando negociações e conflito, 
elas podem se desencadear no crepúsculo da luta de classes ou se materializando em 
outras formas de relacionamento entre esses grupos.
Antes de discutir qualquer nivelamento de organização dos operários de Ponta 
Grossa,   parece   válido   discutir   como   se   apresenta   a   origem   do   proletariado   fabril   na 
cidade.   Os   fatores   de   seu   surgimento   são   relevantes   e   determinantes   inclusive   para 
entendermos as suas estruturas de organização procedentes da sua gênese.
O  primeiro   capítulo   “O  Mundo   do   Trabalho:  O  surgimento   da   figura   do   operário 
princesino,   sua   trajetória,   sua   experiência”   discorre   em   torno   do   surgimento   do   ser 
operário   na   sociedade   ponta­grossense,   comungando   esse   como   a   criação   de 
organizações operárias e o aparecimento de personagens importantes desse processo. 
Antes de se comprometer com uma descrição minuciosa desse momento, essa passagem 
coloca o leitor em volta de um contexto da criação do mundo do trabalho urbano em Ponta 
Grossa entre o fim do século XIX e início do século XX.
O segundo capítulo “Homens do Trabalho”: A representação do operário nas atas 
do Centro Operário, o discurso e as relações sociais”, parte de uma perspectiva mais 
precisa, intimamente ligada ao cotidiano da organização operária. Destacando a partir da 
análise   do   conteúdo   das   atas   os  papéis   desenvolvidos   por   alguns  de   seus  membros, 
denotando   valores   em   torno   do   movimento   operário,   mas   também   percebendo   como 
esses se constroem nesse momento. As considerações finais notabilizam a ata de posse 
da   segunda   diretoria   com a   finalidade   de   indicar  possíveis  problematizações  sobre   os 
acontecimentos descritos.
Essa monografia foi produzida usando a versão de software livre Ubuntu 8.10. Essa 
pesquisa é produto também de apresentações em comunicações orais na 38a. Semana 
de   História   da   Universidade   Estadual   de   História,   na   3a.   Semana   de   Integração   em 
História e no IV Congresso Internacional de História ocorrido em Maringá­PR   – sendo 
que essa última rendeu uma publicação nos anais do evento (POCAI FILHO, 2009).

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